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Sinai
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1º Edição – 2014
Copyright © 2014 / Araujo, Vanessa / Sinai – Terra da Lua.
Todos os direitos reservados
Produção editorial, capa, diagramação e revisão:
Vanessa Araujo
Modelos da Capa: Will Evangelista e Talita Perini.
Fotografia: Vanessa Oshiro
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
_______________________________________________________
B869
Perini, Vanessa Araujo
Terra da Lua, Sinai, Volume I / Vanessa Araujo – São Paulo
2014
510 p.; 17 x 24 cm; Il. PB.
Bibliografia
1. Romance brasileiro – ficção
2. Literatura Brasileira I. Perini, Vanessa Araujo II. Título
_________________________________________________________
http://vanessaaraujo.tk
Plágio é crime e está previsto no artigo 184 do Código Penal.
TERRA DA LUA
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Porque um grande amor nos faz sonhar... E um beijo apaixonado nos leva à lua!
— Vanessa Araujo
TERRA DA LUA
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Prólogo
O amor realmente importa? Bem, tal sentimento representa
muita coisa para algumas pessoas. Para ela, naquele momento de
reencontro, o amor tinha o mesmo significado que a vida.
Ela amou a pequenina que a morte lhe tirou. Contudo, foi a
abnegação desse amor que a levou a encontrar outros sentimentos.
Não sabia, na época, por que fazia tudo aquilo. Naquele instante,
descobriu... E não se arrependeu de nada.
E o que esse amor lhe traria? Alegrias, tristezas, renúncias...
Não importava. Nada importava. Bem, alguém, sim. E esse alguém
era tudo. Era por essa pessoa que ela lutava, era por essa criatura que
sofria... Ela morreria para salvar sua vida. O pouco tempo que tive-
ram lhe fez tão bem que já não tinha mais medo de não existir no dia
seguinte.
Existiria? Não sabia... O amanhã diria.
O fato é que sua mente voltou no tempo, e a moça fitou seu
pulso adornado com uma pulseira trançada em um minucioso traba-
lho confeccionado em ouro branco. Em seu dedo, um anel com um
raríssimo e caro diamante azul, lembrando-a do amor... Mas essa era
sua renúncia.
Sinai
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E quem era ela?
Eileen Gross... Vítima do próprio irmão.
Marcada pela vida.
Apaixonada pelo seu cúmplice.
Quem era ela, afinal?
Mais que uma criminosa iludida com a fantasia de dois amo-
res, era a deusa que tantos admiravam.
E quem era Eileen Gross antes?
Uma criminosa... Uma carcaça humana que levava tiros e
nunca morria.
Marcada. Repleta de cicatrizes em seu coração. Ferida por op-
ção.
Até que tudo mudou...
O relógio marcava cinco para uma da manhã do dia doze de
janeiro de dois mil e treze. Dois homens pensando nela... E Eileen
pensando em ambos e nas três possibilidades que a vida lhe apresen-
tava.
Podia fugir... Contudo, nenhum deles aceitaria tal situação.
Podia quebrar um juramento e viver na esperança do amor
que acabara de reencontrar.
Também poderia ficar e enfrentar tudo que o destino escreveu.
“Como cheguei nesse impasse? O que tenho que fazer?” – indaga-
va-se internamente. – “Preciso analisar meus passos”.
E foi assim que a mente de Eileen passou a trabalhar, anali-
sando tudo, enquanto fitava os lençóis amarrotados da cama do
quarto de hotel de quinta categoria. Sim, ela poderia pagar um hotel
de luxo, contudo, um desagradável imprevisto a levou até ali. E Eile-
en precisava de paz para decidir qual seria seu próximo passo. Mas o
tempo não era seu aliado, as horas passavam.
Suspirando profundamente, recostou-se no parapeito da jane-
la, acendendo mais um cigarro na vã tentativa de que essa droga re-
laxasse seu corpo ferido pelas batalhas que vivera. Duas cicatrizes
TERRA DA LUA
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latejam, ambas significativas demais. Sua vontade implorava para
que o juramento fosse quebrado. No entanto, Eileen não era egoísta o
suficiente para fazê-lo.
Ainda estava perdida em pensamentos, quando uma visita i-
nesperada lhe cobrou uma resposta:
— Decidiu-se? – ele indagou.
