Trabalho Pejotização

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    Anais eletrnicos do III Simpsio Internacional de Direito: dimenses materiais e eficaciais dosdireitos fundamentais

    A PEJOTIZAO E A PRECARIZAO DAS RELAES DE TRABALHO NO BRASIL

    E A RELAO DOS PRINCPIOS DA PROTEO E DA PRIMAZIA DA REALIDADE

    NO DIREITO DO TRABALHO

    Simone da Costa*

    Felipe Ternus**

    RESUMO

    O estudo em tela tem como escopo a anlise do processo de pejotizao,que se apresenta na contratao de pessoas jurdicas para a prestao de

    servios que poderiam ser realizados por pessoas fsicas, buscando ilidir uma

    relao de emprego. Em uma breve anlise da evoluo histrica do Direito

    do Trabalho, diferenciando os conceitos de trabalho e emprego,

    apresentando a afinidade existente entre as relaes de trabalho e a

    precarizao destas relaes, oriunda de sua tortuosa evoluo. Em

    decorrncia, o aparecimento do fenmeno da pejotizao e asconsequncias de sua aplicao, frente aplicao dos princpios da

    proteo e do princpio da primazia da realidade no Direito do Trabalho.

    Palavras-chave: Pejotizao. Princpio da Proteo. Princpio da Primazia da

    Realidade.

    1 INTRODUO

    As relaes de trabalho nem sempre se apresentaram consolidadas

    como se v atualmente. At os dias atuais muitas revolues e conflitos se

    perfectibilizaram no intuito de alcanar a efetivao de diretos de trato

    fundamental ao exerccio saudvel do trabalho.

    *Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina; Professora da Universidade

    do Oeste de Santa Catarina, Campus de So Miguel do Oeste;[email protected]** Acadmico do 10 perodo do Curso de Direito da Universidade do Oeste de SantaCatarina, Campus de So Miguel do Oeste; [email protected]

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    O mundo apresentava a evoluo. As mais diversas e controvertidas

    civilizaes a cada passo histrico, tornavam-se ainda mais mutantes. Ao

    passo que, ocorria e consolidava-se o surgimento do Direito do Trabalho,enfocando a proteo de suas relaes. Figurando como ente regulador,

    delimitando premissas a serem seguidas, direitos e obrigaes recprocas

    queles que participam deste liame.

    No Brasil, em especial, o Direito do Trabalho foi marcado por um

    grande movimento. A ruptura do sistema escravocrata e a consolidao

    ainda inicialmente tortuosa de um sistema de troca, da fora de trabalho

    por uma remunerao. Deste novo fenmeno, surgiram novos problemas.

    Cita-se a disparidade salarial e a grande concentrao de capital em

    monoplios tanto quanto singulares.

    Partindo deste pressuposto, a precarizao das relaes de trabalho

    surge em anlise da disparidade na concentrao de renda. Sendo assim, o

    panorama atual da renda brasileira, e mais que isso das condies de

    trabalho, faz do Brasil um pas aqum do ideal que se espera de uma

    economia balanceada.

    Alm disso, a flexuosa interpretao de uma normativa legal que gera

    uma nova questo amplamente discutida. Esta de tanto utilizada fez-se criar

    um novo termo para o Direito do Trabalho, a utilizao do neologismo

    pejotizao. Nada mais que a utilizao deliberada de uma pessoa

    jurdica na prestao de servios para burlar uma relao de trabalho frente

    a toda proteo trazida pelos princpios da proteo e primazia da

    realidade para com o empregado.

    por esta razo que o presente artigo visa analisar a pejotizao e

    determinar suas consequncias, confrontando a realidade trabalhista

    brasileira no que tange as contrataes, regras e princpios formadores,

    concomitantemente a histrica evoluo do Direito do Trabalho e o

    posicionamento dos Tribunais.

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    2 O DIREITO DO TRABALHO E A EVOLUO HISTRICA E SOCIAL EM RELAO

    PRECARIZAO NAS RELAES DE TRABALHO

    O direito do trabalho fruto de um conjunto de princpios, normas e

    instituies que visam proteger o empregado nas suas relaes de trabalho

    de forma a assegurar melhores condies sociais e econmicas, de acordo

    com as medidas que lhes so asseguradas, ou seja, visa regular a relao

    empregatcia.

    Sabe-se que o direito do trabalho foi o primeiro dos direitos sociais a

    emergir, e, sem dvida, por conta de sua fora expansiva, o estimulante daconstruo de tantos outros direitos sociais [...] (MARTINEZ, 2011, p. 39).

    Por outro lado, o direito do trabalho fruto da evoluo econmico-

    social mundial em que novos processos industriais transformaram a realidade

    econmica de muitos pases e alavancou a evoluo das relaes

    trabalhistas, e destas, a necessidade de criao de mecanismos legais

    capazes de suportar e proporcionar segurana jurdica. Barros (2011, p. 55)

    refere-se condio histrica mundial do surgimento do Direito do Trabalho:

    [...] aponta como principais causas do aparecimento do Direito doTrabalho no contexto mundial: os vcios e as consequncias daliberdade econmica e do liberalismo poltico; o maquinismo; aconcentrao de massas humanas e de capitais; as lutas de classes,com as consequentes rebelies sociais com destaques para osludistas ou cartistas na Inglaterra; as revolues de 18481e 1871,2naFrana, e de 1848, na Alemanha; livres acordos entre gruposeconmicos e profissionais regulando as relaes entre patres eoperrios, mais tarde, reconhecidos pelo estado como lei; [...]

