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TempoLivre N.º 228 Julho/Agosto 2011 Mensal 2,00 euros www.inatel.pt Xangai A nova China Entrevista Vítor Ramalho Terra Nossa Crestuma Desporto Campeões Inatel Entrevista Vítor Ramalho Terra Nossa Crestuma Desporto Campeões Inatel

Tempo Livre 228 - Julho | Agosto

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Tempo Livre 228 - Julho | Agosto

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TempoLivreN.º 228Julho/Agosto 2011Mensal2,00 euros

www.inatel.pt

XangaiA novaChina

Entrevista Vítor Ramalho Terra Nossa Crestuma Desporto Campeões Inatel Entrevista Vítor Ramalho Terra Nossa Crestuma Desporto Campeões Inatel

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Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: CarlosMamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, JoaquimDiabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, MariaMesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, BaptistaBastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA,Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - RuaConsiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade naD.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 126.867 exemplares

Na capaFoto: Catarina Serra Lopes

38VIAGENS

Xangai: a Nova IorquechinesaFrenética e carismática,moderna mas tradicional,Xangai é a cidade com maisarranha-céus na China.Com um passado glorioso euma época de decadência,vive nos últimos anos umaexplosão económica eindustrial. Um patrimóniohistórico muito rico, bonsrestaurantes, lojas e hotéis,fazem desta cidade um dosdestinos turísticos domomento.

5 EDITORIAL

6 CARTAS

8 NOTÍCIAS

20 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

44 VIDAS

Unurjargal Tsegmid: Uma mongol em Lisboa

53 PINTURA NAÍF

Um desafio aos associados Inatel

56 MEMÓRIA

Vasco Santana

60 OLHO VIVO

62 A CASA NA ÁRVORE

87 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

88 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

90 CRÓNICA

Álvaro Belo Marques

65 BOA VIDA

82 CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos, Novos livros e Cartaz

22ENTREVISTA

Vítor RamalhoPrimeiro presidente da Inatel desdeque a instituição passou a Fundaçãode direito privado e utilidade pública,Vítor Ramalho faz para "TL" umbalanço de três anos da gestão -empenhada em "reforçar os alicerces"e garantir a auto sustentabilidade,"sem recurso a fundos públicos - deuma organização de relevanteutilidade económica, social e cultural.

31TERRA NOSSA

CrestumaSituada na margem esquerda doDouro, Crestuma é terra natal degente campeã da Europa e do mundoem canoagem e de um dos pioneirosda fotografia portuguesa. Mas ospergaminhos da freguesia passamtambém por narrativas antigas e pelacomemoração, este mês, dos noventaanos da banda filarmónica.

46DESPORTO INATEL

Relatos e histórias dos campeõesnacionais nas principais modalidadesdesportivas da Fundação.

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Editorial

Vítor Ramalho

Prestar contas

Concluir-se-á em Setembro próximo oprimeiro mandato de um conselho deadministração da Fundação Inatel.Tenho tido a honra de o presidir.

Os meus colegas do conselho de adminis-tração deram recentemente, na Tempo Livre,entrevistas sobre as áreas das competências quelhes foram delegadas.

É assim natural que, com a aproximação dotermo do mandato eu próprio faça um balançosobre a actividade desenvolvida, que obedeceu auma estratégia delineada desde a tomada deposse. Admito, em função das múltiplas e per-manentes acções desenvolvidas que aos própriosbeneficiários, embora sempre atentos à vida daInatel, lhes tenham escapado alguns dos objecti-vos já concretizados.

É útil fixar em letra de forma o que foi feito, arazão de ser e o que ainda falta realizar.

Estamos de consciência tranquila embora se -guros que houve erros e omissões neste primeiromandato como em tudo na vida. Procurámos eprocuramos estar atentos para fazer mais e me -lhor e sempre vigilantes nas reivindicações eanseios dos beneficiários, conscientes da crise edos seus constrangimentos.

A Inatel, os beneficiários e o contributo que

entendemos dever prestar para a superação dosmomentos difíceis que o país vive exigem quenão desfaleçamos nos esforços a desenvolver,recriando a esperança.

Este próprio número da Tempo Livre dáconta de muitas actividades, sempreinacabadas, sejam no Turismo, destavez com a participação da Inatel como

membro executivo do Centenário das comemo-rações da institucionalização do turismo nonosso país, a merecer uma exposição na nossaagência do Palácio do Barrocal em Évora, até àrealização de inúmeras actividades desportivasque vão desde o Jet Sky à regata, passando pelasfinais de várias competições e terminando nacultura, de que é exemplo a inauguração de umapeça de invulgar qualidade "Casamento em Jogo"no Teatro da Trindade. Isto para não falar nosnovos programas sociais como o "Sempre emFérias" que teve inicio neste primeiro dia deJulho.

De alguma maneira a "Tempo Livre" foi dandotestemunho, ao longo destes três anos das acçõesprojectadas ou realizadas.

Mas, como disse, é altura agora de se fazer obalanço, prestando contas. n

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Pormenor daexposição na agênciaInatel, no Palácio doBarrocal, em Évora

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Cartas

Coluna do Provedor

Piscina da CaparicaAcompanhada pelo meu marido e filho de doisanos, dirigi-me, no passado mês de Junho, à piscinada Caparica para uma tarde de lazer e em família.Chegámos entre as 14h30 e 15h e foi-nos cobrado 9€por adulto. Fiquei espantada com o excesso do valordo preço, mas já que ali estávamos, acabámos porentrar.

O Segurança informa-nos, depois, que não pode-mos entrar com a geleira (30x20) que transportava aalimentação do meu filho de 2 anos. Conseguimospô-la no saco que trazíamos. Segundo nos disseram,a alimentação teria de ser feita no Bar/Esplanada queo complexo possui. O problema é que o mesmo nãodispõe de alimentação adequada para crianças.

Chegados à piscina das crianças, deparamo-noscom a proibição da utilização de auxiliadores de flu-tuação (bóias ou braçadeiras). É uma piscina decrianças. Porquê esta regra? Não tem lógica, ascrianças precisam de estar seguras e a qualquermomento pode acontecer um acidente.Compreendo a proibição/regra na piscina dos adul-tos, mas não na das crianças.

A zona envolvente da piscina está melhorada,nota-se que houve investimento e vontade demelhorar. No entanto, o piso que colocaram juntoàs piscinas (substituindo o antigo que eram unsquadrados com umas pedras) é escorregadio efacilmente se cai. O que torna ainda mais perigo-

so a circulação junto à piscina das crianças.Acho que o espaço exterior está bastante bom,

possui uma vasta zona verde, um bar/esplanada eum parque infantil (só aconselho a manter limpos osWC's). A minha mãe deixou de ser sócia no ano de2009 porque não existia manutenção no espaço enão existia nenhum meio de diferenciação para ossócios e os não sócios na entrada para a piscina.

Conforme apuramos, os preços, este ano, jáfazem essa distinção, o que é muito bom. Mas, paraos não sócios, continuam, acho eu, muito elevados:dias de semana 15€ o dia todo, e 9€ meio-dia; fins-de-semana 20€ o dia todo e 12.50€ meio-dia. OSegurança explicou que estes preços são mais paramanter "afastados" umas quantas pessoas que por láandaram, noutras alturas, a praticar distúrbios.Compreendo isso, mas não deixa de ser um abuso.

Marta Freire Viegas, Almada

50 anos na INATEL Completaram, nos meses de Julho e Agosto, 50 anosde ligação à Inatel os associados: Carlos AlbertoMelo, de Almada; José Carlos Duarte, de Barreiro;Roberto Lança, de Caldas da Rainha; António JoãoSimões, de Coimbra; José Joaquim Raquel, de Elvas;Fernanda Roque, Mário Ferreira, Manuel Vaz,Graciosa Castanheira e António Silva, de Lisboa;António Florindo e Francisco Celorico, de Oeiras;Helder Pereira, de Seixal; Júlio Craveiro, de Sintra.

ESTE PERÍODO estival que se avizinha e que, logi-camente, deveria ser de férias e de recuperação deforças, é recheado de angústias que atravessam osque, pelo país fora, têm as 'férias' prolongadas dodesemprego, ou dos salários atrasados, ou de umareforma ameaçada pela injustiça social, ou, ainda,dos que tendo férias e subsídio não as gozam naprática porque a crise lhes traz preocupações, tantoaos próprios como aos familiares.

O quadro é negro, mas não devemos esquecerque foi através do quadro negro escolar que apren-demos muita coisa; aprendamos, pois.

Penso, em primeiro lugar, que os que estão emmelhor posição para enfrentar a crise devem esti-mular a família, os amigos, mas também os que, nasociedade em geral, enfrentam maiores dificuldades.

Em segundo, não devemos deixar cair os braços

e acreditar que não é com pessimismo que se ven-cem os problemas que estamos a enfrentar no paísque ainda é o nosso.

Na Fundação Inatel tem-se procurado moderni-zar, métodos e instalações que possam enfrentar omercado com êxito. A Fundação não tem esquecidoo apoio ao Turismo e Termalismo Sénior, ao lazerdirigido aos que menos têm, sem esquecer os defi-cientes. Aos jovens foram também disponibilizadosprogramas apropriados e, por isso, apelativos; obvia-mente que também os associados condições espe-ciais.

Creio que não serão esquecidos os que trabalhaminternamente neste esforço de esperança no futuroda Fundação.

Criar a esperança é a palavra de ordem. Mãos àobra! n

A correspondênciapara estas secções

deve ser enviadapara a Redacção de

“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,

nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:

[email protected]

Kalidá[email protected]

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Notícias

l Integrada nas comemorações docentenário do Turismo em Portugal,está patente, até final de Dezembro,no Palácio do Barrocal, sede daAgência Inatel de Évora, a exposição"A Fundação INATEL na génese doTurismo Social em Portugal".

Ainda no âmbito da programaçãonacional dos 100 anos do turismo, aexposição será apresentada noutrospontos do país, "dando o mesmo sinalde descentralização que orientou aprogramação nacional do centenário",como salientou, no acto deinauguração, o arquitecto JorgeMangorrinha, presidente da comissãoorganizadora do centenário.

"Quisemos - assinalou ainda aqueleresponsável - diversificar conteúdos elocais de realização das iniciativas,porque o turismo é para todos e deveser uma manifestação à escala doterritório nacional. Espero que estasiniciativas polinucledas tambémsirvam para motivar a viagem pelopaís, ou não fora a arte de viajar osuporte do turismo e do lazer."

Com textos e imagens da evoluçãodo turismo social, desde a criação daFNAT, em 1935, até aos temposactuais da Fundação Inatel, aexposição revela como, até às

primeiras décadas do século passado,o turismo era sobretudo umaactividade de luxo, reservado aosmais favorecidos. A ocupação dostempos livres dos trabalhadorescentrava-se em associações esociedades populares de educação erecreio e em actividades deexcursionismo, música e leitura. Odesenvolvimento de um verdadeiro"turismo social" tem início emmeados dos anos trinta e terá umimpulso decisivo com a criação daFNAT, hoje Fundação INATEL.

Reabilitação e ArquivoA inauguração da mostra no Paláciodo Barrocal, onde funciona a AgênciaInatel de Évora, coincidiu com otermo das obras de requalificação deuma parte importante do edifício, noâmbito de uma candidaturaapresentada ao QREN (Quadro deReferência Estratégica Nacional) eque teve uma parceria alargada,incluindo a própria autarquiaeborense - facto sublinhado peloPresidente da Fundação, VítorRamalho, que elogiou a qualidade damostra e a importância dareabilitação do palácio, sede tambémdo arquivo central da Inatel.

Assistiram ao acto, váriaspersonalidades, designadamente oReitor da Universidade de Évora, oPresidente da Câmara de Évora, umrepresentante do Bispo, o Presidenteda Fundação Eugénio de Almeida, ummembro do I.E.F.P., e delegações daGNR e dos Bombeiros de Évora.Presentes ainda, o vice-presidente daInatel, Carlos Mamede - membrotambém da Comissão Nacional doCentenário do Turismo -, DelegadosRegionais, o Coordenador dasAgências, Rui Máximo, e outrosquadros e colaboradores da Fundação.

A cerimónia iniciou-se com aexibição de um grupo musical dejovens da escola de música eborense,seguindo-se as intervenções de JorgeMangorrinha, Vítor Ramalho e, porfim, de Ernesto Oliveira, presidente daCâmara, que destacou a importânciada função social e cultural da Inatelquer no âmbito nacional quer norespeitante à sua cidade, enaltecendoo facto do arquivo da Fundação Inatelir ser sediado no Palácio do Barrocal,facilitando o estudo e a investigaçãodeste importantíssimo espólio, comparcerias estabelecidas com aDirecção Geral dos ArquivosNacionais e a Universidade de Évora.

História do Turismo Socialem exposição no Palácio do Barrocal

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lA estreia de "Casamento em Jogo",comédia dramática inédita emPortugal do dramaturgo norte-americano Edward Albee,interpretada por Cucha Carvalheiro eRogério Samora, levou ao Trindade,na noite de 17 de Junho numerosaspersonalidades dos meios políticos eculturais nacionais.

A peça - onde os dois conhecidosactores interpretam um casal, Gilliane Jack, com as suas decepções,alegrias, memórias e traiçõesacumuladas ao longo de trinta anosde vida conjugal - estará em cena até31 de Julho. As sessões são de 5ª (apreço reduzido 5€!) a Sábado, às22h00, e aos Domingos, pelas 17h00.

"Casamento em Jogo" Inatel membro da UCCLA

lA 28ª Assembleia Geral da UCCLA, que

decorreu, em Maio, em Luanda, aprovou

por unanimidade as novas adesões à

UCCLA da cidade de Benguela como

membro efectivo, e a TAAG, o Grupo

Visabeira, a Fundação INATEL e o Instituto

Internacional de Macau, como membros

apoiantes. Nesta AG foram eleitos os

novos Órgãos Sociais para 2011 - 2013. A

cidade de Luanda foi eleita para a

presidência da UCCLA e, por inerência,

passa presidir à Comissão Executiva. Para

a presidência da AG foi eleita a cidade do

Maputo. Ficou também decidido que a

próxima Assembleia-Geral da UCCLA se

realizará na cidade da Praia (Cabo Verde),

em Abril ou Maio de 2013. Miguel

Anacoreta Correia é o Secretário - Geral.

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Notícias

lDuas dezenas de portugueses,residentes no estrangeiro há váriasdécadas e sem recursos para custear aviagem, puderam, no âmbito doprograma Portugal no Coração,revisitar o país natal, em Junhoúltimo.

Durante quinze dias, as unidadesda INATEL na Caparica, Foz doArelho, Albufeira, Sta Maria da Feira eVila Ruiva acolheram os nossoscompatriotas - com idadescompreendidas entre os 67 e 80 anos -residentes em Namíbia, África do Sul,Argentina, Brasil, Moçambique,Venezuela e Zimbabwe, que visitaramalguns dos locais e monumentos mais

emblemáticos do país e degustaramiguarias da cozinha tradicional aosom de muita música popular, fado efolclore.

Vítor Ramalho, presidente daFundação INATEL, esteve presentenum fraterno e caloroso convívio, naCaparica, com os veteranos

Portugalno Coração

emigrantes, destacando a longaodisseia por eles vivida, "desde a tenraidade" noutros continentes. "Portugalno Coração" tem, a par da Inatel, oapoio da TAP, da Direcção-Geral dosAssuntos Consulares e ComunidadesPortuguesas e do Ministério doTrabalho e da Solidariedade.

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lSímbolo de Viseu, a Feira de S.Mateus - que remonta a Janeiro de1392, por concessão real - é oacontecimento maior da cidade e dodistrito, a sua marca mais impressiva;mas é também símbolo de umaconvergência entre o passado, opresente e o futuro que caracterizamuma cidade diferente, rica empatrimónios, aberta a novos saberes eculturas, que configuram umamundividência que potencia acompetitividade territorial que é marcados tempos modernos.

Há muito tempo que a Feira de S.Mateus é indissociável do seu Terreiro,

hoje dito por toda a gente comoCampo da Feira, o espaço centenárioonde renasce a cada edição, em boahora requalificado pela Autarquiaviseense, através do Projecto Polis.

Ganha particular relevo a presençada Inatel na S. Mateus 2011. Aprojecção e a experiência adquiridaspela Fundação nos campos social ecultural constituem uma mais-valiapara o alargar das suas fronteiras. Ostand, no Pavilhão Multiusos, será abase de um serviço de informação útil

para os milhares de visitantes quedemandam a feira.

A rica gastronomia regional e umaextensa e variada programação -concertos de Tony Carreira, James,Áurea, Pedro Abrunhosa, Jorge Palma,entre outros, além de exposições depintura, de brinquedos da feira e SalãoBD (Banda Desenhada) – são outrasdas múltiplas componentes de umaFeira de inegável importância nacionalque abre a 14 de Agosto e encerra a 21de Setembro.

Feira de S. Mateus:um acontecimentonacional

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Notícias

lViver, durante vários meses, ousempre, num hotel dotado doconforto e da comodidade adequada àidade sénior, é uma opção, agoradisponível para os cidadãos comidade superior a 60 anos, graças aoprograma "Sempre em Férias", quearrancou, este mês, na Inatel Luso,unidade que acolhe, até Setembro, osparticipantes da primeira fase dainiciativa.

Dotado de um vasto programa deanimação, que inclui visitas a locaisde interesse turístico, actividade físicae outras de carácter lúdico,assistência médica e de enfermagem,o "Sempre em Férias" teveapresentação pública, em Junhopassado, na sede da FundaçãoINATEL, com a presença de Ilda Silvae o seu companheiro FernandoEsteves, dois dos pioneiros deinscrição no programa, naturais deSetúbal.

"Gosto de viajar e de conhecernovos destinos e como já conheço osserviços da Inatel não hesitei emavançar", explicou Ilda Silva, feliz pornão ter de cuidar das lides domésticasnos próximos tempos. TambémFernando Esteves sublinhou aimportância da iniciativa no combateà solidão, situação que ele próprio já

experimentou e que a vida sóadquiriu novas cores após terconhecido a sua actual companheira."Desde que estou junto com a Ilda, háquatro anos, que adoro viajar com aInatel por isso não hesitei em avançarpara o "Sempre em Férias", ondeespero passar bons momentos".

"A Segurança Social acarinha eapoia esta iniciativa e espera que elacontribua para a melhoria dascondições de vida da populaçãosénior", sublinhou EdmundoMartinho, presidente do Instituto deSegurança Social, IP, acompanhadono acto de apresentação do programapor Maria João Ramalho e AnaGomes.

Carlos Mamede, vice-presidenteda Fundação vincou, por sua vez, amissão da Inatel atenta à"generalidade dos grupos etários dasociedade, desenvolvendo projectosinovadores e este é um exemplo queirá beneficiar, em muito, acomunidade sénior".

A apresentação do programa, aque assistiram diversos quadrostécnicos e superiores da Fundaçãocontou, ainda, com um apontamentomusical a cargo do grupo decavaquinhos da Universidade Séniorda Amadora.

"Sempre em Férias" arranca no Luso

12 TempoLivre | JUL/AGO 2011

Arcos de ValdevezhomenageiaMário Soares

lNo passado dia 17 de Junho teve

lugar no Forum FNAC Chiado, em

Lisboa, a apresentação do livro "Vida e

Obra de Mário Soares", uma edição

conjunta do Município arcuense e da

Editorial Novembro, integrada no

culminar programático do evento

"Arcos de Valdevez- Concelho de

Estado", que no ano transacto, e na sua

primeira edição, homenageou a figura

singular deste estadista português.

Coube a Manuel Sobrinho Simões,

investigador e professor universitário,

as notas de apresentação, realçando a

forma como todos os intervenientes no

livro, que inclui, entre vários nomes,

Adriano Moreira, Carvalho da Silva,

Almeida Santos, Fernando Nobre ou

Freitas do Amaral, referenciaram a

personagem abrangente e singular de

Mário Soares, reunindo em todos um

consenso global e uma evidente

admiração e amizade.

Reunião Anual da Direcção Desportiva

lComo vai sendo habitual a Direcção

Desportiva, bem como toda a sua

equipa, de norte a sul do país

respondeu à convocatória do seu

administrador, Moreira Marques, para a

realização de mais um encontro anual.

O encontro, que decorreu nos dias 31

de Maio e 1 de Junho, envolveu o

balanço de um ciclo, iniciado em 2008.

Moreira Marques entregou a todos os

colaboradores um relatório de

sustentabilidade, que documenta toda a

acção conjunta da Direcção desportiva

durante o triénio 2008-2011, e deixou

uma mensagem de confiança no futuro

da importante função social do

Desporto Inatel.

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Notícias

lMais uma missão cumprida, maisum passeio bem sucedido. Sócios e nãosócios da Inatel responderam aochamamento da aventura epercorreram os trilhos entre as serrasda Estrela e do Açor, numa caravanaque juntou 35 viaturas e cerca de umacentena de pessoas que esgotaram asunidades hoteleiras da Inatel de VilaRuiva e Piódão.

Além das habituais viaturas 4x4,marcaram presença também as viaturasSUV, que suportaram, comcompetência, as subidas e descidas doscorta-fogos, como aliás, o Clube EscapeLivre já tinha comprovado com oHyundai ix35, viatura oficial desteevento.

Para a organização, o balanço finalfoi manifestamente positivo: novosvisitantes ficaram a conhecer, a par dasmagníficas unidades Inatel, alguns dosencantos da região, por percursos eobstáculos naturais criteriosamenteescolhidos e que permitiram que todosos participantes chegassem, comadrenalina, orgulho e satisfação, atodos os locais.

Para os menos habituados ao fora deestrada, o passeio contou com aimportante parceria da Hyundai, da

Bridgestone e da ValorPneu, queexpuseram diversas dicas no âmbitodo uso da condução todo terreno, dospneus e no respeito pela natureza.

A etapa nocturna, que ligou VilaRuiva, Celorico e Linhares da Beira,com visita aos castelos e ainda aoMuseu do Queijo, foi um bomaperitivo do programa que osparticipantes iriam desfrutar nos diasseguintes.

O percurso, no dia seguinte, entreVila Ruiva e o Piódão, revelou-se útilpara acalmia das tensões acumuladasna rotina diária, levando osparticipantes a dedicarem-se quaseexclusivamente à tarefa de ultrapassaros obstáculos naturais, corta-fogos,caminhos mais ou menos estreitos eescarpados. Entre os tempos de"descanso", as visitas ao Centro deInterpretação da Serra da Estrela e

Museu do Pão, ambos em Seia, foramde agrado geral.

A terceira etapa, numa manhã dedomingo, acabou por ser ainda maisdeslumbrante face a um nevoeirodenso que se fixou a média altitude,permitindo que os participantespercorressem trilhos como secirculassem sobre as nuvens, enquantose dirigiam à Fraga da Pena e ao Montedo Colcurinho, locais de belezaexcepcional.

Para Luís Celínio, do Clube EscapeLivre, este terceiro Raid Inatelconsolidou "uma parceria que, danossa parte, está a contribuir para adivulgação da nova e dinâmica imagemda Inatel para trazer mais sócios para aFundação - foram já muitas dezenasque aderiram a estas iniciativas - econtribui ainda para que as suasinstalações hoteleiras sejam não sómais utilizadas como muito divulgadasjunto de um potencial público".

Moreira Marques, da Inatel,lembrou, por sua vez, que a Fundação"tem um conjunto de propostas para ossócios não só através deste Raid Inatelem todo terreno, mas também no BTT,na canoagem, na motonáutica, no jetski, no parapente e noutrasmodalidades" e mostrou-se satisfeitocom a parceria Inatel/Clube EscapeLivre que - frisou - "tem ultrapassado asnossas expectativas e é para continuar."

Raid INATEL Estrela-Açor

Um passeio inesquecível

14 TempoLivre | JUL/AGO 2011

lA Lagoa de Óbidos na Foz do Arelho foi palco nos passados

dias 11 e 12 de Junho de uma das etapas do Grande Prémio

de Jet ski 2011. Fruto de uma parceria entre a Fundação

INATEL e a Federação Portuguesa de Jet Ski, esta etapa

contou com a participação de mais de meia centena de pilotos

numa competição renhida, tendo o publico local aderido em

massa ao evento. O jantar oficial do campeonato decorreu na

UH da Foz do Arelho e contou com a participação do

Presidente da Federação de Jet Ski, Vereador do Desporto do

Município das Caldas da Rainha e administrador da Fundação

INATEL, Moreira Marques.

