TGI - METADE... Escrever Mais 10 Pg e Arredondar as Ideias

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  • Universidade de So Paulo

    Faculdade de Filosofia Letras e Cincias Humanas

    Departamento de Geografia

    Trabalho de Graduao Individual II

    Naturalizao do Natural infraestrutura, energia elica.

    Os grandes moinhos de vento Quixotismo perifrico

    Orientador:

    Professor Anselmo Alfredo

    Bruno Peres Gonalves

    NUSP: 6475425

  • (...)Escuta a hora formidvel do almoo

    na cidade. Os escritrios, num passe, esvaziam-se.

    As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas.

    Salta depressa do mar a bandeja de peixes argnteos!

    Os subterrneos da fome choram caldo de sopa,

    olhos lquidos de co atravs do vidro devoram teu osso.

    Come, brao mecnico, alimenta-te, mo de papel, tempo de comida,

    mais tarde ser o de amor.

    Lentamente os escritrios se recuperam, e os negcios, forma indecisa, evoluem.

    O esplendido negcio insinua-se no trfego.

    Multides que o cruzam e no veem. sem cor e sem cheiro.

    Est dissimulado no bonde, por trs da brisa do sul,

    vem na areia, no telefone, na batalha de avies,

    toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem.

    Drummond

  • 1. Introduo/Prefcio

    Pela dificuldade da escolha de um objeto, que talvez signifique a escolha de tornar-me

    uma pea mais especializada na moderna sociedade produtora de mercadorias, a escolha de

    alimentar a tautologia do trabalho, sendo produzindo papis que amontoo desde prateleiras a hards

    disks ou sendo eu homo sapiens sapiens, homem branco(kurz), trabalhador, sujeito-sujeitado que

    mantm-se reproduzindo como tal. Cabe lembrar que no pretendo algo alm disso, pois talvez a

    esteja o limite da forma de conscincia moderna.

    Forma de conscincia essa que insiste em idealizar um mundo objetado de si, pens-lo

    como se fora mero apndice da imensido de sua individualidade, sendo apenas instrumento na mo

    desse sujeito, capaz de amansar toda ferocidade do seu exterior, suficientemente racional para impor

    sua ordem e equilbrio algo j defendido pelos fisiocratas - perante ao catico mundo. Talvez a

    essa forma de pensar caiba a ideia de naturalizao, que afirma a razo a partir do dito irracional,

    tambm a partir dela pode-se pensar que todo o mundo fora de si simples objeto. A mercadoria ,

    antes de tudo, um objeto externo, diria Marx. Penso o que a nica coisa que pode ser objeto externo

    mesmo mercadoria, pois o mundo da objetivao o mundo dos homens modernos produtores

    de mercadorias. (O mundo da natureza o mundo da mercadoria)

    Sendo essa a condio e existncia do mundo moderno, decidi escolher a dita natureza e

    a naturalizao para expor na discusso desse TGI, no por me reconhecer no que me repe como

    trabalho abstrato, mas talvez pelo fato de ter que escolher algo como objeto, j que esse tema

    permea a geografia e nossas vidas como um todo, inserindo-me, indubtavelmente, na discusso.

    Gostaria de frisar que as condies dadas a priori nos mostram o quo indiferente a escolha de um

    objeto, o importante ter um objeto para 'se fazer' sujeito, mesmo que fetichistamente, na gide do

    esclarecimento, a universidade.

    Com esse escrito, pretendo discutir algumas coisas ainda vaga sobre o mundo da

    mercadoria e sua naturalizao vagas ao menos para mim. Pensarei a mercadoria como totalidade,

    repondo a forma de sociabilidade moderna, a forma trabalho e seu substrato natural como essa

    totalidade est legitimada como supra-histrica, como posta ontologicamente, como se

    geneticamente se ligasse a todos os homens modernos. No entanto, Marx afirmaria que o mundo

    sensvel no uma coisa imediatamente dada, desde a eternidade, sempre igual a si mesma, seno

    um produto da indstria e da condio de necessidade, sendo o capital a sociabilidade basal dessa

    forma de ser, fundamentada pela mercadoria, categoria social e analtica.

    Para legitimar todo o mundo das mercadorias, importante que o naturalizemos, que

    criemos formas de pensamento que legitimem ao jeito de se fazer as coisas. O mundo da mercadoria

    encontra-se no mesmo balaio em que esto os iluminadores (esclarecidos), procurando a 'essncia'

  • humana, em sua forma sujeito-objeto. forma de pensar o mundo, faz-se necessrio o apartamento

    do que e o que no humano lgico, o homem, enquanto moderno, precisa de uma categoria

    que legitime o mundo subsumido ao sujeito homem, a encontramos a dita natureza, que englobaria

    todo o no homem, afim de legitimar o homem enquanto homem. Desde os gregos j vimos uma

    grande partio na forma de pensar o mundo, j l os homens se diferenciavam do todo por

    possurem a razo, por dizerem o mundo diferente de si. (Protgoras; O homem a medida de

    todas as coisas)

    Para algumas elucidaes, empiricamente procurei entender como essa forma de

    conscincia se expressa em alguns lugares do litoral brasileiro. Quais so as formas da dita natureza

    entre os homens? Qual papel do estado em seguir naturalizando o mundo modernizador? (cabe

    um estudo geomorfolgico e econmico da implantao de usinas elicas na extenso do litoral

    nordestino) Tambm o papel das grandes empresas supranacionais que, em concomitncia com o

    Estado, utilizam de todo chamado recurso natural(aqui cabe a crtica aos recursos naturais) para a

    venda de grandes empreendimentos imobilirios.

    A sociedade do trabalho a sociedade da natureza, para Marx os valores de uso so a

    mescla da substncia natural e o trabalho que lhe d forma (Alfred Shimidte, pg82), sendo o valor

    de uso uma caracterstica mpar da mercadoria, trabalho e natureza compe um duplo da forma de

    ser da prpria mercadoria. Como o Capital sempre se mostrou muito polimorfo, at uma categoria

    interna sua lgica naturalizada at expressar-se fenomenologicamente como mercadoria, talvez

    aparea aqui como conceito. (pensar a inverso de conceito e categoria).

