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SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA DE PRESIDENTE PRUDENTE OSVALDO RAFAEL FRUTUOZO DA SILVA A TEOLOGIA DO TEÍSMO ABERTO

Trabalho Teísmo Aberto

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA DE PRESIDENTE PRUDENTE

OSVALDO RAFAEL FRUTUOZO DA SILVA

A TEOLOGIA DO TEÍSMO ABERTO

Presidente PrudenteOutubro de 2012

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OSVALDO RAFAEL FRUTUOZO DA SILVA

A TEOLOGIA DO TEÍSMO ABERTO

Trabalho apresentado ao Curso Superior de Bacharel em Teologia do Seminário Teológico Batista de Presidente Prudente, como parte dos pré-requisitos para obtenção da média bimestral da disciplina Teologia Sistemática II.

PROFESSOR: PR. WHITSON RIBEIRO DA ROCHA

Presidente PrudenteOutubro de 2012.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................3

2 A ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO TEÍSMO ABERTO..................................4

3 O QUE O TEÍSMO ABERTO PROPÕE?.................................................................7

4 PROBLEMAS DO TEÍSMO ABERTO....................................................................11

5 CONCLUSÃO.........................................................................................................15

BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................17

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1 INTRODUÇÃO

Desde o momento em que Deus se revela ao

homem, Ele demonstra possuir atributos como a imutabilidade,

onipotência, onisciência e onipresença. É possível encontrar

diversos textos nas Escrituras Sagradas que atestam este fato,

como em Isaías 45:6-7, que diz: Para que se saiba, desde o

nascente do sol até o poente, que além de mim não há outro; eu sou

o SENHOR, e não há outro. Eu formo a luz e crio as trevas; faço a

paz e crio o mal; eu sou o SENHOR que faço todas estas coisas.

O Credo Apostólico, desenvolvido nos primeiros

séculos da Igreja, já em seu início declara esta certeza, dizendo:

“Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra.”

A despeito da maioria dos cristãos crerem que Deus

tem todo o poder, conhece todas as coisas, e por estar acima do

tempo conhece passado, presente e futuro, têm surgido nas últimas

décadas no contexto cristão, interpretações diferentes acerca destes

dois atributos de Deus.

Um destes movimentos teológicos que questionam a

onipotência e onisciência de Deus é o chamado Teísmo Aberto, a

qual este presente trabalho pretende apresentar; explanando acerca

de sua origem, suas proposições e os problemas decorrentes da

visão aberta.

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2 A ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO TEÍSMO ABERTO

Embora muitas ideias do movimento do Teísmo

Aberto não serem recentes, a sua origem aconteceu recentemente,

na década de 90.

Acerca do contexto da origem da teologia do Teísmo

Aberto, Daniel explana que:

O Teísmo Aberto surgiu em meio ao debate entre duas correntes teológicas: o arminianismo e o calvinismo. Na ânsia de defender o arminianismo, alguns teólogos, líderes e pensadores evangélicos descambaram para essa teologia liberal, que não honra a Deus nem a Bíblia, e têm influenciado muitos com seu discurso. (2007, p. 155)

É fato que o Teísmo Aberto surgiu em um ambiente

arminiano, porém é preciso destacar que em suas proposições ele

se afasta tanto do calvinismo como do arminianismo tradicional,

correntes que tem se unido no combate ao Teísmo Aberto.

Desde os anos 80 o teólogo inglês Clark Pinnock

publicara alguns textos onde questionava a soberania e a

presciência de Deus, e no ano de 1989 ele publicou o livro The

Grace of God, The Will of Man: A Case For Arminianism (A Graça de

Deus, a vontade do homem: Um caso de Arminianismo), onde já

demonstrava ideias do que viria depois a ser chamado de Teísmo

Aberto.

O movimento da “abertura de Deus” apenas se

formalizou em 1994 com o lançamento do livro The Openness of

God: A Biblical Challenge to the Traditional Understanding of God (A

Abertura de Deus: Um desafio bíblico para a compreensão

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tradicional de Deus), escrito cooperativamente pelos teólogos Clark

Pinnock , Richard Rice, John Sanders , William Hasker e David

Basinger.