Grande Prémio de Jet Ski

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Notícias

l No âmbito da acreditação daINATEL como ONG (OrganizaçãoNão - Governamental), apta a prestarserviços de consultoria ao ComitéIntergovernamental para aSalvaguarda do Património CulturalImaterial (PCI) da UNESCO, e dadaa sua responsabilidade nesta área, aFundação vai organizar, em Outubropróximo, em conjunto com aComissão Nacional da UNESCO, umEncontro sobre Património CulturalImaterial.

O encontro, que decorrerá nasinstalações da Inatel Foz (Foz do

Arelho), será um espaço de debate ediálogo sobre o Património CulturalImaterial e sobre a Convenção paraa sua salvaguarda, aberto àsassociações culturais quedesenvolvem trabalho na área doPCI e a académicos do sector, caso,entre outros, dos antropólogos eetnomusicólogos.

As colectividades associadas àFundação e outras instituições dasociedade civil terão, aí, espaço eoportunidade para mostrar eapresentar o seu trabalho nasalvaguarda do seu PCI, promovendo

a reflexão e sensibilização para otema.

Instituições, Tradiçõese ArtesanatoO Programa do Encontrocompreenderá quatro painéis ("AsInstituições e a Convenção para aSalvaguarda do PCI", "TradiçõesOrais", "Artesanato e o Saber Fazer","Passados no Presente"), que serãointegrados por um moderador evários oradores, em representaçãode entidades com actuação nessasáreas, além de dois Estudos de Caso,que terão uma vertente mais prática.Após cada painel, haverá um espaçoalargado de debate aberto aopúblico.

Haverá ainda lugar à apresentaçãode três comunicações, previamenteseleccionadas pela Fundação INATELe CNU.

Está ainda previsto um programade animação cultural, com músicatradicional, exposições temáticas,exibição do filme Sinfonia Imaterial euma visita facultativa ao Museu daCerâmica das Caldas da Rainha.

A informação sobre inscrições noEncontro será divulgada brevemente.

lMais de um milhar de candidatosinscreveu-se já nos cursos das 16Escolas de Hotelaria e Turismo para oano lectivo 2011/2012, o que representamais do dobro das candidaturasregistadas no ano lectivo anterior. Asinscrições prolongam-se até 6 de Julho.O mais recente Estudo de Inserção

Profissional dos alunos das Escolas deHotelaria e Turismo, realizado peloTurismo de Portugal, conclui que ataxa de actividade atinge os 80 porcento ao final de seis meses, sendo que65 por cento dos alunos encontraemprego em menos de um mês.

A oferta formativa da rede escolar

do Turismo de Portugal abrange maisde 3.000 alunos por ano, dos quais,cerca de 2.000 são novos alunos.Distribuída em 11 programas, aformação inicial cobre áreas como aCozinha, a Pastelaria, a GestãoHoteleira, o Serviço de Restauração eBebidas e o Turismo.

Inatel promove em Outubro

Encontro sobre Património Cultural Imaterial

Escolas do Turismo com procura recorde

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Notícias

l A Fundação Inatel e a AHRESP -Associação da Hotelaria, Restauraçãoe Similares de Portugal assinaram, emJunho, um protocolo de cooperaçãodestinado a promover e dignificar osector hoteleiro da Inatel através doreforço da formação relativas aoexercício da actividade e aos recursoshumanos.

Fundação BenficaAinda em Junho, foi estabelecidanova parceria, desta feita com aFundação Benfica, destinada aodesenvolvimento dos projectos "Parati Se não faltares!" e "Tu DecidesBem!". O primeiro visa, através deactividades lúdicas e pedagógicaspara crianças e jovens, dos 6 aos 16anos, o combate ao absentismo,abandono escolar precoce e violênciaescolar. "Tu Decides Bem!" procuramobilizar jovens dos 17 aos 35 anospara a Fundação Inatel, como agentes

de arbitragem, usufruindo dacapacidade de mobilização dasparcerias estratégicas de dimensãonacional de Fundação Benfica.

Os jovens envolvidos poderão, noâmbito do acordo e em função dasdisponibilidades em cada ano,participar nos programas "TurismoSolidário" e "Turismo Júnior" daInatel.

A parceria envolve ainda adivulgação das actividades nos meiospróprios de cada uma das entidades eo acesso às respectivas instalaçõesdesportivas e culturais, incluindo aparticipação em acções de formação.

Arquivo InatelNo âmbito da instalação do Arquivoda Inatel no Palácio do Barrocal, em

Évora, foi assinado um protocolo coma Direcção-Geral dos ArquivosPortugueses, entidade que dispõe dostécnicos adequados ao projecto deidentificação, avaliação, organização,descrição e disponibilização doacervo documental da Fundação. Oacordo foi rubricado pelo director-geral da DGAP, Silvestre Lacerda, epor Vítor Ramalho e Cristina Baptista,respectivamente, presidente eadministradora da Inatel.

Protocolos Inatel

l Portugal vai acolher, entre Julho e

Setembro, em diferentes pontos do país,

11 Festivais CIOFF® (Conselho

Internacional das Organizações de

Festivais de Folclore e Artes

Tradicionais), com a participação de

numerosos agrupamentos nacionais e

internacionais.

Constituída em 8 de Fevereiro último, a

Associação CIOFF-Portugal será

presidida pela Fundação Inatel que é,

desde 1994, a representante oficial.

Criada em 1970 para salvaguarda,

promoção e difusão da cultura

tradicional e do folclore, mantém

relações consultivas com a UNESCO.

Entre Julho e Setembro de 2010,

recorde-se, realizaram-se 12 Festivais

CIOFF® que abrangeram 36 concelhos

Portugueses, com a realização de 183

espectáculos e 20 desfiles, a que

assistiram cerca de 200 mil pessoas. Os

12 festivais tiveram a participação de 62

grupos estrangeiros, oriundos de 42

países de quatro continentes.

Este ano, estão previstos, em Julho,

festivais em Cantanhede, Figueira da

Foz, Barcelos, e Argoncilhe. Em Agosto,

decorrerão o Festarte (Matosinhos),

FolkMonção, e os festivais de

Gulpilhares, Angra do Heroísmo e Faro,

seguindo-se, em Setembro, os Festivais

do Alto Minho (V. Castelo) e Santarém.

CIOFF® Portugal 2011

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XV Concurso “Tempo Livre” Fotografia

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[ 1 ]

[ 2 ]

[ 3 ]

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[ a ] Sérgio Guerra, S. João do EstorilSócio n.º 204212

[ b ] José Barreiro, AlbufeiraSócio n.º 36010

[ c ] Mário Bizarro, V. N. de GaiaSócio n.º 64888

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, um máximode 3 fotografias de formato mínimo de10x15 cm e máximo de 18x24 cm., empapel, cor ou preto e branco.

5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2011, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

[ b ]

[ a ]

[ c ]

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[ 1 ] Óscar Saraiva, S. Mamede InfestaSócio n.º 31309

[ 2 ] Manuel Carvalho,VidigueiraSócio n.º 249980

[ 3 ] Augusto Santiago,V. N. de GaiaSócio n.º 460443

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Entrevista

Vítor Ramalho"Preparamos a INATELpara a crisee para o futuro…"

Primeiro presidente da Inatel desde que a instituição passoua Fundação de direito privado e utilidade pública, VítorRamalho faz para "TL" um balanço de três anos da gestão -

empenhada em "reforçar os alicerces" e garantir a autosustentabilidade, "sem recurso a fundos públicos - de umaorganização de relevante utilidade económica, social e cultural.Advogado de profissão, com larga experiência governativa eparlamentar, VR evoca a adolescência em Angola ("sou português,angolano e europeu..."), para sublinhar o papel pioneiro dePortugal na globalização e manifestar a convicção de que o paístem condições para superar a actual crise e projectar-se na "sendado desenvolvimento".

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Entrevista

Cumpre, em Setembro próximo, três anos napresidência da Fundação Inatel. Considera terconcretizado os objectivos enunciados no actode posse da sua Administração?O diploma que criou há três anos a FundaçãoInatel estabeleceu desde logo um vasto conjuntode obrigações - da extinção do ex-Instituto Inatel,da adequação das actividades do turismo, cultu-ra e desporto e dos equipamentos à legislação pri-vada em vigor, da aprovação de novos regula-

mentos, parte dos quais a exigi-rem a aprovação prévia dos con-selhos consultivo e geral, tambémeles constituídos de raiz. O cum-primento dessas obrigaçõesenvolveu uma grande complexi-dade. Houve que efectuar umvasto conjunto de operaçõesadministrativas, financeiras econtabilísticas para a extinção doex-Instituto e elaborar a própriaportaria de extinção de tal sorteque o processo só se pode con-cluir sete meses após a tomada deposse, em Maio de 2009.

Aprovaram-se entretanto osregulamentos e as normas ade-quadas ao funcionamento danova Fundação, nomeadamente oRegulamento dos Beneficiários, o

Código do Desporto, as normas de atribuição desubsídios aos CCD'S, e as regulamentadoras dosdireitos e deveres dos Campistas, o Código deÉtica e de Conduta, não esquecendo a Carta deMissão que consigna os princípios orientadoresdo plano de desenvolvimento estratégico e a res-pectiva programação financeira.

Face ao desenvolvimento da crise foram esta-belecidas também normas para atribuição deapoios aos trabalhadores que carecessem deempréstimos, sendo os pedidos avaliados poruma comissão constituída pelos próprios traba -lhadores, tendo o Conselho de Administraçãodotado uma verba razoável para esse efeito. Aconcretização destes objectivos correram paredesmeias com a aprovação de uma nova estruturaorgânica em todas as áreas e sectores.O objectivo central da passagem do Instituto aFundação era adequar as diferentes áreas deintervenção da Inatel às realidades do mercado,

dotando a Inatel de uma gestão mais dinâmicae competitiva…Para a adequação das actividades do turismo, cul-tura e desporto, bem como dos equipamentos àlegislação privada em vigor, foram encetadostodos os passos necessários, o que não foi nem étarefa fácil. Para os equipamentos (antigos cen-tros de férias) tratou-se de os converter em uni-dades hoteleiras, com classificações adequadas, oque implicou e implica ainda toda a sorte delicenciamentos - das autarquias, das CCDR's, doInstituto de Turismo de Portugal.

Sucede que uma parte dos centros de fériasnem sequer estavam registados, por estranho quepossa parecer e em inúmeros outros nem sequerexistiam plantas de arquitectura. Superadas estasdificuldades uma outra se deparou - a adequaçãodos equipamentos, sobretudo das unidades hote-leiras (como se passaram a chamar os antigoscentros de férias) envolviam por razões legaisrequalificações profundas não só por condiciona-lismos de segurança mas também da dimensão ecaracterísticas dos quartos, das cozinhas, etc.,etc., etc..

Tiveram que ser realizados projectos de arqui-tectura para o efeito, abrir concursos e contarcom a escassez de meios. Para se ter uma ideiadesses condicionalismos desde o início do man-dato desta administração até ao presente, as com-participações públicas para a Fundação, já de siescassas, diminuíram cerca de 25%! Essa redução das comparticipações públicasteve efeitos na vertente salarial da Fundação?O Conselho não deixou de actualizar os saláriosdos trabalhadores em 2009 no montante de 2,9%e, em 2010, essa actualização foi efectuada poracordo com as estruturas sindicais para os rendi-mentos mais baixos. E decorrem, agora, nego-ciações visando um Acordo de Empresa para ummecanismo facilitador das carreiras e que enqua-dre de forma mais adequada as categorias profis-sionais. A diminuição das remunerações acimade 1.500 euros fixada pelo orçamento do Estadonão ocorreu em 2011 uma vez que o Conselho deAdministração solicitou tempestivamente parece-res a conceituados juristas que concluíram pelanão aplicação. Os membros da Adminis traçãodeliberaram porém aplicar aos próprios essadiminuição, tal como o havia feito com o PEC 3,apesar dos pareceres serem em sentido contrário.

24 TempoLivre | JUL/AGO 2011

“Na Inatel sirvouma instituição deenorme prestígio ecredibilidade, que éda maior utilidadeeconómica esocial.”

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Há, entretanto, um ambicioso programa dereabilitação das unidades hoteleiras…Para se cumprir os objectivos impostos por leipara adequação das actividades e equipamentosà legislação privada apresentámos pela primeiravez na história da instituição candidaturas comsucesso ao Quadro de Referência EstratégicaNacional (QREN) para Cerveira, Manteigas,Linhares da Beira, Palácio do Barrocal e PortoSanto, encontrando-se pendente uma candidatu-ra para o edifício "velho" de Albufeira, seguindo-se para o final do ano a apresentação de umaoutra candidatura para o Luso.

Para se ter uma ideia mais precisa, estão emcurso 26 frentes de obra. A isto chama-se prepa-rar o futuro numa lógica de auto-sustentabilida-de. Quem visitar a Foz do Arelho constata essaevidência, tal como se constatará no primeirosemestre do próximo ano com a reabertura deCerveira, ou a partir do último trimestre desteano com o início das obras de total requalificaçãodo edifício "velho" de Albufeira", para não falarda requalificação da unidade de Oeiras, PortoSanto, do Teatro da Trindade, do Parque de Jogos1º de Maio, Manteigas e o mais que se sabe.E em relação a Santa Maria da Feira e Entre-os-Rios?Não obstante este esforço, era impossívelavançar, em simultâneo, para todas as requalifi-cações. Para a Unidade de Santa Maria da Feiraestá em curso um projecto de arquitectura novo enão é possível iniciar-se a obra no curto prazo.Quanto a Entre-os-Rios, teremos de encontraruma solução financeira inovadora face aos ele-vadíssimos montantes envolvidos para a requali-ficação.Esse processo de reabilitação estendeu-se igual-mente às agências distritais..Os beneficiários têm o direito a usufruírem dasmelhores condições de lazer em todos os domí-nios das nossas actividades. Como é sabido esteesforço coincide com a uniformização da imagemda Fundação e da modernização das agências dis-tritais, com inicio em Vila Real, a que se seguiuAveiro, agora Santarém e depois Setúbal.

Esta modernização da imagem foi suportadapelo arejamento da própria "Tempo Livre" e donosso sítio, com respostas adequadas às exigên-cias deste mundo cada vez mais competitivo eonde os utilizadores podem não só aceder a todas

as nossas ofertas de qualidade mas tambémadquirir os nossos bens e serviços em todas asáreas, podendo-se fazer beneficiário através dopróprio sítio. Que reflexos teve a crise economico-financeirado país nos resultados e na gestão da Inatel?A ampla modernização levada a cabo naFundação integrou-se numa aposta muito pro-funda em toda a área administrativo-financeira,não só com a racionalização dos recursos huma-nos mas também com programas muito exigentesde formação profissional a todos os níveis, sem sejamais descurar a informatização de todas asáreas. Em função da crise contiveram-se os cus-tos, eliminando-se desperdícios, objectivo quenão prejudicou a outorga de inúmeros contratosde pré-reforma e de reformas de trabalhadores.

Neste quadro, de eliminação de custos quenão se justificava manterem-sepelos anormais encargos envolvi-dos, agravando a gestão financei-ra suspendeu-se a actividade daunidade hoteleira do Santo daSerra na Madeira e a do turismorural em Penedones, encontran-do-se as melhores soluções paraos trabalhadores, privilegiando-sesempre a via do diálogo. Emfunção do estudo económico-financeiro feito por uma terceiraentidade ao edifício da Infante Santo em Lisboa,haverá, muito em breve, uma decisão enquadra-da na racionalização e modernização de meiosem curso.Encerraram-se unidades, mas foram abertasoutras, como aconteceu nos Açores…Estas situações foram, de facto, contrabalançadascom a abertura de três novas unidades hoteleirasde excelência em Linhares da Beira e nos Açores,nas ilhas Flores e Graciosa. Esta administraçãoorgulha-se de ter contribuído para concretizarum velho sonho da Inatel - ter unidades hotelei-ras também nas duas regiões autónomas paraalém do continente. Entretanto, alargaram-se osmecanismos de reforço de receitas com protoco-los relevantes com grandes empresas, desde a BP,passando pela PT, Central de Cervejas, etc. o quepermitiu reforçar as vantagens dos beneficiáriosque têm hoje também acesso a um vasto conjun-to de farmácias a preços mais reduzidos, para

“Apesar dagravidade da crise,esta Administraçãocumpriu o programaa que se propôs nestemandato.”

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Page 26: Tempo Livre 228 - Julho | Agosto

Entrevista

além de inúmeros outros bens e serviços titula-dos por protocolos entretanto estabelecidos.

Sem falsas modéstias como presidente doConselho de Administração costumo dizer - e

penso que bem - que neste pri-meiro mandato da FundaçãoInatel levámos a efeito uma verda-deira revolução silenciosa, prepa-rando a instituição não só para acrise mas para o futuro, para bemdos que nela desenvolvem a suaactividade e para o bem estar dosbeneficiários. Claro que nem tudovai e corre bem, razão porque ésempre útil a crítica e as tomadasde posição dos beneficiários, quelevamos muito a peito.

A área da cultura não foi afectada pela crise?Essa revolução silenciosa deu-se também na cul-tura, com a entrada na UNESCO e a reformulação

dos objectivos de relacionamento de tipo novocom os CCD'S. E destaco o próprio Teatro daTrindade com a excelência da sua programação,e que foi duas vezes galardoado, com um prémioatribuído ao melhor actor do ano e um outro dereconhecimento pela melhor peça de teatro. Arelação com o CIOFF foi também reformulada epela primeira vez centralizada toda a parte maisrelevante do arquivo da Fundação no nossoPalácio Barrocal, em Évora, adaptado para o efei-to, com um protocolo estabelecido com aDirecção Geral dos Arquivos Nacionais e outrocom a Universidade de Évora.É no Turismo, porém, que a Inatel tem a suaprincipal fonte de receitas…Houve, também, uma valorização orgânica dosector da hotelaria e turismo, compreendendonela a componente termal, com ofertas inovado-ras incluindo a nível internacional uma vez quea Inatel funciona cada vez mais também como

“Cada euro que oEstado aplique noprograma do"Turismo Sénior"recebe em volta três,resultado dosimpostos que sãocobrados…”

26 TempoLivre | JUL/AGO 2011

"Portugal já viveu períodos da sua História bem mais graves…"

Fez advocacia, foi governante e

deputado, mas não abandonou a

actividade política como fez questão de

sublinhar no acto de posse da Inatel.

Em qual destas vertentes - incluindo,

obviamente, a da liderança da Fundação

- se sentiu mais realizado?

Quando tomei posse do cargo de

presidente do Conselho de

Administração entreguei a minha

cédula pessoal de advogado que exerci

desde 1973, salvo nos dois períodos em

que suspendi a actividade por

imperativos legais quando exerci

funções governativas de 1984 a finais de

1985 e mais tarde de 1987 a 2000, nos

Ministérios do Trabalho e da Economia.

Na advocacia especializei-me nos

domínios do direito social e

particularmente do trabalho, facto que

"legitimou" a minha opção em 2008 pela

Fundação Inatel.

Como deputado estive sempre ligado às

actividades do mundo da lusofonia e do

trabalho, tendo sido, até cessar funções

de deputado do presidente da 11ª

Comissão da Assembleia da República

que é exactamente a Comissão de

Trabalho e presidente da Associação

Parlamentar de Amizade Portugal -

Angola e do Núcleo Nacional do Fórum

dos Parlamentos da Língua Portuguesa.

Desde que me conheço como adulto

que sempre exerci a actividade politica.

Nunca o escondi porque considero que

o trabalho para o bem comum é dos

mais nobres que um ser humano pode

exercer. Procurei fazê-lo sempre com

transparência perante os meus

concidadãos nunca escondendo o que

sou e o que penso. Isso mesmo disse,

como refere, no acto da minha posse

perante todos, com total clareza. Acho

uma hipocrisia e falta de coragem

escondermos o que somos.

Ser político e ter opção partidária não

nos impede, de sermos isentos e

objectivos na gestão de uma instituição

ainda que de utilidade pública como é a

Fundação Inatel. Não tenho hoje dúvidas

que a generalidade dos trabalhadores

sabe que é assim. Não privilegio nem

beneficio quem quer que seja como

trabalhador senão pelo mérito, sendo-

me indiferente as opções políticas e

religiosas que são do foro pessoal,

garantidas pela Constituição e pela lei.

É assim que me ensinaram. È assim

que faço. É assim que continuarei a

fazer, sem esconder a minha filiação

partidária, como aliás deve ser numa

democracia adulta. Em todas as

actividades que desenvolvi senti-me

sempre mais realizado na última que

sirvo. Neste caso na Inatel. Procuro dar

o melhor de mim. Seguro que na Inatel

sirvo uma instituição de enorme

prestigio e credibilidade, que é da maior

utilidade económica e social, mas

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agência de viagens, reconhecida para o efeito.Estes objectivos são suportados na ampla requa-lificação dos equipamentos e na reorganização,bem como domínios do turismo da natureza ereligioso entre outros, que se encetarem pela pri-meira vez.O Desporto amador é outra das áreas funda-mentais da Inatel…No plano desportivo, e sem negligenciar asnumerosas modalidades em actividade, cito-lheo exemplo da Taça de Futebol Inatel envolver 308equipas distribuídas por todo o país. E temos asvárias escolas de desporto, caso, entre outras, asdirigidas por profissionais credenciados que vãodesde o Professor Moniz Pereira passando pelosex-atletas Dimas e Hélder. E não esqueço a reali-zação pela primeira vez no nosso país do 1ºCampeonato Mundial de Parapente, em Linharesda Beira, ou as iniciativas de todo-o-terreno, tor-neios de vela, cicloturismo, etc.

JUL/AGO 2011 | TempoLivre 27

infelizmente não tanto conhecida como

devia ser.

Comentador político, várias obras

publicadas, quadros e desenhos já

expostos. Um cidadão preenchido?

Eu sou um cidadão sempre

inconformado, que não se resigna. Nós

nunca estamos totalmente preenchidos

porque todos os dias aprendemos com

a lição da vida e com o contacto com os

outros. A vida é sempre um percurso

inacabado.

Nasceu e viveu a adolescência em

Angola. Saudades da terra mãe?

Vim para Portugal com apenas 17 anos

estudar na Faculdade de Direito de

Lisboa porque nesse tempo - em 1965 -

não havia estudos superiores em

Angola. Se tenho saudades da terra

onde nasci? Penso nela todos os dias

sem nenhum exagero e costumo dizer

que tenho uma tripla pertença. Sou

português, angolano e europeu. É

simples perceber-se a razão pela qual

me sinto angolano - nunca se renega a

mãe e Angola foi terra que fez grande

parte do que sou até à adolescência.

Como esquecer onde estudei, com que

brinquei, também o meu primeiro amor

… Como? Também Portugal onde me

formei e onde sempre trabalhei. E claro,

a Europa a que Portugal pertence.

Infelizmente agora sem o rumo que

devia ter.

Que futuro vê para Portugal,

confrontado com uma tão grave crise

económica e social?

Acredito muito no povo português que

é, de facto, o verdadeiro obreiro da

grande alma de que somos portadores.

Como não acreditar num povo que

construiu a sexta língua mais falada em

todo o mundo e cuja diáspora está

consolidada em todos os continentes de

forma muito profunda?

É certo que vivemos hoje a primeira

grande crise da era da globalização que

é muito séria mas não nos podemos

esquecer que fomos nós quem deu

novos mundos ao mundo e nesse

sentido fomos pioneiros da própria

globalização.

Sei que a UE em que nos integrámos

corre riscos sérios e nós com ela.

Apesar disso, é minha convicção que a

prazo recriaremos condições para nos

projectarmos de novo na senda do

desenvolvimento. Portugal já viveu

períodos da sua História bem mais

graves, nomeadamente quando perdeu

a independência.

