Tema 1 o Município

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    TemaO Municpio

    Projeto Ps-graduao

    Curso MBA em Administrao Pblica e Gerncia de Cidades

    Disciplina Direito Municipal e urbanstico

    Tema O Municpio

    Professor Bruno Meirinho

    Introduo

    O municpio um dos entes da federao, previsto pela Constituio da

    Repblica de 1988. Trata-se do rgo de administrao do nvel local,

    envolvendo a rea urbana e rural do territrio municipal.

    Nesse sentido, o municpio o nvel da federao mais prximo do

    cidado. Por um lado, portanto, a administrao municipal pode ter

    conhecimento mais prximo das demandas da sociedade local, por outro,tambm recebe as demandas mais imediatas e, em alguns casos, no tem

    todas as condies de atender o que foi solicitado, em virtude das

    competncias do Estado e da Unio.

    (Vdeo disponvel no material on-line)

    A repblica e os municpios

    A Repblica a forma de governo atualmente adotada no Brasil. Sua

    proclamao ocorreu no ano de em 15 de novembro 1889, tendo como efeito a

    substituio da forma de governo anteriormente adotada, o Imprio.

    Para compreender a atual forma de governo no Brasil, importante

    saber que as formas de governo dividem-se, basicamente, em duas:

    a. Monarquia: oriundo das palavras gregas mono (um) e archia

    (chefe/lder), a monarquia significa o governo poltico concentrado em

    uma s pessoa, o monarca. Normalmente, os monarcas adotam a

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    designao de Rei ou Imperador. Desse modo, todo governo que

    tenha um Rei ou um Imperador , normalmente, uma monarquia.

    Tambm, em regra, os monarcas no so eleitos, pois ocupam o seu

    cargo em funo da herana ou seja, o ttulo de monarca

    transmitido pelas geraes, dentro da famlia real, p. ex. de pai para

    filhoou por conquistas militares.

    b. Repblica: formada pela combinao das palavras em latim res

    (bem, patrimnio ou coisa) e publica (do Estado), a Repblicasignifica o governo poltico que se contrape monarquia e ao

    governo centralizado em uma pessoa. Desse modo, a Repblica se

    afasta dos valores da hereditariedade no poder, da nobreza e de

    critrios divinos ou msticos para a designao do lder do governo.

    Com efeito, sob a Repblica, preferem-se adotar valores colegiados

    ou coletivos para a definio dos governantes, alm de mecanismos

    de eleio ou de legitimao do governante perante a sociedade,entre outras caractersticas.

    DICA DE LEITURA

    Para aprender mais sobre formas de governo e outros conceitos importantes

    para a poltica e a gesto pblica, procure o livro Dicionrio de Poltica, do

    autor italiano Norberto Bobbio.

    O Brasil j esteve submetido s duas formas de governo que explicamos

    anteriormente. Veja a histria das formas de governo em nosso pas:

    a) 1500 a 1815 (Colnia)Monarquia: o perodo colonial no Brasil tem

    incio com o anunciado descobrimento das terras brasileiras pelos

    portugueses, por meio da frota de naus comandada pelo navegador e

    explorador Pedro lvares Cabral que, por ter realizado esse feito,

    normalmente conhecido por ser o descobridor do Brasil. Assim,

    descoberto por portugueses, o Brasil passa ao domnio da coroa

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    Portuguesa na forma de colnia. Por isso, durante esse perodo, o

    Brasil fez parte do Reino de Portugal e submetia-se ao governo do

    Rei de Portugal cuja forma de governo era a Monarquia.

    b) 1815 a 1822 (Reino Unido)Monarquia: no ano de 1808, em virtude

    dos conflitos entre Portugal e a Frana de Napoleo Bonaparte, a

    famlia real portuguesa foge da Europa e se instala na cidade do Rio

    de Janeiro. Com efeito, o governo do Reino de Portugal foi

    transferido para o Brasil, que at ento era uma colnia. Deste modo,

    criaram-se condies para a elevao da situao das terras

    brasileiras no reino portugus. O Brasil deixou de ser apenas uma

    colnia e passou a integrar o reino em condies de igualdade com

    as prprias terras de Portugal. Em virtude deste fenmeno, em 1815,

    o Reino de Portugal mudou o nome para Reino Unido de Portugal,

    Brasil e Algarves. Foi mantida a forma de governo monrquica,

    exercida pelo Rei de Portugal.

