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UFF - Universidade Federal Fluminense Escola de Engenharia Departamento de Produção Latec - Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios & Meio Ambiente Dennis Hanson Costa O IMPACTO DOS PROGRAMAS DE RELACIONAMENTO NA LUCRATIVIDADE DAS EMPRESAS Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Sistemas de Gestão pela Qualidade Total. Orientador: Prof. Martius Vicente Rodriguez y Rodriguez, D.Sc. Niterói 2004

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UFF - Universidade Federal FluminenseEscola de Engenharia

Departamento de ProduçãoLatec - Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios & Meio Ambiente

Dennis Hanson Costa

O IMPACTO DOS PROGRAMAS DE RELACIONAMENTO

NA LUCRATIVIDADE DAS EMPRESAS

Dissertação apresentada ao curso de Mestradoem Sistema de Gestão da UniversidadeFederal Fluminense como requisito parcialpara a obtenção do Grau de Mestre emSistemas de Gestão. Área de Concentração:Sistemas de Gestão pela Qualidade Total.

Orientador: Prof. Martius Vicente Rodriguez y Rodriguez, D.Sc.

Niterói

2004

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UFF - Universidade Federal FluminenseEscola de Engenharia

Departamento de ProduçãoLatec - Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios & Meio Ambiente

DENNIS HANSON COSTA

O IMPACTO DOS PROGRAMAS DE RELACIONAMENTO

NA LUCRATIVIDADE DAS EMPRESAS

Dissertação apresentada ao curso de Mestradoem Sistema de Gestão da Universidade FederalFluminense como requisito parcial para aobtenção do Grau de Mestre em Sistemas deGestão. Área de Concentração: Sistemas deGestão pela Qualidade Total.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________Prof. Martius Vicente Rodriguez y Rodriguez, DSc.

Universidade Federal Fluminense

____________________________________________Prof. José Rodrigues de Faria Filho, DSc.

Universidade Federal Fluminense

___________________________________________Prof. Nelson Francisco Favilla Ebecken, DSc.

COPPE / UFRJ

Niterói2004

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A meus pais

Margaret Hanson Costa

(in memoriam)

e

Carlos Augusto Rodrigues Costa

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AGRADECIMENTOS

À minha esposa Marisa, pelo apoio, paciência e valiosa revisão dos originais.

Ao meu irmão Jeffrey, pelo companheirismo, estímulo e ajudas diversas.

Ao meu orientador Martius Vicente Rodriguez y Rodriguez.

A todos os profissionais das empresas pesquisadas, por suas generosas informações.

Aos professores e funcionários do Latec.

À turma do GQT2F.

E a todos aqueles de contribuíram para a realização deste projeto.

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“As pessoas gastam dinheiro quando e onde se

sentem bem.”

Walt Disney

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo investigar empresas que tenham a preocupação de servir

melhor a seus clientes por meio do estabelecimento de um relacionamento que seja benéfico

para ambos. Ao longo do texto, são descritos e avaliados os processos desenvolvidos, para, ao

final, trazer à luz o real impacto do marketing de relacionamento nos objetivos financeiros das

empresas que adotam essa estratégia de negócios.

Através do estudo de sete empresas de atividades, portes e objetivos diferentes, procura-se

mostrar um panorama abrangente do marketing de relacionamento no mercado brasileiro.

Baseado em entrevistas não-estruturadas com profissionais encarregados de gerir programas

de relacionamento, em que são descritos objetivos, estratégias, táticas e resultados, são

traçados paralelos e, a partir destes e do corpo teórico disponível, particularmente os modelos

propostos por McKenna e por Duffy, é desenvolvida uma proposta de caminho que pode vir a

ser trilhada por outras empresas que também queiram criar um vínculo mais profundo com

seus clientes visando aumentar sua lucratividade.

Usando o ROI como medida de sucesso, o estudo conclui que as sete empresas pesquisadas

conseguem, cada qual a sua maneira e medida, o sucesso desejado em suas propostas de

relacionamento com clientes.

Palavras Chave: marketing de relacionamento, marketing direto, lealdade, fidelização.

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ABSTRACT

This work aims at investigating companies that strive to better serve their clients by means of

the establishment of a profitable relationship for both parties. Throughout the text, the

processes used are described and analysed, so as to, in the end, bring forth the real impact of

relationship marketing in the financial bottom lines of companies that have adopted

relationship with clients as a business stategy.

By studying seven companies with different sizes, activities and goals, the study vies to show

a broad panorama of relationship marketing in the Brazilian market.

Based on non-structured interviews with executives in charge of relationship programs, in

which goals, stategies, tactics and results are described, parallels are drawn which added up to

the theoretical body available, particularly the works by McKenna and Duffy, define a

tentative roadmap that may be adopted by other companies that wish to build a closer bond

with their clients, with aims at boosting their profitability.

Using ROI as a measure for success the study concludes that all seven of the companies

interviewed, in their own measure and way, manage to be sucessful in their efforts towards

relationship with clients.

Key-Words: Relationship marketing, direct marketing, loyalty, fidelity programs

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. A teia de relacionamentos segundo Murphy et al. (1999) ...................................... 14

Figura 2. Pirâmide das necessidades humanas de Maslow (1970)......................................... 30

Figura 3. Dimensões do processo de atendimento na criação de valor. Fonte: Bretzke (2000)..... 36

Figura 4. Efeito da estratégia de agregação de valor em um relacionamento de longo prazo . 37

Figura 5. Modelo de qualidade de serviço de Grönroos (1984). ............................................ 39

Figura 6. Modelo de qualidade de Gummesson (1987). ........................................................ 41

Figura 7. Modelo de qualidade de bem e serviço de Grönroos e Gummesson (1987). ........... 43

Figura 8. O modelo dos 5 hiatos (gaps) de Parasuraman, Berry e Zeithaml (1990). .............. 45

Figura 9. Modelo estendido de qualidade de Parasuraman, Zeithaml e Berry (1990). ........... 47

Figura 10. Ciclo de vida do relacionamento com clientes segundo Gummesson (1998). ....... 51

Figura 11. Gráfico ilustrando a Lei de Pareto ....................................................................... 57

Figura 12. Modelo de um MDB com uma possível transformação em CRM (Des. do autor). 58

Figura 13. A Escada da Fidelidade (Des. do autor). .............................................................. 59

Figura 14. Cérebro, olhos, boca e ouvidos do marketing direto (Des. do autor).................... 64

Figura 15. Gráfico do Ciclo de Vida do Cliente.................................................................... 68

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Resumo de assuntos com autores e materiais citados na Revisão da Literatura ..... 71

Tabela 2. Resumo de assuntos com autores e materiais citados no Referencial Teórico ........ 93

Tabela 3. Cálculo da margem de contribuição .................................................................... 102

Tabela 4. Determinação da verba para aquisição de clientes ............................................... 105

Tabela 5. Cálculo do Break-even........................................................................................ 107

Tabela 6. Posição da Icatu-Hartford no mercado ................................................................ 123

Tabela 7. Balanço da Icatu-Hartford.................................................................................. 133

Tabela 8. Perfil demográfico dos clientes Harley-Davidson (1997-2002) ........................... 166

Tabela 9. Compradores em 2002 ........................................................................................ 166

Tabela 10. Idade Mediana .................................................................................................. 166

Tabela 11. Renda Mediana................................................................................................. 167

Tabela 12. Receita e Lucro................................................................................................. 167

Tabela 13. Gradação e tipo de programa de relacionamento ............................................... 177

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LISTA DE SIGLAS

ABEMD – Associação Brasileira de Marketing Direto

B2B – Business-to-Business

B2C – Business-to-Consumer

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CID-10 – Código Internacional de Doenças

CNT – Confederação Nacional de Transportes

CPM – Custo por milhar atingido

CPP – Custo por pedido

CRM – Customer Relationship Management

CRT – Conhecimento Internacional de Transporte Rodoviário

DBM – DataBase Marketing

DMA – Direct Marketing Association

ERP – Enterprise Resource Planning

FENACOR – Federação Nacional de Corretores

FPNQ – Fundação Programa Nacional da Qualidade

HOG – Harley Owners’ Group

IBM – International Business Machines

LOH – Ladies of Harley

LTV – Lifetime Value

MB – Margem Bruta

MDB– Marketing DataBase

ONG – Organização Não-Governamental

PGBL – Plano Gerador de Benefício Livre

PNQ – Programa Nacional da Qualidade

POS – Posto de Serviço

RFID – Radio Frequency Identification

RFV – Recência, Freqüência e Valor

RH – Recursos Humanos

ROI – Return on Investment

SAC – Serviço de Atendimento a Clientes

SAP – Systems, Applications and Products

TCL – Taxa de Conversão de Leads

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SUMÁRIO

1. O Problema ...................................................................................................................... 141.1. Introdução ................................................................................................................. 141.2. Estrutura do trabalho ................................................................................................. 211.3. Delimitação do estudo ............................................................................................... 221.4. Justificativa ............................................................................................................... 241.4.1. Justificativa profissional ......................................................................................... 241.2.2. Justificativa pessoal ................................................................................................ 251.2.3. Justificativa acadêmica ........................................................................................... 251.5. Contribuição.............................................................................................................. 261.6. A questão problema e as questões de pesquisa ........................................................... 271.6.1. Objetivo geral......................................................................................................... 271.6.2. Objetivo específico................................................................................................. 27

Questão 1 (Q1): ........................................................................................................ 27Sub-questões da Questão 1: ...................................................................................... 27Questão 2 (Q2): ....................................................................................................... 27Sub-questões da Questão 2: ...................................................................................... 27Questão 3 (Q3): ....................................................................................................... 28Sub-questões da Questão 3: ...................................................................................... 28Questão 4 (Q4): ....................................................................................................... 28Sub-questões da Questão 4: ...................................................................................... 28

2. Revisão da literatura......................................................................................................... 292.1. O marketing de relacionamento no contexto da qualidade.......................................... 292.1.1. Algumas definições para situar questões relativas a clientes, marketing e qualidade 302.1.2. Qualidade e valor.................................................................................................... 352.1.3. O marketing e a qualidade de serviços no panorama da economia........................... 382.2. O marketing direto como instrumento do marketing de relacionamento ..................... 482.2.1. Um breve histórico do marketing de relacionamento............................................... 482.2.2. Algumas definições para situar o marketing de relacionamento .............................. 512.2.3. Marketing direto x marketing de massa................................................................... 532.2.4. DBM e a inteligência do marketing direto............................................................... 552.2.5. As ferramentas do marketing direto ........................................................................ 612.2.6. Momentos da Verdade e Interatividade................................................................... 642.2.7. Mensurabilidade ..................................................................................................... 662.2.8. O ciclo de vida do cliente ou LTV .......................................................................... 68

3- Referencial Teórico ......................................................................................................... 723.1. O marketing de relacionamento ................................................................................. 723.2. O marketing um-a-um ............................................................................................... 723.3. O pós-marketing........................................................................................................ 733.4. Customer Relationship Management, ou CRM .......................................................... 743.5. O marketing de emoção............................................................................................. 773.5.1. A experiência da marca .......................................................................................... 783.6. O marketing de permissão ......................................................................................... 813.7. Relacionamento e fidelização .................................................................................... 853.7.1. Programas de relacionamento e fidelização............................................................. 873.8. Relacionamento funciona?......................................................................................... 893.9. Resumo do Referencial Teórico................................................................................. 90

4. Metodologia..................................................................................................................... 94

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4.1. O método do estudo de casos..................................................................................... 944.2. A escolha da metodologia.......................................................................................... 944.3. A seleção dos casos ................................................................................................... 964.4. O parâmetro usado .................................................................................................... 97

5. O processo do marketing de relacionamento em ação ....................................................... 985.1. Estabelecimento dos objetivos a serem alcançados .................................................... 985.2. O planejamento estratégico........................................................................................ 995.3. O Planejamento Tático ............................................................................................ 1055.4. A ação ..................................................................................................................... 1085.5. Avaliação dos resultados ......................................................................................... 1085.6. Aprendizado e aperfeiçoamento............................................................................... 112

6. Os casos......................................................................................................................... 1136.1. O caso Torrentes ..................................................................................................... 1136.2. O Caso Cavideo ...................................................................................................... 1166.3. O caso Icatu-Hartford .............................................................................................. 1226.3.1. Histórico e desempenho no mercado..................................................................... 1226.3.2. Segmentos de atuação........................................................................................... 124

Seguros: ................................................................................................................. 124Previdência Privada:............................................................................................... 124Capitalização:......................................................................................................... 124Administração de Benefícios: ................................................................................. 125

6.3.3. A situação atual .................................................................................................... 1256.4. O caso Clube Irmão Caminhoneiro Shell ................................................................ 1336.5. O Caso São Conrado Fashion Mall .......................................................................... 1436.6. O caso Casa de Vacinas GSK .................................................................................. 1496.7. O caso Harley-Davidson.......................................................................................... 1546.7.1. A Harley-Davidson no Brasil................................................................................ 1596.7.2. Comunicação e relacionamento ............................................................................ 1646.7.3. Alguns números.................................................................................................... 166

7. Resumo analítico dos casos estudados e resultados da pesquisa...................................... 1687.1. Resumo analítico dos casos ..................................................................................... 168

Empresa ................................................................................................................. 1777.2. Verificação das questões.......................................................................................... 178

Questão 1 (Q1): ...................................................................................................... 178Houve lucro na empresa no último exercício?......................................................... 178Sub-questões da Questão 1: .................................................................................... 178Quando foi iniciado o Programa de Relacionamento? ............................................. 178Quais os resultados nos anos anteriores à implantação do Programa deRelacionamento? .................................................................................................... 179Quais os resultados nos anos anteriores à implantação do Programa deRelacionamento? .................................................................................................... 179Questão 2 (Q2): ...................................................................................................... 179Qual a contribuição do Programa de Relacionamento para o lucro da empresa?...... 179Sub-questões da Questão 2: .................................................................................... 179O Programa de Relacionamento foi o único responsável pelo bom resultado daempresa? ................................................................................................................ 179Caso não tenha sido o único responsável pelo bom desempenho, que outros fatorescontribuíram? ......................................................................................................... 179Há como se descobrir o percentual exato (ou aproximado) da contribuição doPrograma de Relacionamento no resultado da empresa? ......................................... 179

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Questão 3 (Q3): ...................................................................................................... 180O Programa de Relacionamento é, em si, lucrativo para a organização?.................. 180Sub-questões da Questão 3: .................................................................................... 180Quais os valores aplicados no Programa de Relacionamento?................................. 180Qual a razão investimento/lucro do Programa de Relacionamento?......................... 181Questão 4 (Q4): ...................................................................................................... 181Dentre os benefícios auferidos pelo Programa de Relacionamento, a empresa vêresultados intangíveis (maior percepção de marca, o próprio programa como umdiferencial, preocupação da concorrência, exposição na mídia)? ............................. 181Sub-questões da Questão 4: .................................................................................... 181Como o cliente percebe o Programa de Relacionamento? ....................................... 181Como o mercado percebe o Programa de Relacionamento? .................................... 182Como a mídia percebe o Programa de Relacionamento? ......................................... 182

8. Conclusões e Sugestões.................................................................................................. 1838.1. Conclusões .............................................................................................................. 1838.1. Conclusão da dissertação a partir dos objetivos propostos........................................ 1848.1.1. Quanto aos objetivos específicos .......................................................................... 1848.1.2. Quanto ao objetivo geral....................................................................................... 1858.2. Sugestões ................................................................................................................ 185

9. Bibliografia referenciada................................................................................................ 18710. Anexos......................................................................................................................... 192

10.1. Questionário não-estruturado usado como guia nas entrevistas com as empresasparticipantes................................................................................................................... 19210.2 Índice Remissivo .................................................................................................... 194

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1. O Problema

[…] em um mundo onde o cliente tem

tantas opções, mesmo em segmentos

limitados, uma relação pessoal é a única

forma de manter a fidelidade do cliente.

Regis McKenna

1.1. Introdução

O tema proposto para este estudo – “O impacto dos programas de relacionamento na

lucratividade das empresas” – contempla lançar um olhar sobre o que é o marketing de

relacionamento dentro do contexto do novo marketing orientado para o cliente em

contraposição à visão que se tinha anteriormente do marketing voltado para o produto e

centrado na transação, isto é, na oferta e na aceitação da oferta por parte do cliente

(MCKENNA, 1994).

O assunto se insere numa visão mais ampla dos relacionamentos a serem

desenvolvidos pela empresa em sua luta pela sobrevivência e pelo sucesso, conforme descrito

por McKenna (1994), em que clientes, fornecedores, funcionários e distribuidores devem ser

contemplados. Na mesma linha de raciocínio, Murphy et al. (1999) sugerem uma teia de

relacionamentos conforme a ilustração abaixo:

Figura 1. A teia de relacionamentos segundo Murphy et al. (1999)

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Nessa visão, todas as partes são entendidas como stakeholders, ou partes interessadas,

e devem ser tratadas adequadamente de modo a assegurar a satisfação de seus interesses.

Já para Parvatiyar e Sheth (1999), há duas visões para o marketing de relacionamento.

Uma abrangente, que compreende toda a teia sugerida acima, e uma visão mais restrita,

resumida na definição de Shani e Chalasani (1992, citada em Murphy et al., 1999), que define

o marketing de relacionamento como “um esforço para identificar, manter e construir laços

com consumidores individuais e continuamente fortalecer esses laços para o mútuo benefício

de ambas as partes, por meio de contatos de valor agregado, interativos e personalizados, ao

longo de um período extenso no tempo.”

Eles continuam adicionando uma diferenciação importante entre marketing de

relacionamento e relacionamentos de marketing. Estes últimos podem abarcar os

relacionamentos competitivos, de rivalidade, de afiliação, dependentes, independentes e

outros. O primeiro abrange as relações de cooperação e colaboração entre a organização, seus

clientes e outros atores no cenário do marketing.

Parvatiyar e Sheth (1995) adicionam que “um relacionamento integrativo pressupõe

uma sobreposição nos planos e processos das partes que interagem e sugere laços

econômicos, emocionais e estruturais bem próximos entre eles”.

Sheth (1996) sugere que se limitem os domínios do marketing de relacionamento a

apenas aquelas ações de marketing que sejam cooperativas e colaborativas cujo foco esteja

direcionado a servir as necessidades dos clientes.

Para fins deste trabalho, esta é a linha de raciocínio adotada, concentrando os esforços

em entender o que norteia, como funciona e como se faz o relacionamento com clientes.

Diversos estudiosos vêm se dedicando a mostrar que o mero deslocamento do eixo de

atenção da organização rumo ao cliente é uma importante mudança de paradigma, mas poucos

se dedicam a provar se trata-se de uma mudança de paradigma lucrativa ou não.

A análise evolutiva dos serviços, do marketing em seu sentido mais amplo e do

marketing direto especificamente, bem como conceitos, definições, objetivos, metas e foco de

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atendimento são contemplados no estudo, visando apresentar uma visão ampla da matéria em

questão, tendo a qualidade e, particularmente, a questão do foco no cliente como pano de

fundo e bússola.

No contexto da economia globalizada, a origem geográfica do produto deixou de ser

importante, e questões como qualidade, serviço e valor passaram a determinar o processo de

aquisição. Um tema central tornou-se presente neste estágio de evolução do mercado: o

esforço por parte das organizações no sentido de melhor satisfazer os clientes através da

maior proximidade, ou seja, através do relacionamento com eles (AIJO, 1996). Um exemplo

que evidencia essa tendência é a estratégia de venda de uma marca de café produzida na

Suécia, país sem nenhuma tradição no setor, mas que conseguiu agregar à sua marca

intangíveis como a qualidade avalizada pela casa real sueca e um intenso programa de

relacionamento com seus clientes que a tornou um marco em seu mercado (WUNDERMAN,

1996).

Muito além do bem vendido há uma série de serviços que vêm sendo incorporados ao

longo dos anos e se tornaram commodities já entendidas como indissociáveis do bem

adquirido em si. Garantias, assistência técnica, entrega, instalação (quando necessária) e

outros serviços são cada vez mais vistas como intrínsecas à aquisição, deixando de ser

diferenciais. Na procura incessante desse diferencial competitivo, as organizações começaram

a buscar um conhecimento maior do cliente e de suas necessidades, a fim de lhe oferecer cada

vez mais aquilo que ele busca de fato. O marketing de relacionamento visa esse entendimento

cada vez mais profundo do cliente, por meio de um diálogo constante e do armazenamento de

toda a informação colhida nos diversos contatos, objetivando tornar o relacionamento

mutuamente proveitoso. A organização que emprega essa estratégia lucra duplamente, uma

vez que conhecendo melhor o cliente, pode lhe vender mais e melhor e, quanto mais interagir

com o cliente, mais pode aperfeiçoar seus produtos e serviços para satisfazer sempre mais,

criando, assim, um círculo virtuoso.

O objetivo final do marketing de relacionamento é a conquista da lealdade do cliente,

lealdade esta entendida como a compra repetida, e eventualmente ampliada, ao longo de um

período de tempo. A conquista dessa lealdade acontece não pelo que será obtido, ou com o

aceno de uma recompensa futura, mas pelo que já foi alcançado. O cliente já conhece a

empresa, já foi recompensado anteriormente e passa a contar com essa recompensa. A

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17

recompensa, por sua vez, não precisa ser algo de custo elevado, bastando que represente algo

que o cliente entenda como um valor. A recompensa não é um suborno, mas um

reconhecimento agradecido por parte da empresa pela preferência do cliente.

A essência do marketing de relacionamento repousa sobre a comunicação dirigida,

alicerçada que está nos conceitos do marketing direto, técnica que vem sendo aperfeiçoada ao

longo dos mais de cem anos de sua existência. Este funciona simultaneamente como base

filosófica e como ferramenta de trabalho.

O próprio conceito de marketing direto vem sofrendo diversas modificações ao longo

dos últimos anos e seu escopo de atuação vem sendo ampliado através de novas utilizações.

Por outro lado, a propaganda de massa não tem mais conseguido estabelecer uma

comunicação eficaz com uma clientela cada vez mais diversificada em termos de padrões de

cultura, consumo e necessidades. Cientes da saturação do cliente em relação às mídias

tradicionais de comunicação, algumas empresas optaram por adotar uma estratégia mais

moderna de retenção da clientela conquistada, maximizando os investimentos em

comunicação com os já clientes, uma vez que são estes os mais propensos a consumir mais

dentro da mesma marca (quer sejam empresas de varejo ou fábricas lidando com seus clientes

empresariais, mesmo que detendo uma única linha de produtos).

Para que essa retenção funcione a contento, faz-se necessária, cada vez mais, uma

abordagem pessoal, individualizada (Peppers e Rogers, 1993), a fim de estabelecer um

diálogo centrado nas necessidades do cliente e nos benefícios que podem ser auferidos pelo

consumo de determinado produto ou serviço em contraste com o monólogo da propaganda

centrada no produto e suas características.

O marketing de relacionamento torna-se importante à medida que as empresas se dão

conta que conquistar novos clientes custa muito mais caro do que manter clientes já

existentes. Entre os benefícios do marketing de relacionamento que podem ser demonstrados

contabilmente, temos:

� redução nos custos de aquisição de novos clientes (pela busca direta por aqueles

cujo perfil seja semelhante ao dos clientes atuais);

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18

� aumento na quantidade de clientes (pela melhoria no processo de aquisição, pelo

aumento na retenção dos atuais e pela indicação de novos clientes por aqueles que

estão satisfeitos);

� maior lucratividade por cliente (pelo aumento das vendas por indivíduo –

incrementando-se o volume e a freqüência de compra –, pelo incremento no tempo

de relacionamento ou ciclo de vida do cliente e no seu valor ao longo dele (LTV),

pela redução do custo de venda e pela redução do custo de suporte ao cliente).

Em mercados maduros, onde a qualidade do produto já não é mais ponto em

discussão, a diferenciação se faz cada vez mais com aquilo que as organizações podem

agregar de intangível ao produto que o cliente veio buscar, mesmo que esse produto seja

também um serviço, intangível em sua natureza e essência. Imagine-se: o que redes de

lavanderias ou salões de beleza poderiam agregar a seus serviços para transformar clientes

ocasionais em clientes fiéis?

A importância dos serviços como estratégia de concorrência fica evidente na

afirmativa de Carlson (1991): “Cada vez mais incapazes de competir com base nas vantagens

dos produtos, as economias ocidentais estão sendo transformadas em economias de ‘serviços’.

Estamos numa encruzilhada histórica, em que a era da orientação para o consumidor chegou

até mesmo para setores que jamais foram encarados como atividades específicas de serviços.”

No entender de Stell e Donoho (1999), os serviços não são fundamentalmente

diferentes de bens, e não existem no mercado nem serviços nem bens de forma pura e isolada.

Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas focalizando tais diferenças.

Esses esforços têm como resultado a criação de numerosos esquemas de classificação,

destinados a organizar os serviços de acordo com as suas características comuns. Enquanto

diversas tipologias de serviços têm sido propostas, raramente a categorização de serviço é

examinada sob o ponto de vista do cliente.

A administração de serviços é um conceito adotado pelas organizações – cujas

atuações sejam voltadas para a oferta de serviço de nível superior ao dos concorrentes – como

filosofia empresarial e força motriz na condução dos negócios. Tem por princípios básicos o

conhecimento profundo de sua clientela e a oferta de serviços como diferencial da

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19

concorrência, através da associação da qualidade à prestação dos mesmos, passando a se

orientar pelas necessidades e expectativas dos clientes (Albrecht e Bradford, 1992). A própria

administração de serviços pressupõe o conhecimento e a utilização de princípios de

marketing, reforçando o conceito do marketing e dos serviços como valores agregados ao

produto. Assim sendo, torna-se imperativo o uso de funções de marketing para mediar o

contato direto entre consumidores e organizações.

O marketing de relacionamento como diferencial competitivo vem se tornando cada

vez mais um serviço agregado ao produto, e o cliente, uma vez exposto a ele, dificilmente o

rejeita, esperando ser sempre surpreendido positivamente.

O desenvolvimento do marketing de relacionamento iniciou-se nas já amadurecidas

indústrias de serviços dos anos 70 e 80. Os rápidos avanços em telecomunicações, transporte

e processamento de informações ampliaram as possibilidades de escolha para as empresas e

para os consumidores.

O atual marketing de relacionamento teve em sua origem duas vertentes: a primeira

surgiu no marketing de serviços, e parcialmente no marketing industrial, através do

estabelecimento gradual dos relacionamentos. A segunda vertente se deu devido às rápidas e

radicais mudanças no meio ambiente empresarial (AIJO, 1996).

Esse novo enfoque resulta da busca constante por contatos mais próximos com o

cliente, da ênfase em mantê-lo no longo prazo e de uma visão holística das partes e processos

envolvidos no marketing e nos negócios.

Se, por um lado, existem pessoas e organizações com interesses em conquistar e reter

clientes, há, também, desde os primórdios da humanidade, uma busca incessante do homem

por maior conforto e comodidade. Da união desses interesses desenvolveu-se o marketing de

relacionamento.

O tema pode ser considerado, portanto, de grande interesse, em nível nacional e

internacional, no ambiente acadêmico e de negócios, pela sua abrangência e importância sob

os pontos de vista econômico, político-social, ambiental e cultural.

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Uma pergunta, entretanto, não pode deixar de ser feita a respeito desse tema. É sabido

que clientes reagem positivamente ao marketing de relacionamento, mas pouco se tem

estudado sobre a sua verdadeira relação custo/benefício. Qual seria, então, o real impacto

econômico do marketing de relacionamento para as organizações que o utilizam?

Essa e outras perguntas relacionadas pretendem ser respondidas ao longo deste

trabalho. Para tal, os métodos tradicionais de mensuração do marketing direto são o primeiro

passo de aferição.

Há diversos métodos para a avaliação de resultados de ações e campanhas, bem como

de programas de duração mais prolongada. É sabido que programas de pontos ou milhagem,

se geridos sem uma cuidadosa atenção ao equilíbrio entre os prêmios oferecidos e a

participação dos clientes visando os resultados desejados, podem transformar-se em prejuízos

para as organizações.

Paralelamente, tem havido uma pressão cada vez maior por parte das organizações e

de seus investidores para que se disponha de medidas exatas de avaliação do retorno de seus

esforços de contato com o cliente. O ROI, ou return on investment, em inglês, tornou-se uma

exigência, sendo o maior calcanhar de aquiles da comunicação de massa e uma prática

comum no universo da comunicação dirigida, tornando-se responsável pelo enorme

crescimento desta última nos orçamentos de marketing nos Estados Unidos, segundo dados da

DMA – Direct Marketing Association – a associação de marketing direto americana.

O papel das novas tecnologias, particularmente a microinformática e as

telecomunicações, aliadas a conceitos muito antigos de interação com o cliente, veio facilitar

a expansão e a adoção do marketing de relacionamento baseado no armazenamento e

tratamento seletivo das informações colhidas a respeito dos clientes e na facilidade de

comunicação em tempo real com ele, quando conveniente ou necessário. Bancos de dados

relacionais, telefonia, internet, TV interativa e inúmeras mídias que surgem todos os dias

fazem com que clientes e empresas estejam cada vez mais próximos uns dos outros.

Page 21: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

21

1.2. Estrutura do trabalho

O presente estudo tem a intenção de servir como referência para estudiosos e

profissionais que queiram entender e utilizar o marketing de relacionamento, segundo os

preceitos de teóricos e profissionais em atividade.

A primeira parte, composta pelos capítulos 1 a 3, visa dar ao leitor um panorama do

que seja o marketing de relacionamento, sua história, filosofia, definição, processos e

ferramentas, mostrando suas relações com o conceito da qualidade, situando-o no panorama

do marketing em geral e do marketing de serviços, resumindo a bibliografia consultada e

destacando a base conceitual do trabalho.

A seguir, no capítulo 4, explica-se a metodologia utilizada na pesquisa propriamente,

que partiu do estudo de sete empresas que usam o marketing de relacionamento como base de

cultura e ação em seus negócios, destacando a medição precisa dos resultados, conforme

expressos no ROI, para aferir a eficácia e rentabilidade dos programas.

O capítulo 5 resume a mecânica do marketing direto e de relacionamento, propondo

um caminho seguro para o entendimento e a prática da disciplina, apontando a necessidade do

estabelecimento de objetivos expressos em estratégias e táticas, além de fornecer fórmulas e

cálculos para medição de resultados, para que se possa saber se os objetivos almejados foram

atingidos.

No capítulo 6, apresentam-se os sete casos que compõem o núcleo da pesquisa de

campo, destacando-se as estratégias e táticas usadas por cada uma das empresas em questão e

mostrando, na medida do possível, isto é, na medida em que os dados foram revelados pelas

empresas pesquisadas, os resultados obtidos com os diversos programas.

O capítulo 7 apresenta uma visão crítica dos casos, oferecendo algumas soluções para

problemas observados e sugestões para a melhoria de algumas das ações analisadas, além de

fornecer uma escala para a classificação de programas de relacionamento, utilizando-a a

seguir para classificar as empresas estudadas. Nesse mesmo capítulo respondem-se às

questões expressas nas hipóteses do projeto de pesquisa, de acordo com as informações

colhidas na pesquisa de campo.

Page 22: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

22

As conclusões do estudo e sugestões para pesquisas futuras são apresentadas no

capítulo 8.

Seguem a bibliografia referenciada e os anexos, que ocupam, respectivamente, os

capítulos 9 e 10. Para facilitar o trabalho de pesquisadores que venham a usar este trabalho, há

um índice remissivo ao final do capítulo 10.

1.3. Delimitação do estudo

Conforme já mencionado, este estudo pretende oferecer um caminho seguro que possa

ser trilhado por empresas de qualquer porte, desde que tenham a disposição de realmente

entender os conceitos e processos inerentes e, acima de tudo, ajustar sua cultura de modo a ter

o cliente como o verdadeiro centro de seu universo.

O que na realidade se observa é que muitas organizações se lançam em esforços

entendidos como sendo marketing de relacionamento, mas que carregam consigo toda uma

bagagem cultural de comunicação de massa e outros vícios culturais e administrativos. Diante

do fracasso facilmente predizível, essas organizações recuam às suas posições anteriores,

seguras e conhecidas, afirmando simplesmente que “essa coisa é muito complexa, cara e não

apresenta os resultados prometidos”. Outro dos objetivos deste estudo, então, é apontar os

caminhos para o acerto, sedimentados na cultura correta e na medição precisa dos resultados.

O uso do marketing direto dentro de uma Unidade de Informação de uma organização

é sem dúvida uma grande evolução, uma vez que pode ser considerado uma importante

ferramenta de apoio à tomada de decisões no gerenciamento da informação. Através dessa

ferramenta obtêm-se relatórios que ajudam a conhecer melhor o “cliente”, que são os

usuários, consumidores, influenciadores, decisores, funcionários e outros públicos. Com a

disseminação da informática nos dias de hoje, essa Unidade de Informação dentro da empresa

deve estar provida dos instrumentos necessários tanto no que tange a hardware quanto a

software. Esse ferramental deve ser poderoso e flexível, para que possibilite o cruzamento de

informações e diversas análises sofisticadas, facilitando o atingimento do público com maior

precisão.

Page 23: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

23

Nestes tempos de extrema competitividade, a empresa que tiver um bom banco de

dados sobre seus clientes e trabalhar de forma inteligente com essas informações será

vencedora, ultrapassando a concorrência e tornando-se uma empresa moderna, uma vez que

utiliza os recursos da tecnologia da informação para atingir seus objetivos.

Nesse contexto, insere-se a gestão dos contatos do cliente com a empresa, do balcão da

loja à internet, visando mapear suas preferências e acompanhar suas transações em todas as

esferas, sejam elas compras ou reclamações. Este seria o verdadeiro CRM (Customer

Relationship Management), o esforço deliberado de aprender tudo o que seja possível sobre o

cliente, revertendo esse conhecimento em benefícios para ele e lucros para a empresa.

Não está no escopo deste trabalho, entretanto, a análise de softwares e outros produtos

voltados para o mercado de CRM. Muitas das empresas que adquiriram tais sistemas o

fizeram sem que houvesse de fato um programa e uma cultura de relacionamento que

justificasse sua aquisição. No caso das empresas estudadas, se essas adotarem os sistemas,

estes serão mencionados como integrantes do programa, com seus custos e resultados

devidamente computados. Cabe destacar que a aquisição de tais produtos não significa a

implantação de um programa de relacionamento com clientes e que tais programas podem ser

desenvolvidos sem a necessidade da aquisição dos referidos produtos. Relacionamentos com

clientes vêm sendo praticados desde os primórdios da civilização. Eram praticados pelos

comerciantes de bairro, depois, nas empresas maiores da era industrial, passaram a ser

praticados a partir de fichas de papel, dando lugar a sistemas mais sofisticados como as fichas

MacBee e o sistema Addressograph, seguindo o que o mercado podia oferecer em termos de

tecnologia naquele dado momento. A tecnologia, no caso, é um coadjuvante, importante por

certo, mas sem o peso a ela dado pela mídia e, principalmente, pelos revendedores desses

produtos. A gestão do relacionamento com o cliente pode e deve ser feita visando o melhor

conhecimento do cliente e a possibilidade de oferecer-lhe cada vez mais aquilo que deseja.

Entretanto, nenhum estudo consegue ser completo em si mesmo, esgotando todas as

alternativas teóricas e práticas disponíveis. As sugestões para futuras pesquisas encontradas

ao final do volume são apenas algumas das muitas lacunas vislumbradas ao longo da

realização desta pesquisa.

Page 24: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

24

Outras limitações restritas ao tema em estudo incluem a ausência de alguns tipos de

negócios aos quais não se teve acesso, particularmente empresas do segmento ponto-com,

uma vez que que as duas empresas contatadas nem sequer cogitavam fazer relacionamento

com seus clientes. Outra lacuna importante foi o estudo aprofundado de uma empresa que

usasse programa de pontos ou milhagem. O caso apresentado do programa da Shell ainda não

tem seu modelo de pontos completamente estruturado, de modo que pudesse ter sua mecânica

dissecada a contento.

Espera-se que outros pesquisadores que se interessem pelo tema consigam exemplos

de empresas que tipifiquem esses modelos.

1.4. Justificativa

1.4.1. Justificativa profissional

As organizações vêm expressando uma insatisfação crescente com os resultados

apresentados pela comunicação de massa. Cada vez mais cobram-se no bottom line resultados

palpáveis que a indústria da publicidade não foi tradicionalmente estruturada para fornecer.

Um trecho de matéria da coluna de publicidade do Wall Street Journal, publicado em

sua edição de terça-feira 24 de setembro de 2002, assinada por Suzanne Vranica, resume bem

o dilema dos anunciantes:

“A fé dos grandes anunciantes no poder da publicidade tradicional está se

desvanecendo, de acordo com uma nova pesquisa […] As descobertas mais

preocupantes indicam que as empresas estão cada vez mais céticas a respeito do

poder que a publicidade possa ter para alavancar vendas, […] Os resultados da

pesquisa espelham sentimentos semelhantes na Madison Avenue, onde o interesse

está se voltando para a mala-direta e anúncios de resposta direta com número 0800.

Os profissionais estão adotando essas formas de promoção porque eles podem medir

as vendas como um retorno direto sobre os investimentos.”1

1 No original: "The faith of big-spending marketers in the power of traditional advertising is waning as the economy

continues to falter, according to a new survey […] The most worrisome findings indicate that companies are increasingly

skeptical of advertising to boost sales, […] The survey results mirror similar sentiments on Madison Avenue, where interest

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25

Assim como esse texto, diversas outras pesquisas e análises vêm sendo feitas sobre

esse aspecto do tema, conforme exaustivamente divulgado no site www.mktdireto.com.br, do

qual o autor deste estudo é co-editor. Uma matéria publicada no site da DMA em março de

2003 afirmava que o marketing direto havia feito uma virada histórica, ultrapassando os 55%

da verba total de comunicação das empresas americanas, tomando o lugar da publicidade

como estrela da comunicação com o consumidor (www.thedma.org – março de 2003).

Segundo essa mesma matéria, o total arrecadado pelo marketing direto em 2002 foi de 193

bilhões de dólares, gerando mais de 2 trilhões de dólares em vendas. No Brasil, embora tenha

havido um crescimento digno de nota neste mercado, a proporção ainda é de 20% para o

marketing direto e 80% para a publicidade, segundo matéria da ABEMD publicada no site

mktdireto em 11 de outubro de 2003. Há até livros sobre o assunto, destacando-se o de Sergio

Zyman, publicado em 2002 e listado na bibliografia.

1.2.2. Justificativa pessoal

O interesse pelo tema selecionado para pesquisa surgiu da prática profissional

cotidiana, tanto como dono de agência de marketing de relacionamento quanto como

professor do assunto, e também de estudos em marketing direto e marketing de

relacionamento, além de pesquisa e leitura da produção técnico-científica de conceituados

autores nacionais e estrangeiros.

1.2.3. Justificativa acadêmica

A pesquisa bibliográfica veio consolidar esse interesse, ao evidenciar uma grande

quantidade de material teórico, principalmente publicado no exterior, e um inexpressivo

elenco de cases nacionais em marketing de relacionamento, fazendo surgir o desejo de

colaborar na ampliação da divulgação de conhecimento nas áreas envolvidas.

Aquilo que se poderia chamar de a ciência do marketing de relacionamento ainda está

em desenvolvimento, não tendo suas bases teóricas completamente sedimentadas, conforme

is focusing on direct mail and 1-800 direct-response ads. Marketers are embracing such promotions because they can

measure sales as a specific return on investment.

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26

afirmam Parvatiyar e Sheth (1999). É interesse deste estudo, portanto, contribuir para o

desenvolvimento do tema e da ciência como um todo.

A despeito de programas de relacionamento não serem uma grande novidade em si

mesmos, muito se tem falado a seu respeito, pouco se tem praticado e muito menos medido o

seu verdadeiro impacto na satisfação do cliente e sua conseqüente contrapartida no

faturamento das empresas que os adotam. Prova disso é que há apenas 25 dissertações de

mestrado registradas na CAPES mencionando o assunto, muitas das quais estudos restritos a

segmentos ou empresas únicas. Um estudo mais abrangente parece plenamente justificável e

até necessário. O próprio PNQ – Programa Nacional da Qualidade – brasileiro menciona a

importância do relacionamento com o cliente apresentando apenas uma idéia bastante

imprecisa do assunto.

1.5. Contribuição

Espera-se, portanto, que este estudo possa contribuir igualmente para o mercado e para

a academia, ampliando a compreensão do tema e solidificando os conceitos e práticas do

marketing de relacionamento, disseminando, quem sabe, uma nova visão do cliente como um

parceiro e como um catalisador de uma lucratividade maior.

Resumindo as expectativas de contribuição que este trabalho pode trazer:

� Contribuir para a ciência e para a literatura do marketing de relacionamento.

� Contribuir para complementar e expandir o conceito de satisfação do cliente

contido no PNQ.

� Discutir o verdadeiro papel do CRM, sem mergulhar a fundo nos aspectos

meramente tecnológicos.

� Apontar caminhos para o bom relacionamento com clientes, por meio da produção

de teóricos e de exemplos de empresas que o praticam.

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27

1.6. A questão problema e as questões de pesquisa

1.6.1. Objetivo geral

Seguindo o raciocínio explicitado acima, cabe uma análise mais detalhada do problema.

Segue abaixo uma série de questões que, se respondidas afirmativamente, ajudam a responder

a questão central deste estudo, que diz respeito ao impacto real do marketing de

relacionamento na lucratividade das organizações que o adotam.

Recordando a questão central e objetivo primordial do estudo:

Qual é o verdadeiro impacto econômico do marketing de relacionamento para as

organizações que o utilizam?

1.6.2. Objetivo específico

Cada uma das questões de pesquisa a seguir é, por sua vez, quebrada em sub-hipóteses, que

ajudam a dar sustentação à hipótese formulada.

Questão 1 (Q1):

Houve lucro na empresa no último exercício?

Sub-questões da Questão 1:

Quando foi iniciado o Programa de Relacionamento?

Quais os resultados nos anos anteriores à implantação do Programa de

Relacionamento?

Questão 2 (Q2):

Qual a contribuição do Programa de Relacionamento para o lucro da empresa?

Sub-questões da Questão 2:

O Programa de Relacionamento foi o único responsável pelo bom resultado da

empresa?

Caso não tenha sido o único responsável pelo bom desempenho, que outros fatores

contribuíram?

Há como se descobrir o percentual exato (ou aproximado) da contribuição do

Programa de Relacionamento no resultado da empresa?

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28

Questão 3 (Q3):

O Programa de Relacionamento é, em si, lucrativo para a organização?

Sub-questões da Questão 3:

Quais os valores aplicados no Programa de Relacionamento?

Qual a razão investimento/lucro do Programa de Relacionamento?

Questão 4 (Q4):

Dentre os benefícios auferidos pelo Programa de Relacionamento, a empresa vê

resultados intangíveis (maior percepção de marca, o próprio programa como um diferencial,

preocupação da concorrência, exposição na mídia)?

Sub-questões da Questão 4:

Como o cliente percebe o Programa de Relacionamento?

Como o mercado percebe o Programa de Relacionamento?

Como a mídia percebe o Programa de Relacionamento?

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29

2. Revisão da literatura

2.1. O marketing de relacionamento no contexto da qualidade

Todo e qualquer trabalho de investigação científica, não importa qual seja o seu tema,

necessita alicerçar-se em duas bases complementares: a consulta a material já publicado e a

coleta de dados em laboratório ou em campo.

Na visão de Minayo (1999), o material publicado é o conhecimento anterior,

construído por outros estudiosos e que iluminam a pesquisa. Ou, parafraseando o físico Isaac

Newton (1643-1727), “é possível enxergar mais longe quando se está de pé nos ombros de

gigantes”. Sob essa ótica, o material existente é utilizado no processo de investigação com o

objetivo de explicar ou possibilitar a compreensão de um fenômeno, processo ou conjunto de

fenômenos e processos, funcionando como um sistema já organizado de conceitos e

afirmativas que visa orientar a obtenção e análise dos dados. Ainda segundo Minayo, a teoria

possui um caráter abstrato, oferecendo “[...] explicações parciais da realidade [...]”.

Para Minayo (1999) “[...] a teoria e metodologia caminham juntas, intricavelmente

inseparáveis [...]”. Gil (1999) concorda, afirmando que a análise e interpretação dos dados

coletados na investigação requerem o cotejo dos dados coligidos em campo com o material

publicado. Para Gil (1999), o material publicado deve ser utilizado em todas as fases da

investigação, desde o seu planejamento até a sua conclusão.

É fato sabido que um conjunto de práticas consolidadas serve para embasar teorias.

Para a elaboração de uma teoria é indispensável a realização de um número de observações,

em quantidade tal que permita estabelecer que determinados comportamentos, na maioria dos

casos, se repetem. Por meio da interação entre teoria e prática, podem-se estabelecer leis

gerais de funcionamento, de acordo com o que foi observado.

A revisão da literatura é um poderoso recurso que possibilita a definição do sistema

conceitual, tornando-se importante também por permitir o levantamento da origem e evolução

do tema a ser investigado e a identificação de seu atual estágio de desenvolvimento (GIL,

1999).

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30

2.1.1. Algumas definições para situar questões relativas a clientes, marketing e

qualidade

Antes de um maior aprofundamento do assunto, convém situar o marketing de

relacionamento diante do marketing tradicional, usando as palavras de seus principais

teóricos, aproveitando para definir outros termos que serão utilizados no decorrer do trabalho.

A clássica definição de Kotler (2000) para o marketing serve como abertura e

contraponto para as seguintes: “Marketing é a atividade humana dirigida para a satisfação das

necessidades e desejos, através dos processos de troca”.

Cabe ressaltar que necessidades humanas são aquelas mais básicas, ligadas à

sobrevivência imediata, como alimentação, abrigo e segurança e são inatas ao ser humano,

desvinculando-se de pressões sociais. Já os desejos são carências que devem ser satisfeitas por

necessidades específicas, sendo continuamente moldados e remoldados por forças e

instituições sociais tais como família, escola, religião, empresas e clubes, dentre outros. Os

desejos e necessidades humanos são, então, satisfeitos por meio de produtos, ofertas ou

soluções que consistem em bens físicos, serviços, idéias, sentimentos e emoções.

Pirâmide das necessidades humanas de Maslow

Figura 2. Pirâmide das necessidades humanas de Maslow (1970)

Page 31: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

31

Por cliente entende-se primariamente o chamado cliente externo, aquele que adquire

produtos e usufrui de serviços oferecidos sem participar de sua produção. Para qualquer

organização, o cliente é a sua única razão de existir. Sem clientes, não há negócio, portanto,

cabe a qualquer organização se esforçar para saber quem são os seus clientes e procurar

satisfazê-los em seus desejos e necessidades.