Levantámo-nos então com grande

determinação como o iremos fazer

enfrentando esta crise. Estou

esperançado nisso e acredito

sinceramente que assim será. Somos

um grande país e fazemos parte de um

grande povo, como a nossa fala comum

nos diz.n

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Page 28: Tempo Livre 228 - Julho | Agosto

Entrevista

Que avaliação faz dos novos programas doTurismo Social?Muito positiva. Sem alterarmos a filosofia quejustificou aquilo que é hoje a grande FundaçãoInatel, com uma história de 75 anos abrimosnovas iniciativas na direcção social que vãodesde o Turismo Educativo Júnior, passando pela"Conversa Amiga" ao programa "Sempre emFérias", jamais descurando os chamados progra-mas governamentais, cada vez mais enriquecidoscom ofertas adequadas às exigências dos nossosbeneficiários.

Orgulhamo-nos, por isso, de a Fundação tersido seleccionada para participar a convite da UEno programa "Calypso" que pretende no futurodinamizar, em reciprocidade entre os 27 países, oturismo sénior, que muito contribuirá para asuperação da própria crise em que a União estámergulhada. É útil a propósito termos presenteque no plano interno está cientificamente prova-

do que por cada euro que oEstado aplique no programa do"Turismo Sénior" recebe em voltatrês, resultado dos impostos quesão cobrados. Esta é a conclusãodo relatório da Universidade deAveiro mandado elaborar peladirecção anterior.Considera, pois, ter concretizadoas grandes linhas do actualmandato?Apesar da gravidade da crise, esta

Administração cumpriu o programa a que sepropôs neste mandato. E tal só foi possível mercêda coesão da equipa em que me integro comopresidente e mercê da colaboração de todosquantos trabalham na Inatel, uma grande e pres-tigiada instituição. Por isso mesmo, quando em2010 se assinalou o 75º aniversário da Inatel nãonos poupámos a esforços para divulgar um docu-mentário que encomendámos aos jornalistasCesário Borga e Fernanda Bizarro, editandotambém uma obra sobre a História da Inatel queteve profunda difusão pública, escrita pelo Sr.Prof. José Carlos Valente, bem como duas outrasuma denominada "Um Estádio na Cidade" sobreo Parque de Jogos 1º de Maio e uma outra, dahistória das nossas unidades hoteleiras e que sedominou "Inatel 75 Anos - Das Colónias de Fériasda FNAT à Rede Hoteleira do Séc. XXI". E não

posso deixar de relevar os colóquios que quinze-nalmente a Fundação Inatel levou a efeito, cominicio em 2009, denominado "Novas Respostasaos Novos Desafios", tendo neles participado asmaiores personalidades de referência do nossopaís e que se saldaram em êxitos consideráveis. Houve, certamente, dificuldades mais compli-cadas…As dificuldades mais significativas que oConselho de Administração encontrou têm a vercom obrigações pecuniárias que são imputadas àFundação no chamado fundo de pensões que defacto não tem verbas próprias nem rendimentos.Em concreto, em 1995 o governo de então quenão integrou os trabalhadores da Inatel na CaixaGeral de Pensões como o fez em relação a traba -lhadores de outros institutos públicos garantiu-lhes em alternativa que o Inatel lhes assegurariaà data da reforma o pagamento do complementoda pensão até ao valor do último vencimento. Sóque, quando foi criada a Fundação não se dotouo dito fundo de qualquer valor e os complemen-tos de reforma estão a ser pagos por receitas daprópria Fundação. Apesar de mais tarde o gover-no ter revogado essa portaria todos os trabalha-dores admitidos até à data desta têm direito aodito complemento.

O valor hoje pago já é significativo e os estu-dos actuais demonstram que a prazo as provisõesa efectuar dos complementos são muitíssimosavultados. Infelizmente, foram infrutíferas asdiligências efectuadas pela Administração pararesolver esta situação que é anacrónica e afectaseriamente a gestão financeira da Inatel.Não houve resposta positiva por parte doGoverno?O facto de, à data da nossa tomada de posse, o ex-Inatel não ter já sido extinto levou a que a pri-meira prioridade do inicio do mandato fosse essa,ou seja a realização de todos os procedimentosconducentes à extinção do ex-Instituto, o que sóse pôde concretizar a meio do ano seguinte, em2009, impossibilitando de todo que durante estemandato fosse possível adaptar as actividades eos equipamentos existentes à legislação privadaem vigor.

No primeiro trimestre de 2010 o governo pre-parou por isso um diploma para prorrogar oprazo por mais dois anos, fixando ainda a isençãodo pagamento de I.R.C. e equiparando a fun-

“Todos os diasaprendemos com alição da vida e com ocontacto com osoutros. A vida ésempre um percursoinacabado…”

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dação a uma I.P.S.S. mas na exacta altura em queo Conselho de Ministros o ia aprovar o governopassou a ser de mera gestão, por dissolução daAssembleia da República, inviabilizando-seassim a sua aprovação. Espero sinceramente queo governo que recentemente foi empossado reto-me esta iniciativa, indispensável para o futuro.Não teme a redução dos apoios públicos?A crise que se despoletou de forma mais intensaem 2009 determinou uma natural quebra no con-sumo e por efeito dessa quebra também umamenor procura dos bens e serviços ofertados pelaFundação. Este facto conjugado com a diminuiçãodos apoios públicos impôs maior imaginação pararespondermos de forma positiva a estas dificulda-des adicionais, quer no controlo dos custos, querna exploração de novas fontes de rendimento.Testemunho disso mesmo é o resultado do exercí-cio de 2010 com um desvio negativo de poucomais de 300.000 euros quando se estimava queesse desvio pudesse vir a ser muitíssimo superior,eventualmente quase o décuplo.A auto sustentabilidade é um dos princípiosbásicos da sua gestão. Considera possível umatotal independência financeira da Inatel?

A estratégia que foi desenvolvida pelaAdministração durante este mandato teve sem-pre a preocupação de reforçar os alicerces da

Fundação Inatel para que esta possa no futuroauto-sustentar-se, sem recurso a fundos públicos.Daí a razão dos objectivos prosseguidos e a quefiz referência na primeira das perguntas que meformulou. É para a Administração claro que aprosseguir-se a estratégia delineada no próximomandato essa auto-sustentabilidade poderá serno final dele possível.

É aliás útil que tenhamos presente que a com-participação pública é hoje percentualmente jámuito baixa. Esta auto-sustentabilidade é aliásútil a prazo à própria Fundação porque permitetirar todo o potencial do excelente capital huma-no que tem a Fundação, reforçando-se a lógicaempresarial sem qualquer lesão da natureza queuma Fundação integrada na economia socialdeve ter. Por isso mesmo e como já referi foi feitoum planeamento muito rigoroso na formaçãoprofissional em geral e na dos quadros em parti-cular, com afectação significativa de verbas orça-mentais para este objectivo.Tem havido queixas de associados relativa-mente aos preços praticados na área hoteleiraem comparação com o sector privado…Estamos a atentos a essa realidade e vão ser toma-das as medidas adequadas no sentido de enfren-tar essa forte concorrência do sector privado n

Eugénio Alves (texto) José Frade (fotos)

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Terra Nossa

Histórias de sucessoà beira-rioCrestuma, nas margens do Douro, é terra natal de gente campeã da Europae do mundo em canoagem e de um dos pioneiros da fotografia portuguesa.Mas os pergaminhos da freguesia passam também por narrativas antigas e pelacomemoração, este mês, dos noventa anos da banda filarmónica.

Crestuma

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Terra Nossa

Para desvendar os segredos doslugares, há que começar por darvoz à etimologia dos topónimos. Enesta Crestuma, freguesia do con-celho de Gaia, o nome ter-se-á

engendrado há uns bons mil anos. A topografiacastreja, uns quantos achados arqueológicos edocumentação vária sustentam a tese: o povoadoresponderia, já no séc. X, pelo nome de"Crastumie", junção de "castro" e "umie", nome docurso de água que ali se junta ao Douro. Outraversão, transcrita em 1874 por Pinho Leal no seu"Portugal antigo e moderno", afiança que o lugarse chamava Castrumire "por o seu castello semirar nas aguas do Douro, sendo o topónimoCrestuma "uma corrupção de Castrumire".

Lugar de antanho, portanto, com remotos per-gaminhos, como se confirma: em documento de1113, anterior à formação do reino, D. Teresalavra a doação de uma ermida à Sé de Coimbra.E ali, também, terá sido fundado, já no séc. VII,um convento de frades bentos, onde se viria a

recolher o tal D. Gomado, bispo resignatário doPorto.

Vem tal enumeração de factos a talhe de foicepara evocar um episódio contado por Pinho Leal.Corria o ano de 922 e estava de visita ao Porto D.Ordonho II, rei de Leão e de outras terras adja-centes, como as que iam do Douro à Galiza. Quiso monarca leonês, dadas as afamadas virtudes deD. Gomado, que o novel asceta se deslocasse aoPorto para com ele conferenciar. Recusou-se obispo, "sob pretexto de ter feito voto de não tor-nar a sahir do convento. Então o rei, a rainha etoda a sua côrte se metteram em barcos e foramvisitar o santo bispo a Crestumire e fazer oraçãoà sua egreja".

Do sável no espeto ao bolo-rei…A propósito de navegações, a freguesia foi escalacerta dos rabelos que desciam o Douro - e, apon-tamento curioso, era demandada aos domingospor excursionistas vindos das bandas de jusante,do Porto e arredores, talvez pela cénica paisagem

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Vista geralde Crestuma

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que ali se formaria (e se forma): uma curva do rioa poente, emoldurada por margens frondosas, avista do extenso lençol de água para nascente e orecanto da confluência do Uíma e do Douro. Ecertamente, também, atraídos por um dos ex-libris da gastronomia da região, o singular sávelassado no espeto. A espécie era abundante naságuas do rio e preparada com uma receita queexigia lenha de vide, preparação muito lenta,depois o tacho abafado dentro de um pano, aindasobre as brasas, e um molho especial para rema-tar. E continua a exigir: fórmula tradicional éainda hoje praticada por um dos mais emblemá-ticos restaurantes da zona, situado junto à barra-gem, o já sexagenário "O Freitas". Também derenome - e muito para além das fronteiras da fre-guesia - é o bolo-rei local, de massa suave e pró-digo recheio. A velha padaria Barbosa, onde nas-ceu a guloseima, continua a laborar, ainda que acasa mãe tenha transferido balcão e demaisarmas e bagagens para as alturas vizinhas deSeixo Alvo.

Anos de ouro foram, ainda, os da industriali-zação. A prosperidade industrial começou nofinal do séc. XIX e marcou a vida da freguesia atéaos anos 70 do séc. XX, com predominância doramo têxtil, a par dos da fundição, serralharia epapel. As crises não pouparam a freguesia, encer -rando grandes empresas, como a Companhia deFiação de Crestuma, que chegou dar trabalho aum milhar de operários, e a Fábrica A. C. daCunha Morais. Desta última família, e natural daterra, era o pioneiro da fotografia etnográfica emPortugal, o fotógrafo J. A. da Cunha Morais, queandou por terras africanas e publicou, entreoutros, o livro "Africa Occidental, AlbumPhotographico e Descriptivo". Cunha Morais, quetrabalhou com Emílio Biel, no Porto, chegou a terum estúdio em Crestuma, onde fabricava o papelque utilizava na sua arte fotográfica, como recor-da Barbosa Ribeiro, autor de um breve ensaiomonográfico sobre a freguesia.

Crestuma, que acolhe no seu perímetro oCentro de Estágio do Futebol Clube do Porto (na

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Terra Nossa

antiga Quinta da Velha, no limite com a freguesiado Olival), tem ainda muitos outros motivos deorgulho, como são as histórias e sucessos dassuas colectividades, da Sociedade Filarmónica,do Clube Náutico e dos Ranchos Folclóricos, umdeles com uma muito solicitada Fanfarra desetenta elementos.

Da banda para os conservatóriosA Sociedade Filarmónica de Crestuma nasceuem 1 de Julho de 1921 e tem, desde então, mar-cado presença contínua em festividades e cele-brações locais - ou alhures, com os mais variadospretextos, incluindo, obviamente, as romarias efestas religiosas. A actual sede, situada numa ruaíngreme, bem característica da topografia de

Crestuma, tem os dias contados. Um projecto derequalificação prevê novas funcionalidades: anova sede vai integrar, de acordo com JoséCampos, presidente da colectividade, um peque-no auditório polivalente, a utilizar em concertos,projecções cinematográficas, sessões de poesia,seminários, etc.

A componente de formação tem sido muitoacarinhada. A história da Banda, que tem cercade sessenta elementos, regista muitos prémiosconquistados por alunos nela formados, em con-cursos realizados nas escolas de música. JoséCampos recorda um concurso particularmentememorável, em que o agrupamento "conquistouum primeiro lugar colectivo e os cinco primeiroslugares a nível individual". As boas prestações

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dos músicos mantêm-se: "Aqui à volta é a bandaque mais músicos fornece aos conservatórios daregião".

Os protocolos celebrados com estabelecimen-tos escolares e com os conservatórios constituempráticas privilegiadas - há um acordo com umconservatório no sentido de isentar de propinasos estudantes que obtenham média superior a 16valores. "E neste momento, ninguém está a pagarpropinas! Aliás, muitos dos nossos músicos con-seguem notas de 18, 19 ou 20 nas provas deadmissão". A actual direcção tem também empreparação "um projecto para cativar as criançasdos bairros mais desfavorecidos, para lhes dar aoportunidade de terem formação musical".

O que sobra são dificuldades de ordem finan-

ceira - sobretudo actualmente, quando o discursoda crise fundamenta cortes nos apoios, que seesfumaram desde o ano passado

Glórias fluviaisFoi há trinta anos, em Fevereiro de 1981, que oClube Náutico iniciou uma actividade que trariaa Crestuma uma invejável projecção internacio-nal no domínio da canoagem. A actual direcçãodo clube está apostada em fazer a colectividade"voltar às glórias antigas", procurando mobilizar"uma nova dinâmica e novo sangue para voltar-mos a ser o melhor clube nacional", como pro-mete António Carlos, o vice-presidente. "Tivemosonze anos seguidos como campeões e depois issoacabou". Esses anos de glória incluíram a con-

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Um lugar no coração

Joana Vasconcelos, campeã do mundo

em K1 em 2009, em Moscovo, e campeã

da Europa em Poznan, no mesmo ano,

entre outros títulos, e Joana Sousa,

medalha de ouro na Taça do Mundo de

Maratonas, em 2000, medalhas de

bronze em Halifax (K2) e no

Campeonato do Mundo de Maratonas

(K4), em 2009, começaram as suas

carreiras no Clube Náutico de Crestuma.

Integram, agora, as equipas de

canoagem do Benfica e do Naval do

Funchal e treinam habitualmente numa

pista de alta competição, em Montemor-

o-Velho. Mas volta e meia aparecem em

Crestuma para treinar onde fizeram o

seu tirocínio de atletas de nível

internacional.

Para Joana Sousa, o ar livre e a água

são os meios em que melhor se sente e

não vê grandes diferenças entre treinar

no Douro e numa pista de alta

competição: "o que conta é a qualidade

do treino e a orientação". Para Joana,

que se iniciou na canoagem muito cedo

ali no Douro, vir treinar a Crestuma

significa, afinal, reencontrar amigos e o

ambiente que foi fundamental para a

sua formação.

Joana Vasconcelos ganhou o gosto pelo

rio com o avô David - barqueiro de Lever

que, diariamente, transportava, à força

dos remos, operários para uma fábrica de

Crestuma - e teve um início de carreira

auspicioso: começou aos catorze anos e

quatro anos depois fez-se campeã da

Europa e do Mundo. Para a atleta, estes

regressos periódicos aos treinos no rio

representam um enorme prazer.

Diferenças? Sim, há uma. Joana leva a

mão ao peito e diz: "A diferença está aqui.

Crestuma tem um lugar para sempre no

meu coração. Foi aqui que comecei". n

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Terra Nossa

quista de medalhas de ouro, prata e bronze, e aformação de duas das maiores atletas portugue-sas da actualidade (ver caixa). Também pratica-mente desde a sua fundação vem o clube organi-zando a Maratona Internacional de Crestuma,que é hoje a prova mais antiga no calendário daFederação Internacional de Canoagem.

Para o regresso aos pódios, as estratégias doclube desdobram-se por várias frentes: pro-moção do desporto escolar através de protocolocom a Escola C+S do Olival, acordo com omunicípio de Gaia para a manutenção de umaescola de canoagem de referência para todo oconcelho (só 20% dos alunos são de Crestuma),treinos diários ao fim da tarde e uma apostaespecial na formação precoce de atletas:"Tínhamos cinco miúdos em Novembro passa-do e agora temos entre trinta a quarenta cade-tes, com menos de 16 anos, a frequentar os trei-nos". Já haverá alguns resultados positivos, masa preparação é um processo lento: "Isto não sefaz de um momento para o outro, demora qua-tro anos, e mesmo assim tem que se andarmuito bem". Todo este esforço é levado a cabocom técnicos e treinadores que se formaram no

próprio clube e que atingiram, também eles, oestatuto de campeões, como Hugo Guedes(medalha de bronze no Campeonato da Europade Maratonas) ou João Gomes (campeão daEuropa de Maratonas em 1995).

A sustentabilidade do clube é outro desafio. Oalargamento a actividades como as das aulas deginástica aeróbica, danças de salão e ballet pro-cura complementar as receitas, que se apresen-tam magras apenas com as quotas dos associa-dos. O esforço tenta responder à quebra de apoiopor parte da Câmara Municipal de Gaia - que em2005 havia contribuído generosamente paraconstrução das actuais instalações. Retoma-se omesmo reparo de tantas outras colectividadesque vivem do voluntarismo dos seus activistas ena corda bamba de um funambulismo financeiro.Sinal dos tempos e de novos discursos que impu-tam diferentes responsabilidades aos poderespúblicos: "Durante alguns anos tivemos o apoioda Câmara. Este ano foi-nos transmitido que nãohaveria qualquer apoio financeiro. Contamosapenas com o apoio da Gaianima para a manu-tenção de uma treinadora". n

Humberto Lopes (texto e fotos)

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Vista do ClubeNáutico. A actualdirecção do clube,fundado em 1981, estáapostada em fazer acolectividade "voltaràs glórias antigas"

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Xangai

"Frenética ecarismática, modernamas tradicional,Xangai é a cidadecom mais arranha-céus na China. Comum passado gloriosoe uma época dedecadência, vive nosúltimos anos umaexplosão económicae industrial. Umpatrimónio históricomuito rico, bonsrestaurantes, lojas ehotéis, fazem destacidade um dosdestinos turísticos domomento."

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Viagens

A Nova I

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a Iorque chinesa

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Viagens

Chegar a Xangai de avião é já por siuma aventura. A ligação do aero-porto ao centro da cidade é feitapelo "comboio-bala", assim alcu -nhado por ser dos mais velozes do

mundo. O trajecto de 30 quilómetros é percorri-do a uma velocidade de 400 quilómetros porhora.

Inaugurado em 2002, este comboio é actual-mente um dos símbolos daquela que é conside-rada uma das cidades com um maior desenvolvi-mento económico no mundo.

Situada nas margens do rio Huangpu, nolitoral leste da China, Xangai é neste momentoa maior cidade do país - já tem 20 milhões dehabitantes - e aquela que mais tem vindo acrescer nos últimos anos. Não só do ponto devista económico e industrial como também emaltura.

Dividida pelo rio, numa margem da cidadefica a parte antiga, do outro lado a parte nova,Pudong, de seu nome. Antiga zona pobre da cida-

de, desde 1990 que tem vindo a transformar-senum horizonte de arranha-céus espelhados.Bairro de barracas e bordéis, tornou-se em apenas20 anos, um dos sítios a nível mundial com osmais altos edifícios. O ritmo da construção é talque estão aqui concentrados um terço dos maio-res guindastes do mundo.

Da margem Sul do rio, Pudong faz, hoje, lem-brar Manhattan. A Torre da Televisão "Pérola doOriente", com 457 metros de altura, é um dosarranha-céus que oferece vistas estupendas sobrea cidade. Já à noite, imbatível é o Cloud 9, o bardo hotel Park Hyatt. Fica no 87 º andar e ofereceuma vista de 380 graus sobre a cidade. É o barmais alto do mundo.

Também em Pudong, vale a pena visitar oMuseu de História de Xangai, com uma colecçãode mais de 120 mil peças, entre as quais algumasdas maiores relíquias culturais desde o Neolíticochinês até à dinastia Qing.

Na margem oposta do rio Huangpu, ficamduas das principais zonas da cidade, a Cidade

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Velha com as suas ruas estreitas, tipicamente chi-nesas, e a zona das Concessões.

Até 1842, Xangai era uma cidade insignifican-te, foi só após a sua abertura ao comércio livre quecomeçou a atrair as economias estrangeiras. Empouco tempo tornou se a cidade mais cosmopoli-ta da China, com milhares de residentes de dife-rentes nacionalidades. O território foi dividido emConcessões, e, nacionais e estrangeiros passarama viver em versões tamanho miniatura deInglaterra, França, Estados Unidos, Japão. Foramos anos áureos da cidade, de que ainda hoje émemória o The Bund, a grande avenida marginal,com os seus históricos edifícios coloniais.Autêntico passeio público, é aqui que se encon-tram alguns dos marcos mais emblemáticos dacidade, como o Peace Hotel, o edifício daAlfândega ou o Banco de Hong Kong e Xangai.Este último, construído em 1921, ficou conhecidona altura como o edifício mais elegante da Ásia.

Em 1949, altura em os comunistas conquista-ram a cidade, Xangai era o terceiro maior centro

financeiro do mundo. Uma cidade rica e boémia,trabalhadora mas também muito hedonista, ondea moda, o sexo, o jogo e ópio se combinavamnuma mistura explosiva.

A cidade começou, entretanto, a ressurgirapós 1990, altura em que adquiriu o estatuto deZona Económica Especial. Hoje o seu ritmo éfrenético.

Nas duas principais avenidas de comércio queatravessam a cidade, é fácil ser se levado embraços pela multidão. Entre ambas, a Huaiha Lué a artéria mais chique. Localizada na zona daConcessão Francesa, tem lojas das principaiscadeias de luxo como a Luís Vuitton, a Tiffany, aHugo Boss.

É aqui que fica também o Xintiandi, umpequeno bairro de ruas pedonais e casas antigastransformadas em bares e restaurantes. É um doscentros mais agitados da vida nocturna da cidadee nas noites de Verão, as esplanadas ficam atéaltas horas da noite apinhadas de turistas, locaise expatriados.

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Viagens

Nanjing Lu, a outra rua de comércio da cida-de, tem dez quilómetros de comprimento evários troços pedonais. Mais de 500 mil pesso-as passeiam por aqui diariamente. "Ver mon-tras" é um hobbie nacional. Cuidado nos cruza-mentos, entre a multidão, as motas, os carros,as bicicletas e os riquexós, a confusão é muita,principalmente para alguém acabado de chegardo ocidente.

Ao fundo o Parque do Povo e a Praça do Povosão o ponto de encontro de locais que aqui vêmconversar, fazer exercício, passear. No cantonoroeste da Praça está o novo Grande Teatro deXangai, construído quase integralmente emvidro.

Outra atracção no parque é o Museu de ArteContemporânea, um edifício em forma de caixa

de vidro. Tem dois pisos de exposições temporá-rias de pintura e design.

Junto ao rio, a Cidade Velha é outra parte dacidade que merece uma visita. Em oposição aosedifícios coloniais do The Bund e dos arranha-céusde Pudong, aqui as ruas são estreitas e os edifíciosantigos têm estilo oriental. Há um bazar repleto delojas a vender de tudo, desde "souvenirs" a remé-dios tradicionais. Os preços são inflacionados maso regateio mais que permitido, é obrigatório.

É melhor ir cedo pois este mercado costumaser bastante concorrido, principalmente aos fins-de-semana. Em redor do lago há muitos restau-rantes com comida típica chinesa, como os boli -nhos recheados. No meio do lago há a casa de cháHuxingting, um bonito pavilhão chinês construí-do em 1748.

Na Cidade Velha ficam também os jardins Yucriados em 1559, tempo da dinastia Ming. Sãomuito bonitos e tranquilos e um óptimo sítio pararelaxar depois de umas horas a negociar preçosno bazar. Os jardins estão divididos em seisespaços diferentes e têm um Jardim de Rochas,conhecido como um dos mais belos da épocaMing, e um Templo do Deus da Cidade, tambémdatado da mesma era.