    J no Brasil a economia favorecidamente agrcola dominava as

    relaes de trabalho. No entanto, revolues tecnolgicas foram se

    consolidando e fazendo com que novos modelos econmicos fossem

    criados, desta forma, a mudana do status dos trabalhadores,

    predominantemente agrcolas, para um proletariado industrial, mecanizado

    1Conjunto de revolues consolidadas na Frana de carter liberal e democrtico. Iniciado

    por membros da burguesia, nobreza e trabalhadores camponeses contra os excessos docapitalismo. Tambm chamada de Primavera dos Povos.

    2Comuna de Paris, primeiro governo operrio em resistncia a invaso do Reino da Prssia.

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    e ao passo de uma lenta evoluo, uma nova categoria de fora

    profissional.

    Ocorre que, antes de tudo isso acontecer, o Brasil era dominado porum sistema escravagista, de mo-de-obra gratuita e totalmente submissa. As

    transies das economias brasileiras fizeram criar problemas jurdicos ainda

    hoje discutidos, como a qualidade do ambiente laborativo, segurana e

    condies de exerccio do trabalho. Mas, h que salientar que aps o

    processo de abolio da escravatura que o Direito do Trabalho apontou

    como referencial, um novo ramo no Direito brasileiro. o que aduz Delgado

    (2008, p. 105-106):

    Embora a Lei urea no tenha, obviamente, qualquer carterjustrabalhista, ela pode ser tomada, em certo sentido, como o marcoinicial de referncia da Histria do Direito brasileiro. que ela cumpriupapel relevante na reunio dos pressupostos configurao dessenovo ramo jurdico especializado. De fato, constituiu diploma quetanto eliminou da ordem sociojurdica relao de produoincompatvel com o ramo justrabalhista (a escravido), como, emconsequncia, estimulou a incorporao pela prtica social da

    frmula ento revolucionria de utilizao da fora de trabalho: arelao de emprego [...]

    Passada a fase da escravido, os ncleos industriais que se formavam

    nos grandes centros brasileiros no estavam totalmente desvinculados da

    ideia escravagista. histrico o regime de trabalho imposto ao proletariado.

    Jornada de trabalho prolongada, pssimas condies de trabalho, trabalho

    infantil, baixos salrios, dentre muitos outros, o que faz remeter ao que

    chamamos de condio anloga a de escravo.

    Nesta senda, observa-se o fenmeno da precarizao das relaes de

    trabalho, intensificando-se ao prolongar histrico nacional. Primeiramente

    pelas fracas polticas de trato trabalhista e secundariamente a no

    interveno estatal e medidas de incentivo para a gerao de renda e

    capitais, em que pese o auxlio estatal a impulsionar a expanso econmica

    brasileira vigorava como mecanismo gerador das ms condies aostrabalhadores.

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    Sendo assim, viu-se e ainda se v a m distribuio de rendas e as

    pssimas condies de trabalho, que fazem com que o Brasil torne-se um

    pas eminentemente carente de propsitos que acalentem a crescente

    maioria de trabalhadores expostos a precariedade em seu labor.

    Por conseguinte, o fenmeno da precarizao elemento gerador da

    pejotizao das relaes de trabalho. Visto que, se discute tal evento como

    maneira de entender a relao entre a disparidade salarial (precarizao) e

    a insero de Pessoa Jurdica como prestador de servio (pejotizao).

    Por entender que a falha caracterstica brasileira nas medidas de

    relao de trabalho, remunerao e condies de trabalho, que coloca oBrasil muito abaixo das estatsticas mundiais de concentrao de renda e

    salrios, ficando atrs de pases como frica do Sul, Argentina e Chile.

    2.1 TRABALHO E EMPREGO

    Antes de iniciar os estudos a cerca da pejotizao e da precarizao

    das relaes de trabalho no Brasil, precisar-se- inicialmente, desvendaralguns conceitos relacionados temtica proposta.

    O trabalho propriamente dito algo muito antigo. Existe desde as

    primeiras eras, quando o homem iniciou os mais variados processos de

    mudana e alterao da natureza e de seu ambiente. Por sua vez, o

    emprego um termo que surgiu com a Revoluo Industrial, em uma

    relao de troca ou venda da fora de trabalho em razo de um

    pagamento, algum tipo de remunerao.

    Nos mais diversos e controvertidos perodos da histria, o trabalho j foi

    visto por diferentes enfoques. No Cristianismo, o trabalho era considerado um

    castigo dos cus, totalmente indiscutvel que acompanharia os homens

    durante toda sua existncia, considerado ainda, um fator de excluso da

    sociedade.

    Mais a frente na era Medieval, o trabalho ainda era caracterizado

    como algo natural ao ser humano, decadente e penoso, associando-se ao

    mecanismo de tortura. Ainda se tinha a noo de indignidade do trabalho,

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    O art. 33CLT trs em seu texto, requisitos ou premissas bsicas para a

    configurao de uma relao de emprego. Dentre eles a subordinao,

    pessoalidade, no eventualidade ou habitualidade e onerosidade.

