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13TH BRASA INTERNATIONAL CONGRES Painel E-9 - “Os jovens e o mercado de trabalho no Brasil” Trajetórias e transições. Os múltiplos e difíceis caminhos dos jovens brasileiros no mercado de trabalho Nadya Araujo Guimarães (USP/DS e CEM) Leticia Marteleto (University of Texas, Austin) Murillo Marschner Alves de Brito (PUC-Rio) Providence, RI 30 de março a 2 de abril de 2016

Trajetórias e transições. Os múltiplos e difíceis caminhos dos jovens ... · efeito, grande parte das suas experiências ocupacionais transcorreram numa conjuntura econômica

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13THBRASAINTERNATIONALCONGRESPainelE-9-“OsjovenseomercadodetrabalhonoBrasil”

Trajetóriasetransições.

Osmúltiplosedifíceiscaminhosdosjovensbrasileirosnomercadodetrabalho

NadyaAraujoGuimarães(USP/DSeCEM)

LeticiaMarteleto(UniversityofTexas,Austin)

MurilloMarschnerAlvesdeBrito(PUC-Rio)

Providence,RI

30demarçoa2deabrilde2016

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Trajetóriasetransições.OsmúltiplosedifíceiscaminhosdosjovensBrasileirosnomercado

detrabalho1

NadyaAraujoGuimarães2LeticiaMarteleto3

MurilloMarschnerAlvesdeBrito4

Introdução

Este estudo tem um alvo: caracterizar os percursos dos jovens Brasileiros nomercado de trabalho e refletir sobre alguns dos seus principais correlatos. Taispercursos foram identificados a partir dos dados colhidos no survey nacional OIT-Brasil/TET “Transição Escola Trabalho”, que investigou uma amostra representativa3.288casospormeiodeumquestionárioaplicadoementrevistascolhidasemjunhode2013.5

Para melhor apresentarmos os seus resultados, estruturaremos odesenvolvimentodoargumentoemcincoseções,alémdesta“Introdução”.Naprimeira,fixaremos os nossos “Pontos de partida”, procurando aclarar as preliminares teóricasassumidasejustificandoaimportânciadaabordagemlongitudinalnoestudodasformasde inserção ocupacional dos jovens. Na segunda seção, “Desenho metodológico”,

1Comunicação apresentada ao painel E-9, “Os jovens e omercado de trabalho no Brasil”, porocasiãodo13thBRASAInternationalCongres,Providence,RI,USA,31demarçoa2deabrilde2016.EstetextofoidesenvolvidograçasaumsuporteespecialdaOrganizaçãoInternacionaldoTrabalho – Escritório do Brasil, na forma de um contrato para análises complementares dosdadosdapesquisaTET–“TransiçãodaescolaparaotrabalhodosjovensnoBrasil”,viabilizadopor meio do projeto “Transições e trajetórias juvenis. Padrões e determinantes” (contrato2100154-3501). O desenvolvimento desse projeto teria sido impossível não existissem ascondições primeiras para o trabalho e a cooperação entre os seus autores propiciadas peloCentro de Estudos da Metrópole (processo FAPESP/CEPID 2013/07616-7), bem como peloprojetoFAPESP/UniversityofTexas,Austin“Educationalinequalities,worktransitionsandsocialinclusion in Brazil” (processoNo. 2013/50891-9), coordenado por Nadya Araujo Guimarães eLeiticia Marteleto. O Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, o CentroBrasileiro de Análise e Planejamento e o Population Research Center da University of Texas,Austin, deram o respaldo institucional necessário a que todos os recursos (humanos efinanceiros) pudessem ser mobilizados em nosso favor.O desenvolvimento das análises aquiapresentadasfoipossívelgraçasaosuportetécnicodePauloHenriquedaSilva(CNI,Brasília)ede Aída Villanueva (University of Texas, Austin). Os autores agradecem, por fim, os lúcidoscomentários e boas ideias recebidas do Conselho Consultivo da TET, em suas oficinas dedezembrode2014emaiode2015,bemcomoaoscomentáriosdoscolegasdoCebrapedoCEM,especialmenteAlvaroComin,porocasiãodoSemináriorealizadoem29dejulhode2015,edoscolegasdoLILLASeBrazilCenterdaUniversityofTexas,porocasiãodossemináriosrealizadosem13e15deoutubrode2015emAustin.2Socióloga, professora titular do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo.PesquisadoraI-AdoCNPqassociadaaoCentrodeEstudosdaMetrópole,CEBRAP,Brasil.E-mail:[email protected]>3Socióloga, professora do Departamento de Sociologia e pesquisadora do Brazil Center e doPopulationResearchCenterdaUniversidadedoTexas,Austin.E-mail:[email protected]ólogo,professordoDepartamentodeEducaçãodaPontificiaUniversidadeCatólicadoRiode Janeiro e pesquisador associado ao Centro d Estudos da Metrópole. E-mail: [email protected] detalhes sobre a pesquisa TET – Transição Escola-Trabalho podem ser obtidos emVenturieTorini(2014).