Sobre este livro, Campos declara:

O Teísmo Aberto nasceu formalmente com o livro The Openness of God, publicado em 1994 pela InterVarsity Press. A intenção dos autores foi rever o conceito clássico sobre Deus, usando textos da Escritura para questionar o entendimento tradicional do Ser Divino. (2004, p. 30, grifo do autor)

Desde então o movimento tem ganhado corpo, com

a adesão de outros teólogos proeminentes e por consequência os

seus ensinos tem chegado primeiramente a muitas igrejas no

contexto anglo-saxão, e depois no resto do mundo.

Esta corrente teológica também é conhecida nos

ambientes teológicos como: Teologia da Vontade Livre, Teologia do

Livre Arbítrio, Teologia Aberta, Abertura de Deus, Neoteísmo ou

Teologia Relacional, este último é o nome pela qual esta teologia

ficou conhecida no Brasil.

Em terras brasileiras, o movimento estava restrito ao

ambiente e discussão acadêmica, vindo a ganhar notoriedade

somente em 2004, após o tsunami do Oceano Índico no mesmo ano,

com a publicação de texto do pastor Ricardo Gondim, da Igreja

Assembléia de Deus Betesda, intitulado Quem Deus ouviu primeiro?

1 Que em seu conteúdo traz declarações como esta:

Só uma réstia da revelação brilha em minha alma: o Deus da Bíblia soberanamente criou o universo, mas ao formar mulheres e homens, abriu mão de sua Soberania para estabelecer relacionamentos verdadeiros. Ele não se despojou de sua natureza onipotente, que por definição não podia fazer, mas se esvaziou de suas prerrogativas divinas – evidenciadas em

1 O texto em questão foi excluído do blog do pastor Ricardo Gondim, somente é possível encontrá-lo em outros sites e blogs que reproduziram o seu conteúdo.

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Jesus Cristo. Não, Ele não pôde evitar a catástrofe asiática. Assim, sinto que a morte de milhares de pessoas, machucou infinitamente mais o coração de Deus do que o meu – o sofrimento é proporcional ao amor. O pouco que conheço sobre Deus e sobre seu caráter me indica que há muitas lágrimas no céu. (GONDIM apud PASQUINI, 2004).

Por sua popularidade no contexto evangélico

brasileiro, o referido pastor enfrentou duras críticas da parte dos

conservadores, porém encontrou apoio de outros líderes e grupos

mais liberais. A declaração de Gondim trouxe a tona o assunto do

Teísmo Aberto e levou diversos segmentos do evangelicalismo

brasileiro a se pronunciar sobre o assunto. Conquanto não haja no

Brasil um movimento organizado em torno da teologia do Teísmo

Aberto, nomes de alguns pastores e teólogos têm sido ligados ao

movimento, por declarações que caminham nesta vertente teológica,

entre eles estão: Ricardo Gondim, Ed Renê Kivitz 2, Elienai Cabral

Júnior, Bráulia Ribeiro e Paulo Brabo.

Embora tenha uma origem recente, alguns

estudiosos tem ligado a teologia do Teísmo Aberto a outra corrente

teológica: a Teologia do Processo desenvolvida nos meados do

século XX.

Sobre esta influência da Teologia do Processo na

formulação do Teísmo Aberto, Daniel (2007, p.160) diz que as

semelhanças residem no fato de que na visão dos teólogos do

Processo, Deus está envolvido com o Universo que criou de tal

forma que é mudado por este, evolui juntamente com sua Criação,

portanto sofre mudanças e, por consequência não é imutável.

