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www.metodista.br Desenvolvimento Pastoral Bacharelado em Teologia Profa. Dra. Suely Xavier dos Santos Organizadora 1 o semestre de 2015 - 3 a edição

teo-p6-2015.pdf

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    DesenvolvimentoPastoral

    Bacharelado em

    Teologia

    Profa. Dra. Suely Xavier dos SantosOrganizadora

    1o semestre de 2015 - 3a edio

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Metodista de So Paulo)

    Coordenao do Curso de Graduao Bacharelado em Teologia - EAD Profa. Dra. Suely Xavier dos Santos Organizadora Profa. Dra. Suely Xavier dos Santos Professores Autores Prof. Dr. Helmut RendersProf. Jonadab Domingues de AlmeidaProf. Dr. Jos Carlos de SouzaProf. Dr. Paulo Roberto GarciaProf. Dr. Rui de Souza Josgrilberg

    Assessoria Pedaggica Adriana Barroso de AzevedoCeleste Yanela Millaray Pnik CastroEliana Vieira dos SantosThais Helena Santinelli

    Coordenao Editorial Profa. Dra. Suely Xavier dos Santos

    Editorao Eletrnica Editora Metodista Capa Cristiano Leo Reviso Ana Elis AndradeCeleste Yanela Millaray Pnik Castro

    Universidade Metodista de So Paulo Desenvolvimento pastoral / Universidade Metodista de So Paulo. Organizao de Suely Xavier dos Santos. 3. ed. So Bernardo do Campo : Ed. do Autor, 2015. 95 p. (Cadernos didticos Metodista - Campus EAD) Bibliografia ISBN 978-85-7814-155-4 1. Teologia 2. Cincias da religio I. Xavier dos Santos, Suely II. Ttulo. CDD 230

    Universidade Metodista de So PauloDiretor GeralWilson Roberto Zuccherato

    Conselho DiretorTitulares: Paulo Borges Campos Jr. (Presidente); Aires Ademir Leal Clavel (Vice-Presidente); Oscar Francisco Alves Jr. (Secretrio); Afranio Gonalves Castro; Augusto Campos de Rezende; Esther Lopes; Jonas Adolfo Sala; Marcos Gomes Trres; Ronilson Carassini; Valdecir BarrerosSuplentes: Nelson Custdio Fr; Robson Ramos de AguiarReitor: Marcio de MoraesPr-Reitoria de Graduao: Vera Lcia Gouva StivalettiPr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa: Fbio Botelho JosgrilbergDireo da Faculdade de Teologia: Paulo Roberto GarciaDiretor de EAD: Luciano SathlerCoordenao do NEAD: Adriana Barroso de Azevedo

    UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULO Rua do Sacramento, 230 - Rudge Ramos 09640-000 So Bernardo do Campo - SP

    Tel.: 0800 889 2222 - www.metodista.br/ead

    permitido copiar, distribuir, exibir e executar a obra para uso no-comercial, des-de que dado crdito ao autor original e Universidade Metodista de So Paulo. vedada a criao de obras derivadas. Para cada novo uso ou distribuio, voc deve deixar claro para outros os termos da licena desta obra.

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    1o semestre de 2015 - 3a edio

    UMESP

    DesenvolvimentoPastoral

    Bacharelado em

    Teologia

    Profa. Dra. Suely Xavier dos SantosOrganizadora

  • Universidade Metodista de So Paulo

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  • Palavra do Reitor

    Caro(a) aluno(a) do Campus EAD Metodista,

    com muita alegria que acolhemos voc na Universidade Metodista de So Paulo.

    Voc est recebendo o Guia de Estudos digital que parte da nossa preocupao com a educao superior de qualidade da Metodista. Este material foi elaborado pelos professores do seu curso e ser utilizado durante o semestre nas suas atividades de estudos. Aproveite ao mximo o contedo aqui disponibilizado, explorando todas as possibilidades para aprofundamento dos temas tratados.

    O Guia de Estudos uma parte dos esforos que tm marcado as atividades dos cursos EAD Metodista. Ao longo dos anos, buscamos intensamente o cumprimento do nosso compromisso em propiciar interao professor-aluno, formao continuada da equipe de docentes e tcnicos que atuam na modalidade, qualidade das atividades propostas e estmulo para a construo de conhecimento.

    Temos trabalhado no aperfeioamento das diferentes estratgias de ensino e aprendizagem na modalidade EAD e o caminho at aqui trilhado sinaliza que temos acertado.

    No ano de 2014, concentramos nossos esforos para ampliar nosso portflio de cursos de Graduao e Ps-Graduao EAD para que voc, aluno Metodista, possa continuar a receber uma formao de excelncia. Em 2015, o desafio continua: ampliar a atuao da EAD da Metodista e torna-la cada vez mais sinnimo de qualidade nacional e internacional.

    O melhor de tudo isso saber que voc est conosco e, como ns, acredita na Metodista.

    Bons estudos e um timo semestre!

    Prof. Dr. Marcio de Moraes

    Reitor

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    Mdulo: Exegese do Novo Testamento Cartas e Apocalipsismo

    Grego Bblico: o substantivo adjetivos e genitivos

    Grego Bblico: as formas substantivas dos verbos

    Introduo exegese no gnero literrio cartas

    Exegese no gnero literrio cartas. Pesquisando o cristianismo mediterrneo: as cartas de Paulo

    Introduo exegese no gnero literrio apocalptico

    Exegese no apocalipse de Joo

    Mdulo: Homiltica e Hermenutica

    Homiltica: Introduo e Interdisciplinaridade

    Os tipos e as partes constitutivas da Prdica

    Roteiro para prxis homiltica (1 Parte)

    Roteiro para a prxis homiltica (2 Parte)

    Hermenutica

    Hermenutica - Parte 2

    Mdulo: Estudos Wesleyanos

    O Modo Wesleyano de Fazer Teologia

    A soteriologia wesleyana como soteriologia social

    Teologia

    sum

    rio

  • Uma Eclesiologia Generosa e Inclusiva

    A Nova Criao como tema transversal da Teologia Wesleyana

    Histria da Igreja Metodista no Brasil: dos incios at a autonomia em 1930

    O metodismo brasileiro de 1930 aos dias atuais

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  • Grego bblico: o substantivo -

    adjetivos e genitivos

    Prof. Dr. Paulo Roberto Garcia

    Objetivos:O mdulo apresenta a anlise do texto bbli-

    co e o domnio de ferramentas que possibilitem manuse-lo e compreend-lo, que se constituem em

    metodologias exegticas. Enfoca tambm o Grego Bblico, aprofundando questes gramaticais e lxicas para facilitar a traduo de textos bblicos neotesta-

    mentrios. Nesta aula, o objetivo ser enfocar aspectos gramaticais do substantivo.

    Palavras-chave:Grego bblico; adjetivos; atributivo; predicativo.

    Mdulo

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    Exegese do Novo Testamento Cartas e Apocalipsismo

  • I - AdjetivosIntroduo

    Para aprofundarmos o estudo do substantivo no grego bblico, necessitamos relembrar que na lngua grega os substantivos so declinados. Ou seja, para cada funo que o substantivo ocupa em uma frase, h uma declinao especfica. Vejamos:

    Neste texto, vamos inserir um novo elemento no estudo do substantivo grego que so os adjetivos. Que forma, ou que declinao, ocupa o adjetivo em uma lngua declinada? Essa a pergunta que vamos desenvolver na primeira parte deste texto.

    1. O conceito e as declinaes do adjetivoOs adjetivos so palavras que conferem qualidade ao substantivo. Definem atributos dos

    substantivos. Por exemplo: o homem bom; o bom Deus; o servo fiel; a boa palavra.

    Percebe-se, em portugus que o adjetivo aparece ligado ao substantivo que ele qualifica. Na lngua grega, em que os substantivos so declinados, os adjetivos concordam com o substantivo em gnero, nmero e caso.

    Vejamos os exemplos abaixo:

    Frase em portugus: O bom homem fala boas palavras.

    Frase em grego:

    O adjetivo bom ( ), quando caracteriza o homem (que o sujeito da frase), aparece declinado no nominativo, mas quando caracteriza a palavra (que na frase o objeto direto), apa-rece declinado no acusativo. Podemos perceber, ento, que os adjetivos aparecem concordando com o substantivo que eles qualificam. Isso significa que todos os substantivos que aparecerem em uma frase, por exemplo, no nominativo concordam e qualificam o sujeito.

    2. Adjetivo atributivo e predicativoA forma que vimos no exemplo acima caracterstica do adjetivo em sua funo atributiva,

    ou seja, ele confere uma caracterstica ao substantivo.

    Outra forma em que o adjetivo pode aparecer na forma predicativa, em que ele afirma uma caracterstica do substantivo. Veja os exemplos abaixo:

    3. Adjetivo como sujeitoCaso o adjetivo aparea sem um substantivo para qualificar, ele pode ser traduzido como

    substantivo (o santo, o bom, o fiel etc.).

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  • II - Genitivo O genitivo uma das declinaes do substantivo grego. Ele visa indicar a posse ou a ori-

    gem de algo ou de algum. O genitivo aparece, assim como o adjetivo, ligado a um substantivo. Diferente do adjetivo, ele possui declinao prpria e cumpre papis distintos na traduo de uma frase. Vejamos uma tabela com esses distintos papis (conforme Schalkwijk, p. 165):

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  • Percebemos que, ao encontrar um geniti-vo, devemos pensar primeiramente no conceito bsico (posse ou origem), porm, ao fazer a traduo, necessitamos pesquisar essas diversas possibilidades, uma vez que o genitivo pode mudar o sentido de uma traduo.

    ConclusoA traduo de um texto grego pode

    obedecer a vrios nveis. Um primeiro nvel o que, com os instrumentos disponveis para nos auxiliar, nos possibilita fazer uma traduo bsica que nos permite conhecer estruturas fundamentais do texto em grego, perceber re-peties enfticas, uso dos tempos verbais etc. Um segundo nvel o que, quando feita a tra-duo bsica, nos detm nos casos que pedem uma pesquisa maior (como o uso do genitivo; dos adjetivos e de outras categorias gramaticais) para precisar ocorrncias como as do quadro acima. Isso pede o estudo gramatical da lngua e fica aqui como um desafio e um incentivo para a continuidade dos estudos feitos at agora.

