Teoria Do Conhecimento de René Descartes

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    Teoria do conhecimento de RenDescartes

    Dados Biogrficos

    Ren Descartes (1596-1650), filsofo, cientista e matemtico francs,

    considerado com Francis Bacon, um dos fundadores da Filosofia Moderna, nasceu em

    31 de maro em La Haye uma pequena cidade do distrito de Touraine hoje chamada La

    Haye-Descartes, em sua homenagem. Por volta dos dez anos entrou para o colgio

    jesuta de La Flche, perto de Le Mans, fundado por Henrique IV, onde estudou

    Lnguas Clssicas, Lgica, tica, Matemtica, Fsica, Metafsica; mais tarde ele viria a

    criticar o ensino de La Flche. Desde a mais tenra idade, mostrou-se um tipo meditativo,

    impressionando seus mestres pela profundidade e independncia de seu carter e pela

    insistncia em no aceitar sem reflexo os ensinamentos e opinies recebidos.

    Talvez pouco importa saber que o professor de Filosofia em La Flche tenha

    sido o Pe. Francisco Veron., mas os; jesutas1 como um todo estavam na mente de

    Descartes. A esse tempo, Francisco Suarez (1548-1617) j ia dando por completa uma

    obra de renovao metodolgica, dentro da prpria escolstica2, qual deu algumas

    tonalidades prprias, tanto em doutrina como em metodologia.

    A partir de La Flche se transps, paulatinamente, para o campo platnico-

    agostiniano, com o abandono, por conseguinte, da orientao aristotlico-tomista da

    escola jesutica, marcada principalmente por Francisco Suarez (1548-1617).

    Neste sentido, considere-se que, na poca, a corrente verdadeiramente

    inovadora, contra o aristotelismo escolstico, se encontrava no campo neoplatnico,

    representado por Bruno, Campanella e outros filsofos da Renascena. Paradoxalmente,

    na Idade Mdia a renovao era o aristotelismo, contra o neoplatonismo agostiniano.

    Na rea dos problemas da certeza, ocorria a diretiva agostiniana do apego ao eu

    pensante, ao mesmo tempo que iluminao divino-natural das idias. Descartes

    superou a iluminao divina, permanecendo apenas na intuio do eu e do inatismo dasidias.

    O pensamento cartesiano teve formao paulatina, porquanto se teria

    consolidado somente em 1637, com a publicao doDiscurso do Mtodo. Todavia, no

    1Eram os jesutas uma Ordem nova, sem maiores presilhas com o passado, como a dos franciscanos edominicanos. Todavia, encontravam-se os jesutas na esteira aristotlica dos ltimos.2 A Escolstica (ou Escolasticismo) uma linha dentro dafilosofia medieval, de acentosnotadamentecristos, surgida da necessidade de responder s exigncias daf, ensinada pelaIgreja,

    considerada ento como a guardi dos valores espirituais e morais de toda aCristandade.Por assim dizer,responsvel pela unidade de toda aEuropa, que comungava da mesma f. Esta linha vai do comeodosculo IX at ao fim dosculo XVI,ou seja, at ao fim daIdade Mdia.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Crist%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9http://pt.wikipedia.org/wiki/Igrejahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cristandadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Europahttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_IXhttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVIhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_M%C3%A9diahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_M%C3%A9diahttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVIhttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_IXhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Europahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cristandadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Igrejahttp://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9http://pt.wikipedia.org/wiki/Crist%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia
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    se desprendeu das preocupaes do tempo, de sorte a se constituir, at certo ponto, em

    produto do meio, para cujas tendncias tentou uma definio clara e um

    desenvolvimento coerente.

    Aos vinte anos, 1516, quando conclua a escola superior, escreveu o mesmo

    Descartes a respeito de seu estado de esprito e sua indeciso inicial frente s filosofias

    do tempo:

    Desde a infncia, fui nutrido nas letras, e como me persuadissem, que mediante

    elas podia-se adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que til

    vida, tinha eu sumo desejo de as aprender.Mas logo que terminei todo esse curso

    de estudos, no fim do qual costumamos ser aceitos no nmero dos doutos, mudei

    inteiramente de opinio. Porquanto achei-me embaraado por tantas dvidas e

    erros, que me pareceu no ter eu tirado outro proveito, procurando instruir-me,

    seno de ter descoberto cada vez mais minha ignorncia.E no entanto, estava eu

    numa das mais clebres escolas da Europa; e se nalgum lugar havia homens

    sbios, pensava eu que era l que os devia haver. A, aprendera eu tudo o que os

    outros aprendiam; e mesmo no me tendo contentado com as cincias, que nos

    eram ensinadas, percorrera todos os livros que tratam das que so tidas por mais

    curiosas e mais raras, e que puderam cair em minhas mos. (Discurso do

    Mtodo,1a. Med.).

    Analisando com algum senso crtico estas observaes a respeito dos seus 20

    anos, quando saa da Escola Superior, ocorre naturalmente dizer que podero ser exatas

    quanto ao seu estado de esprito imerso em dvidas e questes a resolver. Certamente

    so exageradas com referncia quantidade de livros que lera. Talvez tenha esgotado as

    obras referentes s cincias experimentais da natureza, se isto o que Descartes quis

    entender por cincias mais curiosas e mais raras.

    Nesta hiptese, mais ainda se confirma que o Pai da Filosofia Moderna nopodia ter estudado ainda todos os filsofos antigos at o tempo dos seus 20 anos,

    quando seu esprito se encontrava prenhe de dvidas. A hiptese exata do que ento

    parecia ocorrer a seguinte: aprofundado nas letras e nas cincias, sentia agora a

    necessidade de uma base mais ampla e profunda. E foi quando despertou sua vocao

    para uma pesquisa maior e pessoal.

    Pelo exposto, Descartes se situou, desde a mocidade, num clima de tendncias

    um tanto novas, ainda que, para seu estado de esprito, elas devessem ser conduzidas

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    bem mais longe e viessem depois bandear-se, como no caso das idias inatas, para o

    agostinianismo franciscano.

    A tendncia metafsica e sistematizante, que Descartes herdou da escolstica,

    influenciar depois tambm ao grande Leibniz. Ambos eram novos, originais,

    modernos, porm, com firme conexo histrica que os ligava a alguns grandes

    escolsticos, e portanto umafilosofia perene, conforme expresso que poca se

    criou.

