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Revista Brasileira de Educação 73 Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais, juventude e educação * Marília Pontes Sposito Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo Trabalho apresentado na XXII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1999. “Nuvens de poeira quente anuviando minha lucidez” Fernando Pessoa, Odes marítimas Em 1977, Lúcio Kowarick publica no jornal Folha de S. Paulo o artigo “O mito da sociedade amorfa e a questão da democracia”, examinando os pressupostos autoritários e elitistas que orienta- vam as afirmações recorrentes sobre a passividade das classes populares e o caráter gelatinoso da so- ciedade civil. Reconhecia, naquela conjuntura ad- versa, o elenco de dificuldades presentes na orga- nização popular mas apontava, também, a existên- cia de outros momentos férteis em mobilizações. Considerava, assim, a necessidade de uma com- preensão diferençada da sociedade civil que permi- tisse, a despeito da fragilidade dos atores, do ca- ráter muitas vezes pontual das lutas e dos impedi- mentos de manifestações autônomas, reconhecer os caminhos a partir dos quais ela constituía de- mandas, lutava por direitos, propunha conflitos e orientações diversas daquelas formuladas pelas eli- tes. Sua conclusão reiterava uma concepção clara sobre a cidadania ao afirmar que “a ampliação e garantia dos direitos e deveres implícitos no exer- * Trabalho apresentado no GT Movimentos Sociais e Educação. Agradeço a leitura atenta, crítica e amiga de Maria Amélia Giovanetti, Juarez Dayrell e José de Souza Martins, que examinaram criteriosamente a primeira ver- são do texto, oferecendo críticas e sugestões valiosas. O tex- to esboça reflexão que resulta do projeto de pesquisa Ju- ventude e escolarização: uma análise da produção de conhe- cimentos, desenvolvido em conjunto com Sérgio Haddad, com o apoio do CNPq e da FAPESP. A parte da pesquisa sob minha responsabilidade produziu um balanço da pro- dução discente na Pós-Graduação, tanto em Educação como em Ciências Sociais, sobre os estudos de juventude (348 tra- balhos) e constituiu Banco de Notícias (1.448 registros) e Experiências Juvenis (1.533 registros), a partir de noticiá- rio de imprensa, em um período de dois anos (fevereiro de 1995 a fevereiro de 1997), compreendendo periódicos de todo o território brasileiro.

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  • Revista Brasileira de Educao 73

    Algumas hipteses sobre asrelaes entre movimentos sociais,juventude e educao*

    Marlia Pontes SpositoFaculdade de Educao, Universidade de So Paulo

    Trabalho apresentado na XXII Reunio Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1999.

    Nuvens de poeira quente

    anuviando minha lucidez

    Fernando Pessoa, Odes martimas

    Em 1977, Lcio Kowarick publica no jornalFolha de S. Paulo o artigo O mito da sociedadeamorfa e a questo da democracia, examinando

    os pressupostos autoritrios e elitistas que orienta-vam as afirmaes recorrentes sobre a passividadedas classes populares e o carter gelatinoso da so-ciedade civil. Reconhecia, naquela conjuntura ad-versa, o elenco de dificuldades presentes na orga-nizao popular mas apontava, tambm, a existn-cia de outros momentos frteis em mobilizaes.Considerava, assim, a necessidade de uma com-preenso diferenada da sociedade civil que permi-tisse, a despeito da fragilidade dos atores, do ca-rter muitas vezes pontual das lutas e dos impedi-mentos de manifestaes autnomas, reconheceros caminhos a partir dos quais ela constitua de-mandas, lutava por direitos, propunha conflitos eorientaes diversas daquelas formuladas pelas eli-tes. Sua concluso reiterava uma concepo clarasobre a cidadania ao afirmar que a ampliao egarantia dos direitos e deveres implcitos no exer-

    * Trabalho apresentado no GT Movimentos Sociaise Educao. Agradeo a leitura atenta, crtica e amiga deMaria Amlia Giovanetti, Juarez Dayrell e Jos de SouzaMartins, que examinaram criteriosamente a primeira ver-so do texto, oferecendo crticas e sugestes valiosas. O tex-to esboa reflexo que resulta do projeto de pesquisa Ju-ventude e escolarizao: uma anlise da produo de conhe-

    cimentos, desenvolvido em conjunto com Srgio Haddad,com o apoio do CNPq e da FAPESP. A parte da pesquisasob minha responsabilidade produziu um balano da pro-duo discente na Ps-Graduao, tanto em Educao comoem Cincias Sociais, sobre os estudos de juventude (348 tra-balhos) e constituiu Banco de Notcias (1.448 registros) eExperincias Juvenis (1.533 registros), a partir de notici-

    rio de imprensa, em um perodo de dois anos (fevereiro de1995 a fevereiro de 1997), compreendendo peridicos detodo o territrio brasileiro.

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    Marlia Pontes Sposito

    ccio da cidadania supem, de imediato, a possibi-lidade no s de usufruir dos benefcios materiaise culturais do desenvolvimento, como tambm,sobretudo, o de debater os destinos desse desenvol-vimento (Kowarick, 1977).

    Compartilhando esse tipo de orientao, v-rios pesquisadores na rea da Educao passarama investigar a expanso do ensino pblico ob-servada a partir do perodo populista e continua-da na dcada de 70 e 80 , buscando uma novacompreenso desse processo. Ultrapassando o pres-suposto que radicava no Estado todas as orienta-es e iniciativas1, esse campo de investigao pro-curava reconstituir a presena popular, mesmo quedifusa, nas principais mudanas observadas no sis-tema de ensino, tendo em vista sua democratiza-o, particularmente a luta por oportunidades deacesso escola pblica (Bomfim, 1991; Campos,1985, 1991; Cunha Campos, 1989; Fuchs, 1992;Giovanetti e Costa, 1997; Sposito, 1984, 1993;Vianna, 1992).

    Mas os significados mais amplos dessa noode democratizao do direito educao, conviven-do com a idia dos direitos da cidadania e, assim,com a denominada tendncia igualitria crescentenas sociedades modernas (Marshall, 1967), trouxe-ram, principalmente a partir do final da dcada de70, novos desafios para a reflexo acadmica e paraa formulao de polticas pblicas no Brasil. Nosrumos da lutas sociais contra a ditadura e na bus-ca de caminhos para a transio, nasce, nesse pe-rodo, a idia de participao da sociedade civil, so-bretudo dos grupos e movimentos organizados, naformulao, implantao e acompanhamento daspolticas pblicas, em especial na rea social. Essaidia teve sua traduo no mbito mais amplo na

    defesa dos Conselhos, fortemente debatidos na es-fera municipal (Doimo, 1990, 1995) e incorpora-dos na legislao federal em setores diversos comosade, assistncia, direitos da criana e do adoles-cente e educao.

    Nessa poca, ganha fora, no mbito das lide-ranas sindicais do movimento docente e nas asso-ciaes de educadores, a idia da democratizaoda gesto escolar como fator essencial para a efe-tiva constituio de um sistema de ensino em sin-tonia com o desejo de democratizao do Pais. Napesquisa, o tema da participao popular resultouna crtica dos canais tradicionais de relao da es-cola com os seus usurios, como associaes oucrculos de pais e mestres, e, em conseqncia, nainvestigao de novos mecanismos de gesto cole-giada das unidades escolares como os conselhos deescola e a eleio direta de diretores (Bueno, 1987;Sposito, 1993; Avancine, 1990; Paro, 1995, 1998;Ghanem, 1992; Carvalho, 1991). Os estudos apon-tavam vrios mecanismos presentes nas prticasescolares que impediam ou criavam srias resistn-cias a uma efetiva gesto democrtica da unidadeescolar.

    No entanto, aps alguns anos de experinciademocrtica no mbito dos direitos polticos e deeventuais conquistas na esfera legal, os ritmos paraa efetivao de prticas democrticas na escola p-blica tm sido desiguais, assim como em outras es-feras da vida coletiva na sociedade brasileira. Mes-mo com o arrefecimento da fora da idia da par-ticipao do ponto de vista das demandas dos ato-res coletivos, a pesquisa tem investigado algumasadministraes progressistas em especial as mu-nicipais que no abandonaram a importncia dotema da gesto democrtica da unidade escolar.Prticas inovadoras, muitas vezes isoladas, aindano foram suficientemente conhecidas ou investiga-das no mbito da pesquisa, constituindo uma reaimportante de estudo no interior do tema Movi-mentos Sociais e Educao.

    Mas outras interaes entre esfera pblica,movimentos sociais e educao podem ser objeto deestudo, em particular aquelas que incidem sobre o

    1 Kowarick, em outros trabalhos, alertava para o con-tedo autoritrio das concepes vigentes, pois a atribui-o de passividade ao povo brasileiro constituiu ingredien-te ideolgico utilizado para justificar o intenso controle queo Estado historicamente exerceu sobre as iniciativas sociaise polticas das classes populares (1979).

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    Algumas hipteses sobre as relaes entre movimentos sociais, juventude e educao

    conjunto das prticas escolares2. Como afirma PaulBelanger, torna-se necessrio alargar e transformara perspectiva vigente de uma educao para a de-mocracia, ampliando as fronteiras de uma perspec-tiva democrtica restrita poltica institucional,pois educao para a democracia tende a carregarum estreito conceito de participao democrtica.As fronteiras limitadas que caracterizam a cidada-nia em educao esto em relao com as teoriasdominantes, no mnimo na Europa ocidental, sobrea democracia representativa (Belanger, 1993, p.19, traduo livre). Considera esse autor que o con-ceito de democracia foi sendo enriquecido nas l-timas dcadas mediante a incorporao de novoscontedos extrados sobretudo das lutas dos movi-mentos sociais e das novas configuraes que tecema idia de espao pblico e sociedade civil. Para aacademia, o desafio residiria, assim, no exame dograu de absoro pelo conjunto das prticas esco-lares dos temas e processos que tratam, na esferapblica, das novas formas de democracia, efetiva-das a partir das lutas sociais. O movimento de mu-lheres, analisado por Belanger, exprimiria, dentreoutros, um bom exemplo.