    c) 1822 a 1889 (Independncia) Monarquia: em 7 de setembro de

    1822, o Brasil teve declarada a sua independncia, desmembrando-

    se, assim, do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e instalando

    nas terras brasileiras um governo autnomo, conduzido pelo

    Imperador do Brasil, Dom Pedro I. A forma de governo adotada foi a

    Monarquia, denominada de Imprio do Brasil.

    d) 1889 aos dias atuais Repblica: em 15 de novembro de 1889 foi

    proclamada a Repblica do Brasil pelo Marechal Deodoro daFonseca, que deps o Imperador do Brasil, D. Pedro II, e foi

    declarado o 1 Presidente da Repblica do Brasil.

    Dentre as diversas consequncias da Proclamao da Repblica no

    Brasil, que resultou no fim do governo imperial, destaca-se que, neste perodo,

    teve incio o estabelecimento de maior autonomia poltica das divises

    regionais e locais do Brasil.

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    Sendo assim, no perodo colonial e monrquico, o controle

    governamental estava concentrado no poder real, que oferecia muita

    resistncia para admitir a existncia de divises polticas internas. Assim,

    embora o Brasil estivesse dividido em diversas provncias e municpios o que

    era inevitvel em virtude da extenso territorial do pas deve-se observar que

    essas provncias e municpios nunca tiveram governantes autnomos durante o

    perodo colonial ou monrquico.

    Os governantes dessas divises territoriais eram nomeados pelo Rei ou

    o Imperador, que indicava membros do alto escalo governamental que fossem

    de sua confiana. Essas localidades eram governadas por atos administrativos

    desses lderes nomeados pelo imperador e submetiam-se s ordens superiores

    determinadas pelo monarca.

    Durante todo esse perodo, os municpios dispunham apenas de

    Cmaras Municipais, com funes administrativas e judiciais. As Cmaras

    Municipais so os rgos, de nvel municipal, mais antigos do Brasil, embora

    atualmente tenham funes distintas daquelas designadas no perodo colonial

    ou imperial.

    Durante o perodo monrquico no era admitida a existncia de Prefeitos

    de municpios, mas apenas das Cmaras Municipais. A funo de Prefeito foi

    criada no perodo republicano, quando tambm foi reconhecida autonomia aos

    rgos de poder regional e local, especialmente aos Municpios.

    Assim sendo, pode-se dizer que a figura do Municpio como ente dotado

    de autonomia e governo prprio uma caracterstica da Repblica, inexistenteno perodo monrquico brasileiro.

    Dica de leitura

    Para aprender mais sobre o Municpio e o Poder Local no Brasil,

    recomendamos a leitura do livro Coronelismo, enxada e voto, de Victor

    Nunes Leal.

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    Poderes

    Outra caracterstica importante das Formas de Governo diz respeito aos

    chamados Poderes. Normalmente, os governos nacionais adotam a forma de

    tripartio de poderes, isto , poderes divididos em trs, conforme descrio

    formulada por Montesquieu, autor muito recomendado para a compreenso da

    Teoria Poltica.

    Sua obra mais importante chamada O Esprito das Leis e pode ser

    facilmente encontrada em livrarias e bibliotecas. Nessa obra, Montesquieu

    sugere que o governo deve ser organizado em trs poderes fundamentais:

    Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judicirio.

    O Poder Legislativoedita as leis que governam a atuao pblica e

    privada.

    O Poder Executivo responsvel por realizar os atos de governo,

    administrar o pas e os recursos financeiros.

    O Poder Judicirio responsvel por julgar e mediar os conflitos.Essa configurao tripartida dos poderes forma o poder nico da nao,

    ou seja, no h hierarquia entre os trs poderes, que devem ser

    complementares entre si para o estabelecimento do poder poltico nacional.

    Alm disso, acredita-se que a configurao dos trs poderes deve contribuir

    para conter mutuamente os excessos e reestabelecer a normalidade no

    funcionamento do poder poltico.

    Assim, caso o Poder Executivo extrapole os seus limites, cabe ao PoderLegislativo e ao Judicirio, cont-lo. Da mesma forma, se o Poder Legislativo

    extrapolar seus limites, devem o Poder Executivo e Judicirio cont-lo e, ainda,

    caso o Poder Judicirio extrapole seus limites, deve o Poder Legislativo e

    Executivo reestabelecer a normalidade.