    O respeito de Descartes estrutura teolgica, em todo o seu sistema, o devia

    seguramente educao religiosa em La Flche e leitura dos autores da Teologia

    escolstica ou a ela ligados.

    A concepo cartesiana da liberdade divina, a doutrina do mal, do erro e do

    juzo, a concepo da liberdade humana enfim, no se explicam completamente

    se negligencia a considerao do que o ensinamento de La Flche, a leitura de S.

    Toms e a freqentao dos neoplatnicos do Oratrio poderiam haver

    introduzido ali. Ns queremos mostrar que o caso no especial doutrina

    cartesiana da liberdade e que nem a doutrina das idias est sem esta origem

    teolgica. (E. Gilson,tudes sur le role de la pense mdivale dan la formation

    du systmecartesien,Paris, 1951, p. 9).

    Na poca em que os movimentos intelectuais da Idade Mdia e da Renascena

    entravam em declnio, ele concebeu novas idias para a filosofia e a cincia,

    elaborando-as e defendendo-as com originalidade e brilhantismo.

    Descartes gastou vrios anos como soldado, uma ocupao comum na poca a

    jovens oriundos de sua classe social. Em 1617 foi para a Holanda, onde serviu como

    voluntrio nos exrcitos de Maurcio de Nassau, passando, depois, ao servio de vrios

    prncipes alemes. Entre 1619 e 1620, em uma cidade prxima de Ulm ou Neuberg, noDanbio, que deve ter tido a intuio da Geometria Analtica e de um novo mtodo

    para a organizao de uma filosofia. Isto depois do encontro com Isaac Beeckman, um

    matemtico e fsico que reconheceu o talento de Descartes e a quem ele creditaria o

    despertar de seu torpor intelectual; Aps esse perodo na Alemanha, Descartes encerrou

    sua carreira militar.

    O modo como Descartes escreveu filosofia e a maneira como aludia a si mesmo,

    o tornaram prontamente simptico ao leitor. Relacionava a descoberta das solues

    filosficas com vivncias ao longo de suas viagens e de suas angustiadas cogitaes.

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    Ocorre, pois, uma conexo bastante ntima entre a vida e as obras de Descartes.

    Ao mesmo tempo que exercendo transitrias profisses com vistas subsistncia, ao

    mesmo tempo que se mantinha com alguns recursos de sua herana. Preferiu antes ser

    um pesquisador, dedicado longas meditaes, as quais lanava em livro.

    Primeiro perodo criativo

    Durante o perodo em que ficou na Alemanha Descartes manteve e intensificou

    sua intelectualidade, previamente gerada por suas discusses com Beeckman. No

    muito tempo depois de ter deixado a Holanda, ele fez algumas importantes descobertas

    matemticas, e este sucesso inspirou-o com ambio. Seus esforos se estenderam e

    atingiram o pice no outono de 1619, quando ele concebeu o plano da cincia universal,

    na qual todos os problemas suscetveis razo humana poderiam ser resolvidos e na

    qual todas as verdades filosficas e cientficas poderiam ser unificadas como um nico

    sistema.

    A exaltao induzida neste perodo de trabalho e intensa criatividade foi seguida

    pela exausto e auto questionamento, e ento ele entrou em uma breve crise emocional.

    Nas noites de 10 e 11 de novembro ele teve trs sonhos que o impressionaram

    profundamente. Ele interpretou os sonhos como sendo o reflexo de seus conflitos. Suas

    ansiedades aparentemente foram resolvidas quando ele interpretou o significado dos

    sonhos. Sob sua viso os sonhos diziam, entre outras coisas, que sua misso era

    desenvolver um sistema de pensamento, cuja possibilidade ele acreditava ter descoberto.

    Entre 1619 e 1627, Descartes viveu em Paris por vrios anos e gastou o resto do

    tempo viajando. Ele viveu na Itlia mais ou menos por 18 meses (1623-1624). Por

    algum tempo ele se juntou vida social de Paris, mas o papel de cavalheiro no o

    satisfazia, e ele terminou por mudar-se sem deixar notcias aos amigos. Ele escreveu

    muito pouco durante este perodo, mas sua reputao foi crescendo, e passou a teracesso aos mais avanados crculos intelectuais.

    Parte da viso de Descartes da cincia universal era a noo do mtodo de

    questionamento pelo qual o progresso na filosofia e nas cincias deveria ser mais

    confiavelmente obtido. Excetuando os episdios de inatividade e distrao, ele devotou-

    se profundamente ao uso de seu mtodo e ao refinamento de sua concepo. Ele ficou

    especialmente fascinado pelo telescpio, o qual tinha recentemente conhecido na

    Frana, passando ento a trabalhar em vrios problemas de tica, com a inteno dedesenvolver lentes telescpicas mais efetivas.

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    No final de 1927, Descartes teve uma longa conversa a respeito de seus

    princpios filosficos e cientficos com Pierre Cardinal de Brulle, uma figura de

    destaque no Catolicismo Romano da Frana. Ele convenceu Brulle que o que ele havia

    concebido deveria levar ao progresso em diversas reas em geral e da desta forma seria

    de enorme benefcio prtico para a humanidade, o que levou Brulle a aconselh-lo a

    devotar todas as suas foras a este empreendimento e tornasse possvel que outros o

    acompanhassem. Esta conversa evidentemente teve um impacto decisivo sobre

    Descartes. Imbudo de um grande senso de responsabilidade, ele resolveu melhorar suas

    condies de trabalho e concentrou-se totalmente em atingir os resultados que

    acreditava poder obter com seu mtodo. Foi mais ou menos quando decidiu se mudar

    para a Holanda, onde o clima era mais frio e onde ele no estaria sujeito as distraes da

    vida francesa.

    Mudana para a Holanda

    Descartes estabeleceu-se na Holanda em 1628 e, exceto por rpidas viagens a

    Frana l permaneceu at 1649. Por volta de 1633 ele terminou seu maior trabalho

    intitulado Le Monde, no qual ele apresentava parte do seu trabalho sobre fsica e

    alguns dos resultados de suas pesquisas em fisiologia e embriologia. O livro seria

    publicado, mas Descartes soube que a Igreja Catlica havia condenado Galileu por

    apoiar a teoria copernicana3 do sistema solar. Uma vez que sua teoria astronmica

    desenvolvida em Le Monde, era tambm copernicana, Descartes no a publicou, s

    aparecendo vrios anos aps sua morte.

