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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE DIREITO PSICOLOGIA JURÍDICA PROFA. LUCIANA DE OLIVEIRA MARQUES MORTE E TERMINALIDADE DA VIDA por EDUARDO DA SILVA SCHNEIDER Pelotas, setembro de 2012.

Trabalho Sobre Morte e Terminalidade Da Vida Em

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE DIREITO

PSICOLOGIA JURÍDICA

PROFA. LUCIANA DE OLIVEIRA MARQUES

MORTE E TERMINALIDADE DA VIDA

por

EDUARDO DA SILVA SCHNEIDER

Pelotas, setembro de 2012.

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1

1.1 Alguns Conceitos Iniciais .................................................................................... 1

1.2 Definições de Eutanásia, Ortotanásia, Distanásia e Suicídio Assistido .............. 5

2. Alguns Aspectos Psicológicos .................................................................................... 6

2.1 Fases do Processo de Morrer............................................................................. 6

2.2 Luto e Luto Patológico ....................................................................................... 7

3. Alguns Aspectos Legais.............................................................................................. 9

3.1 Legislação Específica e Código de Ética ........................................................... 10

4. O Estudo de Caso .................................................................................................... 12

4.1 Características Clínicas do Paciente ................................................................. 12

4.2 Solução Legal Defendida .................................................................................. 12

4.3 Outro Caso Polêmico ....................................................................................... 13

5. Conclusões ............................................................................................................... 15

6. Referências Bibliográficas ....................................................................................... 16

7. Anexos ..................................................................................................................... 17

7.1 Resolução CFM nº 1.480/97 ............................................................................ 17

7.2 Reportagem do Jornal Zero Hora em 02/09/2012 .......................................... 19

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1. INTRODUÇÃO

“Deserves it! I daresay he does. Many that live deserve death. And some that die deserve life. Can you give it to them? Then do not be too eager to deal out death in judgement. For even

the very wise cannot see all ends.”

Gandalf em The Lord of the Rings – The Fellowship of the Ring

Nesse trabalho pretendemos estudar o tema Morte e Terminalidade da Vida bem como os aspectos psicológicos e legais relacionados. De forma a abordarmos os aspectos propostos, esse trabalho está organizado em seis capítulos: no capítulo 1, apresentamos sua estrutura e algumas definições pertinentes; no capítulo 2, abordaremos os aspectos psicológicos relacionados à morte e a terminalidade da vida, como quais são, comumente, as reações psicológicas apresentadas pelos pacientes terminais, familiares e profissionais envolvidos no processo; no capítulo 3, examinaremos alguns dos aspectos legais relacionados ao tema; no capítulo 4, analisaremos um estudo de caso (fictício) proposto, argumentando sobre a opção de um paciente terminal e suas implicações legais; no capítulo 5, apresentaremos uma breve conclusão e, finalmente, no capítulo 6, apresentaremos as referências bibliográficas consultadas e/ou citadas. Haja vista, não pretendemos de forma alguma exaurir todo o tema proposto dado a enorme quantidade de material bibliográfico disponível e vasta gama de aspectos que ainda são fonte de grande discussão.

1.1 Alguns Conceitos Iniciais

Podemos basear essa seção em duas perguntas:

O que é morte?

O que é terminalidade da vida?

Essas perguntas que parecem de simples resposta podem esconder um alto nível de abstração que tem se modificado e evoluído ao longo da história. Mesmo quando nos dispomos a responder a primeira pergunta, ou seja, “O que é a morte?”, e ainda que para responder essa pergunta possamos admitir somente uma análise do

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ponto de vista estritamente biológico, podemos encontrar várias respostas que, em um primeiro momento, parecem satisfatórias.

Segundo (FRANCISCONI 1997), podemos definir como morte o cessar irreversível do:

funcionamento de todas as células, tecidos e órgãos;

fluxo espontâneo de todos os fluídos, incluindo o ar e o sangue;

funcionamento do coração e pulmões;

funcionamento espontâneo de coração e pulmões;

funcionamento espontâneo de todo o cérebro, incluindo o tronco cerebral (morte encefálica);

funcionamento completo das neocórtex;

funcionamento quase completo do neocórtex;

ou da capacidade corporal da consciência.

Contudo, a história que cerca a definição ou, quem sabe, a redefinição do conceito de morte está estritamente ligada aos procedimentos de reversão da parada cardiorrespiratória e da utilização de ventilação pulmonar artificial. Ainda, com o advento das técnicas de transplantes de órgãos e tecidos e do conceito de morte celular, quando não se pode precisar o ponto de não retorno entre a vida e a morte dos tecidos, houve então a possibilidade de tratar a morte como um processo, uma sequência de eventos.

