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TÍTULO: ANÁLISES DE DESFECHOS EM CONDUTAS BASEADAS NO ILCOR 2005 E 2010 FRENTE AO RECÉM-NASCIDO COM LÍQUIDO AMNIÍOTICO MECONIAL TÍTULO: CATEGORIA: CONCLUÍDO CATEGORIA: ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE ÁREA: SUBÁREA: MEDICINA SUBÁREA: INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO INSTITUIÇÃO: AUTOR(ES): VINICIUS DOS SANTOS SGUERRI AUTOR(ES): ORIENTADOR(ES): JOSÉ SIMON CAMELO JUNIOR, PHILIPPE PINHEIRO DE PAIVA ORIENTADOR(ES):

TÍTULO: ANÁLISES DE DESFECHOS EM CONDUTAS …conic-semesp.org.br/anais/files/2015/trabalho-1000021306.pdf · 2015-11-18 · O mecônio tem sua produção a partir da 10ª semana

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TÍTULO: ANÁLISES DE DESFECHOS EM CONDUTAS BASEADAS NO ILCOR 2005 E 2010 FRENTE AORECÉM-NASCIDO COM LÍQUIDO AMNIÍOTICO MECONIALTÍTULO:

CATEGORIA: CONCLUÍDOCATEGORIA:

ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDEÁREA:

SUBÁREA: MEDICINASUBÁREA:

INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETOINSTITUIÇÃO:

AUTOR(ES): VINICIUS DOS SANTOS SGUERRIAUTOR(ES):

ORIENTADOR(ES): JOSÉ SIMON CAMELO JUNIOR, PHILIPPE PINHEIRO DE PAIVAORIENTADOR(ES):

Universidade de São Paulo

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

Departamento de Puericultura e Pediatria

“ANÁLISE DE DESFECHOS EM CONDUTAS BASEADAS NO ILCOR

2005 E ILCOR 2010 FRENTE AO RECÉM-NASCIDO COM LÍQUIDO

AMNIÓTICO MECONIAL”

Ribeirão Preto

2015

PROF. DR. JOSÉ SIMON CAMELO JUNIOR Coordenador do Projeto

VINÍCIUS DOS SANTOS SGUERRI Graduando – Iniciação científica

Análise de desfechos em condutas baseadas no ILCOR 2005 e ILCOR 2010 frente ao recém-nascido com líquido amniótico meconial

Ribeirão Preto 2015

Trabalho de pesquisa na área médica apresentado ao

CONIC-SEMESP para participação em congresso

de iniciação científica.

Orientador: Prof. Dr. José Simon Camelo Junior

Prof. Ms. Philippe Pinheiro de Paiva

RESUMO

A Síndrome de Aspiração Meconial (SAM) ocorre em associação à aspiração

de líquido amniótico meconial (LAM), tendo maior prevalência em idade gestacional

avançada. A presença de LAM associa-se à hipóxia e acidose fetal, com elevação do

tono parassimpático fetal e liberação de esfíncter anal. A aspiração de mecônio para

as vias aéreas baixas ocorre ainda intraútero devido a movimentos do tipo gasping

ou logo após a transição para a vida extrauterina nos primeiros movimentos

respiratórios do neonato. A presença de mecônio na via área inferior culmina com

um processo de obstrução mecânica e inflamação que pode levar a repercussões de

origem respiratória. O manejo em sala de parto de recém-nascido na presença de

LAM segue o preconizado pelo Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade

Brasileira de Pediatria, baseado nas recomendações do International Liaison

Committee on Resuscitation (ILCOR) para neonatos não vigorosos. Em 2005, a

recomendação do ILCOR era a aspiração traqueal sob visualização direta quantas

vezes necessário até ausência de secreção. Em 2010, a recomendação foi

modificada para a realização do procedimento de aspiração traqueal sob

visualização direta apenas uma vez. O objetivo desde trabalho foi comparar

desfechos entre recomendações do ILCOR 2005 e 2010, através da revisão de

dados em prontuário médico, tendo sido incluídos 188 neonatos onde 84 receberam

intubação orotraqueal para aspiração sob visualização direta mais de uma vez

(Grupo A) e 104 a receberam apenas uma vez (Grupo B). Foram observados 5

episódios de SAM no grupo A e 3 no Grupo B. Não houve significado estatístico

entre os desfechos nos neonatos não vigorosos na presença de líquido amniótico

meconial submetidos a aspiração orotraqueal sob visualização direta mais de uma

vez ou apenas uma vez, de acordo com as condutas preconizadas pelo ILCOR.

Sugerimos que a atual recomendação de aspirar apenas uma vez é mais pertinente

visto as eventuais consequências deletérias da intubação orotraqueal e a menor

exposição do neonato a procedimento de risco.

Palavras-chave: Recém-nascido; Mecônio; Líquido Amniótico Meconial; Reanimação

Neonatal.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 5

2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 7

5. METODOLOGIA ................................................................................................. 8

5.1 TIPO DE ESTUDO.............................................................................................. 8

5.2 POPULAÇÃO DE ESTUDO ................................................................................ 8

5.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ............................................................................... 8

5.4 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO .............................................................................. 8

5.5 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 9

5.6 TAMANHO AMOSTRAL ...................................................................................... 10

5.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA ..................................................................................... 10

5.8 ASPECTOS ÉTICOS .......................................................................................... 11

6. RESULTADOS ................................................................................................... 12

7. ANÁLISES .......................................................................................................... 18

8. CONCLUSÕES .................................................................................................. 24

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 25

ANEXOS ....................................................................................................................... 29

5

1. INTRODUÇÃO

A síndrome de aspiração meconial (SAM) está relacionada à presença de

líquido amniótico meconial (LAM) e leva a diferentes alterações clínicas respiratórias

com taxa de mortalidade de até 5% (1). Foi observado que o LAM é mais prevalente

quanto maior a idade gestacional e o maior peso de nascimento (2), ocorrendo em

aproximadamente 8,5 a 19% de todos os partos, com a SAM diagnosticada em 4,9 a

5,4% desses recém-nascidos (2-4). A indução do trabalho de parto com

prostaglandinas, particularmente o misoprostol, pode estar associada com a

ocorrência de LAM (5).

