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TRAB VIROLOGIA

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Page 1: TRAB VIROLOGIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CIÊNCIAS DO LABORATÓRIO CLÍNICO

ALUNA: SÔNIA CHRISTINA DE SOUZA MOTA

RELATO DE CASO DE FEBRE DO OROPOUCHE 1 INTRODUÇÃO

A febre do Oropouche é uma doença causada por um arbovírus, o vírus Oropouche que

pertence ao gênero Orthobunyavirus e à família Bunyaviridae, sorogrupo Simbu.

De acordo com Rodrigues (2004) e Vasconcelos (2009) os Orthobunyavirus são esféricos

apresentando 80 a 120 nm de diâmetro com glicoproteínas de superfície inseridas numa

bicamada lipídica que forma o envoltório dos vírus.

O vírus Oropouche (VORO) apresenta envelope e seu genoma contém três segmentos de

RNA de fita simples, polaridade negativa, seus genes são orientados no sentido 3’→5’

(VASCONCELOS, 2009).

O ciclo replicativo acontece com o vírus reconhecendo o receptor específico de membrana

plasmática, após isso, segue-se a endocitose entre 15 e 20 minutos depois da adsorção, o

desnudamento depende da acidificação do endossomo, onde acontece a fusão da membrana

celular com o envelope do vírus, liberando o ribonucleocapsídeo no citoplasma, tal sequência de

fatos dá início à transcrição primária das fitas de RNA negativas em fitas positivas, que serão

usadas na tradução de proteínas virais (mRNA) e servirão de molde (cRNA) para transcrição do

RNA viral (vRNA). O brotamento dos novos vírus acontece no Complexo de Golgi, e saem da

célula por exocitose. O ciclo replicativo dura aproximadamente 25 horas, apresentando eficiência

replicativa de 1000 partículas produzidas para cada partícula inicial (RODRIGUES, 2004).

O vírus replica-se bem em vários hospedeiros. Assim como outras arboviroses a febre

Oropouche apresenta dois ciclos de transmissão, o ciclo urbano ou endêmico, com transmissão

de uma pessoa infectada a outra pessoa sadia através da picada do mosquito Culicoides

paraensis, vulgarmente conhecido como “maruim”; e o ciclo silvestre, onde são acometidos

mamíferos e aves silvestres, suspeita-se que o vetor também seja o “maruim”, mas tal suspeita

ainda não foi confirmada.

A doença necessita do artrópode para ser transmitida, não sendo conhecidos, até hoje,

casos de transmissão direta de pessoa a pessoa. Pesquisadores sugerem que o período de

incubação seja em torno de quatro a oito dias, quando, então, iniciam-se os sintomas: quadro

febril agudo, cefaleia, mialgias, artralgias, anorexia, tontura, calafrios, fotofobia, há relato também

de náuseas, vômitos, diarreia, congestão conjuntival, dor epigástrica e dor retro ocular, além de

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exantema semelhante ao de rubéola. Após a febre inicial os sintomas podem recorrer, no entanto,

mais suaves, ou ainda, um agravamento da doença, com meningite asséptica (VASCONCELOS,

2009).

Apesar de ser uma virose cuja patogenia é pouco conhecida, desconhecem-se casos fatais

de febre de Oropouche.

2 RELATO DE CASO

Identificação – A.G.S., 34 anos, masculino, professor universitário, natural de São Paulo,

presente em Santarém (PA) para realizar pesquisas em Biologia.

História da Doença Atual - Procurou atendimento médico em 15/5/2012, relatando início

dos sintomas em 10/5/2012, com febre, cefaleia, astenia, anorexia, dor lombar, dores nos

membros inferiores e hiperestesia cutânea. Negava prurido, queixas digestivas, respiratórias ou

urinárias. História pregressa de rubéola, confirmada por sorologia. No último final de semana que

antecedeu o início dos sintomas (6 e 7/5/12),frequentou áreas de mata virgem em Santarém-PA.