Jardins paradisíacos, ruas pejadas de mul-tidões, avenidas de lojas a perder de vista, arra -nha-céus a rasar as nuvens, mercados de rua avender de tudo o que se possa imaginar, prédiosda era colonial e muita gente de várias raças ecredos. É assim Xangai, uma cidade mais do queda China, do mundo. n

Catarina Serra Lopes (texto e fotos)

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COMO IR

A Turkish Airlines tem voos a partir de

Lisboa com destino a Xangai a partir de

750 euros já com taxas. Faz uma escala

em Istambul.

ONDE FICAR

No Park Hyatt, em Pudong, no centro

financeiro de Xangai. Os quartos ficam

entre os pisos 79 e 93, fazendo deste o

hotel a maior altitude no mundo. Tem

uma vista fantástica de 360 graus sobre

a cidade. Duplo a partir de 300 euros.

http://shanghai.park.hyatt.com

ONDE COMER

No M on The Bund. Fica no topo de um dos

edifícios do The Bund, com vista para

Pundong. Se for à noite, reserve uma mesa

para jantar no terraço, a vista é deslum -

brante. E a cozinha também. Da autoria de

Michelle Garnaut, mistura sabores

europeus e asiáticos num resultado final

único. Preço médio por refeição: 60 euros.

Guia

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Tempo Global

Tem os olhos rasgados, feições orientais, falauma língua que poucos conhecem e chegou aPortugal há sete anos. Não, esta não é a histó-ria de mais uma emigrante chinesa que veiopara terras lusas montar uma loja daquelas

onde se vende tudo e mais alguma coisa a preços de pôr osolhos em bico. Unurjargal Tsegmid, de 24 anos, deixou oseu país para prosseguir a sua formação e é hoje uma estu-dante de mestrado em Gestão, na Universidade Católica deLisboa. Nasceu numa terra de nómadas, perdida nas mon-tanhas da Ásia, mas onde, segundo a própria, existem afini-dades com Portugal.

"Sou da Mongólia. Escolhi Portugal porque achei quehavia semelhanças com o meu país. Historicamente,Portugal era o grande conquistador do mar e nós éramos

conquistadores no terreno. E eu pensei: 'Por que é que eutambém não sou pioneira?' Queria descobrir outro sítioonde ninguém da minha terra tivesse ido", diz Unurjargalà Tempo Livre. Hoje, a comunidade mongol conta comcerca de 30 pessoas em todo o país, apenas apoiadas pelocônsul honorário José Serrão. "Somos nómadas emPortugal", conta, sublinhando que se juntam regularmen-te para festas onde falam a sua língua, cantam as músicastradicionais e recordam as "coisas boas" do seu país.

A adaptação à língua de Camões não foi fácil, uma vezque na Mongólia é utilizado o alfabeto cirílico, fruto daocupação soviética durante décadas. "Sem a língua nãohá comunicação, por isso tive de fazer um curso", revela,num português fluente e praticamente sem falhas. Masmais do que a língua, houve toda uma nova realidade

Uma mongol em LisboaUnurjargal Tsegmid trocou as terras frias e montanhosas da Ásia pelo calor luso há seteanos. Apesar de integrada em Portugal, não esquece as suas raízes e criou uma associaçãopara aproximar a Mongólia do nosso país.

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para absorver na chegada a Portugal, que aconteceu em2004, durante a euforia do Europeu de futebol e à qual semostrou completamente indiferente. "Nós gostamos maisde desportos de luta, como sumo ou boxe", explica. Dobudismo mongol ao catolicismo português, da "cançãoarrastada" do Urtiin Duu ao fado e das paisagens inóspi-tas da sua terra às praias lusas que já a cativaram, foi nocontacto com os portugueses que sentiu as maiores dife-renças. "Vocês são pessoas mais abertas, faladoras esimpáticas. É diferente, porque nós somos mais fechados.Mas depois de quebrar o gelo também somos afáveis",garante, acrescentando: "O que gosto mais nos portugue-ses é que valorizam a qua-lidade de vida acima detudo".

Rendida ainda ao climae à gastronomia, Unurjargalnão esconde o olhar positi-vo sobre um país dado àmelancolia e à lamentação."Em relação à Mongólia,Portugal é uma grandepotência e um grande país,onde eu posso aprendermuitas coisas", afirma,orgulhosa da sua mesclacultural. "Gosto de manteras duas culturas em mim.Tenho muito orgulho nomeu país e na minha ori-gem e nunca quereria per-der a minha identidadecomo mongol, mas gostomuito de Portugal e é claroque estou afeiçoada aos hábitos portugueses". Em sete anosa viver em Portugal, só voltou à sua terra Natal uma vez, em2009. Os custos da viagem também não ajudaram. "Quaseme senti uma estrangeira na Mongólia. Estive lá um mês enas primeiras duas semanas senti-me algo perdida", con-fessa.

Porém, nem tudo mudou na vida desta jovem, que con-tinua a estudar, ir ao cinema e a sair à noite com os ami-gos… tal como fazia na Mongólia. E porque a tradição aindaé o que era, Unurjargal continua a seguir alguns rituaismongóis em solo nacional. "Temos as nossas grandes festase em Fevereiro celebramos a chegada do novo ano, confor-me o calendário chinês", refere.

Ciente de que a Mongólia é praticamente desconhecidapara os portugueses, onde o conquistador Genghis Khancontinua a ser o mongol mais conhecido desde o séc. XIII,

esta jovem sente que tem a missão de dar a conhecer a suaterra, cultura e tradições. Nesse sentido, criou a Associaçãode Amizade Portugal-Mongólia, que no dia 2 de Julho veráfinalmente a luz do dia, com uma festa em Belém. Umatenda tradicional mongol - conhecida por Ger ou Yurt - seráà partida o cenário para um convívio onde estarão diversosprodutos do seu país, como caxemira, peles e bens alimen-tares, como o buuz, uma espécie de crepe recheado comcarne.

"Há muitos portugueses que estão interessados em co -nhecer o meu país e eu sentia que tinha de fazer algo.Queria também estabelecer um intercâmbio empresarial,

com a exportação de produtos portugueses, como o vinho ea cortiça", diz a futura autora de um guia de conversaçãoportuguês-mongol. "É para os turistas que queiram conhe-cer a Mongólia. Espero tê-lo pronto brevemente", esclarece,salientando que no Verão a capital Ulaanbaatar se enche deturistas ocidentais.

Há um provérbio mongol que diz que "um homemfalha sete vezes e levanta-se oito vezes". Outrora grandio-sa, a Mongólia tenta hoje sair da obscuridade. Unurjargalnão sabe ainda se um dia voltará a viver na sua pátria,mas tem a certeza de querer ajudar a reerguer a nação."Esperar que o país fique melhor para eu voltar é um pen-samento egoísta. Tenho de fazer parte desse crescimento.Agora estou a fazer essa promoção da minha terra e julgoque isso já ajuda um pouco". n HMC

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Desporto Inatel

Tinha começado na Académica deEspinho, prosseguira no Castelo daMaia, terminando no Sporting deEspinho, claro - que foi sempreuma cidade virada para o vólei,

que ele, cedo, se habituou a venerar. Falar docurrículo do João até cansa: 10 vezes campeãonacional, oito taças de Portugal, quatro super-taças e uma Taça das Taças europeia, para além

das 99 vezes em que foi chamado à selecção. Éobra!

Mas se não fosse a vertente Praia, poucos lhereconheceriam o mérito ou, sequer, a figura. APraia e os Jogos Olímpicos, nos quais ao tal quar-to lugar nos EUA João Brenha lhe juntou outroquarto posto em Sidney-2000 e uma nonaposição em Atenas-04. Um verdadeiro campeãoque, agora, dá nas vistas nas competições daFundação Inatel, com a sua equipa de "OsMochos" (de Espinho, para não variar), que acabade se sagrar de novo campeã nacional, após con-cludente triunfo sobre a Casa de Pessoal dosServiços do IVA, de Lisboa, (ver caixa), na finaldisputada em Viseu.

Grato à InatelCom 42 anos, João Brenha é um exemplo para osmais novos e, no fundo, para todos aqueles quefazem do Desporto um modo (saudável) de estarna vida. É ele quem nos conta:

- Estou muito agradecido à Inatel pelo facto deme ter possibilitado continuar ligado ao voleibol.Quando surgiu o volei de praia, tive de estabele-cer prioridades, tal a intensa actividade com queme confrontava, e, nessa altura, vi-me forçado aabandonar a selecção. Tinha 26 anos. E nos clu-bes ainda prolonguei por mais 13 anos o meuvínculo à modalidade ao mais alto nível, o que,se não é recorde, anda lá perto.Mas esta continuidade, agora no âmbito da

Brenha ainda mexe!Campeão de Vóleivence torneio INATELLembram-se dele? Do João Brenha? Dele e do inseparável parceiro Miguel

Maia? Aquele 4º lugar nos Jogos Olímpicos de Atlanta (1996), em vólei depraia, tirou-os definitivamente do anonimato. E, contudo, o Brenha, pois édele que nos propomos falar, já era nome respeitado na modalidade depavilhão.

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Nas Olimpíadasde Atenas

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Inatel, prova que, afinal, não estava aindaacabado...Claro que não, nem eu queria acabar sequer. Sóque eles não me quiseram.Eles, quem?O Sporting de Espinho entendeu prescindir dosmeus serviços e eu só tenho de respeitar essadecisão. Tinha 39 anos e repartia a actividadecom o volei de praia. Algo que podia tornar-seinconciliável. Eu sempre achei que não, mas nãolevei a mal que houvesse quem não fosse damesma opinião. Perante isto, virei a agulha, háuns três anos, para outras aventuras.A aventura da Fundação Inatel, através da talequipa de "Os Mochos". Que história é essa eporquê semelhante nome?É uma história que vai já para cima de 20 anos.Em 1990, os antigos jogadores da Académica deEspinho, que entretanto deixou o escalão maior,entenderam juntar-se para constituir um novocolectivo de características totalmente amadoras,claro, do qual eu até sou um dos sócios-fundado-res. Porquê Mochos? Porque a sede do clube esta-va situada no Lugar do Mocho, em Espinho.Nada mais simples!Agora que não é apenas sócio-fundador e temuma acção muito mais efectiva no grupo, comoé que as coisas têm funcionado?Muito bem, com muito empenho e carolice,como se calcula. Todos têm a sua vida organiza-da, as suas ocupações profissionais. Há de tudo,desde médicos a informáticos, eu sou o únicolicenciado na área desportiva, embora, com asaturação do mercado de trabalho, esteja por orainactivo. Uma situação que espero em breveresolver. As despesas são divididas entre nós econtamos com o apoio da Câmara Municipal deEspinho, que nos cede gratuitamente as insta-lações para jogos e treinos. Alguns subsídiosespeciais por parte da Fundação Inatel tambémtêm ajudado, se bem que essa colaboração játenha conhecido melhores dias.Menos apoios?Bem vê, a crise geral tem obrigado a algum retraí-mento e o apoio financeiro para as grandes des-locações ou outras acções mais onerosas, que,anteriormente, era total foi ligeiramente reduzi-do. E nós, nos Mochos, nem sempre estamos emcondições de reunir o dinheiro em falta.Sobretudo quando se trata de grandes encargos,

como foi o caso da recente deslocação aos JogosMundiais na Estónia, em que não pudemos estarpresentes.Por falar em dinheiros, referiu-se à sua situaçãode desemprego, mas também na participaçãonas despesas, escassas que sejam. Não há aíalguma contradição?Bem, ainda não estou numa situação desespera-da (risos). Os diversos circuitos de volei de praiatêm contribuído satisfatoriamente para o equilí-brio do orçamento familiar e vai dando para estesepisódios a nível interno. Mais é que é já difícil.

Dos palcos olímpicos aos pavilhões da Inatel.Sempre com a mesma disponibilidade, a mesmaeficácia, a mesma fibra de campeão. Principalresponsável por mais um êxito da sua equipa (foieleito o melhor jogador do torneio), Brenha nãoesquece igualmente o título de campeão doMundo de Desporto para Trabalhadores alcança-do em 2008, em Itália, principal galardão atéagora conseguido.

“Apesar de alguns naturais condicionalismosno apoio às nossas participações, estamos gratosà Fundação Inatel por todas as alegrias que nostem proporcionado. E não falo só dos triunfos,mas, em especial, do saudável convívio queresulta destes encontros. É uma festa que façoquestão de não dispensar.” n

Rui Tovar

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João Brenha com ataça Inatel

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Desporto Inatel

A ASSOCIAÇÃO Desportiva e Cultural de Perre(Viana do Castelo) revalidou o título nacional daLiga de Voleibol Feminino da Fundação Inatel,impondo-se ao CCD PT, com quem vem manten-do, desde há algum tempo, animado duelo.

A sua jogadora Cristina Lomba foi distinguidacomo a melhor da fase final da competição. Com42 anos e três filhos, todo eles virados para oDesporto (as duas gémeas no volei e ginástica, orapaz no futebol e hóquei em patins), a Cristina,que tem Ana como primeiro nome, segue, afinal,as pisadas do marido, Pedro Neto, também elecom passado no Desporto digno de registo, foipraticante de hóquei em patins do primeiroescalão, no Infante de Sagres e na Juventude deViana, além de ter jogado na selecção angolana.

Apesar da pluralidade de modalidades lá emcasa, Cristina manteve-se fiel ao seu voleibol de

sempre. Fez parte da equipa do Volei Clube deViana, da 2ª divisão, e agora compete na ACD dePerre com o mesmo entusiasmo de outros tem-pos, apesar da sua condição de funcionáriabancária não lhe permitir a disponibilidade dese-jada. Mas com boa vontade e o bom ambiente quese respira no grupo consegue-se milagres.

O próprio clube também não fica atrás emmatéria de militância e, com a ajuda dos sócios-pagantes, que ainda são largas dezenas, ficagarantido o dinheiro para a gasolina, afinal oprincipal óbice a enfrentar, dado o razoávelnúmero de jogos e treinos (muitas vezes nomesmo dia para...poupar!) a obrigar a deslo-cações constantes, para as quais a carrinha daagremiação é companheira obrigatória.

" O maior problema foi agora a viagem àEstónia para os Jogos Mundiais. O Inatel avançoucom 80 por cento das despesas e o resto foi cober-to pelo clube, patrocínios locais e ainda 100euros por cada atleta", confidenciou-nos RuiParente, dirigente da secção de volei do Perre."Mas pelo retorno a vários níveis, valeu a pena oesforço", concluiu.

Outro exemplo de entrega ao clube e à moda-lidade é o de Letícia Cruz, médica -anestesista,que começou por ser internacional nos escalõesde formação, mantendo esse estatuto já comosénior, depois de experiências no Volei Clube deViana e nos mais exigentes Esmoriz, Famalicão eGueifães. É com muito entusiasmo que conjuga asua vida profissional com a de voleibolista doPerre, ainda para mais quando, ao prazer da acti-vidade, lhe junta os sucessivos êxitos que deladecorrem.

E com apenas 28 anos de idade, Letícia vemtambém desmentir aquela ideia já feita de que aprática desportiva ali é destinada "só a velhos". Apar dos veteranos, que sempre os houve e é mis-ter manter, a juventude marca também presençaefectiva nestas andanças. Porque o Desporto daFundação Inatel está aberto a todas as idades,com os resultados, no âmbito desportivo e social,que estão à vista.n RT

Associação de Perre

Um Vólei-caso muito sério

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Cristina Lomba e, embaixo, Letícia Cruz(com bola, a servir)

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A EQUIPA da Associação Recreativa e Culturalda Freguesia de Almoster (Santarém) foi a vence-dora da Taça Fundação Inatel em futebol, ao baterna final, disputada no Estádio Municipal deOeiras, o Centro Cultural Desportivo de Nadais(Aveiro), por 4-3, no desempate por pontapés damarca de grande penalidade, depois da igualdade(1-1) que se verificava no final do tempo regula-mentar.

A formação de Almoster, que já se tinha sagra-do campeã distrital, numa memorável final como Benfica do Ribatejo, voltou a denunciar razoá-veis recursos técnicos que lhe permitiram de iní-cio maior disponibilidade ofensiva. E de talmaneira que viria a beneficiar até de uma grandepenalidade, logo aos quatro minutos, que AniltonSilva, contudo, não soube aproveitar.

Já o Nadais, fazendo uso de grande determi-nação e de uma fogosidade aqui e ali exagerada,especialmente por parte das suas linhas maisrecuadas, nunca se deixou impressionar, conse-guindo rectificar processos e terminar o primeiroperíodo em plano de igualdade com o seuadversário. O nulo ao intervalo acabava, assim,por reflectir o equilíbrio então vigente.

Na 2ª parte, o Nadais foi o primeiro conjuntoa dar mostras de maior inconformismo, ao enve-redar por duas substituições que lhe permitiramconsolidar o ataque, a que o Almoster respondeucom a entrada do dianteiro José Fernandes. Ojogo tornou-se então mais aberto e não surpreen-deu que surgissem os golos. Primeiro, para oNadais, por Diogo Pinho, depois para a equipa deSantarém, através precisamente do reforço aca-bado de entrar.

Um empate que subsistiria até final, pelo quehouve necessidade de se recorrer à lotaria dos"penalties", que acabaria por sorrir ao Almoster(4-3), que, desta forma, levou a Taça. No planodisciplinar é que ninguém mereceu tal troféu. Ofinal deixou muito a desejar, com três expulsões,duas delas já após o jogo terminado.

Foi o culminar de uma campanha nacionalintensa que envolveu, na fase final, 16 equipas

em representação dos 13 distritos participantes,num total de 15 jogos que preencheram, final àparte, todo o mês de Maio.

Santarém, Lisboa e Beja tiveram direito a apu-rar duas equipas para esta maratona e a nota maisinsólita foi fornecida pela equipa do FC Biqueirasde Aço (Lisboa), onde jogam Sá Pinto, Chaínho eoutras figuras ilustres, que não compareceu a umjogo de qualificação. À mesma hora, havia umoutro, na TV, da Liga dos Campeões…

Para a História, aqui ficam os nomes dos artis-tas da final da Taça 2010-11:

ALMOSTER: Rui Marques; BenvindoBorges, Adilson Nascimento, Anilton Siva e ÉderLopes; Wilson Martins (José Fernandes, 60 m),Vítor Neves, Heldemar Rodrigues (Dario Inácio,75 m) e Castillo Sousa; Alceu Delgado (DiolindoSantos, 75 m) e Nuno Monteiro.

NADAIS: Fernando Cardoso; Bruno Ferreira,Vítor Sousa e Hélder Santos; Rui Rodrigues(Roberto Rosário, 50 m), Luis Santos (MarcoMota, 72 m), André Silva e Miguel Castro (MarcoSantos, 56 m); Vítor Amorim (Edgar Vieira, 68m), Vítor Pinho e Diogo Pinho

Apesar das dificuldades levantadas por joga-dores e adeptos, sobretudo afectos ao Nadais,António Oliveira Costa, o árbitro, dirigiu comtotal acerto.n RT

Futebol

Almoster levou a Taça

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Desporto Inatel

Campeões InatelNo Andebol, o novo campeão nacional é o CCD CSPD

Sobralinho (Lisboa), vencedor da final com o CCD

Coopermaia (Porto) por 20-15. João Lopes foi

considerado o melhor jogador do torneio.

No Basquetebol masculino triunfou o CCD

Fidelidade/Bonança (Lisboa) que bateu, na final, o CCD

S.Sociais CGD (Lisboa) por 64-43. Melhor jogador:

Delfim Rodrigues.

No torneio feminino, o título coube ao CCD Esc. da

Amadora, frente ao CCD Banco de Portugal. Resultado

32-25. Rita Cunha foi considerada a melhor jogadora.

O CCD A. A. da Cortelha (Faro) é o campeão de Futsal

ao vencer o CCD Bila Bikers (Vila Real) por 2-1.

No Voleibol masculino, a equipa do CCD "Os Mochos"

(Aveiro) revalidou o título frente ao CCD Serviços IVA

(Lisboa) por 3-0.

João Brenha foi considerado o melhor jogador do

torneio.

O CCD ADC Perre (Viana do Castelo) triunfou no Vólei

feminino frente ao CCD Clube PT(Lisboa), por 3-1.

Campeão de Futebol: CCD Almoster (Santarém), que

venceu na final o CCD Nadais (Aveiro) por 5-4, Melhor

jogador: Benvindo Borges. Melhor Guarda-Redes:

Fernando Cardoso

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Luís Grosso, director do Desporto daInatel, entrega a taça aos vencedoresdo campeonato de Futebol, o CCDAlmoster (Santarém).Em baixo, a equipa vencedora do Vóleifeminino, CCD ADC Perre (Viana doCastelo)

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Há mais de 30 anos que a Galeriade Arte do Casino Estorilcomeçou a divulgar a pinturanaïf, que como muitos dizemnão é a pintura de quem não

sabe pintar, mas é a pintura dos que pintamcomo sabem, muitas vezes com erros de perspe-tiva, por exemplo, uma abelha do tamanho deum pássaro ou uma ovelha do tamanho de umavaca. Se os exemplos apontados são erros paraquem sabe pintar, para quem pratica a pinturanaïf, já não o são. São características de tal moda-lidade pictórica.

E quais sãos as características da PinturaNaïf? São várias. Duas das quais muito impor-tantes. A primeira é a ingenuidade. Parecer que épintura feita por crianças. A segunda, é pintartudo com muito pormenor, mas sem regras técni-

cas. Quando se iniciam, os pintores naïfs utili-zam sempre as cores primárias e não cores com-plementares, feitas da junção de várias cores,que só são usadas, quando os artistas já têm bas-tante prática. Em regra, o pintor naïf pinta o quevê à sua volta.

Muitos autores que actualmente praticam estegénero de pintura, começam a fazê-lo, já depoisda reforma, aos 60, 70 e mais anos.

A Galeria de Arte do Casino Estoril está aorganizar a 31ª edição do Salão Internacional depintura Naïf, a apresentar em Agosto e faz umdesafio aos leitores da revista “Tempo Livre”, quesejam sócios da Fundação INATEL para partici-par nesta exposição colectiva, obviamente se osseus trabalhos se inserirem neste tipo de pintura,estando reservadas dez participações, podendocada um desses artistas escolhidos participar

A beleza e a facilidadeda pintura Naïf

Um desafio aos leitores da “Tempo Livre”

Nesta página,uma pintura de

J.B. Durão

Arte

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com dois trabalhos, quedevem ser de dimensõesmédias, não mais de 100 x100 centímetros de mancha.

Querem saber como come -çaram alguns dos pintoresportugueses naïfs? AlbinoMo reira, que era da Maia,barbeiro e electricista de pro-fissão e que morreu aos 99anos, pintava nas horas va -gas, apenas porque gostavamuito de pintar. Manuel Car -valho, que era empregado deescritório, um dia, já depoisda reforma, lembrou-se depintar a portinhola da caixado contador de electricidadede sua casa e um amigo queviu e gostou, incentivou-o apintar mais e ele chegou a serum grande pintor naïf.

Augusto Pinheiro, de Niza,exportava frutos secos, começou a pintar aos 70anos e é um dos nossos melhores pintores. JoséMaria, de S. João de Rei, Póvoa de Lanhoso é pas-tor de profissão e só pinta à noite, quando recol-he o rebanho das suas 150 cabrinhas. IvoneCarvalho era mulher de Manuel Carvalho e donade casa, começou a pintar às escondidas, commedo de que o marido não gostasse... Maria deJesus era empregada de limpeza de uma fábricade cerâmica e um dia, o Manuel Cargaleiro deu-

lhe uns azulejos em branco, que ela pintou,assim tendo começado. Maria Antónia Gomesera cabeleireira, e começou a pintar com os res-tos dos vernizes de arranjar as unhas das suasclientes. Manuel Castro, um dos nossos melhorespintores, explorava uma tabacaria de um hoteldo Algarve e os turistas pediam-lhe aquelespequenos azulejos com motivos portugueses. Elenunca tinha pintado; começou a fazê-lo, sendohoje um dos nossos melhores pintores, até denível mundial.

Os pintores naïf pintam sempre a óleo ou acrí-lico em tela ou placas finas de madeira e nuncacom aguarela, que não se adequa a tal tipo depintura e é muito difícil para pintores princi-piantes.