    Referncias SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. 4. ed. Coine Pequena Gramtica Didtica do Grego do Novo Testamento. Patrocnio, CEIBEL, 1984.

    SWETNAM, James. Gramtica do Grego do Novo Testamento Parte I Morfologia Vo-lume I Lies. So Paulo: Paulus, 2002.

    Um exemplo clssico para mostrar as possibilidades de tra-duo do genitivo pode ser visto

    em 2Co 5.14, onde lemos:

    (o amor de Cristo nos constran-ge...). O amor de Cristo (genitivo) pode significar tanto o amor de

    Cristo por ns quanto o amor que temos por Cristo. Ou seja, a tra-

    duo poderia ser: a) o amor que temos por Cristo nos constrange, ou b) o amor que Cristo tem por

    ns nos constrange.

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  • Grego bblico: as formas substantivas

    dos verbos

    Prof. Dr. Paulo Roberto Garcia

    Objetivos:O mdulo apresenta a anlise do texto

    bblico e o domnio de ferramentas que possibilitem manuse-lo e compreend-lo, e que

    se constituem em metodologias exegticas. Enfoca tambm o Grego Bblico, aprofundando questes

    gramaticais e lxicas para facilitar a traduo de textos bblicos neotestamentrios. Nesta aula, o

    objetivo ser enfocar aspectos verbais.

    Palavras-chave:Grego Bblico; Verbos; Particpio.

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    Exegese do Novo Testamento Cartas e Apocalipsismo

  • A TRADUO DO PARTICPIOIntroduo

    O particpio grego um adjetivo verbal. Para o portugus, ele pode ser traduzido como gerndio ou como particpio. Uma primeira regra para definir a forma observar se h artigo ou no. A presena do artigo, a princpio, faz com que o particpio grego seja traduzido na forma do particpio em portugus, podendo ocupar o lugar do substantivo.

    Como adjetivo verbal, o particpio grego possui tanto as caractersticas de substantivo como de verbo. Dessa forma ele tem tempo e voz e, ao mesmo tempo, declinado como os substantivos. Ele tanto modifica um substantivo (papel do adjetivo, visto na lio anterior) como tambm pode ocupar o lugar do substantivo.

    O grego rico em particpios e, portanto, merece nossa ateno na traduo.

    1. O particpio substantivado e o particpio traduzido como gerndioEssa primeira forma que abordamos se constitui em uma das formas bsicas da traduo

    do particpio e muito comum no Novo Testamento. O particpio aparece com artigo, fazendo o papel de um substantivo, ou sem ele, sendo traduzido como um gerndio. Veja os exemplos:

    2. Particpio em frases atributivas e predicativasO particpio, por definio, um adjetivo verbal. Como adjetivo, ele modifica ou caracteriza

    o sujeito. Por isso, podemos encontr-lo tanto na forma atributiva como na predicativa (veja o caso do adjetivo na lio anterior).

    Quando o encontramos na posio atributiva, ele traduzido na forma de adjetivo. Quando o encontramos na posio predicativa, ele traduzido em seu aspecto verbal. Veja a tabela e compare:

    Perceba que a posio do verbo crer na forma do particpio, em relao ao substantivo e ao artigo, importantssima para definir como traduzir. Quando o verbo no particpio aparece entre o artigo e o substantivo ou com artigo concordando com o substantivo que ele adjetiva, a traduo realizada como um adjetivo. Porm, quando o verbo no particpio aparece sem o artigo antes ou depois do substantivo, ele traduzido na forma de um verbo no gerndio.

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  • 3. Um caso conhecido: Joo Batista

    O nome Joo Batista conhecido de todos ns. Porm, alm de este personagem preparar o caminho de Jesus, ele prepara tambm o caminho para apresentar uma caracterstica do particpio: a qualificao de um personagem (quase um apelido). Vejamos o exemplo:

    Nesse exemplo temos dois casos distin-tos do uso do particpio. O primeiro ocorre no nome de Joo Batista. Esse sobrenome (Batista) , no texto grego, um particpio substantivado ( ). Ele poderia ser traduzido por o que batiza. Deste modo, o nome de Joo , para o povo da poca, Joo, aquele que conhecido por batizar, ou Joo, o que batiza. Por isso nossa traduo Joo Batista.

    O mais interessante nesse exemplo que o uso do particpio serve para mostrar um atributo de Joo que o torna conhecido: o ato de batizar. O particpio, nesse caso, evidencia hbito, repetio, caracterstica.

    O segundo uso do particpio aparece na ao de Joo Batista. Ele descrito como algum pregando (particpio sem substan-tivo: ( ) batismo de converso ( ) para remisso dos pecados. Nesse caso o particpio indica um movimento contnuo. Por isso a traduo como gerndio. O importante que, tambm nesse caso, o uso do particpio indica repetio, hbito. O proces-so de pregar a converso para arrependimento de pecados aparece como uma caracterstica de Joo Batista.

    ConclusoComo afirmamos anteriormente, o par-

    ticpio uma forma verbal muito freqente no Novo Testamento. Ao mesmo tempo, uma forma verbal que pede cuidados na traduo. Uma boa traduo do particpio pede algum desenvolvimento no estudo do grego bblico e, ao mesmo tempo, uma consulta constante s gramticas.

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  • Referncias

    SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. 4 ed. Coine Pequena Gramtica Didtica do Grego do Novo Testamento. Patrocnio, CEIBEL, 1984.

    SWETNAM, James. Gramtica do Grego do Novo Testamento Parte I Morfologia Vo-lume I Lies. So Paulo: Paulus, 2002.

    Neste texto, porm, buscamos destacar alguns aspectos fundamentais na traduo do par-ticpio. O primeiro que se deve ter em mente sempre a dupla possibilidade na traduo: como particpio (geralmente com artigo, configurando um uso substantivado) ou como gerndio (ge-ralmente sem artigo). O segundo so as funes atributivas e predicativas dos particpios como adjetivo verbal. Finalmente, vale destacar o carter repetitivo que o particpio exprime. to forte esse aspecto que nomes recebem apelidos expressos com verbos no particpio.

    Dessa forma, o particpio mais um dos temas do estudo do grego bblico que deve nos de-safiar a continuar estudando, aprofundando e conhecendo suas diversas possibilidades de traduo.

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  • Introduo exegese no gnero

    literrio cartas

    Prof. Dr. Paulo Roberto Garcia

    Objetivos:O mdulo apresenta a anlise do texto bblico e o

    domnio de ferramentas que possibilitem manuse-lo e compreend-lo, e que se constituem em metodolo-gias exegticas. Esta aula aborda a exegese no gnero

    literrio cartas, priorizando as cartas paulinas.

    Palavras-chave:Exegese; Cartas; Cartas Paulinas; Epstolas;

    Literatura do Cristianismo do Mediterrneo.

    Mdulo

    www.metodista.br/ead

    Exegese do Novo Testamento Cartas e Apocalipsismo

  • IntroduoAo adentrarmos na pesquisa

    exegtica nas cartas, estamos nos deparando com um gnero impor-tantssimo dentro da literatura do Novo Testamento. Vale destacar que dos 27 livros que compem o Novo Testamento, pelo menos 21 deles so apresentados como cartas ou epsto-las. No pertencem a essa classifica-o os evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e Joo); o livro de Atos e o Apo-calipse de Joo. O ltimo escrito que no consta dessa relao Hebreus, que em algumas Bblias aparece com o ttulo de carta. Na verdade, o livro de Hebreus um tratado.

    Ao estudarmos esse importante gnero, aproximamo-nos de pratica-mente dois teros de toda a literatura neotestamentria.

    A abordagem desta aula ser introdutria, para possibilitar o co-nhecimento do gnero carta, a aplicao da metodologia exegtica e os detalhes mais importantes desse gnero literrio.

    1. A exegese nas CartasA metodologia exegtica a

    mesma para todos os grandes g-neros literrios presentes no Novo Testamento (Evangelhos; Cartas; Apocalipse). O que muda so algu-mas nfases em passos especficos. A seguir, mostramos uma tabela com os passos usados na exegese dos evangelhos com observaes para o estudo das cartas. Vamos apenas destacar os itens que merecem uma observao especial.

    PASSOS EXEGTICOS

    Primeira Aproximao

    - Delimitao

    - Traduo

    - Subdiviso

    Segunda Aproxima-oLeitura Sincrnica

    - Anlise Lingstica

    - Anlise Semntica

    Segunda Aproxima-oLeitura Diacrnica

    - Anlise Literria

    - Anlise da Redao

    - Anlise das Formas

    - Anlise da Tradio

    Hermenutica

    - Anlise do Contedo

    - Anlise da Teologia

    - Atualizao

    Neste ponto os recur-sos estilsticos e o uso de palavras caractersticas de um autor (especialmente em Paulo), presentes em outras cartas, devem ser levados em considerao.

    O mesmo vale para os campos semnticos.

    Nas cartas paulinas, a possibilidade de existir mais de uma carta costurada dentro de um mesmo escrito deve ser levada em conside-rao.

    O ponto anterior co-loca importante peso sobre o contexto em que a perco-pe* est inserida. Tambm importante atentar para estruturas e estilos prprios dos autores.

    O gnero maior carta, com finalidade de ensinar, exortar, corrigir o rumo. Porm, podem estar presentes nas percopes expresses litrgicas, hinos (ex. Fl 2.6-11) etc.

    Neste ponto, ganha destaque a comunidade que est por detrs do escrito. A nfase deve ser dada pesquisa do contexto da co-munidade dos destinatrios.

    CARTAS

    Universidade Metodista de So Paulo

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  • 2. As Cartas no Novo TestamentoComo afirmamos na introduo, as cartas,

    como gnero literrio, se constituem em um marco dentro dos escritos do Novo Testamento. A seguir apresentamos um quadro com os 27 escritos do Novo Testamento divididos por gnero literrio e com a distribuio cronolgica dos diversos escritos. O ob-jetivo percebermos no s a abrangncia do gnero cartas, mas tambm que elas so testemunhas de um longo processo de formao do cristianismo com suas diversas expresses em lugares distintos.

