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TEMA A: ASSISTÊNCIA E TECNOLOGIAS DO CUIDADO RESSIGNIFICAÇÃO DO PROCESSO DE ADOLESCER ¹ Tânia Mara Pereira da Cruz ² Ariane Batista de Souza ³ Eduardo Vial Faria 4 ¹ Unidade Básica de Saúde responsável pela inscrição: Balneário; ² Psicóloga do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) Ressaca II, e-mail: [email protected]; ³ Terapeuta Ocupacional do NASF Ressaca II; Médico do NASF Ressaca II 4 Adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social. Inicia-se com as mudanças corporais da puberdade e termina quando o indivíduo consolida seu crescimento e sua personalidade, obtendo então a integração em seu grupo social. A Organização Mundial de Saúde considera a adolescência o período entre 10 e 19 anos. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 13 de Julho de 1990) considera a faixa etária de 12 a 18 anos de idade. Com o intuito de atender a demanda recorrente de pais e familiares de adolescentes com dificuldade de entender e lidar com os comportamentos característicos da adolescência e, tendo em vista que não há equipes de Saúde da Família (ESFs) atuando nesta área no Distrito Sanitário Ressaca, foi criado um grupo multidisciplinar. O objetivo foi trabalhar o processo do adolescer e das relações com o meio, propiciar a aproximação entre pais e filhos, esclarecer dúvidas relacionadas à adolescência, compreender a rotina familiar e oferecer estratégias organizacionais, ambientais e relacionais e, quando necessário, provocar mudanças. Foram selecionados adolescentes de 11 a 14 anos, de duas ESFs do Distrito Sanitário Ressaca e de três ESFs do Distrito Sanitário Nacional, que apresentavam alterações de comportamento no ambiente familiar e escolar, excluindo demandas relativas ao álcool, drogas, infrações da lei e sofrimento mental grave. As atividades grupais foram desenvolvidas por meio de dinâmicas lúdico-pedagógicas, em encontros semanais com duração de uma hora e meia, por um período de cinco semanas, o que permitiu a troca de saberes populares e científicos e a formação do vínculo. Os encontros aconteceram com os adolescentes, com os pais e/ou responsáveis em ambientes separados e simultaneamente. Os temas trabalhados foram: a adolescência; a evolução da sexualidade; identidade; valores; responsabilização; escolhas e consequências; rotina e prioridades; relação pais, filhos e sociedade; atitude social reivindicatória; e flutuações de humor. A equipe foi composta por psicóloga, terapeuta ocupacional e médico hebiatra. As ferramentas utilizadas foram rodas de conversas, dinâmicas e vivências. Ao final dos encontros o adolescente poderia ser encaminhado para o atendimento individual, receber alta e/ou ser encaminhado para projetos sociais e atividades esportivas, dependendo da história e contexto do sujeito. O encaminhamento dos pais ocorreu conforme a demanda do contexto e da queixa familiar. Foi observada nos encontros uma deficiência de conhecimentos sobre vários temas do adolescer, levando ao surgimento de conflitos que repercutiam sobre o jovem e a família. Na avaliação dos pais e adolescentes, o grupo possibilitou a troca de experiências, conhecimentos e a compreensão dos assuntos abordados. Nesse sentido, não só os pais, mas também a ESF deve exercer uma função de educador e atuar de forma preventiva, a fim de evitar problemas sociais como a criminalidade, a drogadição e a gravidez precoce. Este espaço nas unidades de saúde permite aos adolescentes a reflexão, a discussão e o esclarecimento de dúvidas; os pais compreendem melhor esta etapa da vida e mudam seu olhar sobre seus filhos. Foi observado um processo de ressignificação da adolescência pelo sujeito e pela família, desvinculando o adolescer do adoecer. O sujeito deixa o lugar de estranheza patológica e encontra o lugar do normal.