    Neste sentido a subordinao tratada como um fenmeno jurdico

    decorrente de um contrato de trabalho e torna-se importante elemento

    constituinte da relao. Neste sentido Delgado (2008, p. 301) discorre a

    cerca da subordinao:

    De fato, a subordinao que marcou a diferena especfica darelao de emprego perante as tradicionais modalidades de

    relao de produo que j foram hegemnicas na histria dossistemas socioeconmicos ocidentais (servido e escravido). Sertambm a subordinao o elemento principal de diferenciaoentre a relao de emprego e o segundo grupo mais relevante defrmulas de contratao de prestao de trabalho no mundocontemporneo (as diversas modalidades de trabalho autnomo).

    Ao Direito do Trabalho interessa a subordinao no que tange a

    funcionalizao da atividade, ou seja, quando, onde e de que maneira a

    relao ir se consolidar.

    A no eventualidade ou habitualidade na atividade laborativa, diz

    respeito continuidade no exerccio funcional. O contrato de trabalho um

    pacto de trato sucessivo. Exige a continuidade da prestao dos servios. Se

    h eventualidade do trabalho, inexiste contrato de trabalho.

    No que tange a onerosidade, a relao empregatcia uma relao

    de essencial fundo econmico. Como elemento componente da relao de

    emprego nada mais que a contraprestao pecuniria em razo de umproduto, qual seja fora de trabalho.

    J o requisito da pessoalidade, um dos elementos que fundamentam

    a discusso do fenmeno da pejotizao. A relao jurdica considerada

    empregatcia envolve, forosamente, de um lado, uma pessoa fsica a

    alienar de maneira subordinada e contnua os seus servios mediante

    3Art. 3 Considera-se empregado toda pessoa fsica que prestar servios de natureza noeventual a empregador, sob a dependncia deste e mediante salrio.Pargrafo nico No haver distines relativas espcie de emprego e condio detrabalhador, nem entre o trabalho intelectual, tcnico e manual.

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    remunerao, e, de outro um empregador que tanto pode ser pessoa fsica

    como pessoa jurdica.

    Portanto, quando na leitura do art. 3 da CLT no se v a possibilidade

    de outro ente a no ser uma pessoa fsica, a ocupar a figura de empregado.

    Sendo assim, pessoas jurdicas no poderiam figurar como tal nas relaes

    que vierem constituir. Conforme Martinez (2011, p. 116):

    A contratao de um empregado leva em considerao todas assuas qualidades e aptides pessoais. [...] No conceito depessoalidade existe, portanto, a ideia de intransferibilidade, ouseja, de que somente uma especfica pessoa fsica, e nenhuma outraem seu lugar, pode prestar o servio ajustado.

    Acresa-se s definies, o importante papel da pessoalidade na

    relao de emprego e na formao do vnculo de confiana depositado

    entre os entes da relao de trabalho. Desta forma, desvendemos a pessoa

    jurdica, quando na sua formao e conceito, para que possamos tratar o

    panorama de diferenas entre o trabalho prestado pelos entes fsicos e por

    pessoas jurdicas e a gerao da pejotizao.

    2.2 PESSOA JURDICA

    Faz-se necessrio conhecermos o fundamento, fato formador do

    fenmeno da pejotizao, a pessoa jurdica.

    A criao da pessoa jurdica procedeu de um desenvolvimento

    histrico, que ocorreu diante da necessidade emergente de se criar umsistema normativo regulador das atividades empresariais coletivas,

    originando-se no direito romano com sua ntida distino entre direito

    pblico e direito privado.

    Ou seja, foi necessidade de unio dos povos que fez com que se

    originassem grupos de pessoas com fim precpuo de alcanar metas. de

    nossa natureza o agrupamento para garantir subsistncia e realizar nossos

    propsitos. o que aduz Gagliano (2010, p. 227) O homem um ser

    gregrio por excelncia. Por diversas razes, inclusive de natureza social e

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    antropolgica, tende a agrupar-se, para garantir a sua subsistncia e realizar

    os seus propsitos.Segundo Dinis (2002, p. 16):

    Pessoa o ente fsico ou coletivo suscetvel de direitos eobrigaes, sendo sinnimo de sujeito de direito. J "sujeito dedireito" aquele que sujeito de um dever jurdico, de umapretenso ou titularidade jurdica, que o poder de fazer valer,atravs de uma ao, o no-cumprimento do dever jurdico, oumelhor, o poder de intervir na produo da deciso judicial.

    Desta forma, a unio de um grupo de pessoas, faz gerar um novo entepersonalizado. A representao abstrata de um ente, sendo assim, dotado

    de direitos e obrigaes, capaz de realizar atos jurdicos em prprio nome,

    pois possui personalidade jurdica.

    3 O PROCESSO DE PEJOTIZAO

    Em decorrncia da busca de maior produtividade e lucro por parte

    das empresas que surge o fenmeno da pejotizao. Atualmente pode ser

    considerada uma nova modalidade fraudulenta ao sistema jurdico

    trabalhista brasileiro. Consiste basicamente, em uma contratao, realizada

    atravs de contrato de prestao de servios, de determinada pessoa

    jurdica, empresa devidamente constituda, para a prestao de algum

    servio especfico.