Apenas a título de lembrete, cabe esclarecer que há outros tipos de clientes, dentre os

quais destacam-se especialmente os clientes internos, definidos como os funcionários da

organização que produz; e os clientes da concorrência que, embora não comprem de uma

empresa especificamente, ajudam a compor aquilo que se chama de mercado consumidor.

No tocante à satisfação do cliente, Fournier et al (1999) argumentam que a

mensuração da satisfação do cliente não deve ser simplesmente uma questão de análise da

expectativa versus desempenho efetivo de determinado atributo do produto/serviço, por

considerar que essa seria uma mensuração realizada de forma estática. Afirmam que o foco

deve ser mais profundo e propõem uma vinculação da satisfação com o produto/serviço à

melhor qualidade de vida proporcionada ao cliente.

Para entendermos os conceitos de Relacionamento com Clientes e Conhecimento

sobre Clientes e Mercado é preciso inseri-los numa visão mais abrangente de Qualidade e

Excelência. Para tal, vamos nos valer das descrições e conceitos dos diversos estudiosos que

se dedicaram ao assunto desde o início do século XX.

Juran (1990) define a qualidade de diversas maneiras: “um dos significados da

qualidade é o desempenho do produto”, “outro significado é a ausência de deficiências”. Mas

a definição mais simples e mais conhecida é aquela que define qualidade como “adequação ao

uso” (Juran, 1992) ou seja, ela é definida a partir do ponto de vista do usuário e deve ser vista

de maneira global e holística em todos os aspectos do gerenciamento em uma organização.

Para Crosby (1994), qualidade significa conformidade. Ausência de qualidade é não

conformidade. Conformidade é estar de acordo com algum parâmetro. A questão fundamental

da qualidade está baseada em como a organização se adequa para atender a esses parâmetros.

Ela envolve então a utilidade, adequação e satisfação do produto ou serviço aos clientes e

mercados.

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32

Estendendo a definição, entramos na filosofia da administração da qualidade, que,

segundo Crosby (1994), é o cumprimento dos requisitos. Não se trata pois de uma adequação

aos requisitos, mas de uma fiel conformidade aos mesmos. E o que são requisitos? São

respostas a perguntas formuladas pelos clientes. Tais requisitos devem ser facilmente

compreendidos por todos, respeitados e jamais alterados, a não ser por intermédio de acordo

entre aqueles que os criaram. Para que todos os requisitos dos clientes sejam cumpridos e com

isso se obtenha a qualidade dos produtos e serviços que eles querem, cabe então à gerência

realizar “três tarefas básicas: estabelecer os requisitos que os empregados devem cumprir;

fornecer o material de que necessitam para cumprir tais requisitos; e permanecer incentivando

e ajudando os empregados a cumprir tais requisitos” (CROSBY, 1994).

Deming (1990) complementa: "a qualidade só pode ser defendida em temos de quem a

avalia", ou seja, o usuário do produto.

Na visão de Moller (1993): "A qualidade da empresa pode ser definida pelo grau até o

qual o desempenho global de uma empresa ou organização satisfaz as exigências e

expectativas técnicas e humanas". Segundo ele, "essas exigências e expectativas são fixadas

tanto pelo mundo exterior como pelos próprios funcionários da empresa". Nessa abordagem,

está implícito que a qualidade resulta da conjunção dos esforços de todos os elementos

envolvidos com a organização, tanto dentro quanto fora dela.

Seguindo esta linha de raciocínio, Juran (1992) afirma que é possível generalizar um

roteiro para o planejamento da qualidade - uma seqüência invariável de etapas listadas a

seguir:

� identificar quem são os clientes;

� determinar as necessidades desses clientes;

� traduzir essas necessidades à nossa linguagem;

� desenvolver um produto de modo a atender tanto às nossas necessidades quanto às

dos clientes;

� desenvolver um processo que possa fabricar o produto;

� otimizar o processo;

� provar que o processo pode fabricar o produto em condições normais de operação;

� transferir o processo aos meios de produção.

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33

O trabalho de Garvin (1992) pode ser considerado definitivo na definição do termo

qualidade em sua dinâmica quando mostra que o conceito sofre modificações simultâneas às

atividades de concepção, projeto, fabricação e comercialização do produto. A partir dessas

constatações, Garvin listou cinco abordagens para a definição da qualidade:

Abordagem transcendental: é a visão da qualidade como algo inerente ao produto,

embora sempre ligada a seu funcionamento. Neste caso, ela não pode ser medida

precisamente e o seu reconhecimento ocorre pela experiência.

Abordagem centrada no produto: a qualidade é vista como uma variável passível de

medição, podendo, inclusive, ser precisa. Nesta visão, diferenças da qualidade são

observáveis pela medida da quantidade de alguns atributos característicos do produto.

Em geral, quanto maior a quantidade e extensão desses atributos, maior a qualidade.

Uma questão nesta abordagem é que alta qualidade implica em maiores custos.

Abordagem centrada no valor: boa qualidade é obtida quando o produto apresentar

alto grau de conformidade a um custo aceitável. Aqui, reúnem-se necessidades do

consumidor às exigências de fabricação, definindo qualidade em termos de custos e

preços. Teríamos o melhor produto possível, dentro do menor custo possível,

chegando ao consumidor pelo menor preço possível.

Abordagem centrada na fabricação: a qualidade é a conformidade com

especificações básicas, determinadas no nível do projeto. Qualidade é atender aos

requisitos e melhorias de qualidade consideradas como redução do número de desvios

do projeto, representando redução de custos.

Abordagem centrada no usuário: a qualidade de um produto é condicionada ao grau

que ele atende às necessidades e conveniências do consumidor. A avaliação do usuário

em relação às especificações são os únicos padrões definidores da qualidade. Esta

abordagem tende a englobar as demais.

As abordagens listadas acima podem estar presentes num mesmo ambiente: o

reconhecimento que esses conceitos podem coexistir serve de estímulo para a melhoria do

diálogo entre fornecedores e consumidores. Mas, embora sob diferentes enfoques, a ênfase no

consumidor é o aspecto mais importante das dimensões em que Garvin desenvolveu sua obra.

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Parasuraman (1985) declara que as percepções de qualidade dos consumidores são

influenciadas por uma série de desvios que ocorrem nas organizações e podem ser medidas

através das seguintes cinco dimensões:

� confiabilidade, que diz respeito à capacidade de realizar o serviço com precisão e

de uma forma que merece confiança;

� tangibilidade, que se relaciona com a aparência das instalações físicas, com o

equipamento, o pessoal e com os materiais de comunicação;

� rapidez, que se relaciona com a vontade de ajudar o cliente e fornecer um serviço

imediato;

� segurança, que se relaciona com o conhecimento e cortesia dos empregados e com

a sua capacidade para inspirar confiança;

� empatia, que diz respeito ao carinho e à atenção individual prestada ao cliente.

Para Pegoraro (1999), “qualidade gera fidelidade, expansão de clientela, garante

mercado e proporciona maiores lucros.”

Feigenbaum (1999), por sua vez, conceitua a qualidade como “um conjunto de

características incorporadas ao produto, através de projeto e manufatura, que determina o grau

de satisfação do cliente”.

Diversos países instituem prêmios de excelência ou de qualidade para aumentar a

competitividade de suas empresas. Uma característica comum a todos eles é possuir um

critério de avaliação centrado na satisfação do cliente. Isso apenas reforça a importância, já

mencionada, do cliente para a organização que produz, independente de prêmios.

Diante disso, há uma crença corrente no mercado de que as organizações podem

aumentar sua lucratividade por meio da satisfação dos clientes. Entretanto, na visão de

Kandampully e Suhartanto (2000), os estudos mostram que a satisfação por si não é

suficiente, uma vez que não há garantia de que um cliente satisfeito repita a compra de um

produto ou serviço. Todavia, concluem que existe de fato uma relação entre satisfação do

cliente e a sua lealdade.

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Reichheld (1996) afirma que a tentativa de mensurar a satisfação pode conduzir a

erros, uma vez que é um esforço para medir um estado emocional, enquanto que é o

comportamento que realmente faz a diferença. Ele segue questionando se não seria a

mensuração da retenção de clientes, através da taxa anual de retenção, freqüência de compras

e fatia da carteira dos clientes (share of wallet), que definiria essa satisfação.

Gianesi e Correa (1994) afirmam que as expectativas dos clientes se formam sob a

influência de dois fatores: o conhecimento prévio do serviço [ou produto] e as suas

necessidades. O primeiro permite ao cliente um maior senso crítico e as segundas são as

principais fontes de expectativas. Uma vez criada a expectativa, o cliente passa a considerá-la

como fator decisivo, mesmo que seja diferente de suas necessidades originais.

Para Berry (2002), as expectativas dos clientes são dinâmicas, como um alvo móvel.

As organizações devem considerar um aumento contínuo das expectativas dos clientes em

relação ao serviço. Isso se deve em parte às experiências dos clientes junto a organizações

excelentes que lhes servem de exemplo do que é possível obter em termos de serviços.

Através da excelência do serviço prestado, as próprias organizações estimulam seus clientes a

elevar cada vez mais suas expectativas.

É papel de um marketing eficiente gerenciar as expectativas e a demanda dos clientes

em relação a sua oferta de produtos e serviços.

2.1.2. Qualidade e valor

“O que importa é valor e não preço”, a frase de Robert T. Lindgren define bem a

questão de valor numa transação comercial. Por que pessoas estão dispostas a pagar mais por

um produto aparentemente igual a tantos outros no mercado? Se está mais do que estabelecido

que qualidade é um pressuposto básico, qual seria essa diferença que justifica um adicional no

preço pago?

Em primeiro lugar, cabe definir algumas diferenças entre preço, custo e valor, termos

comumente utilizados como sinônimos. Preço é a quantia exigida como pagamento por quem

vende e aceita por quem compra. Custo é a quantia que quem produz gasta para produzir

aquilo que oferece ao mercado. Valor é um conceito subjetivo que um comprador atribui a

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36

algo que adquire. A escassez é determinante de valor. Água no deserto vale mais que em outra

área mais irrigada do planeta. Há, entretanto, outros fatores que acrescentam valor para um

comprador: exclusividade (uma outra forma de criar escassez), design, boa reputação no

mercado, imagem, etc.

Berry e Parasuraman (1992) entendem valor como o resultado da avaliação, por parte

do consumidor, da total utilidade do produto ofertado, tendo por base a sua percepção entre o

valor pago e o que está recebendo em troca. O monitoramento constante da percepção do

cliente em relação ao produto oferecido é premissa essencial para o sucesso. Quaisquer

desvios devem ser tratados imediatamente, sob pena de danos à imagem da empresa junto ao

público. Dessa forma, na visão de Grönroos e Ravald (1996), a preocupação de atender e

superar as expectativas dos clientes torna-se fundamental e a habilidade da empresa em

oferecer valor superior aos seus clientes foi considerada como uma das estratégias

competitivas de maior sucesso nos anos 90.

Segundo esses autores, a adição de valor pode ser entendida como um importante

componente do marketing de relacionamento. Assim, a oferta de valor é destinada a criar a

lealdade no cliente de forma duradoura e mutuamente lucrativa, intensificando, como

conseqüência, o relacionamento de longo prazo. É preciso não confundir adicionar valor no

longo prazo com acrescentar bugigangas e agrados sem utilidade real para o cliente. Um

chaveiro pode atrair um novo cliente para uma primeira compra, mas nenhuma coleção de

chaveiros pode fazê-lo ficar.

Bretzke apud Ribeiro da Silva (2001; 2000) oferece uma matriz que ilustra as

diferentes dimensões dos processos da empresa em relação ao atendimento de seu cliente,

com forte ênfase na questão do valor para ele.

Figura 3. Dimensões do processo de atendimento na criação de valor. Fonte: Bretzke (2000)

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37

A constante adição de novos serviços pode se tornar um beco sem saída para a

empresa. Para Grönroos e Ravald (1996), a situação pode terminar em empate técnico: a

empresa oferece mais e precisa aumentar os preços para manter os serviços. O cliente tem

mais, mas também paga mais, e a diferença assim como o valor percebido permanecem zero.

Na visão de Duffy (2002), esse pode ser o problema com programas de lealdade

baseados em milhas e pontos. Para Gordon (1999), marketing de relacionamento é o

“ […] processo contínuo de criação e compartilhamento de valores com os clientes que a

empresa escolhe atender, […] [reconhecendo] a importância de se aprender com os clientes a

criar o valor que cada um deseja […]”.

Se o objetivo da adição de valor é o fortalecimento dos laços com o cliente, essa

adição não precisa se limitar à agregação de valor nas características do que lhe é oferecido. A

percepção de valor por parte do cliente precisa transcender o nível episódico e atingir o nível

do relacionamento, conforme a figura abaixo:

Figura 4. Efeito da estratégia de agregação de valor em um relacionamento de longo prazo

Fonte: Grönroos, e Ravald (1996).

Page 38: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

38

2.1.3. O marketing e a qualidade de serviços no panorama da economia

O senso comum e a maioria dos autores preocupados com o tema qualidade centram

seu foco no produto. Por mais que se queira entender produto como o produto ampliado, isto

é, o bem físico que o cliente adquire acrescido de serviços complementares como garantias,

assistência técnica, etc., como situar a indústria de serviços nesse panorama, uma vez que o

marketing de relacionamento se propõe a estender o contato com o cliente para muito além da

venda?

Para Boone e Kurtz (1998), serviços são tarefas intangíveis que satisfazem as

necessidades do consumidor ou da empresa usuária. Diante dessa ótica, percebe-se que há um

mercado diferente para serviços em virtude de suas características muito específicas, a saber:

� serviços são intangíveis;

� serviços são inseparáveis do prestador dos serviços;

� serviços são perecíveis;

� a padronização dos serviços é difícil;

� os compradores geralmente estão envolvidos com o desenvolvimento e com a

distribuição dos serviços;

� a qualidade dos serviços é muito variável.

Cada tipo de serviço é afetado diferentemente por cada uma dessas características.

Diversos especialistas dedicaram-se ao estudo do marketing de serviços. A chamada escola

nórdica, composta por Grönroos e Gummesson, e os especialistas Parasuraman, Zeithaml e

Berry são alguns dos mais destacados.

Analisam-se a seguir os modelos propostos por eles.

A abordagem de Grönroos (1984) fundamenta-se nas teorias comportamentais

centradas no consumidor, particularmente nas expectativas deste em relação ao desempenho

de produtos baseadas em pesquisas pós-consumo. O autor admite que a percepção de

qualidade pelo cliente está associada à amplitude e diversidade da experiência de serviço a

que ele se expõe, podendo ainda haver uma influência considerável de fatores não-técnicos

nesse processo. Como o cliente é o objetivo, o fenômeno do serviço precisa ser enfocado a

partir de sua perspectiva.

Page 39: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

39

A percepção de qualidade por parte do cliente é influenciada pela imagem que ele tem

da empresa. Essa imagem funciona como um filtro através do qual ele seleciona os fatores

mais relevantes na construção de sua relação cliente-empresa. Se a imagem da empresa

percebida pelo cliente for boa, pequenos deslizes podem ser relevados. Se, por outro lado, a

percepção já for negativa, uma falha pequena poderá assumir proporções gigantescas.

A qualidade funcional e técnica da empresa prestadora de serviços têm apenas um

impacto marginal na qualidade percebida total. As expectativas do cliente têm papel relevante

na percepção da qualidade como um todo. Esta última é, na verdade, a resultante entre a

qualidade esperada e a qualidade efetivamente experimentada no momento da interação. Ela

só é positiva quando a qualidade experimentada for maior ou pelo menos igual à esperada.

Segundo Grönroos (1984), há vários fatores que influenciam a qualidade esperada,

dentre eles destacam-se as necessidades do cliente, a imagem da empresa, o marketing da

empresa e a recomendação de outros clientes. Dessas, as necessidades são de controle

exclusivo do cliente, ao passo que o marketing e suas ferramentas são de controle da empresa

que presta os serviços. Imagem e propaganda boca a boca são de controle bem mais tênue por

parte do prestador de serviços. O histórico de desempenho da empresa e a sua utilização

eficaz da comunicação serão os maiores responsáveis pelo impacto sobre esses fatores. O

gráfico abaixo descreve o modelo de qualidade de serviço de Grönroos.

Figura 5. Modelo de qualidade de serviço de Grönroos (1984).

Gummesson (1987) inicialmente preocupou-se com a qualidade de bens, focando seus

estudos na empresa nórdica Ericsson. Cedo ele percebeu que a qualidade na indústria estava

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40

atrelada à qualidade dos serviços agregados, aproximando-se da visão de Grönroos, em que a

qualidade é percebida pelo cliente através de sua satisfação.

Por mais que a qualidade técnica e funcional tenham o seu papel na construção da

qualidade, a percepção do cliente ainda é a questão chave. Cumpria então criar um modelo no

qual a qualidade externa fosse operacionalizada pela administração da qualidade interna,

buscando as origens e as fontes da qualidade.

Gummesson identificou quatro tipos de qualidade – os 4 Qs – como origens da

qualidade percebida e da satisfação do cliente. Segundo ele, qualidade de projeto, qualidade

de produção, qualidade de entrega e qualidade relacional devem fazer parte do esforço da

empresa em atingir a satisfação do cliente, com o envolvimento em maior ou menor grau de

todos os funcionários da empresa na consecução do objetivo.

A grande novidade em Gummesson, para fins deste estudo, está na introdução do

conceito de qualidade relacional. Qualidade de projeto e de produção sempre foram uma

preocupação de qualquer indústria. A qualidade de entrega diz respeito à distribuição,

fundamental para se chegar ao mercado consumidor. A qualidade relacional de Gummesson

encontra eco em McKenna (1994). Para Gummesson, o que importa é o índice de sucesso na

criação de relacionamentos externos com clientes, agentes e outros parceiros e

relacionamentos internos entre áreas de negócios da empresa, subsidiárias, divisões,

departamentos e pessoas. A qualidade relacional envolve pessoas em um nível individual,

estabelecendo relacionamentos. No que tange o cliente, comunicar e ouvir é um passo em

direção à lealdade. Cabe ressaltar que o conceito de cliente interno, já mencionado, é um

conceito de Gummesson.

Daí, somando-se os 4 Qs à imagem da empresa, expectativas e experiências do cliente,

tem-se o modelo de qualidade de Gummesson, reproduzido no quadro abaixo:

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41

Figura 6. Modelo de qualidade de Gummesson (1987).

Dados os diversos pontos de contato entre as pesquisas de Gummessson e Grönroos

(1987), os dois autores juntaram esforços para produzir um modelo conjunto que abrangesse

suas visões, integrando-as na oferta de um produto ampliado de qualidade, ao invés de bens e

serviços isoladamente.

Os principais pontos de contato e concordância são:

� O cliente e sua percepção de qualidade são o ponto de partida, e essa percepção é

determinada pelas suas expectativas, experiências e pela imagem que ele tem da

empresa.

� A experiência total que leva à percepção de qualidade é uma experiência subjetiva.

� Todos na empresa são responsáveis pela qualidade, não havendo relação entre

cargo e função e qualidade.

Por outro lado, as principais divergências são:

� Para Grönroos, a qualidade é percebida pelo cliente por dois vetores principais:

� A qualidade técnica responde por aquilo que o cliente efetivamente recebe.

Page 42: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

42

� A qualidade funcional responde pelo como, ou seja, pelo processo de

produção.

� Gummesson tem nos 4 Qs (projeto, produção, entrega e relacionamento) a base de

seu conceito.

O modelo conjunto foi formulado com pequenas adaptações na ordem dos conceitos

originais e com um foco mais acentuado nos serviços. O modelo também prevê o visível e o

invisível no serviço. Sob essa ótica, a produção do produto não é visível para o cliente, mas

este tem um resultado visível e palpável em mãos. A garantia do produto atua para

materializar de forma visível um serviço invisível.

Pode-se falar aqui do produto ampliado, em que bens e serviços se aliam para formar

um novo conjunto. A qualidade percebida pelo cliente será tanto maior quanto for a interação

entre as diversas atividades que levem a esse produto final.

O modelo conjunto da qualidade de Gummesson e Grönroos (1987) é entendido

através de dois componentes para alguns dos itens dos 4 Qs:

Qualidade de projeto;

Qualidade de produção (visível ou invisível) (interativa ou não-interativa);

Qualidade de entrega (feita pelo produtor ou por terceiros);

Qualidade relacional do processo de produção do serviço.

Esta última influenciando também como o cliente percebe o resultado de sua aquisição

(qualidade técnica) e o processo (qualidade funcional).

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43

Figura 7. Modelo de qualidade de bem e serviço de Grönroos e Gummesson (1987).B113

Os estudiosos Parasuraman, Zeithaml e Berry estão envolvidos com pesquisas de

qualidade em serviços desde 1983. Com o decorrer dos anos, seu trabalho consolidou-se em

um modelo que integra as diversas dimensões do serviço. Inicialmente, pesquisaram-se os

conceitos e os principais atributos da qualidade em serviços sob a ótica da administração das

empresas prestadoras e de seus clientes e as eventuais discrepâncias entre ambas as visões. As

empresas pesquisadas foram uma corretora de imóveis, uma de manutenção e conservação de

bens, um banco de varejo e uma administradora de cartões de crédito. Realizaram-se

entrevistas prolongadas com os prestadores e mesas-redondas com clientes.

Entre os prestadores de serviços, observou-se uma relativa homogeneidade de padrões,

mesmo diante das diferenças evidentes no tipo de serviço prestado. Quatro discrepâncias ou

hiatos (gaps, em inglês) foram observados entre a percepção dos executivos e as diversas

etapas do processo até a entrega final ao cliente. Esses hiatos constituíam a principal barreira

à prestação de um serviço de qualidade na visão do cliente.

O primeiro dos quatro hiatos diz respeito às diferenças de percepção entre as

expectativas do cliente e a visão da administração para atendê-los.

Page 44: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

44

O segundo diz respeito à percepção da administração no que tange às expectativas dos

clientes e suas especificações para atendê-las. O maior problema aqui não é o

desconhecimento das expectativas, mas outras questões, como o não envolvimento da alta

administração no problema, restrições orçamentárias e condições do mercado.

O terceiro hiato envolve a distância entre as especificações de qualidade de serviço e o

serviço efetivamente entregue.

O quarto hiato relaciona-se à comunicação e o seu papel na criação de expectativas

não realizadas pela efetiva prestação do serviço. Prometer e não entregar o prometido é a face

mais visível, mas outros exageros na comunicação também afetam negativamente a percepção

de qualidade por parte do cliente.

As pesquisas com os clientes também demonstraram uma certa regularidade nas

visões. Um ponto a ser destacado envolve o desejo do cliente de ver as suas expectativas

ultrapassadas. Haveria aí uma quinta lacuna, envolvendo o serviço esperado e o serviço

percebido. A percepção de qualidade resulta da diferença entre o serviço oferecido e a

expectativa do cliente.

Os três pesquisadores basearam o seu modelo nesses cinco hiatos, compreendendo a

natureza do objeto de estudo e os fatores que o originam. Dessa forma, a qualidade de serviço

percebida pelo cliente é demonstrada pelo inverso do quinto hiato, relacionado com os quatro

anteriores.

Page 45: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

45

Figura 8. O modelo dos 5 hiatos (gaps) de Parasuraman, Berry e Zeithaml (1990).

Seguindo suas pesquisas, Parasuraman, Zeithaml e Berry (1990) desenvolveram uma

escala com diversos fatores para medir a percepção da qualidade do serviço por parte do

cliente, o quinto hiato.

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46

Gerou-se uma tabela com 97 itens refletindo diversos aspectos externos da qualidade

de serviço. Cada um dos itens foi listado em duas colunas: uma para medir as expectativas das

empresas em geral, dentro de uma mesma categoria em estudo, e outra para medir as

percepções em relação a uma empresa específica, cuja qualidade de serviço estivesse sendo

estudada.

As expectativas foram agrupadas de um lado e as percepções de outro e a lista foi

submetida a um processo de aperfeiçoamento que envolvia dois estágios posteriores. O

primeiro objetivava a aglutinação dos itens capazes de expressar as percepções de qualidades

diferentes a respeito de empresas em categorias diferentes. O segundo visava o exame da

dimensão da escala e o estabelecimento da fidedignidade de seus elementos. A lista terminou

com apenas 22 itens, estruturados ao redor das cinco dimensões externas da qualidade de

serviço, quais sejam: tangibilidade, confiabilidade, presteza, capacitação e empatia. Houve um

desdobramento posterior, no qual se retiveram apenas os aspectos de conteúdo positivo.

Em uma terceira fase, os pesquisadores somaram ao modelo as dimensões internas da

qualidade de serviço que haviam identificado: orientação de pesquisa de mercado,

comunicação eficaz em todos os níveis, níveis gerenciais, comprometimento da administração

com a qualidade de serviço, estabelecimento de metas, padronização de tarefas, percepção de

factibilidade, trabalho em equipe, ajustamento de funcionários e trabalho, ajustamento de

tecnologia e trabalho, percepção de controle, sistemas de controle de supervisão, conflito de

papéis, ambigüidade de papéis, comunicação horizontal, e propensão a prometer além do

possível. Como resultado, apresentaram uma versão estendida do modelo, englobando as

dimensões internas e externas da qualidade de serviço, como se pode ver no quadro a seguir.

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Figura 9. Modelo estendido de qualidade de Parasuraman, Zeithaml e Berry (1990).

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48

O maior mérito do modelo de Parasuraman, Zeithaml e Berry (1990) é o de prover as

empresas de um instrumento que lhes permite uma maior eficiência na gestão da qualidade de

serviço, com escalas para a mensuração de todas as relações importantes.

2.2. O marketing direto como instrumento do marketing de relacionamento

2.2.1. Um breve histórico do marketing de relacionamento

Após a apresentação dos conceitos introdutórios para a compreensão do tema, cabe

uma análise, o mais detalhada possível, do histórico e do que seja de fato o relacionamento

com o cliente, à luz do que dizem os diversos especialistas no assunto. Ver-se-á a seguir como

o relacionamento com o cliente evoluiu a partir dos princípios do marketing direto; as

principais diferenças entre o marketing direto e o marketing de massa, aí incluída a

publicidade; as estratégias e táticas utilizadas e as diversas fases por que passou o marketing

direto até chegar ao marketing de relacionamento individualizado.

Antecedendo essa introdução histórica, cabe uma definição para marketing direto:

"Qualquer atividade promocional que crie e explore um relacionamento direto entre você e o

seu cliente ou comprador como indivíduos" (BIRD, 2000).

Alguns autores afirmam que toda transação comercial na era pré-industrial era uma

transação de marketing direto, por ser individual e por estar centrada nos interesses e

necessidades do cliente. Este estudo entende, entretanto, que o marketing direto como prática

deliberada de conhecer o cliente para servi-lo melhor surgiu depois da massificação da era

industrial.

Não é possível falar em relacionamento com o cliente sem situá-lo num contexto histórico

que vem desde os primórdios do marketing direto nos Estados Unidos, na segunda metade do

século XIX.

A expansão para o oeste, levada a cabo pelos primeiros aventureiros que deixaram as

pequenas cidades da costa leste e das treze colônias originais em busca de terras férteis e

outras riquezas, trouxe consigo a necessidade de se levar todo o conforto possível para o

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49

sertão inóspito. No início, tudo o que se poderia levar deveria caber numa carroça. Armas e

ferramentas eram gêneros de primeira necessidade e o pioneiro tinha que viver do que a

natureza lhe fornecia, construindo casa e móveis a partir da madeira das florestas.

No entanto, foi apenas depois da descoberta de ouro na Califórnia, em 1848, que uma

riqueza mais abundante para uns poucos felizardos começou a trazer a necessidade de alguns

luxos vindos do leste.

Um lojista empreendedor chamado Aaron Montgomery Ward percebeu a necessidade

e tratou de atendê-la, vendendo itens necessários através de um catálogo simples, a partir de

1872 (HANSON, 2002).

O sistema só fez crescer ao longo dos anos, e diversos concorrentes surgiram, dentre

eles, o mais famoso e longevo foi a Sears & Roebuck, que se tornou um poderoso

conglomerado e está em atividade até hoje.

Graças ao eficiente sistema de correios herdado dos colonizadores britânicos e à

subseqüente construção e expansão da rede ferroviária, foi possível entregar de ferramentas e

roupas a pianos de cauda em todo o território americano.

A venda por catálogos cresceu junto com o país e com a espantosa expansão de uma

economia próspera até o início da depressão, na década de 1930.

Mesmo durante as guerras, a venda por catálogos continuou a crescer. Essa atividade

ainda hoje movimenta US$ 250 bilhões nos Estados Unidos, segundo dados da ABEMD –

Associação Brasileira de Marketing Direto –, publicados no site www.mktdireto.com.br, em

sua edição de 7-11 de outubro de 2002.

A depressão pode ter momentaneamente trazido uma queda nas vendas. As empresas

mais ousadas, então, souberam refazer suas ofertas para ajustar-se ao encurtamento do

dinheiro disponível para as compras. Os anos do entre-guerras foram fartos na oferta de

quinquilharias baratas para facilitar o dia-a-dia da dona de casa, conforme atestam os diversos

catálogos da época.

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50

A prosperidade do pós-guerra e a mudança radical de estilo de vida decorrente da

saída da mulher do trabalho doméstico para o emprego fora de casa e da disseminação do uso

da energia elétrica trouxe consigo a era da venda dos eletro-eletrônicos, tanto via os já

tradicionais catálogos quanto por intermédio dos vendedores porta-a-porta.

Para assegurar um fluxo constante de compras, algumas empresas imaginaram formas

de reter o cliente, levando-o a repetir a compra, fosse do mesmo artigo, ou de outros

oferecidos no estoque. Diversas táticas foram testadas e a mais bem-sucedida foi o clube de

compras, em que o cliente se comprometia a adquirir um mínimo de produtos a intervalos

regulares. Dentre esses clubes, os que ofereciam livros tornaram-se os mais populares e foram

os mais lucrativos. As fórmulas podiam variar um pouco, mas o princípio básico permanecia

o mesmo: a empresa oferecia uma lista de títulos dentro de uma periodicidade pré-

determinada, geralmente uma vez a cada mês, e o cliente adquiria aqueles de seu interesse,

devendo fazer a aquisição de pelo menos um volume a cada compra.

Diversos outros produtos passaram a ser oferecidos dessa forma, incluindo discos de

música – com o seu ápice na década de 1950, depois da introdução do sistema Hi-Fi – até a

venda de cafés de luxo, levada a cabo por Lester Wunderman, na década de 1980

(WUNDERMAN, 1996).

Coube à empresa carioca Casa Pratt a introdução do conceito de venda por catálogo no

Brasil, em 1935 (ALBUQUERQUE, 2001).

Com relação às vendas diretas porta-a-porta, um capítulo à parte do marketing direto,

o mesmo princípio de retenção da clientela foi aplicado, dessa vez através do vendedor, que se

tornava um consultor de confiança do cliente, oferecendo-lhe os produtos mais adequados à

sua necessidade, a partir da lista oferecida nos catálogos disponibilizados por ele. O modelo

mais famoso desse sistema de vendas foi, e ainda é, a Avon, com a venda de produtos de

beleza e higiene pessoal. O sistema Avon foi copiado e aperfeiçoado para a venda de diversos

outros produtos. O sucesso do modelo está na confiança estabelecida entre o cliente e o

vendedor e na lealdade à marca, daí decorrente.

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51

2.2.2. Algumas definições para situar o marketing de relacionamento

Segundo McKenna (1994), somente uma relação pessoal é capaz de manter a

fidelidade do cliente, e a empresa competitiva deve estar sempre orientada para o mercado,

visando estabelecer relacionamentos não só com clientes, como também com fornecedores,

distribuidores, funcionários e acionistas, a chamada teia ou rede de relacionamentos.

Partindo de McKenna, no que tange ao relacionamento dentro da própria organização,

Gummesson (1998) defende a associação entre rentabilidade e marketing de relacionamento e

enfatiza a lealdade, retenção de clientes e relacionamentos de longo prazo como peças chave.

Segundo ele, o aumento da qualidade percebida pelos clientes aumentará a satisfação e

lealdade dos clientes e, por conseqüência, a rentabilidade. Parte dessa percepção refere-se à

satisfação do funcionário atuando como suporte na retenção de clientes e na rentabilidade.

A figura abaixo demonstra a visão de Gummesson (1998) do ciclo de vida do

relacionamento com clientes.

Figura 10. Ciclo de vida do relacionamento com clientes segundo Gummesson (1998).

Uma boa qualidade do serviço externo propicia satisfação aos clientes, o que acarreta a

sua permanência como cliente. Os clientes fiéis propiciam, conseqüentemente, a alta

rentabilidade que, por sua vez, possibilita a aplicação dos recursos, oferecendo condições para

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52

a boa qualidade do serviço interno. A qualidade do serviço interno possibilita satisfação aos

funcionários, que tendem a continuar trabalhando na empresa, permitindo a boa qualidade do

serviço externo, em um ciclo contínuo.

Entretanto, Gummesson (1998) alerta que embora a lógica pareça irrefutável, o

resultado não é automático. Apenas a satisfação isoladamente não conduz à retenção e aos

lucros. O prestador de serviços deve empenhar-se em alimentar o relacionamento com os

clientes de forma sistemática, fornecendo incentivos para a repetição da compra e

incentivando a lealdade. Para ele, a chave para a rentabilidade é a retenção dos clientes e a

repetição da compra. Quanto mais longa a permanência do cliente, melhor a rentabilidade.

Na visão de Gummesson (1998), quando as empresas se preocupam com os já clientes,

elas demonstram maior interesse por fatias de clientes (customer share), ao invés de fatias de

mercado (market share). Isso significa que priorizam o atendimento das necessidades desses

clientes. Como resultado, explora-se a base existente de clientes com maior eficácia para o

aumento das vendas. Aumentando-se a retenção de clientes e a duração dos relacionamentos,

incorre-se em menores custos e, conseqüentemente, aumenta-se a produtividade do marketing.

Duffy (2002) chama a todo esse processo de “arrumar a casa”. É preciso toda uma

mudança de abordagem e de cultura para adotar o marketing de relacionamento.

Peppers e Rogers (1993) não definem o termo marketing de relacionamento, mas

referem-se continuamente a diálogo, parte essencial de qualquer relacionamento. De seu

trabalho extraiu-se a seguinte frase: “Mas em vez de vender alguma coisa em todas as

ocasiões, uma empresa que adote o diálogo terá uma visão de longo prazo e paciência para

realizar vendas durante um ciclo de vida muito mais longo da preferência do cliente. Em face

da crescente descrença do consumidor, da pressão do tempo e da impaciência, a empresa que

utiliza o diálogo continuará sendo um confiável colaborador junto aos seus clientes”.

Para Ian Gordon (1999), o marketing de relacionamento “é um processo contínuo de

identificação e criação de novos valores com clientes individuais e o compartilhamento de

seus benefícios durante uma vida toda de parceria”.

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53

Frederick Reichheld (2002) agrega o seguinte: “Lealdade é impossível sem confiança.

Esta é impossível sem informações precisas e confiáveis. Desenvolva ferramentas de

comunicação de ponta e uma capacidade avançada de escutar, para que você e seus parceiros

possam atingir níveis mais profundos de entendimento, que gerem prioridades mais claras,

medidas de coordenação e melhores resultados. Nada acentua o efeito lealdade como a

confiança acarretada pelo intercâmbio aberto, honesto e direto de informações e idéias”.

Situado o leitor com respeito a algumas definições daquilo que será tratado nas

páginas a seguir, acrescentam-se mais alguns conceitos de outros especialistas, a fim de

elucidar o tema com mais profundidade.

2.2.3. Marketing direto x marketing de massa

Nas palavras de Bob Stone (2002), “Marketing Direto é um sistema interativo de

marketing que utiliza uma ou mais mídias a fim de produzir resposta e/ou transação

mensuráveis em qualquer local”.

Essa simples definição esclarece a diferença fundamental entre o marketing direto e o

marketing de massa, na medida em que o primeiro exige a existência da interatividade,

independentemente da mídia utilizada, e pressupõe a possibilidade de mensuração exata do

retorno em respostas e em vendas a partir de diversos mecanismos especificamente

desenvolvidos para essa finalidade.

Para Tronchin (2001), sócio do Peppers and Rogers Group do Brasil, enquanto o

marketing de massa visa aumentar a base de clientes, o marketing de relacionamento tem

como objetivo aumentar o número de necessidades atendidas de um grupo específico de

clientes: os clientes de maior valor e maior potencial.

O marketing de massa visa a massa, com amplo alcance e baixo custo por milhar

atingido (CPM), promovendo produtos e marcas, criando o chamado corporate awareness, ou

percepção/imagem da empresa, sem possibilidade de mensuração exata, a não ser por meio de

pesquisas qualitativas com grupos selecionados de clientes. O seu foco está nas vendas e no

aumento da percepção da marca (brand awareness, ou percepção/imagem da marca).

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54

O marketing direto, por outro lado, visa o indivíduo, estabelecendo um diálogo e

provocando resposta imediata. O seu custo por milhar é mais elevado, mas como a taxa de

resposta é maior, o custo costuma ser compensador. Aqui, o foco está no relacionamento

continuado com o cliente, a fim de promover o aumento das vendas diretas. O maior objetivo

hoje em dia é a promoção e o estabelecimento da lealdade à marca (brand loyalty).

As equações abaixo ajudam a entender a questão:

CPM = R$ 1,00 x 1.000 contatos dispersos = 1 cliente

Custo = R$ 1.000,00 por cliente

CPM = R$ 200,00 x 1 contato direcionado = 1 cliente

Custo = R$ 200,00 por cliente

Tem-se, então, que mesmo um custo por milhar mais elevado pode traduzir-se em maior

lucratividade.

Para McKenna (1994), o foco da comunicação deslocou-se do produto para o cliente.

É ele o centro em torno do qual giram todos os esforços de comunicação das empresas. O

objetivo fundamental é trazer clientes para a empresa e retê-los pelo maior tempo possível,

levando-os a repetir a compra ao logo de muitos anos. Esse é o valor do cliente ao longo do

seu ciclo de vida, ou LTV (Lifetime Value, em inglês). Alguns autores, como Bayón et al.

(2002) chegam a propor um novo parâmetro para a análise de rentabilidade de uma

organização, baseado no cliente como um ativo. O ativo cliente vem a ser o somatório dos

valores líquidos gerados por clientes presentes e futuros de uma empresa, enquanto estes

pertencerem leais à marca ou empresa, ou seja, seu valor ao longo de seu ciclo de vida ou

LTV.

Reichheld (1996) afirma que, mesmo em um negócio de mercado de massa, não é

viável que a organização empreenda ações no sentido de atrair e reter todo mundo

indistintamente. A chave do sucesso, até mesmo para uma organização que atue no mercado

de massa, é, em primeiro lugar, identificar e, em segundo lugar, atrair aqueles que irão

valorizar seu serviço e só então retê-los como clientes.

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55

A título de conclusão, embora alguns autores considerem o marketing de massa e o

marketing de relacionamento antagônicos, há outros que avaliam o marketing de massa como

um estágio anterior do conhecimento e estratégia mercadológica, sugerindo, assim, que o

marketing de relacionamento seria uma evolução ou um refinamento posterior do marketing

de massa. Kotler (2000), entretanto, ressalta que, embora a maioria dos profissionais da área

saiba que o marketing de massa esteja virtualmente morto, ainda há aqueles que acreditam

nele.

2.2.4. DBM e a inteligência do marketing direto

Conforme reiterado seguidamente, a lealdade do cliente à marca é um dos objetivos

fundamentais do marketing direto e de qualquer sistema de marketing que vise uma relação

continuada com os clientes adquiridos.

Reicheld e Sasser (1990) demonstraram por pesquisas em diversos segmentos de

serviços que quando a empresa é bem sucedida em reduzir a taxa de evasão de clientes, sua

lucratividade sobe vertiginosamente.

Embora a aquisição de novos clientes jamais deva ser abandonada, uma vez que o

objetivo de qualquer organização é o crescimento continuado, o que não ocorre apenas pela

retenção de clientes já conquistados, é princípio mais do que estabelecido que o custo da

aquisição de um novo cliente é elevado, cerca de cinco vezes mais caro que a manutenção de

um cliente já conquistado, segundo o Forum Consulting de Boston e o Customer Institute de

Silver Spring.

Como corolário, tem-se a chamada teoria do balde furado, na qual uma organização

atrai clientes para comprar a sua marca e os deixa partir antes que venham a trazer lucro de

fato, através de compras repetidas. O cliente que compra uma única vez e não retorna pode

eventualmente se tornar um prejuízo para a empresa, uma vez que o valor de sua compra pode

ser menor que o custo de todos os meios utilizados para trazê-lo ao estabelecimento pela

primeira vez, aí incluídos os custos de publicidade de massa ou quaisquer outros meios de

atração, incluindo malas diretas, telemarketing, entre outros. Basta ver as equações expostas

anteriormente. Esse é o papel dos registros acurados do histórico das compras dos clientes.

Com o advento da informática e a popularização de programas de bancos de dados,

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56

informações antes armazenadas em fichas de papel, de registro e consulta difíceis, ou seja, o

banco de dados para marketing, ou MDB2 – Marketing DataBase, em inglês –, tornou-se a

ferramenta mais poderosa de inteligência voltada para vendas. Atualmente, informações

valiosas a respeito de todas as transações e interações do cliente com a empresa são

armazenadas e estão ao alcance imediato dos profissionais que precisam lidar diretamente

com o público, estando disponíveis também para a alta gerência no momento de traçar

estratégias empresariais.

O MDB é a ferramenta ideal para um conhecimento profundo do cliente que

possibilite uma gestão eficaz de todas as interações com ele. Essa é a essência do CRM –

Customer Relationship Management –, a gestão criteriosa de todos os contatos que o cliente

faz com a empresa, seja por que canal eles aconteçam e seja esse contato uma compra, uma

troca de mercadoria, uma reclamação ou um simples pedido de informações. Longe de ser

apenas um software, como erroneamente diversos empresários entenderam, pagando um alto

preço pela assunção de que um software caro resolveria por si só todos os problemas, o CRM

é uma questão de cultura, de uma nova postura da empresa diante de sua majestade o cliente.

Cabe ressaltar, entretanto, que o CRM não é objeto deste estudo.

Na definição de Ed Nash, o banco de dados é a compilação de nomes e endereços de

clientes individuais e potenciais para o objetivo de comunicar informações pelo correio ou

pelo telefone,3 que resultem direta ou indiretamente em vendas e lucros (NASH, 1994).

Com um banco de dados eficiente, pode-se determinar quem são os melhores clientes,

com quem se deve ter um relacionamento mais próximo e constante devido ao seu alto

potencial de lucratividade; quem são os clientes médios, com quem se deve manter uma

comunicação mais espaçada; quem são os clientes menos assíduos, com quem se deve

restringir a comunicação aos grandes eventos e promoções e até quem são os clientes ruins,

que devem ser abandonados, uma vez que trazem prejuízos à empresa. Esse é o princípio de

marketing baseado na famosa lei de Pareto,4 que diz que, geralmente, 20% dos clientes são

responsáveis por 80% dos lucros.

2 Cabe esclarecer a diferença entre MDB – o produto de informática que armazena os bits e bytes de informação sobre

clientes e o DBM – o processo de marketing que utiliza o produto para fins de inteligência e estratégia.3 A definição foi transcrita literamente do original, embora hoje sejam possíveis contatos por diversas outras vias.4 Vilfredo Pareto, sociólogo e economista italiano. 1848-1923.

Page 57: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

57

Figura 11. Gráfico ilustrando a Lei de Pareto

Para Reichheld (1996), nem todos os clientes têm o mesmo valor para uma empresa,

sendo impossível também satisfazer a todos durante todo o tempo. Assim, se alguns clientes

não são considerados como adequados, torna-se mais sensato aplicar esforços para tentar reter

apenas aqueles mais propensos a se tornarem clientes leais e advogados do produto/serviço.

Tomando a frase de Kotler (2000) quando este afirma que “[…] todos os clientes são

importantes, mas alguns são mais importantes que os outros […]”, é preciso diferenciá-los

para melhor atendê-los, respeitando suas diferenças. A popularização da informática tornou

isso possível.

Com o auxílio de computadores cada vez mais poderosos e velozes, é possível buscar

nessa grande massa de dados informações bastante precisas sobre os clientes, incluindo dados

demográficos, socioeconômicos e psicográficos, facilitando seu agrupamento em aglomerados

ou clusters com características semelhantes para o melhor direcionamento da comunicação e

da venda.

O maior diferencial do marketing direto em relação ao marketing de massa não está

apenas no maior direcionamento da mensagem e na possibilidade de segmentação e

personalização. Ele se encontra na mensuração precisa dos resultados através dos seus

diversos canais de resposta. Esse é o início do diálogo, da comunicação efetiva em duas vias

com o cliente. Não se trata de uma questão de fazer pesquisas qualitativas com grupos de

clientes para verificar o grau de retenção da mensagem ou da percepção da marca, como faz a

publicidade tradicional. Trata-se de ter resultados concretos em pedidos efetivamente

Page 58: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

58

retornados acompanhados de seus respectivos cheques. Trata-se do retorno de pesquisas

contendo dados sobre o cliente, suas preferências e comentários. Trata-se de ter um feedback

expressivo sobre a experiência do cliente com a empresa e o produto. Trata-se de saber

exatamente quem o cliente é, o que ele compra, do que gosta, do que não gosta, o que ele

deseja, e de ter todo esse valioso material ao alcance dos dedos em um banco de dados de

computador – o já mencionado marketing database ou MDB (KOBS, 1991).

Nas palavras de Peter Drucker (1975), o objetivo do marketing é conhecer e

compreender tão bem o cliente que o produto ou serviço se torne adequado a ele e se venda

por si mesmo.

Seu propósito é isolar os clientes e compradores como indivíduos e construir um

relacionamento prolongado com eles para benefício deles e melhores lucros seus (Bird, 2000),

permitindo, dessa forma, que você conheça melhor o seu cliente, sabendo precisamente aquilo

de que ele necessita, ficando assim, muito mais fácil efetuar uma venda ou oferecer-lhe um

serviço.

Figura 12. Modelo de um MDB com uma possível transformação em CRM (Desenho do autor).

Page 59: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

59

A conseqüência lógica do marketing de relacionamento é a lealdade ou fidelização do

cliente. Diversos autores têm escrito a respeito do assunto, com as empresas implantando

programas que premiam os melhores clientes pelo relacionamento e compras continuados. O

objetivo maior do marketing de fidelização ou lealdade é trazer os clientes para o topo da

pirâmide dos bons clientes, os 20% melhores segundo a lei de Pareto já mencionada,

transformando-os no que se convencionou chamar de advogados da marca, responsáveis pela

propaganda boca a boca e pela conquista de novos clientes pela simples força de seu

testemunho (DUFFY, 2002).

