TEMA – “Portugal antes e depois do 25 de Abril” “Da ... · PDF fileColóquio “Portugal antes e depois do 25 de Abril” – Almada, 25 de Março de 2014 2 Como se isto não

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  • Colquio Portugal antes e depois do 25 de Abril Almada, 25 de Maro de 2014

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    TEMA Portugal antes e depois do 25 de Abril

    Da Ditadura Poltica Ditadura Financeira

    I O antes 25 de Abril de 1974 A Ditadura Poltica

    O regime instaurado em Portugal at ao dia 25 de Abril de 1974 era de cariz marcadamente ditatorial, consequentemente persecutrio, discricionrio, arrogante e prepotente, em completo contraponto com um regime democrtico, e baseou o controlo total da sua actividade na existncia legal de Partido nico, na represso exercida pela tristemente clebre Polcia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), cuja finalidade ltima era a da represso de qualquer forma de oposio ao denominado Estado Novo, na Censura, mecanismo de filtragem fina de qualquer tipo de texto escrito (jornais, revistas, livros quer nacionais quer estrangeiros publicados no nosso pas), emisses de rdio e televiso e de palavras ditas (peas de teatro, letras de msicas, etc. etc.) que de forma directa ou indirecta fossem considerados atentatrios, ainda que minimamente, aos interesses institudos e s polticas que lhes davam suporte sob a capa de uma pretensa defesa da Moral e Bons Costumes.

    A situao de verdadeiro terror e isolamento a que fomos submetidos durante perto de 50 anos alimentou sucessivamente e conduziu Portugal ao exacerbamento do Corporativismo no interesse de uns poucos (grandes grupos econmicos, industriais ou profissionais, todos eles, naturalmente, devidamente alinhados com o regime) em detrimento absoluto da esmagadora maioria do povo portugus literalmente subjugado pela fora do poder econmico desses poucos, da falta de formao e informao fortemente fomentada pelo Regime (fica tristemente clebre a frase de um Portugal dos trs f; Fado, Futebol e Ftima) e ainda, no podemos nem devemos esquec-lo, pela defesa intransigente, ainda que com custos que viriam a comprovar-se absolutamente insuportveis e consequentemente injustificados, at pela injustia de que se revestiram, das ento denominadas Provncias Ultramarinas.

    ndices hoje dificilmente acreditveis de analfabetismo, trabalho infantil, mortalidade infantil, pobreza, absoluto isolamento do interior face ao litoral, trabalho precrio e sem quaisquer direitos, inexistncia de liberdade de expresso e represso brutal e permanente baseada na PIDE e suportada na sua rede de informadores, muitos deles facilmente seduzidos precisamente porque motivados, dada as enormes dificuldades financeiras, por um pequeno rendimento extra que lhes era proporcionado pelo Regime (dizia-se at que em cada famlia portuguesa haveria, a dada altura, em mdia, um informador), caracterizavam as condies deplorveis de vida dos Portugueses.

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    Como se isto no bastasse, a partir do incio da dcada de sessenta uma guerra em vrias frentes que, muito para alm de empobrecer dramaticamente o pas, nos levou ao absoluto isolamento e condenao internacional (fica clebre a frase de Salazar orgulhosamente ss), destruiu milhares de famlias e produziu igualmente milhares de mortos e deficientes de guerra. Todos estes factores potenciaram nveis de emigrao nunca antes vistos, baseados num desespero na procura de condies de vida mais favorveis ou, to simplesmente, pela fuga legtima participao na guerra, bem como o exlio forado de milhares de mulheres e homens que se viram obrigados a abandonar o pas sob pena de serem, com as suas famlias, vtimas de perseguio, priso, tortura e morte por se recusarem a pactuar com o poder institudo.

    Perante este estado a que chegmos e porque o tempo absolutamente inexorvel quando se trata do agravamento acelerado de condies de absoluta indignidade de vida, levando inevitvel e consequentemente ao descontentamento crescente e, com ele, legtima e mesmo desejvel reaco social e mais ainda quando fortemente potenciado pela perda injustificada, por injusta, de vidas impunha-se e imps-se a mudana radical do estado a que chegou o Estado!

    Na madrugada de 24 para 25 de Abril de 1974, um conjunto alargado de Militares, aps meses de conspirao, planeou, organizou, dirigiu e levou prtica aquela que foi, e sempre ser uma das mais belas pginas da Histria de Portugal da qual todos nos devemos de orgulhar; A Revoluo Militar de 25 de Abril que veio a permitir que em Portugal, finalmente, se instaurasse um Regime Democrtico, tendo como grandes objectivos os clebres trs D; Democratizar, Desenvolver e Descolonizar!