    Normalmente esta contratao ocorre para burlar uma relao de

    emprego, em que a empresa contratante deveria assumir as expensas e

    encargos trabalhistas a seu funcionrio, em sendo assim, a no contratao

    direta, no o faz responsabilizar-se por despesas decorrentes da relao de

    trabalho como frias, dcimo terceiro salrio, entre outras contribuies. E,

    para aquele que aceita tal situao, o pejotizado, a no limitao de carga

    horria, o no pagamento de contribuies previdencirias, a falta do

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    descanso semanal remunerado, previsto no art. 674 da CLT (Consolidao

    das Leis do Trabalho), dentre outros direitos.

    Ocorre que, as empresas contratadas, muitas vezes, so criaes de

    funcionrios da prpria empresa ou mesmo, candidatos a prestao de

    servio. Estes tm suas contrataes vinculadas criao de uma pessoa

    jurdica, para tornar-se um prestador, e no a mo-de-obra exercida

    diretamente pelo ente fsico, inibindo a constituio de uma relao de

    trabalho devidamente formalizada.

    imprescindvel salientar que a pejotizao vem se desenvolvendo em

    razo de tortuosa interpretao da Lei 11.196/2005, lei que regula ainstituio de regimes de tributao, compra de capital de empresas

    exportadoras, incentivos fiscais e outras providncias, em especial o art. 129,

    que dispe sobre a contratao de pessoas jurdicas para a prestao de

    servios intelectuais. Nestes termos trata o artigo:

    Art. 129. Para fins fiscais e previdencirios, a prestao de serviosintelectuais, inclusive os de natureza cientfica, artstica ou cultural,em carter personalssimo ou no, com ou sem a designao dequaisquer obrigaes a scios ou empregados da sociedadeprestadora de servios, quando por esta realizada, se sujeita to-somente legislao aplicvel s pessoas jurdicas, sem prejuzo daobservncia do disposto no art. 50 da Lei no 10.406, de 10 de janeirode 2002 - Cdigo Civil.

    Ocorre que, em razo deste fundamento, empregadores contratam

    prestadores de servios para atuarem em suas empresas como pessoas

    jurdicas sem a criao de nenhum vnculo empregatcio.

    Em tese, partimos do pressuposto de que o trabalhador a figura

    hipossuficiente na relao de trabalho, em que sendo mais fraca v-se

    muitas vezes obrigada a ceder a tais circunstncias para garantir-se

    economicamente, mesmo que com muitos prejuzos, sucumbidos os seus

    direitos trabalhistas, como j citados anteriormente frias, dcimo terceiro

    4Art. 67 Ser assegurado a todo empregado um descanso semanal de 24 (vinte e quatro)horas consecutivas, o qual, salvo motivo de convenincia pblica ou necessidade imperiosa

    do servio, dever coincidir com o domingo, no todo ou em parte. Pargrafo nico Nosservios que exijam trabalho aos domingos, com exceo quanto aos elencos teatrais, serestabelecida escala de revezamento, mensalmente organizada e constando de quadrosujeito fiscalizao.

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    salrio, entre outros, estes, garantidos pela CLT como direitos adquiridos ao

    trabalhador.

    No entanto, devemos analisar este prisma sobre a condio do

    trabalho intelectual. Por este, surgem dois entendimentos em relao

    condio de hipossuficincia.

    Tais entendimentos so trazidos pelos juristas Couto Filho e Renault, em

    um artigo brilhantemente escrito, intitulado de A pejotizao e a

    precarizao das relaes de trabalho no Brasil, duas teorias a cerca da

    aceitao do fenmeno da pejotizao.

    A primeira delas a desconsiderao total da condio dotrabalhador, ou seja, no importa sua condio econmica, o Direito est

    de igual para todos, no podendo surgir diferenas quando da

    pessoalidade do envolvido. Tal entendimento fundamenta-se no art. 3 da

    CLT, que assegura o tratamento igualitrio a qualquer pessoa, no

    importando se sua atividade ou no intelectual, tcnica ou puramente

    manual.

    A segunda corrente no se baseia na hipossuficincia do trabalhador,visto que, ao realizar um trabalho intelectual eliminaria esta condio de

    inferioridade na relao empregado/empregador, podendo este, em razo

    de seu intelecto, escolher sob qual fundamento acolhe-se sua relao de

    trabalho, sendo assim, podendo dispor de uma proteo que lhe inerente.

    Discutindo-se o fenmeno da pejotizao, v-se a direta relao que

    esta possui com os princpios de Direito do Trabalho e ainda com a

    flexibilizao do prprio Direito. Aqueles que defendem a pejotizao como

    fenmeno positivo v como uma abertura a livre escolha da espcie de

    relao trabalhista. Podendo assim, formalizar a relao e abster-se das

    garantias de uma relao de emprego, por exemplo. Resta a estes apenas a

    contraprestao que lhes for devida figura da pessoa jurdica em razo da

    prestao de servios.

    A anlise da Lei 11.196/2005, em especial ao seu art. 129, no

    representa a capacidade de mudana de normas trabalhistas. Sendo assim,

    de acordo com a CLT todo empregado, exercendo funo intelectual,

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    manual ou tcnica, considerado hipossuficiente na relao de trabalho,

    portanto, deve ser regrado pelo ordenamento jurdico trabalhista brasileiro.