    3Nascido na Polnia, no ano de 1473, Nicolau Coprnico considerado o fundadordaAstronomia moderna. Antes de sua teoria, os homens consideravam como verdadeiraa tese de um cientista grego chamado Ptolomeu, que defendia a idia de que a Terra erao centro do universo.Contrrio a esta idia, Coprnico no se convenceu da idia de queo Sol e todos os demais planetas giravam em torno da Terra. Por esta razo, defendeu atese de todos os planetas, inclusive a Terra, giravam em tornodoSol (Heliocentrismo).Assim como Coprnico, outros estudiosos no se convenceramda teoria de Ptolomeu; contudo, foi o fundador da Astronomia moderna o pioneiro nadefesa bem fundamentada destes argumentos. Entretanto, somente aps o surgimentodeGalileu Galilei que essa verdade, com auxlio de telescpio, pde ser provada.Ainda segundo as explicaes de Coprnico, a Terra girava sobre si mesma, e as

    estrelas ficavam a muitas distncias de ns. Todas as suas explanaes foram publicadasem seu livro: Os Movimentos dos Corpos Celestes. Coprnico faleceu no ano de 1543,

    aps uma vida de grandes descobertas e de grande contribuio Astronomia.

    http://www.suapesquisa.com/astronomiahttp://www.suapesquisa.com/solhttp://www.suapesquisa.com/o_que_e/heliocentrismo.htmhttp://www.suapesquisa.com/biografias/galileuhttp://www.suapesquisa.com/biografias/galileuhttp://www.suapesquisa.com/o_que_e/heliocentrismo.htmhttp://www.suapesquisa.com/solhttp://www.suapesquisa.com/astronomia
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    Em 1637, Descartes publicou anonimamente trs ensaios (Essais) que diziam

    respeito aos resultados de seu trabalho em geometria, em tica e em meteorologia, cujo

    prefcio era um longo Discours de la Mthode. Embora a maioria dos escritos da

    poca estivessem em latim Descartes escreveu o Discours e os ensaios em francs. Ele

    esperava que seus escritos no fossem lidos apenas pelos acadmicos, mas sim por

    homens inteligentes em geral, e eventualmente por mulheres.

    O discurso foi escrito em sua maior parte com grande lucidez e charme, e

    largamente reconhecido como um dos clssicos da literatura francesa. Ele contm uma

    autobiografia intelectual, esquemas do mtodo de Descartes e metafsica, anlise de

    certas questes cientficas e uma discusso das condies e prospectos do progresso da

    cincia. Apesar do ttulo, ele no contm uma anlise detalhada de seu mtodo. Em

    1628, antes de deixar a Frana Descartes havia comeado a escrever, em latim, um

    tratado sobre o mtodo chamado Regulae ad Directionem Ingenii (Regras para a

    Direo do Pensamento). Este foi seu nico trabalho substancial em metodologia, mas

    ele no o completou e seu manuscrito s foi publicado em 1701, mais de 50 anos aps

    sua morte

    Em 1641, Descartes publicou em latim seu mais importante livro sobre

    metafsica, Meditationes de prima philosophia (Meditaes Metafsicas), onde tenta

    estabelecer a estrutura e as consideraes bsicas que ele acreditava o progresso da

    cincia necessitava. Ele dedicou o Meditationes de prima philosophias autoridades

    teolgicas da Frana. Em 1644 ele publicou, novamente em latim, uma obra completa

    de sua viso cientfica e filosfica, intitulada Principia Philosophiae, que foi feito com

    a inteno de ser utilizado como texto escolar. Contudo suas doutrinas foram

    grandemente reconhecidas, por ambos a Igreja Catlica e a Protestante, como um

    tratado anti-ortodoxia, e nunca obtiveram a sano oficial desejada. A maioria de seus

    livros, de fato, foram finalmente colocados pela Igreja Catlica Romana no "INDEX" ondice de livros proibidos e nunca foram retirados.

    Descartes era evidentemente capaz de considervel generosidade em certas

    relaes. Mas ele no reconhecia prontamente os dbitos intelectuais ou o valor de

    trabalhos feitos por homens que no estivessem sob sua influncia. E tratava os crticos

    com antipatia, ou aqueles que ele julgava sem valor intelectual, ele era inclinado a ser

    arrogante e tempestuoso. Ele levou uma vida isolada na Holanda, mantendo seu

    endereo em segredo de todos, exceto de uns poucos amigos. Mas ele manteve umaintensa correspondncia em tpicos filosficos e cientficos com o diplomata e poeta

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    holands Constatijn Huygens; com a Princesa Elizabeth da Bomia, qual dedicou seu

    Principia Philosophiae; e, atravs de seu amigo, o matemtico Marin Mersenne em

    Paris, com muitos outros que estivessem interessados em seu trabalho.

    Alternando o cio com a curiosidade mental, progredia, contudo Descartes. Em

    novembro de 1618, - j um ano na Holanda, - encontrou Isaac Beckman, fsico e

    matemtico de valor, a quem chamou de seu excitador intelectual. Esse professor, que

    era amigo tambm de Mersenne e Gassendi, estava a par dos ltimos desenvolvimentos

    cientficos. Era tambm um adversrio das formas substanciais de Aristteles. Um novo

    conceito de fsica se foi desenvolvendo na mente do jovem Descartes, ao mesmo tempo

    que foi atendendo ao mtodo cientfico. Naquele ano de 1618 publicou Descartes

    um Compndio de msica (Compendium musicae).