Figura 1 – Massagem cardiorrespiratória

Segundo (KIND 1999),

A história da redefinição da morte protagonizada em meados no século XX apresenta-se como composição em que, muitas vezes, as máquinas e práticas se anteciparam aos argumentos. Edificadas no pantanoso terreno da fronteira entre a vida e a morte, as práticas médicas que tornaram possíveis os transplantes de órgãos obrigaram a ciência a se justificar. (...)

Observa-se que do século XX em diante a medicina, com suas novas tecnologias, tem produzido mudanças radicais nos modos de morrer. A morte assistida, acompanhada por uma variedade de tubos, aparelhos, profissionais de saúde e medicamentos, tem sido o padrão 'americanizado' e internacional. Intimamente ligadas a esse novo cenário de morte estão as tecnologias médicas que levaram ao transplante de órgãos. Nesse contexto, o desenvolvimento dos respiradores artificiais e das unidades de terapia intensiva foi crucial

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para que o transplante de órgãos ganhasse viabilidade. Pretende-se apontar que o passo a passo da incorporação dessas tecnologias ao cotidiano dos procedimentos médicos foi acompanhado pelo desenvolvimento de concepções biológicas, filosóficas e jurídicas sobre o ser humano e por diversificado debate ético em que se rededesenhou o que é morte e o que é vida.

De uma forma bem resumida, podemos ilustrar uma evolução do conceito de morte através, primeiramente, da parada cardiorrespiratória, seguido da ideia de morte celular e, por último, da morte encefálica.

Figura 2 – Evolução resumida do conceito de morte

A morte encefálica adquiriu certo status excepcional, pois intimamente ligada a ela estão relacionadas as questões envolvendo os transplantes. No Brasil, sua regulamentação é dada pela Resolução CFM n◦ 1.480/97 do Conselho Federal de Medicina (Anexo 7.1). Dessa resolução podemos destacar os artigos 3 e 4 abaixo:

Art. 1º. A morte encefálica será caracterizada através da realização de exames clínicos e complementares durante intervalos de tempo variáveis, próprios para determinadas faixas etárias.

Art. 3º. A morte encefálica deverá ser consequência de processo irreversível e de causa conhecida.

Art. 4º. Os parâmetros clínicos a serem observados para constatação de morte encefálica são: coma aperceptivo com ausência de atividade motora supra-espinal e apneia.

Da mesma forma que o conceito de morte teve várias significações com o tempo, no estudo de Philippe Airès, apud (TORRES 1978), uma análise do comportamento do homem frente à morte é descrita. Nessa perspectiva, a autora enfatiza:

Philippe Airès, em sua análise histórica das atitudes do homem frente à morte, destaca, inicialmente, a morte familiar e humanizada, que se estende do período neolítico até o início do século XIII. Neste período, os homens ritualizam sem dramatizar e convivem fraternalmente com a morte. A partir do século XIII, a morte se transforma em um drama pessoal e solitário. A ênfase não se

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encontra mais em um julgamento final coletivo, ritualizado, mas em um julgamento final imediato, na hora da morte.

Essa percepção da morte sentida a partir do século XVIII e baseada na hora da morte, ou seja, foca do instante da morte passa também por uma grande revolução. Não suficiente toda a pressão do sentimento familiar, o progresso da medicina contribui para substituir, na consciência do homem, a morte pela doença, aquela passa a ser um processo que se desenvolve muito mais no ambiente hospitalar do que em casa. Neste contexto, podemos tratar um novo conceito: a terminalidade da vida.

Segundo (GUTIERRES 2001), a terminalidade da vida

é quando se esgotam as possibilidades de resgate das condições de saúde do paciente e a possibilidade de morte próxima parece inevitável e previsível. O paciente se torna "irrecuperável" e caminha para a morte, sem que se consiga reverter este caminhar.

Ainda segundo o autor,

Estudos na literatura tentam estabelecer índices de prognóstico e de qualidade de vida, procurando definir de forma mais precisa este momento da evolução de uma doença e tendo como preocupação o estabelecimento de novas diretrizes para o seguimento destes pacientes. Entretanto, estes trabalhos descrevem melhor aspectos populacionais e epidemiológicos, perdendo a especificidade quando aplicados em nível individual. Abre-se a perspectiva de discussão deste conceito caso a caso: um paciente é terminal em um contexto particular de possibilidades reais e de posições pessoais, sejam de seu médico, sua família e próprias. Esta colocação implica em reconhecer esta definição, paciente terminal, situada além da biologia, inserida em um processo cultural e subjetivo, ou seja, humano. (...)