    A relativa autonomia imputada aos prestadores de servios intelectuaisno suficiente para que se permita a abdicao do ordenamento jurdico

    trabalhista, sob pena de aceitarmos disfarces formais que nem sempre sero

    verdadeiros.

    A pejotizao constitui sem dvida uma fraude relao de emprego.

    Tem como finalidade precpua a absteno ao pagamento das corretas

    parcelas devidas aos empregados, evitando maiores despesas nas mais

    variadas modalidades e em muitos setores da economia brasileira.

    Ao passar-se por empresrios, os empregados exercendo atividades

    determinadas s empresas deixam de recolher impostos previdencirios,

    estes sendo ilididos em razo da contratao de pessoas jurdicas.

    3.1 A REALIDADE DO TRABALHADOR BRASILEIRO

    No Brasil, majoritariamente, uma contratao consolidada atravs

    de um contrato de trabalho. Este constitudo entre as partes, empregado e

    empregador delimitando as condies de trabalho, remunerao, carga

    horria, dentre outros elementos.

    Por exceo, existem contrataes consolidadas entre empresas, das

    quais, prestadoras de servios, so contratadas para a realizao de

    determinada tarefa, este tipo de contratao um vis da terceirizao, em

    que dado momento o empregador delega funes a um grupo

    determinado, que realiza estas funes complementando as atividades da

    empresa contratante.

    De fato, uma relao trabalhista nem sempre estabelecida de

    maneira to negocial como se apresenta. Normalmente torna-se uma

    espcie de contrato de adeso, em que os trabalhadores aceitam as

    condies ali impostas, mesmo que lhes cause prejuzo, por queaparentemente garantem a subsistncia do trabalhador.

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    Em decorrncia de tal aceitao, que a exposio s condies

    precrias de trabalho acaba por ser alavancada de parte dos

    empregadores que dominam a fora de capital.O que ocorre que devido m-distribuio de rendas e

    precarizao das relaes de trabalho, que muitos trabalhadores se

    colocam em uma situao de sujeio justamente pelo fato de

    dependerem destas rendas para suprir sua subsistncia, desta maneira,

    diante de um mercado deveras concorrido, aceitam a condio mesmo

    que prejudicial, para que se mantenham estveis, ainda que

    provisoriamente.

    No entanto, ao destacarmos a possibilidade da contratao de

    pessoas jurdicas, vemos a intercorrncia da pejotizao. Por esta razo,

    encargos e direitos trabalhistas so suprimidos dos prestadores de servios. O

    problema reside na adaptao das contrataes. Quando um empregador

    deve criar uma pessoa jurdica para prestar servios ou quando o prprio

    funcionrio de determinada empresa v-se obrigado a esta criao, para

    garantir-se a vaga, cargo ou funo que exerce. Devemos analisar tal

    situao na presena da grande natureza das verbas trabalhistas, quais

    sejam de natureza alimentar, de subsistncia do empregado e muitas vezes

    de sua famlia.

    Neste prisma, no h nenhum tipo de valorizao do trabalho quando

    exercido pela pessoa jurdica, o que no diferencia a condio e no faz

    surtir melhoras que garantam a existncia do processo mencionado, o que

    nos faz entender apenas como um modelo fraudulento de abster-se de

    determinadas obrigaes e de efetivamente garantir a segurana da parte

    hipossuficiente.

    Perceba-se que ao contratar um trabalhador sob forma de uma

    pessoa jurdica este no est garantido pelos direitos trabalhistas, como

    frias, dcimo terceiro salrios, jornada de trabalho entre muitos outros como

    repouso semanal remunerado, salrio mnimo, aviso prvio, proteo amaternidade e a sade do trabalho.

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    As normas trabalhistas vigentes no Brasil concedem aos trabalhadores

    direitos e garantias que no podem ser suprimidos ou reduzidos. Nem mesmoa fora de um negcio jurdico pode abalar esta conquista histrica.

    3.2 OS PRINCPIOS DA PROTEO E PRIMAZIA DA REALIDADE NO DIREITO DO

    TRABALHO EM FACE DA PEJOTIZAO

    Princpios, segundo Sssekind (2002, p. 107), so enunciados genricos

    que devem iluminar tanto a elaborao das leis, a criao de normas

    jurdicas autnomas e a estipulao de clusulas contratuais, como a

    interpretao e aplicao do direito.

    Os princpios, de fato, revelam sua importncia no apenas na

    interpretao jurdica, mas em todos os momentos da atividade do

    operador do Direito, no qual preciso solucionar um problema e aplicao

    das regras torna-se insuficiente, pois limita em demasia os argumentos a

    serem utilizados pelo aplicador na consecuo dos valores que fundam o

    prprio sistema.

    O Direito do Trabalho uma disciplina especial e por isso possui suas

    particularidades. Seus princpios partem do pressuposto de haver

    desigualdade entre as partes, as condies subjetivas das partes

    contratantes, e atendem as finalidades no intuito de corrigi-las.

    Ao buscar minorar as desigualdades surgem os princpios da proteo

    e da primazia da realidade. O princpio da proteo, tambm chamado de

    princpio protetor, erige-se como o mais importante e fundamental para a

    construo, interpretao e aplicao do Direito do Trabalho. Funda-se na

    proteo social dos trabalhadores e demonstra ser elemento formador da

    raiz do Direito do Trabalho.