— Te pergunto o mesmo. Afinal, foi uma proposta de mão
dupla – rebateu Eileen.
Naquele instante, os resquícios de um veneno que ingeriu à
força atormentavam seu corpo, uma sensação parecida com a de uma
intoxicação alimentar. Contudo, eram apenas resquícios. Se o mesmo
ainda circulasse em seu sangue, já estaria morta – fato que ainda po-
deria acontecer com sua sobrinha.
Ignorando os sintomas que ainda lhe assombravam, Eileen
mordeu os lábios e se concentrou no visitante.
— Precisa de mais tempo?
— Mais algumas horas, talvez – retrucou Eileen, dando de
ombros.
— Não é minha vida que está em jogo – alertou o visitante. –
Voltarei em trinta minutos.
Eileen meneou a cabeça em negativa, enquanto o invasor se
retirava. Ela teve apenas poucos minutos em sua tortura mental, pois
logo outra visita a incomodou. Com seus sedutores e hipnotizantes
olhos azuis, um corpo escultural e um sorriso perfeito, ele disse:
— Você não pode se esconder de mim... Não mais.
— Não posso? – debochou Eileen, retribuindo o sorriso. – Vo-
cê acreditou que eu estava morta por anos. Ainda sou capaz de me
esconder e não ser encontrada.
Aproximando-se, ele a envolveu ternamente em seus braços.
A saudade o atormentava, não poderia viver sem sua deusa loira,
assim como ela não viveria sem seu caçador misterioso.
Sinai
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— Lembra-se de como tudo começou? – ele sussurrou em seu
ouvido.
Eileen preferia esquecer. O preço que isso lhe custou foi gran-
de demais. Não. Sua mente se recusava a voltar ao passado, até que
ouviu uma doce voz lhe chamando, murmurando um termo que Ei-
leen nunca pôde escutar:
— Oi, mamãe.
E tudo mudou...
TERRA DA LUA
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Um
Janeiro de 2013...
— É o fim da linha para você, Eileen Gross – bradou o detetive
Jonas Santiago. – Não há para onde fugir.
A moça cerrou as pálpebras e sorriu maliciosamente. Exímia
ladra e fugitiva, não acreditava que pudesse mesmo ser vítima de
seus próprios erros. Uma brincadeira romântica não poderia acabar
daquela forma, ela ainda precisava conhecer o seu “amado virtual”.
Abrindo os olhos, esquadrinhou o local. Esperava vê-lo e lhe passar o
recado mudo para que fugisse dali antes de também ser pego.
“Como descobriram este ponto de encontro?” – perguntava-se in-
ternamente. – “Tomei todas as precauções necessárias, isso não pode estar
acontecendo. Ele foi mesmo um idiota. Decerto, deixou rastros em seu e-
mail”.
— Acredite, é melhor não tentar nenhuma gracinha. Você está
cercada – anunciou Jonas. – Se entregue e não resista, isso aliviará
um pouco da sua pena.
De costas para o detetive, Eileen suspirou pesarosamente, mas
não daria o braço a torcer. Fosse lá o que tivesse acontecido, ainda
Sinai
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ponderaria o benefício da dúvida ao seu companheiro virtual – que
se tornaria real, se esse encontro acontecesse, o que não foi o caso. –
Virando-se vagarosamente, Eileen encarou o detetive. Ela jamais tira-
ria o sorriso debochado dos lábios, pois esse era seu trunfo, sua vitó-
ria, mesmo que estivesse completamente perdida.
Cautelosa, porém, ousada, enfiou a mão no bolso do casaco.
Sua intenção era se apoderar dos documentos falsos e tentar escapar
do embuste que sofria, passando-se por outra pessoa. Contudo, sua
atitude foi erroneamente entendida como afronta. Um dos subordi-
nados de Jonas acreditou que Eileen portava uma arma. Sendo assim,
não hesitou em puxar o gatilho da sua. E o disparo acertou o lado
esquerdo do peito de Eileen, na altura do coração. A moça caiu, en-
sanguentada e de olhos fechados. E esse foi o fim da carreira de Eile-
en Gross como maior falsificadora e assaltante de bancos das Améri-
cas.
*****
Meia hora antes...
— Ethan Green, você está preso. Foi acusado como autor de
diversos roubos e falsificações de obras de arte – alertou Jonas Santi-
ago, detetive que desvendou a maior trama de todos os tempos entre
dois cúmplices que nem se conheciam.
