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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA TÓPICOS DA LEGISLAÇÃO FALIMENTAR: Falência, Concordata e Recuperação de empresas NABOR MIGUEL PIRES Itajaí (SC), maio de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

TÓPICOS DA LEGISLAÇÃO FALIMENTAR: Falência, Concordata e

Recuperação de empresas

NABOR MIGUEL PIRES

Itajaí (SC), maio de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

TÓPICOS DA LEGISLAÇÃO FALIMENTAR: Falência, Concordata e

Recuperação de empresas

NABOR MIGUEL PIRES

Monografia submetida à Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de

Bacharel em Direito.

Professor Orientador: MSc. Adilor Danieli

Itajaí (SC), maio de 2006

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ii

Meus Agradecimentos:

A Deus, por ter sido um amigo fiel em

todas as horas;

Ao meu pai Ademir Pires, a minha mãe

Elandi Cléia Pinto Pires e a minha

namorada Suélem Geremia, pela

compreensão e companheirismo nesta

fase da minha vida.

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iii

Este trabalho dedico:

Ao Prof. Adilor Danieli pelo empenho em

torná-lo viável e pela orientação

recebida sem a qual não teria

conseguido.

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iv

A falência é a situação do negociante

que tem, e não quer, ou quer, e não tem

com que pagar.

[Rui Barbosa]

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v

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de

Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela

graduando Nabor Miguel Pires, sob o título TÓPICOS DA LEGISLAÇAÃO

FALIMENTAR : Falência, Concordata e Recuperação de empresas, foi

submetida em de maio de 2006 à Banca Examinadora composta pelos

seguintes Professores: MSc. Adilor Danieli (Orientador e Presidente da

Banca), Marcelo Petterman e Aparecida Correia da Silva

e aprovada com a nota 9,5 ( nove e meio).

Itajaí (SC),

Prof. MSc Adilor Danieli Orientador da Monografia

Prof. MSc Antônio Augusto Lapa Coordenação de Monografia

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vi

DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total

responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho,

isentando a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do

Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer

responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), maio de 2006.

Nabor Miguel Pires Graduando

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A.c. Antes de Cristo

Art. Artigo

CC Código Civil

CEJURPS Centro de Ciências Jurídicas Políticas e Sociais

C. Com. Código Comercial

CN Congresso Nacional

CPC Código de Processo Civil

CTN Código Tributário Nacional

DL Decreto-Lei

DOU Diário Oficial da União

LF/45 Lei de Falências Anterior

LRE Lei de Recuperação de Empresas e Falências Atual

Nº Número

P. Página

STF Supremo Tribunal de Justiça

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

§ Inciso

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viii

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos

operacionais.

Bancarrota:

Termo utilizado nos dias atuais para designar a falência do Estado que

suspende o pagamento de suas obrigações vencidas, conforme nos

ensina Guimarães1.

Concordata:

De acordo com Danieli2, é a “demanda judicial que surge com a

proposta do concordatário, objetivando compelir seus credores

quirografários a receber um valor menor, num prazo maior, objetivando a

reestruturação econômica”.

Concordata Preventiva:

No entendimento de Guimarães3, é a “pedida antes da decretação da

falência para prevenir a quebra do comerciante que a requer”.

1 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Obras Jurídicas, 2001, p. 119. 2 DANIELI, Adilor. Limite da discricionaridade judicial e a dictomia peremptória do pedido

de concordata preventiva. Dissertação de Mestrado. Universidade do Vale do Itajaí, 2003. p 19.

3 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Obras Jurídicas, p. 185.

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ix

Concordata Suspensiva:

De acordo com Guimarães4 é a “concedida depois que foi decretada

judicialmente a falência [...] a fim de suspender os efeitos desta”.

Credor quirografário:

No entendimento de Guimarães5, credor quirografário é “aquele que não

têm título que lhe dê preferência”.

Estado de solvência

Guimarães6 nos ensina que, solvência é a “situação daquele que dispõe

de pecúnia e valores econômicos suficientes para satisfazer suas

obrigações quando exigíveis”.

Falência:

No entendimento de Pacheco7 “falência é o processo através do qual se

apreende o patrimônio do executado para extrair-lhe valor com que

atender à execução coletiva universal, a que concorre todos os

credores”.

Nos ensinamentos de Palermo8 Função social da empresa é um conjunto

de funções sociais onde a empresa tem uma “óbvia função social, nela

sendo interessados os empregados, os fornecedores, a comunidade em

4 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Obras Jurídicas, p. 185. 5 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Obras Jurídicas, p. 219. 6 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Obras Jurídicas, p. 494. 7 PACHECO, José da Silva. 1960, v. 5:28. 8 PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A função social da empresa e o novo Código

Civil. JusNavigandi, Teresina, a. 7, n. 62, fev. 2003. Disponível em: http://www1.jus. com.br/doutrina/texto.asp?id=3763. Acesso em: 20 abr 2006.

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que atua e o próprio Estado que dela retira contribuições fiscais e

parafiscais”.

Falido:

Para FÜHRER9, Considera-se falido o empresário e/ou sociedades

empresárias que deixam de honrar seus compromissos com os credores,

perdendo assim o controle financeiro da empresa, que já não consegue

mais se reerguer sem a ajuda externa.

Massa Falida:

Segundo FÜHRER10, massa falida é o acervo ativo e passivo de bens e

interesses do falido, que passa a ser administrado e representado pelo

administrador judicial.

Insolvência:

No entendimento de Guimarães11 “é a situação a que chega o devedor

que não pode saldar suas dívidas ou cumprir suas obrigações, [...], não

dispondo mais de bens livres e desembaraçados para nomear à penhora,

ou quando forem arrestados”.

Liquidação:

Segundo Guimarães12, são as operações pelas quais uma sociedade

mercantil, em fase de dissolução, dispõe de seu patrimônio com o ajuste

9 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro das falências, concordatas e

recuperações, 2005. 10 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro das falências, concordatas e

recuperações, 2005, p.36. 11 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Obras Jurídicas, p. 359. 12 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Obras Jurídicas, p. 386.

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final de suas contas, concluíndo as operações que iniciara, distribuindo ao

final, aos seus sócios, o ativo líquido ou o passivo que se verificarem.

Moratória:

No entendimento de Guimarães13 é a “dilação de prazo que se concede

ao devedor para pagar dívida depois de vencida”.

Mutilação:

Guimarães14 nos ensina que mutilação é “o ato de privar o devedor de

parte do seu corpo”.

Pendência:

De acordo com Guimarães15 pendência “é o que está em curso, em

discurssão, dependendo de uma decisão”.

Recuperação de Empresas:

Diego RONCONI16diz que, diante dos estudos realizados em torno do

assunto, propões-se como conceito operacional para o termo

Recuperação de Empresas o conjunto de providências judiciais ou

extrajudiciais que visam a preservação da empresa insolvente, a qual

interesse e importe substancialmente à Sociedade, na condição de

possibilidade de retorno ao seu estado de solvência.

13 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Obras Jurídicas, p. 401. 14 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Obras Jurídicas, p. 402. 15 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Obras Jurídicas, p. 420. 16 RONCONI, Diego Ricahrd. Falência & Recuperação de Empresas: análise da utilidade

social de ambos os institutos, 2002. 67 p.

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xii

SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................XIX

INTRODUÇÃO........................................................................................

Capítulo 1 ............................................................................................3

ASPECTOS DESTACADOS DO DIREITO FALIMENTAR: Falência........ 3

1.1 CONCEITO .......................................................................................................3

1.2 NATUREZA JURÍDICA........................................................................................6

1.3 GÊNESE DA PALAVRA FALÊNCIA....................................................................7

1.4 HISTÓRICO DE FALÊNCIA ................................................................................8

1.4.1 A Falência no Direito Romano....................................................................8

1.4.2 A FaLência na Idade Média.....................................................................11

1.4.3 A falência no Código de Napoleônico...................................................13

1.4.4 Brasil Colônia, Império e República ....................................................... 13

1.5 A EVOLUÇÃO DA FALÊNCIA NO BRASIL......................................................17

Capítulo 2 .......................................................................................... 19

FASES DA FALÊNCIA.......................................................................... 19

2.1 FASES DA FALÊNCIA ......................................................................................19

2.2 DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA ........................................................................20

2.3 SITUAÇÃO DOS SÓCIOS DA SOCIEDADE FALIDA .......................................23

2.4 MASSA FALIDA...............................................................................................23

2.5 PERDA DA ADMINISTRALÇÃO DOS BENS.....................................................24

2.6 TERMO LEGAL.................................................................................................24

2.7 ATOS INEFICAZES DO FALIDO.......................................................................24

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xiii

2.8 ATOS REVOGÁVEIS........................................................................................25

2.9 OS CONTRATOS DO FALIDO .........................................................................26

2.10 PRAZO ..........................................................................................................26

2.11 DEPÓSITO ELISIVO .......................................................................................26

2.12 ANDAMENTO DA FALÊNCIA .......................................................................27

2.13 VERIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS ....................................................................28

2.14 PEDIDO DE RESTITUIÇÃO .............................................................................31

2.15 REALIZAÇÃO DO ATIVO..............................................................................32

Capítulo 3 .......................................................................................... 34

ASPECTOS DESTACADOS DO DIREITO FALIMENTAR:Concordata e

Recuperação de Empresas............................................................. 34

3.1 CONCORDATA ..............................................................................................34

3.1.1 CONCEITO ..................................................................................................34

3.1.2 NATUREZA JURÍDICA...................................................................................36

3.1.3 HISTÓRIA DA CONCORDATA.....................................................................37

3.1.4. A CONCORDATA NO DIREITO BRASILEIRO ..............................................38

3.1.5 MODALIDADES DE CONCORDATAS..........................................................40

3.1.5.1 Concordata Preventiva..........................................................................40

3.1.5.2 Concordata Suspensiva.........................................................................44

3.1.6 EFEITOS DA CONCORDATA .......................................................................45

3.1.7 .........................................47 EVOLUÇÃO DO INSTITUTO DA CONCORDATA

3.2 RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS ......................................................................48

3.2.1 A NECESSIDADE DE ALTERAÇÃO DA LEI DE FALÊNCIAS ..........................48

3.2.2 CONCEITO ..................................................................................................51

3.2.3 NECESSIDADE DE MUDANÇAS...................................................................52

3.2.4 DESAFIOS.....................................................................................................53

3.2.5 LEI DE RECUPERAÇAÕ DE EMPRESAS E FALÊNCIA – LEI 11.101/05..........54

3.2.6 PRINCIPAIS ALTERAÇÕES NA LEGISLAÇÃO FALIMENTAR ........................54

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3.2.7 MECANISMOS PARA RECUPERAR A EMPRESA..........................................56

3.2.8 EMPRESAS ATINGIDAS................................................................................56

3.2.9 RECUPERAÇÕES..........................................................................................57

3.2.9.1 Recuperação Extrajudicial ....................................................................57

3.2.9.2 Recuperaçaõ Judicial............................................................................64

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 75

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS................................................ 78

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xv

RESUMO

A presente monografia trata da evolução do direito

falimentar, desde sua origem até os dias atuais, contextualizando seu

desenvolvimento histórico e apresentando suas alterações até os dias

atuais. O direito falimentar passou, nestes últimos anos, por muitos

processos evolutivos, influenciados por acontecimentos que ocorreram

dentro e fora do Brasil. Podemos citar como exemplo desta evolução

histórica o que acontecia no direito romano com o devedor que era

obrigado a responder com seu próprio corpo pelas obrigações assumidas.

Esse processo evolutivo envolveu todo o direito em si, beneficiando toda a

sociedade. O Congresso Nacional teve um papel importante neste

processo, pois foi através dele que as leis surgiram. O mesmo Congresso

também abriu as portas para que elas pudessem ser modificadas e até

substituídas por outras que atendessem melhor às necessidades de cada

momento pelo qual passou o direito brasileiro. Mesmo assim, foi preciso

muito empenho da sociedade em geral para que essas mudanças

pudessem sair do papel, como aconteceu com a Lei nº 4.376/93, que

passou mais de 10 anos tramitando no Congresso Nacional para só assim

se transformar na Lei nº 11.101/05, atual Lei de recuperação de Empresas e

Falências. Os benefícios advindos da nova legislação são enormes para as

empresas nacionais, que passam a contar com um importante intrumento

para continuarem a sobreviver, apesar do mar de dificuldades que se

encontra a economia nacional. Este novo instrumento vem de encontro

com as inovações que o direito falimentar obteve nestes últimos anos, o

que para o direito brasileiro é uma vitória.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto OS TÓPICOS DA

LEGISLAÇÃO FALIMENTAR : da execução sobre o corpo do devedor na

falência, das modalidades de concordata, e da recuperação de

empresa" e, como objetivos: institucional, produzir uma monografia para

obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI; geral, Analisar o instituto da falência no ordenamento

jurídico brasileiro; específico, Verificar o processo de falência e estudar os

aspectos destacados do direito falimentar, entre estes o conceito, a

natureza jurídica, a evolução histórica da falência e da concordata, bem

como as diferenças entre os institutos e a evolução da legislação pátria.

Em seguida, discorrer amplamente sobre a evolução

da legislação falimentar, o entendimento doutrinário e o direito

comparado para embasar de forma satisfatória a evolução da lei para

salvarguardar os interesses da coletividade e não somente das empresas

com dificulades financeiras.

Por fim, o objetivo principal da monografia, que é,

estudar a lei que introduziu no país o instituto da recuperação judicial em

substituição a concordata e suas principais alterações.

O tema é atual e relevante, pois, é muito importante

para o direito comercial, sendo que o estudo do instituto da falência e seu

constante aprimoramento são fundamentais para a economia nacional. A

legislação que trata do assunto sofreu importantes alterações, o que

beneficiou muitas empresas e tornou este processo menos desgastante

para os envolvidos.

Para encerrar a investigação adotou-se o método

indutivo, operacionalizado com as técnicas do referente, da categoria,

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2

dos conceitos operacionais e da pesquisa de fontes documentais. Para

relatar os resultados da pesquisa, empregou-se o método dedutivo, em

conjunto com as técnicas propostas por Colzani17.

A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as

seguintes hipóteses: a) A alteração da lei de falências é um grande

avanço a legislação pátria; b) O novo instituto da recuperação de

empresas vai garantir a função social da empresa; c) Os legisladores terão

condições de corrigir injustiças históricas com o capital privado.

Nas considerações finais apresentam-se sínteses de

tudo o que foi apresentado e se demonstra, se as hipóteses básicas da

pesquisa foram ou não confirmadas.

17 COLZANI, Francisco Valdir. Guia para redação do trabalho científico. Curitiba: Juruá,

2001, p. 37-52.

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3

Capítulo 1

ASPECTOS DESTACADOS DO DIREITO FALIMENTAR: FALÊNCIA

1.1.CONCEITO

Falência é um processo de execução coletiva, em que

todos os bens do falido são arrecadados para uma venda judicial

forçada, com a distribuição proporcional do ativo entre todos os credores.

