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DECISO

1DECISOVistos.O Ministrio Pblico do Estado do Paran interpe recurso extraordinrio, com fundamento nas alneas a e c do permissivo constitucional, contra acrdo do rgo Especial do Tribunal de Justia daquele Estado, assim ementado:

AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE TRNSITO LEI ORGNICA DO MUNICPIO DE CURITIBA ARTIGO 11, INCISO XV E DECRETOS NS 696/95 E 759/95 REGULAMENTADORES DESSA NORMA MUNICIPAL NULIDADE E INCONSTITUCIONALIDADE INOCORRENTE COMPETNCIA CONCORRENTE DO MUNICPIO PARA LEGISLAR SOBRE A MATRIA DE TRNSITO PEDIDO INICIAL IMPROCEDENTE.No caso sub examen, levando-se em considerao a legislao antes referida que outorga competncia, inclusive municipalidade, para legislar concorrentemente sobre questes de trnsito de se afastar a eiva de nulidade e inconstitucionalidade do artigo 11, inciso XV, da Lei Orgnica do Municpio de Curitiba os decretos que regulamentaram essas normas (fl. 296)

Alega o recorrente violao dos artigos 5, incisos XV e XXII, 22, inciso XI, 23, inciso XII, e 30, incisos I e II, da Constituio Federal. Pretende seja declarada a inconstitucionalidade do inciso XV do artigo 11 da Lei Orgnica do Municpio de Curitiba na parte que prev competncia para o Municpio instituir penalidades e dispor sobre arrecadao das multas, especialmente as relativas ao trnsito urbano (inciso XV Disciplinar o trnsito local, sinalizando as vias urbanas e estradas municipais, instituindo penalidades e dispondo sobre a arrecadao de multas, especialmente as relativas ao trnsito urbano fl.50) (fl. 312).Contra-arrazoado (fls. 327 a 340), o recurso extraordinrio (fls. 308 a 319) foi admitido (fls. 342 a 344).Opina o Ministrio Pblico Federal, em parecer da lavra do Subprocurador-Geral da Repblica, Dra. Geraldo Brindeiro, pelo parcial conhecimento do recurso para anular o acrdo impugnado, extinguindo-se o processo sem julgamento do mrito, ante a incompetncia absoluta da Corte de origem para julgar representao de inconstitucionalidade de norma municipal em face da Constituio Federal, porm, vencida a preliminar, no mrito, o recurso deve ser provido (fls. 351 a 358).Decido.Anote-se, inicialmente, que o recorrente foi intimado do acrdo recorrido em 14/2/2000, conforme expresso na certido de folha 306, no sendo exigvel a demonstrao da existncia de repercusso geral das questes constitucionais trazidas no recurso extraordinrio, conforme decidido na Questo de Ordem no Agravo de Instrumento n 664.567/RS, Pleno, Relator o Ministro Seplveda Pertence, DJ de 6/9/07.A jurisprudncia da Corte no sentido de que somente cabvel recurso extraordinrio em ao direta de inconstitucionalidade de competncia de Tribunal de Justia, quando a norma da Constituio Federal invocada como violada for de reproduo obrigatria na Constituio Estadual. Nesse sentido, anote-se:

CONSTITUCIONAL. AO DIRETA. LEI MUNICIPAL. CONTROLE CONCENTRADO: TRIBUNAL DE JUSTIA ESTADUAL. C.F., art. 125, 2. SERVIDOR PBLICO: PROCESSO LEGISLATIVO. C.F., art. 61, 1, II, c. I. - Tratando-se de ao direta de inconstitucionalidade da competncia do Tribunal de Justia local - lei estadual ou municipal em face da Constituio estadual - somente a questo de interpretao de norma central da Constituio Federal, de reproduo obrigatria na Constituio estadual, que autoriza a admisso do recurso extraordinrio. II. - Leis que disponham sobre servidores pblicos do Poder Executivo so de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo (C.F., art. 61, 1, II, c). III. - Negativa de trnsito ao RE. Agravo no provido (RE n 353.350/ES-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Carlos Velloso, DJ de 21/5/04).

Reclamao. Ao direta de inconstitucionalidade julgada pelo Tribunal de Justia do Estado de So Paulo. - A ao direta de inconstitucionalidade em causa foi, afinal, julgada procedente exclusivamente com base em dispositivos constitucionais estaduais, ainda que de reproduo de dispositivos constitucionais federais de observncia obrigatria pelos Estados- membros. - Ora, esta Corte, desde o julgamento da Reclamao 383, por seu Pleno, firmou o entendimento de que admissvel a propositura da ao direta de inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justia local sob a alegao de ofensa a dispositivos constitucionais estaduais que reproduzem dispositivos constitucionais federais de observncia obrigatria pelos Estados- membros - e, portanto, por via de conseqncia, seu julgamento por esses Tribunais com base nesses dispositivos constitucionais estaduais -, com possibilidade de recurso extraordinrio se a interpretao da norma constitucional estadual que faz essa reproduo contrariar o sentido e o alcance da norma constitucional federal reproduzida. Reclamao julgada improcedente (RCL n 358/SP, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Moreira Alves, DJ de 8/6/01).