2 Ed Renê Kivitz procura esclarecer o seu ponto de vista acerca do Teísmo Aberto em: http://edrenekivitz.com/blog/2011/11/penso-respeito-teismo-aberto/

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Outro teólogo que encontra influências da Teologia

do Processo na Teologia do Teismo Aberto é Frame:

[...] durante a maior parte do século 20, o movimento que mais serviu para enfatizar a liberdade indeterminista e a vulnerabilidade divina foi a filosofia do processo de Samuel Alexander, Alfred North Whitehead e Charles Hartshorne, juntamente com a teologia do processo de pensadores como John Cobb, Schubert Ogden e David Ray Griffin. Os teólogos do teísmo aberto elogiam a teologia do processo por sua crítica ao teísmo clássico, mas também objetam a alguns dos ensinos distintos do pensamento do processo, como, por exemplo, a falta de uma doutrina da criação, sua insistência de que Deus sempre age de forma persuasiva em vez de coercivamente, sua visão de que todas as ações de Deus dependem do mundo e a falta de garantia de que os propósitos de Deus triunfem no final. (2006, p.32).

Esta crença na mutabilidade de Deus pode ser vista

nos pressupostos do teísmo aberto a qual serão abordados na

próxima seção.

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3 O QUE O TEÍSMO ABERTO PROPÕE?

Em linhas gerais o Teísmo Aberto trata basicamente

de Deus, buscando fazer uma reinterpretação de quem é Deus,

portanto os teístas abertos têm o seu foco na Teontologia (Doutrina

de Deus).

Campos (2004, p. 38) destaca quatro pontos

propostos e defendidos pelo Teísmo Aberto:

a-) O conhecimento que Deus possui de todas as

coisas não é definido na eternidade;

b-) A presciência de Deus não é exaustiva, porque

Ele se limita;

c-) Deus não mantém uma relação providencial com

o mundo de maneira meticulosa e;

d-) O futuro não está totalmente seguro, ele está em

aberto.

Partindo do pressuposto de que não é possível crer

em uma autonomia plena do homem, crendo da maneira ortodoxa

nos atributos da onipotência e onisciência de Deus, os teólogos do

Teísmo Aberto passaram a interpretar os textos bíblicos a partir

desta visão, e assim desenvolveram todas as suas doutrinas acerca

de Deus.

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Na visão do Teísmo Aberto a vontade humana é

completamente autônoma de Deus, ou seja nossas escolhas são

totalmente livres. Sobre esta perspectiva Campos diz:

Segundo eles, o Deus da Escritura assume os riscos de criar seres livres porque estes cooperam com Deus em seus desígnios, alvos e propósitos. Deus não faz nada sozinho e o seu entendimento das coisas que estão por acontecer depende das ações livres dos homens. (2004, p.30).

A exaltação do livre arbítrio humano e a tentativa de

trazer Deus ao nível do homem pode ser vista em muitos textos

produzidos pelos teístas abertos, como neste trecho de um texto

produzido por Cabral Júnior, na qual ele afirma que Deus se tornou

imperfeito ao criar a humanidade:

DEUS DE TÃO PERFEITO conheceu a plenitude do tédio. De tão cercado pelo idêntico a si mesmo, incapaz de dizer por que hoje não é apenas um reflexo de ontem, sem jamais ter sonhado com um outro dia, enfadado com a previsibilidade de um mundo impecável, inventou o amor. Ou seria, preferiu amar?[...] Deus, que do absoluto fugiu em desespero, que inventara o imperfeito, imperfeito se fez. Inventou-se entre os incertos. Aperfeiçoou a imperfeição. Humanizou-se entre humanos. De tão impreciso, despido das forças do absoluto, igualmente inapreensível, excepcionalmente frágil, tão vivo e tão morto, descortinou o absoluto como quem desnuda o que é mau. Imperfeito, salvou-nos da perfeição. (2008)

Os teístas abertos explicam que ao criar a

humanidade, Deus se limita por ter criado agentes livres, e passa a

ser limitado pelo tempo, não conhecendo o futuro, pois o futuro não

existe para que seja conhecido. Acerca deste aspecto Santos

explana:

[...] na perspectiva relacional o futuro está em aberto para ser construído, em conjunto, por Deus e pelo ser humano. Logo, ninguém, nem mesmo Deus, pode conhecer exaustivamente o futuro, pois ele ainda não existe e, por amor às suas criaturas, o Altíssimo decidiu limitar-se quanto ao conhecimento a este respeito e sujeitar-se a riscos e surpresas advindas dessa construção em parceria com o ser humano livre. (2007, p.30).

