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TRADUÇÃO e INTERPRETAÇÃO =SEQUÊNCIA DIDÁTICA= “Uma proposta metodológica” Atualizado em Prof. Rogério G. Santos (2018) “Proposta metodológica de Tradução e Interpretação de gêneros discursivos em Libras” 01/10/2019 19:00

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TRADUÇÃO e INTERPRETAÇÃO

=SEQUÊNCIA DIDÁTICA=

“Uma proposta metodológica”

Atualizado em

Prof. Rogério G. Santos (2018)“Proposta metodológica de Tradução e Interpretação de gêneros discursivos em Libras”

01/10/2019 19:00

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A TRADUÇÃO É IMPOSSÍVEL!

De acordo com o poeta e tradutor Manuel Bandeira (2015, p. 341), mencionando a Estética de Croce:

Toda tradução é impossível se pretende o transvasamento de umaexpressão em outra, como o do líquido de um recipiente a outro; nãopodemos reduzir o que já tem forma estética a outra forma estética.Toda tradução, com efeito, ou diminui e estropia, ou cria uma expressãonova. Assim, a tradução que merece o nome de boa é uma aproximaçãoque tem valor original de obra de arte, e que pode viverindependentemente.

A grande questão deste trabalho sobre a interpretação em Libras encontra-se noresultado que se espera obter quanto aos procedimentos que tornem claros osenunciados produzidos em uma determinada língua, a língua de partida, paraoutra, a língua de chegada. Bassnett (2003, p. 9) enfatiza que:

A tradução não é somente a transferência de textos de uma língua paraoutra – ela é hoje corretamente vista como um processo de negociaçãoentre textos e entre culturas, um processo em que ocorrem todos ostipos de transações mediadas pela figura do tradutor.

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TRADUÇÃO OU INTERPRETAR?

Basicamente a tradução é feita a partir da escrita e a interpretação é um produtoda fala/sinalização da língua, ou seja, é a língua em uso momento tradutório. Natradução, em princípio, o profissional pode (ou deveria) ter acesso ao conteúdo ouo texto a ser transmutado.

Já na interpretação o acesso prévio à documentos e conteúdos é mais restrito. Emgeral o texto fonte ou conteúdo é apresentado apenas uma vez e o imprevistotorna o refinamento do produto final quase impossível, pois a produção dointérprete precisa ser rápida não havendo possibilidades de correção ou revisão emalguns casos.

Na interpretação, conforme o modelo de interpretação de Gile (1995), o intérpreteprecisa desprender-se dos seguintes esforços:

1) Compreensão, o esforço de ouvir e analisar a mensagem;2) Memória, o esforço de reter a mensagem;3) Produção, o esforço de reproduzir a mensagem na língua de chegada;4) Coordenação, o esforço de coordenar os demais esforços.

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LIVRE OU LITERAL?

A teoria da tradução atualmente aceita, que tem como centro de debates osconceitos de “livre” ou “literal”, teve início no final da primeira guerra mundial,como resultado da coexistência multilíngue produzida pela nova configuração dospaíses envolvidos e norteada pelas nações unidas do pós-guerra.Magalhães (2007) disserta que:

[...] traduzir é sempre um exercício imperfeito, em que tentamostranspor para o universo semântico ideias e sentimentos que não são osnossos. Num tal processo, o resultado será sempre alvo potencial decensura e dissenso. Na tradução, fazemos mais do que simplesmentebuscar sinônimos. Somos forçados a interpretar, a intuir o sentido depassagens por vezes dúbias. Fazemos escolhas a todo o momento.Elegemos. Tomamos decisões. E com isso, naturalmente, nos arriscamosao erro. (MAGALHÃES JUNIOR, 2007, p. 170).

Podemos então assumir a ideia de que “nunca vai existir uma única tradução idealde determinado texto. Haverá muitas traduções boas, mas não a tradução boa deum original” (Rónai, 1987, p. 23).

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PROPOSTA METODOLÓGICALIBRAS em TRÊS FASES

Umberto Eco (2007), no entanto, postula que seria impossível ser totalmente “fiel” jáque, ao traduzirmos, nunca dizemos a mesma coisa, porém quase a mesma coisa,quando finaliza sua obra afirmando que:

A conclamada “fidelidade” das traduções não é um critério que leva à únicatradução aceitável [...]. A fidelidade é, antes, a tendência a creditar que atradução é sempre possível se o texto fonte foi interpretado comapaixonada cumplicidade, é o empenho em identificar aquilo que, para nós,é o sentido profundo do texto e é a capacidade de negociar a cada instantea solução que nos parece mais justa. (ECO, 2007, p. 426, grifo do autor).