O mecônio tem sua produção a partir da 10ª semana de gestação, sendo

constituído por secreções gastrointestinal, hepática, pancreática além da deglutição

de líquido amniótico, lanugo, vérnix caseoso e descamação de epitélio (6). A

síndrome de aspiração meconial é definida como uma angústia respiratória na

presença de LAM, (3,7).

Em situação de hipóxia fetal e acidose metabólica ocorre elevação do tono

parassimpático fetal, aumentando a motilidade gastrointestinal e liberando o

esfíncter anal, levando à presença de mecônio no líquido amniótico (6,8). Devido a

hipóxia intrauterina, o feto apresenta movimentos respiratórios agônicos e pode

ocorrer a aspiração de LAM (6,8). Outra forma de ocorrer aspiração de LAM é logo

após os primeiros movimentos respiratórios perinatais (6,8). Por outro lado, alguns

autores consideram a presença de mecônio no líquido amniótico um processo

fisiológico que pode ocorrer na ausência de sofrimento fetal (9).

A presença de mecônio nas vias aéreas inferiores leva à obstrução mecânica

que predispõe à atelectasia devido ao aprisionamento de gases com sua reabsorção

completa em minutos e colapso alveolar (10,11), resultando em hipóxia, hipercapnia

e acidose (6,11). A obstrução mecânica incompleta das vias aéreas, causada pela

aspiração do mecônio, ocasiona um mecanismo de válvula, onde o ar entra, mas

não pode ser expelido, com a retenção progressiva de ar nos pulmões e evolução

para o pneumotórax (12). Os mecanismos de hipóxia, hipercapnia e acidose levam a

um processo de vasoconstrição da vasculatura pulmonar, originando o quadro de

hipertensão pulmonar. Além destes mecanismos obstrutivos, a presença de

6

partículas de mecônio nas vias aéreas baixas, incluindo os alvéolos induz a ativação

de processo inflamatório que culmina em alveolite e diminuição da síntese de

surfactante, ocorrendo um quadro de pneumonite química, inflamação, infecção

bacteriana secundária e eventual doença de membranas hialinas (6,11).

Em 2006, um estudo demonstrou que o manejo de recém-nascidos tem

diminuído a incidência de SAM (13). Tratamentos como a amnioinfusão não são

indicados por não alterar a mortalidade neonatal ou a aspiração meconial (14) e

atualmente, a aspiração intraparto de recém-nascido com LAM pelo obstetra é

indiferente para o desfecho (15,16).

O Institute Liaison Committe on Ressussitation (ILCOR), apresenta

recomendações de ressuscitação neonatal, sendo que para neonato não vigoroso,

definido por frequência cardíaca abaixo de 100 batimentos por minuto e/ou gasping

e/ou hipotonia, a recomendação na presença de líquido amniótico meconial em 2005

era realizar a aspiração traqueal sob visualização direta, através de cânula traqueal

conectada ao dispositivo para aspirar mecônio ligado à fonte de vácuo com pressões

negativas ao redor de 100 mmHg, repetindo o processo quantas vezes necessário

até o momento de não se encontrar secreção meconial no aspirado (17,18); em

2010 foi alterada esta recomendação para realizar apenas uma vez o procedimento

de aspiração traqueal sob visualização direta em neonatos deprimidos e com líquido

meconial (19). Em bebês vigorosos com LAM não se recomenda a aspiração

traqueal sob visualização direta (20).

O objetivo deste trabalho foi avaliar a evolução de neonatos nascidos

deprimidos na presença de líquido amniótico meconial que foram submetidos ao

procedimento de intubação orotraqueal para aspiração sob visualização direta,

especificando se realizada uma ou mais vezes. Foi observado o prognóstico

conforme cada procedimento, na vigência de diferentes situações que cursam com

líquido amniótico meconial.

7

2. OBJETIVOS

1. Avaliar a evolução de recém-nascidos não vigorosos com LAM, intubados

uma ou mais vezes, nascidos em hospital terciário, no período de dois

anos e dez meses.

Comparar variáveis maternas e de nascimento: hábito de tabagismo e

drogadição, realização de pré-natal, via de parto, apresentação, idade

gestacional e suas relações com a ocorrência de síndrome de

aspiração meconial;

Analisar as diferenças entre as condutas de intubação uma ou mais

vezes e o índice de Apgar de quinto minuto; ocorrência de SAM;

pneumotórax; atelectasia; hipertensão pulmonar persistente do recém-

nascido; encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI); necessidade de

admissão em unidade de cuidado intensivo; uso de surfactante

exógeno; pressão positiva contínua de vias aéreas (CPAP – continuous

positive airway pressure) por via nasal, necessidade de ventilação

mecânica e óbito.

8

5. CASUÍSTICA E MÉTODOS

5.1 TIPO DE ESTUDO

Estudo observacional, analítico tipo coorte. A fonte utilizada foi o prontuário

médico.

5.2 POPULAÇÃO DE ESTUDO

Pacientes nascidos no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de

Ribeirão Preto-USP (HCFMRP-USP), que apresentaram líquido amniótico meconial

e que estiverem deprimidos ao nascer, no período de 01/08/2007 a 31/12/2008 e

01/01/2013 a 30/05/2014.

5.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Para os objetivos do estudo, foram incluídos todos os recém-nascidos que

preencheram os seguintes critérios:

1. Idade gestacional ao nascimento igual ou acima de 37 semanas;

2. Presença de líquido amniótico meconial no relatório pediátrico de

nascimento com o recém-nascido não vigoroso no nascimento, definido

por frequência cardíaca abaixo de 100 batimentos por minuto e/ou gasping

e/ou hipotonia (19).