Admitir que se esgotaram os recursos para o resgate de uma cura e que o paciente se encaminha para o fim da vida, não significa que não há mais o que fazer. Ao contrário, abre-se uma ampla gama de condutas que podem ser oferecidas ao paciente e sua família. Condutas no plano concreto, visando, agora, o alívio da dor, a diminuição do desconforto, mas, sobretudo, a possibilidade de situar-se frente ao momento do fim da vida, acompanhados por alguém que possa ouvi-los e sustente seus desejos. Reconhecer, sempre que possível, seu lugar ativo, sua autonomia, suas escolhas, permitir-lhe chegar ao momento de morrer, vivo, não antecipando o momento desta morte a partir do abandono e isolamento.

Nessa perspectiva podemos nos questionar, por exemplo, quais são as condutas a serem seguidas pela equipe médica, familiares e pelo próprio paciente, tanto no âmbito legal como no âmbito psicológico. Para analisar esses e outros aspectos nos valeremos dos capítulos 2 e 3.

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1.2 Definições de Eutanásia, Ortotanásia, Distanásia e Suicídio Assistido

Em face da grande polêmica e diversos posicionamentos envolvendo eutanásia, ortotanásia, distanásia suicídio assistido e, também, em virtude das mais variadas significações dadas a esses termos e seus correlatos, cabe, antes de qualquer coisa, fornecer algumas definições extraídas da literatura. Assim, podemos dizer que:

eutanásia consiste no ato deliberado de provocar a morte sem sofrimento do paciente, com fins misericordiosos. Normalmente executada por parente próximo da vítima e, em alguns casos, pelo médico que a acompanha;

ortotanásia consiste na suspensão do tratamento ou dos procedimentos que estão prolongando a vida de um doente terminal, com o objetivo de lhe abreviar a morte, sem sofrimento. Na maioria dos casos mantêm-se as medidas ordinárias, dentre as quais as que visam reduzir a dor, e suspendem-se as medidas extraordinárias ou as que estão dando suporte à vida;

distanásia consiste no prolongamento artificial do processo de morte, com sofrimento do doente. É uma ocasião em que se prolonga a agonia, artificialmente, mesmo que os conhecimentos médicos, no momento, não prevejam possibilidade de cura ou de melhora. É expressão da obstinação terapêutica pelo tratamento e pela tecnologia, sem a devida atenção em relação ao ser humano. Ao invés de se permitir ao paciente uma morte natural, prolonga-se sua agonia, sem que nem o paciente nem a equipe médica tenham reais expectativas de sucesso ou de uma qualidade de vida melhor para o paciente;

suicídio assistido consiste na facilitação ao suicídio do paciente, onde o agente, normalmente o médico ou parente próximo, põem ao alcance do enfermo terminal alguma droga fatal ou outro meio congênere.

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2. Alguns Aspectos Psicológicos

Ao abordarmos o tema Morte e Terminalidade da Vida, podemos voltar nossa atenção ao estudo e a análise dos aspectos psicológicos que se manifestam sobre o próprio paciente, sua família e equipe técnica que lhe fornece atendimento (médicos, enfermeiros, psicólogos, etc.).

2.1 Fases do Processo de Morrer

Trabalho pioneiro na identificação, descrição e classificação das atitudes e reações emocionais produzidas pela aproximação da morte em pacientes terminais foi desenvolvido pela pesquisadora Elizabeth Kübler-Ross. No seu livro Sobre a morte e o morrer, a pesquisadora descreve cinco estágios que o paciente pode vivenciar durante sua terminalidade. Os estágios são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Cabe ressaltar que não existe uma cronologia definida para a ocorrência desses estágios nos pacientes terminais bem como pode acontecer de um ou mais estágios serem vivenciados pelo paciente ao mesmo tempo ou não serem vivenciados. Segundo (SUSAKI, SILVA e POSSARI 2006),

Estas fases são como mecanismos de defesa para enfrentar o processo desconhecido do morrer, em que os conflitos de ordem emocional, material, psicológica, familiar, social, espiritual, entre outros, surgem de forma acentuada, afetando diretamente o relacionamento com a equipe de saúde.

Figura 3 – Fases do processo de morrer

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Ainda no trabalho supracitado encontramos uma descrição detalhada de cada um desses estágios.

