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Direito Fiscal I Princípio da legalidade fiscal Acórdão nº 192/2015 Processo nº87/15 do Tribunal Constitucional INSTITUTO POLITÉCNICO DO CÁVADO E DO AVE Solicitadoria 1º Ano, 2º Semestre Catarina Fernandes nº 11045

Trabalho Fiscal

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Analise de Acordão

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Direito Fiscal I

Instituto Politcnico do Cvado e do Ave

INDICE:

Introduo_____________________________________________pg.2Princpio da legalidade fiscal_______________________________pg.3 a 6Acrdo n192/2015 Tribunal Constitucional___________________pg.7 a 8Concluso______________________________________________pg.9Bibliografia_____________________________________________pg.10Anexos _______________________________________________pg.11Acrdo_______________________________________________pg.12 a 19

INTRODUO:O presente trabalho tem por objecto a anlise de acrdos que versam sobre os princpios jurdico-constitucionais da tributao. Dentro da possibilidade de escolha destes princpios recrutei o princpio da legalidade fiscal. Antes de mais, julgamos ser essencial tecer algumas consideraes acerca deste princpio constitucional, para assim poder discriminar a motivao para a escolha do acrdo em questo.Sculos atrs a soberania assentava numa nica pessoa, pessoa essa, detentora de todo o poder, fosse ele executivo, judicial ou legislativo. Ao longo do tempo as mentes foram se abrindo e a necessidade de colocar tudo no seu lugar foi levada a cabo. Fugindo do campo mitologicamente histrico, a questo da justia na tributao j h muito nos assombrava, falou-nos dela o to clebre filsofo Aristteles na qual elaborou regras de tributao relativamente ao modo como deviam ser colectados os impostos para que dessa forma a tributao fosse justa. Porm, toda esta conscincia de justia material liga-se s regras que aludiram ao teor da tributao, estando aqui a ligao s revolues que deram origem implantao do Estado actual. Outro nome, no menos marcante para a histria foi Jonhe Locke esteve na criao da concepo clssica do princpio da legalidade fiscal, traduzindo-se na clebre frase anglo-saxnica no taxation without representation[footnoteRef:1]. [1: Nenhuma tributao sem representao.]

Por fim, o que me levou escolha deste acrdo foi o facto de se fazer justia e se punir quem realmente foge verdadeira tributao dos seus rendimentos, porque cada vez mais os ricos esto mais ricos e os pobres esto cada vez mais pobres. Claro que este princpio da legalidade se debate com o da igualdade, j por isso que um no vive sem o outro e isso fascina-me bastante.

Princpios jurdico-constitucionais da tributao

Princpio da legalidade fiscal:Abordando ento o Princpio da Legalidade fiscal, este tem por base a ideia de auto-imposio, auto-tributao ou de auto-consentimento dos impostos por parte dos contribuintes, na medida em que traduz um sacrifcio colectivo, ideia que remonta Idade Mdia. Deste modo, este princpio foi ratificado em grande parte dos pases europeus e constava de diversos documentos, destacando-se a Magna Carta Libertatum Inglesa[footnoteRef:2]. Porm este princpio abarcou em Portugal a partir das Cortes de Coimbra de 1261. Alicerados ao princpio da legalidade, deparamo-nos com uma tarefa jurdica primordial de criao de determinados limites materiais dos contribuintes, visando desta forma a proteco do mesmo. Contudo, esta proteco s pode ser obtida atravs da aplicao dos princpios com sede constitucional, socorrendo-se assim s palavras de Saldanha Sanches, nomeadamente: Constitucionalizar um princpio a forma contempornea de tentar sacralizar e eternizar um valor considerado imperecvel.[footnoteRef:3]Querendo Saldanha Sanches dizer com isto, que constitucionalizar o princpio da legalidade seria a nica forma de o tornar permanente, sagrado e eterno, sem jamais o contestarem. [2: Cfr: Jos Casalta Nabais, Direito Fiscal, cit..p.142.] [3: Cfr: Saldanha Sanches, Justia Fiscal, cit., p.29.]

O Princpio da Legalidade Fiscal na Constituio da Repblica Portuguesa e seus princpios inerentes:Estando consagrado na CRP, este princpio reside ento num Estado de Direito, fazendo assim com que a justia seja feita. Assim sendo, estabelece um dos elementos fundamentais do Estado de Direito constitucional, no qual comporta dois princpios essenciais atravs de uma reserva material de lei formal sendo eles o princpio da reserva de lei formal, comprometendo a reserva lei ou ao decreto-lei autorizado, comparativamente matria fiscal do artigo 165. n1, a) i da CRP, e no princpio da reserva da lei material, sob o princpio da tipicidade, circunscrevendo que a lei ou decreto-lei autorizado antecipem de forma exigente a matria reservada do artigo 103.n 2 da CRP. O princpio da legalidade aparece-nos discriminado no artigo 8. da Lei Geral Tributria, onde definido o seu campo de aco. Ainda assim, o princpio da legalidade no pode ser levado ao extremo, sob pena de total impraticabilidade. O seu objectivo , somente, que os elementos essenciais sejam definidos por lei. Da ser necessrio conjugar com o princpio da praticabilidade, de modo a que administrao fiscal goze de alguma discricionariedade ao nvel da luta contra a evaso fiscal. A ttulo de exemplo, o CIRS permite DGCI[footnoteRef:4] corrigir o valor de mercado dos bens atribudo pelo empresrio individual aquando da sua afectao empresa ou da sua transferncia para o seu patrimnio individual. Neste caso, no necessria uma lei da AR, havendo uma autonomia da administrao fiscal.[footnoteRef:5] [4: Direo Geral de Impostos.] [5: Cfr: Revista Jurdica: TOC 96 - Maro 2008]

