Tecnologia Informacao Miolo Online

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  • Ministrio da Educao MEC

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES

    Diretoria de Educao a Distncia DED

    Universidade Aberta do Brasil UAB

    Programa Nacional de Formao em Administrao Pblica PNAP

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    Mriam de Magdala Pinto

    2012

  • 2012. Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Todos os direitos reservados.

    A responsabilidade pelo contedo e imagens desta obra do(s) respectivo(s) autor(es). O contedo desta obra foi licenciado temporria

    e gratuitamente para utilizao no mbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, atravs da UFSC. O leitor se compromete a utilizar

    o contedo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reproduo e distribuio ficaro limitadas ao mbito interno dos cursos.

    A citao desta obra em trabalhos acadmicos e/ou profissionais poder ser feita com indicao da fonte. A cpia desta obra sem auto-

    rizao expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanes previstas no Cdigo Penal, artigo

    184, Pargrafos 1 ao 3, sem prejuzo das sanes cveis cabveis espcie.

    P659t Pinto, Miriam de MagdalaTecnologia e inovao / Miriam de Magdala Pinto. Florianpolis : Departamen-

    to de Cincias da Administrao / UFSC; [Braslia] : CAPES : UAB, 2012.152p.

    Bacharelado em Administrao PblicaInclui bibliografia ISBN: 978-85-7988-158-9

    1. Inovaes tecnolgicas Histria. 2. Desenvolvimento econmico. 3. Inovaes tecnolgicas Administrao. 4. Comportamento organizacional. 5. Desenvolvimento sustentvel. 6. Educao a distncia. I. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Brasil). II. Universidade Aberta do Brasil. III. Ttulo.

    CDU: 62.004.68

    Catalogao na publicao por: Onlia Silva Guimares CRB-14/071

  • PRESIDENTA DA REPBLICA

    Dilma Vana Rousseff

    MINISTRO DA EDUCAO

    Aloizio Mercadante

    PRESIDENTE DA CAPES

    Jorge Almeida Guimares

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    REITORA

    Roselane Neckel

    VICE-REITORA

    Lcia Helena Martins Pacheco

    CENTRO SCIO-ECONMICO DIRETOR

    Ricardo Jos de Arajo Oliveira

    VICE-DIRETORAlexandre Marino Costa

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA ADMINISTRAO

    CHEFE DO DEPARTAMENTOMarcos Baptista Lopez Dalmau

    SUBCHEFE DO DEPARTAMENTOMarilda Todescat

    DIRETORIA DE EDUCAO A DISTNCIA

    DIRETOR DE EDUCAO A DISTNCIAJoo Carlos Teatini de Souza Clmaco

    COORDENAO GERAL DE ARTICULAO ACADMICAAlvana Maria Bof

    COORDENAO GERAL DE SUPERVISO E FOMENTOGrace Tavares Vieira

    COORDENAO GERAL DE INFRAESTRUTURA DE POLOSJean Marc Georges Mutzing

    COORDENAO GERAL DE POLTICA DE TECNOLOGIA DE INFORMAOAloisio Nonato

  • COMISSO DE AVALIAO E ACOMPANHAMENTO PNAP

    Alexandre Marino CostaClaudin Jordo de CarvalhoEliane Moreira S de Souza

    Marcos Tanure SanabioMaria Aparecida da SilvaMarina Isabel de Almeida

    Oreste Preti Tatiane Michelon

    Teresa Cristina Janes Carneiro

    METODOLOGIA PARA EDUCAO A DISTNCIA

    Universidade Federal de Mato Grosso

    COORDENAO TCNICA DED

    Soraya Matos de VasconcelosTatiane Pacanaro Trinca

    AUTORA DO CONTEDO

    Mriam de Magdala Pinto

    EQUIPE DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS DIDTICOS CAD/UFSC

    Coordenador do ProjetoAlexandre Marino Costa

    Coordenao de Produo de Recursos DidticosDenise Aparecida Bunn

    Superviso de Produo de Recursos Didticosrika Alessandra Salmeron Silva

    Designer Instrucional Denise Aparecida Bunn

    rika Alessandra Salmeron SilvaSilvia dos Santos Fernandes

    Auxiliar Administrativo Stephany Kaori Yoshida

    Capa Alexandre Noronha

    Ilustrao Adriano Schmidt Reibnitz

    Projeto Grfico e EditoraoAnnye Cristiny Tessaro

    Reviso TextualMara Aparecida Andrade da Rosa Siqueira

    Sergio Luiz Meira

    Crditos da imagem da capa: extrada do banco de imagens Stock.xchng sob direitos livres para uso de imagem.

  • Prefcio

    Os dois principais desafios da atualidade na rea educacional do Pas so a qualificao dos professores que atuam nas escolas de educao bsica e a qualificao do quadro funcional atuante na gesto do Estado brasileiro, nas vrias instncias administrativas. O Ministrio da Educao (MEC) est enfrentando o primeiro desafio com o Plano Nacional de Formao de Professores, que tem como objetivo qualificar mais de 300.000 professores em exerccio nas escolas de Ensino Fundamental e Mdio, sendo metade desse esforo realizado pelo Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Em relao ao segundo desafio, o MEC, por meio da UAB/CAPES, lana o Programa Nacional de Formao em Administrao Pblica (PNAP). Esse programa engloba um curso de bacharelado e trs especializaes (Gesto Pblica, Gesto Pblica Municipal e Gesto em Sade) e visa colaborar com o esforo de qualificao dos gestores pblicos brasileiros, com especial ateno no atendimento ao interior do Pas, por meio de Polos da UAB.

    O PNAP um programa com caractersticas especiais. Em primeiro lugar, tal programa surgiu do esforo e da reflexo de uma rede composta pela Escola Nacional de Administrao Pblica (ENAP), pelo Ministrio do Planejamento, pelo Ministrio da Sade, pelo Conselho Federal de Administrao, pela Secretaria de Educao a Distncia (SEED) e por mais de 20 Instituies Pblicas de Ensino Superior (IPESs), vinculadas UAB, que colaboraram na elaborao do Projeto Poltico-Pedaggico (PPP) dos cursos. Em segundo lugar, este projeto ser aplicado por todas as IPESs e pretende manter um padro de qualidade em todo o Pas, mas abrindo margem para que cada IPES, que ofertar os cursos, possa incluir assuntos em atendimento s diversidades econmicas e culturais de sua regio.

  • Outro elemento importante a construo coletiva do material didtico. A UAB colocar disposio das IPES um material didtico mnimo de referncia para todas as disciplinas obrigatrias e para algumas optativas. Esse material est sendo elaborado por profissionais experientes da rea da Administrao Pblica de mais de 30 diferentes instituies, com apoio de equipe multidisciplinar. Por ltimo, a produo coletiva antecipada dos materiais didticos libera o corpo docente das IPESs para uma dedicao maior ao processo de gesto acadmica dos cursos; uniformiza um elevado patamar de qualidade para o material didtico e garante o desenvolvimento ininterrupto dos cursos, sem as paralisaes que sempre comprometem o entusiasmo dos estudantes.

    Por tudo isso, estamos seguros de que mais um importante passo em direo democratizao do Ensino Superior pblico e de qualidade est sendo dado, desta vez contribuindo tambm para a melhoria da gesto pblica brasileira.

    Celso Jos da Costa

    Diretor de Educao a Distncia

    Coordenador Nacional da UAB

    CAPES-MEC

  • Sumrio

    Apresentao .............................................................................................. 9

    Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Conceitos Fundamentais .......................................................................... 15

    Do Incio at os Dias de Hoje .............................................................. 15

    Cincia, Tecnologia e Inovao Tecnolgica ........................................ 33

    Unidade 2 Indicadores e Condicionantes do Processo de Inovao

    Indicadores e Condicionantes do Processo de Inovao ........................... 55

    Indicadores de Inovao Tecnolgica ................................................... 55

    Condicionantes da Inovao Tecnolgica ................................................. 68

    Intensidade Tecnolgica ....................................................................... 68

    Padres Setoriais de Inovao Tecnolgica .......................................... 72

    Influncia da Localizao Geogrfica sobre o Processo de Inovao ...... 76

    Unidade 3 Gesto da Inovao Tecnolgica

    Estratgias Organizacionais ...................................................................... 91

    Estratgias Tecnolgicas ....................................................................... 92

    Tecnologias Bsicas, Crticas e Emergentes .......................................... 92

    Cooperao para a Inovao ............................................................. 100

    Avaliao de Projetos de PD&I ............................................................... 110

    Financiamento para a Inovao ......................................................... 113

  • Unidade 4 Inovao para o Desenvolvimento Sustentvel

    Inovao para o Desenvolvimento Sustentvel ....................................... 121

    Tecnologias Convencionais e Tecnologias Sociais .............................. 121

    Inovao e Desenvolvimento Sustentvel .......................................... 130

    As TICs em Foco ................................................................................... 133

    Um Novo Entendimento das Organizaes Contemporneas .............. 135

    Consideraes Finais .............................................................................. 141

    Referncias .............................................................................................145

    Minicurrculo ..........................................................................................152

  • Apresentao

    Mdulo 7 9

    Apresentao

    Caro estudante,

    Voc est prestes a iniciar o estudo da disciplina Tecnologia e Inovao. fascinante observar como o ser humano capaz de auxiliar na criao do mundo em que vive. Se parar por um minuto para observar o ambiente onde est, voc ver que grande parte dos materiais com os quais est em contato ou que est vendo foi criado e produzido pelo homem a partir dos recursos naturais disponveis no planeta. Ver tambm que a maior parte dos prprios objetos com os quais convivemos, suas formas, suas funcionalidades, seus usos, so criao do homem.

    As formas que usamos para produzir os bens e servios de que necessitamos so constantemente modificadas, s vezes, revolucionadas e, cada vez mais, desenvolvemos modos de produzir mais, de modo mais rpido e com menos esforo.

    Esse processo de criao do novo, porm, no uniforme. Existem naes, estados, regies, empresas, famlias ou indivduos que o fazem mais e melhor, enquanto outros o fazem menos. A histria tem mostrado que aqueles que criam e desenvolvem as novas tecnologias so os que garantem a prosperidade. Sendo assim, inovar tornou-se imprescindvel para a sobrevivncia, por exemplo, das empresas e condio indispensvel para o desenvolvimento das naes.

    Nesse sentido, o conhecimento acumulado aplicado no desenvolvimento das mquinas e equipamentos (capital fsico), nas prprias pessoas devido nossa capacidade de aprendizado (capital humano) e nossas interaes (capital social). Assim, com o passar do tempo, o processo de inovao se acelera e vemos produtos e processos com ciclos de vida cada vez mais curtos, tornando

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    10

    imprescindvel incrementar continuamente a prpria capacidade de gerar, difundir e utilizar as novas tecnologias. Aqueles que inovam prosperam porque conseguem vender produtos com maior valor agregado, atender a mercados maiores e mais distantes ou produzir com custos mais reduzidos, por exemplo. Os que no o fazem, pagam pelo produto melhor, mais eficaz ou mais eficiente, pelo conhecimento embutido nos produtos e processos daqueles que o fizeram. Em outras palavras, inovao e tecnologia esto no cerne do desenvolvimento econmico.

