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AUXILIADORA DAMIANNE PEREIRA VIEIRA DA COSTA Terapia de reidratação oral no setor de emergência Recife 2009

Terapia de reidratação oral no setor de emergência · de sobrecarga importante no trabalho, ... Terapia de reidratação oral no setor de emergência 14 physicians as barriers

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AUXILIADORA DAMIANNE PEREIRA VIEIRA DA COSTA

Terapia de reidratação oral no setor de emergência

Recife 2009

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AUXILIADORA DAMIANNE PEREIRA VIEIRA DA COSTA

TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL NO SETOR DE EMERGÊNCIA

Dissertação apresentada ao Curso de

Mestrado em Saúde da Criança e do

Adolescente do Centro de Ciências da

Saúde da Universidade Federal de

Pernambuco, orientada pela professora

Gisélia Alves Pontes da Silva, como

requisito parcial para obtenção do grau

de mestre.

RECIFE

2009

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Costa, Auxiliadora Damianne Pereira Vieira da

Terapia de reidratação oral no setor de emergência / Auxiliadora Damianne Pereira Vieira da Costa. – Recife : O Autor, 2009.

85 folhas : il., tab.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Saúde da Criança e do Adolescente, 2009.

Inclui bibliografia, anexos e apêndices.

1. Terapia de reidratação oral – Serviços de Emergência Pediátrica. I. Título.

616.053.2 CDU (2.ed.) UFPE

618.92 CDD (22.ed.) CCS2009-034

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

REITOR

Prof. Dr. Amaro Henrique Pessoa Lins

VICE-REITOR

Prof. Dr. Gilson Edmar Gonçalves e Silva

PRÓ-REITOR DA PÓS-GRADUAÇÃO

Prof. Dr. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DIRETOR

Prof. Dr. José Thadeu Pinheiro

COORDENAÇÃO DA COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO CCS

Profa. Dra. Célia Maria Machado Barbosa de Castro

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

COLEGIADO

Profa Dra. Gisélia Alves Pontes da Silva (Coordenadora) Profa. Dra. Luciane Soares de Lima (Vice-coordenadora)

Profa. Dra. Marília de Carvalho Lima Profa. Dra. Sônia Bechara Coutinho Prof. Dr. Pedro Israel Cabral de Lira

Profa. Dra. Mônica Maria Osório de Cerqueira Prof. Dr. Emanuel Sávio Cavalcante Sarinho

Profa. Dra. Sílvia Wanick Sarinho Profa. Dra. Maria Clara Albuquerque Profa. Dra. Sophie Helena Eickmann

Profa. Dra. Ana Cláudia Vasconcelos Martins de Souza Lima Profa. Dra. Maria Eugênia Farias Almeida Motta

Prof. Dr. Alcides da Silva Diniz Profa. Dra. Maria Gorete Lucena de Vasconcelos

Profa. Dra. Sílvia Regina Jamelli Profa. Cleide Maria Pontes

Adriana Azoubel Antunes (Representante Discente – Doutorado) Thaysa Maria Gama Albuquerque Leão de Menezes (Representante Discente – Mestrado)

SECRETARIA

Paulo Sérgio Oliveira do Nascimento Juliene Gomes Brasileiro

Clarissa Soares Nascimento

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DEDICATÓRIA

Aos meus zelosos pais, Paulo e Fátima, pelo exemplo.

Ao meu amado filho, Davi Antônio, símbolo da esperança que se renova.

Ao meu querido Sérgio, pelo companheirismo acima de tudo.

Dedicatória

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que guia minhas ações para que a intenção maior seja ajudar o próximo.

Aos meus familiares queridos pela força e compreensão, tão importantes nas

horas de ausência e inquietude.

À professora Gisélia Alves, por orientar em seu sentido mais nobre, ajudando a

transformar obstáculos em experiências.

Às professoras Marília Lima, Ana Falbo e Maria Helena Kovacs, pela

inestimável colaboração com os caminhos desta pesquisa.

Ao corpo docente da Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente,

pelo afinco com que transmitem sua mensagem educativa.

Aos colegas de mestrado, pela acolhida e os sentimentos de união e

reciprocidade que permearam nossa trajetória ao longo do curso.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),

pela concessão de bolsa de estudos, parte importante de sua missão na formação do

pesquisador brasileiro.

Aos funcionários da Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente,

Paulo, Clarissa e Juliene, pela disponibilidade nas questões burocráticas da pesquisa.

Às pessoas que fazem os serviços que permitiram a realização desta pesquisa, o

Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira e o Hospital de Pediatria

Maria Cravo Gama, pela contribuição com o conhecimento e interpretação da realidade.

Às assistentes de pesquisa, Katilin e Sílvia, pela dedicação e compromisso na

coleta dos dados.

Às crianças e seus cuidadores, especialmente por sua disponibilidade em

contribuir num momento muitas vezes difícil de suas vidas.

Agradecimentos

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EPÍGRAFE

“Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas.”

Voltaire

Epígrafe

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SUMÁRIO

Lista de abreviaturas.......................................................................................................9 Lista de tabelas ..............................................................................................................10 Resumo ...........................................................................................................................11 Abstract ..........................................................................................................................13

1. Apresentação..............................................................................................................15

1.1. Referências............................................................................................................18

2. Capítulo de revisão da literatura .............................................................................19

2.1. Introdução .............................................................................................................20

2.2. Indicação da hidratação oral: o binômio cuidador – criança no setor de

emergência ...................................................................................................................21

2.3. Perspectiva do setor de emergência para a aplicação da hidratação oral .............24

2.4. Perfil do médico: conhecimento e atitude ............................................................28

2.5. Conclusões ...........................................................................................................30

2.6. Referências ...........................................................................................................31

3. Artigo original............................................................................................................38

Resumo ........................................................................................................................39

Abstract ........................................................................................................................40

Lista de abreviaturas ....................................................................................................41

Lista de tabelas.............................................................................................................42

3.1. Introdução .............................................................................................................43

Sumário

Page 10: Terapia de reidratação oral no setor de emergência · de sobrecarga importante no trabalho, ... Terapia de reidratação oral no setor de emergência 14 physicians as barriers

3.2. Método ..................................................................................................................44

3.3. Resultados .............................................................................................................46

3.4. Discussão ..............................................................................................................49

3.5. Conclusões ............................................................................................................54

3.6. Referências............................................................................................................55

3.7. Tabelas ..................................................................................................................58

4. Considerações finais .................................................................................................62

5. Apêndices....................................................................................................................65

6. Anexos.........................................................................................................................75

Sumário

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 9

LISTA DE ABREVIATURAS

AAP: American Academy of Pediatrics

ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária

HO: Hidratação oral

HV: Hidratação venosa

MS: Ministério da Saúde (Brasil)

OMS: Organização Mundial de Saúde

SRO: Sais de Reidratação Oral

TRO: Terapia de Reidratação Oral

Lista de abreviaturas

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Indicação de HO entre as crianças no setor de emergência de acordo com o

estado de hidratação e a presença e intensidade dos vômitos e das evacuações nas

últimas 12 horas.............................................................................................................. 58

Tabela 2: Orientações na alta da criança com relação ao manejo domiciliar da diarréia59

Tabela 3: Relato médico de indicação de HO para situações clínicas envolvendo

crianças hidratadas ou com desidratação leve e moderada de acordo com cada serviço60

Tabela 4: Principais inconvenientes relacionados ao uso da HO, de acordo com os médicos entrevistados em cada serviço.......................................................................... 61

Lista de tabelas

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 11

RESUMO

Apesar de sua comprovada eficácia no manejo da diarréia aguda, com normas

amplamente divulgadas em nível mundial, a terapia de reidratação oral (TRO) é

frequentemente preterida pelos médicos em relação à hidratação venosa para crianças

com desidratação não-grave no setor de emergência. O objetivo do estudo foi observar a

aplicação dos princípios da TRO para crianças com diarréia aguda na emergência,

verificando características inerentes aos pacientes, médicos e à dinâmica do próprio

setor como fatores determinantes em sua prática. Estudo descritivo com componente

analítico foi conduzido no período de fevereiro a maio de 2008 em duas unidades de

emergência localizadas na cidade de Recife (Brasil), uma delas vinculada a um hospital-

escola. Participaram do estudo 369 crianças com diarréia aguda e 43 médicos nos dois

serviços. As principais variáveis foram: 1) a indicação da TRO para crianças com

desidratação não-grave por diarréia aguda; 2) características clínicas das crianças e o

tipo de serviço (com ou sem função de ensino); 3) perfil dos médicos que atuam no

setor e 4) estrutura dos serviços global e específica para a realização da TRO. Foi

observada uma tendência a declínio no uso da TRO em relação à hidratação venosa

(HV), de acordo com o estado de hidratação, com a terapia sendo indicada para 35,6%

(47/132) das crianças com desidratação leve e 17,6% (6/34) daquelas com a forma

moderada no setor de emergência, sem associação com o tipo de serviço (com ou sem

função de ensino). Foi indicada HV para 10,8% (22/203) das crianças hidratadas. Não

houve interferência da intensidade dos vômitos ou das evacuações sobre a indicação da

TRO. Mais da metade dos médicos (58,1% - 25/43) nas duas unidades refere percepção

de sobrecarga importante no trabalho, considerando os serviços inadequados em termos

de espaço físico (83,7%) e com insuficiência de equipamentos (76,7%) para a realização

Resumo

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 12

das atividades diárias. Não havia sala específica para reidratação em nenhum dos

serviços, nem profissional específico para supervisão da TRO. Entre os empecilhos

relatados pelos médicos para a aplicação da terapia no setor destacam-se determinantes

estruturais (falta de espaço, equipamentos e recursos humanos) e relacionados aos

processos de trabalho, como a demanda excessiva da assistência. A ausência de

diferença entre os serviços (um assistencial e outro de ensino) em relação ao padrão de

indicação da TRO sugere que a contribuição do treinamento médico não é suficiente,

assumindo importância questões estruturais e relacionadas à dinâmica dos processos de

trabalho no setor.

Palavras-chave: Serviços Médicos de Emergência; Terapia de Reidratação Oral;

Gastroenterite; Criança; Administração de Caso

Resumo

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 13

ABSTRACT

Oral rehydration therapy (ORT) is often underused regarding to venous therapy

for children with non severe dehydration in emergency department, despite its proved

effectiveness on acute diarrheal case management even having large widespread

protocols. The objective of this study was to assess the use of ORT for children with

acute diarrhea at the emergency department, analyzing the determinants of its practice

related to the patients and physicians characteristics, and units conditions. This is a

descriptive study, with an analytical component, which was conducted from February to

May 2008 in two emergency units in Recife (Brazil), one of them belonging to a

teaching hospital. A total of 369 children and 43 physicians were enrolled in the study.