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apresenta-se o modo como foram produzidas as informações longitudinalizadas asquais,naseção3permitirãoqueseapresenteos“PadrõesdePercursonoMercado”,quetipificamastransiçõesocupacionaisdosjovensdanossaamostra.Naseção4trataremosdoselosentre“PerfisePercursos”,explorandoasvariáveisqueseassociamaostiposdetrajeto, demaneira a caracterizar o perfil dos jovens que os perfazem. Finalmente, aseção5indicaráoselosentreospadrõesdetrajetórialaboraleoseventosdemográficoseeducacionais,decisivosnessemomentodociclodevida;paratal,vamosempreenderum movimento analítico que cremos imprescindível, qual seja, o de observar astransições no mercado à luz das transições demográficas e educacionais (ou, melhordito, de eventos que as estimam), fechando o ciclo das múltiplas interações entre asdimensões laboral, educacional e demográfica, as quais estão no centro do desafioanalíticoquenospropusemosaenfrentar.

Não é demais sublinhar que o retrato aqui delineado com respeito aosmovimentosdosjovensquetinhamidadeparaseapresentaraomercadoBrasileirodetrabalhonoperíodo2000–2013circunscreve-seaummomentomuitoparticular.Comefeito,grandepartedassuasexperiênciasocupacionaistranscorreramnumaconjunturaeconômicadecrescimentoe,sobretudo,desistemáticaampliaçãodaofertadepostosdetrabalho;mais ainda, de postos de trabalho protegidos por um contrato formal. Bemassim, esse foi ummomentomarcadopela ampliaçãodo acesso à escola, em todososseus níveis, e que se expressa seja na universalização do ensino fundamental, seja naampliaçãosignificativadoacessoaoensinomédio,sejananotável(dadoorestritopontode partida) incorporação juvenil ao ensino superior,mesmo se notadamente privado.Porfim,presenciamos,nessesmesmosanos, aconsolidaçãodaquedanafecundidade,notávelporsuarapidez,equedeixaoBrasildosanos2010compadrãoabaixodonívelde reposição da população, traço surpreendente se pensarmos as condições em quegeraçõesanterioresviveramasuapassagemàvidaadulta.

Sendoassim,aosedefrontarcomosresultadosdaanálisequeapresentaremosem seguida, o leitor deve ter sempre em mente a singularidade do lapso de temporecoberto. Flagramos, com esse estudo, um momento muito especial da sociedadebrasileira,sejaemtermosdasuadinâmicaocupacional,sejaemtermosdasuadinâmicaeducacional, seja em termos da sua dinâmica demográfica – precisamente as trêsdimensões mais relevantes quando refletimos sobre as condições estruturais sob asquais transcorre a transiçãopara a vida adulta. Isso fez comque tivessem sidomuitoespeciais as chances abertas, por um contexto tão singular, à geração de jovens cujospercursos iremos doravante apresentar, se comparada a coortes que fizeram suastransiçõesemmomentosanteriores.

1.PontosdePartida

Oestudoda inserçãoocupacionaldos jovenséumtemaquecolocaumaamplagama de desafios analíticos que têm mobilizado o interesse da literatura acadêmica.Preliminarmente, convém deixar assentes alguns dos nossos entendimentos, uma vezqueelesderamsentidoàsdecisõesoperacionaisquesustentaramasanálises.

Em primeiro lugar, sabemos que as transições ocupacionais dos jovens nãoapenastendemasermaisintensasqueasdosadultos,comotambémestãopropensasaenvolvermovimentosque incluempassagenspela inatividade.Elascompreendem,porissomesmo,eventosdeocupação,dedesempregoede inatividade,quecostumamsertantomenosrecorrentesquantomaisseavançaemdireçãoàvidaadulta.Portalrazão,a análise longitudinal dos percursos tem se revelado uma ferramenta especialmente

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elucidativadanaturezadessapluralidadedemovimentosjuvenisembuscadainserçãoeconômica.

Mas, há que ter também em mente, que os eventos laborais dos jovensacontecemparalelamenteaoutroseventosimportantesemsuasvidas.Conquantoesseenlaceentredimensõesdavidanão sejaumacaracterísticaexclusivamente juvenil, assuastrajetóriasocupacionaismarcamesãoespecialmentemarcadasporoutroseventosimportantes, dadoomomentono cursode vida emque se encontram (Alisson, 1984;Elder,1985). Comefeito,sabemos,porfartaliteraturaacadêmica,queoperíodoentreos 15 e os 29 anos compreende movimentos de transição especialmente relevantesparaadeterminaçãodaestruturadeoportunidadesqueseapresentaráaos jovensemtermosdealcanceeducacional,ocupacionaledechancesdemobilidadesocial.Énesseperíodo que se localizam certos marcos do ciclo de vida, chaves no rumo àautonomização de status. O acúmulo de escolarização formal através das transiçõeslocalizadasnosistemaeducacional;aentradaeacirculaçãonomundodotrabalho,eatransiçãoentresituaçõesocupacionais;amudançanacondiçãodomiciliar,comasaídado domicílio de origem, associada, ou não com as experiências da nupcialidade e daparentalidade, são, todos esses, exemplosde fenômenos típicos dessa fase do ciclo devida.

Taisfenômenostêmconsequênciasimportantessobreaposiçãosocialocupadapelos indivíduos em sua vida adulta, as quais têm sido investigadas na literaturainternacional (Shavit e Blossfeld, 1993; Shavit eMüeller, 1998; Roksa e Velez, 2010),mas também documentadas para o caso Brasileiro (Torche e Ribeiro, 2010; Silva eHasenbalg, 2003; Marteleto e Souza, 2012). Estudá-los é central, portanto, para seentenderasvicissitudesdosjovensnassociedadescontemporâneas.Vicissitudesquesetornam especialmente importantes em realidades, como a brasileira, na qual intensastransformações sócio-demográficas têm afetado as tendências da nupcialidade, dafecundidade,damortalidade,daescolaridade.Aliadasànotávelexpansãonoacessoaosistema educacional, elas formam um leque de elementos com impactos relevantessobreasoportunidadesnoqueconcerneaoacessoàestruturadeemprego,elaprópriasujeitaaintensastransformaçõesnoBrasildosquinzeúltimosanos.