    Como um bom administrador pblico, voc dever ter em mente as implicaes econmicas e sociais que as novas tecnologias representam, bem como conhecer ferramentas que o auxiliem a gerir os processos relacionados inovao tecnolgica considerando a realidade concreta na qual estar atuando. Para ajud-lo a construir seus conhecimentos, este livro est organizado em quatro Unidades:

    Unidade 1: Conceitos Fundamentais

    Unidade 2: Indicadores e Condicionantes do Processo de Inovao

    Unidade 3: Gesto da Inovao Tecnolgica

    Unidade 4: Inovao para o Desenvolvimento Sustentvel

    Na Unidade 1, voc ser convidado (a) a fazer uma breve viagem, que se inicia nos primrdios da humanidade e termina em nossos dias, para compreender o significado dos termos tecnologia e inovao e suas interaes com a cincia e o conhecimento cientfico. Em seguida, ir aprofundar seus conhecimentos sobre o fenmeno da inovao por meio da discusso dos diversos modelos que se propem a explic-lo.

    Na Unidade 2, voc ir utilizar indicadores para entender detalhes da inovao, suas peculiaridades. A inovao, como qualquer fenmeno fascinante, possui caractersticas gerais e caractersticas particulares. Quanto generalidade, ver que a inovao essencial no sistema econmico de praticamente todos os pases capitalistas no incio deste sculo XXI. Quanto s suas particularidades, perceber que o setor econmico e o local geogrfico, por exemplo, influenciam

  • Apresentao

    Mdulo 7 11

    fundamentalmente no processo de inovao. A inovao a base para a gerao de riquezas, para o sucesso dos empreendimentos. Sendo assim, o processo de inovao no deixado merc da sorte para que acontea espontaneamente. Ele deve ser gerenciado, aumentando significativamente as chances de sucesso ao inovar.

    As principais questes relacionadas Gesto da Inovao sero tratadas na Unidade 3 onde voc ver a importncia da definio de estratgias de longo prazo e de estratgias tecnolgicas para a gesto da inovao. Ver peculiaridades para avaliao de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovao e ferramentas especficas que podero auxili-lo na gesto de projetos dessa natureza.

    Finalmente, na Unidade 4, voc convidado a fazer uma reflexo crtica sobre os processos de inovao na sua vida. Vivemos a Era do Conhecimento, mas isso precisa significar conhecimento disseminado para todos, valorizado por todos. Vivemos uma realidade complexa demais, em que a sustentabilidade da vida no planeta para as futuras geraes no est garantida. Nem tampouco est condenada! So as inovaes que faremos, que apoiaremos, que induziremos que faro toda a diferena!

    Finalmente, caro estudante, quero dizer-lhe que voc faz parte de um processo de transformao constante, e para poder participar desse processo de forma consciente e construtiva, influenciando-o e no apenas sofrendo as consequncias dele, necessrio entend-lo melhor, refletir sobre ele, o que, com muito prazer, convido-o a fazer durante o estudo de Tecnologia e Inovao. Vamos ao trabalho?

    Professora Mriam de Magdala Pinto

  • UNIDADE 1

    Objetivos Especficos de Aprendizagem

    Ao finalizar esta Unidade, voc dever ser capaz de:

    ff Compreender os conceitos de tecnologia e inovao;

    ff Compreender a relao dos conceitos de cincia, conhecimento

    cientfico e desenvolvimento tecnolgico com os conceitos de

    tecnologia e inovao; e

    ff Entender a relao entre tecnologia e inovao e o sistema

    econmico.

    Conceitos Fundamentais

  • Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 15

    Caro estudante,

    Nesta Unidade, voc vai fazer uma viagem pela histria da humanidade, desde as suas origens at os nossos dias. Ao longo dessa viagem, ver como os conceitos de tecnologia e de inovao evoluram e como esses diversos conceitos so usados e convivem at hoje.

    Tendo visto tais conceitos, eles sero detalhados e aprofundados. Sendo assim, voc ver como cincia e tecnologia (C&T) se relacionam com inovao nos nossos dias e, tambm, a diferena entre inveno, inovao, adoo e difuso de novas tecnologias. Esta Unidade bsica para o entendimento da disciplina, porm, mais do que isso, ela pretende fazer com que voc perceba que inovao tecnolgica no algo distante para os outros, mas para cada um de ns. Ento, vamos, l?

    Conceitos Fundamentais

    Do Incio at os Dias de Hoje

    Esta primeira seo baseia-se fundamentalmente em Diamond (2003) e Tigre (2006).

    A humanidade comeou sua saga pelo planeta Terra por volta de sete milhes de anos atrs, no Continente Africano, quando a populao de macacos africanos dividiu-se em vrios grupos. Um deles evoluiu para os atuais gorilas, outro deu origem aos chipanzs e um terceiro resultou nos humanos. Esse primeiro grupo de proto-humanos ficou conhecido como Australopithecus africanus.

    H quatro milhes de anos, o chamado Homo habilis alcanou a postura vertical. A mudana para essa posio, com a liberao dos membros anteriores, gerou consequncias imprevistas

  • *Aprendizado o

    processo pelo qual novos

    conhecimentos so adqui-

    ridos, novas competn-

    cias so desenvolvidas

    e, com isso, mudanas

    no comportamento so

    geradas. Fonte: Kleina e

    Martins (2012).

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    16

    e muito significativas no desenvolvimento desses homindeos. Talvez a mais importante delas tenha sido o fato de que, com a adoo dessa nova posio corporal pelas fmeas, os filhotes passaram a nascer prematuros e, portanto, necessitavam de cuidados por parte das mes por muito mais tempo.

    Essa fraqueza, para filhotes e fmeas, acabou convertendo-se em grande fora para a nova espcie que se desenvolvia: a necessidade de formao de grupos de cooperao mais estveis, que permaneciam juntos por mais tempo formando laos afetivos e, tambm, de aprendizado*.

    Este um elemento bsico de diferenciao dos humanos em relao s demais espcies animais na Terra: a capacidade de descobrir coisas novas e transmitir essas descobertas a outros membros da espcie, que podem aprender com a experincia dos outros, incorporar esses conhecimentos aos seus e fazer novas descobertas. Assim, a espcie humana passou a ser capaz de mudar a si mesma e o mundo ao seu redor como nenhuma outra o fez.

    O fato de formarem grupos mais duradouros, que precisavam permanecer juntos por vrios anos para garantir a sobrevivncia dos filhotes, gerou a necessidade de comunicao de modo a garantir uma organizao mnima nos grupos. Os membros anteriores (braos e mos), j liberados da funo de locomoo, podiam ser usados para o manuseio e transporte de coisas e, tambm, para a comunicao por gestos. A evoluo seguia o caminho natural.

    D uma paradinha e olhe ao seu redor. H mais algum no

    ambiente em que voc est? Se sim, mantenha-se nesse local,

    mas se estiver sozinho, v at algum lugar onde haja algum.

    Vocs devero comunicar-se sem fazer uso da fala; chamar

    ateno um do outro na tentativa de expressar alguma ideia.

    Conseguiram? Para manter a comunicao, sem que ambos

    usem a fala, vocs precisam manter o contato visual todo o

    tempo e as mos desocupadas, certo? Se, no entanto, puderem

    usar sons, podero comunicar-se enquanto fazem outra coisa.

  • vVale a pena assistir ao filme A Guerra do Fogo, de 1981, dirigido por Jean-

    Jacques Annaud, baseado

    na obra de J. H. Rosny e

    roteiro de Grard Brach.

    Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 17

    E parece ter sido assim que comeou a desenvolver-se a comunicao pela fala, usando-se sons codificados.

    Por volta de 1 milho de anos atrs, o Homo erectus foi capaz de sair da frica e povoar o sul da sia; e aps 500 mil anos j habitando a Europa e a sia, os humanos possuam esqueletos maiores e crnios mais arredondados, bastante semelhantes aos nossos, passando a ser conhecidos como Homo sapiens. Foram eles que dominaram o uso do fogo!

    A utilizao do fogo provocou profundas alteraes na vida do homem. Os alimentos passaram a ser cozidos, tornando-se mais saborosos e de mais fcil digesto. A iluminao e o aquecimento dos locais frios e escuros tornaram a permanncia nas cavernas mais fcil. A defesa diante dos animais ferozes tornou-se mais eficaz, pois estes temiam o fogo. E, tambm, a fabricao dos instrumentos aperfeioou-se com o endurecimento, pelo fogo, das pontas das lanas, tornando-as mais resistentes.

    A utilizao do fogo provocou, ainda, alteraes demogrficas e sociais na vida das primeiras comunidades. A ingesto de alimentos cozidos e com maior variedade proporcionou maior resistncia a doenas e, consequentemente, contribuiu para o aumento populacional. Alm disso, o convvio em volta das fogueiras teria fortalecido o sentimento de unio entre os elementos do grupo, contribuindo para o desenvolvimento da prpria linguagem.

    As populaes humanas do leste da frica e do oeste da Eursia continuavam a diferenciar-se umas das outras e dos povos do leste da sia. Os humanos da Europa e do oeste da sia, do perodo entre 130.000 e 40.000 anos atrs, ficaram conhecidos como homens de Neanderthal. Eles foram os primeiros humanos a deixar provas de que enterravam seus mortos e cuidavam de seus doentes. No preservaram qualquer manifestao artstica e, a julgar pelos ossos das espcies animais que capturavam, suas habilidades para caa eram limitadas. No conseguiam pescar ainda.

    Ento, h cerca de 50.000 anos, a histria da espcie humana d um verdadeiro salto com os chamados homens de Cro-magnon. Em seus stios arqueolgicos, h utenslios de pedra padronizados e tambm moldados em ossos. Esses artefatos eram produzidos de

  • *Tecnologia esse

    termo deriva do grego

    techne (artefato) e logos

    (pensamento, razo),

    significando, portanto, o

    conhecimento sistemti-

    co transformado ou mani-

    festado em ferramentas.

    Fonte: Moreira e Queiroz

    (2007).

    vPara vivenciar um pouco

    da arte dos Cro-magnon

    visite .

    Acesso em: 23 maio 2012.

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    18

    formas variadas e para vrias funes como agulhas, furadores e fixadores. H utenslios constitudos de vrias peas como arpes, lanas e flechas. Esses utenslios fazem parte de uma tecnologia de caa superior. Os meios de matar a uma distncia segura permitiram a caa de animais perigosos, enquanto as cordas, redes e armadilhas permitiram adicionar peixes e pssaros sua dieta. Sua tecnologia* desenvolvida para a sobrevivncia em climas frios facilmente identificada em restos de casas e roupas costuradas. Por outro lado, resqucios de joias e de esqueletos cuidadosamente enterrados indicam acontecimentos revolucionrios em termos estticos e culturais.

