22
BÁRBARA BARROSO Tempos Complicados, Soluções Simples Aprenda a Gerir Melhor o Seu Dinheiro

Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

BÁRBARA BARROSO

Tempos Complicados, Soluções SimplesAprenda a Gerir Melhor o Seu Dinheiro

Page 2: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não
Page 3: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

15

A RELAÇÃO COM O DINHEIRO

NÓS E O DINHEIRO

Para muitas famílias, atravessar todos os dias de um qualquer mês é um complexo exercício financeiro, que nem sempre corre da melhor forma. Paga -se a prestação da casa e do carro. Liquidam -se as contas da água, da luz e do gás. Depois, resolve -se a despesa do telemóvel, da Internet, as compras do supermercado, a escola, os livros da escola, a roupa. Ainda a lista das despesas vai a meio e o dinheiro parece já não chegar para fazer face a todos os compromissos. Sobra mês ao fim do ordena-do e as famílias acabam, em muitos casos, por recorrer ao crédito, através do cartão ou de descobertos na con-ta, para sobreviverem até ao fim do mês, mas, em troca, ganham mais despesa para juntar a todas as anteriores.

Contas feitas, parece ser preciso ter um ordenado mi-lionário para fazer face a todas as despesas correntes. Por acção de alguma força misteriosa, as despesas têm a inex-plicável tendência para aumentar, ao mesmo tempo que o nosso dinheiro insiste em desaparecer.

Na realidade, esta percepção que muitos têm das finan-ças familiares deve -se à relação que têm com o dinheiro e ao facto de não conhecerem ou não estarem habituados a utilizar as ferramentas que permitem uma gestão mais eficaz das contas pessoais. É aqui que está o segredo.

Page 4: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

16

TEMPOS COMPLICADOS, SOLUÇÕES SIMPLES

Exactamente por isto, o primeiro passo para enfrentar as nossas finanças pessoais é fazer como as empresas e criar um mapa de entradas e saídas de dinheiro. De um lado, todo o dinheiro que sai do bolso, do outro, o que entra. Só assim adquirimos conhecimento sobre o que lhe acontece e respondemos à famosa questão: “Afinal, para onde vai o dinheiro?”

Decerto já lhe aconteceu iniciar o dia com dez, vinte ou quarenta euros e chegar à tarde só com algumas moedas e aquela sensação de incredulidade sobre como as notas se evaporaram. “Mas o que é que fiz ao dinheiro?” para responder a isso, vamos registar todos os movimentos do nosso dinheiro e adquirir novos hábitos. Em primeiro lu-gar, pedir sempre um recibo, para que seja mais fácil des-cobrir, no final do dia, da semana e do mês, para onde foi cada nota e moeda.

Temos de saber controlar o dinheiro e não deixar que o dinheiro nos controle. Quando chegar ao final deste livro terá as ferramentas necessárias para que consiga equili-brar as suas finanças pessoais e até começar a construir uma pequena poupança. Apenas depende de si. Os pri-meiros meses são os mais difíceis, mas depois, com a prá-tica e tornando -se um hábito, vai ser cada vez mais fácil. E acredite que é bem possível que venha a tornar -se um verdadeiro especialista no orçamento familiar.

Para que todo o processo corra bem, temos de fixar peque-nas metas e conquistá -las, uma a uma. Vai acabar por desco-brir que afinal o dinheiro que recebe até pode dar para poupar.

Poder -se -ia utilizar grandes análises e teorias financei-ras de como equilibrar as suas finanças, mas não é isso que se pretende. O objectivo é que consiga ter o controlo

Page 5: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

17

APRENDA A GERIR MELHOR O SEU DINHEIRO

do seu dinheiro. Por essa razão, este livro não é mais do que um guia para o ajudar a poupar. Em tempos de crise pode parecer uma tarefa mais complicada, mas, na reali-dade, é a melhor altura para o fazer. E porquê? Porque se for capaz de controlar as suas finanças em tempo de crise, então não terá o menor problema em fazê -lo num cenário economicamente favorável.