O fato de Deus e o homem estarem construindo a

história em parceria significa que embora Deus tenha um plano, não

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há garantias de que este será executado por conta de seus agentes

livres, isto denota que Deus muitas vezes se surpreenda e sofra

juntamente com a humanidade por ocasião de acontecimentos que

não estavam em Seu conhecimento e controle, ou até mesmo que

se arrependa de algo que faz.

No intuito de provar esta visão, os teólogos do

Teísmo Aberto, dizem que textos bíblicos que falam de um

arrependimento de Deus, como Gênesis 6: 5-7, 22:12, 1 Samuel

15:10 e Jonas 3:10 devem ser entendidos de maneira literal, e não

como antropomorfismos.

Frame contrasta a visão aberta e a tradicional

acerca deste aspecto:

Escritores que defendem o teísmo aberto geralmente falam desse princípio como sendo uma exegese "direta". No entanto, os teólogos tradicionais têm costumeiramente descrito essas passagens como sendo "antropomórficas": elas descrevem Deus como se ele fosse um homem. Na visão tradicional, Deus tem conhecimento perfeito do futuro e, portanto, não pode, literalmente, aprender algo novo. (2006, p. 39).

Outro ponto a se destacar na teologia do Teísmo

Aberto é a hierarquização dos atributos de Deus, na qual o atributo

do amor é sobreposto aos demais, que devem ser submissos a este

atributo.

Para uma compreensão melhor das proposições do

Teísmo Aberto, na tabela a seguir há o contraste que entre a

perspectiva do Teísmo Aberto e a perspectiva Reformada

Tradicional acerca de alguns pontos.

Tabela 1 - Comparação entre as perspectivas do Teísmo Aberto e Reformada Tradicional.3

3 Tabela adaptada da palestra proferida pelo Pr. Franklin Ferreira, na Conferencia Teológica Vida Nova no Recife/PE em 2010. Disponível em <http://www.vidanova.com.br/teologiabrasileira/audios/Franklin_teismoaberto_TA_12-08-2010.mp3>.

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Perspectiva Teísta AbertaPerspectiva Reformada

Tradicional

A soberania de Deus tem sido auto-limitada em virtude da criação de agentes livres.

Deus é soberano e controla todas as ações do mundo criado, inclusive as ações dos agentes responsáveis.

O plano de Deus tem um grande número de vazios, devido as ações imprevistas dos agentes livres.

Deus tem um plano eterno que certamente se cumprirá, não há surpresa e nem desapontamento.

A profecia bíblica na visão aberta é baseada nas suposições do conhecimento de Deus do que irá acontecer, mas está relacionada a condição da escolha dos agentes livres.

A profecia bíblica é baseada no pré-conhecimento exaustivo de Deus e certamente será realizado.

Deus está constantemente pronto a ajustar seus planos as circunstâncias.

O plano de Deus é imutável, assim como Sua natureza.

A oração é uma atividade eficaz a qual através da mesma, pode-se mudar o plano de Deus.

A oração é para que Deus cumpra a Sua vontade.

Deus é afetado por meio de sentimentos como o amor e a alegria.

Deus não está preso às emoções, não é impassível, porém é imutável.

O amor de Deus é a sua suprema perfeição. Há uma hierarquia nos atributos de Deus.

O amor de Deus não pode ser interpretado à parte das perfeições de Seus outros atributos.

A escatologia do Teísmo Aberto leva ao universalismo ou aniquilamento dos ímpios.

A visão reformada do inferno é literal (penas eternas).

Em suma, a reinterpretação que o Teísmo Aberto

busca fazer de Deus é válida em sua intenção de prover um

relacionamento mais próximo da experiência humana, porém neste

intuito acabam abalando pilares fundamentais da fé cristã: a

soberania, a imutabilidade, a onipotência e a onisciência de Deus.

Rejeitam o claro ensino das Escrituras acerca da majestade de

Deus.

