2.2. Tempo e trabalhoFACULDADE ASSIS GURGACZCURSO DE ADMINISTRAOANLISE DO COMPORTAMENTO HUMANO EM ORGANIZAESPROF. CLARISSA GIULIANI SCHERER(cgs@fag.edu.br)www.fag.edu.br/professores/clarissa

O tempo de trabalho: sociedade pr-industrial x sociedade industrialUma das transformaes mais importantes ligadas a revoluo industrial refere-se a realidade do tempo de trabalho.Tempo em sociedades agrcolas/pr-industriais Cclico: alternncia dia/noite, estaes do ano.

Qualitativo: marcado por variveis qualitativas caracteriza-se por um contedo.

Descontnuo: marcado por qualidades variveis.Tempo em sociedades industriais Linear: no volta, apenas prossegue.

Quantitativo: marcado pela quantidade.

Contnuo: baseia-se na acumulao.

O tempo de trabalho: sociedade pr-industrial x sociedade industrialO tempo das sociedades pr-industriais assemelha-se ao tempo com que marcamos nossa vida em geral.Tempo de trabalho (Thomson, 1967):- nas sociedades pr-industriais, marcado pela tarefa/atividade a ser cumprida no quadro de ritmos habitualmente marcados pelo tempo natural. - nas sociedades industriais, regulado pelo tempo mecnico do relgio.

O tempo de trabalho: sociedade pr-industrial x sociedade industrialA nova disciplina do trabalho industrial passa essencialmente pela aprendizagem dos novos espaos/tempos do trabalho: de um lado a fbrica representa um novo espao, no qual se desenvolve a atividade produtiva, de outro ela define um novo quadro temporal para o trabalho, marcado pelo ritmo das mquinas e pelos limites da jornada de trabalho, que o empregador fixa de modo rgido.

A fbrica um novo gnero de priso; o relgio um novo gnero de carcereiro. (Landes, 1965)

O tempo de trabalho: sociedade pr-industrial x sociedade industrialA possibilidade de dispor de instrumentos que marcam o tempo (relgio), sempre mais preciosamente em alguns sistemas sociais, leva de modo direto ou indireto apario de certos comportamentos e de algumas concepes em relao ao tempo. Marx: O tempo de trabalho o ncleo fundamental do sistema capitalista, pois determina o salrio do operrio e gera economia de tempo.Benjamim Franklin e Max Weber descrevem o tempo como uma mercadoria, assimilando-o ao dinheiro Tempo dinheiro

O tempo de trabalho: sociedade pr-industrial x sociedade industrial

... no mundo ocidental comea a se afirmar, no incio da revoluo industrial, e particularmente nos pases de tradio protestante, uma concepo do tempo como elemento central, tanto para o ator individual, como para o sistema socioeconmico.

O tempo de trabalho: sociedade pr-industrial x sociedade industrialTempo de trabalho das sociedades industriais: - Unidade de tempo: todos os trabalhadores precisam seguir ritmos sincronizados e iniciar/terminar o trabalho juntos.- Quantitativo- Mensurao precisaResistncia dos operrios que pedem reduo do tempo de trabalho semanal

O tempo de trabalho: sociedade pr-industrial x sociedade industrialThompson (1967) observa que a primeira gerao de operrios fabris foi instruda pelos patres sobre o valor do tempo, que a segunda formou suas comisses, para a reduo do horrio no quadro do movimento das dez horas, e que a terceira gerao fez greve para que as horas suplementares fossem pagas em dobro e mais a metade.

O tempo de trabalho: sociedade pr-industrial x sociedade industrialO problema da adoo de um enquadramento temporal do trabalho - quantitativo, medido com preciso e baseado na sincronizao dos homens e das mquinas - pelo qual passou a Europa as vias da Revoluo Industrial semelhante ao que ocorre nos pases chamados em vias de desenvolvimento (Hall, 1983).Alguns pesquisadores esto convencidos de que o caminho do desenvolvimento econmico passa pela adoo de novos quadros temporais e pela valorizao do tempo medido pelo relgio (Landes, 1987)

Tempo e Organizao de trabalho- Caractersticas do tempo de trabalho em organizaes produtivas - Longo tempo de trabalho pouco tempo livre para o trabalhador.O tempo de trabalho coordena a rotina dos empregados e tambm de outros mbitos sociais que esto prximos.Tempo de trabalho caracterizado pela obrigao, j que imposto atravs de normas.Tempo de trabalho : uniforme, rgido, quantitativo, medido e governado com preciso.

Tempo e organizao de trabalhoTaylor e os propagadores da administrao cientfica interessaram-se apenas indiretamente pelo problema da definio de um quadro tempo que delimite o horrio de trabalho: toda sua ateno , ao contrrio, direcionada ao contedo do tempo de trabalho e aos ritmos nos quais ele se desenvolve.... A partir do estudo cronomtrico dos tempos das diferentes fases de um trabalho ou de uma tarefa, Taylor formula e aplica seu novo sistema de salrio-prmio, batizado salrio por peas diferenciadas.