    Ao compararmos os diversos gneros, podemos perceber que enquanto os evangelhos aparecem em um faixa de 40 anos (67 a 110 d.C.), e o Apocalipse como um escrito do incio do sculo II, as cartas so, em termos de escritos, em maior nmero no Novo Testamento e cobrem um longo perodo da histria do cristianismo originrio (55 a 130 d.C.).

    50 64 67-90 90-100 100-110 120-130

    Cartas

    Paulinas

    1Tessalonicenses

    Glatas

    Filipenses

    Filemom

    1Corntios

    2Corntios

    Romanos

    Cartas

    Deuteropaulinas

    Colossenses

    2Timteo

    Epstolas Catlicas

    1Pedro

    Tiago

    Evangelhos

    Marcos

    Cartas

    Deuteropaulinas

    2Tessalonicenses

    Efsios

    1Timteo

    Epstolas Catlicas

    Judas

    TratadoHebreus

    Evangelhos

    MateusLucasAtos

    Cartas

    Deuteropaulinas

    Tito

    Epstolas Joaninas

    1Joo

    2Joo

    3Joo

    Joo

    Apocalipse

    Apocalipse de Joo

    Epstolas Catlicas

    2Pedro

    * RecordandoPercope uma unidade com-

    pleta de texto. Uma percope constituda de um relato b-

    blico com comeo, meio e fim. Para aprofundar os conceitos de determinao e delimita-o da percope, veja no guia de estudos anterior a este no mdulo de Exegese do Novo Testamento Metodologia e

    Evangelhos.

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    www.metodista.br/ead

  • 3. Caractersticas do Gneroa) Cartas e Epstolas

    Uma primeira abordagem para se trabalhar com o gnero cartas a diferenciao entre cartas e epstolas. Esse um tema controverso, tanto que alguns autores preferem chamar todos esses escritos de cartas. Nossa tendncia fazer isso mesmo, porm, como muitas introdues fazem diferena entre os diversos escritos desse gnero, estamos adotando o conceito bsico de que carta uma missiva encaminhada a um grupo especfico (uma pessoa, uma casa, uma comu-nidade de f. Por exemplo, carta de Paulo aos Romanos), e epstola uma missiva enviada a um destinatrio amplo, quase uma circular (exemplo: Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, s doze tribos que se encontram na disperso, saudaes. Tg 1.1).

    b) Estrutura de uma carta no primeiro sculoAs cartas circulavam no primeiro sculo obedecendo a uma estrutura fixa, composta das

    seguintes partes:

    Estrutura das cartas no mundo antigo

    1. Introduo indicando os destinatrios e o remetente

    2. Aes de graas pelos destinatrios

    3. Corpo da Carta

    4. Despedida e Bno

    Exemplo em 1Corntios

    1.1 Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apstolo de Jesus Cristo, e o irmo Sstenes,

    2 - igreja de Deus que est em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, cha-mados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:

    3 - graa a vs outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

    4 - Sempre dou graas a meu Deus a vosso respeito, a propsito da sua graa, que vos foi dada em Cristo Jesus;

    5 - porque, em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento;

    6 - assim como o testemunho de Cristo tem sido confirmado em vs,

    7 - de maneira que no vos falte nenhum dom, aguardando vs a revelao de nosso Senhor Jesus Cristo,

    8 - o qual tambm vos confirmar at ao fim, para serdes irrepreensveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo.

    9 - Fiel Deus, pelo qual fostes chamados comunho de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.

    1Co 1.10-16.18

    16.19 As igrejas da sia vos sadam. No Senhor, muito vos sadam quila e Priscila e, bem assim, a igreja que est na casa deles.

    20 Todos os irmos vos sadam. Saudai-vos uns aos outros com sculo santo.

    21 A saudao, escrevo-a eu, Paulo, de prprio punho.

    22 Se algum no ama o Senhor, seja antema. Maranata!

    23 A graa do Senhor Jesus seja convosco. 24 O meu amor seja com todos vs, em Cristo Jesus.

    Conhecer a estrutura geral das cartas nos ajuda a determinar cada parte que a compe e, no caso das cartas paulinas (como veremos na prxima aula), quantas cartas temos costuradas em uma nica carta cannica.

    Universidade Metodista de So Paulo

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  • c) Uma comunidade por detrs do escritoO ltimo ponto desta introduo est na

    nfase sobre a comunidade que se faz presente por detrs do escrito. As cartas que Paulo es-creveu para os corntios ou para os filipenses devem ser tratadas, cada uma delas, a partir da realidade que a comunidade enfrentava e tambm de suas caractersticas. De um lado temos a comunidade crist de Corinto, incrus-tada em uma das mais importantes cidades comerciais do imprio Romano, que contava em sua composio com inmeros pobres, alguns ricos segundo a carne, poderosos segundo a carne e sbios segundo a carne. De outro lado temos Filipos, uma cidade perifrica, lugar de soldados aposentados e com populao pobre. Nessa cidade a comunidade crist era liderada por mulheres, que compunham, originalmente, uma cooperativa de trabalhadores em torno do tingimento da prpura.

    Levar em considerao as diferenas fundamental para determinarmos as especifi-cidades da carta, e o porqu do uso de deter-minados verbos para se fazer compreendido pela comunidade (em Filipenses, Paulo usa vocabulrio do cotidiano dos escravos).

    ConclusoAs cartas se constituem em uma forma de

    comunicao que tinha uma finalidade pastoral: orientar as comunidades em suas angstias, dificuldades e desacertos. Para isso, pequenas cartas ou outras mais extensas eram enviadas. Com o passar do tempo elas se tornaram to importantes para as comunidades que passa-ram a ser copiadas e enviadas a outras comu-nidades vizinhas. O resultado a formao do cnon com as atuais 21 cartas.

    Glatas: uma lio sobre a importncia de se conhecer

    a estrutura das cartasA carta de Paulo aos Glatas um

    exemplo clssico de como importante conhecer a estrutura

    descrita acima. Paulo, ao escrever aos Glatas,

    estava incomodado com a rpida mudana da comunidade. Nas

    palavras de Paulo: passando to depressa daquele que vos chamou na

    graa de Cristo para outro evangelho (1.6). Diante desse

    grande incmodo, na estrutura da carta aos Glatas no est presente

    a tradicional ao de graas.Com isso, ficou claro para aquela comunidade que, quando Paulo escreveu a carta, no encontrava nenhum motivo para agradecer

    a Deus por ela. Pode-se compar-la com 1 Corntios (que foi apresentada como exemplo

    de estrutura de cartas), em que Paulo tratou de problemas srios em

    relao a conflitos, problemas de condutas, dificuldades em relao ao culto, e, ainda assim, encontrou

    motivos para agradecer a Deus pela comunidade.

    Referncias

    MURPHY-OCONNOR, OP, Jerome. Paulo. Biografia Crtica. So Paulo: Loyola, 2000.

    MEEKS, Waine A. Os primeiros cristos urbanos o mundo social do apstolo Paulo. So Paulo: Paulinas, 1992.

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  • Exegese no gnero literrio cartas

    Pesquisando o cristianismo mediterrneo:

    as cartas de Paulo

    Objetivos:O mdulo apresenta a anlise do texto

    bblico e o domnio de ferramentas que possibilitem manuse-lo e compreend-lo,

    e que se constituem em metodologias exegticas. Esta aula aborda a exegese no

    gnero literrio cartas, priorizando as cartas paulinas.

    Palavras-chave:Cartas; Cartas Paulinas; Epstolas; Paulo;

    Literatura do Cristianismo do Mediterrneo; Cristianismo originrio.

    Prof. Dr. Paulo Roberto Garcia

    Mdulo

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    Exegese do Novo Testamento Cartas e Apocalipsismo

  • IntroduoA grande tentao ao se estudar as cartas paulinas deter-se longamente em Paulo. O con-

    ceito por detrs disso que as cartas de Paulo podem ser entendidas a partir do conhecimento da pessoa de Paulo. Em nossa aula, vamos abordar outra perspectiva: as cartas de Paulo podem ser compreendidas a partir da realidade das comunidades e do cristianismo do mundo mediterrneo, do qual Paulo parte.

    Para isso, vamos primeiramente localizar o porqu dessa opo para, em seguida, abordarmos caractersticas exegticas especiais desses escritos.

    1. Paulo e o cristianismo do mundo mediterrneoa) Personagem e movimento

    Uma pergunta pode nos ajudar a nos posicionarmos acerca da questo apresentada acima: Qual o significado de Paulo na histria da pesquisa?

    Podemos encontrar as mais diversas e contraditrias abordagens dessa personagem marcante. Poderamos apresentar algumas caractersticas, dividindo em duas colunas: abordagens positivas e abordagens negativas:

    Essas leituras, embora to diferentes, tm uma perspectiva em comum. Todas elas olham para o indivduo Paulo como o responsvel por toda a histria do cristianismo ocidental naquele perodo. Ou seja, h uma valorizao exacerbada do indivduo em detrimento do conjunto de foras e influncias que marcaram sua poca e seu movimento.

    Ao afirmarmos isso no queremos desvalorizar Paulo, muito pelo contrrio. Queremos entend-lo a partir de sua realidade, do movimento em que estava inserido e do seu papel como catalisador teolgico desse movimento.

    b) Chaves de leituraA partir da afirmao acima, vamos propor algumas chaves de leitura para compreender e

    estudar os escritos paulinos.

    Um lder no cristianismo do mundo mediterrneo

    Vamos estudar os escritos paulinos a partir do movimento que costuma ser chamado de cristianismo helnico ou, como o estamos chamando, cristianismo do mundo mediterrneo. Ao fazermos isso, afirmamos que o cristianismo teve uma origem plural, ou seja, em suas origens se encontra uma riqueza de movimentos que lhe foram conferindo as caractersticas que tem hoje1.

    Abordagens positivas

    Santo (So Paulo)

    Telogo dos reformadores

    Libertador

    Abordagens negativas

    Machista

    Incoerente

    Opressor

    1 - Para conhecer um pouco mais desse tema, sugerimos a leitura da Revista de Interpretao Bblica Latino-Americana, no 22.

