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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO (PUC - SP)
Renato Almeida de Andrade
A influência dos modos de custeio na ação do prestador privado de serviços socioassistenciais
(O caso de cinco municípios da região metropolitana da grande Vitória)
DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL
SÃO PAULO 2010
15
Renato Almeida de Andrade
A influência dos modos de custeio na ação do prestador privado de serviços socioassistenciais
(O caso de cinco municípios da região metropolitana da grande Vitória)
Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Serviço Social, sob a orientação da Professora Doutora Aldaiza Sposati.
SÃO PAULO 2010
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FOLHA DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
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______________________________________
17
DEDICATÓRIA
À Janice Andrade, minha esposa, meu amor.
Ao meu filho, Renato Ferreira, pelo amor incondicional.
À Maria das Graças, minha mãe, exemplo de vida.
À Dona Maria (in memoriam), minha avó, pelos
momentos que passamos juntos e pela saudade que
ficou.
À minha família e meus amigos, sempre presentes.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à Professora Doutora Aldaiza Sposati, minha orientadora, estudiosa exigente,
militante da Assistência Social e da causa dos Direitos Socioassistenciais, que com
paciência e dedicação me instigou na busca pelo conhecimento, mostrando-me o caminho.
Agradeço pelo incentivo nos momentos de desânimo e de indisciplina, pois sempre
contribuiu para que eu alcançasse o objetivo de conclusão deste Doutorado, não me
deixando esmorecer. A ti o meu reconhecimento.
Aos membros da banca do Exame de Qualificação, professoras Dra. Aldaiza Sposati, Dra.
Maria Carmelita Yazbek e Dra. Maria Lúcia Martinelli, pelas argüições, análises e
contribuições preciosas, que indicaram novos caminhos para a pesquisa da tese.
Aos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC/SP,
pela dedicação nas atividades que realizam junto ao Programa e pela contribuição que vêm
dando aos rumos das Políticas Sociais em geral e mais especificamente à Política de
Assistência Social neste país.
Ao Professor José Adelantado pela acolhida e orientação no velho mundo enquanto estive
estudando na Universitat Autònoma de Barcelona.
Aos Prestadores Privados de Serviços Socioassistênciais e seus funcionários que
contribuíram com entrevistas e documentos para esta pesquisa e aos outros Prestadores
que realizam diariamente seu necessário trabalho junto à população.
Aos técnicos e gestores da Política de Assistência Social dos Municípios estudados nesta
tese, pelo apoio e por colocar a disposição seu tempo e também documentos e dados
relevantes para este estudo.
À CAPES pelas bolsas de Doutorado: uma que financiou estudos no Brasil e outra que
possibilitou parte da pesquisa de Doutorado na Universitat Autònoma de Barcelona, na
Espanha.
À Prefeitura Municipal da Serra pela oportunidade que tive de tirar uma licença do trabalho
para fazer parte da pesquisa de Doutorado.
RENATO ALMEIDA DE ANDRADE
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RESUMO
O objetivo geral desta tese é caracterizar a influência dos modos de custeio na ação dos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais, na Região Metropolitana da Grande Vitória e os objetivos específicos são: a) aproximar elementos que caracterizem os valores econômicos utilizados no custeio dos gastos dos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais; b) conhecer se há mudanças nos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais ocasionadas após acordos e “parcerias”; c) constatar se essas mudanças significam redirecionar de alguma forma o tipo de ação desenvolvida pelos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais; d) identificar efeitos da ampliação do processo de co-gestão de ações públicas nos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais. Afirmo como hipótese de pesquisa que o acesso ao custeio influi na concepção, no funcionamento e no alcance dos Serviços Socioassistenciais nos Prestadores Privados. Optei por estudar as instituições nessa Região por existir nela uma grande concentração populacional, bem como as maiores disparidades sociais do Estado do Espírito Santo. Em virtude desses aspectos, pode-se observar que é nessa Região, onde se encontra grande parte dos Serviços Socioassistenciais implementados por parte da sociedade civil no Espírito Santo. Estes Prestadores não são criados, nem geridos pelo Estado, mas não há qualquer empecilho quanto ao recebimento de recursos dele, de qualquer empresa, de pessoas físicas ou de outros Prestadores. Neste estudo utilizei a abordagem qualitativa, sem abrir mão de elementos da pesquisa quantitativa, visto que a relação entre a elas não é de oposição, mas de complementaridade e de articulação. Realizei na coleta de dados desta tese: 1) uma pesquisa bibliográfica sobre o tema; 2) uma pesquisa documental em cadastros, relatórios e orçamentos públicos; e 3) entrevistas, utilizando questionário, com os dirigentes das entidades recebedoras e financiadoras definidas na amostra e com os técnicos responsáveis pelos convênios e pelas parcerias delas. Estas entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. Uma das características do serviço prestado é ser contínuo; outra é a busca de transparência e o respeito na utilização dos recursos públicos. A partir da parceria/co-gestão foi possível ampliar: o número de atendimentos dos Prestadores, as contratações e a qualificação dos profissionais. Em função dos convênios firmados o posicionamento político dos Prestadores, na esfera pública, não foi alterado ou abalado por estarem recebendo recursos públicos. Uma das discussões sempre exposta pelos entrevistados foi a relação entre o financiamento e a autonomia das instituições, pois o financiamento não pode ser uma “camisa de força” que engesse o trabalho e/ou o posicionamento político das instituições. Estas têm recebido forte impacto a partir do momento em que começaram a participar dessas políticas de parceria/co-gestão, mas grande parte dos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais vê de forma positiva essas mudanças e adaptações vividas nos últimos anos, pois conseguiram aumentar e/ou qualificar ainda mais suas ações. O que não estão dispostos a mudar, a partir da parceria/co-gestão, são os valores nos quais acreditam. Qualquer tipo de parceria entre Estado e Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais não pode desobrigar o primeiro de suas responsabilidades em garantir direitos e segurança social. O Estado precisa contribuir para que a autonomia (que não significa apenas independência financeira) e a atitude crítica inerentes às próprias instituições sejam garantidas. Palavras-Chave: Modos de Custeio; Grande Vitória; Assistência Social; Serviços Socioassistenciais; Co-Gestão.
20
ABSTRACT
The general objective of this thesis is to characterize the influence of the costing manners in the action of Private Executioner of Services Social Attendance, in the Metropolitan Region of “Grande Vitória” and the specific objectives are: a) to approach elements that characterize the economic values used in the costing of the expenses of Private Executioner of Services Social Attendance; b) to know there are changes in Private Executioner of Services Social Attendance caused after agreements and "partnerships"; c) to verify those changes means to redirect in some way the action type developed by Private Executioner of Services Social Attendance; d) to identify effects of the amplification of the process of co-administration of public actions in Private Executioner of Services Social Attendance. I affirm as research hypothesis that the access to the costing influences in the conception, in the operation and in Services Social Attendance reach in Private Executioner. I opted for studying the institutions in that Region for existing in her a great concentration of population, as well as the largest social disparities of “Espírito Santo” State. In virtue of those aspects, it can be observed that is in that Region, where she meets great part of the Services Social Attendance implemented on the part of the civil society in the “Espírito Santo”. These Executioner is not created, nor administered for the State, but there is not any difficulty with relationship to the greeting of resources of him, of any company, of individuals or of another Executioner. In this study I used a qualitative methodology, without opening hand of elements of the quantitative research, because the relationship enters to them it is not of opposition, but complementarity and of articulation. I accomplished in the collect of data of this thesis: 1) a bibliographical research on the theme; 2) a documental research in cadasters, reports and public budgets; and 3) interviews, using questionnaire, with the entities receivers leaders and payers defined in the sample and with the responsible technicians for the agreements and for their partnerships. These interviews were recorded and later on transcribed. One of the characteristics of the rendered service is to be continuous; another is the transparency search and the respect in the use of the public resources. Starting from the partnership/co-administration it was possible to enlarge: the number of attentions of Executioner, the recruitings and the professionals' qualification. In function of the agreements the political positioning of Executioner, in the public sphere, was not altered or affected for they be receiving public resources. One of the discussions always exposed by the interviewees it went to relationship between the financing and the autonomy of the institutions, because the financing cannot be a "shirt of force" that plasters the work and/or the political positioning of the institutions. These have been receiving strong impact starting from the moment in that they began to participate in those partnership/co-administration politics, but great part of Private Executioner of Services Social Attendance sees in a positive way those changes and adaptations lived in the last years, because they got to increase and/or to qualify still more its actions. What doesn't want to move, starting from the partnership/co-administration, they are the values us which they believe. Any partnership type between State and Private Executioner of Services Social Attendance cannot release the first of its responsibilities in guaranteeing rights and social safety. The State needs to contribute so that the autonomy (beyond financial independence) and the critical attitude inherent of the own institutions they can be guaranteed. Words-key: Manners of Costing; “Grande Vitória”; Social Assistance; Services Social Attendance; Co-Administration.
