7
Colectâneas de direito canónico elaboradas desde o século XII O “Corpus Iuris Canonici” Com o aparecimento de novas colectâneas de direito canónico deu-se uma tendência de uniformização e centralização deste referido sistema jurídico. Nos finais do século XI, houve um esforço pontificio de unificação normativa da Igreja, contrariando particularismos nacionais ou mesmo regionais dando à Santa Sé a criação de preceitos jurídico-canónicos. Com isto, podemos então falar do Decreto de Graciano, elaborado em meados de 1140, foi um marco imponente na evolução do direito canónico. Foi uma obra do professor João Graciano, que procurou fazer uma síntese e compilação dos princípios e normas que eram vigentes, aparecendo designada em manuscritos mais antigos, por Concordia discordantium canonum, isto porque o seu autor tinha o objectivo de coordenar, harmonizar e esclarecer preceitos de diversas proveniências, agrupando-os de forma sistemática e não cronológica ou geográfica. Assim, a posição autónoma direito canónico ressalta perante a teologia. Esta colectânea, embora privada, alastrou-se como lei geral da Igreja, dando-se sob o nome de Decreto devido à sua amplitude e perfeição técnica. Tempos mais tarde, surgem as Decretais de Gregório IX, ou apenas Decretais, estas eram uma colectânea de normas pontificas posteriores à obra de Graciano, que S. Raimundo de Peñafort organizou a solicitação de Gregório IX, vindo a ser promulgadas pelo papa em 1234. Esta compilação foi

Trabalho de Historia Do Direito Portugues

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Apenas a matéria

Citation preview

Colectneas de direito cannico elaboradas desde o sculo XIIO Corpus Iuris Canonici

Com o aparecimento de novas colectneas de direito cannico deu-se uma tendncia de uniformizao e centralizao deste referido sistema jurdico. Nos finais do sculo XI, houve um esforo pontificio de unificao normativa da Igreja, contrariando particularismos nacionais ou mesmo regionais dando Santa S a criao de preceitos jurdico-cannicos. Com isto, podemos ento falar do Decreto de Graciano, elaborado em meados de 1140, foi um marco imponente na evoluo do direito cannico. Foi uma obra do professor Joo Graciano, que procurou fazer uma sntese e compilao dos princpios e normas que eram vigentes, aparecendo designada em manuscritos mais antigos, por Concordia discordantium canonum, isto porque o seu autor tinha o objectivo de coordenar, harmonizar e esclarecer preceitos de diversas provenincias, agrupando-os de forma sistemtica e no cronolgica ou geogrfica. Assim, a posio autnoma direito cannico ressalta perante a teologia. Esta colectnea, embora privada, alastrou-se como lei geral da Igreja, dando-se sob o nome de Decreto devido sua amplitude e perfeio tcnica. Tempos mais tarde, surgem as Decretais de Gregrio IX, ou apenas Decretais, estas eram uma colectnea de normas pontificas posteriores obra de Graciano, que S. Raimundo de Peafort organizou a solicitao de Gregrio IX, vindo a ser promulgadas pelo papa em 1234. Esta compilao foi ento dividida em cinco livros, revogando as disposies cannicas subsequentes ao Decreto nela no includas. Decreto e Decretais completavam-se.Continuavam a existir novas publicaes de epstolas pontifcias, e foi incumbido a Bonifcio VIII a iniciativa de uma colectnea que abrangesse o conjunto dessas normas cannicas aparecidas aps as Decretais, surgindo assim o Livro Sexto ou Sexto. A sua designao deriva da sua complementaridade s Decretais, sendo que o novo diploma constitua um corpo autnomo que utilizava a sistematizao gregoriana, em cinco livros.Outra colectnea que recebeu a aprovao oficial foi a Clementinas, que determinaria a compilao dos cnones dele resultante, acrescentados de decretais prprias, sendo determinadas pelo Papa Clemente V, no Conclio de Viena (1311/1312). Porm, devido morte do pontfice fez com que esta obra fosse aprovada s em 1317 por Joo XXII, depois de ter sido revista. Para fechar d-se a srie de duas compilaes de ndole privada, onde cerca de 1500 deram-se estampa, dando as quatro colectneas j indicadas. O editor acabou por acrescentar-lhes um apndice com decretais posteriores a 1317, agrupando-as em seces distintas, ou seja, numa delas as de Joo XXII, na outra, as dos Papas posteriores. Da serem qualificados de Extravagantes de Joo XXII e de Extravagantes Comuns, sendo que a palavra Extravagantes significa que so textos que se encontram fora das colectneas autenticas. de referir ento que estas colectneas, no seu conjunto, vieram a integrar o Corpus Iuris Canonici, mas trs delas no surgiram logo oficializadas. uma designao simtrica de Corpus Iuris Civilis, correspondendo ao complexo das obras jurdicas romano-justinianeias, tornou-se corrente desde 1580, esta data foi a da aprovao da revista das compilaes anteriores por parte de Gregrio XIII. Estas so as fontes bsicas do direito cannico at ao primeiro Codex Iuris Canonici, que foi mandado elaborar por Pio X e, promulgado por Bento XV em 1917.