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  • O MUNDO NA VISO DO APSTOLO PAULO

    Um texto interessante para demons-trar a caracterstica urbana de Paulo

    o texto de 2Co 11.26:em viagens muitas vezes, em perigos

    de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha raa, em peri-

    gos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmos;Paulo descreve nesse texto os perigos que ele enfrentou em seu mundo (no mundo que ele conhecia e habitava). Esse mundo compreendia a cidade, o deserto e o mar, e tambm a estrada (rios, salteadores). No h aluso ao

    campo. Fora da cidade s h o deserto (Meeks, p. 23-24). Isso no um des-prezo ao campo, apenas a indicao dos limites do mundo onde ele vive. Ele s conhece o que v e onde vive.

    Esses elementos servem para ilustrar a urbanidade do cristianismo paulino.

    Estudar o cristianismo do mundo medi-terrneo condio para entender os conflitos e desafios do mundo palestinense, seu inter-locutor e opositor.

    O cristianismo palestinense era funda-mentalmente judaico-cristo e se entendia como um movimento de renovao do juda-smo. Deste modo, para esses judeus cristos a converso significava o ingresso na comuni-dade judaica (obviamente com nfase crist). Assim, no cabia no universo religioso desse grupo a alternativa de um movimento cristo que no tivesse sua origem no judasmo e na relao com os preceitos veterotestamentrios, a prtica da circunciso e o cumprimento da Lei.

    Quando o movimento cristo comeou a difundir-se pelo mundo helnico, levado em grande parte pelo comrcio e pelo des-locamento de pessoas que as demandas comerciais provocavam, acabou gerando um grande conflito. Os cristos do mundo helnico construram um movimento desvinculado do judasmo: o cristianismo gentlico do mundo mediterrneo.

    As cartas de Paulo so testemunhas das dificuldades que os embates, os acordos e desacordos desses dois movimentos geraram. As cartas de Paulo, como um dos lderes desse movimento, so testemunhas das aes pasto-rais para enfrentar essas dificuldades.

    Um cristianismo urbano e comrcioUma segunda chave de leitura o fenmeno da urbanidade, que marca esse momento novo

    do cristianismo. Enquanto o cristianismo palestinense foi eminentemente rural, o do mundo medi-terrneo foi um cristianismo que se desenvolveu nas cidades ligadas entre si pelas rotas comerciais.

    Uma simples leitura dos escritos paulinos j nos apresenta uma caracterstica da urbanidade. Enquanto as parbolas de Jesus, por exemplo, demonstram o ambiente rural (pesca, plantio, se-mente etc.), os escritos paulinos nos remetem cidade (construo, jogos helnicos, estradas etc.).

    Dentro dessa chave de leitura da urbanidade, devemos destacar que na cidade esse cristia-nismo vai se desenvolver dentro da categoria dos artesos (Paulo se apresenta como fazedor de tendas).

    Finalmente, importante ressaltar que, a partir do interesse romano nas cidades, um ponto fundamental da poltica externa foi a abertura de rotas comerciais. Roma investiu pesado na cons-truo e na pacificao da rota comercial (pax romana paz imposta pela fora e pela violncia). Isso permitiu uma mobilidade muito grande das pessoas no primeiro sculo. Basta ver que, seguin-do o esquema do livro de Atos dos Apstolos, calcula-se que o apstolo Paulo circulou por volta de 16 mil quilmetros durante seu ministrio. No vamos discutir a exatido dos nmeros, um nmero expressivo. O interessante que isso no uma novidade para o mundo nesse perodo. Inclusive h uma antiga lpide que mostra que um mercador realizou durante sua vida 72 viagens da Frgia at Roma (MEEKS, p. 35).

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  • 2Co 2.11-15

    2Co 7.3-7

    12 - Ora, quando cheguei a Trade para pregar o evangelho de Cristo, e uma porta se me abriu no Senhor,

    13 - no tive, contudo, tranqilidade no meu esprito, porque no encontrei o meu irmo Tito; por isso, despedindo-me deles, parti para a Macednia.

    5 - Porque, chegando ns Macednia, nenhum alvio tivemos; pelo contrrio, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro.

    6 - Porm Deus, que conforta os abatidos, nos consolou com a chegada de Tito;

    7 - e no somente com a sua chegada, mas tambm pelo conforto que recebeu de vs, referindo-nos a vossa saudade, o vosso pranto, o vosso zelo por mim, aumentando, assim, meu regozijo.

    14 - Graas, porm, a Deus, que, em Cris-to, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de ns, manifesta em todo lugar a fragrncia do seu conhecimento.

    15 - Porque ns somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que so salvos como nos que se perdem.

    3 - No falo para vos condenar; porque j vos tenho dito que estais em nosso cora-o para, juntos, morrermos e vivermos.

    4 - Mui grande a minha franqueza para convosco, e muito me glorio por vossa causa; sinto-me grandemente confortado e transbordante de jbilo em toda a nossa tribulao.

    Ao observarmos esses dois textos de 2 Corntios, percebemos que, no captulo 2, a discusso de Paulo acerca do envio de Tito comunidade de Corinto bruscamente interrompida por uma ao de graas. Estranhamente, o tema da ida de Tito retomado no captulo 7. Quando lemos o texto na forma disposta na primeira coluna da tabela percebemos que h uma continuidade natural entre 2Co 2.13 e 2Co 7.5. Em algumas cartas encontramos brusca mudana de humor entre uma percope e outra. Essas interrupes, bem como as mudanas de humor, so explicadas com o argumento de que Paulo escrevia ao longo de dias e acabava interrompendo o pensamento para retomar posteriormente, ou ento novas circunstncias demarcavam a mudana de humor.

    Nossa proposta que algumas de nossas atuais cartas so, na verdade, uma coleo de pequenos bilhetes pastorais enviados por Paulo para orientar as comunidades. Isso o caracteriza como algum preocupado com a vida de f das comunidades e que usava o recurso mais rpido para atender os desafios pastorais: pequenos bilhetes.

    Como exemplo, vamos detalhar os diversos bilhetes paulinos presentes em 2Corntios:

    2. As cartas paulinas: bilhetes pastorais para as igrejas do cristianismo mediterrneo

    As cartas paulinas so respostas de f para problemas concretos das comunidades. No pri-meiro sculo a escrita era uma arte. A tcnica de escrever no papiro exigia, alm da capacidade da leitura, a destreza em manipular pena e tinta. Por isso, para escrever grandes cartas como temos hoje no conjunto de escritos paulinos era demorado. Isso coloca uma pergunta: como pode um conflito da comunidade ser resolvido com um instrumento que demanda tempo?

    Para responder a pergunta acima, vamos, primeiramente, demonstrar em uma das cartas paulinas um problema comum em seus escritos.

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  • Primeiro Bilhete

    Segundo Bilhete

    Terceiro Bilhete

    Quarto Bilhete

    Quinto Bilhete

    Sexto Bilhete

    2Co 6.14 7.1

    2Co 2.14 6.13 + 7.2-4

    2Co 10.1 13.13

    2Co 1.8 2.13 + 7.5-16

    2Co 9.1-5

    2Co 8.1-24

    Esse um pequeno bilhete sobre as associaes com incrdulos. Deve estar ligado participao em festividades cvicas religiosas que tambm tema de 1 Corntios.

    A autoridade apostlica de Paulo contestada e ele afirma no necessitar de carta de recomendao.

    A Carta de Lgrimas (2Co 2.3) enviada para a comunidade por meio de Tito.

    A resposta de Paulo ao saber do efeito que a carta de lgrimas provocou na comunidade.

    Pequeno Bilhete pedindo comunidade que se preparasse para a coleta que Paulo planejava buscar em breve.

    Paulo envia carta para apresentar Tito como responsvel ( juntamente com o irmo cujo louvor conhecido) por recolher a oferta para Jerusalm.

    Ao examinar cada um desses pequenos bilhetes nos deparamos com uma preocupao pastoral de Paulo com essa comunidade. A cada novo desafio ou a cada novo conflito, um pequeno bilhete. a dinmica da ao pastoral de Paulo com as comunidades que estavam sob seu cuidado e sua responsabilidade.

    Porm, entre as cartas de Paulo h al-gumas que so nicas e extensas: Romanos, Glatas e 1 Corntios. O que distingue essas cartas das demais? Nelas, o problema a orien-tao que mexe com a essncia do evangelho: afastar-se do evangelho de Cristo (Glatas); deixar-se influenciar pela religiosidade dos cultos cvicos (1 Corntios); dvidas sobre a Lei e a Graa (Romanos). Esses temas merecem uma ampla discusso de fundo.

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  • Referncias

    MURPHY-OCONNOR, OP, Jerome. Paulo. Biografia Crtica. So Paulo: Loyola, 2000.

    MEEKS, Waine A. Os primeiros cristos urbanos o mundo social do apstolo Paulo. So Paulo: Paulinas, 1992.

    PIXLEY, Jorge (ed.). Cristianismos Originrios (30-70 d.C.). Revista de Interpretao Bblica Ribla n. 22. Petrpolis: Vozes, 1996.

    ConclusoAs cartas se constituem em um gnero literrio importantssimo no Novo Testamento. Elas

    representam quase 100 anos de histria do cristianismo do mundo mediterrneo e nos do a co-nhecer os dramas, desafios e conflitos que se desenharam na histria do cristianismo nessa regio.

    A maior parte dessas cartas est ligada tradio paulina, sendo que da pena do apstolo Paulo saram diversos bilhetes pastorais para orientar as comunidades nos problemas cotidianos, e cartas mais longas para orientar nos problemas teolgicos de fundo.

    As cartas no s nos permitem conhecer a histria do cristianismo do mundo mediterr-neo, como tambm se constituem em marcos da ao pastoral diante da realidade que cercava as comunidades.

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  • Introduo exegese no gnero literrio apocalptico

    Prof. Dr. Paulo Roberto Garcia

    Objetivos:O mdulo apresenta a anlise do texto

    bblico e o domnio de ferramentas que possibilitem manuse-lo e compreend-lo,

    que se constituem em metodologias exegticas. Esta aula aborda a exegese no gnero literrio

    apocalptico, priorizando o Apocalipse de Joo.