No próximo número desta revista daremosconta de mais dados sobre esta iniciativa e demais exemplos de como outros pintores naifsportugueses se iniciaram nessa pintura, que tãogrande encanto tem, havendo cada vez mais pes-soas que a apreciam. Coloco-me desde já à vossadisposição para qualquer esclarecimento, poden-do fazê-lo através da Redacção da revista,“Tempo Livre”. n

Nuno Lima de Carvalho (Director da Galeriade Arte do Casino do Estoril)

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Arte

Em cima, umtrabalho de

Augusto Pinheiroe, eem baixo,

quadro de AlbinoJosé Moreira

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Memória

O«Rei da Comédia», que, por sinal,conheci nos tempos em que nãohavia classificação para os espectá-culos e uma criança como eu ia ale-gremente ao Parque Mayer ver o tea-

tro que ali se fazia. O público ria com as pilhériasdo palco e eu, sem perceber parte do que ouvia, riatambém. E, no fim da revista, ia com os tios aocamarim do Vasco onde as gargalhadas continua-vam com o «Rei da Comédia». Era assim com «Altolá com o Charuto» ou com o «Baile de Máscaras».

Amava as mulheresVasco Santana nem precisava de falar porqueassim que entrava no palco o público já ria e batiapalmas.

Muito teatro, muito cinema, alguma rádio, oactor que morreu no Verão de 1958 foi, como disseo seu grande amigo Artur Semedo, um pinga amor,amando perdidamente as mulheres e não perdendouma boa cavaqueira ou uns petiscos com os amigos.Era, além do actor, um homem que amava a vida e

não perdia uma ocasião para o provar. Dizem os seus biógrafos que Vasco,

embora nascido numa família comligações ao teatro, orientara os estudos

para as Belas Artes e foi, afinal, poruma circunstância banal (adoença do compère da revista«O Beijo») que acabou por ser ofabuloso actor que todos co -

nhecemos. Convidado a substi-tuir o actor que fazia as ligações

da peça, aceitou e foi desde logoum êxito. Claro que as Belas Artes fica-ram no tinteiro e Vasco Santana, com

19 anos apenas, acabara de selançar numa carreira fabulosa.

Direito a hinoA «boutade» exagerada tinha que vir do espíritodelirante de um dos grandes amigos de VascoSantana: Artur Semedo. Quando Vasco morreu,num dia de Santo António, o actor e realizador quetrabalhou bastante com ele, escreveu um belíssimoe sentido retrato de Santana. Hiperbólico, comosempre, Artur Semedo imaginou o morto a enca-minhar-se para o cemitério agradecendo os aplau-sos e a dizer: «Vou-me enterrar, meninos! Morri!Vou desta p’ra melhor! Adeus, palco da vida!»

É ainda Artur Semedo quem conta uma peque-na história: «um pobre alentejano contou ostostões e veio a Lisboa realizar o seu sonho: verrepresentar o Vasco Santana. E viu. Esperou-o àsaída do teatro e avançou determinado quando asua realidade apareceu. O diálogo foi curto: «tomelá cinco escudos para beber uma cerveja!» e oVasco, enleado em tão sincero aplauso, aceitou emurmurou um obrigado de nó na garganta.Encontrara naquela moeda o seu «graal».

Além do teatro de revista, Vasco fez muita ope-reta («O Solar dos Barrigas», «A Morgadinha de ValFlor», «Coração de Alfama», etc) e em tudo foi umactor fabuloso.

Fins de anos 40, Vasco decide criar a sua própriaCompanhia de Comédias que levaria à cena grandesêxitos como «Quem manda são elas», «O CondeBarão» ou «O Domador de Sogras». É também, poresta altura que a Emissora Nacional apresenta: «VascoSantana, o Zequinha e Irene Velez, a Lélé – as vita-minas da alegria». Mas disso falaremos mais adiante.

O «Rei da Comédia» na Televisão Foi a Televisão que apresentou Vasco Santana aospúblicos deste tempo. Os seus filmes, transmitidosregularmente na RTP, deram a conhecer o grandeactor que ele era e por isso mesmo não estranha-

Vasco Santana,o Rei da ComédiaRoubei, propositadamente, este título ao Jorge Leitão Ramos porque nãoencontrei outro melhor para definir o actor Vasco Santana.

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mos ouvir gente nova a repetir «Ó Evaristo, tens cádisto?» ou galhofando com o «esternocleidomas-toideu» quando a Televisão resolve apresentar umdos filmes em que Vasco Santana foi o maior. Oestudante de Medicina relapso de «A Canção deLisboa», o bêbado crónico que fala com o candeei-ro de rua no regresso a casa de «O Pátio dasCantigas», o tio africano de «O Costa d’África» sãofiguras de antologia na comédia portuguesa. MasVasco era também capaz de outro registo como oseu «Joaquim Marujo» do filme «Fado, história deuma cantadeira».

Dirão os críticos mais esclarecidos que este tipode cinema era para entreter as massas e não as dei-xar pensar. História simples com cenas a puxar àlágrima, com cantiguinhas na boca e amor nocoração, e, se possível, mangericos e balões, pessoalhonrado e trabalhador, final feliz, eis o cinema dosanos quarenta que ainda hoje anima tardes e noitesde Televisão. Assim seja. Mas do que falamos quan-do falamos de Vasco Santana? Falamos de um enor-me actor que pedia meças a qualquer outro vindo daestranja. Certa estava a quadra que alguém escreveunuma das paredes do camarim do Vasco:

Vasco da Gama foi grande // Sua barba foi fala-da // Mas Vasco Santana é grande // Mesmo sembarba, sem nada.

Vasco Santana, o Zequinha, Irene Velez, a LéléQuando a Emissora Nacional resolveu transmitiruma série humorística com duas figuras que se tor-nariam tão populares como as novelas do Tide, (amarca de detergente para a roupa que patrocinouum dos maiores êxitos radiofónicos que ficou co -nhecido como o «folhetim da coxinha») os autores,Nelson de Barros e Aníbal Nazaré, foram buscarVasco Santana e Irene Velez que ficariam para sem-pre crismados de Zequinha e Lélé. Os diálogos entreos dois actores eram de gargalhada e, de vez emquando, juntava-se-lhes uma sogra (Elvira Velez)que ficou conhecida por «aquela santa». As piadasentre Zequinha e Lélé eram inocentes e quaseprimárias mas com Santana tudo era motivo degarga lhada. Inocente mas não tanto… pois o progra-

ma iria ser proibido só porque o casamento entre osdois namorados ia ser no civil. A Igreja metida aobarulho e o Zequinha e a Lelé a transferirem-se parao Politeama, para o «Comboio das Seis e Meia», queIgrejas Caeiro dirigia. E ali no teatro a Lélé estavanuma frisa e o Zequinha na plateia interpretandoambos conversas delirantes com o público aplau-dindo de pé os dois actores e também «aquelaSanta» quando Elvira Velez entrava no delírio.

Alguns amores e três filhosComo dizia Semedo, Vasco Santana amava as mu -lheres e teve várias. A mais conhecida foi com cer-teza Mirita Casimiro com quem o actor contrace-nou várias vezes mas foram outras as mães dos seustrês filhos. Conta quem conheceu o romance entreVasco e uma belíssima actriz chamada Aldina deSousa (mãe de José Manuel), que o actor sofreumuito com a morte prematura de Aldina. Da pri-meira mulher, Arminda, nasceu o primeiro filho,Henrique, que viria a dedicar-se também ao teatro.O mais novo dos três filhos, João, foi o único quenão teve nada a ver com teatro. Foi médico.

O último trabalho de Vasco Santana foi «UmFantasma chamado Isabel» no Teatro Monumental.Ao seu lado, Laura Alves e o filho, Henrique.Operado de urgência, interrompeu a peça e, quan-do não se esperavam complicações de maior, Vasconão resistiu a uma crise cardíaca e morreu exacta-mente quando Lisboa festejava o seu Santo. Era odia 13 de Junho de 1958. n

Maria João Duarte

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Com Maria daNeves em “O Pátiodas Cantigas”ecom Ribeirinho nofilme “O Costad’África”

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CASAMENTO EM JOGO

Cucha CarvalheiroRogério Samora

cenografia Ana Vaz luz João Paulo Xavier

de Edward Albeeencenação Graça P. Corrêa

SALA PRINCIPAL . até 31 JUL 5ª a Sáb às 22h | Dom às 17h | M16

Um homem sentado num banco à beira de um abismo observa a humanidade a precipitar-se para ele.Chega uma mulher pronta para Conceitos aterradores e visões de mistérios profundos emergem do seu confronto, para concluírem que,afinal, a vida é um bem precioso...

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O BANCO

SALA ESTÚDIO . 7 a 31 Jul 5ª a Sáb às 21h45 | Dom às 17h | M12

sonoplastia Diogo Branco, Octaviano Rodriguesdesenho de luz Bruno Simõesconcepção do cenário Carla Vasconcelos,Diogo Branco, Octaviano Rodrigues,figurinos Dino Alvesprodução Glam com o apoio BOX

adaptação do texto de Luigi Jannuzzi “Um Banco no Abismo”encenação João Lobointerpretação Bruno Simões, Carla Vasconcelos

informações e reservas - 21 342 00 00 | 92 798 28 34

BILHETES À VENDA Teatro da Trindade 3ª - 14h às 20h, 4ª a sáb - 14h às 22h, dom - 14h às 18h | Worten | Fnac | Lojas Viagens Abreu | Liv. Bulhosa | Pontos MegaRede | www.ticketline.sapo.pt

apoia o teatro

HORÁRIO DEVERÃO. 22H

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Olho Vivo

Mais 17 pirâmides

Dezassete pirâmides, mil túmulos e mais detrês mil povoados do Antigo Egipto foramlocalizados por cientistas do Alabama,graças a um novo sistema deinfravermelhos que permite verclaramente o subsolo, a partir desatélites. Duas das pirâmides jáforam confirmadas no solo porarqueólogos. A nova disciplinada "arqueologia espacial" prometenovas descobertas.

O terrordos mares

O anomalocaridides, umbicho feio que foi oprincipal e maior predadordos mares da Terra noperíodo Câmbrico, que sepensava ter sido extinto há540 milhões de anos,afinal viveu durante maisuns 30 milhões de anos.Um novo espécimefossilizado agoraencontrado em Marrocos éo que nos diz. O anómalotinha um corposegmentado com um metrode comprimento e doisapêndices em forma depinça, com que agarrava oque metia à boca. Foidescrito em 1985, 200anos depois de seencontrarem os primeirosfósseis.

Suavizarmemórias

As memórias dolorosaspodem ser apagadas decerta forma por uma drogade nome metirapona, quereduz a capacidade docérebro de recordar asemoções negativasassociadas a másmemórias. A conclusão éde investigadorescanadianos e desafia aideia de que é impossívelapagar recordações. Podeser útil no tratamento dostress pós-traumático.

Afinal o leite...

Biólogos da universidade sueca de Uppsalaafirmam: tomar cálcio não reduz o risco defracturas e osteoporose. O risco atinge o seumínimo com 750 mg diários de cálcio e depoisnão diminui mais. É escusado, pois, andar abeber litros de leite e quilos de queijo. O BritishMedical Journal publicou este estudopreocupante para a indústria dos lacticínios,baseado na observação de mais de 60 milmulheres, ao longo de vinte anos.

Acabou-se a peste bovina

Durou milénios, mas acabou-se. A Organização Mundial de SaúdeVeterinária declarou erradicada a peste bovina, uma das doenças maisletais para o gado, que podia reduzir a pó rebanhos inteiros. Só entre

1740 e 1760, a peste matou 200 milhões de rezes e foi a causa dacriação das escolas de medicina veterinária. Na Europa, a última

epidemia é dos anos 20, mas em África, ainda nos anos 80, a pestematava.

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António Costa Santos ( textos) André Letria ( i lustrações)

Vai um banho de Lua?

Depois de estudarem pedaços de lavasolidificada proveniente de erupçõesvulcânicas ocorridas na Lua há uns milhões deanos e trazidos para cá pelos astronautas dasmissões Apolo, cientistas da NASA confirmamnum artigo publicado em Maio na Science, queo interior do satélite da Terra contém tantaágua quanto o nosso planeta-natal. Depois deencontrar, no ano passado, água numa cratera,a NASA não pára de dar provas de que a Luanão é assim tão seca como nós pensávamos.

Beba óleode peixe

Os óleos gordos de ómega-3 do peixe podem ajudar atratar o alcoolismo e outrosproblemas de saúdemental, segundo umestudo do prof. AlexandreNiculescu, publicado narevista TranslationalPsychiatry. Niculescutratou com óleo de peixeratinhos geneticamentetransformados parasofrerem de doença bipolare teve bons resultados na"normalização do seucomportamento". Os óleosgordos carregados deÓmega 3 podem, assim,não servir apenas paraprevenir maleitas do forodo coração.

Lipo-aspiraçãotem prazo

Um estudo da Faculdadede Medicina americana doColorado demonstra que oefeito das lipo-aspirações,operação estética cada vezmais na moda no Ocidente,tem um prazo máximo deum ano. Ao fim dessetempo, a gordura regressa eredistribui-se noutras áreasdo ventre, podendo subiraté em volta dos ombros ena parte debaixo dosbraços. O estudo revelaque os níveis de gordurado corpo estãodirectamente ligados amecanismos que ainda nãocompreendemos.

A religião encolhe o cérebro?

O hipotálamo, uma das partes do cérebro, das pessoas religiosas ficaatrofiado na terceira idade, segundo um estudo publicado na revistaPlosOne, divulgado em Junho. Cientistas da universidade americana deDuke estudaram cerca de 250 pessoas com mais de 58 anos, comdiversos níveis de crença religiosa e concluíram que a religião afecta amorfologia do cérebro. Os efeitos do sentimento religioso na psique têmsido classificados de benéficos no tratamento do stress e da ansiedade.Este é o primeiro estudo em que se registam efeitos negativos.

Adeus, Robô

O robô marciano Spirit morreu. ANASA desistiu em finais deMaio de voltar a entrarem contacto com oengenho, um dos dois"veículos teleguiados"levados por sondas para oplaneta vermelho. O Spirit foiapanhado há dois anos numaarmadilha de areia e calou-sequando o inverno marcianochegou e os painéis solaresdeixaram de lhe fornecer energia. A NASApensava restabelecer o contacto nesta primaveramarciana, mas o Spirit não dá acordo de si. Os cientistas decidiram quenão valia a pena gastar mais tempo e dinheiro a tentar. Os robôs"amartaram" em Janeiro de 2004, para uma missão de três meses. Járenderam muito mais do que se esperava.

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Esta crónica era para ser dedicada à Bela-Sombra, o “farol das pampas” noUruguai e na Argentina, não fosse oestranho magnetismo da Trombeta-de-

Anjo (“Brugmansia Pers.”) nos ter desviado paraa Rua Fernando Caldeira, em Lisboa, onde váriasárvores pareciam rebentar de tanto florir.

É raro ver uma “Brugmansia”, pequena árvorenatural da América do Sul (particular incidêncianos Andes) nas nossas ruas, jardins ou avenidas,

O anjo tóxico

A Trombeteira leva ao consoloou ao Inferno de não ter vontadeprópria.

A Casa na árvore

Susana Neves

como acontece na Colômbia, onde o perfumenocturno de algumas espécies serve de soporífe-ro aos que padecem de insónias. Por isso, obser-var a desmesura das suas flores (de 12 a 30 cm),brancas, amarelas ou rosa é, em si, um aconteci-mento — com um potencial de risco inesperado.

De facto, apesar do nome Trombeta-de-Anjoevocar delícias celestiais, a exposição prolongadaà beleza e ao perfume da sua floração pode, con-soante as sensibilidades, garantir um dos melho-res lugares no Inferno.

Conforme relata Tonny Surrow-Hansen, no“blog” dedicado à espécie tropical, quando umapessoa se apaixona por esta árvore tende a ficar“agarrado”. Engrossando o contingente dos quepadecem de “BA” (“Brugmansia Addiction”) ou“BBA” (“Brugmansia Buying Addiction”) começaa coleccionar compulsiva e obsessivamente todasas espécies. Até um simples “affair” com uma“Brugmansia”, que passe pelo adormecimentodebaixo das suas flores tóxicas, na expectativa deter sonhos eróticos, dada a reputação afrodisíacado perfume, pode levar os mais vulneráveis auma urgência de hospital.

Ainda assim, males menores, tendo em contaa inscrição da Trombeteira (outra designaçãopossível) na História da Criminalidade. Se comoapaixonado perder a fortuna ou a família, negli-genciada pela atenção excessiva dada às suasárvores exóticas, e em troca adquirir resistência àtoxicidade da espécie, resultante da presença dealcalóides, como a escopolamina e a atropina,essa recompensa não o afastará de um horizontemenos problemático.

Desde as civilizações pré-colombianas atéhoje, várias espécies de “Brugmansias” (entreelas, a “B. Aurea”, “B. Candida” ou “B.Sanguinea”), através da extracção dos seusalcalóides, têm sido utilizadas como instru-mentos de controle da mente e de alienação davontade, permitindo, no passado, enterrarvivos, os escravos e as mulheres dos guerreirosmortos (tribo dos “Chibchas”) e no presente,servir para roubar, violar e matar milhares depessoas não só na Colômbia, Brasil, Chile,Equador, Peru, Venezuela mas também nos

Folha e pormenor daflor de Brugmansia

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Fotos: Susana Neves

Estados Unidos da América e no Canadá, ondesão consumidas em «pastilhas elásticas, choco-late, bebidas e sob a forma de pó metido empedaços de papel».

Ou seja, senão sucumbir à paixão, plantando“Brugmansias” até na banheira, um “BBA” poderátransformar-se num fornecedor involuntário denovas viagens alucinogéneas, fatais para muitosjovens incautos, úteis aos criminosos que trans-formam as vítimas num “zombie”, cúmpliceamnésico do seu próprio sacrifício.

Da mesma família dos tomates, da batata ouda malagueta, uma “Solanaceae” (“Solanum L.”,do latim “solari”, consolar, aliviar, por alusão “àspropriedades narcóticas e calmantes”), aTrombeteira é afinal uma árvore demasiadopoderosa para se circunscrever a um papel mera-mente ornamental.

Nas tribos ameríndias (Jívaros, por ex.), elaparticipava em vários rituais xamânicos e deiniciação à “arutam wakani”, “alma visionária”,aquela que permite contactar e aprender comos antepassados. Muitas eram as suas funções,multiplicadas pela facilidade das “Brugman -sias” hibridizarem sozinhas: «Os índios usam

estas espécies de forma bastante específica.Uma espécie é notável por disciplinar criançasproblemáticas, que são forçadas a beber umapoção feita de uma infusão de sementes. Comoconsequência [esta bebida] provoca pertur-bações na audição, durante as quais os ante-passados aparecem e advertem os mais novos.Sobre outra [espécie] acredita-se que revele aexistência de tesouros enterrados nos túmulos;outra ainda, que prepare os guerreiros para ocombate por lhes apresentar os rostos tritura-dos dos que terão de matar», escreveJonathan Kellerman, no romance“Over the Edge” (1987).

Em suma, a Trombeteira só é dosanjos consoante quem a toca. Quandosai das mãos do xamã (“curandero”) eda esfera iniciática ou medicinal podetornar-se numa perigosa droga de rua(“Burundanga”) ou de gabinete (foitambém usada pelos Nazis e pela CIAdurante interrogatórios). Porventura, adroga ideal para qualquer criminosoporque transforma a presa na principalcolaboradora do seu crime.n

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Brugmansia noParque Monteiro-More, em baixo, flor deBrugmansia

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l CONSUMO Cada um de nós pode contribuir para uma cidade melhor, se

alterar os seus padrões de consumo. Pág. 66 l LIVRO ABERTO Em destaque

a reedição de três importantes obras de Camilo: "Memórias do Cárcere",

"Livro Negro de Padre Dinis" e "Livro de Consolação". Pág. 68 l ARTES As

exposições de Luísa Correia Pereira, Joana Rosa e Maria de Jesus Reino e a

conclusão de que a hora é das mulheres na arte em Portugal. Pág. 70 l

MÚSICAS Mais uma novidade na música portuguesa: o album dos

nortenhos "Atlantihda" e, ainda, "Director`s Cut", de Kate Bush. Pág. 72 l NO

PALCO Aí está a 28ª edição do Festival de Teatro de Almada. Boas

companhias, nacionais e estrangeiras, e programação descentralizada. Pág.

74 l CINEMA EM CASA Quatro filmes celebrados na

festa 2011 dos Óscares: "O Discurso do Rei", "Cisne

Negro", "O Mágico", e "Fora da Lei". Pág. 76 l GRANDE

ECRÃ Julho e Agosto prometem graças aos novos

filmes de Robert Redford, Tom Hanks, Pablo Trapero e Daniele Luchetti.

Pág. 77 l TEMPO INFORMÁTICO A pensar nas ferias, a importância de

netbooks, projectors ou telemóveis pequenos, cómodos e práticos. Pág. 78 l

AO VOLANTE A tecnologia das novas versões do Opel Astra traduz-se em

mais conforto, segurança e redução do consumo de gasóleo e das emissões

de CO2. Pág. 79 l SAÚDE Quer os doentes com anorexia quer os doentes

com bulimia carecem de apoio psicológico… nem toda a gente pode ter um

corpinho enxuto e bem torneado... Pág. 80 l PALAVRAS DA LEI A Lei nº

61/2008, de 31 de Outubro - Novo Regime do Divórcio - regula a situação

de prestação de alimentos. Pág. 81

BOAVIDA

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Boavida|Consumo

Carlos Barbosa de Oliveira

Se tivermos em consideração que as cidades ocu-pam apenas 2% da superfície da Terra, até nãoparece complicado tornar as cidades mais susten-táveis. O problema é que nesses dois por cento

vive, actualmente, 50 por cento da população mundial, queconsome 75 por cento dos recursos naturais do planeta,dois terços da energia a nível mundial e gera mais de 75 porcento dos resíduos. Acresce que 10 por cento da populaçãomundial vive em cidades com mais de 10 milhões de habi-tantes e que, em 2050, se estima que aumente para 75 porcento, o número de habitantes do planeta a viver nascidades. Curiosa contradição (ou talvez não) numasociedade cada vez mais digital, onde o contacto entre aspessoas se faz frequentemente no mundo virtual, deixandoa resolução de problemas à distância de um clique.

Apesar de existirem inúmeros estudos dedicados aodesenvolvimento urbano sustentável, poucos arriscamdefinir a cidade do futuro. Estão, porém, identificados osprincipais factores susceptíveis de combatera degradação da qualidade de vidaurbana. Um deles é o consumoresponsável.

Apesar de o seu conceito nãoter sido ainda devidamenteassimilado pela esmagadoramaioria dos consumidores, ga -nhou já expressão como indi-cador para o desenvolvimentosustentável. Consumir menos emelhor, tendo em atenção oimpacto ambiental dos pro-dutos e serviços é uma tarefaque está ao alcance de cada um.Levado à prática, o consumo respon-sável contribui para uma melhor qualidadede vida urbana. Há inúmeros aparelhos eprodutos que podemos substituir, ou usarde forma parcimoniosa, em benefício danossa saúde.

É o caso, por exemplo dos ares condi-

cionados nos escritórios. Mas também - como explicamespecialistas - de numerosos produtos que temos em casae são verdadeiros inimigos escondidos sob o manto doconforto. Estão neste caso, entre outros, as alcatifas, as tin-tas, o papel de parede ou mesmo móveis feitos de aglo -merados.

No caso das alcatifas, servem de hospedaria ideal aosácaros, uns seres invisíveis responsáveis por noites maldormidas e algumas doenças alérgicas que não se con-seguiam até há pouco explicar. Os efeitos destes poluentesescondidos no remanso das nossas casas, são ainda difíceisde descortinar em toda a sua extensão, razão que levouvários países europeus a colaborarem estreitamente na cri-ação de um banco de dados que permita detectar, a partirdas queixas de doentes, os produtos utilizados na construçãocivil que podem afectar a saúde. Entre eles o amianto, quetem estado no centro de acaloradas polémicas no que con-cerne à sua nocividade em termos de saúde pública.

