20
Sinai TERRA DA LUA

TERRA DA LUA DA LUA 7 Prólogo O amor realmente importa? Bem, tal sentimento representa muita coisa para algumas pessoas. Para ela, naquele momento de reencontro, o amor tinha o mesmo

Embed Size (px)

Citation preview

Sinai TERRA DA LUA

Sinai

2

TERRA DA LUA

3

Vanessa Araujo

Sinai TERRA DA LUA

1ª Edição 2014

Sinai

4

1º Edição – 2014

Copyright © 2014 / Araujo, Vanessa / Sinai – Terra da Lua.

Todos os direitos reservados

Produção editorial, capa, diagramação e revisão:

Vanessa Araujo

Modelos da Capa: Will Evangelista e Talita Perini.

Fotografia: Vanessa Oshiro

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

_______________________________________________________

B869

Perini, Vanessa Araujo

Terra da Lua, Sinai, Volume I / Vanessa Araujo – São Paulo

2014

510 p.; 17 x 24 cm; Il. PB.

Bibliografia

1. Romance brasileiro – ficção

2. Literatura Brasileira I. Perini, Vanessa Araujo II. Título

_________________________________________________________

http://vanessaaraujo.tk

Plágio é crime e está previsto no artigo 184 do Código Penal.

TERRA DA LUA

5

Porque um grande amor nos faz sonhar... E um beijo apaixonado nos leva à lua!

— Vanessa Araujo

Sinai

6

TERRA DA LUA

7

Prólogo

O amor realmente importa? Bem, tal sentimento representa

muita coisa para algumas pessoas. Para ela, naquele momento de

reencontro, o amor tinha o mesmo significado que a vida.

Ela amou a pequenina que a morte lhe tirou. Contudo, foi a

abnegação desse amor que a levou a encontrar outros sentimentos.

Não sabia, na época, por que fazia tudo aquilo. Naquele instante,

descobriu... E não se arrependeu de nada.

E o que esse amor lhe traria? Alegrias, tristezas, renúncias...

Não importava. Nada importava. Bem, alguém, sim. E esse alguém

era tudo. Era por essa pessoa que ela lutava, era por essa criatura que

sofria... Ela morreria para salvar sua vida. O pouco tempo que tive-

ram lhe fez tão bem que já não tinha mais medo de não existir no dia

seguinte.

Existiria? Não sabia... O amanhã diria.

O fato é que sua mente voltou no tempo, e a moça fitou seu

pulso adornado com uma pulseira trançada em um minucioso traba-

lho confeccionado em ouro branco. Em seu dedo, um anel com um

raríssimo e caro diamante azul, lembrando-a do amor... Mas essa era

sua renúncia.

Sinai

8

E quem era ela?

Eileen Gross... Vítima do próprio irmão.

Marcada pela vida.

Apaixonada pelo seu cúmplice.

Quem era ela, afinal?

Mais que uma criminosa iludida com a fantasia de dois amo-

res, era a deusa que tantos admiravam.

E quem era Eileen Gross antes?

Uma criminosa... Uma carcaça humana que levava tiros e

nunca morria.

Marcada. Repleta de cicatrizes em seu coração. Ferida por op-

ção.

Até que tudo mudou...

O relógio marcava cinco para uma da manhã do dia doze de

janeiro de dois mil e treze. Dois homens pensando nela... E Eileen

pensando em ambos e nas três possibilidades que a vida lhe apresen-

tava.

Podia fugir... Contudo, nenhum deles aceitaria tal situação.

Podia quebrar um juramento e viver na esperança do amor

que acabara de reencontrar.

Também poderia ficar e enfrentar tudo que o destino escreveu.

“Como cheguei nesse impasse? O que tenho que fazer?” – indaga-

va-se internamente. – “Preciso analisar meus passos”.

E foi assim que a mente de Eileen passou a trabalhar, anali-

sando tudo, enquanto fitava os lençóis amarrotados da cama do

quarto de hotel de quinta categoria. Sim, ela poderia pagar um hotel

de luxo, contudo, um desagradável imprevisto a levou até ali. E Eile-

en precisava de paz para decidir qual seria seu próximo passo. Mas o

tempo não era seu aliado, as horas passavam.

Suspirando profundamente, recostou-se no parapeito da jane-

la, acendendo mais um cigarro na vã tentativa de que essa droga re-

laxasse seu corpo ferido pelas batalhas que vivera. Duas cicatrizes

TERRA DA LUA

9

latejam, ambas significativas demais. Sua vontade implorava para

que o juramento fosse quebrado. No entanto, Eileen não era egoísta o

suficiente para fazê-lo.