    A essa noo se d o nome de Sistema de Freios e Contrapesos, que

    asseguram o controle mtuo dos detentores do poder contra possveis

    excessos praticados.

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    No Brasil, os poderes nacionais esto organizados da seguinte forma:

    Poder Executivo: exercido pelo (a) Presidente(a) da Repblica.

    Poder Legislativo: exercido pelo Congresso Nacional, que dividido

    entre Cmara dos Deputados e Senado da Repblica.

    Poder Judicirio: exercido de forma colegiada pelos tribunais

    (descrito no art. 92 da Constituio da Repblica), sendo os tribunais

    superiores o Superior Tribunal de Justia (STJ) e o Supremo Tribunal

    Federal (STF), esse ltimo responsvel pela guarda da Constituio

    da Repblica.

    Reitere-se que a combinao dos poderes deve formar o poder unitrio

    da nao. Assim, embora o lder do Estado normalmente seja o Presidente da

    Repblica, ele no deve ser considerado detentor de poderes superiores em

    relao ao Poder Legislativo (Congresso Nacional, no Brasil) e ao Poder

    Judicirio, que exercem suas atividades de forma complementar.

    Diviso poltico-territorial: federao

    O Brasil subdivido em unidades da federao, com a seguinte

    classificao:

    a. Unio: corresponde a todo o territrio nacional, envolve o mbito de

    atuao do governo federal e dos rgos nacionais.

    b. Estado: todo o territrio brasileiro subdividido em unidades

    denominadas Estados que so, atualmente, em um nmero total de

    26, assim denominados: Acre, Alagoas, Amap, Amazonas, Bahia,

    Cear, Esprito Santo, Gois, Maranho, Mato Grosso, Mato Grosso

    do Sul, Minas Gerais, Par, Paraba, Paran, Pernambuco, Piau, Rio

    de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondnia,

    Roraima, Santa Catarina, So Paulo, Sergipe, Tocantins.

    c. Distrito Federal: Apenas uma unidade com essa classificao, que

    corresponde capital do pas, Braslia, e s Regies Administrativas,

    eventualmente denominadas cidades-satlites.

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    d. Municpios: O territrio Brasileiro , ainda, recortado por municpios.

    So, ao todo, 5.565 municpios.

    O Distrito Federal um tipo especial de unidade da federao. Foi criado

    para abrigar a capital do Brasil, a cidade de Braslia, e rene na mesma

    unidade as caractersticas de Estado e de Municpio. O Distrito Federal,

    portanto, um Estado que acumula as funes de Municpio.

    Figura 1 - Mapa do Distrito Federal e os Estados brasileiros

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    Observe no mapa que os Estados esto organizados em regies, da

    seguinte forma:

    Regio Norte: Acre, Amap, Amazonas, Par, Rondnia, Roraima e

    Tocantins.

    Regio Nordeste: Alagoas, Bahia, Cear, Maranho, Paraba,

    Pernambuco, Piau, Rio Grande do Norte e Sergipe.

    Regio Centro Oeste: Distrito Federal, Gois, Mato Grosso e Mato

    Grosso do Sul.

    Regio Sudeste: Esprito Santo, Minas Gerais, So Paulo e Rio de

    Janeiro,

    Regio Sul: Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

    Figura 2 - Mapa de municpios brasileiros

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    Esse o mapa dos municpios brasileiros. Observe que existem mais

    municpios na regio do litoral, onde as unidades municipais tambm tm reas

    menores. No interior e, especialmente, na regio norte, os municpios tm

    grandes extenses e so em menor nmero. Observe tambm que o Distrito

    Federal no admite divises municipais internas.

    Cada unidade da federao possui sua prpria organizao interna de

    poderes. Os Estados e o Distrito Federal possuem a diviso tripartite de

    poderes, da seguinte forma:

    Poder Executivo: Governador do Estado (ou do Distrito Federal).

    Poder Legislativo: Assembleia Legislativa do Estado (ou do Distrito

    Federal).

    Poder Judicirio: Tribunal de Justia do Estado (ou do DistritoFederal).

    Os Estados possuem suas prprias Constituies Estaduais onde

    so definidas regras fundamentais para o funcionamento do Estado e a

    organizao dos poderes.

    Os Municpios, por sua vez, so organizados em dois poderes, pois,

    no possuem poder judicirio prprio:

    Poder Executivo: Prefeito Municipal.