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Este fato justifica o levantamento dos problemas dos

ensinos do Teísmo Aberto, e fazer objeções a este sistema

doutrinário em defesa da verdadeira fé bíblica.

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4 PROBLEMAS DO TEÍSMO ABERTO

Muitos são os problemas decorrentes da teologia do

Teísmo Aberto, mas o principal deles é a perda da majestade e da

glória de Deus. O discurso do Teísmo Aberto é centralizado no

homem, neste sentido Campos comenta que:

O Teísmo Aberto tem se afastado significativamente da teologia bíblica clássica e reformada no que diz respeito à antropologia e, conseqüentemente, à teontologia, e essas questões devem nos deixar em estado de alerta. Esse movimento tem invertido a ordem proposta por Calvino de conhecermos primeiramente a Deus para depois conhecermos a nós próprios. Na verdade, o Teísmo Aberto tem feito com que o conhecimento que temos de nós mesmos defina não o nosso conhecimento de Deus, mas o que Deus vem a ser e a fazer. (2004, p.31).

Como dito anteriormente o ensino do Teísmo Aberto

descontrói a visão bíblica principalmente dos atributos de soberania,

imutabilidade, onipotência e onisciência de Deus.

Quando o Teísmo Aberto afirma que Deus não

conhece o futuro, por estar sujeito ao tempo, há a consequente

perda de todos estes atributos, as quais são revelados ao homem

em toda a Bíblia.

Wilson et al destaca este ponto, dizendo:

No teísmo relacional, futuro é imprevisível, e vem à existência como resultado de uma cooperação de esforços entre Deus e o homem, em cujo processo Deus aprende muitas lições profundas. Ele é surpreendido a cada dia, e aprende com aquilo que nós fazemos. Em resumo ele não é o Deus de Isaías. (2006, p.25, grifo do autor).

Neste contexto o autor citado explana acerca do

texto bíblico de Isaías 40:18-24, que diz:

Quem podeis comparar a Deus? A que figura ele se assemelha? A um ídolo que o artesão funde e que o ourives cobre de ouro, forjando-lhe também correntes de prata? Ao ídolo do pobre? Ele não pode oferecer tanto, mas escolhe madeira que não apodrece e procura um artesão talentoso, para esculpir uma imagem que não se moverá. Por acaso não sabeis? Não ouvistes? Não vos foi dito isso desde o princípio? Não entendestes desde a fundação

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da terra? Ele é o que está assentado sobre o círculo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para nela habitar. Ele é o que reduz os príncipes a nada e torna inúteis os juízes da terra. Mal são plantados e semeados, e mal firmam raízes na terra, ele sopra sobre eles, então secam e a tempestade os leva como se fossem palha.

Nesta perícope, o profeta Isaías inicia indagando se

há alguém que seja comparado a Deus, e prossegue exaltando e

magnificando o Senhor acima da criação e do homem. Deus é

imanente (Jeremias 23:23-24, Atos 17:27-28) e transcendente

(Isaías 55:8-9), ou seja Ele se relaciona com a sua criação e não

está alheio ao que ocorre com a mesma porém é distinto da criação

e está infinitamente além da mesma. Ao tentar humanizar a Deus, o

Teísmo Aberto se esquece deste aspecto transcendente de Deus.

Quando o Teísmo Aberto afirma que Deus não

conhece o futuro, ou que está aprendendo juntamente com o ser

humano, está negando que Deus seja onisciente. Muitas vezes

chegam a afirmar que Deus é pego de surpresa frente às tragédias e

catástrofes que ocorrem no mundo.