    No meu objectivo nesta breve alocuo centrar-me nos aspectos motivacionais (alguns deles j os referi anteriormente) e muito menos nos aspectos operacionais da Revoluo de 25 de Abril (esto nesta sala vrios intervenientes directos e de reconhecida relevncia em todo esse processo, dois dos quais meus camaradas participantes neste colquio). No posso no entanto, nem quero, deixar passar esta oportunidade, e todas as oportunidades sero sempre poucas, para clara e inequivocamente expressar a estes meus Camaradas e atravs deles a todos os outros que de forma mais ou menos directa, mais ou menos meditica, tiveram a viso, coragem, determinao, discernimento e a competncia de fazer a Revoluo de Abril de 1974, o meu mais profundo reconhecimento e agradecimento! Portugal e os muitos milhes de Portugueses e Portuguesas que viveram a Revoluo bem como as geraes que se lhes seguiram e seguiro nunca devero esquecer os homens que naquela madrugada nos devolveram o sentido de viver, de decidir do nosso

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    futuro, em verdadeira liberdade, abrindo e consolidando os caminhos da democracia em Portugal! No esquecendo os muitos infelizmente j desaparecidos com orgulho e emoo provavelmente indisfarvel que me permito aqui homenagear-vos, em vida, como em vida todos os grandes homens deveriam ser sempre reconhecidos! Bem-Hajam Camaradas!

    II O ps 25 de Abril de 1974 Da Gesto Militar ao regresso s Unidades

    No perodo compreendido entre Abril de 1974 e Julho de 1976 Portugal, como seria de esperar, passa por um complexo conjunto, nem sempre de implementao pacfica, de grandes alteraes Polticas e Institucionais. Tendo sempre como objectivo ltimo a realizao de eleies legislativas e presidenciais livres e a consequente entrega ao Povo Portugus das decises sobre os seus destinos, regressando os Militares s suas unidades, subordinando-se de novo ao poder poltico, neste to breve quanto determinante perodo de dois anos.

    A 25 de Abril de 1975, exactamente um ano aps a Revoluo, so efectuadas as primeiras eleies livres para a Assembleia Constituinte que viria a ser responsvel pela elaborao da Constituio da Repblica de 1976.

    A 25 de Abril de 1976, exactamente dois anos aps a Revoluo, so realizadas as primeiras eleies livres para a Assembleia da Repblica. O Partido Socialista o mais votado e Mrio Soares eleito Primeiro-Ministro.

    A 27 de Junho, tambm de 1976, so realizadas as primeiras eleies livres para a Presidncia da Repblica. Sai vencedor o General Ramalho Eanes.

    Estava desta forma absolutamente consolidada a grande misso levada a efeito pelos Militares na madrugada de 24 para 25 de Abril de 1974. A libertao do Regime Ditatorial e a implementao de uma verdadeira Democracia em Portugal. Tnhamos ento uma nova Constituio da Repblica, um Presidente e um Governo democraticamente eleitos.

    Uma ltima referncia ao papel determinante e insubstituvel do Conselho da Revoluo, institudo em Maro de 1975 e cujo enquadramento constitucional lhe foi conferido na Constituio de 1976. Ao Conselho da Revoluo couberam essencialmente as funes de rgo Consultivo do Presidente da Repblica, dando mais tarde lugar ao actual Conselho de Estado e igualmente como garante da Constituio, no que viria a ser secundado pelo actual Tribunal Constitucional. O Conselho da Revoluo viria a ser extinto em 1982, por ocasio da 1 Reviso da Constituio da Repblica.

    III Os Militares De Cidados Imprescindveis a Cidados Descartveis

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    inevitvel, creio mesmo poder afirmar que, por demais legtimo, por todo o papel central que efectivamente desempenharam ao longo de todo este processo, que aqui se faa uma breve mas bem marcada aluso ao percurso e sobretudo ao posicionamento dos Militares.

    Incorporando de forma inatacvel Valores e Princpios que enformam a sua Condio Militar e inegavelmente os caracterizam, os Militares foram de forma natural perdendo o seu inegvel protagonismo, quer por via da colossal reduo de efectivos motivada pelo fim da Guerra em frica, quer pela prevista e consolidada entrega ao Poder Civil dos destinos do pas. Nunca o pretendemos (o protagonismo). O que sempre nos moveu e nos move o cumprimento cabal da misso e esse, ao ser atingido, motivo suficiente de regozijo e recompensa. Assim foi em 1974! Assim hoje e estou certo que assim o ser no futuro!

    pois de realar e de enaltecer o posicionamento de absoluto interesse exclusivo dos Militares, ontem como hoje, exclusivamente ao servio dos interesses de Portugal e dos Portugueses, no que deveriam ter constitudo um nobre exemplo para a generalidade da classe poltica. Entre 1974 e 1982, ano em que foi extinto o Conselho da Revoluo, nunca os Militares fizeram qualquer aproveitamento da situao de destaque que por direito prprio assumiram promovendo em benefcio prprio, quaisquer regalias materiais e/ou de qualquer outra ndole. Que se anote e, porque nunca tarde para que os bons exemplos sejam seguidos, aqui fica o registo.

    Pelo contrrio e quando se esperaria e desejaria que num Estado de Direito fosse reconhecido o papel to singular quanto vital que cabe Instituio Militar como um dos pilares desse mesmo Estado, garantindo a Defesa e a Soberania Nacionai