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TEXTUALIDADE: TEXTUALIDADE: coesão, coerência, e outros coesão, coerência, e outros fatores de textualidade fatores de textualidade DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATUR BRASILEIRA PROFESSORA: MOAMA LORENA DE LACERDA MARQUES

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TEXTUALIDADE:TEXTUALIDADE:coesão, coerência, e outros fatores de coesão, coerência, e outros fatores de

textualidadetextualidade    

DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA

E LITERATUR BRASILEIRA

PROFESSORA: MOAMA LORENA DE LACERDA MARQUES

IntroduçãoIntrodução Uma palavra, uma frase, um parágrafo,

imagens, por si sós não constituem textos. Vejamos os exemplos a abaixo:

Ex 1: Futebol. Casamento. Praia. Cinema. Chocolate. Circo. Doença. Maria. João.

Ex 2: Escova de dente. Banho. Café, leite, pão. Carro. Escritório. Almoço. Escritório. Jantar. Televisão. Pijama.

A cena comunicativa Para existir o texto, há necessidade de uma cena

enunciativa, composta pelos seguintes elementos: o enunciador (produtor do texto), que tem uma

intenção comunicativa determinada (convencer, informar, emocionar, confundir...);

o(s) co-enunciador(es) (ouvinte(s)/leitor(es) ), alvo(s) da intenção comunicativa do enunciador; e

uma situação de enunciação – tempo e lugar concretos em que ocorre a produção do texto.

Exemplificando

Ex: A interjeição oi. Isolada, ela não é um texto. Mas, dita por você ao encontrar um colega na biblioteca, ela pode revelar uma intenção comunicativa: cumprimentar, por exemplo. Se essa mesma interjeição for dita por você a uma colega que você encontrou no cinema aos beijos com o namorado da sua melhor amiga, pode revelar outra intenção comunicativa: tornar claro que você deu um flagrante.

E o que é textualidade?E o que é textualidade?

A textualidade é um “conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases” (COSTA VAL, 1991, p. 5). Duas propriedades são fundamentais para que isso ocorra: a coerência e a coesão. Sem a primeira, não existe texto; e a segunda é responsável por uma maior legibilidade do texto e é, ainda, uma das formas de representação da coerência.

A coerência A coerência textual depende de muitos fatores.

Ela é vista “como um princípio de interpretabilidade do texto” (Koch e Travaglia, 2005). Isso significa que tudo o que diz respeito aos sentidos que se pode apreender do texto são construídos a partir da organização coerente de sua forma e de seu conteúdo. Portanto, tudo o que interfere na interpretação do texto tem a ver com a coerência.

Observações A coerência não é um mero traço dos textos,

mas sim o resultado de processos cognitivos entre os usuários do texto.

A coerência é global. Vejamos o exemplo abaixo:

Ex: Pedro já tinha tomado banho quando chegamos, mas ainda estava tomando banho.

A coesão Por coesão se entendo a ligação, a relação, os nexos

que se estabelecem entre os elementos que constituem a superfície textual.

É explicitamente revelada através de marcas lingüísticas que se manifestam na organização seqüencial do texto.

São elementos de coesão: conjunções, preposições, advérbios, pronomes, retomadas de palavras, repetição de palavras, entre outros.

Coesão e Coerência: Relação

A coesão contribui para a construção da coerência de um texto, apesar de não ser condição necessária nem suficiente. Há textos coerentes que não apresentam coesão, como o do Ex 2. Voltemos a ele:

Escova de dente. Banho. Café, leite, pão. Carro. Escritório. Almoço. Escritório. Jantar. Televisão. Pijama.

Coesão e Coerência:Relação

Agora, vamos observar um texto que possui coesão, mas não tem coerência:

Coloquei o pijama e fui ao escritório trabalhar. Enquanto isso, minha esposa preparava o almoço. Portanto, adorei tomar café com eles.

Coesão e Coerência:Análise

Para compreendermos melhor as questões referentes à coerência e à coesão, analisaremos os textos selecionados.

Texto 1O show

[Affonso Romano de Santanna]

O cartazO desejo O paiO dinheiroO ingresso

Texto 1

O dia

A preparação

A ida

O estádio

A multidão

A expectativa

Texto 1

A música

A vibração

A participação

O fim

A volta

O vazio

Texto 2

Lista de convidados

- Sérgio Dias

- Kelly Dantas

- Carolina Albuquerque

- Carlos Eduardo

- Fabrício Santos

Texto 3

A vaguidão específica

[Millôr Fernandes]

"As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago específica." [Richard Gehman]

- Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.- Junto com as outras?