The main studied variables were: 1) prescription of ORT for children with non-severe

dehydration due to acute diarrhea; 2) clinical features and type of service (teaching or

non-teaching hospital); 3) emergency physicians profile and 4) department structure,

global and related to ORT. It was observed a decrease in ORT prescription, compared

with venous hydration (VH), related to hydration status, with the use of that therapy in

35.6% (47/132) of children with mild dehydration and 17.6% (6/34) with moderate

ones. The indication of prescription was non-related to neither type of service (teaching

or non-teaching hospital) nor to vomiting or diarrhea intensity. VH was indicated to

10.8% (22/203) of non-dehydrated children. Most physicians of two units (58.1% -

25/43) were aware of job overload and considered the units with inadequate physical

space (83.7%) and with insufficient equipments (76.7%) for daily activities. There was

no proper rehydration site in any unit, neither specific health professional for ORT

supervision. Structure determinants (lack of physical space, equipment and human

resources) and that related to work process (as excessive demand) were cited by the

Abstract

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 14

physicians as barriers to ORT in the emergency department. The lack of difference

among services profiles (teaching or non-teaching hospital) related to ORT prescription

may suggest that physicians training has been insufficient, highlighting structural

aspects and those related to work process in emergency department as important

determinants in the use of that therapy.

Key words: Emergency Medical Services; Fluid Therapy; Gastroenteritis; Child; Case

Management

Abstract

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 15

1. APRESENTAÇÃO

Apresentação

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 16

Com grande impacto na redução da morbi-letalidade da diarréia aguda a partir

de sua introdução na década de 1970, a terapia de reidratação oral (TRO) é considerada

solução simples e de baixo custo, recomendada pela Organização Mundial de Saúde

(OMS) para a prevenção e tratamento da desidratação por diarréia aguda1. Apresentando

eficácia já comprovada em relação à terapia venosa para o manejo da desidratação não-

grave, a TRO encontra dificuldades em sua implementação nos serviços de saúde,

particularmente no ambiente de emergência. Questões inerentes ao papel deste serviço

numa rede hierarquizada de saúde e à perspectiva dos profissionais que atuam na área

permeiam este caminho entre fundamentação teórica e prática.

Dois aspectos do atendimento de emergência são focos de estudos recentes de

avaliação em saúde: o aumento da demanda por causas não-urgentes e a qualidade do

serviço prestado, sendo esta muitas vezes influenciada pela sobrecarga imposta ao setor

por aquela. Uma abordagem do manejo da diarréia aguda neste setor tem como

vantagem a possibilidade de aferir estes dois objetos simultaneamente. Sob a ótica da

pressão da demanda, a doença é causa freqüente de busca por atendimento no serviço2,3,

inclusive com aumento perceptível nos últimos anos4, cursando em geral com quadros

sem gravidade. Tais pacientes necessitam de um tratamento mais simples (a TRO) que,

no entanto, é pouco utilizado em detrimento de uma terapia (a hidratação venosa) que

implica em maior custo para o próprio serviço e o paciente, denotando um prejuízo na

qualidade da assistência.

Nesse sentido, o objeto do presente estudo situa uma terapia com normas bem

estabelecidas (a TRO) em um setor conturbado, algumas vezes caótico e que se destaca

como um cenário peculiar dentro da rede de assistência para a aplicação de protocolos

(a emergência), assumindo os processos de trabalho no local como agentes

modificadores da prática em saúde. Dentro da linha de pesquisa “Afecções

Apresentação

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 17

gastrintestinais – clínica e epidemiologia”, uma preocupação com a qualidade e

funcionalidade do manejo de caso da diarréia aguda num setor específico da assistência

é uma abordagem diferente daquela historicamente contemplada por trabalhos na área

ao longo da existência do curso de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do

Adolescente, que enfatizavam principalmente aspectos etiológicos da doença.

Surge então a questão norteadora do estudo: Que fatores norteiam a

funcionalidade da TRO para crianças com diarréia aguda no setor de emergência? A

motivação para seu desenvolvimento surgiu da complexidade do tema e da falta de

estudos que abordassem simultaneamente seus vários aspectos. Estes podem ser

reunidos em três ápices interligados na forma de um triângulo: a criança que recebe a

terapia (incluindo as expectativas de seu guardião), o profissional responsável por sua

aplicação (conhecimento e motivação) e o contexto estrutural no qual ela ocorre.

Buscando justificativas e empecilhos à realização da TRO no serviço de

emergência, o arcabouço teórico da dissertação teve como objetivo identificar: 1) na

criança, condições clínicas específicas que dificultem sua aplicação e expectativas do

guardião sobre a terapia; 2) no setor de emergência, o papel deste serviço numa rede

hierarquizada de assistência, perfil (e adequação) da demanda e qualidade do

atendimento e 3) no profissional, a influência do conhecimento sobre as normas

vigentes e de sua motivação (incluindo as relações de trabalho no setor). Os artigos

pertinentes foram obtidos mediante busca nas bases de dados Medline/Pubmed, Lilacs,

Scielo e Biblioteca Cochrane, com as palavras-chave: oral rehydration therapy,

emergency department, gastroenteritis, case management, overcrowding, burnout.

O objetivo do artigo original foi observar a aplicação dos princípios da TRO

para crianças hidratadas ou com desidratação não-grave por diarréia aguda no setor de

emergência, sob duas perspectivas: atitude e prática. A primeira foi aferida a partir do

Apresentação

Page 20: Terapia de reidratação oral no setor de emergência · de sobrecarga importante no trabalho, ... Terapia de reidratação oral no setor de emergência 14 physicians as barriers

COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 18

relato médico, mediante preenchimento de questionários aplicados a estes profissionais.

A segunda, por observação direta de sua indicação no setor, através de dados obtidos em

prontuários e de informações colhidas com os responsáveis pelas crianças. Buscando

contextualizar esta aplicação, foram aferidos determinantes relacionados à clínica das

crianças e ao perfil da demanda, dos serviços e dos médicos que atuam no setor. A

escolha de dois tipos de serviços de emergência – um com função primariamente

assistencial e outro de ensino – teve a intenção de mensurar a influência da educação

médica sobre sua atitude e prática.

Identificar razões para uma subutilização da HO na emergência, com os

potenciais prejuízos acarretados por essa prática para o serviço e na evolução dos

pacientes, poderia levantar pontos específicos de possível intervenção, otimizando o

manejo da doença diarréica e sua principal complicação imediata, a desidratação.

1.1. Referências

1. World Health Organization. Serious childhood problems in countries with limited

resources. Geneva: World Health Organization/Department of child and adolescent

health and development; 2004; 65p

2. Armon K, Stephenson T, MacFaul R, Eccleston P, Werneke U. An evidence and

consensus based guideline for acute diarrhoea management. Arch Dis Child 2001;

85(2):132-42

3. Pileggi C, Raffaele G, Angelillo IF. Paediatric utilization of an emergency

department in Italy. Eur J Public Health 2006; 16(5):565-9.

4. Pont SJ, Carpenter LR, Griffin MR, Jones TF, Schaffner W, Dudley JA, et al. Trends

in healthcare usage attributable to Diarrhea, 1995-2004. J Pediatr 2008; 153: 777-

82.

Apresentação

Page 21: Terapia de reidratação oral no setor de emergência · de sobrecarga importante no trabalho, ... Terapia de reidratação oral no setor de emergência 14 physicians as barriers

COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 19

2. CAPÍTULO DE REVISÃO DA LITERATURA

Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 20

2.1. Introdução

Poucas descobertas tiveram tanto impacto na redução da gravidade e letalidade

de uma afecção como a introdução da terapia de reidratação oral (TRO) no manejo da

doença diarréica aguda no final da década de 1970. Mesmo permanecendo como causa

importante de morbidade em crianças menores de cinco anos - com 1,3 bilhões de

episódios e média de dois a três episódios por criança por ano - a diarréia aguda

experimentou nas últimas décadas uma queda significativa em sua mortalidade anual

nessa faixa etária: da elevada cifra de 4,6 milhões em 1980, para 3,3 milhões em 1990 e,

finalmente, situando-se entre um e 1,5 milhões em 1999. 1-5

Pedra angular de programas específicos da Organização Mundial de Saúde

(OMS) para a redução da morbi-mortalidade pela doença, a TRO envolve conceito mais

amplo que inclui, além da hidratação oral (HO) com utilização dos sais de reidratação

oral (SRO), a manutenção da alimentação (com incentivo ao aleitamento materno) e o

incremento na oferta de líquidos durante o episódio diarréico.3,4,6,7 Nos serviços de

saúde, a administração da HO é indicada para crianças hidratadas ou com desidratação

leve a moderada, sendo solução simples, de baixo custo, praticamente isenta de

complicações e menos traumática para a criança, com eficácia semelhante à terapia

venosa.5,7,8-10 Esta ficaria reservada aos casos com desidratação grave, choque

hipovolêmico e naquelas com história de crise convulsiva, alteração do nível de

consciência, íleo paralítico e outras situações que impossibilitem a via oral.8,10-12

Estudos baseados em relatos de médicos pediatras com área de atuação em

emergência, entretanto, revelam que a HO é frequentemente preterida neste setor em

relação à terapia venosa para cenários de desidratação não grave por diarréia aguda.6,13-

16 Maior demanda de tempo, falta de espaço físico apropriado e de recursos humanos,

preferência da equipe de enfermagem pela hidratação venosa, necessidade de

Capítulo de revisão

Page 23: Terapia de reidratação oral no setor de emergência · de sobrecarga importante no trabalho, ... Terapia de reidratação oral no setor de emergência 14 physicians as barriers

COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 21

treinamento desta equipe, demanda excessiva da assistência, má aceitação pela criança e

desconfiança dos pais ou responsáveis com relação à sua eficácia são barreiras

frequentemente citadas pelos profissionais entrevistados.13-16

Tais justificativas revelam que existem fatores intervenientes entre o

conhecimento teórico e a práxis que, no contexto de uma emergência, estariam

relacionados: 1) ao conhecimento e atitude do médico (embasamento científico e

perspectivas sobre a terapia), responsável pela escolha do tratamento a ser instituído; 2)

à estrutura do serviço (espaço físico, equipamentos e recursos humanos apropriados) e

3) à própria criança, aqui envolvendo, além de suas características per se (forma de

apresentação da doença, aceitação e resposta terapêutica), as expectativas,

conhecimento e atitude de seu cuidador ou guardião, peculiaridade inerente ao manejo

do paciente pediátrico. Na forma de uma triangulação, um fator exerceria influência

sobre os demais, com a atitude médica sofrendo interferência de sua interação com o

binômio cuidador - criança e com o suporte do serviço em que atua.

O objetivo desta revisão é contextualizar a realização da TRO para crianças com

diarréia aguda no setor de emergência, buscando fatores inerentes à clínica da criança

que se apresenta a este setor junto com seu guardião, ao perfil do profissional que nele

atua e, finalmente, à própria dinâmica deste serviço como determinantes à sua

aplicação.