    A proteo ao trabalho encontra-se fundada em garantias

    constitucionais, sejam a dignidade da pessoa humana e a valorizao do

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    trabalho, constados no art. 15da Constituio Da Repblica Federativa do

    Brasil. Sendo assim, o princpio da proteo inspira-se em um propsito de

    igualdade, com o objetivo de estabelecer um amparo preferencial a uma

    das partes: o trabalhador.

    Historicamente proteo teve suas primeiras reaes em um

    importante momento, a Revoluo Francesa, em 1789. Com ela, trouxe a

    autonomia de vontades nas relaes de subordinao, assim, permitia a

    explorao do trabalhador, enquanto as grandes revolues na indstria se

    consolidavam. Partindo desta premissa, criou-se a necessidade da

    interveno, em que pese liberdade buscada pela Revoluo Francesano assegurava a igualdade, permitindo que rapidamente o capital

    econmico se tornasse sobressalente e eminentemente opressor.

    Atualmente, a interveno fundar-se- no sistema econmico vigente

    e no somente por ele, mas na capacidade que possuem os Sindicatos ao

    representar suas categorias, delimitando condies seguras de trabalho.

    Segundo Rodriguez (2004), o princpio da proteo est ligado

    prpria razo de ser do Direito do Trabalho. Encontra fundamento em ser umdireito social que busca garantir a parte hipossuficiente da relao, no que

    tange a interpretao em favor do mais fraco quando da existncia do

    litgio. Ainda, com relao ao alcance, a proteo no constitui mtodo

    especial de interpretao, mas um princpio geral que inspira todas as

    normas de Direito do Trabalho e que deve ser levado em conta na sua

    aplicao.

    Ainda o mesmo autor cita a aplicao do princpio da proteo em

    diferentes desdobramentos. Segundo ele, existem trs formas distintas de

    expresso do princpio da proteo, a regra do indubio pro operrio; a regra

    da norma mais favorvel; e, a regra da condio mais benfica. Estas trs

    5 Art. 1: A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados eMunicpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como

    fundamentos: I a soberania; II a cidadania; III a dignidade da pessoa humana; IV osvalores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V o pluralismo poltico. Pargrafo nico:Todo o poder emanado do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos oudiretamente, nos termos desta Constituio.

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    regras, distintas entre si, mas resultado do mesmo princpio geral, sem

    subordinao ou derivao de uma em relao outra.

    J Sssekind (2002) cita alm dos trs anteriores, alguns sub-princpios

    aos quais chama de filhos legtimos do princpio da proteo como

    fundamentos jurdico-poltico e sociolgico deste, so eles: o princpio da

    primazia da realidade; o princpio da inalterabilidade do contrato em

    prejuzo do trabalhador; e, os princpios da integralidade e da

    intangibilidade.

    Inicialmente, a regra do indubio pro operrio claramente a

    aplicao favorvel a parte mais fraca, neste caso, o trabalhador, doregramento que faa diminuir a ntida diferena entre empregado e

    empregador, ou seja, pautado entre mais de uma interpretao, que

    sobressaia quela que beneficia o trabalhador.

    A regra da norma mais favorvel sustenta que, independentemente

    de hierarquia das normas trabalhistas, d-se preferncia quela que for mais

    favorvel ao trabalhador. A condio mais benfica, a prevalncia das

    condies que sejam mais vantajosas para o trabalhador.Por fim, a inalterabilidade dos contratos em prejuzo do trabalhador,

    decorre do art. 4686da CLT, que permite a alterao de contratos somente

    de mtuo acordo e quando no trouxer prejuzos ao trabalhador. Ainda, a

    integralidade e intangibilidade como maneira de proteo de salrios e

    descontos salariais, assegurando o trabalhador.

    O princpio da primazia da realidade significa que, em caso de

    discordncia entre o que ocorre na prtica e o que emerge de documentos

    ou acordos, deve-se dar preferncia ao primeiro, isto , ao que sucede no

    terreno dos fatos.

    Buscando a verdade real, a primazia da realidade acaba se

    mostrando realmente efetiva em comparao com contedos formais, em

    6 Art. 468. Nos contratos individuais de trabalho s lcita a alterao das respectivascondies por mtuo consentimento, e ainda assim desde que no resultem, direta ou

    indiretamente, prejuzos ao empregado, sob pena de nulidade da clusula infringente destagarantia. Pargrafo nico. No se considera alterao unilateral a determinao doempregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormenteocupado, deixando o exerccio de funo de confiana.

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    razo disso, o princpio da primazia da realidade tem um importante papel

    no mbito jurdico-trabalhista. Nesta senda, Barros (2011, p. 146)

    complementa:

    O princpio da primazia da realidade significa que as relaesjurdico-trabalhistas se definem pela situao de fato, isto , pelaforma como se realizou a prestao de servios, pouco importandoo nome que lhes foi atribudo pelas partes. Despreza-se a fico

    jurdica. sabido que muitas vezes a prestao de trabalhosubordinado est encoberta por meio de contratos de Direito Civil ouComercial.