    As discusses anteriores, no entanto, limitam-se ao uso das ferramentas. No contexto em que estamos discutindo o termo tecnologia, ele pode ser entendido de forma mais ampla como a forma como determinado grupo humano realiza as tarefas. Assim, as tecnologias de caa, naqueles grupos, poderiam incluir horrios, locais, tipos de animais preferencialmente caados, as armas utilizadas, distncia, forma de abordagem (em emboscada ou aberta), nmero mnimo de pessoas envolvidas. Observe, portanto, que tecnologia est relacionada com conhecimento transmitido entre geraes, acumulando-se e aperfeioando-se ao longo do tempo.

    O termo tecnologia tem sido amplamente utilizado em inmeros

    contextos no nosso dia a dia. Pare e pense: o que voc entende

    por tecnologia? Anote suas ideias a respeito porque, ao final da

    Unidade, voc vai precisar dessas anotaes.

    Os homens de Cro-magnon foram os primeiros a contar com uma caixa de voz perfeita, base anatmica para a linguagem moderna, que o fundamento indispensvel para a troca de experincias, para a acumulao de conhecimentos e para o exerccio da criatividade humana.

    Mas aqui podemos fazer uma pergunta: os homens de Cro-magnon desenvolveram-se simultaneamente em vrias

  • Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 19

    localizaes geogrficas ou, ao contrrio, eles apareceram em um nico ponto e, a partir da, dominaram os demais homindeos devido sua superioridade tecnolgica?

    A prova de uma origem localizada, seguida por seus contnuos deslocamentos e a sua substituio por outros humanos mais forte na Europa, para onde os Cro-magnon foram, h cerca de 40.000 anos, com seus esqueletos modernos (incluindo caixa de voz), armas mais poderosas e traos culturais avanados. Em poucos milhares de anos, no haveria mais os homens de Neanderthal, que foram os nicos ocupantes do Continente Europeu por centenas de milhares de anos. Pode-se sugerir, portanto, que os Cro-magnon usaram, de alguma forma, sua superioridade tecnolgica, assim como suas habilidades para a linguagem e seu crebro, para matar ou deslocar os homens de Neanderthal, sem ter havido cruzamento entre eles.

    Foram os homens de Cro-magnon que conseguiram povoar a Sibria por volta de 20.000 anos a.C. Entretanto, no se sabe precisamente o momento em que eles comearam a povoar o Continente Americano. As principais evidncias indicam que tenha sido por volta de 12000 a.C. Existem indcios abundantes de que, em sua expanso para o Sul do continente, o povoamento avanou consistentemente. Assim, em apenas 1.000 anos depois de sua chegada ao Alasca, os humanos chegaram Patagnia (isso significa que percorreram 12.800 km em 1.000 anos. Uma proeza notvel para caadores-coletores!).

    Tentemos dar uma olhada para o mundo poca daqueles colonizadores pr-histricos. O Continente Americano estava habitado por uma rica fauna da qual faziam parte mamutes, preguias gigantes e cabritos monteses. Todas essas espcies desapareceram em torno de 11000 a.C., quando entraram em contato com os humanos. Porm, essa data tambm coincide com as mudanas climticas da ltima Era Glacial, gerando dvidas sobre a causa dessa extino. Contudo, como a fauna americana j havia sobrevivido a, pelo menos, vinte Eras Glaciais antes daquela, parece bem mais razovel interpretar sua extino associada ao humana. Alm disso, so muitos os fsseis de grandes animais encontrados com pontas de lanas em suas costelas.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    20

    Voc pode explicar como a tecnologia dos humanos, que

    povoaram o Continente Americano a partir de 11000 a.C.,

    poderia ter influenciado na extino das principais espcies

    de grandes animais que aqui viviam? Esse foi um problema

    ambiental relevante? Voc pode pensar algumas de suas

    principais consequncias? Considera que existe uma relao

    entre tecnologia e mudanas ambientais provocadas pelo

    homem?

    As primeiras povoaes humanas surgiram por volta de 11000 a.C. no Leste Europeu, mas no podiam se fixar por longos perodos devido necessidade de conseguir alimentos. A soluo para esse problema foi sendo desenvolvida a partir de 8500 a.C., quando a humanidade comeou a cultivar plantas e a domesticar animais.

    Quando determinado grupo humano conseguia cultivar plantas e domesticar animais, a produo de comida seguia duas estratgias alternativas que competiam entre si: ser agricultor ou ser caador/coletor. Os diversos grupos podiam adotar uma caracterstica ou outra, ou mesmo ambas, mas o resultado predominante nos ltimos 10.000 anos foi a mudana da caa/coleta para a produo de alimentos.

    Por qu? Voc consegue enumerar alguns fatores que

    determinaram a vantagem competitiva da produo de

    alimentos? E em termos ambientais, voc pode enumerar

    algumas alteraes significativas provocadas pela agricultura?

    Assim como a linguagem e o domnio do fogo, o desenvol-vimento da agricultura tambm trouxe mudanas para as sociedades da poca. O cultivo fez com que as frequentes e perigosas buscas por alimentos fossem evitadas e, ao mesmo tempo, aumentou a oferta de alimentos para as pessoas. Assim, a agricultura permitiu o surgimento

  • Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 21

    de grupos humanos com maior densidade populacional em relao queles que podiam ser suportados pela caa e pela coleta. Dessa forma, os grupos que se fixaram na terra tinham mais tempo para se dedicar a outras atividades cujos objetivos eram diferentes daqueles relacionados produo de alimentos. Disso resultou o desenvolvimento de novas tecnologias e a acumulao de bens materiais, promovendo a elevao do padro de vida desses grupos.

    Nos grupos humanos numerosos, sustentados pela produo de alimentos baseada no cultivo de plantas e domesticao de animais, surgiu a necessidade de se registrar rebanhos, colheitas e trocas realizadas; ou seja, de se registrar os resultados alcanados em um perodo para, assim, guard-los de um perodo para o outro.

    Os primeiros registros escritos conhecidos datam de aproximadamente 3000 a.C., em aldeias agrcolas da Mesopotmia e do Egito. Eram usados smbolos feitos em placas de argila para contabilizar rebanhos e gros.

    Figura 1: Placa com inscrio cuneiforme da Universidade de Missouri. Datao: 2500 a.C.

    Fonte: MU Libraries Gateway (2011)

    Se pararmos para pensar, veremos que essa nova tecnologia de comunicao, a escrita, no foi inventada por um indivduo ou mesmo um grupo restrito de indivduos. Ela foi o resultado criativo de muitas pessoas que, durante centenas ou at milhares de anos, foram aperfeioando lentamente as formas at ento existentes de escrita. Havia uma tecnologia de suporte (tbuas de argila), de ferramentas para escrever (estiletes de canio) e um conjunto de regras bem

  • vPara saber mais sobre a histria da escrita, incluindo detalhes sobre

    o desenvolvimento do

    alfabeto, dos livros e

    da imprensa consulte:

    . Acesso em:

    25 jun. 2012.

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    22

    definidas para guiar o processo de escrita e de leitura, todos eles sendo continuamente aperfeioados. Mas tudo isso no era suficiente para garantir que a escrita se perpetuasse: deveriam haver condies sociais necessrias para o seu avano. Primeiramente, a sociedade em que a escrita surgiu precisou enxergar alguma utilidade para o seu uso e, em segundo lugar, essa sociedade deveria ser capaz de sustentar escribas especialistas para manter e aperfeioar a escrita.

    importante, caro estudante, que, a partir de agora, voc tenha

    em mente a ideia de que o desenvolvimento tecnolgico no

    significa somente a criao de novas tcnicas, mas, tambm,

    que se trata de um processo fortemente influenciado pelas

    sociedades nas quais esse desenvolvimento ocorre.

    A complexa escrita sumria era principalmente usada para fins de contabilidade dos governantes. Seu uso era restrito aos escribas profissionais do rei ou do templo. Os fins no profissionais da escrita s surgiram pela sua simplificao de forma significativa, basicamente o alfabeto. Depois de inventado pelos fencios, o alfabeto permitiu a difuso de forma muito mais rpida da escrita. Observe, portanto, que o desenvolvimento de uma nova tecnologia consiste em um processo coletivo, envolvendo muitas pessoas, que podem estar separadas no espao e no tempo, construindo conhecimentos a partir de conhecimentos anteriores.

    Voc poderia responder, a partir do que j viu nesta disciplina

    e tambm da sua experincia de vida, quem vem primeiro: a

    necessidade ou a inveno? Por qu?

    O caminho da humanidade descrito at aqui para o

    desenvolvimento de novas tecnologias parece sugerir que

    a necessidade a me da inveno. Ser sempre assim?

    Exemplifique. Todas as novas tecnologias so desenvolvidas a

    partir de necessidades percebidas? Por qu?

  • vVeja mais detalhes sobre James Watt, a mquina a vapor e o uso da energia,

    acessando: . Acesso em: 23 maio

    2012.

    *Inovao Tecnolgica

    usada neste contexto,

    significa a ideia, prtica

    ou artefato material que

    foi inventado ou que

    visto como novo. Fonte:

    Moreira e Queiroz (2007).

    Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 23

    Um salto no tempo permite-nos identificar uma infinidade de artefatos ou equipamentos que representaram, nos tempos modernos, mudanas significativas nas formas de se fazer determinadas atividades, as quais resultaram em inovao tecnolgica*. Vamos listar alguns:

    ff mquina a vapor;ff navio;ff trem;ff telgrafo;ff motor a combusto interna; ff fongrafo;ff lmpada incandescente;ff avio;ff automvel;ff rdio;ff vlvula;ff televiso;ff transistor; eff chip e internet.

    Vejamos com mais detalhes as histrias de duas dessas inovaes tecnolgicas: a mquina a vapor, patenteada por James Watt em 1769, e a lmpada incandescente, patenteada por Thomas Edison em 1879. James Watt era mecnico. Em 1763, Watt recebeu uma mquina a vapor para ser consertada. Era o modelo mais avanado desenvolvido at ento. Esse modelo tinha sido idealizado por Thomas Newcomen que o patenteara em 1712. A mquina de Newcomen, por sua vez, tinha tido como modelo a mquina que Thomas Savery patenteara em 1698, que, por sua vez, fora baseada na mquina a vapor que o francs Denis Papin idealizara em 1680, mas no construra.

    Watt observou que a perda de grandes quantidades de calor era o defeito mais grave da mquina e idealizou, ento, o condensador, seu primeiro grande invento. Em 1769, ele obteve a primeira patente do invento e de vrios aperfeioamentos por ele prprio concebidos.