    As relaes vigentes entre homens e mulheresforam contestadas, transformaram-se em questespblicas sob o ponto de vista das desigualdades deacesso ao sistema de ensino, das dificuldades de in-sero e de reconhecimento no mercado de traba-lho, no obstante a igualdade formal nas habilita-es profissionais oferecidas pelo sistema educati-vo. Os movimentos feministas criticaram o tipo deinterao entre os sexos, as concepes e prticassocializadoras na sala de aula, buscando superar adesigualdade entre os gneros. Assim, alm de pro-

    curar formas alternativas de educao no interiordos prprios grupos, tradicionalmente concebidacomo educao popular, as demandas dos movi-mentos feministas, em alguns pases, passaram aquestionar o cerne da atividade pedaggica e a in-fluenciar a natureza da proposta educativa oferecidapela escola. Esses atores constituram um conjun-to importante de crticas ao padro dominante desocializao de homens e mulheres, tentando cons-truir, ao mesmo tempo, um novo conjunto de orien-taes e modelos culturais. Embora de difcil aferi-o, no se pode desconsiderar o seu impacto nacultura escolar, pois esses temas criaram um novoreconhecimento pblico da questo, propiciando,como Belanger afirma, um alargamento das fron-teiras das relaes entre educao e democracia.

    No Brasil, com a redemocratizao foi poss-vel observar esforos mais acentuados envidadospelos movimentos negros em trazer para a arena p-blica os problemas da discriminao racial3. Nesseconjunto de lutas, as questes concernentes ao sis-tema de ensino e prtica pedaggica da sala deaula foram trabalhadas, impondo rupturas com osilncio at ento observado no mbito da educa-o escolar. Os pesquisadores ligados ao movimen-to negro registraram, no decorrer dos anos 80, osvrios seminrios, publicaes, que procuravam aconstruo de orientaes comuns dos atores cole-tivos negros e a proposta de alternativas capazes deimprimir novas prticas nas relaes intra-escola-res. Algumas das reivindicaes chegam a ser incor-poradas em currculos do sistema pblico de algunsestados, municpios ou nas propostas inovadorasde formao de professores que vm sendo estuda-das em poucas dissertaes de mestrado na rea daEducao. O conjunto dessas iniciativas tinha e temem vista a incluso de temas relativos populaoafro-brasileira no universo escolar, sua importn-

    2 Boa parte da tradio dos estudos voltados para edu-cao popular no Brasil examinou os aspectos educativosda prtica social. Alguns pesquisadores investigaram o ca-rter educativo das lutas e o seu potencial no sentido deconstruir experincias novas capazes de produzir uma (re)-socializao dos sujeitos envolvidos (consultar Damasceno,1990, Brando, 1984, 1984a, entre outros).

    3 No quero dizer com isso que a luta dos movimen-tos negros s se inicia com a democratizao, afirmao queconteria lamentvel equvoco histrico (cf. Gonalves, 1998,1994; Pinto, 1993a, 1993b).

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    Marlia Pontes Sposito

    cia histrica e cultural na formao da sociedadebrasileira e a explicitao das formas veladas da do-minao social vividas na relao com o branco, ex-pressas no preconceito e no racismo4.

    Embora no seja possvel inferir diretamenteo grau de impacto dessas orientaes e, muito me-nos, afirmar que foram atenuadas as prticas cen-tenrias de racismo na sociedade brasileira, ine-gvel que essas demandas nascidas no interior dasaes dos movimentos negros contriburam paraprojetar a questo no mbito da esfera pblica,transformando-a em pauta necessria nas orienta-es de qualquer reforma educativa proposta peloPoder Pblico nos ltimos anos. Assim, importaressaltar com esses exemplos o impacto multiformedas aes dos movimentos sociais sobre a educaoe a escola pblica, sendo, pois, difcil uma avalia-o, do ponto de vista da produo do conhecimen-to, que procure apenas os resultados imediatos. Seusefeitos no so facilmente verificveis, pois as pr-ticas so difusas e de pouca visibilidade, compreen-dendo um campo de conflitos que abriga orienta-es em constante oposio ante o conjunto de re-laes sociais estabelecidas: homens e mulheres, ne-gros e brancos, minorias culturais e culturas domi-

    nantes, entre outros5. Trata-se assim de alargar oshorizontes da pesquisa para alm do estudo dospossveis ganhos ou eventuais fracassos imediatosque as lutas dos atores coletivos encerram.

    No entanto, em conjunturas de crise, diante deorientaes que privilegiam interesses do mercadoem relao s demandas sociais, da retrao do Es-tado nas polticas pblicas de natureza social, dapersistncia de problemas crnicos da escola brasi-leira, ao lado de novas questes, como a violncia,e das dificuldades efetivas de construo de atorescoletivos que consigam produzir prticas e proje-tos alternativos ao conjunto de orientaes antide-mocrticas vigentes, pode renascer um certo pessi-mismo que interfere na prpria dinmica do cam-po da pesquisa. Esse pessimismo no apenas reco-nhece dificuldades, mas pode negar qualquer possi-bilidade de organizao e resistncia da sociedadee se volta novamente para o Estado, nico interlo-cutor slido e confivel da amorfa e desorganiza-da sociedade civil brasileira6. No sem razes, re-toma-se aqui a anlise de Kowarick (1979), pois oesgotamento de algumas formas de luta que mar-caram o perodo da redemocratizao e mesmo asdificuldades que marcam hoje a capacidade de mo-bilizao de alguns setores antes combativos, como o caso do movimento de docentes (Vianna, 1999),

    4 O n 63 da revista Cadernos de Pesquisa da Funda-o Carlos Chagas, Raa Negra e Educao, publicado em1987 rene vrios artigos sobre experincias de novas pro-postas curriculares. Consultar, ainda, Pinto, 1987; Gonal-ves e Silva, s/d; Valente, 1995. No posso, tambm, deixarde fazer referncias importncia dos movimentos dos po-vos indgenas e dos esforos de articulao de redes da so-ciedade civil na proposta de novos rumos para a educaoindgena, sobretudo a partir da Constituio de 88. Esse seriaoutro exemplo da importncia da ao dos movimentossociais na educao, no s pelo desenvolvimento de umaproposta especfica para a educao das naes indgenas,mas por sua possvel influncia sobre as concepes e pr-ticas que afetam o conjunto do sistema escolar no Brasil. Seh um pequeno e importante grupo de pesquisadores cons-titudo em torno do tema da educao dos povos indgenas(Silva, 1999), o mesmo no ocorre no interior da pesquisasobre os possveis impactos dessas prticas no prprio sis-tema formal de ensino, destinado ao no-ndio.

    5 Nesse caso estou ancorada na definio de movimen-tos sociais de Alberto Melucci (1991, p. 20): Um movimen-to social uma ao coletiva cuja orientao comporta so-lidariedade, manifesta um conflito e implica a ruptura doslimites de compatibilidade do sistema dentro do qual a aomesma se situa (1991, p. 20). A definio de Melucci in-tegra campo de orientaes que se inspira na anlise pioneiradesenvolvida por Alain Touraine sobre os movimentos so-ciais (1975).

    6 Esse pessimismo mereceria ser, de imediato, ate-nuado com o reconhecimento das iniciativas de administra-es pblicas progressistas em interlocuo com atores co-letivos e demais foras sociais e pela incansvel organiza-o dos movimentos no campo e seu esforo em constituiralternativas educativas, como o caso do Movimento dosSem-Terra.

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    Algumas hipteses sobre as relaes entre movimentos sociais, juventude e educao

    podem reiterar representaes muito enraizadas nasociedade brasileira que se exprimem em uma pro-funda desconfiana da sociedade civil e de seus ato-res, mesmo que essa desconfiana no aparea re-vestida de elitismo como no interior do pensamentoconservador.

    O ceticismo dominante pode ser traduzido tan-to em uma crena apenas no fortalecimento da aoemanada a partir do Estado que no dialoga e des-conhece as foras sociais, como na incapacidade deobservao e de investigao de processos emergen-tes que, ao serem fluidos e pouco estruturados, di-ficultam uma nova compreenso da capacidade deao dos atores sociais. Essas ltimas observaestornam-se ainda mais importantes, quando se levaem conta que o propsito deste artigo a compreen-so das formas de ao coletiva dos segmentos ju-venis na sociedade brasileira, buscando novos ca-minhos para a investigao.

    A constituio de atores jovense os processos de mutao nas

    formas da ao coletiva

    Parece primeira vista apenas ausncia de sen-satez, ou ao menos, falta de lucidez terico-inves-tigativa, trazer para a discusso o tema dos atoresjuvenis em formao em meio a um quadro adver-so de recesso que acentua a excluso social aliado ao reconhecimento da fragmentao e pul-verizao das aes coletivas de setores mais orga-nizados da sociedade brasileira. Talvez agrave maisainda essa perspectiva, se for considerada a ondade violncia que sempre aponta os jovens como pos-sveis responsveis pelo seu crescimento e, de for-ma menos visvel, o reconhecimento de sua extre-ma vulnerabilidade como vtimas da escalada docrime e do trfico.