    At ao tempo doDiscurso do Mtodo(1637), se ocupou Descartes,

    principalmente, de uma construo cientfica, ou seja, da matemtica e da fsica. No

    elaborara ainda uma filosofia, como ele mesmo diz na terceira meditao. Mas possua

    um mtodo que diz haver descoberto em 1619.

    ltimos Anos

    O ltimo livro que Descartes escreveu foi Les passions de l'me (1649), no

    qual tratava principalmente de psicologia, tica e da relao entre mente corpo. Em

    1649 foi visitar Estocolmo, convidado pela Rainha Cristina da Sucia, grande

    admiradora sua, a qual esperava que Descartes ensinasse sua filosofia e criasse um

    Instituto para o avano da cincia, ali faleceu, quando decaiu a sua sempre precria

    sade a 11 de fevereiro de 1650, sendo enterrado na Sucia. Descartes contraiu uma

    pneumonia quando foi socorrer seu amigo Pierre Chanut, embaixador francs na Sucia.

    Em 1666 seus restos mortais foram levados a Paris e enterrados na Igreja de Ste.

    Genevive du Mont; em 1819 eles foram removidos para a Igreja de St. Germain dePrs, exceto seu crnio, o qual est no Muse de l'Homme.

    Contribuies relevantes de sua doutrina

    Descartes assenta em posio dualista a questo ontolgica da Filosofia: a

    relao entre o pensamento e o ser. Admitia duas substncias: a do corpo, cujo atributo

    era a extenso, e a da alma cujo atributo era o pensamento. Assim, dois princpios

    independentes: um material e outro espiritual. A existncia do corpo e da alma estavadeterminada por uma terceira substncia: Deus.

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    Por conseguinte, opunha-se Filosofia da Idade Mdia. Plenamente convencido

    do potencial da razo humana, propunha-se a criar um mtodo novo, cientfico, do

    conhecimento do mundo e substituir a f cega pela razo e pela cincia. Recorre, para

    isto, duvida: como mtodo de raciocnio, com a ajuda do qual poderia livrar-se de

    todas as idias preconcebidas ou noes habituais e estabelecer verdades irrefutveis.

    Dvida da exatido de nossas representaes do mundo, assim como da

    existncia do prprio mundo. Mas, ao duvidar de tudo, reconhece que duvidar significa

    pensar. Assim, chega famosa concluso: Penso, logo existo. Partindo do achado da

    existncia de seu prprio eu, percebe que o mundo exterior existe igualmente.

    Descoberta do Cgito

    Ainda na Baviera, com 23 anos, Descartes teve contato com matemticos

    alemes, entre outros Faulhaber. Descobriu o mtodo, conforme declarou no

    seuDiscurso. E como ligou cronologicamente o fato coroao do Imperador, sabemos

    que foi exatamente no ano de 1619.

    Achava-me eu ento na Alemanha, aonde fora chamado pela ocasio das guerras

    que ainda no haviam acabado. E como voltasse da coroao do Imperador para

    o exrcito, o comeo de inverno deteve-me em certo lugar, onde, noencontrando conversao alguma que me divertisse, e no tendo alis, por

    felicidade minha, nem cuidados, nem paixes que me perturbassem, fiquei todo o

    dia fechado sozinho num quarto aquecido por um fogo. Ali pude ocupar-me,

    com todo o vagar, de meus pensamentos (Discurso do Mtodo).

    Parecem datar dessa poca as primeiras novidades matemticas de Descartes.

    Pelo que consta do seuDirio, ocupava-se em compor um Tratado de

    Matemtica.Com a teoria do conhecimento, Descartes torna-se o pai do racionalismo.Cr que os sentidos no nos dem mais que uma representao confusa dos objetos,

    podendo, assim, induzir-nos ao erro.

    O critrio da verdade encontra-se na razo mesma. Sua filosofia esfora-se, em

    suma, por conciliar a religio e a cincia, sofrendo a influncia da ideologia burguesa

    do; sculo XVII, que refletia, ao lado das tendncias progressistas da classe em

    ascenso na Frana, o temor das massas populares. Foi Descartes, sendo ainda, fsico e

    matemtico, o fundador da Geometria Analtica. Em sua Fsica, sustentava que aNatureza um conjunto de partculas materiais. A essncia da matria seria a extenso e

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    o movimento do mundo material eterno, desenvolvendo-se de acordo com as leis da

    Mecnica.

    O episdio do TratadoO mundo.

    Tal como o fsico e astrnomo italiano Galileu Galilei (1564-1642), tambm

    Descartes buscou uma viso de conjunto do universo, e neste sentido escreveu Le

    monde ou trait de la lumire (O mundo ou tratado da luz). Mas, em virtude da

    condenao de Galileu (1633), pela Inquisio da Igreja Romana, no chegou a ser

    publicado, seno postumamente, em 1664. Quando desta condenao de Galileu,

    Descartes escreveu impressionado a Mersenne, em carta de 22 de julho de 1633:

    Isto me espantou to fortemente que me resolvi quase queimar todos os meus

    papis, ou pelo menos, de no deix-los serem vistos por ningum. Confesso

    que, se ele (o movimento da terra) falso, todos os fundamentos de minha

    filosofia o sero tambm, porque ele demonstrado por meio deles, e ele est de

    tal modo ligado a todas as partes do meu tratado, que eu no o poderia retirar,

    sem tornar o resto defeituoso. Mas como no queria por nada deste mundo que

    sasse de mim um discurso onde se encontrasse a menor palavra que fosse

    desaprovada pela Igreja, preferia suprimi-lo, a faz-lo aparecer estropiado.

    Entretanto, Descartes prosseguiu seus estudos de fsica. Em 1637, publicou os

    trs ensaios intituladosMtodos, Diptrica e Geometria. Ensaiando fazer uma

    exposio, a mais fcil possvel, escreveu para este fim o prefcio, que se tornou

    clebre, e que tem o ttulo alusivo aos ensaios que prefaciou: Discurso do Mtodo para

    bem conduzir a razo e buscar a verdade nas cincias, mais a Diptrica, os Meteoros, e

    a Geometria que so ensaios deste mtodo.

    Mas de todo este conjunto ficou no interesse maior apenas o Discurso doMtodo.Por seu contrato de edio em Leyden, recebeu 200 exemplares para

    distribuio entre os amigos. No livrinho, exps o mtodo da dvida metdica, a que se

    havia proposto desde a sua estadia no sul da Alemanha em 1619, e a soluo do

    problema da realidade a partir do eu, Cogito, ergo sum.

    No Index.