2.2. Indicação da hidratação oral: o binômio cuidador – criança no setor de

emergência

O cuidar do paciente pediátrico envolve uma particularidade importante: a

relação com a figura do guardião, com o tratamento individualizado levando em

consideração não apenas as características da criança que se apresenta para atendimento,

Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 22

mas também a interação com seu responsável. Algumas situações clínicas, além da

aceitação da terapia pela criança, parecem dificultar a execução da HO no setor de

emergência: a presença ou intensidade dos vômitos e a desidratação moderada.13-16 Por

outro lado, a perspectiva do cuidador sobre a terapia parece relevante para a decisão

médica, com a desconfiança dos pais ou responsáveis com relação à sua eficácia sendo

apontada como inconveniente à administração da HO.16

No entanto, tal idéia de preferência pela hidratação venosa não se confirma em

ensaios clínicos randomizados, havendo grau de satisfação com HO semelhante ou

mesmo superior em relação à terapia venosa na entrevista de seguimento com pais e

responsáveis após o atendimento em emergência de crianças com desidratação não-

grave.9,17,18 Sua efetividade, somada ao fato de ser menos traumática para a criança (não

envolve procedimento invasivo), pode justificar tal achado.

Outro obstáculo à HO seria a intolerância da criança, manifesta por vômitos,

aumento nas dejeções e consequente falha na reidratação, com necessidade de

conversão para a terapia venosa. Entretanto, as taxas de falha com a HO situam-se em

torno de 3 - 5%, podendo chegar a 1% quando o tipo de solução empregada é

hiposmolar, recentemente recomendada pela OMS.7,9,10,19 Em outras palavras, a HO

apresenta chance de 95-99% em apresentar a mesma eficácia que a terapia venosa na

reidratação de pacientes com diarréia aguda e desidratação não-grave.

Em dois ensaios clínicos randomizados conduzidos especificamente em crianças

com desidratação moderada, com técnicas de alocação adequadas e um deles com

mascaramento apropriado18, esta eficácia permanece.17,18 O pequeno número de

participantes em cada grupo de intervenção (HO ou terapia venosa) é uma limitação dos

estudos, mas os grupos são bastante homogêneos em relação aos escores de

desidratação (foram utilizadas escalas para quantificação da desidratação).

Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 23

A presença de vômitos é um sinal de gravidade da diarréia aguda20, mas apenas

sua persistência de forma incoercível após o início da HO impossibilita esta modalidade

terapêutica.11,12 Apesar de haver maiores taxas de falha terapêutica nos estudos que não

excluem pacientes com vômitos persistentes antes da alocação para o tipo de hidratação,

este fato não apresenta significância estatística após meta-análise.10 A administração de

volumes menores a intervalos mais curtos frequentemente diminui sua incidência,

permitindo a manutenção da HO.8

Maior demanda de tempo requerida em relação à terapia venosa é outro

inconveniente frequentemente citado para administração da HO no setor de emergência

que não se confirma na literatura.9,18,21,22 Pode ser avaliada de duas formas: tempo de

permanência no setor de emergência e no hospital (que inclui também o tempo de

internação). Com relação ao tempo de permanência hospitalar, duas meta-análises

recentes demonstraram tendência à sua redução quando a terapia oral era utilizada.9,10

Estudo piloto desenvolvido em emergência pediátrica australiana avaliou taxas de

admissão hospitalar, número de retornos não agendados e tempo total de permanência

hospitalar e no setor de emergência antes e após a implantação de um protocolo de TRO

para crianças com diarréia aguda. Especificamente com relação aos dois últimos

desfechos, observou-se redução da permanência total no hospital estatisticamente

significante, sem alteração do tempo despendido no setor de emergência.21 A redução no

tempo de permanência hospitalar pode estar relacionada, ao menos em parte, ao menor

número de admissões hospitalares observadas quando se utiliza a HO.21 Quanto à

permanência semelhante observada com os dois tipos de terapia na emergência, a

explicação poderia estar no fato de, apesar de a reposição do déficit com a HO poder

exigir um tempo maior, o início desta é mais rápido (não necessita de procedimento

invasivo) e a realimentação é mais precoce.9,18

Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 24

Existem algumas limitações metodológicas nos estudos de eficácia da HO

disponíveis para meta-análise, como a dificuldade de mascaramento (pela própria

natureza da intervenção – oral vs venosa), pequeno número de participantes,

heterogeneidade em relação ao tipo de solução oral empregada, idade dos participantes

e falta de padronização na definição do grau de desidratação.9,10 No geral, entretanto, a

HO demonstra efetividade igual ou mesmo superior em relação à terapia venosa no

restabelecimento do déficit para os casos de desidratação não-grave.9,10,17,18,21,23 Estas

barreiras citadas à indicação da HO no setor de emergência, tanto sob uma perspectiva

clínica (determinadas situações que dificultariam o sucesso da terapia) como de

expectativa do cuidador e da crença num maior tempo despendido em relação à terapia

venosa, carecem, portanto, de fundamentação teórica. Podem sugerir falta de

conhecimento do médico assistente, por um lado, ou de motivação e confiança na

técnica quando praticada neste setor específico. Neste sentido, seriam modificadores da

conduta médica a dinâmica do serviço e o perfil do próprio profissional.

2.3. Perspectiva do setor de emergência para a aplicação da hidratação oral

A dinâmica do serviço de emergência inclui seu papel na rede de assistência em

saúde, adequação estrutural em termos físicos, materiais e de recursos humanos e perfil

da demanda, que envolve suas expectativas e adequação.

Num sistema hierarquizado de saúde, o papel do setor de emergência é o de

oferecer serviço adequado a condições que implicam em risco de morte ou perda de

função, exigindo tratamento imediato. Entretanto, a falta de uma definição padronizada

de urgência e emergência gera conflitos entre profissionais de saúde e pacientes na hora

do atendimento e, principalmente, na elaboração de sistemas de triagem, afetando

particularmente aqueles que lidam com pequenos pacientes, nos quais as peculiaridades

Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 25

conferidas pela baixa idade podem atribuir gravidade a casos inicial e aparentemente

não-graves.24

Numa definição temporal, alguns autores propõem que sejam condições de

emergência aquelas que exijam tratamento imediato (poucos minutos) e de urgência

como necessidade de intervenção em poucas horas (até 8-12 horas).25,26 Definição

proposta pelo American College of Emergency Physicians (ACEP)em 1994 considera

uma condição médica de emergência como aquela de aparecimento recente e

suficientemente grave (incluindo dor importante) que levaria uma pessoa a acreditar

que, na ausência de tratamento imediato, poderia resultar em grave prejuízo de sua

saúde ou funções orgânicas.27 Tais definições estão sujeitas a interpretações por parte

dos sujeitos envolvidos, quais sejam, profissionais de saúde e pacientes (ou, no caso das

crianças, seu cuidador). O que se encontra, na prática, são discordâncias entre os

próprios prestadores de serviço e destes com usuários, tanto em análises prospectivas

(antes do atendimento) como retrospectivas (após a prestação do serviço) acerca de

quais seriam estas condições de emergência/urgência. 25,27,28 O grau de concordância

algumas vezes baixo entre os profissionais envolvidos aliado à coexistência de vários

tipos de escalas que apresentam, na verdade, sensibilidade e especificidade apenas

moderadas contribuem para as dificuldades encontradas na implantação de sistemas de

triagem e separação entre casos urgentes e não-urgentes no setor de emergência.29-34

Este esforço observado na busca de uma definição padronizada de emergência e

urgência e na elaboração de sistemas de triagem eficazes coincide com o grande

aumento ocorrido, nos últimos anos, na demanda pelo setor de emergência,

principalmente no que tange às chamadas condições não-urgentes. Com frequência

variável nos diversos estudos, de acordo com a metodologia utilizada e definições de

urgência e emergência empregados, cerca de 20% a 66% dos pacientes que se

Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 26

apresentam ao setor o fazem por causas ditas não-urgentes, podendo ser conduzidos, a

princípio, em nível primário de saúde ou em unidades menores de atendimento

imediato.29,34-42 Neste grupo, destacam-se os chamados “visitadores freqüentes” que,

respondendo por 7% a 30% dos casos, podem ser responsáveis por até 45% das visitas

ao serviço.40,43

O perfil destes pacientes com causas não-urgentes mostra algumas semelhanças

entre os estudos: são mais jovens, do sexo feminino, apresentando consultas que

raramente resultam em internamento, não referenciados por médico e com sintomas de

longa duração.30,34,36,38,44 Alguns (numa frequência bastante variável de 22% a 82%)

acreditam realmente, no momento da consulta, que sua condição (ou da criança por

quem é responsável) configura uma emergência.30,38,45,46 Mas várias outras razões estão

implicadas: insatisfação com o atendimento em nível primário, acessibilidade

(proximidade, dificuldade de acesso ao médico assistente ou consulta em nível

primário), possibilidade de diagnóstico imediato, tratamento adequado e confiança no

serviço de emergência.29,30,41,42,44-47 Em 60% dos casos, priorizou-se o tempo para o

atendimento em relação ao acompanhamento regular pelo mesmo médico.40

Duas questões, portanto, parecem nortear a busca inadequada pelo setor de

emergência: uma educacional (que envolve discernimento sobre o conceito de

emergência e funções dos níveis de assistência) e outra relacionada a uma aparente

insuficiência da atenção básica em fornecer assistência adequada. Assim, melhora do

acesso e qualidade dos cuidados primários e secundários bem como da relação entre os

diferentes níveis de assistência, aliados a campanhas educacionais junto à população

sobre o uso apropriado dos serviços de saúde poderiam ser a solução do problema.42 A

qualidade da assistência e a satisfação do usuário no nível primário demonstraram

reduzir em 35% a 50% as visitas ao setor de emergência por causas não-urgentes48 e

Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 27

projetos de implantação de sistemas de referência a partir deste setor para a atenção

básica (redirecionamento), alguns com reforço coordenado neste nível, foram efetivos

em reduzir o número de visitas à emergência por causas não-urgentes.43,49

Resultante de uma demanda frequentemente inadequada para a complexidade do

tipo de serviço oferecido, aliada a problemas estruturais, a sobrecarga das unidades de

emergência gera um cenário que acaba por prejudicar o atendimento dos casos que

necessitam real tratamento de urgência.41 Neste sentido, concomitante ao aumento da

demanda, cresce também a preocupação com a qualidade do serviço prestado em

emergência, buscando-se indicadores objetivos e de ampla cobertura, a partir de dados

disponíveis para essa avaliação.50 Essa qualidade de serviço prestado não está associada

apenas ao profissional de saúde, mas a todo um contexto que o cerca, incluindo a

estrutura e organização do serviço, equipamentos e condições de trabalho adequadas.