    Por outro lado, os segmentos juvenis tm si-do caracterizados, nas ltimas dcadas, pela ex-trema acentuao de seus traos individualistas,pela apatia poltica e pelo desinteresse nas relaescom a esfera pblica; seriam os jovens, assim, ape-nas a expresso radical de uma sociedade que es-

    gotou as modalidades pblicas da construo desujeitos e atores, voltando-se sobre si mesma, emum momento de exacerbao da esfera ntima e deinteresses de natureza individualista (Lasch, 1983,Sennett, 1978).

    Antes de retomar as questes que incidem so-bre o objeto central da reflexo aqui empreendida,torna-se importante reconhecer que os caminhos dainvestigao e das teorias sobre os movimentos so-ciais se diversificaram e exigiram novos aportes dian-te do seu arrefecimento, observado a partir de mea-dos dos anos 80, no s no Brasil como em outrospases, e da emergncia de novas modalidades deprticas e atores coletivos (Scherer-Warren, 1998).

    Mais do que eventuais fatores conjunturaisadversos, algumas das alteraes incidem sobre oaparecimento de fenmenos coletivos marcados pe-la violncia, presente na exasperao de identida-des locais ou tnicas, e pelo crescimento do racis-mo em sociedades desenvolvidas. Ora, esse campodisjuntivo tambm ocorre no interior da ascensodo individualismo que fraciona as identidades e asculturas (Dubet e Martuccelli, 1998, p. 223), in-duzindo, muitas vezes, a formulao de um quadrode reflexo que reduziria o restante das manifesta-es coletivas a um estilhaamento sem princpio, simples formao de um mercado da ao co-letiva, no reconhecendo princpios novos, aindaque frgeis, de construo da democracia (1998).Novas modalidades de ao e de atores tendem aemergir, mas o carter esparso das lutas sociais noimpediria que o agenciamento de dimenses essen-ciais da ao desse conta de sua estrutura de con-junto (idem)7.

    7 Para Dubet e Martuccelli, h lutas unidimensio-nais que comportam mobilizaes com caracterstica sejareivindicativa, seja identitria, seja ainda em torno de temasnormativos e morais. Elas podem proceder seja do merca-do, da integrao social, seja do individualismo moral. Ou-tras lutas seriam ambivalentes tentando combinar as dimen-ses instrumentais e comunitrias ou expressivas e instru-mentais. Outras procuram amalgamar de forma conjuntu-ral todas as dimenses da ao caracterizando-se como ex-

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    Marlia Pontes Sposito

    Seria, pois, pertinente a incluso do tema Ju-ventude8 no mbito das investigaes atuais sobreas aes coletivas e os movimentos sociais no Bra-sil? Esta empreitada propiciaria um olhar matiza-do e rico para abrir novas perspectivas para a com-preenso da escola pblica no seu dilogo/confron-to com os atores coletivos?

    Durante o sculo XX, os estudos sobre jovens,sobretudo a partir da dcada de 20 nos EUA coma Escola de Chicago, privilegiaram o exame dasdisfunes ou anomia para compreender condutasjuvenis prximas da delinqncia ou do crime arti-culadas muitas vezes em torno de grupos denomi-nados gangues.

    Particularmente aps a Segunda Guerra Mun-dial, novas orientaes rompem com essa tradio9

    e enfatizam o potencial contestador e rebelde pre-sente nos segmentos juvenis, dando origem a vriosestudos que examinaram, dentre outras, as moda-lidades de participao estudantil ou suas prticasculturais10. Mas um certo exame permanente da

    condio juvenil enquanto problema social jamaisdesapareceu do horizonte de preocupaes de v-rios setores sociais e da produo acadmica e tal-vez seja essa a sensibilidade atualmente dominante,sobretudo quando os problemas decorrentes da ex-cluso social como o desemprego e a violncia,afetam principalmente os jovens pobres (Abramo,1997; Weinstein, s/d).

    Parte das anlises, cujo modelo simblico mui-tas vezes est radicado em 1968, reconhece o arrefe-cimento do movimento estudantil que atinge gran-de parcela dos atuais alunos do ensino superior emdio, mas no considera o quadro de crise das for-mas tradicionais de ao no sistema poltico insti-tucional que atinge o conjunto da sociedade. Essacrise anuncia, h alguns anos, processos de mutaoque projetariam outras relaes com o campo dapoltica, imprimindo novos significados prprianoo de participao ou de militncia poltica11.

    Se considerarmos essas mudanas de nature-za mais ampla, os jovens no seriam portadores deprticas to excepcionais. Pesquisas realizadas empases europeus, na dcada de 90, confirmaram cer-tas tendncias como: o afastamento dos jovens mas no a negao dos sindicatos, mantendocom essas instituies apenas uma relao instru-mental e de exterioridade (Bauby e Gerber, 1996);a desconfiana em relao aos partidos, mas o reco-nhecimento de um interesse difuso sem a partici-pao correspondente (Ricolfi, 1997)12; e a busca

    11 preciso relembrar que a discusso em torno dosmovimentos sociais, no final da dcada de 60, estrutura umlongo debate terico em torno da crise do sistema polticoinstitucional e da idia da democracia representativa. Taismovimentos expressariam um jeito novo de fazer polticaem face do evidente desgaste das instncias instituciona-lizadas, como os partidos e sindicatos.

    12 A idia de interesse sem a ao correspondente apresentada por Ricolfi, a partir de pesquisa nacional queexamina o perfil dos jovens na Itlia, realizada pelo IARDem 1996. importante reconhecer que esse tipo de inves-tigao no Brasil praticamente inexistente. Pesquisa da

    presses mais episdicas (1998). Por outro lado, a persis-tncia dos conflitos em torno do mundo do trabalho, da lutapela terra e por direitos de justia e cidadania precisa ser re-conhecida, sobretudo na sociedade brasileira. Ao invs deuma concepo evolutiva das formas de luta, considero quea coexistncia de conflitos exprime a simultaneidade dostempos sociais, os seus ritmos diversos e sua mtua intera-o, como apontou Lefebvre (1969) em suas anlises sobrea formao econmico-social, retomada por Martins (1996).

    8 No objetivo deste artigo reconstruir a discussoem torno das ambigidades da noo de juventude exami-nadas em outros trabalhos (Sposito, 1997, 1999). Reiteroapenas o carter scio-histrico do conceito que implica ne-cessariamente a adoo da perspectiva da diversidade paracompreender a heterogeneidade de situaes e experinciasque marcam a condio juvenil na contemporaneidade.

    9 A contribuio original de Mannheim no estudo dosjovens e das geraes tendo em vista o exame do seu poten-cial de revitalizao das relaes sociais, certamente favo-receu para esse novo aporte (1968, 1973, 1982).

    10 Os estudos culturais desenvolvidos em Birminghamconstituem referncia importante no mbito da temtica dassubculturas juvenis.

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    Algumas hipteses sobre as relaes entre movimentos sociais, juventude e educao

    de uma poltica sem rtulos tradicionais que desig-nam posies de direita e esquerda (Muxel, 1997).Inegavelmente, esses estudos recuperam aspectosimportantes para a anlise dos jovens nos anos 90no interior desse grande processo de mutao, masno esgotam suas formas de ao e de compreen-so do mundo contemporneo.

    No Brasil, os estudos sobre juventude tiveramincio a partir das pesquisas sobre o movimentoestudantil na dcada de 60, desenvolvidas por Fo-racchi (1965, 1972).

    Inspirada em seus trabalhos, a produo aca-dmica na rea tanto de Educao como de Cin-cias Sociais, durante as dcadas seguintes, tratoucom menor freqncia do tema, mas com poucovigor terico e inovao, ao tentar compreender asalteraes dessas prticas nos perodos mais recen-tes, marcado por um gradativo enfraquecimento dasformas tradicionais de mobilizao e seu escassopoder de aglutinao de demandas e interesses doconjunto dos estudantes.

    Alguns trabalhos empreenderam investigaessobre os anos 60/70, outros reiteraram anlises des-ses estudos pioneiros, reconhecendo a crise da ca-pacidade mobilizadora estudantil, mas de certa for-ma assumindo como parmetro o modelo da par-ticipao observado em anos anteriores, como japontava criticamente o trabalho de Helena Abra-mo, que analisou a nova cena cultural juvenil dosanos 80 (Abramo, 1994)13.

    Em nosso pas, observam-se claramente as di-ficuldades de compreenso da crise da participaoestudantil presentes em alguns estudos, mas pre-ciso considerar que, ao lado dessa lacuna terica,foi criado um leque de representaes sociais nointerior do senso comum, que constituram comomodelo de ao coletiva de jovens essas prticasde participao, excluindo outras possibilidades deanlise. Helena Abramo, ao fazer a crtica dessasconcepes, examina as novas formas de presenajuvenil nos anos 80 a partir de estudo realizado so-bre punks14 e darks. Ampliando o campo de conhe-cimento sobre os atores juvenis, o trabalho de Mr-cia Regina Costa (1993) investigou uma modali-dade de sociabilidade marcada pela constituio desubjetividades conservadoras, como o caso doscarecas de subrbio15. A pesquisa desenvolvida porSouza (1999) com jovens de Florianpolis investi-gou as novas formas de militncia dos anos 90, ten-tando contrap-las a uma possvel imagem mticaque se ancora no tipo de participao predominan-te nos anos 60.

    Os poucos trabalhos produzidos nos anos 80e 90 sobre jovens em nosso pas j mostraram umalargamento de seus interesses e prticas coletivas,acentuando a importncia da esfera cultural quefomenta mecanismo de aglutinao de sociabilida-des, de prticas coletivas e de interesses comuns,sobretudo em torno dos diferentes estilos musicais.

    UNESCO sobre violncia, realizada com jovens do Rio deJaneiro, demonstra o grau de desconfiana desses segmen-tos diante das instituies do sistema poltico (cf. FSP 25/05/1999).