A negação pode ser uma defesa temporária ou, em alguns, casos pode sustentar-se até o fim. O paciente desconfia de troca de exames ou competência da equipe de saúde. Geralmente o pensamento que traduz essa defesa é: "não, eu não, é verdade".

A raiva é a fase na qual surgem sentimentos de ira, revolta, e ressentimento: "porquê eu?". Torna-se mais difícil lidar com o paciente, pois a raiva se propaga em todas as direções, projetando-se no ambiente, muitas vezes, sem "razão plausível". Já na barganha o doente faz promessas por um prolongamento da vida ou alguns dias sem dor ou males físicos. As barganhas são feitas com Deus, na maioria das vezes e, psicologicamente, podem estar associadas a uma culpa recôndita.

A depressão pode evidenciar seu alheamento ou estoicismo, com um sentimento de grande perda. As dificuldades do tratamento e hospitalização prolongados aumentam a tristeza que, aliada a outros sentimentos, ocasionam a depressão.

A aceitação é aquela em que o paciente passa a aceitar a sua situação e seu destino. É o período em que a família pode precisar de ajuda, compreensão e apoio, à medida que o paciente encontra certa paz e o círculo de interesse diminui. No entanto, há pacientes que mantém o conflito com a morte, sem atingir esse estágio.

2.2 Luto e Luto Patológico

Da mesma forma que podemos observar reações psicológicas nos pacientes terminais frente à morte anunciada, podemos observar algumas reações nos familiares que os acompanham, não somente durante o processo de terminalidade, mas também após o falecimento do ente querido. Nesse sentido podemos dar uma maior atenção ao luto.

Mas, o que é o luto? Segundo (MELO 2006),

Em face de qualquer perda significativa, de uma pessoa ou até de um objeto estimado, desenrola-se um processo necessário e fundamental para que o vazio deixado, com o tempo, possa voltar a ser preenchido. Esse processo é denominado de luto e consiste numa adaptação à perda, envolvendo uma série de tarefas ou fases para que tal aconteça.

Outras definições de luto podem ser analisadas, contudo, cabe ressaltar que diversos autores concordam quanto à inevitabilidade desse processo. Mesmo sendo o luto um processo quase universal ele se processa diferentemente em cada indivíduo além de apresentar diferenças também para indivíduos de faixas etárias diferentes.

Vários sentimentos comuns estão relacionados ao processo de luto, como, por exemplo, tristeza, raiva, culpa, ansiedade, solidão, fadiga, desamparo, choque, anseio, emancipação, alívio e torpor.

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Ainda segundo (Worden 1991), apud (MELO 2006), para superar o processo de luto, quatro tarefas são essenciais:

aceitar a realidade da perda;

trabalhar a dor advinda da perda;

ajustar a um ambiente em que o falecido está ausente;

transferir emocionalmente o falecido e prosseguir com a vida.

Essas tarefas são importantes visto que, como o luto é um processo e não um estado, tal qual uma doença, pode ocorrer do luto ficar incompleto em algumas pessoas. Também não é fácil determinar quando esse processo está completo. Novamente, segundo (Worden 1991), o processo de luto termina quando as tarefas supracitadas são completadas.

Podemos ainda citar o luto patológico, nesse tipo de luto se verifica a severidade dos sintomas, características de uma fase inicial que se segue à perda, que acaba por se prolongar por um período de tempo superior ao habitual.

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3. Alguns Aspectos Legais

O Código Civil de 2002 institui no seu artigo 6º que

Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.

Assim, o ser humano deixa de existir, enquanto sujeito de direitos, com a morte. Contudo, esse mesmo código não conceitua ou deixa preciso, todavia, o que vem a ser o exato momento da morte. Assim, para efeitos legais, deve o operador do direito valer-se de conceitos extraídos da ciência médica para buscar a compreensão desse evento: a morte. Segundo (LISBOA 2002), com base em conceitos extraídos da medicina, se verifica "a morte real ou autêntica com a paralisação das atividades cerebrais, cardíacas e respiratórias em caráter definitivo, que faz com que o corpo (matéria) adquira o estado de rigidez cadavérica”.

Em um dos seus trabalhos, (QUEIROZ 2005) sumariza:

Atualmente, o entendimento de que a morte real – ou a morte encefálica – ocorre com a cessação das atividades cerebrais, cardíacas e respiratórias está baseado no texto da Resolução n° 1.480/97 do Conselho Federal de Medicina, editada a partir do mandamento inserto no artigo 3° da Lei 9.434/97, que, por sua vez, dispõe sobre a retirada de órgãos, tecidos e partes do corpo humano post mortem para fins de transplante e tratamento. Assim, segundo o artigo 4° da Resolução n° 1.480/97 do Conselho Federal de Medicina, os critérios definidores da morte encefálica são "coma aperceptivo com ausência de atividade motora supra-espinal e apneia". De qualquer sorte, a morte encefálica, para tais finalidades e após os devidos exames clínicos, somente pode ser atestada por profissional da área médica, em documento intitulado "termo de declaração de morte encefálica", na dicção do artigo 2° da mesma Resolução.