Muitos são os conceitos de falência. O conceito, em si,

é algo subjetivo. Depende da qualificação de quem o emite, por isso, de

acordo com ARAÚJO18 “não somos tentados a formular conceitos, em

virtude de que cada cabeça, uma sentença”.

PACHECO19 apresenta a seguinte definição:

“A falência é o processo através do qual se apreende o

patrimônio do executado para extrair-lhe valor com que

atender à execução coletiva universal, a que concorre

todos os credores”.

VALVERDE20, com uma ótica mais ampla, ensina que

“O instituto da falência é o complexo de regras jurídicas,

técnicas ou construtivas, que definem e regulam uma

situação especial, de ordem econômica, a falência”.

18 ARAÚJO, José Francelino. Falências e concordatas, 1996, p.11. 19 PACHECO, José da Silva. 1960, v.5:28. 20 VALVERDE, Trajano de Miranda. Comentários à lei de Falência, Vol I, 1948, p. 12.

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4

Na verdade, falência é um estado jurídico

instaurado por um provimento jurisdicional para solucionar a situação

oriunda da insolvência do comerciante – empresário ou sociedade

empresária -, tendo em vista o tratamento eqüitativo de seus credores. Só

com a decisão judiciária que a decreta nasce a falência.

Como dizia MENDES21:

“Falência não quer dizer insolvabilidade. A insolvabilidade é um estado de

fato, a falência é um estado de direito, só existe depois de proclamado

pela sentença definitiva dos juízes ou dos tribunais”.

FÜHRER22, baseado na Lei 11.101, de 09.02.2005,

conceitua falência como “um processo de execução coletiva, em que

todos os bens do falido são arrecadados para uma venda judicial

forçada, com a distribuição proporcional do ativo entre todos os

credores”.

O sistema jurídico brasileiro permite ao credor por

quantia certa o exercício do seu direito contra o devedor comerciante,

por duas formas distintas, encontradas em leis diferentes.

A primeira é singular e recomendada no CPC,

artigo 646, contra o devedor solvente; a segunda coletiva pela lei de

falências, para o devedor insolvente (o art. 748 do CPC permite a

execução por quantia certa contra o devedor insolvente).

21 MENDES, Octávio. Falências e concordatas, 1930:30. 22 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro das falências, concordatas e

recuperações, 2005, p.33.

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5

Pelo CPC, artigo 646, a ação alcança o devedor

civil e comerciante, mas a LF só pode ser aplicada ao último.

O estudo da matéria nos coloca diante de uma

duplicidade de atitude quanto aos credores em geral: os que pagam mal,

mas acionados cumprem, e os que ficam a descoberto, com o resultado

da ação proposta, mostrando sua fraqueza patrimonial, na execução

forçada.

Sendo assim, podemos concluir que os primeiros

são inadimplentes que acionados pagam e, os segundos, insolventes, pois

mesmo acionados, não cumprem a obrigação pactuada, devem mais

que o patrimônio.

Os inadimplentes suspendem o pagamento, os

insolventes cessam.

Ocorre que as conseqüências advindas do

fechamento de uma Empresa são drásticas demais, a ponto de prejudicar

a própria sociedade. A Empresa fecha suas portas, mas os reflexos disso

são graves. Podemos citar como exemplo os vários clientes da empresa

falida que ainda dependem das suas atividades, bem como das

encomendas realizadas; fornecedores de produtos e matérias-primas que

já forneceram à Empresa falida, ou que contavam com as encomendas

para saldar outras obrigações, se deparam com perdas e danos

incalculáveis ou lucros cessantes decorrentes do não cumprimento dos

compromissos; credores que dependem do recebimento de seus haveres

não conseguem quitar outras dívidas próprias, em função da

impossibilidade de pagamento da empresa vitimada pela quebra,

empregados necessitam de seus salários e empregos a fim de sustentar

suas famílias e, como reflexo, fomentar a atividade econômica do

comércio local, como educação dos filhos, saúde, lazer e alimentação;

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6

enfim várias outras atividades dependem, direta ou indiretamente, do

funcionamento de uma empresa.

1.2 NATUREZA JURÍDICA

O instituto falimentar no Brasil situou-se, sempre, no

âmbito do Direito Comercial, ramo este pertencente ao Direito Privado.

Porém, é interessante frisarmos que há entendimentos que o consideram

como sendo um direito “misto”, embora se entenda o Direito Falimentar

está inserido no Direito Comercial. Assim, possui normas pertencentes tanto

ao Direito Público quanto ao Direito Privado. Para GUSMÃO23, o Direito

Falimentar consiste no

...complexo de normas protetoras do crédito no caso de

insolvência do comerciante. Supõe a insolvência, ou seja, a

impossibilidade de o patrimônio do comerciante garantir

seus débitos. No estado falencial, é liquidado o patrimônio

do falido para atender aos credores que se habilitarem na

falência. Compõe-se de normas asseguradoras de direitos e

de preferências dos credores (direito privado), de normas

que regem o processo de falência (direito privado), de

normas que regem o processo de falência (direito

processual falimentar) e de normas penais (direito penal

falimentar). Compondo-se de normas de direito privado, de

normas processuais (direito público) e de normas penais

(direito público), o direito falimentar é direito misto.

Sendo assim, estabelecemos o ponto de partida para

se caracterizar a natureza jurídica do Direito Falimentar, permanecendo,

inicialmente, como instituto integrante do Direito Comercial, mas com

23 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito,1995. p. 210-211.

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7

normas de caráter público, as quais o transformam num Direito misto,

possuindo, no entendimento de ALMEIDA24, “princípios e diretrizes que lhes

são próprios, formando um sistema que inquestionavelmente a distingue

de outras disciplinas, razão por que denominava direito falimentar”.

É importante ressaltarmos o caráter processual do

instituto falimentar, pois há na legislação falimentar normas de direito

processual, apresentando, de acordo com CINTRA25 um “complexo de

normas e princípios que regem tal método de trabalho, ou seja, o

exercício conjugado da jurisdição pelo estado – juiz, da ação pelo

demandante e da defesa pelo demandado”, o que se manifesta de

forma explicita quando se tem o processo falimentar como execução

forçada contra o devedor comerciante insolvente.

1.3 GÊNESE DA PALAVRA “FALÊNCIA”

A origem da palavra “Falência” emana do Direito

Romano, de onde se constatam os mais remotos fatos. Iniciou-se,

sinteticamente, como uma forma de castigo ao devedor inadimplente, o

qual deveria sofrer uma pena severa, respondendo com o próprio corpo

perante seus credores.

LACERDA26 considerou a gênese etimológica do

instituto falimentar como derivado do verbo latino FALLERE, significando

faltar, enganar (fallo, is, felli, falsum, fallere),utilizando a expressão quebra

para significar também “falência”. Ensina, ainda, que a falência ou

quebra criminosa era conhecida por bancarrota, decorrente da

24 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e concordata, 1995, p.14. 25 CINTRA. 1999, p.40. 26 LACERDA, José Candido Sampaio de. 1973, p.13.

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expressão italiana banco rotto, banco quebrado, pois esta expressão

consistia num antigo costume que possuíam os credores, os quais

quebravam o banco no qual o devedor negociava em praça pública.

Importantes os esclarecimentos de RAITANI27,que, além

das denominações acima, retrata que havia em obras clássicas da idade

Média, as expressões:

“fallite ou fallentes, segundo o tratadista Bonne; a

designação de Ratti surgiu em Gênova, Itália; Fugitive, pelas

leis lombardas, de Lombardia, Itália; Cessanti, chamada por

Firenzi, que também a chamou de fallita ou bancarrota; que

após a Idade Média surgiu com o nome de decoctio, que

quer dizer decocção ou cozimento, sendo explicado por

Stracca, que significaria a redução dos valores patrimoniais

da empresa,. Como ocorre com a redução dos elementos

nutritivos quando cozidos”.

1.4 HISTÓRICO DE FALÊNCIA

O instituto falimentar possui vários antecedentes

históricos, cujas transformações foram se adequando ao longo dos séculos

às necessidades e idéias da época.

1.4.1 A FALÊNCIA NO DIREITO ROMANO

No Direito Romano a Falência não era tida como um

processo autônomo de execução coletiva, exclusiva aos devedores

comerciantes. No decorrer da história, a falência foi se desenvolvendo

como instituto.

27 RAITANI, Francisco. Falência e Concordata, 1972. p.17.

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No Direito quiritário,a fase mais primitiva do Direito

Romano, que antecede à codificação da lei das XII Tábuas, o nexum

(liame entre o devedor e credor) admitia a addicere, adjudicação do

devedor insolvente que, por sessenta dias, permanecia em estado de

servidão para com o credor. Não solvido o débito nesse espaço de

tempo, podia o credor vende-lo como escravo no estrangeiro (trans

Tiberim, além do Tbre), ou até mesmo matá-lo.

Segundo SANT’ANNA28, “no Direito Romano, o processo

executivo evoluiu da execução pessoal para a ação direta sobre os bens

do devedor, princípio que se firmou como um dos característicos

fundamentais do instituto falimentar”. A execução possuía uma atribuição

personalista, pois era efetuada a cobrança do débito diretamente na

pessoa, no corpo, na carne do próprio devedor, levando-o a ser a única

garantia para todos os seus credores. Caso houvesse mais de um credor,

instaurava-se o concurso deles e, nesta hipótese, o cadáver do devedor

era esquartejado e as partes de seu corpo eram entregues aos demais

credores como satisfação proporcional de seus créditos.

No decorrer dos tempos, porém, foi se desenvolvendo

novas modalidades de cobrança e penalizações aos devedores

demonstrando, uma vez mais, a evolução do instituto da Falência no

Direito Romano. Assim, no ano 428 a C. foi editada a lei Poetelia Papiria,

que afastou o direito de morte ou de venda e deu como garantia os bens

do devedor, estabelecendo, assim, a transição da execução pessoal para

a execução patrimonial.

28 SANT’ANNA, Rubens. Falências e concordatas, 1985, p.1-2.

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Após, foi editada a Lei Aebutia, no ano 643, a qual

acarretava o requerimento do credor, no desapossamento dos bens do

devedor por ordem do magistrado, de forma que o devedor perdia a

administração de seus bens, os quais ficavam sob a responsabilidade do

curador, nomeado pelo magistrado.

LACERDA29, estabelece que é no direito romano que

aparecem os princípios de todo o processo executivo, de modo que o

conceito de obrigação era essencialmente pessoal, recaindo a obrigação

sobre o individuo e não sobre os seus bens. Assim, a pessoa do devedor

era a única garantia dos credores. Diante disso, LACERDA ensina que:

“O credor dava, então, publicidade à missio (bonorum

proscriptio) para que outros credores pudessem vir a

concorrer, dentro de trinta dias. Se passado esse prazo, o

devedor não solvesse seus compromissos, o curador

alienava (bonorum venditio) ao melhor ofertante (bonorum

emptor) o patrimônio do devedor e que o sucedia a título

universal e respondendo, conseqüentemente, pelas

obrigações assumidas pelo devedor, pagando

proporcionalmente caso o ativo fosse insuficiente para a

satisfação completa de todos e obedecendo a mais

perfeita igualdade. Se o devedor preferisse podia usar da

cessio bonorum, isto é, fazer cessão de seus bens ao credor

que podia vende-los separadamente por intermédio do

curador (bonorum distractio) a fim de pagar, em rateio, aos

demais credores. Foi a cessio bonorum criada pela Lex Iulia

Bonorum (737 a.C.) e por ela o devedor evitava a

29 LACERDA, José Candido Sampaio de. 1973, p.23.

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execução pessoal e a infâmia e não poderia sujeitar-se de

novo à execução, salvo por aquisição de novos bens.

Ficava-lhe também reservada certa parte de seus bens

para atender a suas necessidades para viver (beneficium

competentiae). No direito romano, qualquer desses institutos

recaia sobre qualquer devedor, fosse comerciante ou civil”.

Esse tipo de procedimento, como podemos observar,

recaia sobre qualquer devedor. Não era possível distinguir o comercainte

ou o civil. Isso só foi mudar anos mais tarde, quando se ordenou que o

processo só poderia recair sobre o comerciante e não mais para o civil.

1.4.2 FALÊNCIA NA IDADE MÉDIA

Foi na Idade Média que o desenvolvimento do instituto

falimentar teve maior ressonância, pois o processo de execução por

dívidas teve a transição da execução individual, a qual se realiza ou sobre

os bens móveis (caso devedor solvente), ou sobre a própria pessoa do

devedor (caso fosse o devedor insolvente).

A partir daí observa-se que a solução do crédito, aos

poucos, foi se desenvolvendo no sentido de se afastar da pessoa do

devedor, passando-se a satisfação de tal débito a recair, dependendo da

situação, sobre o patrimonio do mesmo. Conforme LARCEDA30,

“permaneceram, entretanto, as incapacidades e os castigos excessivos

para os devedores falidos, considerados como eram defraudadores: falliti

sunt fraudatores ou decoctor, ergo fraudator”.

30 LACERDA, José Candido Sampaio de. Manual de direito falimentar, 1973, p.28-29.

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MAGALHÃES31, em seus estudos sobre a Falência na

Idade Média, leciona que foi precisamente nesta época que apareceu a

idéia de que o crédito comercial é de interesse geral e não apenas de

interesse de credor e devedor, passando o Estado, diante de tal

sentimento, a publicizar tais regras, em certos processos de execução

coletiva. Desta forma, passou-se a condicionar a atuação dos credores à

disciplina judiciária, exigindo-se deles a habilitação judicial, onde se

processa a arrecadação dos bens do devedor e se atribui ao juiz a tarefa

de zelar por tal patrimônio, a fim de que seja partilhado entre os credores.

É nessa época, portanto, que o concurso de credores se transforma na

falência, quando o comércio, sobretudo o marítimo, atinge extraordinária

expansão nas cidades italianas.

Para SANT’ANNA32, a importância do Direito Italiano foi

fundamental, pois abriu suas portas ao mundo, possibilitando as mais

diversas alterações de acordo com a necessidade da sociedade na qual

as normas do instituto falimentar passou a reger, de forma que “sobre o

devedor, comerciante ou não, podia incidir a falência, em três hipóteses:

a requerimento do credor, a pedido do devedor ou em caso de fuga

deste”.

Assim, observa-se a evolução da Falência do sentido

pessoal, individual, para o aspecto social já na Idade Média, dando-se

outras vistas às situações de quebra até então existentes. O Direito

Comercial, em si mesmo, sempre teve a conotação de Direito Privado. A

partir da Idade Média, portanto, observa-se a intervenção estatal em uma

31 MAGALHÃES, José Hamilton de, 1994, p.5. 32 SANT’ANNA, Rubens. Falências e concordatas, 1985, p.19.

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situação que, até então, era tida como exclusivamente de caráter

privado.

1.4.3 FALÊNCIA NO CÓDIGO NAPÓLEÔNICO

O sistema adotado nos estatutos italianos facilmente

difundiu-se por outros países, encontrando ampla ressonância nas

Ordenações de 1673, na França.