21
LISTA DE SIGLAS
ABONG - Associação Brasileira de ONGs
ACES - Ação Comunitária do Espírito Santo
BPC - Benefício de Prestação Continuada
CAM - Centro de Apoio ao Marinheiro
CEBES - Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
CEBAS - Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social
CEBs - Comunidades Eclesiais de Base
Cf. - Conferir
CF 88 - Constituição Federal de 1988
CIB - Comissão Intergestora Bipartite
CIT - Comissão Intergestora Tripartite
CLAS - Comissões Locais de Assistência Social
Cofins - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas
CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social
CNSS - Conselho Nacional de Serviço Social
CNUMAD - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
COMASC - Conselho Municipal de Assistência Social de Cariacica
COMASV - Conselho Municipal de Assistência Social de Vitória
COMASVV - Conselho Municipal de Assistência Social de Vila Velha
COMDEVIT - Conselho Metropolitano de Desenvolvimento da Grande Vitória
Cr$ - Cruzeiro (ex-moeda brasileira)
CRAS - Centro de Referência da Assistência Social
CREAS - Centro de Referência Especializado da Assistência Social
CSLL - Contribuição Sobre o Lucro Líquido
CST - Companhia Siderúrgica de Tubarão
CUT - Central Única dos Trabalhadores
CV - Secretaria da Casa Civil
DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
ECRIAD - Estatuto da Criança e do Adolescente
FAMOPES - Federação das Associações de Moradores e dos Movimentos Populares do Estado do Espírito Santo
FASFIL - Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos
22
FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FIA - Fundo para Infância e Adolescência
FMI - Fundo Monetário Internacional
FNAS - Fundo Nacional de Assistência Social
FONSEAS - Fórum Nacional de Secretários de Assistência Social
FUMDEVIT - Fundo Metropolitano de Desenvolvimento da Grande Vitória
GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas
IASES - Instituto de Atendimento Sócio-Educativo do Espírito Santo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IESBEM - Instituto Espírito-santese do Bem-Estar do Menor
INSS - Instituto Nacional do Seguro Social
IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores
IR - Imposto de Renda
ISS - Imposto Sobre Serviços
LA - Liberdade Assistida
LBA - Legião Brasileira de Assistência
LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias
LOA - Lei Orçamentária Anual
LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social
LOPS - Lei Orgânica da Previdência Social
MARE - Ministério da Administração e Reforma do Estado
MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
NOB - Norma Operacional Básica
NOB-Rh - Norma Operacional Básica de recursos Humanos
OGs - Organizações Governamentais
ONGs - Organizações não Governamentais
ONU - Organização das Nações Unidas
OS - Organizações Sociais
OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PAEFI - Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos
PAIF - Programa de Atenção Integral à Família
PEAS - Pesquisa de Entidades de Assistência Social Privadas sem Fins Lucrativos
23
PIB - Produto Interno Bruto
PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PGRM - Programa de Garantia de Renda Mínima
PIB - Produto Interno Bruto
PIS - Programa de Integração Social
PMS - Prefeitura Municipal da Serra
PMV - Prefeitura Municipal de Vitória
PMVV - Prefeitura Municipal de Vila Velha
PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro
Pnad - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNAS - Política Nacional de Assistência Social
PPA - Plano Plurianual
PPSS - Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais
PSC - Prestação de Serviços à Comunidade
PT - Partido dos Trabalhadores
PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
RMGV - Região Metropolitana da Grande Vitória
SCN - Sistema de Contas Nacionais
SEAS - Secretaria de Estado da Assistência Social
SEMAS - Secretaria Municipal de Assistência Social
Sentinela - Serviço de Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes
SEPROM - Secretaria de Promoção Social
SNAS - Secretaria Nacional de Assistência Social
SOSF - Serviço de Orientação, Acompanhamento e Apoio Sociofamiliar
SUAS - Sistema Único de Assistência Social
SUS - Sistema Único de Saúde
TCU - Tribunal de Contas da União
Unafisco - Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal
UFES - Universidade Federal do Espírito Santo
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
24
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 01: DISTRIBUIÇÃO DAS ENTIDADES DE INTERESSE SOCIAL E FUNDAÇÕES EM CINCO MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA ..... 24
GRÁFICO 02: NÚMERO DE ENTIDADES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL PRIVADAS SEM FINS LUCRATIVOS, SEGUNDO ÂMBITO DE ATUAÇÃO DA ENTIDADE - BRASIL - 2006 ......................................................................................................... 28
GRÁFICO 03: CARGA TRIBUTÁRIA DIRETA, INDIRETA E TOTAL SOBRE A RENDA FAMILIAR (EM FAIXAS DE SALÁRIO MÍNIMO) BRASIL - 2004 ........................................ 37
GRÁFICO 04: CARGA TRIBUTÁRIA POR BASE DE INCIDÊNCIA ........................................ 38
GRÁFICO 05: DÉFICIT HABITACIONAL TOTAL - RMGV - 2000 ........................................ 85
GRÁFICO 06: TAXA MÉDIA GEOMÉTRICA DE CRESCIMENTO ANUAL - POPULAÇÃO - RESIDENTE RMGV / ES / REGIÃO SUDESTE / BRASIL .............................. 87
GRÁFICO 07: PIRÂMIDE ETÁRIA DA RMGV - 2000 ......................................................... 93
GRÁFICO 08: MÉDIAS BRASILEIRA, LATINO-AMERICANA E DE 22 PAÍSES DAS FONTES DE RECURSOS PARA O SETOR SEM FINS LUCRATIVOS ............................. 149
GRÁFICO 09: NÚMERO DE ENTIDADES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL PRIVADAS SEM FINS LUCRATIVOS, SEGUNDO A FONTE DE FINANCIAMENTO QUE DISPONIBILIZA
A MAIOR QUANTIDADE DE RECURSOS DAS ENTIDADES - BRASIL - 2006 ... 151
GRÁFICO 10: PRINCIPAIS ORGANIZAÇÕES QUE ARTICULAM PARCERIAS COM AS ENTIDADES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL PRIVADAS SEM FINS LUCRATIVOS
PARA A COMPLEMENTAÇÃO DE SEUS SERVIÇOS - BRASIL - 2006 ........... 158
25
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01: PERFIL TOTALIZADO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, POR ÁREAS DE ATUAÇÃO ................................................................................................ 25 QUADRO 02: FUNDAÇÕES PRIVADAS E ASSOCIAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS ESPÍRITO SANTO - 2005 .......................................................................... 27 QUADRO 03: PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA EM VITÓRIA .................................................. 105 QUADRO 04: PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL EM VITÓRIA ............................................... 107 QUADRO 05: REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE ALTA COMPLEXIDADE DE
VITÓRIA POR TIPO DE EQUIPAMENTO, CAPACIDADE DE ATENDIMENTO, ENTIDADE GESTORA OU PARCEIRA NA GESTÃO E RECURSOS MUNICIPAIS
REPASSADOS POR MÊS ......................................................................... 110 QUADRO 06: PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA EM VILA VELHA ............................................ 112 QUADRO 07: PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL EM VILA VELHA ......................................... 113 QUADRO 08: PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA EM SERRA .................................................. 116 QUADRO 09: PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL EM SERRA ............................................... 117 QUADRO 10: PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA EM CARIACICA ............................................ 119 QUADRO 11: PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL EM CARIACICA ......................................... 119 QUADRO 12: PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA EM VIANA .................................................. 121 QUADRO 13: PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL EM VIANA .................................................. 122 QUADRO 14: AS ASSOCIAÇÕES E SOCIEDADES E AS FUNDAÇÕES ................................ 133 QUADRO 15: VANTAGENS DA POLÍTICA DE PARCERIA/CO-GESTÃO COM O ESTADO ...... 142 QUADRO 16: DESVANTAGENS/PROBLEMAS DA POLÍTICA DE PARCERIA/CO-GESTÃO COM O ESTADO ..................................................................................... 147
26
LISTA DE TABELAS
TABELA 01: APROXIMAÇÃO AO UNIVERSO PESQUISADO 1 .............................................. 26
TABELA 02: APROXIMAÇÃO AO UNIVERSO PESQUISADO 2 .............................................. 28
TABELA 03: INSCRITOS NOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA ........................................... 29
TABELA 04: AMOSTRA DE INSTITUIÇÕES NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA ...................................................................................................... 30
TABELA 05: INDICADORES DEMOGRÁFICOS E SOCIAIS ................................................... 78
TABELA 06: RESULTADO DA EXECUÇÃO DO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DOS CAFEZAIS: 1962-1967 ................................................................................. 81
TABELA 07: PIB A PREÇOS DE MERCADO, POR MUNICÍPIOS DA RMGV - 1999 A 2003 ..... 82
TABELA 08: DÉFICIT HABITACIONAL TOTAL DA RMGV, SEGUNDO MUNICÍPIOS - 2000 ..... 84
TABELA 09: EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO E DA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA: 1940 - 2000 ...................... 87
TABELA 10: POPULAÇÃO COM BAIXA RENDA NA GRANDE VITÓRIA - 1980 ...................... 88
TABELA 11: POPULAÇÃO COM BAIXA RENDA EM MUNICÍPIOS DA GRANDE VITÓRIA - 2000 ............................................................................................................ 88
TABELA 12: DENSIDADE DEMOGRÁFICA NA RMGV - 2000 .............................................. 92
TABELA 13: PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DA RMGV NO PIB ESTADUAL - 1999 A 2003 ............................................................................................................ 93
TABELA 14: PIB MUNICIPAL PER CAPITA - 2003 ............................................................. 94
TABELA 15: SÍNTESE DOS ORÇAMENTOS DOS MUNICÍPIOS DA RMGV - 2004 ................... 95
TABELA 16: GASTO PER CAPITA DOS MUNICÍPIOS DA RMGV POR FUNÇÃO - 2004 .......... 95
TABELA 17: INDICADORES DO MERCADO DE TRABALHO NA RMGV - 2000 ...................... 96
TABELA 18: FAMÍLIAS, SEGUNDO FAIXAS DE RENDIMENTO MENSAL FAMILIAR PER CAPITA NA RMGV - 2000 ........................................................................... 96
TABELA 19: ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL, 1991 E 2000 ................ 98
TABELA 20: ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL, 1991 E 2000 ................ 98
TABELA 21: FAIXA ETÁRIA DOS ATENDIDOS EM VILA VELHA ......................................... 114