Todavia, vale ponderar, com apoio na sempre autorizada lição de Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barbosa e Maria Celina Bodin de Moraes, que o próprio avanço da ciência médica parece indicar ser inviável a determinação de um momento exato em que ocorreria a morte, eis que, na verdade, se trataria de uma sequência de acontecimentos sucessivos e inevitáveis: "Do mesmo modo como se questiona o nascimento da pessoa natural, que não se daria em um abrupto momento, mas sim em decorrência de um desenrolar de acontecimentos, a morte também a ser cada vez mais encarada sob este prisma, que a vê como um processo e não como um fato que se esgota um único ato.".

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Assim, podemos observar que mesmo um conceito tradicional instituído pela ciência jurídica pode ser insuficiente à solução das controvérsias sociais. Neste caso, o conceito de morte se modifica em decorrência da própria evolução da ciência médica. Dessa forma, ganha vulto a discussão de ideias no campo da bioética. Segundo Vicente Barreto, apud (QUEIROZ 2005),

O progresso científico e suas aplicações tecnológicas provocaram o surgimento de um complexo e intrincado conjunto de relações sociais e jurídicas, que envolvem valores religiosos, culturais e políticos diferenciados e, também, a construção em torno dessas pesquisas de poderosos interesses econômicos que se refletem na formulação de políticas públicas. As questões éticas suscitadas pela ciência biológica contemporânea referem-se, em primeiro lugar, às interrogações feitas pela consciência do indivíduo diante dos novos conhecimentos, e, também, como estes conhecimentos materializados em tecnologias repercutem na sociedade.

Este conjunto de relações pode ser analisado, do ponto de vista ético, sob dois aspectos distintos: em primeiro lugar, considerando que o mais novo ramo da filosofia moral – a bioética – constitui uma fonte e parâmetro de referência, tanto para o cientista, como para o cidadão comum. Em segundo lugar, procurando-se estabelecer quais os princípios racionais, que fundamentam a bioética e como esses princípios servem de parâmetros éticos na formulação de políticas públicas, que encontrarão nas normas jurídicas a sua formalização final.

Portanto, necessário, pois, que, para a compreensão dos novos fenômenos decorrentes da evolução das ciências da vida, a ciência do direito conte com o auxílio de esclarecimentos técnicos, adequando-os e ponderando-os à luz dos princípios que informam o sistema jurídico.

3.1 Legislação Específica e Código de Ética

No Brasil, a eutanásia é tipificada como homicídio privilegiado pelo Código Penal. O artigo 121º determina

Art. 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Caso de diminuição de pena:

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

O suicídio assistido, por sua vez, é considerada crime de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio:

Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:

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Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.

O Código de Ética Médica, por sua vez, estabelece que:

Art. 6º. O médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana, atuando sempre em benefício do paciente. Jamais utilizará seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade.

É vedado ao médico: (...)

Art. 66. Utilizar, em qualquer caso, meios destinados a abreviar a vida do paciente, ainda que, a pedido, deste ou de seu responsável legal.

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4. O Estudo de Caso

Nessa parte do trabalho, vamos supor um paciente que, pensando na possibilidade de chegar a um estágio de terminal de doença, deixa expresso seu desejo de finalizar sua vida através de suicídio assistido.

4.1 Características Clínicas do Paciente

Vamos basear nosso estudo de caso (fictício) em um paciente do sexo masculino com 72 anos, aqui chamado de João. Ele é portador de melanoma há cinco anos e já se submeteu a múltiplas sessões de quimioterapia e radioterapia sendo que há quatro meses está sem condições de se submeter a esses tratamentos; também passou por múltiplas retiradas de metástases tumorais (globo ocular, segmento do intestino, metástases na pele e cérebro). Atualmente, utiliza sonda para alimentação além de se valer de doses elevadas de analgésicos do tipo morfina de duas em duas horas para controle da dor (em função das metástases ósseas). Apresenta-se grande parte do tempo sonolento ou, quando acordado, confuso. Além disso, apresenta convulsões apesar de medicado. A esse quadro somam-se existência de secreção e dificuldade respiratória apesar do uso contínuo de oxigênio e antibióticos e edema de membros superiores e inferiores, sangramentos e mau cheiro nas lesões cutâneas.