O Código Comercial francês (1807) constituiu-se em

inegável evolução do instituto, restrito, na legislação francesa, ao devedor

comerciante, onde Napoleão Bonaparte teve preponderante atuação,

conquanto impondo severas restrições ao falido.

Gradativamente abrandaram-se os rigores da

legislação, assumindo a falência um caráter econômico-social, refletindo

no seu bojo as profundas alterações por que passaria o direito comercial e

que culminaria com a modificação do próprio conceito de empresa, vista

hoje como uma instituição social.

Faz-se, então, nítida distinção entre devedores

honestos e desonestos, facultando-se a estes últimos os favores da

moratória, com o aperfeiçoamento da concordata, cujo embrião

encontramos no pactum est minus solvatur e no quinquenales.

Também no direito comercial brasileiro o Código

Napoleônico teve grande influencia.

1.4.4 BRASIL COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA

O Brasil, como colônia, sujeitava-se às regras jurídicas

emanadas de Portugal, onde vigoravam, por ocasião do descobrimento,

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as Ordenações Afonsinas, posteriormente revistas por D. Manoel (1514) e

publicadas em 1521 com a denominação de Ordenações Manuelinas.

As Ordenações Afonsinas não cuidavam, de forma

especifica, da quebra do comerciante, o que só ocorreu com a lei de 8

de março de 1595, promulgada por Filipe II (Filipe III de Espanha), e que

viria mais tarde, em 1603, inspirar todo o Título LXVI do Livro V das

Ordenações Filipinas.

Disciplinavam, contudo, o concurso de credores,

estabelecendo prioridade ao credor que tivesse a iniciativa da execução,

prevendo, outrossim, pena de prisão por inexistência de bens.

Adotados os princípios consagrados na Lei de 8 de

março de 1595, as Ordenações Filipinas de 1603, que abrangiam Espanha

e Portugal, que à época integrava o Reino de Castela, e, por via de

conseqüência, o Brasil Colônia, consagravam, pela primeira vez entre nós,

a quebra dos comerciantes, fazendo nítida distinção entre mercadores

“que se levantavam com fazenda alheia” e os que caíssem “em pobreza

sem culpa sua”, equiparando os primeiros aos ladrões públicos,

inabilitando-os para o comércio e impondo-lhes penas que variavam do

degredo à pena de morte, não incorrendo em punição os segundos, que

podiam compor-se com os credores. De acordo com as ordenações

Filipinas, os que caírem em pobreza sem culpa sua, por receberem

grandes perdas no mar, ou na terra em seus tratos e comércios lícitos, não

constando de algum dolo, ou malícia, não incorrerão em pena alguma

crime. E neste casos serão os autos remetidos ao Prior e Cônsules do

Consulado, que os procurarão concertar e compor com seus credores,

conforme a seu regimento.

Foi, porém, com o Alvará de 13 de novembro de 1756,

promulgado pelo Marquês de Pombal, que tivemos um “originalíssimo e

autêntico processo de falência, nítida e acentuadamente mercantil, em

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juízo comercial, exclusivamente para comerciantes, mercadores ou

homens de negócio”, como bem observou FERREIRA33.

Impunha-se ao falido apresentar-se à Junta do

Comércio, perante a qual “jurava a verdadeira causa da falência”. Após

efetuar a entrega das chaves “dos armazéns das fazendas”, declarava

todos os seus bens “móveis e de raiz”, fazendo entrega, na oportunidade,

do Livro Diário, no qual deveriam estar lançados todos os assentos de

todas as mercadorias, com a discriminação das despesas efetuadas.

Ultimado o inventário dos bens do falido, era feita a

publicação de edital, convocando os credores.

Do produto da arrecadação, dez por cento eram

destinados ao próprio falido para o seu sustento e de sua família,

repartindo-se o restante entre os credores.

Fraudulenta que fosse a falência, era decretada a

prisão do comerciante, seguindo-se o processo penal.

Proclamada a Independência do Brasil, por longos

anos vigeram entre nós as leis portuguesas, sobrevindo em 1850 o Código

Comercial Brasileiro que, na sua Parte Terceira, cuidava “Das quebras”,

disciplinando-as nos arts 797 a 911, cuja parte processual foi

regulamentada pelo Decreto nº 738, de 25 de novembro de 1850.

Inadequada ás condições do comércio brasileiro, foi a

legislação em apreço inteiramente derrogada pelo Decreto nº 917, de 24

de novembro de 1890.

33 FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial, 1965.

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Ao decreto nominado, impotente para coibir abusos e

fraudes, seguiu-se a Lei nº 859, de 16 de agosto de 1902, substituída em

1908 pela Lei nº 2.024, que por vinte e um anos vigeu entre nós,

“marcando época na legislação mercantil brasileira”, como disse

FERREIRA34.

Revista pelo Decreto nº 5.746, de 9 de dezembro de

1929, foi a lei nº 2.024 revogada em 21 de junho de 1945, com a

promulgação do Decreto-lei nº 7661 e atualmente, com a Lei 11.101/03.

Em sua obra, curso de falência e concordata,

Almeida35, em contraponto a Requião36, coloca que um longo período

transcorreu neste vazio legislativo onde imperava a legislação portuguesa,

até que em 25.06.1850 houvesse a promulgação do Código Comercial

Brasileiro, que na sua parte III, em seus artigos 797 a 913 passa a cuidar

“Das quebras”, cuja parte processual foi regulamentada pelo decreto n.

738/50.

O Código Comercial Brasileiro tinha sua parte

processual regulamentada pelo Decreto n. 738, de 25 de novembro de

1850, inadequada as condições do comércio brasileiro, foi a legislação

em apreço inteiramente derrogada pelo Decreto n. 917, de 24 de

novembro de 1890.

Embora tenha sido elaborado com muita rapidez pelos

seus idealizadores, o decreto nº 917/1890 provocou um grande

34 FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial, 1965. 35 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e concordata, p. 06. 36 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, p. 21.

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desenvolvimento no Direito Falimentar no Brasil. Segundo Requião37, Tal

decreto continha defeitos, porém abriu novos horizontes ao direito

comercial pátrio. Nessa ordem, não demorou muito para o comércio, que

recebera bem o decreto, levantar-se contra ele. Recebeu críticas injustas,

e, levando em consideração que não teve grande acolhida na sua

aplicação prática, outra lei foi elaborada para regulamentação da

falência no Brasil.

1.5 A EVOLUÇÃO DA FALÊNCIA NO BRASIL

Desde sua origem até os dias atuais é notório que a

palavra falência deixou de ter significado pejorativo, não sendo mais

imputado ao falido a pecha de ter causado danos irreparáveis a

sociedade em que vive, para aos poucos, passar a ter o significado que

lhe é inerente, o de que, a partir da decretação da falência, passa o

estado a tutelar, o direito da coletividade em ter a empresa em estado

falimentar novamente operando de modo adequado as necessidades

daqueles que dependem da mesma para subsistência.

Em 1945, no dia 21 de junho, surgiu o Decreto-Lei 7.661.

Esta Lei apresentou algumas inovações, quanto às Leis vigentes

anteriormente.

O Decreto-Lei 7.661/1945, com o passar dos anos,

também necessitou de reformas, quanto a reorganização econômica da

empresa e a sua manutenção no meio social, deixando de ser assim o

Instituto da Falência um meio de liquidação com o encerramento das

atividades da empresa. Houve uma preocupação maior com a função

social da empresa frente a sociedade, e, com o auxílio que o novo Direito 37 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, p. 23.

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Concursal dá para a obtenção dessa função inerente a qualquer

propriedade privada.

A LF/45 era concursal como característica (artigo 23) e

dela participarão todos os credores. Também compreende todos os bens,

direitos e ações do devedor, não só os existentes na época da falência

como os que forem adquiridos no curso do processo.

A ação de execução singular abrangia tantos bens

quantos bastem, advindo do entendimento que, muitas vezes, são todos.

Nos dois tipos de ação, o que se visava era o

ressarcimento do crédito, pela execução forçada sobre os bens do

devedor, ou como expõe MIRANDA38: “como acontece com a execução

forçada singular, tem-se de reduzir os bens do falido a dinheiro, para

atender à necessidade de redução, por meio de rateio”.

A LF/45 só atingia o comerciante.

Comerciante, no Brasil, é quem pratica atos de

comercio, com habitualidade, com intuito de lucro e como profissão

(artigos 3º e 4º do C. Com). O comerciante pode ser pessoa física ou

jurídica, sendo esta última qualquer tipo de sociedade mercantil (artigo

16, II do CC).

38 MIRANDA, F. C. Pontes de. Tratado de direito privado, 1972, v.28:5, § 3.285, nº3.

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Capítulo 2

FASES DA FALÊNCIA

2.1 FASES DA FALÊNCIA

Conforme a Lei 11.101/05, apresentamos as fases da

falência de uma empresa:

• Pedido de falência (art. 94);

• Citação (art. 98);

• Pedido de recuperação: suspensão do processo

(art. 265, IV, a, do CPC);

• Defesa (art. 98): defesa procedente =

encerramento, ou defesa improcedente =

decretação da falência;

• Atividades do administrador judicial nomeado (art.

22), eventual convocação da assembléia geral (art.

36, § 2º) e eventual constituição de comitê de

credores (art. 26) = verificação dos créditos (art. 14,

19 e 83), arrecadação e avaliação dos bens (art.

108) alienação dos bens (art. 140 e 142) e quadro

geral de credores (art. 14, 18 e 83);

• Pagamento dos credores (art. 149), de acordo com

a ordem de preferências (art. 83); e

• Encerramento.

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2.2 DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA

A falência produz o vencimento antecipado de todas

as dívidas do falido e do sócio solidário da sociedade falida.

A falência decretada na vigência da lei nova, segue o

sistema desta, mesmo que o pedido de falência tenha sido apresentado

em data anterior (art. 192, § 4.°).

De acordo com SANTOS39A falência pode ser pedida

pelo próprio devedor, pelo credor ou decorrer de decisão que julgue

improcedente o pedido de recuperação judicial, em razão de não ser

aprovado o plano de recuperação judicial e, caso haja conversão de um

processo de recuperação judicial em falência, quando for descumprida

uma obrigação essencial do empresário devedor.

Se o requerente for o credor empresário, deverá

apresentar certidão do Registro Público de Empresas que comprove a

regularidade de suas atividades, conforme o art. 97, § 1º da Lei 11.10105

Conforme o art. 2º, I e II, “esta lei não se aplica a: I -

empresa pública e sociedade de economia mista; II – instituição financeira

pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de

previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência

à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras

entidades legalmente equiparadas às anteriores”.

Esta lei (LRE) apresenta as seguintes hipóteses de

caracterização de decretação de falência: 39 SANTOS, José Bonifácio de Andrade. Comentários à lei nº 11.101/05 lei de recuperação

judicial (nova lei de falências, 2005. p. 32.

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a) Impontualidade: o não pagamento no

vencimento de obrigação líquida constante de título executivo

protestado. Nesta hipótese (e só nesta), a dívida deve ser superior a 40

(quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência, podendo

referir-se a um ou mais títulos, de um ou mais credores, reunidos em

litisconsórcio (art. 94, I, e § 1º);

b) Execução frustrada: o devedor executado que

não paga, não deposita, nem nomeia bens suficientes à penhora no

prazo legal. Neste caso, o título pode ser de qualquer quantia, não

incidindo o requisito da quantia mínima (art. 94, II);

c) Prática de ato de falência: independentemente

de existir ou não título vencido, pode ser requerida a falência do devedor

que pratica certos atos suspeitos, denominados atos de falência, como

liquidação precipitada, negócio simulado, ambas hipóteses

caracterizadas por frustrar ou dificultar o pagamento de credores, etc.

(ar!. 94, lII). É evidente, porém, que deve ser demonstrada obrigação do

devedor, presente ou futura, em relação ao requerente, sob pena de falta

de legítimo interesse;

d) Pedido de autofalência: o próprio devedor pode

pedir a sua falência (art. 97, I, e arts. !O5 a 107). Tratando-se de Sociedade

Anônima, deve ser juntada a autorização para tanto, da Assembléia Geral

da sociedade (art. 122, IX, e seu parágrafo único, da Lei das Sociedades

Anônimas, Lei 6.404/76, com as alterações da Lei 9.457/97, e da Lei

10303/01);

e) Não apresentação de plano de recuperação no

prazo legal de 60 dias após ter requerido recuperação judicial (art. 73, lI);

f) Descumprimento de obrigação assumida em plano

de recuperação judicial (art. 73, TV, e art. 94, III, g).

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A lei atual não repetiu o art. 10 da lei anterior, Decreto-

Lei 7.661/45, referente ao protesto especial de títulos não sujeitos ao

protesto especial, como, por exemplo, urna sentença judicial ou a

obrigação de um avalista. Mesmo assim, parece de rigor O protesto

especial nestes casos, para fins falimentares, uma vez que o art. 94, I, exige

que se trate de título protestado.

A procuração do advogado, para requerer falência,

não necessita conter poderes especiais. Na autofalência, porém, há

necessidade de poderes especiais expressos.

Tem-se admitido pedido de falência instruído com

fotocópia autenticada de duplicata (RT384/160), com fotocópia conferida

(RT 4 27/230), ou em xérox (RT547/94).

O pedido de sobrestamento ou suspensão do

processo, por parte do requerente da falência, para tentativa de solução

amigável, impede a decretação da falência, uma vez que tal pedido

corresponde a uma moratória, desnaturando a impontualidade do

devedor (RT 457/95,467/97,504/ 137,779/234; RJTJESP 35/85, 1171138; JB

10/218).

O mesmo efeito tem o parcelamento do débito ou

qualquer ato que extinga ou suspenda o cumprimento da obrigação (RT

432/120,449/1 13, 516/104; RJTJESP 48/75, 48/80).

No direito anterior, o pequeno valor do crédito não

impedia a decretação da falência (RT760/249; JTJ 210/54). A lei atual,

porém, no caso de impontualidade, exige que o débito seja superior a 40

salários-mínimos na data do pedido de falência (art. 94, 1).

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23

2.3 A SITUAÇÃO DOS SÓCIOS DA SOCIEDADE FALIDA

Quem vai à falência é a sociedade e não os sócios.

Mas, conforme o tipo de sociedade, ou de sócio, poderão ser

arrecadados também os bens particulares de sócios que devam

responder pelas dívidas da sociedade. O assunto prende-se ao estudo da

estrutura das sociedades e da responsabilidade dos sócios.

Como dispõe o art. 190 da LRE, todas as vezes que a

lei se referir a devedor ou falido, compreender-se-á que a disposição

também se aplica aos sócios ilimitadamente responsáveis.

Na área penal, os sócios, diretores, gerentes,

administradores e conselheiros, de fato ou de direito, bem como o

administrador judicial, equiparam-se ao devedor ou falido para todos os

efeitos penais (art. 179).