TABELA 22: FAIXA ETÁRIA DE ATENÇÃO DOS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS ATENDIDOS EM CARIACICA ...................................................................... 120
TABELA 23: ENTIDADES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL PRIVADAS SEM FINS LUCRATIVOS, POR CLASSES DO NÚMERO TOTAL DE PESSOAL OCUPADO E FONTE DE FINANCIAMENTO QUE DISPONIBILIZA A MAIOR QUANTIDADE DE RECURSOS,
SEGUNDO GRANDES REGIÕES E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 2006 ........... 152
TABELA 24: TIPOS DE FINANCIADORES DO PRESTADOR PRIVADO DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS .............................................................................. 153
TABELA 25: RECURSOS ANUAIS POR PRESTADOR PRIVADO ......................................... 156
TABELA 26: PARCEIROS DO PRESTADOR PRIVADO DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS ............................................................................... 157
27
LISTA DE MAPAS
MAPA 01: POSIÇÃO GEOGRÁFICA, DIMENSÕES E LIMITES .............................................. 78 MAPA 02: AS PRIMEIRAS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS .................................................... 79 MAPA 03: DIVISÃO REGIONAL DO ESPÍRITO SANTO .......................................................... 84 MAPA 04: REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA .............................................. 84
28
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01: SERES HUMANOS DISPUTANDO ALIMENTO COM OS PORCOS NO BAIRRO SÃO PEDRO EM VITÓRIA .............................................................................. 86
29
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 14
CAPÍTULO I 1. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A ABERTURA PARA OS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS .......................................................................................................... 35
1.1. DOS DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS AOS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS ...................... 36
1.2. A LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL, A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O FINANCIAMENTO DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS ...................................................... 42
1.3. SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS: A MATERIALIZAÇÃO POSSÍVEL DOS DIREITOS E SUAS MEDIAÇÕES .......................................................................................................................... 46
1.4. O FUNDO PÚBLICO, O DIREITO À PROTEÇÃO/SEGURANÇA SOCIAL E O FINANCIAMENTO DOS PRESTADORES PRIVADOS DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS ............................................. 58
CAPÍTULO II 2. OS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS E A REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO ............................................................................................... 77
2.1. O ESTADO DO ESPÍRITO SANTO ...................................................................................... 77
2.2. A REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA ............................................................ 82
2.3. A REESTRUTURAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA ................................................................................................................. 89
2.4. INDICADORES SOCIAIS DA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA ...................... 92
2.5. SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS PRIVADOS NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA ................................................................................................................................ 99
2.6. PRESTADORES PRIVADOS DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS EM VITÓRIA .................... 103
2.7. PRESTADORES PRIVADOS DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS EM VILA VELHA .............. 111
2.8. PRESTADORES PRIVADOS DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS EM SERRA .................... 114
2.9. PRESTADORES PRIVADOS DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS EM CARIACICA .............. 118
2.10. PRESTADORES PRIVADOS DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS EM VIANA .................... 120
CAPÍTULO III 3. A INFLUÊNCIA DOS MODOS DE CUSTEIO NA AÇÃO DOS PRESTADORES PRIVADOS DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA ........... 123
3.1. DA AÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL À PRESTAÇÃO PRIVADA DE SERVIÇOS
SOCIOASSISTENCIAIS PÚBLICOS .......................................................................................... 124
3.2. CARACTERÍSTICAS DOS PRESTADORES PRIVADOS NA CO-GESTÃO DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS ......................................................................................................... 135
3.3. CUSTEIO DOS PRESTADORES PRIVADOS DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA ................................................................... 148
3.4. IMPACTOS DO FINANCIAMENTO DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS PRIVADOS NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA ................................................................... 161
3.5. OS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS NA PERSPECTIVA DOS PRESTADORES PRIVADOS ........................................................................................................................... 164
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 170
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 181
14
INTRODUÇÃO
A partir de meu contato com os temas “ONG” na graduação e “Terceiro Setor” no mestrado,
optei por delimitar e caminhar por um terreno menos “movediço”, assim restringi a pesquisa
da tese ao âmbito das instituições sociais do campo da assistência social, caracterizando-as
como “Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais”, face aos serviços prestados1
diretamente por estes organismos privados na Política Nacional de Assistência Social
(PNAS). O que se convencionou chamar de “Terceiro Setor” abarca variadas instituições e
alcança um campo muito mais vasto que o campo dos Prestadores Privados de Serviços
Socioassistenciais, porém muitos elementos analíticos2 que o perpassam também afetam os
Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais3.
Acredito ser importante destacar logo de início que numa sociedade de mercado como a
nossa, reina a desconfiança quando se fala na existência de instituições não lucrativas. O
Estado possui instituições governamentais não lucrativas4 (que não visam lucro), visto que
ele atua com a noção de direitos e assim grande parte de seus serviços são financiados por
toda a sociedade, por meio de impostos, taxas, etc., e não diretamente por aquele que está
recebendo a sua atenção. Já os Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais se
não vendem mercadorias, serão financiados por pessoas físicas e/ou jurídicas que vendem
mercadorias (força de trabalho ou fruto desta) ou pelo mediador civilizador que gerencia
estas vendas, o Estado. A característica de serem não lucrativas advém do fato de não
explorarem a mais valia alheia como as empresas e nem recolherem impostos e taxas sobre
a mais valia produzida pela sociedade como o Estado.
1 “As informações sobre a oferta de serviços de assistência social no Brasil são escassas e dispersas,
inexistindo, até o momento, levantamentos ou pesquisas regulares de âmbito nacional que permitam identificar as entidades privadas sem fins lucrativos prestadoras desses atendimentos e as condições em que os mesmos são realizados” (IBGE, 2007).
2 Aqui refiro-me a elementos analíticos, categorias e conceitos presentes tanto nos debates sobre o “Terceiro Setor” [pode-se conferir no livro de Carlos Montaño (2002) e no artigo de Maria Lúcia Duriguetto (2005)] como nos que se referem às instituições sociais privadas do campo da assistência social, que nominei como Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais. Entre estes elementos analíticos, categorias e conceitos presentes nos debates posso salientar alguns: sociedade civil, direitos, relação capital/trabalho, cidadania, solidariedade, representação política, democracia, público não estatal, esfera pública, espaço público, fundo público, não lucrativo, ação voluntária, economia não mercantil, responsabilidade social, etc. 3 Neste texto aparecem várias terminologias que não são sinônimos, mas tratam de um universo que em determinados momentos se entrelaçam: Terceiro Setor, ONG, Entidades de Assistência Social Privadas sem Fins Lucrativos, instituição social, associação, etc., porém as utilizo de acordo com o autor que eu esteja citando naquele momento, visto que quando escreveram tratavam de um tipo específico de instituição, quando em alguns momentos generalizavam suas análises pude extrair elementos que contribuíram com este estudo. Quando não estou dialogando diretamente com outro autor e utilizando apenas meus dados e análises utilizo a nomenclatura Prestador Privado de Serviços Socioassistenciais que foi elaborada por mim durante a coleta empírica para esta tese. 4 Importante lembrar que o Estado brasileiro também é empresário, ou seja, possui empresas estatais ou é sócio em empresas de economia mista que visam lucro, mas este aspecto dele não será discutido nesta tese.
15
A partir da década de 19905 o tema “Terceiro Setor” ampliou sua presença na agenda de
debates político-sociais da sociedade brasileira em geral6 e no Estado do Espírito Santo em
particular7, mas embora existam vários livros (alguns, inclusive, são resultado de extensas
pesquisas de campo) publicados sobre o tema, o caráter jurídico das instituições privadas
que lhe constituem, considero que há o predomínio de análises mais laudatórias do que
críticas sobre o tema. Por conta de toda a crítica ao termo e das dificuldades de delimitação
desse campo chamado por muitos de “Terceiro Setor”, estou fazendo a opção de delimitar
os estudos desta tese de doutoramento ao universo dos Prestadores Privados de Serviços
Socioassistenciais8, não discutindo, portanto sobre o universo das entidades exclusivas das
áreas de saúde, educação entre outras.
Muitas dessas instituições não lucrativas ao firmarem convênios, acordos e/ou parcerias
com o Estado estão preocupadas exclusivamente com seu sustento, sua própria existência,
não tendo a clareza, ou não querendo assumir, que seus serviços, quando financiados pelo
Estado passam a ser serviços públicos, assim como os prestados por Hospitais privados da
rede credenciada ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Yazbek (2002) argumenta que a presença do setor privado em ações sociais vem de longa
data. Em 2002 ela afirmava a ampliação da presença deste setor, juntamente com uma
reorientação das práticas do Estado nessa área.