Particularmente em países em desenvolvimento, obstáculos à efetivação de serviços

incluem a falta de modelos estruturados, de treinamento apropriado dos profissionais

envolvidos, problemas com custos e sustentabilidade face à grande demanda.51

A diarréia aguda é causa freqüente de busca por atendimento de urgência.34,52

Complicada com desidratação grave, configura uma condição de emergência, uma vez

que pode levar a choque hipovolêmico e mesmo ao óbito em poucas horas na ausência

de intervenção adequada (hidratação venosa), principalmente nas crianças de baixa

idade.8 Na maioria dos casos, entretanto, não há desidratação ou a condição é leve a

moderada, sendo o contexto de uma emergência um ambiente hostil para a

administração da HO, tratamento preconizado para estes casos. Em termos estruturais, o

espaço físico é comumente restrito, para uma demanda em geral aumentada, tornando o

ambiente tenso para pacientes, familiares e profissionais de saúde. Além disso, as

Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 28

expectativas para o setor são de um atendimento rápido, de alta tecnologia e

complexidade41, estes dois últimos pouco condizentes com uma terapia oral.

2.4. Perfil do médico: conhecimento e atitude

Responsável pela indicação da terapia, o médico tem sua decisão norteada pelo

conhecimento das diretrizes e normas vigentes sobre o manejo da doença e sua

motivação para a aplicação da mesma. Esta última encontra-se permeada por fatores

extrínsecos, que incluem os determinantes estruturais e associados à relação com o

binômio cuidador – criança, já mencionados anteriormente.

A associação entre maior grau de conhecimento sobre a HO e sua utilização

ainda é bastante controversa.13-15 Em estudo norte-americano, onde apenas 37% dos

pediatras entrevistados eram realmente familiarizados com as recomendações da AAP

(American Academy of Pediatrics) para o manejo da desidratação por diarréia, o grupo

dito “familiarizado” com estas recomendações refere mais frequentemente o uso da HO

que o grupo “não familiarizado”, em situações de desidratação leve (81% vs 66%) e

moderada (25% vs 10%).15

Por outro lado, o tempo de graduação também parece influenciar no uso da HO

para cenários de desidratação leve e moderada. Outro estudo realizado também entre

membros da AAP com área de atuação em emergência revelou diferenças na sua

indicação entre recém graduados e pediatras com maior tempo de formação. Enquanto

95% dos casos de desidratação leve e 55% dos desidratados moderados são conduzidos

com HO entre os recém graduados, estas freqüências situam-se entre 86% e 33%,

respectivamente, no grupo de médicos com maior tempo de formação.22 O

conhecimento sobre a refutação da idéia de que a HO implica em maior tempo no setor

de emergência para a reidratação, entretanto, foi baixo e semelhante entre os dois

Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 29

grupos (19% vs 24%). Além disso, estudos de avaliação de serviço não demonstraram

incremento significativo na freqüência de sua indicação após treinamento em unidades

de manejo da diarréia.53-56 Houve desproporção entre o grande aumento observado no

conhecimento avaliado através de testes específicos e o modesto incremento na

utilização da HO.53 Estes dados sugerem que a indicação da HO envolve, além do

conhecimento de sua eficácia, fatores associados possivelmente à experiência de vida e

motivação do profissional.

A sobrecarga nas salas emergência decorrente da demanda excessiva se reflete

na insuficiência de materiais e insumos e afeta particularmente o profissional que atua

neste setor. Este cenário vai de encontro ao próprio discurso de humanização do

atendimento que, além do objetivo de satisfação do usuário, inclui o fornecimento de

adequadas condições de trabalho ao profissional que presta este serviço nas várias áreas

de assistência.57

Mais especificamente com relação às condições de trabalho, estudos recentes

revelam a questão do “burnout” do profissional de saúde, particularmente o que trabalha

em emergência. São componentes associados a esta síndrome: a exaustão emocional, a

falta de realização profissional e a despersonalização. 58,59 Os relatos destes

profissionais revelam principalmente sentimentos de cansaço, angústia, revolta pela

sobrecarga de trabalho (frequentemente mal remunerada) e limitações de recursos diante

das situações de estresse associadas ao risco de vida.59 Inquérito nacional realizado

recentemente pela Sociedade Brasileira de Pediatria juntamente com a Fundação

Oswaldo Cruz revelou que quase 80% dos pediatras trabalham em regime de plantão e

78% afirmam possuir sinais de desgaste profissional.60

Este desgaste físico e psíquico, resultado das situações de estresse peculiares à

profissão e aliado à pressão exercida pela demanda excessiva da assistência, participa

Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 30

como agente modificador da atitude médica, nas relações de trabalho e na interação com

o paciente e seu guardião. Os relatos de inconveniência de administração da HO na

prática, percepção de preferência da equipe pela terapia venosa e falta de treinamento

desta em seu manejo refletem esta dificuldade nas relações de trabalho.

2.5. Conclusões

Os benefícios da HO exigem um ambiente propício para a realização da mesma

– calmo, com supervisão, orientação e avaliações constantes por profissional de saúde

habilitado.8,17,18 São condições ideais obtidas nos estudos que avaliam sua efetividade e

que podem não ser reprodutíveis na prática das emergências de que dispomos

atualmente. Nem a necessidade de hidratação/reidratação oral, apesar de configurar

como condição de urgência, parece condizente com o arsenal tecnológico de uma

emergência (principalmente de hospitais terciários), nem o ambiente deste setor

(frequentemente tenso) lhe parece acolhedor. Neste sentido, seria correta (e realmente

efetiva) a sua indicação mesmo sob condições inadequadas, inclusive de supervisão,

infringindo os princípios de seu manejo? Por outro lado, seria ético não indicar um

tratamento sem sofisticação e comprovadamente eficaz sob a justificativa da existência

de inconvenientes à sua administração? O ambiente de emergência, gerando relações e

processos de trabalho específicos, age como modificador da conduta médica por

interferir com o perfil do profissional que nela atua, em sua relação com o paciente e em

sua motivação para a indicação de uma terapia, baseada na crença de sua eficiência no

setor.

Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 31

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Capítulo de revisão

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 38

3. ARTIGO ORIGINAL†

Setor de emergência: local adequado para a terapia de reidratação oral?

Auxiliadora Damianne P. Vieira da Costa1, Gisélia Alves Pontes da Silva2

Palavras-chave: Serviços Médicos de Emergência; Terapia de Reidratação Oral;

Gastroenterite; Criança; Administração de Caso

(Key words: Emergency Medical Services; Fluid Therapy; Gastroenteritis; Child; Case

Management)

Fonte de financiamento: nenhuma

Conflitos de interesse: nenhum

1. Mestranda em Saúde da Criança e do Adolescente, Universidade Federal de Pernambuco

(UFPE), Recife, PE, Brasil. Médica, Emergência Pediátrica, Instituto de Medicina Integral

Professor Fernando Figueira (IMIP), Recife, PE, Brasil. Endereço para correspondência: Rua

Antônio Valdevino Costa, 280, Bloco 4, Apto. 501, Cordeiro, Recife, PE, Brasil. E-mail:

[email protected].

2. Doutora em Pediatria, Escola Paulista de Medicina (EPM), São Paulo, Brasil. Professora,

Departamento Materno-infantil, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE,

Brasil.

Artigo original

† Redigido segundo as normas do periódico The Journal of Pediatrics, especificadas em anexo e disponível em: http://www.elsevier.com/wps/find/journaldescription.cws_home/623311/authorinstructions

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 39

RESUMO

Objetivo: observar a aplicação da terapia de reidratação oral (TRO) para crianças com

diarréia aguda na emergência, verificando características inerentes aos pacientes,

médicos e à dinâmica do próprio setor como fatores determinantes em sua prática.

Método: Estudo descritivo com componente analítico conduzido em duas unidades de

emergência em Recife (Brasil), uma delas vinculada a um hospital-escola. Participaram

do estudo 369 crianças com diarréia aguda e 43 médicos nos dois serviços. As

principais variáveis foram: 1) a indicação da TRO no setor; 2) características clínicas e

o tipo de serviço (com ou sem função de ensino); 3) perfil dos médicos e 4) estrutura

dos serviços global e específica para a realização da TRO.

Resultados: A TRO foi indicada para 35,6% (47/132) e 17,6% (6/34), respectivamente,

das crianças com desidratação leve e moderada (p<0,001), sem associação com o tipo

de serviço (com ou sem função de ensino), nem com a intensidade dos vômitos ou das

evacuações. A maioria dos médicos relata percepção de sobrecarga importante no

trabalho. Não havia sala específica para reidratação nos serviços, que foram

considerados pelos médicos como inadequados em espaço físico (83,7%) e insuficientes

em equipamentos (76,7%) para realização das atividades diárias.

Conclusões: A subutilização da TRO em emergência para crianças com desidratação

não-grave pode ser explicada por fatores que vão além do treinamento médico, como a

inadequação estrutural e a dinâmica dos processos de trabalho no setor.

Palavras-chave: Serviços Médicos de Emergência; Terapia de Reidratação Oral;

Gastroenterite; Criança; Administração de Caso

Artigo original

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 40

ABSTRACT

Objective: to assess the use of oral rehydration therapy (ORT) for children with acute

diarrheal in emergency department, analyzing characteristics within patients, physicians

and site conditions as determinants in that practice.

Method: Descriptive study, with analytical component, was conducted in two

emergency units in Recife (Brazil), one of them regarding a teaching hospital. A total of

369 children and 43 physicians enrolled the study. Main variables were: 1) prescription

of ORT; 2) clinical features and type of service (teaching or non-teaching hospital); 3)

emergency physician profile and 4) department structure, global and related to ORT.

Results: ORT was prescribed to 35.6% (47/132) and 17.6% (6/34), respectively, of

mild and moderately dehydrated children, non-related to neither type of service

(teaching or non-teaching hospital) nor vomiting or diarrhea intensity. Most physicians

in two units related important overload perception in job. There was no rehydration site

in none of units, that were considered by physicians with inadequate physical space

(83.7%) and with insufficient equipments (76.7%) for daily activities.

Conclusions: Underuse of ORT in emergency department for children with non-severe

dehydration may be explained by factors beyond medical training, as structure

inadequacy and work process in site.

Key words: Emergency Medical Services; Fluid Therapy; Gastroenteritis; Child; Case

Management

Artigo original

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 41

LISTA DE ABREVIATURAS

AAP: American Academy of Pediatrics

ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária

HO: Hidratação oral

HV: Hidratação venosa

MS: Ministério da Saúde (Brasil)

OMS: Organização Mundial de Saúde

SRO: Sais de Reidratação Oral

TRO: Terapia de Reidratação Oral

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 42

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Indicação de HO entre as crianças no setor de emergência de acordo com o

estado de hidratação e a presença e intensidade dos vômitos e das evacuações nas

últimas 12 horas.............................................................................................................. 58

Tabela 2: Orientações na alta da criança com relação ao manejo domiciliar da diarréia59

Tabela 3: Relato médico de indicação de HO para situações clínicas envolvendo

crianças hidratadas ou com desidratação leve e moderada de acordo com cada serviço60

Tabela 4: Principais inconvenientes relacionados ao uso da HO, de acordo com os médicos entrevistados em cada serviço.......................................................................... 61

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 43

3.1. Introdução

A diarréia aguda é causa importante de busca por atendimento no setor de

emergência.1,2 O manejo de sua principal complicação, a desidratação, pode ser

realizado em 90% dos casos mediante a administração da terapia de reidratação oral

(TRO), que possui a mesma eficácia, é menos invasiva e implica em menores custos em

relação à hidratação venosa no restabelecimento do déficit hidro-eletrolítico.3,4,5 Há uma

preferência, entretanto, dos médicos que atuam em emergência pela terapia venosa,

principalmente na presença de vômitos e nas situações com desidratação moderada,

quando sua indicação pode ocorrer em apenas 10% a 33% dos casos.6-8 As justificativas

apontadas pelos médicos envolvem aspectos relacionados às expectativas do

responsável pela criança sobre a terapia, à pressão assistencial e fatores estruturais,

como a falta de espaço físico apropriado e de recursos humanos treinados.6,7,9,10

Diversos fatores influenciam a implementação de protocolos e diretrizes em

serviços de saúde. Assim, a funcionalidade da TRO como prática em saúde nos serviços

de emergência depende: 1) do paciente, considerado sob o ponto de vista clínico, mas

também das expectativas de seu guardião para o tratamento a ser instituído para uma

condição que julga de urgência; 2) de conhecimento e motivação profissional por parte

do médico, responsável pela indicação da terapia e 3) de suporte estrutural no próprio

setor, que inclui adequação física, de suprimentos e de recursos humanos.