2.4 MASSA FALIDA

De acordo com FÜHRER40, “massa falida é o acervo

ativo e passivo de bens e interesses do falido, que passa a ser

administrado e representado pelo administrador judicial”.

A massa falida é capaz de estar em juízo como autora

ou ré. Ela forma-se no momento em que é decretada a falência. Pode ser:

massa ativa (créditos e haveres) e massa passiva (débitos exigíveis pelos

credores).

40 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro das falências, concordatas e

recuperações, 2005, p.36.

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2.5 PERDA DA ADMINISTRAÇÃO DOS BENS

Com a falência o falido não perde a propriedade de

seus bens. Perde apenas o direito de disposição e administração, que

passa para o administrador judicial. A perda da propriedade só irá ocorrer

quando os bens forem vendidos no procedimento da falência e o produto

das vendas distribuído entre os credores.

Não fica o falido impedido de acompanhar o feito e

de defender seus interesses dentro da falência, podendo interpor agravo

da decisão que decreta a falência (art. 100).

2.6 TERMO LEGAL

Dá-se o nome de "termo legal" a um período suspeito,

anterior à decretação da falência, fixado pelo juiz na sentença

declaratória, O início do termo legal não pode alcançar retroativamente

mais de 90 dias contados do pedido de falência, do pedido de

recuperação judicial ou do primeiro protesto por falta de pagamento,

excluídos, para essa finalidade, os protestos que tenham sido cancelados

(art. 99, II).

2.7 ATOS INEFICAZES DO FALIDO

Vários atos praticados pelo falido, por serem

relativamente ineficazes, não produzem efeito em relação à massa falida,

como pagamento de dívidas não vencidas ou constituição de direito real

de garantia dentro do termo legal (art. 129, I a IlI), ou a prática de atos a

título gratuito desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência (art.

129, IV), etc.

Emilio Betti ensina que invalidade e ineficácia são dois

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conceitos distintos. A invalidade corresponde a um defeito interno do ato

jurídico, ao passo que a ineficácia é algo externo, que apenas bloqueia a

propagação de certos efeitos. (Teoria Geral do Negócio Jurídico). A

ineficácia pode ser absoluta (contra todos, "erga omnes") ou relativa

(como ser o ato ineficaz somente em relação à massa).

Se ocorrer a revogação ou o levantamento da

falência, esses atos relativamente ineficazes em relação à massa serão

válidos, como se nunca tivessem sido ameaçados pela falência. Para

BETTI41"Na verdade, o fenômeno que tem lugar em tais casos não é o da

cura de um organismo doente, mas lembra mais o desaparecimento de

uma ameaça, que recaía sobre a validade ou sobre a sua eficácia"

2.8 ATOS REVOGÁVEIS

Atos revogáveis são os que, embora não descritos

casuísticamente na lei, podem também ser declarados ineficazes em

relação à massa, desde que se prove a fraude entre o devedor e terceiro

e a lesividade a esta (art. 130). Em princípio, são revogáveis todos os atos

feitos com a intenção de prejudicar credores. A fraude pode ser provada

por indícios (RJTJEG 17/297). Emilio Betti, Teoria Geral do Negócio Jurídico, t.

IlI, p. 53).

A ação revocatória é ordinária e corre, em feito

próprio, perante o juízo universal da falência. Pode ser proposta pelo

administrador judicial, pelos credores ou pelo Ministério Público no prazo

de 3 anos da decretação da falência (art. 132).

41 BETTI, Emílio. Teoria Geral do Negócio Jurídico. I, III, p.53.

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2.9 OS CONTRATOS DO FALIDO

Os contratos bilaterais não são invalidados pela

falência e podem ser executados pelo administrador judicial, se presente

alguma das hipóteses previstas em lei, mediante autorização do comitê

(art. 117).

2.10 PRAZO

De acordo com o art. 11 e 12 da LF, “os credores cujos

créditos forem impugnados serão intimados para contestarem a

impugnação, no prazo de 5 (cinco) dias, juntando os documentos que

tiverem e indicando outras provas que reputem necessárias. Transcorrido o

prazo do art. 11 desta Lei, o devedor e o Comitê, se houver, serão

intimados pelo juiz para se manifestar sobre ela no prazo comum de 5

(cinco) dias”.

2.11 DEPÓSITO ELISIVO

É o pagamento da dívida, própriamente dita.

Para FAZZIO JÚNIOR42, “elidir o pedido de falência

significa remover a presunção de insolvência gerada pela execução

singular frustrada. Pagar o que o credor exige; satisfazer ao credor”.

Se o devedor pagar seu compromisso, elidar sua

insolvência, não há sentido em decretar sua falência. Quem solve não é

destinatário da LRE.

Conforme o art. 96, inciso IV (LRE/05), a falência não

42 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, 2005, p.215.

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será decretada se o requerido provar o pagamento da dívida.

2.12 ANDAMENTO DA FALÊNCIA

Conforme a LRE, citado, o devedor poderá contestar

em 10 dias (art. 98), depositar o valor total do crédito acrescido dos

valores previstos em lei, se tratar-se das hipóteses do art. 94, I e II (art. 98,

parágrafo único), ou requerer recuperação judicial (art. 95), A falência

poderá também ser requerida pelo próprio devedor (autofalência, art.

105).

Se no prazo de defesa o devedor requerer

recuperação judicial (art. 95), o processo de falência terá de ser suspenso,

no aguardo da concessão ou não do benefício (art. 265, IV, a, do CPC).

Concedido o processamento da recuperação judicial, fica prejudicado o

pedido de falência.

A sentença que decretar a falência conterá as

determinações do art. 99, como fixação do termo legal, suspensão de

ações e execuções contra o falido, nomeação do administrador judicial,

convocação, se foro caso, da assembléia-geral de credores, etc.

Da sentença que decreta a falência cabe agravo, e

da sentença que decreta a improcedência do pedido de falência cabe

apelação (art. 100 da LRE).

O administrador judicial procede desde logo à

arrecadação e avaliação dos bens (art. 108), juntando o respectivo auto,

dando início em seguida à realização do ativo, com a venda dos bens

arrecadados (art. 139). Ao mesmo tempo o administrador judicial

verificará os créditos, para compor o quadro-geral de credores, avaliando

também as causas da falência e a conduta do falido (art. 22). Na lei atual

sindicância e realização do ativo correm ao mesmo tempo, de modo

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paralelo. Decretada a falência não há mais volta (salvo por via recursal,

art. 100), uma vez que foi abolida a concordata suspensiva, tanto nos

feitos atuais como nos feitos ainda regidos pela lei anterior (art. 192, § 1.°).

2.13 VERIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS

A verificação de créditos (art. 7º) tem por base a

relação de credores apresentada pelo devedor na recuperação judicial

(art. 52, § 1º, II) ou na falência (art. 99, IlI, e parágrafo único), correndo o

prazo de 15 dias após a sua publicação para impugnações ou habilitação

de créditos omitidos (art. 7.°, § 1º). Todos os créditos são examinados pelo

administrador judicial, com base nos documentos contábeis do devedor.

Se não houver alterações, a relação inicial, dada pelo devedor é

homologada como quadro-geral de credores (art. 14).

Processadas as impugnações e habilitações

apresentadas, é publicada nova relação, com nova oportunidade para

impugnações, no prazo de 10 dias (art. 8º).

Na conformidade das verificações e das decisões do

juiz, nos incidentes e impugnações oferecidas, o administrador judicial vai

consolidando o quadro-geral de credores a ser homologado e publicado

na imprensa oficial.

As habilitações retardatárias têm procedimento próprio

e são consideradas como tais as recebidas após o prazo do art. 7º, § 1º

(art. 10).

Encerrada a fase da verificação de créditos, pode

iniciar-se o pagamento dos credores, de acordo com a ordem das

preferências, na medida das forças da massa e com o atendimento

prévio das restituições e dos créditos extra concursais (art. 149).

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Se não forem indicados credores pelo devedor e

nenhum credor se habilitar, a falência deve ser encerrada, por falta de

objeto. Não há falência sem credor.

Os créditos devem ser pagos na seguinte ordem (art.

83, I a VI, 84 e 149):

1) Créditos extraconcursais são os relativos à

administração da massa falida e são pagos com precedência sobre todos

os demais, como a remuneração do administrador judicial, despesas feitas

pela massa, custas judiciais das ações e execuções em que a massa

tenha sido vencida, tributos de responsabilidade da massa, salários a

serem pagos pela massa, etc. (art. 84). "São extraconcursais os créditos

tributários decorrentes de fatos geradores ocorridos no curso do processo

de falência" (CTN, art. 188, na redação da LRE 118, de 09.02.2005).

O pagamento dos créditos extraconcursais independe

do encerramento da verificação de créditos.

2) Créditos trabalhistas (art. 83,1), limitados ao teto

máximo de 150 salários-mínimos. E créditos de acidentes do trabalho (estes

sem limites). Nos trabalhistas, o que exceder ao teto passa para a classe

dos créditos quirografários (art. 83, VI, b). Passam também para a classe

dos quirografários os créditos trabalhistas cedidos a terceiros (art. 83, § 4.°).

3) Créditos com garantia real (art. 83,lI), como penhor

ou hipoteca, até o limite do valor do bem gravado. O que exceder o

limite passa para quirografário (art. 83, VI, b).

4) Créditos tributários (art. 83, 1lI) (exceto multas

tributárias, que são subquirografárias, art. 83, VIl), art. 83, m. Isso dentro da

falência, e o crédito for pago pelo administrador judicial. Paralelamente,

porém, nada impede que a Fazenda pública obtenha a satisfação de seu

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crédito mediante execução fiscal (art. 187 do Código Tributário Nacional,

na redação dada pela Lei Complementar 118, de 09.02.2005) (ver

também DI. 858/69; L 6.830/80, arts. 5° e 29).

Por outro lado, há também uma ordem de preferência

entre os entes públicos, na seguinte classificação: 1.° - União; 2.° - Estados,

Distrito Federal e Territórios, conjuntamente e "pro rata", ou seja, por rateio,

de modo proporcional; 3.° - Municípios, conjuntamente epro rata (art. 187,

parágrafo único, do CTN; Lei de Execuções fiscais, Lei 6.830/80, art. 29,

parágrafo único; Súmula 563, do STF).

5) Créditos com privilégio especial sobre determinados

bens (art. 83, IV), como o crédito sobre a coisa salvada por despesas de

salvamento e outras hipóteses relacionadas no dispositivo em exame e no

art. 964 do Código Civil.

6) Créditos com privilégio geral (art. 83, V), como as

debêntures e outros relacionados no art. 965 do Código Civil.

7) Créditos quirografários (art. 83, VI). São os créditos

comuns, sem garantia legal ou convencional, como duplicatas, cheques,

notas promissórias, etc. Passam também para esta classe as quantias que

excedem o teto de cinqüenta salários-mínimos nos créditos trabalhistas e

as que excedem o valor dos objetos dados em garantia real. E ainda os

créditos trabalhistas cedidos a terceiros (art. 83, § 4.°).

8) Créditos subquirografários-A (art. 83, VII). Recebem

somente depois de satisfeitos os créditos quirografários, se houver sobras.

Referem-se a multas contratuais e penas pecuniárias por infração de leis

penais ou administrativas, inclusive multas tributárias (multas e penas).

(Mas, como dito acima, a Fazenda Pública não está impedida de promo-

ver execução fiscal, independentemente da classificação de seu crédito

dentro da falência).

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9) Créditos subquirografários-B (art. 83, VIII). Recebem

somente depois de satisfeitos os subquirografários-A, referidos acima.

Abrangem os chamados créditos "subordinados". Nos termos do

dispositivo, são subordinados os seguintes créditos: I) os assim previstos em

lei ou em contrato (art. 83, VIII, a); lI) os créditos dos sócios e dos

administradores sem vínculo empregatício (ar!. 83, VIII, b).

Crédito subordinado previsto em lei ou contrato é, por

exemplo, a debênture sem garantia, com cláusula de subordinação (art.

58, § 4.°, da Lei das Sociedades Anônimas, Lei 6.404/76), ou a

responsabilidade por evicção (art. 447 do Código Civil).

De um modo geral, créditos subordinados são os que

Caio Mário da Silva Pereira denomina dependentes, acostados ou

adjetos, em que originalmente há um devedor efetivo e um devedor

potencial. A segunda obrigação só é exigível no inadimplemento da

primeira, como ocorre na fiança ou na garantia hipotecária dada por

terceiro (Instituições de Direito Civil, ed. Forense). Tem-se considerado

também que crédito subordinado é o que depende da satisfação prévia

de outro crédito que lhe é superior na ordem das preferências, como,

aliás, ocorre com as debêntures subordinadas, situadas em degrau inferior

aos quirografários.

Realizada a verificação de créditos, e publicado o

quadro-geral de credores, efetua-se o pagamento destes, na medida da

realização do ativo e de acordo com uma ordem de preferências, dada

pela classificação legal dos créditos (arts. 83, 84 e 149).

2.14 PEDIDO DE RESTITUIÇÃO

Pode ser reclamada a restituição de coisas

encontradas em poder do falido que não lhe pertençam, como, por

exemplo, uma máquina emprestada. E também das coisas vendidas a

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crédito e entregues ao falido nos 15 dias anteriores ao requerimento da

falência se ainda não alienadas (art. 85 e seu parágrafo único).

A restituição é feita em dinheiro, pelo preço da

avaliação, no caso de a coisa não mais existir, ou pelo preço da venda, se

a coisa já foi vendida (art. 86).

2.15 REALIZAÇÃO DO ATIVO

A realização do ativo, com a venda dos bens da

massa, pode iniciar se logo após ajuntada do auto de arrecadação (art.

139).

O art. 140 estabelece as formas de alienação, em

ordem de preferência: a) alienação da própria empresa, em bloco; b)

alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas

em separado; c) alienação em bloco dos bens de cada um dos

estabelecimentos; d) alienação dos bens individualmente considerados;

e) duas ou mais das formas de alienação citadas; f) outras modalidades,

havendo motivos justificados e autorização do juiz (arts. 142 e 144). Os

bens podem ser vendidos por meio de leilão por lances orais, propostas

fechadas ou pregão (art. 142).

O pregão é um sistema misto, de propostas seguidas

por um leilão restrito àqueles que ofereceram as melhores propostas.

Assim, o pregão tem duas fases. A primeira fase é a de

apresentação e verificação de propostas. Na segunda fase realiza-se um

leilão do qual só participam o autor da maior proposta e aqueles que

ofereceram até 10% menos do que esta (art. 142, §§ 5.o e 6.°). O valor de

abertura desta espécie de leilão será o da proposta recebida do maior

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ofertante presente. O resultado do leilão não exime a responsabilidade de

quem ofereceu a maior proposta e depois não compareceu ao leilão (art.

142, § 6.°, III).

A Lei 11.101/2005 dispõe que nos processos que

continuam sob a égide da lei anterior pode "ser promovida a alienação

dos bens da massa falida assim que concluída sua arrecadação,

independentemente da formação do quadro-geral de credores e da

conclusão do inquérito judicial" (art. 192, § 10).