Sabemos que a presença do setor privado na provisão de bens e serviços sociais não é uma novidade na trajetória das políticas sociais brasileiras mas, inegavelmente nos anos mais recentes, essa presença, além de se diversificar em relação à tradicionais práticas assistenciais, vem assumindo
5 Dentro do “Terceiro Setor” se situam as ONGs, estas saíram da clandestinidade no Brasil e adquiriram fama e notoriedade internacional durante a Assembléia Nacional Constituinte (SOUZA, 1992). A partir da ECO-92 (SCHERER-WARREM,1994) o termo “ONG” popularizou-se na América Latina. Segundo dados de 1991 da Secretaria da Receita Federal, existiam aproximadamente 220 mil entidades registradas como “sem fins lucrativos” Landim (1999, pp. 74-84). Vassalo (2000, p. 23) estimava que em 2000 haviam 400.000 ONGs registradas e aproximadamente 4.000 Fundações. Segundo dados do IBGE em 2002 existiam 500.157 Entidades sem Fins Lucrativos e em 2005 esse número sobe para 601.611 Entidades (IBGE, 2002 e 2005). 6 Observemos: a construção da ABONG (Associação Brasileira de ONGs); a proposta governamental que criou o Comunidade Solidária; a organização de Centros de Formação de Voluntários em vários Estados da Federação, inclusive no Espírito Santo; os Grupos de estudo sobre o tema em diversas Universidades e Faculdades; disciplinas em cursos de graduação e pós-graduação que trazem este debate; a criação do Dia Internacional do Voluntário; a criação do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) que discute a chamada responsabilidade social das empresas; os debates sobre Responsabilidade Social das Empresas e Fundações em nível local, estadual, nacional e mundial, etc. 7 O debate sobre a Reforma do Estado e a Importância do “Terceiro Setor” tem sido alvo de interesse dos governantes capixabas, vide o Ciclo de Debates “Estado e Sociedade - A Reforma do Estado” realizado em 2006 e que resultou num livro (LCA PROMOÇÕES, 2006); A realização anual dos “Fóruns Tribuna de Responsabilidade Social”; As maiores entidades do “Terceiro Setor” e as maiores Empresas deste Estado têm investido em informação e formação de pessoas que trabalhem ou queiram trabalhar nesta área. Por exemplo, a Companhia Siderúrgica Arcelor Mittal possui um curso de formação de lideranças comunitárias intitulado: Comunicação com o “Terceiro Setor”. 8 Estas instituições possuem um campo de ação muito mais delimitado. Está claro nos processos metodológicos desta tese que os Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais, que foram pesquisados, precisaram minimamente estar inscritos nos Conselhos Municipais de Assistência Social.
16
uma posição de crescente relevância no incipiente sistema de Proteção Social do país, confirmando o deslocamento de ações públicas estatais no âmbito da proteção social para a esfera privada (YAZBEK, 2002, p. 278).
No contexto atual, o debate sobre o financiamento dos Prestadores Privados de Serviços
Socioassistenciais e suas Parcerias, tem relevância fundamental, visto que a construção de
um mundo mais justo e igualitário implica em ampliar o conhecimento sobre os meios, as
condições e os atores presentes na realidade sobre a qual se quer intervir.
Para o Estado do Espírito Santo a análise dos aspectos levantados no parágrafo anterior é
importante, por conta destes motivos, entre outros, o Governo do Estado vem montando
espaços para esse debate há algum tempo, ele precisa de mais informações para poder se
posicionar e até produzir novas legislações e intervenções nesta área, porém a bibliografia a
que se pode ter acesso não aprofunda: a garantia da qualidade do serviço prestado ao
cidadão; a questão da autonomia das entidades em relação aos financiadores; o debate
sobre a representatividade destas entidades junto à órgãos governamentais; a participação;
a garantia de direitos aos usuários dos serviços; o mercado de trabalho neste espaço; as
formas de financiamento9 deste; etc.
Para Landim (1999, p. 92) “é necessária a produção de pesquisas para que se cheguem a
dados sobre volumes, fontes e estratégias de financiamento no universo sem fins
lucrativos”. A autora argumenta que a legitimidade e o reconhecimento social dessas
organizações estão ligados à possibilidade de transparência e informações sobre suas
atividades. “Não se tem idéia, por exemplo, do volume de recursos públicos repassados a
esse campo não governamental, tanto em termos de renúncia fiscal, quanto em termos de
convênios, contratos ou subvenções [...]” (LANDIM, 1999, p. 92).
Essa produção de informações se faz tão necessária, quanto se observam tendências recentes a transformações no campo de financiamentos dessas organizações. Há uma crise nos financiamentos internacionais, com a revisão de critérios de prioridades das agências de cooperação, as quais se voltam para países africanos e para as novas repúblicas da Europa do leste. [...]. É de se esperar que mudanças no plano das fontes de financiamento para as organizações privadas voltadas para a ação social provoquem deslocamentos de parcerias, alianças e, a longo prazo, perfis organizacionais (LANDIM, 1999, p. 93).
9 Para Landim (1999, p. 89) os recursos para as organizações sem fins lucrativos são [...] “de origem governamental ou privada, contando-se entre esses últimos os provenientes de doações de indivíduos, de empresas e suas fundações, de outras organizações do campo não lucrativo e igrejas. As taxas de associados, bem como a venda de produtos e serviços, constituem-se também em fontes de financiamento comuns”.
17
A questão do financiamento, da prestação de contas e da fiscalização é apresentada e
problematizada em certos aspectos, mas poderá ser aprofundada em outros estudos. Uma
preocupação proposta por esta pesquisa é a de aprofundar o debate sobre a
autonomia/dependência dos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais em
relação ao financiamento externo.
Mello (2004) fala da incapacidade crônica do Estado financiar o atendimento às
necessidades sociais básicas da população, mesmo assim não vê a possibilidade do
“Terceiro Setor” (neste espaço está inserida uma parte das instituições privadas de Serviços
Socioassistenciais) substituir o Estado, tanto em ações, quanto em financiamento.
Entretanto, é de salientar que, ainda que prevaleça a incapacidade crônica do Estado no atendimento de necessidades sociais básicas, tais como alimentação, saúde, educação, emprego e renda, não cabe às organizações do Terceiro Setor [...], substituí-lo, nem é lícito esperar da filantropia, contribuição que substitua o erário público (MELLO, 2004, p. 37).
Para que seja possível a ampliação da democracia neste país, tão marcado pelo arbítrio10 e
abuso de poder estatal, qualquer iniciativa do Estado que busque enfrentar verdadeiramente
as expressões da questão social deveria incorporar a participação da sociedade civil
organizada (Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais, outras instituições e
população em geral), ampliando seu empoderamento, em todos os níveis decisórios de
governo, desde o planejamento até a fiscalização e o controle social sobre os mecanismos
de elaboração, gestão e avaliação das políticas sociais.
[...] Não por acaso o discurso hoje corrente sobre o Terceiro Setor omite a tessitura democrática construída na interface entre Estado e sociedade através de espaços de participação, de representação e negociação política. Há aí um peculiar deslocamento do campo em que a noção de espaço público não-estatal é definido, de uma noção política e politicamente construída, para uma versão comunitária apresentada como terreno da solidariedade - não a solidariedade dos direitos sociais, mas como diz Aldaiza Sposati (1996), a solidariedade na benemerência. Não é casual portanto a recente valorização da filantropia como figura de solidariedade e fraternidade face aos deserdados da sorte. Sinal inquietante de um cenário em que a própria noção de responsabilidade pública e de bem público vem sendo erodidas como referências ou ‘idéias reguladoras’ pelas quais a crítica das mazelas brasileiras pode ser formulada e imaginados outros horizontes possíveis de futuro (TELLES, 1999, p. 14).
10 “Os primeiros tempos do Estado republicano mostram que é um Estado controlador e repressor, que carrega
em seu aparato o modo de ser da velha ordem patriarcal (Gomes, 2001), resultante da associação contínua e histórica entre patrimônio e poder” (GOMES, 2002, p. 30).
18
Mesmo que ocorra uma ampliação da participação junto às políticas estatais, isso não
invalida, de forma alguma, outras possibilidades de participação na resolução de expressões
da questão social que possam ser praticadas pela sociedade civil:
É claro que deve haver uma crescente e ativa participação da sociedade civil, porém sem que isso signifique uma substituição da responsabilidade estatal (e do capital) com a “Questão Social”, sob os princípios de universalização, distributivismo e incondicionalidade das políticas sociais, consideradas como direitos de cidadania, o que configura a preservação de verdadeiras conquistas históricas obtidas pelas classes trabalhistas (MONTAÑO, 1999, p. 72).
São de fundamental importância a participação e a contribuição dos sujeitos, enquanto
cidadãos, para que as instituições no âmbito dos Prestadores Privados de Serviços
Socioassistenciais se mantenham num determinado rumo ético - político de compromisso
com a defesa dos direitos sociais e com a participação social da população atendida por
eles. Nesse caminho esta tese é apresentada como uma contribuição para o conhecimento
e o debate sobre essa realidade, ampliando a difusão e popularização desta temática e
assim da ciência. Nessa perspectiva, percebe-se como é necessário para o Serviço Social
dedicar-se mais ao entendimento da realidade, pois, o “Serviço Social não atua apenas
sobre a realidade, mas atua na realidade” (IAMAMOTO, 1998, p. 55). A investigação torna-
se instrumento de primeira necessidade na atividade profissional11, mas ela não pode ser
descolada da prática profissional.
Sobre o financiamento público dos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais
existem outras questões, para além das que já apresentei que precisam de um debate
maior. Algumas delas são apontadas por Sposati (1995) e partindo destes apontamentos é
necessário ter em mente que eles precisam ser mais estudados no universo da academia.