Ethan se virou cautelosamente. Sempre com seu sorriso sim-
pático no rosto, gostava de dar o ar de sua graça, dizendo:
— Ora, ora... E não é que seu sonho se realizou?
— Não tenho tempo para suas asneiras, Ethan. Você foi pego e
responderá pelos seus crimes. E, sim, confesso, vou me gabar muito
por ser o autor da sua captura – rebateu Jonas, sempre apontando
sua Jericho 9mm ao acusado. – Porém, o quebra cabeça não está todo
montado. Ainda falta a outra metade da laranja.
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— Agora você me confundiu. Estamos falando de laranjas ou
de jogos? – inquiriu Ethan, franzindo as sobrancelhas.
Sem querer prolongar o fátuo diálogo, sabendo das intenções
de Ethan em estender a cena para que sua cúmplice observasse tudo
e pudesse fugir, Jonas não procrastinou e ordenou aos seus subordi-
nados que levassem Ethan dali e o que local fosse limpo.
Conforme ordenado, assim foi feito. E Eileen Gross seria a no-
va vítima de Jonas Santiago.
*****
Novembro de 2012...
Jonas Santiago era um renomado detetive de uma empresa
particular terceirizada que prestava serviços de investigações e segu-
rança para o governo norte-americano. Atuando como uma versão
privada e financeiramente mais abastada do FBI, a firma, com o no-
me fantasia de Sinai, buscava, havia mais de um ano, por – suposta-
mente – dois falsificadores e assaltantes internacionais. Com o aval
do próprio FBI e do governo brasileiro, enviou a melhor equipe de
detetives à América do Sul para caçar os fugitivos que rendiam o dé-
ficit de mais de dois bilhões de dólares aos cofres de suas vítimas.
O detetive Jonas era de origem espanhola e casado com uma
brasileira, a jornalista Erica Gomes. Sendo assim, o seu nome foi o
primeiro cotado pela Sinai para tomar a frente dessa empreitada.
Contudo, a nacionalidade do detetive e de sua esposa não foram os
únicos itens avaliados pela empresa para tal escolha. Sua ficha impe-
cável, seus prêmios acadêmicos e seus feitos em diversos casos – bem
sucedidos – foram o ápice que acendeu a chama empolgante do dono
da Sinai para que Jonas se tornasse o chefe da operação que recebeu
o nome – em português – de projeto PHN.
Sinai
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Instalado no bairro do Morumbi – em São Paulo – há mais de
dez meses, com seu português fluente, Jonas queimava os neurônios
para encaixar mais uma peça no quebra cabeça PHN. Astuto, jamais
revelou suas anotações à esposa, pois sabia separar vida pessoal da
profissional. Porém, nessa noite, irritado por não chegar a lugar al-
gum, Jonas bradou irado, levantando-se subitamente e chamando a
atenção de Erica. Atenciosa, a esposa se aproximou e indagou:
— O que tanto te atormenta, querido?
Meneando a cabeça em negativa, o detetive suspirou profun-
damente e respondeu:
— Não consigo encontrar o fio da meada. Nem consigo dizer
com certeza se os procurados estão mesmo neste país.
— Sei que é contra seus procedimentos de praxe, mas por que
não tenta se abrir um pouco comigo? Posso te ajudar, Jonas. Afinal,
sou uma repórter investigativa – insistiu Erica, sempre mantendo a
voz carinhosa e acolhedora.
Cansado de carregar o fardo sozinho, apesar de sua equipe
muito lhe ajudar, Jonas decidiu quebrar suas próprias regras e se a-
brir com a esposa. Então, tornou a sentar-se na imensa e imponente
mesa de jantar – onde sua papelada se espalhava de maneira displi-
cente, ocupando toda a área do tampo do móvel –, pegou alguns do-
cumentos nas mãos e iniciou sua ladainha:
— Um Rembrandt desaparecido, dez bancos assaltados na
mesma semana, relíquias religiosas valiosíssimas que ninguém sabe
onde foram parar e mais de cinco milhões de dólares em títulos ao
portador que sumiram como em um passe de mágica. E sabe o que é
o pior de tudo, Erica? É que não faço a mínima ideia de quem seja o
autor, ou os autores, dessa joça toda!
