Trajetória Da Família Brasileira- o Papel Da Mulher No Desenvolvimento Dos Modelos Atuais

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    TRAJETRIA DA FAMLIA BRASILEIRA: O PAPEL DA MULHER NODESENVOLVIMENTO DOS MODELOS ATUAIS

    Leonardo Augusto Couto Finelli1,2

    Jeanne Las da Silva3

    Renata de Andrade Amaral

    3

    RESUMO

    A famlia uma instituio que acompanha as mudanas culturais e sociais de cada poca, dessaforma ela assume inmeras modalidades. A famlia tradicional nuclear surge junto com o interessesocial pela criana, e sua mudana nas ltimas dcadas oriunda do movimento feminino, quando amulher se insere no mercado de trabalho e conquista condies de igualdade em relao ao homem.Atualmente surgem novas modalidades de famlia como as famlias monoparentais, recompostas ede pais homossexuais. Esse estudo possui o objetivo de proporcionar conhecimento sobre asmudanas na famlia, atravs de um estudo de sua histria e dos processos de transformaes dessainstituio, assim como do papel da mulher em sua constituio ao longo do tempo. possvel

    concluir que a famlia est intimamente ligada ao momento social e cultural vivenciado em cadapoca e que essa estar sempre em transformao, de modo que no existe um modelo a ser tomadocomo correto de estrutura familiar.

    Palavras Chave: Famlia; Transformao; Mulher; Contemporaneidade.

    INTRODUO

    A famlia no Ocidente se apresenta de maneiras diferentes em vrias culturas ao longo da

    histria. Tal fenmeno de organizao social est ligado a consanginidade, afinidade e sistema de

    parentesco. Para compreend-la importante definir de modo claro o conceito dentre as inmeras

    possibilidades distintas (MARASCA; COLOSSI; FALCKE, 2013).

    Acredita-se que a famlia moderna no seno fruto de uma longa e lenta evoluo. Claude

    Lvi-Strauss afirmava que a vida familiar pode ser encontrada em quase todas as sociedades

    humanas, mesmo onde os hbitos sexuais e educativos no so to parecidos como os ocidentais

    (ROUDINESCO, 2003).

    Segundo Minuchin e Fishman (1990) a famlia grupo natural que desenvolve padres de

    interao ao longo dos tempos, esses padres so os que governam o funcionamento dos seus

    membros, delineando as formas de comportamentos e a interao entre eles. Uma estrutura familiar

    vivel necessria para que possam ser realizadas tarefas essenciais e dar apoio para a individuao

    1Doutorando em Desenvolvimento Social. Mestre em Psicologia. Graduado em Psicologia. Graduado em Pedagogia;Professor adjunto das Faculdades Integradas do Norte de Minas - FUNORTE2Endereo eletrnico: 3Psiclogas.

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    dos sujeitos j que mesmo inseridos no grupo todo ser humano deve se reconhecer como uma

    unidade integral que interage com outras unidades.

    Segundo Aris (1981) o sentimento de famlia surge apenas nos sculo XVI e XVII

    acompanhado do interesse pela infncia e da valorizao da criana. Antes a famlia no possua

    uma funo afetiva, ela tinha o papel de manter e conservar os bens, de compartilhar um trabalho ede promover as prprias vidas, j que at o entorno do sculo XV os membros no tinham

    condies de sobreviverem sozinhos. A mulher era vista apenas nas funes de reprodutora e

    cuidadora; e o casamento era considerado como um negcio entre a famlia dos noivos, de modo

    que no havia necessidade de afeto entre os cnjuges, que na maioria das vezes eram

    desconhecidos, um para o outro.

    As crianas, no final do sculo XV, eram enviadas a outras casas para aprender boas

    maneiras. Elas saam cedo de casa, em torno dos sete anos e s retornavam por volta dos 14 aos 18anos. Esse era o modelo de educao da poca, que no era considerado como algo repugnante, e

    fazia parte dos costumes europeus difundidos em todas as classes sociais (ARIS, 1981).