A relação Estado-ONGs deve ser examinada ainda, pelo acesso ao fundo público. Não só o acesso direto através de formas contratuais ou subvencionadas, mas pela renúncia fiscal operada pelos vários mecanismos de isenção que a lei lhes faculta. É necessário deixar cair a máscara do discurso de alguns militantes de ONGs que condenam o Estado, todavia são aliados de uma prática que acessa o fundo público através de formas diretas ou indiretas de financiamento da ação. É de se lembrar que a isenção – que significa deixar de recolher uma dada taxa ou imposto – significa reduzir o Orçamento estatal. Nesse sentido se dá acesso indireto ao fundo público que não é contabilizado enquanto tal, já que é distribuído antes de ser recolhido (SPOSATI, 1995, p. 11).
Refletir sobre este espaço no qual se encontram os Prestadores Privados de Serviços
Socioassistenciais, um espaço de execução da política de assistência social, é “pisar num
11 A investigação aproxima o profissional da realidade, contribuindo para sua capacitação e para a qualidade de seus serviços prestados.
19
terreno movediço”, a luta de classes aí se coloca e se oculta12 (assim como em outros
espaços profissionais), num incessante movimento contraditório de manutenção e ruptura. O
Serviço Social está envolto por esse debate, assim como outras profissões e, por isso ele
precisa o quanto antes se posicionar com clareza sobre essa questão13. Assim reside, a
meu ver, a importância das aproximações que são feitas nesta tese.
Esta tese tem como objeto de estudo os modos de custeio dos gastos praticados pelos
Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais, em cinco Municípios da Região
Metropolitana da Grande Vitória (RMGV). Optei por estudar as instituições nessa Região por
existir nela uma grande concentração populacional, bem como as maiores disparidades
sociais do Estado do Espírito Santo14. Em virtude desses aspectos, pode-se observar que é
nessa Região, onde se encontra grande parte dos projetos sociais15 implementados por
parte da sociedade civil no Espírito Santo.
O objetivo geral desta tese é caracterizar a influência dos modos de custeio16 na ação dos
Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais, na Região Metropolitana da Grande
Vitória e os objetivos específicos são: a) aproximar elementos que caracterizem os valores
econômicos utilizados no custeio dos gastos dos Prestadores Privados de Serviços
Socioassistenciais, na Região Metropolitana da Grande Vitória; b) conhecer se há mudanças
nos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais ocasionadas após acordos e
“parcerias”; c) constatar se essas mudanças significam redirecionar de alguma forma o tipo
de ação desenvolvida pelos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais; d)
identificar efeitos da ampliação do processo de co-gestão de ações públicas nos
Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais.
O problema de pesquisa que desenvolvo na tese se ocupa da identificação da ocorrência de
condicionamentos à ação dos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais pelos
modos de custeio que adotam ou praticam. Será que o modo de financiamento influi no
12 “E, embora saibamos que ‘não podemos deslocar a questão do âmbito estrutural da sociedade capitalista,
tendo presente que a política social não altera questões estruturais; pelo contrário, muitas vezes as oculta’... não podemos duvidar das virtualidades possíveis dessas políticas. Elas podem ser possibilidade de construção de direitos e iniciativas de ‘contra-desmanche’ de uma ordem injusta e desigual” (YAZBEK, 2008, p. 20).
13 Carlos Montaño (2002), em seu Livro: “Terceiro Setor e Questão Social”, sintetiza, valendo-se de uma perspectiva crítica e de totalidade, esse “novo” trato à questão social, inserindo-o no processo mais amplo de reestruturação do capital e no contexto da (contra) Reforma do Estado brasileiro. 14 Cf. Capítulo II desta tese: Os Serviços Socioassistenciais e a Região Metropolitana da Grande Vitória no Estado do Espírito Santo. 15 Via de regra, e para facilitar a busca de financiamento, os Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais optam por nominar como projetos sociais, embora a maioria seja de ações contínuas e por isso serviços e não propriamente projetos. Cf. Capítulos II e III desta tese. 16 Por Modos de Custeio entende-se o conjunto das fontes de sustentação financeira e/ou recursos como trabalho, isenções, doações, etc.
20
funcionamento dos Prestadores Privados, no padrão de atenção aos usuários e em suas
decisões políticas e na abrangência e qualidade dos Serviços Socioassistenciais? Para
responder ao problema, mesmo que provisoriamente, afirmo como hipótese de pesquisa
que o acesso ao custeio influi na concepção, no funcionamento e no alcance dos Serviços
Socioassistenciais nos Prestadores Privados.
O ESTADO E O CUSTEIO DOS PRESTADORES PRIVADOS DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS
Nesta tese há uma ênfase na discussão sobre o Estado que decorre da necessidade de
compreensão dele junto aos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais já que
não são organizações criadas pelo Estado. Há toda uma construção histórico-política que
vem determinando esse tipo de organização não-estatal, isso não equivale dizer que sejam
organizações naturalmente contrárias às ações do Estado ou em oposição a ele. Porém, a
busca da legitimidade estatal (antes alcançada com políticas sociais e outras ações)
compreende também a manutenção da ordem e do “progresso” (como se verá à frente).
Assim, o Estado, que não é um árbitro neutro, acima dos desejos e vontades das classes,
mas de membros delas, busca através das “parcerias”, articular-se17 com os Prestadores
Privados de Serviços Socioassistenciais (alguns mais alinhados a ideologia burguesa,
outros inequivocamente divergentes dela).
O Estado brasileiro - principalmente durante a década de 1990 - foi se afastando da
execução direta de políticas sociais e transferindo estas ações para a iniciativa privada
(lucrativa e “não lucrativa”) articulando-se com organismos (chamados, certificados ou
registrados como: ONGs, OS18, OSCIPs19, associações, fundações entre outros) pré-
existentes em determinadas regiões do País e/ou incentivando a criação destes, por
pessoas dos mais variados tipos e com os mais variados objetivos. Para estas atividades, as
pessoas utilizam recursos próprios, isenções, doações privadas, doações e/ou repasses do
próprio Estado (subvenções, convênios, parcerias, etc.), entre outras formas, e assim são
construídas redes de solidariedade impulsiva e muitas ações de caráter voluntário.
17 Essa articulação possui métodos e intenções que não só foram sendo alteradas ao longo dos anos, décadas e mesmo séculos, como também foram convivendo como camadas superpostas de modos de relação. 18 Para as “OS” fica a possibilidade de firmar contratos de “gestão” para atividades nas áreas de ensino, pesquisa, desenvolvimento tecnológico, meio ambiente, cultura e saúde. Criadas pela lei nº 9637/98, conhecida como Lei Bresser. 19 A lei 9790/99 dispõe sobre a qualificação das pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos como OSCIPs. Forma de qualificação requerida das entidades, inclusive as pertencentes a Rede Privada de Serviços Socioassistenciais, para institucionalização de contratos de Parceria com o Estado.
21
Em termos mais claramente gramscianos, a multiplicação das ONGs no âmbito das políticas
sociais, pode dar a entender que o Estado capitalista está conseguindo reproduzir a
hegemonia burguesa20 tanto ao nível da superestrutura quanto no da infra-estrutura. Uma
coisa é supor que tal estratégia de classe é operacionalizada (com possível êxito) pelo
capital, “instrumentalizando” o Estado e explorando concomitantemente a “funcionalidade”
das ONGs para o projeto neoliberal; outra é dar-se conta de que o Estado (capitalista total
ideal) pode ser uma entidade com autonomia e objetivos próprios com a qual o capital
(formado por muitos capitalistas) pode apenas convergir, divergir ou cooperar, mas não
necessariamente controlar em razão da “funcionalidade” do mesmo para a reprodução
social das estruturas de classe da ordem burguesa, das relações de produção e da força de
trabalho, bem como do consentimento das camadas subjugadas.
O Estado como “Capitalista total ideal”21, protege e amplia o próprio modo de produção
acima dos interesses conflitantes e quase incontroláveis dos capitalistas (capitalista total
real). O Estado precisa ser, em geral, mais que um instrumento; ser algo a “imagem e
semelhança” da burguesia, que esteja ao lado dela, porém fora da concorrência capitalista
“que não esteja [sujeito] a suas limitações, cujas ações não sejam determinadas, portanto,
pela necessidade de produzir (sua própria) mais valia” (ALTVATER22 apud MANDEL, 1985,
p. 336). O Estado será assim, funcional ao sistema capitalista, não apenas um instrumento,
mas capaz de instrumentalizar inúmeros seres humanos e instituições/organizações em
favor da reprodução de si e do próprio sistema.
No livro “O Estado entre a Filantropia e a Assistência Social” (2001) a autora Mestriner
expõe que com sua pesquisa pretende apresentar um estudo crítico da relação entre o
Estado brasileiro e as organizações filantrópicas ou sem fins lucrativos, podendo contribuir
para o estabelecimento de um novo padrão de parceria que “[...] sustente, de fato, uma
política de proteção social23 afiançadora do padrão de qualidade, efetividade e direitos de
cidadania”. Ela esclarece que sua noção de parceria, “[...] considera que não se deva
desobrigar o Estado das suas responsabilidades pelos direitos de seguridade e nem retirar
20 “[...] não podemos deixar de observar em primeiro lugar, que o Estado brasileiro, como outros na América
Latina, se construiu como um importante aliado da burguesia, atendendo à lógica de expansão do capitalismo e nesse sentido, as emergentes Políticas Sociais no país, devem ser apreendidas no movimento geral e nas configurações particulares desse Estado” (YAZBEK, 2008, p. 2).