Ademais,eventoseducacionais,laboraisedemográficosnãoacontecememumasequência específica, cuja ordem possa ser pré-determinada. Por isso mesmo,entendemoscomo inadequadasdefiniçõesqueassumemumapassagem linearentreofim da carreira educacional, a inserção ocupacional e a autonomização em relação aodomicíliodeorigem,comasubsequenteformaçãodeumanovaunidadedomiciliar.Aocontrário, as trajetórias juvenis são heterogêneas e se caracterizam pela riqueza dasexperiênciasdosjovens:estudametrabalhamaomesmotempo,saemdaescolaemaistarde retornam, começam o primeiro emprego e retornam à escola. Estes são, dentremuitos outros, alguns possíveis enlaces entre trajetos laborais, escolares e familiares.Entendê-los requer o uso de arcabouços conceituais e metodológicos que levem emcontaessaespecíficanatureza.

Por issomesmo,muito embora neste texto estejamos precipuamente voltadospara identificar padrões de transição dos jovens Brasileiros nomercado de trabalho,nossas medidas operacionais nem de longe pretendemos conferir exclusividade àdimensãodainserçãoocupacional,tomando-acomoindicadorúnicodatransiçãoparaavida adulta. Propugna-se aqui por uma compreensão assentada no suposto de que atransição para a vida adulta só pode ser entendida se a capturarmos como ummovimento que intersecciona múltiplas transições: as transições educacionais, astransiçõesnacondiçãodomiciliar,astransiçõesnomercadodetrabalho.Sóassimserápossível ressaltar as especificidades brasileiras concernentes aos padrões de inserçãoocupacional de jovens, em seus elos com a dinâmica particular do nossomercado detrabalho, da estruturação e da acessibilidade aos diversos níveis educacionais e das

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mudança na condição domiciliar (Hasenbalg, 2003; Comin e Barbosa, 2011; Ribeiro,2011; Brito, 2014; Marteleto e Souza 2012). Daí derivam padrões específicos detrajetórias (e transições) no ciclo de vida dos jovens e jovens adultos Brasileiros(Guimarães,2006).

Finalmente,assumimosqueastrajetórias juvenissãosocialmentesegmentadasde acordo com mecanismos específicos à nossa sociedade. Marcadores sociais quediferenciam internamente os jovens Brasileiros serão considerados adiante comovariáveis importantes no entendimento da distribuição dos indivíduos por tipos depercurso. Dentre eles se destacam, a idade, o sexo, a condição racial, a residênciaurbano-ruraleascaracterísticassocioeconômicasdodomicílioemquevivem.

2.Calendarizandopercursos

De modo a construir a análise longitudinal dos percursos e posteriormente

explorar os seus determinantes e correlatos, foi necessário, como primeiro passo,montarumcalendáriodeeventosocupacionais.Talcalendárioapresentaasituaçãonomercadodetrabalho,mêsamês,decadaumdos3.288casosválidos,apartirdoquefoiinformadonasentrevistascolhidasemjunhode2013.Ocalendárioquefoiproduzidoé,assim,umamatriztridimensionalformadapor14alternativasdesituaçõesnomercadodetrabalho,documentadasaolongode282meses(contadosapartirdemarçode1990,quandooprimeiroeventoocupacional foi identificado),paracadaumdos3.288casosdejovensentrevistados.Seacontagemdosmeseseaidentificaçãodoscasossãoeixosdefácilconsecução,omesmonãosepassacomaconstruçãodasalternativasdesituaçãoem faceaomercadode trabalho,o terceirodoseixosacimareferidos.Vejamos, então,comoomesmofoiproduzido.

Ascategoriasdesituaçãonomercadodetrabalhoforamdefinidasbasicamentea

partir da informação sobre os eventos ocupacionais disponível no questionário.Utilizamos, para tal, as questões: C15 – “Qual das seguintes atividades melhorcorrespondeoquevocêestava fazendo?” e C18 – “Vocêestá/estavaempregadonabasede?”.

Nabasededados,asvariáveis foramdivididasereplicadasparacadaeventoepara cada intervalo entre eventos. Assim, temos 16 versões da C15, sendo as versõesímpares são relativas a trabalho e as pares a atividades entre eventosde trabalho. AC15_01 da base de dados é relativa ao primeiro evento ocupacional do jovem com ascategoriasde1a4daquestãoC15doquestionário;emseguidatemosaC15_02relativaàsituaçãoapósdeixaroprimeirotrabalhoeantesdeconseguirosegundo(seforocaso)comascategoriasdaquestãoC15doquestionárioentre5e8.AsquestõesdaC18sãorelativas apenas a eventos de trabalho e estão associadas às versões ímpares da C15numtotalde8versões(C18_01,C18_03atéC18_15).

AconstruçãodocalendárioparaospercursosconsiderouaindaasquestõesC14do questionário “Datadoinício”, C17 “Quantotempodurouessaatividade”, C16 “Aindadesenvolveessaatividade?”eB2“Idade”.