  • vSe voc tiver interesse e quiser saber mais sobre Thomas A. Edison, acesse

    .

    Acesso em: 23 maio 2012.

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    24

    Novos detalhes foram ainda aperfeioados at que o motor atingiu a forma sob a qual se tornou universalmente empregado, a partir de 1785, para movimentar locomotivas, navios, teares e bombas; e gerar, pela primeira vez na histria da humanidade, trabalho a partir da energia trmica.

    Thomas Edison foi um inventor. Trabalhou intensamente no aperfeioamento do telefone, patenteado por Alexander Graham Bell. Ocorreu-lhe a ideia de que, se o som podia ser convertido em impulsos eltricos, poderia ser gravado para ser ouvido depois. Assim, teve incio sua busca, que resultou no fongrafo, mas que ficou sem uma aplicao comercial por mais de uma dcada.

    Enquanto isso, Edison interessava-se pela iluminao eltrica. No final dos anos de 1870, o uso da eletricidade para iluminao no era mais uma novidade. J se conhecia a lmpada de arco, mas a luz era ofuscante, durava pouco e produzia muito calor. Na poca, as casas eram iluminadas por velas, embora nas cidades os lampies a gs fossem amplamente usados nas ruas, teatros e grandes escritrios. Mas, alm de caro, o gs cheirava mal e no havia para ele um sistema geral de distribuio. Edison pretendia conseguir uma luz suave como a do gs, porm sem suas desvantagens. Seu desafio consistia em achar um material que se tornasse incandescente ao se passar por ele uma corrente eltrica, e de fazer desse material um filamento.

    Como outros inventores, Edison acreditava que esse filamento precisaria ficar isolado dentro de um bulbo de vidro do qual fosse retirado todo o ar, pois o oxignio facilita a combusto. Durante mais de um ano, ele e seus assistentes testaram filamentos de todos os materiais possveis e imaginveis, chegando enfim ao fio de algodo carbonizado.

    Acesa em 21 de outubro de 1879, a lmpada brilhou durante 45 horas seguidas. A lmpada incandescente de Thomas Edison foi o resultado do aperfeioamento de muitas outras lmpadas incandescentes patenteadas por outros inventores entre 1841 e 1878. lmpada seguiu-se o desafio de produzir e distribuir energia eltrica, tendo conseguido seu feito em 1882 ao iluminar uma parte de Nova York.

  • *Inovao tecnolgica

    neste contexto, a expres-

    so [...] tomada como

    sendo um sinnimo para

    a produo, assimilao e

    explorao, com sucesso,

    de novas tecnologias

    nas esferas econmica e

    social. Fonte: European

    Comission (1995 apud

    MOREIRA; QUEIROZ,

    2007, p. 6).

    Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 25

    As histrias de Watt e Edison sugerem que a necessidade no necessariamente a me da inovao. A criatividade e a inventividade humanas podem levar ao desenvolvimento de novos dispositivos que no tenham uma aplicao imediata, nem que tenham sido concebidos para solucionar algum problema identificado. De posse do dispositivo, so buscados usos ou aplicaes para ele. Essa interao entre necessidade e inventividade ocorre nos dois sentidos, complementando-se um ao outro enquanto transformam nossa forma de viver.

    Observe a construo de saberes a partir de conhecimentos

    anteriores. O esforo coletivo. Essa uma ideia fundamental

    para o entendimento da inovao tecnolgica. O que Watt e

    Edison fizeram foi inaugurar o sucesso comercial da mquina

    a vapor e da lmpada incandescente a partir dos grandes

    aperfeioamentos que eles introduziram.

    Uma pergunta muito interessante de se fazer aqui a seguinte:

    Se James Watt ou Thomas Edison no tivessem existido, a

    humanidade teria ficado sem suas inovaes?

    O fato de que ambos efetuaram melhorias significativas em artefatos que j existiam e de que todos esses artefatos sofreram, ainda, modificaes posteriores feitas por outros cientistas indica que estes homens representaram elos significativos numa cadeia de construo de conhecimento. Porm, sem eles, outros, muito provavelmente, chegariam a esses avanos. A inovao tecnolgica* resultado de um processo de construo coletiva de conhecimento intrinsecamente associado sociedade no qual ele est inserido. Essa sociedade possui conhecimentos para propor melhorias e tambm condies de valorizar e de usar a nova tecnologia.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    26

    Portanto, h uma profunda relao entre inovao tecnolgica e sociedade, existindo geralmente uma interao contnua e dinmica entre elas: a inovao causa mudanas econmicas e sociais. A sociedade sofre modificaes causadas pelas inovaes, mas, tambm, promove alteraes nessas inovaes, seja aperfeioando-as, difundindo-as ou rechaando-as.

    Inovao tecnolgica pode ser entendida de duas formas. Em primeiro lugar, como um processo de gerao e disseminao de novas tecnologias, na malha econmica e social, sejam elas efetivamente um novo produto ou servio ou uma nova forma de se exercer determinada atividade, utilizando novos recursos ou os recursos existentes combinados de uma nova maneira. Em segundo lugar, como o prprio resultado desse processo, ou seja, o produto ou artefato que dele resulta.

    Vamos avanar na histria da nossa civilizao e, por meio

    dela, entender mais sobre Tecnologia e Inovao?

    Na segunda metade do sculo XIX, o processo de industrializao aprofundou-se na Europa e difundiu-se intensamente para os EUA. A mquina a vapor teve um papel-chave nesse processo. Graas ao desenvolvimento da metalurgia do ao, a mquina a vapor avanou tanto em relao reduo de seu peso e seu volume quanto em relao s temperaturas a serem alcanadas nas fornalhas,

    que eram cada vez mais altas. Essas melhorias permitiram sua associao com o carro deslizante sobre trilhos, que, por sua vez, veio a representar outra inovao: a locomotiva a vapor.

    A mquina a vapor tambm comeou a ser usada para impulsionar os barcos que at ento eram puxados por cavalos que andavam pelas margens dos canais ou movidos pela fora do homem. Nascia, assim, a barcaa a vapor.

  • vEsse regime limitava o crescimento da firma e evitava a concentrao

    de mercado, ou seja, a

    formao de oligoplios

    ou monoplios, estruturas

    de mercado que voc j

    estudou em Introduo

    Economia, no Mdulo 1,

    lembra-se?

    Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 27

    Tinha incio uma revoluo nos transportes ferrovirios e martimos, o que, por sua vez, garantiria uma expanso impressionante de novos mercados e novas fontes de matrias-primas e a expanso da indstria manufatureira.

    O estabelecimento das ferrovias, no entanto, exigiu uma srie de inovaes complementares na indstria mecnica, no manejo de equipamentos pesados, na pavimentao e construo das estradas, para citar apenas algumas, que foram se desenvolvendo ao longo do tempo. Por outro lado, criou-se uma enorme demanda por ferro e ao, impulsionando a indstria mecnica e a metalurgia, que passaram a utilizar definitivamente o carvo mineral.

    importante notar o carter sistmico e integrado da inovao: um processo contnuo de sucesso de inovaes tecnolgicas, algumas mais profundas, outras de menor porte, em um contexto social e econmico favorvel.

    Nessa ocasio, mudanas institucionais nas reas jurdica, financeira e poltica foram importantes para o avano do crescimento industrial. Esse avano, porm, no se deu na escala de produo. Faltavam recursos tcnicos e financeiros para investimentos em equipamentos e formas de organizao que garantissem a produo em massa. Alm disso, havia restries jurdicas ao crescimento das firmas, dado que era atribuda aos seus proprietrios total responsabilidade pelas dvidas delas. Desse modo, a maioria das firmas era gerenciada pelos donos, familiares ou pequeno grupo de scios.

    Assim, caro estudante, ao final do sculo XIX e incio do

    sculo XX, ao mesmo tempo em que as inovaes baseadas

    em eletricidade caminhavam a passos largos no seu

    desenvolvimento, o automvel tambm deslanchava.

  • Saiba mais Henry Ford (1863-1947)

    Industrial norte-americano nascido em Greenfield,

    Michigan. Pioneiro da indstria automobilstica norte-

    americana, lanou a construo em srie e imaginou

    a padronizao das principais peas que compem

    um conjunto. Construiu, entre 1892 e 1893, pea por

    pea, seu primeiro automvel com um motor de 4 CV,

    refrigerado a gua. Em 1901, fundou a Henry Ford

    Company. Fonte: Enciclopdia e Dicionrio Ilustrado

    Koogan Houaiss (2009).

    vConfira a histria do automvel, acessando o site sugerido na seo

    Complementando.

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    28

    Quando voc pensa em automveis, na histria deles, os pioneiros, as pessoas mais significativas em seu desenvolvimento, lembra-se de quem? Nikolaus Otto? Gottlieb Daimler? Rudolph Diesel ou de Henry Ford? Provavelmente, voc se lembrar primeiramente de Henry Ford.

    Qual foi o papel de Ford no

    desenvolvimento do automvel como

    uma das principais inovaes tecnolgicas

    do sculo XX?

    Em 1903, Henry Ford cria a Ford Motors Company, empresa fabricante de automveis, cujo principal objetivo era popularizar seu produto. Sua ideia era produzir um grande nmero de veculos,

    com desenho simples e de baixo custo. Para atingir seu objetivo, Ford desenvolveu:

    ff a linha de produo em massa; ff um sistema de remunerao diferenciado que inclua salrios altos; para a poca (U$ 5,00/dia); e

    ff um plano de participao nos lucros entre os trabalhadores.

    Como resultado, ele havia se transformado, em cinco anos, no maior produtor de automveis do mundo, tendo vendido mais de 15 milhes de unidades do modelo Ford T.

    Voc considera que Henry Ford promoveu uma

    inovao tecnolgica significativa no automvel?

    Na melhor das hipteses, algumas melhorias

    que revolucionaram o setor de transporte de passageiros no

  • *Absentesmo falta de

    assiduidade escola, ao

    trabalho ou a qualquer

    lugar a que esto ligados

    deveres e interesses

    prprios. Fonte: Enciclo-

    pdia e Dicionrio Ilustra-

    do Koogan Houaiss (2009).

    Saiba mais Frederick W. Taylor (1856-1915)

    Engenheiro e economista norte-americano nascido

    em Germantown e falecido na Filadlfia. Promotor da

    organizao cientfica do trabalho. Estudou numerosas

    tcnicas como a cronometragem e as transmisses por

    correias. Fonte: Enciclopdia e Dicionrio Ilustrado

    Koogan Houaiss (2009).

    Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 29

    incio do sculo XX criando uma nova indstria e seu mercado.

    Como isso foi possvel?

    Sua grande contribuio diz respeito forma de produzir o automvel a linha de montagem.