Ainda estava perdida em pensamentos, quando uma visita i-

nesperada lhe cobrou uma resposta:

— Decidiu-se? – ele indagou.

— Te pergunto o mesmo. Afinal, foi uma proposta de mão

dupla – rebateu Eileen.

Naquele instante, os resquícios de um veneno que ingeriu à

força atormentavam seu corpo, uma sensação parecida com a de uma

intoxicação alimentar. Contudo, eram apenas resquícios. Se o mesmo

ainda circulasse em seu sangue, já estaria morta – fato que ainda po-

deria acontecer com sua sobrinha.

Ignorando os sintomas que ainda lhe assombravam, Eileen

mordeu os lábios e se concentrou no visitante.

— Precisa de mais tempo?

— Mais algumas horas, talvez – retrucou Eileen, dando de

ombros.

— Não é minha vida que está em jogo – alertou o visitante. –

Voltarei em trinta minutos.

Eileen meneou a cabeça em negativa, enquanto o invasor se

retirava. Ela teve apenas poucos minutos em sua tortura mental, pois

logo outra visita a incomodou. Com seus sedutores e hipnotizantes

olhos azuis, um corpo escultural e um sorriso perfeito, ele disse:

— Você não pode se esconder de mim... Não mais.

— Não posso? – debochou Eileen, retribuindo o sorriso. – Vo-

cê acreditou que eu estava morta por anos. Ainda sou capaz de me

esconder e não ser encontrada.

Aproximando-se, ele a envolveu ternamente em seus braços.

A saudade o atormentava, não poderia viver sem sua deusa loira,

assim como ela não viveria sem seu caçador misterioso.

Sinai

10

— Lembra-se de como tudo começou? – ele sussurrou em seu

ouvido.

Eileen preferia esquecer. O preço que isso lhe custou foi gran-

de demais. Não. Sua mente se recusava a voltar ao passado, até que

ouviu uma doce voz lhe chamando, murmurando um termo que Ei-

leen nunca pôde escutar:

— Oi, mamãe.

E tudo mudou...

TERRA DA LUA

11

Um

Janeiro de 2013...

— É o fim da linha para você, Eileen Gross – bradou o detetive

Jonas Santiago. – Não há para onde fugir.

A moça cerrou as pálpebras e sorriu maliciosamente. Exímia

ladra e fugitiva, não acreditava que pudesse mesmo ser vítima de

seus próprios erros. Uma brincadeira romântica não poderia acabar

daquela forma, ela ainda precisava conhecer o seu “amado virtual”.

Abrindo os olhos, esquadrinhou o local. Esperava vê-lo e lhe passar o

recado mudo para que fugisse dali antes de também ser pego.

“Como descobriram este ponto de encontro?” – perguntava-se in-

ternamente. – “Tomei todas as precauções necessárias, isso não pode estar

acontecendo. Ele foi mesmo um idiota. Decerto, deixou rastros em seu e-

mail”.

— Acredite, é melhor não tentar nenhuma gracinha. Você está

cercada – anunciou Jonas. – Se entregue e não resista, isso aliviará

um pouco da sua pena.

De costas para o detetive, Eileen suspirou pesarosamente, mas

não daria o braço a torcer. Fosse lá o que tivesse acontecido, ainda

Sinai

12

ponderaria o benefício da dúvida ao seu companheiro virtual – que

se tornaria real, se esse encontro acontecesse, o que não foi o caso. –

Virando-se vagarosamente, Eileen encarou o detetive. Ela jamais tira-

ria o sorriso debochado dos lábios, pois esse era seu trunfo, sua vitó-

ria, mesmo que estivesse completamente perdida.

Cautelosa, porém, ousada, enfiou a mão no bolso do casaco.

Sua intenção era se apoderar dos documentos falsos e tentar escapar

do embuste que sofria, passando-se por outra pessoa. Contudo, sua

atitude foi erroneamente entendida como afronta. Um dos subordi-

nados de Jonas acreditou que Eileen portava uma arma. Sendo assim,

não hesitou em puxar o gatilho da sua. E o disparo acertou o lado

esquerdo do peito de Eileen, na altura do coração. A moça caiu, en-

sanguentada e de olhos fechados. E esse foi o fim da carreira de Eile-

en Gross como maior falsificadora e assaltante de bancos das Améri-

cas.