Também os produtos de limpeza doméstica, anunciadoscomo possuidores de crescente eficácia, estão sob mira,

uma vez que contêm solventes que se evaporam naatmosfera. Os mais perigosos são os

decapantes para fogões e fornos eléc-tricos e os vernizes, mas os dissol-

ventes para vernizes, os desinfec-tantes com cloro e os per-

fumadores para sanitas são irritantes,não apenas para a pele, mas tam-bém para os brônquios. A suaperigosidade aumenta com ahumidade, já que esta favorece a

sua inalação, pelo que é aconselhávelnão utilizar depois do chuveiro, no quarto de

banho saturado de vapor de água, perfumes, lacasou desodorizantes em aerossol, para evitar que atinjamos brônquios.

Dores de cabeça, náuseas, fraqueza muscular, sãomuitas vezes provocadas por outro actor do confortodos nossos lares: os aquecedores. Assim, aconselha-se uma escolha criteriosa deste tipo de aparelhos, afim de evitar problemas.

Finalmente, falemos de humidades. Os vidros

Por uma cidade sustentávelUm dos grandes desafios do século XXI é tornar as cidades mais humanas, seguras e sustentáveis,elevando os padrões de qualidade de vida dos seus habitantes. Cada um de nós pode contribuir parauma cidade melhor, se alterar os seus padrões de consumo.

66 TempoLivre | JUL/AGO 2011 ANDRÉ LETRIA

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duplos, o isolamento das paredes, a supressão das condu-tas das chaminés, contribuem para que dentro de casavivamos em ambientes estanques. No entanto, a nossaactividade dentro de casa produz vapor de água, como é ocaso dos cozinhados, dos duches, das plantas ou mesmoda própria respiração. Acresce, ainda, que apesar deestanques as casas deixam penetrar humidade por razõesdiversas (fugas nas canalizações, por exemplo...). No con-tacto com as paredes, a humidade condensa-se e gera acu-mulação de impurezas nos cantos, sob as janelas, ou atrásdos móveis, levando a que a atmosfera se carregue de ele-mentos que penetram nas vias respiratórias, provocandorinites, alergias, crises de asma, fibrosespulmonares...Torna-se por isso necessário, renovar o ar esecá-lo. A utilização de desumidificadores é apenas umpaliativo. Aconselha-se também a abolição dos secadoresde roupa não ligados ao exterior.

Vai crescendo o número de cidades, no mundo inteiro,onde medidas coercivas servem para obrigar os cidadãos aum comportamento cívico que crie melhores condições devida nas grandes urbes. Espectáculos como a lavagem de

carros na via pública, abandono de animais mortos,descargas de lixo fora dos recipientes apropriados ou cus-pidelas para o chão, são ainda possíveis de ver na maioriadas cidades portuguesas. Em algumas delas existem medi-das sancionatórias para quem pratique estes actos de vio-lência urbana, mas a verdade é que as coimas previstasraramente são aplicadas.

Todos concordam com a necessidade de criar cidadessustentáveis, mas poucos estão sensibilizados para con-cretizar esse modelo urbano, que nos permite melhorar aqualidade de vida urbana.

Uma cidade sustentável tem de ser solidária e 'justa',sem grandes desequilíbrios económico-sociais que geremassimetrias e áreas de conflitualidade.

Não pode crescer rápida e desordenada e tem deagilizar a funcionalidade das estruturas e serviçosurbanos; melhorar a qualidade dos transportes e a sua efi-ciência energética; cuidar a estética urbanística e arquitec-tónica; assegurar o conforto e a salubridade ambiental.Tem de ser lugar de mobilidade… onde o automóvel nãoseja um elemento omnipresente. n

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Boavida|Livro Aberto

Camilo, Lobo Antunes e muitas outr

livro de memórias, mas sim como um conjunto de relatospassados a escrito por um português nascido no norte dePortugal e 1936 e que foi homem de confiança de MarceloCaetano, também na sua condição de director dosserviços de informação do regime.

Foi com esse estatuto que Pedro Feytor Pinto esteveactivamente presente na negociação que precedeu, noquartel do Carmo, a rendição e a queda da ditadura, aofim de 48 anos no poder. Um testemunho a ter em contapor parte de quem quiser debruçar-se sobre esse episódioda História portuguesa.

EM MATÉRIA DE FICÇÃO NARRATIVA portuguesa eestrangeira de qualidade há vários destaques a fazer,dirigidos, sobretudo, a quem organiza com antecedênciaas suas leituras estivais. A saber: “Ilha Teresa”, o maisrecente romance de Richard Zimler, autor que tem anacionalidade norte-americana e portuguesa e queescreveu nos últimos anos vários livros justamente recon-hecidos pelo público e pela crítica, “A Paixão deAraci”(Oficina do Livro), o novo romance de José MarquesVidal, nome que muitos leitores continuam a associar àhierarquia de topo da magistratura portuguesa devidosaos importantes cargos que nela desempenhou, “O SeuLado Clandestino”( D. Quixote), de Peter Carey, autorduas vezes distinguido com o Booker Prize, “A Viagem dosCem Passos” (D. Quixote), de Richard C. Morais, um livrobrilhante que tem como pano de fundo o mundo da gas-tronomia, “Por Este Mundo Acima” (D. Quixote), o mais

José Jorge Letria

Os textos introdutórios de Maria Alzira Seixosão essenciais para que o leitor compreendamelhor a obra camiliana e para que possa situ-ar correctamente estes títulos no quadro de

uma produção torrencial que só a morte por suicídio,quando a cegueira era já inelutável, conseguiu parar.

Reler Camilo, seja em que época for, é sempre ummodo de conhecer o Portugal profundo que alterna com ooutro, também genialmente retratado por Eça de Queirós,muito mais virado para a realidade urbana e para a dimen-são mundana e cosmopolita que o universo ficcional doautor de “Memórias do Cárcere”.

Com a chancela da D. Quixote, encontra-se nas livrariaso “Quarto Livro de Crónicas”, de António Lobo Antunes,volume da obra completa “ne varietur”, acompanhado porum CD com as crónicas lidas pelo autor, o que confere àedição um valor documental e até emocional acrescenta-do. Para muitos leitores, o melhor Lobo Antunes é justa-mente o das crónicas, por ser o mais poético, o mais con-fessional e o mais tocante. Para esses, que são muitos, esteé um livro a não perder, definitivamente.

Quem se interessa pela História recente de Portugal etambém pela literatura de carácter memorialístico, encon-tra no livro “Na Sombra do Poder”, de Pedro Feytor Pinto(D. Quixote), um interessante documento para percebercomo foram os derradeiros anos da ditadura vividos e con-tados a partir de dentro. O autor não o assume como um

Com direcção, prefácios e organização de MariaAlzira Seixo, nome maior do ensaísmo e dadocência universitária em Portugal, acaba aParceria A.M. Pereira de reeditar três obrasfundamentais de Camilo Castelo Branco, autorintemporal e genial da literatura portuguesa:“Memórias do Cárcere”, “Livro Negro de PadreDinis” e “Livro de Consolação”.

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recente romance de Patrícia Reis sobre a dimensãoamorosa da amizade, numa narrativa pujante, e “A Manhãdo Mundo” (D. Quixote), auspicioso livro de estreia dePedro Guilherme-Moreira, que nos confronta com a possi-bilidade meramente ficcional de alguém ter acordado atempo de evitar a tragédia do 11 de Setembro, que mudoua História à escala global.

Destaque ainda para o extenso, bem documentado eexemplarmente narrado “Lisboa. Um Melodrama” (D.Quixote), do argentino Leopoldo Brizuela, cuja envolventeacção decorre em 1942 em Lisboa, em plena guerra, quan-do a capital portuguesa era o ponto de chegada e de parti-da de milhares de refugiados de todas as procedências,crenças e convicções. Uma obra de maturidade.

Um destaque especial para “Contos Reunidos” (Oficinado Livro), de Felisberto Hernandez, oportunidade únicapara os leitores portugueses conhecerem a obra genial deum uruguaio que escritores como Gabriel Garcia Marquezconsideraram determinantes para a sua própria carreiraliterária. Uma colectânea de contos que nos familiarizacom esse imaginário único e contagiante. A chegada àslivrarias portuguesas de um grande escritor universal. Anão perder.

COM A CHANCELA de Publicações Europa-América. e inte-grado na sua Biblioteca das Ideias. acaba de ser lançado“São João Paulo II”, ensaio biográfico do francês AlainVircondelet, mestre conferencista do Instituto Católico deParis sobre o papa polaco que, tendo assumido a dimen-

são global da sua fé, tão perto ficou da canonização peloVaticano.

Também a não perder é o breve e excelente “UmaSemana no Aeroporto - um Diário de Heathrow”(D.Quixote), de Alain de Botton, que nunca pára de nos sur-preender com a forma como aborda temas como o amor, aviagem ou a literatura, sempre num registo original a quenão é alheia a solidez da sua formação filosófica.

Com a chancela do Clube do Autor, três destaquesmerecidos nesta abertura de férias: “ A Era da Mentira”,de Mohamed Elbaradei, que muitos apontaram ou apon-tam ainda como o próximo presidente do Egipto, o exce-lente e oportuno “23 Coisas que Nunca Lhe Contam Sobrea Economia”, Há-Joon Chang, docente da Universidade deCambridge, e a antologia “Onésimo-Português sem Filtro”,do açoriano há muito radicado nos Estados Unidos,Onésimo Teotónio de Almeida.

A quem se interessa pelo mundo da psicoterapiarecomenda-se a leitura do original e certeiro “Cada umVê o Que Quer…Num Molho de Couves” (Oficina doLivro), que sintetiza três décadas de prática clínica deIsabel Abecassis Empis; a quem quiser conhecer deforma divertida e crítica os portugueses que somos e assuas, nossas manias, recomenda-se a leitura de“Cemitério dos Prazeres”(Oficina do Livro), de PedroBoucherie Mendes, director dos canais temáticos da SICe pessoa com um apurado e acerado poder de obser-vação, de que nos fica a marca forte neste livro diver-tido e contundente. n

utras leituras para os meses de férias

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Boavida|Artes

Rodrigues Vaz

Acomeçar, há a destacar a exposição de LuísaCorreia Pereira, intitulada Convocação de Todosos Seres, patente na Galeria da Culturgest noPorto, até 13 de Agosto. Centrando-se na obra

gráfica da artista, constituída por gravuras em metal,linóleos, xilogravuras e monotipias, realizada de 1971 a1974, anos fundadores da sua prática, é uma oportu-nidade única para (re)descobrir estas obras e as reavaliarna história da arte contemporânea portuguesa.

Luisa Correia Pereira (Lisboa, 1945-2009) produziu, aolongo de quase quatro décadas, uma obra de pintura e dedesenho idiossincrática, com notáveis fulgurações, masque uma grande parte do mundo da arte desconhece ou àqual permanece indiferente.

De vários modos, o que o poeta Nuno Júdice escreveusobre ela quando da exposição Fiat Lux: Paris-Lisboa, queteve lugar no Centro de Arte Moderna em 2003, é válidopara a mostra actual: "Na pintura de Luísa Correia Pereira,as formas nascem no interior de uma arquitectura lumi-nosa em que é a cor que institui o quadro genético dageometria e da fluidez narrativas que produzem uma ri -gorosa distribuição de sentidos ao longo do seu percurso.Não é, por isso, de surpreender que o jogo infantil surjalogo no início, como epígrafe simbólica de uma estéticaque não perde nunca uma dimensão lúdica: e é nesseespaço de descoberta "ingénua" dentro da extrema elabo-ração discursiva do enunciado pictórico que o olhar nãose afasta nunca do seu referente natural."

JOANA ROSA NA GALERIA ANTÓNIO PRATES

Joana Rosa, filha dos conhecidos artistas plásticos HelenaAlmeida e Artur Rosa, apresenta, por seu turno, até aopróximo dia 16, as suas últimas produções na GaleriaAntónio Prates, em Lisboa.

Trata-se de um conjunto de 30 obras em consonânciacom a pesquisa que a artista tem vindo a fazer nos últi-mos anos. Desde 1982 que Joana Rosa tem vindo a colec-

Arte em Portugal:A hora é das mulheresDecididamente, a hora é das mulheres na arte em Portugal. Feita a habitual triagem para decidir porquem optar para o registo habitual do que se está a fazer em arte por cá, acabámos por ter de falardesta vez apenas de artistas mulheres. Sem favor, claro.

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Composição de Luisa CorreiaPereira e, em baixo, um trabalhode Joana Rosa. Na página dadireita, uma aguarela de Mariade Jesus Reino

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cionar anotações, ou gestos instintivos (ou compulsivos),que fazemos quando estamos distraídos, a que dá o nomede scribbles.

Neste conjunto de trabalhos, os scribbles enveredampelo íntimo da artista, pelas suas preocupações mais actu-ais, ou mesmo as que se prendem ao seu passado.Bailarinas convivem com armas de guerra; angústias pes-soais dançam com perguntas, afirmações e miras demetralhadora. Do seu interior nasce um exército de for-mas, que são o escape da artista, mas também a sua pro-tecção

MARIA DE JESUS REINO EM ALFRAGIDE

Entretanto, e porque estamos na chamada época balnear,outra mulher artista, Maria de Jesus Reino, apresenta, atéao próximo dia 20, na galeria da Molduraminuto, sita naLoja 69 do Centro Comercial Alegro, em Alfragide, umaexposição de aguarelas tendo o mar e a vela como inspi-ração e a zona de Cascais como pano de fundo.

Nascida em Moçambique, virada às Ciências, Maria de

Jesus Reino cursou Economia na Universidade Católica,profissionalmente dedicou-se ao Marketing em diversasmultinacionais de produtos de grande consumo e acumu-lou experiências nas áreas financeira e de controle degestão, mas a frequência de galerias, museus e feiras dearte levaram-na à arte, a que ficou irremediavelmente liga-da, deslumbrada com as potencialidades da criação e coma busca de novas formas e materiais. n

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Mais uma novidade na música portuguesa: o álbum “Atlantihda” do grupo nortenho com o mesmonome. De Kate Bush chegou-nos o CD “Director`s Cut”, uma “revisitação” de temas emblemáticos dacantora e compositora inglesa.

Vítor Ribeiro

“Atlantihda” integra 10 temas: oito escritos ecompostos pelo próprio grupo e duas ver-sões dos “clássicos” “Meu Amor éMarinheiro” (Manuel Alegre/Alain Oulman)

e “Vou Dar de Beber à Dor” (Alberto Janes). A produção edirecção musical são assinadas por Frederico Pereira.

“A história dos Atlantihda é contada por seis músicos euma fadista”, segundo se anuncia num texto de apresen-tação assinado por Hélder Moutinho, que chama a atençãopara o facto dos vários elementos do grupo serem “oriun-dos dos mais distintos géneros musicais”.

No mesmo texto, diz-se que “osAtlantihda viajaram pelo mundo damúsica nacional e internacional,absorvendo várias influências para seencontrarem num projecto queacabaria por ligar a música de raiztradicional e rural, com aquela que é anossa música popular urbana: o Fado”.

E de facto, quase tudo se podeencontrar nos Atlanthida: o som rústico

de uma viola braguesa, o característico acordeão de uma boaparte do nosso folclore, a sonoridade clássica de um violonce-lo, o indelével trejeito fadista da bela voz de Gisela João.

O surgimento dos Atlantihda integra-se, pois, nummovimento mais vasto observado nos últimos anos, numcontexto social e cultural fervilhante, em que os jovensprocuram participar activamente nas múltiplas frentes dedefesa da nossa identidade colectiva, na busca de novasformas e conteúdos, num momento de desmoronamentoda chamada “globalização”.

Os Atlantihda merecem a nossa melhor atenção. Ei-los:Gisela João (voz), Fátima Santos (acordeão), João Campos(guitarra clássica e flauta transversal), José Flávio Martins(baixo acústico e cajon), Melanie Paula (violoncelo) eMiguel Antas Teixeira (guitarra clássica, viola braguesa,adufe e bilha).

Boavida|Músicas

VISÃO CINEMATOGRÁFICA DE KATE BUSH

“Director`s Cut” é o título genérico do mais recente álbumda cantora e compositora inglesa Kate Bush. Não estamosperante um CD de originais, mas, antes, de um acto de“revisitação” de temas dos álbuns “The Sensual World” e“The Red Shoes”, regravados com novas sonoridades.

A própria autora, de resto, considera ter efectuado algosemelhante ao trabalho de um realizador de cinema,quando resolve remontar um filme, sem no entanto alteraro fio condutor do argumento original.

Para lá dos onze temas que nos são apresentados, KateBush, criadora cujo talento não se esgota no canto e na com-posição musical, é também co-autora do design e imagemgráfica da excelente capa/livrete de “Director`s Cut”.

FESTIVAL DA EUROVISÃO EM CD

Os frequentadores do Festival da Eurovisão podem relem-brar o acontecimento através do duplo-CD “EurovisionSong Contest – Dusseldorf 2011”, já disponível no merca-do nacional. Apresentado como se tratando do “the offi-cial álbum”, ali se encontram as 43 canções concorrentesao concurso, de entre as quais destacamos, naturalmente,“A Luta é Alegria” dos “Homens da Luta”. n

“Atlantihda” em estreiae revisitações de Kate Bush

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Boavida|No Palco

Maria Mesquita

São 15 os espaços que, este ano, acolhem a progra-mação do FTA, situados sobretudo a sul do Tejo eem Lisboa, em parcerias que se alargam desdeAlmada até ao Porto, passando por Coimbra. Em

época de crise, o esforço orientou-se na realização de duasproduções originais e duas co-produções, sem esquecer,obviamente, as companhias internacionais, oriundas de 10países, entre outros, França, Roménia, Tunísia e EstadosUnidos da América - a surpresa deste ano.

O tema do FTA 2011 é a Commedia dell'Arte, com apresença de Ferruccio Soleri, o maior Arlequim dos sécu-los XX e XXI, o convidado especial para a apresentação dapeça "Retratos da Commedia dell'Arte", dia 13 de Julho, noTeatro Nacional de S. João, Porto e dia 14 de Julho noCCB, em Lisboa. Um espectáculo onde, através depequenos e divertidos monólogos, surgem as váriashistórias protagonizadas por todos os intervenientes destaforma de artes de palco. Os actores não se limitam apenasà interpretação de texto, sendo também malabaristas, acro-batas, músicos, numa encenação que nos permite reveralguns magníficos exemplos de entrega ao Teatro.

Joaquim Benite (na foto) conta este ano com a preciosaajuda de outros três grandes encenadores/ criadores para

as produções da Companhiade Teatro de Almada, comoSolveig Nordlund, com "DoAmor" (7 a 10 de Julho naSala Experimental do TMA)em parceria com o Festivaldas Artes de Coimbra;Bernard Sobel com a peça"Santa Joana dosMatadouros" (5 e 6 de Julhona Sala Principal do TMA); eMario Mattia Giorgetti, quedirige "O Teatro Cómico" (dia15 de Julho na Escola D.António da Costa, tambémem Almada) em ampla ho -menagem ao tema principaldo Festival.

Em vésperas de paragem estival para os Teatrosnacionais, este é sem dúvida um conjunto de espectáculosa não perder.

"A CASA DA FAMA"

Um "reality show" em forma de peça teatral? Sim, é pos-sível! "A Casa da Fama" continua em cena no TeatroArmando Cortez, em Lisboa, para presenciarmos aqueles

últimos instantes em que se desvenda quem é o grandevencedor da competição…

O que fazem a Princesa Diana, o poeta Luís de Camõese a Padeira de Aljubarrota juntos dentro do mesmoespaço? De que forma estas personagens que ficaram naHistória têm algo em comum? Pegando no conceito dos"reality shows" que diariamente nos entram em casa viatelevisão juntamente com os concursos que elegem asprincipais e mais influentes pessoas ao longo dos váriosséculos de História, resulta uma peça teatral onde cadaum faz o que pode para merecer o prémio final. Desde osdevaneios poéticos de Camões, passando pelo activismosocial de Diana e pela audácia desmesurada de uma mu -lher sem papas na língua, a padeira Brites, todos tentamrevelar os seus melhores atributos revelando igualmentehistórias vividas na "casa" com outros míticos perso -nagens desde Saddam Hussein, Bocage, a própria Amáliaou Maria Callas. FICHA TÉCNICA: Autores: Frederico Pombares, Henrique Dias

e Roberto Pereira Direcção: João Baião; Cenografia e

© M

arga

rida

Dia

s

Almada, capital do TeatroO Festival de Teatro de Almada regressa em 2011 para a sua 28ª edição com mais vontade que nuncaem apostar em mais e melhores criações, de 4 a 18 de Julho em vários pontos do país.

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figurinos: Marta Carreiras; Direcção musical: Fernando

Martins; Desenho de luz: Paulo Sabino; Assistente de

produção: Sónia Aragão; Com: João Baião, Mané Ribeiro, Ana

Brito e Cunha; Produção: UAU

A LIÇÃO DE "O AVARENTO"

"O Avarento" de Molière é a peça que a companhiaEnsemble - Sociedade de Actores irá apresentar, primeiroem Almada (dentro da 28ª edição do Festival de Teatro) edepois, no regresso à casa mãe, o Teatro Carlos Alberto, noPorto, até 31 de Julho.

Eleito "Espectáculo de Honra" pelo público do Festivalde Almada em 2010, "O Avarento" será provavelmente otexto de Molière que mais sentimentos contraditóriosprovoca nos espectadores. Dotado de toda a carga político-social que levanta dúvidas e questiona a burguesia e osseus costumes, é igualmente o retrato de como as pessoasconseguem ser levianas ao ponto de não se deixarem serfelizes nem de permitir que os outros, seus próximos efamiliares, também o sejam. Aqui a personagem principal,Harpagão (brilhantemente interpretada por Jorge Pinto), é

© M

arga

rida

Dia

s

CASAMENTO EM JOGOaté 31 JUL . 5ª a Sáb às 22h | Dom às 17h | M16

CASAMENTO EM JOGO

Cucha CarvalheiroRogério Samora

cenografia Ana Vaz luz João Paulo Xavier

de Edward Albeeencenação Graça P. Corrêa

apoia o teatro

HORÁRIO DEVERÃO. 22H

40% com

este cupão

Válido até 31 JUL

PARA

2 PESSOAS

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HORÁRIO DE

o detentor da palavra, é quem manda e desmanda, nummisto de orgulho e avareza. Um homem capaz de vendera filha a quem não a merece (mas que tem dinheiro desobra) do que a deixar pacificamente com um rapaz maissimples, mais humilde. Um homem que em vez de dar decomer a dez pessoas, apenas o faz a oito. Um homem quenão "Dá" os Bons-dias, mas sim, que os "empresta". Umhomem capaz de nos fazer sentir o maior ódio, como nosarranca a maior gargalhada mediante tanta sovinice.

Estreado no Teatro Carlos Alberto em 2009, regressaagora ao mesmo espaço com encenação de Rogério deCarvalho.

FICHA TÉCNICA: Autor: Molière; Tradução: Alexandra Moreira

da Silva; Encenação: Rogério de Carvalho; Cenografia: Pedro

Tudela; Figurinos: Bernardo Monteiro; Música: Ricardo Pinto

Desenho de luz: Jorge Ribeiro; Assistência de encenação:

Emília Silvestre; Interpretação: Jorge Pinto, Emília Silvestre,

Clara Nogueira, Isabel Queirós, Pedro Galiza, Vânia Mendes,

Miguel Eloy, António Parra, Júlio Maciel, Tiago Araújo, Ivo Luz

Silva; Produção: Ensemble - Sociedade de Actores

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O DISCURSO DO REI

Coroado rei após a abdicação

irmão, Jorge VI, pai da actual

Rainha de Inglaterra, assumiu

o trono com alguma relutân-

cia. Afectado por uma forte

gaguez que o

tornava inapto

para o cargo,

procura a ajuda

de um médico,

Lionel Logue,

que, com uma

terapia pouco convencional

para um monarca, consegue

bons resultados, permitindo-

lhe liderar o país na Segunda

Guerra Mundial.

Uma história épica, baseada

em factos verídicos, que

cativou os espectadores

(incluindo a actual Rainha) e

conquistou os Óscares mais

importantes da cerimónia

deste ano - Melhor Filme e

Melhor Realização). Assinado

pelo jovem e promissor rea -

lizador britânico Tom Hooper

, o filme é um retrato cati-

vante do monarca e da

relação especial que ele estab-

eleceu com o médico, com

duas notáveis interpretações:

Colin Firth (Óscar de Melhor

Actor) e Geoffrey Rush

(nomeado para Óscar de

Melhor Actor Secundário).