    13 Dois estudos examinaram as mobilizaes estudan-tis observadas nos anos 90, tentando compreender a suaespecificidade. O primeiro a dissertao de mestrado de-senvolvida no Rio de Janeiro por Moraes (1995) sobre o mo-vimento dos cara-pintadas, que envolveu estudantes doensino fundamental e mdio de escolas particulares. AnneMische (1997) tambm investigou em sua tese de doutora-do o movimento estudantil aps o impeachment de Fernan-do Collor, possibilitando maior visibilidade a algumas enti-

    dades representativas dos estudantes. Seu estudo tenta cons-truir um novo paradigma para a compreenso da identida-de estudantil, dialogando com as anlises de Marialice Fo-racchi, ao apontar as diferenas entre os dois momentos e,por decorrncia, as possveis formas de sua compreenso.

    14 As pesquisas de Janice Caiafa (1985) e Kemp (1993)tambm constituem importantes contribuies para o estudodo fenmeno punk no Brasil.

    15 Outros estudos tentam compreender essas formascoletivas s vezes marcadas por condutas violentas que tmagregado jovens como o caso das galeras funk no Rio deJaneiro (Guimares, 1995) e galeras e gangues em Fortale-za (Digenes, 1998).

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    Marlia Pontes Sposito

    A cena juvenil, na expresso de Abramo (1994), seamplia e diversifica, sendo ocupada por manifesta-es protagonizadas por punks, clubbers, roquei-ros, rappers, adeptos do reggae, funkeiros, entreoutros (Sposito, 1994b; Andrade, 1996; Dayrell,1999; Guerreiro, 1994; Cunha, 1993). Essas aesj acenam com vigor para uma inquestionvel moti-vao dos jovens em relao aos temas culturais emoposio ao seu afastamento das formas tradicio-nais de participao poltica. Alguns grupos no selimitam aos aspectos centrais de sua atividade liga-da msica ou outras formas de expresso artsti-ca, mas tambm se dedicam aos trabalhos comuni-trios, envolvendo-se em atividades nos locais demoradia em interlocuo com alguns segmentos or-ganizados da sociedade civil.

    Mas preciso admitir a existncia de signifi-cativa diversidade de prticas coletivas entre os jo-vens, ainda pouco visveis e escassamente investi-gadas. Algumas mais antigas e portadoras de umnovo significado dizem respeito intensa produoe circulao de meios de informao recobertos pe-los fanzines, inovao da cultura underground punkdos anos 70 que perdura at os dias atuais. Aindano interior de interesses ligados informao e co-municao esto as rdios comunitrias, a produ-o de vdeos e, de forma mais recente, a formaode redes via Internet, agregando as mais diversasmotivaes.

    Inmeros agrupamentos de natureza mais flui-da podem nascer a partir do local de moradia envol-vendo o lazer, entretenimento e esporte como estu-dou Nakano (1995) em favela da regio da Gran-de So Paulo, ou a partir da ocupao de zonas maiscentrais da cidade, em geral no perodo noturno,transformando o tipo de interao com o tecidourbano. So os passeios de bicicleta, as caminhadas,os grupos de skate e de escalada em viadutos e pon-tes que negam o valor de troca predominante noespao urbano e os ritmos da metrpole voltadapara o circuito de reproduo do capital, afirman-do a dimenso pblica da cidade a partir do uso eda fruio (Lefebvre, 1978a, 1978b; Arroyo, 1997).As formas so fluidas, muitas vezes efmeras, mas

    traduzem importante marco de sociabilidade juve-nil ainda pouco estudado16.

    Outra modalidade de experincia coletiva en-tre jovens que emerge com maior freqncia temsido um certo associativismo em torno de aes vo-luntrias, comunitrias ou de solidariedade, com-preendendo temas diversos como o combate exclu-so, meio ambiente, qualidade de vida e sade (in-formao sobre consumo de drogas, DST e AIDS).Menos investigadas, ainda, tm sido as novas formasde aglutinao juvenil que nascem do mundo dotrabalho, ultrapassando os marcos tradicionais darelao assalariada e da participao sindical; dentreelas destacam-se o interesse de jovens em formarempresas juniores e as cooperativas de autogestosolidria. No conjunto de questes aqui apontadassobre as vrias modalidades de insero dos jovensna esfera pblica, no esto contempladas as dimen-ses do mundo rural que tm realizado, por meiode seus atores, importantes movimentos de invenocultural no interior da luta pela terra17.

    Essa rpida descrio das aes, preservandoa diversidade dos interesses juvenis, prope desa-fios para a sua compreenso, exige novas aproxi-maes tericas e relativo esforo analtico, pois v-rias delas vm recobertas por outros fenmenos,como a violncia e situaes de risco18, criando umterreno difcil e muitas vezes movedio, sobretudo

    16 Tedrus (1996) estuda as formas coletivas de socia-bilidade que nascem em torno do trabalho de adolescentese jovens desenvolvido nas ruas e Almeida (1996) contem-pla as interaes de alguns grupos juvenis rappers e as-trnomos amadores no municpio de Diadema com opoder pblico local, tendo em vista assegurar formas diver-sas de apropriao coletiva da cidade.

    17 Andrade (1998) estudou a formao da conscin-cia poltica dos jovens nos assentamentos, constituindo umdos raros trabalhos que examinam a temtica da juventudeno campo.

    18 Neste caso o estudo das torcidas organizadas de-senvolvido por Toledo (1996, 1997) e a pesquisa sobre gru-pos de grafiteiros e pichadores (Durand, 1997), surfistas emtrens ou nibus constituem eixos investigativos importantes.

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    Algumas hipteses sobre as relaes entre movimentos sociais, juventude e educao

    quando se pretende superar os esteretipos e as ex-plicaes lgico-causais que buscam quase sempreentender, por meio de simplificaes apressadas,processos que aparecem de forma matizada e dife-renada na realidade social.

    Alguns eixos articuladores de aescoletivas protagonizadas por jovens

    Melucci (1991) inspira um bom ponto de par-tida para a construo de hipteses em torno dasaes coletivas de jovens, quando examina os con-flitos sociais contemporneos, pois considera suasformas mltiplas, variveis e os nveis diversos deinterveno no social19. Ressalto, preliminarmen-te, que um movimento social um objeto construdopela anlise e no coincide com as formas empricasda ao. Nenhum fenmeno de ao coletiva ex-pressa uma linguagem unvoca ou desvela, de ime-diato, todas as dimenses em suas prticas, exigin-do do pesquisador um intenso trabalho de anlise(Touraine, 1987; Melucci, 1991). Por outro lado,a perspectiva aqui adotada, especialmente por tra-tar-se de atores jovens, pressupe que pode ocor-rer a superposio entre comportamento desvian-te e movimentos sociais. As formas de controle segeneralizam, permeando a vida cotidiana e as es-colhas existenciais, e isto torna mais difcil, no planoemprico, a distino entre protesto e marginali-dade.... A oposio adquire, ento, facilmente ascaractersticas do desvio de comportamento. Sejaporque ela muitas vezes obra de uma minoria; sejaporque tende a rejeitar a mediao regulada pelosistema poltico; seja, enfim, porque o controle so-bre a informao permite aos aparatos estigmati-zarem cada conduta conflitual, tornando frgeis oslimites que a separam da patologia (Melucci, 1991,

    pp. 67-68). Para Alain Touraine quando mais nosremontamos ao passado maior a distncia entreas foras opositoras as quais so principalmen-te novas classes dirigentes em ascenso e as for-as excludas, consideradas como impuras, crimi-nais e out-groups. No vivemos neste momento ummovimento inverso? Quer dizer, hoje se mesclam oopositor e o desviado, de maneira lgica se pensar-mos que o dominador impe determinada ordeme normalidade sociedade inteira (Touraine, 1987,p. 164).

    Essas observaes tornam-se importantes por-que um mesmo fenmeno apresenta modalidadesdiversas de expresso, muitas delas caracterizadaspela violncia e, por essas razes, a conduta coleti-va em abstrato no pode definir a priori se ocorreuma prtica dilacerada voltada para a destruio doator ou se h pelo contrrio sinais de um estrutu-rao positiva de conflito. Fenmenos como o rap,o funk e a prtica da pichao ou do grafite20 al-gumas vezes podem ser expresses da violncia ouda delinqncia juvenil e da ausncia de movimen-tos coletivos como, tambm podem, em outras si-tuaes, desvelar o seu contrrio, ou seja, a forma-o de novos atores coletivos. Por essas razes, qual-quer aproximao generalizante, para afirmar quetodas as prticas envolvidas nesses fenmenos co-letivos juvenis seriam expresses ou da anomia so-cial, ou sinais do potencial contestador e rebelde dojovem na esfera pblica, cria mais dificuldades doque auxilia na compreenso de realidades e conjun-turas sociais complexas.

    Melucci tambm alerta para questes impor-tantes no estudo dos jovens enquanto protagonis-tas de conflitos. Para tanto, transcrevo suas obser-vaes:

    A interrogao implcita nas diversas pesquisas

    sobre a condio juvenil se os jovens so sujeitos

    potenciais de ao coletiva antagonista. A pretenso19 No passado, ocupar-se dos conflitos significava

    analisar a condio social de um grupo e deduzir dela as cau-sas da ao. Hoje, necessrio identificar o campo de con-flitos em nvel sistmico e explicar, pois, como certos gru-pos sociais interferem em tal campo (Melucci, 1991, p. 3).

    20 Estabeleo aqui a distino entre essas prticas, umavez que a primeira est mais prxima das condutas de ris-co e a segunda, das expresses artstico-culturais.