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Capítulo 3

ASPECTOS DESTACADOS DO DIREITO FALIMENTAR: CONCORDATA

E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

3.1.1 CONCEITO

A concordata constitui inegável humanização do

processo de execução dos bens do devedor comerciante, evitando-lhe a

falência com suas danosas conseqüências.

Concordata, do verbo concordar, significa,

etimologicamente, acordo, conciliação, ajuste, combinação.

No sentido jurídico define o instituto que objetiva

regularizar a situação econômica do devedor comerciante, evitando

(concordata preventiva), ou suspendendo (concordata suspensiva), a

falência.

De acordo com o revogado Decreto-Lei 7.661/45, a

concordata era de iniciativa da empresa e permitia apenas negociação

em dois anos de dívidas com promissórias, cheques etc., sendo que os

credores disputavam dividas na Justiça e não tinha prazo para conclusão

do processo, alguns casos duravam mais de 20 anos.

VALVERDE43, pondo em relevo a única espécie de

credores abrangida pela concordata, a define como:

43 VALVERDE, Trajano de Miranda. Comentários à Lei de Falências,1955.

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“ Uma demanda, tendo por objeto a regularização das

relações patrimoniais entre o devedor e seus credores

quirografários e por fim evitar a declaração da falência, ou

fazer cessar os efeitos dela, se já declarada”.

REQUIÃO44, por sua vez, formula a seguinte definição:

“ O instituto jurídico da concordata visa resolver a situação

econômica de insolvência do devedor, ou prevenindo e

evitando a falência (concordata preventiva), ou

suspendendo a falência (concordata suspensiva), para

proporcionar a recuperação e restauração da empresa

comercial”.

As definições acima transcritas deixam patente uma

distinção entre o sentido etimológico e o sentido jurídico da palavra

concordata. No sentido etimológico, concordata significa acordo,

conciliação. No sentido jurídico é uma demanda, um instituto, um remédio

jurídico que decorre da própria prestação jurisdicional do estado,

independentemente da concordata dos credores.

Como todo instituto jurídico, também a concordata

passou por sucessivas alterações, numa evolução gradativa que, por

certo, ainda não terminou. Em decorrência da humanização do

cumprimento da obrigação – “la maggior parte delle leggi riconosce la

necessita di trattare in modo speciale il debitore onesto e sventurato”,

como diz NAVARRINI45 -, manifestou-se embrionariamente no direito

44 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, 1984. 45 NAVARRINI, Umberto.Trattato elementare di diritto commerciale, 1911.

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romano, conquanto só se consolidasse na Idade Média, surgindo

inicilamente a chamada concordata suspensiva e só posteriormente a

concordata preventiva.

A concordata constitui inegável humanização do

processo de execução dos bens do devedor comerciante, evitando-lhe a

falência com suas danosas conseqüências.

3.1.2 NATUREZA JURÍDICA

Diversos autores deram sua explicação quanto à

natureza jurídica da concordata, dando lugar, por isso mesmo, a diversas

teorias que tentam, cada qual à sua maneira, explicar o verdadeiro

elemento constitutivo deste instituto.

Assim, para alguns a concordata seria, antes de tudo,

um contrato entre o devedor e seus credores, conforme afirma ROCCO46

“... uno contratto trai l fallito e la colletività del creditori

deliberante a maggioranza nelle assemblea generale, col

quale, mediante la modificazione del preesistente rapport

obbligatori si fa cessar elo stato di fallimento e, quindi, la

procedura relativa”.

Verifica-se, portanto, que a natureza jurídica é

processual, face ao nosso direito positivo.

46 ROCCO, Alfredo. Princípios de direito comercial. Trad. Cabral de Moncada, 1931.

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3.1.3 HISTÓRIA DA CONCORDATA

No direito romano não houve a dicotomia do direito

privado como há inúmeras legislações hoje em dia, ou seja, uma

codificação especial para o direito civil e outra para o comercial.

As normas romanas alcançavam, indistintamente,

quanto ao cumprimento da obrigação, fosse o devedor comerciante ou

não.

Assim, diversos institutos das atuais legislações

falimentares foram calcados nos moldes do direito romano, como o

concursus creditorum que acontecia no caso de insolvência sem dolo ou

má-fé e sim por infelicidade nos negócios, aí se aplicando a bonorum

cessio, ou a entrega de todos os bens do devedor a seus credores. Este

procedimento evitava a prisão do devedor e sua caracterização

infamante. As dívidas eram pagas até a força do patrimônio entregue e

independia da concordância dos credores, que pelo saldo de seus

créditos só podiam concorrer se no futuro o devedor amealhasse outros

bens.

Todos os procedimentos enumerados foram a

substancia formadora do instituto das concordatas, que tiveram

desenvolvimento, assim como a falência, na Idade Média. Por serem

aqueles necessários a uma classe que se firmava e se consolidava com

suas regras especiais, a dos comerciantes, ou melhor, das corporações

dos comerciantes, cuidaram de estabelecer normas para o exercício

mercantil, já que o estado era imponente para fazê-lo. Assim, surgiram as

grandes compilações estatutárias como o Campitulare Nauticum, de

Veneza, entre outras.

Em que pese os comentários acima e os indícios dos

atos no direito romano, não é nele que a concordata tem sua raízes.

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Convém transcrever a observação de Alfredo Rocco,

em II concordato: “A concordata não teve origem em Roma: o direito

romano conheceu porém institutos, como o pactum ut minus solvatur e o

quinquenales induciae concedido pelo príncipe, análogos na estrutura

externa à nossa concordata; mas esta nasce e se desenvolve dos

costumes e dos estatutos municipais das cidades italianas, onde foi pela

primeira vez disciplinada legislativamente”.

3.1.4 A CONCORDATA NO DIREITO BRASILEIRO

O instituto foi introduzido no Brasil pelo Código

Comercial de 1850, mas estabelecida a concordata suspensiva, ou seja,

no curso da falência.

O Código Comercial tratava-se no Título II, artigos 842 a

854, determinado o artigo 847, 3ª alínea, que “para ser válida a

concordata, exige-se que seja concedida por um número tal de credores

que represente pelo menos a maioria destes em número, e 2/3 no valor de

todos os créditos, sujeitos aos efeitos da concordata”.

Os artigos 898 a 906 regularam a moratória – (v. item

23.1, III).

O Decreto-lei nº 3.065, de 06/05/1882, alterou o

conceito de maioria, determinando 2/3 dos créditos, ao dispor no artigo 1º

- “Para ser sólida a concordata é bastante que seja concedida pela maioria dos

credores que comparecem, contanto que essa maioria represente 2/3 do valor

de todos os créditos sujeitos aos efeitos da concordata, alteradas nesse sentido a

disposição dos artigos 844 e 847 do Código Comercial”.

Com o advento do Decreto nº 3.065, mencionado,

instituiu-se no Brasil a chamada concordata por abandono, de origem

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francesa “que consiste na adjudicação de todo ou parte do ativo da

massa aos credores para que o realizem e paguem o passivo, exonerando

desde logo o devedor”, conforme descreve MENDONÇA47.

Em 1980, o Decreto-lei nº 917 foi pródigo em institutos

para obstar a falência: no artigo 43, a concordata por abandono; no 44 a

concordata por pagamento, estas concedidas na falência (suspensiva)

por credores quirografários que somassem ¾ dos créditos admitidos . No

artigo 107, a moratória; no artigo 120, a homologação pelo juiz de acordo

ou concordata extrajudicial com credores que representem ¾ da

totalidade do passivo, impedia a declaração de falência; no artigo 130

instituia, entre nós, a concordata preventiva, e no artigo 131, a cessão de

bens, pelo devedor (todos os presentes) antes ou até 48 horas, após o

primeiro protesto, por falta de pagamento, prevenindo desta forma a

falência e desonerando o devedor das obrigações.

O Decreto nº 2.024, de 1908, projeto de Carvalho de

Mendonça, elaborou-se o direito falimentar, eliminando a moratória e a

concordata extrajudicial, inaugurando o sistema que até hoje perdura:

preventiva e suspensiva.

O Decreto nº 5.746, de 1929, consolidou a concordata

suspensiva e a preventiva.

Em 21 de junho de 1945, surgiu o Decreto-lei nº 7.661,

de 21/06/1945, que manteve-as, alternando a condição da concessão

dos credores para o Estado. A aplicação do remédio da concordata ao

devedor economicamente doente é prerrogativa do estado, pela

sentença do juiz. Manteve, no entanto, o espírito da concessão, arraigado 47 MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro,1963, v. 7342.

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desde o direito romano, passando por todos os juristas da Idade Média

suas influencias decisivas e nas normas do direito consuetudinário: o

devedor para ser concordatário há que ter sido infeliz nos negócios e ser

de boa-fé.

3.1.5 MODALIDADES DE CONCORDATAS

A Exposição de Motivos da LRE fornece uma noção

bem objetiva das modalidades de concordata: a concordata preventiva

e a concordata suspensiva.

3.1.5.1 CONCORDATA PREVENTIVA

A concordata preventiva tinha por objetivo prevenir ao

envez de evitar a falência e só atingia os credores quirografários,

pressupondo-se que as demais categorias estariam regularizadas.

O ajuizamento da ação de concordata preventiva,

pelo devedor comerciante que não está em condições de responder

pontualmente por suas obrigações, tem por fito evitar a decretação da

sua falência e pressupõe a intenção de, com dilatação de vencimentos

e/ou remissão de débitos, solver seu passivo e permanecer no comércio.

Por trás do favor legal deferido ao bom comerciante,

como verdadeiro fundamento do instituto da concordata preventiva,

encontra-se o princípio da preservação da empresa, cuja expressão mais

saliente é a continuação da atividade negocial sem solução de

continuidade.

As modalidades de concordata preventiva eram:

remissória (concordat de remise), que consiste na oferta do devedor, aos

credores quirografários, por saldo dos seus créditos, do pagamento de 50%

à vista; dilatória ou moratória (concordat d’aiermolement), que consiste

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na dilatação do prazo do pagamento total, onde o comerciante devedor

propõe o pagamento de 100% dos seus débitos, no prazo máximo de 24

(vinte e quatro) meses, sendo que 2/5 serão pagos no primeiro ano e mista

ou remissória-dilatória, que consiste na prorrogação do prazo para o

pagamento e abatimento do valor dos débitos. O devedor oferece aos

seus credores, por saldo dos seus créditos, o pagamento de 60%, 75% ou

90%, no prazo de, respectivamente, 6 (seis), 12 (doze) ou 18 (dezoito)

meses. No último caso, pelo menos 2/3 do total do débito deverá ser

saldado no primeiro ano.

No que pertine com a representação, há a regra do

art. 157 da LRE.

Se o devedor comerciante individual falecia, seu

espólio era representado pelo inventariante devidamente autorizado

pelos herdeiros; se houvesse sido interditado, pelo seu curador.

Para as sociedades, a regra é a representação pelo

sócio qualificado para tanto, quer dizer, aquele designado no contrato

social. No caso de liquidação, pelo liquidante.

Se anônima, pelos diretores autorizados por

deliberação da assembléia de acionistas, acrescentando-se que,

consoante o art. 122 da lei nº 6.404/76, na impetração da concordata

preventiva pela sociedade anônima, esta poderia ser representada por

seus administradores, ou com a concordância do acionista controlador

em caso de urgência.

O juízo competente era o do foro do principal

estabelecimento do devedor, previsto no art. 7º, precisamente o que será

competente para a falência se a concordata for rescindida.

Pressupostos da concordata preventiva:

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• a inocorrência dos impedimentos gerais previstos

no art. 140;

• o exercício regular do comércio há mais de dois

anos;

• possuir ativo livre de valor maior que 50% do passivo

quirografário:

• não ser falido ou ter suas obrigações extintas.

Na demonstração da viabilidade da concordata

devem ser considerados, pelo menos, a importância social e econômica

da atividade empresária no contexto local, regional ou nacional; a mão-

de-obra e tecnologia empregadas; o volume do ativo; o volume do

passivo quirografário; o tempo de constituição e de funcionamento da

empresa e; o faturamento anual e nível de endividamento da empresa.

Quanto ao tempo de constituição e de

funcionamento, deveria ser há mais de dois anos, tendo a sua prova

através de certidão da Junta Comercial. O intuito da lei era privilegiar

quem exercia regularmente a mercancia. Do contrário, como bem

pondera ABRÃO48 “surgiram da noite para o dia, como cogumelos,

aqueles que se estabeleceram na véspera para, no dia seguinte, sob o

beneplácito da lei, propor-se a liquidar os seus débitos na base de

cinqüenta por cento”, se for a vista.

48 ABRÃO, Nelson. Curso de direito falimentar, 1997. p.331.

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A petição inicial da ação de concordata preventiva

devia ser rigorosamente fundamentada, ou seja, o comerciante devedor

poderia explicar, detalhada e convincentemente, o seu estado

econômico e as razões que justificavam o pedido.

A petição instruída com a prova da inocorrência de

impedimentos, além do contrato social devidamente atualizado (com

todas as alterações ocorridas desde a sua celebração e registro) e das

demonstrações financeiras, sejam as referentes ao último exercício social,

sejam aquelas levantadas especialmente para instruir o pedido. Estas

deverão conter:

• balanço patrimonial;

• demonstração de lucros ou prejuízos acumulados;

• demonstração do resultado desde último

exercício social;

• inventário dos bens.

A relação das dívidas seria a nominação de todos os

credores (não se restringindo apenas aos quirografários), com suas

qualificações e endereços, bem assim a natureza e o valor dos respectivos

créditos.

Com a petição inicial, o devedor apresentava os livros

obrigatórios, que eram encerrados por termos assinados pelo juiz, sob a

guarda do escrivão, certificando-se nos autos o encerramento.

Se apresentados todos os requisitos, o juiz proferia

despacho que determinava o processamento da concordata, publicado

em imprensa oficial.

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3.1.5.2 CONCORDATA SUSPENSIVA

“A concordata suspensiva emergia do processo de falência

em curso. Visava suspendê-lo, removendo seus efeitos finais, como a liquidação

do ativo e a cessação do exercício mercantil”.

Sua natureza é a mesma da concordata preventiva.

Trata-se também de um favor legal, na medida em que não dependia do

assentimento dos credores, mas de provimento judiciário, uma vez

atendidos os pressupostos legais.

No caso da ação de concordata suspensiva, o favor

legal ensejava ao falido a possibilidade de pagar os credores. Suspenso o

processo de falência, o falido poderia reunir condições, mediante a

exploração do seu estabelecimento, para restaurar a sua empresa.

A lei só cogitava duas espécies: remissória e mista. No

primeiro caso, ao referir-se à proposta de pagamento à vista de 35% do

crédito; no segundo, quando alude ao pagamento de 50% em 2 (dois)

anos, pagos pelo menos 2/5 no primeiro ano.

