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[Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

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Page 1: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

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A Abordagem ComportamentalNo Capítulo I analisamos brevemente o trabalho de

John B. Watson, fundador do comportamentalis­

mo. I ~ua psicologia comportamentalista enfocava o .

comportamento observável, as respostau.estímJk:',

los externos das pessoas submetidas a experimen-=.tos. Essa abordagem da psicologia como sendo uma

ciência natural, baseada em cuidadosas pesquisas

experimentais e na quantificação precisa das variá­veis de estímulo e resposta, tornou-se imensamente'

popular na década de 1920 e permaneceu como uma·

força dominante na psicologia por mais de 60 anos.No comportamentalismo de Watson não havia

lugar para forças conscientes ou inconscientes por •. 'que elas não podiam ser observadas, manipuladas ou

medidas. Watsoll acredita~lle, o que querqu~

desse esta7'ocorrendo dentro de um or.g~ismo ­rõsse uma pessoa ou um animal - entre a àprêSen­

tação do estímulo e o surgimento da n::.sp.o.§.!.~.Ln&opõsruía valor, significado ou utilidade científica

porque os cieni'istiS-~não podiam conduzir eXJ)~ri­mentos em tais condiÇ5eSinternas. Na abordagemcomportamental, portanto, não encontramos refe-

rência a ansiedades, impulsos, motivações, necessi­

dades ou mecanismos de defesa, processos mencio­

nados pela maioria dos outros teóricos da personali.

dade·Eilra os comportamelltalistas, a personalidade

é meramente um acúmulo de regJ.Q§!!!Laprendi~spor meio de estímulos, padrões de comportament~observáveis ou sistemas de hábitos. A personalidaderefere-se apenas ao que pode ser observado e mani·

pulado de maneira objetiva.

A abordagem comportamental da personalidade

é repreSentada. aqui pelo trabalho de B.F. ~ki,~I"cujas idéias seguem a..~~a~ªQYVª!~q!"Ii,ªrgl,-Skin'ner

rejeitou quaisquer pretensas forças ou processos in­

ternos por considerá-Ios irrelevantes. Sua únic~_preocupação era com o comportamento óbse;:vável

e os estímulos externos que lhe dão forma; tentou

entender o que chamamos de "personalidade" por

meio de pesquisas laboratoriais com ratos e pombos,. e não de trabalho clínico com pacientes. No entanto,

suas idéias mostraram-se úteis no ambiente cIínico

por'meio da aplicação de técnicas de modificação docomportamento.

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1. HÚ lraduçõc!-. que ad,-lplam o Lermo on,!llnnJ em in~jês heh(fl'jorisl/1 ao norltJVll~" "h,~h;IVif\,.i"lY\""(1\1 'T')

Page 2: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

~~

QUAfORZE

B.E SkinnerRatos, Pombos e um Organismo Vazio

A Vida de Skinner (1904-1990)

Encontrando uma identidade

Reforçamento: A Base do Comportamento

Comportamento respondente

Comportamento operante

Aéaixa de Skinner e o processo

de condiciona mento operante

Esquemas de Reforçamento

Aproximações Sucessivas: A Modelagem

do Comportamento

Comportamento Supersticioso

O Autocontrole do Comportamento

">

É o ambiente que deve ser transformado.

-B.F. Skinner

As Aplicações do Condicionamento Operante

Programas de economia de fichas

Programas de modificação de comportamento

Punição e reforço negativo

Questões sobre a Natureza Humana

A Avaliação na Teoria de Ski.rmer

Observação direta do comportamento

Auto-relatps de comportamento

Mensuraçães fisiológicas de comportamento

A Pesquisa na Teoria de Skinner

Um Comentário Final

Resumo do Capítulo

Perguntas de Revisão

Sugestões de Leitura

Page 3: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

"RTE 8 A Abordagem Comportamental QUATORZE B, F.Skinner 363

.~~

+.1:.~~

,....."Skinrier foi, durante um curto' período, o YÚ% mais quente'nos programas de ent;'e-vista nacionais e das grandes cidades (...) Num mês, milhões de norte-americanos ti­

nham lido ou ouvido falardele e de 13eyonllfreedom ond digllily, Ele foi 'colnpleta­mente inundado' por correspondência, chamadas telefônicas e visitas (. ..) Estranhos

iam cumprimentá-Ia em restaurantes. Tinha, como mencionou um escritor, 'adquiri­do a celebridade de um astro de cinema ou da TV'" (Bjork. 1993, p. 192).

.~.".,.,",

processos fundamentais são,~imilares. Assim como uma ciência deve dirigir-sedo simples ao complexo, os processos mais elelnentares têm de ser estudados

primeiro. Dessa maneira, el~ escolheu o comportamento animal por ser maissimples que o comportamento humano.

O trabalho de Skinner ~Óide importância monumental na psicologia norte­

americana. A AmeIÍcan psy2hological Foundation outorgou-lhe sua medalha deouro e a American Psycholcigical Association concedeu-lhe o Prêmio de Contri­

buição Científica Relevante (1958). Diz a menção honrosa: "Poucos psicólogosnorte-americanos tiveram um impacto tão profundo sobre o desenvolvimento da

psicologia e sobre os jovens psicólogos promissores". O primeiro livro de Skin­

ner sobre comportamentalismo, The behavior of orgC//zisl/ls: An experimentalanalysis (Skinner, 1938), foi descrito como um dos poucos a mudar verdadeira­

mente a natureza desse campo do conhecimento (Thompson, 1988). Skinner tam­

bém recebeu a Medalha Nacional de Ciência dos EUAe apareceu na capa da Ti­me, definido na manchete como o mais famoso psicólogo norte-americano. Seu

controvertidplivro de 1971, Beyollelfreedp.nl anel digllity, tornou-se um be,\'I.I'ellere fez dele uma celebridade.

O trabalho de Skinner teve amplas aplicações práticas, Inventou um apare­

lho automático para cuidar de;bebês e foi responsável por promover o uso de má­

quinas de ensinar, Publicou um romance bem-sucedido que oferece um progra­

ma para o controle comportamental da sociedade humana. Técnicas terapêuticas

originadas a partir de suas pesquisas têm sido aplicadas em ambientes clínicos pa­

ra tratar uma variedade de dis:túrbios que incluem psicose, retardamento mentale autismo. Suas técnicas de f(iodificação do 'c6in'portamento são empregadas em

escolas, negócios, instituições:correcionais e hospitais,

B. F. Skinner, o mais velho ci~ dois irmãos, nasceu em Susquehanna, na Pensil­

vânia; o irmão morreu aos 16 anos. Os seus pais eram pessoas trahalhadoras que

incutiram em seus filhos regras claras de comportamento adequado, "Fui educa­

do para temer a Deus, a polícia e o que as pessoas vão pensar" (Skinner, 1967, p.407). A sua mãe nunca se desviou de seus rígidos padrões. O seu método de con­

trole era dizer "tsc tsc". A avó certificava-se de que ele entendera as punições do

inferno, apontando as brasas do aquecedor da sala de visitas. O pai contribuiu pa­ra a educação moral do filho, ensinando-lhe a sina que recai sobre os criminosos.

Mostrou-lhe a cadeia pública e levou-o a uma aula sobre a vida numa notól;a pri­são estatal de Nova York.

A autobiografia de Skinner contém muitas referências ao impacto dessas ad­

vertências na infância sobre o seu comportamento adulto, Ele escreveu sobre ter

visitado uma catedral e tomado cuidado para evitar pisar nas lápides do piso;

quando criança, fora instruídq, de que tal comportamento não era adequado. Es-ses e outros exelilnl()~ l()rnAr~I'~~-lhprl::l.l"n nl1P 1\(' C"Pl1C' I",.,. •.,...,..•n.·t,. •.•..........~. ....1.• 1..•. ,

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A Vida de Skínner (1904-1990)

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,.atos, Pombos e um Organismo Vazio

,!?J'<:. Skinner não apresentou uma teoria de personalidade que possa ser facilmen­

te contrastada e comparada com outras teorias discutidas neste livro. Na verdade,

ele definitivamente não apresentou uma teoria da personalidade, nem sua pesqui­

sa tralou especificamente de personalidade, O seu trabalho tentou dar conta de tõ­'(ia comportamento, não apenas da personalidade, em termos concretos e descri-

tivos, "Não se pode chegar a resultados, ficando sentados e teorizando sobre o

mundo interior. Quero dizer àquelas pessoas: atenham-se aos fatos" (Skinner ci­

tado em Hall, 1967, p, 70), Skinner argumentou que os psicólogos devem limitar

suas investigações aos fatohao que eles podem observar, ,manipular e medir llQ.

laboratório, Isso significa uma ênfase exclusiva nas respostas observáveis que

uma pessoa avaliada fornece e nada mais. A alegação de Skinner era que a psico­

logia é a ciência do comportamento, do que um organismo faz.

Já dissemos que essa abordagem foi popularizada por John B. Watson. O es­

pírito da revolução comportamentalista de Watson na psicologiarque,influenciouo jovem Skinner, continua a existir no trabalho de Skinner, ainda que numa ver­

são mais sofisticada e madura.,O-estudo.,de....'lkinner...s..obre o comportamento é ª--' antítese das abc;>rdagens psicanalítica..ill:.traços,.desenvoly.irru,nti~J.ª..s.~gnitiva e

humanista, difering.9_~l~1ili2..<lpe.nas~ant()_i\~ 0!Jleto de estudo, mas 'ta!!!.b.ém

~~.ão à m~i9doT.ogrãe-:ioi_Qhjeli.v.o.s..-- ~--, -'-.-." -=-~~""----=-. Ao explicar a personalidade, a maioria dos outros teóricos busca pistas den­

tro da pessoa. As razões, motivos e impulsos - as forças que direcionam nosso

desenvolvimento e comportamento - originam-se dentro de cada um de nós.

Skinner, ao contrário, não fez referência a estados subjetivos internos para expli­

car o comportamento, Influências inconscientes, mecanismos de defesa, traços e

outras forças motrizes não podem ser observados;e, portanto, não têm lugar nu­

ma psicologia científica. Não têm mais valor para a ciência que o antigo concei­

to teológico de alma. Skinner não negavaaexistência de forçl!s internas, mas ape­nás sua utilidade científica, Skinner aplico"u raciocínio"análogo aos processos

fisiológicos que não são observáveis nem relevantes para a ciência. Disse ele: "Ointerior do organismo é irrelevante seja como o sítio dos processos ,fisiológicos,s~já como o local das atividades mentais" (citado'Ím Evans, 1968, p. 22), .