*****

Meia hora antes...

— Ethan Green, você está preso. Foi acusado como autor de

diversos roubos e falsificações de obras de arte – alertou Jonas Santi-

ago, detetive que desvendou a maior trama de todos os tempos entre

dois cúmplices que nem se conheciam.

Ethan se virou cautelosamente. Sempre com seu sorriso sim-

pático no rosto, gostava de dar o ar de sua graça, dizendo:

— Ora, ora... E não é que seu sonho se realizou?

— Não tenho tempo para suas asneiras, Ethan. Você foi pego e

responderá pelos seus crimes. E, sim, confesso, vou me gabar muito

por ser o autor da sua captura – rebateu Jonas, sempre apontando

sua Jericho 9mm ao acusado. – Porém, o quebra cabeça não está todo

montado. Ainda falta a outra metade da laranja.

TERRA DA LUA

13

— Agora você me confundiu. Estamos falando de laranjas ou

de jogos? – inquiriu Ethan, franzindo as sobrancelhas.

Sem querer prolongar o fátuo diálogo, sabendo das intenções

de Ethan em estender a cena para que sua cúmplice observasse tudo

e pudesse fugir, Jonas não procrastinou e ordenou aos seus subordi-

nados que levassem Ethan dali e o que local fosse limpo.

Conforme ordenado, assim foi feito. E Eileen Gross seria a no-

va vítima de Jonas Santiago.

*****

Novembro de 2012...

Jonas Santiago era um renomado detetive de uma empresa

particular terceirizada que prestava serviços de investigações e segu-

rança para o governo norte-americano. Atuando como uma versão

privada e financeiramente mais abastada do FBI, a firma, com o no-

me fantasia de Sinai, buscava, havia mais de um ano, por – suposta-

mente – dois falsificadores e assaltantes internacionais. Com o aval

do próprio FBI e do governo brasileiro, enviou a melhor equipe de

detetives à América do Sul para caçar os fugitivos que rendiam o dé-

ficit de mais de dois bilhões de dólares aos cofres de suas vítimas.

O detetive Jonas era de origem espanhola e casado com uma

brasileira, a jornalista Erica Gomes. Sendo assim, o seu nome foi o

primeiro cotado pela Sinai para tomar a frente dessa empreitada.

Contudo, a nacionalidade do detetive e de sua esposa não foram os

únicos itens avaliados pela empresa para tal escolha. Sua ficha impe-

cável, seus prêmios acadêmicos e seus feitos em diversos casos – bem

sucedidos – foram o ápice que acendeu a chama empolgante do dono

da Sinai para que Jonas se tornasse o chefe da operação que recebeu

o nome – em português – de projeto PHN.

Sinai

14

Instalado no bairro do Morumbi – em São Paulo – há mais de

dez meses, com seu português fluente, Jonas queimava os neurônios

para encaixar mais uma peça no quebra cabeça PHN. Astuto, jamais

revelou suas anotações à esposa, pois sabia separar vida pessoal da

profissional. Porém, nessa noite, irritado por não chegar a lugar al-

gum, Jonas bradou irado, levantando-se subitamente e chamando a

atenção de Erica. Atenciosa, a esposa se aproximou e indagou:

— O que tanto te atormenta, querido?

Meneando a cabeça em negativa, o detetive suspirou profun-

damente e respondeu:

— Não consigo encontrar o fio da meada. Nem consigo dizer

com certeza se os procurados estão mesmo neste país.

— Sei que é contra seus procedimentos de praxe, mas por que

não tenta se abrir um pouco comigo? Posso te ajudar, Jonas. Afinal,

sou uma repórter investigativa – insistiu Erica, sempre mantendo a

voz carinhosa e acolhedora.

Cansado de carregar o fardo sozinho, apesar de sua equipe

muito lhe ajudar, Jonas decidiu quebrar suas próprias regras e se a-

brir com a esposa. Então, tornou a sentar-se na imensa e imponente

mesa de jantar – onde sua papelada se espalhava de maneira displi-

cente, ocupando toda a área do tampo do móvel –, pegou alguns do-

cumentos nas mãos e iniciou sua ladainha:

— Um Rembrandt desaparecido, dez bancos assaltados na

mesma semana, relíquias religiosas valiosíssimas que ninguém sabe

onde foram parar e mais de cinco milhões de dólares em títulos ao

portador que sumiram como em um passe de mágica. E sabe o que é

o pior de tudo, Erica? É que não faço a mínima ideia de quem seja o

autor, ou os autores, dessa joça toda!

