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1 Tema da aula: ITÁLIA / IUGOSLÁVIA Tema da aula: ITÁLIA / IUGOSLÁVIA 1. A questão da não-naturalidade das nações 2. A importância da linguagem, no séc. XIX 3. A unicidade linguística - Língua: álibi para as nações: crença de que o povo fala uma só língua 4. Diagrama de Hobsbawn: não é a nação que faz o Estado, mas o contrário. O Estado constrói a nação 5. Primeiro Estudo de Caso: Itália e Iugoslávia.

Tema da aula: ITÁLIA / IUGOSLÁVIA

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Tema da aula: ITÁLIA / IUGOSLÁVIA. A questão da não-naturalidade das nações A importância da linguagem, no séc. XIX A unicidade linguística - Língua: álibi para as nações: crença de que o povo fala uma só língua - PowerPoint PPT Presentation

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Page 1: Tema da aula: ITÁLIA / IUGOSLÁVIA

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Tema da aula: ITÁLIA / Tema da aula: ITÁLIA / IUGOSLÁVIAIUGOSLÁVIA

1. A questão da não-naturalidade das nações

2. A importância da linguagem, no séc. XIX3. A unicidade linguística - Língua: álibi

para as nações: crença de que o povo fala uma só língua

4. Diagrama de Hobsbawn: não é a nação que faz o Estado, mas o contrário. O Estado constrói a nação

5. Primeiro Estudo de Caso: Itália e Iugoslávia.

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ITÁLIA E IUGOSLÁVIAITÁLIA E IUGOSLÁVIA

Historicamente:

ambos os países

ocuparam um cenário heterogêneo, devido à

diversidade de línguas e

à diversidade de povos

em seus territórios.

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Itália – tida como nação “natural”, pelo dado linguístico. E por quê? Porque passa a ter uma língua institucionalizada. As demais línguas da Itália eram heterogêneas, não próximas, não contíguas, não mutuamente inteligíveis (calabrês, piemontês, lombardo...)

Iugoslávia – tida como nação “artificial”, porque as línguas existentes eram mais próximas, contíguas entre si, inteligíveis.

A QUESTÃO DA A QUESTÃO DA NATURALIDADE X ARTIFICIALIDADE NATURALIDADE X ARTIFICIALIDADE

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Posteriormente:

Ambas as nações passam a constituir um caso emblemático,

pois apesar de percorrerem caminhos semelhantes

chegaram a resultados completamente diferentes.

A QUESTÃO DA A QUESTÃO DA NATURALIDADE X ARTIFICIALIDADE NATURALIDADE X ARTIFICIALIDADE

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ItáliaItáliaRoma ainda não seria Itália, mas um estado pontifical. Tanto é que

nossos ancestrais viam-se com documentos pontificais em mãos.

“Já fizeram a Itália, agora temos que fazer italianos!” – frase emblemática, trazendo a questão da legitimação e da legitimidade.

Legitimação – políticas de homogeneização cultural – a central – as políticas linguísticas: ferramenta de institucionalização das nações.

Ninguém se sentia italiano, mas piemontês, lombardo, calabrês...

“Unificação tardia” – rotulação carimbada, argumento de convencimento.

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Percurso histórico da ItáliaPercurso histórico da Itália

A unificação italiana se dá, acredita-se, de 1860-1871. 1871 – Reunião do Primeiro Parlamento Italiano, em Turim.

Esse processo carecia de certa legitimidade que seria alcançada por meio do reconhecimento da Itália como nação.

Motivação para que o estado italiano adotasse as Políticas Linguísticas: a necessidade de criar uma identidade nacional.

Políticas Linguísticas que a nação italiana adota e todos oshabitantes têm que assumir.

1. Institucionalização de uma língua comum: o Italiano que vai ser uma língua construída (Lazzio-Toscano), uma junção das línguas das elites de Florença (Lazzio) e Toscana (o Toscano), com critérios como os do NURC brasileiro (os dos falantes melhores).

Na verdade, havia outras propostas de línguas a serem adotadas, mas o italiano acabou sendo escolhido “por acaso” – a partir da aplicação de critérios essencialmente políticos.