5.4 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

1. Idade gestacional menor que 37 semanas ao nascimento;

2. Recém-nascidos não nascidos no hospital;

3. Recém-nascidos com risco de sepse neonatal definida por: bolsa rota de

tempo indeterminado ou por tempo maior que 18 horas, infecção materna

9

do trato urinário não tratada, com tratamento inferior a 72 horas ou

tratamento por mais de 72 horas porém manutenção dos sintomas, febre,

corioamnionite e colonização por Streptococcus agalactiae (21).

4. Recém-nascido vigoroso na presença de líquido amniótico meconial,

definido por frequência cardíaca acima de 100 batimentos por minuto e

tônus adequado em flexão e movimentos respiratórios rítmicos e regulares

ou choro forte.

5. Ausência de líquido amniótico meconial no relatório pediátrico do

nascimento.

6. Malformações congênitas.

5.5 MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizada a revisão dos prontuários médicos dos pacientes que se

adequaram nos critérios acima e colhidos os dados através de uma ficha de dados

padronizada (Anexo A) com elaboração de banco de dados no software Microsoft

Office Excel 2013®, com cada paciente identificado pelo número do prontuário do

hospital para facilitar nova coleta de informações, se necessário.

Foram coletadas variáveis maternas relacionadas a intercorrências no pré-

parto e parto e que podem trazer comprometimento fetal. Foi registrado o hábito de

tabagismo e uso de drogas ilícitas; realização de pré-natal adequado, sendo

considerado adequado o número mínimo de seis consultas, conforme preconizado

pelo Ministério da Saúde do Brasil (22); a idade gestacional em semanas e dias,

determinada pela ultrassonografia obstétrica de primeiro trimestre ou

ultrassonografia obstétrica de segundo trimestre ou ainda, pelo tempo de

amenorreia, confirmado pelo método de Capurro somático (23) quando este

disponível, adotando apenas um, nessa ordem preferencialmente; apresentação

cefálica, córmica ou pélvica e via de parto vaginal, fórceps ou cesárea.

Também foram registrados os dados relativos à data e hora de nascimento,

ao gênero do recém-nascido, peso de nascimento em gramas e qual a conduta

adotada em sala de parto: se realizada intubação orotraqueal para aspiração sob

visualização direta uma vez (19) ou mais de uma vez (18).

10

Em seguida, foram colhidos os dados relacionados aos desfechos, como a

ocorrência de Síndrome de Aspiração Meconial definida por uma angústia

respiratória no recém-nascido impregnado por líquido amniótico meconial,

confirmado por radiografia (3); índice de Apgar no quinto minuto após o nascimento,

pois está relacionado com mau prognóstico neurológico quando seu valor é inferior a

sete (24); admissão em unidade de cuidado intermediário ou intensivo; uso de

surfactante exógeno, assistência ventilatória por modalidade de CPAP nasal, ou

ventilação mecânica (VM), definida por indicação clínica do médico que presta

assistência ao paciente; pneumotórax definido como escape de ar para o espaço

interpleural e confirmado através de radiografia ou toracocentese diagnóstica;

atelectasia definida por radiografia; diagnóstico de encefalopatia hipóxico-isquêmica,

definida por: índice de Apgar menor ou igual a 3 no quinto minuto, evidência de

acidose com pH inferior a 7 no sangue da artéria umbilical, manifestações

neurológicas (convulsões, coma, hipotonia) e disfunção em múltiplos órgãos (24-25);

diagnóstico de hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido, definida por:

evidencias ultrassonográficas de hipertensão pulmonar, ou diferença de oxigenação

arterial em sítios pré-ductais e pós-ductal (grandiente superior a 20 mmHg ou

diferença de saturação de oxigênio maior que 5%) ou dois ou mais episódios de

saturação de oxigênio abaixo de 85% que necessitem aumento no suporte

ventilatório ou ventilação mecânica manual ou ainda necessitar ventilação mecânica

com fração de inspiração de oxigênio de 100% e mantendo cianose central

(pressão arterial de oxigênio pré-ductal menor que 100mmHg ou saturação pós-

ductal menor que 90%) (26); e evolução para óbito.

5.6 TAMANHO AMOSTRAL

A amostra incluiu todos os neonatos nascidos no Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo entre

Agosto de 2007 a Dezembro de 2008 e Janeiro de 2013 a Maio de 2014 de acordo

com os critérios definidos. Os períodos caracterizam-se por orientações diferentes

na aspiração traqueal de LAM em sala de parto.

11

5.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Para se associar as variáveis independentes (realização de pré-natal

adequado, vícios maternos, idade gestacional ao nascimento, indução do trabalho

de parto, apresentação, via de parto e realização de intubação orotraqueal uma vez

ou mais de uma vez) ao desfecho ocorrência de síndrome de aspiração meconial e a

realização de uma ou mais intubações orotraqueais aos desfechos: Apgar de quinto

minuto abaixo de 7, admissão em unidade de cuidado intermediário, uso de

surfactante exógeno, necessidade de suporte respiratório, ocorrência de

pneumotórax, atelectasia, hipertensão pulmonar persistente, encefalopatia hipóxico-

isquêmica e óbito), foram ajustados modelos de regressão log-binomiais, que

permitiram a obtenção de riscos relativos e o intervalo de confiança no nível de 95%.

Foram calculados riscos relativos brutos e ajustados, elaborados através do software

SAS 9.2®.

5.8 ASPECTOS ÉTICOS

Essa pesquisa foi realizada através da coleta de dados em prontuário médico,

sem qualquer risco à privacidade e violação do sigilo de informações e obteve

autorização do Comitê de Ética em Pesquisa do HCFMRP-USP e dispensa da

obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

12

6. RESULTADOS

Foram contabilizados 5.517 nascimentos a termo entre os períodos de

01/08/2007 a 31/12/2008 e 01/01/2013 a 31/05/2014 no HCFMRP-USP, tendo sido

excluídos 1.631 prontuários, com base em banco de dados hospitalar devido a

presença de idade gestacional menor que 37 semanas, malformações congênitas e

risco de sepse ou sepse.