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    Marlia Pontes Sposito

    ou a esperana de encontrar resposta para esta in-

    terrogao a partir de uma compreenso aprofunda-

    da da condio e da cultura juvenil na sociedade con-

    tempornea. Uma similar esperana , porm, desi-

    ludir-se porque se encontra com um problema insol-

    vel: como se passa da condio para a ao, como se

    forma um movimento que tem por atores os jovens?

    No se sai do impasse seno invertendo os ter-

    mos do problema. A ao no se deduz pela condio

    social. Ocorre, ao contrrio, mudar completamente o

    procedimento. necessrio identificar em nvel sist-

    mico os problemas que esto no centro dos conflitos

    sociais, os campos sobre os quais se joga o confronto

    para o controle de recursos decisivos. S a partir da-

    qui possvel perguntar-se quais elementos da con-

    dio juvenil so suscetveis de ativar, em certas con-

    dies conjunturais, uma ao coletiva, transforman-

    do este grupo em ator de conflitos. (Melucci, 1991,

    p. 84, traduo livre)

    Ao analisar as formas de ao coletiva pro-tagonizadas por jovens e de suas possveis relaescom o campo de estudo dos movimentos sociais,parece mais apropriado trat-las como redes con-flituosas que seriam formas da produo culturalou seja, ativao de condutas em torno de confli-tos, mesmo que em prticas ainda emergentes (Me-lucci, 1997, p. 6)21. Por essas razes, procuro re-constituir um primeiro campo conflitivo que aglu-tina os jovens, propiciando a formao de atores,a partir do plo consumo e produo cultural. Aemergncia de conflitos sociais em torno da infor-mao, do campo simblico e da extenso dos me-canismos de dominao e de disputa do controle dosrecursos culturais tem ocupado o interesse dos es-tudiosos dos movimentos sociais no interior dassociedades complexas e planetrias. O intenso cres-

    cimento da indstria cultural a partir da SegundaGuerra Mundial e a formao de um mercado con-sumidor jovem j foram estudados por vrios au-tores. A esfera do consumo cultural, momento im-portante no circuito das trocas sociais, seria, paraalguns estudiosos, propiciadora da construo dasidentidades juvenis (Madeira, 1986), sobretudodiante do enfraquecimento dos eixos que articula-riam prticas de identidade a partir do mundo dotrabalho (Paiva, Potengy e Guaran, 1998).

    A lgica de mercado que induz e subvencionao consumo, e a formao de um pblico vido denecessidades construdas em torno de objetos e sm-bolos destinados apenas sua fruio no esgotam,no entanto, o circuito cultural que pode caracterizarorientaes e prticas dos segmentos juvenis. Noobstante a fora do mercado, como afirma Canclini(1996), no descabido vincular consumo e cida-dania, pois preciso desconstruir as concepesque julgam os comportamentos dos consumidorespredominantemente irracionais e as que somentevem os cidados atuando em funo da raciona-lidade dos princpios ideolgicos (p. 21). Para esteautor, a seleo e a apropriao de bens so feitasa partir de uma definio do que se considera pu-blicamente valioso; expressam, tambm, os modoscom que nos integramos e nos distinguimos nasociedade, com que combinamos o pragmtico e oaprazvel (idem).

    Mas a diversidade de interesses que agregamos jovens inclui, alm do consumo, a produo cul-tural que pode ser observada na formao de gru-pos musicais22 ou de outras formas de expresso,como a dana, o teatro e a poesia.

    22 As escolhas dos estilos no aleatria e poder ar-ticular vrias orientaes. A adeso pode decorrer da ori-gem social: h estilos que tradicionalmente predominamentre jovens de classes mdias como o rock, ou passam acontar com a sua preferncia como o pagode; h outros quesensibilizam aqueles que vivem no limiar da excluso, comoo rap, o pagode e o funk. H modalidades que mobilizamde forma clara os jovens de origem negra e pobre como opagode e o rap. Ocorre tambm uma produo cultural alia-

    21 Os estudos pioneiros de Blumer sobre as condutascoletivas tambm auxiliam na compreenso de alguns des-ses fenmenos, quando trata do tema dos movimentos ex-pressivos que no contemplam em suas formas de ao ob-jetivos instrumentais imediatos (Blumer, 1962).

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    Algumas hipteses sobre as relaes entre movimentos sociais, juventude e educao

    As inmeras modalidades de aglutinao ju-venil em torno da msica tm possibilitado a cons-tituio de identidades comuns, de linguagens e c-digos especficos que renem jovens em grupos, ca-nalizando interesses e formas de compreenso darealidade social.

    Muitas das iniciativas vm mescladas por uminteresse profissionalizante, pela busca de inserona indstria cultural, do sucesso e da performance;outras no esto facilmente dissociadas de prticasviolentas. No entanto, preciso reconhecer que es-tilos musicais, sobretudo aqueles que se disseminamentre jovens pobres e em processo de excluso, quevivem no mundo das grandes cidades, no se redu-zem a um mecanismo habitual da sociedade deconsumo ou mercado jovem (Dubet, 1987; Mar-tins, 1975). De alguma forma, a expresso musi-cal traduz e testemunha uma certa experincia so-cial que se transforma no seu fundamento (Spo-sito, 1994a, 1994b).

    O momento da produo compreendido naconstituio dos grupos musicais, por exemplo, quecriam msicas, inventam letras, acionam o corpoenquanto canal de expresso recria as possibili-dades de entrada no circuito das trocas culturaispara alm da figura do espectador passivo que con-diciona o modo dominante de mobilizao dos re-cursos culturais da sociedade atual, no interior es-trito da lgica de mercado. Talvez, e a residiria oseu aspecto mais relevante, tais prticas incidamsobre a prpria constituio de sujeitos que am-pliam a sua esfera de autonomia, de reflexo e deinterao com o mundo23. Como afirma Touraine,

    a partir do sofrimento do indivduo dilaceradoe da relao entre sujeitos que o desejo de ser su-jeito pode se transformar em capacidade de ser umator social (Touraine, 1997, p. 107).

    Sendo assim, para alm de uma compreensoanacrnica e segmentar dessas manifestaes queenvolvem a produo de estilos musicais, precisolevar em conta, como afirma Lipsitz, ao examinara cultura juvenil nos anos 90, a importncia dessasmanifestaes presentes em um ambiente de criseque emerge com os processos de desindustrializa-o, de reestruturao econmica e com o racismo.Em decorrncia, alerta para o equvoco em trat-las com os mesmos parmetros que orientaram asanlises sobre as manifestaes culturais dos anos60, pois essas novas modalidades constituiriam osespaos a partir dos quais os jovens falariam de simesmos, de sua solido e dos processos de exclu-so a que so submetidos24.

    Por essas razes, em que pese a sua diversida-de, essas prticas coletivas no poderiam ser lidas,em sua totalidade, como mero aparato reativo aoprocesso de marginalizao ou de resposta crise,na linha de um raciocnio ancorado na noo deanomia. Parte delas se d, tambm, no campo defenmenos coletivos emergentes de sociedades comalta densidade de informao, onde a produo nosomente diz respeito aos recursos econmicos, masinveste em relaes sociais, smbolos, identidade enecessidades individuais, ampliando os aparatos dadominao (Melucci, 1991, p. 52).

    da s peculiaridades do espao urbano cuja lgica social desua apropriao no deixa de ser intrigante. Quais seriamas razes da fora do rap em So Paulo e da rpida disse-minao do funk na cidade do Rio de Janeiro?

    23 Embora de difcil definio, como afirma Morin(1995), a noo de sujeito no se confunde com a noo deindivduo. Ela se constri a partir das idias de distncia ede reflexividade, pois pressupe a capacidade de distan-ciamento e de crtica dos papis sociais. Compreende o es-pao da reflexo, sendo, assim, um princpio de autonomia

    que resulta do trabalho de algum sobre si mesmo (Dubete Wieviorka, 1995). Como afirma Alain Touraine o sujeito aquele que deseja ser um indivduo capaz de criar uma his-tria pessoal, de dar um sentido ao conjunto das experin-cias da vida individual, esta ltima construda, a partir dasdeterminaes, pela procura da liberdade e pela experin-cia de resistncia (1995).

    24 A cultura jovem atual procede de uma premissadiferente. Ao invs de permanecer fora da sociedade, elatenta trabalhar atravs dela, explorando e exacerbando suascontradies em criar imprevisveis possibilidades para ofuturo (Lipsitz, 1994, p. 25, traduo livre).

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    Marlia Pontes Sposito

    Duas expresses importantes, como exemplo,podem ser localizadas no rap e no funk. No se trataaqui de resgatar suas formas de ao e as diferen-tes sensibilidades que cada um dos estilos aciona25,o modo como eles atraem e motivam o interesse ju-venil, as prticas de lazer e de entretenimento quegeram e o seu enraizamento social e tnico, pois socampos da produo cultural nascida nas periferiasde metrpoles como So Paulo, Fortaleza, Braslia o rap ou nos morros do Rio de Janeiro, comoo funk, traduzindo o mundo dos pobres e a expe-rincia de dominao vivida sobretudo pelos negros.No se trata, tambm, como j anunciado, de qual-quer intento generalizador que nega a complexidadedessas manifestaes, sobretudo no Rio de Janeiro,que encerra, em alguns casos, inegveis episdiosde violncia.

    Importa ressaltar, neste momento, que essesfenmenos indicam um modo peculiar de negaode mecanismos de dominao social e tnica queatinge os setores juvenis mobilizados em torno des-ses estilos. Alguns grupos buscam um mergulho nacultura de massas no a sua negao ou recusa, mas como produtores e no apenas consumido-res de produtos que se vendem no mercado. Dis-putam espaos na lgica da reproduo cultural,criando caminhos alternativos e alimentando umacerta cultura underground, tpica dos movimentosculturais em sua fase inicial.

