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Este trabalho tem a intenção de trazer o cerne do conceito de objeto entre os principais autores da teoria psicanalista: Freud, Klein, Winnicott e Bion. O conceito de objeto, foi adquirindo na psicanálise uma importância muito grande e com a mesma intensidade desde o início até os dias hodiernos. O esclarecimento do papel do objeto é imprescindível para a definição do sujeito no estudo psicanalítico. Trata-se, assim sendo, de um nicho teórico chave para dar fundamentos ao esquema referencial, mesmo considerando seu grau de complexidade. Nos textos referenciais de Freud, torna evidente que existe um registro extensamente variado do conceito. Para ele, o objeto pode ser considerado qualquer elemento, ação ou expressão que permita a satisfação da finalidade de origem, ou seja, na teoria psicanalítica ortodoxa, Freud relaciona o objeto a algo que só tem sentido enquanto relacionado à pulsão e ao inconsciente e não na esfera da consciência. Assim, o objeto torna-se um meio para o foco da satisfação, podendo esse objeto ser uma pessoa, objeto ou atividade, real ou imaginário. Freud introduziu a noção de objeto a partir de um dos seus conceitos fundamentais, o conceito de pulsão, que segundo ele tinha uma base bem real, ou seja, uma fonte de excitação situada nos principais orifícios do corpo (boca, ânus), ou seja, a fase oral e a anal, respectivamente. Evidencia-se que o seio (a mãe) é essencial para marcar o grau de satisfação obtida com os objetos posteriores; o falo (o pai) é fundamental para marcar a direção que seguirá e o valor que terá essa satisfação, desse modo, em direção a que objetos se orientarão e suas implicações culturais advindas dessa escolha. Entre os quatro elementos que, segundo Freud, constituem a pulsão, o objeto seria justamente o componente mais contingente, variável e, sobretudo, substituível. Estas características o diferenciam do objeto biológico do instinto, que é fixo e hereditariamente determinado, fazendo parte de uma montagem orgânica da qual depende a sobrevivência do indivíduo. Ora, o objeto da pulsão não é organicamente predeterminado, mas é de certo modo

Trabalho Sobre Objeto

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A visão de objeto dos principais teóricos da psicanálise.

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Este trabalho tem a intenção de trazer o cerne do conceito de objeto entre os principais autores da teoria psicanalista: Freud, Klein, Winnicott e Bion.

O conceito de objeto, foi adquirindo na psicanálise uma importância muito grande e com a mesma intensidade desde o início até os dias hodiernos.

O esclarecimento do papel do objeto é imprescindível para a definição do sujeito no estudo psicanalítico. Trata-se, assim sendo, de um nicho teórico chave para dar fundamentos ao esquema referencial, mesmo considerando seu grau de complexidade.

Nos textos referenciais de Freud, torna evidente que existe um registro extensamente variado do conceito. Para ele, o objeto pode ser considerado qualquer elemento, ação ou expressão que permita a satisfação da finalidade de origem, ou seja, na teoria psicanalítica ortodoxa, Freud relaciona o objeto a algo que só tem sentido enquanto relacionado à pulsão e ao inconsciente e não na esfera da consciência. Assim, o objeto torna-se um meio para o foco da satisfação, podendo esse objeto ser uma pessoa, objeto ou atividade, real ou imaginário.

Freud introduziu a noção de objeto a partir de um dos seus conceitos fundamentais, o conceito de pulsão, que segundo ele tinha uma base bem real, ou seja, uma fonte de excitação situada nos principais orifícios do corpo (boca, ânus), ou seja, a fase oral e a anal, respectivamente. Evidencia-se que o seio (a mãe) é essencial para marcar o grau de satisfação obtida com os objetos posteriores; o falo (o pai) é fundamental para marcar a direção que seguirá e o valor que terá essa satisfação, desse modo, em direção a que objetos se orientarão e suas implicações culturais advindas dessa escolha.

Entre os quatro elementos que, segundo Freud, constituem a pulsão, o objeto seria justamente o componente mais contingente, variável e, sobretudo, substituível. Estas características o diferenciam do objeto biológico do instinto, que é fixo e hereditariamente determinado, fazendo parte de uma montagem orgânica da qual depende a sobrevivência do indivíduo. Ora, o objeto da pulsão não é organicamente predeterminado, mas é de certo modo constituído, construído através das experiências de satisfação, dos traumas e das vicissitudes atravessadas pela criança nos primeiros anos de vida. Uma das características mais paradoxais deste objeto, porém, é que Freud o define desde o começo de sua trajetória como um objeto perdido. Mais tarde, por exemplo, no seu artigo sobre A Negação, Freud define a relação sui generis que o objeto tem com o real. Nesse artigo ele define o princípio de realidade como uma função psíquica que permite ao sujeito buscar na realidade um objeto perdido. A partir do traço mnésico deixado no inconsciente pela experiência de satisfação, o sujeito alucina o objeto tal qual existe na memória inconsciente.

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Em geral, Freud se refere a objetos que são na realidade representações psíquicas. Assim, o movimento a que se refere à noção pulsional deve ser considerado um movimento interno ao psiquismo.