Produtos financeiros

O estudo, no Reino Unido, que envolveu 1250 jovens entre os  16 e os 24 anos, procurando conhecer melhor as suas compe-tências em termos de literacia financeira e gestão das finanças pessoais, permitiu chegar a uma conclusão, no mínimo, sur-preendente: um terço dos inquiridos não considera que usar o cartão de crédito representa uma forma de gastar dinheiro.

Embora por cá não se tenha colocado esta questão no “Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa”, realizado pelo Banco de Portugal, verifica -se também que, em termos de produtos financeiros, ainda há algum desconheci-mento. A maioria dos portugueses inquiridos no estudo não sabe qual a taxa de juro cobrada no seu crédito à habitação nem quais as comissões bancárias associadas à conta à ordem. Ora, este desconhecimento só é possível porque os portugue-ses ainda não ganharam o hábito de fazer um planeamento, ou orçamento, de tudo quanto ganham e gastam. Embora, à partida, possam parecer quantias pequenas, a verdade é que todos estes pequenos montantes somados, no final do mês ou ano, podem representar um valor considerável.

Além disso, quanto mais informados estivermos sobre as condições e custos dos produtos financeiros, mais facilmente

Page 6: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

18

TEMPOS COMPLICADOS, SOLUÇÕES SIMPLES

conseguimos escolher o que melhor se adapta às nossas neces-sidades. Aqui funciona mesmo a máxima: informação é poder.

Sobreviver em tempos de crise

Para as famílias com orçamentos já muito apertados, sem folga para qualquer adversidade, uma oscilação dos pre-ços traduz, inevitavelmente, uma derrapagem nas contas e, muitas vezes, um défice orçamental. Daí que as mexidas das taxas de juro, assim como dos preços dos combustí-veis, deva estar a fazer alguns estragos nas finanças pes - soais de muitos de nós.

A crise que começou por ser financeira passou para a economia e hoje afecta todo o mundo. O que ontem eram certezas hoje são verdadeiras incógnitas. O emprego que parecia uma fonte segura desapareceu quase sem aviso. Ficaram as contas por pagar. As famílias foram apanhadas desprevenidas e parecem estar ainda a aprender a lidar com a nova situação. Já ninguém se atreve a arriscar o que vai acontecer daqui para a frente.

Exemplo disso foi o que se passou com as taxas de juro. Em poucos meses as taxas Euribor, conhecidas por servi-rem de base para o cálculo da prestação da casa, passaram de máximos históricos para valores mínimos nunca vistos. De valores acima dos 5 por cento para valores abaixo mesmo de 1 por cento. Ora, só num ano, e embora as taxas ainda este-jam baixas, a Euribor a três meses subiu de valores de 0,634 por cento quase para o dobro, indicando que o ciclo de subida de taxas de juro já se iniciou. No passado recente, os portugueses já souberam o que foi pagar uma prestação com juros muito altos, e devem prevenir -se agora para não acontecer o que se

Page 7: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

19

APRENDA A GERIR MELHOR O SEU DINHEIRO

verificou no final de 2008. Esta oscilação traduziu -se numa verdadeira montanha -russa na prestação da casa. Sendo o crédito à habitação uma das dívidas com mais peso nos or-çamentos familiares, é natural que as famílias continuem a praticar o jogo do estica de um lado e encolhe do outro.

No caso dos combustíveis, a evolução foi idêntica. Num ano, o preço da gasolina aumentou 17 por cento e o do gasóleo 29 por cento, segundo os dados oficiais da Direcção -Geral de Energia e Geologia (DGEG).

Trata -se, no fundo, de mudanças bruscas de preço que podem traduzir -se em poupanças consideráveis quando bem aproveitadas.

Pode parecer impossível contornar um cenário destes, mas é possível. Claro que cada caso é um caso, mas em todos eles se pode encontrar uma solução para que possa-mos recuperar o controlo das nossas finanças.