    Podemos tomar como modelo emprico, afinal de contas faz-se cincia, o vasto litoral

    brasileiro, onde o Estado disponibilizou 5.5 bilhes de reais afim de investir em projetos de

    gerao de energia atravs de fontes alternativas, no mbito do PROINFA (Programa de Incentivo

    s Fontes de Energia Eltrica) cumprindo uma lei federal de 2002 alterada em 2003. Dentre os

    maiores ganhadores desses subsdios do estado, esto os projetos da grande indstria de turbinas

    elicas(Suzlon, Vestas, G&E...) e sua implantao em grandes faixas de terra do litoral, que tornam-

    se recoberta por extensas 'plantaes' de cataventos, talvez at quixotescas. Por toda estrada

    litornea percorrida por mim, em rtimo de tartaruga, e forma tambm com a casa nas costas.

    Durante trs meses pedalei de Fortaleza at Caiara do Sul, na Paraba. Geralmente pedalvamos

    eu e uma companheira o mais prximo ao mar possvel, assim muitos foram os pedais em mar

    baixa, com vista para sedimentos postos recentemente, que remontam ao Cenozico, extensas dunas

    no litoral cearense, grandes mangues e falsias at o sul da Paraba. Nesse cenrio, muitos foram os

    quilmetros pedalados cercado das grandes ps elicas, o que me causou grande curiosidade

    como grandes montantes de dinheiro so postos em ao para construes megalomaniacas, e ainda

    por cima no aparecem como mero desenvolvimento das foras produtivas. (como discutir mais um

  • pouco isso). Como muito Capital posto em rotao em obras de infraestrutura, colocando o vento

    como principal matria-prima (recurso natural) para a efetivao da mercadoria eletricidade,

    tornando o vento substrato natural da mercadoria eletricidade.

    Toda discusso sobre natureza/naturalizao claro - no pode se esgotar com o fim

    desse pequeno trabalho, essa apreciao toma usa formas na atualizao da categoria, e na forma

    em que esse dito natural se faz. Sendo ele expresso de uma universalidade, pretendo ressaltar suas

    particularidades, o que o limita como sendo o que .

    _____________

    Para mim a a naturalizao da desmedida desmedida da produo de mercadorias

    (queda tendencial da taxa de lucro) - , que tem um exemplo nos 'direitos divinos' dos colonizadores

    sobre a terra recm colonizada, que, com a desculpa de gerar renda sendo ela parte da mais-valia

    mundia - e melhorar sua produo, podiam exterminar os viventes ali talvez essa desmedida

    tenha origem no pensamento protestante emergente na poca (ver Webber). Essa desmedida, luz

    da razo, torna-se physis atravs da mercadoria que viabiliza a existncia da clula de troca, o valor

    que torna-se phhysis atravs do dinheiro.

    Para desmedida, que talvez seja fetiche, ou para uma abstrao so lgica formal so

    necessrias muitas outras com lgica que possibilitem sua existncia em um mundo sedento por

    esclarecimento podemos generalizar para qualquer forma de cincia, descarteanas ou kantianas.

    Nesse processo, que nunca ser elucidado por completo s aparecer como relmpagos da

    histria - faz-se necessrio diversas categorias que guiem os conceitos aceitos socialmente tenho

    receio, aqui, de entrar na rea da formao da fala e pensamento, sem saber do que falo -, dentre

    essas categorias uma me despertou interesse. Passei a pensar que a dita natureza s pode ser dita

    assim por aparecer fetichistamente como conceito (que explorar no captulo 4), quando talvez

    seja uma categoria necessria para a produo ad infinitum de mercadorias.

    Ento teramos, o que eu acho que a natureza e o que acho que fazem (quem?)

    pensarmos sobre ela. Com certeza nada dessas afirmaes fazem sentido alm do mundo desse lpis

    e papel (pois esse texto foi escrito dessa forma). Voltando, para mim, a natureza categoria, que

    naturaliza elementos importantes de contradies muito pontuais logicamente e historicamente.

    So elas todos desdobramentos da prpria mercadoria, como trabalho versus subtrato natural,

    sujeito e objeto e, por fim, valor de troca e valor de uso, mas acredito que caibam muitas das

    contradies modernas, se isso no for uma redundncia. Pensando em ambos os termos da

    contradio como primazia lgica, o substrato natural legitima a forma do trabalho ou o prprio

    trabalho e vice-versa, assim como o objeto precisa de um sujeito e um sujeito um objeto e,

    terminando, o valor de troca precisa se ver em um valor de uso sendo o inverso tambm vlido.

  • Nos trs exemplos o homem se ope a algo, sendo ele o homem personificado no trabalho, no

    sujeito ou na prpria troca enquanto trabalhador abstrato, esse algo parece ser o mundo e suas

    formas. Essas formas de pensar fazem parte do que poderamos chamar de fetiche da mercadoria, ao

    ontologizarmos a forma mercadoria, no questionamos seus meios de existencia.

    A dita natureza que aparece como naturalizao legitima contradies importantes e

    tambm apresenta-se como mercadoria enquanto substrato natural. Em uma questo de escala, ela

    tem importncia categorial, sendo assim fetichistamente imaginada como conceito, enquanto a

    physis do mundo.

    2. Sobre a dita Natureza

    Deus os abenoou e disse-lhes: Multipliquem-se, encham a terra e dominem-na. Tenham

    poder sobre os peixes, sobre as aves dos cus e sobre os animais que rastejam pela terra.

    Ele disse mais: Eu dou a vocs todas as plantas que nascem na superfcie de toda terra e do

    sementes, e todas as rvores frutferas que do semente. A todos os animais em que h flego de vida, ou

    seja, todos os animais selvagens, a todas as aves do cu e aos animais que rastejam pelo cho dou todos os

    vegetais como alimento. E assim foi.

    Para pensar sobre a dita natureza e seu ideal, talvez coubesse o esforo de remontar suas

    origens no bojo da modernidade. Para tanto podemos lembrar Marx e sua assim chamada

    Acumulao Primitiva processo histrico de separao entre produtor e meios de produo que

    poder trazer elementos da cosmogonia basal e anterior modernidade, sendo assim, debruaremos

    nossas atenes sobre o velho continente, pois a forma trabalho e sua abstrao que envolve tudo

    parece ter principio ali, nos mundos enfeudados do medievo.1

    Desamarrando-se (desamarrados) das correntes feudais com a dissoluo dos sectos

    feudais - que os ligavam diretamente terra, ex-servos so amarrados a nada que no eles mesmos,

    agora donos de si, como trabalhadores absolutamente livres, pois no integram diretamente os

    meios de produo, muito menos lhes pertencem os meios de produo.