    Ainda, neste sentido, coadunam os entendimentos de Maurcio

    Godinho Delgado, visto que, para ele, o princpio da primazia da realidade

    sobre a forma constitui-se em poderoso instrumento para a pesquisa e

    encontro da verdade real de uma situao de litgio trabalhista. O intrprete

    e aplicador do Direito deve investigar e aferir se a substncia da regra

    protetiva trabalhista foi atendida na prtica concreta efetivada entre as

    partes.

    Prevalecer sobre as formalidades ou aparncias significa dizer que

    para o Direito do Trabalho importa aquilo que ocorre no campo dos fatos,

    no somente aquilo que se encontra escrito em determinado documento,

    ou quando pactuado de maneira parcialmente solene. Sendo assim, os fatos

    primam sobre as formas. No necessrio analisar e pesar o grau de

    intencionalidade ou de responsabilidade de cada uma das partes. O que

    interessa determinar o que ocorre no terreno dos fatos, o que poderia ser

    provado na forma e pelos meios de que se disponham em cada caso.Porm, demonstrados os fatos, eles no podem ser contrapesados ou

    neutralizados por documentos ou formalidades.

    Uma relao de trabalho considerada um contrato de realidades,

    visto que, os fatos devem ser demonstrados como realmente ocorreram e

    no como os fatos esto dispostos na relao contratual. O princpio da

    primazia da realidade busca a verdadeira conotao das relaes

    trabalhistas e seu desenvolvimento prtico, sendo assim, procura desencobrir

    uma relao de trabalho encoberta em razo de um contrato de trabalho

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    ser um contrato-realidade, e os fatos gerados neste, so preferveis a

    qualquer formalidade, quando estas no representarem a verdadeira

    realidade trabalhista.

    3.3 CONSEQUNCIAS DA PEJOTIZAO

    A pejotizao frauda o Direito Trabalhista Brasileiro, visto que, cria ao

    empregado uma condio oposta ao que lhe garantido juridicamente.

    Frequentemente, empresas vm contratando trabalhadores como

    pessoas jurdicas, principalmente em trabalhos intelectuais, que normalmenteexigem maiores salrios, e consequentemente encargos trabalhistas

    significativos. A figura do trabalhador vem sendo mitigada. No h na

    relao entre empregado e empregador a recproca troca entre as

    riquezas, visto que, no ocorre a valorizao do trabalho. Em contrapartida

    apenas o corte de benefcios, o que se transforma em acmulo de capitais

    das empresas contratantes e a nada a melhorar aos empregados.

    A classe empregadora v positivamente o fenmeno da pejotizao.Aos mais favorecidos, a reduo da carga trabalhista torna a

    produo menos onerosa, neste contexto, produtos e servios podem ser

    gerados e consumidos com valor reduzido, o que na prtica no se

    consolida, j que toda diminuio de despesa, acaba sendo percebida

    como lucro e no repassada aos consumidores finais. Em um pas

    capitalista tais atitudes colocariam a economia ao desenvolvimento,

    alavancando o pas.

    Muitos so os motivos alegados para a prtica da pejotizao. Dentre

    eles esto o mercado de trabalho amplamente competitivo, que necessita

    de medidas para minimizar as discrepncias de mercado.

    A valorizao exacerbada do capital e das posies de mercado,

    somada ao incessante apelo ao consumismo globalizado, faz com que este

    empregador no assegure direitos oriundos da lei, tais como: FGTS, 13

    salrio, produtividade, frias, dentre outros. Ainda, a pejotizao reduziria

    custos significativos s empresas. O pagamento de muitos encargos

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    trabalhistas torna-se uma conta altssima a ser arcada, por isso, o mecanismo

    de contratao de pessoa jurdica reduziria em tese tamanho gasto mensal.

    A classe empregadora ressalta ainda que a pejotizao pode gerar

    benefcios aos empregados pejotizados. O trabalhador passa a ser uma

    figura mista, entre empregado e empresrio. A diminuio nos trmites

    burocrticos, diminuio de encargos para as empresas, a qualificao de

    empregados na empresa, em razo da necessidade de trabalho tcnico e

    por fim, a preservao das empresas.

    Este ltimo baseado na ideia de competitividade, ou seja, as empresas

    tendo menores despesas, em tese alcanariam o mercado com maiorfacilidade, aumentando a gerao de renda e a acumulao de capitais.

    No entanto, sobre as relaes de emprego vigem princpios que

    regulam o posicionamento dos entes pejotizados.

    O princpio da proteo presente para garantir os direitos inerentes

    pessoa do trabalhador, como forma de garantir a relao empregatcia, e

    mais que isso, fazer com que esta se estabelea em moldes

    verdadeiramente honestos. Ainda, a valorizao da pessoa humana, o

    trabalhador. E, a proteo das garantias do trabalho, constitucionalmente

    previstas no art. 1 da Constituio Federal.

    Ademais, o princpio da primazia da realidade, subsistindo a condio

    real do trabalhador ao pacto entre os relacionados, no intuito de garantir a

    verdadeira condio do trabalhador no seu exerccio funcional.