Figura 13. A Escada da Fidelidade (Desenho do autor).

O objetivo é uma relação de cooperação, na qual o cliente fornece informações a seu

respeito e a respeito de suas preferências e a empresa se esforça para atendê-las. Como

contraponto dialético temos Palmer (1999), afirmando que a cooperação nas relações

empresa-cliente contraria o princípio evolucionista de Darwin, centrado na sobrevivência do

mais apto.

Para ele, o marketing de relacionamento inclui dimensões verticais e horizontais. As

primeiras são representadas pelas tentativas de integrar cadeias de suprimentos através de

fornecedores de componentes, fabricantes e intermediários. Os seguintes são representados

por empresas que se encontram no mesmo ponto de um canal de distribuição e que buscam a

cooperação para benefício mútuo (como no caso de alianças estratégicas entre linhas aéreas).

Page 60: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

60

O estudo do relacionamento entre comprador e vendedor de Palmer envolve a teoria

desenvolvida por Rapoport e Chammah (1965)5 do “Dilema do Prisioneiro”. Nesse modelo,

dois indivíduos buscando resolver um problema podem cooperar ou desistir (ou seja, não

retribuir as ações altruístas da outra parte). O que se observa é que não importa o que a outra

parte faça, a escolha egoísta de desistir por parte de um dos envolvidos gera uma

compensação maior que a cooperação. Se ambos desistem, ambos têm uma recompensa

menor do que se cooperassem. Entretanto, se a outra parte coopera, há uma escolha que gera

um resultado R (a recompensa pela cooperação mútua), ou a desistência, que gera T (a

tentação de desistir). Assume-se que T>R de modo que compensa desistir se o outro coopera.

Por outro lado, se a outra parte desiste, há uma escolha entre a cooperação que resulta em S (a

“compensação do otário”6) ou a desistência, que resulta em P (o castigo pela desistência

mútua). Assumindo que P>S, compensa desistir se o outro desiste. Daí, não importa o que a

outra parte faça, compensa desistir. Entretanto, se ambos desistem, ambos recebem P, ao

invés do resultado melhor R, que obteriam se ambos tivessem cooperado.

Quando as duas partes não vão se encontrar novamente, o resultado esperado do jogo é

que ambos desistam, a despeito do fato de que ambos se dariam melhor se cooperassem. Com

iterações repetidas do jogo entre as partes, a cooperação pode começar a emergir, baseada nas

estimativas de ganhos diretos e indiretos de tal cooperação.

A despeito da cooperação ser considerada uma aberração no modelo evolucionista de

Darwin segundo Palmer (1999), a opinião deste estudo é a de que as espécies que cooperam e

interagem socialmente visando o ganho mútuo, ainda que menor, tendem a ser mais bem-

sucedidas e longevas na história do planeta. O mesmo se dá no que tange a empresas.

O próprio Palmer observa que a reputação que uma empresa tenha de justiça e

eqüanimidade em suas relações pode influir na sua capacidade de construir relacionamentos.

Uma de suas propostas para empresas que tenham uma imagem ruim com o seu

público-alvo é demonstrar atos de altruísmo, visando melhorar sua imagem como um parceiro

confiável para se fazer negócios.

5 Conforme citado em Palmer (1999).6 “sucker’s payoff”, no original.

Page 61: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

61

Grönroos (1984) estabelece que o marketing de relacionamento tem por função

estabelecer, manter e aumentar os relacionamentos com clientes e outros parceiros, de forma

lucrativa e de maneira que os objetivos das partes envolvidas sejam alcançados. Isso é obtido

através da troca mútua e do cumprimento de promessas.

A frase já mencionada de Bird (2000) resume bem a questão de que a cooperação e o

altruísmo em negócios não são desinteressados “[…] para benefício deles e melhores lucros

seus”. Daí, para que o relacionmamento funcione, é preciso que seja tipicamente uma relação

ganha-ganha.

2.2.5. As ferramentas do marketing direto

Embora muitos autores apontem o banco de dados de marketing como uma das

ferramentas, optou-se aqui por classificá-lo como um elemento estratégico, parte do sistema

de informação pertencente ao estado-maior no direcionamento da empresa face a sua

concorrência e ao mercado.

Sob a ótica deste estudo, ferramentas são armas táticas utilizadas na consecução dos

objetivos e estratégias delineados pela direção, amparadas nas informações colhidas pelo

banco de dados. Ter-se-ia então o DBM como cérebro e as diversas ferramentas como bocas,

todos utilizados conjuntamente na busca dos resultados desejados. Sem a inteligência do

DBM, qualquer utilização de ferramenta torna-se um exercício de tiro no escuro, em que um

eventual resultado positivo se deve mais à sorte que a um planejamento meticuloso e cujo

resultado mais freqüente é o desperdício de recursos valiosos e o fracasso do esforço.

Como os olhos do marketing direto, fazendo a ligação entre o cérebro e a ação, tem-se

a lista de clientes, uma ferramenta fundamental para direcionar corretamente os esforços de

marketing. Boas listas são difíceis de obter, particularmente no Brasil. Com a crescente

popularização do marketing direto, há uma oferta cada vez maior de listas, a preços muitas

vezes beirando o ridículo. É preciso ser um profissional experiente para separar o joio do

trigo. Como regra geral, deve-se estar atento à origem da lista, às suas possibilidades de

segmentação e às políticas de ressarcimento da empresa com respeito às eventuais falhas da

lista, tais como nomes e endereços incompletos ou inexistentes. Diversos outros fatores

influem na qualidade e, conseqüentemente, no preço de uma lista.

Page 62: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

62

A melhor lista disponível é sempre a lista dos clientes da empresa, entretanto, quando

o objetivo é a expansão dessa base de clientes, o melhor a fazer é buscar no mercado listas

com clientes prospectivos de perfil o mais semelhante possível com o dos já clientes. Os

mecanismos utilizados para a captura de nomes de clientes prospectivos e, espera-se, clientes

efetivos, são os mais diversos, vindo desde a propaganda em mídias de massa, o retorno de

certificados de garantia de produtos, as centrais de atendimento ao consumidor, concursos e

promoções diversas, até a captação de cadastros em sites de internet. Esse manancial de dados

tornou-se mercadoria valiosa e passou a ser comercializado por empresas especializadas na

venda ou aluguel de listas. As listas são conhecidas pelo nome em inglês mailing lists e as

empresas especializadas em sua comercialização como list brokers.

As chamadas listas externas podem ser compradas ou alugadas. A vantagem da lista

comprada é o seu preço mais acessível e, geralmente, a possibilidade de reutilização dos

nomes em outras investidas. Entretanto, as empresas que vendem listas não costumam ter o

mesmo cuidado na sua manutenção e atualização que aquelas que alugam suas listas para cada

utilização. Essa atualização constante torna as listas alugadas bem mais confiáveis.

Pela prática considerada ética, conforme estabelecido pelas regras das diversas

associações de profissionais do marketing direto pelo mundo, incluindo a ABEMD –

Associação Brasileira de Marketing Direto –, os nomes dos respondentes a uma campanha

passam a ser incorporados ao banco de dados da empresa autora da campanha em questão,

enquanto que os não-respondentes voltam ao banco de dados de origem. Cabe, então, fazer

ofertas realmente relevantes para se ter o maior número possível de respondentes e,

conseqüentemente, de clientes. A fim de evitar duplicidades em futuros contatos, é prática

comum uma comparação entre o banco de dados da empresa cliente e o da empresa que vai

alugar a lista. Essa ação toma o nome de deduplicação ou, em inglês, merge and purge.

Um parênteses deve ser feito a respeito da segmentação. Quanto mais se sabe sobre

clientes, mais se pode direcionar a oferta, aumentando as chances de uma venda bem-

sucedida. Quanto mais detalhes se tem no banco de dados que gera as listas, mais se pode

segmentá-la. Por outro lado, informação demais pode tornar-se contraproducente, na medida

em que torna o banco de dados difícil e caro de administrar.

Page 63: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

63

Seguindo adiante, têm-se como ferramentas o catálogo, a mala-direta, o telemarketing,

o e-mail marketing, o site de internet e a própria televisão, ferramenta por excelência do

marketing de massa, que também pode ser utilizada para o marketing direto, conforme pode

ser observado nos diversos canais de vendas diretas ou nos anúncios de resposta direta. Assim

como a televisão, quaisquer outras mídias podem ser utilizadas para o marketing direto. Cada

nova forma de comunicação que surge é imediatamente incorporada e transformada em

ferramenta. A conclusão a que chega é que não é a mídia que importa, mas a forma de sua

utilização, a intenção do profissional e da comunicação.

Um exemplo perfeito é a mala-direta, tida como a ferramenta por excelência do

marketing direto. Em última análise, trata-se apenas da adaptação da carta enviada por correio

para uma utilização comercial. Muitos pacotes de mala-direta, aqueles descritos como a mala-

direta clássica ou completa, incluem necessariamente uma carta em moldes tradicionais, ou

seja, apenas texto. A diferença está na intenção de venda, que se traduz num texto persuasivo,

convincente, personalizado e relevante para o leitor.

Diversas empresas que não se dão conta dessa diferença fazem apenas o envio de

folhetos de publicidade de massa pelo correio, ignorando os maiores benefícios do marketing

direto que são a personalização e o direcionamento da mensagem.

Não se deve, além disso, confundir mala-direta com venda pelo correio. A mala-direta

é uma mídia, como o e-mail e o telemarketing, cujo objetivo não precisa ser a venda pelo

correio, sendo esta última um de muitos canais de vendas, como as lojas ou a internet.

Alecrim-Santos (2003) enfatiza a utilização dessas ferramentas na comunicação

dirigida – o objetivo do marketing direto – lembrando que quase todas as empresas hoje

possuem algum Setor de Atendimento ao Cliente, ou um telemarketing ativo ou receptivo, ou

malas-diretas ou correspondências orientadas ao cliente. A questão, segundo ele, é que de

nada adiantam investimentos nestas mídias se a organização continuar apoiada no paradigma

de transação e de esforços comerciais de curto prazo. As ferramentas de comunicação dirigida

devem ser encaradas como um meio de interação com o cliente e não como um fim em si

mesmas.

Page 64: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

64

Figura 14. Cérebro, olhos, boca e ouvidos do marketing direto (Desenho do autor).

2.2.6. Momentos da Verdade e Interatividade

A interatividade ocorre em cada contato do cliente com a empresa. Para expressar

esses momentos, cunhou-se a expressão momentos da verdade, expressão essa originalmente

atribuída a Jan Carlson, durante a sua gestão na SAS – Scandinavian Airlines System – e

consolidada na publicação de seu Moments of Truth, de 1985.

O termo popularizou-se na administração de serviços, significando o momento exato

do contato entre o fornecedor e o cliente. Albrecht (1998) expande o conceito, explicando-o

como “[…] um episódio, ou seja, um evento específico no tempo, no qual o cliente entra em

contato com algum aspecto da organização e adquire uma impressão de seu serviço”. Dessa

Page 65: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

65

forma, a percepção do cliente é construída em cada um dos momentos da verdade, isto é, em

cada contato estabelecido.

Segundo ele, no decorrer da prestação do serviço, o cliente experimenta uma série de

momentos da verdade, que ocorrem em uma seqüência específica. A essa seqüência de

momentos da verdade denomina-se ciclo do serviço A cada novo ciclo, o cliente compara a

percepção do serviço prestado com suas expectativas iniciais.

A maior dificuldade para quem gerencia o ciclo de serviços está na dificuldade que os

prestadores de serviço têm em enxergar o processo como um fluxo único e contínuo de

experiências interligadas, sendo encarado meramente como o cumprimento de tarefas e

responsabilidades estanques.

Na interatividade de fato reside o principal fator que faz do marketing direto aquilo

que ele é. O segredo está na personalização, na relevância e na possibilidade de resposta, ou

de interação, por parte do cliente. Esse último dado nos leva a um novo grupo de ferramentas

fundamentais ao verdadeiro marketing direto, os diversos canais de resposta, dos quais

podemos enumerar os cupons e cartas-respostas, o telemarketing receptivo, centrais

telefônicas gratuitas (0800), e-mail, fax, dentre outros. No gráfico da figura 14, eles estão

enumerados como os ouvidos do marketing direto, através dos quais pode-se ter e “ouvir” a

resposta do cliente a um esforço de comunicação.

Alguns autores, dentre eles Seth Godin (2000), negam que haja uma verdadeira

interatividade no marketing direto tradicional ou low tech. Na visão deste estudo, o que ele

não enxerga é que a resposta está sujeita à tecnologia disponível. Na era do correio, a resposta

vinha pelo correio, na era do telefone a mensagem e a resposta podiam ser instantâneas, na era

da informática tem-se interatividade em tempo real, quando a tecnologia evoluir mais, ter-se-á

uma interatividade compatível.

No que tange à relevância, a essência que transforma uma simples mensagem em

comunicação, Roman et al. (2003) propõem que o banco de dados seja substancialmente

enriquecido com informações além das usuais sobre transações e perfis demográficos e

psicográficos, com a participação do cliente, na qual ele determina, por meio de enquetes e

Page 66: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

66

formulários, dados sobre suas preferências de mídias de contato, freqüência de contato,

interesses por produtos e/ou informação e outros dados pertinentes.

Segundo o artigo, a IBM vem experimentando esse método há dez anos, com um

sucesso crescente e taxas de resposta e retenção impressionantes. O IBM Software Premier

Club é exclusivo para clients leais, que são convidados a participar. O programa conta com

21.000 decisores e influenciadores para a aquisição de tecnologia em 7 mil empresas de 49

países. Mundialmente, os 10% dos clientes da empresa que são membros do programa

respondem por 80% das vendas, representando ainda outros 80% a mais de receita se

comparados às empresas pertencentes ao grupo de controle formado por empresas clientes

com perfil semelhante mas que não pertencem ao clube.

2.2.7. Mensurabilidade

Ainda segundo a definição de Bob Stone (2002), a possibilidade de mensuração quase

que imediata da resposta é uma das diferenças fundamentais do marketing direto em relação

ao marketing de massa. Na publicidade de massa, pode-se observar o sucesso de uma

campanha por um aumento das vendas do produto/serviço anunciado, sem no entanto ter

plena certeza se o anúncio foi o responsável único pelo referido aumento nas vendas.

No caso do marketing direto, têm-se provas físicas do retorno, com o envio de cupons

preenchidos, de pedidos, de telefonemas, e-mails, pedidos de informação e de cheques

acompanhando pedidos de envio de mercadorias.

Cada uma dessas interações pessoais com o cliente deve ser devidamente armazenada

no banco de dados, realimentando-o sempre com novas informações, sendo sempre

fundamental o registro das últimas transações e o seu valor. Com base nas informações de

recência, freqüência e valor (o chamado modelo RFV), tem-se um perfil acurado do cliente e

é possível lhe propor ofertas cada vez mais relevantes, aumentando as chances de sucesso da

venda e a satisfação do cliente.

Qualquer estratégia de comunicação e programa de relacionamento deve basear-se na

possibilidade de mensuração acurada do marketing direto, de modo a atentar sempre para o

ponto de equilíbrio financeiro, ou break-even point, o momento no tempo em que um

Page 67: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

67

investimento se paga. Não faz sentido investir muito quando a possibilidade de retorno mal

cobre os custos. Como esses custos são conhecidos, é sempre possível calcular o ponto de

equilíbrio a priori, antes de comprometer o investimento na ação, campanha ou programa. O

ROI, ou retorno sobre o investimento, é calculado a posteriori, depois que todas as

informações financeiras estão compiladas e disponíveis.

A esse propósito, Moeller et al. (2003) definem o ROI como a aplicação de

tecnologias de mensuração e da estrutura organizacional modernas para entender, quantificar

e otimizar os gastos com marketing. Eles preconizam que o princípio do ROI deve ser

estendido a todas as atividades de marketing, tornando-o uma filosofia empresarial. Em sua

visão, o marketing precisa deixar de ser uma “arte”, mensurável apenas através das atitudes

dos clientes, para tornar-se realmente uma ferramenta eficaz, com resultados claramente

visíveis, em que cada centavo investido precisa ter sua contrapartida de volta no caixa da

empresa. Para eles, isso não significa que o marketing deva ficar a reboque da ciência

analítica, mas que passe a haver uma responsabilidade atrelada à criatividade do marketing.

Esse pensamento encontra eco em Zyman (2002), quando este afirma que a publicidade

[como a conhecemos] morreu, isto é, a publicidade agradável e vencedora de prêmios de

criatividade em Cannes precisa apresentar resultados palpáveis no fluxo de caixa e na

rentabilidade da empresa que a emprega. Esse sempre foi o propósito do marketing direto.

Outro aspecto vantajoso do marketing direto que deve ser sempre aplicado é a

possibilidade de se testar qualquer iniciativa antes de deslanchar uma campanha ou programa

em sua totalidade.

Como o perfil do público com o qual se deseja trabalhar é conhecido, basta trabalhar

sobre uma amostra estatisticamente relevante e projetar o resultado para o total do universo

desejado.

A fim de evitar desperdícios e medir a eficácia de cada fase de uma campanha, pode-

se testar qualquer um dos seus diversos componentes: testam-se a oferta, a criação, o formato,

a lista, etc. O fundamental é sempre testar uma dessas variáveis de cada vez para se ter a

medição precisa dos efeitos de cada uma.

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68

2.2.8. O ciclo de vida do cliente ou LTV

Se o objetivo do marketing direto é a retenção do cliente, nada disso faz sentido se não

levarmos em conta o seu valor por um período longo, ou pelo seu ciclo de vida como cliente

(Lifetime Value, em inglês, daí a sigla LTV).

Trabalhando com a hipótese de uma pessoa consumindo um determinado produto uma

vez por semana e que ela precise consumir esse produto por 25 anos e que seu valor seja de

dez unidades monetárias, teríamos o seu LTV expresso pela seguinte equação:

10 x 52 x 25 = 13.000.

Sabe-se, então, que se esse cliente for convencido a repetir sua compra fielmente ao

longo desses 25 anos, seu valor para a empresa será de 13.000,00 unidades monetárias,

desconsiderando-se juros e eventual inflação. Apenas para complementar, esse valor, trazido a

valor presente a uma taxa de 10%, torna-se 4.720,00 unidades monetárias. Como não há

meios de se prever inflação e eventuais aumentos de preço de venda, a estimativa de

13.000,00 permanece válida. Vemos que a compra irrisória de um artigo no valor de apenas

10,00 pode transformar-se numa quantia substancial ao longo de anos de relacionamento e

que esse valor multiplicado por um número grande de clientes em condições idênticas se

traduz na sobrevivência da empresa nesse mesmo prazo. Considerando que uma empresa não

ofereça um único produto e que os clientes satisfeitos com a aquisição de um produto através

de uma experiência satisfatória tendem a ampliar sua compra para outros produtos, o seu

verdadeiro LTV será certamente maior que o valor expresso acima.

O próprio ciclo de vida passa por diversas fases que podem ser expressas no gráfico

abaixo:

Figura 15. Gráfico do Ciclo de Vida do Cliente

Page 69: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

69

A cada um desses momentos corresponde uma estratégia de comunicação adequada,

com seus respectivos valores. O investimento para a aquisição de um cliente é

necessariamente maior que o de sua manutenção e aquele de sua recuperação será

determinado pelo fato de ele ser de fato recuperável ou se o simples abandono não seria mais

lucrativo para a empresa.

Cabe lembrar que essas informações somente se tornam possíveis através do banco de

dados de marketing. Só um histórico detalhado de transações pode determinar o valor real do

cliente para a empresa.

Com base nas informações do LTV e daquelas de recência, freqüência e valor,

mencionadas anteriormente, pode-se decidir de forma equilibrada qual a quantia a ser

investida na comunicação com cada cliente para evitar perdas. Tem-se então que clientes

melhores demandam uma comunicação mais freqüente; clientes médios, uma comunicação

mais espaçada; clientes não tão bons, comunicados apenas nas épocas mais prováveis de

compra segundo o seu perfil (lançamentos, liquidações, datas especiais); e com clientes ruins,

pode ser mais rentável simplesmente abandoná-los ou, quando muito, enviar-lhes um lembrete

visando a manutenção do relacionamento e a eventual mudança de seu status na escala de

clientes.

RESUMO DE ASSUNTOS COM AUTORES E MATERIAIS CITADOS NA REVISÃO DA LITERATURA

ASSUNTO AUTOR / ANO MATERIAL CONSULTADO

Clientes,marketing equalidade

Kotler, 2000

Maslow, 1970

Fournier et al, 1999

Juran, 1990

Crosby, 1994

Deming, 1990

Moller, 1993

Garvin, 1992

Pegoraro, 1999

Administração de marketing: A edição do novo milênio

Motivation and personality

As relações na UTI – Como evitar a morte prematura domarketing de relacionamento

A qualidade desde o projeto – novos passos para oplanejamento da qualidade de produtos e serviços

Qualidade é investimento

Qualidade – A revolução da administração

O Lado Humano da Qualidade

Gerenciando a Qualidade – a visão estratégica ecompetitiva

Uma metodologia para a avaliação e melhoria da Qualidadeem empresas de serviços com o uso de Indicadores

Page 70: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

70

Feigenbaum, 1999

Kandampully eSuhartanto, 2000

Reichheld, 1996

Gianesi e Correa, 1994

Berry, 2002

Controle da qualidade total

Customer loyalty in the hotel industry: the role of customersatisfaction and image

A estratégia da lealdade

Administração estratégica de serviços: operações para asatisfação do cliente

Relationship marketing of services: perspectives from 1983to 2000

Qualidade e valor Berry e Parasuraman,1992

Grönroos e Ravald,1996

Ribeiro da Silva, 2000

Duffy, 2002

Gordon, 1999

Serviços de marketing: competindo através da qualidade

The value concept and relationship marketing

A Customização no atendimento como fator de fidelizaçãodo cliente às lojas de decoração de alto estilo

Do something! Guia prático para fidelização de clientes

Marketing de relacionamento

Marketing equalidade deserviços

Boone e Kurtz, 1998

Grönroos, 1984

Gummesson, 1987

McKenna, 1994

Gummesson e Grönroos,1987

Parasuraman, Zeithaml eBerry, 1985, 1990

Marketing contemporâneo

A service quality model and its marketing implications

Quality, The Ericsson approach

Marketing de relacionamento

Quality of services: Lessons from the product sector

A conceptual model of service quality and its implicationsfor future reserch

Delivery service quality: balancing customers perceptionsand expectations

Histórico domarketing derelacionamento

Bird, 2000

Hanson, 2002

Wunderman, 1996

Albuquerque, 2001

Bom senso em marketing direto

Marketing direto: da pré-história ao CRM

Being direct

A evolução do marketing diretoDefinições parasituar o marketingde relacionamento

McKenna,1994

Gummesson,1998

Duffy, 2002

Peppers e Rogers, 1993

Ian Gordon, 1999

Reichheld,2002

Marketing de relacionamento

Productivity, quality and relationship marketing in serviceoperations

Do something! Guia prático para fidelização de clientes

Marketing um a um

Marketing de relacionamento

Princípios da lealdade

Page 71: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

71

Marketing direto xmarketing demassa

Bob Stone,2002Tronchin, 2001

McKenna, 1994

Bayón et al, 2002

Reichheld, 1996

Marketing diretoMarketing one-to-one versus marketing de massa

Marketing de relacionamento

Customer equity marketing

A estratégia da lealdadeDBM e ainteligência domarketing direto

Reicheld e Sasser, 1990

N a s h , 1 9 9 4

Reichheld, 1996

Kotler, 2000

Drucker, 1975

Bird, 2000

Duffy, 2002

Palmer, 1999

Rapoport e Chammah,1965

Grönroos, 1984

Zero defections: Quality comes to services

Database marketing

A estratégia da lealdade

Administração de marketing: A edição do novo milênio

Administração: tarefas, responsabilidades e práticas

Bom senso em marketing direto

Do something! Guia prático para fidelização de clientes

Co-operation and competition: a darwinian synthesis ofrelationship marketing

Prisoner's dilemma

A service quality model and its marketing implications

As ferramentas domarketing direto

Alecrim-Santos, 2003 Análise de alguns elementos essenciais para a gestão derelacionamento – Um estudo de caso

Momentos daVerdade eInteratividade

Carlson 1985

Albrecht, 1998

Godin, 2000

Roman et al., 2003

A hora da verdade

Revolução nos serviços

Marketing de permissão

What’s your pleasure: Relevance in direct marketing

Mensurabilidade Stone, 2002

Moeller et al, 2003

Zyman, 2002

Marketing direto

O melhor retorno sobre o investimento

The end of advertising as we know it

O ciclo de vida docliente ou LTV

___ ___

Tabela 1. Resumo de assuntos com autores e materiais citados na Revisão da Literatura

Page 72: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

72

3- Referencial Teórico

Este trabalho de dissertação baseia-se em diversos estudos de teóricos do marketing

que ajudaram a definir os conceitos essenciais para o domínio da disciplina do relacionamento

com clientes. Como toda disciplina teórica baseada no laboratório cotidiano da prática

profissional, novos dados são acrescentados todos os dias, ensejando diversas interpretações e

fases, que formam um todo como uma pérola, em que cada camada nova ajuda a aumentar a

beleza e o valor do todo.

3.1. O marketing de relacionamento

Embora utilizando a mesma expressão utilizada neste trabalho, o marketing de

relacionamento, conforme prega McKenna (1994), é apenas uma das fases pelas quais passou

o marketing direto em anos recentes. Sua importância reside no fato de ter sido a primeira

grande quebra de paradigma no marketing, deslocando-o do produto para o cliente.

O texto de McKenna é fundamental para a compreensão desse fenômeno marcante nas

relações com o cliente, refletindo um dramático deslocamento do eixo nas transações entre

empresas e clientes. Em sua visão, diante da rapidez das transformações por que passam o

mundo, o mercado e as empresas, somente um relacionamento muito próximo entre empresas,

clientes e fornecedores pode fazer face a essa insegurança e assegurar a sobrevivência da

organização.

McKenna registrou essa fundamental mudança, centrando-a no estudo das relações

entre as empresas de tecnologia e informática do Vale do Silício. Muitas de suas conclusões,

no entanto, vêm sendo aplicadas com sucesso nos mais diversos segmentos de mercado.

3.2. O marketing um-a-um

Coube a Don Peppers e Martha Rogers (1993) cunhar e descrever uma nova forma

hiperpersonalizada de fazer marketing direto, tendo como base os desenvolvimentos recentes

da tecnologia, estendendo ainda mais longe o conceito do database marketing.

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73

Por esse novo conceito, o objetivo deve ser o de tratar cada cliente de forma

individualizada. Primeiramente, identificando cada cliente, mantendo os registros já descritos

de identidade, perfil, contatos e transações. O passo seguinte é diferenciar cada cliente

segundo suas necessidades, seu valor atual e seu valor potencial, destacando os mais valiosos

para a empresa. Em seguida, interagir com ele, tendo como base não só a informação já

armazenada, além de suas motivações de compra, preferências e rejeições, e seus conceitos de

valor, mas também tudo o mais que se puder recolher através de suas reclamações ou

feedbacks. Toda essa informação leva a uma personalização cada vez maior, o que realimenta

a interatividade, que aumenta a informação, num crescendo contínuo. O resultado final são

produtos/serviços cada vez mais personalizados, oferecidos em momentos adequados,

tornando as ofertas realmente relevantes. Se além disso tudo, adicionarmos uma dose

apropriada de recompensas pela fidelidade, teremos o cliente para sempre.

Como somente uma tecnologia muito avançada permite uma interação realmente

individualizada, por uma questão de economia de custos diversas, empresas optam por um

relacionamento altamente segmentado, embora ainda dirigido a aglomerados de clientes com

características bem próximas, naquilo que os analistas do mercado passaram a chamar de

marketing one-to-some, ou em português, o marketing de um para alguns.

Tem-se aqui um esforço grande de personalização, com uma economia que possibilita

a comunicação. As novas tecnologias de impressão personalizada, além, é claro, das

possibilidades e custos baixos da comunicação via internet, tendem, num futuro bem próximo,

a aproximar o ideal de Peppers e Rogers.

3.3. O pós-marketing

O livro de Terry Vavra de 1993, traduzido erroneamente no Brasil com o título de

Marketing de relacionamento, trata, na realidade, do pós-marketing, um aspecto muito

importante do relacionamento com o cliente. Dentro da mesma perspectiva de Peppers e

Rogers descrita acima, Vavra discorre sobre o deslocamento do marketing da mera conquista

de clientes para a retenção dos clientes adquiridos, replicando a teoria do balde furado.

O foco de Vavra, ecoando McKenna, e de uma certa forma Grönroos e Gummesson

(1987), está nos serviços agregados ao bem vendido, ajudando a desfazer a distinção entre

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74

bem e serviço, sendo sua maior ênfase nos serviços de pós-venda, em que cabe à empresa que

vende assegurar ao cliente que ele fez um bom negócio, o que Vavra chama de certeza pós-

compra.

Não há dúvidas quanto à importância desse relacionamento posterior à compra no

esforço para trazer o cliente de volta para repetir a aquisição, aumentando seus gastos com a

empresa, seja adquirindo o mesmo produto em quantidades maiores, seja aumentando a

freqüência da compra, seja adquirindo outros produtos mais sofisticados e caros – o chamado

up-selling.

3.4. Customer Relationship Management, ou CRM

Embora tratar do CRM não esteja no escopo deste trabalho, ele não estaria completo

sem ao menos uma referência. O CRM, ou, em português, a gestão do relacionamento com o

cliente, é uma expansão do database marketing, com um gerenciamento integrado de todos os

pontos de contato com ele, conforme já mencionado.

Segundo o Gartner Group, o CRM é uma estratégia de negócios pela qual empresas

otimizam sua rentabilidade, suas receitas e a satisfação do cliente, através da captura

sistemática de informações em todos os canais de contato, mantendo essas informações

disponíveis em tempo real ao próprio cliente e a todos que tenham contato com ele,

minerando e integrando essas informações em um contínuo esforço de aprendizado.

Suas principais funções seriam:

� gerência de contas;

� atendimento a clientes;

� gerência de call center;

� integração com back-office;

� automação da força de vendas;

� database marketing;

� datamining;

� informações executivas/apoio a decisões (COSTA, 2002).

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75

Devido à sua natureza excessivamente técnica, com grande dependência do uso

extensivo de tecnologia da informação e integração com outros setores e funções da empresa,

optamos por limitar o estudo do CRM a essa única menção.

O ponto fundamental a ser destacado no CRM para fins deste trabalho é o fato de que

a integração inteligente de todos os pontos de contato com o cliente leva a uma maior

quantidade de informação a seu respeito e, aplicando o princípio da sinergia das mídias de

comunicação com o cliente aos canais possíveis de compra, concluímos que, quanto maior o

número de canais de compra oferecido, maior é o consumo por cliente.

Gestão do relacionamento significa, então, ter a capacidade de acompanhar e

influenciar o comportamento de clientes ao longo do tempo, em qualquer canal de contato,

respeitando o histórico de transações estabelecido com a empresa.

Busca-se com isso transformar não-cliente em cliente, aumentar o tíquete médio,

aumentar a freqüência de compra, garantir alto índice de retenção, enfim, comprometer-se

com o sucesso dos clientes, buscando ter uma base fiel mais rentável por mais tempo. Os

meios utilizados para atingir esses fins podem ou não envolver tecnologia da informação

sofisticada.

Segundo Alecrim-Santos (2003), apesar de as empresas realizarem investimentos cada

vez maiores em tecnologia da informação e gerenciamento de relacionamento com os clientes,

esses investimentos em tecnologia não são suficientes para aumentar a satisfação dos clientes,

nem para ampliar a capacidade de retenção desses clientes. Isso porque, de um modo geral,

essas empresas não mudam os seus procedimentos cotidianos de relacionamento com o

mercado.

Alecrim-Santos procede, dizendo que de nada adianta amplos investimentos em CRM

se os agentes empresariais que executam esse relacionamento permanecem com os mesmos

processos, comportamentos e valores.

Rodriguez y Rodriguez (2002) vê a tecnologia como uma extensão dos braços e

mentes dos profissionais para o suporte no atendimento aos clientes, mas a gestão do

relacionamento com clientes deve ser uma estratégia de negócio, definida pelo presidente da

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76

empresa, diferentemente do que a maioria das empresas procura implantar, que é uma

tecnologia que suporte ou auxilie com informações relacionadas aos clientes.

Para Moeller et al. (2003), a gestão do relacionamento com o cliente é

fundamentalmente uma atividade humana; a tecnologia pode ajudar, mas não substituí-la, a

despeito da “retórica dos entusiastas dos sistemas de gestão de relacionamento com o cliente,

que tendem a equiparar tecnologia e soluções”. Na sua visão, estes sistemas são pouco

flexíveis, carecendo de um rigor analítico e, pior, tendem a afastar vendas e marketing das

atividades de contato com clientes. Mesmo os chamados sistemas integrados são ruins,

fixando-se nas partes e perdendo de vista o todo. O objetivo, segundo eles, é ter um sistema

capaz de apoiar a tomada de decisões, que se adapte aos sistemas já em uso, agregando as

capacidades que faltam à estrutura atual, não importando a plataforma utilizada.

Na visão deste estudo, essa é a tarefa do marketing de relacionamento – pensar a

gestão do relacionamento com o cliente, transcendendo e, em alguns casos, até dispensando

tecnologias muito sofisticadas. O que importa são a filosofia e as atitudes, não a tecnologia.

As ferramentas tecnológicas do CRM fazem parte do arsenal tático e não estratégico.

Alguns consultores modernos têm recomendado os chamados sistemas frankenstein,

que integram as ferramentas mais adequadas de cada provedor de soluções,

independentemente de quem seja o fabricante. É preciso, no entanto, ter uma equipe gestora

do CRM muito competende para efetivamente integrar as partes díspares para formar um todo

coerente e eficaz que possa de fato ser uma solução e não um problema a mais.

Trata-se, evidentemente, de uma filosofia empresarial, cujo alicerce e suporte

encontra-se no marketing de relacionamento, entendido aqui em sua forma mais ampla.

A despeito de toda a publicidade em torno do tema em anos recentes, acreditamos que

uma frase de Dennis Duffy (2002) resume bem a questão: “CRM é coisa importante. Mas, a

meu ver, ela é um subconjunto da estratégia de fidelização”.

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3.5. O marketing de emoção

Segundo a edição mais recente (1999) do Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da

língua portuguesa, relacionamento é:

� capacidade, em maior ou menor grau, de conviver ou comunicar-se;

� ligação […] condicionada por uma série de atitudes recíprocas.

Pode-se ainda acrescentar a troca de experiências através da emoção ou da afetividade.

Duas frases de Luiz Alberto Marinho, consultor de empresas e colunista do site Blue

Bus, resumem bem o que é o marketing de emoção: “Cada vez mais as pessoas estão

dispostas a pagar para experimentar sensações e não simplesmente adquirir produtos ou

serviços” e “Nossas necessidades estão tornando-se cada vez mais subjetivas. Compensação,

recompensa, auto-indulgência, vaidade, aceitação têm impulsionado o consumo”.

Das outras definições possíveis, uma de Bernd Schmitt (1999) vem à mente: “ O

marketing da emoção ou da experiência é uma nova linha de atuação que tem sido o segredo

do sucesso em um período em que a globalização transformou produtos e serviços em

commodities”.

O resumo é que o cliente também está em busca de satisfação emocional ao fazer uma

compra. Vivendo num mundo em que as necessidades básicas estão resolvidas, o consumidor7

está em busca de satisfazer seus desejos, e a empresa que tiver a compreensão desse fato está

dois passos adiante de sua concorrência.

Finalmente, não há como falar de marketing de emoção sem mencionar o norueguês

Rolf Jensen e seu livro A sociedade do sonho, no qual ele afirma que: “Estamos no limiar de

uma sociedade baseada em dados. Enquanto a informação e a inteligência se tornam domínio

dos computadores, a sociedade passará a dar um maior valor para a única habilidade humana

que não pode ser automatizada: a Emoção” (JENSEN, 1999).

7 Optou-se aqui pelo uso da palavra consumidor para designar o indivíduo pertencente às camadas da população inseridas no

mercado de consumo. Não cabe nesse trabalho o estudo das populações despossuídas, cujas necessidades básicas estão ainda

distantes de serem satisfeitas.

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Ainda segundo ele, “Na nova Sociedade do Sonho, as empresas passarão a vender suas

histórias. Quanto mais cativantes elas forem, melhor. É preciso arrebatar a emoção, além da

razão… Para ter sucesso na sociedade do sonho é preciso ter autenticidade… Mais do que

contar uma boa história, é preciso ser uma boa história… Quando o cliente compra a história

e o sonho, ele compra a marca que mexeu com a sua emoção”.

3.5.1. A experiência da marca

O prosseguimento natural da busca da emoção no relacionamento comercial é o que os

especialistas passaram a chamar de a experiência da marca, situação na qual o cliente quer

mais do que o produto/serviço, o bom atendimento, um pós-venda eficiente. Ele quer se

integrar com aquilo que consome, identificando-se com suas preferências a ponto de torná-las

parte da persona que apresenta ao mundo.

Marc Gobé (2001) sintetiza o conceito nos dez mandamentos do branding emocional

em seu trabalho Emotional branding.

Seguem então os dez mandamentos de Gobé:

1. De consumidores para pessoas

Não devemos tratar os clientes como alvos a serem atacados, mas tentar construir

relacionamentos com eles.

2. De produtos para experiências

Proporcionar experiências será vital, pois produtos atendem a necessidades, experiências

satisfazem desejos.

3. De honestidade para confiança

Honestidade é obrigação. Marcas devem ir além, conquistando confiança, para gerar

envolvimento e intimidade.

4. De qualidade para preferência

Para obter sucesso, não bastará ter qualidade reconhecida. Será preciso perseguir a

preferência do público.

5. De notoriedade para aspirações

Ser conhecido não significa ser amado. Para ser desejada, a marca precisar refletir as

aspirações dos seus clientes.

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6. De identidade para personalidade

Para se diferenciar, além de uma identidade clara, as marcas devem ter uma proposta,

caráter e carisma.

7. De funcionalidade para sentimento

Mais do que ser funcionais, os produtos devem proporcionar experiências sensoriais

através do design.

8. De ubiqüidade para presença emocional

Alta visibilidade não é mais suficiente. As marcas devem buscar contatos emocionais com

as pessoas.

9. De comunicação para diálogo

Mais do que discursar através da comunicação tradicional, as marcas precisam entrar na

vida de seus clientes.

10. De atendimento para relacionamento

Atender bem é só uma tarefa de venda. Estabelecer relacionamentos é reconhecer a

importância do cliente.

Prahalad e Ramaswany (2000) consideram necessário incorporar a experiência do

cliente a seus modelos de negócios e, para ilustrar seu pensamento, utilizam uma comparação

interessante.

Segundo ambos, até um passado recente, a relação entre uma empresa, a concorrência

e os clientes era como o teatro tradicional: os atores – fabricantes, distribuidores e

fornecedores – seguiam rigidamente seus papéis bem definidos e o público – o cliente –,

depois de pagar o ingresso, sentava-se calma e passivamente na platéia para assistir à peça.

Seguindo o raciocínio, destacam que na atualidade o cenário é diferente. A concorrência exige

uma nova dinâmica, semelhante ao teatro experimental das décadas de 60 e 70, em que todos,

e o cliente como destaque, podem efetivamente participar da ação. Em outras palavras, o

cliente passa da platéia ao palco, sendo considerado como mais uma fonte de competência

para a empresa.

Para orientar as expectativas dos clientes, é fundamental que, ao absorver as suas

competências, a organização tenha previamente o domínio de quatro realidades: o

engajamento dos clientes em um diálogo ativo, claro e constante; a mobilização de

comunidades de consumidores; um esquema para administração de diferenças entre clientes e

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80

a criação de experiências personalizadas junto aos mesmos (PRAHALAD e RAMASWANY,

2000).

Diante dessa perspectiva, não se pode deixar de mencionar a nova loja da griffe Prada

em Nova York e seu uso de alta tecnologia não só para automatizar o atendimento, como

também para criar uma experiência única e personalizada de compra para o cliente. Seguem

resumidos os principais pontos de uma notícia publicada no site www.mktdireto.com.br em

sua edição da semana de 6 a 10 de maio de 2002:

O cliente é conhecido pelo nome e identificado eletronicamente assim que entra na

loja.

Ao entrar, ele recebe o seu identificador eletrônico com os dados de suas

preferências e medidas.

Cada item que ele manuseia é registrado eletronicamente.

Nos provadores da Prada, leitores RFID (Radio Frequency Identification)

identificam toda a mercadoria que o cliente traz e exibem informações sobre as

peças numa tela interativa.

Quando as roupas são penduradas nas cabines dos provadores, os leitores sem fio

capturam informações de suas etiquetas inteligentes. A informação é, então, exibida

na tela da cabine e o cliente pode, por exemplo, escolher, ver informações sobre o

estilista, ou se há outras cores disponíveis.

A despeito do conceito, design e tecnologia inovadores, a loja tem se deparado com

alguma rejeição por parte dos clientes e ainda não conseguiu recuperar o capital investido.

Uma matéria publicada na revista Veja, em sua edição de 17 de março de 2004, afirma que os

clientes sentem dificuldade de usar a tecnologia e têm medo de ficar presos nos provadores

high-tech.

Outras marcas são famosas pela mitologia que as cerca. Uma, apresentada nesse

estudo, é a marca de motocicletas Harley-Davidson. Desde a sua fundação, seus diretores

entenderam a importância da fantasia na mente do consumidor. Hoje, mais do que nunca, essa

mitologia é parte indissociável da marca, como poderá ser visto adiante.

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3.6. O marketing de permissão

Nenhum relacionamento pode ocorrer se não houver uma via de mão dupla. Não só na

comunicação, com a troca de informações, mas no ponto fundamental: se não houver

consentimento, nenhuma estratégia de abordagem pode funcionar.

Seth Godin (2000), um dos diretores do site de buscas Yahoo, prega que o profissional

de marketing direto, além de buscar os nomes de clientes, deve preocupar-se em obter

explicitamente a sua permissão para estabelecer o diálogo.

Godin parte do pressuposto que o consumidor está saturado de informação e que é

cada vez mais difícil arrebatá-lo e conquistá-lo. Segundo ele, ainda é preciso utilizar o que ele

chama de marketing de interrupção, seja com um anúncio de TV ou com uma mala-direta ou

e-mail, para fazer um primeiro contato e apresentar a marca. A partir daí, no entanto, o

contato somente ocorrerá se o cliente prospectivo permitir.

Alecrim-Santos (2003) alerta para o uso adequado dos canais de comunicação dirigida,

adotando uma postura de inserção, de forma pouco invasiva, para criar intimidade com os

clientes, atentando para a freqüência de contato. O uso excessivo da comunicação dirigida

poderá criar uma percepção negativa, despertando bloqueios no receptor da comunicação,

causando mais dano que benefício à imagem da empresa.

O marketing de permissão é a única alternativa para o marketing na internet, onde,

devido ao baixíssimo custo do contato com o cliente, o abuso tornou-se a norma. Várias

tentativas vêm sendo feitas nos Estados Unidos e Europa para disciplinar a enxurrada de

comunicação indesejada e estudos recentes apontam que, a despeito de tudo, a situação só

tende a piorar.

Segundo dados recolhidos em matérias publicadas no site mktdireto ao longo de 2002,

pressões de diversas entidades de proteção ao consumidor levaram as assembléias estaduais

de diversos estados americanos a instituir leis obrigando à criação de listas de permissão. As

listas de permissão funcionam da seguinte forma: um indivíduo se cadastra, dizendo

interessar-se, por exemplo, em receber comunicação sobre artigos para bebês, móveis e

produtos de saúde. Se alguma empresa de outro ramo entrar em contato, haverá problemas.

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Um destinatário não listado que receba qualquer tipo de comunicação comercial não-

solicitada pode imediatamente processar a empresa responsável, que ainda será multada pelo

governo. A associação de marketing direto americana resistiu o quanto pôde, mas teve que

aceder (www.mktdireto.com.br, semana de 4-8 de novembro de 2002).

Com respeito aos abusos citados, há neste momento diversos projetos de lei

tramitando no Congresso e no Senado americano propondo listas de pessoas que se recusam a

receber comunicados comerciais por telefone ou e-mail. As multas para as empresas infratoras

são bastante pesadas. Um site colocado no ar recentemente para facilitar a incrição de pessoas

nessas listas teve centenas de milhares de visitas e ficou no topo da lista de sites mais

procurados no site de buscas Google. Em outubro de 2003, o presidente George W. Bush

assinou um decreto autorizando o Federal Trade Commission (Comissão Federal de

Comércio) a administrar a chamada Do-not-Call list, com poder de multar as empresas

infratoras. Essa lista funciona no conceito do opt-out, ou seja, quem se inscreve solicita que

seu nome e telefone sejam retirados de quaisquer listas de telemarketing (mktdireto, semana

de 6-10 de outubro de 2003).

No Brasil, a ABEMD acaba de lançar sua própria lista, antecipando-se aos

legisladores, conforme pode ser verificado em notícia publicada pelo site

www.mktdireto.com.br, em sua edição de 6 de julho de 2003. Diversos outros países,

particularmente os membros da União Européia, vêm criando leis restritivas a esses abusos,

segundo matérias publicadas no mesmo site, ao longo dos meses de julho, agosto e setembro

de 2003.

O princípio de Godin (2000) reza que “Se o consumidor tem interesse, pode-se

canalizar esse interesse oferecendo-lhe conteúdo e publicidade relevante”. Há uma variedade

de tecnologias diferentes para que sites de internet possam direcionar publicidade relevante a

seus diversos visitantes em função de seus perfis de leitura e navegação.

Godin (2000) sugere que a permissão e o envolvimento com o cliente seja feita em

estágios, conforme delineados abaixo:

� Anúncio de Resposta Dirigida para vender a Permissão.

� Obtida a Permissão, faz-se o primeiro contato enviando um folheto, video, CD-

ROM, etc.

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� O passo acima vende uma visita.

� A partir desse contato, faz-se a primeira venda.

� Estabelece-se um relacionamento.

Outra recomendação de Godin para aliciar clientes é oferecer alguma recompensa por

sua atenção. Em seu livro mais conhecido, Marketing de permissão, ele delineia algumas

regras de conduta na conquista da permissão do cliente:

� Ofereça ao consumidor potencial um incentivo para que ele se ofereça

voluntariamente.

� Aproveite a atenção oferecida e ofereça-se para lhe ensinar sobre o seu produto ou

serviço.

� Reforce o incentivo para ter certeza de que ele manterá a permissão.

� Ofereça incentivos adicionais para conseguir ainda mais permissão.

� Com o tempo, use a permissão como alavanca para mudar o seu comportamento

rumo ao lucro.