Foram revisados 3.886 prontuários de recém-nascidos a termo, com idade

gestacional maior que 37 semanas no período acima descrito, encontramos a

incidência de 755 (19,4%) crianças com líquido amniótico meconial segundo o

relatório pediátrico de nascimento e destes, 25% nasceram não vigorosos.

Incluímos neste trabalho 188 neonatos com LAM e deprimidos ao nascer,

dentre os quais 104 (55,3%) receberam intubação orotraqueal (IOT) para aspiração

sob visualização direta uma vez, definidos como Grupo B e 84 (44,7%) receberam

IOT mais de uma vez, definidos como Grupo A. Previamente a 2011, 32 neonatos

foram submetidos a IOT para aspiração sob visualização direta apenas uma vez,

sendo incluídos no Grupo B e posteriormente a 2011, apenas 1 neonato foi

submetido a IOT para aspiração sob visualização direta mais de uma vez, sendo

incluído no Grupo A.

Entre os recém-nascidos da amostra, 51,6% correspondiam ao gênero

feminino. A Tabela 1 caracteriza a amostra quanto à idade gestacional, peso de

nascimento e índice de Apgar no quinto minuto de vida.

Tabela 1 – Características da amostra de recém-nascidos em relação à idade

gestacional, peso de nascimento e Apgar de quinto minuto

Características Média ± DP* Mediana Mínimo Máximo

Idade Gestacional (semanas) 39,9 ± 1,1 40 370/7 445/7

Peso de Nascimento (gramas) 3295,3 ±

493,8

3255 1820 4580

Apgar Quinto Minuto 8,9 ± 1,3 9 0 10

*DP: desvio-padrão

Sobre as variáveis maternas, encontramos: 11,7% eram tabagistas, 2,7%

13

usuárias de drogas, além 84,6% realizações adequadas de pré-natal. A Tabela 2

apresenta as variáveis maternas da amostra e sua frequência absoluta nos grupos A

e B.

Tabela 2 – Distribuição absoluta de variáveis maternas nos grupos A e B

Característica Materna Frequência Grupo A1 Grupo B2

Tabagistas 22 14 8

Usuárias de drogas 5 1 4

Pré-natal adequado 159 72 87

1 Grupo A: Intubação orotraqueal sob visualização direta e aspiração mais de uma vez; 2 Grupo B: Intubação orotraqueal sob visualização direta e aspiração apenas uma vez

Sobre as variáveis de parto, encontramos 43,6% de partos cesarianos e

56,4% foram partos vaginais, dos quais 9,1% foram partos instrumentados com

fórceps. Em relação à apresentação, 96,8% neonatos tiveram apresentação cefálica,

2,7% neonatos com apresentação pélvica e apenas 1 (0,5%) neonato com

apresentação córmica. A Tabela 3 apresenta as variáveis do parto da amostra e sua

frequência absoluta em relação aos grupos A e B.

Tabela 3 – Distribuição absoluta de variáveis do parto nos grupos A e B

Característica do Parto Frequência Grupo A1 Grupo B2

Via de Parto

Vaginal 89 39 50

Fórceps 17 8 9

Cesariano 82 37 45

Apresentação

Cefálica 182 81 101

Pélvica 5 3 2

Córmica 1 0 1

1 Grupo A: Intubação orotraqueal sob visualização direta e aspiração mais de uma vez; 2 Grupo B: Intubação orotraqueal sob visualização direta e aspiração apenas uma vez

Entre os desfechos observados, 4,3% dos neonatos desenvolveram Síndrome

de Aspiração Meconial de acordo com os critérios definidos anteriormente. Também

foi observado que 8,0% recém-nascidos necessitaram admissão em unidade de

cuidados intermediários (UCI) ou de terapia intensiva neonatal (UTI) e 12,2% das

14

crianças apresentaram Apgar de quinto minuto menor ou igual a sete.

Em relação ao suporte ventilatório, 2,7% das crianças necessitaram uso de

CPAP nasal e 1,6% necessitaram ventilação mecânica. Observamos na amostra a

ocorrência de episódios de pneumotórax em 1,6% dos casos e de encefalopatia

hipóxico-isquêmica em 1,1% dos casos. A Tabela 4 apresenta a distribuição

absoluta e relativa dos desfechos observados em relação aos grupos A e B. Nessa

casuística não foram encontrados episódios de atelectasia, hipertensão pulmonar

persistente do recém-nascido ou necessidade do uso de surfactante exógeno.

Tabela 4 – Distribuição absoluta e relativa dos desfechos observados na amostra

Desfecho Frequência Grupo A1 (%) Grupo B2 (%)

SAM3 8 5 (62,5%) 3 (37,5%)

UTI/UCI4 15 6 (40%) 9 (60%)

CPAP5 5 2 (40%) 3 (60%)

VM6 3 1 (33,3%) 2 (66,7%)

Pneumotórax 3 1 (33,3%) 2 (66,7%)

EHI7 2 1 (50%) 1 (50%)

Apgar 5º minuto <

7

23 12 (52,2%) 11 (47,8%)

1 Grupo A: Intubação orotraqueal sob visualização direta e aspiração mais de uma vez; 2 Grupo B: Intubação orotraqueal sob visualização direta e aspiração apenas uma vez; 3 SAM: Síndrome de Aspiração Meconial; 4: UTI/UCI: admissão em unidade de terapia intensiva ou de cuidados intermediários; 5 CPAP: necessidade de pressão positiva contínua de via aérea; 6 VM: ventilação mecânica; 7 EHI: encefalopatia hipóxico-isquêmica

Entre todos os recém-nascidos incluídos, houve apenas 1 (0,5%) óbito

decorrente de complicações cardiorrespiratórias em virtude de SAM, pertencente ao

Grupo A.