    Como as crianas saam muito cedo do seio familiar, no era possvel estabelecer entre pais

    e filhos um sentimento existencial profundo. A criana era paparicada, considerada como algo

    que divertia e era engraado, como um animalzinho qualquer. Mas no quer dizer que os pais no

    amassem essa criana, porm o apego era menor. Se ela morresse, os progenitores no sentiam

    muito, pois sabiam que logo ela poderia ser substituda por outra. Nesse sentido a famlia atendia auma realidade moral e social, mais que sentimental (ARIS, 1981).

    A mudana em relao ao sentimento da famlia acontece com a entrada da criana na escola

    a partir do sculo XV. Tal modificao foi bastante lenta, porm profunda. A insero das crianas

    na escola ocorreu devido a uma necessidade e preocupao em isolar a juventude do mundo sujo

    dos adultos para mant-la na inocncia primitiva, a um desejo de trein-la para melhor resistir s

    tentaes dos adultos (ARIS, 1981, p. 231). A substituio da escola na aprendizagem infantil

    exprime uma aproximao entre os membros da famlia, promovendo o surgimento de um

    sentimento de famlia.

    Com a proximidade entre os membros da famlia, a mesma comea a se tornar mais privada.

    Porm, ainda havia uma grande preocupao com as relaes sociais at o sculo XVII, onde a

    reputao do homem promovia seu futuro a partir das relaes sociais (MARTIN, 2001). Existia,

    ainda nessa poca, certa hostilidade quanto escola. Os moralistas no conseguiam compreender a

    importncia dela na educao. Acreditava-se que a maneira de se portar na sociedade, ainda

    valorizada na poca, no era ensinada nas escolas.

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    Com o passar do tempo a educao dos filhos tambm comeou a ser valorizada na

    sociedade. A famlia ento passa a se organizar em torno dos filhos, no lugar do foco nas relaes

    sociais (HEYWOOD, 2004).

    No sculo XVIII, o ncleo familiar passa a distanciar-se da sociedade pblica (ARIS,

    1981). O espao maior para a intimidade foi preenchido por uma relao mais prxima entre pais efilhos, onde se excluam os criados, clientes e amigos, antes to emaranhados ao seio da famlia.

    Diante dessas transformaes, surge a famlia moderna. A energia desse grupo passa a ser

    consumida pela promoo das crianas, e a famlia se torna uma sociedade fechada, mais

    individualista (ARIS, 1981).

    A partir do sculo XIX, com a modernidade, vieram tambm as grandes mudanas na

    relao conjugal. Surge a ideologia de que a unio do casal deveria acontecer devido ao amor e a

    felicidade existente entre os dois. Assim, o amor se tornou fundamental para sustentar a relao.Quando esse j no existia mais, no haveria mais motivos para manter a relao (MORGADO;

    DIAS; PAIXAO, 2013).

    Para Lacan (1987), a famlia um fenmeno social que diferencia o ser humano dos outros

    animais. Segundo este autor, como se aqueles dispusessem de um instinto original, o instinto

    familiar, oriundo de uma relao biolgica. Compreende que neste sentido h a relao da gerao

    que oferece aos componentes do grupo as condies para o desenvolvimento dos jovens, assegurada

    pelos adultos geradores.A famlia nuclear, ou domstica, conhecida na atualidade, um fenmeno recente. Acreditar

    que toda organizao familiar durante os vrios perodos histricos foi parecida com esse modelo,

    assumir um postura redutora frente s formas de organizao social do ser humano (BRAGA;

    AMAZONAS, 2005).

    Como verificam Braga e Amazonas (2005), a instituio familiar um fenmeno que

    acompanha as mudanas culturais e histricas de cada poca. Assim o modelo de famlia nuclear

    atual, surgiu como conseqncia do aumento do interesse social pela criana que estava sujeita as

    pssimas condies na infncia. Essa mudana ocorreu com o desenvolvimento da medicina, da

    higiene, o aparecimento da psicanlise e os interesses estatais da idade contempornea, mais

    precisamente do final do sculo XIX.

    Recentemente este modelo nuclear apresenta sinais de esvanecimento e a famlia passa a

    assumir outras conformaes. Essas mudanas relacionam-se as mudanas no papel da mulher

    perante a famlia e a sociedade. A mulher ao ingressar no mercado de trabalho, e, ao conquistar sua

    liberdade sexual atravs de mtodos anticoncepcionais causou transformaes no sistema familiar,

    de modo que ao se tornar mais independente do homem, desloca-se de seu papel passivo para um

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    mais ativo, influenciando assim, no esfacelamento do modelo familiar tradicional (MORGADO;

    DIAS; PAIXAO, 2013).