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ItáliaItália

1. Hobsbawn revela que apenas 3% dos habitantes falavam tal língua (a da elite: 20% das cidades de toda a região).

2. O italiano transforma-se em língua natural.

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Modalidades de “língua”

1. Oficial – é a língua instituída pelo Estado (séc.XIX)

2. Nacional – (supostamente) a língua que deve seria falada por todas as pessoas e, ao mesmo tempo, ser a língua oficial do Estado.

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Passos seguintes:Passos seguintes:1. A gramatização da língua – quando se dá a

institucionalização linguística.

2. Criação da Academia de Línguas ou Letras, cuja missão é fazer gramáticas e dicionários.

3. Noção de “gramatização linguística”.

4. Efeito importante dessa institucionalização: uma língua vai ser a língua nacional, comum, única. As demais: com estatuto de dialetos: calabrês, lombardo, piemontês, siciliano...

Na verdade, o processo de Institucionalização equivale à supressão das demais línguas dos povos de uma região (e suas culturas).

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5. Política de Generalização: fazer com que todas as pessoas falem essa língua em todas as esferas:5.1. Oficial – Estado (3 poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário)5.2. Serviço Público – Língua de Estado é a que prevalece para concursos, ainda que o funcionário fale outro dialeto, o siciliano, por exemplo.5.3. Exército – defensor da nação. 5.4. Educação – italiano adotado pelas escolas públicas. Observar como Políticas Linguísticas e Educação viraram uma só coisa...

Se se quisesse participar da sociedade civil, seria preciso passar pela Educação – um filtro compulsório.

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Exigências da EducaçãoExigências da Educação

Investimentos em 3 níveis:

1. Logístico – criação de Secretarias da Educação, de Escolas, Publicação de Materiais Escolares.

2. Recursos Humanos – formação de professores, dicionaristas, gramáticos, pessoal de editoras...

3. Financeiro – que é permanente.Os investimentos precisam ser imensos e permanentes/perenes.

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RELAÇÃO DA NAÇÃO COM O ESTADORELAÇÃO DA NAÇÃO COM O ESTADO

NaçãNaçãoo

Estado

O Estado é que constitui a Nação. E deve/precisa continuar sempre seu investimento para que a Nação se mantenha...

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A QUESTÃO DA ADESÃOA QUESTÃO DA ADESÃO

Último passo na institucionalização de uma língua nacional, comum – a questão da adesão do povo, que é decisiva.

Pergunta que se coloca: Como fazer a população aderir àquela língua?

“Em casa” – termo que aponta o lugar decisivo onde se tem L1 e não L2.

Meta final: a língua falada em casa. Ponto político importante aí na adesão: do séc.XIX até os anos sessenta – era grande coisa fazer parte da nação.

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Sobre a adesão à L2Sobre a adesão à L2

Hoje, deixar L1 para L2 é deixar minha identidade, uma renúncia à identidade.

Segundo a ideologia da época, séc.XIX: não se considerava uma renúncia, e essa renúncia

era vista como algo que valia a pena.Isso explica o sucesso desse período.

Adesão espontânea, entusiástica: as pessoas querendo ser “italianas”... Falar o italiano...

Quase sempre essa adesão é feita pela burguesia, pelas classes mais privilegiadas,

mais endinheiradas, de mais poder.Algo recorrente na China, a “Itália de hoje”.

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Argumento maior para adoção Argumento maior para adoção da língua italianada língua italiana

Grande adoção da língua por parte das pessoas urbanas que viam na adoção da língua italiana o alcance de certo status.

Afinal, a Itália com uma única língua aproximava-se de grandes Estados, como a Inglaterra e a França.

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Na Itália, para as burguesias que estavam à frente, “fazer a Itália”: uma legislação única para Calábria + Sicília +...

As outras classes (camponesas, por exemplo, de maior concentração populacional: 80%) passam ao largo do processo de institucionalização da língua italiana (única). Sequer se dão conta se isso ocorre, ou não. Embora a língua tenha sido imposta, por falta de conhecimento dos usuários, a língua nativa dos camponeses continuava a ser a utilizada no campo.

Adesão se dá num segundo momento: na época do êxodo rural, os camponeses vão se italianizando aos poucos, obrigatoriamente, para não serem discriminados e também para serem ouvidos em sua voz, compreendidos...