Da interaçãodessasvariáveischegamosàs14seguintescategorias relativasàspossíveissituaçõesdecadajovememfaceaomercadodetrabalhoemcadamomentodotempo:

• “Seminformação”Casosrarosondeomêsfinaldeumeventonãoprecedeimediatamenteaomês

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deiníciodoeventoseguinte,demodoquepodemosficarcomumoumaismesesseminformaçãoduranteatrajetória.

• “Procuraativa”Jovensqueresponderamaopção5“Disponívelparatrabalharebuscaativadetrabalho”nasversõesparesdaC15(C15_02,C15_04...C15_16).

• “QualificaçãoJovensqueresponderamaopção6“Atividadesdequalificação”nasversõesparesdaC15

• “Afazeresdomésticos”Jovensqueresponderamaopção7“Tarefasdomésticas”nasversõesparesdaC15

• “Inatividade”Jovensqueresponderamaopção8“Nãotrabalhavanemprocuravatrabalhoporoutrosmotivosdiferentesàstarefasdomésticas”nasversõesparesdaC15

• “Assalariado(seminformação)”Pessoasocupadasqueresponderam1“Trabalhavaporumsalário/rendaparaumempregador(tempointegraloumeiotempo)”nasversõesímparesdaC15(C15_01,C15_03...C15_15)enãoresponderamaC18(997).

• “Assalariadocomcontratoescrito”Pessoasocupadasqueresponderam1“Trabalhavaporumsalário/rendaparaumempregador(tempointegraloumeiotempo)”nasversõesímparesdaC15eresponderam1“Umacordoescrito”naC18correspondente.

• “Assalariadosemcontratoescrito”Pessoasocupadasqueresponderam1“Trabalhavaporumsalário/rendaparaumempregador(tempointegraloumeiotempo)”nasversõesímparesdaC15eresponderam2“Umacordooral”ou3“Semcontrato(porcontaprópria,semremuneração...)”naC18correspondente.

• “Contaprópria”Pessoasocupadasqueresponderam2“Porcontaprópria”nasversõesímparesdaC15

• “Trabalhadorfamiliarsemremuneração”Pessoasocupadasqueresponderam3“Trabalhavacomfamiliaressemremuneração(trabalhoparabenefíciodafamília)”nasversõesímparesdaC15

• “Contratodeaprendizagem/estágio”Pessoasocupadasqueresponderam4“Aprendizagem/estágio”nasversõesímparesdaC15

• “Desempregoe/ouinatividade”Pessoasdesocupadasnaquelepontodatrajetóriaquetinham14anosoumaisequeaindanãohaviamtidoumeventoocupacional.Sabemosquenãoestavamtrabalhandonesseperíodoanterioraoprimeirotrabalho,masnãotemosinformaçãoseessaspessoasestavaembuscaativaounão.

• “Menosde14anoseinativo”Pessoasdesocupadasnoperíodoanterioraoprimeiroeventoocupacionalquetinhamidadeinferioràidademínimalegalmenterequeridaparaexercerquandomenosumcontratodeestágio-aprendizagem(hajavistoqueaidadelegalmínimaparaingressonotrabalhoformaléde16anos).

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• “Nãorespondeu”Casosrarosdepessoasquenãoresponderam(997)ourecusaramresponder(999)qualquerversãodaquestãoC15(C15_01,C15_02...C15_16).

Combasenestaclassificação,foipossívelidentificar,paracadaindivíduo,mêsamês,qualeraasuasituaçãocomrespeitoaomercadodetrabalho.Montaressetipodecalendário é condição sine qua non para realizarem-se as ulteriores analiseslongitudinais(seção3).Pormeiodelas,équesepoderáidentificarpadrõesdepercursonomercadopartilhadosporsubgruposdeindivíduos,chegandoaconstruirtipologiadetrajetórias agregadas, que se diferenciarão pela natureza das transições que em cadaumadastrajetóriastemlugar(Gautié,2003).

Trêsobservaçõespreliminaressefazemnecessárias.

Primeira.Naamostra,90%dosjovensnãotemexperiênciadetrabalhodemaisde três meses aos 14 anos. Como o questionário foi montando tendo como início datrajetória nomercado de trabalho o primeiro emprego, e não a procura de trabalho,para a grande maioria dos casos não temos informação bem definida para idadesinferiores aos 14 anos.Ademais, é interessante destacar o fato de que, ao estabelecercomotrêsmesesolapsodetempomínimodeumeventoparaserconsiderado,obancopodeestarsubenumerandoexperiênciasocupacionaispoissabemosquemuitasdelassefazem em lapsos de tempo mais curtos. Mesmo no mercado formal de trabalho, seconsiderarmos como exemplo aqueles empregados por agencias de emprego eempresas de trabalho temporário (e 2 em cada 3 são jovens), o tempo médio dosvínculosémenorque3meses(cfGuimarães,ConsonieBicev,2013).