Não obstante, para outra autora contemporânea, Melanie Klein, a noção de objeto advém durante o período inicial da vida. A mente infantil funciona basicamente através de fantasia inconsciente, a qual suplementa o pensamento racional enquanto este não estiver desenvolvido. Este funcionamento mental provoca ansiedades e angústias diversas, as quais estão relacionadas ao caráter destas fantasias primitivas, dotadas de conteúdos delirantes. Como exemplo, podem ser mencionadas as fantasias da criança de que o objeto externo – seio, nos primeiros meses de vida – é mau e persecutório, já que não a gratifica sempre que ela deseja. Esta frustração, por sua vez, ocasiona explosões agressivas por parte da criança, pois ela precisa se vingar deste seio ruim. Para realizar esta vingança, a criança utiliza todas as armas disponíveis, tais como os dentes, unhas, e até mesmo excreções. O controle dos esfíncteres que, concomitantemente, está ocorrendo neste período, é usado também para o controle dos excrementos nos ataques à mãe. A criança sente como se estivesse expelindo um objeto perigoso de seu mundo interno e projetando–o no objeto externo.

Concomitantemente, também existe a imagem de um seio bom, o qual atende a todas as necessidades da criança. Esta divisão do seio é necessária para a proteção deste seio bom, pois, desta forma, todos os ataques agressivos são dirigidos ao seio mau, preservando o bondoso. O seio mau é então sentido, nas fantasias infantis, como se estivesse dilacerado, reduzido a fragmentos; enquanto o bom permanece íntegro, completo.

Em síntese, a teorização kleiniana aponta para diversas funções da fantasia, sempre baseada nas relações objetais, como: proteger o objeto bom e mantê–lo distinto do mau; manter um refúgio para a dura realidade imposta pelo mundo externo, preservando os objetos bons dentro do "eu".

Outro autor moderno, que muito contribuiu para revolucionar a concepção atual do objeto da Psicanálise, foi Winnicott. Sua invenção do objeto transicional foi o ponto de partida para uma nova tomada de posição do psicanalista no tratamento, graças a uma concepção criacionista do objeto, na qual o analista desempenha uma função de agente ativo e partilha com o analisando um campo a ser descoberto e produzido por ambos. Este campo, também chamado de transicional, implica que o objeto é não um dado, mas um achado do tratamento analítico.

É a função de apresentação do seio ou da mamadeira. Em razão de seu estado vital a criança passa a “esperar” algo, e esse algo surge e ele, naturalmente, aceita o objeto oferecido. É nesse momento que o bebê tem a ilusão de ter “criado” esse objeto para a sua satisfação. Ele estava quase imaginando-o quando o objeto surgiu. É com esta “ilusão” que

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o bebê tem uma experiência de onipotência. Ou seja, é como se o objeto adquirisse existência real quando desejado e esperado. À medida que a mãe vai sempre estando à sua disposição esta ilusão vai sendo reforçada e, ao mesmo tempo, protegendo-o de fontes de angústia que seriam insuportáveis.

Logo após esse período, é tarefa da mãe desiludir a criança, não atendendo tudo tão prontamente. Ou seja, a mãe, progressivamente, começa a fazer com que a criança suporte algumas frustrações. De confrontos em confrontos, o desenvolvimento do ego da criança será facilitado e ela passa a esperar certas atitudes que anteriormente queria na hora.

Na desilusão, os objetos transicionais são fundamentais. Eles são, a primeira possessão não-eu. Ou seja, são objetos, geralmente macios, que o bebê adota e faz o uso que quiser. São chamados de transicionais, pois estariam no espaço entre o mundo interno e o externo, sendo os dois ao mesmo tempo e fazendo parte dos dois. É uma etapa importante, pois indica que o bebê está prestes a lidar com a separação da mãe, saindo de um estado uno em relação a ela e percebendo o mundo de fora, sem deixar de manter um elo entre os dois mundos.

Já Bion, introduz a noção de que é necessária uma distinção entre elementos do pensamento e os pensamentos propriamente ditos. Para ele, “o pensar é um desenvolvimento forçado sobre o psiquismo, pela pressão dos elementos dos pensamentos, e não o contrário”.

Na realização positiva há uma confirmação de que o objeto necessitado está realmente presente e atende às suas necessidades. Na realização negativa, o lactante não encontra um seio disponível para a satisfação e essa ausência é vivenciada como a presença de um seio ausente e mau dentro dele.

Para o autor todo objeto necessitado, em princípio, é sentido como sendo mau porque se ele o necessita é porque não tem posse dele; logo, esses objetos são maus porque a sua privação provoca muito sofrimento. Se a capacidade inata do ego para tolerar as frustrações for suficiente, a experiência do “não seio” torna-se um elemento do pensamento (protopensamento) e se desenvolve um aparelho psíquico para “pensá-lo”. Se a capacidade inata para tolerar as frustrações for insuficiente, o “não seio” – mau -, deve ser evadido e expulso pelo emprego de maciças identificações projetivas.

As experiências de realização negativa são inerentes e indispensáveis à vida humana, e elas podem seguir dois modelos de desenvolvimento:

Se o ódio resultante da frustração não for excessivo à capacidade do ego do lactante em suportá-lo, o resultado será uma sadia formação do pensamento, através da “função α”, a qual integra as sensações e as emoções.

A função α é a primeira que existe no aparelho psíquico e é ela quem vai transformar as sensações e as primeiras experiências emocionais em elementos α.

Apesar de haver algumas divergências entre as teorias, é inegável a sua convergência centrada na presença do objeto como linha de base do escopo para a formação da personalidade do indivíduo.

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Fontes: 

https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/winnicott-principais-conceitos   http://www2.uol.com.br/percurso/main/pcs02/artigo0218.htm http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-

432X2007000200005 https://estudosqualitativos.wordpress.com/clinica-psicanalitica/principais-conceitos-

de-winnicott-j-nasio/ https://periodicos.set.edu.br/index.php/fitsbiosaude/article/viewFile/856/606

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O CONCEITO DE OBJETO PARA OS PRINCIPAIS AUTORES DA

PSICANÁLISE

Cláudia Bonilha Massuela