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Terra, família e parentesco: pequenas comunidades agrárias no interior da América Portuguesa Mônica Ribeiro de Oliveira Universidade Federal de Juiz de Fora Na presente comunicação apresentarei algumas reflexões que venho fazendo nos últimos anos referente ao comportamento sócio-econômico de indivíduos e grupos agrários residentes em áreas periféricas ao grande centro de exploração mineral, no século XVIII em Minas Gerais- sudeste da América Portuguesa. No levantamento dos grupos através de registros batismais, deparei-me com a presença de imigrantes portugueses da região noroeste de Portugal e dos Açores, bem como outros provenientes do planalto paulistano e demais grupos do interior de Minas Gerais e Rio de Janeiro, configurando uma diversificada hierarquia social. A fixação desse grupo em um território inóspito, cujo controle dos recursos naturais e inserção nas redes de mercado não eram tão fáceis, foi estimulada não só pela extração aurífera, mas, principalmente pela possibilidade de acesso a terra em regiões fracamente reguladas pelo sistema de sesmarias. Grande porcentagem daqueles que se apresentavam como “proprietários” iniciaram sua ocupação como “posseiros”, ou seja, com uma propriedade não mediada por títulos. Esses indivíduos e grupos ao se fixarem na nova paróquia que os abrigava providenciaram uma família e passaram a recriar uma série de relações pessoais, parentais, estabelecendo redes clientelares verticais e horizontais reiterando, por um lado, o modelo das sociedades agrárias de Antigo Regime e, por outro, se readaptando ao contexto de uma sociedade escravista. Esses grupos e indivíduos, para além dos conflitos inerentes buscavam construir mecanismos de solidariedade e reciprocidade voltados para a defesa do ideal corporativo da família, apto a favorecê-la e perpetuá-la no longo prazo. Com objetivos de recuperar vivências através do acompanhamento de algumas trajetórias no longo prazo, procedi ao cruzamento dos dados eclesiásticos, com testamentos, inventários, autos de devassas, dentre outros o que me possibilitou o entendimento das escolhas realizadas pelos grupos diante da incerteza, escassez de recursos e a opção pela saída para outras fronteiras ainda abertas ao final do século XVIII dentro da própria capitania mineira. Palavras-chave: História de família; História Agrária; Comunidades agrárias do século XVIII.

Terra, família e parentesco: pequenas comunidades agrárias ... · sociedades agrárias de Antigo Regime e, por outro, se readaptando ao contexto de uma sociedade escravista. Esses

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Terra, família e parentesco: pequenas comunidades agrárias

no interior da América Portuguesa

Mônica Ribeiro de Oliveira

Universidade Federal de Juiz de Fora

Na presente comunicação apresentarei algumas reflexões que venho fazendo nos últimos

anos referente ao comportamento sócio-econômico de indivíduos e grupos agrários residentes

em áreas periféricas ao grande centro de exploração mineral, no século XVIII em Minas Gerais-

sudeste da América Portuguesa. No levantamento dos grupos através de registros batismais,

deparei-me com a presença de imigrantes portugueses da região noroeste de Portugal e dos

Açores, bem como outros provenientes do planalto paulistano e demais grupos do interior de

Minas Gerais e Rio de Janeiro, configurando uma diversificada hierarquia social. A fixação

desse grupo em um território inóspito, cujo controle dos recursos naturais e inserção nas redes

de mercado não eram tão fáceis, foi estimulada não só pela extração aurífera, mas,

principalmente pela possibilidade de acesso a terra em regiões fracamente reguladas pelo

sistema de sesmarias. Grande porcentagem daqueles que se apresentavam como “proprietários”

iniciaram sua ocupação como “posseiros”, ou seja, com uma propriedade não mediada por

títulos. Esses indivíduos e grupos ao se fixarem na nova paróquia que os abrigava

providenciaram uma família e passaram a recriar uma série de relações pessoais, parentais,

estabelecendo redes clientelares verticais e horizontais reiterando, por um lado, o modelo das

sociedades agrárias de Antigo Regime e, por outro, se readaptando ao contexto de uma

sociedade escravista. Esses grupos e indivíduos, para além dos conflitos inerentes buscavam

construir mecanismos de solidariedade e reciprocidade voltados para a defesa do ideal

corporativo da família, apto a favorecê-la e perpetuá-la no longo prazo. Com objetivos de

recuperar vivências através do acompanhamento de algumas trajetórias no longo prazo, procedi

ao cruzamento dos dados eclesiásticos, com testamentos, inventários, autos de devassas, dentre

outros o que me possibilitou o entendimento das escolhas realizadas pelos grupos diante da

incerteza, escassez de recursos e a opção pela saída para outras fronteiras ainda abertas ao final

do século XVIII dentro da própria capitania mineira.

Palavras-chave: História de família; História Agrária; Comunidades agrárias do século

XVIII.