Tempo e organizao de trabalhoGilbreth (1912) refere-se explicitamente a Taylor e afirma que o estudo dos tempos a arte de levantar, de analisar e de sintetizar os tempos dos componentes de cada uma das operaes: normalmente, tratam-se de operaes manuais, mas o estudo foi estendido s operaes mentais e mecnicas. Devemos a ele estudos meticulosos sobre os movimentos do operadores, principalmente na indstria da construo e na organizao dos canteiros de obras.

Tempo e organizao de trabalho- Dimenses fundamentais do tempo de trabalho - Tempo como durao ou tempo externo: representado pelo horrio de trabalho, isto , pela definio da quantidade de tempo que constitui a prestao de trabalho de uma jornada, de uma semana, de um ano. Tempo externo por que representa o contorno do tempo de prestao de trabalho.A definio de tempo externo foi a causa de muitas lutas entre a empresa e os trabalhadores. Hoje, ainda motivo de luta social no mundo da produo, por jornada mais reduzida e encurtamento da vida destinada ao trabalho.

Tempo e organizao de trabalho- Dimenses fundamentais do tempo de trabalho - Tempo como ritmo e cadncia da atividade produtiva ou tempo interno: caractersticas e intensidade do tempo de trabalho inserido em determinada durao.Esta dimenso do tempo de trabalho central para qualquer tipo de projeto ou meta organizao da empresa.Reivindicaes dos anos 60 e 70 voltaram-se para o tempo interno.

Tempo e organizao de trabalho- Dimenses fundamentais do tempo de trabalho - Tempo do trabalho em um lapso de tempo dado (dirio, semanal, etc): Esta a terceira dimenso do tempo no trabalho e h alguns anos tem ocupado um lugar importante na definio da problemtico do trabalho.Durao, ritmo e distribuio do tempo esto freqentemente em interao. Do ponto de vista da empresa, uma reduo do tempo externo pode ser mais vantajosa do que uma intensificao do tempo interno. Para os trabalhadores, a demanda da empresa por um aumento da produtividade do tempo interno pode ser aceitvel em troca de uma reduo da durao do horrio de trabalho.

Tempo e organizao de trabalhoHoje, a forma mais freqente de interao entre as diferentes dimenses do quadro temporal do trabalho a permuta entre durao e distribuio no tempo da prestao do trabalho: as empresas oferecem uma reduo do tempo externo, mas exigem flexibilidade quanto distribuio do tempo de trabalho, porque sobretudo esta flexibilidade que define a produtividade e algumas vezes a capacidade mesmo da sobrevida da organizao produtiva.

Problemas e tendncias atuais: reduo e flexibilidade do tempo de trabalhoNos sistemas industrializados do Ocidente, o quadro temporal do trabalho nas empresas est hoje no centro das presses e de influncias mltiplas provenientes de diferentes fatores e da interao de diferentes atores sociais, a citar: os fatores tecnolgicos, econmicos, culturais e poltico-institucionais.

Problemas e tendncias atuais: reduo e flexibilidade do tempo de trabalho A evoluo tecnolgica tem inmeras implicaes prticas: reduo do tempo necessrio produo e, pelo custo elevado das novas tecnologia instaladas, a exigncia da implantao de horrios atpicos (noturnos, fins de semana e feriados). Outro aspecto a flexibilidade de novas tecnologias que podem permitir dissociar e dessincronizar os tempos respectivos de cada trabalhador no processo de produo, em oposio a linha de montagem, que impem coeres espaciais-temporais rgidas de seqenciamento entre as fases sucessivas de interveno de cada participante ou grupo.

Problemas e tendncias atuais: reduo e flexibilidade do tempo de trabalho Os fatores econmicos em causa podem ser visualizados, antes de tudo, sob o ngulo das novas relaes que se instauram, a partir da metade dos anos 70 (com a crise de energia e a crise econmica), entre a organizao produtiva e seu meio ambiente externo. A globalizao da economia e dos mercados colocam para a empresa novos desafios de adaptao. A resposta fundamental da empresa a adoo de uma linha de flexibilidade que significa, em inmeros casos, flexibilidade do tempo de trabalho, associada sobretudo a fatores culturais.

Problemas e tendncias atuais: reduo e flexibilidade do tempo de trabalho Por fatores culturais, entende-se as atitudes das pessoas em relao ao trabalho. Os fenmenos referem-se a percepo sobre a relao entre tempo de trabalho e tempo livre: aumento do tempo livre no lugar do aumento de salrios para algumas categorias, aceitao de formas atpicas de horrios de trabalho, como o trabalho em tempo parcial, aceitao reservada de algumas formas de autogesto do tempo de trabalho, como o caso dos horrios flexveis, permitindo variaes autogeridas de entrada e sada do trabalho. Em geral, pode-se notar que, no domnio sociocultural, manifestam-se sintomas de maior subjetividade quanto escolha do quadro temporal do trabalho.