De forma sistemtica, os impostos s podem ser criados por lei formal, na qual a competncia cabe Assembleia da Repblica, havendo somente interferncias na esfera da propriedade do contribuinte se houver uma lei a autoriza-las ou um decreto-lei autorizado. Afirma-mos ento, que o princpio de reserva de lei cumpre essencialmente uma funo de salvaguarda dos interesses dos particulares contra as intervenes do poder, como delimita o artigo 103.n 2 da CRP, os elementos essenciais dos impostos e as matrias que devem ser definidas por acto legislativo, so as seguintes: os impostos so criados por lei, que determina a incidncia, a taxa, os benefcios fiscais e as garantias dos contribuintes.[footnoteRef:6] Assim sendo, a lei tem forosamente de definir os elementos fulcrais dos impostos, sendo definido na e pela lei da forma mais aprofundada/determinada possvel, podendo desta forma ser interdita a transferncia dessa competncia para regulamentos e encerrando prpria Administrao, a deliberao dos elementos substanciais dos impostos, sendo eles: a incidncia, a taxa, os benefcios fiscais e as garantias dos contribuintes.[footnoteRef:7] [6: Cfr: Casalta Nabais, Direito Fiscal, p.143/144] [7: Cfr: Revista Jurdica: TOC 96 - Maro 2008]

A competncia para a criao de impostos da exclusividade da Assembleia da Repblica, salvo haja uma autorizao legislativa concedida ao Governo como consta no artigo 165. n1 a) i da CRP, respeitando sendo o comportamento exigido, inserindo-se aqui o princpio no taxation without representation. Subjacente ao princpio da legalidade, temos o efeito da tipicidade nos contractos fiscais, no consistindo como fonte imediata de direito fiscal quanto s matrias a que se refere o artigo 103.n2 da CRP, no excluindo o facto que ambos tenham uma relevncia jurdica eloquente em Direito Fiscal. De acordo com o princpio da legalidade fiscal, e no havendo aparentemente qualquer obstculo referente utilizao da forma contratual dos elementos no essenciais aos impostos (impostos relativos liquidao e cobrana), no esto estes sujeitos reserva de lei parlamentar[footnoteRef:8], desde que a possibilidade de via contratual esteja legalizada. No sendo desta forma, toda a figura do imposto, compreendendo a actividade administrativa, estaria vinculada lei, no havendo qualquer margem de livre deciso pela Administrao e estaria totalmente afastada a possibilidade de celebrar contractos fiscais, da forma como os mesmos se encontram regulados no nosso ordenamento jurdico[footnoteRef:9]. [8: Cfr: Casalta Nabais, Direito Fiscal, p.145 e artigo 103 n3 da CRP] [9: Artigo 37 da LGT.]

Em relao cobrana e liquidao, a lei prev contractos formalizados entre a administrao e os contribuintes, na qual inclui o contrato de ajuste, contractos realizados entre a administrao e entes pblicos, contractos entre autarquias referente liquidao e, ou cobrana de imposto local, e ainda contractos celebrados entre a administrao e terceiros, incluindo aqui contractos que admitem que a liquidao ou cobrana de impostos seja assunto de concesso entre particulares, sem nunca violarem o to clebre princpio da legalidade fiscal. Porm esta admissibilidade que nos fala de uma determinada princpio da lei fiscal celebrao de contractos fiscais que recaiam sobre os elementos essenciais dos impostos, edifica o problema da sua admissibilidade, uma vez estando sujeitos reserva material de lei, expressamente referidos no artigo 103 n2 da CRP. Justifica-se tudo isto, devido ao facto de tais princpios delimitarem o princpio do Estado social; de acordo com o artigo 103.n1 da CRP, o sistema fiscal visa a satisfao das necessidades financeiras do Estado e outras entidades pblicas, vislumbrando-se aqui os benefcios fiscais, ou receitas cessantes do artigo 106.n3 a) g da CRP. Segundo Casalta Nabais e Ana Paula Dourado, isto no se fundamenta comparativamente a estas exigncias da legalidade substancial, uma vez que consistem em instrumentos fiscais com funes extrafiscais, na qual idealizam objectivos de natureza econmica e social, permitindo um abrandamento do princpio da legalidade[footnoteRef:10], na qual sempre que as leis prossigam objectivos extra-reditcios, a funo da legalidade diversa daquela que est subjacente s normas de repartio[footnoteRef:11] . [10: Cfr. Ana Paula Dourado, O princpio da legalidade fiscal na Constituio Portuguesa, Coimbra Editora, p.455 e Casalta Nabais, Contractos Fiscais, cit., p.234.] [11: Cfr. Ana Paula Dourado, O princpio da legalidade fiscal na Constituio Portuguesa, Coimbra Editora, p.456]

