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“Para uma crítica de Nietzsche em sua Genealogia da Moral frente à Fundamentação da Metafísica dos Costumes em Kant: um estudo sobre o projeto crítico-filosófico da modernidade da Moral” Claudemir Carlos Pereira 1

Trabalho de Filosofia_ Kant e Niezsche

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“Para uma crítica de Nietzsche em sua Genealogia da Moral frente à Fundamentação da Metafísica dos Costumes em Kant: um estudo sobre o projeto crítico-filosófico da modernidade da Moral”

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Para uma crtica de Nietzsche em sua Genealogia da Moral frente Fundamentao da Metafsica dos Costumes em Kant: um estudo sobre o projeto crtico-filosfico da modernidade da MoralClaudemir Carlos Pereira RESUMOO propsito deste ensaio construir uma anlise interpretativa da crtica estabelecida na obra de Friedrich Nietzsche, intitulada de Genealogia da Moral que o mesmo faz frente anlise da obra de Immanuel Kant, da Fundamentao da Metafsica dos Costumes. A problemtica da moral vista de ngulos diferentes por ambos os autores, em linhas gerais podemos dizer que para Kant, a moral um sentimento dominado por princpios (sentimento singular comandado pela faculdade dos princpios, que a razo), elementos estes que integram a sua doutrina de fundamentao da moral e que por sua vez teria como objeto de estudo determinar a natureza da lei moral. J em Nietzsche a questo da moral vista como uma genealogia, onde os elementos de origem da moral, principalmente na construo dos significados de bom e mal so vistos do vis de uma construo recorrente as conjecturas da histria e da antropologia, em Nietzsche encontramos uma breve transformao do problema em outro e vemos sob que condies o homem inventou para si os juzos de valor.

INTRODUOEm seu livro, Genealogia da Moral, Friedrich Nietzsche rompe com o projeto crtico da modernidade na medida em que sua genealogia se desenvolve no seu prprio interior, como uma radicalizao da crtica Fundamentao Metafsica dos Costumes de Kant. Em, um enxerto de seu livro lemos o seguinte:

De fato, j quando era um garoto de treze anos me perseguia o problema da origem do bem e do mal: a ele dediquei, numa idade em que se tem o corao dividido entre brinquedos e Deus, minha primeira brincadeira literria, meu primeiro exerccio filosfico quanto soluo que encontrei ento, bem, rendi homenagem a Deus, como justo, fazendo-o Pai do mal. Era isso o que exigia meu a priori de mim?. Aquele novo e imoral, pelo menos imoralista a priori, e o imperativo categrico que nele falava, to antikantiano, to enigmtico, ao qual desde ento tenho dado ateno, e mais que ateno. Nietzsche, Genealogia da Moral, P. 9.A primeira crtica a Kant de acordo com o enxerto acima sujeio moral crist, que no sistema kantiano se transforma numa forma de massificao do homem que se v obrigado a agir de modo uniforme. Para Kant a lei moral ordena que subordinemos a natureza ao esprito. S dado pensar esta exigncia, supondo ser possvel aquilo a que ela se refere, este resultado ideal o supremo bem, unio da virtude e da felicidade. Mas para que este supremo bem seja possvel, precisamos supor uma causa capaz de realiz-lo, um esprito supremo, onipresente, Deus, Ser Espiritual transcendente, do qual tudo depende. Devemos ento considerar que a lei moral um mandamento de Deus, o legislador supremo.

Em seu livro, Nietzsche esclarece e desmitifica este conceito em Kant e, que a verdade descrita em sua primeira dissertao a psicologia do cristianismo, em que aponta para o nascimento do esprito do ressentimento e no uma crena no esprito, que aqui podemos chamar Deus, cuja sua crtica um antimovimento em sua essncia, uma grande revolta contra a dominao dos valores nobres. Enquanto crtico-genealogista da moral, Nietzsche coloca sob suspeita a crena em toda a moral. Essa suspeita se expressa em uma nova exigncia:Necessitamos de uma crtica dos valores morais, o prprio valor desses valores dever ser colocado em questo - para isto necessrio um conhecimento das condies e circunstncias nas quais nasceram sob as quais se desenvolveram e se modificaram (moral como consequncia, como sintoma, mscara, tartufice, doena, mal-entendido; mas tambm moral como causa, medicamento, estimulante, inibio, veneno), um conhecimento tal como at hoje nunca existiu nem foi desejado. Tomava-se o valor desses "valores" como dado, como efetivo, como alm de qualquer questionamento; at hoje no houve dvida ou hesitao em atribuir ao "bom" valor mais elevado que ao "mau", mais elevado no sentido da promoo, utilidade, influncia fecunda para o homem (no esquecendo o futuro do homem).