    Poder Legislativo: Cmara de Vereadores.

    Os Municpios so organizados por meio de Lei Orgnica, que

    corresponde Constituio no nvel municipal e deve dispor sobre o

    funcionamento dos poderes, alm de outras normas fundamentais.

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    Importante! essencial, para qualquer estudo na rea de gesto pblica, ter

    conhecimento da Constituio da Repblica Federativa do Brasil, promulgada

    pela Assembleia Constituinte de 1988, que tambm normalmente chamada

    de Constituio Federal ou Constituio de 1988. Voc pode conhec-la

    acessando o linka seguir:

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

    Competncias

    Cada unidade da federao tem competncias prprias, definidas pela

    Constituio da Repblica Federativa de 1988. Desta forma, a competncia

    atribuio definida pela Constituio Federal para o exerccio de cada unidade

    da federao.

    Existem competncias exclusivas, privativas, comuns, concorrentes,

    e suplementares, assim classificadas:

    As competncias exclusivasdizem respeito a atribuies de um ente dafederao que somente podem ser exercidas por aquele ente, no podendo em

    nenhuma hiptese ser delegada a outro. caso tpico de competncias

    especficas da Unio, tais como declarar guerra e celebrar a paz, emitir moeda

    etc. So descritas no artigo 21 da Constituio Federal.

    As competncias privativasso aquelas que devem ser exercidas pela

    Unio, mas podem ser delegadas para os Estados, na forma de Lei

    Complementar, caso previsto pela Constituio Federal no art. 22.As competncias comunspodem ser exercidas por mais de um ente ,

    ao mesmo tempo, sem prejuzo entre os exerccios, isto , o exerccio da

    competncia por um dos entes no impede que o outro ente possa exercer

    igualmente a mesma competncia. Est no art. 23 da Constituio Federal.

    As competncias concorrentestambm podem ser exercidas por mais

    de um ente da federao, no entanto, no podem ser exercidas ao mesmo

    tempo. Caso um ente venha a exercer a competncia, fica excluda a

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
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    possibilidade de o outro ente exercer a mesma competncia. Est no art. 24 da

    Constituio Federal.

    A competncia suplementar a prerrogativa de um ente da federao

    para atuar de forma a se somar ao exerccio da competncia j exercida por

    outro ente, ou seja, o ente no ingressa no mesmo exerccio, ou mesma

    atividade, mas agrega o seu exerccio atividade ou exerccio j praticado por

    outro ente da federao. Trata-se de competncia geral dos municpios atuar

    em nvel suplementar a toda a legislao federal e estadual.

    Os municpios possuem competncias descritas no art. 30. Os Estados e

    o Distrito Federal, por sua vez, tm competncia residual, isto , a eles

    compete tudo o que no esteja reservado Unio e aos Municpios, conforme

    explicado no art. 25, 1, da Constituio Federal.

    Autonomia municipal

    A autonomia de que vamos tratar neste captulo pode ser explicada pela

    definio adotada por Silva (2005, p. 302), que afirma que autonomia acapacidade de gerir os prprios negcios, dentro de um crculo prefixado por

    entidade superior.

    A autonomia uma caracterstica dos entes integrantes de uma

    federaoque a forma de estado adotada no Brasil e afeta igualmente os

    Municpios, os Estados e o Distrito Federal, entes autnomos que formam a

    Repblica Federativa do Brasil1.

    Forma de Governo: Conforme explicado anteriormente, o governopode adotar a forma de Monarquia ou de Repblica. Existem outras

    caractersticas importantes a serem estudadas, como a democracia e

    a ditadura, o parlamentarismo, o presidencialismo, o

    semipresidencialismo etc.

    Forma de Estado: So basicamente duas as formas de Estado, o

    Estado Nacional Unitrio e o Estado Nacional Federado. O Estado

    Nacional Unitrio no admite autonomia poltica s divises internas,

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    que geralmente so denominadas provncias. J o Estado Federado

    possui divises internas com autonomia poltica. O Brasil uma

    Repblica Federativa, portanto, adota a forma de Estado Federado e

    possui divises internas autnomas, chamadas de Estados, Distrito

    Federal e Municpios.