Segunda.Inexisteinformaçãoquepermitacaracterizarotempodeprocuraqueantecedeuoprimeirotrabalhoidentificadonabiografiaocupacionaldoentrevistado(tallacunainexisteparaossubsequentesvínculos).Comonadaéindagado,háumavaziodeinformação que se situa entre omomento em que o entrevistado chega à idade legalparaestarinseridonomercado(quandomenosnaformadebeneficiáriodeumcontratode aprendizagem ou estágio, ou seja, 14 anos) e omomento em que ali obtém o seuprimeiro trabalho. Este lapso deixa entrever um viés no que se entende comoengajamentomercantil.Issoporqueopontodepartidaparaareconstituiçãodahistóriadas experiências do indivíduo no mercado de trabalho não deveria ser (comotransparecenaestruturaçãodoquestionário) aobtençãoda suaprimeira experiência.Ora, se o mercado é o âmbito onde circulam os ocupados e os desempregados, é omovimentodeprocuradetrabalhoquedemarcaoiníciodoengajamentomercantil.Comefeito, assim comonãoháumapassagemautomática entre fimda formação escolar eingresso no mercado de trabalho, ela tampouco existe entre decidir engajar-se eencontrarumaocupação.Porissomesmo,naausênciadeumaperguntasobreotempodeprocuraqueantecedeuaprimeiraexperiência(mesmosecomoaprendiz),cria-seumvácuo de informação; não se sabe se, uma vez socialmente apto, por quanto tempo oindivíduo semanteve inativo e a partir de quando passou a procurar o seu primeirotrabalho. Este vácuo se expressa no imperativo de criar-se uma categoriadesnecessariamente ambígua e imprecisa - “desemprego/inatividade” – que,desafortunadamente,torna-setantomaisimportanteemtermosnuméricosquantomaisseavançanaidade.6

Terceira.Conquantooprimeiroeventomapeadodatedemarçode1990,poucossãooscasosdeentrevistadosqueapresentameventosantesde2000.Acredita-sequeisso não se deva a erro proveniente de “efeitomemória”. Conquanto se saiba que talefeitopodeafetaraqualidadedainformação,notadamenteaocomprometeraprecisão 6EsteéumaspectoaserreconsideradoquandodarevisãodoquestionárioparaumasegundaidaacampodapesquisaTET-Brasil.

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com que o respondente recupera as datas de inicio e final de cada evento, aposta-se,aqui, em outro tipo de explicação. Com efeito, os mais velhos nomomento da coleta(com 29 anos) atingiram a idade legal para trabalhar ao menos como aprendizes ouestagiários (apartir dos14 anos) apenas em1998; todavia, essaspessoas são apenas5,7%daamostra.Nãoésurpreendente,portanto,queaté1997tenhamosmenosde1%dosentrevistadoscominformaçãosobreeventosdeocupação.

Por issomesmo,comoonúmerodeeventoscaidemodoabruptoentre1990e2000,optou-seporrepresentarnosgráficosapenasaqueleseventosocorridosapartirde 2000 e, com isso, propiciar melhor visão do peso relativo de cada uma dasalternativasdeinserção.

OGráfico1aseguirseconstituiunoprimeiroresultadolongitudinalalcançado.Ele nos provê um conjunto de fotografias transversais, que podem sermontadas já apartirdosimplescalendário,equerevelamasituaçãodoestoquedeentrevistadosemcadamomentodotempo,acadamês.Esteéumprimeiroretratodadistribuiçãogeraldaamostra.

Gráfico1Variaçãomensalquantoàsituaçãodosjovensfaceaomercadodetrabalho

N=3.288

Fonte:TETBrasil,2013.Processamentospróprios.

Demaneira a verificar a sensibilidade do calendário amudanças em variáveisanaliticamente relevantes, o passo metodológico seguinte foi testá-lo com respeito àcomposiçãoporgruposdeidade,derenda,sexo,corelocalderesidência(seurbanoourural). A escolha dessas variáveis baseou-se na capacidade de discriminação por elasdemonstrada emoutro estudodesenvolvido, para estamesma amostra, porVenturi eTorini(2013).

Dentre todas, as variações observadas por grupos de idade mostraram-se osmaissignificativosmarcadoresdemudançasnadistribuiçãodaamostrapelasdiversassituaçõesnomercadodetrabalho,razãopelaqualaretemoscomoexemplodotrabalho

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Contradodeaprendizagemouestágio

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Assalariado(seminformaçãosobrecontrato)Inatividade

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metodológicoempreendidonestaetapapreliminar.7Comefeito,quandocomparadosos“adolescentes”(modocomodenominamosogrupocomaté17anos),aos“jovens”(entre18a23anos)eaos“jovensadultos” (entre24a29anos)as diferençasnassituaçõesfaceaomercadomostram-separticularmentenítidas(Gráfico2).

Gráfico2Variaçãomensalnasituaçãofaceaomercadodetrabalho,porgruposdeidade

I-Os“Adolescentes”(Menoresque17anos)

7Paramaioresdetalhessobreostestesparaasdemaisvariáveis(renda,sexo,corelocalderesidencia),verGuimarães,Marteleto,MarschnereSilva(2013).

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II-Os“Jovens”(Entre18e24anos)

III-Os“Jovens-Adultos”(Entre25e29anos)

Fonte:TETBrasil,2013.Processamentospróprios.