    Ambos, mas de modo mais explcito no funk,trazem aspectos importantes para a anlise, dian-te do seu carter inicialmente belicoso, quando osbailes tornaram visveis as brigas entre as galeras,muitas delas disputando e assegurando territriosprprios de ao. Dessa forma, as fronteiras entrea manifestao juvenil e o mundo do crime e dotrfico no Rio de Janeiro, muitas vezes tnues, im-

    puseram uma certa recusa social do fenmeno queinduziu a formao de um campo novo de confli-tividade capaz de provocar em parte dessas gale-ras juvenis formas diversas de organizao, de ne-gociao com o mundo das instituies, incidindosobre a prpria necessidade do reconhecimento desua legitimidade26.

    O rap desvela sua produo cultural sobretudonas letras das msicas que denunciam a realidadeda excluso do jovem pobre, sobretudo aquele deorigem negra. A fala spera, que manifesta a friae a ira, assim como o tom duro e rude das letras,revela o desejo de resgatar o direito da palavra e dainveno criadora sob a forma de relato malcom-portado e teatralizado do drama dirio da vida27,muitas vezes negando os parmetros dominantes dogosto e do consumo musical. Sua expresso socialpredominante articulada a uma denncia da ex-cluso e do racismo, visveis na violncia policial ena falta de alternativas para os jovens, sobretudoos pobres e negros. O rap uma produo culturalque expressa certa liminaridade, como se produto-res de letras e pblico igualmente jovem esti-vessem, de modo constante, no limiar entre doismundos, o da legalidade, das instituies legitima-das pelas foras sociais (o trabalho, a escola, entreoutras), que no apresenta alternativas eficazes deincluso, e o do crime ou do consumo e do trficode drogas, que oferece vantagens fceis e imediatas,

    25 Sobre o funk consultar Vianna, 1988; Guimares,1995; Midlej e Silva, 1995; Souto, 1997; Cecchetto, 1997.Sobre rap e hip-hop, consultar Herschmann, 1995; Sposi-to, 1994a, 1994b; Andrade, 1996; Digenes, 1998; Guasco,1999.

    26 Importante lembrar que, no ms de junho de 1999,centenas de grupos funk saram s ruas na cidade do Riode Janeiro para reivindicar o seu reconhecimento como mo-vimento cultural.

    27 A interessante pesquisa que vem sendo desenvolvi-da por Pedro Guasco (1999) tem procurado resgatar os ele-mentos de uma esttica da periferia presente no rap. Partedas reflexes aqui esboadas se inspira nos dados prelimi-nares de seu trabalho e nas discusses frutferas com Ma-ria Lcia Montes e Jos Guilherme Magnani por ocasio doexame de qualificao de Pedro. Transformado atualmen-te em estilo musical que ultrapassa os limites das periferiasurbanas, o rap tambm encontra adeso em outros setoressociais e, gradativamente, o seu estilo e trajes passam a serincorporados no consumo jovem.

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    Algumas hipteses sobre as relaes entre movimentos sociais, juventude e educao

    mas acenam, como destino, para a morte precoce.Assim como no funk, a violncia se faz presente,constituindo a matria bruta dos contedos das m-sicas que retratam a experincia vivida, de tal for-ma que a adeso ou a recusa ao ilegal, ao marginalconstitui momentos que s vezes se imbricam.

    As formas mais organizadas de articulao dospequenos grupos e as posses crew impulsio-nam a ao de seus membros em novas direes,sobretudo aquelas configuradas como comunitriase de apoio a outras iniciativas de grupos organiza-dos dos bairros.

    A variedade dos grupos, o seu carter mais oumenos violento, a diversidade de experincias quepropiciam geram ritmos e possibilidades diferen-ados; constituem, de modo tenso e conflitivo, umcampo inovador da cultura, especialmente da m-sica e da dana, com conseqncias diversas no m-bito do fortalecimento de novas identidades indi-viduais e coletivas. Alargam-se, ao mesmo tempo,a possibilidade de auto-reconhecimento28, de refle-xo e compreenso do mundo na condio de su-jeito e a capacidade de estruturao do agir coleti-vo que, ao se iniciar pelas prticas culturais ou delazer, , muitas vezes, ampliado para outras dimen-ses da vida. Podem decorrer desse tipo de mobi-lizao cultural, mesmo que de forma fragmenta-da e incipiente, um outro modo de interao comas instituies socializadoras, como a escola, e novaatribuio de significados ao trabalho ligada idiade autonomia, cooperao e de solidariedade nopredominante nas condies atuais do emprego29.

    Uma segunda polaridade, bastante prxima damanifestao cultural em torno da msica, pois ca-minha de forma integrada e concomitante, reside natentativa de construo de pautas de significadosalternativos s interpretaes dominantes. Resga-ta-se a importncia da palavra, como o caso dosrappers, da circulao de idias pela imprensa alter-nativa, como os fanzines e algumas das iniciativasem torno das rdios comunitrias, ou um outro sig-nificado para o jogo do corpo pela dana. Na apro-priao da palavra evidencia-se a necessidade de serecorrer informao, ao conhecimento e, assim,propiciar uma explicao diferente daquelas pro-duzidas pelos grandes veculos formadores da opi-nio pblica que asseguram uma certa homogenei-dade das interpretaes30: a cultura juvenil afirmacom fora as necessidade comunicativas, mas rei-vindica tambm o direito de decidir quando e comquem se comunicar (Melucci, 190, p. 74).

    28 A constituio de uma identidade marcada pela au-to-estima, pelo reconhecimento da dimenso tnica o po-vo negro percorre tambm algumas ambigidades, poistanto pode ocorrer a abertura dessa identidade coletiva parao campo conflitivo das relaes de desigualdade e de domi-nao, como pode provocar, em algumas situaes, umaconduta regressiva. A este respeito consultar as anlises de-senvolvidas por Touraine (1987) e Castells (1999) sobre aidentidade.

    29 As redes paralelas que recobrem novas modalida-des de profissionalizao para esses setores juvenis, conde-

    nados ao subemprego, aos processos mais permanentes deexcluso do mundo do trabalho ou, na melhor das hipte-ses, ao trabalho precrio, so muitas vezes mecanismos im-portantes de agregao desses jovens.

    30 Caminho em direo diferente de Melucci, quan-do este autor introduz a idia de que o silncio do joveminstala uma dimenso antagnica com um mundo feito depalavras. No entanto, o autor reconhece que o silncio oua linguagem fragmentada, silbica, incoerente recobrem ou-tras representaes pois indicam a afirmao de uma outrapalavra que no aceita ser mais separada das emoes (Me-lucci, 1990, p. 86, grifos meus). Quando retomo a impor-tncia da palavra, estou considerando uma outra forma deexpresso, diversa de algumas regras presentes na raciona-lidade instrumental dominante. Penso que, como o silnciodo jovem descrito por Melucci, no jogo corporal presentena msica, sobretudo nas manifestaes funk, outras lingua-gens so anunciadas e se opem s rgidas demarcaes entrea razo e a emoo. Uma certa recusa est pressuposta, poisa racionalidade impessoal dos aparatos no d espao paraas emoes, convive com limites separados nos quais o sis-tema autoriza a fruio regulada de eros e do delrio. Nomodo dominante de expresso, os espaos e os tempos daexperincia emocional, afetiva, corprea so circunscritosdistintamente, rigidamente separados daqueles da palavraracional (Melucci, idem).

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    Marlia Pontes Sposito

    Os dois eixos, sucintamente descritos, expri-miriam conflitividade tpica das sociedades comple-xas que atinge os jovens, pois questionam os circui-tos da cultura e da informao enquanto agnciasde dominao. No entanto, vale a pena reiterar queo plano simblico dessas orientaes que criam an-tagonismos e significados divergentes em torno deum campo comum de historicidade, no se desligade outras relaes sociais, como se a cultura se ins-crevesse em uma esfera autnoma desvinculada dosprocessos econmico-polticos que situam a gran-de massa dos jovens como excludos, ou includosde modo subalterno (Martins, 1997), da riquezaproduzida socialmente e dos aparatos de poder.

    Um terceiro eixo, menos investigado ainda,trata da ao voluntria e dos movimentos que en-volvem prticas de solidariedade, que vm sensibi-lizando um conjunto crescente de jovens. Constituiobviedade a insuficincia das recorrentes explica-es em torno da filantropia (leiga ou religiosa) quemobilizaria setores privilegiados em aes assisten-ciais voltadas para os pobres e excludos. Muitopouco se investigou sobre essa modalidade de aoque sensibiliza vrios segmentos da sociedade e re-ne um conjunto no desprezvel de dificuldades poissua prtica concreta vem revestida, como qualquerao coletiva ou movimento, de mltiplos signifi-cados (Isambert, 1996; Melucci, 1991, 1994, 1996).Enquanto categoria sociolgica, a ao voluntria aquela que implica a adeso livre a uma formade solidariedade coletiva e o pertencimento a umarede de relaes da qual se participa por escolha(Melucci, 1991, p. 100). A gratuidade dos serviosofertados revela o fato de que os benefcios econ-micos no constituem a base da relao entre os queparticipam. Como qualquer relao social, no es-to desconhecidas as possveis retribuies simb-licas, de prestgio, auto-estima e poder presentes naao voluntria.

    Mas a ao voluntria envolveria, tambm, oaltrusmo e a responsabilidade, exprimindo umamodalidade de participao nos problemas do mun-do, sobretudo diante dos que so excludos, daque-les que sofrem ou so privados de alguns recursos

    (Melucci, 1994. p. 117). Seu fundamento, recobertopela idia do dom, explicita uma dimenso simb-lica que diz respeito pergunta, muitas vezes insur-gente nos tempos atuais, por que ocupar-se como outro?. Quando as relaes dominantes estomarcadas estritamente pela lgica do interesse oudo utilitarismo, esse tipo de indagao aponta umcampo de conflitos importantes em torno de valo-res antagnicos31.