Denota-se aqui uma distanciao de um dos prismas do princpio da igualdade, no que refere a capacidade contributiva, uma vez que, de acordo com este princpio todos devem contribuir para as despesas pblicas de acordo com a sua capacidade contributiva, o que infelizmente no acontece, e em alguns casos deve a restrio aos princpios materiais sujeitarem-se ao princpio da proporcionalidade e da proibio do excesso. Concluindo a anlise deste princpio, de referir que evidente o contnuo crescimento da necessidade de uma actividade administrativa/fiscal mais ampla a outros princpios constitucionais, sob pena de se pr em causa a atribuio e existncia dos benefcios fiscais e de estes no serem conseguidos da melhor forma. No esquecendo ainda, que a sociedade sofreu mudanas com a consagrao do Estado social e continua a sofrer sucessivamente essas mudanas e por essa razo, o prprio princpio da legalidade foi afectado, visto que as normas prprias de um Estado social/Direito no sustentam fins exclusivamente fiscais, na qual englobam diversos objectivos de natureza extrafiscal, necessitando sem dvida os impostos de rigidez, de forma a actuarem na prossecuo de tais objectivos, rumo a uma sociedade dentro dos limites da justia e da igualdade social, porque sem ela a legalidade no faz sentido.

Acrdo n 192/2015 do Tribunal Constitucional[footnoteRef:12] [12: Este acrdo pode ser consultado: http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20150192.html]

Enquadramento fctico

O enunciado acrdo apresenta uma reclamao em relao sentena proferida pelo Tribunal Arbitral, que declarou a ilegalidade dos atos praticados pela A.- SGPS,S.A em relao a diversos atos de demonstrao de liquidaes na fonte de Imposto sobre os rendimentos. Para tal a requerente apresenta recurso ao Tribunal Constitucional, por fora do artigo 212n3 da CRP, para que este aprecie a constitucionalidade desta deciso e nomeadamente do artigo 38n2 da LGT.

Comentrio/anlise do acrdo:Em relao anlise deste acrdo sem dvida que ele versa sobre a apreciao da legalidade fiscal, uma vez que para chegar a Tribunal esta situao sem dvida teve de ser dada como ilcita, ou sob suspeita de fraude fiscal, segundo o artigo 38n2 da LGT. O princpio da legalidade fiscal versa sem dvida sobre forma justa de tributao, e na igualdade desta perante os contribuintes, fica sobre suspeita fiscal quando os contribuintes no hajam desta forma. Como nos refere o artigo 5n1 e n2 da LGT a tributao visa a satisfao das necessidades financeiras do Estado e de outras entidades pblicas promovendo a justia social, a igualdade de oportunidade, e as to necessrias correces das desigualdades na distribuio da riqueza e do rendimento, respeitando deste modo os princpios da generalidade, igualdade e legalidade. S atravs de uma verdadeira tributao que se chega igualdade social.

Deste modo, a apreciao da constitucionalidade do artigo 38n2 vivel, pois constitucional o uso deste artigo para a prossecuo deste acrdo uma vez que h suspeita de ilegalidade e esta at j foi proferida numa 1 sentena. Como podemos constatar no artigo 8n1 da LGT esto sujeitos ao Principio da legalidade fiscal a incidncia, a taxa, os benefcios, as garantias dos contribuintes, a definio de crimes fiscais e o regime geral das contra-ordenaes fiscais. Contudo, no contente com a deciso do Tribunal a requerente apresenta a sua reclamao graciosa, prevista no artigo 140n1 do CIRS, acompanhado do artigo 70n1 do CPPT que nos fala dos procedimentos a tomar em caso de reclamao. Elaborados todos os procedimentos que esta situao jurdica requer e analisado a constitucionalidade deste processo pelo Tribunal Constitucional, a deciso no poderia ser outra, decidindo-se pelo indeferimento da reclamao apresentada, fazendo-se aqui jus ao princpio da legalidade fiscal.

CONCLUSO:

As concluses que retiro deste rduo trabalho primeiramente so, o facto da palavra legalidade conter um sentido bem mais amplo do que aquele que idealizava na minha cabea, e ela se puder debater em tudo na nossa vida social. Conclu tambm que esta ideia de legalidade j remonta muitos sculos atrs, e que vrios filsofos, entre outros seres brilhantes para a histria da humanidade j discutiam esta problemtica. Na realidade, na minha opinio toda a represso vivida levou ao Estado de Direito em que vivemos hoje, e se calhar se no se tivessem vivido tempos to difceis em que um mandava e todos obedeciam, talvez todos estes princpios, como o da legalidade e da igualdade no teriam tanto sentido como tm hoje. Este trabalho e a anlise posterior deste acrdo fez-me pensar nisto, e no quanto o Mundo mudou em to poucos sculos, e na realidade neste caso, da justia fiscal.

BIBLIOGRAFIA:

Acrdo: http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20150192.htmlLivros pesquisados:Direito Fiscal de Casalta Nabais; O princpio da legalidade fiscal na Constituio Portuguesa de Ana Paula Dourado;Revista jurdica: TOC 96 - Maro 2008;Justia Fiscal de Saldanha SanchesConstituio da Repblica PortuguesaCdigos Tributrios