Nietzsche, Genealogia da Moral, P. 6.Em A Genealogia da Moral que os estudos histricos da moral assumem um papel importante e decisivo no procedimento genealgico, tanto como uma vertente da crtica, quanto em sua forma construtiva da criao de novos valores. Nietzsche quis ser o grande desmascarador de todos os preconceitos e iluses do gnero humano, aquele que ousa olhar, sem temor, aquilo que se esconde por trs de valores universalmente aceitos, por trs das grandes e pequenas verdades melhor assentadas, por trs dos ideais que serviram de base para a civilizao e nortearam o rumo dos acontecimentos histricos. E assim a moral tradicional, e principalmente esboada por Kant, a religio e a poltica no so para ele nada mais que mscaras que escondem uma realidade inquietante e ameaadora, cuja viso difcil de suportar. A moral kantiana dirige a caminhos mais fceis de serem trilhados para se subtrair plena viso autntica da vida.Como ponto de partida de sua anlise genealgica da moral, Nietzsche admite a imoralidade da natureza e da histria (processo este que o prprio Kant j teria reconhecido). A sua herana filosfica permeia uma longa crise dos fundamentos e dos valores da moral, Nietzsche comea a desconfiar da moral, apontando em uma direo de carter perspectivista de todas as produes e avaliaes humanas. Ele no procura em seus trabalhos ou obras fundamentar a moral e, pelo contrrio assume outro papel formular e classificar conceitualmente as distintas experincias morais de valor ocorridas ao longo do tempo. A histria da moral busca explicar a origem e explicitar as diferenas e de avaliao, por exemplo, o bom e mal em cada cultura e povo, sem se deter naquilo que ele chama e classifica de preconceitos morais, tais como, a compaixo. Ao tratar a moral como um problema, Nietzsche questiona o valor da verdade e os impulsos a ela subjacentes, sua anlise j possui uma conotao critica, na medida em que desmascara a pretenso da verdade da religio, da metafsica e da cincia, apontando para as fontes ascticas e morais das mesmas em sua terceira dissertao do livro Genealogia da Moral.Immanuel Kant e Friedrich Nietzsche possuem projetos filosficos crticos originais, que divergem em suas categorias apesar de que em alguns momentos apresentarem certa convergncia no apenas nas suas formulaes, mas nos seus prprios pressupostos e concepes de moral e de natureza humana. Para Nietzsche: o pressuposto para a predicao do termo moral a uma ao j uma moral em si. Em suas palavras no existem fenmenos morais, apenas uma interpretao moral dos fenmenos. Em contrapartida e, com efeito, ao realizar uma Metafsica dos Costumes e fundamentar a Moral, Kant tenta recuperar em certos momentos, valores das aes humanas como, por exemplo: no agir por interesse um vis pelo qual se podem pensar as condies que tornariam uma ao em ao moral.PROBLEMTICAPara Kant, a moral j por si mesmo uma prtica no sentido objetivo, enquanto totalidade de leis que ordenem incondicionalmente, de acordo com as quais devemos agir. Pretende a partir de seu respectivo sistema filosfico fundamentar a moral em geral, e que o conceito fundamental da moral o de obrigao e o de dever, este dever que exprime certa necessidade, que pode ser dupla, ou seja, h a necessidade dos meios e a necessidade do fim. A primeira no gera uma obrigao propriamente dita, o que nos condiciona a querer os meios apenas se quiser os fins. Para haver, em moral, obrigao no sentido rigoroso do termo, primeiro necessrio que haja um fim absoluto. Sucede, porm que encontramos tambm na conscincia o dever, a lei moral, que igualmente um principio pratico, pois que ordena, provoca a ao voluntria. Esta lei moral para Kant um imperativo categrico que prescreve de maneira incondicional e universal.Kant tinha conscincia de que nossas aes so, na maioria das vezes, seno sempre, interessadas conforme nossas inclinaes. Resta, contudo, saber se isso poderia invalidar um critrio semntico, por meio do qual Kant estabelecera as condies que regulam a moralidade de nossas aes. Essa questo parece ganhar um contorno decisivo na obra de Nietzsche que prescreve que qualquer valorao de um ato moral requer uma pr-compreenso do que moral. Esta ltima no