Problemas e tendncias atuais: reduo e flexibilidade do tempo de trabalhoOs fatores de caracter poltico e institucional elencam a ao da poltica levada direta ou indiretamente pelos governantes e os poderes pblicos em matria de tempo de trabalho. Dizem respeito tambm ao desenvolvida pelos sindicatos de trabalhadores e conduzida sob a forma de negociaes coletivas em diferentes nveis. As polticas voltadas para a luta contra o desemprego e a manuteno dos empregos pode influenciar em vrios nveis o quadro temporal do trabalho, pela reduo da jornada do trabalho ou por medidas destinadas a favorecer a flexibilidade do tempo de trabalho. O fenmeno do envelhecimento da populao nas sociedades industrializadas, tende a reduzir a proporo da populao ativa, levando a questo do aumento da idade mnima para a aposentadoria.

Problemas e tendncias atuais: reduo e flexibilidade do tempo de trabalhoA reduo do tempo de trabalho nas organizaes produtivas representa uma tendncia de longo prazo. Atinge todas as diferentes categorias de tempo produtivo: a jornada (c/ reduo de 7-8h semanais); a semana (com menos de 40h, e sbado livre); o ano (com aumento considervel de dias no trabalhados pagos - mdia de 4 a 6 semanas p/a) e a totalidade do exerccio profissional com a reduo da aposentadoria. Em 1840 um operrio trabalhava em mdia 4000h p/a, atualmente, uma mdia 1500-1700 h p/a . Para tanto, contriburam, claro, alm do desenvolvimento tecnolgico, a crise do emprego, e a ao dos sindicatos.Como conseqncia, aumenta o tempo livre do trabalhadore, o qual deixa de ter um caracter de momento social marginal, tornando-se rico de significado para os trabalhadores.

Problemas e tendncias atuais: reduo e flexibilidade do tempo de trabalhoOutro fator a flexibilizao do tempo de trabalho, entendida como a capacidade de adaptar normas e prticas relativas organizao do tempo de trabalho, em face dos obstculos e demandas provenientes da prpria empresa, dos trabalhadores e do ambiente externo. A conseqncia , assim, uma perda de unidade potencial do tempo de trabalho para todos os membros da fbrica que coloca para a empresa exigncias de ressincronizao em grande escala, o que faz aparecer sempre mais a defasagem entre o tempo de trabalho de cada membro, que consideravelmente reduzido em mdia, e o tempo global de funcionamento, que geralmente ampliado em conseqncia da exigncia de um aumento da durao de utilizao das instalaes ou do servio oferecido aos clientes.

Problemas e tendncias atuais: reduo e flexibilidade do tempo de trabalhoPortanto, com base nas negociaes coletivas entre sindicatos de trabalhadores e empresas, e at empresas a tendncia a troca entre uma reduo do tempo de trabalho dada aos trabalhadores e um aumento da flexibilidade temporal que lhe foi solicitada. Assim uma reduo do tempo de trabalho corresponde, em particular, a uma utilizao da fora de trabalho durante espaos temporrios ou fixados de modo irregular.O terceiro elemento do tempo de trabalho - o ritmo e a cadncia, central para Taylor, no foco de ateno atualmente, seja por que os limites estabelecidos para o ritmo e a produtividade atingiram nveis difceis de serem ultrapassados, mas tambm por que a possibilidade de influenciar os ritmos depende cada vez menos do operador e cada vez mais das caractersticas dos equipamentos tecnolgicos e das instalaes da empresa.

Concluso: tempo do ator, tempo da organizaoA relao entre o tempo do ator e o tempo da organizao produz um dilema que pode exprimir-se no sentido de uma oposio ou de uma conciliao. A possibilidade de se chegar a uma conciliao entre estes dois tempos depende de uma srie de fatores. Dentre eles, de significativa importncia a implementao, pelos poderes pblicos, de uma poltica de tempo de trabalho que seja inspirada pelo objetivo de desenvolver um jogo de soma positivo.

Concluso: tempo do ator, tempo da organizaoO ator - trabalhador ou membro da organizao - viu seu prprio quadro temporal mudar no interior da organizao onde trabalha. A durao do trabalho diminuiu; mas, aumentou a freqncia do trabalho noturno ou durante os dias feriados. A obrigatoriedade da pontualidade foi atenuada e houve uma melhoria das possibilidades de manter uma ligao temporal entre vida profissional e vida familiar, etc. Em relao aos ritmos devem ser consideradas as diferenas sociogeogrficas, por setores, em funo do tamanho da empresa e das qualificaes profissionais, as tecnologias, assim como os resultados da prpria negociao coletiva.

Concluso: tempo do ator, tempo da organizaoO tempo da organizao, entendido no significado do tempo no qual funciona a organizao, marcado por uma durao geralmente superior do tempo de cada um dos atores. O tempo da organizao tende a se tornar um tempo sempre mais longo, distribudo em uma durao mais importante na jornada, na semana e no ano, devido a fatores como o aumento da durao de utilizao das instalaes no setor industrial ou de servio de clientes no setor tercirio.

BibliografiaCHANLAT, J. F. O indivduo nas organizaes: dimenses esquecidas. SP: Atlas, 1996.