Comoseriadeesperar,àmedidaemqueaidadetranscorre,assituaçõestípicasdoengajamentomercantilvãoganhandoproeminência;sãoelas,oassalariamento(comou sem contrato escrito) e o desemprego (expresso na procura ativa de trabalho). Ainatividade, em contrapartida, recua fortemente. Mas, observe-se que ela permanece

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Menosde14anoseinativo

Desempregoouinatividade

Contradodeaprendizagemouestágio

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Assalariadosemcontratoescrito

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Qualificação

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(mesmoentreos “jovensadultos”) comoumasituaçãoquase tão importantequantoodesemprego, como a sugerir que mover-se, para uma parcela não desprezível daamostra,emcadamomentodotempo,podeimportaremcirculartantoentresituaçõesao interior do mercado de trabalho, como dele retirar-se de modo recorrente. Issodesafia entendimentos simplificados, porque lineares, acerca da transição; e indica ainexistência de pontos de não-retorno no engajamento mercantil, estabelecidos, sejapelaidade,sejapelaconclusãodaformaçãoescolar.

Emsuma,ecomojásepodevernomeromovimentopreliminardeorganizaçãodasinformaçõesempíricas,asformasdetransiçãosãoplurais,heterogêneaseprecisamsercapturadasemsuariqueza.Todavia,ecomosalientadoanteriormente,ocalendárioapenassugereolongocaminhoanalíticoqueháporsertrilhado,equejásedescortinaapartirdoordenamentolongitudinaldasinformações.Nocasoacimaexemplificado,eleéuma mera fotografia de uma sucessão de momentos, sendo apenas sugestivo dessaspassagens pela inatividade; é incapaz de dimensionar o seu real impacto na histórialaboraldecadaindivíduo.Istoporqueelemedeapenasaproporçãodaamostraque,emcadamomento,encontrava-seemumasituação,semindicaroquantotalsituaçãomarcaocursodatrajetóriadeumrespondente.

Todavia,calendarizarasvariáveiséopontodepartidaparaquesepossaviradescrever trajetórias. A etapa seguinte, cujos resultados se apresenta na seção 3,envolveu o uso de procedimentos estatísticos de análise fatorial e de clusters. Numprimeiro passo, a partir damatriz trimensional da ordem de 14 x 282 x 3288 foramextraídosfatoresquepermitiamchegaraidentificartiposdepercursosdominantes,aosredor dos quais se agregavam os clusters de casos. Vejamos o resultado na seçãoseguinte.

3.PadrõesdePercursodosJovensnoMercadodeTrabalho

Seis tipos principais de trajetórias ocupacionais foram identificados comoresumindo as tendências gerais dos movimentos dos jovens amostrados no mercadoBrasileirodetrabalhoentre1990e2013.Elessãoinicialmenteapresentadosedescritosnestaseção.

Oprimeirotiporeúnepoucomaisque¼doscasosdaamostra(28,3%)etipificaasituaçãodaquelesmaisjovens(quase60%delestementre15e19anos),adolescentesainda,quenãosecreemdisponíveisparaotrabalho,sobretudoporestaremestudando(52,1%),ou,paraváriosdeles,por seentenderemaindamuito jovensparao trabalho(11,7%).Seestaéaclassedosmuitojovens,nelapredominamas jovens(58,7%).Nãodeixa de ser significativo que 6,2% das pessoas nesta classe se reconheçamimpossibilitadas para o trabalho por estarem grávidas. Esta é também a classe queconcentraomaiorpercentualdepessoas(20,5%)nafaixamaisbaixaderenda.

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Gráfico3

Classe1–Adolescentesemformação(28,3%doscasos)

Fonte:TETBrasil,2013.Processamentospróprios.

Osegundotipodetrajetóriaagrupapertodeumoutroquartodecasos(23,8%);ou seja, juntos, os tipos 1 e 2 abarcam metade da amostra, o que dá medida daimportânciadestesdoispadrõesdepercurso.Essaclasse2reúnejovensquehámuitopoucotempohaviatidoasuaprimeiraexperiênciaocupacional(apartirde2010).Doisaspectoschamamaatençãonestepadrão.Porum lado,aenormeáreaemamarelonoGráfico4,aindicarumaparcelaimportantedotempoemquetudooquesabemossobreasuasituaçãoéqueinexiste,emsuabiografia,umeventodetrabalho;entretanto(pordificuldadesdoquestionário),nãopodemosdizersejáestiveram(eporquantotempo)empenhadosemprocurade trabalho.Sepudéssemosdizê-lo,estaseriaumatrajetóriatípica de desempregados relativamente duradouros, ou de transição entre odesemprego e a inatividade, ou seja, cedo marcada pelo desalento. Entretanto, nãotemossolidezempíricaparaafirma-lo,daíporqueosclassificamoscomoemsituaçãode“Desemprego/Inatividade” (até porque já se encontram em idade que os habilita àexperiênciade trabalho,mesmosena formadeaprendizageme formação). Poroutrolado,seestes jovens iniciaramasuatransiçãode ingressoaomercadodetrabalhoemperíodorelativamenterecente, chamatambémaatençãooenormegradientedecoresque caracteriza a sua situação a partir daí, a revelar a ausência de um engajamentominimamente estável oudeuma condiçãode inserçãoque fossedominante e desse a

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Menosde14anoseinativo

Desempregoe/ouinatividade

Contradodeaprendizagem\estágioTrab.familiarsemremuneraçãoContaprópria

AssalariadosemcontratoescritoAssalariadocomcontratoescritoAssalariado(seminfo.)

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Afazeresdomésticos

Qualificação

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Seminformação

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marca ao seu percurso no mercado de trabalho a partir do primeiro emprego. Aocontrário,éofluxosignificativodeindivíduosentredistintassituaçõesqueparecedaratônicaaomododeinclusãodestegruponomercadodetrabalho.