— Bem, vamos começar do princípio – sugeriu a esposa, sor-

rindo esperançosa. – Alguma pista você deve ter, ou não estaríamos

aqui, certo?

— Obviamente.

TERRA DA LUA

15

Aproximando-se e sentando-se ao lado do marido, Erica inda-

gou:

— Pode me contar o que tem?

— Pouca coisa. – Jonas bufou, passando a mão pelos cabelos e

se rendendo à ajuda que a esposa insistia em ceder. – Seja lá quem

for o desgraçado que nos faz de bobos, acredito que seja um ex-

viciado.

— E como chegou a essa conclusão?

— Porque o infeliz deixa uma assinatura no local do crime.

Veja. – Jonas estendeu uma fotografia cedida pela perícia. Enquanto

a esposa analisava as imagens, ele explicava: - Há uma marca aqui –

apontou para um local específico na foto –, com as letras PHN, sigla

que deu o nome ao projeto.

Com as sobrancelhas franzidas e os lábios retorcidos, Erica a-

valiou melhor aquilo e sua mente passou a raciocinar aos poucos.

— Ok – disse por fim. – Confesso que ainda não vejo ligação

alguma dessa sigla com o fato do meliante ser um ex-viciado.

— Os grupos de apoio aos usuários de drogas e bebidas alcoó-

licas usam a chamada “terapia PHN”, ou seja, “por hoje, não” – ex-

planou Jonas. – Mas já procuramos por todos os grupos e não conse-

guimos encontrar o dito cujo em lugar algum.

— Pensei que os frequentadores fossem anônimos – resmun-

gou Erica.

— E são – Jonas confirmou. – Mas esse cara tem um perfil es-

pecífico.

— Explique-se – pediu a esposa, recostando-se no respaldo da

cadeira e cruzando os braços.

— O cara é culto, gosta de obras de arte e, pelos golpes que a-

plica, ouso dizer que se veste muito bem e bebe vinhos caros. – No-

tando a careta de confusão e desagrado da sua companheira, Jonas

viu que era hora de romper completamente seu paredão e parar de

Sinai

16

dar sucintas explicações à Erica. Sendo assim, após uma longa bufa-

da, completou: - Ele visita o local do crime várias vezes antes de apli-

car o golpe. Infiltra-se na roda da alta sociedade e age como tal.

— Jonas, digamos que esse cara seja brasileiro, porque, caso

contrário, essa teoria cai por terra – alertou Erica. Após o assentir do

marido, prosseguiu: - Ok, se ele é brasileiro e usa a terapia do “por

hoje, não”, o que não tem nexo algum, por que, então, o idiota não

está envolvido também com o tráfico de drogas? Pense bem, ele teria

boas oportunidades e lucros rentáveis desviando ex-viciados.

— É uma teoria interessante – concordou Jonas.

— Não tem nenhum retrato falado do possível suspeito? – in-

quiriu Erica.

— Não, ele age à surdina e tem cúmplices que o ajudam. Pior,

não sai de cena, o que torna, por incrível que pareça, mais difícil de

identificá-lo.

— Qual é, Jonas? – resmungou a esposa. – Esse suspeito deve

ter um rosto ou algo que o incrimine. Além do mais, poucos são os

abastados financeiramente neste país. A lista não é tão grande assim.

Só precisamos racionar um pouco e encontrar o fio da meada.

— Esse é o problema, Erica. O maldito e seus súditos são como

fantasmas. – Fitando intensamente sua companheira, Jonas acrescen-

tou: - Nossa meada tem um nó, não há como puxar o fio.

Enquanto marido tornava a bufar e a esfregar as têmporas, E-

rica colocou a cabeça para funcionar. O caso parecia simples, mas era

realmente difícil. Determinada a ajudar o marido, apoderou-se da

papelada espalhada pela mesa e passou a analisar os fatos. O que

Erica leu naqueles documentos lhe fez estremecer. Era tudo tão óbvio

que ela mesma não acreditaria se alguém lhe contasse. Claro que Jo-

nas não desvendaria o caso, pois tudo o que o detetive lia eram as

imensas fichas que a empresa Sinai lhe enviava para resolver os cri-

mes no qual trabalhava.

TERRA DA LUA

17

— Querido – chamou Erica –, todos esses crimes aqui descritos

foram cometidos pelo mesmo meliante? – questionou, sem deixar de

analisar os documentos que tinha em mãos.