    Esse um clssico exemplo de inovao no processo de produo e no inovao no produto propriamente dito. Porm, sua linha de produo tornava-o completamente dependente dos funcionrios. Com alto ndice de absentesmo*, a fbrica no poderia funcionar. Isso exigia mudanas organizacionais que foram promovidas no sistema de remunerao. Os altos salrios e a participao nos resultados eram completamente inditos e levaram formao de filas imensas por ocasio das contrataes na fbrica. Henry Ford promovera inovaes organizacionais ou administrativas. Lembre-se que, conceitualmente, as mudanas implementadas por ele estavam baseadas no trabalho de Frederick W. Taylor, que voc estudou em Teorias da Administrao II no segundo Mdulo deste curso.

    Observe que inovao tecnolgica e novas tecnologias no so expresses que se relacionam apenas com tecnologias modernas ou chamadas de tecnologias de ponta. Essas expresses so mais abrangentes do que isso. Elas podem estar relacionadas com a forma de obter alimentos (instrumentos de caa, criao de rebanhos confinados, plantaes com sementes geneticamente modificadas, monitoramento por satlite dos campos de plantio), a forma de abrigar-se (casas de taipa, de madeira, de alvenaria, construes verticais, arranha-cus), a forma de locomover-se (carroas, automveis, avies e nibus espaciais), a forma de comunicar-se (fala, escrita, imprensa, rdio, televiso, internet).

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    30

    As inovaes tecnolgicas referem-se ao desenvolvimento, pelos seres humanos, de novas formas de resolver seus problemas, de fazer as coisas que julgam necessrias. A expresso alta tecnologia usada para designar produtos e processos intensivos em recentes conhecimentos cientficos, o que ser tratado mais frente.

    A eletricidade para fins de iluminao, mas, principalmente, como fonte de energia para o setor industrial, exerceu papel central na dinmica das transformaes ocorridas no incio do sculo XX. Os trabalhos iniciais em eletricidade datam da dcada de 1820, mas, j na dcada de 1930, ela era a principal fonte de energia industrial, como o at os dias de hoje, com o desenvolvimento de um nmero imenso de inovaes complementares e a construo de uma infraestrutura adequada.

    Voltemos a um personagem conhecido cuja contribuio foi relevante: Thomas Edison. Seu interesse pelas aplicaes dos conhecimentos de Faraday (1831) o levou a construir por conta prpria em 1876, aos 29 anos, o primeiro laboratrio no universitrio de pesquisas industriais de que se tem notcia. Nele, foram desenvolvidos o fongrafo, a lmpada, a locomotiva eltrica e o projetor de cinema. Apenas dois anos depois de patentear a lmpada incandescente, Edison construiu a primeira estao geradora de eletricidade produtora de corrente contnua. A estao geradora de Edison ficava em Nova York, era movida a carvo e conseguiu acender 7.200 lmpadas por vez e iluminar um bairro inteiro. Fundou a Edison General Eletric em 1888, empresa que se transformou num dos maiores fabricantes multinacionais de lmpadas e equipamentos eltricos leves e pesados at os dias de hoje.

    Se at ento o desenvolvimento de novas tecnologias tinha sido possvel apenas com conhecimentos prticos, no setor eltrico havia necessidade de fundamentao em conhecimentos cientficos. Os princpios do eletromagnetismo, sutil e invisvel, para serem aplicados com sucesso, precisavam ser elucidados pelos cientistas e

  • Saiba mais Paradigma taylorista-fordista

    Refere-se a um sistema de organizao do

    trabalho, aplicado originalmente por Henry Ford

    na Ford Motors Company a partir dos trabalhos

    de Taylor, baseado na diviso do trabalho

    e na produo seriada objetivando maior

    economia de tempo e esforo com o mximo de

    rendimento. Fonte: Adaptado de Enciclopdia e

    Dicionrio Ilustrado Koogan Houaiss (2009).

    Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 31

    aplicados a partir do seu entendimento pelos inventores. Cincia e tecnologia, que historicamente haviam seguido caminhos separados, comearam a interagir para a produo de inovaes tecnolgicas. Portanto, conforme observa Tigre (2006, p. 6):

    [...] a cincia s passou a influenciar diretamente o progresso tcnico quando a tecnologia industrial passou do mundo visvel das polias e engrenagens para o campo

    invisvel do eletromagnetismo e das reaes qumicas.

    Sigamos avanando no tempo.

    Terminada a Segunda Guerra Mundial, as economias norte-americana e britnica estavam totalmente estruturadas sobre os pilares da produo em massa. A industrializao baseada na eletricidade e no petrleo era uma realidade completamente difundida nesses pases. Os pases da Europa Continental, em processo de industrializao, precisavam ser reconstrudos e tudo isso foi feito sob o paradigma taylorista-fordista.

    No final da dcada de 1970, no entanto, j era possvel observar uma alterao no paradigma taylorista-fordista de produo. Alguns fatos foram relevantes para essa mudana. Em primeiro lugar, a primeira crise dos preos do petrleo em 1973 revelou que o modelo de crescimento baseado no consumo crescente de materiais e energia baratos no era sustentvel. Em segundo, houve o esgotamento do modelo fordista de produo baseado na padronizao e na diviso do trabalho excessivo. A oferta mundial de produtos industrializados igualava-se e ultrapassava a demanda mundial por eles. J no era mais suficiente produzir mais do mesmo. Era necessrio aumentar qualidade, reduzir desperdcios, descobrir e produzir o que o cliente queria comprar. O Japo, que ao final da 2 Guerra Mundial era uma pequena economia, havia iniciado um processo de reconstruo estrategicamente voltado para a industrializao, no copiando o modelo norte-americano e ingls, mas procurando desenvolver o seu

  • vPara mais detalhes sobre o Toyotismo ou Modelo Japons de Produo

    acesse: .

    Acesso em: 23 maio 2012.

    *Tecnologias da Informa-

    o e Comunicao diz

    respeito ao conjunto de

    recursos tecnolgicos e

    computacionais utilizados

    para gerao e uso da

    informao. , tambm, o

    conjunto de recursos no

    humanos dedicados ao

    armazenamento, proces-

    samento e comunicao

    da informao, bem como

    o modo como esses recur-

    sos esto organizados

    em um sistema capaz de

    executar um conjunto de

    tarefas. Essa sigla abrange

    todas as atividades desen-

    volvidas na sociedade

    pelos recursos da inform-

    tica. Fonte: Elaborado pela

    autora deste livro.

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    32

    prprio, o que levou ao desenvolvimento do toyotismo e liderou uma onda de inovaes organizacionais, destacando-se a Gesto pela Qualidade Total e a produo a partir dos princpios do Just-in-time, conceitos vistos na disciplina Teorias da Administrao II.

    No entanto, foram as ondas de inovaes tecnolgicas iniciadas a partir do transistor, na dcada de 1940, seguidas pela introduo do circuito integrado, na dcada de 1970, e pela Internet, na dcada de 1990, os principais fatores de mudanas sociais e econmicas do final do sculo XX e incio do sculo XXI.

    De acordo com Tigre (2006, p. 54-55, grifo nosso), as chamadas Tecnologias da Informao e Comunicao* abriram

    [...] oportunidades para inovaes secundrias que vm revolucionando a indstria e a organizao do sistema produtivo global. [...] A possibilidade de integrar cadeias globais de suprimentos, aproximar fornecedores e usu-rios e acessar informaes em tempo real em multimdia, onde quer que elas se encontrem armazenadas, alimen-ta o desenvolvimento de uma nova infra-estrutura, de novos modelos de negcios e viabiliza inovaes orga-nizacionais que seriam impensveis sem a informao e comunicao digitais. [...] As TIC tm um papel central nesse processo, pois constituem no apenas uma nova indstria, mas o ncleo dinmico de uma revoluo

    tecnolgica.

    Sobre a relevncia do advento das TICs na vida humana no mundo contemporneo, h o entendimento de que elas representam a quarta revoluo na comunicao e na cognio humanas, tendo impacto to significativo na alterao das tecnologias que usamos em nossas vidas quanto as revolues anteriores: fala, escrita e impresso. Warschauer (2006) explica a razo das TICs nuclearem uma revoluo tecnolgica: durante toda a histria da humanidade, a fala era o elemento que permitia a interao, estando sempre contextualizada. Os textos escritos, por sua vez, tornaram-se instrumentos para interpretao e reflexo, podendo ser acessados e analisados por diversas pessoas, em tempos diferentes. Assim, a

  • Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 33

    interao era permitida pela fala enquanto a reflexo e a interpretao, pela escrita. A comunicao mediada por computadores usando as TICs supera essa separao e

    [...] pela primeira vez na histria da humanidade, as pessoas podem interagir rapidamente e a distn-cia utilizando-se da escrita. Isso lhes possibilita trocar idias prontamente, enquanto mantm um registro das suas prprias comunicaes e uma reflexo sobre elas.

    (WARSCHAUER, 2006, p. 47).

    As TICs permitiram o desenvolvimento de uma nova tecnologia

    de ensino, a EaD. Reflita sobre os impactos dessa nova tecnologia

    na sua vida, na de sua famlia, em sua cidade e no pas.

    A rpida difuso das TICs fez com que as empresas desse setor assumissem a liderana da economia mundial a partir de meados da dcada de 1990: Microsoft, Intel, Cisco Systems, Google, AOL, para citar algumas. Esse cenrio retrata o valor do conhecimento nos novos negcios da economia mundial. Na Unidade 4, vamos voltar a discutir as TICs com mais detalhes.

    Cincia, Tecnologia e Inovao Tecnolgica

    Voc viu na seo anterior que, a partir do sculo XX, a

    inovao tecnolgica passou a estar cada vez mais relacionada

    com Cincia e Tecnologia. Nesta seo voc vai aprofundar o

    conhecimento acerca dos conceitos de Cincia, Tecnologia e

    Inovao Tecnolgica e suas interaes.

    Ento, ao trabalho!

  • Saiba mais Werner Siemens (1816-1892)

    Engenheiro alemo nascido em Hanover e falecido em

    Berlim. Foi responsvel pela primeira grande linha

    telegrfica entre Berlim e Frankfurt e pela primeira

    locomotiva eltrica. Fonte: Enciclopdia e Dicionrio

    Ilustrado Koogan Houaiss (2009).

    Alexander Graham Bell (1847-1922)

    Fsico escocs nascido em Edimburgo. Foi um dos

    inventores do telefone (1876) tendo sido professor

    de surdos-mudos. Fonte: Enciclopdia e Dicionrio

    Ilustrado Koogan Houaiss (2009).

    George Westinghouse (1846-1914)

    Industrial e engenheiro norte-americano, nascido em

    Central Brigde, Nova York e falecido no mesmo local.

    Criou o freio a ar comprimido que leva seu nome e que

    foi adotado em ferrovias em todo o mundo. Fonte:

    Enciclopdia e Dicionrio Ilustrado Koogan Houaiss (2009).