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Como se deu o desenvolvimento Como se deu o desenvolvimento das Políticas Linguísticas na Itáliadas Políticas Linguísticas na Itália

Cenário da Itália: processo bem sucedido, embora sem o tato

necessário.

Túlio de Mauro (o linguista que fez a releitura saussuriana) mostra bem a realidade desse processo, qual seja,

foi de 50% apenas a adesão dos italianos inicialmente.

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Iugoslávia – “Estado dos eslavos do Iugoslávia – “Estado dos eslavos do Sul”Sul”

Álibi (nacional) p/criação da nação: “Estado dos

eslavos do Sul”.

3 Línguas faladas pelos eslavos do Sul:

1. Sérvio-Croata 2. EslovenoSérvios, Croatas e Eslovenos formavam um Reino desde 1918: O

Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos – que passou a chamar-se

Reino da Iugoslávia, em 1919, e existiu com esse nome até a

invasão (1941), pelas potências do Eixo.

3. Macedônio-búlgaro.

Ponto importante: estas línguas iugoslavas são mais contíguas

que as italianas. Só o ponto de vista linguístico, então, são muito

próximas essas línguas: isso vocacionaria a Iugoslávia a ser um

Estado. O Argumento, então, seria: do ponto de vista linguístico, a

Iugoslávia poderia ser destinada, porque vocacionada, à

unificação.

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Pergunta que não se cala...Pergunta que não se cala... Por que o processo deu errado na Iugoslávia?

Por que deu certo na Itália? “Vocação natural”, seria o argumento?

A Iugoslávia fora criada depois da Primeira Guerra Mundial (1918/19), fruto da fragmentação do império austro-húngaro e otomano.

Na Iugoslávia, o processo de unificação linguística começou mais tarde (1919) e foi até 1939, quando ela é invadida pelos nazistas.

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Crença da vocação “natural” = uma falácia... E por Crença da vocação “natural” = uma falácia... E por quê?quê?

A Iugoslávia era já tida como uma nação “artificial”, porque as línguas existentes eram muito próximas, contíguas entre si, inteligíveis..., ptto, vocacionada...

O argumento do ponto de vista linguístico, então, seria que a Iugoslávia poderia ser destinada, porque vocacionada, à unificação linguística, a tornar-se um Estado, depois uma Nação. Mas isso fracassou...

A Itália, ao contrário, não seria vocacionada à unicidade linguística, nem a ser um Estado. Mas teve sucesso...

O argumento adequado: a Itália seguiu as Políticas Linguísticas. A Itália embora tivesse menos vocação para a unificação linguística, fez os investimentos necessários.. A Iugoslávia, não. E por quê?

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IugosláviaIugoslávia

Período de 20 anos (1919-39) – em que as

políticas linguísticas foram levadas a

cabo.

Invadida novamente em 41, a guerrilha que

separa em 2 grandes grupos: Josip Broz

Tito (comunista) e Slobodan Milosevic

(nacionalista) - 2 grupos contra os

nazistas.

Iugoslávia – saiu como Estado comunista,

da Segunda Grande Guerra.

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Iugoslávia, depois de 1945Iugoslávia, depois de 1945

Identidade a ser fomentada pelo Estado.

Argumento de Legitimação: não vai ser a

identidade nacional, mas a identidade social

(na China de hoje, o percurso inverso).

O nacionalismo torna-se secundário; as

políticas ganham mais importância.

Mas ocorre que o investimento maior deixa

de ser feito.

Tito quer um estado socialista; ptt, focado

na questão nacional.

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Síntese: Caso Itália x Síntese: Caso Itália x IugosláviaIugoslávia

O que tornou este caso particularmente interessante é o fato de que se tenha argumentado explicitamente pela “naturalidade” de um e pela “artificialidade” do outro.

O processo constitutivo da Itália e o processo destitutivo da Iugoslávia não foram conduzidos como acidentais. Ao contrário, foram conduzidos com propósitos claros e explícitos. E ambos foram considerados como operações bem sucedidas.

O que se demonstramos é que nem a Itália é “natural”, nem a Iugoslávia é “artificial” - ou pelo menos que nenhum é mais natural ou artificial do que o outro... o que nos deu ensejo a ilustrar a aplicação do “critério da nacionalidade”.