    Tanto para senhores como para servos, a forma de se relacionar com o mundo tem

    mudado; antes senhores que tinham como objetivo estender seus domnios, a fim de aumentar seu

    nmero de sditos consequentemente o tamanho das terras feudais, agora passam a possuir direito

    abstratos suscetveis de serem comprados e vendidos, transformando-se em renda fundiria

    capitalista. Sentindo-se cada vez mais como proprietrios, literalmente, desses domnios. O

    1 No limitarei-me em trazer apenas argumentos do prprio Marx, mas tambm de outros autores, que talvez nos auxiliaram na compreenso de como o homem passa a se opor, como sujeito-trabalhador, a todo resto da materialidade chamada de objeto-natureza.

  • florescer dos mais novos rentistas capitalista. O processo social faz-se por meio da destruio de

    florestas, expropriaes e evacuaes, abrindo espao para as manses e seus quintais, baseia-se na

    incorporao de grandes extenses.2

    Esses senhores, que em uma tenaz oposio coroa e ao parlamento, criaram uma

    massa proletria muito grande, ao expulsar brutalmente os camponeses das terras onde viviam e

    sobre os quais possuiam os mesmos ttulos jurdicos feudais que ele e tambm ao usurpar-lhes as

    terras comunais. Tudo isso tendo impulso inicial no florescimento da manufatura flamenga de l e,

    consequentemente, no preo da l assim transformando as terras da lavoura em pastagens de

    ovelhas. Aqui, a enfeudao perde, pouco a pouco, por transies insensveis e inconscientes, sua

    caracterstica medieval de copropriedade, de coexistncia entre usufruto perptuo e um direito

    eminente talvez possamos pensar sobre a transio entre a comunidade de fato e a comunidade de

    direito, reconhecida como tal3.

    Essas caractersticas feudais, davam alguns direitos os servos, como o acesso

    percursos, pastagens, cabanagem, construo de curais, florestagem e folheao (recolhimento de

    folhas que completam a alimentao dos animais; corte de madeira para o aquecimento e para

    construo, etc). Domnios esses que dissociam-se, perdem sua utilidade em conjunto, passando a

    serem uma srie de direitos que os feudais buscam negociar ou conceder isoladamente, todos em

    troca de renda. Os feudais passam a desenvolver prticas e conceitos relativos renda fundiria

    capitalista: propriedade pura e simples do solo4.

    Todo esse processo faz-se legtimo com o decorrer dos direitos modernos, antes

    expropriaes violentas e imediatas, passam a serem acompanhadas pela legalidade local, que vai

    inserindo a forma moderna de usurpao. Desde leis que delimitam parcelas do territrio para

    senhores e servos, passando por limitaes de construo por tamanho do terreno at leis sobre

    mendicncia. A dissoluo da estrutura econmica da sociedade feudal liberou os elementos da

    estrutura econmica da sociedade capitalista.

    Para Marx:

    O processo que cria a relao capitalista no pode ser, se no, o processo de separao

    entre o trabalhador e a propriedade das condies de realizao do seu trabalho, processo que por

    um lado transforma em capital os meios sociais de subsistncia e produo e, por outro, converte os

    produtores diretos em trabalhadores assalariados

    Assim, procuro aproximar a ideia de natureza com as condies de realizao do

    trabalho humano, opondo homem e dita natureza, ou o fetiche de oposio. Williams dir que alm

    2 Raymond Williams, pg. 128.3 Lefebvre, pg. 136.4 Lefebvre, pg.143.

  • da separao da posse, tambm existe a separao do esprito5, talvez essa, ltima, dita separao,

    componha o fetiche sujeito objeto.

    Pela usurpao de todos os meios de produo, os servos podem converter-se em

    vendedores de si mesmo. Inconscientemente, passa acreditar ser sujeito de um mundo totalmente

    objetificado, pelo prprio modo de produo. Assim, a expropriao da terra, que antes pertencia ao

    campons, constitui a base de todo processo.

    O mundo objetivado e 'catico' reafirma as categorias do capital. Quando tudo que est

    fora de ns objeto, temos que enquadrar esse todo moldvel pelos homens como uma categoria

    que represente o que o mundo para os homens a dita natureza, pois por sermos os que

    moldam, j nos definimos como sujeito. Todo o mundo passar pela forma natureza para ser

    pensado pelo homem, que 'sujeito' e senhor sobre ela, um trabalhador incansvel. S assim o

    homem pode 'se fazer' sujeito, tendo um mundo que 'seja' objeto.

    O trabalho e natureza ope-se como um par dialtico(dentro da prpria mercadoria), que

    para o serem, se re-pe como ontolgico. Pois sendo algo intrnseco ao homem (para os defensores

    da ontologia do trabalho) ele posto como algo irracional, que passa muito longe da forma de ser

    do trabalho. Para a categoria trabalho se realizar necessrio o 'em que' se trabalha, afinal precisa-

    se de um substrato material que d corpo a mercadoria a clula de sociabilidade moderna, que em

    sua forma de ser necessita das categorias opostas homem e natureza, sendo, o primeiro, o sujeito do

    trabalho e o segundo seu objeto, a dita natureza. Assim a mercadoria pode aparecer como pura

    ontolgia, pois seus fundamentos dessa maneira aparecem; como se a physis e nomos gregos

    tivessem solucionado o mundo.

    A dita natureza, posta positivamente, aparece-nos como algo, dotado de materialidade,

    ontolgico, que, talvez,transpasse a existncia do homem. Assim faz-se possvel a homonegeizao

    do homem branco trabalhador/mercadoria, legitimando sua racionalidade objetivadora, ora, sendo a

    dita natureza todo o 'irracional', cabe a homem 'racional' toc-la com seus divinos dedos iluminados.

    Como diria Bacon, Da, como necessria, segue-se a reforma do estado da humanidade, bem como

    a ampliao do seu poder sobre a natureza., Descartes, e assim nos tornar como que senhores e

    possuidores da natureza e, por fim, Leibniz, conceba a ideia de tornar os homens mais felizes,

    mais harmoniosos entre si e mais senhores da natureza. (RODRIGO A.P. DUARTE) A dominao

    da natureza marca o ponto em que Kant baniu o pensamento, afirmou a doutrina da incessante e

    laboriosa progresso do pensamento ao infinito, com a insistncia em sua insuficincia(adorno e

    horkheimer)

    o homem confrontado com sua prpria atividade, com seu prprio trabalho como

    5 Raymondo Williams, H a separao da posse: o controle de uma terra e suas paisagens. Mas h tambm uma separao do esprito: o reconhecimento de foras das quais fazemos partes, mas que podemos sempre esquecer, e com as quais preciso aprender em vez de control-las.