TEMA A: ASSISTÊNCIA E TECNOLOGIAS DO CUIDADO ... · e a gravidez precoce. Este espaço nas unidades de saúde permite aos adolescentes a reflexão, a discussão e o esclarecimento

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TEMA A: ASSISTÊNCIA E TECNOLOGIAS DO CUIDADO

RESSIGNIFICAÇÃO DO PROCESSO DE ADOLESCER ¹

Tânia Mara Pereira da Cruz ²

Ariane Batista de Souza ³

Eduardo Vial Faria 4

¹ Unidade Básica de Saúde responsável pela inscrição: Balneário;

² Psicóloga do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) Ressaca II, e-mail: [email protected];

³ Terapeuta Ocupacional do NASF Ressaca II;

Médico do NASF Ressaca II4

Adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físico,

mental, emocional, sexual e social. Inicia-se com as mudanças corporais da puberdade e termina quando o indivíduo consolida seu

crescimento e sua personalidade, obtendo então a integração em seu grupo social. A Organização Mundial de Saúde considera a

adolescência o período entre 10 e 19 anos. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 13 de Julho de 1990) considera

a faixa etária de 12 a 18 anos de idade.

Com o intuito de atender a demanda recorrente de pais e familiares de adolescentes com dificuldade de entender e lidar com os

comportamentos característicos da adolescência e, tendo em vista que não há equipes de Saúde da Família (ESFs) atuando nesta

área no Distrito Sanitário Ressaca, foi criado um grupo multidisciplinar. O objetivo foi trabalhar o processo do adolescer e das

relações com o meio, propiciar a aproximação entre pais e filhos, esclarecer dúvidas relacionadas à adolescência, compreender a

rotina familiar e oferecer estratégias organizacionais, ambientais e relacionais e, quando necessário, provocar mudanças.

Foram selecionados adolescentes de 11 a 14 anos, de duas ESFs do Distrito Sanitário Ressaca e de três ESFs do Distrito Sanitário

Nacional, que apresentavam alterações de comportamento no ambiente familiar e escolar, excluindo demandas relativas ao álcool,

drogas, infrações da lei e sofrimento mental grave. As atividades grupais foram desenvolvidas por meio de dinâmicas

lúdico-pedagógicas, em encontros semanais com duração de uma hora e meia, por um período de cinco semanas, o que permitiu a

troca de saberes populares e científicos e a formação do vínculo. Os encontros aconteceram com os adolescentes, com os pais e/ou

responsáveis em ambientes separados e simultaneamente. Os temas trabalhados foram: a adolescência; a evolução da sexualidade;

identidade; valores; responsabilização; escolhas e consequências; rotina e prioridades; relação pais, filhos e sociedade; atitude

social reivindicatória; e flutuações de humor. A equipe foi composta por psicóloga, terapeuta ocupacional e médico hebiatra. As

ferramentas utilizadas foram rodas de conversas, dinâmicas e vivências. Ao final dos encontros o adolescente poderia ser

encaminhado para o atendimento individual, receber alta e/ou ser encaminhado para projetos sociais e atividades esportivas,

dependendo da história e contexto do sujeito. O encaminhamento dos pais ocorreu conforme a demanda do contexto e da queixa

familiar.

Foi observada nos encontros uma deficiência de conhecimentos sobre vários temas do adolescer, levando ao surgimento de

conflitos que repercutiam sobre o jovem e a família. Na avaliação dos pais e adolescentes, o grupo possibilitou a troca de

experiências, conhecimentos e a compreensão dos assuntos abordados. Nesse sentido, não só os pais, mas também a ESF deve

exercer uma função de educador e atuar de forma preventiva, a fim de evitar problemas sociais como a criminalidade, a drogadição

e a gravidez precoce. Este espaço nas unidades de saúde permite aos adolescentes a reflexão, a discussão e o esclarecimento de

dúvidas; os pais compreendem melhor esta etapa da vida e mudam seu olhar sobre seus filhos. Foi observado um processo de

ressignificação da adolescência pelo sujeito e pela família, desvinculando o adolescer do adoecer. O sujeito deixa o lugar de

estranheza patológica e encontra o lugar do normal.