De fato, ele não via necessidade de buscar, dentro do organismo, alguma

fonna de atividade interna. Para Skinner, os seres humanos são "()n~anismos va­zios", termo CO]Tl o qual sugeria que não há nada dentro de nós que possa ser in­

vocado para explicar o comportamento em termos científicos. Assim, no debate

pessoa-situação, Skinner estava clara e exclusivamente do lado do ambiente ou

situação.

Outra maneira pela qual Skinner se diferenciava de outros teóricos era na

sua escolha das pessoas submetidas a experimentos, Alguns teóricos da perso­

nalidade concentram-se em pessoas emocionalmente perturbadas e outros foca­lizam indivíduos normais ou medianos. Pelo menos um deles baseou sua teoria

nas pessoas melhores e mais brilhantes. Embora as idéias de Skinner sobre com­

portamento tenham sido aplicadas a pessoas, as pesquisas de sua abordagem

comportamental utilizaram ratos e pombos. O que podemos aprender sobre a

personalidade humana a partir de pombos? Lembre-se de que o interesse de

Skinner era por respostas comportamentais aos estímulos, e não por experiên­

cias de infância ou sentimentos de adulto: Responder a estímulos é algo que os

animais fazem bem, algumas vezes melhor do que as pessoas. Ele admitia que o

____ ~ ~('~n~m"r.~n~r~t~~m="n~t~n.humano..éJna~omplexoque o comport~.mento animal, mas su----~ .. ~ ... ~ ""......a:+'''''..''''•.•,.....-'C' "'~f"5", n<::l inlpnc::.irl:::uip. f": nãn no tlnr, FI~.~,..t"Prlit~I"~flllP nc

Page 4: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

ARTE 8 A Abordagem Comporta mentalQUATORZE B. F. Skinner 365

Reforçamento: A Base do Comportamento

A abordagem skinneriana do comportamento, conceitualmente simples, é funda­

mentada em rilÍÍhares de horas de pesquisa bem controlada. ~éia fundamen­

tal é que o comportamento pode ser controlado POl~~~collse.9.@nci~§,~l!.....

pelo que o acompanha. Skinner acreditava que um animal ou um ser humano po­

ceria ser treinado para desempenhar praticamente qualquer ação e que o tipo de

reforçamento que se seguisse ao comportamento seria o responsável por determi­ná-Io, Assim, quem quer que controle os reforçamento tem o poder de controlar

õ;)ffiportamento humano, da mesma forma que um experimentador controla ocomportamento de um rato dç::laboratório.

viam sido determinados pelas recompensas e punições (os "reforçamento"') que

recebera quando criança. Portanto, o seu sistema de psicologia e sua visão das

pessoas como "sistemas comportamentais complexos de acordo com a lei." refle­

tiam as suas próprias experiências na infância (Skinner, 1971, p. 202).

Também proféticas sobre as suas opiniões de que as pessoas funcionam como

máquinas que operam de modo previsível foram as muitas horas que passou cons­

truindo dispositivos mecânicos como vagões, gangorras, carrosséis, catapultas, ae­

romodelos e um canhão a vapor que atirava pedaços de batata e de cenoura na ca­

sa dos vizinhos. Skinner também trabalhou numa máquina de moto-perpétuo, que

fracassou perpetuamente. Seu interesse pelo comportamento animal é também

proveniente da infância. Tinha tartarugas, cobras, sapos, lagartos e esquilos como

animais de estimação. Um conjunto de pombos adestrados numa feira municipaldeixou-o fascinado. Os pombos encenavam umâcorrida, empurravam um CatTO

de bombeiros até um edifício em chamas e encostavam uma escada nele. Um pom­

bo treinado, vestindo um chapéu vermelho de bombeiro, subia até a janela de um

'~'''andllr superior para resgatar um pombo em perigo. Posteriormente, Bkinner trei­

naria pombos para jogar pingue-pongue e para Cl?pduzir um míssil até um alvo.

EncontrandÓÜma identidade

--------------------Skillller graduou=se-eminglês"no -Hamilton-College-e-esperava-torna~eToman;------­

cista após a graduação. Encorajado pelos comentários favoráveis sobre o seu tra-

balho feitos pelo eminente poeta Robert Frost, Skinner construiu um estúdio no

sótão da casa de seus pais em Scranton, Pensilvânia, e tentou escrever. Os resul-

tados foram desastrosos. Lia, ouvia rádio, tocava piano e construía modelos de

navios enquanto esperava por inspiração. Pensou em consultar um psiquiatra,

mas para o seu pai seria um desperdÍCio de dinheiro. Skinner tinha 22 anos e era,

aparentemente, um fracasso na única coisa que desejava fazer.

Mais tarde, referiu-se àquela época como o seu ano sombrio, o que Erik Erik­

sori chamaria de crise de identidade. A ideiltidadeDcupacional de escritor, que

construiu cuidadosamente durante os seus anos de universidade e que Robert

Frost reforçou, de.smoronou e levou consigo o senso de respeitá próprio. Saiu deScranto para Greenwich Village, em Nova York, mas descobriu que lá tambéin"

não conseguia escrever. Pior, sob o seu ponto de vista, foi que várias mulheres

desprezaram o seu amor declarado a elas, deixando-o tão perturbado que marcou

a ferro quente as iniciais de uma mulher em seu braço, que permaneceu durante

anos (Skinner, 1983a).

Quando já perdera toda a esperança, descobriu uma identidade que lhe caía

bem e à qual iria se apegar pelo resto da vida. lá que escrever não havia funcio­

nado com ele, decidiu estudar o comportamento humano pelos métodos da ciên­

cia e não da ficção. Leu livros de Ivan Pavlov e lohn B. Watson e resolveu tor­

nar-se comportamentalista. Dessa forma, sua auto-imagem e identidade ficaram

seguras. :...Skinner ingressou na Universidade de Harvard em 1928 para estudar psico­

logia. Nunca fizera nenhum curso na área, mas obteve seu Ph.D. em três anos. Sua

opção pelo comportamentalismo levou-o a rejeitar os sentimentos e as emoções

que tentara retratar como escritor. Um historiador de psicologia observou que:

" . ,.:.. "".; ~

envo]vimento com processos intrapsíquicos, tais como intuição. livre associação, flu­xo de consciência e participação do inconsciente, bem como a consideração de fan­tasias e sentimentos como sendo partes importantes do ser. A última nega isso tudo- faz com que as fantasias, os sentimentos e todo o domínio intrapsíquico refluam

a uma condição de noções 'pré-científicas' (para usar o termo favorito de Skinner),enquanto se dá atenção a9 comportamento observável e às operações aecessárias pa­ra registrá-I o, predizê-I o ~ controlá-Io eficientemente'; (Mindess, 1988, p. 105).

Processos psíquicos aparecem no trabalho de Skinner apenas C0l110 objetosde escárnio.

Ele ficou em Harvard até J 936 com bolsa de estudos de pós-doutorado. Le­

cionou, em seguida, na Universidade de Minnesota e na Universidade de India­

na, retomando a Harvard e~ 1947. Por volta de seus 40 anos, expelienciou umperíodo de depressão, que resolveu voltando à sua fracassada identidade como es­

critor. Ele projetou o seu descontentamento emocional e intelectual no protago­

nista de um romance, Walde"h two, dando vazão, por meio do personagem, a suasfrustrações pessoais e profi~~ionais (Skinner, 1948). O livro, que continua sendo

editado, já vendeu mais de 2"milhões de cópias e descreve uma sociedade na qual

todos ps aspectos da vida são controlados por reforçm.nento positivo, que é o prill-.cípio básico do sistema da psicologia de Skinner~ . . _

-··-----Aos 8"0anos, continuav~ a trabalhar com entusiasmo e dedicação. Regulava

os seus hábitos, registrando;~ sua produção diária e o tempo médio gasto por pa­

lavra publicada (dois minutos). Assim, virou um exemplo vivo de sua definiçãodos humanos como sistemas comportamentais que se comportam de acordo comas leis. Construiu em sua casa uma caixa pessoal de Skinner, um ambiente contro­

lado que fornecia reforço positivo. Dormia num tanque de plástico amarelo gran­de o suficiente para conter um colchão, estantes e um peqlleno aparelho de televi­

são. Ia para a cama toda noite às 22 horas, dormia por três horas, trabalhava em

sua escrivaninha durante uma hora, dormia mais três e se levantava às 5, para maistrês horas de trabalho antes de caminhar um quilômetro e meio de seu escritório

até Harvard, Administrava reforço positivo toda tarde ao ouvir música. Certa vez,

comentou com um amigo que fora citado mais vezes na literatura de psicologia

que Freud. Quando lhe foi perguntado se esse tinha sido o seu objetivo, respon­deu: "Eu pensava que isso era possível" (citado em Bjork, 1993, p. 214).

"[Há] diferenças essenciais entre uma caneira d~'votada a escrever poesia e ficção euma outra devotada a promover a causa do comportamentalismo. A primeira requer

Comportamento

respondente. Respostasproduzidas ou••.••..:_: __ .J __ ."

Comportamento resp0i1dente_~lt-lnnp •• rI~f,02·•••n,....;,..,.•• rl •..•~ •.• t: ,.:,·...l •.••. ~ ..••. ~_.u _ ~

Page 5: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

:~;(ARTE 8 A Abordagem Comporta mental

QUATORZE B. F.Skinner 367

Animais podem sercondicionados ao serem

reforçados com comidaquando exibemcomportamentosdesejáveis.

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F I G U."R A 1 4" ,1" Um apary/ho simples de condicionamento operante.'

Para ilustrarmos o processÔ.de cOlldicio/lame/lto operallte, acompanhcmos ocurso de um rato no aparelho dc condicionamento operante de Skinncr, também

conhecido como caixa de Skinner (ver Figura 14.1). Ao colocar um rato sem co­

mida na caixa, no início o seu comportamento é espontâneo e aleatório. Elc fica

ativo, fungando, cutucando e explorando o seu ambiente. Esses comportamcntos

são emitidos, não originados; em outras palavras, o rato não cstá respondcndo anenhum estímulo de seu ambiente.

Em algum momento durante essa atividade, o rato pressionará uma alavan­

ca ou barra localizada numa parede da caixa dc Skinner, causando a queda de

uma bolinha de ração numa vasilha. O comportamcnto do rato (pressionar a ala­

'. vanca) atuou sobre o ambienle e, como conseqÜência, modificou-o. Como'? O

ambiente agora possui uma bolinha de ração. A ração é um rcforçador devido ao

____ ~C(lf.llp01:tam~Ht{l-de__pressiol1ar ..a-barnr. ..e..rato--ctlmeça a prcsslonar a barra comn .••...•~•..•.,. ~·.·.o•..•i;í:>.'n ••• r"'\ .••• _ ""_'h._') rI .