4.2 Solução Legal Defendida

Conforme preâmbulo do caso, o Sr. João, deixa expresso por escrito seu desejo de término de vida se utilizando de um suicídio assistido. No suicídio assistido, a morte não depende de forma direta da ação do terceiro (geralmente, o médio ou familiar). Ele ocorre por ato do próprio paciente, que pode ser orientado, auxiliado ou observado pelo terceiro.

Sr. João havia manifesta este desejo visto o longo período de tratamento que já havia se submetido e em função dos diversos procedimentos cirúrgicos por os quais passara. Além disso, sabendo da possível evolução de sua doença (melanoma) e que essa poderia com o tempo comprometer suas capacidades mentais e lhe infligir dor, sofrimento e constrangimento, ele acredita que uma forma de manter sua dignidade

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como ser humano é cometer um suicídio assistido. Nesse sentido esclarece Roxana Borges: “A concepção de dignidade humana que nós temos liga-se à possibilidade de a pessoa conduzir sua vida e realizar sua personalidade conforme sua própria consciência, desde que não sejam afetados direitos de terceiros. Esse poder de autonomia também alcança os momentos finais da vida da pessoa”.

Parece que o conceito de morte digna é constitucionalmente admissível. Segundo Luis Flávio Gomes,

Havendo justo motivo ou razões fundadas, não há como deixar de afastar a tipicidade material do fato (por se tratar de resultado jurídico não desvalioso). Essa conclusão nos parece válida seja para a ortotanásia, seja para a eutanásia, seja para a morte assistida, seja, enfim, para o aborto anencefálico. Em todas essas situações, desde que presentes algumas sérias, razoáveis e comprovadas condições, não se dá uma morte arbitrária ou abusiva ou homicida (isto é, criminosa).

Além disso, na morte digna podemos dizer que não existe resultado jurídico negativo visto que essa morte não pode ser classificada como desarrazoada ou reprovável. Nesse sentido, o bem jurídico vida é ponderado em face de outros valores constitucionais igualmente básicos, tais como a dignidade da pessoa humana (expresso no Art. 1º da Constituição), a liberdade e a autodeterminação (expresso no Art. 5º da Constituição). Sendo assim, fundamentado o pedido do Sr. João.

4.3 Outro Caso Polêmico

Reportagem do Jornal Estadão de 23 de agosto de 2012.

Morte de britânico após parar de comer encerra caso, mas não polêmica sobre eutanásia

A polícia britânica anunciou que não abrirá inquérito para investigar a morte de Tony Nicklinson, que sofria da síndrome do encarceramento e morreu na quarta-feira, segundo a família, após parar de comer por vários dias e contrair pneumonia. A decisão encerra a trágica jornada do britânico, mas o caso continua alimentado a polêmica sobre o suicídio assistido no país.

Ao se referir a uma das poucas saídas "legais" à disposição de Tony Nicklinson, parar de comer, o jornal The Times escreveu que ele havia implorado para não ter de seguir o "caminho cruel e árduo da inanição".

"Este caso aterrorizador deveria levar os deputados a criar a "Lei de Nicklinson" para dar a outros a opção legal pela qual ele suplicou", disse o jornal Independent.

"Chegou a hora de conversar sobre a morte", conclui um editorial no jornal The Guardian.

Tony Nicklinson, de 58 anos, travava uma batalha legal pelo direito ao suicídio assistido. Pelas regras atuais da Grã-Bretanha, médicos ou parentes que ajudarem alguém a se matar podem ser acusados de homicídio.

Nicklinson ficou paralisado do pescoço para baixo após sofrer um derrame durante uma viagem de negócios à Grécia em 2005. Suas faculdades mentais continuaram intactas, e o britânico se transformou em um ativista pelo direito de doentes terminais ou de pessoas em situação semelhante à sua de morrer com auxílio de médicos.

Em um artigo escrito para a BBC, Nicklinson disse viver um pesadelo. A impossibilidade física de se matar o condenava "a uma 'vida' de sofrimento crescente", segundo ele.

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A opção de parar de comer já havia sido apresentada pela família durante a entrevista coletiva concedida após a derrota na Justiça britânica de seu pedido de suicídio assistido na semana passada.

Na ocasião, o britânico, que se comunicava com piscadas de olhos por meio de um computador especial, chorou, enquanto sua esposa, Jane, explicava aos repórteres presentes que Nicklinson considerava apelar da decisão, mas também contemplava a inanição.