Segundo ele, o lucro está na repetição da compra, vendas cruzadas e no up-selling, isto

é, na venda de produtos mais sofisticados e mais caros. Para Godin, o gráfico do LTV sofreu

uma pequena modificação.

Teríamos então os cinco estágios de vida do cliente:

� Estranho

� Amigo

� Cliente

� Cliente fiel

� Ex-cliente

Finalmente, Godin subdivide a permissão em cinco classes, segundo o nível de

confiança do cliente no relacionamento com a empresa. São eles:

� Circunstancial

O nível mais baixo de confiança, típico dos primeiros contatos com uma marca. Nesse

nível, o contato é geralmente é iniciada pelo consumidor e é válido somente no momento em

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que ocorre. É preciso que a empresa saiba aproveitar bem essa interação para fazer com que o

cliente aprofunde o seu nível de confiança e de permissão para os estágios seguintes.

� Confiança na marca

Diversas marcas conseguem estabelecer um bom nível de confiança com seus clientes,

fazendo com que eles se mantenham fiéis. Marcas de automóveis são um bom exemplo.

� Relacionamento pessoal

Muitas empresas utilizam o modelo de Relacionamento Pessoal para negociar com

seus clientes. Corretoras de seguros e de valores, além de planos de saúde são exemplos

característicos.

� Por pontos

Aqui, o cliente recebe pontos por sua lealdade. O maior cuidado é que os planos

devem ser construídos de tal modo que seja cada vez mais fácil e irresistível conseguir mais

pontos. Essa é a tática utilizada por companhias aéreas e restaurantes.

As principais desvantagens são que os pontos viciam o cliente e qualquer mudança

pode fazê-lo debandar. Há ainda a possibilidade de o programa atrair clientes em busca

apenas das recompensas, os chamados caçadores de oportunidades e, finalmente, deve-se

estar sempre muito atento para evitar possíveis fraudes no sistema.

A permissão por pontos pode funcionar segundo dois modelos distintos. Primeiro,

temos o modelo de Responsabilidade, em que o cliente precisa juntar os pontos para trocá-los

por recompensas. Depois, temos o de Oportunidade, no qual o cliente junta seus pontos e os

troca pela chance de concorrer a um prêmio, em geral mais valioso. Nesse caso, o prêmio não

só precisa ser muito atraente, mas o cliente precisa acreditar, de fato, que tem uma chance real

de ganhá-lo. Para ambas as alternativas, as desvantagens já mencionadas devem ser

cuidadosamente consideradas.

� Intravenoso

Nesse estágio final, o cliente tem confiança absoluta no vendedor, que tem escolha

livre do que vender, por quanto tempo, quantas vezes. É preciso ter muito cuidado com o

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cliente nesse nível de confiança e permissão, pois se houver abuso e quebra da confiança, o

cliente cancela e debanda.

Há ainda um segundo estágio do nível intravenoso, em que o cliente compra mediante

aprovação, podendo não aprovar a escolha e cancelar o pedido, o chamado opt-out. Esse nível

de permissão é o usual em clubes de livros e discos e em clubes de férias.

Segundo esses princípios, a permissão é intransferível, a permissão é egoísta, a

permissão é um processo, não um momento, e pode ser cancelada a qualquer tempo.

O banco de dados da empresa passa então a ser um ativo valioso que não pode ser

partilhado de forma alguma, sob pena de quebrar a confiança depositada pelo cliente ao ceder

seus dados e levar ao rompimento da relação (GODIN, 2000).

3.7. Relacionamento e fidelização

Embora o termo fidelização seja um tanto forte para ser aplicado a seres humanos

dotados de livre arbítrio, esse é o termo de uso corrente para traduzir o desejo de um cliente

satisfeito de repetir a experiência feliz com uma empresa que compreende seus desejos e

necessidades. Este estudo acredita que a palavra lealdade traduza melhor esse espírito, embora

ambas as expressões sejam utilizadas como sinônimas.

Dennis Duffy, consultor e CEO da Loyalty Rules! (agora parte do grupo Emergence

Inc.), separa a fidelização em dois enfoques: “Fidelização estratégica é habilitar a empresa

para manter o cliente ao longo do tempo e fidelização tática é o esforço pró-ativo para

incrementar o total de negócios com cada cliente, através de relacionamentos e benefícios

exclusivos” (DUFFY, 2002).

Para ele, o objetivo do marketing de relacionamento é promover a fidelização, através

do aumento da taxa de retenção de clientes e do aumento do valor total de negócios com cada

um deles. Outro dado fundamental, segundo ele, é que clientes fiéis tendem a se sentir como

investidores da marca, um passo além do advogado da marca, que a recomenda a terceiros.

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Um cliente fiel reclama quando se sente mal atendido, preferindo consertar o que acredita

estar errado a partir em busca de um substituto.

Por benefícios e recompensas, Duffy (2002) entende tudo aquilo que pode ser

oferecido em troca da lealdade. Benefícios podem ser diretos e indiretos, ou tangíveis e

intangíveis (hard e soft benefits, em inglês). Os diretos são aqueles que podem ser expressos

como um percentual sobre o total de negócios do cliente, ou seja, conforme já visto, com base

no histórico de compras e na LTV, sabe-se quanto se pode retornar em pontos e milhagens –

chamados de moeda de troca promocional (promotional currency), além de eventuais

descontos. Os indiretos são aqueles que embora não representem um percentual dos gastos,

são conquistados pelo cliente a partir de determinados patamares de consumo da marca. A

transferência vertical de classe em vôos na indústria da aviação é apenas um exemplo entre

muitos. A trufa de chocolate junto com o cafezinho ao final de uma refeição em um

restaurante é outro exemplo conhecido e simpático.

Em termos de comunicação com o cliente, o kit de boas-vindas aos novos clientes e as

diversas formas de newsletters são alguns exemplos de ferramentas de comunicação utilizadas

para fins de relacionamento.

Marketing de fidelização não é, entretanto, uma estratégia que possa ser utilizada em

todos os tipos de negócio. Ele obtém maior sucesso quando aplicado a negócios que oferecem

produtos e serviços com altos índices de demanda em uma atividade na qual é difícil

distinguir entre a empresa e os seus concorrentes. Além do risco de desenvolvimento e

implementação de uma estratégia de marketing de fidelização mal-sucedida, há também a

necessidade de se criar barreiras de saída dos clientes para os concorrentes, já que estes

conseguem adaptar-se muito rapidamente e copiar programas bem-sucedidos. A estratégia

deixa de ser uma vantagem competitiva se deixar de ser um adicional, banalizando-se. Daí

que uma estratégia de marketing de fidelidade necessita ser bem planejada e constantemente

reaplicada ou atualizada em conformidade com as expectativas dos clientes.

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3.7.1. Programas de relacionamento e fidelização

A fim de tangibilizar para o cliente as vantagens do relacionamento com a marca,

desenvolveram-se os diversos programas de relacionamento, que podem ou não evoluir para

um programa de recompensas do tipo pontos ou milhagem.

Programas de relacionamento podem ser implantados aos poucos, oferecendo a

oportunidade de se aprender ao longo do processo. Como cada empresa é um universo à parte,

o que funciona bem para uma, pode não funcionar para outra.

Todo programa de relacionamento é baseado em três pilares. O primeiro é o

relacionamento, que estabelece um canal de comunicação com o cliente, uma relação tangível

e de mão dupla. Depois vem o reconhecimento, o qual oferece ao cliente benefícios que o

diferencie dos demais e, por último, a recompensa, que apresenta prêmios proporcionais ao

seu consumo. Duffy (2003) afirma que a recompensa deve basear-se necessariamente naquilo

que se chama de uma moeda promocional e que quanto mais o cliente age conforme o que se

espera dele, mais ele ganha.

Quando da implantação de um programa de recompensas, deve-se estar alerta para o

caso de sua eventual descontinuidade pois, pior do que não oferecer nada é oferecer e depois

retirar (DUFFY, 2002). Programas desse tipo são investimentos de longo prazo e as incertezas

da economia e pressões por resultados de curto prazo podem jogar por terra os esforços,

trazendo grandes prejuízos à marca, que podem demandar muito tempo e dinheiro para

consertar.

Programas de recompensas baseados em benefícios diretos demandam um sofisticado

sistema de auditoria e contabilidade que nem todas as empresas estão aptas a implementar

sem que haja um grande esforço de adaptação da organização como um todo. Preparar a

empresa para dar início ao programa pode levar anos e não deve ser feito de forma leviana.

Levey (2003) afirma que a maioria dos programas de pontos ou milhagem falha

quando oferece vantagens que se comoditizaram. Como exemplo, ele cita os programas para

passageiros freqüentes das linhas aéreas. Segundo ele, esses programas já se tornaram um

custo do negócio. Se outra linha aérea aparece oferecendo-se para comprar todas as milhas

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adquiridas pelo cliente e adiciona mais milhas ao negócio com o benefício adicional de ter os

vôos decolando no horário 90% do tempo contra 70% da empresa original, muitos clientes

estarão dispostos a experimentar a nova empresa e o novo programa. Essa mesma teoria se

aplica às empresas de assistência médica no Brasil. Há uma guerra de compras de carências e

oferta de pequenos benefícios adicionais, mas para o cliente, no fim das contas, há muito

pouco que diferencie uma empresa da outra.

Levey (2003) continua dizendo que muitos programas não são descontinuados porque

representam uma ponte de comunicação entre as empresas e seus clientes, mas que sua

sobrevivência depende da inovação constante nas promoções de modo a manter a clientela

interessada.

Ele ainda faz uma última ressalva destacando que programas de pontos ou milhagem

não devem ser confundidos com marketing de lealdade, sendo deste apenas uma pequena

parte, destinada essencialmente a colher informações valiosas sobre os hábitos e preferências

da clientela.

Um programa de recompensas tem que ser percebido pelo cliente como uma vantagem

competitiva e, freqüentemente, torna-se uma marca independente, com sua própria estratégia

de comunicação. O que torna esses programas economicamente viáveis é o raciocínio baseado

na lei de Pareto. Se o programa é direcionado apenas à fatia já mais rentável para a empresa, a

economia gerada pela não participação dos menos rentáveis financia o programa.

Além dos programas de recompensas, há programas de relacionamento baseados em

comunicação apenas, enfatizando os benefícios indiretos. Em muitos casos, os clientes ficam

até mais satisfeitos com esse tipo de programa. Quanto mais sofisticado ou complexo o

produto, maior é a satisfação do cliente em receber mais informações de como utilizar melhor

a sua compra. Um desdobramento de programa de relacionamento baseado em comunicação é

uma estratégia de comunicação enfatizando a educação sobre o produto.

Diversas empresas mantêm programas de relacionamento baseados em comunicação e

educação, destacando-se indústrias de alimentos, informática, higiene e limpeza,

equipamentos eletrodomésticos e até produtos para bebês. A popularização da internet tornou

esse esforço muito mais fácil.

Page 89: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

89

Qualquer que seja o modelo escolhido, convém deixar bem claras as regras para

adesão e participação, a fim de evitar problemas legais. Dado o rigor das leis brasileiras,

recomenda-se ter essas regras redigidas por advogados especialistas em direito do

consumidor.

Entre 1990 e 1996, o autor deste estudo teve a oportunidade de participar de uma

experiência muito bem sucedida nesse sentido no mercado B2B, quando auxiliou a empresa

HighTech Informática, especializada em oferecer produtos de hardware e software para

backup de informação digital, a criar um mercado baseado na informação sobre a necessidade

e as vantagens de se fazer backup de dados. O esforço seguiu uma regra simples de vendas:

identificar um problema e oferecer as soluções cabíveis, com um amplo programa de

informação gratuita que funcionava como alavanca de vendas.

Uma série de malas-diretas foi enviada a clientes prospectivos relatando os problemas

possíveis com a perda de dados e os custos exorbitantes na época para a sua recuperação.

Seguiu-se com o envio de newsletters informativas, com matérias sobre armazenamento de

dados e as diversas tecnologias disponíveis no momento para desempenhar a tarefa. Cada

edição era acompanhada de cupons-resposta, com perguntas a respeito da leitura, valendo

prêmios simples. Além desses cupons, havia outros para serem enviados para amigos que

também desejassem receber as newsletters. As taxas de resposta sempre foram elevadas e o

programa de member-get-member (sócio-indica-sócio) ajudava a fazer crescer o banco de

dados. Uma nova leva de malas-diretas oferecia os diversos produtos da HighTech. A taxa de

resposta foi elevada e a taxa de conversão (venda efetiva) também. O programa se manteve

durante anos, até que mudanças na economia inviabilizaram os custos e, eventualmente,

levaram ao fim da empresa.

3.8. Relacionamento funciona?

A despeito de algumas dúvidas apresentadas ao longo deste trabalho e de algumas

iniciativas que fracassaram, mais e mais empresas constatam que o futuro do mercado está nas

mãos daquelas empresas que conhecem e compreendem os seus clientes. O relacionamento

com eles até o momento é a melhor forma de aprofundar esse conhecimento.

Page 90: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

90

Naidu et al. (1999) conduziram um estudo entre hospitais nos Estados Unidos e

concluíram que aqueles que efetivamente conseguem manter suas portas abertas são

exatamente os que, além de oferecer um serviço superior, conseguem manter uma política de

relacionamento eficaz com todas as partes interessadas, especialmente com clientes, mesmo

quando a conta não é paga pelo cliente/paciente, mas por um seguro saúde.

O estudo conduzido por Naidu et al. (1999) demonstrou claramente que hospitais que

possuem programas de relacionamento têm uma taxa de ocupação maior e apresentam uma

maior rentabilidade por leito que seus concorrentes que não oferecem tais programas. A

pesquisa por eles conduzida também levou em conta diversos outros indicadores financeiros e

não-financeiros, como receita bruta por paciente/leito, retorno sobre ativos, internação média

por leito, entre outros, para concluir que o marketing de relacionamento foi responsável pelo

maior sucesso e longevidade dos hospitais que o adotaram.

No caso específico da indústria hospitalar, as recomendações dos autores incluem

atividades como o pós-marketing, nos moldes propostos por Vavra (1993), serviços de

satisfação pós-tratamento, benefícios para usuários freqüentes, programas de tratamento

focados no paciente, manutenção do banco de dados, apoio para programas correntes de

relacionamento com clientes e programas que envolvam os clientes na criação e

desenvolvimento de serviços e das atividades de vendas do hospital.

O marketing de relacionamento deve ser capaz de melhorar os indicadores de

desempenho do hospital (e de qualquer outro negócio).

Utilizando o princípio da replicabilidade, pode-se extrapolar as conclusões para outros

segmentos de indústria, como hotelaria – bastante aparentado com hospitais – varejo,

indústria, serviços e uma grande variedade de outros negócios.

3.9. Resumo do Referencial Teórico

Conforme visto acima, a lealdade é um processo contínuo, obtido através de esforços

direcionados e personalizados, tendo por base um profundo conhecimento do cliente, de seus

gostos, preferências e hábitos de consumo, enfim, através de um relacionamento,

Page 91: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

91

independentemente do fato de o cliente ser um indivíduo ou outra empresa, tratados pelas

expressões e siglas em inglês como os mercados Business-to-Consumer (B2C) e Business-to-

Business (B2B).

Dentro desse contexto, convém sempre ter em mente que, para fins de relacionamento,

o cliente é sempre um indivíduo, não importando se ele representa um cargo em uma

organização. Quaisquer comunicações, ofertas e vantagens devem ser direcionados a

indivíduos. Se ele for bem conhecido, pode-se fazer-lhe ofertas relevantes, que por sua vez

aumentam a sua satisfação, trazendo-o de volta para repetir uma experiência bem-sucedida. A

repetição da experiência feliz se traduz em confiança e essa confiança é a base da lealdade.

Um corolário conhecido do relacionamento próximo com o cliente é o aprendizado

que a empresa pode ter a respeito de si mesma e de seus produtos/serviços, podendo

aperfeiçoar-se constantemente a um custo muito baixo.

Não custa lembrar que programas de relacionamento e a conquista da lealdade do

cliente não ocorrem a partir de uma decisão isolada do departamento de marketing. Esse é um

processo que demanda esforços da empresa como um todo, da alta direção ao mais humilde

funcionário. É uma total mudança de atitude, mal-comparando, não se trata de uma dieta de

redução de peso, mas de reeducação alimentar para a vida toda.

Não há como ignorar a questão da qualidade no relacionamento com o cliente. De

nada adiantam programas de relacionamento bem concebidos para apoiar produtos e serviços

medíocres ou ruins. Isso remete de volta à experiência da marca. É preciso ter um

produto/serviço de excelente qualidade, dentro de uma excelente embalagem, comercializado

num ambiente real ou virtual excelente, apoiado por um serviço de venda, entrega e pós-

venda também excelente.

No mercado globalizado e ultra-competitivo, falhar significa replicar a falha num

efeito cascata, pois conforme afirma o Technical Assistance Research Programs de

Washington, DC, 91% dos clientes insatisfeitos jamais voltam a comprar na mesma empresa e

comunicam sua insatisfação a pelo menos nove outras pessoas.

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92

Diante do exposto, o marketing direto, em todas as suas vertentes e com todas as suas

ferramentas é o caminho mais curto para se chegar a um relacionamento mais próximo com o

cliente. É a partir da base teórica do marketing direto, testada e aperfeiçoada ao longo de mais

de um século, que se têm os meios necessários para o atingimento do fim proposto.

O objetivo do prosseguimento deste estudo é apresentar casos de empresas com

programas de relacionamento com clientes, delineando as táticas utilizadas que, aliadas aos

objetivos e estratégias, levaram à lealdade do cliente e ao aumento da lucratividade da

organização como um todo. Com base no sucesso de cada empresa, espera-se delinear um

conjunto de melhores práticas, que possa ser seguido, com as adaptações devidas, por

qualquer outra empresa interessada em iniciar um programa de relacionamento e lealdade

com seus clientes.

RESUMO DE ASSUNTOS COM AUTORES E MATERIAIS CITADOS NO REFERENCIAL TEÓRICO

ASSUNTO AUTOR / ANO MATERIAL CONSULTADO

O marketing derelacionamento

McKenna, 1994 Marketing de relacionamento

O marketing um-a-um Peppers e Rogers, 1993 Marketing um a um

O pós-marketing Vavra, 1993 Marketing de relacionamento

Customer RelationshipManagement, ou CRM

Costa, 2002

Alecrim-Santos, 2003

Rodriguez y Rodriguez, 2002

Moeller et al., 2003

Duffy, 2002

Material didático para o curso demarketing direto, módulo CRM daFGV/Cademp

Análise de alguns elementos essenciaispara a gestão de relacionamento – Umestudo de caso

Gestão empresarial: Organizações queaprendem

O melhor retorno sobre o investimento

Do something! Guia prático parafidelização de clientes

O marketing de emoçãoA experiência da marca

Schmitt, 1999

Jensen, 1999

Gobé, 2001

Prahalad e Ramaswany, 2000

Experiential marketing

The dream society

Emotional branding

Como incorporar as competências docliente

O marketing de permissão Godin, 2000

Alecrim-Santos, 2003

Marketing de permissão

Análise de alguns elementos essenciaispara a gestão de relacionamento – Umestudo de caso

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Relacionamento efidelizaçãoProgramas derelacionamento efidelização

Duffy, 2002

Levey, 2003

Do something! Guia prático parafidelização de clientes

The trouble with points programs

Relacionamento funciona? Naidu et al., 1999

Vavra, 1993

Does relationship marketing pay?

Marketing de relacionamento

Tabela 2. Resumo de assuntos com autores e materiais citados no Referencial Teórico

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94

4. Metodologia

4.1. O método do estudo de casos

Uma pesquisa para ser eficaz deve balancear relevância do tema com rigor

metodológico. Para se obter resultados válidos e significativos de uma pesquisa, o emprego e

a apropriada implementação do método mais adequado para o tema estudado são fatores

críticos de sucesso (CONNOLY, 1999).

Por isso, a metodologia adequada é determinada primeiramente pelas questões que

irão orientar a investigação e, em segundo lugar, pelo corrente estado do conhecimento

reportado na literatura (CONNOLY, 1999).

A importância da utilização do método de estudos de casos é defendida por Yin

(1986), por permitir o uso de forma balanceada dos pensamentos dedutivo e indutivo. Além

disso, tem o potencial de introduzir novos conceitos e paradigmas, os quais são essenciais

para o avanço da teoria. Portanto, esse método não é apenas útil, mas, às vezes, uma

indispensável ferramenta no processo de desenvolvimento da teoria.

Em sua análise, Yin (1986) acrescenta que, quando o foco da pesquisa está

direcionado para um problema contemporâneo e não para um problema de natureza histórica,

a aplicação do estudo de casos é considerada a mais apropriada. A utilização do método do

estudo de caso, segundo Yin (1986), tem por finalidade explorar, descrever, ilustrar e explicar

diferentes fenômenos. Apesar de freqüentemente ser utilizado em conjunto com outras

técnicas de pesquisa, para complementar e conectar os objetos de estudo, não pode ser

considerado como um sub-componente de outro método. É, portanto, um método que tem

méritos próprios, podendo ser utilizado de forma individual.

4.2. A escolha da metodologia

Como o objetivo deste estudo é descobrir os métodos empregados por organizações

que utilizam programas de relacionamento com seus públicos, descobrindo

concomitantemente por que essa abordagem funciona, ou não funciona, optou-se por usar o

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método do estudo de caso, uma vez que, segundo Yin (1986), ele é a estratégia mais adequada

para questões do tipo como ou por quê, para investigar um fenômeno contemporâneo em um

contexto da vida real.

Yin (1986) segue afirmando que os estudos de caso são passíveis de generalizações

para proposições teóricas. Campomar (1991) complementa, sugerindo que as análises sejam

feitas por analogias, contendo comparações com teorias ou modelos, e conclusões específicas

com possíveis inferências não-estatísticas. Este mesmo autor adiciona que o estudo de caso

permite as descobertas de relações que não seriam encontradas de outra forma e, como

método de pesquisa social empírica, pode ser o instrumento mais adequado para lidar com a

complexidade do fenômeno organizacional, retendo as características mais expressivas dos

fatos da vida real nos processos organizacionais e gerenciais.

Castro (1997) afirma que diante de problemas desconhecidos, pode-se procurar bem

em uma pequena parte do todo. Mattar (1996) aponta o estudo de caso como uma análise

aprofundada de uma situação específica, ressaltando que, como método de pesquisa

exploratória, seu objetivo é gerar hipóteses e não verificá-las, ampliando o conhecimento do

tema estudado.

Boyd e Wesfall (1964) argumentam que o estudo de caso envolve uma análise

intensiva de um número relativamente pequeno de situações e, às vezes, o número de casos

estudados pode reduzir-se a um, dando ênfase à descrição e ao entendimento da descrição e ao

entendimento da relação dos fatores de cada situação, não importando o número de

envolvidos.

Segundo Yin (1986), estudo de caso único e multicaso são duas variantes da

metodologia de estudos de casos. Na sua concepção, o estudo de caso único não deve ser

concebido como um estudo completo, por isso indica a utilização de um multicaso.

A estrutura metodológica e procedimentos adotados para um estudo de multicaso são

virtualmente idênticos àqueles adotados para um estudo de caso único. Um estudo de caso

envolvendo múltiplos casos – também denominado de casos comparados ou estudo de casos

coletivos – propicia maior percepção que um estudo de caso único e é mais adequado em

estudos descritivos (YIN, 1986).

Page 96: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

96

Para orientar este trabalho, devido aos diversos argumentos acima apresentados,

escolheu-se o método do estudo de caso múltiplo. Tendo como foco a análise do uso do

marketing de relacionamento em organizações diversas e dada a limitada cobertura do tema

pela literatura especializada, além da grande escassez de pesquisas sobre programas de

relacionamento no Brasil, que, dentre os poucos títulos disponíveis, a maior parte, quando

estuda a aplicação dos conceitos, detém-se sobre o caso de uma única empresa e outros fazem

generalizações para um único segmento, julgou-se ser este tema assunto de interesse que

demanda estudo em profundidade, considerando-se a abordagem do estudo de casos múltiplos

como o método de investigação mais adequado.

4.3. A seleção dos casos

No que tange à escolha do caso, Selltiz et al. (1974) afirmam que casos que tenham

nítidos contrastes ou aspectos salientes são mais úteis e as percepções de pequenas diferenças

são mais nítidas, permitindo a construção de hipóteses explicativas para o fato. O objetivo

aqui é o de apresentar empresas com perfis organizacionais, portes e objetivos

mercadológicos diferentes a fim de extrair de suas experiências aquilo que possuem de

comum e que possa ser replicado em qualquer ramo de atividade, sem perder de vista também

aquilo que cada uma tem de particular, que possa, do mesmo modo, ser replicado

integralmente em outros segmentos ou mesmo adaptado a circunstâncias específicas.

Para tal, procurou-se, na medida do possível, isto é, na medida em que diversas

empresas abordadas abriram suas portas para serem analisadas, ter empresas representativas

de diversos segmentos e escopo de relacionamento. Ainda que a estatística não tenha sido

considerada para a análise dos casos deste estudo, a escolha das empresas não deixou de ser

um tipo de amostragem subjetiva, na qual determinou-se uma tipicidade, elencando-se

empresas que podem ser consideradas representativas do universo, pois segundo Lopes

(1999), uma amostragem subjetiva pode ser usada “para populações em que o analista pode

ver todas as unidades de população e seleciona aquelas que lhe parecem ser as representativas

da população”. Dessa forma, foram estudadas: uma empresa que possui uma marca mundial,

reconhecida em todos os mercados em que atua; a seguir, uma empresa mundial também,

atuando em diversos mercados, estudada aqui em um programa voltado para uma fatia

específica de público; seguiu-se com uma empresa do mercado financeiro, atuando em

segmentos múltiplos, que incluem clientes e parceiros; uma grande empresa de varejo com

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97

um público de classe social elevada foi a escolha seguinte; outra empresa, desta vez

representando o mercado entre empresas, ou B2B e, finalmente, uma empresa de pequeno

porte, atuando em um nicho muito específico de público e fazendo um marketing de

relacionamento instintivo, lowtech, e muito instigante. Como a empresa escolhida para

representar o mercado B2B apresentava um programa ainda incipiente de relacionamento,

optou-se por adicionar uma outra, atuando em segmento semelhante, com um programa mais

avançado. O contraponto entre ambas poderá delinears questões interessantes para o leitor.

4.4. O parâmetro usado

De modo a responder satisfatoriamente à questão essencial formulada para o estudo,

optou-se por usar como ferramenta o cálculo do ROI. Se houve um ROI positivo, a questão da

lucratividade fica bem respondida. Caso não tenha havido um ROI positivo, cabem as análises

para saber por que o programa fracassou, não deixando de lado, entretanto, os eventuais

benefícios intangíveis obtidos, como, por exemplo, a fixação da imagem da empresa na mente

de seu público. Em ambos os casos, somente a análise detalhada das ações empreendidas por

cada empresa estudada poderá demonstrar os erros e acertos, apontando finalmente para um

conjunto de práticas recomendadas para todas as empresas que desejem enveredar pelo

caminho do relacionamento com clientes.

Page 98: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

98

5. O processo do marketing de relacionamento em ação

Até o momento, apresentaram-se as teorias mais representativas e as recomendações

consideradas mais eficazes para que se tenha um relacionamento mutuamente benéfico com

clientes.

O que se deseja daqui para diante é delinear um plano de ação que possa ser adaptado

a quaisquer circunstâncias e seguido por qualquer tipo de empresa no relacionamento com

clientes individuais ou empresariais.

Seguindo uma linha de raciocínio expressa ao longo deste trabalho, qualquer plano de

ação precisa ser elaborado em etapas, quais sejam: objetivos, estratégias, táticas, ação,

avaliação de resultados e aprendizagem.

A matemática utilizada ao longo dos exemplos abaixo foi tirada da prática diária em

agência e no ensino, somada a dados retirados do workbook da DMA (2000), de uma unidade

do Curso de Especialização em Marketing Direto da ABEMD (2003) e de uma palestra de

Peter J. Rosenwald, realizada na ABEMD de São Paulo sobre seu livro “Accountable

Marketing”, a ser publicado ao longo de 2004.

5.1. Estabelecimento dos objetivos a serem alcançados

É difícil se imaginar um plano que não tenha pelo menos um objetivo. No entanto, o

mais comum na prática cotidiana é observar como as empresas se lançam em programas de

comunicação sem ter uma idéia muito clara do que desejam como resultado.

O departamento de vendas quer uma coisa, o de marketing outra e a alta administração

ainda outra, enquanto os funcionários não têm a menor idéia do que está em curso, para onde

devem ir e como devem agir. A situação é bem mais comum do que parece, e o problema aqui

é foco. As partes devem reunir-se e eleger um consenso, comunicando-o claramente a toda a

empresa e a eventuais fornecedores de serviços, como agências de comunicação.

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99

Qual é o desejo da empresa? Aumentar a fatia de clientes? Aumentar o gasto por

cliente, elevando o valor do tíquete médio? Evitar o abandono da marca ou estender o ciclo de

vida do cliente? Conquistar novos clientes com base no que se sabe dos clientes existentes?

Rejuvenescer a marca atraindo clientes de uma faixa mais jovem sem perder muito da base

existente mais velha? Essas são algumas das perguntas que devem ser feitas para ajudar a

definir os objetivos de qualquer esforço ou programa.

No caso de campanhas, ou mesmo de ações isoladas, qual o resultado específico que

se quer obter? Vender produtos ou serviços? Gerar leads, ou prospects qualificados para a

ação de equipes de vendas? Trazer pessoas para um evento? Informar? Aumentar o tráfego

em pontos de venda?

Na última etapa, a avaliação dos resultados, verificar-se-á se os objetivos foram

atingidos.

Objetivos, entretanto, tendem a ser afirmativas um tanto vagas, tais como: “A empresa

deseja aumentar a fatia de clientes”. Para tornar objetivos mais tangíveis, o comum é defini-

los e dividi-los em metas. Metas são objetivos tangibilizados e mensuráveis com uma

componente de tempo adicionada. Para o objetivo acima, uma meta razoável seria: “Aumentar

a fatia de clientes em 15% ao longo de seis meses”.

Metas, por sua vez, são alcançáveis por meio de planos e estes são definidos em dois

níveis – o estratégico e o tático.

5.2. O planejamento estratégico

Sabendo-se para onde se deseja ir, fica mais fácil definir como chegar lá. Esse é o

papel do planejamento estratégico no marketing direto e de relacionamento. Quais os

caminhos para atingir os objetivos com a maior economia possível de meios e de recursos?

O planejamento e definição do banco de dados, como já visto, é pré-requisito

estratégico essencial. É por meio dele que se podem extrair quem são os clientes mais

rentáveis, quem são os potencialmente rentáveis, quais os perfis desejáveis de se buscar no

mercado e outras informações essenciais para a inteligência que norteará todo o processo.

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100

A definição do banco de dados traz de volta uma questão fundamental que é o desenho

e análise dos clusters, ou aglomerados, já mencionados anteriormente.

Um artigo de Shepard (2003), publicado pelo site da revista Direct, aprofunda os

conceitos de segmentação de Peppers e Rogers (1993) delineando duas maneiras distintas

para fazer a análise do banco de dados e a definição dos aglomerados. Segundo o artigo, há

um método hierárquico e um método não-hierárquico de executar a tarefa. Inicialmente, têm-

se todos os clientes numa categoria única, que é dividida em duas partes agrupadas pela maior

parcela de identidade entre seus componentes. A metade que mostrar a maior variação

estatística interna é por sua vez separada em duas partes, mantendo a maior semelhança

possível entre os componentes, como no primeiro passo. O processo é repetido

sucessivamente até que não haja mais justificativa estatística para prosseguir.

No cômputo final, os diversos clusters devem ser muito diferentes entre si. O que se

observa na prática é que depois de quatro ou cinco partições torna-se progressivamente mais

difícil de justificar novas partições. A maioria dos algoritmos de clusterização será capaz de

produzir mais subgrupos do que qualquer profissional seja capaz de endereçar. Quando se

observa que a abordagem de comunicação de um grupo para outro não precisa mais ser

diferente, essa é a hora de parar, uma vez que o objetivo maior da divisão em grupos é o

direcionamento da comunicação.

Shepard (2003) sugere que se deve usar mais de um algoritmo de clusterização para

assegurar que os resultados sejam consistentes, isto é, que o número final de grupos

permaneça o mesmo, independentemente do algoritmo usado.

Neste momento, usa-se o método não hierárquico, chamado de k-means solution, em

inglês. Esse método é mais eficaz se o número de clusters já estiver definido pelo método

anterior. O que se obtém por ele é uma distribuição mais uniforme e eficiente da base pelos

segmentos. É importante que no final do processo os perfis definidos nos clusters sejam

idênticos.

Para o marketing direto e para a comunicação dirigida, a relevância só é atingida se, e

somente se, a comunicação for direcionada aos perfis exatos de cada cluster. Do contrário,

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101

adota-se uma comunicação uniforme e tem-se publicidade de massa, derrotando o propósito

da clusterização e da comunicação dirigida.

Tome-se como exemplo o esforço de comunicação de uma loja de CDs, que identifica

os clusters de consumidores de discos de rock, MPB, jazz e clássicos. A linguagem visual e

redacional deve ser diferente para cada um desses grupos. Deve-se lembrar que pertencer ao

cluster de consumidores de clássicos não significa que um indivíduo não consuma discos de

rock ou MPB. Tem-se apenas a predominância da preferência de um estilo sobre outro.

Ofertas cruzadas podem e devem ser feitas, tomando-se os cuidados de fazê-las discretamente

e de testar sempre, aprendendo mais a cada nova investida.

Shepard (2003) segue recomendando que para se inserir toda a base de clientes nas

categorias corretas, utiliza-se um outro modelo estatístico chamado assignment model, ou

modelo de designação. A idéia é utilizar alguma forma de análise discriminatória

(discriminant analysis) por meio de uma equação que pontue os clientes, direcionando-os ao

cluster que mais se aproxime de suas características pessoais.

Deve-se observar que esse sistema funciona melhor com informação baseada em

dados demográficos ou comportamentais. Com uma base atitudinal, a tarefa de predizer a

segmentação sobre os mesmos parâmetros é mais difícil. Afinal, nada garante que duas

pessoas com o mesmo perfil demográfico e até comportamental tenham a mesma opinião a

respeito de um produto.

Outro dado importante para o desenho da estratégia de comunicação da empresa com

seus clientes é a definição do valor de cada cliente. Com esse valor definido, ou melhor, com

esses valores definidos, uma vez que clientes têm padrões diferentes de consumo, podendo ser

agrupados também por essa característica, pode-se saber quanto investir em comunicação com

cada indivíduo e cluster e até quanto se pode investir para atrair clientes semelhantes por meio

de projeções de perfil. É mais comum do que se imagina ver empresas investindo em

comunicação mais do que o lucro trazido por cada cliente.

Caso a empresa não tenha dados históricos para calcular o LTV de clientes, Novo

(2003) tem uma sugestão prática. Basta atentar para os bons clientes que não tenham feito

compras por um período entre seis meses e dois anos. Observa-se, então, a data de sua

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102

primeira compra. O período entre a primeira e a última compras pode ser computado como o

ciclo de vida padrão para efeito de cálculo. Novo (2003) observa que os clientes que retornam

depois de um período longo de ausência devem ser encarados como clientes novos para efeito

desse cálculo, mesmo que a empresa decida manter o histórico de seu comportamento anterior

para fins de comparação. Analisam-se depois os dados de freqüência e valor das compras,

segundo o modelo RFV já mencionado. Como esses dados não são armazenados pela maioria

das empresas, Novo (2003) sugere a seguinte abordagem:

[…] tente focar na unidade média vendida e quebre as componentes de receita e

custos que compõem a unidade. Uma vez que você chegue a uma razão

lucro/unidade, multiplique pelo número de unidades vendidas ao longo do ciclo,

menos os custos de overhead e promoção e você tem o LTV.

Depois disso, preço médio, custo dos bens vendidos e margem de contribuição – ou o

lucro obtido –, devem ser fáceis de calcular. Para calcular os custos com serviços, observe

quantas unidades são vendidas anualmente e divida pelo custo anual de serviço. Use o mesmo

método para devoluções, etc., até que você saiba a razão custos/unidade vendida e a de todos

os elementos que compõem a venda.”

Para exemplificar o cálculo da margem de contribuição, tem-se:

Tabela 3. Cálculo da margem de contribuição

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103

Deve-se atentar para o fato de, em alguns casos, a margem bruta, ou seja, o lucro

obtido da diferença entre a receita obtida na venda e os custos ligados à produção, ser

determinada como um valor absoluto, dada a dificuldade que algumas empresas têm de

conhecer detalhadamente os custos, ou de preferir não divulgá-los em detalhe.

Seguindo o raciocínio de Novo (2003), passa-se ao cálculo do LTV propriamente. Ele

propõe como exemplo que a empresa descubra que o tempo médio do ciclo de vida do cliente

seja de dois anos e que ao longo desse tempo ele faça dezesseis compras.

Com base na margem de contribuição descoberta acima, ter-se-á a seguinte equação

para determinar o LTV de cada cliente:

Dezesseis vendas ao longo dos dois anos do ciclo de vida x $ 35,20 de lucro por

unidade = $ 563,20 para o LTV do cliente médio.

Imagine-se que a empresa descubra que cada cliente traga mais três novos clientes.

Com essa informação adicional, descobre-se que o custo máximo de aquisição de um novo

cliente deverá ser 4 x $ 35,20 = $ 140,80 para empatar os custos.

Novo (2003), entretanto, faz uma ressalva quanto a esses novos clientes indicados por

clientes satisfeitos. Para ele, eles servem apenas para indicar os custos de aquisição. No que

tange ao LTV, o mais seguro é manter o cálculo individualizado, do contrário, ter-se-ia uma

dupla contagem, na medida em que estes novos também indicariam outros e assim

sucessivamente.

Nesse momento, é comum observar-se que alguns grupos de clientes apresentam um

LTV negativo. Isso apenas reforça a tese, já apresentada, que alguns clientes trazem prejuízos

para a empresa e é melhor deixar que a concorrência fique com eles.

Ao longo de mais de cem anos de prática, as empresas de catálogos observaram que há

um trio de comportamentos que se repetem, independentemente de oferta, produto ou o que

quer que seja.

Page 104: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

104

� Clientes que fizeram compras recentemente estavam mais propensos a comprar

novamente que clientes que não faziam compras há algum tempo.

� Clientes que compravam com freqüência tendiam a comprar novamente, em

contraposição a clientes que faziam apenas uma ou duas compras.

� Clientes que gastavam mais tendiam a comprar mais novamente e que os clientes

mais valiosos tendiam a tornar-se ainda mais valiosos.

Essas características levaram à conclusão que o comportamento futuro podia ser

predito a partir do comportamento passado. Ao longo de infinitas campanhas, os clientes que

obtinham uma boa pontuação de recência, freqüência e valor tinham um padrão de resposta

melhor que os que tinham uma pontuação mais baixa. Ao concentrar o envio de catálogos

para o grupo dos melhores e deixar de lado o grupo dos piores, as empresas descobriram que

seus lucros aumentaram muito. Com a economia obtida quando deixaram de se comunicar

com o grupo dos piores, elas puderam investir ainda mais no grupo dos melhores, obtendo

resultados ainda melhores.

Ao se designar uma pontuação para cada característica e assumindo que isso tenha um

valor econômico, tem-se um modelo no qual quanto maior for a pontuação RFV, maior é a

lucratividade trazida por esse cliente agora e no futuro. Ecoando Bayón et al. (2002), o valor

futuro projetado é um forte indicativo de saúde financeira da empresa.

A pontuação RFV é também um indicativo para que se tomem medidas para trazer

mais clientes para o grupo dos melhores por meio de comunicação específica para esse fim.

Com base nos valores obtidos de lucratividade por venda, juntadas ao LTV e RFV, pode-se

pensar nos caminhos a seguir para atingir as metas pretendidas.

Uma observação deve ser feita a esse respeito para aquelas empresas que já possuem

um MDB mais sofisticado – dados relativos a custos envolvidos com produção e/ou aquisição

de bens ou serviços vendidos podem ajudar a definir com maior precisão a verdadeira

lucratividade trazida por clientes em função dos custos embutidos naquilo que compram.

No plano estratégico de comunicação, dados os valores obtidos de quanto investir na

aquisição de cada cliente e no percentual desejado de aumento da base de clientes delineado

na meta, ter-se-ia a seguinte equação para determinar a verba disponível:

Page 105: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

105

Tabela 4. Determinação da verba para aquisição de clientes

Tem-se então um total de $ 8.448.000,00 a ser distribuído ao longo dos seis meses

definidos na meta.

Para os exercícios que se seguem, teremos como base para cálculo o custo da ação por

unidade de $ 8,80 (sendo esta a soma dos valores de custo de manuseio e remessa, call center,

devoluções e seu processamento, fraude e perdas de mercadorias e custos promocionais /

descontos / publicidade, etc.). O universo total da remessa será de 150.000 prospects. Com

base na verba e no tempo definidos para a ação, pode-se, finalmente, pensar nos caminhos ou

estratégias para o atingimento da meta.

Como será a campanha? Qual o conceito por trás da campanha? Haverá brindes?

Haverá descontos? Em caso afirmativo, qual o percentual da verba dedicado a brindes e/ou

descontos? Ao longo dos seis meses, qual será o número de contatos? Haverá testes? Em caso

afirmativo, sobre que percentual amostral? No caso de um programa de relacionamento,

haverá um plano de milhagem? Haverá um programa de pontos ocultos? Como será a

comunicação? Com que freqüência ela será feita? Quanto da verba será alocada para materiais

de apoio como carteirinhas, folhetos do tipo take one, etc.?

O passo seguinte é a definição do plano tático.

5.3. O Planejamento Tático

Conforme já descrito anteriormente, táticas são os meios utilizados para realizar as

estratégias.

Page 106: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

106

No caso de um plano de comunicação, elas incluirão anúncios, folhetos, malas-diretas,

telemarketing, etc. Um bom plano tático define não só quais as ferramentas a serem utilizadas,

como também a sua seqüência e freqüência. Esse é o momento de definir se uma ação será

feita em um ou mais passos, com comunicação de reforço, se haverá ou não um teaser e

outros detalhes da comunicação. A correta distribuição da verba para contemplar todas as

ferramentas escolhidas, extraindo delas o seu potencial máximo é outra tarefa desse plano.

Com base no gráfico Cérebro, olhos, boca e ouvidos do marketing direto apresentado na

figura 14, definem-se também quais serão os canais de resposta abertos ao cliente para o seu

retorno.

Esse é o momento para se considerar a sinergia entre as diversas mídias, isto é, se vale

a pena investir mais para cercar o prospect, com comunicação em diversas mídias, a fim de

assegurar uma taxa de resposta maior. Quando essa informação não está disponível no MDB,

essa é uma atitude razoável, a despeito dos custos. À medida que se coletam dados a respeito

das preferências de comunicação dos clientes, esses custos passam a ser otimizados em

função da inteligência acumulada.

Segundo o plano estratégico, que definiu o perfil dos melhores clientes, ou o perfil dos

clientes que se deseja atingir, cabe ao plano tático definir onde buscar esse perfil desejado. No

caso da aquisição de novos clientes, deve-se definir quem serão os fornecedores de listas de

prospects, de acordo com o perfil desejado. No caso da retenção de clientes existentes, deve

ser determinado quais os que receberão atenção.

No plano tático definem-se também, sem perder de vista a verba disponível, as

quantidades de peças de comunicação enviadas em cada leva, com base em taxas históricas de

resposta, se estas existirem na empresa, ou com base em taxas de resposta fundamentadas no

cálculo de break-even, ou empate financeiro da ação. O break-even é o ponto de equilíbrio

entre despesa e receita de uma ação ou campanha, a partir do qual tem-se lucro, ou abaixo do

qual tem-se prejuízo ou um lucro inaceitável. Algumas empresas até incluem uma margem

mínima para o cálculo do break-even de modo a assegurar uma lucratividade mínima, abaixo

da qual nem consideram investir. Com base nesse cálculo feito a priori, pode-se decidir se

vale a pena ou não prosseguir com a ação ou campanha.

Page 107: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

107

O break-even é calculado, então, pela soma total dos custos dividida pela margem

bruta. Tem-se, assim, o número de unidades do produto que devem ser vendidas para que a

ação se pague.

Tabela 5. Cálculo do Break-even

Para se ter o mesmo resultado em termos percentuais – para se saber antecipadamente

qual o percentual de resposta necessário para o empate financeiro da ação – multiplica-se o

resultado obtido na equação anterior por 100 e divide-se pelo número de pessoas atingidas, ou

o universo da ação.

O resultado desse cálculo encontra-se na última linha da tabela 3 acima.

Um ponto de equilíbrio elevado é uma aposta arriscada. Somente uma taxa histórica

que a corrobore ou uma enorme confiança no sucesso podem justificar esse investimento.

Essa afirmação não significa, entretanto, um não taxativo. No caso de produtos de alto apelo e

baixo preço, a ação se justifica. Já houve casos de respostas acima de 80% para uma ação bem

direcionada e relevante. Já se o produto oferecido for um item de preço mais elevado, um

automóvel, por exemplo, convém repensar toda a ação.

BE x100

U= BE %

= BE CA

MCou, seguindo os dados do exemplo:

CCCCáááállllccccuuuulllloooo ddddoooo bbbbrrrreeeeaaaakkkk----eeeevvvveeeennnn

Break-even = Custo Total da Ação / Margem bruta do clienteUniverso de prospects a trabalhar 150,000.00 Custo Unitário da Ação 8.80 Custo Total da Ação 1,320,000.00 Margem bruta do cliente (margem bruta x 16 compras em 2 anos)* 704.00 Break even (unidades vendidas)** 1,875.00 Break even (% de vendas no universo) 1.25%

* A rigor, deveria haver um deflator relacionado ao valor presente das compras futuras.

** o numero medio de compras no periodo estudado

Page 108: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

108

5.4. A ação

Com tudo definido em termos de estratégias e táticas, cabe implementar a ação

propriamente. Planejar a distribuição e o recolhimento e tabulação das respostas; cuidar do

fulfillment, ou seja, cumprir aquilo que foi prometido, seja o envio de mais informação ou o

envio de um produto adquirido; alocar tarefas e definir responsabilidades; definir

cronogramas; distribuir brindes, prêmios, pontos e milhagem; e comunicar esses fatos são

tarefas que devem preceder a ação.

Acompanhar o desenrolar da ação é outra atividade fundamental, se há um desejo de

corrigir eventuais problemas no momento em que ocorrem, a fim de manter tudo no rumo do

atingimento dos resultados esperados.

5.5. Avaliação dos resultados

Diferentemente da comunicação de massa, tanto o marketing direto quanto o

marketing de relacionamento propiciam a mensuração muito precisa dos resultados.