A caixa de Skinner e o','proce55o de condicionamento operante

Comportamento operante _---.------ •.--.---.

Condicionamento

operante.O procedimento pormeio do qllalllmamlldança nasconseqüências de limaresposta afetará a taxana qual a respostaocolTe.

.~,

C<rnip"orlainentooperante.Comportamento emilidoespontânea ouvoluntariamente quealua no ambiente paramodificá-lo.

lho, é um exemplo. Aplica-se um estímulo (uma batida no joelho) e ocorre a res­

posta (a perna dá um' solavanco). Esse comportamento não é adquirido. Ocorre"

_--=~u~-,-nátic!l:~~:y'(llul1taFiamente.-Não prMisamos ser treinados ou-eondicioJIll.dO.Lpara produzir a resposta adequada.

Num nível mais alto está esse tipo de comportamento, que ~ adquirido. Esse

aprendizado, chamado condicionamento, compreende a substituição de um estí­

mulo por outro . .9 çqn~lto originou~ trabalho do fisiologista russo Ivan Pa­

v\ov por volta de 1900. M~is tarde, as idéias de Pavlov sobre condicionamento

fo~.~rrta_d()t_ad~spor lohn B. Watson como o método de pesquisa básico do com­porta mental ismo.

Trabalhando com cães, Pavlov descobriu que eles salivavam em resposta a

estímulos neutros, tal comO o som dos passos db lratador. Antes disso, a respos­

ta salivação tinha sido originada por apenas um estímulo: a visão de comida. In­

trigado com essa observação, Pavlov estudou o fenômeno de fonna sistemática .

•~l.~:j'ª-Ziª.soar um si~o um pouco antes de alimentar um cão. No início, oeão sa~ . ".' ,

livava apenas em resposta à comida, e não ao sino, pois o sino era desprovido designificado. No entanto, após uma série de badlladas duplas seguidas pela comi-da, o cão começou a salivar ao som do sino. Logo, o cão havia sido condiciona-

do, ou ti'einado, a responder ao sino. A resposta do cão deslocou-se da comida pa-

ra o que, no início, havia sido um estímulo neutro.'

O experimento clássico de Pavlov ~~l:nonstrol\ a importância do refor­

çamento. Os cães não aprenderiam a responder aos sinos, a menos que fossem re­

compensados por proceder assim. Neste exemplo, a recompensa foi comida. Pa­vlov, então, formulou uma lei fundamental para o aprendizado: .•não seP.2..d~

estabelecer uma resposta condicionada na ausência de reforço. O ato de reforçar

wna resposta fortalece-a e aumenta a probabilidade de que a resposta se repita.No entanto, uma resposta condicionada estabelecida não se sustentará na au-

sência de reforço. Imagine um cão condicionado a responder ao som de um sino.

Toda vez que o sino toca, o cão saliva. Aí o experimentador interrompe o forneci­

mento de comida após tocá-Io. O cão ouve o sino e nada ocorre - não há mais co­

mida, nelT)~eforço ou recolTIpensa. Com os toques sucessi vos do sino a resposta

salivação do cão diminui em intensidade e freqÜência, até não ocorrer mais nenhu­

ma resposta. Esse processo é chamado exti/lção. A resposta foi removida, ou ex-rima, POrque os reforcos ou recompensas a ela não r'oram malS fornecidos.

Extinção. O processode eliminação de umcomportamento pelaretenção dereforcamenlo.

Reforçamento. O ato defortalecer uma respostacom a adição de umarecompensa.alimentando. assim. a

probabilidade de que aresposta seja repetida.

.' .

Page 6: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

,RíE B A Abordagem Comporta mental

QUATORZE B. F. Skinnel' 369

'. .;"'" ~'

Esquemas de Reforçamento

çar o raLOnum esquema de reforçamento contínuo, ou seja, toda vez que ele res­

pondesse? O que aconteceria se recompensasse o rato apenas uma vez por minu­to, independentemente da freqÜência com que ele pressionasse a alavanca em

busca de comida? O resultado surpreendente desse raciocínio foi que Skinner e

os seus estudantes gastaram nienos tempo fazendo bolinhas de ração. Iniciou um

programa de pesquisas que o levou à sua contribuição mais significativa: esque­mas de reforçamento.

1"';;;0- •.- .•••.•.•• • ••••••. ' •..• õ'\:J-curupOll ~1t1t::fl{e-of)-pSlCa-------

Skinner apontou que na vida cotidiana fora do laboratório de psicologia são im­

prováveis os esquemas dereforçamento contínuos. Nosso comportamento é ra­

ramente reforçado toda vá que ocorre. Um bebê não é colocado no colo e acari­

ciado sempre que chora.· Os astros de beisebol não conseguem a pontuaçãomáxima todas as vezes que usam o taco. O empacotador do supermercado não re­

cebe uma gOljeta por saco_,~mpacot~doç.oseu.grupo musical favorito não ganhaum Grammy para todo álf,ium que grava: Você pode pensar em muitos outros

exemplos decomportame~tos que persistem mesmo que sejam reforçados ape­nas eventualmente .. ",'

Depois de observar ql!_~os seus ratos continuavam a pressionar a barra a uma

rãzão relafivamente-constantê-. mesm'o-qua-ndo'não'estavam sendo reforçados por

resposta, Skinner decidiul~vestigar diferentes esquemas de reforçamellto paradeterminar a sua efetividade em controlar o comportamento. Entre as razões de

reforçamento que ele testou encontram-se as seguintes:

• Intervalo fixo.

• Razão fixa.

• Intervalo variável.

• Razão variável.

--,;_.- T":'....:_L T:"' d_

<iJ T:!m~!!f!!!ª-.deIefo[Çll,~'!!!Q.~!!illD'alos fixos sig!ill~:clQf~ador ..é fornecido a panir~" primeiril r~~posla _q.l"'~· ~~~n·~r!~~()i~.~ce_tçr.p-ª,~.s.ª-ºQ.J!lJ1jo:

lervalÓ fixo ç1e.I.en1po.• que pode ser um minuto, três minutos ou qualquer outroperíodo fixo. A sincronização do reforço não tem nada a ver com o número de rcs­

postas. Se o rato respo!1~~J __Q!L6º..Yeze..s._P-OLlJJiIU!!{Lºl!.!:Q.I1!.~..0 intervalo fixo, o

reforçador continua a._~!~~~·~ll1e2 .•.te d~}s dapas~1;:.!'" d~ um~~o~ii?~~?~~ ..iempo e da elliis's1ío da re~osta correta.

--. I-Ú;nuita~ sil~,~çÕes cjU'e-o-;;~~:;:~.~-s;;-gundoo esquema de reforçamenlo a in­tervalos fixos. Se o seu professor der um exame no meio do semestre e outro no

final, estará usando um esquema de intervalo fixo. Um emprego no qual o seu sa­

lário é pago uma vez por semana ou uma vez por mês funciona num esquema de

intervalo fixo. Você não é pago de acordo com o número de itens que produz ouque vende (o número de respostas), mas pelo número transcorrido de horas, diasou semanas .

As pesquisas de Skinner mostraram que Çluªp~~_rT1ais_ç.!!!·!Oo intervalo entl~e_

~presel!!!,~~.s do rcforç~dor, maior a freqÜência ~~. r~p~s!~, cuja razão de,caiu com o aumento do intêrvalo entre os reforçamentos. A freqÜência de apare­

cimento dos reforçadores ta(nbém afetou a rapidez de extinção da resposta, a qual

cessava mais rapidamente ~e o rato tivesse sido reforçado continuamente e depois

o reforçamenl:o fosse inl.errgmpido do que se o ralo tivesse recebido reforçamento----Lle. llJQÔn ln~.~~"~'~,~:~~.ti

Esquemas de-­reforçamento. Padrõesou razões defornecimento e retirada

de reforçadores.

dessa forma, pressiona a barra ainda mais freqüentemente. O comportamento do

rato está agora sob o controle dos reforçadores. Suas atividades na caixa são me­

nos aleatórias e espontâneas, pois passa a maior parte do tempo pressionando abarra e comendo.

Se o colocarmos de volta na caixa no dia seguinte, poderemos predizer o seu

comportamento e controlar suas ações de pressionar a barra ao fornecer-lhe ou re­

tirar-lhe os reforçadores ou ao fornecê-I os numa quantidade diferente. Ao retirar­

lhe a ração, o comportamento operante extingue-se da mesma forma que o res­

pondente. Se o comportamento não reforçado não funcionar mais, por não trazer

mais recompensas, cessará brevemente. Assim, ~ pe~s,()a que controla os reforça­dores também controla o comportamento dos avaliados.

Skinner acreditava que a maior parte do comportamento humano e animal é

adquirida por meio de condicionamento operante. Considere a forma como os be­

bês aprendem; no início, demonstram comportamentos aleatórios e espontâneos,

dos quais apenas alguns são reforçados (recompensas com comida, abraços ou

brinquedos, por exemplo) pelos pais, irmãos ou"por quem cuida deles. À medida

que forem crescendo, os comportamentos reforçados posit!y.ilmente"aquel.es que

os pais aprovam, persistirão, ao passo que os desaprovados pelos pais' serão ex­tintos ou descontinuados. O conceito é o mesmo que o do rato na caixa de Skin-

.. ner. CompÓrtamento; cj~b'funcionam (pressionar a barra para obter ração) são

exibido~Jr_~9ü_entemente e os que nã~ funcio~~m não se repetem. Portanto, o

.c<~!TI.portamento do OJ:galllsmo ãiua sobre o ambiente, o qual atua sobl-e-a compô~:':'

tamento do organismÇl sob a forma de reforço.Você pode ver quão poderoso pode ser o reforço em determinar e controlar

o comportamento. Skinner escreveu que: '~O.c()n.~kionamento operante molda o

comportamento como um escultor molda lIm pedaço de argila" (1953, p. 91). Seesse pedaço de argila necessitar demais desse reforçador, não haverá limite emcomo moldar o seu comportamento - por um experimentador com uma bolinha

de ração, pelo dono de um cachorrinho com um biscoito canino, por uma mãe

com um sorriso, por um chefe com um tapinha nas costas ou pela promessa feita

por um governante.A partir da infância, exibimos diversos comportamentos e aqueles que são

í'éforçados irtl6 se fortal;;·êh e fonnar pad.'ões. Era assim que ~1<i!U)erçQJlC.ebiaa ..