O objetivo do presente estudo foi observar a aplicação da hidratação /

reidratação oral para crianças com diarréia aguda na emergência, verificando

características inerentes aos pacientes, médicos e à dinâmica do próprio setor como

fatores determinantes em sua prática. Esta visão mais contextualizada, multifacetada,

permite investigação em maior profundidade de um objeto que é complexo por envolver

Artigo original

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 44

questões conceituais, relações interpessoais e os processos de trabalho num setor

bastante conturbado da assistência em saúde.

3.2. Método

Estudo descritivo com componente analítico conduzido de janeiro a maio de

2008, em duas unidades para o atendimento de urgência e emergência pediátrica na

cidade do Recife, região Nordeste, Brasil: 1) emergência A, serviço de atenção

secundária, municipal, com função basicamente assistencialista e 2) emergência B,

entidade filantrópica, terciária, com atuação nas áreas de ensino, pesquisa e extensão.

A pesquisa buscou: 1) caracterizar o perfil do pediatra e da estrutura de cada

serviço e 2) observar o manejo de crianças com diarréia aguda, hidratadas ou com sinais

de desidratação não-grave, no setor de emergência.

Todos os médicos plantonistas de cada unidade foram convidados a participar do

estudo, através do preenchimento de questionários que contemplavam dados

relacionados ao seu perfil e atitude em relação à hidratação no setor de emergência.

Para a observação do manejo de caso foram selecionadas crianças e adolescentes

com idade até 14 anos apresentando episódio diarréico de início abrupto e com duração

inferior a 14 dias, hidratadas ou com desidratação leve a moderada, sendo excluídas

aquelas com: impossibilidade para a via oral (redução do nível de consciência,

deformidades buco-maxilo-faciais, por exemplo), doenças sistêmicas graves associadas

ao episódio diarréico e presença de íleo paralítico. Episódio diarréico foi definido como

a presença de fezes de consistência diminuída ou aquosas, podendo estar associada ao

aumento no número de evacuações num período de 24 horas3. A amostra foi

consecutiva e por conveniência, incluindo crianças atendidas diariamente, no horário

das sete às 19 horas, no período do estudo.

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 45

O manejo de caso no setor foi aferido sob dois aspectos: 1) a frequência de

indicação de hidratação oral (HO) em relação à terapia venosa, incluindo a

recomendação para o uso extra de fluidos e sais de reidratação oral para as crianças que

se apresentavam hidratadas ao serviço ou a prescrição da TRO para aquelas com

desidratação leve e moderada; 2) fornecimento de orientações aos acompanhantes (na

alta) em relação ao manejo domiciliar da doença diarreica (uso dos sais de reidratação

oral – SRO, oferta de outros líquidos, sintomas de piora ou desidratação).

Em relação ao perfil das crianças, foram coletados dados demográficos, clínicos

(estado de hidratação, intensidade dos vômitos – quando presentes – e da diarréia) e

associados à adequação da demanda para o setor de emergência (percentual de

internamentos e pacientes referenciados de outros serviços). A magnitude da associação

entre a intensidade dos vômitos e da diarréia com a indicação da HO foi estratificada

pelo estado de hidratação (possível variável confundidora). Esta intensidade foi

quantificada de acordo com a mediana do número de dejeções (vômitos ou evacuações)

nas 12 horas que antecederam a consulta no setor de emergência.

Foi considerado o estado de hidratação descrito na ficha de atendimento para

fins de classificação da criança (avaliação pelo médico assistente). Quando este dado

não esteve disponível, foi utilizada a porcentagem de ganho ponderal após a hidratação,

calculada a partir da diferença entre o peso final (após hidratação) e o da admissão da

criança dividida pelo peso final. O estado de hidratação foi classificado em: sem

desidratação, desidratação leve (perda ponderal até 5%) e moderada (6 - 9%).11,12

O perfil dos médicos entrevistados incluiu: a formação profissional, a percepção

das condições de trabalho e atitude em relação à hidratação / reidratação no setor de

emergência.

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 46

Foram utilizadas as seguintes definições em relação à intensidade dos vômitos

para as situações clínicas apresentadas aos médicos7: vômitos leves: até três vezes em

12 horas; vômitos moderados: quatro ou mais vezes em 12 horas.

A estrutura dos serviços foi aferida quanto à sua adequação estrutural global (em

termos físicos, de equipamentos e insumos) na visão dos médicos entrevistados e

suporte para a aplicação da TRO (presença de espaço físico e recursos humanos para

supervisão).

Para processamento dos dados, foi utilizado o pacote estatístico EPI-INFO 6.04,

com digitação dos dados através de dupla entrada (VALIDATE). As diferenças de

proporções foram comparadas através do teste do χ2 com correção de Yates ou o teste

exato de Fisher quando indicado. Para as variáveis contínuas, foi utilizado o teste de

Kruskal-Wallis (com uso de medianas e intervalo interquartílico). O χ2 de Mantel-

Haenszel foi utilizado para avaliar a magnitude da associação entre a intensidade das

dejeções e a indicação de HO, após controle pelo estado de hidratação. Foi admitido

nível de significância p<0,05.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de

Medicina Integral Professor Fernando Figueira, sob o protocolo número

0193.0.099.172-07. Médicos e responsáveis pelas crianças em atendimento

concordaram em participar do estudo mediante assinatura de termo de consentimento

livre e esclarecido.

3.3. Resultados

Um total de 369 crianças participaram da fase de observação direta do manejo de

caso no setor, 181 (49,1%) na emergência A e 188 (50,9%) em B. A mediana de idade

foi semelhante entre as duas unidades (25 meses para o total de crianças; IQ: 14 – 66

Artigo original

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 47

meses), com um tempo curto de duração da doença antes da procura pelo serviço

(mediana: 2 dias; IQ: 1 – 3 dias). Na chegada ao serviço, 55% (203/369) das crianças

encontravam-se hidratadas, 35,8% (132/369) apresentavam desidratação leve e 9,2%

(34/369) estavam com desidratação moderada. Foi observado que 4,3% (16/369) das

crianças haviam sido referenciadas por outros serviços, com freqüência maior em B

(6,9% vs 1,7%) em relação ao hospital A (p=0,03). A mediana de permanência no setor

de emergência foi maior em B (mediana: 230 minutos, IQ: 128-368 minutos) em

relação a emerg~encia A (mediana: 130 minutos, IQ: 99-240 minutos), p<0,001. A

frequência de internamento foi semelhante entre os dois serviços (13,3% para A e

14,4% para B, p=0,88).

Foi observada uma tendência a declínio na indicação da HO em relação à HV de

acordo com o estado de hidratação. Enquanto fluidos extras e SRO foram recomendados

para 89,2% (181/203) das crianças hidratadas, apenas 35,6% (47/132) daquelas com

desidratação leve e 17,6% (6/34) com a forma moderada receberam TRO (p<0,001). A

intensidade dos vômitos e das evacuações não interferiu com a indicação da HO após

estratificação pelo estado de hidratação. Também não houve influência do tipo de

hospital (assistencial ou de ensino) e o uso da HO (tabela 1). O tempo de permanência

no setor de emergência foi inferior para as crianças que realizaram HO (mediana de 128

minutos e IQ = 90 – 212 minutos) em relação à HV (mediana de 307,5 minutos e IQ =

210 – 414 minutos), com p<0,001.

Na alta, houve um maior número de orientações por escrito na emergência A,

todas relativas à prescrição de SRO para casa, sendo um hábito do serviço o

fornecimento desta solução mediante prescrição médica, o que não foi observado na

emergência B (tabela 2). Entretanto, as orientações quanto ao aumento da oferta líquida

Artigo original

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 48

e sintomas de piora ou de desidratação (indicativos de retorno ao serviço) foram mais

freqüentes na emergência B.

A taxa de retorno dos questionários distribuídos entre os 69 médicos (28 na

emergência A e 41 em B) foi de 62,3% (43 respondentes), 64,3% (n = 18/28) em A e

61% (n = 25/41) em B. Médicos mais jovens foram encontrados na emergência B

(mediana: 33 anos; 27,5-44 anos) em relação a emergência A (mediana: 47 anos; IQ:

39-53,5 anos), p<0,01. O tempo de formação também foi menor em B (mediana: 6 anos;

IQ: 2-17) quando comparado à emergência A (mediana: 25 anos; IQ: 15-30), p< 0,001.

Em relação às condições de trabalho, foi encontrado que 100% dos médicos em A e

95,8% (23/25) dos profissionais em B consideram sua remuneração inadequada em

função das atividades que desempenha. Além disso, 55,6% (10/18) dos plantonistas em

A e 60% (15/25) em B revelam percepção muito elevada de sobrecarga no trabalho.

Houve tendência a um decréscimo no relato médico de indicação da HO à

medida que aumenta o grau de desidratação, assim como a intensidade dos vômitos,

com significância estatística (tabela 3). Os inconvenientes relacionados à aplicação da

HO estão descritos na tabela 4.

Em relação ao perfil dos serviços, não havia uma sala específica para

reidratação, oral ou venosa, nem disponibilidade de profissional de saúde (enfermeiro

ou auxiliar) específico para supervisão da HO. Os dois serviços foram avaliados

ainda em relação à adequação física e presença suficiente de insumos e equipamentos de

forma global, de acordo com o relato médico. Em relação ao espaço físico, 83,7%

(100% em A e 72% em B, p=0,05) consideraram seus serviços inadequados. Os

equipamentos foram considerados insuficientes para 76,7% dos médicos, 94,4% na

emergência A e 64% em B (p=0,01). Quanto aos insumos, foram classificados como

insuficientes em 71,4% dos casos, sendo 94,1% no hospital A e 56% em B (p=0,03).