Como desde o planejamento já havia metas bem definidas a atingir, já havia um

cálculo preciso do ponto de equilíbrio da ação, ao mesmo tempo em que o banco de dados

possibilita o acompanhamento do comportamento dos prospects, a avaliação pode ser feita

com relativa facilidade.

Finda a ação, pode-se calcular a taxa de conversão com base na equação:

Ao longo dos anos, pode ser que profissionais experientes tenham verificado que uma

taxa de 2% correspondesse a uma média geral de respostas. Entretanto, médias são uma

generalização que muitas vezes não corresponde à realidade de fato. Como pode ser visto nos

C (conversão) x 100

U= TC

5.000 x 100

150.000= 3,3 %

ou, seguindo os dados do exemplo e imaginando que 5.000 artigos tenham sido vendidos,

tem-se:

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109

exemplos acima, o ponto de equilíbrio pode ser pensado como uma relação entre o custo da

ação e o produto da margem de contribuição e o número médio de compras no período.

Uma boa taxa de retorno, portanto, é aquela que gera lucro, ou seja, aquela em que a

resposta seja maior que o break-even, ou em que a taxa percentual de resposta seja maior que

o break-even percentual, como no exemplo acima, em que 5.000 > 1.875 e 3,3 % > 1,25 %.

A rigor, se o objetivo não é a venda direta, usa-se o termo taxa de retorno ou de

resposta, deixando a taxa de conversão para expressar as vendas efetivas. Como esse exemplo

trata de vendas, optou-se por usar o termo taxa de conversão.

Com base nos resultados obtidos, pode-se também calcular o custo por pedido, ou seja,

o valor pago em dinheiro para obter cada unidade de resposta ou pedido propriamente.

Uma outra forma de fazer a análise, é fazer uma comparação entre o custo por pedido

e a margem bruta. Se CPP > MB, tem-se prejuízo. Em caso contrário, CPP < MB, tem-se

lucro. Caso haja um equilíbrio entre ambos, o resultado será o ponto de equilíbrio, ou o break-

even, em que não há nem lucros nem perdas.

No exemplo em pauta obteve-se CPP = 264,00 < MB = 704,00, reiterando os dados da

taxa de retorno, indicando que houve lucro.

Deve-se observar que nem sempre o objetivo estratégico é a venda ou o lucro. O caso

da Amazon.com é um exemplo que vem à mente nesses momentos, no qual o raciocínio usado

pra a venda de livros, que dava prejuízo ou mal se pagava, foi utilizado para a venda de outros

produtos, como eletrodomésticos. O objetivo estratégico de toda a comunicação era o

aumento da base de clientes, objetivo esse que foi plenamente atingido.

Diante disso, outros objetivos podem ser contemplados, como uma maior participação

no mercado, o crescimento das vendas, a diversificacão da oferta, o crescimento do share of

heart ou o relacionamento mais aprofundado com o cliente, todos resultados que independem

CA

C= CPP

1.320.000

5.000= 264,00ou, seguindo os dados do exemplo:

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110

de lucro para serem bem sucedidos. Como mencionado anteriormente, há ações cuja

finalidade é a geração de leads, de pedidos de informação, de visitas a lojas ou sites, a

efetuação de ligações telefônicas ou o envio de cupons preenchidos. Essas são tipicamente

ações em dois passos. Deve-se, nesses casos, calcular a taxa de conversão de leads (TCL), que

nada mais é que a razão entre o segundo e o primeiro passos multiplicados por 100, ou seja:

Por outro lado, é muito comum que o cálculo da lucratividade de uma ação não leve

em consideração o LTV. O resultado imediato pode ser aquém do esperado, mas os

retardatários e as compras repetidas, sinal inequívoco de conquista de clientes, pode reverter a

situação.

Finalmente, para calcular o retorno sobre o investimento, deve-se multiplicar a

conversão pela margem bruta e dividir o resultado pelo custo da promoção, tendo-se:

O ROI dessa ação foi, portanto, de 1,66 para cada 1,00 investido.

Planejar ações com um ROI elevado é o desafio de todo profissional de marketing de

relacionamento. Felizmente, almejar um ROI compensador está profundamente enraizado na

cultura do marketing de relacionamento. Segundo Moeller et al. (2003), “uma capacitação de

ROI em marketing envolve a coleta e avaliação de dados, a tomada de decisões corretas, sua

implementação, a mensuração do impacto resultante e, por fim, a adaptação da empresa com

base no resultado.”

Para esses autores, a estrutura da capacitação do ROI em marketing é dividida em

quatro componentes:

• Ferramenta analítica: trata-se, segundo eles, de um modelo de cálculo estatístico

que permite um melhor entendimento do volume incremental gerado por cada

ação – chamada por eles de evento – identificando assim os eventos rentáveis e

ajudando a empresa a evitar os não-rentáveis no futuro. Um sistema de

2º Passo

1º Passo= TCL

Vendas (conversões)

Leads (retornos)X 100ou por exemplo:

C x MB

CA= Retorno em $

5.000 x 44,00

1.320.000= 1,66ou, seguindo os dados do exemplo:

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111

gerenciamento de campanhas, por mais primitivo que seja, acoplado ao banco de

dados, conforme demonstrado na figura 12 é, no entender deste estudo, a resposta

a essa questão.

• Sistemas de apoio à tomada de decisões: no caso, é um conhecimento técnico

complexo incorporado a ferramentas de fácil utilização, porém sofisticadas, que

possibilita a coleta, integração e aplicação de dados fornecidos pela ferramenta

analítica descrita acima e pelo próprio campo. A mesma ferramenta de

gerenciamento de campanhas mencionada deve incorporar esse módulo também.

Sua integração com outros sistemas de apoio a decisões, como ERP e SAP, deve

ser contemplada no caso de organizações maiores e mais complexas.

• Processos empresariais reformulados: tem-se aqui uma estratégia empresarial,

orçamentos, determinação de metas, planejamento tático e análise posterior de

eventos como atividades que devem ser coordenadas a fim de alcançar os

objetivos corretos de gastos, volumes e lucros, evento por evento, conta por conta,

região por região.

• Alinhamento organizacional: nesse caso, o claro estabelecimento de direitos de

decisão, o treinamento e a capacitação de executivos e pessoal e o

desenvolvimento dos incentivos adequados são todas atitudes que ajudam a

descentralizar a tomada de decisões, no contexto de uma estratégia corporativa

equilibrada entre volume e rentabilidade. Para efeitos deste estudo, o equilíbrio

entre a visão do marketing de produtos voltado para o volume, ou market share e

a rentabilidade do marketing voltado para o cliente.

Moeller et al. (2003) descrevem em outras palavras o que foi exaustivamente descrito

nas páginas anteriores. Para resumir, fazendo uma analogia com uma situação cotidiana e

muito conhecida: relacionamento com clientes não é dieta, é reeducação alimentar.

Novo (2003) adiciona que para se obter um ROI verdadeiro deve-se incluir a variável

tempo. Todo investimento rende alguma coisa ao longo de um determinado período no tempo.

Dinheiro investido em um banco rende um determinado percentual de juros calculado ao

longo de um ano. O mesmo se dá com investimentos em marketing.

Ao fim de uma ação, calcula-se o quanto ela rendeu, se atingiu ou ultrapassou o ponto

de equilíbrio. Caso tenha atingido, não houve lucro nem perda, caso tenha ultrapassado, esse

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112

lucro é o verdadeiro ROI. Se nem sequer atingiu o equilíbrio, resta o aprendizado para que

não se erre mais no futuro.

Novo (2003) alerta que a despeito de algumas ações apresentarem um ROI negativo

imediatamente após o seu término, freqüentemente há uma atividade residual que muitas

vezes surpreende, tornando aparentes perdedores em vencedores impressionantes.

5.6. Aprendizado e aperfeiçoamento

Quase toda atividade humana visa um aperfeiçoamento contínuo, do contrário ainda

estaríamos desenhando em paredes de cavernas. Esse ímpeto de aprender cada vez mais,

mesmo que a custa de muitos erros, fez da humanidade o que ela é.

Cada campanha e cada ação traz em seu bojo um valioso estoque de conhecimento.

Esse conhecimento armazenado é o alicerce de sucessos futuros. Para de fato evitar a

repetição dos mesmos erros, o objetivo do aprendizado deveria ser descobrir porque eles

ocorreram e não apenas atingir o resultado desejado.

Segundo esse conceito, o banco de dados de clientes deve incluir históricos de ações,

de compras, de contatos, etc. O software de gerenciamento de campanhas pode ser o começo,

na medida em que ele armazena o aprendizado de cada campanha. Um sistema integrado de

inteligência corporativa, nos moldes preconizados por Probst et al. (2002), seria a ferramenta

ideal para que gerações de funcionários de uma empresa pudessem aprender com seus

predecessores, acertando cada vez mais e, quem sabe, errando menos que eles.

Se o exemplo da ação descrita acima for extrapolado para a campanha planejada para

durar seis meses, o simples aprendizado obtido pode ajudar a nortear as ações futuras,

auxiliando na obtenção de resultados cada vez melhores.

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113

6. Os casos

Dando seqüência à lógica do trabalho, no capítulo anterior viu-se o processo para a

implantação de um programa de relacionamento, com a definição dos seus objetivos e o

estabelecimento dos planos estratégico e tático, com a matemática necessária para

determinação da verba a ser aplicada e para a mensuração dos resultados.

Com os casos delineados a seguir, será possível observar como as empresas realizam

as atividades na prática. Embora alguns dos momentos descritos anteriormente não tenham

sido descritos pelos responsáveis entrevistados, é possível, para o leitor, o entendimento do

processo com base nas informações fornecidas até então.

6.1. O caso Torrentes

A empresa Torrentes Material Hospitalar Ltda. é uma empresa atuante no ramo de

distribuição de produtos médico-hospitalares, centrada, portanto, em clientes empresariais, o

chamado mercado business-to-business, ou B2B, contando com uma equipe total de trinta

pessoas, muitas das quais constituindo a equipe de vendas, cuja atuação baseia-se

primordialmente em um sistema de televendas.

A Torrentes funciona há oito anos, vinda de uma experiência anterior de quatro anos

com outro nome e quadro social. Segundo Alexandre Torrentes, um dos sócios, a utilização

do marketing de relacionamento veio acontecendo aos poucos, seguindo o curso do

crescimento da empresa. Na percepção da diretoria, os vendedores que procuravam

estabelecer um contato mais próximo com o cliente – num quadro constituído quase que

exclusivamente por profissionais da área de compras dos hospitais e clínicas atendidos – eram

mais bem-sucedidos que aqueles que meramente ofereciam os produtos e tiravam os pedidos.

Por um processo de seleção natural, a empresa acabou por reter apenas os vendedores

do primeiro grupo e decidiu investir mais no aperfeiçoamento da equipe e do processo de

venda, por meio de incentivos diversos e de um programa intuitivo de endomarketing que

inclui, além de estímulos diversos ao bom desempenho da equipe, eventos como cafés da

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114

manhã e jantares, que permitem não só a confraternização da equipe, mas servem também

para reforçar o espírito de corpo e o comprometimento de todos.

Nas palavras de Alexandre, o que se busca no relacionamento com o cliente é um elo

que transcenda a mera transação comercial. Segundo ele, a palavra “amizade” soa um pouco

forte demais, mas a idéia é estabelecer um rapport que permita o livre trânsito de

informações, em que, eventualmente, o cliente possa até abrir o seu orçamento para uma

determinada compra, de modo que a empresa possa oferecer-lhe preços compatíveis, ou

condições de pagamento que permitam a efetivação da mesma. Há diversos casos de clientes

que até aceitam pagar um pouco mais, dado o grau de confiança na empresa e a segurança

com relação aos serviços agregados, como prazos de entrega, cuidados com embalagem e

transporte, dentre outros. Como a Torrentes é uma distribuidora, os produtos que oferece são

produtos de linha dos grandes fabricantes, também oferecidos pelos seus concorrentes. Para

Alexandre, o sucesso reside em conseguir oferecer a mesma coisa com uma “roupagem”

diferente. Essa diferença inclui os serviços mencionados e, principalmente, o relacionamento

estabelecido.

O gráfico de Pareto dos melhores clientes é definido por um sistema de banco de

dados desenvolvido especialmente, que produz diversos relatórios, dentre eles o de volume de

compras, dividido em quantidade de produtos adquiridos e em valor total da compra. Antes de

qualquer outro critério para definir um bom cliente, Alexandre destaca que, dada a enorme

inadimplência no setor, ser um bom pagador é fundamental para incluir o cliente no que a

empresa chama do grupo de clientes de elite. Um outro dado interessante apresentado pelo

software é que os melhores clientes da empresa não são os de maior potencial de compra, mas

os de médio potencial, que não possuem a capacidade de comprar os volumes exigidos pelos

fabricantes para vendas diretas, mas constituem um mercado bastante atraente por fazerem

compras menores, mas com maior freqüência.

O mesmo sistema também é responsável por apontar as vendas por cliente e por

produto/cliente, auxiliando nas decisões de compras futuras, melhorando o processo de

compras da empresa, o que pode se reverter em benefício para o cliente.

Com base em informações do sistema, mas principalmente segundo uma avaliação

pessoal feita pela diretoria, há uma espécie de pontuação informal para os melhores clientes,

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115

que acabam recebendo um tratamento diferenciado, especialmente no que tange a prazos e

condições de pagamento. Alexandre reconhece que um processo sistematizado com um apoio

maior de tecnologia ajudaria a corrigir eventuais injustiças, inevitáveis num processo

“manual” de seleção.

No que tange à comunicação, a empresa não utiliza nenhuma das ferramentas usuais,

como catálogos, malas-diretas ou e-mails, dependendo exclusivamente do contato pessoal

para a realização das vendas. Entretanto, para o grupo de clientes de elite, a equipe de vendas

dispõe de uma verba para a aquisição de pequenos brindes promocionais ou presentes por

ocasião do Natal ou da Páscoa.

Perguntado se havia algo mais além do contato pessoal para a manutenção do

relacionamento, como eventos ou encontros extra-negócios, Alexandre respondeu que como o

cliente é um profissional atuando dentro de uma organização, subordinado a uma hierarquia,

poderia haver problemas e interpretação inadequada por parte dessa hierarquia quanto a

contatos fora do ambiente imediato de negócios. Até os brindes e presentes já mencionados

podem se tornar um eventual problema, se mal concebidos e administrados.

Retomando a questão das vendas pequenas e freqüentes, a empresa depreende daí não

haver a necessidade de criar um SAC, uma vez que o cliente está em contato permanente com

a empresa, tendo a oportunidade de relatar imediatamente qualquer problema que tenha

havido. Não obstante, Alexandre achou por bem estabelecer um canal direto entre o cliente e a

empresa, no que ele chamou de “Fale com a diretoria”, um e-mail exclusivo para que os

clientes possam dirigir sugestões ou reclamações diretamente a ele. Essa comunicação, diz

ele, é bastante esporádica. Uma outra experiência foi feita com um questionário-pesquisa de

satisfação, cujo retorno foi mínimo.

Como não há um programa estruturado, com campanhas de comunicação e avaliação

de resultados, não há como estabelecer um cálculo para o ROI, mas Alexandre sente-se

tranqüilo para afirmar que os clientes com os quais a empresa mantém um relacionamento

mais profundo compram de 200 a 300% mais que os outros, havendo alguns casos em que a

simples mudança de estratégia de abordagem e contato representou mais de 1500% no volume

de vendas.

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116

6.2. O Caso Cavideo

A Cavideo é uma locadora de filmes fundada há sete anos e situada no interior do

entreposto da Cobal Humaitá, na cidade do Rio de Janeiro. Vários aspectos diferenciam a

Cavideo de suas congêneres no mercado. A começar por seu proprietário, Carlos Borges,

conhecido por todos como Cavi, um judoca com formação em economia e um instinto

formidável para o marketing, realizando um programa muito bem-sucedido de relacionamento

com clientes, sem jamais ter se dado conta da existência da disciplina. No melhor estilo das

antigas mercearias e lojas de bairro, Cavi conhece pessoalmente cada um de seus cerca de

8 mil clientes e estimula seus funcionários a ter a mesma preocupação.

Fisicamente, a loja é bem pequena, mas o acervo é altamente selecionado para uma

platéia de cinéfilos exigentes, exibindo filmes raros de grandes diretores, a última palavra em

filmes de arte, filmes de animação de todas as partes do mundo e até uma estante com filmes

trash. Essa especialização, segundo Cavi, foi decorrente do fato de ele ter sempre se

preocupado em ouvir o que o cliente queria. Segundo ele, no início, ele não tinha um

conhecimento grande sobre cinema. Suas próprias preferências não iam muito além do usual

dos grandes circuitos de exibição. Foi a partir dos pedidos dos clientes que ele começou a

mergulhar no universo dos filmes de diretor, das produções de nicho e do cinema de arte.

Procurar tais filmes para agradar os clientes foi o primeiro passo, assisti-los para poder

recomendá-los a outros foi o passo seguinte. Entender de cinema de arte foi uma

conseqüência lógica.

Com o crescimento da clientela, Cavi teve que contratar funcionários. Sua preferência

caiu sobre clientes jovens, aficcionados por cinema, muitos dos quais estudantes

universitários da área, sendo que alguns já dão seus primeiros passos na direção e produção de

seus próprios filmes. A propósito de funcionários, Cavi afirma dar a cada um o poder para

tomar uma série de decisões pertinentes ao relacionamento com clientes, incluindo até uma

certa tolerância com relação ao atraso na entrega de filmes alugados. Esse empowerment,

segundo Cavi, levou a que os funcionários sintam-se um pouco como donos da locadora,

auxiliando-os no relacionamento com os clientes e na manutenção e expansão do negócio.

A escolha de cinéfilos para atender clientes tem razões óbvias. Todos são capazes de

recomendar filmes que atendam aos desejos dos clientes, baseados em um método simples

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117

desenvolvido pelo próprio Cavi: o cliente é instado a citar quatro filmes de sua preferência;

com base nessa informação, e na memória e experiência de quem recomenda, um ou mais

filmes do acervo são recomendados; se a escolha é acertada e o cliente fica satisfeito com a

recomendação, o cliente retorna e pode repetir a experiência, construindo uma base de

confiança nas recomendações da equipe. A confiança gera a satisfação, e essa gera o boca a

boca, a base da divulgação da loja. Cavi afirma jamais ter colocado anúncios em qualquer

veículo de comunicação. O boca a boca traz muitos clientes, dentre os quais formadores de

opinião e muitos profissionais da mídia. Por conta desses clientes e seus contatos, a Cavideo

já foi tema de muitas reportagens em jornais e revistas de grande circulação. Cada matéria

publicada vale por dezenas de pequenos anúncios, contribuindo para a divulgação da marca e

multiplicação da clientela.

Para Cavi, tudo aquilo que é feito com paixão se transforma em arte. Em suas

palavras, alguém que corte grama com paixão está fazendo arte e arte é o que torna a Cavideo

diferente. Sua paixão levou-o a tornar a empresa especial aos olho dos clientes. Sua paixão

levou-o a criar uma cultura organizacional voltada para a satisfação do cliente, e agora, todos

se empenham ao máximo para superar as expectativas do cliente.

A preocupação pelo bom atendimento levou Cavi a prestar muita atenção aos clientes

nos primeiros anos de existência da loja. Segundo sua observação, 90% dos clientes deseja

algum tipo de ajuda e agradece uma boa recomendação. A abordagem com a oferta de ajuda é

sempre feita com cuidado, para não incomodar o cliente que deseje fazer sua escolha sem

interferências. Se há receptividade à oferta de ajuda por parte do cliente, o método dos quatro

filmes é aplicado se trata-se de um cliente novo. Os clientes antigos já vão direto ao balcão

perguntando por novidades e a equipe já conhece as preferências de cada um. O objetivo de

conhecer cada cliente pelo nome é uma constante e hoje, com uma clientela cada vez maior,

isso está se tornando cada vez mais difícil, exigindo alguns malabarismos de memória.

Cavi afirma não ter interesse em se acomodar como proprietário de locadora, muito

menos em montar uma rede de locadoras. Sua mente inquieta já criou uma produtora de

cinema, sendo responsável pela produção de alguns curtas, dentre os quais um de sua lavra: o

Sou rocinha hip-hop, que acaba de ser lançado. Seus sonhos incluem a criação de um espaço

multimídia, aberto a diferentes manifestações culturais. Essa abertura veio da interação com

os clientes, pois Cavi declarou-se pouco interessado em manifestações culturais alternativas

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118

quando abriu a loja. As conversas com clientes, que são poetas, dramaturgos, atores, músicos

e cineastas o levaram a descobrir novos horizontes e ampliar o seu gosto por cultura. Esse

novo interesse, por sua vez, o levou à produção de eventos de cultura alternativa, oferecendo

hoje uma ampla gama de eventos que cobrem um largo espectro. A oferta inclui aqueles

ligados a cinema propriamente, como o “Cobal drive-in”, uma sessão mensal de cinema ao ar-

livre, utilizando parte do estacionamento e a estrutura dos bares e restaurantes da Cobal para

exibir curtas-metragens, filmes de animação e cinema alternativo, além de muitos outros.

Desses, há desde festas com DJs e/ou música ao vivo, leitura de peças teatrais e até

lançamentos de livros de poesia. Mesmo quando não produz, a Cavideo apóia uma miríade de

eventos produzidos por amigos e outros grupos envolvidos com cultura. A marca Cavideo

está presente em espaços como o Teatro Café Pequeno, do Leblon, e o Cine Buraco, de

Laranjeiras, além de em uma quantidade de cineclubes e outros espaços em toda a cidade.

Embora não tenha divulgado cifras, Cavi afirma reinvestir quase tudo o que sobra depois dos

custos e impostos na própria empresa, seja na ampliação do acervo, seja nos eventos. Como

nunca entrou em contato com empresas ou entidades interessadas em investir no mercado

alternativo, todas as produções são bancadas com recursos próprios. As amizades no meio e

muito jogo de cintura ajudam a manter os custos baixos para viabilizar os diversos eventos,

que podem chegar a até quatro realizados no mesmo dia, com cardápios e locais diferentes.

A diversificação dos eventos já apresenta seus reflexos no interior da loja. Já há uma

estante exibindo livros, CDs de poesia e música alternativa e outros produtos culturais que

possam atrair sua clientela. A divulgação desses eventos inclui a distribuição de panfletos na

loja e em outros eventos patrocinados pela Cavideo e uma enewsletter enviada a todos os

clientes da locadora.

Perguntado sobre a existência de um banco de dados de clientes, Cavi afirmou ter um,

por conta da necessidade de controle do aluguel das fitas e DVDs, mas que o banco ainda não

conta com informações muito detalhadas sobre os clientes, embora isso já faça parte de seus

planos.

Com respeito à segmentação de clientes, seja segundo a sua preferência por estilo de

filme ou por tipo de evento, ele declarou não se preocupar com isso, uma vez que a locadora

já oferece filmes de nicho, e que a clientela acaba experimentando entre os sub-gêneros

oferecidos, e com relação aos eventos, o convite é igual para todos, pois mesmo quando o

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119

próprio cliente não está interessado, alguém de suas relações poderia estar e o e-mail poderia

ser replicado para outros interessados, fazendo um eficaz marketing viral.

Alguma segmentação ocorre com os panfletos e filipetas. Quem vai a uma leitura de

peça teatral pode receber o convite para uma festa musical ou um evento teatral, por ser este

um público mais aberto. No entanto, uma festa de black music não seria divulgada em um

evento cujo público abertamente não demonstrasse interesse por esse tipo de manifestação

cultural. Como são muitos os eventos, a divulgação acaba sendo feita em função das tribos

que freqüentam cada tipo de evento. Isso não impede que alguns projetos acabem recebendo

uma divulgação mais ampla. A idéia é que não havendo interesse por parte daquele cliente, a

filipeta pode acabar parando em outras mãos interessadas.

O convite eletrônico e a e-newsletter já trazem a chamada para eventos diferentes. O

cliente pode escolher apenas um, ou todos. A diversificação da oferta e a liberdade de escolha

dão o tom. O interessante é que cada evento gera uma onda de reportagens espontâneas na

mídia que, por sua vez, atraem um número grande de interessados. Cada evento acaba

atraindo novos clientes para a locadora, e estes acabam trazendo amigos, realimentando todo

o processo. Traduzindo em números, um evento típico produz cerca de 300 a 400 locações no

dia seguinte, com uma pequena queda nos dias subseqüentes. Como sempre há novos eventos,

o fluxo de locações não pára de aumentar. O número de novos sócios da locadora também

cresce a cada novo evento.

Um incidente relatado ilustra bem o casamento feliz da produção de eventos e sua

divulgação em função da segmentação de público. Há alguns meses, Cavi foi procurado por

um grupo de realizadores de filmes sediado em Manaus, preocupado em fazer filmes sobre a

realidade amazônica. O evento “Um Amazonas” foi criado para exibir os filmes. Ao mesmo

tempo, um produtor cultural americano veio ao Rio com a recomendação de contatar a

Cavideo para um eventual intercâmbio de eventos. O americano encantou-se com o projeto

“Um Amazonas” e o levou para os Estados Unidos, onde ele teve uma carreira bem-sucedida,

percorrendo diversas cidades americanas. O boca a boca gerado lá acabou trazendo outros

produtores americanos, e outros eventos já estão em gestação. O “Um Amazonas” acabou

sendo exibido no “Cobal drive-in” no último mês de março, e o departamento cultural do

consulado francês já agendou a sua participação em um festival de cultura brasileira agendado

para acontecer na França em 2005.

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120

Não há nenhuma preocupação com o ROI de cada evento, mas como há um

crescimento nas locações, no fluxo de clientes e na produção de eventos, é de se supor que

esse ROI seja positivo, permitindo inclusive o investimento em novas atividades, como a

produtora de cinema. Cavi é o primeiro a dizer que mantém um controle bastante frouxo do

fluxo de caixa, forçando-se a fazê-lo mais por conta da fiscalização e dos impostos do que por

sua vontade e interesse.

Cavi afirma que o próximo passo é uma maior profissionalização da empresa, uma vez

que a falta de organização e controle só era possível dentro de uma estrutura menor e

centralizada em sua própria pessoa. Segundo seus amigos, é preciso agora começar a

selecionar os eventos tendo por base os interesses específicos da clientela e não mais o seu

gosto pessoal, mesmo por que os recursos são limitados e torna-se impossível patrocinar todo

evento interessante que aparece. Com uma maior profissionalização e a delegação de

responsabilidades, será possível buscar mais parcerias para produzir ainda mais eventos, com

um foco cada vez maior nos interesses da clientela. Essa profissionalização também inclui o

registro dos perfis e preferências dos clientes, em alguma forma que seja acessível a todos,

talvez no próprio banco de dados de locação, para direcionar melhor a comunicação. O site da

empresa já passou por uma primeira reformulação, mas novas mudanças já estão em estudos,

com uma equipe já dedicada a isso.

Um outro dado interessante diz respeito a um pedido da clientela que Cavi reluta em

atender. Segundo ele, muitos clientes pedem por um serviço de entrega domiciliar. Para Cavi,

interessado no contato pessoal com o cliente, esse serviço afastaria o cliente da loja, esfriando

o contato. A conversa, a troca de idéias, a pesquisa discreta dos gostos e preferências são parte

do diferencial que se perderia com o contato distanciado do telefone e da entrega.

Reclamações e/ou sugestões são tratados com toda a atenção. Não que haja muitas

reclamações, mas quando elas ocorrem, há um interesse em corrigir imediatamente a falha

relatada. Para Cavi, o cliente que reclama dá informações valiosas para o aperfeiçoamento da

empresa. As sugestões para a aquisição de títulos já são tratadas com toda a atenção e o

acervo cresce em função delas.

Como a locadora já se define como especializada em filmes de nicho, o público-alvo

já é naturalmente segmentado. Não que não haja filmes comerciais no acervo, mas estes são

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121

em número pequeno, e o cliente interessado apenas nas grandes produções do circuito

comercial esgota rapidamente os títulos disponíveis, seguindo adiante para as locadoras

comuns. Segundo Cavi, o público típico é de classe A/B, maior de 20 anos, com nível

universitário, esclarecido e “antenado”, consumidor de cultura, interessado em produções

artísticas normalmente não exibidas em grande circuito. Um público no qual Cavi deseja

voltar a investir é o público infantil, segundo ele, muito carente de coisas interessantes e

criativas para assistir. Com a locadora atendendo a toda a família, o público só tende a crescer

mais.

Com relação ao gráfico de Pareto para definir os melhores clientes, Cavi, mais uma

vez, afirma não ter nada muito definido ou organizado, mas há um perfil identificado como

sendo o heavy user, não havendo ainda a oferta de serviços e vantagens diferenciados para

ele, embora o próprio conceito da empresa seja voltado para a satisfação desse cinéfilo

exigente.

As estratégias adotadas, embora não tenha havido uma grande deliberação a respeito,

incluem a diferenciação em relação à concorrência, horários diferenciados de funcionamento,

preços muito convidativos, e um sólido investimento na relação com o cliente. Com respeito à

diferenciação, Cavi relata um incidente ocorrido quando tomou a decisão de abrir a empresa.

Como a TV a cabo estava entrando no mercado, seu avô chamou sua atenção para esse fato e

prognosticou um declínio para todas as locadoras. Sua resposta para o avô foi a seguinte:

“Pode deixar, vovô, a minha locadora vai ser diferente. Vou oferecer filmes que não existam

na TV a cabo”.

No que tange a preços, os seus costumam ser a metade daqueles praticados pelas

demais locadoras. A estratégia resulta no fato de clientes que chegam em busca dos filmes

comerciais acabarem experimentando os filmes alternativos oferecidos nas prateleiras em

quantidade muito maior. Uma vez que o gosto se estabeleça, o retorno é garantido. O

relacionamento com o cliente faz o fechamento da corrente. Todos os clientes assíduos

tornam-se rapidamente advogados da marca, trazendo uma leva de parentes e amigos.

A locadora funciona quase 24 horas por dia, de domingo a domingo. Como a Cobal é

um centro de diversão noturna, com seus muitos bares e restaurantes, o afluxo de público

entra pela madrugada e a locadora está sempre aberta para recebê-los.

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122

A cadeia de relacionamentos de Cavi extrapola em muito o cliente. Ele afirma manter

um excelente relacionamento com competidores, que freqüentemente recomendam sua

locadora para clientes interessados em filmes diferenciados. A recíproca também funciona,

isto é, quando aquele cliente que só se interessa por cinema comercial esgota o seu acervo,

Cavi não hesita em recomendá-lo às outras locadoras próximas. Mesmo não sendo

competidores, Cavi mantém um excelente relacionamento com o Grupo Estação, que mantém

seis salas de projeção e seus escritórios a poucos quarteirões da Cavideo. Ele se declara um

cliente assíduo das salas do grupo e mesmo da locadora mantida contígua às salas.

Por conta dos eventos, estabeleceu-se um profícuo relacionamento com a mídia.

Segundo ele, não haveria grande interesse por parte da imprensa se toda semana ele

produzisse um evento musical. Um primeiro evento seria noticiado com estardalhaço, um

segundo ocuparia um espaço pequeno, um terceiro receberia uma nota e um quarto viraria

rotina. O que mantém o interesse da imprensa é a variedade. E disso ele entende bastante.

6.3. O caso Icatu-Hartford

6.3.1. Histórico e desempenho no mercado

A Icatu-Hartford é o resultado da união do grupo Icatu, especializado na administração

de recursos no mercado brasileiro, com o grupo The Hartford, com 190 anos de experiência

no mesmo ramo no mercado norte-americano, oferecendo no Brasil produtos nas áreas de

previdência, seguros e capitalização.

Em 1991, o Grupo Icatu criou a Icatu Seguros, primeira empresa no mercado

brasileiro especializada em oferecer benefícios ligados à vida humana. Em pouco tempo, a

companhia cresceu e ocupou uma posição de destaque no mercado segurador, conquistando o

reconhecimento dos seus principais concorrentes. Esse rápido e contínuo crescimento foi o

resultado de um trabalho focado na inovação em produtos, na introdução de novos modelos de

distribuição e na estruturação de um amplo programa de treinamento para incentivar a

formação e o desenvolvimento de profissionais especializados na comercialização de seguros

de vida e previdência.

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123

Antecipando tendências e atenta a novas oportunidades de mercado para agregar valor

aos produtos, em 1995, a empresa iniciou as suas atividades tambêm no mercado de

Capitalização.

Em 1996, com as grandes perspectivas criadas no mercado de seguros, previdência e

capitalização, após o sucesso do plano de estabilização econômica, a companhia associou-se

ao Grupo The Hartford, passando a denominar-se Icatu-Hartford.

A empresa é líder em seguros de vida, previdência e capitalização, no ranking de

empresas não ligadas a bancos de varejo. No primeiro semestre de 2003, a Icatu-Hartford

consolidou-se como a quarta no segmento de capitalização, a sétima no ramo de previdência

privada e a nona maior empresa de seguros de vida no país.

Tabela 6. Posição da Icatu-Hartford no mercado

Uma parcela significativa do excelente desempenho da companhia está fundamentada

na sua habilidade em estabelecer parcerias e acordos comerciais com empresas do mercado

financeiro e varejista para ampliar os seus canais de distribuição e desenvolver novos

mercados. A especialização de sua equipe técnica e comercial e a capacidade de entender e

desenvolver produtos customizados para cada nova oportunidade identificada são diferenciais

significativos que fortalecem o relacionamento com seus parceiros. A empresa conta com o

apoio de aproximadamente 5 mil corretores e uma equipe de mais de mil funcionários e está

presente em quase todo o terítório nacional, em mais de vinte filiais e escritórios.

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124

6.3.2. Segmentos de atuação

Seguros:

A Icatu-Hartford oferece um completo portfólio de seguros de vida no mercado

brasileiro e une a sua ampla experiência no segmento de Vida com a agilidade de uma

empresa sempre atenta às novas tendências do ramo de seguros no mundo, contando nesse

segmento com a parceria com a Swiss Life, a segunda maior rede internacional de

seguradoras de vida. Os produtos oferecidos incluem coberturas para pessoas físicas e suas

famílias, bem como para pessoas jurídicas, oferecendo a estas últimas toda a estrutura

burocrática para a contratação, administração e pagamento das indenizações.

Previdência Privada:

A Icatu-Hartford foi a primeira empresa no Brasil a lançar planos de previdência nos

moldes PGBL – Plano Gerador de Benefício Livre. Essa modalidade de previdência funciona

como complementação de renda nos casos de pensão por morte, invalidez e aposentadoria. Os

planos de previdência empresarial permitem a implantação de soluções sob medida para cada

tipo de necessidade.

Capitalização:

A Icatu-Hartford atua no desenvolvimento de parcerias com instituições dos

segmentos financeiro, de serviços e varejista na comercialização de títulos de capitalização –

uma forma de poupança programada para aquisição de bens e serviços, que possibilita aos

clientes concorrer a sorteios enquanto economizam. A empresa oferece aos parceiros sua

experiência no negócio, além de administrar e operacionalizar todo o processo. Tem obtido

sucesso nesse modelo de comercialização porque oferece, a cada umas das empresas,

produtos personalizados que funcionam como atrativos para a conquista e manutenção de

clientes, diversificando a atuação dessas empresas e possibilitando-lhes manter o foco nos

seus negócios principais.

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125

Administração de Benefícios:

Com a especialização no segmento de administração de benefícios, a Icatu-Hartford

tem se destacado em prestar consultoria a empresas e administrar fundos fechados de pensão.

Gerencia passivos, controlando as contas e a estrutura técnico-atuarial, e otimiza os ativos,

aplicando os recursos garantidores das reservas técnicas. Além disso, orienta as empresas na

montagem de fundo próprio de previdência e oferece tecnologia e serviços através do Icatu-

Hartford Fundo de Pensão.

6.3.3. A situação atual

A empresa acaba de passar por uma ampla reestruturação, com a fusão das três

empresas que atuavam separadamente nos segmentos de atuação descritos acima. Essa fusão

trouxe consigo a unificação do marketing, agregando a experiência das diferentes equipes

com seus segmentos e empresas originais e unificando seus objetivos.

Segundo dois executivos da área, que preferiram não se identificar, o marketing está

agora estruturado para atuar em três frentes, com equipes dedicadas a cada uma, quais sejam:

Varejo, atendendo a pessoas físicas; Atacado, voltado a pessoas jurídicas e Parcerias, focado

no relacionamento com parceiros. O marketing conta também com uma equipe de quatro

especialistas para o relacionamento multicanais, atuando conjuntamente nas três frentes

mencionadas.

Uma observação importante deve ser feita também quanto à mudança no foco do

marketing, antes muito mais voltado para a aquisição de clientes e agora, sem perder de

perspectiva a importância da aquisição, voltando-se mais para a retenção de clientes e

parceiros, por meio do relacionamento aprofundado com eles. Mesmo as ações de marketing

aparentemente de relacionamento feitas anteriormente a essa mudança tinham, no fundo, uma

intenção de venda bem forte. A nova diretriz enfatiza o envolvimento, com a venda, quando

existente, feita de forma mais suave.

Como o marketing de relacionamento pressupõe a concessão de benefícios e

vantagens exclusivas para os clientes mais leais, pela primeira vez a empresa vem se

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126

preocupando em oferecer agrados e benefícios que realmente se destaquem como diferenciais

para os clientes.

A Icatu-Hartford já tem uma tradição no uso do marketing direto com seus clientes,

com diversas ações e campanhas muito bem-sucedidas, cujo sucesso foi comprovado pelo

recebimento de diversos prêmios da ABEMD. Embora a empresa propriamente não tenha

uma preocupação específica com prêmios, as diversas agências que a atendem ou atenderam

tiveram essa iniciativa e ambos os executivos entrevistados admitem o papel importante que

essas premiações têm para a imagem da empresa no mercado.

Os valores do lifetime value são o principal fator para a determinação do gráfico de

Pareto. E uma análise do MDB da empresa apontou que apenas 12 ou 15% são responsáveis

pelo maior faturamento.

Esse MDB é administrado por uma empresa especializada, com relatórios e carga

trimestrais. A Icatu-Hartford percebeu que essa periodicidade era longa demais e optou por

investir mais nesse setor para aumentar a agilidade de sua comunicação. Os relatórios

passaram a ser mensais, permitindo ações e campanhas continuadas e a análise das

informações com maior rapidez, ajudando na correção de rumos, quando necessário.

Na área de capitalização, o relacionamento é feito em duas linhas: primeiramente é

preciso cooptar os parceiros para que eles revendam os títulos de capitalização para a sua

própria base de clientes. Somente esse passo já assegura a solução para um problema crítico,

que é uma lista de prospects altamente qualificados.

A segunda linha de ação é a oferta propriamente. A captação de novos clientes

geralmente é feita com a utilização de malas-diretas. Cabe uma ressalva nesse ponto, pois

após uma análise do banco de dados, a empresa descobriu que a taxa de atrito, isto é, a taxa de

evasão e desistência de clientes, era muito alta, com a base se renovando integralmente em

ciclos bem curtos de um ou dois anos, replicando a já mencionada teoria do balde furado. A

conclusão dessa análise apontava na direção de um esforço para uma maior retenção dos

clientes existentes, buscando fechar, por assim dizer, o furo no balde.

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127

Na área de capitalização, um dos esforços nesse sentido é uma comunicação por via

postal, instando o cliente a ligar para uma central de atendimento para renovar o seu contrato.

Como os contratos têm a duração de cinco anos, ou sessenta meses, cartas são enviadas no 58º

mês, fazendo a oferta para que o cliente reaplique o seu saldo em um pagamento único,

voltando a concorrer aos sorteios por mais um período de sessenta meses, ou para que volte a

fazer os pagamentos mensais, como já vinha fazendo nos cinco anos anteriores, auferindo os

mesmos benefícios conhecidos. Em ambos os casos, se a renovação ocorresse, o cliente

receberia um brinde, como um relógio de pulso ou uma agenda eletrônica. Para aqueles

clientes que não ligassem espontaneamente no 58º mês, uma nova carta era enviada no 59º

mês, seguida de uma ação de telemarketing ativo. A taxa de renovação é superior a 50%.

Para clientes que ainda têm seus contratos em curso, há uma outra forma de

abordagem baseada na central de telemarketing receptivo. Caso um cliente que esteja além do

50º mês ligue para tirar alguma dúvida ou resolver alguma pendência, o operador faz uma

proposta no sentido de pré-agendar uma ligação para a renovação no 59º mês. Aqueles que

aderem não precisam receber a carta, bastando a ligação no 59º mês para a renovação.

Um dado curioso a respeito dessa ação é que os operadores da central de informações

freqüentemente se esqueciam de mencionar o brinde, e a taxa de resposta não caía em função

do esquecimento. Com o passar do tempo, o brinde foi abandonado, pois constatou-se que ele

não influia na decisão da renovação do contrato. A respeito de brindes, uma descoberta

interessante é que clientes de instituições voltadas para um público mais sofisticado e de

classe social mais elevada são bem mais sensíveis a brindes do que os clientes das camadas

mais populares.

Esse esforço de renovação é continuado dentro da empresa, com cerca de trezentas a

quatrocentas cartas enviadas mensalmente.

Outra campanha que também teve como ponto de partida a análise dos dados

armazenados no banco de dados foi para a reativação de clientes inadimplentes ou desistentes

com reservas acumuladas em torno de R$ 200,00.

A pesquisa mostrou que havia mais de um milhão de reais em depósitos abandonados

em contratos inativos. Uma ação de telemarketing ativo tem sido suficiente para que mais de

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128

90% dos clientes nesse caso renovem seus contratos, transformando o depósito existente em

um pagamento único e seguindo com os depósitos mensais na conta de capitalização. Uma

pesquisa realizada durante a ação de telemarketing mostrou que uma parcela grande dos

clientes simplesmente se esquecia de ter feito um contrato de capitalização e ficava realmente

agradecida pela gentileza do lembrete, voltando a fazer seus depósitos basicamente em

retribuição pela atenção dispensada. Há bem poucos clientes que se enquadram nessa

situação, mas a campanha é uma das mais bem-sucedidas na história da empresa e, como a

descoberta desse segmento é ainda recente, a campanha ainda está em curso sem que haja

números definitivos para comprovar a extensão do sucesso.

Campanhas também são direcionadas a clientes que já tenham resgatado seu

investimento ao fim do prazo de sessenta meses. Em princípio, esses clientes seriam prospects

bem quentes, uma vez que utilizaram o produto sem problemas e resgataram o seu saldo

conforme estipulado em contrato. Curiosamente, essa ação realizada após o resgate, e não um

ou dois meses antes do fim do prazo, como a campanha mencionada acima, traz resultados de

apenas cinco ou 10%.

No mesmo viés, há campanhas direcionadas a clientes que foram sorteados com somas

em dinheiro ao longo do contrato. A taxa de resposta tem sido bem abaixo da expectativa. A

empresa ainda está no processo de análise dos dados para descobrir o motivo, pois em

princípio, o cliente deveria estar bastante motivado para negociar mais um contrato.

Voltando à questão da desistência, descobriu-se que há uma taxa elevada de perdas em

torno do 12º mês, a partir do qual o cliente pode resgatar seu investimento, mesmo que com

uma pequena perda. Há uma análise em curso para determinar medidas que possam ser

tomadas para evitar essas desistências. Essa descoberta levou a empresa a fazer mais

pesquisas com a finalidade de apontar outros momentos de atrito do cliente para que as

devidas medidas preventivas possam ser tomadas.

No que tange à captação de novos clientes, há um fluxo contínuo de ações com

diversos parceiros. A despeito do que foi dito em relação a listas fornecidas pelos parceiros,

constatou-se que muitos têm a sua base de dados desatualizada, enfraquecendo os resultados.

Nesses casos, um retorno de um a 2% é comum. Com parceiros cujas bases são mais

atualizadas e confiáveis, os resultados ultrapassam os 3,5%, chegando a 10% em alguns casos.

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129

No caso da ação cujo retorno foi de 3,5%, cabe destacar que os executivos frisaram que a

oferta era excelente, a segmentação cuidadosa e a peça enviada muito criativa, afirmando que

o ROI foi de R$ 200 mil, valor considerado excepcional.

Algumas ações têm um ROI inexpressivo enquanto que algumas outras apenas

atingem o break-even, o que de forma alguma invalida a sua utilidade para a empresa, no

dizer dos executivos entrevistados.

Um problema detectado com respeito a ações de captação por intermédio de parceiros

é que como a empresa oferece uma grande variedade de canais de resposta para que o cliente

escolha aquela que mais lhe convenha – incluindo-se aí cartões-resposta, centrais 0800,

internet e fax – quando o cliente opta por preencher a ficha de adesão incluída e entregá-la

diretamente na agência bancária em que tem conta corrente, o gerente o estimula a preencher

nova ficha, visando ficar com a comissão pela captação do cliente, mascarando assim o

resultado da ação.

Outra questão delicada quanto a parceiros não-bancários é a venda por impulso feita

por funcionários do parceiro, visando apenas a comissão e já avisando ao cliente que a

desistência pode ser efetuada a qualquer momento. Um grande trabalho de treinamento e

conscientização precisou ser feito junto a parceiros e seus funcionários para sanar o problema.

Nas áreas de seguros e previdência, espera-se que o cliente adquira o produto e

continue com ele pelo resto da vida. Aqui, a maior preocupação é mesmo com a retenção,

uma vez que nessas áreas o lucro só existe ao fim de um prazo superior a dois anos.

O papel do corretor é de enorme importância nesse segmento e a empresa procura ter

com ele um relacionamento diferenciado, oferecendo-lhe uma série de benefícios, que

incluem um salão de vendas – uma área de trabalho dentro da empresa, com gerentes de apoio

e todos os outros serviços de escritório, de modo que o corretor tenha para si um local de

trabalho assegurado e confortável para que possa desempenhar suas funções despreocupado.

Cabe destacar nesse ponto que o corretor não é um funcionário da empresa, mas um

profissional autônomo sem vínculo algum com a organização. O objetivo aqui é procurar criar

um vínculo emocional que se transforme em lealdade à marca e que o faça vendê-la com

convicção. Outros benefícios incluem a venda consultiva com leads qualificados, um portal

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130

de internet com informações relevantes e consultas on-line em tempo real sobre produtos e

clientes, campanhas de incentivo e de lealdade, treinamento especializado certificado pela

FENACOR – o órgão de classe da categoria – e uma premiação anual para os melhores

corretores, com a entrega do troféu Galo de Ouro. Neste ano de 2004, a cerimônia de entrega

será realizada em Mar del Plata, no Uruguai.

Um problema identificado pelos executivos nesse setor é que não há uma comunicação

sistematizada com o público de corretores que enfatize esses benefícios e que os relacione e

agregue sob um mesmo pacote ou guarda-chuva. Em vista disso, há ainda uma baixa

percepção dos benefícios oferecidos.