Entre os recém-nascidos que desenvolveram SAM, a Tabela 5 apresenta a

distribuição absoluta e relativa dos desfechos como a o índice de Apgar de quinto

minuto, admissão em UTI ou UCI, necessidade do uso de CPAP ou VM, bem como a

ocorrência de pneumotórax e EHI. Observamos que nos pacientes que

desenvolveram SAM o índice de Apgar de quinto minuto teve a média de valor 7 (DP

±3,25; mínimo: 0; máximo: 10).

15

Tabela 5 – Distribuição absoluta e relativa dos desfechos nos grupos A e B dos

neonatos que desenvolveram SAM

Desfecho Frequência (%) Grupo A1 (%) Grupo B2 (%)

SAM3 8 (100%) 5 (62,5%) 3 (37,5%)

Apgar < 7 no 5º

minuto

5 (62,5%) 3 (60%) 2 (66,7%)

UTI/UCI4 6 (75%) 3 (60%) 3 (100%)

CPAP5 2 (25%) 1 (20%) 1 (33,3%)

VM6 2 (25%) 1 (20%) 1 (33,3%)

Pneumotórax 2 (25%) 1 (20%) 1 (33,3%)

EHI7 1 (12,5%) 0 1 (33,3%)

Óbito 1 (12,5%) 1 (20%) 0

1 Grupo A: Intubação orotraqueal sob visualização direta e aspiração mais de uma vez; 2 Grupo B: Intubação orotraqueal sob visualização direta e aspiração apenas uma vez; 3SAM: Síndrome de Aspiração Meconial; 4UTI/UCI: admissão em unidade de terapia intensiva ou de cuidados intermediários; 5CPAP: necessidade de pressão positiva contínua de via aérea; 6VM: ventilação mecânica; 7EHI: encefalopatia hipóxico-isquêmica

Na Tabela 6 está representada a associação entre aspiração orotraqueal sob

visualização direta uma vez e mais de uma vez e o desfecho em síndrome de

aspiração meconial. O risco relativo e intervalo de confiança estão ajustados para

gênero, idade gestacional e realização de pré-natal.

Tabela 6 – Risco relativo e intervalo de confiança em relação a aspiração orotraqueal

e ocorrência de síndrome de aspiração meconial

Frequência1 RR2 Bruto (IC3 95%) RR Ajustado (IC 95%)

Grupo A4 5/84 2,06 (0,51-8,38) 2,09 (0,51-8,56)

Grupo B5 3/104

1Frequência: número absoluto de ocorrência de SAM nos grupos A e B; 2RR: Risco relativo; 3IC:

intervalo de confiança; 4 Grupo A: Intubação orotraqueal sob visualização direta e aspiração mais de

uma vez; 5 Grupo B: Intubação orotraqueal sob visualização direta e aspiração apenas uma vez;

Na Tabela 7 estão representados a associação entre gênero, idade

gestacional e realização de pré-natal e o desfecho em síndrome de aspiração

meconial. Os riscos relativos e intervalos de confiança estão ajustados entre si e

para aspiração orotraqueal sob visualização direta.

16

Tabela 7 – Risco relativo e intervalo de confiança para associação entre gênero,

idade gestacional e adequação de pré-natal para a ocorrência de síndrome de

aspiração meconial.

Frequência1 RR2 Bruto (IC3

95%)

RR Ajustado (IC

95%)

Gênero Masculino 4/91 1,07 (0,27-4,14) 0,98 (0,25 – 3,82)

Feminino 4/97

IG4 < 40

semanas

5/102 1,4 (0,34 – 5,71) 1,27 (0,3 – 5,37)

> 40

semanas

3/86

Pré-Natal Inadequado 2/22 2,41(0,51 – 11,2) 2,32 (0,48 – 11,28)

Adequado 6/159

1Frequência: número absoluto de ocorrência de SAM em relação a gênero, idade gestacional e adequação de pré-natal nos grupos A e B; 2 RR: Risco Relativo; 3 IC: Intervalo de Confiança; 4IG: Idade gestacional

Nas tabelas 8 e 9 estão representadas as associações entre aspiração

orotraqueal sob visualização direta apenas uma vez ou mais de uma vez e os

desfechos observados: Apgar de quinto minuto (menor que 7), admissão em UTI ou

UCI, necessidade de uso de CPAP, necessidade de ventilação mecânica, ocorrência

de pneumotórax e ocorrência de encefalopatia hipóxico-isquêmica. Foram

calculados os riscos relativos brutos e o intervalo de confiança em 95%.

17

Tabela 8 – Risco relativo e intervalo de confiança para ocorrência de Apgar de quinto

minuto menor que sete, pneumotórax e encefalopatia hipóxico-isquêmica na relação

entre aspiração uma vez e mais de uma vez

Frequência RR1 Bruto IC2 95%

Apgar 5’ < 7

3

Aspiração mais de uma

vez

12/84 1,35 0,62 – 2,91

Aspiração uma vez 11/104

Pneumotórax Aspiração mais de uma

vez

2/84 2,48 0,23 –

26,84

Aspiração uma vez 1/104

EHI 4 Aspiração mais de uma

vez

1/84 1,24 0,08 – 19,5

Aspiração uma vez 1/104

1 RR: Risco Relativo; 2 IC: Intervalo de Confiança; 3 Apgar 5’ < 7: Apgar de quinto minuto menor que sete; 4 EHI: encefalopatia hipoxico-isquêmica.