Sofrimento

Segundo a advogada da família, Saimo Chahal, a família dispunha de uma medida legal que impedia que ele recebesse cuidados médicos que prolongassem sua vida.

"Jane me disse que Tony piorou rapidamente desde o fim de semana, tendo contraído pneumonia... e também recusava comida desde a semana passada", disse a advogada em declarações à imprensa.

"Jane disse que, após Tony receber a decisão judicial negativa, ele pareceu entregar os pontos", completou.

A morte encerra mais um capítulo da polêmica questão do suicídio assistido, mas o sofrimento de Nicklinson e de sua família deve alimentar o debate sobre mudanças na lei, segundo Penney Lewis, especialista em Direito do Centro de Direito Médico e Ética do King's College, em Londres.

Na decisão da semana passada, referente ao caso de Nicklinson, a Justiça negou o pedido, considerando que a lei britânica é clara ao considerar a eutanásia um crime de homicídio.

Isso porque Nicklinson não seria capaz de ingerir sozinho drogas letais, mesmo que elas fossem preparadas por outra pessoa. Ou seja, sua morte teria de ser decorrente de um ato praticado por alguém.

Quantidade x Qualidade

Na ocasião, um dos juízes afirmou que uma decisão favorável a Nicklinson "teria tido consequências muito além dos casos atuais". "Ao fazer o que Tony (Nicklinson) quer, a corte estaria promovendo uma grande mudança na lei. E não cabe à corte decidir se a lei sobre morte assistida deve ser mudada. Segundo nosso regime, isso é um assunto para o Parlamento", afirmou o juiz.

Lauren, uma das duas filhas de Nicklinson, afirmou que a família continuaria lutando para que seu pai tivesse "uma morte sem dor e em paz". E rejeitou os argumentos dos críticos da eutanásia, dizendo que "a vida não deveria ser medida apenas em quantidade, mas em qualidade".

Pelo Twitter, na manhã de quarta-feira, Beth, a outra filha de Nicklinson, disse que, antes de morrer, ele pediu que o microblog fosse atualizado com a mensagem: "Adeus, mundo, minha hora chegou. Eu me diverti".

Sua filha Beth escreveu pelo microblog que "não poderia ter pedido um pai melhor, tão forte. Você agora está em paz, e nós ficaremos bem". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Mais sobre o tema na impressa pode ser verificado, como por exemplo, na reportagem do Jornal Zero Hora de 02 de setembro de 2012 (Anexo 7.2).

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5. Conclusões

Durante a feitura desse trabalho foi possível descobrir e aprofundar uma grande variedade de aspectos relacionados ao tema Morte e Terminalidade da Vida. Nesse sentido, cabe ressaltar a evolução do conceito de morte, que passa desde uma concepção focada no findar dos batimentos cardíacos (momento da morte) até a questão de morte encefálica (para fins de transplante de órgãos e tecidos) e por último, em outra análise, por tratar-se de um processo, como nos casos de doença terminal. Como observado por muitos autores, essa evolução não é gratuita, mas decorrência de uma evolução nos campos da medicina e tecnologia de suporte a vida associadas a mudanças nos contextos sócio-econômico-culturais que a humanidade (estamos falando da sociedade ocidental) ao longo dos anos. É claro que essas mudanças abrem novos horizontes para o entendimento de novos aspectos legais e psicológicos associados.

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6. Referências Bibliográficas

FRANCISCONI, C. F. "Definições de morte." 1997. Disponível em: http://www.bioetica.ufrgs.br/morte.htm> (acesso em 10/09/2012).

GUTIERRES, P. L. “O que é o paciente terminal?” Rev. Assoc. Med. Bras. [online], 2001: 92-92. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

42302001000200010&lng=en&nrm=iso> (acesso em 10/09/2012)

KIND, L. “Máquinas e argumentos: das tecnologias de suporte da vida à definição de morte cerebral.” Hist. cienc. saude-Manguinhos [online] 16 (1999): 13-34.

LISBOA, R. S. Manual de Direito Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.

MARTINS, M. S. M. “Direito à morte digna: eutanásia e morte assistida.” Jus Navigandi [online], 2010. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/18008> (acesso em 10/09/2012)

MELO, R. “Processo de luto: o inevitável percurso face a inevitabilidade da morte.” 2006.