Texto 3

- Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.

- Sim senhora. Olha, o homem está aí.

- Aquele de quando choveu?

- Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.

- Que é que você disse a ele?

Texto 3

- Eu disse pra ele continuar.

- Ele já começou?

- Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.

- É bom?

- Mais ou menos. O outro parece mais capaz.

- Você trouxe tudo pra cima?

Texto 3

- Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera.

- Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.

- Está bem, vou ver como.

Análise O texto 1, o poema “O show”, é coerente, apesar de não

possuir elementos de coesão. Nele, todos os versos, constituídos por artigo + substantivo, apresentam uma sequência gradual de acontecimentos.

No texto 2, “lista de convidados”, percebemos o mesmo fato (sem coesão, mas com coerência); a partir do momento em que consideramos o seu gênero (uma lista), encontramos um sentido para ele, ou seja, verificamos a sua coerência.

Por último, o texto 3, “A vaguidão específica”, que, em um primeiro momento, nos pareceu um diálogo sem “sentido”, ganha coerência a partir do momento em que reconhecemos a intenção do seu autor: retratar um modo peculiar das mulheres falarem.

Outros fatores de textualidade Intencionalidade e aceitabilidade:

- Relativos às atitudes, objetivos e expectativas do produtor e do receptor, respectivamente.

- É um processe de "mão-dupla": o produtor conta com o trabalho de inferência do receptor na construção de sentido do texto. Por outro lado, o receptor, supondo coerência no texto e se dispondo a construí-la, se orienta por conhecimentos que são estabelecidos social e culturalmente sobre os tipos de texto e os objetivos possíveis em determinados contextos e situações.

Outros fatores de textualidade Informatividade:

- Não é entendida como uma característica do texto em si, mas é avaliada em função das expectativas e conhecimentos dos usuários.- Tem a ver com o grau de novidade e previsibilidade.Exs: 1. O oceano é água.2. O oceano é água. Mas ele se compõe, na verdade, de uma solução de gases e sais.3. O oceano não é água. Na verdade, ele é constituído de gases e sais.

Outros fatores de textualidade Situacionalidade:

- O modo como os usuários interpretam as relações entre um texto e sua situação de ocorrência: o sentido e o uso do texto são decididos na situação.- Em sentido estrito: a situação comunicativa propriamente dita, isto é, o contexto imediato da interação.- Em sentido amplo: o contexto sócio-político-cultural em que a interação está inserida.

Outros fatores de textualidade Intertextualidade:

- Fatores que fazem a produção e a recepção de um texto depender do conhecimento de outros textos. Esses fatores são relativos a conteúdo, forma e a gêneros textuais.- Ocorre quando o produtor de um texto repete expressão, enunciados ou trechos de outros textos, ou então o estilo de determinado autor ou de determinados tipos de discurso.

Canção do exílio às avessas(Jô Soares)

Minha Dinda tem cascatasOnde canta o curióNão permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Minha Dinda tem coqueirosDa Ilha de MarajóAs aves, aqui, gorjeiamNão fazem cocoricó.

O meu céu tem mais estrelasMinha várzea tem mais cores.Este bosque reduzidodeve ter custado horrores.E depois de tanta planta,Orquídea, fruta e cipó,Não permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.

Minha Dinda tem piscina,Heliporto e tem jardimfeito pela Brasil's Garden:Não foram pagos por mim.Em cismar sozinho à noitesem gravata e paletóOlho aquelas cachoeirasOnde canta o curió.

No meio daquelas plantasEu jamais me sinto só.Não permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Pois no meu jardim tem lagosOnde canta o curióE as aves que lá gorjeiamSão tão pobres que dão dó.

Minha Dinda tem primoresDe floresta tropical.Tudo ali foi transplantado,Nem parece natural.Olho a jabuticabeirados tempos da minha avó.Não permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.

Até os lagos das carpasSão de água mineral.Da janela do meu quartoRedescubro o Pantanal.Também adoro as palmeirasOnde canta o curió.Nào permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.

Finalmente, aqui na Dinda,Sou tratado a pão-de-ló.Só faltava envolver tudoNuma nuvem de ouro em pó.E depois de ser cuidadoPelo PC, com xodó,Não permita Deus que eu tenhaDe acabar no xilindró.

Canção do exílio (Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.

Canção do exílio (Gonçalves Dias)

Em  cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar –sozinho, à noite– Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Canção do exílio (Gonçalves Dias)

Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.