1?~~~1i.?_~al}dade,CO~_~~!!!.pad~ .~ .cpnjunto de comportam.el1.!9..§.-ºperante~Qque outrOSpsicQ1Qg9s ch,!!!,ariam~rtamento ne!lrótico ou anormal pa­

!!I.,~kinnel:.!\ªR ..Ǻ-Il!!.~~.~térios do que o desemp.enho contínuo de com:

po~_~~~_~~o~}.!ldesejá_~.i,;;.~ hav~~d.Qs~Tendo demonstrado como o comportamento poderia ser modificado por

meio de reforçamento contínuo - ou seja, oferecendo reforçamento depois de

cada resposta -, Skinner decidiu examinar como o comportamento poderia sermodificado se ele variasse a razão em que era reforçado. O que o levou a essa

questão foi uma preocupação prática, mais uma questão de utilidade do que umacuriosidade intelectual. Começou com as bolinhas de ração usadas para reforçar

os ratos em sua pesquisa. Hoje em dia, podem-se comprar muitos sacos de boli­

nhas de ração produzidas industrialmente, mas, na década de 1930, os pesquisa­dores e os seus azarados estudantes de graduação passavam muitas e tediosas ho-

. ras fazendo manualmente essas bolinhas de ração. O laboratório de Skinner

precisava de, no mínimo, 800 bolinhas por dia para manter os experimentos. Numsábado à tarde, descobriu que a não ser que ele passasse a noite fazendo bolinhas,

o suprimento estaria esgotado na segunda-feira. Mesmo-para um pesquisador de­

dicado, passar um fim de semana com a máquina de bolinhas de ração não era

--~-I:Gn-R-f'êf5l'le~i~a.atr.2.entc Ocon-eu-lhe uma alternativa: ro~' 'luc ele teria de !:efor-

Page 7: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

PARTE 8 A Abordagem Comportamen-cal QUATORZE B. F.Skinner 371

ciente em produzir taxas de resposta altas e estáveis, como pode ser alegremente

confirmado por quem faz apostas em cassinos. Caça-níqueis, roletas, corridas decavalo e loteria federal pagam segundo um esquema de reforçamenlo de razão va­

riável, o que é um meio altamente eficiente de controlar comportamentos. Os es­

quemas de reforçamento vahável resultam em comportamentos de resposta du­radouros, que tendem a resistir à extinção. A maior parte dos aprendizados diários

ocorre como resultado de e~quemas de reforçamenlo a intervalos variaveis Oll derazões variáveis.

As pesquisas de Skinner sobre esquemas de reforçamcnto fornecem umatécnica efetiva para controlàr, modificar e moldar o comportamento. Se você for

responsável por ratos, vendedores ou operários de uma linha de montagem Oll seestiver tentando treinar seu animalzinho de estimação ou scu filho, essas técni­

cas de condicionamento operantes podem ser úteis para produzir o comporta­mento que você deseja.

·(~':...!.<~:'·f·:

Aproxim0çães Sucessivas: A Modelagem do Comportamento.-

Um sorriso de

aprovação dos paispode reforçar o :' .. ) .

. ---00ff1pÕ"ftEfffl"effW tfe- ----~-~:",:.~.L_·_--.;'---5~----Cr:;~':"·-··uma criança. ~i)~;~;.;J

No experimento original de Skinner sobre condicionamento operante, o compo.l\.tamento operante (pressionar a alavanca) é um comportamento simples: que'és:'pera-se que um rato de laboratório exiba ao final do percurso de exploração de

. - --- ...---- -~.-_seu-ambiente._Assim,.há uma grandeprobabilidade.de quclal comportam'entove-~ .__ ._nha a ocorrer, desde que o experimentador tenha paciência suficiente. É óbvio,

entretanto, que animais e seres humanos demonstram muitos comportamentosoperantes mais complexos que têm probabilidades de ocorrência muito mais bai-

~ d - fi c d .. c . xas no curso normal dos eventos. Como esses comportamentos complexos sãoNo esnuema de rei orçamento e razao Ixa, os rei orça ores sao 10rneCI- ....~x, .. , -------- - adqUIrIdos? Como um expenmentador ou um progenitor podem reforçar e con-

dos somente apos o orgamsmo realizar um numero determmado de respostas. Por d' . b . d h __.· .. ·.n~ __ • , •• , • IClOnar um pom o ou uma cnança a esempen ar comportamentos que nao sao

exemplo o experimentador reforçana após toda decl1na ou vlgesllna resposta. , . d t t '/' .. " .. passlvels e ocorrer espon aneamen e.

Nesse esquema, diferentemente do esquema de Illterva.lo fixo, a apresentaçao d~s Aproximações Skinner respondeu a essas questões com o Inétodo de aproximações suces-reforçadores depende de quão freqüentemente o avaliado respon~e. O rato nao sucessivas. Explicação sivas, ou modelagem (Skinder, 1953). Em poucóíêinpó,Úeinouumpombo a bi-

receberá uma bolinha de ração enquanto não emitir o número exigIdo de respos- pama aquisição de car uma mancha específica em suá gaiola. A probabilidade de que o pombo bi-

tas. Esse esquema de reforçamento produz uma taxa mais rápida de respostas que < comportamento casse, por si mesmo, precisamente aquela mancha era baixa. No princípio, ele el:a,d "'1' I f' " ...complexo. Um .·C· 'd d' I . d" h

O esquema e I~ erva o IXO... " comportamento, tal re~orçado co~ comI a ~uan,o sllnp ~smente se vIrasse em Ireção a I~anc a. De-A taxa maIs alta de respostas para o reforçamento de razao fIxa tambem se como aprender a falar, pOIS, suspendia-se o reforçamento ate que o pombo fIzesse algum movunento, por

aplica aos seres humanos. Num trabalho no qualo seu pagamento é determinado somente será reforçado menor que fosse, em direção) mancha. A seguir, era fornecido reforçamento ape-

com base numa razão por peça, o quanto você gânha depende do quanto produz. quand.o convergir ou se nas para movimentos que o~.Jevassem para mais perto da mancha. Depois disso,

Quanto mais itens produzir maior será o pagamento. A recompensa está ~irela~ '. aproximar do. O pombo era reforçado somente quando mexesse a cabeça na direção da mancha.

_me.~t~~~~ea~nataxa de re~postas~ O mesmo é válido pá,:a-úí; ve~ded~r que tra- ~~~~f~~'~~l1lentofmal Finalmente, ele era reforça~,? apenas quando? seu bico. t~casse a mancha. Em-balha por comissãá:-'o pagamento depende do número de produtos vendIdos; bora pos~a p~recer um proce~so demorado, Skmner condlclOnou pombos em me-quanto mais vender, mais ganha. Em contraposição, um vendedor que recebe um nos de tres ml.nutos ... ' , .. _

salário semanal ganha a mesma coisa toda semana, independentemente do núme- O procedlment~ expe,nmental exphca, por SI mesmo, o termo aproxlmaçoes. d . d'd sucessivas. O orgamsmo e reforçado conforme o seu comportamento for se apro-10 e Itens ven I os, , '-~"." .. d Id .

M 'd 'd" d . c ne to de I'n xlmando, em estaglOs sucessIvos ou consecutivoS, o comportamento fina cse)a-as nem sempre a VI a COtl lana penmte um esquema e le,orçm n - ... 'o •••

, t d b do. Skl11ner sugenu que e dessa maneira que as cnanças aprendem o comportamen-tel'valo fixo ou de razão fixa Os reforçadores são as vezes apresen a os numa ase '0"." .., .' o' :,. to complexo da fala. Os bebes emItem sons espontaneos e desprovIdos de sentIdo,

val··la'vel No esquema de ref<orçamento a mtervalos vanavelS o reforcador pode , ...., '. , . ' ' ~~=.-_; ". que os paIS reforçam ao somr, nr e conversar. DepOIS de um certo tempo, os paISaparecer apos duas horas napnmelra vez, uma hora e meIa na segunda e apos duas reforçam esse balbucio de formas distintas fomecendo reforcadores maiores para

,oh----" ., . U ssa o dia pescando deve ser ' >

orase qumze ml11utos na terceira. ma pes~oa que pa ., . sons que se aproximam de palavras. Com a continuação do processo, o refor-

recompensada, quando muito, com base em mtervalos V~llaVels. Q.es~uema:de . .r\;.- çamento dos pais torna-se mais restrito, fornecido apenas quando do uso e da pro-

ti:>rçoé_~eteJIl'linad().p_elo apareci~ento al~~~ó~~~~_~?~~lS:~d3:5_~_~!~e_Tl..a~~ca. _ núncia adequados. Portanto, o comportamento complexo de aquisição do domínioUm esquema de reforçamento de razao vanaven6.'ªse_~c1º.num numero da linguagem é modelado por meio de reforçamento diferencial em estágios,

médio de respostas entre reforçadores, porém com grande variação em torno da Skinner foi responsáve1. uma vez, por modelar o comportamento do psica--m@dia~k.inner--v(lBfi(;ou-que-<l.esquema.de.refDIçamen1D_de.J}lZfuLY.lJIJáve] é efi-~ ~_. ,. ~_---",_:""L..:c.~~.~ ..'~' .. ,0 ••..••. __ .• _ .• ~_ ••

• u_, ----- tlF'mn-~tnnn1Tlr;:Ü' -ci(rp.rf:"'-fil-,-rlf"ç:,~, tnn"'~l.;" P.'J(ff"ITI~ li:

Page 8: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

PARTE B A Abordagem Comporta mental QUATORZE 13.F. Skinner 373

fixos. É provável que o pombo estivesse fazendo alguma coisa, exibindo algum

tipo de comportamento ou atividade quando a bolinha de ração reforçadora fos­

se apresentada. Ele podia estar dando uma volta, levantando a cabeça, emperti­

gando-se, saltitando ou estar imóvel. Qualquer que fosse o compOl'tamento emi­tido no momento da recompensa seria reforçado.

Skinner descobriu que um único reforço era poderoso o bastante para levar

o pombo a repetir com maior freqÜência o comportamento reforçado acidental­

mente, o que aumentava a probabilidade de que aparecesse outra bolinha de ra­

ção enquanto aquele comportamento era efetuado. E, com intervalos curtos entreos reforçadores, os comportamentos supersticiosos são adquiridos rapidamente.

Assim como os jogadores de futebol dos exemplos anteriores, os comportamen­

tos supersticiosos oferecidos pelo pombo não possuem relação funcional com os

reforçadores. A conexão é involuntária. Nos seres humanos, eles podem persistir

por toda a vida e reqllerer,apenas reforços ocasionais para sllstentá-Ios.

~ •••.•• o;:: . .-.:..:";;.-_--_ -_. h.----r--.~- ---

. ,.~, .. '~t',.

Autocontrole.