ANEXOS

ACRDO N 192/2015Processo n. 87/152 SecoRelator: Conselheiro Pedro MacheteAcordam, em conferncia, na 2. Seco do Tribunal Constitucional:I. Relatrio1. Na sequncia de constituio de tribunal arbitral, no mbito do CAAD Centro de Arbitragem Administrativa, a requerimento de A. - SGPS, S.A., sendo requerida a Autoridade Tributria e Aduaneira, para apreciao da legalidade de diversos atos de demonstrao de liquidaes de reteno na fonte de Imposto sobre o Rendimento e, bem assim, de despacho que indeferiu reclamao graciosa, foi proferido o acrdo de 19 de dezembro de 2014, constante de fls. 14 e ss.. Tal aresto declarou a ilegalidade dos atos referidos, anulando as respetivas liquidaes.2. Notificada desta deciso, e com ela no se conformando, a Autoridade Tributria e Aduaneira interps recurso de constitucionalidade, com fundamento no artigo 70., n. 1, alneaa), da Lei n. 28/82, de 15 de novembro (Lei do Tribunal Constitucional LTC), nos termos e com os fundamentos seguintes:1. Previamente cumpre referir que o presente recurso apresentado junto do tribunal recorrido, porquanto, no obstante o disposto no artigo 25., n. 4 do RJAT, determina-se no artigo 76., n. 1 da LTC (lei de valor reforado nos termos do artigo 212., n. 3 da CRP) que o recurso para o Tribunal Constitucional deve ser interposto perante o tribunal que tiver proferido a deciso recorrida, cabendo a este apreciar a admisso do mesmo (cf. ponto 6 do acrdo do Tribunal Constitucional n. 42/2014 (Disponvel emhttp://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/).2. Posto isto, visa-se atravs do presente recurso, interposto nos termos da alnea a) do n. 1 do artigo 70. da LTC, a fiscalizao concreta da constitucionalidade do artigo 38., n. 2 da Lei Geral Tributria (Decreto-Lei n. 398/ 98, de 12.12, adiante LGT),3. julgando-se tal norma inconstitucional por violao dos princpios da legalidade tributria, da igualdade na repartio da carga tributria, da prossecuo da satisfao das necessidades financeiras do Estado e de outras entidades pblicas, nos termos do disposto nos artigos 13. e 103., n. 1 e 2 da CRP quando interpretada no sentido de a tributao resultante da mesma incidir apenas sobre quem obteve as vantagens fiscais ilegtimas, sendo inaplicveis as regras gerais de substituio tributria (maxime previstas no artigo artigos 5., n. 2, al. h), 71., n. 1, al. c), 71., n. 6, 101., n. 2, al. a) e 103. do Cdigo do IRS (Decreto-Lei 442-A/88, de 30.11.) e de responsabilidade em caso de substituio tributria (maximeprevistas no artigo 28. da LGT e no artigo 103. do Cdigo do IRS), independentemente do substituto tributrio poder ter conhecimento ou interveno nos atos ou negcios jurdicos tipificados em tal norma.4. Com efeito, ser materialmente inconstitucional a interpretao normativa do artigo 38., n. 2 da LGT que exclua, na sequncia de planeamento fiscal abusivo, a possibilidade de a sociedade que tem o papel de substituto na relao jurdica tributria ser responsvel pelo pagamento das quantias que se entendam devidas nos termos das normas legais aplicveis (in casuartigos 5., n. 2, al. h), 71., n. 1, al. c), 71., n. 6, 101., n. 2, al. a) e 103. do Cdigo do IRS), quando da mesma no resulta, por fora da violao das normas constitucionais identificadas supra, que a tributao de acordo com as normas aplicveis na ausncia de tal planeamento distinta da aplicvel s demais situaes de tributao previstas na legislao fiscal.5. A coberto de interpretao conforme Constituio, o Tribunal Arbitral julgou, a final, a norma inaplicvel ao caso concreto, reputando-a a nica em conformidade com os princpios constitucionais de tributao segundo a capacidade contributiva (artigo 104., n. 2 da CRP), da proporcionalidade e do direito de propriedade privada (artigos 18., n. 2 e 62., n. 1 da CRP).6. Contudo, salvo melhor opinio, a pretexto da (nica) interpretao conforme Constituio, adotou-se um sentido em todo incompatvel com o alcance da norma, com introduo de uma ressalva que o seu texto claramente no comporta, no sendo a inconstitucionalidade declarada justamente por a soluo que a concretizaria ser evitada atravs de uma interpretao redutora do alcance da norma, de forma alguma contida no seu teor literal.7. Nos termos do n. 1 do artigo 280. da Constituio so recorrveis para o tribunal Constitucional, as decises proferidas pelos restantes tribunais em que, a coberto de uma interpretao conforme Constituio, se haja julgado, afinal a norma inaplicvel ao caso concreto. E isto por se considerar que tais situaes so, na prtica, equiparveis aquelas em que tenha havido uma pura e simples recusa de aplicao de norma com fundamento na sua inconstitucionalidade Lus Nunes de Almeida, A Justia Constitucional no quadro das funes do Estado,inJustia Constitucional e espcies, contedo e efeitos das decises sobre a Constitucionalidade de normas, Lisboa, 1987, III, pag.124.8. Como salientam Gomes Canotilho e Vital Moreira, para efeitos de decises que tenham recusado a aplicao de norma por inconstitucionalidade, no necessrio que o tribunal tenha considerado a norma absolutamente inconstitucional; suficiente