Artigo original

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 49

3.4. Discussão

A observação direta no setor de emergência revela que existem falhas

importantes no manejo de caso de diarréia aguda, em relação à hidratação / reidratação

no serviço e na orientação aos familiares para o cuidado domiciliar e quanto aos

sintomas de alarme.

O uso inapropriado de HV foi observado em 10% das crianças hidratadas,

revelando uma possível insegurança de médicos (e também do cuidador) diante de um

maior número de dejeções. Por outro lado, a TRO foi preterida em relação à HV para a

reposição do déficit hidroeletrolítico de cerca de dois terços das crianças com

desidratação leve e aproximadamente 80% daquelas com a forma moderada, situações

em que sua eficácia e segurança estão comprovadas3. Esta associação entre indicação da

TRO e o estado de hidratação, com declínio em sua prescrição em relação à HV na

presença de desidratação moderada, também é encontrada no relato dos médicos

entrevistados, à semelhança de estudos anteriores também baseados em questionários

aplicados a médicos pediatras com área de atuação em emergência. 14-18

A magnitude da associação entre a intensidade dos vômitos e a indicação de HO,

encontrada em outros estudos6,7,10 e estatisticamente significativa para o relato médico,

não foi relevante durante a observação direta do manejo de caso nos serviços após

controle pelo estado de hidratação. Na prática, portanto, a decisão sobre a terapia está

associada principalmente ao nível de hidratação, o que está de acordo com o

preconizado pela OMS.3 Embora sua intensidade seja um indicativo de gravidade da

doença, os vômitos geralmente são controlados após o início da HO, pela correção da

acidose.3,12

Existe uma diferença entre conhecimento, atitude e prática, que pode inclusive

ser evidenciada neste estudo. O questionário aplicado aos médicos teve como objetivo

Artigo original

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 50

aferir sobre atitude médica em relação à indicação da HO, solicitando aos profissionais

que respondessem que tipo de hidratação (oral ou venosa) mais frequentemente eles

prescreviam para situações clínicas envolvendo crianças hidratadas ou com desidratação

não-grave por diarréia aguda. Está relacionada, conceitualmente, à motivação ou

disposição do profissional para realizar uma prática, permeada por conhecimento,

aceitação das normas vigentes e expectativas sobre a terapia. A prática, por sua vez,

implica na aplicação real, estando relacionada, neste estudo, à observação direta da

indicação de HO no setor de emergência.

Neste sentido, a comparação entre o relato médico e a observação no setor revela

que, na prática, este profissional indica bem menos a TRO, já nos casos com

desidratação leve que se apresentam ao setor, havendo, portanto um hiato entre atitude

(neste caso, possivelmente mais relacionada a conhecimento) e prática. Em particular

para as situações com desidratação moderada, observou-se que é muito baixa a

indicação de TRO, tanto no relato como na observação no setor, principalmente neste

último. Não há justificativa teórica para tal, uma vez que a TRO, é o tratamento

preconizado para estes casos3,11,12 e sua eficácia em relação à terapia venosa foi

inclusive corroborada por estudos recentes desenvolvidos no próprio setor de

emergência.13,14 Conhecimento ou falta de treinamento podem estar associados,

principalmente no relato médico6, mas não parece o bastante. O treinamento em

unidades para o manejo da diarréia não esteve associado a incremento significativo na

freqüência de sua indicação, havendo desproporção entre o grande aumento observado

no conhecimento avaliado através de testes específicos e o modesto incremento na

utilização da TRO.15

Médicos mais jovens e recém-graduados foram encontrados com maior

freqüência na emergência B, localizada em hospital tradicionalmente vinculado a

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 51

atividades de ensino, inclusive com programa de residência médica em pediatria,

enquanto A possui função principalmente assistencial. Hospitais de ensino têm papel

formador do profissional de saúde, sendo importantes na promoção do manejo

adequado de doenças como a diarréia. Por outro lado, médicos recém-graduados relatam

uma utilização maior da TRO em situações com desidratação leve e moderada em

relação ao grupo de profissionais com maior tempo de formação.16 Estes dois fatores,

relacionados à educação médica, poderiam contribuir, a princípio, para que a TRO fosse

indicada com mais frequência no hospital B. Entretanto, não houve diferença entre as

duas unidades no tocante ao relato médico desta indicação, padrão que se repete durante

a observação do manejo de caso no próprio setor de emergência. Além da possibilidade

de treinamento inadequado, determinantes estruturais, comuns aos dois serviços, podem

estar interferindo nestes achados.

O suporte estrutural neste estudo pôde ser avaliado sob duas perspectivas:

adequação global na visão dos médicos, específica para a realização da HO (espaço

físico e recursos materiais e humanos). Embora, na visão do médico, a inadequação

estrutural global em termos de espaço físico, equipamentos e insumos tenha sido menos

frequentemente relatada na emergência B em relação ao serviço A, esta percepção foi

relatada por mais da metade dos profissionais para os três itens aferidos, nas duas

unidades. Por outro lado, a ausência de uma sala de reidratação ou específica para a

realização da TRO, comum aos dois serviços, também pode ser determinante na baixa

freqüência de sua indicação. A sala de reidratação (não necessariamente específica para

a hidratação oral) deve compor a estrutura de uma emergência (ver sala de reidratação

em anexos).16 O manejo dos casos com desidratação leve e moderada exige supervisão

por profissional de saúde habilitado3, condição não encontrada na observação prática.

Justamente nestes casos, principalmente na desidratação moderada, são observadas as

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 52

menores freqüências de uso da TRO, possivelmente pela exigência de ambiente

propício, calmo e supervisionado para o sucesso da mesma. Nos estudos que

demonstram a eficácia da TRO no manejo da desidratação moderada, sua administração

foi realizada num setor separado da própria emergência, sob supervisão contínua.13,14

Insegurança em relação à eficiência da TRO, nas condições reais de uma emergência,

sem o seguimento de seus princípios básicos, pode estar contribuindo para sua baixa

utilização.

São a pressão da demanda e os determinantes estruturais (falta de espaço físico e

de recursos humanos habilitados) os mais apontados como importantes inconvenientes à

aplicação da HO na prática, estando presentes em mais de 60% dos relatos dos médicos.

Relatada por mais de 90% dos médicos entrevistados, a pressão da demanda não deveria

ser justificativa para subutilização da TRO em relação à HV, uma vez que o tempo de

permanência no setor de emergência é semelhante para os dois tipos de hidratação,

possivelmente por que, embora implique em maior tempo para reidratação, o início da

terapia e a realimentação são mais precoces com a primeira4,14.

A demanda excessiva por assistência é própria do setor, que vem

experimentando nos últimos anos um aumento nas visitas por diarréia aguda, sem que

isto implique em aumento do número de internamentos.17 Envolve questões inerentes ao

paciente e seu cuidador (adequação ao perfil do serviço). Em ambos os serviços

selecionados, a frequência de pacientes referenciados e internados foi pequena. São

duas características geralmente encontradas em visitas ao setor de emergência por

causas ditas não-urgentes.2,18,19 Responsáveis por parcela variável (20% a 66%) do total

de atendimentos no setor, são passíveis de manejo em unidades menores e em nível

primário da assistência.2,19-21 As crianças no hospital B apresentaram um tempo de

permanência no setor de emergência significativamente maior em relação ao hospital A,

Artigo original

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 53

provavelmente por se tratar de serviço terciário, de alta complexidade e referência para

o atendimento de pacientes graves. Estes requerem prioridade e demandam um maior

tempo de assistência em detrimento daqueles que se apresentam sem gravidade ou por

causas ditas não-urgentes.

Pressão inadequada da demanda, juntamente com o ambiente de estresse

proporcionado pelo manejo freqüente de pacientes graves, resulta em sobrecarga do

profissional deste setor.22 Mais da metade dos profissionais em cada unidade declararam

percepção de elevado grau de sobrecarga, com remuneração considerada inadequada

para quase totalidade dos casos. A chamada síndrome do “burnout”, resultante da tensão

emocional crônica a que estão submetidos estes profissionais, inclui como componentes

a exaustão emocional, falta de realização profissional e despersonalização, sendo

descrita recentemente em profissionais de saúde de várias áreas, inclusive de

emergência.22,23 Sem estar necessariamente vinculada ao tempo de atuação em

emergência, a não ser pela expectativa de mudança (bem menos freqüente entre os mais

jovens), está associada à pressão da demanda, baixos salários e conseqüente necessidade

de múltiplos empregos.22

Além do manejo da HO no setor de emergência, o manejo de caso foi avaliado

sob o ponto de vista da orientação ao responsável para o manejo domiciliar, que inclui

aumento da oferta hídrica, uso dos SRO e sintomas de piora ou desidratação.3,11 A baixa

freqüência de orientação quanto a estes últimos, com implicações evidentes no risco de

morte para a criança (pela não identificação de situações de alerta pelo cuidador), pode

trazer efeitos deletérios para o próprio serviço, uma vez que a falta de informação

também é motivo de retorno não agendado à unidade. O oferecimento de SRO,

observado na emergência A, acarreta importantes benefícios tanto na prevenção

domiciliar da desidratação, como na redução dos retornos não-agendados.24 Tais

Artigo original

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 54

retornos, pacientes não referidos por outro profissional e com baixa probabilidade de

internamento caracterizam um uso inapropriado do setor de emergência.25

3.5. Conclusões

A baixa freqüência de indicação da TRO em emergência para crianças com

desidratação não-grave, principalmente a forma moderada, ocorre simultaneamente a

uma sobrecarga nas relações de trabalho, inadequação estrutural global e específica para

a realização da terapia e uso inapropriado do setor. A ausência de diferença significativa

entre os serviços (um assistencial e outro de ensino) em relação a esta indicação sugere

que a contribuição da educação médica não é suficiente, assumindo importância

questões estruturais e relacionadas à dinâmica dos processos de trabalho no setor. O

contexto de uma emergência, em termos conceituais e estruturais, não parece apropriado

para a realização de uma terapia oral que, mesmo com simplicidade de execução, exige

condições mínimas para sua eficácia.

Artigo original

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 55

3.6. Referências

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 58

3.7. Tabelas

Tabela 1: Indicação de HO entre as crianças no setor de emergência de acordo com o estado de hidratação e a

presença e intensidade dos vômitos e das evacuações nas últimas 12 horas.