Com efeito, a matria, como posta nos autos, no autoriza a admisso do recurso extraordinrio no tocante ao controle de constitucionalidade difuso, conforme se depreende dos fundamentos utilizados pelo Tribunal de origem para afastar a alegao de inconstitucionalidade do artigo 11, inciso XV, da Lei Orgnica do Municpio de Curitiba, in verbis: A Constituio Federal, ao tratar da competncia da Unio nela insere a de legislar sobre transito e transporte (artigo 22, inciso XI) e como no lhe outorga competncia exclusiva, diz que, lei complementar poder autorizar os Estados a legislar sobre questes especficas das matrias relacionadas neste artigo (pargrafo nico, do artigo 22).E intuitivo e racional que aos municpios, do mesmo modo se confere competncia para normatizar questes relacionadas com trnsito e transporte, tanto que, a mesma Carta Magna, em seu artigo 23, firma a competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios para legislar, dentre outras matrias, aquela de estabelecer e implantar poltica de educao para a segurana do trnsito (inciso XII, do citado artigo 23, da CF).E na competncia do Municpio est a de legislar sobre assuntos de interesse local (inciso I, do artigo 30, CF) e suplementar a legislao federal e estadual no que couber (inciso II, do artigo 30, CF).A lei federal, por seu turno, (Cdigo Nacional de Trnsito), estabelece que compete aos rgos e entidade executivos rodovirios da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, no mbito de sua circunscrio... VI executar a fiscalizao de trnsito, autuar, aplicar as penalidades de advertncia, por escrito, e ainda as multas e medidas administrativas cabveis, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar (artigo 21, inciso VI)............................................................................................A competncia comum assinalam os citados constitucionalistas h de prevalecer e o inc. XII passa a ater maior justificativa. O Texto Constitucional comentado s pode, pois, comportar uma interpretao ampla, pela qual no apenas a poltica de educao para a segurana, mas toda aquela decorrente da eficcia do trnsito que em ltima anlise gera a segurana desejada deve ser procurada por todas as entidades federativas, nos termos do inc. XII, do art. 23 (cf. obr. Cit., pg. 427).Em hiptese semelhante, decidiu o Egrgio Tribunal de So Paulo (...) consoante disposto nos artigos 22, pargrafo nico e 23, inc. II e XII, ambos da Constituio Federal de 1.988 e tambm no seu artigo 30, incisos I e II, mormente quando presente como in casu, o interesse local em implantar poltica de educao para a sergurana do trnsito....Assim anota o mesmo Aresto tal competncia no exclusiva da Unio, mas sim, suplementar com relao ao Estado e ao Municpio.... (fls. 300 a 303)

Verifica-se que o juzo de validade da referida norma municipal, efetuado pelo Tribunal de Justia do Estado do Paran, teve como nico paradigma a Constituio Federal. Ocorre que o artigo 125, pargrafo 2, da Constituio Federal dispe expressamente que cabe aos Estados a instituio de representao de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituio estadual (...) grifo nosso. Desse modo, o acrdo recorrido no analisou o ato normativo estadual em razo da previso constitucional estadual, nem tampouco realizou o devido cotejo entre a Constituio Estadual e a Federal ou trouxe notcia de regra de reproduo obrigatria existente naquela. Ressalte-se que essa omisso tambm atingiu o apelo extremo do recorrente, que tampouco indicou qualquer dispositivo da Constituio Estadual, porventura violado, ou ops embargos de declarao para sanar eventual omisso no acrdo recorrido.Neste contexto, cumpre esclarecer que a sistemtica processual brasileira no prev a possibilidade, no mbito do controle concentrado de constitucionalidade, de que um Tribunal de Justia regional avalie a constitucionalidade de ato normativo municipal em face exclusivamente da Constituio Federal. Assim, a jurisprudncia da Corte tem reconhecido a incompetncia do Tribunal de Justia Estadual para processar e julgar a constitucionalidade de ato normativo municipal perante a Constituio Federal. Sobre o tema, os seguintes precedentes:

CONSTITUCIONAL. PENAL. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DE LEIS OU ATOS NORMATIVOS MUNICIPAIS. TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO. VALIDADE DA NORMA EM FACE DA CONSTITUIO FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE. HIPTESE DE USURPAO DA COMPETNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. I - Os Tribunais de Justia dos Estados, ao realizarem o controle abstrato de constitucionalidade, somente podem utilizar, como parmetro, a Constituio do Estado. II - Em ao direta de inconstitucionalidade, aos Tribunais de Justia, e at mesmo ao Supremo Tribunal Federal, defeso analisar leis ou atos normativos municipais em face da Constituio Federal (RE n 421.256/SP, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJ de 24/11/06).

AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI MUNICIPAL, PROCESSADA PERANTE TRIBUNAL DE JUSTIA. CONTRARIEDADE A DISPOSITIVO DA CONSTITUIO ESTADUAL QUE REPRODUZ NORMA CONSTITUCIONAL FEDERAL. ALEGADA USURPAO DE COMPETNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Desde o julgamento da RCL 383, Rel. Min. Moreira Alves, entende o STF inexistir usurpao de sua competncia quando os Tribunais de Justia analisam, em controle concentrado, a constitucionalidade de leis municipais ante normas constitucionais estaduais que reproduzam regras da Carta da Repblica de observncia obrigatria. Reclamao julgada improcedente (RCL n 2.076/MG, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Ilmar Galvo, DJ de 8/11/02).

No mesmo sentido, as seguintes decises monocrticas: RE n 370.360/SP, Relator o Ministro Ayres Britto, DJ de 8/2/10, RE n 350.049/SP, Relator o Ministro Eros Grau, DJ de 24/8/09, RE n 198.124/SP, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJ de 18/9/09, e RE n 529.596/SP, Relatora a Ministra Crmen Lcia, DJ de 18/6/09.Ante o exposto, nos termos do artigo 557, 1-A, do Cdigo de Processo Civil, conheo do recurso extraordinrio e lhe dou provimento para anular o acrdo recorrido e determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem para que o julgamento da Ao Direta de Inconstitucionalidade seja realizado nos limites da Constituio Estadual.Publique-se.Braslia, 16 de maro de 2010.

Ministro DIAS TOFFOLIRelator