Sobre o conhecimento de Deus acerca do tempo

(passado, presente e futuro) Erickson explana:

O fato de Deus não ser limitado pelo tempo não significa que ele não tem consciência da sucessão de pontos do tempo. Ele está ciente de que os eventos ocorrem numa determinada ordem. Mesmo assim, ele tem igual consciência de todos os pontos dessa ordem, simultaneamente. Essa transcendência sobre o tempo é comparada à pessoa que se assenta numa torre para ver um desfile. Ele vê todas as partes do desfile em diferentes pontos da rota, não apenas o que está passando por ele naquele momento. Ele tem consciência do que está acontecendo em cada ponto da rota. Assim, Deus está ciente do que está acontecendo, do que aconteceu e do que irá acontecer em cada ponto do tempo. Mas num determinado ponto dentro do tempo, ele também tem consciência da distinção entre o que está ocorrendo, agora, o que ocorreu e o que ocorrera. (1997, p.112).

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Textos bíblicos como Salmos 90:1-2, Isaías 44:6,

46:9-10, I Samuel 23:11-13, Atos 17:30-31 e Apocalipse 1:8

facilmente refutam o discurso do Teísmo Aberto, pois mostram que

Deus está acima do tempo e não preso a ele como afirmam os

teólogos da visão aberta. Deus conhece todo o tempo, sabe o que

ocorreu no tempo passado, o que está ocorrendo no exato momento

e o que ocorrerá daqui alguns minutos ou daqui há milênios, porém

Ele não somente sabe como também age dentro do tempo,

cumprindo os seus desígnios.

Outro argumento falho dos teólogos da “abertura de

Deus” é o uso da interpretação literal de textos onde há um aparente

arrependimento de Deus (Gênesis 6: 5-7, 22:12, 1 Samuel 15:10 e

Jonas 3:10) visando dar base ao ensino de que Deus aprende

juntamente com a humanidade conforme as escolhas e eventos que

ocorrem no tempo, e portanto Deus é mutável e pode ser

influenciado pelos homens.

A teologia cristã tradicional tem afirmado que estes

textos devem ser entendidos como antropomorfismos, ou seja,

sejam textos apresentados na linguagem humana para que se

entenda, pois na verdade o sentido do arrependimento de Deus é

que Ele se entristeceu e não que tenha mudado de ideia. Sobre isto

Grudem explica que:

Esses exemplos devem todos ser entendidos como expressões verdadeiras da atitude ou intenção presente de Deus diante da situação que existe naquele momento. Se a situação muda, então é claro que a atitude ou expressão de intenção divina irá também mudar. Isto que dizer somente que Deus age de modos diversos a situações diferentes. (2010, p.113, grifo do autor).

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Se não forem utilizados os recursos do

antropomorfismo nestes textos, há de se lidar com uma contradição,

pois muitos textos bíblicos afirmam a imutabilidade de Deus, como

Números 23:19, Malaquias 3:6 e Tiago 1:17.

Quando o Teísmo aberto ataca a soberania divina

dizendo que ele não mantém uma relação providencial com a sua

criação de maneira meticulosa é preciso entender a nocividade

deste ensino, pois é evidente em todas as Escrituras a ação

soberana de Deus, conduzindo a história e o seu plano infalível de

redenção através de Jesus Cristo.

Os teólogos do Teísmo Aberto argumentam que é

necessário entender que Deus se auto-limitou para que pudesse se

relacionar com o homem, e este relacionamento se dá através do

amor, onde Deus sofre e é afetado por toda sorte de emoções. Isto é

evidente quando Pinnock (1994, p.103 apud Santos, 2007, p.45)

rejeita a soberania de Deus e o assemelham ao homem:

Podemos pensar em Deus primariamente como um monarca indiferente, distante das contingências do mundo, imutável em cada aspecto do seu ser, como um poder irresistível e que determina todas as coisas, ciente de todas as coisas que irão acontecer e que jamais se arrisca. Ou podemos compreender Deus como um pai cuidadoso com qualidades de amor e responsividade, generosidade e sensibilidade, abertura e vulnerabilidade, uma pessoa (ao invés de um princípio metafísico) que experimenta o mundo, responde ao que acontece, se relaciona e interage dinamicamente com os seres humanos.