— Bem, vamos começar do princípio – sugeriu a esposa, sor-
rindo esperançosa. – Alguma pista você deve ter, ou não estaríamos
aqui, certo?
— Obviamente.
TERRA DA LUA
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Aproximando-se e sentando-se ao lado do marido, Erica inda-
gou:
— Pode me contar o que tem?
— Pouca coisa. – Jonas bufou, passando a mão pelos cabelos e
se rendendo à ajuda que a esposa insistia em ceder. – Seja lá quem
for o desgraçado que nos faz de bobos, acredito que seja um ex-
viciado.
— E como chegou a essa conclusão?
— Porque o infeliz deixa uma assinatura no local do crime.
Veja. – Jonas estendeu uma fotografia cedida pela perícia. Enquanto
a esposa analisava as imagens, ele explicava: - Há uma marca aqui –
apontou para um local específico na foto –, com as letras PHN, sigla
que deu o nome ao projeto.
Com as sobrancelhas franzidas e os lábios retorcidos, Erica a-
valiou melhor aquilo e sua mente passou a raciocinar aos poucos.
— Ok – disse por fim. – Confesso que ainda não vejo ligação
alguma dessa sigla com o fato do meliante ser um ex-viciado.
— Os grupos de apoio aos usuários de drogas e bebidas alcoó-
licas usam a chamada “terapia PHN”, ou seja, “por hoje, não” – ex-
planou Jonas. – Mas já procuramos por todos os grupos e não conse-
guimos encontrar o dito cujo em lugar algum.
— Pensei que os frequentadores fossem anônimos – resmun-
gou Erica.
— E são – Jonas confirmou. – Mas esse cara tem um perfil es-
pecífico.
— Explique-se – pediu a esposa, recostando-se no respaldo da
cadeira e cruzando os braços.
— O cara é culto, gosta de obras de arte e, pelos golpes que a-
plica, ouso dizer que se veste muito bem e bebe vinhos caros. – No-
tando a careta de confusão e desagrado da sua companheira, Jonas
viu que era hora de romper completamente seu paredão e parar de
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dar sucintas explicações à Erica. Sendo assim, após uma longa bufa-
da, completou: - Ele visita o local do crime várias vezes antes de apli-
car o golpe. Infiltra-se na roda da alta sociedade e age como tal.
— Jonas, digamos que esse cara seja brasileiro, porque, caso
contrário, essa teoria cai por terra – alertou Erica. Após o assentir do
marido, prosseguiu: - Ok, se ele é brasileiro e usa a terapia do “por
hoje, não”, o que não tem nexo algum, por que, então, o idiota não
está envolvido também com o tráfico de drogas? Pense bem, ele teria
boas oportunidades e lucros rentáveis desviando ex-viciados.
— É uma teoria interessante – concordou Jonas.
— Não tem nenhum retrato falado do possível suspeito? – in-
quiriu Erica.
— Não, ele age à surdina e tem cúmplices que o ajudam. Pior,
não sai de cena, o que torna, por incrível que pareça, mais difícil de
identificá-lo.
— Qual é, Jonas? – resmungou a esposa. – Esse suspeito deve
ter um rosto ou algo que o incrimine. Além do mais, poucos são os
abastados financeiramente neste país. A lista não é tão grande assim.
Só precisamos racionar um pouco e encontrar o fio da meada.
— Esse é o problema, Erica. O maldito e seus súditos são como
fantasmas. – Fitando intensamente sua companheira, Jonas acrescen-
tou: - Nossa meada tem um nó, não há como puxar o fio.
Enquanto marido tornava a bufar e a esfregar as têmporas, E-
rica colocou a cabeça para funcionar. O caso parecia simples, mas era
realmente difícil. Determinada a ajudar o marido, apoderou-se da
papelada espalhada pela mesa e passou a analisar os fatos. O que
Erica leu naqueles documentos lhe fez estremecer. Era tudo tão óbvio
que ela mesma não acreditaria se alguém lhe contasse. Claro que Jo-
nas não desvendaria o caso, pois tudo o que o detetive lia eram as
imensas fichas que a empresa Sinai lhe enviava para resolver os cri-
mes no qual trabalhava.
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— Querido – chamou Erica –, todos esses crimes aqui descritos
foram cometidos pelo mesmo meliante? – questionou, sem deixar de
analisar os documentos que tinha em mãos.
— Parece que sim – respondeu Jonas, com o olhar perdido. –
Por quê?