— Parece que sim – respondeu Jonas, com o olhar perdido. –

Por quê?

— Porque isso está parecido demais com... – Erica hesitou,

tornando a ler parte da papelada. Queria ter certeza antes de aguçar

o marido com falsas esperanças.

Curiosa, levantou-se calmamente e se dirigiu ao quarto, com a

voz de Jonas ecoando:

— Querida, o que vai fazer?

— Espere um momento, por favor.

Jonas não entendeu a atitude de Erica, mas não a seguiu, dei-

xando-a em seu próprio mundo, enquanto ele mesmo se perdia no

seu. O caso em questão lhe tirava a paz, lhe atormentava. Contudo,

era preciso solucioná-lo, pois seus superiores lhe cobravam uma po-

sição e sua falha lhe custaria a promoção que tanto almejava. Sendo

assim, tornou a trabalhar no maior tormento de sua existência profis-

sional.

Depois de meia hora, Erica retornou à sala de jantar com uma

pilha de livros nos braços. Após acomodar as publicações sobre a

mesa, sentou-se. Fitou o marido e sorriu torto. Calada estava, e assim

permaneceu. Até que Jonas sentiu o peso do olhar de Erica recaindo

sobre si. Miraram-se por alguns instantes, e o detetive também sor-

riu, orgulhando-se de tê-la como esposa, uma mulher linda, inteli-

gente e carinhosa. Aceitou-se como um sortudo. E, tal como o mari-

do, Erica se engrandeceu por ser a companheira de um homem de-

terminado, honesto, dedicado, influente e ainda muito bonito, apesar

do cansaço que estampava no semblante e dos quarenta e cinco anos

que já lhe cobravam as primeiras rugas.

Sinai

18

— O que foi? – questionou Jonas, com a voz melodiosa e bai-

xa, sorrindo torto.

— Você deveria ler alguns romances – brincou Erica, devol-

vendo-lhe o sorriso.

— Não tenho tempo para isso, meu amor.

— Ainda bem que eu tenho, não?

Largando tudo o que estava fazendo, Jonas se acomodou na

cadeira, decidido a dar sua total atenção à bela mulher à sua frente.

Com uma brincadeira interna – algo que ambos adoravam fazer

quando estavam a sós dentro de quatro paredes –, Jonas assumiu o

papel de policial sisudo e Erica, o de acusada.

— Creio que há muito que me dizer. Portanto, seja esperta e

não me esconda nada – ordenou Jonas, encenando.

— Exijo a presença do meu advogado – protestou Erica.

— Então, devo crer, diante de tal exigência, que a mocinha es-

tá muito encrencada.

— Tudo o que eu disser será usado contra mim no tribunal? –

inquiriu a esposa, segurando o riso.

— Podemos fazer isso de uma maneira que beneficie a ambos.

Que tal?

— Está me oferecendo um acordo, senhor?

— Uma revelação em troca da redução da sua pena.

— Interessante... – sibilou Erica, gostando do jogo que faziam.

– E minha pena seria...? – instigou.

Jonas curvou seu corpo, aproximando-se dela. Seus lábios fi-

caram tão próximos que bastaria um mínimo movimento e estariam

colados. Então, sussurrou:

— Digamos que vou te trancar naquele quarto e teu cárcere

não contará com roupas, mas com algumas perversões impróprias

para menores.

TERRA DA LUA

19

— E você quer reduzir isso? – bradou Erica, arrancando risa-

das do marido. – De maneira alguma! Ficarei de bico fechado e que

venha meu castigo!

Cessadas as gargalhadas, Jonas se endireitou na cadeira e in-

dagou:

— Vai reler essa “livrarada” toda?

— Não. Mas acredito que essas obras possam te ajudar no ca-

so.

Foi a vez de Jonas franzir as sobrancelhas e retorcer os lábios.

Ao notar a confusão no semblante do esposo, Erica se divertiu e ex-

plicou:

— As páginas que são realmente pertinentes estão marcadas.

Não vou mais me intrometer na sua investigação e te deixar traba-

lhar em paz. Porém, eu não deixaria de espiar esses livros se fosse

você.

Dito isso, Erica se levantou e se retirou do recinto. Sozinho,

Jonas pegou o primeiro livro da pilha e foi direto para a página mar-

cada. Ao ler as primeiras linhas, esbugalhou os olhos e se surpreen-

deu com tudo. Erica estava certa, ele deveria ler mais romances...

Sinai

20