    Palavras-chave:Exegese; Apocalipse; Apocalipse de Joo;

    Literatura Apocalptica.

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    Exegese do Novo Testamento Cartas e Apocalipsismo

  • Nesta introduo, vamos mapear o sur-gimento da literatura apocalptica buscando conhecer seu pano de fundo poltico e teolgi-co, de modo que possamos entender o papel importante que esse gnero literrio desempe-nhou na histria da f do povo de Deus.

    1. A dominao persa um novo quadro teolgico

    A dominao persa significou uma nova forma de dominao experimentada pelo povo judeu. Na experincia da dominao babilni-ca, os objetivos eram a destruio, o saque e a escravizao dos que tinham condies de prestar servios ao imprio. No perodo persa, a dominao se d pela cobrana de tributos. Dessa forma, h incentivo permanncia (e volta) do povo na terra natal e reconstruo do templo e das cidades. Essa liberdade de organizao religiosa teve como contrapartida uma dominao poltica e tributria, fazendo surgir um perodo de efervescncia religiosa. Esse perodo gestou novos conceitos teolgicos, criando o imaginrio que serviu de base para as imagens clssicas do pensamento apocalptico.

    Novos conceitos como Deus dos cus (em confronto ao Deus que morava no Templo), Satans (em confronto com o conceito do endurecer o corao), anjos, coorte celestial, etc. forjaram um imagtico que propiciou o de-senvolvimento de novos movimentos religiosos dentro do universo religioso judaico.

    2. A dominao helnica uma nova realidade poltica

    A dominao helnica vai significar um novo captulo nessa reconfigurao da vida do povo judeu. medida que a violncia da do-minao se aprofunda, os diversos grupos do judasmo vo arraigando seus conflitos e suas convices. Com Antoco Epfanes IV h, em acordo com a elite helenizante do Templo de Jerusalm, uma profunda interferncia nas prticas rituais do cotidiano, proibindo a circunciso e a guarda do sbado. Isso detona a Guerra dos Macabeus.

    Em meio a essa situao de conflito, eclode um movimento religioso com uma literatura prpria: o movimento apocalptico com uma literatura caracterstica. O uso do singular para o movimento apocalptico no pretende sugerir que havia um nico movimento. Na pluralidade de expresses apocalpticas, podemos identificar algumas caractersticas comuns. So elas que nos interessam nesta introduo.

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  • 3. Caractersticas do apocalipsismoAo examinarmos a literatura apocalptica, encontramos algumas caractersticas que nos

    permitem entender melhor esse gnero:

    a) A literatura apocalptica e a realidade da comunidadeAs imagens e figuras que povoam o discurso apocalptico aparecem com fora em situaes

    polticas adversas. Muitos pesquisadores criticam o apocalipsismo como um gnero literrio que no apresenta uma proposta de mudana social, que acaba quase que propondo um confor-mismo diante da situao que a comunidade enfrenta. Isso uma injustia contra esse gnero. A literatura apocalptica no prope uma mudana da realidade social da comunidade, mas, como herdeira das tradies profticas, revela e denuncia como a comunidade percebe as crticas que se tem sobre a realidade.

    b) Uma literatura clticaOs apocalipses (tanto cannicos como extracannicos) aparecem como um lbum de foto-

    grafias. So imagens familiares e queridas pela comunidade que, ao serem relembradas, animam e fortalecem.

    Por trabalhar com imagens, podemos perceber que o lugar vivencial desse gnero o culto. O culto o espao em que a linguagem metafrica evoca lembranas e esperanas. Para verificar isso, basta ver o grande nmero de doxologias que encontramos no Apocalipse de Joo (exemplos: Ap 4.9; 4.11; 5.9-10; 5.12; 5.13b; 7.12; 11.17; 15.3-4).

    c) Uma literatura feita de retalhos da memriaAo comparar o apocalipse a um lbum de fotografias, podemos destacar que as fotos que

    fazem parte da memria da comunidade so recortadas e montadas em uma nova forma que busca fortalecer a caminhada da f da comunidade. Desta forma, o gnero apocalptico produz textos que costuram diversas tradies presentes especialmente nas memrias preservadas no Antigo Testamento. Essa costura apresenta um novo desafio para a comunidade.

    d) Passado e futuro na tenso do presenteFinalmente, vale destacar que a literatura apocalptica uma literatura que quer confortar

    e encorajar a comunidade de f a enfrentar as tenses do presente sem perder a f (S fiel at a morte, e dar-te-ei a coroa da vida, Ap 2.10b). Para isso, a literatura lana mo das imagens do pas-sado e da esperana futura (o Reino de Deus) para confortar, consolar e encorajar a comunidade.

    Concluso: Apocalipse, uma literatura que convoca resistncia na fA literatura apocalptica, ao lanar mo das imagens do passado, traz memria das comu-

    nidades as diversas situaes de violncia, dor e desesperana que o povo de Deus enfrentou e como esses momentos foram superados com o auxlio de Deus. Ao mesmo tempo, ao relembrar a esperana do Reino futuro, completa essa mensagem de conforto e desafio com a lembrana do que anima a caminhada de f da comunidade. Desse modo, a literatura apocalptica olha para o passado e relembra a esperana futura para que a comunidade resista s tentaes do momento presente sem trair a f.

    Referncias

    PRIGENT, P. O Apocalipse. So Paulo: Loyola, 1993 (Bblica Loyola 8).

    RICHARD, Pablo. Apocalipse Reconstruo da Esperana. Petrpolis: Vozes, 1996.

    NOGUEIRA, Paulo. O que Apocalipse. So Paulo: Brasiliense, 2008 (Coleo Primeiros Passos).

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  • Exegese no Apocalipse de Joo

    Prof. Dr. Paulo Roberto Garcia

    Objetivos:O mdulo apresenta a anlise do texto

    bblico e o domnio de ferramentas que possibilitem manuse-lo e

    compreend-lo, e que se constituem em metodologias exegticas. Esta aula aborda a

    exegese no gnero literrio apocalptico, priorizando o Apocalipse de Joo.

    Palavras-chave:Exegese; Apocalipse; Apocalipse de Joo;

    Literatura Apocalptica.

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    Exegese do Novo Testamento Cartas e Apocalipsismo

  • 1. O contexto da comunidade do ApocalipseEstamos no final do primeiro sculo. O imprio romano domina o mundo. Sua administrao

    caracterizada por uma centralizao no comrcio e no poder. Com poder dominava as naes e garantia a paz. A paz romana possibilitava o florescimento do comrcio.

    Roma consumia muito, vivia do luxo e da ostentao. Por isso, necessitava de todas as ri-quezas da terra. Tinha que garantir a paz nas estradas, a dominao dos povos, e o comrcio que fazia a mercadoria sair dos lugares mais longnquos e chegar cidade. Nesse esquema, muitos dos prncipes e reis das naes enriqueciam com a dominao romana. Por isso, Ap 17.2 afirma que os reis da terra se prostituram com ela.

    A essa situao somava-se o problema do culto imperial (pelo menos em sua forma mais primitiva). O comrcio se fundia religio em brados de louvores ao grande imperador e grande cidade que garantia paz e prosperidade. Como no louvar to grande poder que garantia a paz e a prosperidade (de alguns)? Quem se voltasse contra esse poder s poderia ser inimigo, por isso deveria ser perseguido.

    Esse era o conflito que se apresentava para a comunidade. Ele colocava os cristos em um impasse: a vida s poderia ser viabilizada pela participao no sistema comercial e, consequente-mente, na idolatria e nos pecados da cidade. O que fazer?

    2. As igrejas da sia Menor diante do impassePelas cartas constantes nos captulos 2 a 4, percebemos que h igrejas que tomaram posturas

    diferentes. Enquanto encontramos igrejas pobres ou que sofrem perseguio, a igreja de Laodicia apresentada como rica.

    Diante da riqueza da igreja, o Amm, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princpio da criao de Deus professa palavras durssimas:

    Pois dizes: sou rico, enriqueci-me e de nada mais preciso. No sabes, porm, que s tu o infeliz: miservel, pobre, cego e nu! Aconselho-te a comprar de mim ouro purificado no fogo para que enriqueas, vestes brancas para que te cubras e no aparea a vergonha da tua nudez, e um colrio para que unjas teus olhos e possas enxergar (Apocalipse 2. 17-18 - Bblia de Jerusalm).

    O texto manda que ela compre linho e colrio porque est nua e cega. Ironicamente, esses eram os principais produtos que a cidade exportava. A igreja, portanto, participava do sistema comercial romano e estava enrique-cendo nele.

    Para a igreja de Laodicia, o livro do Apocalipse durssimo. Ela descrita como algum que no quente nem fria, devendo, por isso, ser vomitada da boca do Amm. Sua nica chance a converso (vs. 19-20).

    Isso indica que o livro faz uma leitura negativa tanto do sistema imperial como dos que participavam dele. nessa conjuntura que o livro do Apocalipse vai se desenvolver, apon-tando para o sistema de morte do imprio e convocando as comunidades a uma fidelidade radical que implicava, inclusive, a possibilidade de se enfrentar a morte como opo de f.

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  • UM LIMITE QUE DEVEMOS RECONHECER

    O livro apresenta uma postura fortemente preconceituosa em

    relao mulher. Temos somen-te duas mulheres no Apocalipse: uma a que d luz (cap. 12) e a outra a prostituta. Assim, as imagens desse captulo so construdas a partir desse pre-conceito, no s em relao

    mulher, como tambm prosti-tuta. Esse um limite do texto

    que devemos reconhecer.

    3. A estrutura do Livro do ApocalipseO livro do Apocalipse, em sua parte

    visionria (captulos 4 a 22), apresenta uma estrutura litrgica, tpica do ambiente de culto, onde uma mesma histria contada quatro ve-zes. Ao final de cada uma delas h um final do mundo, porm, a seguir, a histria recomea. Cada vez que ela recontada aprofunda-se o desafio de f que colocado comunidade. Ao mesmo tempo, aprofunda-se a crtica que o livro apresenta realidade que cerca a co-munidade.