    As obras de Descartes foram, entretanto, postas, pela Igreja Catlica, no Index

    dos livros proibidos leitura, por decreto pstumo do Santo Ofcio, de 10 de outubro de

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    1663 (duas dcadas aps a morte do fundador da filosofia moderna e da geometria

    analtica), com a clusula: donec corrigantur (at que se corrijam). Foi supresso o Index

    trs sculos depois, por iniciativa da mesma Igreja. Neste espao ningum se aventurou

    a publicar os livros de Descartes em forma corrigida.

    Contudo Descartes foi sempre tratado com certa complacncia pelos

    eclesisticos, mesmo em virtude do respeito que mantinha para com a Igreja. Suas

    doutrinas foram condenadas, porque eram julgadas incompatveis com as explicaes

    racionais de alguns dos dogmas da Igreja. O seu conceito sobre a matria tornava difcil

    dizer que Jesus estava presente na Eucaristia. O mesmo Descartes j dizia desta

    incompatibilidade de sua doutrinas, com o que se referia ao movimento do Sol em torno

    da Terra.

    Formou-se uma corrente cartesiana crist. Esta praticamente suplantou a

    escolstica decadente, at os meados do sculo XIX, quando os prprios cristos

    retornam a se convencer de que a conciliao cartesiana crist no passava tambm de

    um ecletismo insustentvel.

    Aps a morte de Descartes, no se desmantelou o grupo formado em torno do

    Pe. Mersenne que era com quem Descartes se correspondia preferencialmente. Deste

    grupo resultou a fundao, por iniciativa de Colbert, daAcademia de Cinciasde Paris

    em 1666. Constituda de 66 membros e dois secretrios perptuos, dedicou-se aos

    estudos de questes de matemtica, fsica, qumicas, etc.

    A primeira traduo do Discurso em lngua portuguesa apareceu no Brasil por

    ocasio do terceiro centenrio de nascimento do filsofo, obra de Miguel Lemos, um

    dos lderes do movimento positivista. Em 1939 e 1952, outras duas tradues vieram a

    lume, tomando por base a primeira. Finalmente, em 1960, uma nova traduo, esta da

    autoria do professor Joo Cruz Costa, foi publicada, com introduo e notas do autor.

    Da bibliografia cartesiana no Brasil. pouco numerosa, destaca-se a obra de Ivan Lins,Descartes (poca, Vida e Obra), 1940.

    A filosofia de Descartes

    Ele se concentrou no estudo do conhecimento. Por isso, uma diviso didtica

    procede adequadamente, ao dividir toda a sua filosofia em grandes unidades, ou

    captulos, destacando para o primeiro o que mais o preocupou e veio efetivamente a

    tratar:- o mtodo e a teoria do conhecimento;

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    - filosofia geral, natural, em que vai includa a psicologia, finalmente a filosofia moral,

    de que se ocupou tambm, ainda que parcamente;

    No primeiro captulo, referente ao conhecimento, o tema abordvel sob dois

    pontos de vista distintos, portanto em dois artigos separados, ainda que o mesmo

    Descartes no os tenha separado inteiramente:

    Mtodo em Descartes;

    Teoria do conhecimento em Descartes.

    Trata-se, pois, ao conhecimento primeiramente do ponto de vista meramente formal

    da lgica, e destacando o mtodo; a seguir, do ponto de vista da validade de contedo

    gnosiolgico4, particularmente do ponto de vista da certeza inicial.

    Questo de Mtodo

    No obstante ser o objetivo principal de Descartes atingir a soluo gnosiolgica

    da certeza do conhecimento tratou primeiramente do mtodo, do ponto de vista

    meramente formal da lgica. Mas no tratou Descartes sistematicamente de toda a

    lgica, de que o mtodo apenas um acabamento. Todavia, podem-se coletar aqui e ali

    textos sobre os mais variados assuntos da lgica formal, referentes, ora s operaes

    mentais, - como conceito, juzo e raciocnio, - ora referentes mesmo linguagem, que

    traduz o pensamento em expresso exterior.

    Penetrou Descartes mesmo na rea da lingustica, ao se ocupar diligentemente

    doplanejamento da lngua universal, conforme se aprecia em uma longa carta ao Padre

    Mersenne, datada de Amsterdam, 20 de novembro de 1629. A preocupao de uma

    4 Gnosiologia (tambm chamada Gnoseologia) o ramo dafilosofia que se preocupacom a validade do conhecimento em funo do sujeito cognoscente, ou seja, daqueleque conhece o objeto. Este (o objeto), por sua vez, questionado pelaontologia que oramo da filosofia que se preocupa com o ser. Fazem-se necessrias algumasobservaes para se evitar confuses. A gnoseologia no pode ser confundidacomepistemologia, termo empregado para referir-se ao estudo do conhecimentorelativo ao campo de pesquisa, em cada ramo das cincias. Ametafsica tambm no

    pode ser confundida com ontologia, ambas se preocupam com o ser, porm a metafsicapem em questo a prpria essncia e existncia do ser. Em outras palavras, a grossomodo, a ontologia insere-se na teoria geral do conhecimento, ou Ontognoseologia, que

    preocupa-se com a validade do pensamento e das condies do objeto e sua relao osujeito cognoscente, enquanto que a metafsica procura a verdadeira essncia econdies de existncia do ser.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ontologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Epistemologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Metaf%C3%ADsicahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Metaf%C3%ADsicahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Epistemologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ontologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia
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    lngua mais perfeita se repetir em Komenius e Leibniz, para finalmente surgir no

    projeto Esperanto5, de Dr. Luiz Lzaro Zamenhof, publicado em 1887.

    Estava bem convencido Descartes, que, sem um mtodo adequado, as filosofias

    at ento haviam incorrido em erro fcil. Por isso, - embora tendo por objetivo a soluo

    do problema crtico, ou seja, de um ponto de partida vlido de todo o conhecimento, -

    deu um passo atrs, perguntando primeiramente pelo mtodo.

    E como seu objetivo era usar o mtodo na gnosiologia, os exemplos para

    explicar o mtodo se enredam desde logo com o mencionado objetivo. Mas, preciso,

    distinguir sempre uma e outra coisa, apesar da simultaneidade das referncias. A

    ocupao com o mtodo pode confundir, dadas as perspectivas variadas sob as quais

    examinado. Por isso, convm perguntar sob quais delas se colocou Descartes, - se sob o

    aspecto subjetivo, se sob o objetivo, e quais detalhes mais destacou.