Sobrepor o amor de Deus em detrimento dos Seus

outros atributos é uma prática errada, pois nega a unidade de Deus,

a este respeito, Grudem (2010, p.125-128) explana que Deus não

está dividido em partes, porém percebemos atributos de Deus sendo

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ressaltados em ocasiões diferentes, sendo necessário entender que

nenhum atributo de Deus é mais importante que outro, pois a

totalidade de Deus envolve todos os atributos, ou seja, estes não

estão à parte Dele, nem Lhe são acrescentados, mas fazem parte do

Seu Ser como um todo.

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5 CONCLUSÃO

Ao tentar aproximar Deus e a humanidade, explicar

o problema do mal e a causa do sofrimento humano, limitando a

soberania de Deus, o Teísmo Aberto coloca em cheque os pilares da

fé cristã, rouba a esperança do cristão de que um dia o mal será

vencido, pois o futuro está em aberto e nem Deus o conhece.

O Deus apresentado pelo Teísmo Aberto sofre com

a humanidade mas não pode intervir, faz promessas aos seres

humanos mas não tem certeza de que poderá cumpri-las, Lopes

(2005) apresenta este fato:

Ao fim, parece-nos que na tentativa extrema de resguardar a plena liberdade do arbítrio humano, a teologia relacional está disposta a sacrificar a divindade de Deus. Ao limitar sua soberania e seu pleno conhecimento, entroniza o homem livre, todo-poderoso, no trono do universo, e desta forma, deixa-nos o desespero como única alternativa diante das tragédias e catástrofes deste mundo e o ceticismo como única atitude diante da realidade do mal no universo, roubando-nos o final feliz prometido na Bíblia. Pois, afinal, poderá este Deus ignorante, fraco, mutável, vulnerável e limitado cumprir tudo o que prometeu?

O Teísmo Aberto torna as profecias bíblicas

inconsistentes e torna a oração inútil, pois orar a um Deus que não é

soberano e não pode intervir é algo desnecessário.

É preciso envidar esforços para defender a fé cristã

frente ao Teísmo Aberto ensinando toda a Palavra de Deus e tudo

aquilo que ela diz acerca do Criador.

A despeito de não haver em nosso país um grupo

oficial de teístas abertos, o ensino desta corrente teológica tem sido

disseminado por meio dos livros e blogs de autores muito

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conhecidos do público brasileiro, que utilizam uma linguagem erudita

e muito atraente, porém não há de sua parte uma declaração oficial

de ligação com Teísmo Aberto, utilizando muitas vezes o termo

Teologia Relacional.

Embora o Teísmo Aberto tenha trazido mais

problemas à eclesiologia do que benefícios há de se considerar que

o desafio de responder aos ensinos controversos desta teologia

levou muitos teólogos e pastores a retornarem aos estudos

teológicos e bíblicos acerca de Deus.

Frame também reflete sobre a necessidade de

enfatizar o relacionamento temporal de Deus com o ser humano:

Tenho chegado à conclusão que, de fato, há mais "relação recíproca" entre Deus e suas criaturas do que a teologia tradicional tem geralmente admitido. Contudo, eu explico essa reação mútua, não negando a soberania e o conhecimento exaustivo de Deus, como no teísmo aberto, mas dando mais ênfase à sua onipresença temporal. Deus está acima do tempo e governa o mundo com poder e conhecimento absolutos e infinitos. Porém, ele também entra no tempo e interage pessoalmente com as suas criaturas. O seu plano eterno inclui e determina essa interação pessoal. Se a teologia tradicional enfatizasse mais (como as Escrituras certamente o fazem) a interação temporal entre Deus e o mundo, ela se tomaria menos abstrata, mais prática e mais útil para levar os crentes à piedade e à obediência. (2006, p.159).

Na busca por comunicar-se com a pós-modernidade, o Teísmo

Aberto tem glorificado o homem, e exposto um Deus fraco, que não conhece o

futuro, que se arrisca irresponsavelmente, sofre e se surpreende com os

acontecimentos e com isto tem aprendido com a humanidade, enfim a pergunta que

cada cristão deve fazer a si mesmo é: servirei a este Deus do Teísmo Aberto, ou o

Deus Todo Poderoso e Soberano das Sagradas Escrituras?

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BIBLIOGRAFIA

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