  • algo objetivo, independente dele e que o domina por lei prpria, que lhes so estranhas. (Lukacs)

    Para o homem se reproduzir enquanto homem deve viver a categoria natureza,

    permitindo ser, assim, um indivduo social. o que aparece como grande coluna de sustentao da

    produo e da riqueza no nem o trabalho imediato que o prprio ser humano executa, nem o

    tempo que ele trabalha, mas a apropriao de sua prpria fora produtiva geral, sua compreenso e

    seu domnio da natureza por sua existncia como corpo social. Marx, in postone grundrisse...)

    O homem moderno, sujeito, coloca valor em tudo externo a ele, sendo o valor uma

    forma historicamente especfica de riqueza social, que se relaciona intrinsecamente com o modo de

    produo existente. O homem que procura o natural s pode ser o mesmo homem que procura o

    valor das coisas. Pois o mundo tambm pode ser dotado de valor, vide a ideia de renda da terra dos

    fisiocratas, objetivando a forma de pensar desse mesmo homem.Quanto mais a maquinaria do

    pensamento subjuga o que existe, tanto mais cegamente ela se contenta com essa reproduo

    (D.E., p32,33...)

    Por exemplo a dita geomorfologia dos lugares, que apenas uma outra mercadoria

    envolvida no mundo das trocas, pode ser vendida aos passantes, sejam eles em suas motos, carros

    ou apenas com o corpo as diferenas qualitativas no importam, apenas o quanto de papel

    corrente puder gastar! O mundo das mercadoria se expressa nos nfimos caminhos, em fenmenos

    que at dissimulam o que so, afinal no se parecem com as mercadorias da indstria clssica

    todas em srie, quase idnticas. Se mostra desde s rvores at os mais modernos computadores, ela

    a totalidade a ser vivida, alfa e mega da modernidade; pe gases e partculas da atmosfera

    que nos proporcionar, juntamente com o sol, uma agradvel pr-so-sol e uma grande TV que

    me vende pr-do-sis em um grande balaio e ensina aos homens que tudo aquilo permutvel,

    equivalente; que tudo, sem nenhuma exceo, pode virar nmero, quantidade. valor de troca,

    fantasiado de valor de uso.

    A metafsica capital a essncia do mundo moderno, expressando-se em todos os

    fenmenos, at no menor gro de areia. A dita natureza est a para naturalizar esse mundo e sua

    essncia o mundo dos sujeitos-objetos.

    Quando o rigor do conceito natureza estiver penetrado na vida dos homens-mercadorias,

    a naturalizao ser natural e a natureza se far de fato um conceito.(Hegel, Fenomenologia -

    intro) O discurso progressista do ecologismo apresenta a natureza o outro da mquina como o

    fim em si mesma, ora, isso sana as necessidades do mercado, que precisar de matria-prima para o

    produo a posteriori. Assim, a tautologia do trabalho preserva o que ser ser trabalho, em

    potencial como um mero impulso ainda carente de sua efetividade, ou seja, reserva de bens

    materiais.

    Para sistematizar a reserva material planetria, coube a cincia demonstrar a

  • necessidade da dita natureza, provar por a+b que o mundo em que vive-se o das necessidades e

    cabe o homem ser sujeito sobre ele, se por como deus-exmachina e decidir sobre o mundo das

    coisas, Assim nascem as cincias naturais, que explanam sobre o aqum homem, afirmando a

    separao sociedade x natureza. Como todo mundo esclarecido pelos nmeros, a regularidade da

    cincias naturais parece ter a forma: sempre que ento; ou seja, sempre que isso ou aquilo

    dado, que essa ou aquela condio sejam realizadas, ento ocorre esse ou aquele efeito. (talvez unir

    com o momento em se falar que a mundo matemtico s resulta no que j se conhecia como a

    ideia da incognita)

    Para Adorno, a dominao da natureza traa o circulo dentro do qual a Crtica da

    Razo Pura baniu o pensamento, parece que a praxis do homem com o mundo expressa a forma

    com que se pensou em fazer com o mundo, o mundo da lgica se ratifica dentre de si mesmo. Ora,

    mesmo a ideia de infinito, limitada dentro dela mesma, que tomada como absoluto para as

    cincias, legitima a tautologia do mundo equalizavel, sabe-se a priori do que se pensa. O

    pensamento objetivador torna-se o ritual do pensamento, o mundo previsvel, da preocupao

    (Kosik) s diz respeito aos homens matematizados, mecanizados... O pensar reifica-se num

    processo automtico e autnomo, emulando a mquina que ele prprio produz para que ela possa

    finalmente subtitu-lo (adorno, p33 de). O mundo da ontologia um vasto leque de incertezas,

    procurar a natureza do homem afirmar o que se vive atravs de algo maior. Nesse universo de

    tautologias A repetio da natureza, que seu significado, acaba sempre por se mostrar como a

    permanncia da coero social (adorno). Parece que as categorias se reproduzem, juntamente com

    os seres de seu tempo, assim como a lgica caracterstica da sociedade capitalista, que pode ser, e j

    foi, projetada sobre toda histria humana.

    Como fetiche de natureza, a Geografia positiva cria um conceito para abarcar o que a

    prpria natureza j abarca, o dito Recurso Natural, definido como qualquer elemento da natureza

    que possa ser explorado pelo homem. Penso que quando o conceito volta para si mesmo ele se

    abrocha em algo maior, a prpria categoria natureza.

    4. O Estado e a naturalizao do natural O caso das Elicas no Brasill

    Talvez nos valha uma elucidao racional do que podem ser os ventos, dizer de sua

    materialidade sanar, talvez, a nossa sede do saber/prever o mundo. Tambm algumas coisas j

    foram escritas sobre as dita consequncias ambientais do pesado incentivo do Estado em relao

    modernizao da produo energtica nacional (citar artigo sobre danos ambientais nas dunas) o

  • que achei cabvel discutir o que se esconde por trs da materialidade dos quilmetros quadrados

    de campos de cataventos, o fetichismo da mercadoria (no caso a prpria natureza, como

    naturalizante do processo social.) enquanto legitimador do estmulo ao desenvolvimento do setor

    energtico brasileiro assim como em todos os outros Estados Nacionais e tambm o que aparece

    como positivo aos olhos dos homens.