    Um terceiro fator de enfraquecimento das amarras do modelo familiar tradicional est ligado

    ao movimento social de reconhecimento de unies homossexuais. Este movimento apresenta

    implicaes jurdicas quanto a organizao e formalizao da estrutura familiar (FARIAS, 1986;ROUDINESCO, 2003).

    A mudana do olhar sobre as crianas, a busca das mulheres por uma igualdade de direitos

    na sociedade, e a crescente aceitao quanto ao poder dos homossexuais em assumirem um lugar de

    perfiliao, resultaram em um movimento de angstia e insegurana que prev o fim da instituio

    familiar (FARIAS, 1986; ROUDINESCO, 2003). Apesar de no chegar a um fim, a famlia passa a

    adquirir novas modalidades no mundo contemporneo, assumindo novas conformaes.

    Surgem ento as famlias monoparentais, famlias recompostas e famlias de paishomossexuais dentre tantas outras (LOBO, 2005). Formas essas que tentam acompanhar a

    sociedade capitalista e a cultura ps-moderna (GIDDENS, 1991; 1993).

    Partindo dessa introduo, o presente estudo partiu de uma reviso integrativa da literatura,

    considerando os dez artigos com maior nmero de citaes encontrados no site Scielo, com os

    descritores famlia, transformao, mulher e contemporaneidade entre os anos de 2003 e 2013. Essa

    metodologia foi utilizada com o objetivo de proporcionar conhecimento sobre as mudanas na

    famlia, atravs de um estudo de sua histria e dos processos de transformaes dessa instituio,assim como do papel da mulher em sua constituio ao longo do tempo.

    Influncia da Mulher nas Mudanas Familiares

    A famlia moderna, do final do sculo XVIII e do sculo XIX, tinha os papis claramente

    definidos. A mulher assumia o lugar da boa me, dedicada em tempo integral, responsvel pelo

    espao privado, ou seja, o cuidado da casa, dos filhos e do marido. Ao homem passa a caber o

    espao pblico da produo, das grandes decises e do poder (COUTINHO, 1994).

    A posio que a mulher ocupava na famlia moderna a proporcionava um status especial. A

    maternidade se tornou, para ela, ao longo da histria, como uma das nicas funes valorizadas

    socialmente, permitindo-a ser reconhecida. Esse fenmeno promoveu-lhe o sentimento de

    pertencimento a uma posio de aparente prestgio dentre do mbito social (BORSA; FEIL, 2008).

    A ela caberia todo o sucesso, ou fracasso, do(s) filho(s). Dessa forma ela passa a cuidar em tempo

    integral, sem horas para descanso, ou frias, esteja com sade ou doena. Do contrrio poderia ser

    acusada ou se sentir culpada de negligncia (COUTINHO, 1994).

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    No final do sculo XIX as mulheres trabalhavam exclusivamente em casa, ou em negcios

    da famlia. Os nicos trabalhos permitidos fora de casa eram a educao de crianas, a enfermagem

    e o servio domstico, porm eram restritos e estavam limitados as moas de classe social baixa

    (COUTINHO, 1994).

    Com a Segunda Guerra Mundial a mo de obra masculina nas indstrias ficou escassa,devido ao fato de que os homens tiveram que prestar servios ao exrcito. Conseqentemente as

    mulheres assumiram os postos de trabalho vagos, substituindo os homens no trabalho das fbricas.

    Para que elas pudessem desempenhar melhor os seus novos papis profissionais foram criadas

    vrias facilidades, como por exemplo, creches e cantinas; o que abriu mais vagas no mercado de

    trabalho para elas, assim como possibilitou o distanciamento da ocupao sacramental do cuidado

    exclusivo dos filhos (COUTINHO, 1994).

    No incio do sculo XX, as mulheres comearam a trabalhar no comrcio, como vendedorase nos escritrios como secretrias, alm de aumentarem sua participao no ensino e nas fbricas.

    Dessa forma, os papis de esposa e me comearam a ser comprometidos. Essa ideologia que

    possibilitava o trabalho fora de casa para as mulheres no tardou a chegar no Brasil. Nesse sentido,

    possibilitou-lhes uma nova forma de construo de sua identidade social (COUTINHO, 1994).