    Cada vez que a histria contada apresenta-se um ncleo que o ponto focal da crtica e do desafio. Vamos conferir isso no quadro abaixo:

    A histria contada uma primeira vez

    4.1-5.14 - Vises preparatrias

    1 ncleo: 6.1-11: qual projeto seguir? (os cinco selos)

    6.12-17 - 1 concluso

    A histria contada uma segunda vez

    7.1-8.5 - Vises preparatrias

    8.6-13 - Catstrofes introdutrias (trom-betas 1-4)

    2 ncleo: 9.1-21: os responsveis pelo sofrimento (trombetas 5-6)

    10.1-11.13 - 2 concluso

    A histria contada uma terceira vez

    11.14-12.17 - Vises preparatrias

    3 ncleo: 13.1-18: os lderes

    14.1-20 - 3 concluso

    A histria contada uma quarta e derra-deira vez

    15.1-8 - Vises preparatrias

    16.1-21 - Catstrofes introdutrias (taas 1-7)

    4 ncleo: 17.1-18.24: a cabea dos lde-res que provocam o sofrimento e o seu castigo

    19.1-22.15 - 4 concluso A nova Jeru-salm

    Nessa estrutura, os captulos 17 e 18 repre-sentam a crtica mais profunda e o desafio de f que marca a comunidade apocalptica. Isso o que veremos a seguir.

    4. Apocalipse 17-18 Um desafio f da comunidade

    Para apresentar Roma, o texto de Apo-calipse 17 usa a imagem de uma prostituta riqussima. Est cercada de luxo e alegrias. Mui-tos produtos chegam a ela (Ap 18.11-13). Reis da terra compartilham de seu luxo (Ap 18.9). Mercadores enriquecem graas a ela (Ap 18.15).

    A riqueza de Roma foi construda na base da fora dos exrcitos e na seduo das riquezas. O sistema romano era baseado no favorecimen-to e enriquecimento da elite em detrimento do povo, sendo que essa elite era formada majori-tariamente pelos donos do poder e por aqueles que se submetiam a eles.

    Por isso, ao apresentar a prostituta o nosso texto prepara um quadro forte. Ela uma mulher rica e cercada de uma elite que se prostitua com ela. Todos so apresentados embriagados por vinho. A mulher tem uma taa na mo. Dentro da taa um vinho diferente, marcado pelas abominaes dela e de suas impurezas. Que impurezas so essas?

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  • Referncias

    PRIGENT, P. O Apocalipse. So Paulo: Loyola, 1993 (Bblica Loyola 8).

    RICHARD, Pablo. Apocalipse Reconstruo da Esperana. Petrpolis: Vozes, 1996.

    NOGUEIRA, Paulo. O que Apocalipse. So Paulo: Brasiliense, 2008 (Coleo Primeiros Passos).

    O texto segue descrevendo que ela est embriagada com o sangue dos santos e das teste-munhas de Jesus. As impurezas e abominaes so as prticas de Roma que vertem o sangue dos que so fiis ao cordeiro.

    Todo o luxo da cidade e daqueles que se beneficiam dela est alicerado no sangue dos inocentes, daqueles que ficam margem desse sistema. Para a comunidade, o sistema econmico que se embriaga no sangue dos mrtires um sistema que nasce do poder demonaco do drago (Ap 12-13). Participar desse sistema , no mnimo, participar de uma contradio.

    H dois nveis de condenao no livro. O primeiro aponta a cidade como a prostituta que atrai a si ateno e riqueza. O segundo aponta queles que, indiferentes situao que est se abatendo sobre o povo, so seduzidos pelo poder e pela riqueza que emana desse sistema. Esses no conseguem manter o princpio fundante do livro: a fidelidade. Para a comunidade do Apoca-lipse, s existem duas opes: ou Deus ou o Drago (Satans). Os seres humanos devem fazer sua opo diante dessa conjuntura.

    5. A utopia/desafio: sair delaO cerne desses captulos encontra-se em 18.4-8. Nessa percope encontramos o desafio para

    que o povo saia dela. O que significa isso?

    O livro do Apocalipse no foi escrito em Roma. Ele prprio se localiza e se dirige s igrejas da sia Menor. Consequentemente, no um sair geogrfico. A comunidade j est fora da cidade. O desafio sair do sistema. Aqui se vislumbra a proposta insinuada igreja de Laodicia. Participar do esquema infidelidade, se tornar cmplice dos pecados.

    ConclusoO livro do Apocalipse apresenta um desafio para um grupo de comunidades de f de tradio

    apocalptica. De um lado h uma crtica ao sistema romano e queles que foram seduzidos por esse sistema (Ap 17). De outro, h um desafio para as comunidades romperem com esse sistema e viverem a radicalidade de f onde o morrer pela f uma bno e garante o prmio futuro (Ap 6.1-11).

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  • Tema: Homiltica

    Homiltica: Introduo e

    InterdisciplinaridadeProf. Jonadab Domingues de Almeida

    Objetivos:Estudar a definio, conceito

    e uso do termo homiltica;Oferecer um referencial

    que ajude o/a discente no preparo de sermes com base no uso da

    interdisciplinaridade entre Bblia-Teologia-Histria;

    Palavras-chave: Homiltica, Bblia, Exegese,

    Teologia, Pastoral

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    Homiltica e Hermenutica

  • Introduo homilticaEste texto tem como objetivo ajudar na preparao de sermes consistentes e edificantes

    para as pessoas e comunidades que participam dos nossos cultos. Encontra a sua fundamentao terica principalmente no livro A Pregao na Idade Mdia, de Luiz Carlos Ramos, obra que reflete a vivncia do autor na sua prtica pastoral e acadmica como homileta, como liturgo e como pes-quisador, especialmente nas pesquisas feitas para a tese de doutorado, que deu origem ao livro publicado pela Editora da Faculdade de Teologia/Umesp. Tambm encontra referncia em outras obras que tratam do tema.

    De incio, uma interessante descrio do conceito que se pode ter da pregao:

    A mais nobre tarefa que existe na terra. Aquele (e aquela) que chamado por Deus para proclamar o Evangelho deveria destacar-se como o homem (e a mulher) mais importante na sua comunidade, e tudo quanto fizesse para Cristo e para a Igreja deveria manifestar-se na sua pregao (BLACKWOOD, 1981, p. 15).

    A homiltica entendida como a disciplina que se ocupa da cincia e da arte da pregao de sermes religiosos: [...] cincia, porque estuda criteriosamente os processos do discurso religioso, e arte porque aplica-se s suas tcnicas (RAMOS, 2012, p. 28).

    Quanto etimologia, a palavra homiltica tem origem no termo grego homiletikos de homilos, que significa multido, assembleia do povo, e empregada primeiramente no meio cristo para designar a assembleia do culto. Tambm o verbo grego homileo conversar passou a ser utilizado para indicar discursos em tom familiar. Desse verbo deriva o substantivo homilia, que designa exposies instrutivas que se faziam das Escrituras no contexto litrgico das primeiras comunidades crists (RAMOS, 2012, p. 28).

    Uma das formas da pregao crist, o produto homiltico tambm recebe outras desig-naes, tais como: pregao, prdica, parnese, homilia e sermo. Todas elas referem-se pea oratria discursiva no contexto celebrativo da comunidade de f (RAMOS, 2012, p. 29).

    importante ressaltar que o que caracteriza a homiltica o seu carter litrgico. Nesse sentido, a homiltica e a liturgia so consideradas como canais para repartir a Palavra de Deus e a sua vontade ao povo. Considera-se que a prtica homiltica com o sentido de pregao de mensagens religiosas anterior ao perodo de composio do Novo Testamento.

    No procedimento homiltico, algumas ferramentas so indispensveis para a comu-nicao ou proclamao da Palavra de Deus. Das diversas ferramentas, o destaque para as seguintes: a exegese, pela qual se visita o texto bblico, fonte de nossa f; a hermenutica, pela qual o homileta colocado em contato com o texto da vida, caracterizado pelas experincias do cotidiano, no desafio de interpretao e atu-alizao do texto visitado; e a retrica, aplicada na prtica do discurso homiltico que distingue o que chamamos de sermo.

    Se as experincias do cotidiano do homi-leta e de sua comunidade so levadas em conta durante o procedimento homiltico, no ser possvel uma abordagem totalmente isenta no exerccio exegtico-hermenutico. Contudo, o

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  • uso adequado das ferramentas garantir um nvel adequado de iseno por parte do homileta. Nesse sentido, o uso dessas ferramentas na preparao do sermo o que permite que ele seja definido como produto homiltico, que tambm pode ser referido como prdica ou pea oratria que explica o passado (texto bblico), interpreta o presente e aplica sua mensagem comunidade de f na forma de desafios em relao ao futuro (RAMOS, 2012).

    Significa que, em um sermo bem preparado, ser possvel verificar a relao equilibrada entre PASSADO, PRESENTE e FUTURO: o passado, que explicitado pelo exerccio exegtico; o presente, que considerado no exerccio hermenutico; e o futuro, que apresentado com os desafios da aplicao pastoral. Tambm se poder verificar a relao equilibrada entre os esforos e o cuidado do homileta em EXPLICAR, INTERPRETAR e APLICAR a mensagem bblica realidade dos seus ouvintes.

    Interdisciplinaridade da homilticaNa fundamentao teolgica da homiltica, so trs as referncias significativas que precisam

    ser consideradas. Estas podem ser verificadas no decorrer do desenvolvimento do curso e no exerccio homiltico: a teologia bblica, a teologia sistemtico-histrica e a teologia pastoral, que caracterizam a abordagem interdisciplinar da homiltica e so identificadas como fundamentos ou princpios homilticos.

    Quanto aos fundamentos ou princpios, a homiltica tem como referencial as teologias b-blica, sistemtico-histrica e pastoral, tendo como principais ferramentas interdisciplinares do procedimento homiltico a exegese, a hermenutica e a retrica. Quanto ao mtodo ou meios, a homiltica tem a alocuo como o meio principal do discurso homiltico, que v o acontecimento discursivo oral-verbal como instrumento de persuaso. Quanto aos propsitos ou fins, considera--se a possibilidade de uma homiltica dialgica ou dialogal que seja veculo de fortalecimento e, eventualmente, de transformao de valores e padres de atitudes, considerados existenciais e cotidianamente essenciais (RAMOS, 2012, p.98).