Total

Características HO HV

p

Tipo de hospital

Emergência A 108 (59,7%) 73 (40,3%) p =0,17†

Emergência B 126(67%) 62 (33,0%)

Estado de hidratação

Sem desidratação 181 (89,2%) 22 (10,8%) p <0,001†

Desidratação leve / moderada 53 (31,9%) 113 (68,1%)

Intensidade dos vômitos*

Até 2 episódios de vômitos 97 (74,6%) 33 (25,4%) p = 0,03†

3 ou mais vômitos 106 (62,4%) 64 (37,6%)

Estratificação pelo estado de hidratação

Sem desidratação

Até 2 episódios de vômitos 75 (90,4%) 8 (9,6%) p = 0,26‡

3 ou mais vômitos 81 (92,0%) 7 (8,0%)

Desidratação leve / moderada

Até 2 episódios de vômitos 22 (46,8%) 25 (53,2%)

3 ou mais vômitos 25 (30,5%) 57 (69,5%)

Intensidade da diarréia*

Até 4 evacuações 142 (69,6%) 62 (30,4%) p = 0,04†

5 ou mais evacuações 72 (57,6%) 53 (42,4%)

Estratificação pelo estado de hidratação

Sem desidratação

Até 4 evacuações 112 (91,1%) 11 (8,9%) p = 0,21‡

5 ou mais evacuações 52 (83,9%) 10 (16,1%)

Desidratação leve / moderada

Até 4 evacuações 30 (37,0%) 51 (63,0%)

5 ou mais evacuações 20 (31,7%) 43 (68,3%)

* De acordo com a mediana do número de dejeções nas 12 horas que antecederam o atendimento no setor de emergência † Valor de p obtido pelo teste do χ2 com correção de Yates para a associação com a indicação da HO ‡ Valor de p obtido pelo teste do χ2 de Mantel-Haenszel para avaliar a magnitude da associação entre a intensidade dos vômitos e/ou das evacuações com a indicação da HO após controle pelo estado de hidratação

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 59

Tabela 2: Orientações na alta da criança com relação ao manejo domiciliar da diarréia

Orientação aos responsáveis Total Emergência A Emergência B p*

Aumento oferta hídrica

304 (82,4%)

140 (77,3%)

164(87,2%)

<0,001

Sintomas de piora ou desidratação

101 (27,4%)

35 (19,3%)

66 (35,1%)

<0,001

Uso dos SRO† 293 (79,4%)

147 (81,2%)

146 (77,7%)

0,18

Por escrito‡ 229 (62,1%) 137 (75,7%) 92 (48,9%) <0,001

* Obtido pelo teste do χ2 para a comparação entre os dois serviços † Sais de reidratação oral ‡ Fornecimento das orientações sobre o manejo domiciliar da diarréia aguda (aumento da oferta líquida, uso dos SRO e sintomas de piora ou desidratação) por escrito ao responsável pela criança

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 60

Tabela 3: Relato médico de indicação de HO para situações clínicas envolvendo crianças hidratadas ou com

desidratação leve e moderada de acordo com cada serviço

Situações clínicas Total

(n=43)

Emergência A

(n=18)

Emergência B

(n=25)

p* p‡

Sem desidratação

Sem vômitos / vômitos leves 42(97,7%) 17(94,4%) 24(96,0%) 0,02 0,67

Vômitos moderados 34(79,1%) 15(83,3%) 19(76%) 0,42

Desidratação leve

Sem vômitos 43(100%) 18(100%) 25(100%) <0,01 §

Vômitos leves 40(93,0%) 16(88,9%) 24(96%) (<0,01)† 0,38

Vômitos moderados 19(44,2%) 4(22,2%) 15(60,0%) 0,03

Desidratação moderada

Sem vômitos 27(62,8%) 11(61,1%) 16(64,0%) <0,01 0,90

Vômitos leves 13(67,4%) 3(16,7%) 10(40,0%) (<0,01)† 0,19

Vômitos moderados 4(9,3%) - 4(16,0%) §

* Valor de p obtido pelo teste do χ2 para a associação entre os vômitos e a indicação da HO para cada estado de hidratação † Valor de p obtido pelo teste do χ2 para tendência linear da associação entre vômitos e indicação da HO, para cada estado de hidratação ‡ Valor de p obtido pelo teste do χ2 para a comparação entre os dois serviços § χ2 não se aplica

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 61

Tabela 4: Principais inconvenientes relacionados ao uso da HO, de acordo com os médicos entrevistados em cada serviço

Inconvenientes Total Emergência A Emergência B p*

Falta de espaço físico apropriado 37(86,0%) 17(94,4%) 20(80,0%) 0,19†

Falta de recursos humanos 35,0(81,4%) 15(83,3%) 20(80,0%) 0,55†

Falta de treinamento da equipe de

enfermagem em relação à HO

27(62,8%) 12(66,7%) 15(60,0%) 0,90

Preferência da equipe de enfermagem pela

HV

14(32,6%) 3(16,7%) 11(44,0%) 0,12

Demanda excessiva da assistência 49(93,0%) 17(94,4%) 23(92,0%) 0,62†

Má aceitação da criança 29(67,4%) 13(72,2%) 16(64,0%) 0,81

Maior demanda de tempo exigida pela HO em

relação à HV

27(62,8%) 11(61,1%) 16(64,0%) 0,90

Desconfiança dos pais ou responsáveis em

relação à sua eficácia

22(51,2%) 7(38,9%) 15(60,0%) 0,22

* Obtido através do teste do qui-quadrado para a diferença entre os dois serviços † Teste exato de Fisher

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 62

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerações finais

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 63

À semelhança do que foi encontrado na revisão sobre o tema, o estudo empírico

revelou que existem condições específicas nas quais a TRO é aplicada numa freqüência

bastante inferior ao que é preconizado. São situações em que a doença diarréica se

apresenta com maior gravidade, mas ainda com indicação para a terapia. O hiato

existente entre atitude e prática aliado à observação de uma diferença não significativa

entre os dois serviços (um de ensino e outro basicamente assistencial) sugere que

conhecimento e educação médicos não são suficientes. Inadequação da demanda ao

perfil do setor, obstáculos estruturais e sobrecarga do profissional foram achados

comuns aos dois hospitais, o que provavelmente interfere com os processos de trabalho

e termina por influenciar a motivação do médico. A aparente falta de ética em não se

indicar um tratamento sem sofisticação e comprovadamente eficaz sob a justificativa da

existência de inconvenientes à sua administração vai de encontro à possível ineficiência

da técnica sob condições inadequadas, inclusive de supervisão, infringindo os princípios

de seu manejo.

Paralelamente, surge a questão do papel do serviço de emergência na condução

dos casos de diarréia aguda que demandem terapia oral, com sobrecarga do setor. Uma

opção seria seu manejo em nível primário (estabelecendo para este também o

atendimento de urgências de menor complexidade) ou condução em unidades menores

de atendimento de urgência, ditas alternativas, cabendo às emergências, principalmente

de hospitais terciários, os casos de maior gravidade. Por outro lado, a dificuldade em

relação à triagem pediátrica levanta a possibilidade da implantação de salas de

hidratação oral, num setor separado da própria emergência, com profissionais

designados especificamente para este fim. Mesmo com a inadequação estrutural

observada, o estudo empírico revelou que a TRO implicou em menor necessidade de

Considerações finais

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 64

internamento e tempo no setor de emergência. São indicadores relacionados a uma

diminuição dos custos para o serviço e que justificam sua implementação.

Portanto, na esfera do setor de emergência, foi observada a necessidade de

adequação estrutural em cada unidade, com suprimento de equipamentos e insumos,

aliada ao reforço da educação médica continuada em relação ao manejo de caso de

diarréia aguda. Em termos macroestruturais, é indispensável a definição da função de

cada setor numa rede hierarquizada, com incremento de campanhas educacionais junto à

população sobre o uso adequado dos níveis de assistência em saúde.

Considerações finais

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 65

6. APÊNDICES

1) Formulário I: Dados relacionados á criança em atendimento

2) Questionário aplicado aos médicos

3) Formulário II: Estrutura dos serviços

4) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

a) Para os médicos

b) Para os responsáveis pelas crianças

Apêndices

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 66

FORMULÁRIO I

Preenchimento de acordo com dados da ficha de pronto-

atendimento e complementado com perguntas à mãe ou

acompanhante da criança

No. do formulário

No. Prontuário

Bairro: ___________________

Cidade: ____________________ Estado: ______

Hospital:

___________________________________________________

Data atendimento: ___/___/___

Hora atendimento: _______

Dados demográficos e socioeconômicos da criança e da mãe

/ acompanhante

1. No. do prontuário (ficha de atendimento)

___________________

2. Idade da criança _____________________ (meses)

(99) sem informação

3. Sexo da criança

(1) masculino (2) feminino

4. Qual o parentesco com a criança?

(1) Mãe (2) Pai (3) Avó (4)Avô (5) Tio / Tia

(6) Nenhum (8) Outro

(9) Sem informação

Dados referentes ao atendimento pré-hospitalar da

criança

5. Tipo de demanda:

(1) Espontânea (domicílio) (2) Encaminhada

(Unidade de saúde)

Dados clínicos da criança

6. Peso inicial (na chegada) da criança _________

gramas (9999) sem informação

7. Peso final (na alta) ________gramas (9999)

sem informação

Apêndices

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 67

8. Há quantos dias a criança está com diarréia? _______

(99) sem informação

9. Quais outras queixas estão presentes, além da

diarréia?

Vômitos (1) Não (2) Sim (9) sem

informação

Dor abdominal (1) Não (2) Sim (9) sem

informação

Fezes com sangue (1) Não (2) Sim (9) sem

informação

Febre (1) Não (2) Sim (9) sem

informação

Outros. Especificar:

______________________________________________

10. Quantas vezes a criança evacuou fezes amolecidas nas

últimas 12 horas: __________

(99) sem informação

11. Se a criança está apresentando vômitos, quantas vezes

ela vomitou nas últimas 12 horas? __________

(99) sem informação (88) não está apresentando

vômitos

12. Qual o grau de desidratação (de acordo com a ficha de

atendimento)?

(1) leve (2) moderada (3) grave

(8) sem desidratação (9) sem informação

Dados relativos ao manejo na emergência

13. Qual o tipo de hidratação inicialmente prescrito?

(1) nenhuma (2) TRO (SRO) (3) terapia venosa

(9) sem informação

14. Evolução da criança:

(1) Alta (2) Internamento (3)

Evasão (9) sem informação

15. Qual o tempo de permanência da criança na unidade?

_________horas

(99) sem informação

16. Em caso de alta, houve recomendação quanto a:

- Aumento da oferta de líquidos:

(1) não (2) sim (9) sem informação

Apêndices

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 68

- Reconhecimento dos sinais de desidratação (olhos

fundos, boca seca, pouca urina, muita sede) e piora

dos sintomas:

(1) não (2) sim (9) sem informação

- Uso dos sais de reidratação oral (SRO):

(1) não (2) sim (9) sem informação

17. Na alta, houve orientação por escrito?

(1) não (2) sim (9) sem informação

Apêndices

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 69

QUESTIONÁRIO

Para ser aplicado aos médicos da unidade

No. do questionário:

Dados pessoais:

1. Sexo:

(1) masculino (2) feminino (9) sem informação

2. Idade (anos):

( ) (99) sem informação

Dados profissionais:

3. Quanto tempo (anos) você tem de formado? ( )

(99) sem informação

4. Qual sua formação (pós-graduação)?

Residência médica ou especialização em pediatria

(1) não (2) sim (9) sem informação

Residência médica ou especialização em pediatria em

andamento

(1) não (2) sim (9) sem informação

Titulo de especialista em pediatria (TEP)

(1) não (2) sim (9) sem informação

Mestrado

(1) não (2) sim (9) sem informação

Doutorado

(1) não (2) sim (9) sem informação

5. Há quanto tempo (em anos) você atua em emergência

pediátrica? ( )

(99) sem informação

Condições de trabalho:

6. Qual a sua jornada semanal em emergência?

(1) até 20horas (2) 21-40horas (3) mais de 40horas

(9) sem informação

7. Você se considera sobrecarregado em sua rotina de trabalho?

Apêndices

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 70

(1) não (2) muito pouco (3) pouco

(4)moderadamente sobrecarregado (5) muito

sobrecarregado (9) sem informação

8. Como você considera sua remuneração total em função da(s)

atividade(s) que desempenha?