É um grupo ligeiramente feminino (51,2%), e com idade ainda relativamentebaixa(apenas15%tinhamaisque24anos).

Gráfico4

Classe2–Osrecém-chegados:Jovenscomexperiênciarecenteevariada(23,8%doscasos)

Fonte:TETBrasil,2013.Processamentospróprios.

O terceiro tipo de trajetória abarca 22% dos casos, e novamente chama aatençãoque,comapenastrês(dasseis)classesdepercursos,jáconseguimosdescrevernadamenosque2/3daamostra.Trata-sedeumgrupoondepredominamoshomens(54,6%dos casos), jovensde idade ligeiramentemais elevadaqueosdo tipo anterior(65,9% deles têm entre 18 e 24 anos), que chegaram hámais tempo que os do tipoanterioraoprimeiroeventodetrabalho(apartirde2008).

Seagrandeáreaemamarelopersiste,comonotipoanterior,aindicarorelevodotempopassadonasituação“Desemprego/inatividade”,éinteressanteobservarque,entreeles, a experiênciaque se segueaoprimeirovínculoparecemenoserráticapoisrevela uma concentração duradoura no assalariamento, sendo considerável ocontingentedaquelesquesemantêmemcontratosescritose,nessesentido,protegidospordireitosconsignadosnaCLT.Bemassim,aimportânciadocontingentedaquelesemprocuradetrabalho,parecesugerirqueestegrupocirculaporumsegmentodomercadoestruturado em base a relações onde dominam as figuras típicas de um mercadocapitalista: assalariados (com ou sem contrato) e desempregados. Entre os que não

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Menosde14anoseinativo

Desempregoe/ouinatividade

Contradodeaprendizagem\estágioTrab.familiarsemremuneraçãoContaprópria

AssalariadosemcontratoescritoAssalariadocomcontratoescritoAssalariado(seminfo.)

Inatividade

Afazeresdomésticos

Qualificação

Procuraativa

Seminformação

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tinhamdisponibilidade para o trabalho, chama a atenção neste grupo o peso dos queindicam como causas “as responsabilidades familiares ou o trabalho no lar” (46%) e“doença,lesãoouincapacidade”(18%).

Gráfico5

Classe3–Jovensemtrânsitoparaoassalariamento(22%doscasos)

Fonte:TETBrasil,2013.Processamentospróprios.

As trêsultimas classesdepercursoorganizamumaminoriados casos (apenas25,7%). Entretanto, os padrões de trajeto e (veremos emmaior detalhe no curso dotexto), os perfis que ali se agrupam, justificam aceitarmos o resultado da análise declusters,eseguirtomando-osemcontaemnossaanálise.

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Nãorespondeu

Menosde14anoseinativo

Desempregoe/ouinatividade

Contradodeaprendizagem\estágioTrab.familiarsemremuneraçãoContaprópria

AssalariadosemcontratoescritoAssalariadocomcontratoescritoAssalariado(seminfo.)

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Qualificação

Procuraativa

Seminformação

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Gráfico6

Classe4–Jovenscominserçãoestáveleestruturada(11,3%doscasos)

Aquelesqueseagrupamnotipo4depercursorepresentam11,3%doscasoseviveramoseuprimeiroeventodetrabalhoaindamaiscedoqueosdotipoanterior(apartirde2006).Nãosemrazão,poissetratadeumgrupocommaisidade(52,5%têmmais que 24 anos e apenas 7,1% menos que 20). Este é também um grupo comdominância dos jovens de sexo masculino (56,9%). Entre eles, a experiência doassalariamento duradouro é ainda mais significativa, e o desemprego tem menosimpactonastrajetórias;bemassim,otrabalhoporcontaprópriaseconsolidacomoumdestino que abarca uma quantidade não desprezível dos casos. É o grupo commaiorníveldeescolaridadeequeapresentaaparticipaçãorelativamaiordebrancos.

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Desempregoe/ouinatividadeContradodeaprendizagem\estágioTrab.familiarsemremuneraçãoContaprópria

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Afazeresdomésticos

Qualificação

Procuraativa

Seminformação

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Gráfico7Classe5–Jovensadultosnegroscomlongainserçãonotrabalhoemaiorriscode

desemprego(7,5%doscasos)

Otipo5depadrãodepercursonomercadodetrabalhoabarca7,5%doscasos.Formam um contingente dos trabalhadores que tem a média de idade mais elevadaentretodososgrupostipificados(79,5%têmmaisque24anos)etiveramaexperiênciadoprimeirotrabalhoháumtempoconsiderávelcomparativamenteaosdemaisgrupos(já a partir dos anos 2000). Escolaridade média mais baixa (22% têm apenas ofundamental)emaiorpesodenegros (70%)sãocaracterísticasqueandam juntocomum padrão de percurso em que o peso da situação de desemprego parece ser maissignificativoquenos casosanteriores, emboraoassalariamento (comcontratoe sem)sejadominantenopercurso.