    A sensibilidade juvenil para a prtica da aovoluntria ainda est para ser investigada, pois mo-tiva no apenas os jovens oriundos de camadas m-dias, sobretudo estudantes, mas tambm aquelesque se encontram no prprio limiar da excluso,como o caso de grupos musicais formados em tor-no do rap. O levantamento das iniciativas mais re-correntes protagonizadas por grmios estudantis,principalmente na educao bsica (particular oupblica), revela um interesse por esse tipo de ao,manifestado em quadro bastante diversificado deprticas, que podem compreender tanto campanhascomo servios voluntrios. Explicita-se, assim, umcontraste significativo (e uma inevitvel distncia)com a experincia de organizao e mobilizao dasentidades estudantis que congregam as lideranas,adeptas de um militantismo politizado e articula-do em torno dos temas tradicionais do movimentoestudantil.

    Buscando reunir alguns elementos para esbo-ar uma resposta diante do interesse juvenil pelaao voluntria, aponto aqui duas especficas orien-taes presentes nessas iniciativas: a primeira dizrespeito a uma possibilidade de ir alm da denncia,da crtica, privilegiando o agir, como se a mera de-

    31 H estudos recentes sobre movimentos, protago-nizados por adultos e mesmo por jovens, voltados para aquesto da criana e do adolescente em situao de exclu-so cujo eixo articulador da ao no diz respeito a moti-vaes ou ganhos exclusivamente individuais de seus inte-grantes (Tommasi, 1996, Marques, 1999, Grandino, 1999).

    Sobre trabalho juvenil voluntrio consultar Novaes(1996).

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    Algumas hipteses sobre as relaes entre movimentos sociais, juventude e educao

    nncia ou a crtica no dessem conta da aspiraode ser ator na sociedade. Essa motivao traduz umcaminho voltado para uma modalidade concreta dedescoberta de um alter e da inevitvel idia de res-ponsabilidade e solidariedade que a acompanha.

    A segunda orientao exprimiria uma dimen-so simblica relevante na temporalidade que en-volve a ao voluntria, pois ela resgata o presentecomo momento fundamental capaz de articular pro-jetos e utopias de novas relaes. As lutas de gera-es jovens estudantis da dcada de 60 foram pro-fundamente marcadas por uma concepo de futuro uma nova sociedade a ser construda, a fora daidia da revoluo a ser alcanada aps um mo-mento forte de ruptura com a velha ordem.

    Hoje, as relaes entre passado e futuro sofre-ram profundas alteraes. As sociedades complexasintroduzem diferenciaes e descompasso no ritmodos tempos, como o tempo linear e cclico analisa-do por Lefebvre (1972), o tempo objetivo e o tem-po da experincia subjetiva (Melucci, 1992). Vive-mos, como afirma Lechner (1990), e de modo cadavez mais dramtico, o tempo como uma seqnciade acontecimentos, de conjunturas, que no chegama se cristalizar em uma durao, quer dizer, umperodo estruturado de passado, presente, futuro.Vivemos um presente contnuo (idem, 1990 p.113). O presente, sobretudo para os jovens, tor-na-se uma medida inestimvel do significado daexperincia de cada um de ns (Melucci, 1997, p.8). A dissoluo dos indivduos no presente tambmtem sido examinada pela literatura diante da ausn-cia de perspectivas, pois os seres humanos no po-dem deixar de recordar e de projetar-se em direoao futuro, no h vida humana sem memria e semprojeto (Melucci, 1992). Mas se essa nova experin-cia de tempo desmancha certezas e projetos ao frag-mentar ainda mais os indivduos, no seria poss-vel recuperar na dimenso dessa temporalidade osentido do projeto?

    Mesmo que de forma fragmentada, fluida einstvel, na ao voluntria protagonizada pela ju-ventude h uma espcie de antecipao da utopia,anunciando hoje, e de forma proftica, uma outra

    possibilidade da vida em conjunto. Essa motivaoque emerge nas sociedades complexas e que encon-tra nos segmentos juvenis uma disponibilidade, mes-mo que difusa, conteria elementos antagonistas por-que desafiaria o poder, ao inverter a lgica domi-nante instrumental, construindo alternativas de sen-tido. Na experincia do agir altrustico, na apaixo-nada ao voluntria est presente uma recusa daracionalidade do clculo, da eficincia da tcnica,da maximizao da relao fins e meios que se ope gratuidade do dom (Melucci, 1991).

    Finalmente, considerando que se trata nestemomento de levantar hipteses para a pesquisa so-bre os campos possveis de conflito, resta examinar,de modo sucinto, o mundo do trabalho. Atingidosde forma mais intensa pelo desemprego em nossasociedade, os jovens vm enfrentando dificuldadesno desprezveis de insero profissional, ocorren-do um amplo processo de desassalariamento, comoanalisa Pochmann (1998).

    As dificuldades de organizao dos trabalha-dores assalariados em conjunturas de desemprego,a crise do sindicalismo, a emergncia de modalida-des de ocupaes novas e diferentes do empregoassalariado industrial j tm sido objeto de vriosestudos. A adeso dos jovens a uma forma de par-ticipao sindical via mundo do trabalho tem sidofraca mesmo para aqueles que hoje vivem a reali-dade cotidiana da fbrica. No obstante a impor-tncia do trabalho na constituio da sociabilida-de humana, j reconhecida a dificuldade que essaatividade tem imposto para constituir atores jovens,sobretudo quando o emprego assalariado e indus-trial no ocupa a maior parte do contingente juve-nil que integra a populao economicamente ativa.No entanto, por outros caminhos, a questo do tra-balho poder vir a ser propiciadora de novas pr-ticas e, talvez, de um campo novo de conflito so-cial: as recentes experincias que nascem das for-mas de cooperao e autogesto que esto envol-vendo alguns segmentos juvenis. Aparecendo comouma alternativa ao desemprego, as iniciativas tam-bm contemplam novas concepes em torno dotrabalho e de suas formas de sociabilidade. As an-

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    Marlia Pontes Sposito

    lises desenvolvidas por Singer (1998) apontam umconjunto de valores que vem sendo construdo: ex-cluso imposta pelas novas modalidades da acumu-lao se responderia com prticas de incluso; competio como regra bsica do mercado seriacontraposta idia da solidariedade; e, diante doisolamento e da fragmentao dos indivduos se for-taleceria a aglutinao32. A interao entre as pr-ticas culturais e as experincias solidrias de traba-lho passam tambm a ocorrer, uma vez que algunsgrupos culturais ampliam suas referncias para aao e tentam, assim, uma outra forma de integra-o no mundo do trabalho33.

    * * *

    Esse horizonte de conflitos possveis no inte-rior da ao coletiva juvenil deve ser reconstitu-do analiticamente no interior de experincias di-versas que se apresentam, na maioria da vezes, demodo fluido, disperso e submerso. Tal como Me-lucci (1991, 1996) aponta em seus estudos sobreos novos movimentos sociais, uma rede de intera-es tem caracterizado essas prticas, marcadaspelo intenso grau de trocas sociais que propiciama construo de identidades comuns, de sentimen-tos de pertencimento e de canais de expressividade.

    Os momentos de visibilidade so espordicose respondem a problemas especficos, pois no hindcios de uma unificao em torno de um atorsocial privilegiado ou de apenas uma nica dimen-so do sujeito; os movimentos so protagonizadospelas variadas formas que articulam os interessesjuvenis, sejam eles estudantes, rappers, skatistas,negros etc. Essa multiplicidade de formas pode ga-nhar visibilidade em algumas conjunturas ou emexperincias de organizao de redes articuladas,sendo bem-sucedidas quando a diversidade e a au-tonomia dos grupos so preservadas, possibilitan-do a manuteno de mecanismos permanentes deconstituio da identidade coletiva de cada um dosgrupos envolvidos34.

    Por outro lado, ocorre o desenvolvimento deformas mltiplas de participao onde o sujeito in-terage em vrios grupos sem uma adeso integral etotal a apenas um, embora seja possvel identificaruma forma de pertencimento que se torna s vezesdominante. Essas prticas configuram o que algunsautores tm estudado como formas novas de en-gajamento poltico e social em oposio idia deuma militncia total (Barthlmy, 1994). Mais ain-da, qualquer aspecto da vida que envolva a ao co-letiva no se desliga de uma busca de realizao pes-soal. Tanto a dimenso coletiva como a individualse integram em uma mesma configurao que inci-de sobre as individualidades, pois o ator coletivo eo sujeito se constrem juntos (Touraine, 1997).

    As dificuldades de constituio da ao cole-tiva juvenil no so poucas e tendem a ser atenua-das quando uma rede de apoio se consolida, querpela ao de ONGs, quer de movimentos sociais ousindicatos. Os recursos oferecidos por atores da so-ciedade civil podem retirar o grupo de seu isolamen-to ou fragmentao, mas criam, de modo rico, umnovo campo de conflitos que passa a exigir nego-

    32 Grupo de estudantes universitrios em So Paulo,com experincias de vida nos bairros da periferia da cida-de, criaram uma ONG NAPES (Ncleo de Ao e Pes-quisa em Economia de Solidariedade) para apoiar e de-senvolver projetos em torno de empresas ou cooperativasgeridos pelos trabalhadores. Parte das iniciativas foi volta-da para estimular o desenvolvimento de experincias que jestavam em andamento. (Folha de S. Paulo, Folhateen, p.7-3, 26/07/1999). A ANTEAG tambm tem propiciado aformao de cooperativas ou empresas de autogesto, algu-mas delas com a presena de jovens.