que tenha recusado a sua aplicao num dos seus sentidos possveis por motivo de inconstitucionalidade cf. J. J. Gomes Canotilho e Vital Moreira,inA Constituio da Repblica Portuguesa anotada, Coimbra, 1993, pg. 1019.9. De resto, este igualmente o entendimento vertido no acrdo do Tribunal Constitucional n. 311/ 2008, de 2008-05-30 (publicado no DR, II Srie, de 2008-08-01), no qual se pugna, em sntese o seguinte:Ora, j no Acrdo n. 137/ 85 (Acrdos do Tribunal Constitucional, 6. vol., 321 s.) se entendeu que () recusa de aplicao de norma, com fundamento na sua inconstitucionalidade, se h de equiparar o juzo de inaplicabilidade de norma que decorra, nica ou primacialmente, da sua interpretao conforme Constituio. [] E, muito embora a sentena recorrida utilize tambm padres normativos de direito comum, como a inexigibilidade ou a impossibilidade de cumprimento, eles no so t ratados autonomamente, margem do parmetro constitucional, mas antes apreciados e aplicados luz do quadro valorativo do artigo 20. da Constituio. Tal decorre iniludivelmente da estruturao dos fundamentos em que se apoia a deciso recorrida. []No sofre, pois, dvida de que o direito de acesso justia causa nica do relevo exoneratrio conferido quelas situaes. expressamente por atendimento dessa garantia constitucional que a deciso recorrida pde reforar aquela concluso []A utilidade do conhecimento do recurso no pode, assim, ser posta em causa.10. Nestes termos, conclui-se, peticionando-se a admisso do presente recurso contra o acrdo arbitral proferido nos autos em epgrafe nos termos sobreditos.Termos em que, a Recorrente por estar em tempo e ter legitimidade, requer a admisso do presente recurso,ope legisartigo 70., n. 1, alnea a), artigo 72., n. 2 e artigo 75., 75. -A e 76., n. 1, todos da LTC e do artigo 25., n. 1 do RJAT, com subida imediata do mesmo, com efeito suspensivo, seguindo-se ulteriores termos at final.3. A fls. 10, o Presidente do Tribunal Arbitral proferiu o seguinte despacho:O Senhor Diretor-geral da Autoridade Tributria e Aduaneira vem interpor recurso para o Tribunal Constitucional do acrdo proferido em 19-12-2014.Os n.s 1 e 4 do artigo 25. do RJAT estabelecem o seguinte:1 A deciso arbitral sobre o mrito da pretenso deduzida que ponha termo ao processo arbitral suscetvel de recurso para o Tribunal Constitucional na parte em que recuse a aplicao de qualquer norma com fundamento na sua inconstitucionalidade ou que aplique norma cuja inconstitucionalidade tenha sido suscitada.(...)4 Os recursos previstos nos nmeros anteriores so apresentados, por meio de requerimento acompanhado de cpia do processo arbitral no tribunal competente para conhecer do recurso.Assim, independentemente da competncia ou no deste Tribunal Arbitral para admitir o recurso, resulta inequivocamente destas regras do RJAT, especiais para os recursos das decises arbitrais tributrias, que o recurso deve ser apresentado ao Tribunal Constitucional e no ao Tribunal Arbitral que proferiu a deciso recorrida, s podendo este Tribunal admitir o recurso na sequncia do que o Tribunal Constitucional decidir sobre a tramitao do recurso.Termos em que este Tribunal Arbitral se abstm de apreciar o requerimento de interposio de recurso, entendendo que ele dever ser apresentado ao TC nos termos previstos no artigo 25., n.2 4, do RJAT.4. na sequncia deste despacho que vem interposta a presente reclamao, ao abrigo do disposto no artigo 76., n. 4, da LTC, com os seguintes fundamentos:[] Ora,4. Cumpre esclarecer que o requerimento de interposio de recurso foi apresentado junto do tribunal recorrido (o Tribunal Arbitral Coletivo), porquanto, no obstante o disposto no artigo 25., n. 4 do RJAT, determina-se no artigo 76., n. 1 da LTC (lei de valor reforado nos termos do artigo 212., n. 3 da CRP) que o recurso para o Tribunal Constitucional deve ser interposto perante o tribunal que tiver proferido a deciso recorrida, cabendo a este apreciar a admisso do mesmo.5. convico do Reclamante que tem, igualmente, sido este o entendimento perfilhado pelo Tribunal Constitucional quanto questo em causa. A ttulo de exemplo, transcreve-se o despacho proferido pelo Exmo. Juiz Conselheiro Relator nos Autos de Recurso n. 471/14, 3. Seco:Vem o recorrente apresentar recurso de Constitucionalidade nos termos das alneas a), e b), do n. 1, do artigo 70. da LTC, do acrdo arbitral proferido a 28/03/2014 no processo arbitral que correu termos no Centro de Arbitragem Administrativa. O recorrente interps recurso diretamente no Tribunal Constitucional, ao abrigo do artigo 25 do Regime Jurdico da Arbitragem Tributria (RJAT).No entanto, apesar de o n 4 do artigo 25 do RJAT determinar que o recurso de decises arbitrais, em matria tributria, diretamente interposto perante o Tribunal Constitucional, tal preceito encontra-se em contradio com o disposto nos artigos 75, n 1, 75-A, n 5 e 76, n 1, da Lei do Tribunal Constitucional. Assim, revestindo-se esta ltima de natureza reforada, por se tratar de lei orgnica, a contradio entre a soluo normativa fixada pelo n 4 do artigo 25 do RJAT e o artigo 76, n 