    Os movimentos feministas que eclodiram na dcada de 1960 nos pases desenvolvidos,

    impulsionaram o sentimento de descontentamento das mulheres. Esses chegaram, com certo atraso,

    no Brasil, mas propiciou a mudana no papel e na posio da mulher na sociedade brasileira(COUTINHO, 1994).

    Para as representantes do movimento feminista brasileiro a maternidade seria uma condio

    da qual toda mulher deveria escapar. Isso porque tal condio submetia a mulher a opresso por

    parte do homem. Por sua vez, no se tornar me representava uma escolha livre e autnoma

    (BORSA; FEIL, 2008).

    A busca por liberdade sexual surgiu com a plula anticoncepcional, que causou um

    comportamento feminino mais liberal e abriu novos horizontes para as mulheres. Esse desejo foi

    acompanhado pelo desejo de igualdade de direitos, de salrios e de deciso. Com o marco mundial

    do controle da concepo a mulher passou a ter autonomia quanto ao seu corpo e liberdade de

    optar pela maternidade. Separou-se a sexualidade da reproduo. Forneceu-se a famlia e,

    principalmente mulher, a noo de escolha permitindo ltima escolher quando e quantos filhos

    desejaria ter. Assim, a mulher deixou de ser obrigada a destinar-se a maternidade.

    Consequentemente ampliaram-se suas possibilidades de insero no convvio social e laboral. Com

    a gravidez tardia ela poderia se dedicar a outras funes, como por exemplo, a de trabalhar (SARTI,

    2007).

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    Em seguimento, na dcada de 1980, comearam a se instaurar processos de inseminaes

    artificiais, como por exemplo, as fertilizaes. Esses dissociaram a questo da gravidez da

    dicotomia homem e mulher. A mulher deixa a funo de reprodutora e passa a assumir uma

    identidade social mais autnoma e independente (SARTI, 2007).

    Modifica-se tambm a legislao. Atendendo a novas demandas e configuraes familiares ainstaurao do divrcio tornou-se mais simples. De modo similar, incrementou-se sua frequncia, j

    que paralelamente a esses, a sociedade tornou-se mais tolerante ao papel, e direitos, da mulher

    solteira ou divorciada (GUTIERREZ; FERRO; ROCHA, 2011; ROSA, 2013).

    Essas mudanas referentes ao papel da mulher, assim como sua ascenso profissional, o

    surgimento da plula anticoncepcional e o divrcio, contriburam para o declnio do modelo

    tradicional familiar. A mulher que, no passado, tinha pouca escolha, na contemporaneidade, passa a

    escapar do determinismo biolgico e social e se descobre cidad, ou melhor, sujeita do seu desejo.Atualmente, cada vez mais as mulheres se tornam chefes de famlia e os papis entre homens e

    mulheres no se vinculam mais identidade sexual, mas sim as circunstncias.

    Famlias Atuais

    As mudanas ocorridas ao longo da histria resultaram em novas formas de famlia, as quais

    so oriundas de transformaes sociais e culturais. Surgiram ento, as famlias monoparentais,recasadas e de pais homossexuais. Apesar dessas formas alternativas de famlias serem

    diferenciadas da famlia tradicional nuclear, essas exercem a funo destinada a ltima. Isso porque

    a famlia tem por lei a obrigatoriedade de cuidar do desenvolvimento da criana, da integridade do

    corpo e transmitir herana patrimonial e cultural. Constitui-se uma famlia, perante a legislao,

    quando realizadas essas tarefas. Essa funo, ento, pode ser exercida por vrios tipos de grupo

    familiares, como a de um casal heterossexual, ou um casal homossexual, ou uma s pessoa (ROSA,

    2013).

    A evoluo da cincia em relao reproduo humana contribuiu para essas mudanas. O

    maior nmero de nascimentos derivados de solues de alta tecnologia (fora das vias naturais de

    concepo), tem tornado mais fcil a aceitao de vnculos familiares diversificados. A tecnologia

    oferece a oportunidade de se constituir uma famlia sem ao menos entrar em contato com um dos

    membros do par. Possibilita que casais homossexuais constituam um novo grupo familiar ou que

    famlias sejam construdas a partir de s um membro gerador (MAUTNER, 2003).