seria um captulo da razo humana, mas o ponto para o qual converge toda predicao da natureza do homem e de suas aes. Por conseguinte, absolutamente necessrio que a filosofia moral, sem recorrer experincia, nos de o quadro dos deveres de um ser racional enquanto tal, e no apenas do homem. No pretende Kant organizar uma moral sobre-humana; prope-se apenas assinalar que o princpio da moral deve ser tomado, no da observao da natureza humana globalmente considerada, mas s do conceito de ser racional, excluindo, portanto quaisquer consideraes que se apoiem naquilo que no homem alheio razo. A experincia em nada concorre para a validade da lei moral, que deve ser absolutamente racional, mas indispensvel para a sua aplicao de fato.Kant no se pretende expor uma perspectiva que indique qual o comportamento mais proveitoso aos homens, nem analisar qual seja, de fato, o comportamento moral do ser humano, mas to somente estabelecer os princpios a priori da moral. Para Kant moral aquilo que depende nica e imediatamente do sujeito, e, portanto s a boa vontade, uma vez que o sujeito por si s nada mais pode fazer do que ser o autor ou senhor da mxima, segundo a qual a vontade se determina. Este conceito da moralidade no fundo deriva do conceito cristo de no existir valor que possa ser considerado tal, incondicionalmente e sob todos os respeitos, a no ser pressupondo a bondade da inteno.Para Nietzsche, o homem um filho do hmus e , portanto, corpo e vontade no somente de sobreviver, mas de vencer. Suas verdadeiras virtudes so: o orgulho, a alegria, a sade, o amor sexual, a inimizade, a venerao, os bons hbitos, a vontade inabalvel, a disciplina da intelectualidade superior, a vontade de poder. Mas essas virtudes so apangios de somente uns poucos, e para esses poucos que a vida feita. De fato, Nietzsche contrrio a qualquer tipo de igualitarismo e principalmente ao disfarado legalismo kantiano, que atenta o bom senso atravs de uma lei inflexvel, ou seja, o imperativo categrico: Proceda em todas as suas aes de modo que a norma de seu proceder possa tornar-se uma lei universal. Essas crticas se deveram hostilidade de Nietzsche em face do racionalismo que logo refutou como pura irracionalidade. Para ele, Kant nada mais do que um fantico da moral. Para Nietzsche o homem individualidade irredutvel, qual os limites e imposies de uma razo que tolhe a vida permanecem estranhos a ela mesma, semelhana de mscaras de que pode e deve libertar-se. Em Nietzsche, diferentemente de Kant, o mundo no tem ordem, estrutura, forma e inteligncia. Nele as coisas danam nos ps do acaso e somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitvel tudo aquilo que h de problemtico e terrvel na vida.Para realizar essa investigao sobre a moral e os valores, Nietzsche idealiza um mtodo, ao qual o batiza de mtodo genealgico. Esse mtodo mais do que simplesmente investigar a histria de nossas supremas referencias de valor, mas tambm a fazer uma nova avaliao do valor desses valores, portanto, no se trata apenas de um estudo da gnese dos valores, mas, sobretudo do valor dessa gnese. com esse intuito que Nietzsche dispe sua tarefa, por exemplo, no prlogo de sua Genealogia da Moral, na qual pretende apresentar um conhecimento das condies e circunstncias a partir das quais nasceram [os valores morais], sob as quais se desenvolveram e se modificaram e, para tanto, toma a moral como consequncia, como sintoma, como mscara, como tartuferia, como doena, como mal-entendido; mas tambm [...] como causa, como remdio, como estimulante, como inibio, como veneno (GM, Prlogo, 6).Nesse estudo do valor dos valores, Nietzsche faz duras crticas a idia de verdade absoluta e de valores morais universais (tanto que Kant sempre mencionado em suas obras sem que ele efetivamente escreva seu nome, e normalmente Kant mencionado de uma forma sarcstica).CONCLUSOA crtica de Nietzsche moral kantiana mais que transcrever uma dissonncia de perspectivas diferentes sobre a ao moral, suficientemente explorada pelos intrpretes desses filsofos, parece apontar para uma impossibilidade de prover a moral de subsdios suficientemente racionais que lhe assegurem a validade absolutamente objetiva de suas normas.