Tabela 9 – Risco relativo e intervalo de confiança para necessidade de admissão em

UTI ou UCI, necessidade de uso de CPAP ou ventilação mecânica na relação entre

aspiração mais de uma vez e apenas uma vez

Frequência RR1 Bruto IC2 95%

UTI ou UCI 3 Aspiração uma vez 9/104 1,21 0,45 – 3,26

Aspiração mais de uma

vez

6/84

CPAP4 Aspiração uma vez 3/104 1,21 0,21 – 7,08

Aspiração mais de uma

vez

2/84

VM5 Aspiração uma vez 2/104 1,62 0,15 –

17,51 Aspiração mais de uma

vez

1/84

1 RR: Risco Relativo; 2 IC: Intervalo de Confiança; 3 UTI ou UCI: admissão em unidade de cuidados intensivos ou em unidade de cuidados intermediários; 4 CPAP: necessidade de pressão positiva contínua de via aérea; 5 VM: necessidade de ventilação mecânica.

18

7. ANÁLISES

Este estudo foi motivado pela compreensão de aprimorar as condutas e

diminuir a agressividade destas buscando sempre melhorar sua eficácia e por isso

comparamos as recomendações de ressuscitação neonatal instituídas em 2005 e

2010 pelo ILCOR (18,19) e adotadas pelo Programa de Reanimação Neonatal da

Sociedade Brasileira de Pediatria frente ao recém-nascido não vigoroso na presença

de líquido amniótico meconial e seus desfechos. No Hospital das Clinicas da

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo os

protocolos preconizados internacionalmente foram adotados de acordo com as

recomendações nacionais, onde antes de 2011 em neonatos não vigorosos tingidos

de mecônio eram realizadas aspirações orotraqueais sob visualização direta quantas

vezes fossem necessárias e a partir deste período, realizadas apenas uma vez.

Observamos em nossa amostra, obtida em centro hospitalar terciário com partos de

alto risco, que a incidência de líquido amniótico meconial foi superior àquela

observada em partos de risco habitual (27), sendo a incidência observada por nós

próxima ao limite superior de nossa revisão (2), entretanto as taxas de ocorrência de

síndrome de aspiração meconial foram discretamente inferiores às descritas (2-3,

13, 28-29). Revisando a literatura, Mundhra e Agarwal observaram número

discretamente superior de partos cesarianos em relação a nós, entretanto as taxas

de parto vaginal instrumentado foram semelhantes em nosso estudo e em sua

observação (30). Embora tenha sido parte do objetivo deste trabalho, devido ao

baixo número da amostra não conseguimos correlacionar o tabagismo e uso de

drogas maternos com o líquido amniótico meconial ou com os desfechos nos dois

grupos estudados. Em relação aos desfechos observados como a ocorrência de

SAM, Apgar de quinto minuto menor ou igual a sete, necessidade de suporte

ventilatório ou ocorrência de encefalopatia hipóxico-isquêmica e pneumotórax, não

houve diferenças significativas entre os grupos estudados.

A coleta de dados, foi realizada em um período de total de três anos, entre

2007 e 2008 bem como 2013 e 2014, todos originários de gestações de risco alto,

por diversas patologias, em hospital de nível terciário. Foram revisados os

prontuários nestes períodos devido a alteração das condutas em 2011 em relação a

19

aspiração sob visualização direta, que possibilitaria atingir o objetivo de comparar

desfechos em dois grupos. Não foi utilizado cálculo para definir tamanho amostral,

tendo sido, portanto, adotada uma amostra não probabilística de conveniência.

Houve 5.517 nascimentos sendo excluídos, com base em banco de dados

hospitalar, 1.631 nascimentos devido a causas descritas como idade gestacional

menor que 37 semanas, malformações congênitas bem como risco de sepse ou

sepse neonatal.

Foram revisados 3.886 prontuários no período estudado e observamos que o

LAM é um evento frequente, incidindo em 19,4% dos partos e 1 a cada 4 neonatos,

segundo os critérios adotados pelas recomendações do ILCOR, não estavam

vigorosos ao nascer. Apenas os neonatos não vigorosos receberam aspiração

orotraqueal sob visualização direta uma ou mais vezes de acordo com as

recomendações. Em um centro de parto normal de risco habitual brasileiro, Osava et

al observou a incidência de 11,9% de partos com líquido amniótico meconial (27).

Acreditamos que a incidência observada em nossa amostra seja maior devido

apenas serem incluídos recém-nascidos de gestações de alto risco. A taxa

encontrada por nós é corroborada na literatura por Sedaghatian et al. que publicou

em 2000 um estudo onde observou a presença de 19% de neonatos de diversas

etnias expostos ao LAM ao nascer (2). Também observamos que a síndrome de

aspiração meconial (SAM) está presente em 4,3% dos casos onde ocorre LAM e em

0,2% dos nascimentos no período observado. Esses valores são semelhantes aos

encontrados na literatura, como no estudo de Wiswell, Tuggle e Tunner em 1990,

onde foi observada a incidência de 5,41% de casos de SAM na presença de LAM

(3). Embora tenhamos observado incidência menor de SAM, nossos resultados vão

ao encontro do proposto por Wiswell, Tuggle e Tunner em suas análises, de que os

casos dessa síndrome estejam diminuindo com os anos, principalmente devido a

padronização de condutas. Nossas observações são corroboradas por outros

autores (2,13,28-29).

Em nossa amostra observamos que 43,6% de partos com LAM foram

cesarianos, número discretamente inferior ao encontrado por Mundhra e Agarwal

que encontraram 49,09% cesarianas nos casos com líquido amniótico meconial (30),

entretanto os partos vaginais instrumentados foram semelhantes em ambos os

estudos. Embora os partos cesarianos sejam elevados em relação as

20

recomendações atuais, esses valores se justificam devido a amostra ter sido obtida

em um hospital terciário, onde todos os partos realizados são oriundos de gestações

de alto risco.