    A famlia monoparental aquela constituda apenas por um homem, ou uma mulher. Essa

    formada por pessoas vivas, ou sujeitos que optaram por uma produo independente - ou seja,

    utilizaram da tecnologia para constiturem uma famlia ou ainda, aqueles que por no possurem

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    um relacionamento estvel, geraram prole com parceiro(a) que no compartilhavam o desejo de ter

    um filho, ou de constituir uma famlia (ABECHE; RODRIGUES, 2010) .

    Com o aumento do nmero de divrcio surge tambm as famlias recasadas, aquelas

    constitudas por um par (ou casal) oriundo de experincias previas de casamentos desconstrudos

    (indivduos separados ou vivos). Fres-Carneiro (1998) pontua que essas famlias possuemcaractersticas prprias e no podem ser consideradas como uma famlia nuclear recriada. Isso

    porque, muitas vezes, so construdas novas unies de parceiros que j trazem filhos de unies

    pregressas. Esses, que so enteados do conjugue, so irmos dos filhos desse apenas em nome

    (FRES-CARNEIRO; PONCIANO, 2003).

    Existem, atualmente, tambm as famlias constitudas por homossexuais. Modalidade que

    ainda hoje que gera certo espanto. Esse tipo de famlia alternativa bastante recente e apenas alguns

    pases no mundo aprovam em lei o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e reconhecem taisunies como condio para adoo, ou registro da prole (MAUTNER, 2003).

    Nem todos os pases tm acompanhado a velocidade das mudanas. No Brasil, por exemplo,

    ainda no h nenhuma legislao que permite a aprovao das unies legalmente. Porm, o pas est

    caminhando para alcanar essa nova realidade, pois os tribunais passaram a proferir decises

    inovadoras em casos relacionados com essa situao (YANAGUI, 2005).

    Essas atuais formas de famlias no devem ser consideradas como disfuncionais ou

    anormais. Devem sim, ser reconhecidas como novos modelos que surgem diante da necessidade ediversidade do mundo contemporneo.

    CONSIDERAES FINAIS

    possvel concluir ao longo desse estudo sobre as mudanas da famlia no transcorrer do

    tempo que essa instituio est intimamente ligada s evolues culturais e sociais de cada poca.

    Entretanto, errneo afirmar que as formas atuais de famlias so causadoras das problemticas

    atuais. Essas so apenas reflexos do contexto histrico contemporneo.

    Neste contexto de mudanas, vrias incertezas sobre o futuro da famlia se seguem na

    contemporaneidade. Considerando tais mudanas, amplia-se a discusso sobre os conhecimentos e

    mudanas nos modelos de organizao da famlia.

    A famlia atual vem exercendo de forma positiva a sua funo social. Apesar das mudanas,

    trocas e construo de novos papis dentro dessa instituio, a mesma tem conseguido se reinventar.

    Ao considerar a histria da famlia e a velocidade das transformaes dessa instituio nos

    ltimos tempos, possvel concluir que cada vez mais essa se afasta do modelo tradicional nuclear.

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    Dessa forma, fica a incerteza sobre as provveis formas das famlias do futuro. Resta predizer que

    est ir acompanhar a realidade cultural e social do momento vivido.

    Novos estudos sobre as famlias atuais se mostram importantes. O conhecimento sobre as

    novas formas de relaes possibilita um melhor entendimento sobre as mesmas e sobre a atualidade

    em que essas se inserem. Compreende-la importante para a realizao de intervenes efetivas,quando necessrias, e para a desmistificao e reduo do preconceito sobre as modalidades

    familiares contemporneas.

    Por fim, mas no menos importante, considera-se a limitao desse estudo em relao a

    proposta de realizao de reviso integrativa em perodo especfico com a anlise dos dez mais

    citados no site buscado apenas. importante considerar que vrios outros trabalhos foram

    encontrados, mas no analisados por no atenderem aos critrios de seleo propostos para esse

    trabalho, o que no desqualifica-os, alm de considerar inmeras outras perspectivas de anlise.Sem o desejo de esgotar o assunto acredita-se na presente contribuio.

    REFERNCIAS

    ARIS, P. Histria Social da Criana e da Famlia. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

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