    Joseph Alois Schumpeter (1883-1950)

    Nascido em Trest, Morvia, e falecido em Connecticut/

    EUA. Economista e socilogo. Foi Ministro da Fazenda

    na ustria (1919), mas se dedicou principalmente ao

    ensino e foi professor em Bonn e Harvard. Um dos

    conceitos mais importantes introduzidos por ele

    o de inovao. Segundo ele, existe um estado sem

    crescimento, o circuito econmico, e um estado de

    crescimento, a evoluo. A passagem do circuito

    para a evoluco se d por meio das inovaes que

    constituem o motor do crescimento. Fonte: Biografas

    y Vidas (2004).

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    34

    No incio do sculo XX, Edison e outros inventores-empresrios como Werner Siemens, Alexander Graham Bell e George Westinghouse criaram grandes firmas inovadoras que oligopolizaram o novo setor produtor de equipamentos de gerao, transmisso e aplicao de energia. O avano no uso da eletricidade permitiu o desenvolvimento de mquinas maiores e mais eficientes e de sistemas integrados de produo como as linhas de montagem.

    Foi nesse ambiente concorrencial do incio do sculo XX, quando pequenos fabricantes comeavam a concorrer com grandes empresas monopolistas, que viveu o economista Joseph Alois Schumpeter. Suas observaes sobre a realidade econmica da poca o levaram a publicar, em 1912, a Teoria do Desenvolvimento Econmico, na qual ele ressaltava, de forma explcita, a importncia central da inovao na competio entre firmas, na evoluo das estruturas industriais e no prprio desenvolvimento econmico. A verso em portugus mais acessvel desse trabalho a de 1982.

    Schumpeter (1982) atribua s firmas o papel central de propulsoras do processo de inovao, devido possibilidade de obteno de lucros extraordinrios advindos da introduo de novas tecnologias no mercado, fossem elas novos produtos ou processos, novas formas de organizao

    empresarial, a abertura de novos mercados ou at mesmo a utilizao de novas fontes de matrias-primas.

  • Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 35

    No pargrafo anterior, qual conceito se aplica melhor para a

    expresso novas tecnologias, em negrito?

    Schumpeter (1982) distinguia claramente os processos de inveno, inovao e difuso. Para ele, inveno estava associada gerao de novas ideias, ao progresso do conhecimento cientfico propriamente dito e sua aplicao na gerao de novos equipamentos ou artefatos ou mesmo novos processos, mas sempre em fase pr-comercial. Inovao referia-se introduo comercial de uma inveno na esfera tcnico-econmica. Para isso, deveria haver um agente com uma expectativa de retorno econmico: o empresrio inovador.

    A inovao seria selecionada, favorvel ou desfavoravelmente, pelo mercado. Na primeira hiptese, a inovao passaria fase de difuso. Na segunda hiptese, a inovao seria descartada e o esforo empreendido at ali, perdido. A difuso ocorreria a partir do momento em que os agentes econmicos pudessem observar os resultados compensadores das mudanas implementadas e passassem, eles mesmos, a incorporar a novidade: de produto, processo, mercado, matria-prima ou organizao.

    Observe que Schumpeter j percebia o processo de inovao associado ao avano do conhecimento cientfico. Como voc mesmo pode concluir, Schumpeter j revelava, atravs das observaes em termos de produo econmica, a interao entre cincia, tecnologia e inovao. Vamos, ento, aprofundar-nos nesses conceitos.

    Comecemos pela cincia. Davies (19--) esclarece:

    A cincia tem de envolver mais do que a mera catalo-gao de fatos e do que a descoberta, atravs da tenta-tiva e erro, de maneiras de proceder que funcionam. O que crucial na verdadeira cincia o fato de envolver a descoberta de princpios que subjazem e conectam os fenmenos naturais. [...] a verdadeira cincia consiste em

    saber por que razo as coisas funcionam.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    36

    Observe que a utilizao do conhecimento cientfico, do entendimento das leis que regem os diversos fenmenos, resulta em aumento da produtividade na gerao de novas tecnologias, quando comparada ao mtodo da tentativa e erro. As transmisses de sons, imagens e dados via ondas eletromagnticas, o uso da energia nuclear, a produo de insulina humana por bactrias geneticamente modificadas, nada disso seria possvel sem a compreenso terica profunda dos diversos fenmenos subjacentes a essas tecnologias.

    Dasgupta e David (1994) concluem: cincia uma esfera de atividades cuja organizao conduz ao rpido crescimento do conhecimento, enquanto as atividades relacionadas com a tecnologia buscam alcanar o rpido crescimento dos benefcios materiais a partir do novo conhecimento.

    Tendo sido reconhecida a articulao entre as esferas cientfica e tecnolgica como forma de impulsionar o processo de inovao e o valor econmico das novas tecnologias, por volta da dcada de 1930 comearam a ser propostos modelos que procuravam descrever os processos de interao entre Cincia e Tecnologia como geradores de inovaes tecnolgicas no intuito de embasar, com conhecimentos, os esforos poltico-financeiros de incentivo inovao tecnolgica.

    O primeiro e mais simples foi o Modelo Linear de Inovao ou science push. Segundo esse modelo, o processo de inovao tecnolgica iniciado pela pesquisa bsica, passando pela pesquisa aplicada, pelo desenvolvimento, pela engenharia at chegar comercializao pioneira.

    Figura 2: Modelo linear de inovao tecnolgica ou science push Fonte: Elaborada pela autora deste livro

    Neste ponto, importante que voc pare para refletir e, at

    mesmo, para discutir com os colegas. Como se relaciona o

    conceito de tecnologia apresentado no incio da Unidade com

    aquele anteriormente citado, de autoria de Dasgupta e David

    (1994)? So incoerentes? So complementares? Explique.

  • vAs atividades de Pesquisa

    e Desenvolvimento so

    comumente tratadas de

    forma conjunta e, com

    frequncia, abreviadas por

    P&D. Mais recentemente,

    as atividades de

    Engenharia tm sido

    includas e, neste caso,

    abrevia-se como P, D&E.

    Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 37

    Como se relaciona o conceito de inovao, tambm apresentado

    no incio desta Unidade, com aquele proposto por Schumpeter?

    So incoerentes? So complementares? Explique.

    Vamos detalhar um pouco mais os conceitos utilizados neste modelo tendo como referncia Cassiolato et al. (1996).

    As atividades de pesquisa bsica objetivam a ampliao do conhecimento genrico ou o melhor entendimento acerca de um tema investigado sem quaisquer consideraes sobre as possveis aplicaes dos avanos perseguidos.

    As atividades de pesquisa aplicada visam ao aprofun-damento do conhecimento necessrio para se atingir um objetivo especfico, reconhecido a priori. Os resultados nessa etapa so mais concretos, sendo possvel identificar mais facilmente o grau de sucesso do esforo realizado.

    As atividades de desenvolvimento consistem no uso sistemtico dos conhecimentos gerados a partir das atividades de pesquisa para viabilizar a produo de nova tecnologia, seja de produto ou de processo. Esto includos aqui o design do produto, construo de prottipos ou plantas-piloto e aperfeioamento dos processos.

    As atividades de engenharia consistem em aplicar todo o conhecimento estabelecido at ento para desenvolver solues econmicas para os problemas tcnicos. Alm do projeto de soluo, cabe ao engenheiro execut-lo. nessa etapa que, efetivamente, a realidade social e econmica transformada. No exemplo da eletricidade, os esforos de Thomas Edison, e todo o grupo por ele formado que trabalhou em Menlo Park, Nova Jersey, Estados Unidos, correspondem s atividades de pesquisa aplicada, desenvolvimento e engenharia.

    De acordo com esse modelo, para incentivar a inovao tecnolgica (e seus benefcios econmicos) se deveria investir pesadamente em cincia bsica. Esse investimento geraria um estoque de conhecimentos que ficaria disponvel para ser utilizado pelas

  • *Trajetria tecnolgica

    assumida por determi-

    nada tecnologia, refere-se

    s opes tcnicas adota-

    das ao longo do tempo. Se

    pensarmos no automvel,

    por exemplo, a trajetria

    tecnolgica seguida foi a

    de utilizao do ao como

    matria-prima bsica.

    Com o passar do tempo,

    os revestimentos internos

    passaram a ser cada vez

    mais sintticos. A partir

    da dcada de 1970, o

    consumo de combustvel

    passou a ser relevante

    devido ao aumento dos

    preos do petrleo e o

    design dos carros favo-

    receu carros menores. A

    questo ambiental, alar-

    deada a partir da dcada

    de 1990, tem levado

    busca por combustveis

    alternativos aos fsseis

    e, agora, dispomos dos

    carros bicombustveis.

    Fonte: Elaborado pela

    autora deste livro.

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    38

    empresas para o desenvolvimento de novos produtos e processos, gerando riqueza e desenvolvimento econmico e social.

    O Modelo Linear de Inovao estabeleceu as bases da poltica de cincia e tecnologia nos EUA na primeira metade do sculo XX, tendo exercido sua influncia sobre a definio de polticas similares em vrios pases do mundo, incluindo o Brasil.

    Esse Modelo, porm, apresenta restries. Em primeiro lugar, ele pressupe uma diviso do trabalho entre as esferas cientfica e empresarial (as atividades de pesquisa bsica e aplicada pertenceriam ao reino da cincia e as atividades de desenvolvimento e engenharia ao domnio da tecnologia, conforme classificao proposta por Dasgupta e David (1994), vista anteriormente). Em segundo lugar porque admite, hipoteticamente, que a transferncia de conhecimentos gerados na esfera cientfica para a esfera empresarial um processo natural. E, em terceiro, no reconhece a diversidade entre os diferentes campos de conhecimento em termos de gerao de resultados com potencial econmico.

    A relao entre C&T apresenta um carter interativo que tambm inclui os contextos econmico, poltico e tecnolgico de cada pas ou regio. Dessa forma, os avanos da cincia no so autnomos, pois so diretamente influenciados por polticas pblicas, com as quais o administrador pblico est diretamente ligado, e pelas trajetrias tecnolgicas*.

    A principal evidncia em favor do Modelo Linear de Inovao a de que a cincia bsica tem, efetivamente, criado oportunidades significativas para algumas aplicaes tecnolgicas lucrativas. Porm, apesar de explicar o processo de inovao que levou ao laser e bomba atmica, o modelo linear no explica completamente inovaes que tenham sido motivadas pela percepo de necessidades no atendidas, como o desenvolvimento de motores eltricos e aparelhos eletrodomsticos ou corantes, antibiticos e explosivos.

    Foi proposto, ento, o Modelo Linear Reverso ou demand pull, que considera que as inovaes surgem a partir de necessidades identificadas no mercado ou por problemas operacionais identificados pelas empresas.

  • Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 39

    Figura 3: Modelo linear reverso ou demand pull Fonte: Elaborada pela autora deste livro

    O Modelo Linear Reverso coloca toda a nfase do processo de inovao sobre a demanda identificada no mercado. Desse modo, o conhecimento cientfico fica subordinado a solucionar problemas surgidos na busca pelo atendimento s demandas de mercado. Claramente, no isso que se observa na prtica, como voc j pde observar de tudo o que foi tratado at aqui. Como visto na seo anterior, as experincias de Thomas Edison com o fongrafo, por exemplo, mostraram que a necessidade no , necessariamente, a me da inveno, ou seja, nem sempre ela determinada pelas condies de demanda.

    Claramente, os dois modelos so parciais. Explicam parte do processo de inovao, mas no a sua totalidade. Seu carter linear parece insuficiente para explicar efetivamente o processo de inovao. Alm disso, as categorias tradicionais de pesquisa bsica, pesquisa aplicada e desenvolvimento no representam com fidelidade a realidade das atividades cientficas e tecnolgicas, havendo sobreposies entre elas. Assim, a pesquisa estratgica estaria atuando na fronteira cientfica inspirada por fatores correlacionados, tanto a utilizaes potenciais como compreenso dos fenmenos fundamentais.

    A necessidade de modelos que explicassem melhor a interao entre Cincia, Tecnologia e Inovao conduziu aos trabalhos de Kline (1978) e Kline e Rosenberg (1986), que propuseram o Modelo de Ligaes em Cadeia ou chain linked model, que enfatiza a permanente retroalimentao entre as diversas etapas do processo.

    De acordo com esse modelo, que voc pode observar na Figura 4, o processo de inovao pressupe a existncia de mltiplas sequncias de interao entre as suas diversas etapas e a existncia

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    40

    de muitas formas de ampliao do estoque de conhecimentos, e no apenas avanos no campo cientfico.

    Nesse modelo, a cadeia central de inovao estruturada por mltiplos elos internos de realimentao do processo. Alm disso, toda a cadeia central de inovao interage com as atividades de pesquisa, fontes de novos conhecimentos para o processo de inovao.

    Veja, por exemplo, o caso do desenvolvimento de um novo modelo de aeronave por uma empresa como a Embraer. Desde a etapa inicial de levantamento de requisitos para a elaborao do projeto da aeronave, at os testes finais, so envolvidos no processo engenheiros das mais variadas especialidades e conhecimentos (aeronuticos, mecnicos, de automao, de softwares, para citar apenas alguns), mas tambm so consultados passageiros, pilotos, comissrios de bordo, agentes de viagem, atendentes das companhias areas, mecnicos de manuteno das aeronaves, ou seja, todos os tipos de atores que tm envolvimento com a futura aeronave e pontos de vista diferentes sobre os produtos similares, j existentes no mercado; pessoas que podem ter contribuies relevantes a dar para que o produto seja efetivamente uma inovao bem-sucedida.

    O reconhecimento da complexidade do fenmeno da inovao tem sido crescente. Atualmente, sabe-se que todas as diversas interaes necessrias para que o processo de inovao acontea dependem no somente das organizaes centrais desse processo (as empresas e as organizaes geradoras de novos conhecimentos como universidades e institutos de pesquisa), mas de toda a rede de instituies dos setores pblico e privado cujas atividades e interaes iniciam, importam, modificam e difundem novas tecnologias. Essa rede de instituies ser descrita posteriormente como sendo um Sistema de Inovao.

  • Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 41

    Figura 4: Modelo de ligaes em cadeia Fonte: Adaptada de Kline e Rosemberg (1986)

    Como voc deve ter percebido, com a perspectiva econmica lanada inovao por Schumpeter a partir do sculo XX, inovar passou a significar no apenas criar algo tecnologicamente novo, mas dar destinao econmica para uma nova ideia. Nos dias de hoje, totalmente reconhecida a importncia central da inovao no desenvolvimento econmico das sociedades.

    Do estudo realizado na disciplina de Introduo Economia no primeiro Mdulo deste curso, voc aprendeu que novos produtos criam novos mercados consumidores e novos processos de produo podem significar menores custos de produo e, portanto, menores preos e aumento de vendas. Novos mecanismos de venda, por exemplo, por meio da Internet, tambm podem significar o alcance de novos mercados consumidores, o que acarretar aumentos de escala de produo e reduo de custos. Essas so apenas algumas situaes que demonstram a relevncia da inovao tecnolgica nas sociedades capitalistas contemporneas.

    A esta altura da disciplina Tecnologia e Inovao voc j sabe

    o que tecnologia, os seus vrios conceitos; e o que inovao,

    tambm com suas variadas definies. H, por essa razo, a

    necessidade de uma referncia conceitual e metodolgica para

    estudar o processo de inovao nos dias de hoje.

  • vPara conhecer mais sobre esse manual, acesse: . Acesso em:

    23 maio 2012.

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    42

    A principal referncia para esse fim o Manual de Oslo, documento desenvolvido pela Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE).

    De acordo com OECD (1997), as inovaes podem ser classificadas, quanto ao seu foco, em inovaes de produto, de processo e organizacionais.

    As inovaes de produto referem-se introduo de produtos tecnologicamente novos cujas caractersticas diferem de forma significativa de todos os produtos antes produzidos. Isso inclui, tambm, os aperfeioamentos tecnolgicos de produtos previamente existentes cujos desempenhos tenham sido substancialmente aprimorados por meio de novas matrias-primas ou componentes de maior rendimento. Alguns exemplos de inovao de produto so os televisores de plasma, refrigeradores frost-free que no precisam de descongelamento, carros eltricos, cmeras digitais.

    J as inovaes de processo referem-se a formas de operao tecnologicamente novas ou aprimoradas de forma substancial, que so obtidas pela introduo de novas tecnologias de produo, assim como de mtodos novos ou notadamente aprimorados de manuseio e entrega de produtos. As inovaes de processo alteram de modo consideravel o nvel de qualidade dos produtos ou dos custos de produo e entrega. Um bom exemplo o sistema de autosservio nos restaurantes que barateou significativamente o custo e o tempo para fazer as refeies nesses estabelecimentos.

    As inovaes organizacionais, por sua vez, referem-se a mudanas que ocorrem na estrutura gerencial da empresa, na forma de articulao entre suas diferentes reas, na especializao dos trabalhadores, no relacionamento com fornecedores e clientes e nas mltiplas tcnicas de organizao dos processos de negcios. Como exemplo, a adoo de tcnicas Just-in-time nos processos produtivos da organizao.

    No que se refere ao grau de novidade, as inovaes podem ser radicais ou incrementais.

    As inovaes radicais representam o desenvolvimento e a introduo de novos produtos, processos ou formas de organizao

  • vVoc viu isso detalhadamente em Gesto de Operaes e

    Logstica I, no Mdulo 5.

    Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 43

    totalmente novos, para os quais no h precedente. Esse tipo de inovao rompe com os padres tecnolgicos anteriores, dando origem a novos mercados, setores ou indstrias.

    As inovaes incrementais, por outro lado, conforme observa Tigre (2006), abrangem melhorias feitas no design ou na qualidade dos produtos, aperfeioamentos em layout e processos, novos arranjos logsticos e organizacionais e novas prticas de suprimentos e vendas. As inovaes incrementais ocorrem de forma contnua em qualquer indstria. Elas no derivam necessariamente de atividades de Pesquisa e Desenvolvimento e, comumente, resultam do processo de aprendizado interno e da capacitao acumulada.

    Um bom exerccio que voc pode fazer para se autoavaliar

    caracterizar cada uma dessas categorias de inovao indicadas

    anteriormente e dar, pelo menos, mais um exemplo de cada.

    Observe, porm, que a introduo de um novo produto, processo ou forma organizacional na sociedade apenas uma parte do processo de inovao. A partir dessa introduo pioneira, indivduos ou firmas decidem adotar a nova tecnologia em um processo chamado de adoo. A disseminao dessa nova tecnologia pela sociedade chamada de difuso. Vejamos isso com mais detalhes. Apenas as tecnologias que se difundem, impactam de modo significativo a economia e a sociedade.

    O Processo de Adoo

    Segundo Rogers (1995), alguns atributos tcnicos influenciam os potenciais adotantes de uma inovao. Por adotante entendemos ser aquele que adota uma ideia ou produto lanado no mercado e para isso faz uma anlise prvia para tomada de deciso.

    Em primeiro lugar, os potenciais adotantes observam a vantagem relativa da inovao, ou seja, procuram saber se essa inovao oferece significativa vantagem, em termos de qualidade ou custos, por exemplo, em relao quilo que ela substitui.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    44

    Observam a complexidade da inovao, buscando inovaes que podem ser entendidas e adotadas sem grandes dificuldades. Os potencias adotantes analisam a compatibilidade da inovao com suas necessidades, com seus modos de fazer as coisas e com as normas sociais vigentes. Alm disso, observam, tambm, os aspectos relacionados com a testabilidade da inovao, ou seja, a possibilidade de test-la ou de experiment-la antes de adot-la. E, por fim, leva-se em considerao a observabilidade da inovao, ou seja, o quo visvel a mensurao dos resultados da inovao.

    Simplificando, o potencial adotante faz uma anlise do custo-benefcio da mudana para a nova tecnologia e, se o resultado parecer compensador, ele adota a nova tecnologia. claro que os fatores que comporo os itens custos e benefcios so variveis para cada potencial adotante em cada nova situao.

    Faa um exerccio pessoal e tente verificar o seu perfil de

    potencial adotante, de acordo com as cinco categorias propostas

    por Rogers para alguns novos produtos como televiso de

    plasma ou LCD, pen drive ou centrfuga de frutas para sucos.

    Voc observou outros fatores que parecem influenciar em

    sua deciso de adotar ou no uma dessas novas tecnologias?

    Anote-os.

    Certamente que algum ou vrios dos fatores que voc listou como influenciadores de sua deciso para adoo de uma nova tecnologia no esto includos nas cinco categorias apresentadas anteriormente. Isso porque naquela lista esto fatores tcnicos, relacionados tecnologia em si. No entanto, fatores econmicos e institucionais, provavelmente listados por voc, tambm so relevantes.

  • Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 45

    O Processo de Difuso

    Os processos de inovao e difuso no podem ser totalmente separados, uma vez que, em muitos casos, a difuso contribui para o processo de gerao de inovaes. A difuso de um produto ou processo no mercado revela problemas que podem ser corrigidos em novas verses. Assim, os feedbacks alimentam e direcionam a trajetria da inovao, revelando as diferentes necessidades dos usurios por solues tcnicas. Dessa maneira, a difuso torna-se parte intrnseca da inovao.

    O processo de difuso tecnolgica pode ser analisado a partir de trs dimenses:

    ff trajetria tecnolgica; ff velocidade de difuso; e ff fatores institucionais.