QUEIROZ, V. S. “Reflexões acerca da equiparação da anencefalia à morte encefálica como justificativa para a interrupção da gestação de fetos anencefálicos.” Jus Navigandi [online], 2005. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/7111>

(acesso em 10/09/2012)

SUSAKI, T. T., M. J. P SILVA, e J. F. POSSARI. “Identificação das fases do processo de morrer pelos profissionais de Enfermagem.” Acta Paulista de Enfermagem [online], 2006: 144-149. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-

21002006000200004&script=sci_arttext> (acesso em 10/09/2012)

TORRES, W. C. “O Conceito de morte em diferentes níveis de desenvolvimento cognitivo: uma abordagem preliminar.” Rio de Janeiro, 1978.

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7. Anexos

7.1 Resolução CFM nº 1.480/97

O Conselho Federal de Medicina, no uso das atribuições conferidas pela Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto nº 44.045, de 19 de julho de 1958 e,

CONSIDERANDO que a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que dispõe sobre a retirada de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento, determina em seu artigo 3º que compete ao Conselho Federal de Medicina definir os critérios para diagnóstico de morte encefálica;

CONSIDERANDO que a parada total e irreversível das funções encefálicas equivale à morte, conforme critérios já bem estabelecidos pela comunidade científica mundial;

CONSIDERANDO o ônus psicológico e material causado pelo prolongamento do uso de recursos extraordinários para o suporte de funções vegetativas em pacientes com parada total e irreversível da atividade encefálica;

CONSIDERANDO a necessidade de judiciosa indicação para interrupção do emprego desses recursos;

CONSIDERANDO a necessidade da adoção de critérios para constatar, de modo indiscutível, a ocorrência de morte;

CONSIDERANDO que ainda não há consenso sobre a aplicabilidade desses critérios em crianças menores de 7 dias e prematuros,

RESOLVE:

Art. 1º. A morte encefálica será caracterizada através da realização de exames clínicos e complementares durante intervalos de tempo variáveis, próprios para determinadas faixas etárias.

Art. 2º. Os dados clínicos e complementares observados quando da caracterização da morte encefálica deverão ser registrados no "termo de declaração de morte encefálica", anexo a esta Resolução.

Parágrafo único. As instituições hospitalares poderão fazer acréscimos ao presente termo, que deverão ser aprovados pelos Conselhos Regionais de Medicina da sua jurisdição, sendo vedada a supressão de qualquer de seus itens.

Art. 3º. A morte encefálica deverá ser consequência de processo irreversível e de causa conhecida.

Art. 4º. Os parâmetros clínicos a serem observados para constatação de morte encefálica são: coma aperceptivo com ausência de atividade motora supra-espinal e apneia.

Art. 5º. Os intervalos mínimos entre as duas avaliações clínicas necessárias para a caracterização da morte encefálica serão definidos por faixa etária, conforme abaixo especificado:

a) de 7 dias a 2 meses incompletos - 48 horas

b) de 2 meses a 1 ano incompleto - 24 horas

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c) de 1 ano a 2 anos incompletos - 12 horas

d) acima de 2 anos - 6 horas

Art. 6º. Os exames complementares a serem observados para constatação de morte encefálica deverão demonstrar de forma inequívoca:

a) ausência de atividade elétrica cerebral ou,

b) ausência de atividade metabólica cerebral ou,

c) ausência de perfusão sangüínea cerebral.

Art. 7º. Os exames complementares serão utilizados por faixa etária, conforme abaixo especificado:

a) acima de 2 anos - um dos exames citados no Art. 6º, alíneas "a", "b" e "c";

b) de 1 a 2 anos incompletos: um dos exames citados no Art. 6º , alíneas "a", "b" e "c". Quando optar-se por eletroencefalograma, serão necessários 2 exames com intervalo de 12 horas entre um e outro;

c) de 2 meses a 1 ano incompleto - 2 eletroencefalogramas com intervalo de 24 horas entre um e outro;

d) de 7 dias a 2 meses incompletos - 2 eletroencefalogramas com intervalo de 48 horas entre um e outro.

Art. 8º. O Termo de Declaração de Morte Encefálica, devidamente preenchido e assinado, e os exames complementares utilizados para diagnóstico da morte encefálica deverão ser arquivados no próprio prontuário do paciente.

Art. 9º. Constatada e documentada a morte encefálica, deverá o Diretor-Clínico da instituição hospitalar, ou quem for delegado, comunicar tal fato aos responsáveis legais do paciente, se houver, e à Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos a que estiver vinculada a unidade hospitalar onde o mesmo se encontrava internado.

Art. 10. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação e revoga a Resolução CFM nº 1.346/91.

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7.2 Reportagem do Jornal Zero Hora em 02/09/2012