    Tentarei comear com a positividade, assim tomarei, de inicio, simples fenmenos

    locais, como a instalao das usinas onde o potencial elico tenha sido calculado os melhores do

    pas. Com relao programas especficos do setor elico, dois se destacaram: o Programa

    Emergencial de Energia Elica (Proelica) e o Programa de Incentivo s Fontes Alternativas de

    Energia Eltrica (Proinfa). Ambos consistiam em um incentivo ao setor elico do tipo tarifa feed-

    in6, como o implantado em pases como Espanha e Alemanha. Talvez esse tipo de tarifa ajude a

    elucidar como o Estado aparece como simples facilitador das relaes modernas de produo.

    Como o Proinfa foi responsvel pela instalao de 95% da produo de energia elica,

    distribuidos em 54 projetos elicos, que totalizaram 1.423 MW. Apenas trs regies tiveram

    participao nesse montante. A Regio Nordeste ficou com 36 projetos, totalizando 806 MW; a

    Regio Sul obteve 16 projetos, de 454 MW no total; enquanto a Regio Sudeste instalou dois

    projetos, de 163 MW no total. Cabe destacar que os investimentos anteriores ao Porinfa se

    destinavam principalmente para aerogeradores de baixa potncia. Nesse ano, eram nove parques

    existentes que correspondiam a apenas 27 MW instalados, uma mdia de 3 MW por parque.

    O tal feed-in precisa de diversas polticas para se tornar vivel, uma delas o meio dos

    leiles, quem tem sido um sucesso, segundos dados de janeiro de 2008 a julho de 2012, houve um

    aumento no nmero de empreendimentos instalados de mais de 400%. O interessante pensar que o

    Estado proporciona os meios para que ele meso compre energias mais caras, com a desculpa de

    variar as matrizes energticas. Seguindo logicamente, o Ministerio das Minas e Energia define um

    dito valor econmico de venda de energia para ELETROBRS, que repassa 90% da tarifa media

    nacional de fornecimento ao consumidor. Mesmo que em pequena porcentagem, os custos elevados

    dessas novas energias passado ao consumidor final. A necessidade imensurvel de circular capital

    divide todos as suas despesas. (s privatiza os lucros) O Estado compartilha os custos do

    desenvolvimentismo em seu territrio, com seus habitantes. No entanto, tambm o MME definir o

    montante de energia ser contratado. Esse limite imposto mximo de energia imposto, talvez diga

    sobre o quanto a mais o Estado e a sociedade possam pagar pela energia terceirizada, que poderia

    ser produzida pelo prprio Estado, talvez com custos ainda maiores, devido algumas restries

    6 Uma tarifa feed-in uma estrutura para incentivar a adoo de energia renovveis atravs de legislao. Nessa forma de ser, as concessionrias regionais e nacionais so obrigadas a comprar energia renovvel em valores acima do mercado, estabelecidos pelo governo. Penso que esse um ponto importante, tentarei trat-lo melhor no prprio texto.

  • ambientais. Mesmo com esse limite, o Estado arruma um jeito de pagar mais dinheiro por o quanto

    de energia que a empresa puder gerar, chama-se energia alm do definido, que ser paga com uma

    espcie de banco de crdito. Os desvios de energia gerada, ocorridos em um ano em relao

    energia contratada, sero compensados no ano subsequente, em doze parcelas idnticas, debitando

    ou creditando, conforme o caso, sobre os valores a serem pagos.

    Em relao produo de energia pelo prprio Estado, existem algumas restries

    devido a isso, talvez coubesse uma pequena explanao, j que o Banco Mundia, em 1994,

    identificou como problemas cruciais do monoplio estatal, na infra-estrutura, os seguintes itens

    genricos: ineficincia das operaes; manuteno inadequada; ineficincia financeira e sangria

    fiscal; incapacidade de atender demanda do usurio; negligncia com os pobres; negligncia com

    o meio ambiente. O Banco Mundial descreve os itens considerando uma abertura de mercado. Para

    eles at os pobres se beneficiariam com a privatizao do setor energtico nacional. Sendo suas

    propostas divididas em quatro opes: propriedade pblica e operao pblica; propriedade pblica

    e operao privada; propriedade privada e operao privada; proviso pela comunidade e pelos

    usurios.

    No caso do Brasil, para que fossem privatizadas as empresas, utilizou-se como principal

    argumento a necessidade de transformar o setor eltrico monopolista em um mercado concorrncial.

    Para atingir esses objetivos, foram criadas diversas leis, tais como a n8987, de 13/02/95 (Lei de

    concesses), que no seu artigo 29 incumbe o poder de incentivar a competitividade. Esta lei foi

    complementada pela lei 9074/95, no que diz respeito a concesso de servios de energia eltrica.

    Esse preceito foi retirado na lei que criou a ANEEL (Lei 9427, de 26/12/96) e no decreto que a

    regulamenta (decreto 2335, de 6/1/97). Podemos perceber a inteno federal e da legalidade de

    fomentar a competio, atravs das privatizaes. Para que fosse implantado esse modelo no Brasil,

    foram institudas quatro modalidades de processo de outorga junto ANEEL, previstas para a

    explorao de eletricidade pelo setor privado: concessionrio; permissionrio; autorizatrio;

    registro. Ou seja, assim como 'sugere' o Banco Mundial, o Brasil procura alinhar-se aos grandes

    credores mundiais.

    Engraado pensar que todo esse avano da indstria moderna, ela se apropriando cada

    vez mais da materialidade do mundo, sempre aparece com uma roupagem mais nobre, o

    desenvolvimento das clssicas fbricas inglesas no sculo XVIII apareciam como o prprio

    desenvolvimento que daria bonana ao homem, hoje esse mesmo desenvolvimento parece ter-se

    posto, ele prprio, que ironia, em cheque, necessitando de um outro discurso que o leve, no caso do

    estudo, o desenvolvimento fabril moderno da produo de energia que paga pelos consumidores,

    pagando assim energia mais cara para o bom caminhar do desenvolvimento das foras produtivas,

    tudo isso precisa de uma vestimenta tambm, o bom e velho ecologismo, que se ilude ao pensar que

  • a economia industrial deve renegar seu prprio principio. O lobo no vira vegetariano, e o

    capitalismo no vira uma associao para a proteo da 'natureza' e para filantropia 7

    Cabe historicizar um pouco os Estados modernos, pois tambm preciso saber que o

    carter mercantil em expanso crescente com o avano da sociedade burguesa e principalmente as

    crescentes dificuldades de valorizao do capital levaram manipulao da prpria esfera pblica,

    bem, como converso desta em mercadoria, em algo produzido e tratado com o objetivo da sua

    venda, justamente o contrrio que corresponde o seu prprio conceito esfera pblica. (Adorno,

    introduo a sociologia, p333). Assim como a naturalizao do mundo objetivado, o Estado na

    medida que se converte em absoluto e em que desaparece na sua gnese, aparece simultaneamente

    como natural e por isso como princpio imutvel, ento procurarei no esvair-me da historicidade

    dos Estados Nao. Como diria Adorno, a eliminao da dimenso histrica constitui um

    instrumento essencial para sancionar ou legitimar o existente ou vigente.