A capacidade de exercercontrole sobre as

variáveis quedeterminam nosso

comportamento.

o Autocontroledo Comportamentoo comportamento é conu:6lado e modificado por variáveis cxternas ao organis­

·mo. Não há coisa alguma't1entro de nós - nenhum processo, impulso ou qual-,. . . .__ -'!uer áti'~jdade interna que odetennine. Entretanto, embora esses estímulos e

reforçadores externos sejam responsáveis por moldar e controlar o cOJnportamen­to, temos a capacidade de"llsar o que Skinner chamou d~ alltocolltrole, que des­

creveu como o agir para álterar o impacio de eventos externos. Skinner não esta­va falando de agir sob o-controle de algum se(f misterioso. Ele sugellu que

podemos, até certo ponto; controlar as variáveis externas que determinâin nossocomportamento.

Skinner propôs diversas técnicas de autocontrole. Na evitação do estímulo,

por exemplo, se a música do aparelho de som do seu colega de quarto o incomo­dae interfere nos seus estudos, você pode abandonar o quarto e ir à biblioteca,.!'.e­

tirando-se de uma variável externa que afeta o seu comportamento. Ao.evitar uma

,:.~pessoa.ouuma situação que o deixa irritado, você reduz o controle que a pessQj1

ou a situação tem sobre o seu comportamellio. De maneira semelhante, os alcoó­

latras podem agir para evitar um estímulo que controla o seu comportamento ao

não permitir que se guarde bebida alcoólica em sua casa.Por meio da técnica de ~aciedade auto-administrada, exercemos controle

para nos curarmos de maus hábitos ao exagerarmos o compo'l:tamento. Aqueles

que quiserem parar de fumar podem fumar um cigarro atrás do outro por um pe­

ríodo de tempo, tragando sempre, até se tornarem tão enojados e desconfortáveis

ou tão doentes que acabam largando o vício. Essa técnica tem sido bem-sucedi­

da em programas de terapia formal planejados para eliminar o hábito de fumar. A

técnica de autocontrole por Ç.st!fi1u1.ação aversiva.envol~e_c..?~lseqÜências desa~

gradáveis ou repugnantes. Pessoas obesas que queiram perder peso declaram sua

iiltenção aos seus amigo"s. Se elas não mantiverem a sua resolução, enfrentam as

desagradáveis conseqÜênçias de fracasso pessoal, embaraços e crítica. No ~uto­

.r~forço, nós nos recompensamos por exibirmos comportamentos bons ou desc­

jáveis. Pode ser que um adolescente que concorde em esforçar-se por uma deter­minada nota ou em cuidar de um i1mão ou irmã menor recompense a si mesmo

comprando entradas para,llIn concerto ou roupas novas .

.f'ilsaS~inner, então, Ô ponto crucial é que vatiáveis externas moldam e con­trolam o comportamento.·Mas, às vezes, por meio de nossas próprias ações po-

---demm-modificar .0s.efeitos_dessasJ.oI.c.~ externas. ~_. ._

"Erich Fromm julgava ter algo a dizer sobre quase tudo, porém com pouca profundi­dade. Quando ele começou a argumentar que não éramos pombos, decidi que tinhade fazer alguma coisa. Escrevi [a um colega] num pedaço de papel: 'Olhe a mão es­

querda de Fromm. Vou fazer com que ela fique entrecortando o ar' (...) [Fromm] ges­ticulava bastante ao falar e, toda vez que levantava a mão esquerda, eu olhava dire­

tamenle para ele. Se baixasse a mão, eÚ meneava a cabeça e sorria. Em cinco minutos,ele estava golpeando o ar tão vigorosamente que o seu relógio ficava escon'egando

do braço para a mão" (S(<inner, 1983.a,pp. 150-151).

Comportamento SupersticiosoSa\!Jemos que a vida não é sempre tão ordenada ou bem controlada como os even­

tos num laboratótio de psicologia. Somos, às vezes, reforçados acidentalmente após

termos exibido algum comportamé;lto. Como conseqÜência, esse comportamento,

q'üe não recebeu ou causou reforço, pode se repetir em situação semelhante:Considere um exemplo do futebol. Um jogador dos Tampa Bay (FL) Bucca­

neers estava Illuna péssima temporada no início de sua carreira. Pediu ao seu com­

panheiro de quarto para trocar de cama com ele para que pudesse dormir mais

próximo do banheiro. Seu jogo imediatamente depois melhorou. Pelo resto de sua

carreira, insistiu em dormir na cama mais próxima da porta do banheiro em todo

hotel no qual a equipe ficava. E o jogador do NFL que abraçava as traves antes

Comportamento de cada jogo? Ele as havia abraçado antes de umajogada bem-sucedida e, por ha-supersticioso. ver dado certo, continuou a prática. Contou a um jornalista que queria que as tra-

Comportamento ves soubessem que ele as amava e que ficassem imóveis quando ele chutasse.persistente que tem uma· ' -' ..

. . 1-' - Skll1ner chamou esse tenomenode comportamento superstICIOSO e o de-comCI( enCla, e nao ama ~

relação fl!ncion~.1.com <;l monstrou no laboratório. Um pombo famintoJoi colocado no aparelho de condi--i'eTól"çiuliem()I'ecel5íoQ.""""" . ·--cionamenw·operant"e·l'ef1'lrçat!e-a-ead·a--!.§--segunaosnum esquema.de.JnteJ\Lal.P.'i. .-----

Os pais ensinamcomportamentosaceitáveis aos seus

filhos reforçando

aquelas atividades que____ ~ se a['Coximam dos

comportamentos finaisdesejados,

Page 9: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

·~

PARTE 8 A Abordagem Comporta mental QUATORZE B. F. Skinner 375

As Aplicações do Condicionamento Operante Programa5 de modificação de comportamento

"O que está errado com as punições é que elas funcionam imediatamente. mas não

fornecem resultados de longo prazo. As respostas à punição são ou O ímpeto de fugir.de contra-atacar ou uma apatia teimosa. Esses são os maus resultados que se obtêmnas prisões, nas escolas ou em qualquer lugar onde se usam punições" (citado em Go­leman, J 987).

Têm sido aplicadas técnicas de condicionamento operante a problemas no comér­

cio e na indústria. Verificou-se que programas de modificação de comportamen­to em grandes fábricas, ilistituições financeiras e agências governamentais redu­

zem absenteísmos, atrasbs e abusos de licenças-saúde, além de levarem a

melhoras no desempenhde na segurança do trabalho. As técnicas também podem

ser usadas para ensinar procedimentos simples de trabalho. Os reforçadores usa­

dos em negócios incluem:pagamento, segurança no trabalho, reconhecimento por

parte dos supervisares, btinificações e status dentro da empresa e a oportunidade

de crescimento pessoal.~ão se faz nenhuma tentativa de trabalhar supostas an­siedades, traumas reprimidos ou forças motivadoras inconscientes. O foco está

em modificar o comportamento observável, definindo a natureza dos reforçado­

res adequados e determinando sua razão mais adequada de apresentação para mo­dificar o comportamento.

Punição e reforço negativo

Reforço negativo não é o mesmo que punição. Um reforçador negativo é um es­

tímulo aversivo ou nociv;:' cuja remoção é recompensadora. No laboratório ou nasala de aulas pode ser estabelecida uma situ'ação de condicionamento operante na

qual o estímulo desagradável (tal como um l'lIído forte ou um choque elétrico)

continuará até que o estudado emita a resposta desejada. Assim como o reforçopositivo, o ambiente modifica-se em conseqÜência do comportamento; nesse ca­

so, o estímulo nocivo desaparecerá.

Podemos ver exemplos de reforço negativo nas situações cotidianas. Uma

pessoa pode parar de fumar para evitar o estímulo aversivo de uma esposa ou um

colega implicante. A impli~ância deve cessar quando o comportamento desejável

for apresentado (não acender um cigarro em casa ou no escritório). Skinner opu­

nha-se ao uso de estímulos nocivos para modificar o comportamento, dizendo que

as conseqüências não eram tão previsíveis como com o reforço positivo. Além

disso, o reforço negativo nem sempre funciona, ao passo que o positivo é consis­tentemente mais eficaz.

A posição de Skinner é clara com relação à questão natureza-criação (ver Figura

14.2). As pessoas são produtos da aprendizagem, modeladas m_'!is'p~las\l,ªdáv_eis _- exi:ernas-éÚI(:-po;~fatores-ger;éii~õ-S:' Põ-cie;-nos-;~t:eri~~~;e~;,'â ~;Üriri" .<::ki~rip, os

i,- .• :': •.•.. • ••• ·t·

Reforço negativo.Fortalecimento de uma

resposta poi"'meio daremoção de um estímuloaversivo.

Questões eobre a Natureza Humana

Programa5 de economia de ficha5

Os psicólogos têm aplicado as técnicas de condicionamento operante de Skinner

para modificar o comportamento humano em clínicas, negócios e ambientes edu­

cacionais. A modificação do comportamento tem sido bem-sucedida com crian­

ças e adultos, com pessoas mentalmente saudáveis e com as mentalmente pertur­

badas, bem como com comportamentos indjyiduais e também grupais.

Modificação decomportamento.Forma de terapia queaplica os princípios dereforço para ocasionarmocJitlcaçõescomporlamcntaisdesejáveis.

Economia de fichas.

Técnica de modificaçãode comportamento naqual lichas, que podemser [rocadas por objetosvaliosos ou porprivilégios. sãoconcedida~devicJo acon1portameiiLosdesejáveis.

A aplicação clássica é a economia de fichas. No estudo pioneiro, uma ala fe­

minina com mais de 40 pacientes psicóticas numa instituição psiquiátrica esta­

tal foi considerada como uma gigantesca caixa de Skinner (Ayllon e Azrin,

1968). As pacientes não poderiam mais ser tratadas por meio de tratamentos

convencionais. Tinham sido internadas há muito tempo e eram incapazes de secuidar sozinhas.