TÍTULO ORIGINAL: The King´s

Speech; REALIZAÇÃO: Tom

Hooper; COM: Colin Firth,

Geoffrey Rush, Helena Bonham

Carter, Guy Pearce; GB, 118m,

Cor, 2010; EDIÇÃO: Zon

Lusomundo

CISNE NEGRO

Nina (Portman) é uma bailari-

na da Companhia de Dança

de Nova Iorque que, tal como

as suas colegas, se dedica

quase exclusivamente, e de

forma obsessiva, á sua profis-

são. Ela vive com a sua Mãe,

Erica, uma antiga bailarina

que exerce um controlo rígido

sobre a sua vida. A pressão da

perfeição e a concorrência de

uma nova bailarina vão ter

consequências profundas…

Protagonizado pela talentosa

Natalie Portman (Óscar de

Melhor actriz), o filme é rea -

lizado de

forma bri -

lhante por

Darren

Aronofsky (A

Vida Não é um

Sonho, 2000,

O Wrestler ,2008) e teve hon-

ras de abertura do Festival de

Veneza no ano passado. Uma

viagem alucinante e trágica

pelo universo da Dança.

TÍTULO ORIGINAL: Black Swan;

REALIZADOR: Darren Aronofsky;

COM: Natalie Portman, Mila

Kunis, Vincent Cassel, Barbara

Hershey, Winona Ryder; EUA,

108m, Cor, 2010; EDIÇÃO:

Castello Lopes Multimédia

O MÁGICO

No final dos anos 50 do sécu-

lo passado, uma revolução

agita o universo do music-

hall: o sucesso do Rock atira

para o esquecimento os outros

artistas: acrobatas, artistas de

variedades e ventríloquos que

passam a estar fora de moda.

O nosso herói, um Mágico,

começa a perceber que per-

tence a esta categoria de artis-

tas em vias de extinção. Viaja

de terra em terra não con-

seguindo fixar-se em nenhu-

ma pois não consegue arranjar

trabalho. A sua vida mudará

ao chegar a uma

pequena aldeia

no Norte da

Escócia onde

conhece a jovem

Alice.

O mestre Jacques Tati deixou

á sua filha um argumento por

filmar e o realizador Sylvain

Chomet (autor de Belleville

Rendez-Vous) agarrou-o e assi-

nou esta pequena obra-prima

do cinema de animação.

Nomeado para o Óscar de

Melhor Filme de animação, O

Mágico, é uma homenagem a

Tati e uma bonita história de

amizade entre um velho mági-

co e uma rapariga, num

mundo em mudança.

TÍTULO ORIGINAL: L'illusionniste;

REALIZAÇÃO: Sylvain Chomet;

VOZES : Jean Claude Donda,

Eilidh Rankin

GB/França, 80m, cor, 2010;

EDIÇÃO: Castello Lopes

Multimédia

FORA DA LEI

Expulsos da sua terra, a

Argélia, três irmãos e a sua

mãe separam-se. Messaoud

vai combater para a guerra da

Indochina. Em Paris,

Abdelkader lidera um movi-

mento de independência da

Argélia e Saïd enriquece á

custa dos negócios da noite e

dos clubes de Boxe de Pigalle.

O destino deles, unido em

torno do amor da Mãe, estará

ligado ao duma nação em luta

pela independência e pela

Liberdade.

A luta pela independência da

Argélia é o tema principal do

filme que abre com uma

sequência notável

recriando o mas-

sacre de Sétif onde

morreram cente-

nas de argelinos

que desfilavam

pacificamente apelando á inde-

pendência do seu país. Por isso,

o filme causou forte contes-

tação no Festival de Cannes de

2010 e se tornou num dos

acontecimentos do cinema

francês do ano tendo sido

nomeado para o Óscar de me -

lhor filme Estrangeiro.

TÍTULO ORIGINAL: Hors La Loi;

REALIZAÇÃO: Rachid

Bouchareb; COM: Jamel

Debbouze, Roschdy Zem, Sami

Bouajila, Sabrina Seyvecou;

França/Argélia/Tunísia, 138m,

cor, 2010; EDIÇÃO: Zon

Lusomundo

Tempo de férias, tempo para quatro escolhas marcantes. Quatro filmes que estiveram em foco na festa 2011dos Óscares: "O Discurso do Rei", grande vencedor dos prémios da academia; "Cisne Negro", com a melhoractriz do ano; "O Mágico", que ficou a um passo da glória no cinema de animação; e "Fora da Lei", sobre aGuerra de independência da Argélia, nomeado para o Óscar de melhor filme estrangeiro. Sérgio Alves

Óscares 2011

Boavida|Cinema em Casa

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Boavida|Grande Ecrã

Excepções à regraApesar da variedade de estreias que se anuncia, os dois meses que se avizinham são bastantepromissores com os novos filmes de Robert Redford, Tom Hanks, Pablo Trapero e Daniele Luchetti.

Joaquim Diabinho

Aépoca que o país vive não é amelhor, evidentemente, maspara uma maioria dos especta-dores fica a chamada de

atenção: serem curiosos ou estimuladospara a descoberta de um pequeno conjun-to de quatro obras de excepção que fazema diferença (encaixam bem nos hábitos egostos do público em geral) e, por isso,valem a pena ser fruídas em toda a pleni-tude.

Em "Larry Crowne", segundo filme deTom Hanks, actor sobejamente conhecido(oscarizado duas vezes) que em 1997 seestreara na realização com "The Wonders", dando prova deum outro talento, é no seu desempenho ao lado de JuliaRoberts que Hanks se revela extraordinário, num trabalhocompositivo "imprevisível" – um homem de meia-idade,proactivo e honesto, é despedido de uma empresa por nãopossuir formação superior resolve ingressar na universi-dade...- por onde perpassa a ideia de que é preciso forçade vontade para superar dificuldades (a recessão?)e darvolta à vida, – é tudo uma questão de saber e equilíbrio.Uma comédia romântica, relativamente inconvencional eagradável. Nas salas a 7 julho.

De "The Conspirator" (na foto)convirá lembrar, tendo em

conta o relativo desconhecimento de quepadece a sua obra entre os novos públicos,que Robert Redford se distanciou da con-cepção do sistema hollywoodense. Actorícone, realizador independente, activistaliberal, criador do Sundance Film Festival,Redford regressa em força com um dramapolítico histórico centrado no processo daprimeira mulher (Marry Surratt) executadanos Estados Unidos por alegada cumplici-dade com John Wilkes Booth no assassina-to de Abraham Lincoln, em 15 de Abril de1865. Solidamente construído, pleno desombras e desencanto, "The Conspirator"éum daqueles filmes (realistas) raros e inco-muns que teimam em manter vivo o

espírito crítico face aos usos indevidos dos diversospoderes. Estreia 21 Julho.

Quanto a "Carancho"("Abutres"), do argentino PabloTrapero vale notar que por detrás da vulgar história deamor, em ambiência realista, entre uma jovem médica eum advogado de seguradoras se encontra o descarnadopanorama de uma sociedade que faz da tragédia dos aci-dentes de viação (na Argentina morrem todos os anosmais de oito mil pessoas nas estradas e mais de cento evinte mil ficam feridas) um negócio de grandes e lucrativasdimensões. O tom policial que contamina todo o filme nãosuaviza, nem por um instante, o olhar duro que o tema

incómodo merece. Estreia prevista a 7 Julho.Finalmente, "A Nossa Vida", de Daniele

Luchetti, um dos mais promissores cineastasitalianos dos últimos anos. E, porventura, é-onão tanto pela novidade temática (a vida deClaudio e da sua família são perturbadas por umacontecimento dramático na empresa onde eletrabalha) mas pela capacidade de intuir o dramade uma geração. Melodrama social e político,"La Nostra Vita" é um filme que ama a vida eque acredita na amizade, no amor, na soli-dariedade, nos filhos. Um filme carregado desinceridade sofrida. Prémio "melhor actor" paraElio Germano em Cannes o ano passado. Estreiaprevista: 25 Agosto. n

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Boavida|Tempo Informático

Tecnologia em férias

Gil Montalverne [email protected]

Por exemplo, mas não só, vejamos o uso impres -cindível de um computador. Nem pensar, comooutrora, em levar o portátil. Há bons e baratosNetbooks que chegam perfeitamente para o

essencial: ver email com pen de banda larga cujo cartãopré-pago custa 15 Euros para 10 horas, ver as fotos evídeos que vamos fazendo, jogar os nossos jogos preferi-dos e é quanto basta. Os Netbooks são pequenos, rápidos,com boa capacidade de disco e a escolha é variada, entreos 250 e 300 (Asus, Acer,Tsunami e mesmo Toshiba) comecrã de 10 “. Mas se quiser mais pequeno talvez aindaencontre o mais pequeno domundo que cabe na palma damão: o Sagem Spiga com 5” atécabe no bolso. Navegar na Net,sistema XP, ecrã táctil de alta re -solução, leitor SD para aumentaro armazenamento, 315 gramasde peso. Que mais seránecessário? É só procurar.

IMAGINE que nas férias, em plenodescanso, mesmo até repousandona cama, deseja ver os seusvídeos preferidos. A soluçãoexiste num pequeníssimo projec-tor chamado PICO que liga aoseu portátil pela porta USB. Entreos vários modelos, pode optarpelo mais económico PPX1020(199€) ou o PXP1430 (299€).

Contrariamente ao período de férias propriamente dito que gostaríamos de ver o mais alargado eeconómico possível, muito desejamos também que tudo o que levamos connosco seja o mais pequenoe mais cómodo para que o seu uso e transporte não pese muito.

Desfrute dos seus vídeos directamente da memória inter-na, cartão SD ou uma unidade USB. A Tecnologia LED dá-lhe uma luminosidade que varia nos dois microprojec-tores entre 20 e 30 lúmens – o que é excelente - e temuma qualidade de cinema perfeita. A projecção ao fundodo quarto ou num painel de ecrã até 3 metros atinge as 80polegadas, o que é perfeitamente aceitável. Pode usar umadaptador de corrente mas a bateria dá para cerca de 2horas e meia e a capacidade de memória varia entre osdois gigas do 1430 ou no cartão de memória que utilizarno 1020. Claro que existem outras diferenças que têm deconsiderar. O PXP1430 acresce a essas qualidades umtelecomando, leitor de MP4, entrada de áudio e de vídeopara dispositivos externos e altifalante estéreo. Quanto aopeso, condição a que referimos, a escolha é entre 150 e290 gramas. Um verdadeiro sonho.

MAS ESTAMOS A FALAR de férias e nunca é demaisaproveitar para lembrar a segurança durante a conduçãonas deslocações que de vez em quando vai fazer pelaestrada. O telemóvel é uma necessidade. Mas sabe quenão pode atender salvo com um auricular. Para sua como-

didade, escolhemos um dispositi-vo inovador que alia o conforto àeficiência. Quantas vezes já tevedificuldade em ouvir e fazer-seouvir ao telemóvel por culpa doruído circundante? Com o BoseAuricular Bluetooth desfruta deconversações com som natural,em telemóvel Bluetooth, graças àtecnologia da Bose que adapta ovolume do auricular ao somambiente. A qualidade de voz dooutro lado da linha é asseguradapor um microfone com rejeiçãode ruído. Autonomia de 4,5horas. Nunca houve melhorbem-estar, estabilidade em movi-mento e sobretudo: segurança aovolante. Tenha umas BoasFérias. n

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Boavida|Ao Volante

Sistema Start/Stop no Opel AstraA gama Opel Astra passa a contar com novas versões 1.3 CDTI ecoFLEX Start/Stop, tanto na variante decarroçaria de cinco portas, como na station wagon Sports Tourer.

JUL/AGO 2011 | TempoLivre 79

Carlos Blanco

Com a integração de série do sistema Start/Stop, omotor 1.3 CDTI de 95 cavalos de potência vê asua reconhecida economia reforçada. Ao desli-gar automaticamente o motor quando o

automóvel está parado no trânsito, esta tecnologia permitereduzir ainda mais o consumo de gasóleo e as emissões deCO2. O novo Astra 1.3 CDTI ecoFLEX de cinco portas re -vela um reduzido consumo de gasóleo sendo as emissõesem ciclo misto de apenas 3,9 l/100, contra 4,1 l/100 daanterior versão sem Start/Stop.

Quando o sistema Start/Stop desliga o motor, os sis-temas de climatização de direcção assistida e de assistên-cia à travagem permanecem activos. A função Start/Stopnão é activada se o sistema detectar potencial risco desegurança ou se a paragem do motor afectar o seu fun-cionamento ou diminuir o conforto no habitáculo.

As novas versões do Opel Astra apresentam um desem-penho aerodinâmico superior, graças à entrada de ar va -riável para o compartimento do motor. A grelha dianteirapossui um deflector activo que abre quando o automóvelcircula a baixas velocidades (situação em que a aero -dinâmica não é tão importante e o motor necessita de maisar para o circuito de arrefecimento) e fecha automatica-mente quando se circula a maior velocidade, optimizando

desta forma o seu desempenho. Esta cortina de funcionamento automático é comple-

mentada por várias melhorias ao nível da performance.Em matéria de condução económica, os condutorespodem contar com um indicador de mudança de veloci-dade colocado no painel de instrumentos. A luz acendequando o regime e a carga do motor atingem o patamarideal para engrenar uma velocidade acima.

O nível de equipamento Enjoy do novo Opel Astra pos-sui de série ar condicionado, quatro vidros eléctricos,fecho centralizado de portas com comando à distância,computador de bordo, rádio-leitor de CDs compatível comMP3, programador de velocidade e espelhos de regulaçãoeléctrica, entre outos. As versões Cosmo adicionam desérie elementos como travão de estacionamento eléctrico,bancos forrados a couro e tecido, sistema de som com setealtifalantes e sensores de chuva e de faróis.

Para além do conforto, também o foco na segurança éextensivo aos novos Astra ecoFLEX Start/Stop. Airbagsfrontais, laterais e de cortina, encostos de cabeça activos,cintos de segurança com tensores e limitadores de força,sistema Isofix para cadeiras de criança e controlo elec-trónico de estabilidade (ESC) fazem parte do equipamentode série. A gama Astra ecoFLEX Start/Stop está disponívelno mercado português com preços a partir de 23.050euros. n

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Boavida|Saúde

Anorexia versus bulimiaCom a chegada do Verão e a necessidade de aligeirar as fatiotas, vêm à superfície as insegurançasgeradas pelos descontentamentos mais ou menos profundos com o corpo e a imagem que cada um fazde si próprio. Este fenómeno é mais frequente entre as mulheres, mas não deixa de afectar cada vezmais os homens.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

Aresposta não tarda, as indústrias da moda, dacosmética e a farmacêutica aparecem,com alguma elegância e inocênciaforjada, para dar resposta a esta

necessidade que elas mesmo criaram. Éespantoso ver brotar, como cogumelos sil-vestres, dietas e mezinhas para todos osgostos, sendo que algumas, tais como oscogumelos, também são “venenosas” eaté podem matar.

Em tudo na vida é preciso ter bomsenso e nem toda a gente pode aspirara ter um corpinho enxuto e bemtorneado, como os que aparecem nas capasdas revistas de moda. Podemos e devemos tercuidado com o nosso corpo, ter uma alimentaçãosaudável e de acordo com o dispêndio de energiaexigido pelo trabalho e pelas outras tarefas diárias,fazer exercício de forma regular, porque assim melho-ramos a saúde e logo a nossa aparência também me -lhora. Ter presente que ninguém pode fugir à suaidentidade genética.

As adolescentes e as mulheres jovens são aquelasque são mais sensíveis aos modelos estereoti-pados de beleza, pelo que correm maiorrisco de sofrer de perturbações do com-portamento alimentar. Os erros ali-mentares na adolescência podem com-prometer definitivamente o desenvolvi-mento harmonioso do corpo. Tanto aanorexia como a bulimia surgem nestafase da vida e há a ideia de que são asduas faces duma mesma moeda. Errado!São doenças bem distintas, embora nãosejam de todo o oposto uma da outra.

Na anorexia, o doente apresenta umamassa corporal inferior à esperada para o seusexo e grupo etário. O doente não se consideradoente – e de facto, os outros comportamentos

não estão, em geral, comprometidos. No entanto faz umaavaliação da sua imagem e da sua aparência profunda-

mente distorcida. Olha-se ao espelho e con-sidera-se persistentemente “gordo”, em -

bora o peso seja abaixo do esperado etodos à sua volta verifiquem que estárealmente magro ou mesmo muitomagro.

Já a bulimia é uma perturbação docomportamento alimentar, caracteri-

zada por episódios recorrentes decompulsão alimentar, em que o

doente consome quantidades anor-malmente grandes de alimentos duranteum curto espaço de tempo. O doente

perde o controlo sobre si mesmo, é como sesofresse duma fome insaciável. Estas sessões de

perfeita “orgia alimentar” são, em regra, seguidasde um forte sentimento de culpa, e porque tambémtem receio de engordar desmesuradamente, o doenteprovoca o vómito ou toma laxantes para evacuar eimpedir a absorção desses alimentos.

O doente que sofre de bulimia não quer engordar.Está constantemente a pensar em comida e namaneira de evitar comer demais. Esta resistênciapermanente acaba por levar ao descontrolo total, o

que acontece duas ou três vezes por semana.Ao contrário do doente com anorexia

que não se reconhece como doente, odoente com bulimia tem uma baixa auto-estima, reconhece que o seu comporta-mento não é normal, esconde-se para

provocar o vómito e, em geral, não procuraajuda porque sente vergonha.

Quer os doentes com anorexia, quer osdoentes com bulimia carecem de apoio psicológi-

co. Para alguns doente com bulimia, a psicoterapiatem-se mostrado suficiente. No entanto, a maior parte

destes doentes tem necessidade de ser medicada comfármacos anti-depressivos e seguidos na consulta daespecialidade. n

80 TempoLivre | JUL/AGO 2011 ANDRÉ LETRIA

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Page 81: Tempo Livre 228 - Julho | Agosto

Boavida|Palavras da Lei

? O meu ex marido tem,

sistematicamente, faltado ao

pagamento da pensão de alimentos ao

nosso filho menor, fixada pelo Tribunal.

Esse atraso já dura há mais de cinco

meses. E ele não tem pago a pensão,

porque julga que ficou desobrigado, por

ter uma nova relação, cuja companheira

se encontra grávida, e também porque

ele acha que gasto o dinheiro da pensão

em coisas que não interessam ao nosso

filho, apesar de provas em contrário. O

meu filho não tem acesso a

explicadoras, por causa dele não pagar

a pensão, o que o afectou nas notas da

escola. Terei que recorrer ao tribunal de

família e menores de novo?

Sócio devidamente identificado – Mafra

Pedro Baptista-Bastos

ALei nº 61/2008, de 31 de Outubro, alterou oregime do divórcio, passando comummente achamar-se de Novo Regime do Divórcio (NRD).Entre outros aspectos, regulou-se a situação do

incumprimento de pagamento de prestação de alimentos.Onde a Organização Tutelar de Menores considerava osalimentos a menor e seu incumprimento como um chama-do incidente processual – isto é, dentro de um processo deregulação de poder paternal estabelecido e fixado pelo tri-bunal, o mesmo sofre vicissitudes; ocorrendo uma dessasvicissitudes, escusava-se de abrir um novo processo, e sus-citava-se o “incidente de incumprimento”, que o tribunal,diante dos factos e provas, apreciava – o NRD, entremuitas alterações significativas, também modificou os arti-

gos 249º e 250º do nosso Código Penal. E estes dois artigos dizem respeito, precisamente, a

este género de situações, prevendo, porém, o artigo 249º achamada “Subtracção de menor” e o 250º a “Violação deobrigação de alimentos”. Ao caso, interessa-nos o artigo250º do Código Penal.

Diz este artigo, nos seus nºs 1 e 2, que quem estiverlegalmente obrigado a prestar alimentos, estiver emcondições de o fazer e não cumprir no prazo dos doismeses a seguir ao seu vencimento, é punido com pena demulta de 120 dias; a prática reiterada é punida com penade prisão até um ano ou pena de multa até 120 dias.

Se esse incumprimento afectar necessidades funda-mentais do menor, é punido com pena de prisão até doisanos e pena de multa até 240 dias – nº 3 do artigo 250º doCódigo Penal.

De acordo com a situação da nossa leitora, pode lançarmão de uma queixa-crime contra o seu ex marido.

O uso deste meio que o NRD promulgou ainda não émuito frequente. Terá que provar a chamada “actividadepenal” em si, isto é, a falta de pagamento injustificadopelo seu ex marido, a actuação dele, tal como a normapenal prevê, já não sendo necessário provar o perigo queo seu filho sofreu, decorrente dessa actuação. n

Falta de pagamento de pensão dealimentos a um filho menor

JUL/AGO 2011 | TempoLivre 81

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Page 82: Tempo Livre 228 - Julho | Agosto

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 28Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

(horizontais): 1-ATA; ALOMBAR; COM. 2-MINA: IREIS; MOVO. 3-ADORO; T; VIRAR. 4-ROTA; SARAR; ROSA. 5-A; A; PAGODES; A; R.6-RL; LIRA; ÁSIA; PÁ. 7-ATEAR; PALMA. 8-CR; IDEM; TIRA; UT. 9-R;V; ATACARA; P; I. 10-ANEL; AUREO; SAIS. 11-VADIO; O; DOURA.12-ANOS; SOMAR; OTAN. 13-SOR; COOVIA; ASA.

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

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N.º 28 SOLUÇÕES

Palavras Cruzadas | por José Lattas

HORIZONTAIS: 1-Atrela; Derrear; Preposição, que geralmenteestabelece relação de companhia. 2-Jazigo; Abalareis; Abano.3-Respeito; Apontar. 4-Caminho; Consolidar; Nome defeminino. 5-Templos chineses. 6-Rodoviária de Lisboa (sigla);Instrumento de cordas muito usado na antiguidade;Continente; Protactínio (s.q.). 7-Abrasar; Primazia. 8-Crómio(s.q.); Utiliza-se para evitar a repetição, do autor, nas citações;Apara; Antiga designação da nota dó. 9-Afrontara. 10-Cachucho; Brilhante; Derivas. 11-Arruaceiro; Desculpa. 12-Aniversário; Acumular; Sigla portuguesa de NATO. 13-Freira;Cantadeira; Alça.

VERTICAIS: 1-Amarizar; Encostadores. 2-Participo passado doverbo ter; Chaminé; Elemento de composição de palavras, queexpressa a ideia de pequeno 3-Comenta; Administrador. 4-Pedra de altar; Foro; Rio que banha a cidade de Leiria. 5-Chalaça. 6-Percebi; Sarrafo; Livro de poemas de AntónioNobre. 7-Letra grega (invertida); Nome de letra, do alfabetoportuguês; Amaldiçoado; Porco (invertido). 8-Principalunidade de medida de comprimento; Crómio. 9-Bismuto (s.q.);Sufixo que exprime a ideia feito de; Sigla de taxas de juro,usadas nos empréstimos bancários; Abreviatura de avenida.10-Artigo definido (pl.); Sopro; Goza. 11-Fechara as asas paradescer mais depressa. 12-Estação Orbital Internacional;Enfiada; Consto. 13-Auréola; Catálogo. 14-Ovário dos peixes(pl.); Asneira; Assanhos. 15-Aposentara; Xarope.

82 TempoLivre | JUL/AGO 2011

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Page 83: Tempo Livre 228 - Julho | Agosto

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Page 84: Tempo Livre 228 - Julho | Agosto

BOOKSMILE

ACADEMIA DAS FADAS

BRILHANTES: FESTA À

MEIA-NOITE

Titania Woods

Twink vai passar o

aniversário na escola, longe

da família, mas as suas

amigas fadinhas organizam-

lhe uma festa à meia-noite. O

problema surge quando as

professoras descobrem o

evento!

CLUBE DO AUTOR

CAMINHOS DO CORAÇÃO

Helena Sacadura Cabral

Entre o sonho e a realidade,

este mapa sentimental

conduz-nos

ao coração,

através da

partilha de

experiencias

e histórias

que reflectem diferentes

formas de amar, de errar, de

aprender e de viver.