    Por o estado se mostrar como grande gestor de capitais, seus documentos tendem a

    naturalizar a noo de indstria. No caso estudado, existem alguns documentos do BNDS

    ratificando a excelncia dos aerogeradores de energia, tornando a noo de fontes alternativas de

    energia - uma outra/mesma grande indstria vivel para o 'desenvolvimento sustentvel'. J de

    inicio as caractersticas fsicas so tomadas, simplesmente, como recursos naturais (procurar o texto

    de bittar) - As 'jazidas de vento' do Brasil esto entre as melhores do mundo, pois, alm de contar

    com alta velocidade, os ventos so considerados bem comportados, diferentes de certas regies da

    sia e dos Estados Unidos. (p260. Bens de capital bnds). Isso s possvel porque a

    sociabilidade baseada na mercadoria e no dinheiro no lida do ponto de vista histrico e

    formativo., possibilitando que qualquer fenmeno possa ser quantificado e valorado, virando

    abstrao geral trabalho abstrato.

    Essa singularidade do litoral, dito, brasileiro torna-o altamente valorizado. Segundo o

    Plano Decenal de Expanso de Energia (PDEE 2008-2017), as fontes alternativas (como elica,

    biomassa e solar) crescero de 1,3 para 4%, no perodo. As diferenas e singularidades passam a

    ser pressupostos da reproduo capitalista, parece-nos evidente quando a justificativa desses

    empreendimentos estaca-se no aumento de emprego e renda como forma de desenvolvimento local.

    sob esse prisma que se desenvolvem os temas de fontes alternativas de energia

    baseados na noo de ecolgico, coloca mais uma vez o litoral brasileiro como rea de expanso

    das relaes capitalistas, de produo, consumo e circulao. Talvez isso aparea como uma nova

    expresso do processo de medernizao ainda sim baseado nos pressupostos da grande indstria,

    levando-a para lugares onde o desenvolvimento das relaes expecificamente capitalistas ainda

    esto em germen, inserindo os grandes desenhos industriais em, ditos, 'vazios demograficos'.

    7 KURZ. O desenvolvimento insustentvel da natureza.

  • Estas regies, portanto, comportam a tentativa de se resolver a insustentabilidade da

    formao econmico e social capitalista sob a roupagem de sustentabilidade ecolgica. A expanso

    do moderno, portanto, visa muito mais a solucionar a crise do valor referente ao mundo urbano

    industrial do que permitir a integrao entre o rural e urbano - por exemplo levar modernizao

    para o lugar devido a construo de usinas elicas.

    Assim como os afirmadores desses projeto, como o Estado. Uma outra perspectiva, do

    ponto de vista da anlise das fontes alternativas, aquela que busca perceber se as usinas (sejam

    quais forem) destroem ou no o meio ambiente. (acabam pensando em capacidade de carga,

    legitimando aquele acontecer)

    5. Pequena historizao do setor elico no Brasil e no mundo

    Mesmo o Brasil apresentando, ainda, tmida participao no mercado elico mundial,

    apresentou crescimento significativo em sua capacidade instalada nos ltimos anos, em funo,

    tambm, de incentivos governamentais destinados ao setor.

    Os pases Europeus, principalmente Alemanha e Espanha, pioneiras no uso de

    energia elica respondem, hoje em dia, por grande parte da capacidade de gerao de energia elica

    instalada no mundo. No entanto, nos ltimos anos, a China, ndia e EUA vem aumentando suas

    instalaes elicas, esse incrementos foram acompanhados pelo desenvolvimento de tecnologias e

    fornecedores. J no Brasil, o Programa de Incentivo s Fontes Alternativas (Proinfa) e o mecanismo

    de leiles de energia lograram sucesso em aumentar a participao elica na matriz eltrica

    brasileira.

    Os fabricantes de turbinas elicas, na cadeia produtiva, subcontratam componentes,

    uma prtica comum nesse mercado, sendo realizada, geralmente, pelas fabricantes de naceles8 que,

    em seguida, montam o equipamento. Para a engenharia os naceles abrigam diversos equipamentos

    responsveis pela transformao de energia cintica em energia eltrica (o que ao meu ver a

    naturalizao do uso e do substrato natural contido na mercadoria energia que vendida). Tais

    equipamentos, geralmente importados, possuem sua tecnologia pertencente aos seus fabricantes. O

    parque industrial brasileiro da cadeia produtiva de gerao de energia elica formado, em sua

    maioria por empresas multinacionais, principalmente os fornecedores de naceles, mas tambm

    conta com empresas brasileiras, sobretudo no fornecimento de torres e ps.

    O potencial elico mundial passou de 6,1 GW em 1996 para 282,4 GW em 2012. Os

    principais mercados que impulsionaram esse crescimento foram Europa (Alemanha e Espanha),

    8 - a carcaa montada sobre a torre, onde se situam o gerador, a caixa de engrenagens (quando utilizada), todo o sistema de

    controle, medio do vento e motores para rotao do sistema para o melhor posicionamento em relao ao vento.

  • America do Norte (Estados Unidos) e sia (China e ndia). Sendo a China um dos carros chefes do

    crescimento nos ltimos anos, instalou 25% do potencial elico instalado no mundo. Cabe pensar as

    especificidades dos Estados que lideram esse crescimento industrial nos ltimos anos. A China e a

    ndia como grandes potenciais mercados em expanso participantes dos BRICS -, os Americanos

    do Norte e europeus, principalmente esses ltimos, sempre estiveram na vanguarda do

    desenvolvimento das foras produtivas.