Nesse ambiente, foram oferecidas oportunidades' às pacientes'de trabalhar

em serviços usualmente executados por arrumadeiras pagas pelo hospital e pelos

quais elas receberiam fichas, que funcionavam como dinheiro; daí o termo eco- p . - A J' .. d A maiolia das aplicações de condicionamento operante envolve reforço em vez.. ' '" ' umçao. p Icaçao e . _ '. ''' ... "nomia de fichas. Assim como as pessoas fora da instituição, as pacientes tam- um estí~luJo aversivo de pUlnçao. As pacIentes da economia de fichas nao eram pUllIdas por fracassa-

________________ ~b_é_n_l_J1iliÜ.a.n:Lc.QJnpraLl=doci.aS_e_flI'Í.v.ilé.giGSilllI'a-melheFaF-ll_qooltclflàe-tle--v i- apé&--lHRa-re-&j3e&~a, 1:em.-em-se--e--empefl-ar-aàe-ftl*\à,amente:---5k-ffifler-disse--que-a-pnnTção-erail1-e1'iciell-

da. Com um certo número de fichas, podiam comprar balas, cigalTos, batons, visando ?iminuir te para mu~ar o comportamento de indesejável para desejável ou de anormal pa-

luvas e jornais. Pagando com fichas, podiam assistirà um filme, caminhar pelas a probabilidade de que a ra normal. E muito mais eficiente o uso de reforço positivo para comportamentos. resposta OCOITa, d" . d d' -cercanias do hospital ou mudar para um quarto melhor. Os privilégios mais ca- ese.lavels o que o uso e pUlllçao.

ros, que exigiam 100 lichas, eram um passeio pela cidade escoltado e um encon·

tro particular com uma assistente social. Um encontro particular com um psicó­logo valia apenas 20 fichas.

Quais comportamentos as pacientes teriam de emitir para que fossem refor­

çadas e recebessem fichas? Caso se banhassem na hora designada, escovassem

os dentes, arrumassem as camas, penteassem os cabelos e se vestissem'de manei­

ra apropriada, receberiam uma ficha por atividade. Receberiam até 10 fichas por

período de trabalbo na cozinha ou na lavanderia do hospital ou por ajudar a lim­

par a ala, fazer pequenos' serviços ou levar outras pacientes para caminhar. As ta­

refas podem parecer simples para nós, mas, antes que o programa de economia

de fichas tivesse início, essas pacientes eram consideradas incapazes e sem rumo.

O condicionamento funcionou esplcndidamente. As pacientes não apenas

cuidavam de si e das cercanias, como também se ocupavam de várias tarefas. 1n­

lcragiam socialmente com a equipe e assumiam alguma responsabilidade pelo

cuidado das pacientes. A auto-estima teve melhora significativa e elas se torna­

ram menos dependentes.

Uma advertência em relação a esses impressionantes resultados: tem-se ve­

rificado que economias de fichas são eficientes apenas no âmbito no qual elas fo­

ram implementadas. Em geral, os comportamentos modificados não resistem à

vida fora da instituição. Deve haver continuidade no reforçamento para que per­

sistam as mudanças de comportamento desejadas. Quando não são mais forneci­

das fichas, os comportamentos reforçados normalmente revertem ao seu estado

original (Kazdin e Boolzin, 1972; Repucci e Saunders, 1974). Mas, se os aten-

dentes forem treinados a recompensar comportamentos desejáveis com reforça­

dores como sorrisos, elogios, abraços e outros sinais de afeto, então é mais pro­

vável que os comportamentos condicionados na situação de economia de fichas

da instituição continuem no ambiente doméstico (Kazdin, 1989).--------~----

Page 10: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

~

,.<TE 8 A Abordagem Comporta mental0'0';'

QUATORZE B, F. Skinner 377

"Podemos não ser agentes livres. mas podemos fazer alguma coisa com relação à nos­

sa vida, apenas se rearranjarmos os conlroles que influenciam nosso compol1amento(, ..) não estoll tenlando mudar as ssoas, Tudo o lIe eu =1azeLéJlllldu.o-lntl'lln-----­

o em que elas vivem" (Skillll~r cilado em Biork, 1993, pp, 16.233),

O mundo pode impor limit~s à nossa liberdade de mudar, Ao fazer mudanças,

seremos dirigidos e, às vezes, restringidos por si tuações que nos tenham forneci­do reforço positivo no passado, Ao agirmos para mudar nosso ambiente, procura­

remos maiores oportunidades dé'reforço positivo e, durante o processo, modifica­

remos nosso próprio comportaníí;nto, Skinner deixou-nos com um paradoxo, uma

imagem de homem-máquina capaz de alterar as condições ambientais que deter­

minam o comportamento da máguina,."':~'

dem ser mais responsélbilizados por sllas aÇões, do mesmo modo que um automó­

vel sem motorista que se precipita morro abaixo. Ambos agem segundo leis, de

modo previsível, controlados por variáveis externas,

Resta-nos uma concepção pessimista das pessoas como sendo robôs desam­

parados e passivos, incapazes de desempenhar um papel ativo na determinação

de seus comportamentos? Essa não é a visão completa de Skinner. Apesar de sua

crença de que o comportamento é controlado por estímulos e reforçaclores exter­nos, certamente não somos vítimas, Ainda que sejamos controlados pelo nosso

ambiente, somos responsáveis por projetar esse ambiente, Nossos edifícios, cida­

des, bens de consumo, fábricas e instituições governamentais são o resultado da

construção humana, Assim também são nossos sistemas sociais, línguas, costu­

mes e recreações, Mudamos continuamente nosso ambiente, na maioria das ve­

zes, para nosso benefício, Ao procedermos assim, agimos tanto como controla­

dores quanto como controlados, Projetamos a cultura controladora e somos

produtos dela.

'!"'.;«,.!.\ ••..:.;:.-;".:

• A freqÜência do comportamento,

• A situação na qual ele ocorre,

• O reforço associado a ele,

A menos que esses fatores tenham sido avaliados, não é possível planejar e

implementar um programa de modificação do comportamento.

Considere uma análise funcional para fumantes que queiram interromper o

"'"0'''';',, hábilP cje,Jumar. Pede-se ,; eles q,ue registrem precisamente o número de cigarros.. ,

A Avaliação na Teoria de Skinneri . :-. ,.

Skinner não usou as técnicas típicas de avalillção preferidas por outros teóricos,

Em seu trabalho não havia espaço para livre associação, interpretação de sonhos

ou técnicas projetivas. Por não estar lidando diretamente com a personalidade,

não tinha realmente interesse em avaliá-Ia, No entanto, avaliou o comportamen­

to. Note que, na aplicação de suas técnicas de modificação de comportamento, é

necessário primeiro avaliar comportamentos específicos, tanto desejáveis como

indesejáveis. Também é preciso avaliar os fatores ambientais que atuam como re­

forçadores e que podem ser manipulados para alterar o comportamento, Nenhum

comporlamento pode ser modificado de maneira adequada sem avaliação ante-

rior. A abordagem skinneriana de avaliação do comportamento é chamada de

análisefullcional e envolve três aspectos do comportamento,Análise funcional.

Abordagem do estudodo comportamento queenvolve avaliar a

freqÜência de umcomportamento,a situação na qual eleocorre e os reforçadoresassociados a ele,

Pessimismo

Crescimento

Experiênciaspresentes

Universalidade

Natureza

Visão de Skinner da natureza humana

Livre-arbítrio

experiências infantis são mais importantes que as experiências mais recentes, pois

nossos comportamentos básicos são fonnados na infância. Isso não significa que

o comportamento não possa se modificar na vida ad.ulta, O que é adquirido na in­

fância pode ser modificado, podendo-se adquilir novos comportamentos em qual­

quer idade, O sucesso dos programas de modificação de comportamento confirma

essa afirmação, A crença de Skinner de que o comportamento é moldado pelo

aprendizado também nos leva a concluir que cada pessoa é única, Por sennos mol­

dados pela experiência - e todos n6s possuímos experiências diferentes, particu­

larmente na infância - não haverá duas pessoas que se comportem exatamente damesma maneira,

Skinner não se preocupou com a questão de um objetivo fundamental e ne­

cessário nem fez nenhuma referência à superação da inferioridade, à redução da

ansiedade ou ao esforço pela auto-realização, Tais motivos implicam estados in­

ternos e subjetivos que Skinner não aceitav~, Qualquer indicação de um objetivode vida no trabalho de Skinner parece ser social e não individuaL Em seu roman­

ce Waldim Mo e em outros escritos, discutiu sua noção da sociedade humana ide­

aL Declarou que o comportamento individual deve ser direcionado ao tipo de so­

ciedade que tem a maior possibilidade de sobrevivência.

Quanto à questão do livre-arbítrio ver.l'UJ determinismo, as pessoas funcio­

nam como máquinas, de acordo com leis, de forma ordenada e predeterminada,

Skinner rejeitava qualquer sugestão de um ser intelior ou um seifautônomo que

determine um curso de ação ou escolha agir livre e espontaneamente,

Dos escritos acadêmicos de Skinner ao seu romance popular sobre uma so­

ciedade utópica baseada em condicionamento operante, sua mensagem é a mes­

ma: o comportamento é controlado por reforçadores, De certo modo, isso signi­

fica que é inútil culpar ou punir as pessoas por suas atitudes, Um ditador que

ordeo?, o r;:xZ\:,nnZni:c"e1!I'i11asséldernílhares de pêSSOaS()u um serial ki/ier não po-

14.2FIGURA

Page 11: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

:'~'"

PARTE 8 A Abordagem Comporta mentalQUATORZE B. F. Skinner 379

3. As abordagens idiográficas e nomotéticas são. respectivamente, segundo o historiador alemão

~·j"'ilhe.l~ll~y·~r.ódJrand.(:g4.~-1915). as aborda~ens d~s ciêncins que tratam de fatos singu!arcs·(as al'-

',li

Você pode ver que os métodos de avaliação de Skinner diferem radicalmente da­

queles usados por outros teóricos aqui discutidos. Os seus métodos de pesquisa

também divergem da psicologia experimental convencional. O procedimento

usual é estudar grandes grupos de animais ou seres humanos e comparar estatis­

ticamente suas respostas médias. Por outro lado, ele preferia o estudo intensivo

de um único avaliado; argumentava que os dados de desempenho médio de gru­

pos têm pouco valor ao lidar-se com um caso particular. Uma' ciência que trata de

médias oferece pouca informação para ajudar a entender o indivíduo único.Skinner acreditava ser'possível obter resultados válidos e reproduzíveis sem

o uso de análise estatística; :contanto que fossem coletados dados suficientes de

um único avaliado sob condições experimentais bem controladas. O uso de gran­

des grupos de avaliados obrigava o experimentador a lidar com o comportamen­

to médio. Os dados resultantes poderiam não refletir a resposta comportamental

individual e as diferenças individuais de comportamento. Dessa maneira, Skinner

preferia a abordagem idiográfica à nomotética.'

A Pesquisa na Teoria de5kinner

num lugar particular ou num momento determinado? Na presença de outros ou

sozinho? Após as refeições ou ao dirigir? E quais são os reforçadores? A maioriados fumantes fuma com maior freqüência na presença de certos estímulos. É ne­

cessário identificar tais estímulos, poís sua modificação deve levar a uma modi­ficação no comportamento de fumar.