    Trajetria Tecnolgica

    A trajetria assumida por uma determinada tecnologia refere-se s opes tcnicas adotadas ao longo do tempo. Essa trajetria inclui, por exemplo, decises sobre materiais utilizados, processos de fabricao, tecnologias complementares, reas de aplicao e outras decises essenciais para viabilizar uma nova tecnologia e adapt-la s necessidades de demanda.

    Velocidade de Difuso

    A velocidade de difuso de uma tecnologia medida pela evoluo do nmero total de adotantes ao longo do tempo dentro do universo potencial de usurios. A velocidade de difuso depende, como vimos anteriormente, de alguns atributos tcnicos elencados por Rogers (1995). O ritmo de difuso tecnolgica pode ser previsto a partir de modelos analticos que procuram descrever o padro evolutivo das tecnologias. Normalmente, o resultado uma curva em formato de S.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    46

    Figura 5: Curva S representando o acmulo de adoes ou o processo de difuso de uma tecnologia

    Fonte: Adaptada de Rogers (1995)

    A partir desse modelo de difuso (Curva em S), associa-se o conceito de ciclo de vida da tecnologia, composto de quatro fases distintas, conforme a Figura 5. A primeira a fase de introduo, em que apenas um pequeno nmero de pessoas ou firmas adota a nova tecnologia. Nessa fase, h muitas incertezas quanto aos resultados dessa adoo. medida que os adotantes pioneiros tm sucesso e ocorrem melhorias sucessivas na tecnologia, d-se a acelerao do processo de adoo e a curva de difuso entra na chamada fase de crescimento. As inovaes sucedem-se e, na fase de maturao, as vendas comeam a estabilizar-se. Na fase de declnio, alguns usurios passam a adotar tecnologias que substituem a anterior.

    A difuso de tecnologias no segue necessariamente o padro S. Algumas passam diretamente do crescimento ao declnio, pulando a fase de maturidade. A tecnologia do fax constitui um bom exemplo das diferentes fases do ciclo de vida das inovaes. O sistema foi introduzido nos anos de 1980 e causou grande impacto nas telecomunicaes, na medida em que possibilitava a transmisso de textos e imagens por via telefnica com grandes vantagens em relao tecnologia telex utilizada at ento para a transmisso de textos. O sucesso foi imediato, permitindo um

  • Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 47

    crescimento das vendas at a primeira metade da dcada de 1990, quando o fax entrou em seu perodo de maturao. A partir de ento, o advento da internet e a rpida difuso do uso do e-mail tornaram o produto obsoleto, levando-o fase de declnio. O fax no deixou de existir, mas hoje seu uso se limita ao nicho de mercado de transmisso de documentos no digitalizados que precisem exibir assinaturas e carimbos (TIGRE, 2006).

    Outra observao interessante quanto velocidade de difuso das inovaes: algumas se difundem rapidamente como a eletricidade que, em 30 anos (de 1910 a 1940), havia conquistado quase 100% do mercado norte-americano de energia residencial enquanto a mquina de lavar, em 60 anos (de 1920 a 1980), atingiu 70% dos lares daquele pas (HALL, 2005).

    Fatores Institucionais

    De acordo com Tigre (2006), os fatores institucionais que condicionam o processo de difuso tecnolgica incluem a disponibilidade de financiamentos e de incentivos fiscais inovao, a existncia de um sistema de propriedade intelectual e de capital humano e instituies de apoio, para citar alguns exemplos. Os fatores institucionais que condicionam a difuso de novas tecnologias tambm podem incluir a estratificao social, a cultura, a religio, o marco regulatrio e o regime jurdico do setor ou do pas.

    Complementando...

    Para voc complementar os estudos desta Unidade, sugerimos o site a seguir:

    Desenvolvimento do automvel acompanhe a interessantssima histria do desenvolvimento do automvel e observe a sequncia de inovaes tecnolgicas: a propulso de um veculo por uma mquina a vapor (1801); o desenvolvimento do motor a combusto interna por Otto (1876); o uso desse motor para propulso dos automveis por Gottlieb Daimler e Karl Benz (1886), quando um automvel alcana 16 km/h; o desenvolvimento do carburador por Mayback (1890), conseguindo o recorde mundial de velocidade de 64,4 km/h. No deixe de consultar, no mesmo site, a seo Pioneiros do automvel. Disponvel em: . Acesso em: 23 maio 2012.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    48

    ResumindoNo incio da Unidade 1, voc viu que Tecnologia signifi-

    ca a forma utilizada para realizar as tarefas. O termo pode

    ser usado de forma genrica como na expresso a tecnolo-

    gia para produo de alimentos est sendo continuamente

    melhorada ou de forma especfica como na expresso com

    a nova tecnologia de branqueamento sem cloro, por exemplo.

    J o termo Inovao pode ser entendido de duas formas. Em

    primeiro lugar, como um processo de gerao e disseminao,

    na malha econmica e social, de novas tecnologias, sejam elas

    efetivamente um novo produto ou servio ou uma nova forma

    de se exercer determinada atividade utilizando novos recursos

    ou os recursos existentes combinados de nova maneira. E, em

    segundo lugar, como resultado desse processo de inovao,

    a criao do produto ou artefato. Uma observao importan-

    te quanto ao carter sistmico e integrado da inovao: as

    mudanas que observamos no se devem inovao isolada,

    mas sim a uma sucesso de inovaes tecnolgicas e organiza-

    cionais radicais e incrementais em um contexto social e econ-

    mico favorvel.

    Na segunda parte desta Unidade, voc viu que a partir

    das primeiras dcadas do sculo XX, as mudanas nos modos

    de produo, tecnolgicas ou organizacionais, passaram a ter

    uma influncia to significativa sobre a economia e a sociedade

    que, de modo geral, tornaram-se objeto de estudo e investiga-

    o. Os conceitos de cincia, tecnologia e inovao foram expli-

    citados e interligados.

  • Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 49

    So duas as constataes sobre cincia, tecnologia e

    inovao que devem ser ressaltadas aqui. Em primeiro lugar,

    o conhecimento cientfico adquiriu um papel fundamental no

    processo de desenvolvimento de novas tecnologias: a cincia,

    ento, constituiu-se como base para as novas tecnologias. Em

    segundo lugar, o processo de inovao tecnolgica, resultado

    do avano do conhecimento cientfico-tecnolgico, inseriu-se

    no sistema socioeconmico e passou a ser justificado pelo seu

    valor econmico. Desde ento, a importncia da articulao

    entre as esferas cientfica e tecnolgica, de maneira a impulsio-

    nar o processo de inovao, passou a ser reconhecida.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    50

    Atividades de aprendizagem

    1. O que voc, a partir do nosso estudo, entende por Tecnologia e

    por Cincia? Retome suas anotaes, feitas durante a leitura desta

    Unidade sobre Tecnologia e Cincia, e compare o seu entendimento

    acerca desses termos. Voc percebe que aprendeu?

    2. Toda inovao tecnolgica? Justifique sua resposta.

    3. D exemplos de inovaes de produto e de processo. Discuta a rele-

    vncia dessa classificao.

    4. As inovaes provm da busca de solues para problemas existen-

    tes ou as pessoas inventam e desenvolvem coisas para as quais h

    necessidade de buscar utilidade?

    5. A necessidade percebida ou criada suficiente para termos uma

    inovao?

    6. Como a utilizao de cada um dos modelos explicativos para o fen-

    meno da inovao tecnolgica (linear, linear reverso, chain linked e

    sistmico) pode influenciar polticas pblicas voltadas para o incen-

    tivo inovao?

    7. Voc poderia citar alguns dos fatores que podem fazer com que uma

    nova tecnologia no substitua, necessariamente, a tecnologia ante-

    rior, que ela veio substituir? Como a curva S, apresentada na Figura

    5, seria modificada nesse caso?

    Caro estudante, com as informaes dadas at aqui voc capaz de responder a alguns questionamentos. Vamos l?

  • Unidade 1 Conceitos Fundamentais

    Mdulo 7 51

    8. Considerando o ciclo de vida de uma tecnologia, indique quais so

    os tipos de inovao (radical/incremental, produto/processo/organi-

    zacional) que devem predominar em cada uma das fases. Justifique.

    9. Recentemente, vivenciamos a polmica questo da introduo de

    alimentos transgnicos em nossa dieta. Como o quadro poltico,

    social e regulatrio tem influenciado na difuso dessa nova tecno-

    logia?

  • UNIDADE 2

    Objetivos Especficos de Aprendizagem

    Ao finalizar esta Unidade, voc dever ser capaz de:

    ff Conhecer e manusear os principais indicadores de inovao

    tecnolgica e suas fontes;

    ff Compreender os principais fatores causadores de especificidades

    na inovao; e

    ff Descrever as situaes da inovao tecnolgica em seu municpio,

    estado e pas.

    Indicadores e Condicionantes do

    Processo de Inovao

  • Unidade 2 Indicadores e Condicionantes do Processo de Inovao

    Mdulo 7 55

    Caro estudante,

    Neste ponto da disciplina, bem provvel que o entendimento do conceito de inovao e da relao desta com cincia e tecnologia estejam claros. Se, no entanto, ainda persistirem as dvidas, convido-o a voltar ao texto para esclarecer os pontos obscuros; pois, nesta Unidade, voc ir aprofundar significativamente seu entendimento acerca da inovao, especialmente no Brasil e, para isso, voc utilizar indicadores. Eles so ferramentas valiosssimas de apoio deciso, como voc deve se lembrar de ter visto na disciplina Organizaes, Processos e Tomada de Deciso no Mdulo 4 e, portanto, para tomar decises relacionadas inovao tecnolgica, um administrador pblico no pode prescindir dos indicadores, certo? Comeando esta Unidade, os indicadores de inovao sero usados para mostrar-lhe que o complexo processo de inovao tecnolgica no homogneo, mas condicionado por diversos fatores, como o setor de atividade econmica e a localizao geogrfica, por exemplo.

    Agora, ao trabalho!

    Indicadores e Condicionantes do Processo de Inovao

    Indicadores de Inovao Tecnolgica

    O entendimento de qualquer processo de interesse ocorre ao observarmos o que entra no processo; o processo de transformao em si; e o que dele resulta, ou seja, seus resultados.

    No caso da preparao de um prato de receita consagrada, por exemplo, sabemos quais so os ingredientes necessrios, sua proporo e o modo de preparo (informaes contidas na receita)

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Tecnologia e Inovao

    56

    e o resultado esperado. Os indicadores usados para garantir o resultado desejado podem ser os de entrada: as quantidades e ordem de acrscimo dos ingredientes; os de processo, dizem respeito: temperatura e ao tempo de preparo, por exemplo; e os indicadores de sada: o ndice de satisfao dos comensais com o prato.

    Se, no entanto, estamos falando da criao de um prato novo por um chef renomado para destacar nosso restaurante, no dispomos da receita. Como saber se vamos obter sucesso com tal receita? No temos garantias. C