Temos de saber adaptar -nos aos tempos e às condi-ções financeiras – em tempos de vacas gordas podemos viver melhor e poupar para ocasiões difíceis; em tempos de vacas magras apertamos o cinto. Se há quatro ou cinco anos podia jantar mais vezes fora, mas hoje, com mais um filho e mais despesas, não pode, não o faça, adapte -se. As circunstâncias da vida alteram -se e temos de as assumir e mudar o nosso comportamento em fun-ção disso. Não podemos tentar viver num tempo que financeiramente já não existe.

Em todo o caso, é importante que não veja o dinheiro como algo difícil de gerir ou como um bicho -de -sete -cabeças. Nada disso. Trata -se, apenas, de um bem que deve ser posto a trabalhar para nós, como todos os outros. A fórmula é muito simples: o dinheiro que entra tem de ser superior ao dinheiro

Page 8: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

20

TEMPOS COMPLICADOS, SOLUÇÕES SIMPLES

que sai. E há apenas duas maneiras para fazer que isto acon-teça: cortar nas despesas ou aumentar os rendimentos.

Arranjar um segundo emprego ou alguns trabalhos como profissional liberal pode sempre permitir aumentar o rendimento, mas é muito importante que controle a des-pesa. Se não controlar o que gasta, nunca dinheiro algum vai chegar para pagar todas as despesas, porque estas vão sempre aumentar até devorarem todo o rendimento dis-ponível. Por ser tão importante controlar os gastos, vamos centrar -nos, sobretudo, na forma de contermos a despesa.

Pague -se primeiro a si

Esta é uma das regras de ouro que não deve esquecer: pague -se a si primeiro. Poupe sempre quando conquistar rendimento. Assim que receber o ordenado, ponha o di-nheiro da poupança de lado – é por aqui que vai começar a mudar o rumo das suas finanças.

Esperar que o mês chegue ao fim para ver se sobrou dinheiro para pôr de lado é um engano. Como se disse an-tes, a despesa tem vida própria e tendência para consumir todo o rendimento disponível. O que acontece, normal-mente, é que mesmo antes do fim do mês já quase não tem dinheiro e acaba por não conseguir poupar. Se analisar-mos bem, vamos perceber que esta não é uma prática as-sim tão estranha. Afinal é exactamente isto o que o Estado faz – quando recebemos o salário, este já vem líquido de impostos, ou seja, o Estado já se pagou a ele mesmo, à ca-beça. E é esse o exemplo que deve seguir. Depois de se pa-gar a si primeiro, para poupança, deverá então pagar aos outros, ou seja, todas as despesas que tem habitualmente.

Page 9: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

21

APRENDA A GERIR MELHOR O SEU DINHEIRO

Esta regra custa apenas nos primeiros três meses, depois torna -se um hábito salutar, especialmente quando consegui-mos ter já um pé -de -meia.

Quanto devo poupar?

O ideal seria poupar o máximo possível, no entanto, de-vemos começar por uma quantia simples, como o equi-valente, por exemplo, a 10 por cento do rendimento. Claro que, se apenas conseguirmos poupar, numa fase inicial, cinco por cento do que ganhamos, também é bom – é um começo. Se conseguir fazer este exercício de poupança numa época de crise, quando depois da tem-pestade vier a bonança de um contexto económico mais favorável, facilmente subirá a fasquia. O importante é que poupe todos os meses e de forma automática. O melhor é optar por transferir o dinheiro a pôr de lado para uma conta poupança ou para outra conta em que não mexa habitualmente.

Dê uma ordem de transferência automática mensal da quantia que definiu para a tal conta em que não mexe ha-bitualmente. Assim, quando for pagar as contas, ou seja, aos outros, já se pagou a si próprio.