1 da LTC, resolve-se a favor deste ltimo, em funo da manifesta ilegalidade prprio sensu da primeira, pelo que se impe a desaplicao da norma extrada do n4 do artigo 25 do RJAT e a consequente aplicao do regime processual previsto na Lei do Tribunal Constitucional. O Tribunal Constitucional j assim o decidiu em outras ocasies (v. entre outros, o Acrdo n. 281/14, de 25/03/2014).Ordena-se assim a baixa dos autos ao tribunal recorrido para o mesmo se pronunciar sobra a admisso do recurso interposto.6. Cumpre salientar que o entendimento ora transcrito tem sido tambm sufragado pela jurisprudncia arbitral produzida junto do CAAD. Veja-se, mais uma vez a ttulo de exemplo, o despacho de admisso de recurso proferido no Processo n. 74/2014-T (documento n. 3).7. Como tal, e porque aabsteno de apreciaodo requerimento de interposio do recurso ter, necessariamente e para todos os legais efeitos, de ser entendida como um indeferimento da pretenso nele formulada;8. Ter de se concluir que o despacho proferido pelo Tribunal Arbitral Coletivo violou o disposto no n. 1 do artigo 76. da LTC ao no apreciar a admisso do recurso interposto.[]5. No seu visto, o Ministrio Pblico pronunciou-se no sentido da remessa do recurso ao tribunala quopara efeitos de prolao do despacho a que se refere o artigo 76., n. 1, da LTC, seja por inconstitucionalidade (orgnica e formal) da norma do artigo 25., n.s 1 e 4, do Decreto-Lei n. 10/2011, de 20 de Janeiro diploma que aprovou o Regime Jurdico da Arbitragem Tributria (RJAT) , seja por ilegalidade (por violao de lei de valor reforado) da mesma norma.6. Conclusos os autos ao relator, este proferiu o seguinte despacho:Em sede de reclamao deduzida ao abrigo do artigo 76., n. 4, da Lei n. 28/82, de 15 de novembro (LTC), os poderes de cognio do Tribunal Constitucional dirigem-se no apenas apreciao do despacho reclamado, mas tambm a todos os eventuais fundamentos que, em concreto, possam obstar ao conhecimento do mrito do recurso de constitucionalidade previamente interposto.In casuo recurso de constitucionalidade foi interposto ao abrigo do artigo 70., n. 1, alnea a), da LTC. Contudo, no se vislumbra na deciso recorrida uma efetiva recusa de aplicao de norma com fundamento em inconstitucionalidade.Na verdade, o objeto material do recurso de constitucionalidade em anlise uma dada interpretao do artigo 38., n. 2, da Lei Geral Tributria (a tributao resultante da mesma [ a norma do citado artigo 38., n. 2 ] incidir apenas sobre quem obteve vantagens fiscais ilegtimas, sendo inaplicveis as regras gerais de substituio tributria [] e de responsabilidade em caso de substituio tributria [], independentemente do substituto tributrio poder ter conhecimento ou interveno nos atos ou negcios jurdicos tipificados em tal norma n. 3 do requerimento de recurso, a fls. 5, v.; v. igualmente o n. 4). Ora, da deciso recorrida, resulta precisamente que o disposto no artigo 38., n. 2, da Lei Geral Tributria foi efetivamente aplicado pela deciso recorrida: [A] parte final do artigo 38., n. 2, da LGT (redao da Lei n. 30-G/2000, de 29 de dezembro), ao estabelecer as consequncias da aplicao da clusula antiabuso efetuando-se ento a tributao de acordo com as normas aplicveis na sua ausncia e no se produzindo as vantagens fiscais referidas aponta decisivamente no sentido de a aplicao ter de ser efetuada em moldes que permitam afastar a produo das vantagens fiscais.[]Sendo esta eliminao das vantagens fiscais o manifesto objetivo da clusula geral antiabuso, o destinatrio da aplicao, em cujo patrimnio se iro produzir os efeitos da aplicao, no pode deixar de ser quem usufruiu dessas vantagens fiscais.No caso em apreo, as vantagens fiscais detetadas pela Autoridade Tributria e Aduaneira que justificaram a aplicao da clusula geral antiabuso no se verificaram no patrimnio da Requerente, pois todas as quantias que pagou sem reteno na fonte foram entregues aos seus acionistas. (pp. 34-35, correspondentes a fls. 47-48 dos autos)Da o teor da alnea a) do dispositivo da deciso recorrida:Julgar procedente o pedido de pronncia arbitral por no se verificar em relao Requerente um dos pressupostos legais de aplicao da clusula geral antiabuso prevista no artigo 38., n. 2, da LGT. certo que a ora reclamante discorda abertamente da interpretao do 38., n. 2, da Lei Geral Tributria feita pelo tribunal a quo (cfr. o n. 6 do requerimento do recurso de constitucionalidade); porm, no compete ao Tribunal Constitucional sindicar o mrito das interpretaes do direito infraconstitucional feitas pelos demais tribunais.Pelo exposto, notifique a reclamante para, querendo, se pronunciar sobre a eventualidade de no se poder conhecer do objeto do recurso com o fundamento indicado. (fls. 74-75)Em resposta, a reclamante reiterou o que j havia propugnado no seu requerimento de interposio do recurso, sustentando que do teor da deciso arbitral () resulta, salvo melhor entendimento, manifesto que o Tribunal Arbitral considerou inaplicvel situao em discusso nos autos o prprio regime legal da aplicao da clusula geral antiabuso vertido no n. 2 do artigo 38. da LGT, concluindo que aquela instncia promoveu uma desaplicao da norma do artigo 38., n. 2, da LGT ao caso concreto, a coberto de uma determinada interpretao da mesma, reputada de nica admissvel face da Constituio (cfr. fls. 79).Cumpre apreciar e decidirII. Fundamentao7.Do despacho reclamadoO despacho reclamado tem de ser enquadrado na disciplina contida nos artigos 75.