O mesmo autor propõe que são aceitáveis algumas alterações textuais desde que oobjetivo seja suscitar no leitor do texto de chegada, sensações estéticas similares àsexperimentadas pelo leitor do texto de partida. Em nossa proposta de processotradutório, essas alterações são denominadas como fase da “adaptação”, tal comoencontramos nos aportes de Bastin (2008, p. 5-8), quando o autor propõe que aadaptação tem um contexto polissêmico a ser utilizado para alcançar umaequivalência em situações em que ocorrem desencontros de aspectossociolinguísticos e culturais.

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REDUÇÃO

A “redução” vale para qualquer gênero discursivo ou textual e o procedimento será omesmo, seja literário ou não. Faremos a separação e a substituição de característicasgramaticais existentes entre a língua portuguesa e a LIBRAS. Essa ação, contudo, nãosignifica que não haja compatibilidades na língua de sinais, porém elas em geralpossuem um equivalente implícito, incorporado visualmente ou mediante um conjuntode todos estes movimentos expressivos, que garantirão o mesmo sentido do enunciadofonte. Então:

Artigos definidos ou indefinidos, removeremos: o, a, os, as – um, uma, uns, umas

Verbos de Ligação, removeremos: ser, estar, permanecer, ficar, andar, parecer, fazer...

Preposições e contrações, com cuidado: com, de, da, em, para, por, sob, que, na, da, do, neste, numa, duma

Pronomes pessoais e possessivos, com atenção: normalmente são omitidos quandoem primeira pessoa ou estão implícitos na comunicação por normalmente já estaremdefinidos na expressão.

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ADAPTAÇÃO

Aqui usaremos um processo que corresponda a um ato de criação não envolvendoapenas a “comutabilidade de textos”, mas transformação e adaptação, sendo otradutor o agente produtor de significado e portanto, compelido a observar questõesde figuras de linguagem, conforme Catford (1980, p. 27-28).

Os verbos em Libras estão sempre no infinitivo e no singular.

As conjugações verbais e a definição de espaço e tempo deverão ser articuladas pormeio de recursos visuais espaciais ou dos “classificadores”. Dessa forma, as ENMestarão sempre presentes, do mesmo modo que estarão na questão da referência, ounão, ao sujeito na primeira fase (Redução). Sempre que não há alguma expressãonão manual para indicação de tempo verbal, ela é automaticamente entendida econtextualizada como estando no tempo presente.

Isso quer dizer que, nesta fase, há ainda uma questão muito importante, que deveser levada em consideração: o conjunto lexical da Língua Portuguesa ésignificativamente maior do que na Libras, assim o uso das ENM e o conhecimentoprofundo das duas línguas envolvidas, são imprescindíveis.

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TRADUÇÃO

Umberto Eco (2007), postula que seria impossível ser totalmente “fiel” já que, aotraduzirmos, nunca dizemos a mesma coisa, porém quase a mesma coisa, quandofinaliza sua obra afirmando que:

A conclamada “fidelidade” das traduções não é um critério que leva à únicatradução aceitável [...]. A fidelidade é, antes, a tendência a creditar que atradução é sempre possível se o texto fonte foi interpretado com apaixonadacumplicidade, é o empenho em identificar aquilo que, para nós, é o sentidoprofundo do texto e é a capacidade de negociar a cada instante a solução quenos parece mais justa. (ECO, 2007, p. 426, grifo do autor).

Também Amorim (2005, p. 6) justifica que“[...] a ênfase tradutória permanece namanutenção da forma e da semântica especialmente quando fatores acústicos evisuais estão envolvidos.” Assim:

Reconhecer a dimensão discursiva da tradução e da adaptação não é reduzir seus aspectos linguísticos e culturais, mas concebê-los segundo uma perspectiva que não se separe em uma oposição, tal como duas vias paralelas que jamais se encontrariam. Esse reconhecimento tampouco deve representar o apagamento da subjetividade do tradutor. (AMORIM, 2005, p. 228).

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INTERPRETAÇÃO

Interpretar em Libras, por definição, representa a transposição do discurso de uma modalidadeoral auditiva ou textual para outra totalmente visual. Isso significa dizer que as característicaslinguísticas, antes identificadas apenas pelo uso de mecanismos orais e textuais, como osvocábulos e sua disposição métrica, sua tipografia e características semânticas, agora dependemexclusivamente de recursos visuais, porém com os mesmos efeitos.