Se pensa que 10 por cento do rendimento é muito, então faça o seguinte exercício: quantas horas tenho de trabalhar para conseguir essa poupança? Resposta: 49 minutos diários, ou seja, cerca de 18 horas por mês, se contabilizarmos oito horas de trabalho diário durante 22 dias úteis mensais. Trabalha pouco mais de dois dias por mês para conseguir a sua poupança e os restantes vinte dias são para pagar as contas. Dá que pensar, não dá?

Page 10: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

22

TEMPOS COMPLICADOS, SOLUÇÕES SIMPLES

Se fizer o exercício desta maneira verá que a sua perspectiva em relação ao dinheiro muda. Não pense quanto é que custa, mas sim quantas horas vou ter de trabalhar para conseguir pagar aquele televisor com ecrã de plasma ou aquele telemóvel. Esta nova pers-pectiva irá certamente dissuadi -lo de algumas compras impulsivas.

Desta forma, para uma pessoa que ganhe mil euros líquidos, a poupança de cem euros mensais irá traduzir--se no final de um ano numa poupança de 1200 euros. Se mantiver esse nível de poupança nos próximos cinco anos terá seis mil euros.

No caso de ser um casal com um rendimento mensal de dois mil euros líquidos, deve aplicar -se a mesma regra. E, assim, a poupança ao final de cinco anos já seria o do-bro, isto é, 12 mil euros.

É fundamental que tenha presente que ao longo da sua vida vai passar -lhe muito dinheiro pelas mãos. Resta saber qual a sua capacidade para o reter e multiplicá -lo.

Quero que se centre na expressão “independência fi-nanceira”. É isto que se quer para a sua vida. Mais do que ser rico, ser independente financeiramente é ter a possibi-lidade de não voltar a trabalhar por dinheiro.

Parece -lhe confuso? Mas não é. Faça então este exercí-cio comigo e pense: se tivesse todo o dinheiro disponível para fazer o que quisesse, trabalharia no mesmo sítio que trabalha actualmente? O que estaria a fazer?

Na maioria das vezes o que retém as pessoas é o medo. Medo de perder o emprego, medo de não ter di-nheiro para pagar contas. Medo que, no fundo, o inibe de arriscar e o mantém preso ao seu emprego mesmo

Page 11: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

23

APRENDA A GERIR MELHOR O SEU DINHEIRO

que gostasse de arriscar. Lá vêm os pensamentos “isso é muito arriscado”, “isto não está fácil”. E se conseguisse pôr o dinheiro a trabalhar para si? Ou seja, imaginan-do que todos os meses, do montante que poupar, retira uma parte para investir.

Quando chegar a altura em que conseguir que os seus investimentos gerem dinheiro suficiente para cobrir as des-pesas mensais terá atingido a sua “independência financei-ra”. E nem precisa ser muito. Se, por exemplo, tem mil eu-ros de despesas, em média, todos os meses, e conseguir que os seus investimentos lhe dêem mil euros por mês já não precisa de trabalhar por dinheiro. Compreendeu o concei-to? Claro que é preciso irmos por partes. Se não sabe o bê - -á -bá do dinheiro como é que pode já pensar em investir?

Primeiro temos de identificar os problemas, acabar com as dívidas, controlar os gastos e pôr o dinheiro a mexer.

É todo um processo que demora o seu tempo mas no final deste livro terá as ferramentas para o conseguir pôr em prática.

Agora que já sabe quanto deve poupar todos os meses, e qual o caminho para a sua independência financeira, o passo seguinte é avaliar qual é o seu perfil financeiro.    

CONHEÇA O SEU PERFIL FINANCEIRO

Antes mesmo de avaliar o estado das suas finanças e saber quais as despesas que pode cortar, temos de avaliar o seu perfil financeiro, para saber como vamos proceder. Dos quatro patamares definidos, identifique em qual deles se insere e em qual gostaria de estar.