21 A concorrência entre os capitalistas tende a criar uma autonomia do Estado, visto que o interesse de um capitalista individual talvez não representasse tão bem os interesses do capital em geral, assim “o Estado moderno, qualquer que seja sua forma, é essencialmente uma máquina capitalista. O Estado dos capitalistas, a personificação ideal do capital nacional global” (ENGELS, Anti-Dühring apud MANDEL, 1985, p. 336). 22 Livro de Altvater citado por Mandel: “Zu Einigen Problemen des Staatsinterventionismus”. 23 “[...] o sentido de proteção (protectione, do latim) supõe, antes de tudo, tomar a defesa de algo, impedir sua
destruição, sua alteração. A idéia de proteção contém um caráter preservacionista - não da precariedade, mas da vida -, supõe apoio, guarda, socorro e amparo. Esse sentido preservacionista é que exige tanto a noção de segurança social como a de direitos sociais” (SPOSATI, 2009b, p. 21).
22
da sociedade sua autonomia e possibilidade de práticas democráticas” (MESTRINER, 2001,
p. 19).
Não tenho a intenção de apresentar o Estado como um inimigo, não acredito que o Estado
seja o caminho da servidão24, mas como já sinalizei, ele é funcional ao Capital e por isso
atua nas mediações da sociedade civil, buscando mantê-la coesa e dentro da ordem (e do
“progresso”). O Estado trabalha no sentido do consenso, e como no Capitalismo quase tudo
pode ser transformado em mercadoria25, uma das formas utilizadas pelo Estado para se
aproximar das instituições é financiando-as, pois assim, ele terá muitas delas ao seu lado
em variadas situações. Estas últimas questões estarão sendo problematizadas no decorrer
da tese.
Os Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais não são criados, nem geridos pelo
Estado, mas não há qualquer empecilho quanto ao recebimento de recursos por parte dele,
por qualquer empresa, outros Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais ou de
pessoas físicas. Por este e outros motivos, já expressos, é que, em meu entendimento, a
questão do custeio, da prestação de contas e da fiscalização precisa ser aprofundada nesta
tese e em estudos posteriores. É preciso ter clareza sobre a relação do Estado com
instituições sociais, entre elas os Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais no
âmbito de uma política social asseguradora de direitos.
Este é um debate necessário, pois o modelo de gestão da assistência social ao trazer a cena o cidadão supõe um novo tratamento da intermediação da entidade social envolvida com atenções da assistência social com o cidadão. Todavia, temos que lembrar que uma entidade é um sujeito coletivo que lutará por um novo lugar e/ou a manutenção do antigo lugar. Temos que lhes dar uma resposta clara no modelo que não fragilize o eixo político da política centrado no direito do cidadão (e não do apoio corporativo a entidades sociais) (SPOSATI, 2009a, p. 16).
Certamente outros elementos precisam ser discutidos no âmbito do custeio dos Prestadores
Privados de Serviços Socioassistenciais. Fiz aqui uma explanação dos aspectos que
entendo como sendo os mais relevantes para o momento. As questões suscitadas são
pertinentes ao debate, muito embora não sejam as únicas, as outras serão inseridas e
24 Alusão ao livro de Hayek: “O caminho da servidão” de 1944, que apresenta o Estado como um caminho para a servidão. 25 “[...] o período actual pode ser visto como um período de total hegemonia do mercado, identificável na hubris
com que a lógica empresarial do lucro tem vindo a permear áreas da sociedade civil até agora poupadas à incivilidade do mercado como, por exemplo, a cultura, a educação, a religião, a administração pública, a proteção social, a produção e gestão de sentimentos, atmosferas, emoções, ambientes, gostos, atracções, repulsas, impulsos. A mercantilização do modo de estar no mundo está a converter-se no único modo racional de estar no mundo mercantil” (SOUSA SANTOS, 2007, p. 7).
23
aprofundadas no desenvolvimento do estudo afiançando seu exame dentro da perspectiva
crítica. A seguir apresento o percurso metodológico desenvolvido para a construção da tese.
PERCURSO METODOLÓGICO
A Ciência não é a Verdade, mas a busca constante da verdade. Caso não existissem
dúvidas, não existiria a ciência26, pois num lugar onde tudo esteja definido, descoberto e
pronto não há espaço para o estudo, a descoberta e o questionamento. O que são as
certezas?
[...] a ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, de nossa adesão imediata às coisas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso, ali onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obstáculos, aparências que precisam ser explicitadas e, em certos casos, afastadas (CHAUÍ, 1999, p. 249).
Todo estudo científico surge de uma dúvida, se não houvesse dúvida por que
pesquisaríamos? A dúvida não surge da falta completa de conhecimento sobre o assunto,
por isso preciso deixar claro que esta é uma temática que me é muito familiar27 e
observando os estudos realizados percebi que esta pesquisa traria elementos, informações,
enfim dados, que seriam úteis à sociedade capixaba, a pesquisadores brasileiros e quem
sabe de outros países também.
Este estudo busca fazer uma abordagem qualitativa do tema não “abrindo mão” de
elementos da pesquisa quantitativa visto que, segundo Martinelli (1999, p. 27) “[...] a relação
entre a pesquisa quantitativa e qualitativa não é de oposição, mas de complementaridade e
de articulação”. A pesquisa qualitativa tem um sentido social, aquilo que sempre defendi e
executei em minha vida acadêmica, ou seja, seus resultados devem ser retornados aos
sujeitos dela, visto que estamos trabalhando com um sujeito coletivo.
[...] sujeito coletivo, no sentido de que aquela pessoa que está sendo convidada para participar da pesquisa tem uma referência grupal, expressando de forma típica o conjunto de vivências de seu grupo. O importante, nesse contexto, não é o número de pessoas que vai prestar a informação, mas o significado que esses sujeitos têm, em função do que estamos buscando com a pesquisa. A riqueza que isso traz para o
26 “’Toda ciência seria supérflua se a forma de manifestação e a essência das coisas coincidissem
imediatamente’ (Marx, 1985, III, 2: 271); de fato, se a aparência das coisas (sua forma de se manifestar) mostrasse a sua essência, bastaria observá-las minuciosamente para conhecê-las [...]” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 54).
27 Realizei três pesquisas no âmbito da graduação em Serviço Social na UFES: A) O Poder e a Política no Município da Serra; b) A Atuação de Profissionais de Serviço Social no Município da Serra; e c) As ONGs e as Novas Demandas para o Serviço Social. Minha pesquisa para a Dissertação de Mestrado na UFRJ foi sobre a Inserção do Serviço Social nas ONGs e nesta tese de Doutorado na PUC/SP me proponho a discutir sobre o custeio dos Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais.
24
pesquisador é muito importante, permitindo-lhe aprofundar efetivamente, na relação sujeito-sujeito, o seu objeto de análise (MARTINELLI, 1999, p. 24) (grifo do autor).
Segundo Baptista (1999) as pesquisas quantitativas utilizam a experimentação e esta busca
a veracidade ou falsidade das hipóteses utilizando processos matemáticos dedutivos do tipo
causa-efeito. “[...] Os resultados são expressos em número, intensidade e ordenação; a
realidade é exterior ao sujeito, com interdependência entre sujeito e objeto; as relações são
lineares, ou seja, o processo é unilateral entre pesquisa e pesquisador [...]” (BAPTISTA,
1999, p. 32). Abaixo delineio as técnicas e as formas para coleta e análise que foram
utilizadas nesta pesquisa.
No estudo bibliográfico desenvolvido sobre o tema, busquei compreender e aprofundar a
discussão sobre os modos de custeio aplicados pelos Prestadores Privados de Serviços
Socioassistenciais, sua influência em seu funcionamento e sobre as transformações porque
vêm passando os investimentos sociais do Estado, das empresas e dos doadores em geral.
Esse estudo bibliográfico aumentou o conhecimento do pesquisador sobre o objeto de
estudo e contribuiu assim para sua melhor compreensão e exposição.
Em um estudo do Ministério Público do Espírito Santo, apresentado no Quadro 01, sobre o
Estado foram totalizadas 5.114 entre entidades de interesse social e fundações (ESPÍRITO
SANTO, 2004). O Gráfico 01 mostra como é a distribuição destas entidades em cinco
Municípios da Região Metropolitana da Grande Vitória. É importante ressaltar que o
Ministério Público do Espírito Santo estuda de forma geral, mas não separa as instituições
de assistência social das demais, assim apresentarei noutro momento a pesquisa do IBGE
de 2006 que estuda especificamente as Entidades de Assistência Social Privadas sem Fins
Lucrativos no Brasil.
GRÁFICO 01: DISTRIBUIÇÃO DAS ENTIDADES DE INTERESSE SOCIAL E FUNDAÇÕES EM
CINCO MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA
(Fonte: Elaboração própria a partir de dados de ESPÍRITO SANTO, 2004)
25
QUADRO 01: PERFIL TOTALIZADO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO,
POR ÁREAS DE ATUAÇÃO 28
Como se percebe no Gráfico 01 existe uma concentração de instituições na capital, seguida
por Vila Velha, Cariacica, Serra e Viana. A amostra desta tese se baseia nas inscrições nos
Conselhos Municipais de Assistência Social, que reflete, de certa forma, essa realidade. No
Quadro 01 são caracterizadas as áreas de atuação destas instituições e assim, a distância
delas com a área de assistência social se apresenta ainda maior. Pode-se observar que há
uma área chamada Assistência/ Promoção Social que certamente possui instituições que se
enquadrariam na amostra, mas há ainda outras áreas que poderiam conter instituições de
assistência social tais como: Terceiro Setor/ Gestão/ Responsabilidade Social, Crianças e
28 No Quadro 01 percebe-se que há instituições que não atuam na área da assistência social e que, por este entre outros motivos, não são estudadas nesta tese, porém entendo como apropriado divulgá-las, pois estão na metodologia utilizada para o estudo do Ministério Público Estadual sobre todas as entidades de interesse social e fundações registradas nos Cartórios do Estado do Espírito Santo. Fiz a opção de não agrupar as áreas de atuação visto que poucas poderiam ser agrupadas e o quadro ficaria diferente do original, mas sem grandes conseqüências para análise.