    Neste contexto, a pejotizao feriria a relao de emprego existente,

    quando pretende burlar a sua existncia e ainda os princpios aplicados as

    relaes trabalhistas, que acabam sendo mitigados. Neste sentido cita-se

    antecedente jurisprudencial do Tribunal Regional do Trabalho da 4 Regio:

    RECURSO ORDINRIO DO RECLAMANTE. RECONHECIMENTO DOVNCULO DE EMPREGO. "PEJOTIZAO". Demonstrada nos autos apresena de todos os requisitos caracterizadores da relao deemprego (habitualidade, pessoalidade, subordinao e

    onerosidade) durante o perodo de prestao de servios do autorem favor da r, impondo-se o reconhecimento do vnculo deemprego entre as partes. Sentena baseada precipuamente naregularidade formal do contrato de representao comercial, que se

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    reforma, tendo em vista evidenciar a prova produzida o fenmenoda "pejotizao", em notria burla legislao trabalhista. Incidnciado princpio da primazia da realidade. Recurso provido, com oretorno dos autos Origem para apreciao dos demais pedidos

    formulados na inicial. (Processo: 0132600-04.2009.5.04.0302 (RecursoOrdinrio). Relator: Alexandre Corra da Cruz. rgo Julgador:Segunda Vara do Trabalho de Novo Hamburgo. Data: 21/05/2012.Juiz Prolator: Paulo Andr de Frana Cordovil).

    Ainda, coaduna o entendimento do Tribunal Regional do Trabalho da

    7 Regio:

    PEJOTIZAO. VNCULO EMPREGATCIO. ART. 9 DA CLT. A atitude daempresa de substituir empregados com carteira assinada por

    pessoas jurdicas, formalizando contratos de prestao de serviosatravs dos quais esses continuam a prestar para aquela os mesmosservios que quando celetistas, constitui artifcio fraudulento,conhecido como "pejotizao", para se furtar da legislaotrabalhista e dos deveres dela decorrentes. Logo, de se confirmar anulidade declarada pelo juzo "a quo" dos contratos de prestao deservios acostados aos autos (art.9 da CLT), mantendo-se o"decisum" que reconheceu a existncia do vnculo de emprego entreas partes e as parcelas da decorrentes. [...] (Processo: 0000119-34.2011.5.07.0008 (Recurso Ordinrio). Relator: Jos Antonio Parenteda Silva. rgo Julgador: Terceira Turma. Data: 16/04/2012).

    Assim, pelos entendimentos dos Tribunais Regionais do Trabalho

    percebe-se o reconhecimento do fenmeno da pejotizao e por este

    reconhecimento, a desconsiderao da pessoa jurdica e caracterizao da

    relao de trabalho com todos os direitos trabalhistas garantidos as pessoas

    fsicas que compem a relao.

    4 CONCLUSO

    O modelo capitalista visando percepo de lucros gerou a

    mudana da realidade do Direito do Trabalho. Na medida em que a

    evoluo social se consolidava, novos mecanismos de trabalho vieram

    surgindo. A necessidade de criao de novos parmetros quando da

    desconstituio de alguns modelos como foi o regime de escravido, a

    economia agrcola e as novas realidades como a mecanizao, e nos diasatuais, a evoluo tecnolgica.

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    Na busca de adaptao das novas realidades de mercado e de

    capitais que surge a pejotizao.

    A utilizao de contrataes de trabalhadores como pessoas jurdicas

    para driblar a legislao trabalhista brasileira e evitar o pagamento de

    encargos sociais aos trabalhadores configura-se como meio fraudulento de

    contratao de mo de obra.

    A pejotizao atinge os princpios basilares do Direito do Trabalho,

    entre eles o princpio da proteo e o da primazia da realidade.

    Sendo assim, a aplicao destes princpios faz buscar um mecanismo

    para combaterem-se as fraudes trabalhistas, perpetradas em razo do

    fenmeno da pejotizao. A aplicao dos princpios desvenda a

    verdadeira relao de emprego, que foi ilidida em razo de um contrato de

    prestao de servios, em que determinada pessoa jurdica, empresa

    devidamente constituda vem prestar servios diretamente empresa

    contratante, ocorre que, desta possibilidade surgem s discrepncias e as

    irregularidades em que, aproveitadas as chances dadas pelo ordenamentojurdico, acaba por fraudar uma relao de emprego.

    Destarte, na anlise das relaes de emprego sob a gide dos

    princpios do Direito do Trabalho, conclui-se o entendimento no sentido de

    modalidade de caracterizao de fraude direta, relacionada relao

    trabalhista, com o objetivo de desobrigar-se ao pagamento de encargos

    decorrentes da relao de emprego.

    Ademais, salienta-se ainda, pelo reconhecimento do vnculo

    empregatcio nestes casos.

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    THE PEJOTIZAO AND CASUALIZATION OF LABOR RELATIONS IN BRAZIL AND

    THE RELATIONSHIP OF THE PRINCIPLES OF PROTECTION AND THE PRIMACY OF

    REALITY IN LABOR LAW

    ABSTRACT

    The study has the objective screen in the pejotizao process analysis, which

    is presented in hiring people for legal services that could be performed by

    individuals, seeking to rebut an employment relationship. In a brief analysis of

    the historical evolution of labor law, distinguishing the concepts of

    employment, showing the affinity between labor relations and instability of

    these relationships, derived from its tortuous evolution. As a result, the

    emergence of the phenomenon of pejotizao and the consequences of its

    application, forward the application principles of protection and the principle

    of the primacy of reality in Labor Law.

    Keywords: Pejotizao. Principle of Protection. Principle of Primacy of Reality.

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