(1) totalmente inadequada

(2) muito pouco adequada

(3) pouco adequada

(4) moderadamente adequada

(5) totalmente adequada

(9) sem informação

9. Como você considera a estrutura deste serviço de

emergência com relação aos equipamentos necessários no

atendimento aos pacientes?

(1) insuficientes (2) muito pouco suficientes

(3) pouco suficientes (4) moderadamente

suficientes (5) totalmente suficientes (9)sem informação

10. Como você considera a estrutura deste serviço de

emergência com relação aos insumos necessários no

atendimento aos pacientes?

(1) insuficientes (2) muito pouco suficientes

(3) pouco suficientes (4) moderadamente

suficientes (5) totalmente suficientes (9)sem informação

11. Como você considera o espaço físico deste serviço de

emergência para a realização do atendimento aos pacientes?

(1) totalmente inadequado (2) muito pouco adequado

(3) pouco adequado (4) moderadamente

adequado (5) totalmente adequado (9)sem informação

Manejo da diarréia aguda e desidratação

12. Indique, para cada uma das situações abaixo, qual tipo de

hidratação você geralmente utiliza em crianças com

desidratação por diarréia aguda no setor de emergência: Oral HV Situação clínica

(1) (2) Desidratação leve sem vômitos

Apêndices

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 71

(1) (2) Desidratação leve com vômitos leves (menos de 4

episódios em 12 horas)

(1) (2) Desidratação leve com vômitos moderados (mais

de 4 episódios em 12 horas)

(1) (2) Desidratação moderada sem vômitos

(1) (2) Desidratação moderada com vômitos leves (menos

de 4 episódios em 12 horas)

(1) (2) Desidratação moderada com vômitos moderados

(mais de 4 episódios em 12 horas)

(1) (2) Sem desidratação e com vômitos leves (menos de

4 episódios em 12 horas)

(1) (2) Sem desidratação e com vômitos moderados (mais

de 4 episódios em 12 horas)

13. Que inconvenientes você considera mais importantes ao se

utilizar a hidratação oral no setor de emergência?

Falta de espaço físico apropriado

(1) não (2) sim

Falta de recursos humanos

(1) não (2) sim

Preferência da equipe de enfermagem pela terapia venosa

(1) não (2) sim

Necessidade de treinamento da equipe de enfermagem

(1) não (2) sim

Demanda excessiva da assistência

(1) não (2) sim

Má aceitação pela criança

(1) não (2) sim

Maior demanda de tempo requerida pela TRO em relação

à terapia venosa

(1) não (2) sim

Desconfiança dos pais ou responsáveis com relação à sua

eficácia

(1) não (2) sim

Outros:

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_______________________________________________

_______________________________________________

________________

Apêndices

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 72

FORMULÁRIO II

Avaliação da estrutura para realização da terapia de

reidratação oral (TRO)

1. Existe uma sala específica para reidratação?

(1) não (2) sim

2. Existe local específico para a realização da TRO?

(1) não (2) sim

3. Existe profissional de saúde treinado (enfermeiro ou auxiliar

de enfermagem) em HO, disponível 24 horas por dia, todos os

dias?

(1) não (2) sim

4. Existe profissional de saúde específico (designado)

(enfermeiro ou auxiliar de enfermagem) para administração e

vigilância da HO, disponível 24 horas por dia, todos os dias?

(1) não (2) sim

5. Check list de materiais e equipamentos necessários à sala de

reidratação / TRO e HV (Fonte: SOMASUS):

Material Sim Não Armário vitrine com porta Balde cilíndrico porta detritos com pedal

Cadeira Escada com 02 Degraus Mesa de Cabeceira Mesa para Exames Suporte de Hamper Suporte de Soro de Chão Cadeira Universitária Recipiente de 1 litro Copos Colheres Sais de reidratação oral

6. Há fornecimento de sais de reidratação oral (SRO) para

mães ou acompanhantes das crianças com diarréia aguda que

são atendidas no serviço?

(1) não (2) sim

Apêndices

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 73

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO MESTRADO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa: “Terapia de reidratação oral no setor de emergência”. Sua participação não é obrigatória e a qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com a pesquisadora ou com a instituição. O objetivo geral deste estudo é: Caracterizar o cenário atual do manejo da hidratação oral (HO) para crianças com diarréia aguda em uma emergência pediátrica. Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder a um questionário especificamente elaborado. Não haverá riscos, uma vez que não haverá intervenção. Os benefícios relacionados com a sua participação serão: contribuir para o diagnóstico da situação atual e para melhoria da assistência a crianças com diarréia aguda. Se for de seu interesse, será disponibilizado material informativo sobre o tema.

As informações obtidas através desta pesquisa serão confidenciais e asseguramos o sigilo sobre a sua participação, pois os questionários não serão identificados.

Você receberá uma cópia deste termo onde consta o nome e o telefone para contato do pesquisador responsável, podendo tirar suas dúvidas a respeito do projeto e de sua participação agora ou a qualquer momento.

Pesquisadora responsável: Auxiliadora Damianne Pereira Vieira da Costa Orientadora: Profa. Dra. Gisélia Alves Pontes da Silva Telefone para contato: 96346020 Telefone Comitê de Ética em Pesquisa (IMIP): 21224756

_____________________________________ Auxiliadora Damianne Pereira Vieira da Costa

Eu, __________________________________________________________, li e entendi as informações sobre este projeto e todas as minhas dúvidas em relação à minha participação foram respondidas satisfatoriamente. Forneço livremente meu consentimento. Assinando este termo de consentimento, concordo com a minha participação neste estudo, conservando os direitos legais que eu teria de outra forma. Recife, ____ de _____________ de 20___

Assinatura

Apêndices

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 74

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO MESTRADO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O(a) senhor(a) está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa “Terapia de reidratação oral no setor de emergência”. Este termo pode conter palavras que o(a) senhor(a) não entenda. Por favor, pergunte à equipe do estudo a respeito de quaisquer palavras ou informações que o(a) senhor(a) não entenda claramente. O objetivo geral deste estudo é: Caracterizar o cenário atual do manejo da hidratação oral (HO) para crianças com diarréia aguda em uma emergência pediátrica Esclarecemos que este estudo não envolverá nenhum tipo de intervenção e a conduta no serviço não será alterada. Utilizaremos informações da ficha de atendimento de sua criança e faremos algumas perguntas sobre sua doença, tipo de tratamento e atendimento realizados. Queremos informar que a qualquer momento da pesquisa o(a) senhor(a) poderá retirar o seu termo de consentimento, sem que isto traga qualquer interferência com o tratamento administrado à sua criança neste serviço. Todas essas respostas serão mantidas em segredo e só serão utilizadas para divulgação dos resultados deste projeto sem citação dos nomes dos participantes.

Você receberá uma cópia deste termo onde consta o nome e o telefone para contato do pesquisador responsável, podendo tirar suas dúvidas a respeito do projeto e de sua participação agora ou a qualquer momento.

Pesquisador responsável: Auxiliadora Damianne Pereira Vieira da Costa Orientadora: Profa. Dra. Gisélia Alves Pontes da Silva Telefone para contato: 96346020 Telefone Comitê de Ética em Pesquisa (IMIP): 21224756

_____________________________________ Auxiliadora Damianne Pereira Vieira da Costa

Responsável pela criança: Eu, _____________________________________________________, li e entendi as informações sobre este projeto e todas as minhas dúvidas em relação à minha participação foram respondidas satisfatoriamente. Forneço livremente meu consentimento. Assinando este termo de consentimento, concordo com a minha participação neste estudo, conservando os direitos legais que eu teria de outra forma. Recife, ____ de _____________ de 20___

Assinatura

Apêndices

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 75

6. ANEXOS

1) Normas para submissão de artigos do periódico The Journal of Pediatrics

2) Especificações da sala de reidratação para o setor de emergência

3) Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Instituto

Materno Infantil Prof. Fernando Figueira - IMIP

Anexos

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 76 Anexos

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 77 Anexos

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 78 Anexos

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 79 Anexos

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 80 Anexos

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 81 Anexos

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 82 Anexos

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 83 Anexos

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 84

EME06 - Sala de reidratação Layout Fluxo Área mínima: 6,00 m² por leito Área média: 22,70 Pé direito mínimo: Ver código de obras local. Piso: Liso (sem frestas), resistente ao desgaste, impermeável, lavável, de fácil higienização e resistente aos processos de limpeza, descontaminação e desinfecção. Parede: Devem ser lisas, sem textura, sem saliências. Teto: Sem restrição. Porta: Revestida com material lavável. Vão mínimo de 1,10m. Bancada: Com pia de lavagem. Os materiais utilizados devem propiciar condições de higiene (sendo resistentes à água), serem anticorrosivos e antiaderentes. Características do Espaço Físico Condicionantes Ambientais Temperatura ideal: Ver condições de conforto. Umidade ideal: Ver condições de conforto. Nível de iluminamento: 150 a 300 lux-geral / 300 a 750 lux-mesa de trabalho. Área mínima de ventilação/iluminação natural: Ver código de obras local. Quanto ao risco de transmissão de infecção: Área semi-crítica Infra-estrutura Necessária Instalações elétrica e eletrônica: Sem necessidade específica Instalações hidráulica e fluído-mecânica: Sem necessidade específica Instalações de climatização: Sem necessidade específica Instalações de proteção contra descarga elétrica: Instalação padrão (sem requisitos específicos) Instalações Sanitárias: Água fria - Lavatório para as mãos / Pia. Instalações de prevenção e combate a incêndio: Ver código de obras local Instalações elétricas de emergência: Elétrica de emergência - grupo 1, classe 15. Gases medicinais: Ar comprimido medicinal Atividades Observação: a) Os valores de custo referencial /m2 estão sendo desenvolvidos e serão incorporados nas próximas atualizações do sistema. b) Os layouts e os fluxos de trabalho apresentados nesta ficha refletem apenas uma das diversas possibilidades de configuração do ambiente e seu relacionamento com os ambientes que compoem os serviços. Estes desenhos devem ser considerados apenas como apoio à elaboração do projeto, que deve ser executado por profissionais habilitados - Arquiteto / Engenheiro. 2.1.4 - Realizar procedimentos de enfermagem. 2.1.5 - Realizar atendimentos e procedimentos de urgência.

Anexos

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COSTA, ADPV Terapia de reidratação oral no setor de emergência 85

Anexos