    O mtodo admite primeiramente uma considerao, que o faz ser

    vistosubjetivamentee objetivamente. Em ambas se inquire do modo como dirigir-se ao

    objeto a conhecer. O mtodo, considerado subjetivamente, se diz da maneira como

    acontece na didtica e na pedagogia, que leva em conta a situao subjetiva de quem

    busca o saber; no foi esta a preocupao central de Descartes.

    O mtodo, considerado objetivamente, leva em conta a situao do objeto

    mesmo a alcanar. Agora, nos encontramos na rea de ocupao de Descartes. Mas a

    considerao sobre o mtodo pode tambm distinguir entre a maneira formal de o

    exercere a aplicao material do mtodo. Quanto aplicao material, ou assunto

    examinado com mtodo, Descartes apresentou uma novidade: ps em exame metdico

    o conhecimento simplesmente.

    Importa o situamento histrico, porque Descartes no fora uma figura isolada,

    ainda que proeminente pelo impacto. Depois, tambm importa distinguir entre o geral e

    o especial, porque Descartes, embora no tenha tratado de todos os temas da lgica,abordou, alm do tema geral, um bastante particular, o da classificao das cincias.

    5 Publicado em 1887 por um jovem oftalmologista polons, L. L. Zamenhof, oEsperanto no foi criado para substituir as demais lnguas do mundo. Pelo contrrio! Ouso de uma lngua que no d privilgios a este ou aquele grupo de pases s vemvalorizar a importncia das lnguas nacionais na expresso de suas culturas. E por isso,

    claro, que o Esperanto internacional. Se fosse propriedade de algum, de algum lugar,de alguma corrente ideolgica, perderia sua principal caracterstica, que o tornaindependente e aceito em qualquer lugar: a neutralidade.

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    Ainda que os antigos j procedessem com mtodo, no se dedicaram

    exaustivamente, apesar dos questionamentos ceticistas6, ao estudo do conhecimento, do

    ponto de vista de sua validade, com a dimenso e a preocupao metodolgica dos

    modernos. Descartes imps-se uma dvida metdica no processo mesmo de sua certeza

    de conhecer.

    Com referncia ao jesuta Francisco Suarez (1548-1617), que introduziu novos

    mtodos em ontologia7, no conduziu esta indagao metodolgica para o plano da

    gnosiologia. Pelo exposto, no se trata somente de uma nova maneira de tratar o

    mtodo, mas tambm de novas temticas subordinadas a mtodo.

    Atentos extenso da generalidade material, no mtodo h aquelas perspectivas

    metodolgicas comuns a todos os objetos e outras restritas aos seres de regies

    particulares. Pergunta-se em que temtico se situou Descartes em suas investigaes

    metodolgicas. Suas regras metodolgicas alcanam os objetos em geral. Ocupa-se

    portanto com metodologia geral, alm da particular, onde foi se ocupar da metodologia

    da teoria do conhecimento.

    Mais que Scrates, que Plato e muitos outros, tratou Descartes do mtodo,

    assunto alis de novo em voga no incio dos tempos modernos. Nesta retomada histrica

    do tema, oDiscurso do mtodo, publicado por Descartes em 1637, foi mais que um

    episdio, em virtude do impacto provocado. Aplicou, Descartes com muito mais

    insistncia o mtodo no tratamento da questo da certeza gnosiolgica inicial. Partiu

    metodicamente de um fato, o de que cada um tem o conhecimento imediato de que

    pensa.

    Penso! Eis que este cgito,se apresenta em si mesmo como certo, ao modo de

    uma certeza absoluta, no dependente de outra. A partir deste cogito, identificado como

    fato inicial, eis a partir de onde importa prosseguir com mtodo!

    Cuidou Descartes com tal carinho do seu ponto de partida metodolgico, que feza pergunta sobre a razo, - porque esta certeza tal. E verificou diretamente, sem

    intermedirios, que clarezae distinoconstituem as propriedades desta primeira

    6Ceticismo: Doutrina dos filsofos que afirmam que o homem no pode atingir averdade absoluta. Tinham uma disposio para duvidar de tudo.

    7Ontologia(emgrego ontose logoi, conhecimento do ser) a parte dafilosofia que

    trata da natureza doser,da realidade, da existncia dos entes e das questes metafsicasem geral. A ontologia trata doser enquanto ser, isto , do ser concebido como tendouma natureza comum que inerente a todos e a cada um dos seres.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_gregahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Serhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Serhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_grega
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    certeza, a qual admitida apenas por ser clara e distinta no seu mostrar-se ao sujeito

    cognoscente8.

    E porque, para ocorrer certeza no importa mais do que isto, o critrio da

    certeza constitudo pela evidncia clarae distinta. Tal acontecia com o seu ponto de

    partida, - a certeza do cogito, - que ficou sendo este metodologicamente vlido para

    incio de todo um sistema de filosofia.

    O mtodo cartesiano em geral

    Do ponto de vista meramente formal da sistemtica da lgica, importa atender,

    que o mtodo se d, ora na operao do conceito, - como anlise (diviso e

    classificao) e comosntese (composio e definio); ora na operao do juzo, -

    como anlise (nas inferncias) e como sntese (nos dados); ora na operao do

    raciocnio, - como anlise (na induo) e como sntese (na deduo).

    No parece que Descartes tenha tratado do mtodo, atento a esta sistematicidade.

    Esteve, todavia sempre atento que a anlisefosse cuidadosa, sem nada

    omitir,progredindo por graus efazendo classificaes.

    Colocadas as distines acima, pergunta-se ainda, - em que questes

    materialmente se utiliza o mtodo?

    Temos agora que advertir, que Descartes tratou da diviso e classificao das

    cincias. Este um tema de carter meramente formal, e portanto exclusivamente da

    lgica. Mas, uma classificao, ainda que meramente formal, classifica levando em

    conta o aspecto material das coisas. Isto est muito evidente na classificao das

    categorias e finalmente na classificao das cincias.