Uma das questões constatadas em pesquisas de mercado na área de seguros é o fato de

que a maioria dos clientes conta com a escolha da seguradora feita pelos corretores, mantendo

um relacionamento de fidelidade com o corretor e pouco se importando com a bandeira por

trás do seguro contratado, confiando na escolha feita.

Seguindo a reestruturação do marketing e a análise do banco de dados, constatou-se

perdas grandes com clientes desistentes em ambas as áreas de seguros e previdência. Ações de

relacionamento foram, então, concebidas, sempre com a ajuda e participação do corretor.

Nesses casos, a empresa envia uma mala-direta para o cliente, abrindo uma porta para que o

corretor atue.

Com todos esses estímulos, o relacionamento com os corretores ainda é um tanto

delicado. Mais uma vez, a análise do banco de dados constatou uma quantidade grande do que

a empresa chama de clientes órfãos, isto é, clientes que foram atendidos uma vez para a venda

de um produto e abandonados pelo corretor após a contratação. Nesses casos, há um esforço

por parte da empresa para redirecionar o cliente para um novo corretor que, por sua vez, é

estimulado a procurar fazer o cross-selling ou o up-selling.

Pesquisas junto aos corretores apontaram que há uma cultura arraigada na categoria de

não abordar clientes que já fizeram uma compra, baseada no mito que eles podem mudar de

idéia durante uma segunda abordagem. Mais uma vez, treinamento foi a solução encontrada

para a quebra desse paradigma. O treinamento e ações de incentivo e lealdade aumentaram a

lucratividade na área em 40%.

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131

Retomando o ponto do cross-selling e do up-selling, o monitoramento constante do

banco de dados e das informações coletadas sobre os clientes permite que a empresa pesquise

clientes que tenham planos de previdência e tenham se casado recentemente para lhes oferecer

seguros de vida. O mesmo acontecendo com os casados que tiveram filhos, ou ainda em

outras situações semelhantes identificadas após a análise.

Assim como na área de capitalização, a área de seguros sofre uma atrição muito

grande ao fim do período de contrato de seguros de curto prazo, como o de veículos. A análise

do banco de dados demonstrou que há perdas significativas de clientes durante o 12º mês, da

mesma forma que ocorre na área de capitalização.

A despeito de todo o trabalho de parceria com o corretor, um dos objetivos da empresa

é estabelecer um relacionamento com o cliente final. Isso já vem sendo feito por meio de um

jornal, peça unicamente voltada para o relacionamento, fornecendo apenas informações

relevantes sobre os produtos, freqüentemente esquecidas pelos corretores em seus contatos

com o cliente.

Uma campanha com uma oferta relevante é a campanha deflagrada próxima à época

da entrega das declarações do Imposto de Renda, na qual a empresa pesquisa em seu banco de

dados os clientes que têm planos de previdência PGBL que permitem o desconto de até 12%

do total pago do imposto devido. Nesses casos, a oferta é para que os clientes que ainda não

tenham atingido esse teto façam um aporte, ou seja, um depósito maior do que a mensalidade

mínima contratada, aumentando o seu fundo de reserva ao mesmo tempo em que aumentam

seu desconto na declaração. As taxas de resposta têm sido estimulantes, variando entre três e

10%.

Em outro segmento deste mesmo público, a oferta é de migração para aqueles que

possuem planos de previdência que não sejam do tipo PGBL, que não usufruem do direito a

desconto no Imposto de Renda. A adesão também tem sido estimulante.

Outra ação exclusivamente voltada ao relacionamento é uma campanha de e-mail

marketing deflagrada por ocasião do Dia Internacional da Mulher, iniciada em março de 2004.

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132

Neste momento, a empresa está reavaliando o seu clube de vantagens a fim de

readequá-lo às novas necessidades do mercado, uma vez que vários dos benefícios oferecidos

passaram a ser oferecidos por outras empresas e concorrentes, deixando de ser percebidos

como diferenciais. Uma das propostas é a criação de uma comunidade de clientes Icatu-

Hartford, que compartilhe não só vantagens usufruídas, mas também sonhos e experiências.

Onde antes o objetivo era completamente voltado para vendas, agora a atenção é toda

voltada para o relacionamento, pois a empresa constatou que a venda vem inevitavelmente

como decorrência de um bom relacionamento com o cliente, além da constatação que é bem

mais barato vender para quem já é seu cliente.

Ambos os executivos entrevistados são taxativos em destacar que, mesmo no caso de

ações cuja resposta não seja muito satisfatória, há um ganho na fixação da marca e um ganho

no share of mind com o cliente, que se sente prestigiado ao receber uma comunicação

personalizada.

Como o LTV é a base que norteia o markerting da empresa, outro ponto destacado é

que marketing de relacionamento precisa ser voltado para o longo prazo. Não é razoável

esperar resultados ao fim de um ano ou dois. Na área de capitalização, o LTV mínimo são os

cinco anos do contrato, na área de previdência, espera-se que esse ciclo ultrapasse os vinte ou

trinta anos.

Outro ponto destacado por ambos foi o cuidado com a gestão do relacionamento com

o cliente, destacando sempre a importância do relacionamento em detrimento da tecnologia

sofisticada e cara. O banco de dados, conforme já mencionado, é administrado por

especialistas de qualidade e renome no mercado, mas a empresa optou por adquirir aos poucos

módulos de software específicos para cada situação que se apresentasse, ao invés de investir

muito nas chamadas grandes soluções, encaradas por muitos como uma tecnologia milagrosa

que funciona sozinha ao apertar de um botão. No caso da Icatu-Hartford, os passos foram

pequenos e seguros, sempre tendo em vista os objetivos traçados para cada situação.

Mesmo que o deslocamento do foco de atuação da venda para o relacionamento ainda

não tenha completado um ano, a equipe está orgulhosa de ter dobrado a meta financeira

proposta pela empresa.

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133

Tabela 7. Balanço da Icatu-Hartford

6.4. O caso Clube Irmão Caminhoneiro Shell

O Clube Irmão Caminhoneiro Shell é um exemplo clássico de formação de uma

comunidade de consumidores por meio do relacionamento continuado e da adição de valor.

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134

O foco do clube é o caminhoneiro profissional, seja ele o chamado frotista – o

funcionário de uma empresa de transportes –, ou um autônomo, geralmente proprietário de

seu veículo e dono de seu destino.

Manuel Suhet, gerente do programa na Shell do Brasil, afirma que um cliente que

compra gasolina num determinado posto de uma marca, pode comprá-lo de diversos outros

postos e escolher o que oferece melhores condições. O fato de um fornecedor de combustíveis

ter sido particularmente atencioso não lhe garante a próxima venda. Suas condições devem ser

competitivas, isto é, preço, produto, etc. devem oferecer vantagens claras num mercado

“commoditizado” e competitivo como o de combustíveis, particularmente depois da

desregulamentação do setor no Brasil, levada a efeito pelo governo em 1998. Por isso, a

utilização do marketing de relacionamento é chave para clientes, que, por exemplo, valorizam

um ótimo pacote de serviços e estão dispostos a ficar com um determinado fornecedor por um

longo período, pagando um preço que consideram justo e sendo recompensados por essa

escolha. O programa estudado demonstra a força que tem uma marca associada a um conjunto

de crenças, valores, necessidades e desejos de um determinado grupo de clientes que as

compartilham.

Para Kotler (2000), o acréscimo de benefícios financeiros para os clientes, como

programas de marketing de freqüência e marketing de associação e clubes, pode construir

relacionamentos duradouros, dependendo da taxa de atratividade desses programas.

O Clube Irmão Caminhoneiro Shell (CICS) é um dos maiores programas de

relacionamento voltado para o segmento de transporte rodoviário de cargas. Em seus quinze

anos de história, o Clube passou a ser o canal da Shell na busca de um relacionamento mais

próximo com o cliente. Inédita no país, a proposta de um clube exclusivo e dedicado ao

caminhoneiro, fez com que essa marca se tornasse um dos maiores ativos nos corações e

mentes de seus clientes. Ao longo de sua existência, o Clube Irmão Caminhoneiro Shell já

distribuiu mais de R$ 25 milhões em prêmios, realizou festas e serviu de suporte para

lançamento de produtos, com base num poderoso canal de relacionamento, através de mala-

direta e atendimento telefônico.

Page 135: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

135

O clube conta hoje com 370 mil associados em todo o Brasil, para uma frota total de

1.210.000 de caminhões circulando pelas rodovias brasileiras, ou seja, 30,5% dos

caminhoneiros brasileiros participam do clube.

Sua base ativa, quando estimulada, responde com índices de retorno superiores à 14%,

resultado considerado acima da média quando comparado ao retorno de outras iniciativas de

marketing direto. A tônica do relacionamento da Shell com os caminhoneiros sempre foi

baseada em comunicação dirigida, mas a empresa chegou a ter um programa de uma hora na

TV aberta, aos domingos pela manhã, especialmente voltado para os clientes.

Por terem perfil e interesses bem delimitados, os associados do clube aproximam-se

bastante dos clientes da Harley-Davidson, também estudados neste trabalho.

Apenas para situar o perfil do público, dados de uma pesquisa da CNT – Confederação

Nacional de Transportes – realizada em 2002 apontam que 82,7% dos caminhoneiros têm

entre dezoito e 51 anos, com 31.7% entre dezoito e 35 anos; 73% deles têm apenas as oito

séries do ensino fundamental completas; 69% ganham até R$ 5 mil mensais; 60% gastam até

R$ 2 mil mensais com a manutenção de seus veículos; 62% pagam até R$ 1.5 mil na

prestação do financiamento de seus veículos.

O perfil do caminhoneiro no Brasil, segundo a mesma pesquisa, é fortemente

influenciado pelo caminhoneiro autônomo, que totaliza 33% do mercado, ou cerca de 420 mil

motoristas. Os motoristas agregados às empresas de transportes representam 12% do total e

essas duas categorias somadas representam quase 50% do total de caminhoneiros. Esses são

os principais segmentos que a empresa visa atingir com suas diversas subsegmentações. Dada

a extensão territorial do país e a conseqüente dispersão das mídias de massa, a comunicação

com a base de clientes e prospects torna-se um problema.

A formação de uma comunidade coesa e com interesses comuns é a força do programa

de ambas as empresas e Suhet adiciona que “a proposta de Valor da Shell tem a mesma tônica

na comunicação, na medida em que seu posicionamento na percepção dos caminhoneiros é

voltado para que os postos de rodovia sejam sua segunda casa – como de fato são: um oásis

após um longo dia de trabalho na estrada”. É nos postos que eles fazem suas refeições,

descansam e cuidam de sua higiene pessoal. Comida considerada de qualidade e banheiros

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136

limpos são tidos como sendo de alto valor pelos caminhoneiros e a Shell se empenha para que

os postos que levam a sua bandeira tenham esse fato em consideração.

O gráfico de Pareto, segundo Suhet, é determinado pelo nível de relacionamento do

cliente com a empresa, ou seja, o que conta é o comportamento de compras, a sofisticação de

sua demanda, e alguns aspectos da gestão do marketing direto, como a análise RFV, e a

intimidade no POS (Posto de Serviço) com revenda, ou com empresas que trabalham em

parceria com a Shell.

O retorno das ações e campanhas é medido com base na identificação de transações

dos clientes cadastrados (utilizando seus cartões de associados), ou seja, ações são disparadas

para estímulo ou recompensa da base fiel, utilizando os dados do sistema de CRM, e o retorno

é medido pela captura de transações nos equipamentos instalados no POS. Ou seja, para o

sucesso dessa operação, são necessários um sistema bem estruturado interligado à automação

no ponto de vendas e um robusto CRM.

No que tange à grade de comunicação com os clientes, o conceito das peças é

determinado com base em pesquisas qualitativas. Os objetivos de negócio da empresa, sejam

eles o aumento de vendas de diesel aditivado, lubrificantes, ou apenas fluxo nos postos,

resposta a promoções, ou mesmo aumento do conhecimento e da base fiel, são todos levados

em conta na hora de decidir sobre a comunicação, otimizando custos com base nas

recomendações da agência de comunicação.

Pesquisas quantitativas são usadas para determinar a relevância da base estatística e o

tamanho do universo da ação.

O marketing direto é a filosofia e ferramenta para a comunicação, destacando-se a

ampla oferta dos canais de resposta, facultando ao associado interagir por meio da internet,

número 0800, cartas e através de formulários nos postos, nas festas e feiras.

No início do programa, com os preços dos combustíveis fixados pelo governo e com

um orçamento generoso, o programa concentrava suas atividades na época da safra, que vai

de maio a agosto. Havia uma intensa temporada de shows por todo o país, com a programação

amarrada no que a empresa chamava de “O Som da Safra”. Os caminhoneiros podiam ligar

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137

para a central de teleatendimento para saber as datas e os locais dos shows. Segundo Suhet, o

clube e seus shows foram responsáveis pelo lançamento e pelo sucesso de carreira de diversos

artistas, como Sula Miranda, Xitãozinho e Xororó, dentre outros.

Conforme já mencionado, alterações na situação do mercado exigiram que a empresa

suspendesse uma parte significativa dos investimentos no Clube. O efeito imediato foi a

decisão de descontinuar o programa de TV, com uma proposta alternativa de intensificar os

investimentos em marketing dirigido, uma vez que o programa de relacionamento, através de

uma central 0800, envio de cartões de aniversário, participação em festas e feiras do setor

continuaria existindo.

Diversas ações de relacionamento também foram descontinuadas, tais como o envio de

brindes para os filhos do associado nas datas de seus aniversários e até o envio de bombonas

com três litros de óleo lubrificante para o caminhão na data do aniversário do próprio

associado – o que exigia uma enorme operação de logística para ser concretizada.

Com essas mudanças, houve também alterações nos objetivos e estratégias do

programa. O novo objetivo inclui o desejo de migrar de um programa de relacionamento e

recompensa para um programa de fidelidade, com base no relacionamento transacional,

recompensando aqueles com maior grau de intimidade, seja pelo montante gasto, seja pelo

comportamento, isto é, agindo como influenciadores na decisão de compra e como

formatadores de novas ofertas. A empresa sabe que o segmento de cargas é, por definição,

orientado a preço. Uma vez que o combustível diesel representa cerca de 56% do custo

mensal de frota, beneficios que minimizem esse custo, ou maximizem a oferta agregada,

geram valor e têm reconhecimento pelos clientes-foco, que declaram a preferência pela

marca, colocando-a na posição de liderança. O alinhamento fica claro no que a Shell busca

como Customer Value Proposition, proposta de valor consistente ao cliente. Trata-se também

de Value for Money, ou seja, a obtenção de mais valor pelo dinheiro pago. Suhet ainda

acrescenta que buscar valor em commodities é tarefa dificil, mas os valores da marca Shell –

reproduzidos em sua oferta de produtos, serviços e relacionamento com a sociedade e meio

ambiente – são o espelho dessa estratégia, aliados ao fato de ser esse segmento altamente

atrativo em termos de crescimento e rentabilidade e da Shell possuir considerável participação

de mercado.

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138

Entretanto, diante da constante necessidade de justificar a manutenção de

investimentos em programas de afinidade como o Clube, a alta administração passou a exigir

uma contrapartida que gerasse impacto real no bottom line. Mas, como o Clube não havia sido

concebido e estruturado com a finalidade de ser auto-sustentável e a empresa não se

concentrou na importância da comunicação com os clientes e o mercado, deixando-os alheios

às mudanças em andamento, algo se perdeu com as mudanças. Somando-se a isso, a redução

dos investimentos por parte da empresa foi dramática, restando somente o mínimo para a

manutenção do clube, passando a haver uma percepção generalizada de que o programa havia

sido abandonado pela Shell. O que em certa medida foi verdadeiro.

Pesquisas qualitativas com grupos de associados e quantitativas nos postos de serviço

demonstraram que o sentimento de abandono, decepção e traição ainda é forte em alguns

grupos, particularmente levando-se em consideração o extrato social da clientela e toda a

ênfase no aspecto emocional, que sempre foi uma das tônicas da estratégia do clube. A

despeito disso, constatou-se que essa percepção é localizada, não chegando a ter um impacto

muito grande sobre o valor construído.

Outra decisão de impacto foi a mudança da gestão do Clube, antes gerido de forma

terceirizada por uma empresa especializada em marketing direto sob a supervisão de uma

célula de marketing na área de varejo – postos de serviço – dada a sua natural vocação. O

clube atualmente é gerido pela própria empresa, não sendo mais terceirizado, estando sob o

comando da célula de marketing do mercado comercial. A estratégia de atender o mercado

CRT continuou como prioridade, embora o foco tivesse sido um tanto diluído. Esse

movimento ocorreu ao longo dos anos de 1999 e 2000. Hoje o clube possui ainda uma central

de atendimento 0800 e recebe cerca de duzentas cartas e 1.8 mil ligações em média,

mensalmente. Ainda há uma carreta promocional disponível para festas e eventos, uma

atividade muito freqüente no modelo anterior e um tanto abandonada no presente.

Nas palavras de Suhet, apesar de o programa ter perdido um pouco de seu foco, a saída

encontrada foi criativa, tomando como base um princípio do programa da Harley-Davidson,

conforme preconizado por Reichheld (1996), que é a criação de parcerias estratégicas na

cadeia de valor. A Shell passou a buscar parceiros que fossem complementares e não-

conflitantes com os objetivos da empresa, ou seja, passou a agregar valor para seus associados

por meio da adesão de empresas que pudessem oferecer vantagens para os caminhoneiros,

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139

como fabricantes de pneus, acessórios e os próprios postos de serviço. Dessa forma, o

associado tem uma ampla oferta de produtos relevantes para consumo, aumentando a

percepção de valor do clube para ele, e a empresa pode distribuir o financiamento do clube

por uma série de novos parceiros, que também se beneficiam da lealdade da base de clientes.

Os postos de serviço também passaram a contribuir para a manutenção do clube, uma vez que

também são seus beneficiários diretos.

O caminho encontrado no redesenho do clube foi a utilização, a partir de 1998, do

cartão inteligente com um chip embutido – o chamado smart card – já utilizado em um

programa também de envergadura nacional, do qual a Shell é um dos participantes e

acionistas: o Smart Club, um pioneiro no Brasil no conceito de multifidelidade, isto é, de um

programa de fidelidade envolvendo diversas empresas. Embora a tecnologia seja ainda um

tanto onerosa, sua pronta e ampla aceitação tem justificado os custos.

Esse tipo de cartão é capaz de armazenar em sua memória magnética,

simultaneamente, dados de identificação pessoal, informações médicas, programas de

lealdade e ainda atua como um meio de pagamento. Todos esses dados podem ser

transmitidos on-line, em tempo real, desde o ponto de vendas até a empresa, tornando o cartão

um objeto cobiçado por seu portador.

Como a empresa foca sua comunicação em dois macrossegmentos – os autônomos e

os frotistas – para os frotistas, a carteirinha oferece uma vantagem adicional, qual seja a de

poder ser utilizada como um cartão de crédito, com as compras de combustíveis e

lubrificantes podendo ser faturadas para a empresa proprietária do veículo.

Dentre as histórias registradas sobre o valor dessa carteirinha, há uma que relata o

falecimento de um caminhoneiro em uma cidade do interior do Nordeste e cujo único

documento era a referida carteira do clube. A partir de uma ligação da Polícia Rodoviária para

a central de atendimento, a família pôde ser avisada e as providências devidamente tomadas.

Do ponto de vista do cliente, ser reconhecido imediatamente no ponto de venda, ser

tratado dentro de suas especificidades, receber descontos e vantagens nas compras normais e

poder participar de promoções-relâmpago de marketing eletrônico são realmente uma

justificativa e tanto para portar o cartão dentro de sua carteira.

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140

Essas promoções podem ocorrer a qualquer momento, facilitadas pela atualização

imediata das informações a respeito do cliente e, segundo um conjunto pré-estabelecido de

regras, gerar cupons eletrônicos para sorteios que geram excitação e um elemento lúdico e

interativo que se soma ao privilégio de ser membro de um programa de fidelidade que utiliza

tecnologia tão avançada e recompensa seus portadores de forma tão criativa. A questão do

marketing de envolvimento e de encantamento do cliente vem imediatamente à mente.

Algumas promoções do clube tornaram-se marcos na história do marketing de

relacionamento no Brasil. A Promoção Passa-Passa é um exemplo eloqüente do uso do cartão

inteligente de forma criativa e lúdica. Essa Promoção tinha por princípio básico estimular os

sócios a abastecer nos postos e concorrer a prêmios instantâneos, como bonés e camisetas,

recebidos no próprio ponto de venda. Além disso, habilitava-os a participar de um sorteio

maior envolvendo um bem mais cobiçado – uma carreta – ao final da promoção.

Todo o esforço visava o aumento da retenção da base de clientes, recompensando

aqueles mais leais (através de um algoritmo tecnológico que sorteava os prêmios de acordo

com o perfil dos clientes que estavam transacionando), não depreciando a sua lealdade, pois

segundo Reichheld (1996), a tecnologia do marketing um-a-um tem o potencial de elevar a

lealdade à categoria de ciência, e não ser usada como ciência da traição.

Outra promoção mais focada, dentro da nova realidade do clube, foi a promoção que

visava fixar a imagem de qualidade do combustível Shell por meio da campanha “O DNA da

Shell”. Durante a vigência da promoção, os caminhoneiros eram estimulados a ligar para um

número de discagem gratuita e explicar o que era o DNA da Shell. Os que acertassem

ganhavam imediatamente uma camiseta da promoção e um cartão telefônico com uma hora de

ligações. Enquanto o caminhoneiro aguardava que ligações se completassem, as companhias

telefônicas tocavam mensagens curtas a respeito do clube e do relacionamento da Shell com

seus clientes preferenciais.

Nem tudo são flores em programas de relacionamento. Segundo Suhet houve

momentos em que as coisas não seguiram conforme as expectativas. A descontinuidade do

apoio da mídia de massa, particularmente o fim do programa de TV, fez com que algumas

campanhas não trouxessem os resultados esperados. Houve aí um aprendizado importante no

sentido de a empresa perceber que o uso do marketing direto simplesmente para um alvo

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141

móvel como o caminhoneiro pode não trazer bons resultados. Algumas campanhas veiculadas

apenas na mídia de massa trouxeram resultados mais imediatos, como foi o caso do

lançamento da Shell VPower, voltada não só para o público de caminhoneiros.

Nas palavras de Suhet, para o target de rodovia, qualquer coisa que gere contrapartida

tem que vir com uma ordem de comando: leve e ganhe, faça e receba, participe e concorra,

responda e ganhe... A comunicação que não siga essa linha passa a ser um investimento cujo

retorno torna-se difícil de mensurar. Isso porque se trata de um ativo que é a marca do clube,

bem consolidada na mente do público. Sem esses anos de investimento na imagem, ele

acredita que o investimento em comunicação nesses casos teria de ser ainda maior. Algumas

outras campanhas, embora bem-sucedidas na base instalada de clientes, trouxeram pouco

resultado no aumento dessa base.

Uma questão crítica na implementação de um programa de fidelidade passa pela sua

viabilidade econômica. A empresa que pensa em adotar tais programas deve decidir a respeito

de uma série de pontos aparentemente conflitantes e encontrar o meio-termo que atenda às

suas necessidades e expectativas sem perder de vista o benefício do associado. Suhet lista

abaixo alguns destes trade offs:

• Benefício para Cliente x Custo Operacional

• Benefício x Atratividade

• Prêmios x Produtos e Serviços Próprios

• Prêmios x Valor Percebido

• Redemption Rate x Abrangência

• Pagamento x Fidelização

• On Line x Off Line

• Cartão x Wallet Share

• Custo Total x Lucratividade

• Ação de Marketing x Ação da Empresa

O desafio para o novo clube no caminho da auto-suficiência financeira foi fazer a

transição de um programa de relacionamento e afinidade para um programa de

relacionamento e fidelidade, premiando a lealdade do cliente associado. Os 10% de clientes

mais fiéis recebem pontuação em dobro em todas as suas transações com a marca, têm direito

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142

a vagas cativas no estacionamento dos postos de serviço de sua rota habitual, além de outras

vantagens, como a possibilidade de converter pontos ganhos em dinheiro vivo, além de

oferecer vantagens também para a família distante, que pode usar a carteirinha em compras no

mercado e em farmácias. O sistema de rastreamento on-line permite a rápida computação dos

pontos, por meio de um sistema chamado internamente de “câmara de compensação de

loyalty”.

A busca de uma agência que pudesse novamente assumir a gestão do clube, que havia

sido absorvido e administrado internamente nos últimos anos, ajudou a fechar a equação e

trazer o programa de volta aos trilhos.

As saídas encontradas foram a concentração no marketing direto em todas as suas

vertentes e um caminho criativo, que foi o marketing viral, conforme preconizado por Ralph

F. Wilson, em seu artigo de 2000. A técnica utilizada pela Shell consiste em enviar

comunicados a um grupo selecionado de clientes muito atuantes e benquistos na comunidade,

para que eles se encarreguem de propagá-los. A mídia mais freqüentemente utilizada é a

transmissão via rádio PX, um veículo de comunicação muito disseminado entre

caminhoneiros.

A força da marca do clube pode ser determinada pela quantidade de solicitações de

carteirinhas por meio das centrais de atendimento telefônico e de outros indicadores, como

um caso recente em que uma concorrente colocou no ar um programa semelhante de TV,

quando diversos caminhoneiros passaram a ligar para a Shell buscando participar das

promoções.

Uma notícia publicada na Gazeta mercantil, em sua edição de 03/08/1995, e assinada

por Ana Heloísa Ferrero, relata que Mário Sérgio Soares, chefe de comunicação de marketing

da Shell na época e presidente do clube, afirmou que o clube era responsável pelo aumento de

1% ao ano em diesel nos postos, representando 30 milhões de litros de diesel vendido nos mil

postos espalhados pelo país. O clube contava com 208 mil associados naquele momento.

Segundo Suhet, os resultados da mudança estratégica do Clube ainda não foram

suficientemente medidos, mas já há indícios de que a alta direção está satisfeita com os

relatórios enviados e se prepara para dar novo ímpeto ao programa.

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A despeito do sucesso de ações e campanhas após o realinhamento do Clube, a Shell

ainda não tem todas as informações consolidadas até o momento desta pesquisa para definir

se o objetivo da auto-suficiência/sustentabilidade foi atingido.

6.5. O Caso São Conrado Fashion Mall

O São Conrado Fashion Mall é um shopping localizado no bairro carioca de São

Conrado, uma das áreas mais valorizadas da cidade. Construído há 22 anos, durante os

primeiros tempos, o shopping sofreu de uma certa falta de identidade, com um mix de lojas

pouco direcionado e não muito coeso. As 150 lojas, algumas das quais fechadas, não

conseguiam transmitir ao público uma imagem consistente. Os maiores atrativos eram os

cinemas e um supermercado de uma rede hoje extinta.

A partir de 1994, a empresa In Mont assumiu a administração do shopping e seu

primeiro trabalho consistiu em redefinir o perfil do shopping, por meio de um mix de lojas

que contasse uma história coerente para um determinado grupo de consumidores. O trabalho

inicial foi desenvolvido em duas frentes, sob o comando conjunto da área comercial, que

buscava trazer as lojas com o perfil desejado para o shopping e o marketing, preocupado em

dialogar com o público selecionado. A escolha recaiu no público das classes AA/A e B,

residentes no próprio bairro e bairros adjacentes, como Leblon e Gávea, em direção à zona

Sul, e Barra da Tijuca, em direção à zona Oeste.

Hoje o shopping ostenta lojas de griffes sofisticadas, como Emporio Armani,

joalherias, restaurantes charmosos, galerias de arte e a oferta usual de cinemas e lanchonetes

de fast food como o MacDonalds’.

O resultado foi quase imediato, o público entendeu bem o recado e a clientela mais

afluente acorreu em massa. O passo seguinte na estratégia definida pela In Mont foi fidelizar e

fixar essa clientela selecionada, evitando que ela se dispersasse para fazer suas compras em

outro local.

O primeiro programa de lealdade desenvolvido foi o “Fashion Prime”, criado já em

1994 e em plena atividade até hoje. A estratégia é de uma simplicidade exemplar, no sentido

de que não é necessário oferecer muito se a história contada é coerente e o cliente se identifica

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144

com ela. O principal benefício oferecido pelo programa é a isenção do pagamento do

estacionamento e a oferta de manobristas para estacionar o automóvel para os clientes que

ostentam a carteirinha do “Fashion Prime”. Para fazer parte desse grupo seleto, basta fazer

compras mensais no valor igual ou superior a R$ 800,00. Na realidade, do ponto-de-vista do

cliente, o grande benefício do programa é ser portador da carteirinha, ser identificado como

membro de um grupo seleto de pessoas de alto poder de consumo, com um gosto muito

sofisticado.

Jussara Raris, superintendente de Marketing dos shoppings administrados pela

In Mont, que incluem os shoppings da rede Plaza, afirma que pesquisas informais feitas com

clientes atestam o enorme sucesso da iniciativa. Ela repete a frase de uma cliente, que disse:

“Preciso vir aqui todo mês alimentar o meu Fashion Prime”. Segundo ela, o “Fashion Prime”

foi um dos principais instrumentos para a mudança de imagem do shopping. A respeito dessa

necessidade de “alimentar” o programa, há histórias de clientes que afirmam ver mercadorias

que atraiam sua atenção em filiais das lojas do shopping em outros bairros, anotam modelos e

referências e vêm ao shopping efetuar a compra, para assegurar o montante necessário em

compras para se manter no programa. É bastante comum que diferentes membros de uma

mesma família tenham cada um sua própria carteirinha.

Segundo Jussara, nos primeiros anos, o programa era responsável por atrair um

número considerável de novos clientes. Com o passar do tempo, o número se estabilizou e a

maior tarefa ficou por conta da manutenção da base. Hoje, a base aumenta em cerca de cem

novos membros por mês, uma vez que a população de alta renda no Rio de Janeiro permanece

relativamente estável.

Uma das táticas utilizadas para aferir o sucesso do programa são encontros periódicos

com grupos de clientes para tomar um chá ou café em algum dos restaurantes do shopping.

Sem o rigor científico de uma pesquisa qualitativa completa, os encontros deixam patente a

satisfação da clientela. Outra descoberta feita nesses encontros é a de que os clientes se

sentem realmente privilegiados em dar uma “carteirada” e furar a fila para o estacionamento,

particularmente nos fins de semana, quando o shopping é muito concorrido.

Para Jussara, um ponto de preocupação com o programa é o seu custo para a

administração, uma vez que a verba disponível advém da taxa de publicidade paga pelos

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145

lojistas, um valor fixo, independente de faturamento. Com uma verba limitada, é preciso ser

muito criativo para manter a mística e o encantamento. Como a carteira precisa ser validada a

cada mês, o custo de manutenção torna-se elevado.

Jussara destaca que a clientela não vê incômodo algum em entrar em fila nos

quiosques disponíveis no shopping para trocar suas notas fiscais pela revalidação da

carteirinha, alimentando o programa, segundo a frase da cliente já mencionada. Já houve

casos de clientes que mandam seus motoristas, ou outros serviçais, para trocar as notas

quando, por alguma razão, eles não podem comparecer pessoalmente. Em outros momentos,

clientes aparecem pedindo alguma extensão do prazo limite para troca, alegando terem estado

fora do país no período permitido para a troca, uma vez que há um prazo determinado pela

data constante nas notas.

Outro possível problema decorrente da limitação da verba é o próprio sucesso do

programa. Segundo Jussara, se o número de membros cresce muito, a verba disponível não é

suficiente para cobrir as despesas com a impressão das carteirinhas e a contratação de mais

manobristas. Afinal, quem está furando a fila não tem disposição para entrar na fila de espera

para o manobrista. Como o programa não é do tipo de milhagem, onde o consumo maior

reverte em lucro maior, retornando em parte como benefício para o cliente, no caso do

shopping, a administração não tem nenhum vínculo ou ingerência sobre as lojas, as reais

beneficiárias do aumento do consumo. A verba fixa somente deixa espaço para as atividades e

ações previstas.

Mais um custo bastante elevado é o da manutenção do MDB. O software foi todo

desenvolvido internamente e a carga é feita por pessoal da equipe. O software é bastante

completo e registra, além dos dados cadastrais usuais, o comportamento de compras do

cliente, com todas as informações de recência, freqüência e valor. Além disso, um código

numérico associado a cada carteirinha aponta onde cada cliente faz suas compras. Só a

manutenção do database consome uma parte considerável do orçamento, mas o programa de

relacionamento como um todo consome mais da metade da verba total de marketing

disponível. Cabe destacar, entretanto, a enorme importância estratégica do database que

oferece a possibilidade de segmentar públicos para comunicação com base em uma grande

variedade de critérios diferentes.

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146

Por outro lado, os clientes “Fashion Prime” são responsáveis por 60% do faturamento

do shopping. Apesar disso, como a taxa paga pelos lojistas é fixa, conforme já descrito, o

programa não se beneficia diretamente do seu sucesso.

A base de clientes cadastrados conta com 32 mil nomes, dos quais cerca de 6 mil

revalidam sua carteira todo mês. Outro grupo grande deixa passar alguns meses sem passar

nos quiosques, mas acaba retornando em um momento ou outro. O grupo de clientes com a

carteirinha válida nem sempre é o mesmo todos os meses. Como a faixa social é bem

delimitada, Jussara diz que o público é bastante homogêneo, embora na questão da idade, 22

anos depois, alguns clientes já sejam da segunda geração, isto é, filhos dos primeiros

freqüentadores. Diante desse fato, houve a preocupação em rejuvenescer o mix de lojas para

atender a essa nova demanda. Há, inclusive, uma geração de adolescentes que freqüentam o

shopping que já foi até objeto de reportagens na mídia, as chamadas “Patricinhas do Fashion

Mall”, com suas roupas de griffes caras e as bolsas características criadas por Louis Vuitton.

Há um interesse em desenvolver um programa específico para adolescentes, embora o

shopping não tenha conseguido ainda definir um modelo.

A preocupação de atender à demanda da novíssima geração de clientes levou a

administração a criar o “Fashion Kids”. Para receber sua carteirinha, a criança não é obrigada

a consumir nada, bastando ser filha de um cliente “Fashion Prime”. Jussara afirma que as

crianças exibem com orgulho as suas carteirinhas, que ostentam suas fotografias. Os

benefícios incluem descontos no MacDonalds’ e em algumas das outras lojas.

Replicando o conceito de Kotler (2000), que “todo cliente é bom, mas alguns são

melhores que outros”, e aproveitando o enorme sucesso do “Fashion Prime”, em 2002, o São

Conrado Fashion Mall criou o “Fashion Gold” – um degrau superior na escala da fidelidade

do cliente. Para pertencer a esse grupo, cada cliente precisa consumir mensalmente um

mínimo de R$ 2 mil. Como cliente “Fashin Gold”, ele faz jus aos mesmos benefícios de

estacionamento, além de descontos em algumas das lojas do shopping e da entrega de suas

compras em casa.

Entra em cena, mais uma vez, a limitação da verba e a necessidade de ser muito

criativo. Parte dessa criatividade se expressa nos pequenos brindes oferecidos em datas e

ocasiões especiais. Designers de objetos, artistas plásticos e outros profissionais que utilizem

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uma linguagem plástica de apelo para o público-alvo são convidados a criar pequenas

lembranças como chaveiros, porta-CDs, garrafas plásticas d’água para praticantes de esportes

ou outros brindes que são distribuídos aos clientes “Fashion Gold”. O conceito é sempre o de

exclusividade, uma vez que os objetos não se encontram à venda, tendo sido criados somente

com a promoção em vista. O sorteio de R$ 2 mil em compras feitas no shopping é outro

grande atrativo: entre os clientes “Fashion Gold”, o software de database seleciona um, que

recebe um comunicado dizendo haver um crédito em seu nome, no valor prometido, que ele

pode gastar onde e como quiser dentro do shopping. Jussara diz que a surpresa e o

encantamento do cliente ficam evidentes, e que o boca a boca corre rapidamente entre os

conhecidos. A idéia de poder consumir livremente, sem culpas ou restrições é, seguramente,

um apelo muito forte.

Jussara também afirma estarem em estudos outras iniciativas, como mais serviços

agregados, destacando-se um guarda-volumes e carregadores para levar as compras até o

carro no estacionamento.

Replicando o comportamento dos clientes “Fashion Prime”, os clientes “Fashion

Gold”, entre novos entrantes e aqueles que revalidam suas carteirinhas, representam cerca de

1.8 mil clientes por mês. O shopping surpreendeu-se com a aceitação e adesão ao programa

“Fashion Gold”. A expectativa inicial na época do lançamento foi de cerca de duzentos ou

trezentos clientes. O primeiro mês fechou com mil cadastrados.

A administração do shopping acaba de criar uma gerência de fidelidade, com pessoal

contratado especificamente para desempenhar as tarefas inerentes.

Diante do sucesso dos chás informais, a administração do shopping decidiu contatar

uma empresa especializada em pesquisas qualitativas – a Retrato Consultoria –, que faz dois

painéis anuais, em janeiro e agosto, para ouvir o que os clientes têm a dizer. Muitas das

campanhas desenvolvidas ao longo do ano são determinadas a partir das informações

colhidas.

A publicidade do shopping fica por conta da agência carioca Contemporânea, e a

publicidade veiculada tem uma preocupação abertamente institucional, fixando a imagem de

sofisticação, charme e exclusividade.

Page 148: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

148

No que tange ao marketing direto, várias campanhas são lançadas anualmente,

utilizando essencialmente as datas fixas do calendário comercial, com algumas campanhas de

oportunidade. Dado o custo elevado das malas-diretas, o São Conrado Fashion Mall tem

optado por fazer algumas comunicações via e-mail. Já há uma base de 10 mil e-mails

cadastrados de clientes que recebem bem a comunicação eletrônica do shopping.

A grade de comunicação é comum para todos os clientes, podendo haver alguns casos

de comuniçacão específica para algum segmento. Cerca de dez lojas por mês enviam alguma

comunicação dirigida à base de clientes armazenada pela administração. Essa comunicação

pode ser feita para toda a base, ou apenas para segmentos selecionados do todo, uma vez que

o software permite a segmentação segundo uma grande variedade de critérios.

Outra tática utilizada vem sendo um trabalho dirigido a um público de formadores de

opinião, particularmente a imprensa especializada em moda e cultura.

Dada a grande segmentação do público e sua capacidade de compra, uma fonte de

receita alternativa vem se estabelecendo em função disso. Empresas externas ao shopping,

que comercializem produtos não concorrentes ou conflitantes com aqueles vendidos pelas

lojas, fazem promoções nos corredores ou até no estacionamento, como foi o caso da revenda

de automóveis Jaguar. A identificação do produto com o público é total, reforçando a questão

da história contada pelo shopping. Empresas que utilizem esse tipo de estratégia conquistam o

direito de enviar mensagens para a base de clientes, comunicando a respeito do evento. O

shopping diz não ter interesse em comercializar a base de dados.

A fachada externa do prédio, de frente para uma das avenidas mais movimentadas do

Rio, e um eixo que liga a Zona Sul à Barra da Tijuca e à Zona Oeste, a fronteira para onde se

desenvolve a cidade, tornou-se uma vitrine extra para as lojas e, conseqüentemente para o

shopping. Enormes painéis publicitários são exibidos para milhares de motoristas por hora e,

segundo Jussara, os espaços são disputadíssimos.

Os corredores também são utilizados para empresas que montam quiosques

temporários. O “sampling” ou experimentação/degustação de produtos também é bastante

freqüente.

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149

Perguntada sobre números que expressem todo esse sucesso, Jussara, embora não

tenha colocado na mesa o balanço do shopping e afirmando que os números da administração

não refletem vendas diretas, mas vendas dos lojistas, declarou que para cada R$ 20,00

investidos por cliente, o retorno é de R$ 2.4 mil. Se isso não for sucesso, o que mais seria?

6.6. O caso Casa de Vacinas GSK

A Casa de Vacinas é uma divisão do laboratório químico-farmacêutico Glaxo

SmithKline – GSK – dedicada à fabricação de vacinas. Devido à sua natureza preventiva, a

população em geral não vê muita necessidade de vacinação, particularmente nos casos da

vacinação contra a gripe e contra as variedades de hepatite, dois carros-chefes da empresa.

Diante desse aparente desinteresse, há a necessidade de um grande trabalho de

conscientização e a Casa de Vacinas GSK do Brasil optou por usar o marketing de

relacionamento como estratégia de conscientização e de vendas, segundo Gabriela Siqueira,

uma das responsáveis pelo programa da empresa.

A estratégia, usada desde 2000, foi muito bem-sucedida, o que levou ao

reconhecimento internacional do esforço – materializado em prêmios e em um grande afluxo

de executivos das outras filiais mundiais da empresa, que vêm ao Brasil aprender, ou convites

para viajar a outras filiais para ensinar como vender mais vacinas.

A vacina contra a gripe é um exemplo de venda difícil que foi bem resolvido pela

equipe brasileira. Para começar, há no Brasil um consenso errôneo de que a gripe não é uma

doença séria, sendo freqüentemente confundida com o resfriado. A seguir, existe o medo

infundado de se contrair a gripe pela vacina. Finalmente, a pessoa vacinada, o usuário final,

não é o público a quem a empresa precisa se dirigir, fazendo-lhe a venda, tanto por questões

legais quanto estratégicas. Outros obstáculos incluem, além dos concorrentes, os programas

gatuitos de vacinação do governo.

Diante desse quadro pouco animador, a empresa arregaçou as mangas, determinando

quem seriam seus segmentos-alvo. A seleção recaiu em empresas com uma quantidade média

de funcionários – embora haja alguns clientes com número elevado de funcionários, clínicas

médicas que administram vacinas na população e, mais recentemente, prefeituras municipais.

Page 150: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

150

Dentro de cada segmento, o passo seguinte foi identificar quem são os usuários, os

influenciadores e os decisores. O caso da vacina contra a gripe ajuda a ilustrar o ponto. Como

usuários, têm-se os funcionários propriamente; influenciadores, são os diretores e gerentes de

RH e, quando existentes, os médicos e enfermeiros do trabalho; finalmente, como decisores,

há os principais executivos – a alta direção e os presidentes.

O marketing de relacionamento foi a melhor forma de manter uma comunicação

diferenciada com cada um desses públicos, sem perder a consistência. Cada campanha anual

tem o seu próprio conceito criativo, mas a comunicação precisa ser diferenciada para cada

destinatário. A saída encontrada foi fazer uma mala-direta contendo um folheto explicando os

benefícios e vantagens de forma mais ampla. Esse folheto é comum a todas as malas-diretas

de uma determinada campanha. O toque diferenciado é dado pela carta personalizada dirigida

a cada indivíduo, com a linguagem ajustada para cada um dos atores no processo, ou seja,

principal executivo, RH e médico do trabalho recebem cartas em linguagem que apresente o

produto como sendo a solução específica para seus problemas. O usuário final, isto é, os

funcionários somente recebem comunicação após a compra do programa de vacinação pela

sua empresa. Nesse caso, a Casa de Vacinas GSK oferece um kit de comunicação contendo

cartazes, brindes, um e-mail customizável para ser enviado pela intranet contendo um link

para a seção do site da Casa de Vacinas GSK, que responde às dúvidas mais freqüentes. A

campanha de gripe de 2004 incluiu um desenho animado, desenvolvido em Macromedia

Flash®, com personagens especialmente criados chamando os funcionários para a vacinação

de forma amigável e criativa. Caso a empresa queira, ainda há a possibilidade de se agendar

uma palestra com um especialista em vacinas, membro da equipe de vendas da empresa.

Como todo ano a cepa de vírus da gripe é diferente, a empresa conta com as

informações da Organização Mundial da Saúde para desenvolver antecipadamente a vacina

para o ano em curso. Essa mutação constante do vírus apresenta um problema adicional, que é

vender a quantidade certa de vacinas para cada empresa, uma vez que não há a possibilidade

de armazenamento e reutilização no ano seguinte. Como a vacinação não é obrigatória, a

comunicação tem que ser muito eficaz para assegurar a maior adesão possível ao programa,

sob pena da redução do volume da compra nos anos subseqüentes.

O site é um apoio fundamental ao programa, com áreas de acesso aberto contendo

informações sobre a empresa e seus produtos, notícias sobre a empresa, sobre vacinas e

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151

imunização em geral, além das áreas restritas destinadas exclusivamente a clientes. Por

enquanto, essas áreas são destinadas ao acesso por clientes médicos A área do site dedicada a

empresas foi inaugurada em 2003 e hoje conta com 14 mil acessos por mês.

No plano estratégico, a Casa de Vacinas GSK conta ainda com o MDB, um software

robusto e completo com módulos para clientes, com toda a informação cadastral pertinente,

mais os módulos dedicados a revendedores e representantes, o módulo de comportamento de

compras, um módulo que gera cotações automáticas de preços baseadas em informações

fornecidas por clientes prospectivos, dentre outros. Os relatórios permitem diversas análises.

O MDB serve ainda como apoio a decisões administrativas, conforme esperado de softwares

desse tipo.

O database registra 7.844 empresas, das quais 6.736 são clientes ativos no ano de

2004. Cumpre esclarecer que dentro da diferença entre os clientes ativos e o total registrado

há filiais de empresas clientes, reduzindo, de alguma forma, o número de clientes inativos. A

diferença também inclui prospects, o que indica que o índice de recompra é bastante grande,

apesar de ter havido uma pequena diminuição no número de doses vendidas no último ano.

Para atender esses clientes há 22 representantes comerciais e sete distribuidores em todo o

território brasileiro.

Pesquisas de satisfação são feitas após cada programa de vacinação realizado nas

empresas, reforçando a imagem com um trabalho de pós-venda e detectando possíveis pontos

para melhorias futuras. Os resultados são armazenados no database.

O mesmo tipo de tática é empregada na venda das vacinas contra a hepatite. Como há

diversos tipos de vírus que causam a doença, é preciso desenvolver produtos específicos. A

empresa oferece uma vacina para a hepatite do tipo A, outra para o tipo B e uma que vacina

contra ambas as variedades.

A segmentação aqui precisa ser mais cuidadosa. Os prospects são segmentados por

sua maior tendência à contaminação pelo vírus do tipo A, ou B, ou ambos. Indústrias de

alimentos, por exemplo, recebem um tratamento de destaque, uma vez que são suscetíveis à

contaminação pelo vírus do tipo A, que pode ser transmitido por alimentos contaminados, o

que pode, eventualmente, tornar-se um problema de saúde pública.

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Hospitais e clínicas médicas são exemplos de clientes-alvo para campanhas de

vacinação contra a hepatite do tipo B, uma vez que o contágio se faz através do sangue e

outras secreções do corpo humano, aos quais os funcionários estão constantemente expostos.

As táticas de identificação dos destinatários e personalização da comunicação são

amplamente utilizadas, seguindo os mesmos moldes das campanhas de gripe.