Dois eram os pressupostos do pedido de concordata

suspensiva:

• Que o devedor comerciante esteja em regime

falimentar;

• Que não tenha sido recebida denuncia ou queixa

por crime falimentar.

No caso do primeiro requisito, desnecessária qualquer

explicação, porque se a ação de concordata suspensiva dirige-se à

suspensão da falência, esta preexiste.

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Quanto à segunda condição, há que se observar o

enunciado dos arts. 111 a 113 da LRE.

Fala o art. 111 que a concordata é concedida, como

favor legal. Não teria o menor sentido ensejá-la ao devedor de má-fé. Se

não teve êxito no exercício da mercancia, mas se conduziu com lisura e

honestidade, merece o benefício. Caso contrário, não.

Diga-se o mesmo para a hipótese de falência

societária, contemplada no parágrafo único do art. 111. o recebimento

da denúncia ou da queixa contra diretores, administradores, gerentes ou

liquidantes da sociedade falida impede, desde logo, a concessão da

concordata.

A rejeição da denuncia ou da queixa, estabelece o

art. 113, não impede o exercício da ação penal direta, salvo se o fato

narrado evidentemente não constituir crime ou tiver ocorrido a extinção

da punibilidade.

O pedido de concordata suspensiva teria que ser feito

dentro dos 5 (cinco) dias seguintes ao vencimento do prazo para a

entrega, em cartório, do relatório.

3.1.6 EFEITOS DA CONCORDATA

Após a decisão judicial concedendo o pedido de

concordata, passava ela a obrigar a todos os credores quirografários, nos

dizeres do artigo 147 a seguir:

Art. 147. A concordata concedida obriga a todos os

credores quirografários, comerciais ou civis, admitidos ou não ao passivo,

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residentes no país ou fora dele, ausentes ou embargantes49.

O credor quirografário, que não se habilitou na

concordata, podia acionar o concordatário, pela mesma ação

correspondente a seu título, para haver a importância da percentagem

da concordata, se não fosse assim, estaria em melhor condição do que

aqueles que se habilitaram, o que não seria justo. Vejamos o que diz o

primeiro parágrafo,

§ 1º. Se o concordatário recusar o cumprimento da

concordata a credor quirografário que não se habilitou, pode este acionar

o devedor, pela ação que couber a seu título, para haver a importância

total da percentagem da concordata50.

O parágrafo segundo51, da mesma lei, preceitua que o

credor quirografário excluído, mas cujo crédito tenha sido reconhecido

pelo concordatário, pode exigir deste o pagamento da percentagem da

concordata, depois de terem sido pagos todos os credores da

concordata.

A concordata não produzia novação, entre seus

efeitos,e não desonera os coobrigados com o devedor nem os fiadores

deste e os responsáveis por via de regresso, de acordo com o artigo 14852.

Assim se o credor receber a porcentagem na concordata, pode agir

contra o coobrigado para receber o restante do crédito.

O devedor não podia enquanto a concordata não 49 BRASIL, Decreto-Lei nº 7.661, de 21.06.1945. 50 BRASIL, Decreto-Lei nº 7.661, de 21.06.1945. 51 BRASIL, Decreto-Lei nº 7.661, de 21.06.1945. 52 BRASIL, Decreto-Lei nº 7.661, de 21.06.1945.

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fosse por sentença julgada cumprida – alienar bens imóveis, sem prévia

autorização judicial, nem vender ou transferir o estabelecimento

comercial, sem consentimento expresso de todos os credores.

3.1.7 EVOLUÇÃO DO INSTITUTO DA CONCORDATA

O instituto da concordata foi um grande avanço na

área do direito falimentar, mas, devido a rápida evolução da sociedade

moderna, a falência precisou se adequar a modernização do comércio, o

que antes era necessário, pagar os credores, deixou de ser um ato isolado

para se transformar num ato de extrema complexidade, com grandes

influências sociais e econômicas.

Requião53, um dos precursores deste pensamento diz

que “a falência e a concordata como institutos jurídicos afins, na

denúncia de empresários e juristas se transformaram em nosso país, pela

obsolescência de seus sistemas legais, mais do que nunca, em instrumento

de perfídia e de fraude dos inescrupulosos. As autoridades

permaneceram, infelizmente, insensíveis, a este clamor, como se o país,

em esplendida explosão de sua atividade comercial e capacidade

empresarial, não necessitasse de modernos e funcionais instrumentos e

mecanismos legais e técnicos adequados à tutela do crédito, fator

essencial para o seguro desenvolvimento econômico nacional. Não se

capacitaram os tecnocratas e burocratas, por outro lado, de que a

falência não se constitui apenas um meio de cobrança de interesses

fiscais e privados. Nestes últimos anos suas preocupações foram as de

acrescer, com privilégios excepcionais e absolutos, os créditos da Fazenda

Pública, com preceitos não mais admissíveis no direito moderno”.

53 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, 1995, p. 248.

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Extrai-se deste ensinamento que a inércia da legislação

falimentar que perdurou por longos anos foi extremamente prejudicial

para a economia e por conseqüência a sociedade, pois, a queda das

empresas não interessa, nem mesmo aos credores, mesmo que satisfeitos

em seus créditos, deixam de se locupletar do lucro proporcionado pela

atividade econômica anterior a quebra do comerciante.

Após mais de uma década em tramitação no CN,

aprovou-se a nova lei de falência, lei 11.101/2005, a qual aboliu do

ordenamento jurídico a concordata suspensiva, modificou a preventiva

transformando-a em recuperação judicial e estabelecem algumas

modificações no processo de falência. Referidas alterações serão

abordadas no capítulo seguinte.

3.2 RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

3.2.1 A NECESSIDADE DE ALTERAÇÃO DA LEI DE FALÊNCIAS

Com o passar dos anos, a recuperação tomou outro

rumo na história passando a ter um objetivo mais amplo, visando preservar

a atividade produtiva e maximizar o ativo sobre o qual incidem as

pretenções dos credores. Esta evolução passou a insidir sobre o patrimônio

e não mais ao corpo do devedor que antes era castigado e, em muitas

vezes, pagava com a própria vida pela sua inadimplência. Nas execuções

coletivas se tornou necessário estabelecer entre os credores um acordo

para a satisfação dos créditos pendentes. Assim, em 1945 surgiu o

concurso de credores na execução coletiva.

O Decreto-lei nº 7.661/45 veio logo após a guerra

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mundial, que se encerrara naquele ano e que concebia um modelo de

empresa próprio da economia nacional (defasada) e que refletia as

coordenadas da ordem capitalista, instaurada em 1944 a partir da

Conferência de Bretton Woods. Assim, a falência era entendida como um

estado em que se encontra um comerciante insolvente. As conseqüências

eram que o falido perdia a administração e a disposição dos seus bens.

Este Decreto-lei foi um marco para a história do direito e para as empresas

no Brasil, pois passou a ter como alvo a atividade econômica.

Para se ter uma idéia destas transformações que

ocorreram não só no Brasil, mas em todo o mundo, na Europa, por

exemplo, desenvolveram-se múltiplos sistemas jurídicos a fim de se tentar

a sintonia necessária para lidar com os problemas locais, a transparência

e a previsibilidade das relações creditícias, o desenvolvimento de

mecanismos de preservação da atividade econômica em níveis

suportáveis e a implantação de uma nova ordem capitalista centrada na

liberação dos mercados, na superação do tempo diferido e no confronto

entre as grandes organizações multinacionais por mercados cada vez

mais vulneráveis. Já no Brasil, apenas no início deste século é que nasceu

um direito positivo direcionado à empresa. Este, por sua vez, contrastou

visivelmente com a sexagenária legislação falencial que até então

predominava por aqui e que apresentava a anos sinais de saturação

acentuados.

De acordo com FAZZIO JÚNIOR54 “a modificação da

infra-estrutura econômica sempre se projeta decisivamente na superestrutura

político-jurísta e o advento da LRE é mais uma reafirmação disso. Novas regras

econômicas demandam novos comandos jurídicos e novas empresas

54 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, 2005, P.19.

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demandam novos empresários. A LRE não é uma singela substituição normativa e

seus destinatários imediatos só têm um caminho, o da compreensão de que a

empresa não é mais só um instrumento do empresário”.

Assim, entendemos que as leis têm que se adequar ao

momento, acompanhando as transformações políticas e econômicas do

Brasil e do mundo.

Desde o Decreto-lei de 1945 até o Projeto de lei de nº

4.376/93, que antecedeu a LRE, o sistema jurídico brasileiro recebeu

poucas modificações. Isso fez com que pensamentos de mudança

pairassem na cabeça de pensadores e estudiosos do direito no Brasil.

Pensadores como REQUIÃO55, que pregava uma modificação na lei,

salientando que esta seria mais que necessária, pois além de garantir aos

credores, a par conditcio creditorum, era preciso procurar outros

mecanismos que também garantissem a sobrevivência da empresa,

preservando o interesse social e o interesse de seus próprios credores.

Em 21 de dezembro de 1993, pela mensagem nº 1.104, o

Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional um texto do projeto de lei,

elaborado pelas Comissões constituídas pelas Portarias 233, publicada no

DOU, de 9 de maio de 1991, e 522 MJ, acompanhado da Exposição de

Motivos do então Ministro da Justiça, Mauricio Corrêa. O objetivo era de

regular a falência, a concordata preventiva e a recuperação de empresas

que exercem atividade econômica regida pelas leis comerciais.

O Projeto de Lei 4.376/93 tramitou no Congresso Nacional por

cerca de 10 anos, sendo aprovado e transformado na atual lei nº 11.101,

de 10 de fevereiro de 2005, denominada Lei de Recuperação Judicial.

55 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, p. 249.

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3.2.2 Conceito

A pesar do termo “Recuperação de Empresas” ser

novo, no âmbito do Direito, podemos iniciar dizendo que recuperar

significa readquirir, reaver, recobrar. A palavra traz o sentido de

restauração. A recuperação de empresas significa restabelecer a

normalidade da atividade econômica, ou seja, restaurar a saúde

econômica da empresa.

Jorge LOBO56 acrescenta, em seus estudos, um

conceito do que chama de reorganização, entendendo que na

reorganização, presume-se que a empresa, uma vez obtido temporário

alívio no que diz respeito ao pagamento de seus débitos e aos processos

de execução, será capaz de se reestruturar gradativamente, satisfazendo

aos seus credores, pelo menos parcialmente, livrando-se da bancarrota e

retornando à sua primitiva condição de empresa viável.

Assim, podemos entender que recuperação de

empresas nada mais é do que uma forma de fazer com que a empresa

adquira novamente sua estabilidade, seu equilíbrio financeiro e volte à

sociedade.

Diego RONCONI57 , diz que diante dos estudos

realizados em torno do assunto, propõe-se, como conceito operacional

para o terno Recuperação de Empresa, o conjunto de providências

judiciais ou extrajudiciais que visam a preservação da empresa insolvente,

56 LOBO, Jorge Joaquim. Direito concursal: direito concursal contemporâneo, acordo pré-

concursal, concordata preventiva, concordata suspensiva, estudos de direito concursal, 1996. 542 p.

57 RONCONI, Diego Ricahrd. Falência & Recuperação de Empresas: análise da utilidade social de ambos os institutos, 2002. 67 p.

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a qual interesse e importe substancialmente à Sociedade, na condição de

possibilidade de retorno ao seu estado de solvência.

O devedor empresário que antes podia comprometer-

se com a dilatação ou a remissão dos seus débitos, com a LRE passa a

focalizar um horizonte mais otimista devido a possibilidade de recompor a

regularidade das atividades de sua empresa e também satisfazer com

mais eficácia seu passivo. O devedor em recuperação é muito mais que

um proeminente devedor. A empresa deixa de ser somente a garantia dos

credores e passa a ser tratada como uma unidade produtiva capaz de

resolver não apenas o passivo, mas também permanecer ativa, mediante

esquema recuperatório.

Pode-se constatar que a recuperação de empresas,

comparado à falência, é um processo relativamente inovador na

legislação mundial, cujas raízes pode-se dizer que tenha gênese no

próprio direito brasileiro.

Observa-se que a procura de meios solutórios para a

recuperação da empresa não tem sido uma questão recente, mas já

transcendente há tempos, de modo que, com a dinâmica social e

jurídica, constantemente necessitam ser revistos, a fim de que estejam

adequados aos seus objetivos.

3.2.3 NECESSIDADE DE MUDANÇAS

A anterior lei de falências e concordatas (LF/45 –

Decreto-Lei nº 7.661/45) foi substituída pela lei de recuperação de

empresas (LRE - Lei nº 11.101/2005), em vigor em 09/02/2005. Em vigência

desde 21/06/1945, o Decreto-lei 7.661, que ditava os atos processuais de

falências e concordatas, já não atendia mais aos anseios da empresa

moderna que precisa se globalizar para poder sobreviver com eficácia.

Muitos empresários estavam aproveitando do Decreto-

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lei para usarem de má-fé em benefício próprio, fazendo com que suas

obrigações fossem postergadas. Este procedimento vai contra a sua

função primordial, pois desta forma desonesta muitos eram os

prejudicados e só um beneficiado.

A maior parte das empresas nacionais constituídas nos

últimos anos foram sob a forma de microempresa. É o reconhecimento

que esse tipo de sociedade comercial desempenha um importante papel

no desenvolvimento econômico do país, produzindo e gerando imensas

riquezas que proporcionam o desenvolvimento nacional e que já começa

a exigir legislações mais modernas.

Desde da promulgação da LF/45 até a vigente nos

dias atuais, muitos avanços ocorreram, e por isso muitas mudanças

tiveram que ser feitas.

A Lei de Recuperação de Empresas vai de encontro

com estas novas necessidades, com a nossa nova realidade, e isso é

muito importante para que se tenha o alicerce necessário para que as

empresas possam seguir em frente e se reerguer com dignidade, caso

precisem.

3.2.4 DESAFIOS

O desafio em si é tentar fazer com que esta lei possa

encontrar uma fórmula capaz de corrigir as imperfeições do nosso modelo

empresarial/jurídico e absorver a evolução das idéias que ganham

espaço através da tecnologia e da evolução das formas de administrar as

empresas.

O que precisamos é que esta lei possa direcionar as

empresas, em situação de insolvência, para o caminho da sensatez,

ficando a cargo do judiciário tornar estas leis capazes.

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3.2.5 LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIAS

Em vigência desde 09/06/05, a Lei nº 11.101 propõe a

substituição da concordata pela recuperação empresarial, estimulando a

negociação entre credores e devedores fora da esfera judicial. O foco

principal é tentar resolver as questões fora do âmbito da Justiça com o

objetivo de baratear e acelerar o processo de recuperação das

organizações.

A vantagem da aprovação dessa medida para as

micro e pequenas empresas está na simplificação e no prazo de

negociação maior, que passa de três para cinco anos, para o pagamento

das dívidas. Na verdade, o que sufoca essas empresas é o endividamento

observado principalmente naquelas recém-criadas a partir de

indenizações trabalhistas.