    Ainda que no escrevesse muito sobre o mtodo em si mesmo, Descartes esteve

    sempre atento a ele, ao se propor a us-lo na elaborao de uma filosofia e de uma

    cincia novas. SeuDiscurso do Mtodo, apesar da metodologia, contm mais de teoriado conhecimento e de metafsica do que de metodologia. Alis, o mesmo Descartes

    escreveu o texto como uma introduo ao que viria depois.

    8 Que conhece, que toma conhecimento: O conhecimento reside na mente dosujeito cognoscente. Sujeito cognoscente: O cognoscente tem autonomia no processo deconstruo de seu conhecimento.

    F.: Do lat. cognoscens, entis, part. presente de cognoscere'conhecer, tomarconhecimento.

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    No , portanto, no mtodo em si mesmo que devemos louvar a Descartes, mas

    no cuidado de o aplicar no exame da filosofia e da cincia. Ao tratar do mtodo,

    prontamente j foi seguindo para a sua aplicao, o que faz no percebermos logo onde

    cuida mais do mtodo e onde mais da ulterior aplicao. Ainda que no escreva muito

    sobre o mtodo, para seu tempo era bastante o que Descartes dizia, como ainda era

    aprecivel a importncia que lhe deu.

    Com referncia ao mtodo, importa distinguir o que pertence ao seu tratamento

    meramenteformal e o que diz respeito sua validade. Apenas o tratamento formal

    pertence Lgica. Alis, a metodologia um captulo da lgica, que, tratando das

    operaes mentais (idia, juzo, raciocnio), mostra tambm como se processam (dali os

    mtodos de conceituar, os mtodos de julgar, os mtodos de raciocinar). Sempre que se

    cuida da validade, o assunto j no pertence lgica, mas gnosiologia (ou teoria do

    conhecimento).

    Quanto a Descartes, ele fez tanto a metodologia como lgica e a metodologia

    como gnosiologia. E preciso no confundir ao fazermos o exame histrico de suas

    doutrinas a respeito de um e outro aspecto. O mtodo, que o modo de se proceder a

    uma indagao, constitui um dos raros temas da lgica, de que se ocupou Descartes, -

    conforme j se adiantou. Deu-lhe, todavia, uma nfase inusitada, tanto no exame do

    mesmo mtodo, como na sua aplicao aos casos particulares da filosofia, da fsica, da

    matemtica.

    Do ponto de vista histrico, o mtodo j foi praticado por Scrates, como se v

    nos dilogos de Plato. Ao proceder os arrolamentos em duas colunas, at alcanar os

    elementos gerais do conceito que reunia os casos particulares, agia evidentemente com

    um mtodo. Plato, sobretudo Aristteles j se ocupam teoricamente do mtodo. No que

    se refere induo, sobretudo os modernos lhe do desenvolvimento. Descarte,

    entretanto, cuidou mais do aspecto fenomenolgico dos momentos iniciais doconhecimento. Ao iniciar oDiscurso do Mtodoe lembrar que o bom senso a coisa

    mais bem distribuda, diz que a diversidade das opinies no resulta de serem uns

    mais racionais do que outros, mas somente de que conduzimos os nossos pensamentos

    por caminhos diversos e no consideramos as mesmas coisas, porque no basta ter o

    esprito bom, o principal aplic-lo bem.

    Encontra-se ali afirmada logo de incio a importncia do mtodo, mais que a

    considerao da inteligncia em si mesma, para diferenciar os resultados dos estudos.Advertido desta situao, entrou Descartes a estudar o prprio mtodo. Numa

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    advertncia de modstia, contudo, complementa: o meu intento no ensinar aqui o

    mtodo que cada qual deve seguir para bem conduzir a sua razo, mas somente mostrar

    de que maneira procurei conduzir a minha. (1. Meditao).

    Os primeiros representantes da filosofia moderna escreveram quase todos sobre

    o mtodo.

    A essncia do mtodo gnosiolgico cartesiano

    A essncia do mtodo cartesiano, quando o tema a validade gnosiolgica do

    conhecimento, diz respeito maneiraformalde estabelecer o fluxo do conhecimento a

    respeito dos conhecimentos dados como conteudisticamente vlidos. A validez em si

    mesma determinada pela gnosiologia. Mas, a lgica fica atenta ao fluxo metodolgico.

    gnosiolgico estabelecer que a evidncia por si s suficiente. Mas, o sequencial das

    evidncias fica no cuidado da metodologia, como acento lgico do procedimento.

    A ordem na evidncia, eis, pois, onde se encontra a essncia do mtodo

    cartesiano. Efetivamente, a propriedade mais significativa do conhecimento a

    evidncia, da qual depois decorre a verdade e a certeza. Metodificar o conhecimento ,

    pois, principiar por ordenar a evidncia, como foi a iniciativas de Descartes.

    Insistiu Descartes que tudo deve comear pelo mais evidente, para deste mais

    evidente seguir o caminho para o menos evidente, no sentido de dependente da

    evidncia anterior. Para Descartes, o objetivo est, por conseguinte, em estabelecer o

    sempre evidente, no incio, e a partir desta intuitividade inarredvel seguir

    metodicamente para as verdades deduzidas. Esta convico se encontra

    indiscutivelmente na sua primeira regra do mtodo:

    O primeiro (preceito) consistia em nunca aceitar como verdadeira qualquer coisa,

    sem a reconhecer evidentemente como tal, isto , evitar cuidadosamente aprecipitao e a preveno; no incluir nos seus juzos nada que no se

    apresentasse to clara e to distintamente ao meu esprito, que no tivesse

    nenhuma ocasio para o por em dvida. (Discurso do Mtodo).

    Mas, se continuarmos a ler os seguintes preceitos metodolgicos de Descartes,

    bem como atendermos ao comportamento de suas investigaes, notaremos trs novas

    particularidades, que vo diferenciar seu mtodo com o andamento que os outros daro

    aos temas. H neles um desenrolar essencialista, ou matematicista, das partes, numa

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    excessiva integrao das disciplinas, e um caminhar raciocinativo de simples

    concatenao.

    Decompondo o evidente

    O que que, para Descartes, se mostra evidente e o que no o ? Diz ser mais

    evidente aquilo que se refere como o mais simples na ordem da essncia. Um todo

    complexo o divide Descartes, metodicamente em suas partes progressivamente cada vez

    mais simples, at obter uma idia indivisvel. A idias que ainda continuam compostas,

    no podero ser evidentes seno na dependncia das mais simples.