    Em abril de 20139 o Brasil contava com capacidade elica instalada de 2,693 MW,

    resultante, em boa parte, do Programa de Incentivo s Fontes Alternativas de Energia Eltrica

    (Proinfa), que, em 2002, disponibilizou 5,6 bilhes de reais atravs do BNDS para o financiamento

    s fontes alternativas. Espera-se que a capacidade instalada para 2016 seja cerca de 8 GW.

    Afim de potencializar a entrada da matriz energtica elica no pas, o Centro de

    Referncia para Energia Solar e Elica (Cresesb Cepel) divulgou um Atlas do Potencial Elico

    Brasileiro. O que acaba por estabelecer uma meta de produo, se a dita natureza pode me fornecer

    x de energia, no faz parte da lgica interna do capital no explor-la em seu limite. Ao calcular o

    potencial de gerao de energia dos ventos j seleciona-se a matria-prima (substrato natural)

    explorada a posteriori.

    O PROINFA Programa de Incentivo s Fontes de Alternativas de Energia Eltrica

    institudo pela lei n 10438, de 26 de abril de 2002, em seu art. 3 tem como objetivo o aumento

    da participao de energia eltrica gerada a partir de unidades de produo baseada em biomassa,

    elica e pequena central hidreltrica, no PCH Sistema Interligado Nacional SIN. Segundo suas

    diretrizes, o programa teve duas etapas de procedimentos distintos, na primeira etapa, foram

    contratados 3300 MW de potncia instalada, mediante duas chamadas pblicas com datas-limite de

    assinatura de contrato em 29 de abril 30 de outubro de 2004. Tais contrataes sero divididas

    igualmente entre aquelas fontes, cabendo portanto, 1100 MW para cada uma. O prazo para entrada

    em operao comercial dos empreendimentos contratados foi 30 de dezembro de 2006. (Ser que

    todas esto postas em funcionamento??)

    Aps a primeira etapa do PROINFA, o Ministrio de Minas e Energia definir o

    montante de energia renovvel a ser contratado, considerando que o impacto de contratao de

    fontes alternativas na formao da tarifa mdia de suprimento no poder exceder um limite pr-

    definido, em qualquer ano, quando comparado com o crescimento baseado exclusivamente em

    fontes convencionais. Alm disso, os empreendimentos devero comprovar um grau de

    nacionalizao de equipamentos e servios, em valor, no inferior a 90%.

    O valor econmico correspondente a cada fonte, a ser definido pelo Ministrio de

    Minas e Energia, e vlido para primeira etapa do Programa, ser o de venda de energia eltrica para

    9 - Segundo a Abeelica Associao Brasileira de Energia Elica

  • as Centrais Eltricas Brasileira S.A - Eletrobrs

    3. Naturalizao da mercadoria como totalidade

    A mercadoria que parece sanar-se em sua fsica, como se valor de uso no implicasse

    trabalho humano, em sua essncia algo emaranhado, com muitas sutilezas metafsicas e

    melindres teolgicos. Claro que os homens sempre criaram coisas, entalharam madeiras,

    martelaram ferro, no entanto elas seguem sendo madeira e ferro, de outra forma, talvez mais

    funcional, uma coisa sensvel e banal. Ao tornarem-se mercadorias transmutam-se em coisas

    sensveis e suprassensveis(Analogia Fausto, de Marx). Apreensveis ao esprito, que deseja ver

    seu reflexo no mundo, transbordando todas as cores possveis desde aos alucingenos s super

    cores da indstria - salivando pelos novos melhores sabores benznicos do mercado, regurgitando

    pelo cheiro ftido de seus rios de gua quase lquida, acessando todo o seu sensual(sensualistas),

    pois naturalizamos nossos sentidos como uso, pois no mundo da mercadoria, tudo /possui um valor

    de uso, pois a conscincia contemplativa necessria para a forma mercadoria ser. Sendo assim,

    para que haja valor de uso, precisa-se, a priori, da criao de valor, a um carter enigmtico do

    produto do trabalho; se o natural possusse valor por si s, como uso, logo o valor no precisaria da

    forma trabalho para existir.

    Para uma mercadoria efetivar-se como tal, deve aparecer como valor de uso e valor

    de troca, onde um elemento da troca trocar o valor de uso (ilusrio) pelo valor de troca, quem

    compra precisa acreditar no uso do que foi comprado (talvez sua dita natureza) e como pode ser

    trocado - quantidade de trabalho abstrato no caso dinheiro. A medida do dispndio de fora

    humana de trabalho por meio de sua durao assume a forma da grandeza de valor dos produtos do

    trabalho.(Marx, p167) Ento, para que haja valor necessrio trabalho, seja ele valor de troca ou

    valor de uso. O que aparece como fantasmagoria da forma mercadoria que ela reflete aos homens

    os caracteres sociais de seu prprio trabalho como caracteres objetivos dos prprios produtos do

    trabalho, ou seja, algo que diz respeito exclusivamente ao mundo do trabalho a contagem de horas

    de trabalho aparece como algo da objetividade do mundo, como se tudo pudesse ser mensurado

    por horas de trabalho, como propriedades naturais a essas coisas. No entanto, o valor seja ele uso

    ou troca nada tem a ver com a natureza das coisas e das relaes materiais que delas resultam,

    apenas a relao dos prprios homens, socialmente determinada por eles, que assume a forma

    fantasmagrica de uma relao entre coisas.

    Dentro do grande mundo da mercadoria, a exclusividade da relao acaba tornando os

    homens mercadorias tambm; simplesmente como um nmero nas despesas da empresa ou como a

    sua especificidade o manda, comprando mais mercadorias. Sendo o trabalho a nica forma de se

    criar valor, o homem aparece como mercadoria especfica, a nica a gerar valor, sendo assim, cabe a

  • ele alimentar essa tautologia. A partir disso percebe-se o especificidade da mercadoria homem, sua

    diferena crassa em relao s outras, ele consome o produto do trabalho abstrato do mundo e

    contribui para o banco de horas gelatinoso desse mesmo trabalho. A relao social estabelecida

    pelos homens passa pelo fetichismo da medida, os homens acreditam que podem mensurar o que

    eles criam, que pode transform-los em abstraes. Aqui os produtos da cabea dos homens cria

    vida prpria, como figura independentes que se relacionam. A isso, no primeiro captulo do Capital,

    Marx chamaria de fetiche, o momento em que os produtos do trabalho esto colados com a forma

    mercadoria, penso que esse fetiche pode ser uma das formas de naturalizar o mundo lgico e sua

    forma sujeito-objeto.