Renovao da cincia do direito cannico. Decretistas e decretalistas.

As colectneas de direito cannico datadas do sculo XII ao sculo XIV exibem uma excepcional actividade legislativa da Igreja, superiorizando-se dos monarcas dos Estados coevos. Existe um confronto de dois ordenamentos de direito comum, ou seja, bsicos e de vocao universal, sendo que, um deles est assente nos referidos textos e outro baseado em preceitos romansticos.As relaes entre o Imprio e a Igreja assinalaram o problema poltico nuclear da poca, com reflexos sobre a relevncia dos sistemas normativos civil e cannico. As teorias imperialista da separao de poderes e a teoria curialista do predomnio pontifcio contrapem-se. O acordo das duas jurisdies, a temporal e espiritual, era comprovado na frmula utrumque ius que procurava denotar a unidade de objectos morais, ou seja, a salus animae. Foi ento desenvolvida uma discusso entre civilistas e canonistas, envolvendo planos especulativos ou tericos e ainda aspectos prticos. Colocou nas mos dos canonistas a tarefa de actualizao da normativa do direito da Igreja e da subsequente interpretao e aplicao dos referidos preceitos. Basicamente, deu-se uma renovao da cincia do direito cannico. de referir que este movimento est ligado com o estudo do direito romano e que se orientou pelos mesmos caminhos cientficos.A construo do direito cannico deu-se com o empenho sucessivo da metodologia dos Glosadores e dos Comentadores, ou seja, os processos de exegese, em particular as glosas e os comentrios, que os legistas utilizavam mediante os textos romanos foram transpostos para a interpretao das colectneas de direito cannico, maxime do Decreto e das Decretais, conforme os canonistas se aplicavam s fontes, era-lhes dada a correspondente designao de decretistas ou decretalistas.

Penetrao do direito cannico na Pennsula Ibrica Consideraes gerais

A chamada renovao legislativa e doutrinal do direito cannico no demorou a difundir-se pela Europa, tendo desde cedo reflexos na pennsula Ibrica.Foram os peninsulares, grande parte deles eclesisticos, que se deslocaram aos centros franceses e italianos onde era ensinado direito. Estas instituies concediam grandes facilidades para iniciar e prosseguir os estudos no estrangeiro. Dedicavam-se ao direito romano, cuja dogmtica era necessria, mas focavam-se sobretudo para o direito cannico.Existe uma longa lista de decretistas e decretalistas com o cognome de hispanos. Algumas posies de destaque foram ocupadas por canonistas peninsulares, inclusive nas ctedras bolonhesas e de outras Universidades. Foi divulgada um considervel nmero de textos de direito cannico, atravs de numerosas cpias e tradues, que no eram s realizadas na Pennsula. Inmeros documentos medievais referiam-se a cdices. O ensino de direito cannico nas Universidades peninsulares no era comparvel nem em prestgio nem em proficincia, ao de Bolonha, que era tido como um modelo. Mas estas Universidades tiveram alguns resultados positivos. A muito se deveu adopo de mtodos idnticos, gneros de literatura jurdica e sistemas pedaggicos similares aos de Bolonha. o Estudo Geral dionisiano abrangeu desde inicio o magistrio do direito cannico e do direito romano, bem como foi determinada a existncia de um doutor in decretis e de um mestre in decretalibus.

Aplicao judicial do direito cannico

O conhecimento do direito cannico tinha interesse prtico e no apenas especulativo. Era um sistema jurdico que se aplicava em tribunais eclesisticos, tribunais civis e ainda seculares. de frisar que existia uma organizao judiciria da Igreja, ao lado da organizao judiciria do Estado.

Aplicao nos tribunais eclesisticos

O direito cannico era apresentado com sendo ordenamento jurdico prprio dos tribunais eclesisticos. A sua competncia fixava-se em razo da matria (ratione materiae) e em razo da pessoa (ratione personae).Havia matrias que pertenciam jurisdio cannica, exemplo das respeitantes a matrimnio, bens da Igreja, testamentos com legados e benefcios eclesisticos. Certas pessoas s podiam ser julgadas em tribunais da Igreja, caso dos clrigos, ainda que a contraparte no o fosse, e todos aqueles a quem concedesse tal privilgio. A evoluo foi no sentido de limitar a outorga do foro eclesistico.

Aplicao nos tribunais civis

O direito cannico era ento tambm usado nos tribunais civis. Ainda hoje se discute se alguma vez chegou a vigorar, entre ns, como fonte imediata e mesmo prevalecendo sobre o direito nacional. Em sentido afirmativo com base numa deciso de D. Afonso II tomada na Cria de Coimbra em 1211.Ainda que, numa fase, seja considerado direito preferencial, o sistema jurdico-cannico passou a plano de fonte subsidiria, ou seja, s iria intervir na ausncia de direito prtico. Assim, a sua prioridade sobre o ordenamento romano iria depender de os preceitos conduzirem a pecado.