Muitas vezes, o indivíduo opta por montar o seu próprio

negócio, mas não tem experiência, esquece o capital de giro e começa

a faltar com os compromissos, porque o rendimento do negócio não gera

receita suficiente para a sua sobrevivência.

3.2.6 AS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES NA LEGISLAÇÃO FALIMENTAR

Desde 1945, o sistema jurídico brasileiro convive com a

LF/45, que durante o período de sua plena vigência, recebeu poucas

modificações. Isso não é muito normal em se tratando de direito

concursal. Como o setor jurídico é fortemente marcado pelo dinamismo

dos fatos econômicos e suas conseqüências sociais, seria natural que

arcasse com determinadas adaptações e substituições normativas de

acordo com a realidade do momento. Essa reestruturação, por mais

necessária e mais reclamada, não aconteceu. A LF/45 tornou-se obsoleta

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e o contexto de seus comandos passou a regular de forma deficiente e

até injusta e improdutiva, muitas vezes.

A partir de sua origem, a LF/45, numa consideração

que não ultrapassou o âmbito do sistema jurídico, dividiu espaço com

uma nova lei das sociedades por ações (1976), com novas legislações

sobre títulos de crédito, com novas normações sobre contratos (franquia,

faturização, leasing etc), com o novo direito financeiro a partir de 1964,

com a lei de intervenção e liquidação extrajudicial de bancos e, enfim,

com um novo Código Civil que unificou o direito empresarial.

O Projeto de Lei nº 4.376/93, agora Lei nº 11.101/05,

veio regular a recuperação judicial, extrajudicial e a falência, trazendo

importantes alterações na legislação.

A alteração dos termos trazem várias implicações, visto

que esta nova lei regula a recuperação judicial, extrajudicial e a falência

de devedores, pessoas físicas e jurídicas, que exerçam atividade

econômica, reguladas pelas leis comerciais.

Embora o legislador tenha dado preferência para a

recuperação judicial, a primeira via que se deve tentar para solucionar

problemas é a tentativa de recuperação extrajudicial.

A nova lei dá prioridade à recuperação da grande e

da média empresa, enquanto que a recuperação das empresas de

pequeno porte e as microempresas foram deixadas em segundo plano.

Assim se adotou para as médias e grandes empresas a utilização do

procedimento ordinário, enquanto que para as pequenas e

microempresas utilizou-se um procedimento especial, parecido com a

concordata preventiva. A diferença é que o prazo dilatou-se de 24 para

36 meses, prorrogáveis por mais de 12 meses, obrigando o pequeno e o

microempresário a pagar os débitos trabalhistas em 06 parcelas iguais,

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mensais e sucessivas, entretanto, podem as pequenas e microempresas

optar pelo procedimento ordinário.

3.2.7 Mecanismos para recuperar a empresa

De acordo FAZZIO JÚNIOR58 o sistema introduzido pela

LRE é marcado pelas seguintes mecanismos para a recuperação de

empresas:

a) flexibilidade dos procedimentos preventivos;

b) ampliação da participação dos credores;

c) maior amplitude nas possibilidades de acordo entre

credores e devedor;

d) manutenção do privilégio dos créditos trabalhistas e

acidentários;

e) diminuição da função jurisdicional;

f) adoção de novos mecanismos para superação das

crises empresariais;

g) simplificação dos procedimentos; e

h) reformulação da função administrativa.

3.2.8 Empresas atingidas

Nos termos do art. 1º da LRE, podem ser pacientes de

58 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, 2005.

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57

recuperação judicial, recuperação extrajudicial e falência:

I- sociedade empresária; e

II- empresário individual.

Também estão excluídas da recuperação e da

falência empresas públicas, sociedades de economia mista, instituições

financeiras, cooperativas de crédito, consórcios, entidades de previdência

complementar, sociedades operadoras de planos de assistência a saúde,

sociedades de capitalização, sociedades seguradoras e outras

equiparadas, por lei, a essas espécies societárias.

Tendo em vista que, a rigor do que dispõe o art. 966,

parágrafo único, do CC, quem exerce profissão intelectual (científica,

literária ou artística), mesmo com o concurso de auxiliares ou

colaboradores, não se sujeita à falência nem pode postular recuperação.

Excepcionalmente, ficará sob o regime da LRE se o exercício da profissão

constituir elemento de empresa.

3.2.9 RECUPERAÇÕES

3.2.9.1 Recuperação Extrajudicial

De acordo com FAZZIO JÚNIOR59, a Recuperação

Extrajudicial é uma forma do empresário devedor fazer um acordo direto

com seus credores – com todos ou com alguns deles - e promover a

resolução satisfatória de seus débitos, evitando assim a intervenção

judicial e requerendo depois em Juízo a homologação do acordado. 59 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, 2005.

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58

Se analisarmos a legislação anterior podemos observar

que se o empresário devedor fizesse um acordo para a dilação do prazo

de pagamento de suas dívidas e pedisse a remissão de seu débito teria

sua falência decretada. Com a nova lei (LRE) os credores são chamados

extrajudicialmente para que seus créditos sejam negociados diretamente

com o devedor.

Assim, de acordo com SANTOS60, podemos dizer que

“o processo de recuperação extrajudicial é a primeira tentativa de se

solucionar amigavelmente as dívidas do empresário”.

De acordo com o Capítulo VI, art. 16161 da LRE, “o

devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e

negociar com credores plano de recuperação extrajudicial”.

A LRE apresenta os seguintes requisitos:

I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por

sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;

II – não ter, há menos de cinco anos, obtido concessão de

recuperação judicial;

III – não ter, há menos de oito anos, obtido concessão de

recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V do

Capítulo III;

IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador

ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta

Lei. 60 SANTOS, José Bonifácio de Andrade. Comentários à nova lei de falência: direito

falimentar, 2005. p. 29. 61 BRASIL. Lei nº 11.101/2005 de 09/02/1005.

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59

Conforme FAZZIO JÚNIOR62, a homologação do plano

para postular a judicialização do acordo de recuperação extrajudicial

obriga o devedor à juntada de:

• exposição da situação patrimonial;

• demonstrações contábeis relativas ao último

exercício social;

• demonstrações contábeis compostas de

balanço patrimonial, demonstração de

resultados acumulados, resultado do último

exercício social e relatório gerencial de fluxo de

caixa, bem como de sua projeção;

• documentos comprobatórios dos poderes dos

subscritores para novar ou transigir;

• relação nominal completa dos credores.

Convém acrescentar que para a LRE a relação

completa de credores significa: endereço de cada um, natureza,

classificação e valor atualizado do crédito; origem e vencimento; e os

registros contábeis de cada transação pendente.

Excluem-se os créditos tributários, trabalhistas e de

acidentes de trabalho, os relativos à alienação fiduciária e outros do art.

49, § 3º, e os contratos de câmbio para exportação, conforme o art. 86, II.

62 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, 2005. p. 120.

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60

O plano extrajudicial poderá tornar-se obrigatório para

todos os credores se for obtida a concordância de mais de 3/5 dos

créditos de cada espécie (art. 163).

O pedido de homologação do plano extrajudicial é

publicado no órgão oficial e em jornal de grande circulação nacional ou

das localidades da sede e das filiais do devedor, com envio de carta a

todos os credores informando a distribuição do pedido, as condições do

plano e o prazo para impugnação, que é de 30 dias, a contar da

publicação.

O plano é homologado por sentença, atendidos os

requisitos legais, valendo a sentença como título executivo judicial (art.

161, § 6º). Se o juiz recusar a homologação, o devedor poderá, cumpridas

as formalidades, apresentar posteriormente novo plano de recuperação

extrajudicial (art. 164, § 8º).

Ainda citando FAZZIO JÚNIOR, o § 2º do mesmo art. 161

traz duas regras: o plano não poderá envolver antecipação do

pagamento de débitos; e não poderá contemplar tratamento

desfavorável a credores que a ele não estejam sujeitos.

A questão que merece consideração refere-se à

desequiparação entre os credores do plano e os que a ele não estão

sujeitos. É que, na medida em que o devedor acorda, com alguns de seus

credores, um plano destinado a solucionar esse passivo, certamente não

se trata pagar cada credor no respectivo vencimento cada um dos

débitos pelo seu valor líquido. Não haveria nessa hipótese nenhum plano

de recuperação, mas simplesmente o cumprimento normal das

obrigações contraídas. Então, o plano de recuperação extrajudicial deve

conter mecanismos de solução obrigacional alternativos que, certamente,

interessam aos credores do plano, pelo menos em suficiente para que

participem dele. Isso, é lógico, implica o estabelecimento de condições

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61

diversas das normais, a que estão sujeitos todos os demais credores que

não aceitam participar do plano. Não se trata, pois, de desfavorecer

credores que não se sujeitam ao plano, mas de favorecer aos que com

ele concordam. Em outras palavras, nenhum credor é obrigado a

concertar plano de recuperação do devedor, permanecendo na

condição de credores nos termos originais das respectivas obrigações.

Afinal de contas, anuir ao plano implica certa dose de e esse risco

deve ter alguma compensação.

È preciso deixar claro que o pedido de

homologação do plano extrajudicial não implica a suspensão de

direitos, ações ou execuções, nem a inviabilidade do pedido de

falência oriundo de credores alheios ao plano.

Também é válido salientar que a sentença

homologatória do plano de recuperação extrajudicial é título

executivo judicial.

Cientificado por edital ou por carta do devedor,

qualquer credor sujeito ao plano tem o prazo de 30 (trinta) dias para

impugnação do pedido, desde que sua postulação seja instruída com

a prova do respectivo crédito. Os motivos para essa oposição são:

• no caso da recuperação extrajudicial que envolve todos os

créditos, a falta da aprovação por 3/5 (três quintos) dos credores;

• prática, pelo devedor, de atos característicos de insolvência

previstos no art. 94, inciso III, da LRE;

• prática, pelo devedor, de ato prejudicial aos credores, em conluio

fraudulento com terceiro;

• descumprimento de qualquer dos requisitos específicos reclamados

por lei para homologação do plano; e

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• descumprimento de qualquer outra exigência legal.

Impugnado ou não o plano, o juiz decidirá sobre

sua homologação, em 5 (cinco) dias. Se o plano não for homologado,

o devedor não está impedido de oferecer novo pedido, se superados

os impedimentos gerados de indeferimento.

Não podem integrar o plano de recuperação

extrajudicial créditos de natureza tributária, oriundos da legislação

trabalhista ou de acidente de trabalho Todavia, isso não significa que o

pagamento desses encargos seja requisito para a efetivação do plano

extrajudicial.

O art. 164 da LRE determina que, com a recepção do

pedido de homologação formulado pelo devedor, o juiz ordenará a

publicação de edital convocatório dos credores não anuentes para que

em 30 dias ofereçam manifestação, podendo aderir ao plano mediante a

juntada de prova de seu crédito.

A regra do § 5º do art. 161 é de natureza vinculativa.

Isso porque, após a distribuição do pedido de homologação, os

credores signatários não mais poderão desistir da adesão ao plano.

Contudo, se tiverem a anuência expressa dos demais ·signatários,

poderão desistir.

A sentença homologatória do plano independe dos

credores e o Ministério Público se pronunciarem ou não. O juiz julgará a

regularidade do plano, devendo verificar se não ocorre alguma tipo

de armação fraudulenta entre o devedor e os credores signatários, em

prejuízo dos demais credores. Isso quer dizer que o magistrado deverá

dedicar especial atenção às eventuais garantias ofertadas pelo

devedor àqueles credores signatários, no sentido de que não se

oficialize a consumição dos bens do devedor em detrimento de

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credores trabalhistas e fiscais, por exemplo. É certo que, para

desincumbir-se dessa cautela, poderá embora a LRE não o exija valer-

se da colaboração pericial.

Qualquer que seja a decisão judicial sobre o plano,

o recurso cabível é de apelação sem efeito suspensivo. Assim sendo, se

o juiz homologar o plano, embora haja recurso do Ministério Público ou

de algum credor dissidente, o que foi homologado começa a produzir

efeitos. Uma análise mais detalhada a conveniência ou

inconveniência dessa solução que enseja a execução provisória do

plano de recuperação extrajudicial.

É interessante observar que a LRE não diz se a

sentença homologatória do plano de recuperação extrajudicial

suspende ou não o curso da prescrição em relação aos créditos

envolvidos. Se rejeitar o plano, por força do art. 165, § 2º, devolve-se

aos credores signatários a exigibilidade dos créditos nas condições

originais. Logo, se entre o acordo e a decisão que rejeita o plano

consumar-se a prescrição de algum crédito, o título respectivo deverá

recuperar seu caráter executivo.

Como a recuperação extrajudicial é, por natureza,

parcial, não é impossível que seja frustrada pela decretação da

falência do devedor, a pedido de credor não signatário ou de credor

signatário, no caso de descumprimento do plano. Sendo assim, é

possível dizer que o plano de recuperação extrajudicial não determina

a suspensão de ações e execuções contra o devedor.

Outro fato importante é que a distribuição do

pedido de recuperação extrajudicial não previne a jurisdição para

qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência do

mesmo devedor.

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64

3.2.9.2 RECUPERAÇÃO JUDICIAL Se a recuperação extrajudicial não resolveu a situação

do empresário devedor, parte-se para a recuperação judicial, onde, em

razão da intervenção judicial, o devedor empresário deverá apresentar

um plano para a superação das dificuldades financeiras do momento e

evitar ao mesmo tempo mais perdas para os credores. Este plano será

apresentado para os credores através de uma reunião, onde serão

discutidas as propostas do plano, podendo ou não ser aprovadas pelos

credores e até sofrer alterações, de acordo com o que for decidido.

Já não se tem mais prazos para pagamento de

credores, conforme existia na lei anterior, mas estes prazos não têm mais

limites, ou seja, pactuando com os credores que o pagamento será feito

em 1,5 ou 10 anos, e havendo concordância dos credores, esta será a

forma que se cumprirá o plano de recuperação.

A antiga concordata preventiva exigia o cumprimento

de uma série de requisitos a serem preenchidos pelo devedor empresário,

todos muito complicados, não conseguia os benefícios legais, entretanto,

com esta nova lei, nada obsta que o devedor empresário possa pedir a

recuperação judicial.

Se o protesto de um título de valor relevante obstava a

concordata preventiva, agora o devedor empresário poderá pedir a

recuperação judicial, mesmo com este protesto, o que é um grande

avanço”.

Para FAZZIO JÚNIOR63, a recuperação judicial não se

restringe à satisfação dos credores nem ao mero saneamento da crise

63 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, 2005. p. 125.

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econômico-financeira em que se encontra a empresa destinatária.

Alimenta a pretensão de conservar a fonte produtora e resguardar o

emprego, ensejando a realização da função social da empresa, que,

afinal de contas, é mandamento constitucional.