    Para compreender melhor, recomendamos a leitura do livro Dicionrio

    de Poltica, de Norberto Bobbio.1Repblica Federativa do Brasil: formada pela unio indissolvel dos

    Estados, Municpios e do Distrito Federal (art. 1 da Constituio Federal). Por

    esta razo, existem 4 (quatro) entes federativos no Brasil: Unio (ente

    nacional), Estado, Distrito Federal e Municpio.

    A capacidade de gerir os prprios negcios diz respeito s

    competncias de legislar, administrar e governar a comunidade local, sem se

    subordinar vontade dos demais entes da federao.

    A autonomia um atributo com marcas histricas. Em linhas gerais, e

    nesse caso, no estamos tratando apenas do caso brasileiro, mas de

    caratersticas da experincia global. A autonomia origina-se da insurgncia de

    comunidades locais contra os poderes ilimitados de governantes nacionais.

    Quando reclamam do exerccio do poder de um governo nacional, as

    comunidades locais no necessariamente reivindicam sua separao

    (independncia) em relao unidade do territrio nacional, mas sim, a

    atribuio de prerrogativas especficas que permitam a formao de um

    governo local, mais prximo da realidade da comunidade.

    Mantendo sua vinculao unidade nacional, a comunidade local pode

    usufruir de um governo local, que trate de assuntos pertinentes realidade

    mais prxima, sem deixar de ser administrada pelo governo nacional, com

    atribuies prprias incidentes sobre todo o territrio.

    Assim sendo, a autonomia no deve ser confundida com soberania ou

    independncia. De acordo com Cretella Jnior (1981, p. 99), a soberania a

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    faculdade de autodeterminao do Estado, faculdade que emana internamente,

    do povo e que em seu nome se exerce.

    A soberania pertence nao, ao pas. Dessa forma, o Estado

    Nacional dotado de independncia e soberania, e suas divises internas

    Estados, Distrito Federal e Municpios podem ser dotadas de

    autonomia.

    Existem pases que no dotam suas divises internas de autonomia.

    Com isso, mantm os eventuais governos locais subordinados ao poder poltico

    central, por exemplo, na forma da nomeao de administradores locais, que

    so indicados pelo poder nacional, sem escolha prvia ou eleio pela

    comunidade local.

    Voltando definio que apresentamos no incio do captulo, a

    autonomia diz respeito gerncia dos negcios dentro de um crculo prefixado

    por entidade superior, ou seja, dentro de limites e condies pr-estabelecidas

    pela entidade que dispe de soberania e independncia.

    No Brasil, a autonomia municipal estabelecida pela Constituio

    Federal, em seu art. 18. Jorge Bernardi (2011, p. 62) explica que a autonomia

    se estabelece em trs esferas: poltica, administrativa e financeira.

    Autonomia poltica

    A autonomia poltica diz respeito capacidade de eleger seus prprios

    agentes polticos, que so o prefeito, vice-prefeito e vereadores. Isso significa

    que o municpio tem administradores escolhidos de forma autnoma e no

    nomeados por entidades superiores ou outros entes da federao.

    Alm disso, a autonomia poltica abrange a prerrogativa de o municpio

    elaborar sua prpria lei orgnica, que vem a ser a lei maior da entidade

    municipal, anloga ao que a Constituio representa para a Repblica.

    Portanto, trata-se da lei municipal fundamental. A denominao lei orgnica

    decorre do fato desta lei dispor sobre a organizao municipal. Alm da lei

    orgnica, o municpio edita leis municipais, o que parte da autonomia poltica.

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    Autonomia administrativa

    A autonomia administrativa se refere capacidade do municpio de

    dispor sobre sua estrutura administrativa e sobre a forma como os servios

    pblicos sero prestados comunidade, isto , a sua composio em

    secretarias, departamentos, e demais componentes da administrao

    municipal, alm do regime jurdico do quadro de servidores.

    Autonomia financeira

    A autonomia financeira abrange a capacidade do municpio deestabelecer e arrecadar tributos, receber recursos de outras fontes, participar

    da distribuio dos tributos federais e estaduais e de aplicar os seus recursos

    na forma do oramento prprio, ou seja, o municpio no obrigado a

    subordinar-se a oramentos definidos por outro ente da federao, devendo

    estabelecer seu oramento prprio.