Daí a importância do uso dos classificadores e da expressão facial e corporal. Conforme Campello(2008), os classificadores permitem que o sinalizador utilize diferentes características físicas ouemocionais presentes nos seus referentes. Essa característica torna tecnicamente impossívelmostrarmos aqui em formato impresso, exemplos de classificadores, pois são “formas complexasem que a configuração de mão, o movimento e a locação da mão podem especificar qualidadesde um objeto" (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 93).

Dessa forma, concluímos que, quando nos deparamos com gêneros possuidores decaracterísticas literárias ou com recursos estilísticos como as rimas, por exemplo, paraconferirmos o mesmo efeito poético existente na língua-alvo aos interlocutores surdos, somenteconseguiremos alcançar clareza e o entendimento esperados quando utilizamos os classificadorescomo ferramenta na ação tradutória da metáfora.

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VERBOS DE LIGAÇÃO

Os verbos de ligação, também chamados de copulativos, têm a função de ligar o sujeito e suas características (predicativo do sujeito).

Meus filhos são felizes.

O diretor parece ansioso.

Aquele aluno anda desatento.

Eu estou extremamente chateada!

O carro é novo.

Joice parece cansada.

A moça permanece aflita.

A Nicole ficou triste.

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TRÊS FASES DA TRADUÇÃO

REDUÇÃO = S-V-C “REMOVER COM SEGURANÇA”• Analisar o gênero – Literário ou não literário? (fidelidade ou liberdade?).• O principal é “remover” o que não condiz com a gramática da Libras:• Artigos, preposições e pronomes (atenção), verbos de ligação, preposições

subordinativas, complementos nominais, locuções adjetivas ou adverbiais.

• Aqui já destaca-se o “Tópico comentário” (relevância ou foco).• Dependendo do gênero deve-se ser fiel ou utilizar apenas o sentido/significado.• Verbos no finitivo, impessoal é uso de Classificadores.• Flexão de número: singular; para plurais, intensificadores ou classificadores.

ADAPTAÇÃO = S-V-C “ATENÇÃO ÀS FIGURAS DE LINGUAGEM”

TRADUÇÃO = FOCO + GRAMÁTICA EM LIBRAS• Verbos com flexão como VER, AVISAR, RESPONDER, PERGUNTAR, AJUDAR

também poderão estar na forma SVC implícita porém com direcionalidade e outras ENM’s.

OLHE PARA A FRASE ORIGINAL

OLHE PARA A REDUZIDA

OLHE PARA A FRASE ADAPTADA

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1º REDUÇÃO: (S-V-C) = Artigos, preposições e pronomes, remover com atenção.

2º ADAPTAÇÃO: (S-V-C) = Literário ou não Literário? (Sinônimos !)(À partir de agora devemos usar a convenção de escrita em Libras)

3º TRADUÇÃO: (TÓPICO COMENTÁRIO / FOCO) =

4º INTERPRETAÇÃO: (TÓPICO COMENTÁRIO) + (CLs) + (ENMS)

“Domingo, meus amigos virão para o churrasco de confraternização”

“Domingo, meus amigos virão para o churrasco de confraternização”

“DOMINGO MEUS AMIGOS VIRÃO PARA O CHURRASCO DE FESTA^CONTATO”

“CHURRASCO DOMINGO FESTA^CONTATO AMIGO (CL + VARIOS) + (CL VIR)”

RESULTADO FINAL = A sinalização em Libras

EXEMPLO

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OS GÊNEROS TEXTUAIS

Textos literários e textos não literários apresentam diversas diferenças: na forma,na linguagem, na significação. Principalmente, diferenciam-se na sua finalidadecomunicativa. O texto literário visa entreter o leitor e o texto não literário visainformar o leitor.

Características dos textos literários:

Função estética, tendo como principal objetivo o entretenimento do leitor.Função poética e emotiva da linguagem, visando criar expressividade e despertarsentimentos e emoções no leitor.Linguagem conotativa e polissêmica, gerando uma multiplicidade deinterpretações. Leva a uma recriação pessoal e subjetiva da realidade.Utiliza figuras de linguagem e outros recursos estilísticos, apresentado simbologia,beleza, musicalidade e harmonia.Exemplos de textos literários:

Poemas; romances; contos; novelas; lendas; fábulas; crônicas; peças de teatro; letrasde músicas; etc.

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O GÊNERO LITERÁRIO

Textos não literários:

Possuem função utilitária e referencial, tendo como principal objetivo fornecer uma informação. Utiliza uma linguagem denotativa e clara, criando objetividade na transmissão da informação.