A recuperação judicial, para FAZZIO JÚNIOR64 tem por

objetivo :

• reorganizar a empresa em crise financeira;

• preservar as oportunidades de emprego;

• implementar a valorização da massa próxima

da insolvência;

• dilatar as possibilidades de negociação para

solução de passivo;

• envolver a maior parcela possível de credores

e empregados do devedor;

• fixar os efeitos da desaprovação ou

descumprimento do plano;

• regular a conversão da recuperação em

falência;

• especificar o conteúdo mínimo e a justificativa

do plano;

• fixar mecanismos de alteração do plano;

• estabelecer os limites da supervisão judicial da

execução do plano; e

• regulamentar o elenco de atribuições dos

órgãos administrativos do plano. 64 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, 2005.

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A primeira coisa que devemos ter em mente é

recuperar para não liquidar a empresa. Só se liquida uma empresa se ela

não apresenta mais nenhuma solução cabível de recuperação. É preciso

verificar as causas das dificuldades empresariais e ver se as soluções

apresentadas surtem o efeito esperado.

Para que a recuperação judicial seja recomendável é

preciso que analisemos alguns fatores abordados por FAZZIO JÚNIOR65

sobre a empresa em recuperação. São eles:

• Importância social e econômica da atividade

do devedor no contexto local, regional ou

nacional;

• Mão-de-obra e tecnologia empregadas;

• Volume do ativo e do passivo;

• Tempo de constituição e funcionamento do

negócio;

• Faturamento anual e nível de endividamento da

empresa.

É certo esclarecermos que de nada adianta

demonstrar a relevância socioeconômica regional da atividade do

devedor, se o descompasso entre ativo e passivo, bem como o diminuto

faturamento anual, deixam claro a inviabilidade da empresa. Todos estes

fatores devem fazer parte de um só conjunto.

Por isso, para verificar se um empresário ou sociedade

empresária é viável, é suscetível de recuperação, não é suficiente a

65 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, 2005.

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67

satisfação isolada de antecedentes meramente formais. È preciso uma

análise global para ver se há possibilidade de se utilizarem os meios de

recuperação em determinado caso.

A LRE66 alinha diversos meios de recuperação judicial

da empresa, que são:

• concessão de prazos e condições especiais

para pagamento das obrigações vencidas

ou vincendas;

• cisão, incorporação, fusão ou transformação

de sociedade, constituição de subsidiária

integral, ou cessão de quotas ou ações,

respeitados os direitos dos sócios, nos termos

da legislação vigente;

• alteração do controle societário;

• substituição total ou parcial dos

administradores do devedor ou modificação

de seus órgãos administrativos;

• concessão aos credores de direito de eleição

separadamente de administradores e de

poder de veto em relação às matérias que o

plano especificar;

• aumento de capital social;

• extinção ou arrendamento de

estabelecimento, inclusive à sociedade

constituída pelos próprios empregados;

• redução salarial, compensação de horários e 66 BRASIL, Lei nº 11.101, de 09.02.2005, art. 50, § I-XVI. LRE .

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redução da jornada, mediante acordo ou

convenção coletiva;

• dação em pagamento ou novação de

dívidas do passivo, com ou sem constituição

de garantia própria ou de terceiro;

• constituição de sociedade de credores;

• venda parcial dos bens;

• equalização de encargos financeiros relativos

a débitos de qualquer natureza, tendo como

termo inicial a data da distribuição do pedido

de recuperação judicial, aplicando-se

inclusive aos contratos de crédito rural, sem

prejuízo do disposto em legislação específica;

• usufruto da empresa;

• administração compartilhada;

• emissão de valores mobiliários; e

• constituição de sociedade de propósito

específico para conceder a posse em pa-

gamento dos créditos, os ativos do devedor.

Analisando os itens acima podemos observar que, por

exemplo, numa comparação a lei anterior, o legislador preferiu

abandonar os rígidos parâmetros de pagamento parcelado estipulados

na antiga concordata, deixando-a mais flexível, de certo modo.

É certo dizer que o processo de recuperação judicial é

complexo. A recuperação judicial é complexa. Não se trata de simples

parcelamento de débitos. É um conjunto de atos dotados de teologia

econômica, ou seja, os fins justificam os meios economicamente falando.

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Não é intenção do legislador burocratizar a

recuperação empresarial, mas garantir que ela seja transparente, lícita e

economicamente eficaz, sem prejuízo dos direitos sociais e individuais que

extrapolam a esfera dos interesses envolvidos.

O processo de recuperação judicial se desenvolve em

duas etapas:

• Fase de processamento; e

• Fase de execução do plano.

A falta de qualquer requisito relacionado no art. 48

impede a recuperação judicial do devedor.

Então, com base no art. 4867 da LRE é possível

enumerar os impedimentos para a recuperação judicial:

• Falta de inscrição no registro competente;

• Falta de registro há mais de 2 (dois) anos;

• Falência sem extinção das obrigações;

• Recuperação judicial anterior há menos de 5

(cinco) anos; e

• Condenação criminal.

É certo dizer que não é qualquer empresário em crise

econômico-financeira que pode usufruir da recuperação judicial e que

estes impedimentos servem tanto para a recuperação extrajudicial como

para a judicial. Tudo deve estar dentro dos parâmetros estabelecidos em

Lei. É um benefício que pressupõe regras.

67 BRASIL. Lei 11.101 de 09.02.2005. LRE

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70

A recuperação judicial é de iniciativa exclusiva do

devedor, a exemplo do que acontecia com a concordata suspensiva na

LFC, apesar de sabermos que os interessados na recuperação do devedor

são seus credores.

Realizado o plano sob a aprovação dos credores, de

acordo com FAZZIO JÚNIOR68o devedor tem um prazo de 60 dias para

apresentar em juízo o plano de recuperação, que deve conter:

• Detalhamento dos meios de recuperação e seu

resumo;

• Demonstração da viabilidade econômica;

• Laudo econômico-financeiro e de avaliação do

ativo do devedor.

De acordo com FAZZIO JUNIOR69 “esse plano sofre

alguns condicionamentos ligados ao interesse social. Assim, não

poderá estipular prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos

créditos trabalhistas e acidentários vencidos até a data do pedido de

recuperação. Também não poderá fixar prazo superior a 30 (trinta)

dias para o pagamento dos créditos estritamente salariais vencidos

nos 3 (três) meses anteriores ao pedido. O limite desse pagamento é

de 5 (cinco) salários mínimos por trabalhador.

O plano será publicado por edital, com fixação do

68 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, 2005. 69 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, 2005.

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prazo de 30 (trinta) dias para eventuais impugnações. O termo a quo

desse prazo é a publicação da relação de credores oferecida pelo

devedor. Se essa publicação for anterior ao edital contendo aviso

sobre a recepção do plano, este aviso é que definirá o início do

prazo.

Este plano poderá ser impugnado por um dos

credores que pode mostrar, por exemplo, que o plano lhe causaria

mais perdas que a outros credores, ou mesmo a outras categorias de

credores se acontecer a concretização do mesmo. Neste caso,

deve-se observar se não há um tipo de fraude no mecanismo de

aprovação do plano ou no processo de aprovação. Se houver

impugnação do pedido de recuperação a assembléia de credores

será convocada pelo juiz a fim de requerer a realização de laudo

econômico-financeiro e propor um plano alternativo de recuperação

judicial, por exemplo. Esta assembléia geral é constituída por classes

de credores. A classe I é composta de titulares de créditos trabalhistas

ou acidentários; a classe II de titulares de créditos com garantia real

e; classe II, formada de titulares de créditos quirografários, com

privilégios ou subordinados, de acordo com o art. 41 da LRE.

Se o plano de recuperação judicial for aprovado

pela Assembléia Geral de Credores, esta indicará os membros do

Comitê de Recuperação. Em seguida, o juiz o deferirá, constituindo-

se a sentença em título executivo judicial, cabendo ainda agravo por

parte de qualquer credor e do Ministério Público.

Após a juntada aos autos do plano aprovado pela

assembléia, o devedor deverá apresentar, sob pena de falência,

certidões negativas de débitos tributários. Mesmo a lei mencionando

certidão negativa, nada consta que seja positiva, sendo obtida

também mediante parcelamento do débito tributário, por força do

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art. 155, a, § 3º, do CTN. Ao decidir, o juiz determinará a intimação do

Ministério Público e a comunicação às Fazendas Públicas.

Durante o processo de recuperação judicial o

devedor ou seus administradores poderão ser mantidos na

administração da empresa, exercendo normalmente suas atividades

de atos de gestão empresarial, sendo fiscalizados pelo administrador

judicial sob a supervisão do juiz e, se for o caso, pelo Comitê de

recuperação judicial. Não se trata de administração controlada, mas

fiscalizada.

O administrador judicial não tem poderes

gerenciais, mas pode ser responsabilizado civil e criminalmente se

praticar atos ilícitos, seja em prejuízo dos credores, seja contra o

devedor em recuperação. Deve ser profissional idôneo de nível

superior formado preferencialmente em Direito, Economia,

Administração de Empresas ou Contabilidade e de confiança do juiz.

Também pode ser pessoa jurídica especializada, caso em que

deverá ser declarado no termo de compromisso o nome do

profissional responsável.

Quanto ao Comitê sua constituição é facultativa,

depende de livre deliberação de qualquer das classes de credores.

Sua constituição deve ser fundamentada na necessidade. O Comitê

é composto de 3 (três) membros representando cada classe de

credores, cada um com dois suplentes. A presidência do Comitê

incumbe àquele indicado pelos seus próprios membros. Estão

impedidas de integrar o Comitê ou de exercer as funções de

administrador gestor as pessoas que nos últimos 5 (cinco) anos,

administraram ou integraram Comitê em empresa sujeita ao regime

de insolvência, foram destituídas, tiveram prestação de contas

rejeitada ou deixaram de prestá-la.

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A satisfação de todas as obrigações assumidas no

plano de recuperação judicial, incluindo o pagamento dos credores,

autorizam o devedor a requerer ao órgão judiciário a sentença de

encerramento da recuperação judicial.

A sentença de cumprimento de recuperação

judicial não é declaratória de extinção das obrigações do devedor.

Não alcança os débitos renegociados no plano de recuperação. Na

verdade, declara que o plano foi cumprido, ou seja, que as

obrigações assumidas pelo devedor foram resolvidas pela execução

do plano.

FAZZIO JÚNIOR70observa que ao decretar o

encerramento da recuperação judicial, o juiz deve determinar:

• pagamento do saldo de honorários

devidos ao administrador judicial;

• saldo das custas judiciais não recolhidas;

• apresentação de relatório sobre a

execução do plano;

• dissolução do Comitê, se houver;

• exoneração do administrador judicial; e

• comunicação ao Registro de Empresas.

Qualquer credor pode postular a falência do

devedor se este descumprir qualquer obrigação integrante do plano

aprovado. Aliás, o descumprimento de encargo assumido pelo

devedor no plano já autoriza o juiz, independentemente de

70 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, 2005.

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provocação, a mudar a recuperação judicial para falência. Se isso

ocorrer, os credores terão seus direitos e garantias reconstituídos nas

condições originais, com a dedução dos valores porventura recebidos

e ressalvada a validade dos atos praticados durante a recuperação

judicial.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo principal

investigar, à luz da legislação, da doutrina, da jurisprudência nacional e do

direito extraterritorial, a evolução do direito falimentar, desde a execução

sobre o corpo do devedor, passando pela concordata até chegarmos ao

instituto da recuperação de empresas, que foi criado recentemente no

ordenamento jurídico nacional.

O interesse pelo tema deu-se em razão de sua

atualidade e pela diversidade que o tema vem sendo abordado no

contexto nacional e internacional.

Para seu desenvolvimento lógico o trabalho foi dividido

em três capítulos, onde é apresentado de maneira clara e dinâmica os

conceitos de falência, concordata e recuperação de empresas e demais

assuntos ligados a estes temas.

A falência foi um marco na história mundial , pois com

ela o devedor deixou de pagar com seu próprio corpo pelas obrigações

assumidas. Com o passar dos anos, sofreu alterações necesarias diante

dos avanços do direito comercial, e isso foi muito importante para as

empresas, de um modo peral.

A concordata veio em seguida para dar continuidade

as inovações. Com ela, a empresa teve a chance que precisava para

dar continuidade aos negócios e não extingüir-se de vez. Foi a criação de

um processo intermediário à falência.

A recuperação de empresas surgiu com a Lei 11.101/05

e veio garantir de vez a recuperação da empresa em dificuldade,

oferecendo caminhos para o seu reerguimento, sem que este processo

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trouxesse maiores maleficios aos que dela dependem, como credores,

empregados e a sociedade em peral. Foi uma vitória para empresas que

por diversos motivos tornaram-se insolventes.

Pela lei anterior, tinha-se como foco principal a

resolução dos problemas dos credores. Com esta lei visa-se a

recuperação da empresa como um todo.

Outra mudança foi em relação ao crédito trabalhista.

Apesar de a lei antiga proteger o trabalhador, era difícil ele receber seus

créditos, porque o Fisco tinha prioridade nos pagamentos. Com a nova lei

é garantido aos trabalhadores o pagamento de seus créditos, mediante a

obediência de determinados limites pré-estabelecidos.

A recuperação de empresas veio reforçar o direito

comercial num mundo globalizado em que as empresas precisam ter

lucros, mas, acima de tudo, ter responsabilidade com o meio social onde

estão inseridas e salvaguardar os interesses sociais da comunidade.

Estes processos que o direito comercial passou durante

todos estes anos nos mostrou que é preciso renovar sempre. A evolução

do mundo é a prova disso. Tudo muda, tudo se renova, tudo se moderniza.

A criação de mecanismos capazes de dar suporte

financeiro as empresas em dificuldade, com base no pensamento de que

as empresas não são entes isolados do meio social, e precisam continuar a

operar de forma adecuada foi um grande avanço.

Esta lei trouxe um fôlego a mais para diversas

empresas, pois apenas as empresas concordatárias que estejam em

situação "muito ruim" não terão condições de recuperação. A empresa

concordatária, por exemplo, poderá vender bens para quitar suas dívidas.

Uma alternativa é a entrada de um sócio. Se a empresa for vendida o

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novo dono não herda as dívidas fiscais e trabalhistas, ficando livre da

sucessão tributária. A nova lei oferece diversos modos/mecanismos para a

recuperação judicial.

Por fim, retoma-se as três hipóteses básicas da

pesquisa: a) no que foi demonstrado, a alteração da legislação falimentar

brasileira, foi um grande avanço consolidando no país a tendência

existente em outros países de instalar em seus ordenamentos jurídicos o

instítuto de recuperação de empresas.; b) Comprovou-se a hipótese de

que o novo instituto garantirá a função social das empresas, sendo

demonstrado que as empresas não estão isoladas do meio em que

convívem, pois é impossível de separar a empresa de sua função social; c)

por fim comprovou-se a hipótese de que, apesar de todas as críticas e

sugestões, esta lei foi um grande avanço do direito pátrio posibilitando aos

legisladores corrigirem injustiças históricas com o capital privado. Desta

forma se confirmaram as três hipóteses básicas de pesquisa.

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