Não havia relato de outros casos febris entre as pessoas que também estiveram na mata junto

com o paciente, porém, algumas pessoas na cidade estavam com suspeita de dengue.

Exame Físico Geral - Temperatura axilar de 38,5ºC. PA – 120 x 80mmHg. Peso – 75,5Kg.

Orofaringe: normal, ligeiro exantema do tipo eritematopapular em todo o tegumento. Ausculta

pulmonar, ausculta cardiovascular e abdome: sem anormalidades.

Conduta Diagnóstica - Foi solicitado hemograma e sorologia para dengue (1ª.amostra).

Conduta Terapêutica - Prescrito paracetamol 750 mg por via oral a cada 6 horas em caso

de dores ou febre, hidratação oral com líquidos à vontade e retorno para avaliação em 48 horas.

Em 17/5/2012 - Houve regressão total dos sintomas, persistindo apenas ligeira astenia.

Recebeu alta médica.

Em 23/5/2012 - Retornou ao atendimento médico por causa de febre e cefaleia iniciada no

dia anterior.

Exame Físico - Temperatura axilar de 39ºC, demais aparelhos sem outras alterações

significativas. Com o resultado da sorologia para dengue ELISA IgM (1ª amostra) em mãos,

solicitou-se nova sorologia para dengue (2ª. amostra).

26/5/2012 - Praticamente assintomático, temperatura axilar 37,6ºC.

1/6/2012 - Completamente assintomático. Com o resultado da segunda sorologia para

dengue, foi solicitada investigação para outros arbovírus no Instituto Evandro Chagas.

5/6/2012 - Evoluiu assintomático.

14/6/2012 – Chegada do resultado da pesquisa de arbovírus.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O hemograma solicitado na primeira consulta apresentou-se normal, não trazendo nenhum

auxílio ao diagnóstico de A.G.S.. Em virtude dos casos endêmicos de dengue na região, solicitou-

se sorologia para dengue.

Ao avaliar o resultado da sorologia, cujo resultado fora negativo, e devido à persistência de

alguns sintomas, solicitou-se nova sorologia para dengue que também fora negativa.

Como a região é endêmica para algumas doenças tropicais, principalmente arboviroses,

cujos casos devem ser notificados, a conduta tomada foi a pesquisa de arbovírus por um centro

de referência (Instituto Evandro Chagas).

As pesquisas para arbovírus incluem isolamento e identificação do vírus e pesquisa de

anticorpos. Fazendo-se a associação entre os sintomas e as arboviroses de maior incidência na

região, o centro de referência chegou ao diagnóstico: febre do Oropouche, por vírus Oropouche.

As condutas tomadas foram corretas e cabidas de acordo com os dados informados. A

arbovirose de maior incidência na região Amazônica é dengue, seguida pela febre do Oropouche.

Mesmo sem o diagnóstico final o tratamento foi adequado, pois não existem medicamentos

específicos para este vírus, devendo-se fazer tratamento sintomático apenas.

Mesmo com o paciente apresentando-se assintomático o diagnóstico final deve ser

realizado, para que a notificação seja feita, pois é de grande importância para dados

epidemiológicos, e também como fonte de informação sobre sintomas, tratamentos e condutas

médicas em novos casos.

Mesmo com as tecnologias atuais ainda não foi desenvolvida nenhuma vacina contra o

vírus Oropouche. Desse modo, como profilaxia, tem-se o uso de repelente e inseticidas que

exterminem o vetor.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RODRIGUES, A. H. Desenvolvimento de um modelo experimental de infecção subcutânea por

vírus Oropouche em hamster. 2004. 31f. Dissertação de Mestrado em Ciências – Faculdade de

Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2004.

VASCONCELOS, H. B. Epidemiologia molecular do vírus Oropouche (Bunyaviridae:

Orthobunyavirus) na Amazônia brasileira. Dissertação de Mestrado em Biologia de Agentes

Infecciosos e Parasitários - Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Pará, Pará.

2009.