O diagnstico que a filosofia de Nietzsche faz da moral no o de um mdico que, descrente da cura, passa a prover seu paciente de um elixir milagroso capaz apenas de prorrogar sua vida por um brevssimo tempo. Sua filosofia no uma reviso da moral. Ela pretende mostrar que qualquer discurso sobre a moral emerge de uma moral e a pressupe. Com Nietzsche, a filosofia no se tornaamoral,como alguns intrpretes erroneamente acreditam. Ela passa a ser o local da denncia que proclama que no existe moral que no esteja enraizada numa compreenso metafsica do homem. Para depurar e apresentar as razes dessa concepo metafsica: a genealogia da moral que, por um lado, guarda a incumbncia de denunciar a moral, por assim dizer, derebanho,de cunho cristo; por outro, apresenta as razes histricas, psicolgicas e sociais de todo o discurso sobre a moral. Da crtica moral como rebanho genealogia da moral, veremos como a filosofia de Nietzsche se configura como uma crtica moral kantiana, destacando que o ponto neurlgico dessa crtica repousa na apresentao da contradio da tentativa kantiana de pensar uma moral desinteressada.

A crtica de Nietzsche moral kantiana atinge o mago da pretenso de Kant de dotar a moral de um patamar metafsico que lhe concedesse o privilgio de no se submeter a nenhuma avaliao humana, contingente e transitria. A moral estaria salvaguardada das culturas, da histria, mesmo da estrutura sensvel dos homens, por reclamar para seu cumprimento um ato estritamente racional, imune s intempries dos sentidos. Ou seja, por no estar subordinada a nenhum sentimento humano e, por conseguinte, a nenhum interesse humano, a moral encerra a ideia de que podemos nos desvencilhar de nossas condies histricas para realizar o que Kant chama dereino dos fins.E ainda que esse reino no corresponda a um mundosupra-sensvel,ele incorpora-se histria na forma de uma teleologia e, por conseguinte, a uma metafsica, dessa feita, fincada na ideia da necessidade do desenvolvimento da razo.Penso que podemos interpretar o pensamento de Nietzsche como herdeiro do legado filosfico de Kant, especialmente no que este tem de esclarecedor e crtico em relao Metafsica, tanto para Nietzsche como para Kant, o esclarecimento implica em emancipao, capacidade de pensar e agir por si, sem o direcionamento por parte de outrem. Verificamos, outrossim, que a estima por ns outorgada a um homem incide, no no fato de ele cumprir o ato prescrito pela Lei, mas em sua inteno de fazer o bem moral, em sua boa vontade, uma vez que o s cumprimento material do ato pode ser inspirado por mbiles como o prazer ou o interesse, cujo resultado ideal o supremo bem, a unio da virtude e da felicidade. Os principais alvos da crtica nietzschiana como bem vimos neste estudo so a moral kantiana, entendendo que Nietzsche, no realizou estudos sistemticos sobre o mtodo filosfico e sobre a Filosofia da Moral de Kant, sua principal crtica generalizante que o xito de Kant, enquanto filsofo da moral, um xito teolgico. Para Nietzsche a razo no o fundamento de determinao da vontade dos seres humanos, a motivao moral real e no proveniente de uma lei resultante de um processo de pensamento abstrato. O ser ntimo e eterno do homem no consiste na razo, como queria Kant, mas na vontade como esclarece Nietzsche.REFERNCIAS BIBLIOGRFICASNIETZSCHE, F. Genealogia da moral. Trad. Paulo Csar Souza. So Paulo: Companhia das Letras, 1998.NIETZSCHE, F. Alm do bem e do mal. Trad. Paulo Csar Souza: Companhia das Letras, 1992.KANT, I. Fundamentao da Metafsica dos Costumes. Trad. Antnio Pinto de Carvalho. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1964.KANT, I. Crtica da Razo Prtica. Trad. V. Rohden. So Paulo: Martins Fontes, 2002.

GIACOIA Jr, Oswaldo. Nietzsche X Kant: uma disputa permanente a respeito de liberdade, autonomia e dever. Rio de Janeiro: Casa da palavra, So Paulo: Casa do saber, 2012.OLIVEIRA, rico Andrade M. de. A crtica de Nietzsche moral kantiana: por uma moral mnima. Cadernos Nietzsche 27, 2010.CAMUS, Albert. O Homem Revoltado. Trad. Valerie Rumjanek. Rio de Janeiro. Record, 1996.2