    A teologia bblica e a exegese

    A tarefa homiltica d seus primeiros passos a partir do processo exegtico, no contexto das disciplinas ligadas teologia bblica. importante ressaltar o significado do termo exegese, derivado do grego exegesis, que significa exposio de fatos histricos, descrio, narrao, explicao, ou ainda interpretao. Tem o objetivo de interpretar o sentido dos textos no pas-sado (RAMOS, 2012, p. 98).

    Por mais cientfico, detalhado e aprofundado que se pretenda ser no exerccio exegtico, importante considerar que a abordagem estar sempre sujeita s preferncias e compromissos ideolgicos e culturais do exegeta. Mesmo com a pretenso de cientificidade, consideram-se di-ferentes propostas de aproximao dos textos bblicos: fundamentalismo, estruturalismo, leitura popular, e mtodo histrico-crtico, dentre outras. A busca trplice pelo rigor cientfico da tarefa exegtica tem o propsito de:

    Aclarar as situaes descritas nos textos por meio da descoberta do passado, para que a narrativa se torne compreensvel para aqueles que vivem em circunstncias e cultura to diferentes; tentar ouvir a inteno que o texto teve em sua origem; verificar em que sentido [certas] opes ticas e doutrinais podem ser respaldadas ou rejeitadas (RAMOS, 2012, p. 101).

    Tambm se considera que o incio do processo exegtico se d na identificao do prprio cotidiano e situao vivencial do homileta, bem como a situao da sua comunidade, o que re-fletido inclusive na escolha do texto bblico do sermo. Da a importncia do uso de instrumental

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  • exegtico-hermenutico que, ainda que no neutralize a leitura condicionada, ajuda o homileta--exegeta a ter conscincia de que o seu olhar no neutro, assim como a identificar boa parte dos condicionamentos ideolgicos. Para que se cumpra o desafio, afirmado no incio, de oferecer sermes consistentes e significativos para a comunidade, a tarefa homiltica no pode prescindir do instrumental exegtico-hermenutico (RAMOS, 2012, p. 101).

    A teologia sistemtico-histrica e a hermenuticaTanto a teologia sistemtica como a histria da teologia se encarregam de interpretar,

    atualizar e sistematizar a mensagem bblica por e para leitores de diferentes pocas (RAMOS, 2012, p.102). A hermenutica, que tem por objetivo interpretar a Bblia para o presente, do gre-go hermeneuein, tambm significa interpretar e ocupa-se mais particularmente dos princpios que regem a interpretao dos textos, ao passo que a exegese descreve mais especificamente as etapas ou os passos que cabem dar em sua interpretao (RAMOS, 2012, p. 98). Um exerccio que tem como resultado a produo de novos sentidos que so expressos na forma de discursos sobre um discurso significa que as afirmaes dos textos bblicos so basicamente afirmaes teolgicas e a teologia do texto inseparvel da exegese do texto. Assim, nos deparamos com a afirmao de que a hermenutica pertence ao domnio do pensamento teolgico e sua tarefa envolve o encontro entre o valor dos textos [...] com o valor das situaes de hoje (RAMOS, 2012, p.103). Em outras palavras, significa dizer que a hermenutica consiste em que o mundo da Bblia confrontado com o nosso mundo.

    Assim como a homiltica, a hermenutica cincia e arte: isso quer dizer que, como cincia, investiga leis e anuncia princpios do pensamento e da linguagem, bem como classifica seus efeitos e resultados; como arte: ensina que aplicao tem tais princpios na elucidao dos mais difceis escritos, estabelecendo procedimentos exegticos vlidos (TERRY, 1974 apud RAMOS, 2012, p. 105).

    Ao explanar sobre a teologia sistemtico-histrica e a hermenutica, o objetivo explicitar que o procedimento exegtico-hermenutico determinante no processo homiltico.

    A teologia pastoral e a homiltica

    Aps o exerccio de visitar e desvelar acontecimentos passados pelo exerccio exegtico e a atualizao de sentidos possibilitados pela hermenutica, a teologia pastoral se apresenta com a tarefa de aplicao da mensagem bblica realidade da comunidade na forma de desafios pas-torais (RAMOS, 2012, p. 109).

    A teologia pastoral permite que acontecimentos do passado sejam apresentados comu-nidade no presente, como propostas de transformao para o futuro. Implica que a teologia pas-toral constri a ponte entre o passado, o presente e o futuro. Na prtica homiltica, implica que o sermo se encarregar de apresentar desafios concretos que promovam o posicionamento e a transformao da realidade vivenciada pelos ouvintes.

    Referncias

    ANTUNES FILHO, Edemir. Belas palavras de vida: uma estrutura para a prdica. In: RAMOS, Luiz Carlos (org.). Anurio litrgico 2007. So Bernardo do Campo: Editeo, 2007.

    BLACKWOOD, Andrew Watterson. A preparao de sermes. Rio de Janeiro: ASTE, 1981.

    MORAES, Jilton. Homiltica: da pesquisa ao plpito. So Paulo: Vida Acadmica, 2005.

    RAMOS, Luiz Carlos. A pregao na idade mdia: os desafios da sociedade do espetculo para a prtica homiltica contempornea. So Bernardo do Campo: Editeo, 2012.

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  • Os tipos e as partes constitutivas

    da Prdica

    Prof. Jonadab Domingues de Almeida

    Objetivos:Apresentar uma breve descrio sobre

    os tipos de sermes (textual, expositivo, tpico ou temtico) e as partes constitutivas da prdica.

    Palavras-chave: Prdica, Sermo Textual, Sermo

    Expositivo, Sermo Tpico ou Temtico.

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    Homiltica e Hermenutica

  • Os tipos de prdica

    importante considerar no horizonte o carter teologal, cristolgico, evanglico, antropo-lgico, eclesial, escatolgico, persuasivo, espiritual e litrgico da prdica; a prdica como um ato dinmico no qual Deus se dirige a homens e mulheres fora e dentro do seu povo, para confront--los/as com as profundas implicaes de sua obra redentora em Cristo; um ato comunicativo, cuja finalidade a comunicao da Palavra de Deus aos homens (COSTAS, 1978; RAMOS, 2012, p. 153).

    Quanto ao propsito geral: sermes querigmticos, sermes doutrinrios e sermes pastorais. Quanto ao contedo: sermes temticos, sermes textuais e sermes expositivos, subdivididos em: biogrficos, histricos, didticos, experincias significativas, de fontes extrabblicas. Quanto oca-sio: ano litrgico, nfases semanais, mensais, trimestrais, anuais; ocasies especiais (aniversrios, datas cvicas, etc.), atos teologicamente significativos (batismos, dedicao de crianas). Quanto apresentao: discursiva, dialgica, dramtica, em forma de discusso ou debate, recursos audio-visuais (COSTAS, 1978; RAMOS, 2012, p. 154).

    Sermo textual aquele em que a estrutura do sermo corresponde ordem das partes no texto e que depende da fora e graa da estrutura. No sermo textual, que se baseia em texto breve, a estrutura do texto est intimamente relacionada mensagem, como o esqueleto com o corpo humano.

    Dentre as vantagens elencadas por Blackwood no livro A Preparao de Sermes, merecem destaque as seguintes: faz fixar a ateno numa parte das Escrituras; considerado fcil de preparar, especialmente pelo/a principiante; o ouvinte capaz de seguir o sermo textual com facilidade e satisfao; leva o ouvinte mais perto do corao da Bblia (BLACKWOOD, 1981, p. 60).

    Tambm, algumas objees so feitas ao mtodo: no se presta a todas as passagens; o/a pregador/a encontra dificuldade em dividir a passagem da Escritura que escolheu; pode conduzir a sermes mecnicos; um texto pode conter mais ideias do que as que o ministro pode tornar claras e luminosas; pode conduzir a sermes artificiais tirar lies que a passagem no ensina; podem ficar dissociados da vida humana dificuldade para relacionar o texto com as necessidades dos ouvintes; podem no ser teis.

    Diante das objees, Blackwood indica o que chama de vereda da sabedoria:

    Escolhe um texto para todos os sermes: Quando te levantares para pregar espera pelo silncio e depois comea pela leitura do texto. Fazendo isto economizars tem-po e dar relevo ao que melhor. Com exceo da bno, no h nada, na ltima meia hora do culto, que ocupe lugar de to grande importncia como o texto [...]

    Ao escolher o texto, trata-o honestamente. No pode trat-lo mal, abusar dele, nem tampouco ignor-lo. Ver se ele se presta ao trabalho textual. Se no, escolhe outro caminho. 3

    Compreende o valor de cada mtodo. Nenhum deles poder servir a todos os ministros e adaptar-se a todas as ocasies (BLACKWOOD, 1981, p. 68).

    Sermo expositivo o que surge de uma passagem bblica com mais de dois ou trs versculos (...) Difere do textual pela extenso da passagem bblica em que se baseia (...) Ambos se sobrepem (...) (BLACKWOOD, 1981, p. 70). Blackwood indica que, aparentemente, um sermo

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  • expositivo implica no tratamento textual de uma passagem bastante extensa, ao passo que um sermo textual ser o tratamento expositivo de uma passagem mais curta (BLACKWOOD, 1981, p. 70). Diferem no tratamento das passagens:

    Quanto menor for a unidade das Sagradas Escrituras, mais completamente poderemos usar o resultado da exegese; quanto maior for a poro, mais se torna necessrio selecionar e omitir, ou pelo menos tratar mais rapidamente (BLACKWOOD, 1981, p. 70).

    Como vantagens do mtodo, Blackwood relaciona as seguintes: honra as Escrituras, tratando--as tal como foram escritas o livro como a grande unidade, e o pargrafo como a menor; segue a mais nobre tradio da Igreja crist; trabalho expositivo de boa qualidade alimenta o povo; faz com que o/a pastor/a possa crescer ano aps ano, obriga-o/a a trabalhar e o/a leva a orar; ao se apresentar como intrprete da Bblia para a congregao, tem que descobrir o que ela significa, e isso requer o uso de todas as energias intelectuais, que se tornam fortes e flexveis por meio de exerccio constante.