Page 12: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

24

TEMPOS COMPLICADOS, SOLUÇÕES SIMPLES

1. Financeiramente saudável – consegue poupar mais de 20 por cento do ordenado, ou do rendimento do orçamento familiar.

2. Financeiramente equilibrado – coloca de parte entre 5 por cento e 20 por cento, sendo esta percentagem posta de parte para constituir mensalmente uma poupança.

3. Financeiramente pobre ou endívidado – não con-segue fazer qualquer tipo de poupança. Todo o di-nheiro é canalizado para o pagamento de despesas e dívidas.

4. Financeiramente sobreendívidado – gasta mais do que ganha e, por essa razão, já não consegue pagar as dívidas que tem.   

Deixe -me adivinhar: está no terceiro ou no quarto gru-po e o que gostava mesmo era de estar no primeiro esca-lão, com mais vida e menos preocupações.

Se está no primeiro grupo, não precisa de se preocupar. Integrando o segundo segmento, quer dizer que está no caminho certo e só tem de manter a mesma postura que o trouxe até aqui, sem tentar outros caminhos.

Por outro lado, se está no terceiro escalão, é altura de mudar de rumo, para pôr, finalmente, o dinheiro a traba-lhar para si e criar um pé -de -meia que lhe evite dissabores.

Por último, se está no quarto grupo, tem de mudar de vida imediatamente. Alterar o comportamento e voltar a dominar o nosso dinheiro implica um esforço tanto maior

Page 13: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

25

APRENDA A GERIR MELHOR O SEU DINHEIRO

quanto mais desregradas forem as nossas finanças. Mas para a frente só existe o abismo financeiro e é certo que, mais cedo ou mais tarde, todos pagamos estas situações. E quanto mais tarde mais caro será e mais custoso também.

No poupar é que está o ganho

Poupar serve, em primeiro lugar, para que haja investimento. Ou seja, se todos consumirmos todo o rendimento agora e ninguém poupar, não haverá recursos para investimento. Mas para cada um de nós poupar é útil, em primeiríssimo lugar, para que possamos fazer face aos imprevistos que a vida nos oferece. É para isso que serve o nosso pé -de -meia: uma rede, para que, em caso de acidente, não aterremos no chão.

Os imprevistos acontecem e é importante que esteja preparado. Uma doença, um acidente, mesmo uma situa-ção de desemprego podem representar um grande proble-ma para muitas famílias, sobretudo para aquelas que não têm qualquer pé -de -meia.

Infelizmente, é só nestas alturas que algumas pessoas se apercebem de quanto poderiam ter poupado com to-dos aqueles pequenos gastos que não controlaram, como almoços e jantares, cinemas, roupas, prendas, viagens, aparelhos, entre muitos outros que, se calhar, não eram exactamente uma prioridade.

Desemprego, divórcio, morte de um dos elementos de um casal, doença ou incapacidade física são as principais causas de sobreendívidamento de muitas famílias. O que vem demonstrar que não estavam preparadas para impre-vistos. Claro que não é possível prever algumas destas si-tuações, mas é possível prevenir.

Page 14: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

26

TEMPOS COMPLICADOS, SOLUÇÕES SIMPLES

Por essa razão, pretende -se que perceba a importân-cia de ter dinheiro de lado para algum imprevisto. Por exemplo, se ficasse neste momento desempregado, du-rante quanto tempo conseguiria suportar as suas despe-sas mensais, mantendo o mesmo estilo de vida? Pegue na calculadora e faça as contas. Se, por algum acaso, deixas-se de trabalhar, ou seja, não recebesse mais o seu salário e atendendo ao facto de ter mil euros mensais de despesas, quantos meses é que conseguiria sobreviver mantendo o estilo de vida? Se tiver dois mil euros de parte sabe que tem uma folga de dois meses. Mas se não tiver qualquer poupança as dificuldades seriam, muito provavelmente, imediatas.