Relata fatos reais de forma impessoal e imparcial, não havendo opiniões e juízos de valor sobre o conteúdo do texto. Não utiliza figuras de linguagem e outros recursos estilísticos que possam prejudicar a compreensão do conteúdo do texto.

Exemplos:

Notícias; as reportagens; as entrevistas; as cartas comerciais; os artigos científicos; os livros didáticos; os manuais de instrução; os dicionários; as enciclopédias; as receitas de culinárias; as guias de beleza; as bulas de remédios...

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ANÁLISE SINTÁTICA

MEUS: Os pronomes possessivos em Libras em geral quando o sujeito da oração estáimplícito na sinalização ou ainda, pode ser substituído por uma expressão não manual(ENM), não devem ser utilizados. Porém, quando sua função tem importância deespecificidade de propriedade ou seja, faz-se necessária a indicação de quem ou paraque é especificamente o foco da oração, ele deverá ser usado.

VIRÃO: A observação para o pronome é também válida no caso dos verbos, sempretomando cuidado ao observar a relação contextual; não é uma regra impositiva.

PARA O: O artigo (“O”), como sabemos será simplesmente removido. A preposição “PARA” normalmente está implícita na sinalização.

DE: Essa preposição, como estabelece apenas uma relação de subordinação entre os sinais (ou palavras), também não é utilizada em Libras.

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CLASSIFICADORES

Os “classificadores” são formas que, substituindo o nome que as precedem, podem virjunto ao verbo para “classificar” o sujeito ou o objeto que está ligado à ação doverbo. Portanto os classificadores na Libras são marcadores de concordância degênero: PESSOA, ANIMAL, COISA.

São também chamados de “verbos em ação” e por isso, comumente confundidos com“mímica”, porém essa define-se basicamente como um “conjunto de gestos queacompanham a fala oral; gesticulação”.

Dessa forma a mímica não é um componente gramatical da Língua, é apenas umrecurso da expressão artística, como no caso da dança e se apresenta de váriasformas e estilos, sendo mais conhecido a Pantomima, onde os artistas usam “carabranca” e se inspiram na figura do Pierrot.

Ao contrário disso, os Classificadores (CL’s) são componentes fundamentais nacomunicação sinalizada pois dão sentido visual às expressões não manuais da Librasconstruindo a base gramatical e sintática das línguas de sinais.

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TÓPICO COMENTÁRIO

Diferentemente da língua portuguesa, a Libras utiliza frequentemente a chamada"topicalização“, "tópico comentário“ ou o “foco”, por isso foge ao padrão básico:S-V-C, passando na maior parte dos contextos para as configurações C-S-V, S-C-V ouV-C-S, utilizando-se de referências anafóricas (normalmente usadas comointensificadores) por meio de pontos estabelecidos no espaço de articulação doenunciado visual.

Esse conceito é também explicado pela teoria da “relevância”:

A Teoria da Relevância pode ser vista como uma tentativa de resolver em detalheuma das afirmações centrais de Grice: a de que uma característica essencial da maiorparte da comunicação humana, verbal e não verbal, é a expressão e oreconhecimento de intenções (GRICE, 1989).

A afirmação central da Teoria da Relevância é a de que expectativas de relevânciageradas por um enunciado são precisas e previsíveis o suficiente para guiar oouvinte na direção do significado do falante.

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Esse sistema recebe esse nome porque as palavras da nossa língua auditiva-oral sãoutilizadas para descrever o mais realisticamente possível a produção da comunicaçãoem língua de sinais, que é tridimensional e espaço visual.

Vejamos então como se dá a representação dos sinais manuais e não manuais emLibras, no formato escrito:

1. Toda palavra (léxico) da Língua Portuguesa que possui um sinal equivalente emLibras será escrita em letras maiúsculas. Exemplos:

SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

Convenção de escrita em LibrasCASA / MORAR PERGUNTAR RESPONSAVEL

Significado em Língua PortuguesaCasa ou Morar Perguntar Responsabilidade

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3. Quando há a execução de dois ou mais sinais em Libras, feitos separadamente,mas empregados para compor um único significado, as palavras que o compõe sãoescritas separadas pelo símbolo “^”.

SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

Convenção de escrita em LibrasCAVALO^LISTRA MEDICO^CRIANÇA CASA^CRUZ

Significado em Língua PortuguesaZebra Pediatra Igreja

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4. Quando uma palavra não possui ou não há um sinal específico em Libras, ou aindaquando se deseja denotar nomes próprios (nomes de pessoas, lugares, objetos etc.),usa-se a “datilologia” e, com isso, cada letra será escrita separada por hifens “-“.

SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

Convenção de escrita em LibrasR-O-B-E-R-T-O U-R-Â-N-I-O M-E-T-E-O-R-O

Significado em Língua PortuguesaRoberto Urânio Meteoro

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5. Quando uma soletração ou datilologia de uma palavra passa a ter função de umsinal, este é adicionado ao léxico da Libras. Esse processo é chamado de “empréstimolinguístico”, e a convenção dessa escrita deve ser impressa em itálico.

Convenção de escrita em LibrasN-U-N-C-A A-Z-U-L V-O-V-O

Significado em Língua PortuguesaNunca Azul Vovô

SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

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6. Em Libras não há desinência para gêneros (masculino ou feminino) ou número(plurais). Para a composição desses contextos, usam-se sinais com a adição do sinalde “HOMEM” para “masculino” ou o sinal de “MULHER” para “feminino”, além dos“classificadores” ou “intensificadores”. Assim, essas desinências de gênero sãosubstituídas pela escrita do símbolo “@”.

Convenção de escrita em LibrasAMIG@ EL@ ME@

Significado em Língua PortuguesaAmigo(s), amiga(s) Ele(s), ela(s) Meu(s), Minha(s)

SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

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7. Quando um sinal em Libras é acompanhado de uma ENM (Expressão Não Manual)simultaneamente, estas serão mostradas ao lado do sinal para denotar ideias como:frases interrogativas (?), negativas (-), exclamativas (!), advérbios de modos, (<)menor ou (>) maior, ou (+) para um intensificador. (Os símbolos: ? ! + - < > escritasem “subscrito”, sugestões nossas).

Convenção de escrita em LibrasNOME? ADMIRAR! LONGE+

Significado em Língua PortuguesaNome? Admirável! Longe demais.

SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

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8. Em verbos que possuem concordância de gênero (pessoa, coisa, animal), usam-seos “classificadores”. Esses classificadores (sigla que nomearemos CL daqui emdiante) serão impressos em subscrito, especificando o tipo de “classificador” quandonecessário.

Convenção de escrita em Libras

CL pessoa MOVER CL carro MOVER local DORSignificado em Língua Portuguesa

Uma pessoa moveu... Um carro se moveu... Dor de...

SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

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9. Os verbos que apresentam característica locativa ou número-pessoal, mediantemovimentos direcionados, são representados pela palavra correspondente com umaletra em subscrito, indicando:a) Variável de lugar: i = ponto próximo à 1º pessoa (p1 grifo nosso)

j = ponto próximo à 2º pessoa (p2 grifo nosso)k e k’ = próximos à 3º pessoa (p3 grifo nosso)

b) Pessoas gramaticais: 1s, 2s, 3s = (1º, 2º, 3º pessoas do singular)1d, 2d, 3d = (1º, 2º, 3º pessoas do dual )1p, 2p, 3p = (1º, 2º, 3º pessoas do plural)D e E = Direita e Esquerda (grifo nosso)

Convenção de escrita em Libras

1sDAR2s 2sPERGUNTAR3p p3DANDARp3E

Significado em Língua PortuguesaEu dou para

você...

Você pergunta

para eles

Andar da direita

para a esquerda

SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

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10. Quando um sinal requerer o uso de uma mão específica ou o uso concomitantedas duas, indica-se (md) para “mão direita” e (me) para “mão esquerda”.

Convenção de escrita em Libras

IGUAL (md) (me)CL pessoa-andar (md) CL pessoa-longe (md) VIR CL pessoa-E ME

Significado em Língua Portuguesa

Coisas iguaisA pessoa anda muito Veio de lá para outro lado

SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

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COMENTÁRIOS FINAIS

Lembrem-se!

O ato tradutório ou interpretativo, as escolhas lexicais, o uso ou não declassificadores ou das expressões facio corporais, são questões de escolhas.Estas, são pessoais e próprias do sujeito intérprete e dependentes deconceitos linguísticos existentes nas duas modalidades de língua que sãoinfluenciados pela cultura e vivência deste sujeito.Além disso, o conhecimento de sua língua materna, neste caso a línguaportuguesa, é quesito fundamental para que o resultado final possa atingiradequadamente seus objetivos.Não se aprende ou se ensina uma segunda língua se não conhecemos anossa própria língua materna.

Prof. Rogério G. Santos