    Como objees ao mtodo, indica que: muitos/as pastores/as no sabem como preparar um sermo expositivo como escolher a passagem, o que deixar fora do sermo, como tratar o material de modo a faz-lo brilhar, como us-lo de modo a ir ao encontro das necessidades dos ouvintes dos seus dias, como pregar um sermo que ajude, sem mostrar um esqueleto que assusta: certo tipo de trabalho expositivo evidencia falta de preparao; pregao expositiva mal preparada no interessa ao ouvinte; sermes pseudoexpositivos no so teis. Todas as quatro objees tm a mesma raiz: o/a expositor/a nunca aprendeu a preparar esse tipo de sermo. E ele afirma: Que pena enviar para o campo missionrio indivduos que no so capazes de apresentar Deus e o seu Livro de forma correta! (BLACKWOOD, 1981, p. 81).

    Sermo tpico ou temtico aquele cuja forma resulta das palavras ou ideias contidas no assunto (BLACKWOOD, 1981, p. 109). Dentre os sermes que se tornaram famosos, o sermo tpico em nmero maior que qualquer outro em toda a histria, embora em nosso tempo a tendncia seja pelo uso do mtodo textual e expositivo. o tipo de sermo em que o tpico domina tudo quanto se lhe segue, da mesma maneira que num sermo textual a passagem governa tudo quanto vem depois [...] Pode ser descrito como o desenvolvimento do assunto com que comea (BLACKWOOD, 1981, p. 109). a tendncia dos sermes doutrinrios, como tambm dos sermes ticos.

    Como vantagens do mtodo, Blackwood relaciona as seguintes: permite ao ministro discutir qualquer assunto que julgue necessrio a condio do mundo, da igreja; permite grande am-plitude de desenvolvimento, liberdade de abordar o que entender que importante para as suas ovelhas; encoraja o indivduo a procurar unidade, um s sermo, o mesmo assunto, aquele com o qual o pregador comeara, uma espcie de estrela polar que segue at o fim da sua jornada; faz com que o pregador prossiga para o alvo do sermo o tpico pode servir como bssola para manter o guia no caminho que o leva ao seu destino. Tambm indica objees ao sermo tpico: pode encorajar o secularismo pode ter pouco ou nada a ver com cristianismo; possvel que no possua interesse humano por surgir de anlises rpidas e consistir de puras abstraes; a espcie errada de sermo tpico no alimenta o povo; os crticos insistem em que esse mtodo requer pouco esforo de estudo, pois o pregador pode obter o seu material nos jornais dirios ou no ltimo romance publicado. Talvez negligencie a Bblia e outras obras que faam meditar e orar.

    As partes constitutivas da prdica

    Alguns cuidados que se espera de um/a pregador:

    Alm de orar pedindo a Deus discernimento e sabedoria para proclamar a mensagem atravs da prdica, cabe ao homem ou mulher: preparar a preleo antecipadamente, estudar profundamente o

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    texto bblico, pesquisar materiais exegticos e estruturar o discurso a fim de que ele seja claro, conciso, coerente, bem como atinja o objetivo principal de edificar os membros das comunidades crists (ANTUNES FILHO, 2007, p. 147-149).

    O sermo normalmente dividido em trs partes principais: introduo, desenvolvi-mento argumentativo, e concluso. Contudo, muitos autores concordam que as partes cons-titutivas da prdica so as seguintes: exrdio; narrao/explicao; assunto/tema e ttulo (palavra-chave); proposio; desenvolvimento argumentativo; e perorao/concluso.

    A introduo considerada como uma parte bastante trabalhosa no processo de elaborao da prdica e composta de vrias subpartes com funes muito especficas, como, por exemplo, a leitura bblica, o exrdio, a narrao ou explicao e a proposio.

    muito importante que se empenhe todo o cuidado na introduo do sermo, porque a maneira como ela feita determinar a maneira como a congregao receber o sermo. Quanto s subpartes da introduo, a primeira o texto bblico, que considerado o elemento mais importante de uma prdica, muito mais do que qualquer coisa que o/a pregador/a tenha a dizer. Por essa razo, deve ser a primeira coisa a ser feita, evitando-se qualquer coisa que interrompa ou distraia a ateno da congregao durante a leitura do texto bblico escolhido. Tambm muito im-portante dedicar especial ateno e cuidado na escolha do texto bblico do sermo, levando-se em conta o calendrio litrgico, o tema que se pretende trabalhar, a realidade vivenciada pela comunidade, alm da dedicao de tempo significativo em orao e reflexo diante de Deus.

    Outro ponto importante o ttulo do sermo, mesmo que o pregador/a no venha a enunci-lo durante a pregao. A elaborao do ttulo considerada a ltima etapa na preparao do sermo, mesmo que seja pensado durante todo o processo da sua preparao, devendo ser definido ao trmino.

    A identificao do assunto, a palavra-chave e o tema tambm importante no processo de preparao do sermo. O assunto se refere matria de que se trata o sermo e deve ser apre-sentado por meio de uma s palavra ou expresso. A especificao do assunto indicar o tema de que trata a prdica.

    Outra parte importante da introduo o exrdio, que a abertura do sermo e se refere quilo que est na fronteira, no limite:

    o comeo, a origem, o princpio da prdica, a parte da pea oratria que abre o caminho quilo que vir em seguida, isto , trata-se do momento para atrair e interessar os/as ouvintes. (ANTUNES FILHO, 2007, p. 147).

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  • a parte que vem logo aps a leitura bblica e a orao, e pode ser enunciada por meio de uma referncia ao texto bblico, ao tema, a uma situao vivenciada pelo/a homileta ou pela comunidade, uma poesia, uma estrofe de um cntico, dentre vrias outras possibilidades. Deve ser breve e encaminhar os ouvintes na direo da proposio que ser enunciada mais frente. Serve para apresentar aos ouvintes o tema principal do sermo, chamar a ateno, assegurar a boa vontade e preparar para dirigir (CCERO apud BLACKWOOD, 1981, p. 118). A abertura do sermo determinar se os ouvintes acompanharo a explicao, a argumentao e as concluses do pregador ou pregadora.

    A narrao ou explicao, ainda como parte da introduo, oferecer informaes sobre o texto bblico utilizado:

    a ao de desdobrar, esclarecer e desenrolar as especificidades do tema tratado na prdica. Nesta parte so mencionados aspectos histricos, sociais, geogrficos, lingusticos que so imprescindveis para a compreenso dos argumentos fundamentados no texto bblico escolhido. (ANTUNES FILHO, 2007, p. 147).

    O exerccio exegtico que proporcionar ao homileta as condies de fazer a narrao apropriada que servir de pano de fundo para o desenvolvimento argumentativo. Contudo, aps o seu labor no levantamento das informaes, ter de fazer escolha da parte do material que ser utilizada na narrao ou explicao do seu sermo, com o cuidado de priorizar o que essencial e ajudar no embasamento argumentativo.

    A parte final da introduo a proposio, que tem como finalidade apresentar a proposta ou tese do sermo. Trata-se de uma frase afirmativa que descreve o contedo e inteno do sermo, e que pode finalizar com uma pergunta, mesmo que implcita. A proposio deve encaminhar o desenvolvimento argumentativo do sermo.

    Nenhum sermo est pronto para pregar, nem pronto para ser escrito, at que possamos exprimir o seu tema numa sentena curta e concisa, clara como cristal. Acho que chegar a essa sentena trabalho mais rduo, mais exigente e mais fecundo, do meu gabinete de trabalho (John Henry Jowett pastor presbiteriano que atraa multides para ouvir o seu sermo em Nova York) (BLACKWOOD, 1981).

    O desenvolvimento o corpo argumentativo do sermo, sua parte mais extensa:

    a parte do discurso que pormenoriza, que justifica e procura responder o que foi contemplado na proposio da mensagem. , pois, esta a parte central da fala onde o/a enunciador/a discorre minu-ciosamente sobre os pontos (argumentos) destacados no texto bblico (ANTUNES FILHO, 2007, p. 148).

    A frase de transio outro elemento estrutural que ajuda a dar clareza e consistncia ao discurso e serve para lhe dar fluncia, relacionar as partes do sermo e ajudar o/a ouvinte no acompanhamento didtico da prdica.

    A argumentao propriamente dita se d, necessariamente, pelo processo analtico do tema, o que pressupe dividir e subdividi-lo em busca de uma compreenso mais profunda da questo proposta. No sermo, por tratar-se de um discurso formal, as divises devem ser cuidadosamente consideradas e devem estar a servio da sua unidade. Alm das divises, o corpo argumentativo tambm poder conter subdivises, as quais no precisam, necessariamente, ser enunciadas, mas serviro para que o/a pregador/a tenha mais clareza do contedo de sua prdica.

    A concluso ou perorao a parte conclusiva do sermo e deve ser cuidadosamente preparada, de forma que leve os ouvintes a assimilar o contedo e os propsitos da prdica. Pode ser descrita como:

    A parte do discurso que encerra a prdica. Esta pode ser entendida como um argumento que conclui tanto a proposio feita na preleo quanto a argumentao demonstrada.

    Nesta parte oportuno fazer uma breve recapitulao do que foi abordado, todavia convm trazer para a atualidade a mensagem bblica tratada nos argumentos. Em outras palavras, fazer uma aplicao pastoral daquilo que se tratou nos argumentos (ANTUNES FILHO, 2007, p. 148).

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  • Deve incluir uma recapitulao breve das divises e apresentar desafios concretos e signifi-cativos audincia, relacionados proposio feita no incio e aos argumentos desenvolvidos na prdica, levando-se em conta a realidade da vida da comunidade.

    Um ponto a ser considerado, ainda, que a ordem de apresentao da prdica no a mes-ma da sua preparao; a apresentao segue a seguinte ordem: leitura do texto bblico; orao; exrdio; explicao; proposio; argumentao; peror