Fischer et al. publicou um estudo em 2012 que mostrava a associação entre o

aumento linear da incidência de LAM e SAM a partir de 37 semanas de gestação

(28), bem como Sedaghatian et al. observou o aumento da incidência de LAM com o

aumento da idade gestacional (2). Em nossa amostra, todos os neonatos não eram

vigorosos ao nascer e apresentavam LAM, com média e mediana de 40 semanas de

idade gestacional e que 51% dos neonatos observados tinham idade gestacional

maior que 40 semanas. Esse dado é semelhante aos encontrados por Mundhra e

Agarwal em seus resultados (30). Não foram feitas análises estatísticas nessa

amostra para correlacionar LAM e idade gestacional devido baixo número de

indivíduos na amostra. Com discretas variações na literatura vigente em relação à

incidência de LAM bem como a ocorrência de SAM e suas relações com a idade

gestacional, vias de parto e apresentação ao nascimento, a amostra observada no

HCFMRP-USP é semelhante à encontrada em outros trabalhos, corroborando

inclusive com a evidência de que a SAM vem diminuindo com o passar dos anos.

Não observamos na literatura estudos semelhantes ao objetivo proposto de

comparar as recomendações do ILCOR em 2005 e 2010 e desfechos em crianças

não vigorosas e tingidas de mecônio.

Em 2005 o ILCOR recomendou que os recém-nascidos vigorosos com líquido

amniótico meconial (aqueles que apresentassem frequência cardíaca maior que 100

batimentos por minuto, tônus adequado e padrão respiratório rítmico) não fossem

intubados para aspiração orotraqueal sob visualização direta (18). Essa conduta foi

mantida nas atuais recomendações, publicadas em 2010 (19). Esses dados são

corroborados por Wiswell et al. em 2000 que observou que a rotina de aspiração

orotraqueal em neonatos meconiados vigorosos não diminuía o risco de SAM (31).

Hallyday em sua metanálise não recomendou a aspiração orotraqueal em recém-

nascidos vigorosos expostos ao LAM (32). Entretanto, o ILCOR recomendou em

2005 e 2010, em neonatos não vigorosos tingidos de mecônio, realizar aspiração

orotraqueal sob visualização direta (18,19), embora afirmem a necessidade de mais

estudos para confirmar esta rotina.

Em nosso estudo, os dados não foram significativos em um intervalo de

21

confiança de 95% para comparar o risco de desenvolver SAM entre aqueles

aspirados uma ou mais vezes. O grande intervalo de confiança relaciona-se ao

número reduzido de indivíduos incluídos na amostra, embora acreditamos que em

amostras maiores não haverá significância estatística entre os desfechos. Essa

hipótese necessita de mais estudos para ser comprovada. Nossos dados sobre a

SAM foram corrigidos para idade gestacional, gênero e adequação de pré-natal,

para evitar eventuais vícios amostrais. Não houve significância clínica entre as

recomendações de aspiração uma ou mais vezes e o desenvolvimento de SAM em

relação ao gênero masculino ou feminino, idade gestacional maior ou menor que

quarenta semanas bem como a seguimento pré-natal adequado ou inadequado.

A intubação orotraqueal não é um procedimento livre de riscos (33-35). O

significado estatístico nulo observado entre as recomendações de aspiração sob

visualização direta mais de uma vez e apenas uma vez, sugere melhor relação risco-

benefício em favor da atual recomendação do ILCOR (19). Essa nossa observação é

corroborada pela literatura que mostra evidencias do risco da intubação orotraqueal

(IOT). Ferreira, Carmona e Martinez observaram que a IOT em sala de parto está

associada a maior risco de hemorragia pulmonar (33). Mota, Carvalho e Brito em seu

artigo de revisão bibliográfica, observou que durante a IOT, sobretudo quando esta

ocorre por tempo prolongado, há complicações laríngeas, como: edema, disfonia e

disfagia, paresia e paralisa de pregas vocais, pólipos e granulomas e estenose

laríngea (34) e Souza e Carvalho observaram que a IOT apresenta complicações

imediatas, como traumas, lesões labiais ou em língua bem como bradicardia e

hipóxia, sendo associadas à maior número de tentativas de realização do

procedimento (35). Acreditamos que a atual recomendação do ILCOR de aspiração

sob visualização direta apenas uma vez nos neonatos tingidos de mecônio não

vigorosos é mais pertinente que a anterior. Chettri, Adhisivam e Bhat foram além: em

2015 publicaram um ensaio clínico controlado não observando diferença entre a

realização ou não de aspiração orotraqueal sob visualização direta em neonatos não

vigorosos expostos ao LAM e seus desfechos: ocorrência de SAM, e complicações

relacionadas a infecções, pneumotórax, hipertensão pulmonar persistente do recém-

nascido, necessidade de ventilação mecânica ou alterações do desenvolvimento

neuropsicomotor (36). A randomização dos grupos efetuadas por Chettri, Adhisivam

e Bhat é eticamente discutível de acordo as recomendações vigentes, entretanto,

22

suas observações de que não há redução do risco de ocorrência de SAM quando

realizada aspiração orotraqueal é um novo horizonte a ser esclarecido, visto os

riscos e consequências da intubação orotraqueal.

Em seu estudo em um centro terciário, observando recém-nascidos com

SAM, Espinheira et al. (29), observou que de todas as internações em unidades de

cuidados intensivos neonatais, 1,4% foi decorrente de SAM. Mundhra e Agarwal em

casos de LAM observaram que aproximadamente 21% dos neonatos necessitaram

admissão em unidades de cuidados intensivos (30) e Chettri, Adhisivam e Bhat

verificaram que a permanência média de bebês submetidos a aspiração orotraqueal

em unidades intensivas foi de 3 dias (36), Espinheira et al. observou permanência

média de 7 dias (29). Nós encontramos que apenas 8% dos neonatos tingidos de

mecônio foram admitidos em unidades intensivas ou de cuidados intermediários

embora 75% daqueles que desenvolveram SAM necessitaram admissão nessas

unidades. Embora nossos dados de admissão em unidades intensivas ou

intermediárias sejam diferentes, deve-se levar em consideração os protocolos

institucionais dessas unidades bem como a gravidade dos casos. Em relação as

comparações entre condutas do ILCOR, não houve diferenças significativas em

relação a necessidade de cuidados intermediários ou intensivos. Resultado

semelhante foi observado em relação a necessidade do suporte ventilatório, como

CPAP ou ventilação mecânica invasiva.