    Ocorre uma inverso, qualidade das coisas, que algo do homem, passa a integrar o ser

    da mercadoria, sendo assim sua natureza mesmo que fetichistamente - enquanto a quantidade

    passa a integrar a vida do homem, as horas de trabalho passam a ser o qualidade de sua vida. Sua

    qualidade ser quantidade de trabalho social total. A relao social entre os trabalhos privados

    aparece como realmente , apenas como relaes reificadas entre pessoas e relaes sociais entre

    coisas. As relaes que aparecem como naturais so as formas de sociabilidade reificadas postas

    como ontolgicas ao homem.

    O homem confrontado com sua prpria atividade, com seu prprio trabalho como

    algo objetivo, independente dele e que o domina por leis prprias, que lhes so estranhas (Lukacs,

    reificao, nota XIII). Esse trabalho abstrato legitima-se, tambm, com a naturalizao do valor,

    pois os homens equiparam entre si seus diferentes trabalhos como trabalho humano, acreditam que

    cada especificidade cria um uso diferente, que os confere valor de uso, e ao equiparar todo tipo de

    trabalho cria-se uma universalidade, a do trabalho humano abstrato, ou seja, acredita-se que as

    mercadorias possuem sua particularidade enquanto uso e por isso so trocadas (pois possuem

    natureza), entretanto afirmam a essncia dessas mesmas mercadorias a quantidade do mundo a

    chamada gelatina de trabalho humano (pois possuem trabalho), uma abstrao que coloca tudo a

    preo de tudo, ou seja, tudo pode ser trocado por tudo pois possuem em seu mago horas de

    trabalho humano e uma aura do mundo.

    No entanto esse fetichismo no supra-histrico. A anttese mora no confrontamento

    da forma servil que precisa ser negada, pois o trabalho quantificado era o posto como legtimo. A

    relao servil parece ser muito diferente da nossa de produtores de valor, os servos eram a terra

    para os senhores, que as herdavam com uma quantia de cabeas de servos, como as flores de seu

    jardim. Como os servos viam isso? Talvez fossem a terra mesmo, sentiam tambm ser terra (ou no,

    no sentiam nada?), a mora um ponto importante, a forma trabalho no pode pressentir de algo no

    indivduo abstrato, apartado de todo o mundo, preso dentro de si, vivendo a contradio entre achar

    que no se tudo (posto como objeto no mundo), pois o mundo fenomnico das mercadorias a

  • nossa negao, e ser tudo, constitudo de tudo que nos atingiu os sentidos durante toda nossa vida

    (posto como sujeito no mundo). Para a forma mercadoria ser ontolgica, necessrio que

    ontologizemos tambm as formas de ser desse mundo, a forma sujeito e objeto.

    Essa ruptura, esse apartamento, como queiramos chamar, talvez seja a prpria

    naturalizao a diviso do mundo em trabalho e substrato natural, sujeito e objeto, ou ainda,

    valor de uso e valor de troca. Como se deu isso? Um rompimento umbilical, tornando o homem

    (ideal) um homem (tambm ideal), pequeno comparado ao mundo que o cerca, sem nada, sozinho

    dentro de sua arrogncia tambm importante colocar a idealidade do homem unido a algo que

    no se pode imaginar, afinal, quem a dona desse cordo? Segundo Raymond Williams, em menos

    de cem anos (dos 1600 aos 1700) os poemas buclicos mudaram muito, paisagens que antes no

    eram importantes e cantadas como um lugar onde nada nascia, passam a ser exaltadas como um

    mundo de 'natureza', ou seja, o apartamento associa-se a um romantismo do mundo que se perdeu.

    Para Adorno, s o pensamento que se faz violncia a si mesmo suficientemente duro para

    destruir mitos, parece-me que quando o homem s o era, ou seja, quando no pensava sobre o

    prprio homem, vivia-se tudo, mesmo que esse tudo seja a terra ao seu redor (??), j quando o

    esclarecimento se pe como hegemnico, o mundo partilhado tambm se afirma, o mundo

    objetivado a partir de 'ns', ou que achamos ser - sujeito. Ainda na Dialtica do Esclarecimento l-se

    que cantar a ira de Aquiles e as Aventuras de Ulisses j uma estilizao nostlgica daquilo que

    no se deixa mais cantar, a partir do momento em que nos colocamos, como forma de pensamento,

    separados do mundo, quando nos chamamos de sujeito e vivemos em um mundo de objetos, ditos

    assim natureza, passamos a cantar o que nos est apartado, cantamos o que no pode formalmente

    mais existir. Essa dita natureza , tambm, um dos libis para o pensamento que faz violncia a si

    mesmo o cientfico reafirmando a necessidade de ser sujeito sobre um mundo, ser homem social

    contra a objetivao desse mesmo homem, a dita natureza.

    Historicamente essa separao posta de diversas formas, para Lukacs o mercador, a

    priori um ser apartado, pois realiza a mediao entre extremos que no domina e condies que

    no cria.(MARX), para Adorno, para alienar-se da natureza ele se abandona a natureza, com a

    qual se mede em toda aventura e para Raymond, pode-se pensar na historicidade da expulso dos

    camponeses dos campos Europeus, no boom iluminista que vinha esclarecendo o mundo.

    A economia clssica coloca o valor na natureza, afinal de contas quando os fisiocratas

    deixaram de colocar a renda fundiria como nascente da terra? Pode-se pensar, a partir disso, que

    naturaliza-se a forma valor, pe ela no que existe de mais basal para o homem, a prpria terra em

    que se vive.(pensar como realizar esse salto) Sendo assim, o que diz respeito a toda materialidade,

    inclusive os homens, apenas o valor. Forma necessria para a troca, a sujeio do mundo pelo

    fetiche do valor de uso, pela objetivao do mundo...(marx, p157)

  • Logo a forma social mercadoria contm em si a estrutura lgica que sustenta o seu

    fundamento; a substncia natural e o trabalho colocam forma no amorfismo da relao sujeito-

    objeto. Assim como o trabalho criador de valores no plano formal, a natureza o no plano

    material.

    7. Bibliografia

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    Cristina Mota Silva, Anselmo Alfredo. So Paulo, EDUSP, 2011.

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    _____________. Natureza em runas. 2000

    _____________. A capitulao final dos abientalistas. 2001

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    Companhia das Letras, 2011.

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    Alfred Sohn Hatel

    Alfredo

    Kosik