Para prevenir situações como esta, nesta fase inicial aponte como objectivo ter numa conta à parte dinheiro suficiente para cobrir entre três e seis meses de despesas mensais. Isto é, na hipótese de um cataclismo que fizesse a sua empresa desaparecer, teria de lado o dinheiro suficien-te para sobreviver meio ano como se nada se tivesse pas-sado, tempo suficiente para voltar a encontrar emprego e seguir em frente.

No nosso sistema de segurança social está a ser consti-tuído um fundo de estabilização financeira que tem, exac-tamente, o mesmo objectivo: reunir recursos suficientes para pagar dois anos inteiros de pensões.

E se está a perguntar como conseguirá fazer isso, a resposta está nos 10 por cento inicialmente previstos de poupança. O importante é começar. Desta forma, se tem quinhentos euros de despesas fixas todos os meses, deverá ter de parte entre 1500 e três mil euros. Se estamos a falar de mil euros de contas mensalmente, temos de apontar

Page 15: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

27

APRENDA A GERIR MELHOR O SEU DINHEIRO

como objectivo ter entre três mil e seis mil euros de pou-pança. Claro que, se conseguíssemos poupar o suficiente para fazer face a um ano de despesas seria óptimo. No entanto, deve ir com calma, traçar pequenas metas e ir conquistando -as, uma a uma.

Se já deu ordem automática para transferir pelo menos 10 por cento do seu rendimento, parabéns, está no bom caminho. Num instante irá ter o seu pequeno orçamen-to contra imprevistos e o objectivo inicial é chegarmos a um mês inteiro de despesas garantido, de lado, no ban-co. Depois, vamos tentar que sejam três meses de despesa assegurada pelo nosso pé -de -meia, em caso de necessi-dade. Pensamos, então, em seis meses e seguimos por aí. Definindo -se o princípio, o céu é o limite.

O orçamento familiar ideal

Não existe uma receita infalível ou um modelo perfeito para sabermos qual a melhor forma de cada um de nós gastar o seu dinheiro. O que fazemos é utilizar valores in-dicativos que nos ajudem a regular as despesas. São valo - res indicativos e cada pessoa deve adaptar a distribuição das despesas ao seu caso específico. Porque a estrutura é diferente de casa para casa, por causa de questões como ter carro, ser obrigado a fazer muitas refeições fora de casa devido ao trabalho, ter filhos, pagar infantário ou escola, morar longe do emprego, etc.

Mesmo assim, é sempre bom existir um ponto de referên-cia, para que a partir daí consigamos criar o nosso próprio orçamento familiar ideal, ou seja, definir que percentagem é que cada categoria deve pesar no nosso orçamento familiar.

Page 16: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

28

TEMPOS COMPLICADOS, SOLUÇÕES SIMPLES

Poupança10%

Habitação35%

Outros créditos15%

Transportes15%

Alimentação e despesas diárias

25%

Gráfico 1

O orçamento apresentado no Gráfico 1 é, apenas, indi-cativo e é a nossa base de trabalho.

Em cada uma destas grandes categorias definidas es-tão inseridas subcategorias e a distribuição do dinheiro por elas depende, sempre, de cada situação familiar. Mas através deste exemplo poderá ver como agrupar as cate-gorias, sendo que a única em que nunca deve mexer, a não ser para aumentar a percentagem, é a fatia destinada à poupança. Ou seja, do total do seu rendimento mensal, só dispõe de 90 por cento para distribuir pelas diversas despesas, porque 10 por cento ficaram cativos.

Sublinhe -se que, no caso da habitação, o valor defini-do como indicativo também deverá ser cumprido, sendo

Page 17: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

29

APRENDA A GERIR MELHOR O SEU DINHEIRO

encarado como um máximo. Ou seja, as despesas com a casa devem, no máximo, representar 35 por cento do seu orçamento mensal.

Desta forma, e tendo isto em conta, um orçamento ideal poderia ser assim distribuído:

Habitação: prestação ou renda da casa e respectivos se-guros; despesas de água, luz, gás, Internet e telefone; con-domínio e algumas reparações.