— Porque isso está parecido demais com... – Erica hesitou,
tornando a ler parte da papelada. Queria ter certeza antes de aguçar
o marido com falsas esperanças.
Curiosa, levantou-se calmamente e se dirigiu ao quarto, com a
voz de Jonas ecoando:
— Querida, o que vai fazer?
— Espere um momento, por favor.
Jonas não entendeu a atitude de Erica, mas não a seguiu, dei-
xando-a em seu próprio mundo, enquanto ele mesmo se perdia no
seu. O caso em questão lhe tirava a paz, lhe atormentava. Contudo,
era preciso solucioná-lo, pois seus superiores lhe cobravam uma po-
sição e sua falha lhe custaria a promoção que tanto almejava. Sendo
assim, tornou a trabalhar no maior tormento de sua existência profis-
sional.
Depois de meia hora, Erica retornou à sala de jantar com uma
pilha de livros nos braços. Após acomodar as publicações sobre a
mesa, sentou-se. Fitou o marido e sorriu torto. Calada estava, e assim
permaneceu. Até que Jonas sentiu o peso do olhar de Erica recaindo
sobre si. Miraram-se por alguns instantes, e o detetive também sor-
riu, orgulhando-se de tê-la como esposa, uma mulher linda, inteli-
gente e carinhosa. Aceitou-se como um sortudo. E, tal como o mari-
do, Erica se engrandeceu por ser a companheira de um homem de-
terminado, honesto, dedicado, influente e ainda muito bonito, apesar
do cansaço que estampava no semblante e dos quarenta e cinco anos
que já lhe cobravam as primeiras rugas.
Sinai
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— O que foi? – questionou Jonas, com a voz melodiosa e bai-
xa, sorrindo torto.
— Você deveria ler alguns romances – brincou Erica, devol-
vendo-lhe o sorriso.
— Não tenho tempo para isso, meu amor.
— Ainda bem que eu tenho, não?
Largando tudo o que estava fazendo, Jonas se acomodou na
cadeira, decidido a dar sua total atenção à bela mulher à sua frente.
Com uma brincadeira interna – algo que ambos adoravam fazer
quando estavam a sós dentro de quatro paredes –, Jonas assumiu o
papel de policial sisudo e Erica, o de acusada.
— Creio que há muito que me dizer. Portanto, seja esperta e
não me esconda nada – ordenou Jonas, encenando.
— Exijo a presença do meu advogado – protestou Erica.
— Então, devo crer, diante de tal exigência, que a mocinha es-
tá muito encrencada.
— Tudo o que eu disser será usado contra mim no tribunal? –
inquiriu a esposa, segurando o riso.
— Podemos fazer isso de uma maneira que beneficie a ambos.
Que tal?
— Está me oferecendo um acordo, senhor?
— Uma revelação em troca da redução da sua pena.
— Interessante... – sibilou Erica, gostando do jogo que faziam.
– E minha pena seria...? – instigou.
Jonas curvou seu corpo, aproximando-se dela. Seus lábios fi-
caram tão próximos que bastaria um mínimo movimento e estariam
colados. Então, sussurrou:
— Digamos que vou te trancar naquele quarto e teu cárcere
não contará com roupas, mas com algumas perversões impróprias
para menores.
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— E você quer reduzir isso? – bradou Erica, arrancando risa-
das do marido. – De maneira alguma! Ficarei de bico fechado e que
venha meu castigo!
Cessadas as gargalhadas, Jonas se endireitou na cadeira e in-
dagou:
— Vai reler essa “livrarada” toda?
— Não. Mas acredito que essas obras possam te ajudar no ca-
so.
Foi a vez de Jonas franzir as sobrancelhas e retorcer os lábios.
Ao notar a confusão no semblante do esposo, Erica se divertiu e ex-
plicou:
— As páginas que são realmente pertinentes estão marcadas.
Não vou mais me intrometer na sua investigação e te deixar traba-
lhar em paz. Porém, eu não deixaria de espiar esses livros se fosse
você.
Dito isso, Erica se levantou e se retirou do recinto. Sozinho,
Jonas pegou o primeiro livro da pilha e foi direto para a página mar-
cada. Ao ler as primeiras linhas, esbugalhou os olhos e se surpreen-
deu com tudo. Erica estava certa, ele deveria ler mais romances...