    A autonomia municipal o atributo que o municpio tem para praticar

    determinadas aes, pertinentes s competncias municipais, j explicadasanteriormente. Em sntese, conforme ensina Custdio Filho (2000, p. 33):

    Autonomia municipal: deve ser entendida como [a] prerrogativa [do

    municpio], atribuda no texto constitucional, de legislar, governar e administrar

    a comunidade local, sem estar obrigado a acatar a vontade de outros membros

    da Federao, dentro dos limites fixados na Constituio Federal.

    Descentralizao ou desconcentrao

    Como visto, o municpio tem autonomia para exercer poderes prprios,

    que no dependem de delegao superior. Esse nvel de auto-organizao e

    autonomia o que se chama, na administrao pblica, de descentralizao,

    que distinta da outra forma conhecida para a repartio de atribuies

    chamada de desconcentrao.

    A desconcentrao consiste na partilha de atribuies com a

    manuteno do controle do poder por parte do governo central. Dessa forma, o

    poder central permanece intocado, apenas desconcentrando atribuies para

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    administraes de nvel regional e local. Esta forma de organizao era

    praticada no perodo do imprio.

    Com a Repblica, colocado em prtica um processo de

    descentralizao dos poderes, isto , de retirada de atribuies do poder

    central para o exerccio autnomo de rgos de nvel regional e local. Esse

    fenmeno , geralmente, organizado na forma de Estados Federados, em que

    cada unidade da Federao recebe atribuies prprias.

    Assim sendo, a autonomia municipal existente no Brasil um fenmeno

    de descentralizao, pois, atribui aos municpios poderes plenos e autnomos

    de exerccio prprio, sem dependncia de delegao ou indicao.

    Criao de Municpios

    Os municpios no Brasil so criados por meio da incorporao, fuso ou

    desmembramento de Municpios, de acordo com o art. 18, 4, da Constituio

    Federal.

    Atualmente, todo o territrio brasileiro j se encontra dividido emmunicpios. Desse modo, a criao de municpios depender do

    desmembramento de um municpio existente, da fuso entre municpios ou da

    incorporao de um municpio por outro.

    Os municpios so criados por Lei Estadual, atendidas as exigncias da

    Constituio Estadual e tambm condicionados prvia elaborao de Estudos

    de Viabilidade Municipal e plebiscito s populaes de todos os municpios

    envolvidos.

    A Constituio Federal de 1988 prev a edio de uma lei complementar

    para regulamentar a criao de municpios. No entanto, a referida lei ainda no

    foi aprovada pelo Congresso Nacional, o que resultou em uma situao de

    insegurana jurdica para diversos municpios que foram criados aps o ano de

    1988.

    De acordo com o Supremo Tribunal Federal, os Estados no devem

    mais criar novos municpios enquanto no for editada a referida Lei

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    Complementar Federal (LCF). Desse pronunciamento do STF resultou a

    paralisao de todos os processos de criao de novos municpios. Em 2008, o

    Congresso Nacional convalidou todas as criaes de municpios publicadas at

    31 de dezembro de 2008, por meio do art. 96 do Ato das Disposies

    Constitucionais Transitrias (ADCT).

    Deste modo, encontram-se paralisadas as criaes de municpios desde

    o ano de 2008, aguardando a aprovao da LCF que regulamentar o Art. 18,

    4 da Constituio Federal de 1988.

    Sntese

    Conforme vimos, os municpios fazem parte dos entes da federao, que

    so: Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios. Os municpios tm

    competncia para atuar em assuntos de interesse local, alm de reunir

    algumas competncias especficas nas polticas pblicas de educao, sade,

    habitao etc.

    A criao de municpios uma deciso de cada Estado e depende do

    atendimento s condies da Constituio e da legislao pertinente.

    Atualmente, a criao de municpios est suspensa at que seja aprovada a

    Lei Complementar Federal que regulamentar o assunto.

    A autonomia municipal uma importante conquista republicana, tendo

    sido atribudo aos municpios, pela Constituio de 1988, plenos poderes

    pblicos, divididos em Poder Executivo e Poder Legislativo. O Poder Executivo

    corresponde Prefeitura, cujo titular o Prefeito, e o Poder Legislativo

    corresponde Cmara de Vereadores, cujos titulares so os vereadores.

    Referncias

    BERNARDI, J. L. A organizao municipal e a poltica urbana. 3. ed., rev. e

    atual. Curitiba: IBPEX, 2011.

    BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionrio de poltica. 13. ed.,

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    LEAL, V. N. Coronelismo, enxada e voto: o municpio e o regime

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