-A e 76. da LTC: a apreciao do requerimento do recurso de constitucionalidade, eventualmente precedida de um despacho convite, redunda necessariamente numa deciso de admisso do recurso ou num indeferimento do requerimento.In casu, porm, o tribunal recorrido considerou dever a recorrente apresentar o recurso diretamente no Tribunal Constitucional e decidiu abster-se de apreciar o requerimento de interposio de recurso.Em face disso a recorrente apresentou a presente reclamao, uma vez que entendeu ter sido indeferido o requerimento de interposio de recurso por si previamente apresentado.A apreciao da admissibilidade do recurso de constitucionalidade feita pelo tribunal recorrido comporta natureza liminar e precria, sempre cabendo, por fora do disposto no n. 3, do artigo 76. da LTC, ao Tribunal Constitucional decidir em definitivo, sem prvia vinculao ao anteriormente decidido, sobre a verificao dos requisitos e pressupostos de que depende a admissibilidade e o conhecimento do recurso (nesse sentido, v., por exemplo, o Acrdo n. 42/2014). Nessa medida, nenhum vcio processual se encontra no facto de, nos presentes autos, se proceder ao escrutnio normalmente exercido pelo Tribunal Constitucional no mbito de reclamaes deduzidas com fundamento no artigo 76., n. 4, da LTC. Com efeito, em processos deste tipo cabe apreciar da admissibilidade do recurso que se tentou interpor para o Tribunal Constitucional. Assim, cumpre averiguar no s da correo do despacho reclamado mas tambm da eventual existncia de outros fundamentos que possam obstar a uma pronncia sobre o mrito do recurso de constitucionalidade interposto, tendo em vista o princpio do aproveitamento processual dos atos, que decorre do direito tutela jurisdicional efetiva (cfr. artigo 20., n. 1, da Constituio).8.Do conhecimento do recurso de constitucionalidade8.1. O artigo 70., n. 1, da LTC prev os diversos fundamentos do recurso de constitucionalidade, enquanto vias de acesso ao Tribunal Constitucional em sede de fiscalizao concreta da constitucionalidade. A admissibilidade do recurso de constitucionalidade desde logo condicionada pelo mecanismo que o recorrente utiliza para fundamentar a sua impugnao. Da que um dos elementos obrigatrios do requerimento de recurso seja, precisamente, a indicao da alnea do n. 1 do artigo 70. ao abrigo da qual o mesmo interposto, como estipula expressamente o artigo 75.-A, n. 1, da LTC.O objeto mediato do recurso , por conseguinte, imediatamente pr-determinado pelo mecanismo processual que o recorrente escolhe adotar enquanto fundamento do seu recurso: com efeito, o acesso ao Tribunal Constitucional condicionado apreciao da impugnao deduzida. Assim, no caso do recurso fundado na alneaa), o objeto do mesmo reside na norma cuja aplicao foi recusada com fundamento em inconstitucionalidade. J no caso do recurso interposto ao abrigo da alneab), o mesmo visa a apreciao da norma que, tendo sido arguida de inconstitucional durante o processo, foi, efetivamente, aplicada durante o processo.8.2. O presente recurso de constitucionalidade foi interposto ao abrigo do artigo 70., n. 1, alneaa), da LTC (cfr.suprao n. 2). Esta norma prev o recurso de decises que tenhamrecusadoa aplicao de norma com fundamento em inconstitucionalidade. Ora, o impulso deduzido pela recorrente apresenta-se, sob este ponto de anlise, como contraditrio, j que o objeto mediato do recurso no incide na norma que, supostamente, ter visto a sua aplicao recusada com fundamento em inconstitucionalidade (segundo a recorrente, o artigo 38., n. 2, da LGT interpretad[o] como admitindo a oponibilidade dos efeitos da aplicao da clusula geral antiabuso ao substituto tributrio, designadamente a imposio dos efeitos do incumprimento de um dever de reteno na fonte que no existia face do negcio efetivamente celebrado, num contexto em que no est legalmente assegurada a viabilidade de reaver as quantias no retidas cujo dever de reteno determinadoa posteriori - cfr. a deciso recorrida, a fls. 53). Mas, como resulta do requerimento de interposio de recurso, a recorrente pretende ver apreciada umaoutranorma, nomeadamente a que foi efetivamente aplicada pela deciso recorrida, e que, conforme desenvolvido pela recorrente, se desdobra nas seguintes dimenses:O artigo 38., n. 2, da LGT, interpretado no sentido de a tributao resultante d[o] mesm[o] incidir apenas sobre quem obteve as vantagens fiscais ilegtimas, sendo inaplicveis as regras gerais de substituio tributria (maximeprevistas nos artigos 5., n. 2, alnea h), 71., n. 1, alneac), 71., n. 6, 101., n. 2, alneaa), e 103., todos do Cdigo do IRS) e de responsabilidade em caso de substituio tributria (maximeprevistas no artigo 28. da LGT e no artigo 103. do