Fundações Entidades de Interesse Social Áreas de Atuação Nº % Nº %
Agricultura/ Zona Rural 2 0,98 577 5,72 AIDS - - 10 0,10 Alcoolismo/ Drogas - - 14 0,14 Ambientalistas/ Ecológicas 9 4,39 122 1,21 Assistência/ Promoção Social 50 24,39 367 3,64 Associação de Moradores/ Comunitária 1 0,49 1503 14,89 Atividades Econômicas/ Desenvolvimentistas 19 9,27 175 1,73 Benefício/ Previdência 6 2,93 3 0,03 Causas Indígenas - - 3 0,03 Clubes de Serviços - - 148 1,47 Comissão de Formatura - - 10 0,10 Cooperativas Comunitárias - - 30 0,30 Corte de Arbitragem - - 2 0,02 Crianças e Adolescentes 10 4,88 131 1,30 Culturais 16 7,80 432 4,28 Direitos Humanos 1 0,49 28 0,28 Direitos/ Homossexuais - - 1 0,01 Direitos/ Mulher - - 63 0,62 Educação 32 15,61 1506 14,92 Empresa Júnior - - 5 0,05 Entidades de Classes/ Profissionais 9 4,39 837 8,29 Esportivas/ Recreativas 2 0,98 865 8,57 Forças Armadas - - 1 0,01 Habitação 2 0,98 42 0,42 Igrejas/ Grupos Religiosos/ Seitas/ Congregações/ Maçonaria 6 2,93 2104 20,84 Leilão - - 1 0,01 Meios de Comunicação 8 3,90 80 0,79 Movimentos Sociais/ Populares/ Comunitários 1 0,49 91 0,90 Negros - - 2 0,02 Partidos Políticos/ Diretorias - - 5 0,05 Pessoas Idosas 3 1,46 129 1,28 Portadores de Deficiência - - 125 1,24 Prestação de Serviços - - 3 0,03 Psicologia/ Psicanálise - - 8 0,08 Saúde 26 12,68 165 1,63 Segurança (Trânsito, trabalho, pública, privada, etc.) - - 70 0,69 Servidores - - 58 0,57 Sindicais - - 333 3,30 Terceiro Setor/ Gestão/ Responsabilidade Social - - 7 0,07 Trabalho - - 1 0,01 Turismo 1 0,49 26 0,26 Área de Atuação não informada 1 0,49 11 0,11 TOTAL 205 100,00 10094 100,00
(Fonte: ESPÍRITO SANTO, 2004, p. 1054)
26
Adolescentes, Pessoas Idosas, Portadores de Deficiência, Movimentos Sociais/ Populares/
Comunitários, Prestação de Serviços, Direitos/ Mulher, Direitos Humanos, Direitos
Homossexuais e Benefício/ Previdência. Como o Ministério Público do Espírito Santo não
detalha essas instituições das áreas de atuação por ele definidas, optei como já dito por me
ater à pesquisa do IBGE de 2006 que estuda especificamente as instituições de assistência
social.
TABELA 01: APROXIMAÇÃO AO UNIVERSO PESQUISADO 1
Crescimento
IBGE 2002
IBGE 2005
IBGE 2006
Absoluto %
Entidades sem fins lucrativos - Brasil 500.157 601.611 - 101.454 20,3%
Entidades sem fins lucrativos – Espírito Santo 10.773 12.718 - 1.945 18,0%
Fundações privadas e associações sem fins lucrativos - Brasil
275.895 338.162 - 62.267 22,6%
Fundações privadas e associações sem fins lucrativos - Espírito Santo
5.670 6.877 - 1.207 21,3%
Entidades de assistência social privadas sem fins lucrativos - Brasil
- - 33.077 - -
Entidades de assistência social privadas sem fins lucrativos - Espírito Santo
- - 44329 - -
(Fonte: Elaboração própria a partir de IBGE, 2002, 2005 e 2006)
Segundo o IBGE, como se pode ver na Tabela 01, havia no Brasil em 2002 um total de
500.157 entidades sem fins lucrativos e em 2005 esse número subiu para 601.611
entidades, um crescimento de aproximadamente 20%. No Estado do Espírito Santo existia
em 2002 ao todo 10.773 entidades sem fins lucrativos e em 2005 um total de 12.718
entidades, um crescimento de aproximadamente 18% (IBGE, 2002 e 2005).
Conforme dados do IBGE de 2002 e 2005, dentre estas 500.157 entidades sem fins
lucrativos alcançadas pela pesquisa do IBGE de 2002, um total de 275. 895 são registradas
como fundações privadas e associações sem fins lucrativos e 5.670 estão localizadas no
Estado do Espírito Santo. No ano de 2005 foram contabilizadas 601.611 entidades sem fins
lucrativos, entre elas estavam 338.162 fundações privadas e associações sem fins
lucrativos, ampliando o número delas no Estado do Espírito Santo em aproximadamente
21% chegando a 6.877 fundações e associações, conforme Quadro 02.
29 Aqui já se percebe uma pequena atualização em relação ao Quadro 01 sobre os dados do Ministério Público do Espírito Santo (2004), pois no item “Assistência / Promoção Social” somando suas áreas de atuação 50 Fundações e 367 Entidades de Interesse Social é obtido um total de 417.
27
QUADRO 02: FUNDAÇÕES PRIVADAS E ASSOCIAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS ESPÍRITO SANTO - 200530
Entre as 338.162 fundações privadas e associações sem fins lucrativos apresentadas na
pesquisa do IBGE de 2005, 39.395 fundações e associações foram por ele definidas como
de assistência social e como se vê no Quadro 02, acima, o número no Estado do Espírito
Santo era de 55231 entidades sem fins lucrativos de Assistência Social. Na Tabela 02 se vê
30 O Título original no site do IBGE é: Tabela 8 - Unidades locais, pessoal ocupado assalariado em 31.12 e salários e outras remunerações das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos, segundo Grandes Regiões, Unidades da Federação e classificação das entidades sem fins lucrativos - Brasil - 2005. 31 Importante destacar que o número 552 de 2005, do Quadro 02, é superior ao 443 de 2006, da Tabela 01. Como o número de instituições vem crescendo nos últimos anos, a simples abertura e o fechamento de instituições não proporcionaria essa redução de 109 instituições de um ano para o outro. Penso que o que pode ter contribuído para esta diferença nos resultados das pesquisas é uma provável mudança de metodologia e de foco das duas. Em 2005 se estudava as FASFIL - Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos e em 2006 o foco foi mais especificamente as de assistência social (PEAS - Pesquisa de Entidades de Assistência Social Privadas sem Fins Lucrativos, IBGE, 2006).
(continuação)
Grandes Regiões, Unidades da Federação e
classificação das entidades sem fins lucrativos
Unidades locais
Pessoal ocupado assalariado em 31/12
Salários e outras remunerações
(1. 000 R$)
Sudeste 143 444 975 158 15 058 063
Espírito Santo 6 877 28 080 320 061
Habitação 2 (x) (x) Habitação 2 (x) (x) Saúde 84 6 896 57 464 Hospitais 43 6 572 54 144 Outros serviços de saúde 41 324 3 320 Cultura e recreação 828 1 377 9 647 Cultura e arte 231 329 3 051 Esportes e recreação 597 1 048 6 597 Educação e pesquisa 623 8 483 148 380 Educação infantil 45 152 1 584 Ensino fundamental 351 2 080 21 040 Ensino médio 47 743 10 762 Educação superior 60 4 612 102 335 Estudos e pesquisas 47 75 908 Educação profissional 7 105 1 184 Outras formas de educação/ensino 66 716 10 568 Assistência social 552 3 140 34 028 Assistência social 552 3 140 34 028 Religião 2 327 3 682 27 889 Religião 2 327 3 682 27 889 Associações patronais e profissionais 1 122 2 492 28 033 Associações empresariais e patronais 96 278 2 684 Associações profissionais 364 1 877 23 145 Associações de produtores rurais 662 337 2 204 Meio ambiente e proteção animal 62 29 582 Meio ambiente e proteção animal 62 29 582 Desenvolvimento e defesa de direitos 908 1 276 7 383 Associação de moradores 468 932 4 190 Centros e associações comunitárias 279 130 779 Desenvolvimento rural 18 58 437 Emprego e treinamento 11 6 108 Defesa de direitos de grupos e minorias 73 116 1 393 Outras formas de desenvolvimento e defesa de direitos 59 34 477 Outras instituições privadas sem fins lucrativos 369 705 6 656 Outras instituições privadas sem fins lucrativos não especificadas anteriormente
369
705
6 656
(Fonte: IBGE, 2005)
28
2.715 fundações privadas e associações sem fins lucrativos na RMGV e neste total estão
incluídas as 552 citadas anteriormente.