Com a intenção de aumentar a lealdade da clientela, a Casa de Vacinas GSK criou um

programa mais amplo de relacionamento, chamado pela empresa de GSK Vida. Dentre os

benefícios oferecidos, encontram-se o kit de comunicação e as palestras para os funcionários.

Quando a empresa cliente adere ao programa de vacinas, ela é automaticamente inscrita na

GSK Vida, usufruindo das vantagens oferecidas, como um número 0800 disponível para tirar

dúvidas mais especializadas, acesso à equipe de consultores especializados e a médicos e,

estrela do programa, o recebimento gratuito do Absenterix® – um programa de computador

especializado no controle e análise do absenteísmo na empresa, no qual o RH pode dar

entrada nos funcionários que faltam ao trabalho, seja por doença ou acidente de trabalho,

classificar a doença segundo o Código Internacional de Doenças – CID-10 – e agora, na

versão mais recente, registrar o valor-hora do funcionário, para ter um cálculo preciso do

custo do absenteísmo para a organização, além de fornecer diversos outros tipos de análises e

estatísticas pertinentes. O software é útil sob diversos ângulos, oferecendo informações

relevantes tanto para os médicos do trabalho, quanto para a área de RH e a alta administração.

Dentro do programa de relacionamento, a Casa de Vacinas GSK descobriu mais uma

lacuna que tratou de preencher. O médico do trabalho é muito carente de informações

profissionais relativas a sua atuação profissional. A empresa passou a oferecer também uma

newsletter com informações pertinentes. A idéia é transformá-la em uma revista, com um

conteúdo mais robusto e abrangente. Segundo Gabriela, esse é um dos maiores fatores de

retenção e fidelização da clientela. Conscientizacão, informação e educação são

tradicionalmenrte excelentes instrumentos para a construção do relacionamento e da lealdade.

A comunicação dirigida é feita tradicionalmente em duas ondas, que a empresa

classifica como soft-sell e hard-sell, enviadas com um certo intervalo de tempo entre elas.

Todo o desenvolvimento da argumentação deve ser feito com o máximo cuidado, devido a

uma série de restrições na legislação brasileira com repeito à venda de medicamentos.

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Como apoio ao esforço de malas-diretas e complemento ao site, há um departamento

de telemarketing, criado, treinado e gerido internamente. Inicialmente, suas tarefas eram

apenas a telequalificação de prospects e um trabalho receptivo. Suas novas funções incluem o

telemarketing ativo, checando o recebimento das ondas de malas-diretas e reforçando o

esforço de vendas. Cabe observar aqui que a equipe também recebe treinamento sobre

vacinas, podendo responder a perguntas sobre o tema. Dúvidas mais complicadas podem ser

respondidas por uma equipe de consultores, que recebem um treinamento mais profundo, ou

até por médicos especializados que atuam junto à equipe de relacionamento da empresa.

O segundo segmento-alvo visado são as clínicas médicas. O enfoque com esse público

tem que ser muito diferente daquele usado com empresas comerciais ou industriais. O público

é de especialistas, em tese informados de toda a parte técnica inerente. A constatação da

empresa, entretanto, aponta uma grande desinformação no que tange a vacinas.

Com todo o cuidado, a fim de evitar melindres, a empresa oferece informação, seja por

meio do site, do número 0800, ou até mesmo de consultores ou palestras. O programa

específico para clínicas médicas recebeu a denominação de “Guest” e conta com equipe

própria para geri-lo. Como se trata de um segmento delicado, por questões de legislação já

mencionadas, a clínica recebe auxílio da GSK em materiais e apoio às suas próprias

iniciativas de marketing.

O terceiro segmento-alvo, as prefeituras, está em desenvolvimento neste momento e a

empresa não adiantou muito a respeito. O foco, entretanto, é a venda de vacinas para a

vacinação gratuita nas clínicas governamentais.

Todo o trabalho de estruturação e definição de estratégias e táticas é desenvolvido pela

equipe interna com o apoio de uma empresa de consultoria e planejamento de marketing

direto, a Acesso Direto Consultores, e as peças de comunicação são desenvolvidas por

pequenos escritórios de design.

Embora não haja a preocupação com uma extensão dos benefícios oferecidos, a

empresa se preocupa em pelo menos identificar os clientes de maior volume, fazendo algum

tipo de gráfico de Pareto. É de se supor que em algum momento haja um reconhecimento e,

quem sabe, recompensa diferenciada por essa lealdade maior.

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154

Da mesma forma que a Icatu-Hartford, a GSK depende de uma rede externa para

realizar o ciclo completo de seus serviços. A empresa fabrica as vacinas, mas depende de

distribuidores para entregá-las ao cliente e, eventualmente, de clínicas médicas parceiras para

aplicá-las. Há um esforço para manter e gerir esses relacionamentos, embora não haja

programas estruturados para fazer esse relacionamento de forma sistematizada. Um dado

interessante é o sistema de “madrinhas”, em que cada operadora de telemarketing é

responsável pelo atendimento de um número de distribuidores e representantes, em uma

espécie de território virtual, no qual cada uma conhece bem os problemas e necessidades de

seus “afilhados”, criando, assim, um vínculo mais forte. Tanto distribuidores, quanto

representantes comerciais e clínicas médicas são registrados no database, com o software se

encarregando de fazer as correlações de qual distribuidora ou representante atendeu qual

cliente e se este solicitou os serviços de uma clínica para a aplicação ou utilizou sua própria

equipe interna para fazê-la. Desde 2003, a empresa começou a premiar representantes,

distribuidores e operadoras de telemarketing por desempenho, ou seja, por contratos de

vendas gerados.

O sucesso do programa pode ser medido pelos números a seguir, nos quais se pode

observar os dados relativos a crescimento de clientes e doses vendidas desde a introdução do

programa em 2000. As doses de vacinas vendidas aumentaram 123%; os clientes aumentaram

23% e o valor aumentou 189%. O único problema parece ser uma pequena retração no

número de adesões à vacina entre os funcionários das empresas clientes.

6.7. O caso Harley-Davidson

A empresa americana de motocicletas Harley-Davidson é mundialmente famosa por

suas motos de linhas clássicas, motor possante e pela aura e mística que a envolve.

Comemorando cem anos de fundação no ano passado, a empresa montou uma

celebração para durar catorze meses, com um grande passeio de usuários dos diversos

modelos da marca, que partiu dos Estados Unidos, percorrendo as cidades de Atlanta,

Baltimore, Los Angeles, Toronto e Dallas/Fort Worth, seguindo depois para Sydney, Tokyo,

Barcelona e Hamburgo. O Open Road Tour, como foi chamado pela empresa, terminou em

Milwaukee, cidade natal da empresa, no dia 30 de agosto de 2003, com três dias de shows e

eventos para os aficcionados.

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A Harley-Davidson tem uma longa tradição de relacionamento com seus clientes,

responsável por boa parte da imagem que a marca tem junto ao público e pela lealdade de

seus muitos proprietários em todo o mundo. Nas palavras de seu presidente, Willy D.

Davidson, “o fundamental é fazer com que o proprietário de uma Harley-Davidson a utilize,

que passeie com ela. Se a moto fica na garagem, ela perde o interesse e acaba abandonada, ou

pior, vendida”.

Segundo a empresa, o foco no cliente sempre foi prioridade, desde que era apenas uma

pequena fábrica de motocicletas em Milwaukee. A voz do cliente sempre ajudou a direcionar

a empresa e a estratégia empresarial sempre foi direcionada para o conceito de comunidade,

de congregar pessoas. Na realidade, de acordo com a empresa, essa filosofia partiu dos

próprios clientes. Eles foram os primeiros a criar os clubes de motociclistas, a empresa teve

apenas a sagacidade de perceber nesses clubes uma ótima oportunidade, tomando para si a

responsabilidade de criar eventos e outras atividades que trouxessem os aficcionados para

perto da marca. Enquanto que as outras marcas orientam o seu marketing para a performance,

para a esportividade ou competitividade, enfim, para o produto, a Harley-Davidson optou por

enfatizar a experiência da marca, vista sempre sob o ângulo do cliente ou, no conceito da

empresa, para o “espírito Harley-Davidson”, traduzido e personificado na comunidade de

entusiastas. O primeiro evento motociclístico patrocinado pela marca data da década de 30 e

os programas mais profissionalizados de relacionamento tiveram início no final da década de

50 e início dos anos 60.

A filosofia centrada na experiência fica evidente na missão da empresa:

Nós realizamos sonhos através da experiência do motociclismo, provendo os

motociclistas e o público em geral com uma linha crescente de motocicletas,

produtos da marca e serviços para segmentos selecionados do mercado.8

Esse espírito de comunidade e o compromisso com o cliente e no relacionamento com

ele fica muito evidenciado com uma situação descrita por José Carlos Camargo, responsável

pela concessionária da marca no Rio de Janeiro. Um cliente brasileiro que deseje conhecer os

Estados Unidos de moto pode entrar em contato com a empresa nos Estados Unidos, fornecer

8 No original: “We fulfill dreams through the experience of motorcycling, by providing to motorcyclists and to the general

public an expanding line of motorcycles and branded products and services in selected market segments.”

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o seu número de associado do HOG – o programa de relacionamento da empresa descrito em

mais detalhes adiante –, planejar sua viagem, com dicas de roteiros, estradas, e revendas para

apoio a partir do site, sabendo que vai contar com a presença de alguém da empresa para

recepcioná-lo no aeroporto e familiarizá-lo com outros membros do HOG.

O envolvimento da marca com o cliente, que traz embutida a recíproca, inclui desde os

shows e passeios mencionados, até a existência de boutiques dentro de cada revenda de

veículos voltadas para a venda de itens de vestuário, acessórios para as motos, capacetes,

adesivos e outras peças com a marca e o apelo Harley-Davidson.

O carro-chefe do programa de relacionamento com o cliente Harley-Davidson é o

HOG – sigla para Harley Owners’ Group, que por sua vez também forma a palavra inglesa

hog, com múltiplos significados analisados a seguir.

Segundo o dicionário Michaelis, edição de 2000, as traduções que se aplicam seriam:

1- porco para engorda; 2- fig. homem porco, porcalhão; 4- comer e beber em demasia.

O Random House Webster’s unabridged dictionary, edição de 1999, registra, em

tradução livre do autor, as seguintes acepções: 2- um porco domesticado; 3- uma pessoa

egoísta, gulosa ou suja; 4- gíria uma motocicleta grande e pesada; 9- proceder ou comportar-

se além do limite, sem reservas.

O Dictionary of contemporary and colloquial usage, edição de 1972, vai um passo

além, registrando, mais uma vez em tradução livre: uma motocicleta Harley-Davidson; uma

mulher feia e sexualmente promíscua.

O nome HOG também homenageia um piloto que vencia muitas corridas de

velocidade com uma Harley-Davidson no início da empresa, que tinha um porco como animal

de estimação e fazia questão de subir ao pódium com o bichinho.

Dentro dos princípios do marketing de emoção de Jensen (2000), essa é a história que

a Harley-Davidson conta, corroborada por filmes como Rebeldes sem causa, Easy rider e O

selvagem da motocicleta, só para citar os mais famosos, e uma centena de canções em

diversos estilos, de diversas épocas, ao longo do último século.

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O HOG é a parte visível do programa de relacionamento, com regras, comunicação

dirigida, estímulos e promoções. O relacionamento com o cliente vai muito além do

programa, misturando-se com a filosofia da empresa como todo programa bem-sucedido deve

ser.

O site de internet da empresa é um exemplo de comunicação interativa multimídia

voltada para os interesses do cliente. Nele é possível não só obter as informações mais

práticas como onde encontrar uma revenda ou como e onde alugar uma Harley-Davidson, mas

também informações sobre passeios, visitas virtuais à fábrica, a nova linha de motos e a

possibilidade de customizar a compra por meio da escolha de cores e acessórios. O cliente

pode até criar um álbum pessoal de fotos para compartilhar com amigos e outros usuários.

Há uma seção inteira do site devotada à experiência com a marca. Nela encontram-se o

calendário de eventos a serem realizados no mês, seções com dicas para novatos e usuários

experientes, oferta de cursos de pilotagem para novatos, motociclismo em grupos e cursos

para pilotos experientes. Há seções de mecânica, de corridas e até histórias contadas por

usuários. O mesmo princípio de merchandising da marca estimulado pelas boutiques das

revendas existe no site. Há um catálogo on-line, no qual é possível adquirir produtos, roupas e

acessórios com a marca Harley-Davidson.

No que tange a aventuras, há uma ferramenta para planejar passeios com a opção de

imprimir os mapas, há os eventos organizados pela empresa e há terceiros autorizados a

organizar grupos para viagens longas ou curtas.

Uma seção curiosa e bastante interessante na experiência on-line é o wish-list, ou lista

de desejos. Nela, o cliente se cadastra e monta a sua lista de objetos de desejo do catálogo,

muito nos moldes das listas de casamento tão comuns no Brasil. Seus parentes e amigos

podem consultar a sua lista de desejos e presenteá-lo com os artigos da lista.

A iniciativa é simpática para o usuário e gera o tráfego de outras pessoas, não

necessariamente clientes, que passam também a ter uma experiência com a marca, que será

repetida numa rede boca a boca que, por sua vez, trará uma constante realimentação à imagem

da empresa.

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A experiência da lenda e da marca é o que conta, ainda segundo o que diz Jensen

(2000). Há toda uma indução à interação com a marca, à vivência da aventura e liberdade a

ela associadas. A newsletter incluída na página auxilia na manutenção da lenda, na medida em

que noticia os eventos recentes relacionados à marca e seus aficcionados.

De volta ao HOG, a empresa afirma que são mais de 750 mil usuários cadastrados em

todo o mundo, desde a sua fundação em 1983, formando uma verdadeira comunidade de

aficcionados. Os benefícios incluem um site de acesso exclusivo; um número telefônico

gratuito para consultas sobre o clube e seus eventos; um manual exclusivo para viajantes, com

informações, dicas e mapas; a assinatura de duas revistas exclusivas: Enthusiast, a mais antiga

revista de motociclismo em circulação, publicada pela empresa desde 1916, em edições

trimestrais, com matérias sobre modelos de motocicletas, viagens, mecânica, etc. e HOG

Tales, a revista oficial do clube, em edições bimestrais, com a lista dos eventos nacionais e

internacionais, histórias de e sobre membros do clube, fotografia exuberante e um concurso

permanente para a publicação de material produzido pelos associados.

No espírito da frase de Willy D. Davidson, para estimular o uso da motocicleta, o

HOG possui um sistema de premiação por milhagem que confere pins e distintivos por

milhagem “passeada”. Alguns associados já ultrapassaram a marca das 450 mil milhas

rodadas, mas os distintivos são distribuídos a partir das primeiras 10 mil milhas. As milhas

aéreas são também contadas nas viagens que envolvam distâncias continentais ou

internacionais.

Há três formas de associação: é possível tornar-se um sócio pleno (full membership),

com renovações anuais, bienais e trienais; um sócio vitalício pleno (lifetime full membership)

ou um associado dependente (associate membership), esta última voltada especialmente para

os passageiros, havendo apenas a exigência da indicação e patrocínio de um sócio piloto.

Considerando que a maior parte dos associados dependentes inclua esposas e namoradas, há

um programa especial para elas, o LOH – Ladies of Harley, com um concurso permanente de

histórias de uma página sobre aventuras numa Harley. As premiações acontecem em três

categorias: história mais memorável, mais cheia de aventura, melhor viagem.

O envolvimento com as companheiras é tanto, que muitas acabam adquirindo suas

próprias motos. Em um universo machista como o de motociclistas, a empresa optou por

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cooptar a companheira, no lugar de alijá-la, uma vez que muitas vezes ela tem forte influência

no direcionamento do lazer do casal, particularmente no caso do usuário de final de semana.

Com a disseminação geográfica da marca, é preciso juntar os associados dispersos. A

empresa estimula a formação dos chamados Capítulos Locais do HOG (HOG Local

Chapters), patrocinados pelas revendas próximas. O objetivo é congregar e estimular a

confraternização.

Há um dado interessante sobre o distintivo bordado oferecido para ser pregado nas

jaquetas dos usuários. A parte de baixo, com a marca, é fornecida pela fábrica, e a parte de

cima, com a informação sobre o Capítulo a que pertence o associado, é fornecida pela

concessionária. Os capítulos oferecem diversos eventos, dentre os quais incluem-se reuniões

periódicas, passeios curtos, atividades recreativas e até atividades filantrópicas.

Como o objetivo é o uso da moto, a segurança ocupa um lugar de destaque. Há cursos

de segurança básica e todo associado é estimulado a fazê-lo por meio de incentivos, como

cupons resgatáveis em mercadorias e distintivos. Os Capítulos que conseguem matricular um

número razoável de sócios nesses cursos também recebem distintivos especiais.

6.7.1. A Harley-Davidson no Brasil

Por força do custo elevado das motocicletas importadas, mesmo considerando a

instalação para montagem em Manaus, o público brasileiro da Harley-Davidson é um pouco

diferente do público americano, situando-se nas faixas de maior poder aquisitivo da

população. Nas palavras de José Roberto Camargo, no Brasil, o preço mais elevado é

justificado como compatível – e eventualmente mais barato – que os produtos de concorrentes

do mesmo nível, como as motos BMW, Triumph ou Ducatti, com um valor agregado à marca

muito mais alto. O relacionamento com o cliente é um deles. Para José Roberto, o

relacionamento das outras marcas com o cliente termina na aquisição do produto. Na Harley-

Davidson, é aí que ele começa.

Em um país violento como o Brasil, há um outro valor que o espírito de comunidade

agrega à marca. José Robero afirma que o seguro de uma Harley-Davidson é bem mais barato

que uma equivalente de outra marca, por uma razão simples: o índice de furtos e roubos de

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motos Harley no país é zero. Como toda a comunidade se conhece, não há pessoa para quem

um eventual ladrão ou receptador possa vender o fruto de seu roubo. Mesmo que a moto seja

desmontada para a venda de peças, a comunidade desconfiaria de peças usadas sendo

vendidas por desconhecidos, mesmo com a prática usual da venda de peças contrabandeadas

por amigos que viajam ou por profissionais de linhas aéreas.

O target da empresa no Brasil sempre foi o público acima dos 35 anos, com bom

poder aquisitivo. O público da marca nos Estados Unidos é bastante diferente, dado o relativo

baixo preço das Harleys no país. Um incidente conhecido mostra um presidente dos Hell’s

Angels vendo o grupo ser elogiado por seu patriotismo devido à aquisição maciça de motos

americanas. A resposta foi a de que elas eram compradas por serem as mais baratas, e não por

serem americanas. Boa parte do público Harley-Davidson no país vem das classes

trabalhadoras, com o clássico tipo durão que faz trabalhos temporários apenas para fazer caixa

para cair na estrada por mais um tempo, no melhor estilo Jack Kerouac.9

Nas palavras de José Roberto, “Mesmo quando a Harley-Davidson era tida como uma

motocicleta de qualidade inferior – pois houve momentos em sua história que havia muitos

problemas de desempenho, como engasgos freqüentes, amortecedores ruins e vazamentos de

óleo – o usuário dizia preferir empurrar uma Harley a dirigir uma motocicleta de um

concorrente”.

A história da empresa ajuda na construção dessa imagem. Segundo José Roberto, no

início, as motos Harley-Davidson eram vendidas para instituições como a Polícia, os Correios

e o Exército. Ao fim da Primeira Guerra Mundial, muitos veteranos adquiriram em casa as

motos que usaram no front, ajudando a construir a imagem de moto usada por gente durona.

O clube dos Hell’s Angels, apenas para citar um exemplo, nasceu nos Estados Unidos, em

1945, e tinha entre seus associados um número grande de ex-pilotos de caça na Segunda

Grande Guerra.

Para José Roberto, ser motoqueiro funciona como um alter-ego, uma segunda

identidade, para o usuário. Algo como ser um super-herói, situação em que se é um Clark

Kent durante a semana e um Super-Homem no fim de semana. Algumas poucas pessoas

9 Jack Kerouac, autor do livro On the road, um clássico da cultura beat, publicado em 1957.

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conseguem viver a persona super-herói todo o tempo, mas são poucas. O importante é a

lenda, e é muito importante que o cliente se sinta parte dela. Essa imagem se traduz na frase:

“O Harleiro entra sempre com o pé na porta. Ele faz o que quer, do jeito que quer e na hora

que quer”.

José Roberto afirma que a marca vem envidando esforços para atrair um público mais

jovem, mesmo em nível mundial, buscando desvincular-se um pouco da imagem mais

negativa associada a ela. Desde a década de 80, há esforços para deixar um pouco de lado o

público estereotipado como marginal, tendo o grupo Hell’s Angels como exemplo mais

proeminente, oferecendo modelos em cores mais leves e alegres, chegando a um design

futurista, muito distante do desenho comumente associado à marca. Cabe salientar que na

linha 2004, que acaba de ser lançada, o design pode ser futurista, mas a imagem de poder

ainda está presente em cada detalhe. Há também um novo e possante motor associado a essa

nova linha. A idéia agora é atingir o público mais jovem, cujo pai assistiu Easy rider e se

identificou com Peter Fonda, transmitindo à nova geração a cultura Harley-Davidson. A

empresa entende que não é mais possível viver no passado, pois a nova geração não consegue

se identificar com aqueles valores.

Os valores associados à imagem podem mudar um pouco, mas o espírito tem que

continuar. O cliente mais jovem pode preferir uma moto mais agressiva e competitiva, mas a

idéia de comunidade deve permanecer intacta, congregando as diversas gerações de

entusiastas.

No que tange às estratégias da marca no país, há um interesse em transformar a

montadora de Manaus em uma fábrica. Pela legislação brasileira, para que a montadora passe

a ser considerada fábrica, é preciso que ela produza 5 mil motocicletas por ano. As vendas no

Brasil não chegam ainda a 2 mil por ano, mas a localização de Manaus permitiria a

exportação para o resto da América Latina.

Os números brasileiros ainda são tímidos se comparados a outros mercados da marca,

como o europeu ou o japonês, mas eles não param de crescer. O Brasil é o 12º mercado da

marca, sendo há anos o segundo da América Latina, perdendo apenas para o México. No ano

passado, o Brasil conquistou a primeira posição, superando o México. Espera-se que a

façanha se repita neste ano. A frota nacional de Harley-Davidsons é de cerca de 8 mil motos,

Page 162: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

162

com 1.3 mil no Rio de Janeiro. A expectativa e as estratégias da empresa apontam para que o

Brasil se torne o quarto mercado mundial da marca.

Devido ao tamanho, ainda reduzido, desse mercado, muitas das ofertas do programa

de relacionamento da matriz ainda não estão disponíveis no país, com o HOG sendo

administrado pela central americana e toda a sua comunicação, inclusive as revistas, ainda em

inglês.

A edição de setembro/outubro de 2003 traz uma matéria sobre o Rally da marca

realizado na localidade turística de Bonito, no estado de Mato Grosso do Sul.

O conceito de aventura e liberdade, evidentemente, permeia toda a comunicação da

empresa com seu público, com ampla oferta de passeios. Por conta da maior sofisticação do

cliente local, já mencionada, há uma oferta diferenciada de roteiros desenvolvidos no país.

Uma das mais interessantes, sem dúvida, é o que a empresa chama de ROTAS. Segue

abaixo uma descrição dessa atividade, extraída diretamente do site:

Este programa diferenciado de passeios, chamado de ROTAS, é uma parceria entre a

Rota Gourmet, liderada pelo empresário, motociclista, fotógrafo e jornalista, já

consagrado em turismo com motocicletas, Fernando Garcia, com a Harley-Davidson

do Brasil.

As ROTAS têm o objetivo de levar empresários, executivos, profissionais liberais e

principalmente pessoas de bom gosto, sempre de motocicleta, a lugares inusitados,

buscando o anti-estresse em roteiros turísticos e gastronômicos. O número de

participantes é sempre limitado a vinte motocicletas ou quarenta pessoas.

As ROTAS são nominadas de Rota da Seresta e Serenata, Rota do Vinho, Rota do

Sol, etc. Contam com carro de apoio e toda a estrutura de conforto e segurança aos

participantes, nos mesmos moldes e padrões das internacionais, como a tão

conhecida Rota 66.

É o próprio Fernando Garcia quem faz o pré-roteiro e posteriormente acompanha o

grupo, buscando sempre um tratamento vip e diferenciado para os participantes.

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163

...“ busco sempre a essência da gastronomia, da hospedagem e do turismo de cada

cidade, o melhor que ela pode oferecer. Procuro aproveitá-la como ela é e nunca

transformá-la”, diz Garcia.

É interessante observar que os passeios da ROTA estão abertos a proprietários de

motos de qualquer marca, sem dúvida visando o mapeamento da concorrência e a busca de

aberturas para uma eventual conversão.

Para os mais ocupados, que desejem apenas um passeio curto a locais próximos, há o

Bate-e-Volta, por enquanto restrito a São Paulo, e sob a coordenação de Fernando Garcia,

também responsável pelas ROTAS.

Os passeios sempre começam com um café da manhã oferecido pela revenda,

terminando, algumas horas depois, com o retorno ao ponto de partida, depois de o grupo ter

visitado algum ponto de atração próximo ou algum evento relacionado ao hobby comum,

como o Salão Duas Rodas. O roteiro dos eventos, com a(s) concessionária(s) patrocinadora(s),

pode ser consultado no site e faz parte da correspondência enviada aos membros do HOG.

O HOG também existe no Brasil, com características muito semelhantes ao programa

original americano, isto é, com as mesmas categorias de associação, havendo inclusive uma

maior riqueza de detalhes para o processo da associação, para o melhor entendimento do sócio

novato e do sócio antigo que adquire uma nova motocicleta. A este último é explicado que,

caso ele já seja um associado, a aquisição de seu novo veículo lhe concede a extensão da

associação gratuita por mais um ano. O programa e seus benefícios são administrados pelo

HOG Internacional, conforme já mencionado anteriormente.

Um pouco atrasadas em relação à matriz, as comemorações dos cem anos da empresa

foram realizadas na região sul do país, de acordo com a escolha dos clientes da marca, que

elegeram a região por meio de uma pesquisa realizada no site. O evento foi realizado em

novembro de 2003.

Segundo os preceitos do marketing de relacionamento de McKenna (1994), a Harley-

Davidson brasileira estende o seu programa não só a clientes, mas também a revendas,

premiando e destacando as lojas que se esmeram no esforço de divulgar e vender a marca.

Page 164: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

164

As concessionárias se esforçam para oferecer serviços diferenciados, com os mais

interessantes estendidos a outras lojas da rede. Um exemplo interessante é o que chamam de

salão de beleza da moto, onde profissionais se encarregam durante um dia inteiro de manter e

realçar a boa aparência do veículo, limpando e cuidando de cada detalhe. Esse serviço teve

início na concessionária do Rio de Janeiro e foi estendido a outras lojas devido a seu sucesso.

Os happy-hours, freqüentemente regados a queijos e vinhos, são outro ponto de

destaque no relacionamento com clientes, chegando a atrair 250 pessoas em uma única noite.

Cafés da manhã e coquetéis também fazem parte das atividades das concessionárias, visando

a congregação dos aficcionados, sem contar as viagens longas ou curtas já mencionadas.

6.7.2. Comunicação e relacionamento

Acompanhando a nova diretriz estratégica, as táticas já descritas para o HOG

permanecem inalteradas, partindo sempre da matriz americana. Cada concessionária,

entretanto, deve encarregar-se da comunicação específica dos eventos locais, além da

produção dos eventos em si. No caso da concessionária carioca, o e-mail é a ferramenta

preferida, dada a sua informalidade, facilidade e custo. Somente os grandes eventos, como

lançamentos de novas linhas, recebem um tratamento mais elaborado, com o envio de malas-

diretas. Como a comunidade é muito forte e atuante, José Roberto assegura que o boca a boca

é a ferramenta mais eficaz.

O representante brasileiro da marca oferece um número de discagem gratuita para que

os clientes possam entrar em contato com a empresa, e a matriz tem sempre acesso aos dados

e informações coletadas pelas concessionárias, a fim de orientar sua atuação. A pesquisa de

satisfação e o trabalho de pós-venda, segundo o conceito de Vavra (1993), é levado muito a

sério. Empresas especializadas em pesquisas de satisfação também são contratadas, com uma

periodicidade aproximada de dois anos. Para José Carlos, a grande dificuldade em relação ao

trabalho dessas empresas, é captar exatamente o envolvimento emocional do aficcionado com

a marca.

O objetivo é prolongar o máximo possível o LTV do cliente, focando os diversos

aspectos da satisfação: a satisfação com a marca como um todo, com o produto adquirido e

com os serviços, aí incluídos os de oficina e o próprio relacionamento.

Page 165: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

165

Como cada concessionária escolhe a forma de relacionar-se com sua clientela,

independentemente do HOG, José Roberto tem sua própria receita. Ele recebe diariamente as

fichas de todas as motos trazidas para manutenção na oficina, cientificando-se dos problemas

e de seu conserto. Pouco tempo depois da moto devolvida ao dono, ele, pessoalmente,

telefona e indaga sobre a qualidade do serviço e do atendimento. Cada cliente é cadastrado em

um banco de dados próprio, encomendado para esse fim. O gráfico de Pareto, ainda que não

tenha esse nome na concessionária, é criado a partir do registro diário das interações do

cliente com a loja. É possível, então, identificar os mais freqüentes e os mais rentáveis,

segundo o modelo RFV. Uma informação fundamental que José Roberto faz questão de

registrar é por que o cliente não tem comprado: se a razão é preço, algum concorrente, ou até

mesmo contrabando.

O mesmo banco de dados emite diariamente um relatório dos aniversariantes do dia,

sejam eles os pilotos ou seus familiares – inclusive filhos –, que recebem presentes Harley-

Davidson. O atendimento é personalizado para os cerca de 1.3 mil clientes da loja. Segundo o

conceito de “Quem não está presente, não é lembrado”, José Roberto faz questão de entrar em

contato com os clientes menos freqüentes, reaquecendo o contato e trazendo o cliente para a

loja. O cross-selling e o up-selling só são possíveis com o cliente freqüentando a loja, e cada

gerente de área, seja de acessórios, boutique, oficina ou salão tem que estar presente e fazer a

sua parte. Seus relatórios são importantes no direcionamento da interação com o cliente.

A título de conclusão, em conformidade com os objetivos deste trabalho e segundo a

avaliação de José Roberto, o programa de relacionamento da Harley-Davidson responde por

40% do faturamento total da marca.

José Roberto afirma que a Harley vive do relacionamento humano, de conhecer o ser

humano. Tudo ligado a marketing na Harley-Davidson é em cima da mente humana, do que

as pessoas sentem. Se uma pessoa interessada em representar a marca não estiver interessada

no ser humano, é melhor montar outro negócio. Para ele, todo mundo quer colo, e é

necessário saber quando o tratamento precisa ser de amigo, de pai ou de educador. É muito

importante, para que o relacionamento se mantenha a contento, que esses momentos não

sejam trocados, isto é, que os tratamentos certos sejam dados nos momentos apropriados. O

importante é conhecer muito o cliente e tratá-lo sempre bem.

Page 166: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

166

6.7.3. Alguns números(extraídos de http://investor.harley-davidson.com/demographics.cfm?locale=en_US&bmLocale=en_US, em 07/11/2003)

Tabela 8. Perfil demográfico dos clientes Harley-Davidson (1997-2002)

Sexo 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Masculino 93% 93% 91% 91% 91% 91%

Feminino 7% 7% 9% 9% 9% 9%

Tabela 9. Compradores em 2002

42% Já eram proprietários de uma Harley-Davidson® anteriormente

30% Vieram de outra marca de motocicleta

28% Motociclistas novatos ou não possuíram motocicleta nos últimos 5 anos

Tabela 10. Idade Mediana

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167

Tabela 11. Renda Mediana

Tabela 12. Receita e Lucro

Anos fechados em 31 de dezembro, 2000 2001 2002

Receita líquida $4.090.970 $3.406.786 $2.943.346

Custo dos bens vendidos 2.673.129 2.253.815 1.979.572

Lucro bruto 1.417.841 1.152.971 963.774

Dados retirados do relatório anual de 2002.

Depois da realização das entrevistas para a elaboração deste caso, notícias no meio de

marketing anunciaram que uma agência brasileira de marketing direto estava assumindo a

conta Harley-Davidson.

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168

7. Resumo analítico dos casos estudados e resultados da pesquisa

7.1. Resumo analítico dos casos

Analisando-se as empresas e seus programas à luz da classificação feita por Duffy

(2002), na qual o primeiro estágio é o relacionamento, passando depois para o

reconhecimento e finalmente para a recompensa, a primeira empresa na escala seria a

Torrentes, a distribuidora de materiais hospitalares. O uso de um sistema e de uma equipe de

televendas voltados para o atendimento das necessidades do cliente certamente é um primeiro

grande passo em direção à lealdade desse cliente. O relacionamento pessoal entre o vendedor

e o comprador é certamente apreciado pelo segundo, e a possibilidade de encaminhar

sugestões e reclamações diretamente à diretoria é outro passo na direção certa. Não se pode

afirmar que não haja um esboço consistente de marketing de relacionamento. Nota-se

claramente a disposição da alta administração em implantar uma cultura de relacionamento,

observando-se o cuidado necessário no trato com o cliente pessoa jurídica para que não se

configure uma suspeita de práticas comerciais não-legítimas. Há pequenas tentativas de

reconhecimento, com alguns esforços no sentido de presentear os clientes de maior volume ou

importância. Falta nesse quesito uma maior sistematização na determinação das características

que difiram o cliente mais importante do menos importante. Um maior aproveitamento dos

relatórios disponíveis no sistema administrativo-comercial utilizado poderia auxiliar muito

nessa questão. A transferência desses dados e relatórios para um MDB seria um passo simples

e de fácil implementação. Com os clientes classificados segundo uma escala determinada pela

administração, as recompensas poderiam ser dispensadas de modo a atingir maior efeito.

Reconhecidos os melhores clientes e estabelecida uma escala, pode-se criar uma grade de

comunicação, esta sim, uma grande ausência no programa da Torrentes. Por mais que o

contato diário com o cliente ocorra, há sempre algo que a empresa queira dizer em sua própria

linguagem, buscando o melhor efeito possível na audiência. Uma simples newsletter já seria

um excelente começo, seguida de um programa de benefícios progressivos, concebido de

modo a impedir ou dificultar a defecção dos melhores clientes.

Seguindo a mesma escala progressiva, a locadora de filmes Cavídeo apresenta um

programa também em seus estágios iniciais, embora um pouco mais aprofundado, uma vez

que há uma ênfase na relação pessoal com o cliente, buscando cativá-lo com indicações

Page 169: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

169

acertadas de filmes, segundo um perfil traçado a partir de informações colhidas. A simples

sistematização desses dados facilitaria o trabalho de atender bem a uma clientela que só faz

crescer. Trata-se, nesse caso, não só de criar o MDB, mas de criar um sistema de gestão do

conhecimento, conhecimento esse que possa ser transferido quando da eventual troca de

funcionários ou na ausência do proprietário, cada vez mais envolvido em outras atividades e

tarefas. O mesmo MDB facilitaria a tarefa de segmentar os clientes em suas preferências

cinematográficas e de eventos. A comunicação que hoje é feita de forma indiscriminada

poderia ser melhor direcionada. Interessante é observar como espontaneamente já há uma

comunidade de cinéfilos crescendo em torno da Cavideo. Falta, entretanto, um melhor

aproveitamento desse grupo para reforço da marca e uma interatividade maior. Os benefícios

intangíveis já são evidentes para a comunidade formada. Há boas recomendações de filmes,

boa seleção de títulos disponíveis, diferenciação em relação à concorrência em função da

especialização e do atendimento diferenciado e ampla oferta de eventos e atividades paralelas

à simples locação de filmes. Há o esboço de se criar alguns tipos de benefícios tangíveis,

como a extensão de prazos para os clientes que alugam uma quantidade maior de fitas de cada

vez. É interessante observar como aqui, os benefícios se parecem com os da concorrência, não

havendo uma diferenciação apreciável. Alguma forma de distinguir melhor e premiar o heavy

user seria certamente apreciada por esse grupo de clientes mais fiéis. Falta também à Cavideo

tirar proveito maior da comunidade que se formou, criando um modelo próprio de clube de

vantagens, uma vez que os clientes transitam em universos bem delimitados e conhecidos,

muitos deles criados ou apoiados pela própria empresa. Da mesma forma que companhias

aéreas oferecem descontos na locação de automóveis ou na hospedagem em hotéis parceiros,

a Cavideo poderia montar uma rede de parcerias que oferecesse algum tipo de vantagem para

seus clientes.

A Icatu-Hartford certamente está alguns passos à frente, na medida em que seus

processos já estão mais sedimentados e sistematizados. O relacionamento com parceiros não

deixa de ser também um relacionamento com clientes, uma vez que seus serviços de seguros e

capitalização são oferecidos às instituições parceiras. No que tange a seu relacionamento com

as parcerias com corretores de seguros, a questão que se coloca é um misto de relação com

cliente, parceiro e funcionário, com a oferta de espaço físico e infra-estrutura, facilidades

diversas e treinamento. A estrutura de TI para dar suporte ao relacionamento está bem

desenvolvida, com o MDB solidamente estabelecido e capaz de gerar relatórios confiáveis de

segmentação visando facilitar a comunicação. O mesmo não ocorre com relação aos dados de

Page 170: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

170

clientes dos parceiros, uma vez que muitos destes tratam seus dados como sendo

confidenciais, dificultando o processo de identificação dos clientes de maior potencial.

Mesmo quando isso não ocorre, é freqüente a descoberta de que esses dados estão

desatualizados, comprometendo os resultados.

Mesmo nas campanhas que não atingem um grande sucesso, os resultados são

considerados compensadores e, na pior das hipóteses, a correspondência devolvida ajuda a

atualizar as bases de dados.

Com toda a máquina de identificação bem azeitada, a comunicação é feita com maior

eficácia, por meio da utilização de agências especializadas na criação para o marketing direto.

As experiências somadas da equipe interna com as equipes das agências se traduz em

resultados bastante compensadores, quando não excepcionais.

O deslocamento do eixo da comunicação da captação de clientes para a sua retenção

ainda está em seus estágios iniciais, mas os resultados já começam a ser visíveis. Clientes que

retornam exigem menos comunicação e o ROI dessas campanhas costuma ser bem mais

elevado. No segmento seguros e previdência, essa iniciativa mostrou-se muito acertada,

estancando os prejuízos dos clientes que se vão. O envolvimento do corretor no processo de

retenção é uma decisão estrategicamente importante. Não houve ainda como mensurar o

efeito do boca a boca dos clientes satisfeitos mas, com certeza, esses números deverão surgir.

O uso do banco de dados pela empresa já ultrapassou os primeiros estágios da

identificação/segmentação de clientes, chegando ao ponto das decisões empresariais,

identificando oportunidades de negócios, segundo informações levantadas pelo software.

A comunicação também já avançou, tendo na newsletter uma peça de relacionamento

baseada na educação/informação sobre os produtos oferecidos.

O clube de vantagens, já existente, está em processo de reformulação, procurando

ajustar-se a uma oferta de valor de fato para o cliente. A busca da criação de uma identidade

de grupo com o compartilhamento de sonhos e experiências vai de encontro às teorias de

Jensen (1999), nas quais o que conta realmente é a história que a empresa pode contar.

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171

A Icatu-Hartford caminha rapidamente para um CRM de fato, com passos medidos e

seguros, solidamente firmados no relacionamento e tendo a tecnologia como coadjuvante.

O Clube Irmão Caminhoneiro Shell, a despeito de estar passando por um momento de

revisão estratégica e reavaliação de objetivos, é um exemplo muito bem-sucedido de

programa de relacionamento.

Analisando-se a primeira versão do Clube, a estratégia de envolvimento beira a

perfeição, com a utilização da mídia de massa como meio de comunicação dirigida visando o

amplo atingimento do público-alvo através do programa de TV. O programa e os anúncios

nele veiculados levavam o caminhoneiro aos Postos de Serviço, onde o trabalho continuava

com a oferta da carteirinha, que também podia ser solicitada pelo correio ou central

telefônica. Uma vez cadastrado, o cliente passava a ter as suas interações monitoradas,

gerando um aprimoramento das ofertas que lhe eram feitas. Essas ofertas transcendiam a

venda de produtos e serviços e a lealdade era conquistada por meio de eventos relevantes,

como shows, chegando ao envio de presentes valiosos do ponto de vista de quem os recebe,

em datas especiais.

O abandono dessa estratégia envolvente só se justifica diante de uma extrema pressão

nas margens da empresa, o que deve ter ocorrido com a desregulamentação do setor. Como

essa pesquisa não teve acesso aos números, não houve como ter certeza. A despeito disso, a

base de clientes registrou o abandono por parte da empresa, e foi pura sorte, ou um momento

realmente muito ruim para a indústria de combustíveis e lubrificantes como um todo, que um

concorrente não tivesse se aproveitado do vácuo deixado.

O objetivo de programas de relacionamento e de lealdade é contribuir para a

lucratividade da empresa como um todo, funcionando como um diferencial e um valor

agregado para o cliente, levando-o a consumir mais. A diretriz de tornar o Clube auto-

sustentável parece apenas justificar-se no caso de o programa e seus múltiplos benefícios

ofertados estarem trazendo prejuízos de fato. Essa parece ser a lógica e o destino de alguns

planos de milhagem de companhias aéreas. Mais uma vez, somente o acesso aos números

poderia esclarecer a situacão.

Page 172: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

172

Por outro lado, a solução encontrada para atender à exigência da alta administração foi

bastante criativa. Trocaram-se alguns benefícios antigos por novos e o programa foi

redesenhado com uma nova proposta de valor. O cartão inteligente é uma oferta realmente

valiosa, e um sistema de rastreamento em tempo real permite respostas muito rápidas por

parte da empresa, traduzidas em promoções que envolvem muita interatividade com um forte

componente lúdico.

Um CRM de fato já está em gestação, faltando pouco para vê-lo em pleno

funcionamento. Da mesma forma, há um significativo embrião para um programa de pontos,

com algumas de suas partes já em funcionamento. Resta aguardar para ver os resultados junto

ao cliente e em relação aos lucros totais da empresa e à auto-suficiência do programa.

Os programas de lealdade do São Conrado Fashion Mall são um exemplo de

criatividade, baixo custo e da melhor utilização dos preceitos do marketing de

relacionamento.

Não se pode deixar de lembrar um incidente relatado no caso da Icatu-Hartford com

respeito à sensibilidade a brindes por parte das classes mais abastados. No caso relatado,

clientes das faixas sociais mais altas reagiam bem à oferta de um relógio ou caneta quando da

renovação de um contrato de capitalização, enquanto que os clientes menos favorecidos eram

totalmente indiferentes a esses mesmos brindes. O mesmo ocorre no São Conrado Fashion

Mall, onde uma clientela afluente acorre para manter em atividade um relacionamento

financeiro de valor elevado com a empresa em troca de serviços de baixo custo para a mesma.

Trata-se aqui de muito mais que esse benefício. No caso do São Conrado Fashion

Mall, o que o cliente Fashin Prime e Fashion Gold deseja é pertencer a uma confraria de

privilegiados, sendo que para ele, em geral, o valor pago pelo benefício é baixo, uma vez que

ele precisa mesmo fazer suas compras em algum lugar.

A clientela de elite do shopping está habituada a freqüentar restaurantes, clubes e

outros locais com valet parking e/ou vagas demarcadas. Uma interpretação possível seria: “Se

tenho esse serviço até no cabeleireiro, por que não no shopping que freqüento?”. O serviço

serve então como diferencial, mas em um sentido um pouco diverso, na medida que é uma

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173

distinção de classe social, que o separa do resto da população que enfrenta filas e

congestionamentos.

O valor monetário é mínimo, mas o valor emocional é bastante elevado. A

complementação com os presentes exclusivos é um toque de classe em um programa

brilhante. O mesmo pode ser dito sobre o sorteio de dinheiro para compras. Em termos

financeiros, o valor faz pouca diferença no orçamento mensal da maior parte dos clientes, mas

como Jussara definiu muito bem, o prazer de consumir absolutamente sem culpa, não tem

preço. O valor do reconhecimento como primo inter paris na comunidade já seleta é outro

benefício intangível de difícil medição, mas de altíssimo impacto. Os programas deixam claro

que o cliente faz parte de uma comunidade de privilegiados, criando um forte elo de

identidade entre ele e a empresa.

Mal-comparando, a situação é análoga à eleição de uma criança de jardim-de-infância

como rei ou rainha da classe. A coroa é de cartolina laminada e o cetro é um pedaço de cabo

de vassoura embrulhado em papel crepom colorido, mas a sensação de poder e

reconhecimento é indescritível. Só o privilegiado é capaz de saber.

Se há alguma recomendação a fazer nesse caso, é adicionar uma pequena passa a mais

ao bolo da comunicação. O uso de uma boa agência de publicidade é certamente um ponto a

favor, mas, como se repetiu exaustivamente ao longo do trabalho, a lógica, o desenvolvimento

e a estética envolvidas são completamente diferentes em um trabalho de comunicação

dirigida, exigindo uma equipe afinada com os conceitos e a filosofia diferentes para

desempenhar seu papel a contento. A despeito disso, o ROI de 1200% deixa evidente que se

trata de um detalhe quase irrelevante.

O caso da Casa de Vacinas GSK é mais um voltado ao mercado B2B, atuando em um

segmento muito semelhante ao da Torrentes, descrito e analisado anteriormente neste

trabalho. Ele serve como contraponto e um exemplo de um caminho que a Torrentes poderia

tomar em sua trajetória como empresa.

O esforço da Casa de Vacinas GSK em criar um vínculo mais forte de lealdade com

seus diversos públicos é admirável e o sucesso da equipe da filial brasileira nesse sentido é

Page 174: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

174

digno de nota. A mera criação de uma cultura de vacinação e medicina preventiva em

empresas já se constitui em um esforço louvável.

As restrições impostas pela legislação dificultam o trabalho de comunicação, mas a

contratação de uma consultoria especializada ajuda a contornar esses e outros obstáculos. A

empresa aprendeu, desde a implantação do programa, quem são seus clientes e quem são os

melhores dentre eles, graças ao seu MDB. Resta agora definir alguma estrutura de

recompensa maior para os heavy users, aqueles clientes mais fiéis de toda a base, levando a

um novo passo o relacionamento com a clientela.

Uma observação importante deve ser feita ainda sobre a comunicação. O material

fornecido pela empresa e analisado apresenta um conteúdo muito semelhante. Na realidade,

todas as malas-diretas das campahas contra a gripe verificadas apresentam uma argumentação

muito semelhante nas ondas de hard e soft sell. Para que esse conceito funcione a contento, na

primeira onda deve-se enfatizar os benefícios da vacinação para os indivíduos e para a

empresa enquanto que na segunda onda, o argumento de venda recebe maior destaque.