Alimentação e despesas diárias: alimentação (compras de supermercado); almoçar ou jantar fora; diversão e en-tretenimento; férias.

Transportes: prestação do carro e respectivo seguro; com-bustível; parque de estacionamento; reparações com o auto-móvel ou moto; bilhete/passe social de transportes públicos.

Outros empréstimos: crédito pessoal; cartão de crédito; prestações de electrodomésticos.

Poupança: montante que deverá colocar logo de parte no inicio de cada mês.  

Para chegar a uma distribuição ideal do seu orçamento familiar, na qual está prevista uma fatia destinada à pou-pança, é preciso saber organizar a casa, saber para onde tem andado a fugir o seu dinheiro e, a partir daí, iniciar o processo de racionalização, com corte de custos e controlo de despesas. Mas, para poder fazer tudo isso, é necessário que se faça um mapa de entradas e saídas de dinheiro, tal

Page 18: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

30

TEMPOS COMPLICADOS, SOLUÇÕES SIMPLES

como qualquer empresa faz, para que possamos conhecer com exactidão o destino actual do nosso dinheiro.

Por isso, o próximo passo é saber como fazer um mapa de cash flow, ou seja, de fluxo de caixa.            

AVALIE AS SUAS FINANÇAS

Qual o peso dos créditos no seu orçamento? Qual o seu nível de liquidez, actualmente? Quais as despesas que con-somem mais do seu orçamentos? Estas são apenas algu-mas das questões que deve fazer para saber identificar o estado actual das suas finanças. Em cinco passos rápidos é possível fazer um check up financeiro.

1. Elabore um mapa de cash flow mensalAnote diariamente as suas despesas no mapa de cash flow e verifique quanto é que cada despesa pesa no seu orçamento. Só fazendo uma descrição detalhada de tudo o que gasta (desde o café à prestação da casa) irá ser possível identificar para onde está a ir o seu dinheiro e quais as categorias que consomem mais do seu orçamento. Tal como foi explicado no capítulo anterior, não existe um orçamento ideal, cada família deve distribuir as despesas pelas categorias que fazem sentido no seu agregado familiar. No entanto, existem apenas algumas regras que deve ter em mente, nomea-damente que as despesas com a casa não pesem mais do que 35 por cento do seu orçamento. E nas despesas com a casa incluem -se: o empréstimo, juros e seguro, despesas como água, luz, gás, telefone Internet, etc.

Page 19: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

31

APRENDA A GERIR MELHOR O SEU DINHEIRO

2. Avalie a sua situação líquidaEste indicador vai ajudá -lo a compreender como ficaria a sua situação se utilizasse todos os acti-vos para eliminar os passivos. Por essa razão, de-verá aplicar a fórmula: activos - passivos = saldo líquido. Se o resultado for positivo, está no bom caminho. Significa que se vendesse tudo hoje teria dinheiro suficiente para pagar as despesas e ainda sobrava capital. Se for negativo, talvez esteja na altura de reavaliar o seu orçamento.

3. Avalie a sua liquidezAo analisar as suas finanças é importante também avaliar a liquidez. Para isso poderá utilizar a seguin-te equação: activos líquidos - passivos líquidos = li-quidez. São considerados activos líquidos todos os activos convertíveis em dinheiro em menos de um ano, enquanto o passivo circulante são as dívidas que podem ser pagas até um ano. O resultado indica o seu estado de liquidez e deve ser maior do que um, porque esse é o ponto em que ambos os factores são iguais. O ideal é que o resultado seja maior que dois. Significa que os seus activos líquidos são o dobro das dívidas de curto prazo. Por exemplo, se tem mil euros em depósitos e tem quinhentos euros no car-tão de crédito, o resultado é 1000/500= 2.