OS GRANDES MISTÉRIOS

DA HISTÓRIA

Canal de História

A humanidade está repleta

de mitos, lendas e mistérios.

Desde as civilizações mais

remotas, continentes

perdidos, até ao nosso

passado

recente são

inúmeros os

factos

históricos a

decifrar com

o rigor e perícia do Canal de

História.

EDITORA LICORNE

DAS CERCAS DOS

CONVENTOS CAPUCHOS

DA PROVÍNCIA DA

SOLEDADE

António Manuel Xavier

Um livro dedicado à

edificação das cercas dos

conventos

capuchos,

situado a norte

do rio Tejo, que

reflecte a forma

como estes

estariam repartidos em

terreiros e muros ou

preenchidos por bosques e

jardins, abençoados por

capelas e grutas…

PONÇ PONS PESSOANAS

A poesia de Ponç Pons,

escritor

espanhol que

figura nas mais

importantes

antologias.

A presente

edição recebeu diversos

prémios em Espanha e

apresenta-se, agora,

traduzida por Manuel de

Seabra.

EDITORIAL PRESENÇA

O REGRESSO DOS DEUSES

Rebelião

Pedro Ventura

Após sono de décadas, a

bela guerreira aurabrana

desperta num tempo que

parece não ser o seu. A

antiga rainha, conhecida

como a

Portadora da

Luz, está

destinada a

protagonizar

uma missão

quase

impossível - salvar o mundo

da ameaça e domínio

Holkan.

AMOR, PONTO E VÍRGULA

Andrew Nicoll

Algures no Báltico, entre

exóticas e curiosas

personagens, a

narradora

omnisciente e

omnipresente,

Santa Walpurnia,

uma virgem barbuda e

mártir, confere ao romance

um inigualável grau de

humor, na linha do realismo

mágico.

C

Tom McCarthy

Filho de um homem

fascinado por experiências

com comunicações sem fios

e director de

uma escola

para

crianças

surdas,

Serge

Carrefax

nasce em 1898. Entre o

silêncio e o ruído de estática

a sua vida fica marcada

pelos mistérios da

comunicação.

Um romance que procura

decifrar os códigos e ritmos

obscuros que regem a vida e

nos mantêm a todos

interligados.

O TEMPO QUE JÁ NÃO

VIVEREI

Fabio Volo

Com uma infância dominada

pela ausência da figura

paterna,

Lorenzo, agora

adulto, luta

por conquistar

o amor do pai

e da amada.

Mas, só quando adquirir

maturidade emocional e

assumir os afectos

conseguirá restabelecer o

equilíbrio interior, aceitando-

se a si e aos outros.

REFLEXOS NUM OLHO

DOURADO

Carson McCullers

Numa pequena base militar

americana a

rotina e o

isolamento

criam uma

tensão

insuportável

e agudiza

perigosamente as

contradições. Um romance

que explora

os limites da normalidade e

o foro íntimo das pulsões,

que se lhe opõem.

EDIUM EDITORES

CAIS DA ALMA

José Carlos Moutinho

Um livro de poesia que evoca

os sentidos, as

emoções e os

desejos do

autor em

diferentes fases

da sua vida.

ClubeTempoLivre > Novos livros

84 TempoLivre | JUL/AGO 2011

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Page 85: Tempo Livre 228 - Julho | Agosto

EUROPA AMÉRICA

O VAMPIRO ARMAND

Sinfonia para Sybelle

Anne Rice

Acompanhando o percurso

do vampiro Armand por

cenários de luxo e elegância,

ou de adoração ao demónio.

Este herói, eternamente

vulnerável, será forçado a

escolher entre a imortalidade

e a salvação da sua alma.

INOCENTE

Scott Turow

Dois homens defrontam-se

num

fascinante

duelo

psicológico.

Quando

Sabich, juiz

de um

tribunal de apelação,

encontra a sua mulher morta

em circunstâncias

misteriosas, Molto acusa-o

de homicídio pondo em

marcha um julgamento que

mostra uma sala de

audiências tensa e explosiva.

MANUAL DO DETECTIVE

Jedediah Berry

Charles Unwin, um

meticuloso funcionário de

uma agência de detectives,

após misterioso

desaparecimento do lendário

agente Sivart, terá de

descobrir o

seu

paradeiro,

enquanto

protege a

cidade do

crime que assombra os

habitantes.

AS NOVAS AVENTURAS DA

CADEIRA-DOS-DESEJOS - A

TERRA DOS CONTOS DE

FADAS

Enid Blyton

A Cadeira-dos-Desejos leva

Jessica e Tiago à Terra dos

Contos de Fadas, um mundo

onde as histórias de

encantar são realidade.

PAULUS EDITORA

CARTA AOS CRISTÃOS DO

SÉCULO XXI

Maria Stella Salvador

Seguindo o seu estilo

testemunhal devocional, a

autora apresenta um

caminho

espiritual

baseado nas

cartas do

Apóstolo

São Paulo.

OS PIRATAS QUE

ROUBAVAM VERDADES

Rita Vilela e Ana Sofia

Caetano

De forma divertida, o livro

promove a

reflexão em

torno de

princípios e

de aspectos relevantes para

a formação da criança e sua

relação com os outros.

BIOÉTICA EM DIÁLOGO

COM OS JOVENS

Giovanni Russo

Fundamental para

aprofundar a problemática

bioética a nível

didáctico, a obra

aborda em forma

de diálogo novas

fronteiras da

vida, da ciência e do

ambiente. Um importante

contributo sobre os valores

essenciais à vida.

LUCERNA

SANTOS DE PORTUGAL

João César das Neves

De forma sucinta, a obra

revista e

actualizada,

inclui

informação

sobre os Santos

de Portugal, figuras

abençoadas que brilham ao

longo dos tempos.

SOPA DE LETRAS

NA LUZ DA SOMBRA DE

MESTRE AQUILINO

Manuel de Lima Bastos

Um livro que cruza

memórias pessoais com

figuras do universo

aquiliniano,

onde a ironia, a

critica social e

politica marcam

presença.

Relembra a obra de Aquilino

Ribeiro, um dos escritores

mais apaixonantes da

literatura portuguesa.

A FRAGATA PALLADA

Ivan Alexandrovich

Goncharov

A fragata Pallada iniciou uma

viagem de circum-navegação

no báltico em

1852 e, após ter

sido afundada

pela tripulação

dois anos mais

tarde, foi substituída pela

fragata a vapor, Diana, que o

maremoto de Shimoda

destruiu no final do mesmo

ano. Um canto do cisne de

um tipo de navegação (à

vela) condenado a

desaparecer, que dedica

capítulos à Madeira e Cabo

Verde.

VOGAIS

GENO: O TALISMÃ DE

ANOKI

Moony Witcher

Geno é um rapaz de 11 anos

capaz de mover objectos

com o

pensamento e

ler a mente das

pessoas. Ao

tentar desvendar

os mistérios da sua infância

conhece Madame Crikken,

uma anciã enigmática e

sábia que o vai ajudar a

conhecer todos os seus

poderes.

Glória Lambelho

JUL/AGO 2011 | TempoLivre 85

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Page 86: Tempo Livre 228 - Julho | Agosto

ClubeTempoLivre > Cartaz

COIMBRA

JULHO

Música: dia 9 às 22h –

grupos Bairrada Brass

Orquestra e Dixie Gringos

Jazz Band na Pça do

Comércio em Coimbra e,

pelas 17h, concerto de aniv.

da Filarmónica de Arganil, em

Arganil; dia 17 às 16h –

Encontro de Bandas em

Quiaios; dia 22 às 21h30 -

Orquestra de Sopros de

Coimbra na Igreja Matriz de

Tábua (76º Aniv. INATEL); dia

24 às 21h30 - Orquestra de

Sopros de Coimbra no

Conservatório de Música de

Coimbra.

Folclore: dia 17 às 21h30 -

Concertinistas, cantadores ao

desafio e Gr. Etnográfico da

Região da Lousã, em Lousã.

Feira: dias 22 a 31 – Stand

INATEL na EXPOFACIC em

Cantanhede.

Cursos Iniciação à

Pintura: inscrições na

Agência Inatel.

CASTELO BRANCO

JULHO

Folclore: dias 8, 9 e 10 – XVI

Festival em Enxames

(Fundão); dias 8 a 16 - 15º

Encontro Nacional de Folclore

em Castelo Branco; dias 9 e

10 – festival de folclore e

jogos Tradicionais em Unhais

da Serra.

Teatro: Até ao dia 20 – 1ª

Mostra de Teatro Escolar na

Escola EB 2/3 em Teixoso.

ÉVORA

JULHO

Espectáculos: Agência

INATEL (no pátio) às 21h, dia

6 - Filarmónica Liberalitas

Júlia, dia 13 - Rancho Folcl.

Flor do Alto Alentejo, dia 20 -

Filarmónica União

Calipolense e dia 27 -

Musical União Vimieirense.

Evento: dias 16 e 17 - Rancho

Folcl. Flor do Alto Alentejo e

Banda Filarmónica de

Redondo na Casa do Povo do

Freixo.

Malha: dia 17 - Troféu Malha

em Borba

VIANA DO CASTELO

JULHO

Exposição: até ao dia 29 -

Artes Plásticas de Arnaldo

Rodrigues na Agência

INATEL.

Eventos: dia 15 às 21h30 - “No

Mundo das Mulheres” pela

Esc. de Mús.de Perre, no salão

Paroquial de Perre; dia 16 às

21h30 - “As Vidas dos Outros”

na J. de Freg. de Vila Franca.

Passeios: dias 9 e 10 -

Convívio Tourém / Perre pelo

Gr. Cicloturismo de Perre.

Cicloturismo: dia 15 às 9h -

Passeio em Freixieiro Soutelo e às

21h30 “Viana à Noite” em Sta

Marta Portuzelo; dia 31 às 8h -

circuitos em Perre e em Monte

de São João.

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Page 87: Tempo Livre 228 - Julho | Agosto

A"cronista" da cidade chegou e disse: - Já todos par-tiram. Só eu fiquei. A levíssima sugestão de queixa é contrariada pelaluminosidade do riso e pela inusitada alacridade

com que faz deslizar o pano do pó sobre a superfície polidados móveis. Ao olhar inquisitivo que ergo do papel respondeque também ela partirá, com toda a família, mas só amanhã,pago já este seu quinhão de palavras e suor de hoje. E relata,enquanto limpa:

- Amanhã é feriado. E depois há ponte - fim-de-semanaprolongado. A cidade já está vazia…

Enumera os possíveis destinos de arribação: Algarve, sobre-tudo, em corridas de um ao outro extremo do país; Benidorme;Canárias… Ela ficará por perto, desta vez. A crise. A despesado outro fim-de-semana no Douro. E no seguinte, do casamen-to do filho de amigos, a 100 € por cabeça. E no outro ainda, aida a Fátima. Tudo a custar um "dilúvio". Não sabe como"outros" aguentam: pequeno-almoço, lanche e cafés, no café;alguns nem fazem uma sopa em casa; a prestação das "bom-bas" (carros); a prestação das casas. Desempregados. Uns, por-que não arranjam emprego; outros, porque não querem. Dizemque para ganhar o que ganham a trabalhar têm os subsídios,sem fazer nada. E há os empréstimos. Até para viagens. Elamesma empresta às vezes, do seu pouco. Mas rende: de mileuros, a dez meses, só entrega setecentos.

- Já são trezentinhos que ficam. Coitados dos envergonhados.Esses… O mal foi dos governos e da "subsidiaridade" que veioda CEE: era para comprarem barcos, mas compraram casas,carros, "luxúrias". Agora, comemos sardinha de Espanha epeixe-gato do Vietname. Vem tudo de fora. Até as cebolas. Comose os nossos campos não dessem! Era subsídio para não os tra-balharmos, era subsídio para não pescarmos… A gente "habi-tuámo-nos" ao bem-bom. Agora custa. (É óbvio que os "outros",de que se exclui, e "a gente" se não referem ao jet-set nacional!)

Não interrompo. Presa numa intrincada teia de asso-ciações de ideias, nem tento explicar-lhe que subsidiarieda-de não é o colectivo de subsídio.

A sua demonização do conceito deve-se à ignorância daorigem da designação do mesmo: a versão alemã da encícli-ca "Quadragesimo Anno", sobre a restauração e aperfeiçoa-mento da ordem social em conformidade com a LeiEvangélica, (1931), dirigida pelo Papa Pio XI ao mundo cató-lico (em resposta à Grande Depressão de 1929), em que surgepela primeira vez o termo Subsidiarität na composiçãoSubsidiaritätsprinzip - Princípio da Subsidiariedade. No léxi-co comunitário, o princípio da subsidiariedade é garante dedeterminado grau de autonomia dos Estados-Membros face àComunidade (das regiões face ao poder central, e do indiví-duo face à autoridade) e de ajuda por parte da instância supe-rior sempre que a inferior dela necessite. (Grécia...).

Com ouvido intermitente, vou escutando o retrato sonoro,a negro-e-negro, que com alegre inconsciência faz de si e deuma sociedade que é nossa neste "agora" do nosso continuumhistórico.

O conhecimento do passado ajuda-nos a explicar o pre-sente e a preparar um futuro melhor.

O retrato da sociedade portuguesa que o erudito flamengoClenardo, professor do irmão do Rei D. João III (1521-1557),nos deixa nas suas cartas aos amigos durante os anos queviveu em Portugal só na linguagem difere do da actual "cro-nista" da cidade. Como traços principais, realça a prosápianobiliárquica dos portugueses, que faz deles crónicos endivi-dados "comedores de rabanetes", a facilidade dos costumes, odesamor ao trabalho e o amor à ociosidade, tornados maisgraves pelo amor à ostentação que, à falta de produtividadecompensatória, leva o país à decadência.

Exagerado, chamam-lhe alguns. Lusitanófobo, outros.Realista, consideravam-nos os seus pares nacionais.

Na transparência do horizonte, há um traço de loucuratemperada pela aragem salgada de conchas e crustáceos.Carpe diem. Aceitemos o convite em que, em ritmo ternário,insiste a voz de Leonard Cohen: Ay, ay,ay, ay Take this waltz,take this waltz, take this waltz… Toma esta valsa, toma estavalsa… n

Ainda a propósito de um alegre fim-de-semanaprolongado e de uma subsidiariedademal compreendida...Neste mundo traidor / Nada é verdade, nem mentira. / Tudo depende da cor / Do vidro por onde se mira //Ramón de Campoamor (1817-1901), in: "Humoradas" Trad.: MAVF

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

JUL/AGO 2011 | TempoLivre 87

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Interrompeu a leitura num final de capítuloem que a personagem central sentenciava:“Se não fossem as surpresas, a vida seria umimenso tédio”. São cinco e meia da tarde,

umas dezenas de pessoas partilham comManuela a amenidade da esplanada. Há maissom que movimento, conversas e risos de genterecostada saboreando bebidas frescas e a sombrado toldo.

Numa viagem dos olhos pelos circunstantes,ela conta mais jovens que maduros, mais mulhe-res que homens. A cidade mudou com asmudanças do mundo. Nos tempos distantes daadolescência de Manuela seria improvável aquelegrupo de mocinhas que anima três mesas agrupa-das. Lembra-se de como era diferente. Tem muitoque lembrar, os anos voam e deixam recordações.

No rodopiar da observação, detém-se-lhe avisão num rapaz que parece, por sua vez, olhá-lafixamente. Surpreende-se dada a pouca idade docontemplativo em confronto com a já não poucaidade dela. Épocas passadas, sim, habituara-se aser focada com embevecimento e desafio. E nãosó no apogeu dos vinte, quando tentaram con-vencê-la a participar num concurso de beleza.Como se riu, recusando! Mas também depois,com trinta, os quarenta, e mais, continuou a sen-tir-se alvo de admirativas atenções. Guarda fotose vídeos que documentam a perfeição do rosto ea forma do corpo. Não menos gabadas as pernase as pernas não se alteraram com os passos per-corridos no trilho do tempo.

Espreitando de soslaio, iria jurar que é preci-samente nas pernas que se cravou o olhar domoço. Mas não só. Nota que a percorre dos pés àcabeça como se pretendesse fotografá-la namente em imagem de corpo inteiro. Não podeesconder de si mesma que se sente lisonjeada.Mas, que diabo, é um garoto. Garoto? Terá talvezuns vinte e cinco, trinta anos, uma barba escura,de dois dias, sombreia-lhe o rosto, a camiseta quelhe envolve o tronco não esconde o porte atlético.

Coloca os óculos de sol. Quer verificar se o

rapaz continua a fitá-la, mas sem que ele possaperceber que também é observado. Coisa útil, osóculos de sol. Pode agora mirá-lo livremente.Com quem se parece? Talvez com Odílio, umsegundo e conveniente namorado que a levou àdescoberta de prazeres até então só imaginados.Há quantos anos isso lá vai! Com quem não temparecenças é com o ex-marido, esse fascinouManuela pelo intelecto. Sempre o lembrará comoum conversador brilhante mas estupidamenteciumento e os homens ciumentos, considera ela,não deviam casar-se com mulheres a que osoutros homens não resistem olhar. Por vontadedele, teria de usar sempre casacões, saias a taparos joelhos, sapatos rasos e golas apertadas no pes-coço. Eram frequentes as discussões e o menosque ele lhe chamava era “coquete”.

Que coisa! Não restam dúvidas de que o rapazestá a “mordê-la”, como se dizia em calão antigo.É verdade que ela ainda hoje chama miradasmasculinas, mas agora de veteranos da suageração. Como um vizinho que lhe confidenciouter vontade de voltar a casar-se. E não foi maislonge porque ela atalhou: “Eu não”.

Uma espreitadela ao relógio diz-lhe que sãohoras de ir andando, combinou com a filha,Diana; que mora no Estoril. Mas está a sentir-sebem ali, não será todos os dias que uma pré-refor-mada cativa o enlevo de um jovem bem-parecido.A situação acaricia-lhe o ego. Suspeitará o atrevi-do que também ela está a “mordê-lo”, protegidano esconderijo dos óculos de sol? É um jogo quea diverte e, ao mesmo tempo, lhe agita a sensua-lidade. Reage. Vai retirar os óculos e apontar osolhos aos olhos dele com idêntica fixidez.Apostaria que o descarado baixa a cabeça, oshomens assustam-se quando são enfrentados.

Mas, espera. Ao que se afigura, o galador nãotem pressa de se afastar, acaba de pedir mais umabebida. Por esses breves momentos desviou delao olhar, mas ei-lo de volta, persistente e sem dis-farces. Mais ainda, sorri e esboça um cumpri-mento com leve aceno.

Olhos nos olhos

Os contos do

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Desconcertada, Manuela retribuiu o sorriso,meia aceitação para os avanços dele. De súbito,apetece-lhe fugir. Ainda se semiergue na cadeiramas torna a sentar-se – como desprezar a verti-gem que logo lhe provoca? É a vez de ela pediroutro café e esperar o que acontece. Decide ser aúltima a desistir do pingue-pongue ocular.Pensando melhor, não, decididamente já não éum garoto. E ela não é mulher acabada para asedução, sente-o na insistência dele e na sua pró-pria vontade.

Novo sorriso a que ela corresponde, agoramais expressivamente, é como uma autorizaçãode abordagem. O provocador levanta-se ecaminha para o lugar onde Manuela estremece,entre a surpresa e o contentamento. O quê?Uma aventura? Com um rapaz pouco maisvelho que a sua filha Diana? Só sabe que o ati-radiço lhe reforçou o amor-próprio e é com umgesto que o convida a sentar-se na cadeira emfrente.

Então, ele diz:- Não me reconhece? Sou o Ivo, seu antigo

aluno de Matemática.

A ilusão de Manuela desmoronou-se comoconstrução de açúcar batida por jorro de águagelada.

- Sim, o Ivo – murmura. – Tenho uma ideia.Com os cotovelos fincados na mesa, Ivo apro-

xima mais a cara do semblante desolado dela:- Permita dizer-lhe agora o que não podia dizer

na altura. Eu tinha uma paixão tremenda pela“sotôra”.

Manuela força uma gargalhada que sai amargacomo um gemido:

- Tinha? Uma garotice, claro. Não é raro.Ivo segura-lhe nas mãos e acrescenta:- Talvez garotice, mas com todo o nexo. Tenho

estado a observá-la e tão encantado como nessetempo. Vou directo: aceita jantar comigo?

Entontecida, só lhe saí uma pergunta:- Hoje?- Sim, hoje. De preferência na minha casa.

Vivo só e tornei-me um excelente cozinheiro.O sorriso renasce na face de Manuela quando

segura o telemóvel:- Diana? Desculpa mas não posso ir jantar.

Tenho um compromisso já antigo. n

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Eu estava à espera do autocarro quefazia a Basewater Road e não me saíada cabeça a carta que nessa manhãrecebera da Alfândega de Sua

Majestade. Portanto, estou em Londres, já há doismeses a trabalhar e, neste momento, ao pé dacélebre esquina de Hyde Park.

Dizia-me o senhor director da Alfândega, quese encontrava lá uma encomenda proveniente deLisboa, Portugal, com maços de cigarros masdizendo por fora "Livros" e, como remetente, umasenhora que era precisamente a minha mulher.Mais me informava o senhor director que, paralevantar esta encomenda, teria de pagar não seiquantas libras (muitas) ou aguardar o leilão nodia tal, às tantas horas, para poder licitar.

Apanhei o autocarro e saí na terceira paragem,atravessei a road para estibordo e entrei na rua-zinha que me levava ao meu hotel - um pequenoe modesto hotel dirigido por um simpáticoalemão chamado Otto.

Já no meu quarto escrevi uma resposta à cartada Alfândega, numa tentativa infantil de recupe-rar os cigarros. Depois fui mostrá-la ao Otto paraque emendasse eventuais deslizes ortográficos. OOtto foi simpático, pegou na carta e começou alê-la. Para meu espanto, começou a rir, depois achorar de rir e depois assoou-se, devolveu-me acarta e disse:

- Se o senhor mandar esta carta para osCorreios, amanhã estão dois polícias aqui para oprender.

- Porquê? -, perguntei espantado. - Por falta de respeito à Alfândega de Sua

Majestade. - Não pode ser -, afirmei, atónito. - Sabe, eles vão considerar esta carta um

insulto. Agradeci-lhe a gentileza do conselho e retirei-

me em boa ordem, não enviando obviamente acarta, que dizia mais ou menos isto:

"V.Exª. não conhece por certo Portugal. Poiseste meu país é uma terra de milagres. Umdeles, muito interessante, foi realizado pelaRainha Santa Isabel que um dia, rodeada deaias e de pobres ia sendo apanhada pelo seumarido, D. Dinis. Com o avental dobrado cheiode carcaças para dar aos pobres, ela fazia a cari-dade sem alarde, como antigamente se usava.Mas D. Dinis que era um desconfiado, interro-gou-a sobre o volume que se notava no regaço.E ela mentiu com quantos dentes tinha na boca:"São rosas, senhor, são rosas." E, quando abriuo avental, dezenas de belas rosas saltaram parao chão. Deixou de ser mentirosa e continuou aser santa.

"Mas os milagres começaram mais cedo.Começaram com o primeiro rei de Portugal, D.Afonso Henriques o qual, na Batalha de Ourique,tinha de vencer um numeroso exército islâmico.Mas ele, com as costas quentes, e já vão saberporquê, atira-se para a frente com os seushomens e mata cinco reis mouros e não contentecom isso, coloca o resto da malta a fugir porOurique e arredores fora, em debandada. E isto,segundo as crónicas, num só dia!

"Contamos a V.Exª. como foi que ele se encon-trou com as costas quentes. É que, no dia ante-rior, Jesus em pessoa conversou com o Afonso,num ameno e longo bate-papo, dizendo-lhe que apeleja estava ganha e que Ele próprio o iria aju-dar. Pelos vistos assim foi.

"Já no sec.XX, Nossa senhora apareceu auns miúdos pastores, em Fátima, sendo hoje olocal um dos negócios mais lucrativos dos por-tugueses.

"Portanto, se a remetente da encomenda, nocaso a minha mulher, disse que eram livros, é por-que eram livros. Se a Alfândega de Sua Majestadediz que são cigarros, é porque são cigarros. Aúnica explicação é que, durante o trajecto, deLisboa para Londres, se deu um milagre." n

A mentira não compensa(às vezes…)

Crónica

Álvaro BeloMarques

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