CIRS), independentemente do substituto tributrio poder ter conhecimento ou interveno nos atos ou negcios jurdicos tipificados em tal norma (cfr. o n. 3 do requerimento de recurso);A interpretao normativa do artigo 38., n. 2, da LGT que exclua, na sequncia de planeamento fiscal abusivo, a possibilidade de a sociedade que tem o papel de substituto na relao jurdica tributria ser responsvel pelo pagamento das quantias que se entendam devidas nos termos das normas legais aplicveis (in casu, artigos 5., n. 2, alneah), 71., n. 1, alneac), 71., n. 6, 101., n. 2, alneaa), e 103., todos do Cdigo do IRS) (cfr. o n. 4 do requerimento de recurso).A ter existido efetiva recusa de aplicao de norma com fundamento em inconstitucionalidade, a recorrente deveria agora pugnar, quando invoca a alneaa), do n. 1, do artigo 70., da LTC, pela fiscalizao danorma no aplicada, sustentando a sua no inconstitucionalidade. Mas, como admite a prpria recorrente no seu requerimento de recurso, o seu dissdio e da a definio do objeto mediato do seu recurso reside no facto de, a pretexto da (nica) interpretao conforme Constituio, [se ter adotado]um sentido em todo incompatvel com o alcance da norma, com a introduo de uma ressalva que o seu texto claramente no comporta, no sendo a inconstitucionalidade declarada justamente por a soluo que a concretizaria ser evitada atravs de uma interpretao redutora do alcance da norma, de forma alguma contida no seu teor literal (cfr. o n. 6 do requerimento de recurso; itlico aditado).Da a aludida contradio em que incorre a recorrente: ou bem que pretende ver escrutinada a norma a que, segundo alega, foi recusada aplicao com fundamento em inconstitucionalidade caso em que se poderia questionar a hiptese da admissibilidade do recurso ao abrigo da alneaa), do n. 1, do artigo 70. da LTC; ou, ento, o que pretende ver fiscalizado a norma que, efetivamente, foi aplicada, no obstante, segundo a perspetiva da recorrente, a total incompatibilidade com o seu alcance, situao que apenas pode fundar um recurso interposto ao abrigo da alnea b) do referido preceito.8.3.In casu, e como referido, o objeto material do presente recurso de constitucionalidade uma dada interpretao do artigo 38., n. 2, da LGT (a tributao resultante da mesma [ a norma do citado artigo 38., n. 2 ] incidir apenas sobre quem obteve vantagens fiscais ilegtimas, sendo inaplicveis as regras gerais de substituio tributria [] e de responsabilidade em caso de substituio tributria [], independentemente do substituto tributrio poder ter conhecimento ou interveno nos atos ou negcios jurdicos tipificados em tal norma n. 3 do requerimento de recurso, a fls. 5, v.; v. igualmente o n. 4). Ora, da deciso recorrida, resulta precisamente que o disposto no artigo 38., n. 2, da LGT foi efetivamente aplicado pela deciso recorrida:[A] parte final do artigo 38., n. 2, da LGT (redao da Lei n. 30-G/2000, de 29 de dezembro), ao estabelecer as consequncias da aplicao da clusula antiabuso efetuando-se ento a tributao de acordo com as normas aplicveis na sua ausncia e no se produzindo as vantagens fiscais referidas aponta decisivamente no sentido de a aplicao ter de ser efetuada em moldes que permitam afastar a produo das vantagens fiscais.[]Sendo esta eliminao das vantagens fiscais o manifesto objetivo da clusula geral antiabuso, o destinatrio da aplicao, em cujo patrimnio se iro produzir os efeitos da aplicao, no pode deixar de ser quem usufruiu dessas vantagens fiscais.No caso em apreo, as vantagens fiscais detetadas pela Autoridade Tributria e Aduaneira que justificaram a aplicao da clusula geral antiabuso no se verificaram no patrimnio da Requerente, pois todas as quantias que pagou sem reteno na fonte foram entregues aos seus acionistas. (pp. 34-35, correspondentes a fls. 47-48 dos autos)Da o teor da alnea a) do dispositivo da deciso recorrida:Julgar procedente o pedido de pronncia arbitral por no se verificar em relao Requerente um dos pressupostos legais de aplicao da clusula geral antiabuso prevista no artigo 38., n. 2, da LGT. Deste modo, e face ao objeto mediato do presente recurso de constitucionalidade tal como construdo pela prpria recorrente no requerimento de recurso que apresentou o que a mesma pretende fiscalizar a aplicao do artigo 38., n. 2, da LGT, num determinado sentido, no coincidente com a suposta recusa de aplicao que decorreria da interpretao conforme efetuada pela deciso recorrida. Ora, no tendo existido na referida deciso qualquer recusa de aplicao do artigo 38., n. 2, no sentido impugnado pela recorrente, no pode a mesma lograr uma pronncia de mrito num recurso que vem interposto ao abrigo da alneaa), do n. 1, do artigo 70. da LTC.III. DecisoPelo exposto, decide-se indeferir a presente reclamao.Custas pela reclamante, fixando-se a taxa de justia em 20 UC, ponderados os critrios estabelecidos no artigo 9., n. 1, do Decreto-Lei n. 303/98, de 7 deoutubro(cfr. o artigo 7. do mesmo diploma).Lisboa, 17 de maro de 2015 -Pedro Machete-Fernando Vaz Ventura-Joaquim de Sousa Ribeiro

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