Auto-relato5 de comportamento

Uma outra abordagem para avaliar o comportamento é a técnica de auto-relato

realizada por meio de entrevistas e questionários. A pessoa observa o seu próprio

comportamento e o relata ao examinador. Têm sido publicados diversos questio­

nários de auto-relatos. Por exemplo, eles pod'em avaliar a extensão do medo de

uma pessoa em situações como dÜigir um automóvel, ir ao dentista ou falar em

público.

Questionários para avaliar comportamentos são similares em formato aos in­

ventários de auto-relatos que avaliam personalidade. A diferença reside no modo

em que são interpretados, como descrito pela abordagem de sinal versus amos­tra. Na abordagem de sinal, que é usada para avaliar a personalidade, o psicólo­

go infere a existência de tipos ou traços de personalidade ou de conflitos incons­

cientes a partir das respostas do indivíduo. Por exemplo, se uma pessoa indica que

tem medo de ficar no elevador, esse medo pode ser interpretado como um sinal

011 um sintoma indireto de algum motivo ou conflito subjacente.

Na abordagem por amostra, que é usada para avaliar o comportamento, as

res;::ostas aO ques,ionário são interpretada, ~or1l0 indic"'s'õe~ direlas de uma

Abordagem de sinalversus amostra.

Na abordagem de sinalpara avaliar aperso/lalidade, sãoinferidos tipos ou traçosde personalidade ouconflitos inconscientes a

partir de questionários eoutros inventários deauto-relatos.

N a abordagem poramostra para avaliar ocomportamento.as respostas aos testessão interpretadas comoindicações diretas docomportamentopresente, e não detraços. moti vos ouf;:xperiências de infância.

:,;.

amostra de comportamento, Não é feita nenhuma tentativa de fazer inferências

ou de tirar conclusões sobr~ as características ou os traços de personalidade dapessoa, São importantes o comportamento por si só e o estímulo associ8do a ele.

Não há preocupação com motivos subjetivos, experiências infantis ou outros pro­cessos mentais.

Embora Skinner não usasse inventários de personalidade de auto-relato, ele

Observação direta do comportamento concordou, por volta dos virte anos, em se submeter a vários testes escritos de

As três abordagens para avaliar o comportamento são: observação direta, auto- personalidade aplicados em"uma reunião científica. Descreveu os resultados da

relato e mensurações fisiológicas. Muitos co~portamentos são avaliados por seguinte forma: ~le tinha m~lhor julgamento qu~ 95%. de seus .co.legas que forammeio da observação direta. Em geral, duas ou mais pessoas conduzem a obser- testados, era mais extrove;~\ldo que 57% e mais faCIlmente IITltável que 65%.

vação para assegurar precisão e confiabilidade. Por exemplo, num relato cJássi- Anos depois, fez dois teste~ ;projetivos, o Teste do Borrão de Tinta de Rorschach

co de uma situação de modificação de comportamento, uma mulher procurou tra- e o Teste de Apercepção Te;mática. Forneceu as respostas ao teste do borrão de

tamento para o seu filho de quatro anos, cujo comportamento era considerado tinta tão r~pidame~te que o examinador não conseguiu acompanhá-lo e relatouingovernável (Hawkins, Peterson, Schweid e Bijou, 1966). Dois psicólogos ob- que nada tinha a dizer em resposta aos desenhos das pranchas do Teste de Aper-

servaram mãe e filho em sua casa par~.avaliar a n~t\lr~za e a freqüência dos com- cepção Tem~!ica (TAT) (Skinner, 1979)",.portamentos indesejáveis da criança, quando e onde ocorriam e 'Ós"reforçadores _ .. ,.que a criança recebia pelos comportamentos. Mensuraçoes flslologlcas de comportamento

Foram identirycados nove c0n.:p0rtamentos indesejáveis, incluindo-se chutar, .... As avaliações fisiológicas' de comportamento incluem taxa de batimento car-

atirar coisas, mordÚ e empurrar um irmão. Os psicólogos comprovaram que a . dí-aGG,lêflsãe-mll-s€1lm-e-Gndas-cerebTais:i~-pussfvetavatiar os efeitos t!slOló

______________ I1l,ã~-erya-v-a-t)-mefti-flo-dando_lTIe_brinquedmrmr<:omida quando se comportava gicos de vários estímulos registrando tais medidas, que podem também ser usa-

mal. Sua intenção era fazê-Io parar de portar-se mal. Em vez disso, ela o estava das para confirmar a acuidade da informação obtida por outros métodos de

recompensando e, portanto, reforçando o mau comportamento. A avaliação por avaliação. Por exemplo, uma pessoa que fica muito envergonhada ao revelar,

observação direta durou 16 horas, mas, sem ela, os psicólogos não teriam sabido numa entrevista ou num questionário, que tem medo de elevador pode exibir

exatamente quais comportamentos indesejáveis tentariam eliminar ou quais re- uma mudança na taxa de batimento cardíaco ou na tensão muscular quando per-

força dores a criança esperava. guntada sobre elevadores.

Com um programa abrangente de observação direta é possível planejar uma Seja qual for a técnica de avaliação escolhida para avaliar o comportamento

evolução de modificação do comportamento. Neste caso, os psicólogos instruíram em diferentes situações de éstímulo, o foco permanece no que as pessoas fazem,

a mãe a usar atenção e aprovaçã(j) como reforçadores quando a criança se compor- não no que as teria motivado a fazê-Io. O objetivo fundamental é modificar o

tava de maneira positiva e a nunca reconipensá-la quando demonstrava um dos no- comportamento, não a personalidade.ve comportamentos indesejáveis observados. A freqüência desses comportamentos,

como determinada na avaliação pqrobservação direta, fomeceu uma linha de base

com a qual se poderia comparar o comportamento durante e após o tratamento.

Page 12: [Teoria Da Personalidade I] a Abordagem Comport a Mental

'~.

'o PARTE8 A Abordagem Comporta mental QUATORZE B. F.Skinner 381

Um Comentário Final

Skinner e os seus seguidores conduziram milhares de experiinentos de con­

dicionamento operante em tópicos como esquemas de reforço, aquisi.ção de lin­

guagem, modelagem de comportamento. comportamento supersticioso e modifi­cação de comportamento. Os resultados foram altamente contirmadores dasidéias de Skinner.

A abordagem de Skinner tem sido criticada em diversos pontos. Os que se opõem

ao determinismo têm muitos motivos para não gostar das suas concepções. Os

psicólogos humanistas, que acreditam que as pessoas são mais complexas quemáquinas, ou ratos, ou pombos opõem-se à imagem que Skinner faz da natureza

humana. Argumentam que a ênfase exclusiva no comportamento observável ig­nora qualidades humanas extraordinárias. como o livre-arbítrio consciente. Têm

havido críticas ao tipo de avaliado e à simplicidade das situações nos experimen­

tos de Skinner. Ele formulou asserções e predições sobre o comportamento hu­

mano e a sociedade - sobre questões sociais, econômicas, religiosas e culturais

- com uma con'siderável confiança. Mas podemos estender a ação de um pom­

bo bicando um disco para a de uma pessoa no mundo real? A distância parece ser

grande demais para permitir amplas generalizações. Muitos aspectos do compor­

tamento humano não podem ser reduzidos de modo significativo para o nível noqual Ski nner conduzia suas pesquisas.

A crença de Skinner de que todos os comportamentos são adquilidos foi con­

testada por um cx-aluno seu. Mais de 6 mil animais de 38 espécies foram condi-

" ...mas após lerem déselllpenhado satisfatoriamente bem a seqÜência duranle algumlempo. começaram a se ateI'a comportamentos indesejáveis, pelo menos sob o pon­to de visla dos treinadores. Os porcos paravam no meio do caminho [para o banco].

enterravam a moeda na areia e a retiravam para fora com o focinho;-bs 11f<'CO(}/I.\· pas­savam muito tempo manipulando a moeda, com os seus conhecidos movimentos quelembram o ato de se lavar. No início foi divertido, mas depois se tornou demorado e

fazia com que o sho':;nodoparecesse imperfeito ao espectador. Comercialmente, foi. um desastre" (Richelle, 1993, p. 68).

o que aconteceu foi que um comportamento instintivo - tal como a esca­

vação de sujeira do porco e a esfregação das patas do raccoon como se estivesse

lavando-as - veio a assumir precedência sobre o comportamento adquirido, em­

bora significasse um atraso em receber o reforço (a ração). Os treinadores publi­

caram um artigo sobre o fenômeno e, com o encorajamento de Skinner, o intitu­

laram "O mau comportamento do organismo" (Breland e Breland, 1961), que foiuma paródia do título do livro pioneiro de Skinner, The Behllvior ofOrgllni.\'I1Js

(1938).

Skinner ignorou muitas das críticas que o seu trabalho recebeu. Sobre a re­

senha crítica de um livro, disse a um entrevistador: "Li um pouco e vi que ele não

entendeu ( ...) Há coisas melhores afazer com o meu tempo do que esclarecer os

nial~entendidos deles" (citado em Rice, 1.,968).Quando lhe perguntaram como ele

lidava com o fato de ser mal entendido tão freqUentemente, disse: "Acho que pre­

ciso ser entendido apenas três ou quatro vezes por ano" (citado em Blackman,

1995, p. 126).

Skinner foi uma força poderosa na psicologia norte-americana do século XX.Influenciou a área talvez mais do que qualquer outro indivíduo. Numa pesquisa

tratando da importância relativa de mais de 150 eventos na história da psicologia,as suas idéias e a abordagem de modificação do comportamento ficaram em pri­

meiro e segundo lugares (Gilgen, 1982). O Joumal O/lhe Experimenwl Ana/ysis

Df Behavior, lançado em 1958, publica pesquisas sobre o comportamento de su­

jeitos individuais. Em 1968, foi lançado o Jourrlll/ ofApplied Be/wvior Ana/Y.I'is

como um meio de divulgação de trabalhos em técnicas de modificação de com­

portamento. Embora a posição comportamentalista radical de Skinner continue a

ser aplicada em laboratórios, em ambientes clínicos e organizacionais, ela foi

contestada dentro da estrutura comportamentalista pelas posições de orientação

cognitiva de Albert Bandura e Julian Rolter (capítulos 15 e 16). Na década de

1960, o estudo da consfiência retomou à psicologia, acarretando um declínio nadominação do comportamentalismo skinneriano.

4. Espécie de pequenos carnív·xos noturnos (hncrof/ LOf(/rl elaAmhi"f1 ,ln f\ln."••' (1\1 T\

cionados a desempenhar vários comportamentos para comerciais de televisão e

atrações turísticas; eram pombos, rtlCCOOJ1.\',"galinhas, /W/1lSlerS, golfinhos, ba­

leias e vacas. Os animais demonstraram uma tendência ao impulso instintivo ao

substituir comportamentos instintivos pelos comportamentos que foram reforça­

dos, mesmo quando os comportamentos instintivos relacionavam-se com o rece­

bimento de alimentação.