Espinheira et al. descreve que o suporte ventilatório é muito comum nos

casos de SAM, frequente em quase metade desses neonatos. Utilizou CPAP em 8%

dos pacientes e ventilação mecânica invasiva em 35% (29). Dados semelhantes

foram observados por Al trakoni et al. em crianças com SAM submetidas a intubação

orotraqueal, 27% necessitaram ventilação mecânica invasiva (37). Aguilar e Vain

observou que entre 1 a 2 % dos neonatos expostos ao LAM necessitaram ventilação

mecânica invasiva (15). Em neonatos tingidos por LAM de nossa amostra, 2,7%

necessitaram uso de CPAP e 1,6% de ventilação mecânica invasiva. Nos pacientes

que desenvolveram SAM, 50% necessitaram CPAP ou ventilação mecânica invasiva.

Nossos dados vão ao encontro daquilo exposto na literatura, de que o suporte

ventilatório é necessário em muitos casos de SAM.

O índice de Apgar diminuído e sua associação com o LAM e a SAM é

observado na literatura. Paz, Solt e Zimmer observaram que Apgar de primeiro e

23

quinto minuto é menor nas crianças com SAM (38) e o estudo de Espinheira et al.

resultou em 70% e 25% de índices de Apgar de primeiro e quinto minuto baixos,

respectivamente, em crianças com a síndrome de aspiração meconial (29). Mundhra

e Agarwal observaram também que crianças com LAM apresentam baixo Apgar ao

nascer (30). Em 2015, Chettri, Adhisivam e Bhat em um estudo controlado,

encontraram que em neonatos não vigorosos expostos ao LAM, 47% apresentavam

baixo índice no quinto minuto (36). Em nosso estudo, obtivemos resultados

semelhantes, nas crianças expostas ao LAM e naqueles que desenvolveram SAM, e

comparando as condutas do ILCOR em 2005 e 2010 não houve significado

estatístico para ocorrência de Apgar de quinto minuto menor que sete, bem como

para o desenvolvimento de pneumotórax e encefalopatia hipóxico-isquêmica.

No presente estudo, todos os desfechos em relação as recomendações do

ILCOR 2005 e 2010 não foram clinicamente significativos. Acreditamos que os dados

em grandes amostras também não sejam significativos para os diferentes desfechos.

Nosso estudo apresentou ampla variação nos intervalos de confiança em virtude de

poucos indivíduos incluídos, havendo necessidade de mais estudos para a

comprovação científica e melhor poder estatístico.

24

8. CONCLUSÕES

Este estudo de coorte histórica, com recém-nascidos maiores que 37

semanas, mostrou que o líquido amniótico meconial é um evento comum, no entanto

a síndrome de aspiração meconial é um desfecho que está em diminuição com o

tempo devido a padronização de protocolos e condutas baseados nas mais recentes

evidências científicas.

Não houve significância clínica entre os desfechos analisados para neonatos

não vigorosos, em presença de líquido amniótico meconial, submetidos à aspiração

orotraqueal sob visualização direta mais de uma vez ou apenas uma vez. Desta

forma, sugerimos que a atual recomendação de aspirar apenas uma vez, expõe

menos o recém-nascido às consequências deletérias da intubação orotraqueal,

sendo mais benéfica. Os intervalos de confiança observados foram amplos, tornam-

se necessários mais estudos para melhorar o poder estatístico.

25

REFÊRENCIAS¹

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28

31 – WISWELL, T. E.; GANNON, C. M.; JACOB, J.; GOLDSMITH, L.; SZYLD, E.; WEISS, K.; SCHUTZMAN, D.; CLEARY, G. M.; FILIPOV, P.; KURLAT, I.; CABALLERO, C. L.; ABASSI, S.; SPRAGUE, D.; OLTORF, C.; PADULA, M. Delivery Room Management of the Apparently Vigorous Meconium-stained Neonate: Results of the Multicenter, International Collaborative Trial. Pediatrics, v. 105, n. 1, p. 1–7, 1 jan. 2000. 32 – HALLIDAY, H. L. Endotracheal intubation at birth for preventing morbidity and mortality in vigorous, meconium-stained infants born at term. Cochrane database of systematic reviews (Online), n. 1, p. CD000500, 2001.

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29

ANEXOS Anexo A – Ficha de Dados do Paciente

FICHA DE DADOS DO PACIENTE

Sequência: ________ Registro do Prontuário: ________________

Data: ___/___/___ Hora:___:___ Masculino ( ) Feminino ( ) PN: ______g

1) Idade Gestacional _____semanas ____dias

US 1ºT ( ) US 2ºT ( ) TA ( ) Método de Capurro Somático ( )

2) Tabagismo ( ) Drogas ilícitas ( )

3) Pré natal adequado (6 ou mais consultas) ( )

4) Trabalho de parto induzido com misoprostol ( )

5) Via de parto: Vaginal ( ) Fórceps ( ) Cesárea ( )

6) Apresentação: Cefálica ( ) Córmica ( ) Pélvica ( )

7) Intubação orotraqueal: IOT 1x ( ) IOT >1x ( )

8) Síndrome de Aspiração Meconial ( )

9) APGAR: 5’: ____

10) Admissão em Unidade de Cuidados Intensivos ( )

11) Uso de surfactante exógeno ( )

12) Suporte respiratório: CPAP ( ) VM ( )

13) Pneumotórax ( )

14) Atelectasia ( )

15) HPPRN ( )

16) Encefalopatia hipóxico-isquêmica ( )

17) Óbito ( )