    33 Para Dayrell a produo musical juvenil dialoga,tambm, com o mundo do trabalho. quando os jovens daperiferia constrem o sonho de sobreviver atravs da m-sica, esto tambm reivindicando uma nova insero nomundo do trabalho, marcada por motivaes de naturezapessoal que contemplam a paixo e a busca de autonomia(Dayrell, 1999).

    34 Scherer-Warren (1998), analisando as tendnciasdas teorias contemporneas sobre os movimentos sociais,aponta o carter disperso das prticas sociais, autnomasentre si mas abertas ao intercmbio e cooperao.

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    Algumas hipteses sobre as relaes entre movimentos sociais, juventude e educao

    ciaes. O movimento hip-hop em So Paulo cons-titui um bom exemplo dessa interao, quando en-controu tanto nos movimentos negros como em al-gumas ONGs apoio para uma melhor estruturaode suas atividades. No entanto, no interior de umquadro comum de interesses articulados em tornoda luta contra o racismo, emergem variadas concep-es sobre as prticas que exprimem, entre outras,as diferenas geracionais, pois trata-se do encontrodo mundo adulto com o mundo jovem. Um fecun-do aprendizado se inicia, muitas vezes difcil, maseducativo para as partes envolvidas.

    Juventude, escola e movimentossociais: relaes possveis

    Retomar a reflexo sobre a escola a partir dongulo dos atores coletivos juvenis exige um breveolhar sobre a dificuldade que a condio estudan-til apresenta para a constituio de prticas coleti-vas sobretudo para aquela parcela que, do ponto devista de sua origem de classe, s recentemente teveacesso ao sistema de ensino regular.

    Tendo em vista o conjunto das mudanas queafetaram as sociedades nos ltimos anos e a prpriaimportncia do acesso informao e ao conheci-mento como formas de dominao e controle so-cial, as anlises sobre os novos movimentos sociaistenderam a enfatizar a importncia dos sistemaseducativos e a escola como possveis locus de con-flitos sociais (Touraine, 1987).

    Aps um perodo de silncio desses setores,pases europeus, como o caso da Frana, passama ser palco de algumas mobilizaes de estudantessecundaristas e do ensino superior, em meados dadcada de 80. Algumas investigaes tentaram com-preender essas manifestaes, que indicavam mu-danas diante das formas de luta estudantil obser-vadas na dcada de 60. Para Lapeyronnie (1992),que investigou o novo aluno do curso superior, asformas recentes de mobilizao no indicavam aconstruo de atores coletivos em torno dos con-flitos da sociedade ps-industrial. Para esse autor,os movimentos dos anos 80 no conseguiram arti-

    cular as manifestaes massivas com a experinciavivida, no ultrapassando o nvel restrito da con-testao estudantil, sendo fluidas e efmeras.

    O processo intenso de massificao do ensinoque absorveu enorme contingente de jovens que noencontram na vida escolar respostas s suas prin-cipais demandas tem levado, na Frana, seguida-mente, estudantes secundaristas para as ruas emamplas manifestaes. Ainda recentes, recobremelenco multifacetado de orientaes, mas certamen-te no podem ser analisadas a partir dos referenciaisutilizados para a compreenso da experincia estu-dantil de 68 (Gerber, 1996). Esse movimento nas-cente recusa a liderana das entidades tradicionaise, muitas vezes, agrega outras condutas violentas,acarretando um horizonte bastante diversificadopara sua anlise. No caso dos estudantes de liceus,cuja mobilizao se intensifica a partir de meadosda dcada de 90, afirma Touraine (apud Castro,1999): a um protesto massivo no se pode respon-der com simples adaptaes administrativas; estasno tm sentido se no organizam, ou ao menos notornam possvel, uma mudana no sistema escolarcuja meta principal no pode mais ser a de transmi-tir a lei, mas ajudar os alunos a adquirir, em parti-cular pelo conhecimento, uma capacidade de aoautnoma num mundo cuja desordem os ameaa.

    No Brasil, as mudanas observadas no siste-ma escolar em direo a um crescimento intenso noforam acompanhadas de transformaes profun-das da prtica escolar. As peculiaridades do proces-so de modernizao econmica do Pas, o qual es-treitou as oportunidades ocupacionais em um mer-cado cada vez mais excludente, situam a educaopblica, sobretudo a bsica e a mdia, em condiesbastante desconfortveis. No entanto, ressalto aquiapenas duas questes para efeito da anlise a ser em-preendida: de um lado, o enfraquecimento da ca-pacidade de ao socializadora da escola sobre amaioria dos jovens, que mantm com ela uma re-lao de distanciamento construdo no interior dacondio de aluno, e, de outro, o predomnio deuma relao instrumental em que a busca de algu-ma certificao se torna o mvel fundamental do

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    Marlia Pontes Sposito

    projeto escolar. Para aqueles que no estruturamuma experincia positiva com a instituio escolar,o seu processo de subjetivao ocorre fora ou con-tra a escola e a violncia revela uma de suas facetas(Dubet, 1997).

    A permanncia das formas tradicionais da or-ganizao estudantil tanto as entidades nacionaiscomo as regionais preenche, episodicamente, al-gumas funes de denncia das polticas educativasmediante algumas mobilizaes de massa, mas re-vela, tambm, sua enorme dificuldade em agregarnovos interesses e constituir bases efetivas de repre-sentatividade. Novos grmios estudantis tendem aaparecer, nem sempre com possibilidades de atua-o no interior da escola. Muitos promovem for-mas de sociabilidade em torno do lazer e do espor-te, de servios voluntrios ou campanhas. Emboracapazes de disseminar um associativismo em mol-des novos, so escassas as formas de conflitivida-de que nasceriam a partir da condio estudantil,stricto sensu, mesmo se se levar em conta que mui-tos so os temas que articulam a insatisfao dojovem perante a escola. Parece que a experinciaescolar est. no momento, destituda de significadoscapazes de estruturar uma ao coletiva que propi-cie orientaes comuns e aes de recusa aos me-canismos de excluso ou s prticas pedaggicas,principalmente no ensino mdio e fundamental35.

    No entanto, diante de um ensino to insatis-fatrio, a violncia, a indiferena ou o mero aban-dono seriam as nicas opes possveis de ao paraos segmentos jovens? Ao que tudo indica, pode es-tar sendo delineado um caminho possvel de aocoletiva voltada para a questo escolar. Essa pos-

    sibilidade nasce alm dos muros escolares, no cir-cuito das vrias formas da sociabilidade juvenil,sobretudo as culturais, examinadas neste artigo.

    No trato neste momento da necessidade evi-dente de maior porosidade da escola para com asprticas culturais que compem a vida dos segmen-tos juvenis, modalidades que eventualmente pode-ro contribuir para ressignificar a qualidade da ati-vidade pedaggica e o tipo de experincia constru-do por jovens no interior da escola. Essa uma ques-to relevante, mas procuro, agora, examinar umahiptese sobre a constituio de atores jovens emsuas relaes com a educao escolar. A hipteseaqui lanada diz respeito ao processo de formaodesses atores em seus grupos, que pode transformaro sentido da escola no projeto de vida, ao dar umnovo significado para o conhecimento, para a infor-mao e para a cultura (Sposito, 1994b). Na condi-o de portadores de uma identidade coletiva cons-truda, na maioria das vezes, de forma distante douniverso escolar, pode haver um percurso de volta escola, no como aluno, isolado, mas como atorcoletivo. Esse novo encontro, difcil e tenso, enfrentaresistncias da cultura escolar e de seus protagonis-tas tcnicos, professores e funcionrios to oumais consistentes do que as prticas observadas naexperincia dos movimentos populares radicadosnos bairros em busca de uma participao maisdensa na vida escolar.

    Uma possibilidade importante de ao domundo adulto escolar reside na sua capacidade dedialogar com essas foras que podem estar sub-mersas, s vezes, na prpria sala de aula, nos p-tios e corredores, sob a aparncia do aluno passi-vo e distanciado. Trata-se de pensar a escola comomais um dentre os espaos propcios constituiode sujeitos que tentam compreender sua presenano mundo e buscam construir projetos em condi-es desafiadoras e adversas impostas pela socie-dade atual.

    Se hoje reconhecida uma profunda separa-o entre a cultura escolar e o mundo dos jovens,quando a democracia for capaz de garantir um es-pao para que as vozes juvenis sejam ouvidas, a se-

    35 A recente expanso do ensino mdio poder redun-dar em maior presso de grupos de jovens pelo acesso aoensino superior pblico. Os sinais dessa mobilizao j seregistram na discusso das cotas nos exames vestibulares,tanto para os egressos de escolas pblicas como para aspopulaes de origem negra. Nesse caso, os possveis ato-res estruturariam suas demandas pelo acesso ao ensino, masno necessariamente em torno da qualidade e do tipo deformao oferecidos pela Universidade.

  • Revista Brasileira de Educao 91

    Algumas hipteses sobre as relaes entre movimentos sociais, juventude e educao

    parao ser menos provvel e movimentos juve-nis podero tornar-se importantes atores na inova-o poltica e social da sociedade contempornea(Melucci, 1997, p. 14).

    MARLIA PONTES SPOSITO professora da rea deSociologia da Educao da Faculdade de Educao da Uni-versidade de So Paulo (FEUSP), onde obteve seu doutora-do, e presidente da Ao Educativa. autora, entre outros,dos livros O povo vai escola (So Paulo: Loyola, 1984) eA iluso fecunda (So Paulo: Hucitec, 1993). Seus temas depesquisa tm sido os movimentos e as aes coletivas nocampo da educao, com nfase mais recente nos gruposjuvenis.

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