    Este modo de dividir a questo pelas partes simplesmente constitutivas do

    objeto, visto sob o prisma de sua constituio essencial, tambm o processo aplicado

    na analtica dos matemticos, que dividem, por exemplo, uma linha em infinitas partes.

    Em consequncia, o mtodo essencialista de Descartes tambm se pode

    denominarmatemtico. Ainda assim se poder denominar porque o mesmo Descartes se

    afeioara a esta ltima cincia, deixando-se por ela influenciar.

    Um outro mtodo, ao decompor uma idia evidente, a dividiria na ordem da

    evidncia e no do objeto evidente. Ento j no se faria necessria a ordem da anlise

    meramente matemtica a alcanar as essncias mais simples.

    Ainda que se deva estabelecer a ordem essencial dos constitutivos das coisas, o

    mtodo, do ponto de vista da obteno da certeza, caminha na ordem pela qual as partes

    se apresentam evidncia. E ento poder ocorrer que as propriedades se manifestem

    mais evidentes antes que as substncias, mesmo que estas sejam mais simples. Deus o

    mais simples, mas no o mais evidente relativamente a ns.

    Leiam-se os dois seguintes preceitos do mtodo de Descartes e se aprecie como

    se ocupa to s da ordenao essencial e no da sequncia das evidncias:

    1.

    O segundo (preceito), dividir cada uma das dificuldades que eu houvesse deexaminar em tantas parcelas quantas pudessem ser e fossem exigidas para

    resolv-las melhor(Ibidem, II).

    2. O terceiro (preceito), conduzir por ordemmeus pensamentos, comeando pelos

    objetos mais simples e fceis de serem conhecidos, para subir pouco e pouco

    como por degraus at o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo

    certa ordem entre os que no precedem naturalmente uns aos outros. E o ltimo

    fazer por toda a partenumeraesto completas e revistas to gerais, que ficassecerto de nada omitir(Ibidem).

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    Regras para a direo do esprito

    Para Descartes as leis do mtodo por ele apresentadas, ora enunciando a anlise,

    ora a sntese, ora ambas. O que diz neste livro, deve ser tratado como complemento

    doDiscurso do mtodo,por causa da situao inacabada do texto e sua edio posterior.

    No completou Descartes as suas regras que anunciava, na regra 12, serem num total de

    36. Exarou e explicou a primeira parte constante de 12 regras sobre as proposies

    simples e oito sobre as questes, das quais deixou de explicar as trs ltimas.

    5-a regra:

    Todo o mtodo consiste na ordem e disposio das coisas para as quais necessrio

    dirigir a agudeza da mente para descobrir a verdade. Observamos isto exatamente, se

    reduzirmos gradualmente as proposies intrincadas e obscuras a outras mais simples, e

    se depois, partindo da intuio das mais simples, intentamos ascender pelos mesmos

    graus, ao conhecimento das demais.

    6-a regra:

    Para distinguir as coisas mais simples das complicadas, e investig-las com ordem,

    convm, em cada srie de coisas em que deduzimos diretamente algumas verdades de

    outras, observar qual a mais simples e como todas as outras esto mais ou menos ou

    igualmente afastadas delas.

    13-a regra:

    Se compreendemos perfeitamente uma questo, devemos afast-la de todo o conceito

    suprfluo, reduzindo-o maior simplicidade e dividindo-a, mediante uma enumerao,

    em partes to pequenas quanto seja possvel.

    17-a regra:

    A dificuldade proposta deve ser indiretamente investigada, fazendo-se com que alguns

    dos seus fins sejam conhecidos e outros desconhecidos, e procurando intuir por meio deverdadeiros raciocnios a dependncia de uns com os outros.

    Regra 18-a:

    Para isto, s quatro operaes so necessrias: a adio, a subtrao, a multiplicao e

    a diviso, das quais as duas ltimas muitas vezes no devem ser levadas a efeito, j para

    no complicar nada inutilmente, j porque podem ser executadas mais facilmente

    depois.

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    Conclu-se, observando que toda a cincia efetivamente faz as enumeraes das

    partes em que um objeto se dissocia. Mas, no apenas isto que se pode tomar em conta

    para haver evidncia.

    Descartes enrijeceu a integrao das disciplinas do saber. A interpenetrao dos

    princpios mostra a ele que as cincias se prendem entre si. Desta sorte, no s cuida do

    mtodo da matemtica, mas de todas as divises do saber, como se houvesse algo

    sempre comum a ordenar o todo, simplesmente.

    A integrao metodolgica de todas as disciplinas do saber no deixa de ser

    vlida em si mesma, porque as cincias so fatias abstratas de um s grande saber. Foi

    um mrito de Descartes o haver advertida para a integrao metodolgica das cincias.

    A unidade plotiniana do saber volta a se manifestar em Descartes, o qual foi, alm disto,

    um sbio enciclopdico, ao mesmo tempo cientista, formado em direito e estudioso da

    medicina, alm de filsofo por vocao, teve tambm uma vida de militar e matemtico.

    Qualquer seja a validade das concluses a que chegasse neste assunto da

    integrao de todo o saber, Descartes teve o mrito de haver estimulado esta ordem de

    questes. Foi sempre conhecida a atitude medieval que punha a filosofia como serva da

    teologia. Em que sentido valeria esta subordinao? Em Descartes se nota a constante

    preocupao de no fazer conflitar a sabedoria humana com a divina; assustava-se com

    o caso Galileu, de 1633. Nem por isso deixou de pensar com autonomia metodolgica.

    possvel, porm, que Descartes no tenha visto suficientemente, que a unidade no

    podia sacrificar toda a diversidade.

    Atenda-se para a viso de Francisco Bacon a respeito das naturezas

    regionalizadas. Estas no poderiam revelar-se atravs dos princpios gerais, de sorte a se

    fazer necessria, ento, a experincia e a induo Descartes se exerce num clima em que

    o mtodo no s integrado (como de direito), mas unitrio, de sorte a fazer sentir o

    matematicismo de todas as reas do saber. Este esprito persever em Leibniz, com suateoria das verdades contingentes e eternas.