Num exemplo, porcos e raccoolls foram condicionados a pegar uma moeda,

carregá-Ia por uma certa distância e depositá-Ia num banco de brinquedo (um co­

frinho em forma de porco, é lógico). Depois de depositarem um certo número de

moedas, os animais recebiam ração como reforçador. Aprenderam os comporta­

mentos desejados rapidamente,

Impulso instintivo.Substituição decomportamentosinstintivos porcomportamentos queforam reforçados.

Os experimentos de Skinner com um único avaliado seguem oprojeto de in.versão experimental, que se processa em quatro estágios.

',-

Projeto de inversãoexperimental. Técnicade pesquisa que envolveo estabelecimento deuma linha de base, aaplicação de umtratamento experimentale a suspensão dotratamento experimentalpara determinar se ocomportamento retornaao seu valor de base ou

se algum outro fator éresponsável pelamoditicação docomportamentoobservado.

• O primeiro envolve o estabelecimento de uma linha de base. O comportamen.

to do avaliado (a variável dependente) é observado com o intuito de determinara taxa normal de respostas illltes de..i niciar o tratamento experimental.

• O segundo é o condicionamento, ou estágio experimental, quando é introduzi_

da a variável independente, a qual, se afetar o comportamento, ploduzirá uma

modificação considerável na taxa da linha de base de respostas do avaliado.

• O terceiro, chamado inversão, determina se algum fator, além da variável inde.

pendente, é responsável pela modificação de comportamento observada. Duran.

te esse estágio, a variável independente não é mais aplicada. Se o comportamen_

to retomar à taxa de sua linha de base, então o pesquisador pode concluir que avariável independente Foi responsável pela diferença observada durante o está­

gio de condicionamento. Se o comportamento não retomar à taxa de linha de

base é porque algum outro fator que não a variável independente af~t.ou o com .. ,.. "portamento.

• A linha de base, o condicionamento e os estágios de reversão são suficientes na

maioria dos experimentos de laboratório.' Quando o procedimento é aplicado à

modificação de comportamento, adiciona-se um estágio de recondiciona-

_________________ men1o.--S.u.pomlo-E1ue-a-variável-indepentlemetenha SIdo etJcaz na modificaçãodo comportamento ela é reintroduzida. Sem o quarto estágio, os avaliados nos

programas de modificação de comportamento permaneceriam em reversão com

o compoltamento no nível de sua linha de base revertido aos seus níveis de re­

ferência, sem as inoditicações de um tratamento que se mostrou eficaz. Não res­tabelecer o tratamento eficaz selia antiético.

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QUATORZE B. F.Skinner 383

° sistema de Skinner tem considerável apoio empírico, mas tem sido criti­

cado por sua visão determinista, pela simplicidade das situações experimentais e

peja falta de interesse em comportamentos a não ser no índice de respostas e pornão considerar as qualidades humanas que nos diferenciam de ratos e pombos .

ferguntaB de ReviBão1 Como a abordagem skinneriana da personalidade difere das outras aqui

discutidas?

2 Descreva o experimento clássico de condicionamento de Pavlov com cães.

Como ele extinguiu aSJespostas condicionadas?3 Qual a diferença entre ô comportamento respondente e o operante?4 Qual o papel do reforço'na modificação do comportamento c como ele se re­

laciona ao comportamento supersticioso?

5 Defina reforço positivo, reforço negativo e punição. Segundo Skinner, quãoeficiente é cada técnica para modificar o comportamento? .

6 Descreva quatro esquemas de reforço. Que esquema se aplica à pessoa quevende programas de computação por comissão? Que esquema se aplica àcriança à qual se permite um sorvete apenas ocasionalmente?

7 Explique como um COJDpnrlamenlo-COmplexg,tal-<:-eme-apren6el'-a-f-ntar;-é-ad­quirido por meio de aproximação sucessiva.

S Descreva técnicas para o autocontrole do comportamento.

9 Descreva a abordagem de economia de fichas para a modificação do compor­tamento.

10 Por que Skinner preferiu estudar o indivíduo em vez de grupos? Descreva oestágio num experimento skinneriano com um avaliado humano. Descreva

um experimento skinneriano com um pombo como avaliado_11 Qual era a posição de Skinner sobre a questão natureza-criação? E sobre o li­

vre arbítrio verSl/S determinislllo?

12 QÜal técnica os skinnerianos usam para avaliar o comportamento humano?

13 Discuta o impacto da psicologia cognitiva sobre o comportamentalismoskinneriano.

fT'-<:l'~"'" ••••.•••., •..••.•,~'::;1;,.."

to humanos numa sociedade utópica baseada em princí­pios comportamentalistas.

SKINNER, B.F. "Whatever happened to psychology aslhe science of behavior?" Al11ericclI/P,ych%gisr, 42.1987, pp. 780-786. Acusa a psicologia humanista, a psi­cOlerapia e a psicologia cognitiva de serem obstáculos nocamj~ho da aceitação por parte da psicologia de seu pro-

SKINNER. B.F. UpOIl furrher reflectioll. Englewood

Cliffs. NJ: Prentice-Hall, 1987. Ensaios sobre psicologiacognitiva, comportamento verbal. educação e autogeren­ciamento em idade avançada.

'SKINNER, B.F. (1976). Parricu/ars of my life; (1979).

The shaping of o behlll'iorisr: (1983). Amarra of cOl/se- .quences. Nova York: Alfred A. Knopr. Autobiografia deSkinner em três volumes.

SugeBtõeB de Leitura

NYE, R.D. The legacy of B.F. Skin/ler: Concepts andperspectives, controversies and misunderstandings. Paci­fic Grove, CA: Brooks/Cole, J 992. Um livro para inician­tes sobre os conceitos básicos de Skinner e sua relevânciapara o comportamento no niundo de hoje. Examina con­trovérsias e mal-entendidos envolvendo opiniões deSkinner e compara o seu sistema com os de SigmundFreud e Carl Rogers.

SKINNER, B.F. Waldell MO. Nova York: Macmillal\1948. Ronlance de Skillr~e)' soÓre vaiorf'_<;;p. r.omnnrf:llI1PIl_

ELMS, A.c. "Skinner's dark year and Walde/l Two".American Psychologist, 36, 1981. pp. 470-479. Sugereque Skinner experienciouuma crise de identidade em suajuventude ao fracassar como escritor e que escrever seuromance foi uma forma de terapia quando os assuntos deidentidade tomaram-se novamente importantes para eledurante a meia-idade.

~,.

tL

ReBumo do CapítuloSkinner negava a existência de uma entidade chamada personalidade e não bus­

cava causas para o comportamento dentro do organismo. Os processos mentais epsicológicos não são observáveis objetivamente e, portanto, não têm relevância

para a ciência. As causas.~o cqmport~mento são externas ao organismo. °COIll­

portamento pode ser controlado por suas' córiseqüências, pelo reforçador que o

acompanha. ° comportamento respondente envolve uma resposta originada porestímulos ambientais específicos. ° condicionamento (comportamento respon­dente que é adquirido) envolve a substituição de um estímulo por outro.Pavlov

_______________ ~d=e=m=o_ns_t_ro_u__aJmpor.târicia..rlo..r.efoI~-ãe-eoor-r-erá-e()l'ldicionamento-sem retor­ço. ° comportamento operante é emitido, determinado e modificado pelo refor­çador que o acompanha. Um comportamento operante não pode ser remontado a

um estímulo específico; ele age no ambiente e o modifica. A personalidade é sim­

plesmente um padrão de comportamentos operantes.

Os esquemas de reforço compreendem intervalo fixo, razão fixa, intervalovariável e razão variável. A modelagem (aproximação sucessiva) implica refor­

çar o organismo somente quando o seu comportamento se aproxima do desejado.°comportamento supersticioso acontece quando o reforço é apresentado num es­

quema de intervalo fixo ou variável. Seja qual for o comportamento que ocorrer

no momento do reforço, ele virá a ser exibido mais freqüentemente. ° autocon­trole do comportamento refere-se a alterar ou evitar certos estímulos e reforçado­res externos. Outras técnicas de autocontrole são: a saciedade, a estimulação aver­

siva e o aUlo-reforço para exibir comportamentos desejáveis.

A modificação do comportamento emprega técnicas de condicionamento ope­

rante aos problemas do mundo real. Comportamentos desejáveis são reforçados po­

sitivamente e os indesejáveis são ignorados. A abordagem de economia de fichasgratifica comportamentos desejáveis com fichas que podem ser usadas para adqui­

rir objetos que têm valor. A modificação do comportamento trata apenas de com­

portamento observável e usa reforço positfvo, não punição. °reforço negativo im­plica remover um estímulo aversivo ou nocivo. É menos eficiente que o positivo.

A imagem da natureza humana que Skinner -tinha enfatiza o determinismo,

a singularidade, a importância do ambiente e o projeto de uma sociedade que

maximiza a oportunidade de sobrevivência. Mesmo que as pessoas sejam con­

troladas pelo ambiente, elas podem exercer controle ao planejar tal ambiente de

maneira apropriada.

Skinner avaliava o comportamento (não a personalidade) usando análise fun­

cional para determinar a freqüência do comportamento, a situação na qual ele

ocorria e os reforçadores associados a ele. As três maneiras de avaliá-Io são: a ob­

servação direta, o auto-relato e as medidas fisiológicas. As pesquisas de Skinnerforam idiográficas, focando-se no estudo intensivo de um único avaliado. ° seu

projeto de inversão experimental consiste nos estágios de linha de base, condi­cionamento, inver:.;ão fi recondicionamento.

Skinner reconheceu que sua fonna de psicologia perdeu terreno para a b

dagem cognitiva (Goleman, 1:87) ..Outr?s ps~:ólo~os concord~ranl, afinn:n~~que o comportamentahsmo skmnenano tmha decaldo quanto a preferência e _tre a maioria dos trabalhadores ativos na área [e era) freqüentemente mencio n

." ) N na-do no pretérito" (Baars, 1986, pp. VIII, I. aentanto, apesar das incursões da psi-cologia cognitiva, a posição de Skinner permanece influente em muitas áreas, de

salas 'de aula a linha~ de montagem, de cai~~s de Skinner a instituições psiquiá_tricas. Skinner acreditava que, com o condlclOnanteoperante, oferecia Uma téc­

nica para melhorar a natureza humana e as sociedades que as pessoas planejam.

PARTE8 A Abordagem Comporta mental