TABELA 02: APROXIMAÇÃO AO UNIVERSO PESQUISADO 2
Cinco Municípios da RMGV - 2005
Vitória Vila Velha Serra Cariacica Viana
Universo
Entidades sem fins lucrativos 2.988 1.391 726 692 81 5.878
Fundações privadas e associações sem fins lucrativos
1. 074 591 486 506 58 2.715
Porcentagem de Fundações privadas e associações sem fins lucrativos nas Entidades sem fins lucrativos
35,9% 42,5% 66,9% 73,1% 71,6%
(Fonte: Elaboração própria a partir de IBGE, 2005)
Na Pesquisa de Entidades de Assistência Social Privadas sem Fins Lucrativos (PEAS) de
2006 o IBGE perguntou o âmbito de atuação das entidades e a surpresa foi de que para
além da atenção municipal (11.197 ou 69,9% das entidades) que preconiza a NOB-SUAS
(2005) muitas delas também atuam fora de seus municípios (4.856 ou 30,1% das entidades)
com atuação regional, estadual e nacional, conforme Gráfico 02. Como se vê na Tabela 04
grande parte das instituições entrevistadas possui estruturas de atendimento fora de seu
município sede e/ou atendem cidadãos que moram em outros municípios. Algumas
possuem atendimento em outros estados da federação e três delas tem atuação
internacional.
GRÁFICO 02: NÚMERO DE ENTIDADES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL PRIVADAS SEM FINS LUCRATIVOS, SEGUNDO ÂMBITO DE ATUAÇÃO DA ENTIDADE - BRASIL - 2006
(Fonte: Adaptado de IBGE, 2006, p. 20)
29
Como enunciei anteriormente, para a definição da amostra foi feito um contato com todos os
Conselhos Municipais de Assistência Social da Região Metropolitana da Grande Vitória.
Solicitei que todos disponibilizassem uma lista com todas as instituições neles inscritas. A
análise desses dados secundários permitiu construir a Tabela 03 que identifica 163
instituições, das quais 31,9% se concentram em Vitória, 28,8% estão em Vila Velha, 19% na
Serra, 16,6% em Cariacica e 03,7% em Viana. Após a análise destas informações foi
estabelecida a amostra intencional delimitada para 17 Prestadores Privados de Serviços
Socioassistenciais na Região. Não foi uma escolha aleatória baseada apenas em dados
estatísticos ou de acordo com a porcentagem de instituições por município. O número de
instituições foi levado em consideração apenas para tentar entrevistar aproximadamente
10% das instituições inscritas no Conselho de cada Município. Esta amostra (parte da
população ou universo) foi calculada para ser o mais representativa possível do Universo.
TABELA 03: INSCRITOS NOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA
Município Número de Instituições Inscritas % Amostra Inicial
Vitória 52 31,9 5
Vila Velha 47 28,8 5
Serra 31 19,0 3
Cariacica 27 16,6 3
Viana 06 03,7 1
Total 163 100 17
(Fonte: Elaboração própria)
Apesar de ter sido pensado um número de instituições para a amostra, o que mais importou
para a definição dela foram os critérios de: clientela atendida dentro e fora do município
sede32 (prioridade para as que mantivessem atividades em, ou atendessem pessoas de,
mais de um Município); tipo de Serviço Socioassistencial prestado (prioridade para a que
realizasse mais serviços, também tentei entrevistar ao menos uma instituição por tipo de
32 Talvez esse critério pareça destoar um pouco do que propõe a NOB-SUAS (2005), mas para a pesquisa esse característica contribui, pois numa mesma entrevista as instituições puderam apresentar nuances sobre como é a parceria em municípios distintos e sobre o cidadão que vem procurar o atendimento mesmo fora de seu município de residência. Preciso lembrar que não há proibição para as instituições terem atendimento em outro município ou atenderem moradores de outras cidades, o que há é a exigência de que uma instituição que atue em mais de um município deva inscrever suas atividades nos conselhos de assistência social nos municípios onde atue. Conforme o Artigo 19, § 1º da lei nº 12.101 de 27 de novembro de 2009: “Quando a entidade de assistência social atuar em mais de um Município ou Estado ou em quaisquer destes e no Distrito Federal, deverá inscrever suas atividades no Conselho de Assistência Social do respectivo Município de atuação ou do Distrito Federal, mediante a apresentação de seu plano ou relatório de atividades e do comprovante de inscrição no Conselho de sua sede ou de onde desenvolva suas principais atividades”.
30
Serviço prestado); e aquelas que eram financiadas, mas também financiadoras. No total
foram 17 instituições entrevistadas distribuídas de acordo com a Tabela 04.
TABELA 04: AMOSTRA DE INSTITUIÇÕES NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA
Clientela Atendida dos/nos Municípios
PPSS Nº
Município Sede
Vitória Vila Velha Serra Cariacica Viana
Amostra Alcançada
01 Vitória 1 X X X X X
02 Vitória 2 X X X X X
03 Vitória 3 X X X X X
04 Vitória 4 X X X X
05 Vitória 5 X
06 Vitória 6 X X X X
6
07 Vila Velha 1 X X X X X
08 Vila Velha 2 X X X X X
09 Vila Velha 3 X
10 Vila Velha 4 X
4
11 Serra 1 X X
12 Serra 2 X
13 Serra 3 X
3
14 Cariacica 1 X
15 Cariacica 2 X
16 Cariacica 3 X X X
3
17 Viana 1 X 1
Total
17
(Fonte: Elaboração própria)
Conforme a NOB-SUAS (2005), é competência da esfera municipal a gestão dos serviços,
programas, projetos e benefícios assistenciais. Assim, o gestor municipal, tanto na gestão
básica quanto na gestão plena, tem a responsabilidade de: “Identificar e reconhecer, dentre
todas as entidades inscritas no Conselho Municipal de Assistência Social, aquelas que
atendem aos requisitos definidos por esta norma para o estabelecimento do vínculo SUAS”
(NOB-SUAS, 2005, p. 25 e 27). Com exceção de Viana, os outros quatro municípios
estudados são de grande porte, com mais de 100.001 habitantes e por isso “devem ter rede
complexa, em que todos os serviços considerados necessários ao atendimento da
população, independente de seu nível de complexidade, devem ser postos à disposição no
próprio âmbito municipal” (NOB-SUAS, 2005, p. 64). Estas são orientações muito
importantes, mas os municípios ainda estão se adaptando e nem todos dão conta de toda a
demanda, espera-se que num futuro próximo as orientação estejam plenamente aplicadas.
31
As instituições historicamente atenderam a quem lhes bateu à porta e não tenho certeza se
um dia deixarão de atender a alguém só porque veio de outra cidade. Atuo como assistente
social na saúde e sempre orientamos aos cidadãos para buscarem respostas às suas
demandas em seus municípios de origem, como estabelece o SUS, mas não deixamos de
atendê-los. Há pessoas que não conseguem atendimento em seus municípios e buscam os
grandes centros urbanos como última saída para diminuir seu sofrimento. Já atendi pessoas
que vieram do interior do Estado, de Minas Gerais, da Bahia e até de Belém/Pará para
tratamento e depois, ou se tornaram moradores do município da Serra ou voltaram para
suas cidades.
Durante as entrevistas para a tese busquei identificar e catalogar as fontes de financiamento
e/ou os principais financiadores/parceiros dos Prestadores Privados de Serviços
Socioassistenciais na Região Metropolitana da Grande Vitória no Espírito Santo.
Este estudo sobre os Prestadores Privados de Serviços Socioassistenciais não busca pura e
simplesmente conhecer uma dada realidade, mas sim mostrar o compromisso com, e
apontar caminhos para, as classes populares, subalternas e exploradas, pois se pesquisa e
se apresenta um novo tipo de conhecimento, nesse “sentido é um conhecimento ao mesmo
tempo movimento-utopia. Dedica-se a desvendar os invisíveis, os sem voz, sem teto, sem
cidadania. Constitui-se, por tudo isso, em um conhecimento contra-hegemônico” (SPOSATI,
2007a, p. 18).
Embora seja fundamental a compreensão de que a alteração substancial da forma de organização da sociedade capitalista seja uma tarefa para além da consolidação de direitos socioassistencias, a garantia deles pode se constituir em mais um elemento para a disputa do projeto societário, uma vez que coloca como protagonistas dessa construção parcela importante da população que sempre ficou na margem desse debate. Certamente, esse é um dos maiores desafios a serem enfrentados pela política de assistência social, mas somente por meio do debate público, que inclua com prioridade os usuários, com transparência é que seremos capazes de reafirmar os direitos assistenciais e quem sabe aprimorá-los no caminho da construção da utopia de uma sociedade mais justa e plena de direitos (COUTO, 2007, p. 26).
O assistente social, entre outros profissionais, ao optar por ser comprometido com as lutas
mais amplas da classe trabalhadora, ter um compromisso que extrapole as ações técnico-
burocráticas e avance para a independência ideo-política dos sujeitos (cidadãos) que
recebem e contribuem para a ação profissional, estará optando “por um projeto profissional
vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação-
exploração de classe, etnia e gênero” que é parte dos princípios fundamentais da Ética
Profissional, contida em nosso Código e que norteia a ação profissional. Em todo o percurso
32
metodológico, o respeito aos sujeitos contatados e/ou entrevistados foi fundamental para a
execução desta tese.
Realizei entrevistas33 dirigidas, utilizando um questionário, com dirigentes das instituições
recebedoras e financiadoras definidas na amostra; com técnicos responsáveis pelos
convênios e pelas parcerias delas. Uma entrevista também foi realizada com uma das
principais Empresas financiadoras/parceiras de Prestadores Privados de Serviços
Socioassistenciais na Região estudada. Dentro das possibilidades das instituições e da
aceitação por parte dos entrevistados pude gravar e posterio