4. Contabilize o peso das dívidasAvalie quanto é que os créditos pesam no seu orçamen-to. Se ultrapassam os 40 por cento e prevê que esse valor aumente, tenha atenção, porque está na zona

Page 20: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

32

TEMPOS COMPLICADOS, SOLUÇÕES SIMPLES

vermelha. Inicie uma dieta de dívidas e comece por eli-minar as dívidas com as taxas de juro mais elevadas.

5. Avalie o nível de poupançaAvalie a sua saúde financeira em função do montante mensal que poupa. Quanto é que poupa actualmen-te? Se ainda não poupa comece a fazê -lo, por muito pouco que possa parecer. Estabeleça um valor, por exemplo, 10 por cento de poupança que deve ser feita assim que receba. Nunca deixe para o final do mês para ver se sobra, normalmente nunca sobra. Retire esse dinheiro logo no início e viva com o restante.

Depois de fazer este check up às suas finanças deve ana-lisar cuidadosamente os resultados, juntamente com todo o agregado familiar, e traçar objectivos. Este é o início da transformação das suas finanças pessoais.

FAÇA O SEU ORÇAMENTO

Compreender o que se tem, quanto se deve e o dinheiro que entra em casa é essencial para conseguir equilibrar as finanças pessoais e alcançar a almejada independência financeira. A listagem das despesas também nos ajuda a identificar quais os custos que podemos cortar.

O importante para controlarmos eficazmente o orça-mento é criarmos um documento onde registamos tudo. Escreva num papel, utilize uma folha de cálculo ou um documento do computador. Tem de apontar tudo, mesmo aquele café que toma todas as manhãs. Faça -o todos os

Page 21: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

33

APRENDA A GERIR MELHOR O SEU DINHEIRO

dias. O mais difícil é começar, depois apenas tem de intro-duzir esta prática nos seus hábitos diários, tal como outra qualquer rotina. Verificará que em pouco tempo até vai descobrir como pode ser divertido controlar as despesas.

Os seus objectivos depois de fazer um plano orçamental:

que estão a pesar no orçamento.

a eliminá -los.

pensar como poderá aumentá -lo.

-balhar nesse sentido.

Para que consiga compreender qual a sua situação, tal como uma empresa, deve conhecer os seus padrões de consu-mo e saber qual o destino que tem vindo a dar ao seu dinheiro. Para que tenha um ponto de partida siga o exemplo do mapa orçamental que aqui apresentamos (Tabela 1). Pode sempre adaptá -lo ao seu caso, criando as suas próprias categorias. O importante é que perceba que este mapa deve ser preenchi-do todos os meses. Por isso, vai necessitar de toda a informa-ção diária para que no final do mês consiga somar e ver quan-to gastou na secção de transportes ou de despesas com a casa.

Page 22: Tempos Complicados, Soluções Simples - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Aug/tempos_complicados_solucoes_simples_ulee.pdf · cada nota e moeda. Temos de saber controlar o dinheiro e não

34

TEMPOS COMPLICADOS, SOLUÇÕES SIMPLES

Mapa do orçamento familiar

Receitas

O seu ordenado

O ordenado do seu cônjuge

Ganhos com investimentos

Outros rendimentos

Total das receitas

Despesas

Despesas com a casa

Arrendamento Empregada doméstica

Prestação do crédito à habitação TV por assinatura

Condomínio Ligação à Internet

Água/Luz/Gás Reparações e manutenção

Telefone (fixo e móvel) Outras despesas

Subtotal 1

Despesas com alimentação

Compras de supermercado Pequenos -almoços e lanches

Subtotal 2

Dívidas

Empréstimo pessoal Prestações de electrodomésticos

Cartão de crédito Outros financiamentos

Subtotal 3

Despesas com transportes

Prestação do crédito automóvel Estacionamento

Seguro do carro Autocarro/metro/comboio/táxi

Combustível Outras despesas

Manutenção/revisão

Subtotal 4

Despesas com educação

Mensalidade escolar Seminários/workshops

Transporte escolar Livros

Cursos extracurriculares Outras despesas

Subtotal 5