O conceito de “madrinhas” de distribuidores e representantes, criado no telemarketing,

é muito eficaz, já tendo sido usado com muito sucesso em empresas como a Xerox. O vínculo

criado entre as partes e o destas com a empresa é muito grande, ajudando a aumentar, no

cômputo final, a satisfação do cliente.

Finalmente, conforme pode ser verificado nos números, há um enorme sucesso inicial

e um pequeno declínio na adesão nos últimos anos. Essa queda pode ser devida à natural

estabilização do mercado, sinal de sua maturidade, ou ser decorrente de algum problema na

relação com o cliente, como uma oferta inicial de doses de vacinas maior do que a adesão,

problemas de entrega ou outros fatores que talvez até nem envolvam a casa de Vacinas GSK

propriamente. Resta esperar a consolidação dos números deste ano e uma análise do database

para se chegar a uma conclusão mais acurada.

A empresa de motocicletas Harley-Davidson exibe o mais robusto e consistente caso

de marketing de relacionamento dentre as empresas analisadas neste trabalho. É bem verdade

que poucas empresas no mundo podem dizer que têm cem anos de idade e quase 85 de, se não

relacionamento com o cliente, pelo menos muita dedicação a ele.

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175

Por programa completo entende-se a segmentação da clientela, ajudando na

identificação dos melhores clientes, o reconhecimento desses clientes com o uso de pins e

distintivos, formando os grupos de elite dentro do grupo e a recompensa tanto tangível quanto

intangível, na forma dos passeios, cafés, revistas, dentre outras.

Para complementar, a empresa faz uso extensivo da educação como forma de

relacionamento, patrocinando cursos e publicando matérias específicas dentro de suas

revistas. É bem verdade que outras empresas analisadas ao longo deste trabalho também

utilizam a educação da clientela como instrumento, particularmente a Casa de Vacinas GSK,

mas apenas a Harley-Davidson emprega quase todo o arsenal de ferramentas disponíveis para

conquistar corações e mentes.

O grande sucesso da empresa é a formação de uma comunidade afinada com seus

objetivos e valores, e com sua cultura, uma comunidade que se orgulha de pertencer e ser o

que é. Mais uma vez, Cavideo e São Conrado Fashion Mall conseguiram, em graus diferentes,

construir o seu relacionamento em torno do conceito de grupo. O mesmo pode ser dito sobre o

Clube Irmão Caminhoneiro Shell, no sentido que há uma grande identificação dos membros

do grupo entre si e com a empresa. A comunidade, por assim dizer espiritual, é o ápice do

relacionamento, havendo dentro dela o grupo de formadores de opinião que alicia novos

membros, chamados emblematicamente de evangelistas.

Mesmo nos casos da Cavideo e do shopping Fashion Mall, a comunidade não tem

meios de exibir sinais externos discerníveis para deixar clara a filiação ao grupo. Roupas

chiques e jóias caras podem fazer um estilo Fashion Mall de ser, assim como um ar “cult” e

“descolado” podem fazer o tipo do cliente Cavideo, mas a Harley-Davidson capitaliza,

literalmente, sobre essa imagem, vendendo roupas e acessórios que identifiquem seus fãs.

Poucas outras empresas conseguem esse feito. Dentre elas, destaca-se a indústria de

computadores Apple. O autor deste trabalho já teve a oportunidade de presenciar um diálogo,

no qual um usuário Apple conversava com um cliente de outra marca a respeito de colar o

adesivo com a maçã da marca em seu automóvel. O segundo dizia que jamais faria tal coisa,

pois entendia ser o mesmo que colar no carro um adesivo de sua marca de liquidificador. O

cliente Apple simplesmente respondeu com ar de superioridade: “Você não tem um

Macintosh (computador fabricado pela Apple), você não faz idéia da diferença”.

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176

Resumindo rapidamente os conceitos, o marketing de relacionamento tem como

objetivos identificar, reconhecer e recompensar os melhores clientes. Para isso, usa as

ferramentas do marketing direto, cuja filosofia repousa sobre os conceitos de direcionamento,

relevância e interatividade, materializando-se em comunicação eficiente, em suas diversas

formas, seja o apenas anunciar e o promover, o informar e o educar. Ao recompensar os

clientes identificados como melhores, usam-se tanto benefícios tangíveis quanto intangíveis,

procedendo-se a montar uma escala de relacionamento que varia em profundidade do

relacionamento pessoal à formação de uma comunidade.

A apresentação dos casos em seqüência trouxe, coincidentemente, a idéia de

apresentar uma escala do relacionamento, a fim de facilitar a compreensão do leitor. Dessa

forma, a lista seria a seguinte:

� Grau 1: Melhorias nos serviços oferecidos. Algum grau de personalização no que

tange à preferências dos clientes.

� Grau 2: Benefícios financeiros. Programas de pontos ou milhagem, nos quais o

cliente troca seus pontos por benefícios.

� Grau 3: Benefícios estruturais. A empresa oferece uma nova estrutura empresarial

para seus melhores clientes. Essa estrutura diferenciada pode ser desde a oferta de

serviços muito diferenciados dentro da estrutura existente, ou mesmo uma nova

empresa apenas para os melhores clientes. Como exemplos, pode-se citar a oferta

de leitores de códigos de barra por parte de bancos para seus clientes empresariais

com grandes carteiras de recebíveis e pagamentos, ou a criação de um banco

dentro do banco para os clientes com grandes volumes de depósitos e aplicações.

� Grau 4: Benefícios Sociais. A empresa estimula a criação de uma comunidade em

torno de sua marca, com identificação e comunicação específica.

Duffy (2002) e diversos outros autores oferecem mais um modelo, mais ligado a

programas de lealdade. Segundo esses autores, a lista seria a que segue:

� Serviço de valor agregado: A empresa oferece serviços considerados de valor

para o cliente.

� Afinidade: Os clientes se reúnem em torno de um interesse comum pela marca.

Page 177: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

177

� Vantagens com parceiros: A empresa se alia a parceiros não-concorrentes e

complementares para oferecer um leque maior de serviços e vantagens.

� Educacional: Informação e interatividade são os elementos fundamentais desse

modelo. O cliente recebe informação e suas respostas são armazenadas para

reorientar as futuras ações da empresa. Quizzes, questionários curtos, são bastante

utilizados, normalmente valendo algum prêmio pela resposta. O nível mais

elementar desse modelo fornece informações que ajudam o cliente a usar melhor o

produto oferecido pela empresa.

� Contratual: o cliente se compromete a adquirir uma quantidade mínima de um

produto em troca de vantagens que costumam incluir preços diferenciados. Clubes

de livros e discos são um bom exemplo.

� Programa de fidelização: Podem-se usar pontos ou outra forma de medição da

interação do cliente com a empresa. Quanto mais ele interage, mais pontos

acumula, podendo resgatar esses pontos na forma de benefícios. Duffy (2002)

ressalta que muitas empresas preferem usar um modelo pago de programa de

fidelização. Dessa forma, só participam os clientes realmente interessados, e há a

percepção de maior valor pelos participantes.

Vale observar que um mesmo programa pode incluir mais de um dos modelos acima.

Para que o leitor entenda melhor esse processo, apresenta-se a seguir um quadro com

esses dados e as empresas analisadas, assinalando os pontos cobertos por cada uma.

GRADAÇÃO E TIPO DE PROGRAMA DE RELACIONAMENTO

Empresa Gradação Tipo

Torrentes G1 Serviço de valor agregado

Cavideo G4 Afinidade

Icatu-Hartford G1 Vantagens com parceiros

Clube Irmão Caminhoneiro G2, G3, G4 Serviço de valor agregado +

Vantagens com parceiros + Afinidade

Casa de Vacinas G2 Serviço de valor agregado + Educacional

Fashion Mall G3, G4 Serviço de valor agregado + Afinidade

Harley-Davidson G2, G3, G4 Afinidade + Educacional

+ Vantagens com parceiros

Tabela 13. Gradação e tipo de programa de relacionamento

Page 178: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

178

7.2. Verificação das questões

Questão 1 (Q1):

Houve lucro na empresa no último exercício?

Todas as empresas analisadas apresentaram lucro segundo declaração de seus

representantes, embora algumas apresentassem lucro menor no último exercício apurado e

exibido em relação aos anos anteriores, como foi o caso da Harley-Davidson. A respeito da

Shell, não houve números disponíveis, embora haja grande possibilidade de que tenha havido

lucro na empresa como um todo, mesmo que o Clube do Irmão Caminhoneiro, o programa

analisado isoladamente, esteja ainda em uma situação ambígüa, sem que seus resultados

tenham sido apurados e sem que tenha sido determinado se o objetivo da auto-suficiência

tenha sido atingido.

Sub-questões da Questão 1:

Quando foi iniciado o Programa de Relacionamento?

Todas as empresas estudadas fazem relacionamento com clientes, mesmo que de

forma não sistematizada, há muitos anos. As empresas mais jovens, como a Torrentes e a

Cavideo, o fazem desde a sua fundação. A Casa de Vacinas GSK já tem um programa

estruturado desde 2000 e em constante aperfeiçoamento, enquanto que o São Conrado

Fashion Mall o faz, também de forma sistematizada, desde 1994. O Clube Irmão

Caminhoneiro da Shell existe desde 1989. A Harley-Davidson tem uma longa história de

relacionamento com clientes, vindo de forma não-sistematizada desde a década de 30, ou,

tomando-se o lançamento da revista Enthusiast como marco inicial, desde 1916. O marketing

de relacionamento deliberado e científico vem sendo feito desde a década de 80, funcionando

no Brasil desde a reintrodução da marca na década de 90. O único ponto fora da curva é a

Icatu-Hartford que, embora trabalhe o marketing direto desde a sua fundação, ainda está

estruturando o seu marketing de relacionamento, ainda que já tenha algumas peças da

engrenagem funcionando.

Page 179: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

179

Quais os resultados nos anos anteriores à implantação do Programa de

Relacionamento?

Apenas Icatu-Hartford e Harley-Davidson mostraram algum tipo de número relativo a

balanço, sendo que apenas a última apresentou números para exercícios anteriores,

coincidentemente, o último ano não foi tão bom quanto o anterior.

Quais os resultados nos anos anteriores à implantação do Programa de

Relacionamento?

Não houve como medir essa sub-hipótese, uma vez que todas as empresas têm seus

programas em funcionamento há muitos anos ou desde a sua fundação, não havendo meios de

fazer um comparativo.

Questão 2 (Q2):

Qual a contribuição do Programa de Relacionamento para o lucro da empresa?

Sub-questões da Questão 2:

O Programa de Relacionamento foi o único responsável pelo bom resultado da empresa?

Caso não tenha sido o único responsável pelo bom desempenho, que outros fatores

contribuíram?

Há como se descobrir o percentual exato (ou aproximado) da contribuição do Programa

de Relacionamento no resultado da empresa?

Não há como aferir essa hipótese com precisão, pois as empresas não forneceram os

dados completos. Como os tipos de números apresentados são diferentes de empresa a

empresa, não há como fazer comparações entre elas.

Quanto a descobrir se os Programas de Relacionamento são os únicos fatores para a

lucratividade, as empresas não tiveram como separar as informações, embora todas

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180

afirmassem que os programas são parte indissociável da totalidade da empresa, misturando-se

à sua estratégia de negócio.

Questão 3 (Q3):

O Programa de Relacionamento é, em si, lucrativo para a organização?

O Clube do Irmão Caminhoneiro está no momento de averiguar essa questão.

Presume-se que, se o programa não é capaz de se auto-gerir, ou seja, atingir o seu break-even,

talvez ele não seja lucrativo como programa. Como a empresa deve ter sido lucrativa,

imagina-se que o programa tenha trazido alguma contribuição positiva para o todo. Uma

questão de enorme relevância se coloca em relação às dúvidas da alta administração da Shell

quanto a seu programa. Parece que ele está sendo enxergado como uma despesa operacional,

ao invés de ser encarado como um investimento. Essa parece ser uma distorção bastante

comum.

A Harley-Davidson afirma que 40% de seu faturamento é devido ao relacionamento

com clientes.

A Torrentes deixou bem clara a posição de destaque de seu esforço nos resultados da

empresa, embora não tivesse corroborado a informação com cifras exatas.

A Cavideo é um exemplo único no qual a empresa e o relacionamento se confundem

em uma simbiose ímpar.

O ROI de 1200% apresentado pelo São Conrado Fashion Mall é absolutamente

espantoso. A casa de Vacinas afirma ter um balanço positivo com seu programa e a Icatu-

Hartford ainda não está completamente estruturada, embora demonstre um ROI positivo em

todas as campanhas apresentadas, ainda que haja uma grande variação entre esses resultados.

Sub-questões da Questão 3:

Quais os valores aplicados no Programa de Relacionamento?

Page 181: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

181

Qual a razão investimento/lucro do Programa de Relacionamento?

Nenhuma das empresas apresentou quaisquer números relativos a esses quesitos,

excetuando-se o São Conrado Fashion Mall que apresentou uma relação de 1/120.

Questão 4 (Q4):

Dentre os benefícios auferidos pelo Programa de Relacionamento, a empresa vê

resultados intangíveis (maior percepção de marca, o próprio programa como um

diferencial, preocupação da concorrência, exposição na mídia)?

Aqui, todas são unânimes em ver benefícios intangíveis advindos de seus programas.

Clientes de elite fazendo fila para validar a carteirinha do São Conrado Fashion Mall, o

orgulho dos caminhoneiros de portar a carteira inteligente e outros distintivos do Clube da

Shell, a fidelidade orgulhosa dos motociclistas Harley-Davidson são alguns exemplos bastante

visíveis.

Clientes da Cavideo são ferrenhos advogados da marca, fazendo um intenso trabalho

de evangelização entre os amigos que ainda desconhecem a locadora.

No mercado B2B esses sinais externos são menos aparentes, mas parece evidente que

clínicas e hospitais prefiram negociar com a Torrentes, que, de alguma forma, demonstra

alguma preocupação com elas, a negociar com um concorrente que não o faça. O mesmo

certamente ocorre com a Casa de Vacinas GSK, com seu trabalho de conscientização,

educação e divulgação.

Sub-questões da Questão 4:

Como o cliente percebe o Programa de Relacionamento?

Para o cliente das empresas, o valor do relacionamento evidencia-se em feedback

recebido, no orgulho em participar e exibir a participação. O intenso boca a boca do cliente

satisfeito é outra forma de evidenciar a satisfação.

Page 182: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

182

Mais uma vez, as manifestações no mercado B2B são menos evidentes, muito embora

haja uma clara percepção de valor, haja vista a reação positiva dos médicos do trabalho em

relação à newsletter enviada pela Casa de Vacinas GSK.

Como o mercado percebe o Programa de Relacionamento?

Com a divulgação dos benefícios e vantagens recebidos pelos clientes satisfeitos,

outros clientes procuram as empresas que os oferecem. Embora nenhuma das empresas tenha

fornecido dados a respeito, é possível saber pela mídia que muitas outras empresas estão

buscando soluções de relacionamento com clientes.

Como a mídia percebe o Programa de Relacionamento?

A mídia tem reagido positivamente, tendo publicado diversas matérias sobre o

assunto. A própria Cavideo se vale da publicação espontânea de matérias a seu respeito,

encarando-a como parte de sua estratégia de negócio.

Page 183: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

183

8. Conclusões e Sugestões

8.1. Conclusões

Impactos continuados sobre a economia, como a globalização, a desregulamentação de

diversos setores e o ciclo cada vez menor de crises e períodos de fartura forçaram as

organizações a rever conceitos, quebrar paradigmas, repensar estratégias e mudar conceitos

longamente arraigados.

Dentro do estado atual da competitividade no mercado, em um sentido mais amplo, o

eixo do marketing deslocou-se do produto e do mercado para o cliente, e da massa para o

indivíduo. Do mesmo modo, não há mais espaço para empresas que apenas consideram a

conquista de clientes, sem atentar para a necessidade, cada vez maior, de sua retenção.

Outra questão que se firma em uma sociedade cada vez mais industrializada, na qual

seus membros cada vez mais têm seus desejos e necessidades amplamente satisfeitos, sujeitos

que estão a uma oferta tão grande de tudo que os leva à paralisia diante da escolha, é que o

componente emocional é o que acaba por fazer pender a balança. Diante de todos os apelos

racionais, das explicações, dos manuais e sites de pesquisas para o consumidor, diante de uma

qualidade amplamente disseminada e “commoditizada”, compra-se onde houver um sorriso e,

de preferência, um bombom. Não é preciso mais desejar, não é preciso mais consumir, é

preciso, mais do que nunca, se identificar com aquilo que se consome, o desejo transformou-

se em sonho e fantasia. O papel mais relevante da empresa é auxiliar o cliente a vivenciar a

sua fantasia, seja ela de elegância, de poder, de saúde e forma física, de eterna juventude, de

estar em lugares distantes, de ter e exibir cultura. O mundo extrapolou as fronteiras da aldeia

com suas relações pessoais e próximas, fez uma grande volta e retornou como uma nova

aldeia de dimensões globais, na qual as relações pessoais se estabelecem por meio da

tecnologia, isto é, da telefonia, da TV, da internet e de toda a sorte de dispositivos.

Nesse contexto, o caderno de despesas da pequena venda de bairro tornou-se o

database de uma grande empresa, mas o cliente continua tendo suas preferências e

comportamento de compras anotados para que possa receber o tratamento e as ofertas que

deseja.

Page 184: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

184

Confirmando um axioma no mercado, a presente pesquisa ratifica em seus resultados

que o marketing de relacionamento é fundamentalmente uma questão de cultura e sua

aplicação por parte da empresa independe do porte da mesma.

O essencial é que a empresa que o emprega tenha seu foco voltado para o cliente e

para toda uma gama de benefícios mútuos advindos dessa relação. Não importa o tipo de

programa escolhido, há que se ter uma gestão criteriosa, uma implementação calculada e

gradual visando a construção do relacionamento em uma escala crescente.

8.1. Conclusão da dissertação a partir dos objetivos propostos

8.1.1. Quanto aos objetivos específicos

A presente dissertação conclui-se com a certeza de ter apresentado provas de que a

disciplina do marketing de relacionamento é um caminho para a lucratividade das

organizações que nela apóiam sua filosofia de trabalho. Mesmo quando há os inevitáveis

sobressaltos, eles se devem essencialmente a falhas nos controles, mais do que a falhas no

sistema propriamente, sem contar, no caso específico do Brasil, as constantes mudanças nas

regras do jogo, enquanto este ainda está em curso.

Buscou-se corroborar com os números fornecidos que, mesmo quando houve queda na

lucratividade da organização como um todo, o relacionamento com o cliente foi um dos

fatores a colaborar para que a queda não fosse maior.

Descreveram-se casos de empresas de todos os portes, atuando em uma ampla gama

de mercados, esmiuçando-se seus processos, objetivos, estratégias e táticas, visando a

construção do que seriam as boas práticas no relacionamento com o cliente, sem, no entanto,

perder de vista as correlações com as recomendações dos teóricos da disciplina.

A despeito disso, observou-se que, em muitos dos casos, o relacionamento com o

cliente ainda não é feito de forma sistematizada e de acordo com a boa teoria em seu todo,

sendo exercido de forma intuitiva e ao sabor de tentativas e erros. Observou-se também que o

porte da organização tem relação com a melhor aplicação das regras, dado que as

Page 185: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

185

organizações maiores já possuem uma cultura de processos especializados e dispõem de mais

recursos para a contratação de ajuda externa. Interessante foi observar que mesmo essa ajuda

externa ainda está sujeita a muitos dos paradigmas do velho marketing, criando uma

dissonância entre os objetivos da empresa contratante e os processos da contratada.

Outra observação digna de nota foi o fato de o programa mais completo ser

apresentado pela empresa há mais tempo no mercado e de suas bases serem totalmente

importadas, havendo aqui apenas adaptações e pequenas contribuições ao modelo.

8.1.2. Quanto ao objetivo geral

Com base nas respostas obtidas para as hipóteses propostas, pode-se afirmar, mais

uma vez, que o marketing de relacionamento, quando alicerçado sobre as bases da

comunicação dirigida e tendo em vista o ROI positivo como meta a ser alcançada sempre, é,

sim, uma fonte para a lucratividade das empresas que o utilizam.

Procurou-se ainda, com esta dissertação, acrescentar à literatura do marketing de

relacionamento no Brasil mais um título à disposição da comunidade acadêmica e

profissional, com o intuito de engrandecer esta disciplina, inserida que está na ciência da

gestão de empresas e da engenharia de produção, ciências estas onde o autor busca o título de

mestre e para as quais deseja fazer sua contribuição.

8.2. Sugestões

Por mais que se queira fazer um estudo abrangente e completo, limitações de tempo e

recursos impedem ou dificultam esse propósito. Ficam aqui algumas recomendações para que

futuros pesquisadores prossigam no estudo do marketing de relacionamento.

A primeira delas diz respeito a um aprofundamento no estudo dos diversos tipos de

programas, apresentando casos de empresas que utilizem programas de pontos, de pontos

ocultos, de milhagem e outros.

A segunda diz respeito à sistematização de um modelo mais amplo, que possa ser

seguido por qualquer empresa que queira utilizar o marketing de relacionamento.

Page 186: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

186

A seguir, tomando os critérios do PNQ como modelo, sugere-se aqui que

pesquisadores se debrucem sobre a correlação existente entre a satisfação do cliente interno, o

funcionário, e o cliente externo.

Finalmente, abraçando os modelos de McKenna (1992) e Murphy et al. (1999), que se

estude o impacto dos diversos relacionamentos – com fornecedores, funcionários, acionistas,

revendedores, distribuidores, clientes, comunidade, ONGs, governo e imprensa – no

desempenho da organização, guardando-se a observação de Shani e Chalasani (1992), citada

em Murphy et al. (1999), de que sejam o verdadeiro marketing de relacionamento e não os

relacionamentos de marketing.

Page 187: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

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Page 192: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

192

10. Anexos

10.1. Questionário não-estruturado usado como guia nas entrevistas com as empresas

participantes.

Grandes questões a serem investigadas:

O Programa de Relacionamento com Clientes é rentável para a empresa?

Como a empresa determina o seu gráfico de Pareto (se é que o faz)?

Quais são as práticas adotadas que mais funcionam?

Quais as que menos funcionam?

Perguntas que situam a empresa:

Qual o público-alvo da empresa?

Quais os segmentos de mercado visados?

Quais são os critérios adotados para segmentar o mercado?

Qual é o modelo de vendas da empresa? (venda direta, revenda, distribuição, etc.)

A empresa faz pesquisa de satisfação de clientes?

Como funciona o SAC (se ele existir)?

Em que medida os dados colhidos determinam a direção dos negócios?

Existe na sua empresa algum mecanismo utilizado para não criar expectativas que extrapolem

o que é efetivamente oferecido pelo produto ou serviço?

Perguntas diretamente ligadas ao objetivo da dissertação:

Qual o tipo de programa de relacionamento adotado (milhagem, pontos, pontos ocultos, etc.)?

Quando a empresa iniciou o programa de relacionamento com clientes?

Como a empresa determina a grade de comunicação com os clientes?

Algum modelo de gráfico de Pareto foi utilizado?

Quais os critérios que determinam a classificação dos clientes?

Qual o faturamento anual nos anos anteriores à implantação do programa?

Qual o faturamento nos anos subseqüentes ao programa?

Quanto dessa lucratividade você atribui ao programa?

Como você fez essa medição?

Page 193: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

193

Houve alguma alteração econômica global ou nacional que afetasse de alguma forma a

eficácia do programa?

Qual o tempo necessário para a implantação do primeiro modelo do programa?

Houve alguma dificuldade? De que natureza?

Houve necessidade de que tipos de correções e ajustes?

Quais são os objetivos da empresa como um todo?

Quais são os objetivos do programa?

Quais são as estratégias adotadas?

Quais são as táticas adotadas?

Na sua opinião, as estratégias e táticas estão em consonância com os objetivos?

Em detalhes, quais são as partes componentes do programa?

Page 194: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

194

10.2 Índice Remissivo

“madrinhas”, 174

A gestão do relacionamento com o cliente, 23, 74

A sociedade do sonho, 77

Aaron Montgomery Ward, 49

ABEMD, 25, 49, 62, 82, 98, 126, 187, 188, 191

Abordagem centrada na fabricação, 33

Abordagem centrada no produto, 33

Abordagem centrada no usuário, 33

Abordagem centrada no valor, 33

Abordagem transcendental, 33

Absenterix®, 152

Acesso Direto Consultores, 153

ações de captação, 129

Ações de relacionamento, 130, 137

ações em dois passos, 110

adesão, 89, 129, 131, 138, 147, 150, 174

adição de valor, 36

administração de benefícios, 125

advogado da marca, 85

advogados da marca, 59, 121, 181

aglomerados, 57, 73, 100

AIJO, 16, 19, 187

Albrecht, 19, 64, 71

Albrecht e Bradford, 19

ALBUQUERQUE, 50, 187

Alecrim-Santos, 63, 71, 75, 81, 92

algoritmos de clusterização, 100

Anúncio de Resposta Dirigida, 82

anúncios de resposta direta, 63

Apple, 175

aquisição de novos clientes, 17, 55, 106

arrumar a casa, 52

as fichas MacBee, 23

assignment model, 101

ativo cliente, 54

atrição, 131

autônomo, 129, 134, 135

Avon, 50

B2B, 89, 91, 97, 113, 173, 181, 182

B2C, 91

banco de dados, 56, 58, 61, 62, 65, 66, 69, 85, 89,

90, 99, 100, 108, 111, 112, 114, 118, 120, 126,

127, 130, 131, 132, 165, 170

base de dados, 128, 148

bases de dados, 170

Bayón et al, 54, 71, 104

Berry, 35, 36, 38, 43, 45, 47, 48, 69, 70

BIRD, 48, 58, 61, 70, 71

Blue Bus, 77

boca-a-boca, 39, 59, 117, 119, 147, 157, 164, 170,

181

Boone e Kurtz, 38, 70

bottom line, 24, 138

Boyd e Wesfall, 95

brand loyalty, 54

break even, 106, 129

Breakeven, 107

break-even, 109. See . See . See . See . See

Bretzke, 36

brinde, 127

brindes, 105, 108, 115, 127, 137, 146, 150, 172

Bush, 82

Business-to-Business, 91

Business-to-Consumer, 91

cadeia de valor, 138

câmara de compensação de loyalty, 142

caminhoneiro profissional, 134

caminhoneiros, 135, 136, 138, 140, 141, 142, 181

campanhas de incentivo, 130

Campomar, 95

canais de compra, 75

canais de resposta, 57, 65, 106, 129, 136

canal de contato, 75

CAPES, 26

Capitalização, 123, 124, 126, 127, 131, 132, 169

Capítulos Locais do HOG, 159

Page 195: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

195

Carlson, 18, 64, 71

carta personalizada, 150

cartão inteligente, 139, 140, 172

cartas-resposta, 65

carteirinha, 139, 142, 144, 145, 146, 171, 181

cartões-resposta, 129

Casa de Vacinas GSK, 149, 150, 151, 152, 173,

175, 178, 181, 182

Casa Pratt, 50

Castro, 95

catálogo, 49, 50, 63, 157

Cavideo, 116, 117, 118, 119, 122, 169, 175, 177,

178, 180, 181, 182

centrais 0800, 129

centrais telefônicas gratuitas, 65

central de atendimento, 127, 138, 139

central de informações, 127

central de teleatendimento, 137

central telefônica, 171

certeza pós-compra, 74

certificados de garantia, 62

ciclo do serviço, 65

cinco hiatos, 44

Cine Buraco, 118

Circunstancial, 83

cliente, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 22, 23, 26, 28,

31, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45,

48, 50, 51, 52, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 62, 63, 64,

65, 66, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78,

79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 90, 91, 92,

99, 101, 103, 104, 106, 109, 111, 113, 114, 115,

116, 117, 119, 120, 121, 122, 127, 128, 129,

130, 131, 132, 134, 136, 137, 139, 140, 141,

143, 144, 145, 146, 147, 149, 152, 154, 155,

156, 157, 159, 161, 162, 164, 165, 168, 169,

170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 181,

183, 184, 186, 188, 190, 191

cliente externo, 31, 186

cliente interno, 40

clientes, 6, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 23, 24, 30, 31,

32, 34, 35, 36, 37, 39, 40, 43, 44, 51, 52, 53, 54,

55, 56, 57, 58, 59, 61, 62, 66, 67, 68, 69, 70, 71,

72, 73, 74, 75, 76, 78, 79, 80, 81, 83, 84, 85, 86,

88, 89, 90, 91, 92, 93, 96, 97, 98, 99, 100, 101,

103, 104, 105, 106, 109, 110, 111, 112, 113,

114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122,

124, 125, 126, 127, 128, 130, 131, 132, 134,

135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 144,

145, 146, 147, 148, 149, 151, 152, 153, 154,

155, 157, 163, 164, 165, 166, 168, 169, 170,

171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 180,

182, 183, 186, 187, 188, 192

clientes de maior valor, 53

clientes internos, 31

clientes órfãos, 130

clientes-alvo, 152

clube de vantagens, 132, 169, 170

Clube do Irmão Caminhoneiro, 133, 171, 175, 178,

180, 188

clubes de motociclistas, 155

cluster, 57, 100, 101, 191

clusters, 100, 101

CNT, 135

Cobal drive-in, 118, 119

commoditie, 77

comportamento de compras, 136, 145, 151, 183

comportamento futuro, 104

comportamento passado, 104

compromisso com o cliente, 155

comunicação comercial não-solicitada, 82

comunicação de massa, 20, 22, 24, 108

comunicação dirigida, 17, 20, 63, 81, 100, 135,

148, 152, 157, 171, 173

comunicação interativa, 157

comunidade de aficcionados, 158

comunidade de clientes, 132

comunidade de entusiastas, 155

Confiança na marca, 84

Connoly, 94

Page 196: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

196

consumidor, 18, 25, 31, 33, 36, 38, 40, 52, 62, 77,

80, 81, 82, 83, 89, 121, 183

corretor, 129, 130, 131, 170

corretores de seguros, 169

CPM, 53, 54

CRM, 23, 56, 58, 70, 74, 75, 76, 92, 136, 171, 188

Crosby, 31, 32, 69, 187

cross-selling, 130, 131, 165

cultura de relacionamento, 168

cupons, 65, 66, 89, 110, 140, 159

cupons eletrônicos, 140

custo da aquisição de um cliente, 55

custo por milhar, 53, 54

customer share, 52

Customer Value Proposition, 137

Darwin, 59, 60

database marketing, 72, 74

DBM, 55, 56, 61, 71

de Shani e Chalasani, 15, 186

decisores, 22, 66, 150

Deming, 32, 69

departamento de marketing, 91

desregulamentação, 134, 171, 183

determinar a verba disponível, 104

diferencial competitivo, 16, 19

Dilema do Prisioneiro, 60

direcionamento, 57, 61, 63, 100, 159, 165, 176

Direct, 20, 70, 100, 189, 191

discriminant analysis, 101

diversos canais de vendas diretas, 63

DMA, 20, 25, 98, 191

DNA da Shell, 140

Do-not-Call list, 82

Drucker, 58, 71

Duffy, 6, 37, 52, 59, 70, 71, 76, 85, 86, 87, 92, 93,

168, 176, 177

Easy Rider, 156, 161

Ed Nash, 56

email, 65

email marketing, 63, 131

Emergence Inc., 85

Emotional Branding, 78, 92, 188

empowerment, 116

enewsletter, 118, 119

Enthusiast, 158, 178

ERP, 111

espírito de comunidade, 155, 159

estudo de casos, 94, 95

evangelistas, 175

experiência da lenda, 158

experiência da marca, 78, 91, 92, 155

experiência do cliente, 58

experiência total, 41

Fashion Gold, 146, 147, 172

Fashion Kids, 146

Fashion Prime, 143, 144, 146, 147

fax, 65, 129

Federal Trade Commission, 82

feedback, 58, 73, 181

Feigenbaum, 34, 69

FENACOR, 130

ferramentas do marketing direto, 61

fidelidade, 14, 34, 51, 73, 86, 130, 137, 139, 140,

141, 146, 147, 181

fidelização, 6, 59, 70, 71, 76, 85, 86, 87, 92, 93,

152, 177, 188, 191

Fidelização estratégica, 85

fidelização tática, 85

fidelizar, 143

Fournier et al, 31, 69

freqüência de contato, 66, 81

frotista, 134

frotistas, 139

fulfillment, 108

full membership, 158

Gartner Group, 74

Garvin, 33, 69

gestão do marketing direto, 136

gestão do relacionamento com o cliente, 76

Gianesi e Correa, 35, 69

Page 197: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

197

Gil, 29

Gobé, 78, 92

Godin, 65, 71, 81, 82, 83, 92

Gordon, 37, 52, 70

gráfico de Pareto, 114, 121, 126, 136, 153, 165, 192

Grönroos, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 61, 70, 71,

73

Grönroos e Gummesson, 38, 43, 73

Grönroos e Ravald, 36, 37, 70

Grupo Estação, 122

Grupo The Hartford, 123

GSK Vida, 152

Guest, 153

Gummessson e Grönroos, 41

Gummesson, 39, 40, 41, 42, 51, 52, 70

happy-hours, 164

hard e soft benefits, 86

hard sell, 174

hard-sell, 152

Harleiro, 161

Harley-Davidson, 80, 135, 138, 154, 155, 156, 157,

159, 160, 161, 162, 163, 165, 166, 174, 175,

177, 178, 179, 180, 181

heavy user, 121, 169

heavy users, 174

Hell’s Angels, 160, 161

hiato, 44, 45

hiatos, 43, 44, 45

HighTech Informática, 89

hipóteses, 27, 95, 96, 170

históricos de ações, 112

HOG Tales, 158

IBM, 66

Icatu Hartford, 124

Icatu-Hartford, 122, 123, 124, 125, 126, 132, 133,

154, 169, 171, 172, 177, 178, 179, 180

identificar, reconhecer e recompensar, 176

In Mont, 143

índice de retenção, 75

influenciadores, 22, 66, 137, 150

interação, 20, 29, 39, 42, 63, 65, 73, 84, 117, 158,

165, 177

interatividade, 53, 64, 65, 73, 169, 172, 176, 177

interativo, 53, 140

internet, 20, 62, 63, 73, 81, 82, 88, 129, 130, 136,

157, 183

Intravenoso, 84

investidores da marca, 85

Isaac Newton, 29

Jack Kerouac, 160

Jensen, 77, 92

Jenssen, 156, 158, 170

Juran, 31, 32, 69, 189

Kandampully e Suhartanto, 34, 69

kit de boas vindas, 86

kit de comunicação, 150, 152

k-means solution, 100

Kotler, 30, 55, 57, 69, 71, 134, 146

Ladies of Harley, 158

lead, 99

leads, 110, 129

lealdade, 6, 16, 34, 36, 37, 40, 50, 51, 52, 53, 54,

55, 59, 69, 70, 71, 84, 85, 86, 88, 90, 91, 92,

129, 130, 139, 140, 141, 143, 152, 153, 155,

168, 171, 172, 173, 176, 190

lei de Pareto, 56, 59, 88

Levey, 87, 88, 93

lifetime full membership, 158

Lifetime Value, 54, 68, 126

list brokers, 62

listas, 61, 62, 81, 82, 106, 128, 157

listas de permissão, 81

low tech, 65

lowtech, 97

Loyalty Rules!, 85

LTV, 18, 54, 68, 69, 71, 83, 86, 101, 102, 103, 104,

110, 132, 164, 189

LTV negativo, 103

lucratividade, 1, 2, 14, 18, 27, 34, 54, 55, 56, 92,

97, 104, 106, 110, 130, 171, 184, 192

Page 198: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

198

lucratividade por cliente, 18

Luiz Alberto Marinho, 77

Macintosh, 175

Macromedia Flash®, 150

mailing lists, 62

mala-direta, 24, 63, 81, 130, 150

mala-direta clássica ou completa, 63

malas-diretas, 55, 89, 106, 115, 126, 153, 164, 174

margem bruta, 103, 107, 109, 110

margem de contribuição, 102, 103, 109

market share, 52, 111

marketing de emoção, 77, 92, 156

marketing de interrupção, 81

marketing de massa, 48, 53, 55, 57, 63, 66, 71, 191

marketing de permissão, 81, 92

marketing de relacionamento, 6, 15, 16, 17, 19, 20,

22, 25, 27, 36, 37, 48, 51, 52, 55, 59, 69, 70, 72,

76, 85, 90, 92, 96, 97, 98, 110, 113, 132, 134,

140, 150, 163, 168, 172, 174, 178, 184, 185,

186, 188

marketing direto, 6, 15, 17, 20, 22, 25, 48, 50, 53,

54, 55, 57, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 70, 71,

72, 81, 82, 92, 99, 100, 106, 108, 126, 135, 136,

138, 140, 142, 148, 153, 170, 176, 178, 187

marketing dirigido, 137

marketing eletrônico, 139

marketing one-to-some, 73

marketing um-a-um, 72, 92, 140

Maslow, 30, 69

Mattar, 95

McKenna, 6, 14, 40, 51, 54, 70, 71, 72, 73, 92, 163,

186

MDB, 56, 58, 104, 106, 126, 145, 151, 168, 169,

174

member-get-member, 89

mensuração, 20, 31, 35, 48, 53, 57, 66, 108, 110

merge and purge, 62

Metas, 99

método de estudos de casos, 94

método do estudo de caso, 94, 95, 96

mídia, 117, 122, 140, 146, 171, 182

Minayo, 29

mix de lojas, 143, 146

mktdireto, 25, 49, 80, 81, 82, 189

modelo conjunto da qualidade, 42

moeda de troca promocional, 86

moeda promocional, 87

Moeller et al., 67, 76, 92, 110, 111

Moller, 32, 69

momentos da verdade, 64, 65

multifidelidade, 139

Murphy et al, 15

Murphy et al., 186

Naidu et al., 90, 93

newsletter, 86, 89, 152, 158, 168, 170, 182

Novo, 101, 102, 103, 111, 112, 188

número 0800, 24, 136, 152, 153

o clube de compras, 50

o marketing de relacionamento, 14, 19, 30, 38, 51,

52, 53, 55, 59, 61, 70, 72, 90, 108, 125, 149,

176, 184, 185

O Som da Safra, 136

oferta de valor, 36, 170

Open Road Tour, 154

opt-out, 82, 85

Organização Mundial da Saúde, 150

overhead, 102

Palmer, 59, 60, 71

Parasuraman, 34, 36, 38, 43, 45, 47, 48, 70

Parasuraman, Zeithaml e Berry, 38, 43, 45, 48

parceiros complementares e não-conflitantes, 138

parcerias estratégicas, 138

Parvatiyar e Sheth, 15, 26

Patricinhas do Fashion Mall, 146

Pegoraro, 34, 69

Peppers e Rogers, 17, 52, 70, 73, 92, 100

percepção da marca, 53, 57

percepção de valor, 37, 139

perfil, 17, 62, 66, 67, 69, 73, 101, 106, 121, 135,

140, 143, 169

Page 199: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

199

perfil do público, 67

personalização, 65, 73

personalização., 57

pesquisa de satisfação, 115, 164, 192

Pesquisas de satisfação, 151

pesquisas qualitativas, 53, 57, 136, 147

Peter Fonda, 161

PGBL, 124, 131

plano de milhagem, 105

plano estratégico, 104, 106, 151

plano tático, 105, 106

planos de milhagem, 171

planos de previdência, 124, 131

PNQ, 26, 186

ponto de equilíbrio, 106, 107, 108, 109, 111. See .

See . See

ponto-com, 24

pontuação, 104, 114, 141

Por pontos, 84

posicionamento, 135

pós-marketing, 73

pós-marketing,, 73

pós-venda, 74, 78, 91, 151, 164

Prada, 80

Prahalad e Ramaswany, 79, 92

preço, custo e valor, 35

prêmios de excelência, 34

previdência, 122, 123, 124, 125, 170

primo inter paris, 173

Probst, 112

programa de milhagem, 145

programa de pontos ocultos, 105

programa de pontos ou milhagem, 24

programa de recompensas, 87, 88

programa de relacionamento, 16, 23, 27, 28, 66, 87,

88, 92, 105, 137, 141, 145, 152, 156, 157, 162,

165, 171, 177, 178, 179, 180, 181, 182, 192

programas de milhagem, 185

programas de pontos, 20, 87, 88, 185

programas de pontos ocultos, 185

Programas de relacionamento, 87, 93

programas para passageiros freqüentes, 87

promoção Passa-Passa, 140

promoções-relâmpago, 139

promotional currency, 86

propaganda, 17, 39, 59, 62

prospect, 106

prospects, 99, 105, 106, 108, 126, 128, 135, 151,

153

público-alvo, 60, 120, 147, 171, 192

qualidade, 16, 18, 19, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 38, 39,

40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 51, 61, 69, 70,

78, 91, 132, 135, 140, 160, 165, 183, 187, 189

qualidade de entrega, 40, 42

Qualidade de produção, 42

Qualidade de projeto, 40, 42

qualidade funcional, 39, 42

qualidade relacional, 40, 42

rádio PX, 142

Rapoport e Chammah, 60

rapport, 114

rastreamento, 142, 172

recência, freqüência e valor, 66, 145

recompensa, 16, 17, 60, 77, 83, 87, 136, 137, 140,

153, 168, 174, 175

reconhecimento, 17, 33, 87, 122, 137, 149, 153,

168, 173, 175

Referencial Teórico, 72, 90, 92, 93

Reicheld e Sasser, 55, 71

Reichheld, 35, 53, 54, 57, 69, 70, 71, 138, 140

relação ganha-ganha, 61

relacionamento, 1, 2, 6, 14, 15, 16, 17, 18, 20, 23,

24, 25, 26, 27, 36, 37, 42, 48, 51, 52, 54, 56, 58,

59, 60, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 78, 79,

81, 83, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 96, 97,

98, 99, 109, 110, 111, 114, 115, 116, 121, 122,

123, 125, 126, 129, 130, 131, 132, 133, 134,

135, 136, 137, 140, 141, 152, 153, 154, 155,

157, 159, 164, 165, 168, 169, 170, 171, 172,

Page 200: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

200

174, 175, 176, 178, 180, 181, 182, 184, 187,

188, 189, 191

relacionamento com competidores, 122

relacionamento com o cliente, 26, 48, 76, 121

Relacionamento pessoal, 84, 168, 176

relacionamento transacional, 137

relevância, 65, 94, 100, 136, 176, 180

relevante, 82

retenção da base de clientes, 140

retenção de clientes, 51, 52, 106, 125

retenção dos clientes, 52, 73, 126

retorno sobre o investimento, 67, 110. See . See .

See

return on investment, 20, 25

RFV, 66, 102, 104, 136, 165

Ribeiro da Silva, 36, 70

Rodriguez y Rodriguez, 75, 92

ROI, 20, 67, 97, 110, 111, 112, 115, 120, 129, 170,

173, 180

Roman et al., 65, 71

Rosenwald, 98

ROTAS, 162, 163

SAC, 115, 192

sampling, 148

São Conrado Fashion Mall, 143, 146, 148, 172,

175, 178, 180, 181

SAP, 111

satisfação do cliente, 31, 34, 40, 66

satisfação emocional, 77

Schmitt, 77, 92

Sears & Roebuck, 49

segmentação, 57, 61, 62, 100, 101, 118, 119, 129,

148, 151, 169, 170, 175

segmento-alvo, 153

segmentos-alvo, 149

seguros, 84, 122, 123, 124, 130, 131, 132, 169, 170,

171

Selltiz, 96

serviço de entrega domiciliar, 120

serviços, 15, 16, 18, 19, 30, 31, 32, 35, 37, 38, 39,

40, 41, 42, 43, 52, 55, 64, 65, 69, 70, 71, 73, 77,

86, 90, 91, 98, 99, 102, 104, 114, 121, 124, 125,

129, 134, 137, 147, 154, 155, 164, 169, 171,

172, 176, 177, 187, 188, 189, 190

serviços diferenciados, 164

share of heart, 109

share of mind, 132

share of wallet, 35

Shell, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141,

142, 143, 171, 175, 178, 180, 181, 188

Shell VPower, 141

Shepard, 100, 101

Sheth, 15, 190

sistema Addressograph, 23

sistema de “madrinhas”, 154

sistemas frankenstein, 76

site de internet, 63

smart card, 139

Smart Club, 139

sócio-indica-sócio, 89

soft sell, 174

soft-sell, 152

software de gerenciamento de campanhas, 112

Sou rocinha hip-hop, 117

stakeholder, 15

Stell e Donoho, 18

Stone, 53, 66, 71

superar as expectativas do cliente, 117

Swiss Life, 124

take one, 105

target, 141, 160

taxa de 2%, 108

taxa de conversão, 89, 108, 109, 110

taxa de conversão de leads, 110

taxa de resposta, 54, 89, 106, 127

taxa de retorno, 109

Teatro Café Pequeno, 118

Tecnologia da Informação, 75

Page 201: Tese-Dennis Hanson-CRM-Lucrativiadade

201

telemarketing, 55, 63, 65, 82, 106, 127, 153, 154,

174

telemarketing ativo, 153

telequalificação de prospects, 153

televendas, 168

teoria do balde furado, 55, 73, 126

testar, 67, 101

teste, 105

ticket médio, 75

tíquete médio, 99

títulos de capitalização, 124, 126

Torrentes, 113, 114, 168, 173, 177, 178, 180, 181

trade off, 141

transporte rodoviário de cargas, 134

Tronchin, 53, 71

um algoritmo de clusterização, 100

Um Amazonas, 119

um número de discagem gratuita, 140, 164

uma Unidade de Informação, 22

União Européia, 82

Unidade de Informação, 22

up-selling, 74, 83, 130, 131, 165

usuários, 22, 90, 150, 154, 157, 158, 159

vacina contra a gripe, 149, 150

vacina para a hepatite, 151

valet parking, 172

valor, 15, 16, 17, 18, 35, 36, 37, 53, 54, 55, 57, 66,

68, 69, 70, 72, 73, 77, 85, 99, 101, 102, 103,

104, 109, 114, 123, 129, 133, 136, 137, 138,

139, 144, 145, 147, 152, 159, 170, 171, 172,

173, 176, 177, 181, 182

valor agregado, 171

valor percebido, 37

Value for Money, 137

Vavra, 73, 90, 92, 93, 164

venda por catálogos, 49

viabilidade econômica, 141

Wall Street Journal, 24, 191

Wallet Share, 141

Willy D. Davidson, 155, 158

Wilson, 142

wish-list, 157

Wunderman, 16, 50, 70

www.mktdireto.com.br, 25, 49, 80, 82, 189

Yin, 94, 95

Zyman, 25, 67, 71, 191