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Nãorespondeu

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Procuraativa

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Gráfico8Classe6–Jovensadultoscominserçãomaisrecenteemaiorcomandosobrea

circulaçãonomercado(6,9%doscasos)

Porfim,aclasse6natipologiadepadrõesdepercursotambémreúnepequenonúmero de casos (6,9%), com proporção igualmente elevada de homens (61,5%).Todavia, em que pese a idade elevada (61% de jovens adultos, na faixa dos 25 a 29anos),aprimeiraexperiênciadetrabalhoébastantedistintadosdaclasse5(conquantopróximos em perfil etário) pois deu-se apenas a partir de 2004. A isso se alia umaescolaridadetambémmaiselevada(55%possuementremédioesuperiorcompletos).Omaiorcomandosobreomercadopareceseexprimirnãoapenaspelapossibilidadedeestabelecimento mais tardio de vínculo, como pelo maior relevo da passagem àinatividade (depois do primeiro trabalho), numa trajetória igualmentemarcada pelasformas de assalariamento, mas com um numero destacável de casos para os quaisinexisteinformaçãoarespeitodasituaçãoocupacional.

Ao longodesta apresentaçãodos seis principais tiposdepadrõesdepercurso,viu-sequeaprogressãoda idadepareceserumavariávelqueestabeleceasprimeirasgrandesdiferençasentreasclasses.Comefeito,àmaioridadecorresponde,viaderegra,umtempomaisrecuadodeingressonoprimeirotrabalho,àexceçãodosjovensadultosda classe 6. Outras variáveis certamente se associam aos tipos de trajetória, e algunssinaisdestaassociaçãojácomeçaramasefazernotarnestabreveapresentaçãoinicial.Afim de explorá-losmais sistematicamente, vamos, na seção 4, proceder uma análiseestatística mais sistemática, de maneira a associar padrões de percurso a perfis dejovensqueosperfazem.

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4.PerfisePercursos

Afimdeaprofundarnossainvestigaçãoarespeitodascaracterísticasassociadasao pertencimento dos jovens amostrados às classes de trajetórias, as variáveis foramagrupadasemquatrodimensões.Assimfazendo,visamosqualificarotipodeassociaçãoempiricamenteobservávelentreessasdimensões(oublocosdeindicadores/variáveis)ecadaumdosseistiposdetrajetóriasocupacionaisapresentadosnaseçãoanterior.

Osquatroblocosdeindicadores/variáveissãoosseguintes:

(a) Atributos individuais: incluem-se aqui características habitualmente utilizadascomovariáveisdecontrole,sejamelasadscritas(ouseja,aquelascomasquaisosjovensjánascem,comosexoeraça)ounão,comoacondiçãonodomicílio(seojovemépessoadereferênciaoucônjuge);

(b) Caracterizaçãodaposiçãonociclodevida:aqui incluíram-sevariáveisquenospermitissemdiferenciaropertencimentoàsclassesdetrajetóriasdeacordocoma posição que os jovens investigados ocupavam no ciclo de vida quando darealização da pesquisa. Entre as características que incorporamos à análisecontam-se dois grupos principais: (1) a variável que indica a realização datransição rumo à vida adulta, tal como definida pela própria OIT (Venturi eTorini, 2014); (2) variáveis que indicam a proporção do tempo de vida dosjovens transcorrido desde a ocorrência de alguns marcos fundamentais datransição para a vida adulta, a saber: tempo desde o nascimento do primeirofilho, desde o abandono da escola, desde o 1º registro ocupacional e desde ocasamento(medidocomootempotranscorridodesdequeo jovemmora juntocomo/acônjuge);

(c) Caracterizaçãodarelaçãodosjovenscomomercadodetrabalho:aquiincluem-se características que dizem da sua inserção ocupacional, a saber: asatisfação/insatisfação com o trabalho e as proporções de tempo (desde o 1ºregistroocupacional)debuscaativaporocupaçãoedeassalariamento;

(d) Caracterização do domicílio de origem: aqui tomamos um conjunto deindicadores que nos permitisse caracterizar o domicílio de origem dos jovensamostrados(queéodomicílioderesidência,paraocasodos jovensqueaindanãoseautonomizaramcomrelaçãoaogrupodeorigem),quaissejam:oníveldeescolarização dos pais, a existência de pessoa de referência e cônjuge nodomicíliodeorigem,eacondiçãodemigração(seojovemémigranteounãoé).

O suposto de nossa análise é o de que conjuntos distintos de característicasmarcariam padrões também distintos de pertencimento às categorias de trajetórias;dessemodo, umdeterminado conjunto de características poderia contribuir de formadiferentenacaracterizaçãodecadaumdostiposdetrajetóriasnomercadodetrabalho.Aescolhadasvariáveis,ademais,quisdarconsequênciaaonossoentendimentodequeas trajetórias no mercado de trabalho são construídas de formas muito distintas adepender do modo como se entrelaçam as experiências ocupacional, educacional efamiliar.Porisso,acaracterizaçãodaposiçãonociclodevidatornou-seumadimensãode grande valia para explorar os efeitos de eventos educacionais e/ou demográficossobreopertencimentoaumououtrotipodepercurso.Bemassim,asdiferençassociaisque já parecem se exprimir em achados da seção anterior, serão agora melhor

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exploradas por meio da introdução de uma dimensão que diz das características dodomicíliodeorigem.

Do ponto de vista operacional, iniciamos a análise procurando formular umaprimeira resposta estatisticamente sustentável sobre a associação entre ascaracterísticasquecompõemcadaumdosblocoseatipologiadetrajetórias.Paratanto,verificamos se existiam correlações empíricas entre os indicadores utilizados nacomposiçãodecadaumdosblocoseasclassesdetrajetóriasemrelaçãoaomercadodetrabalho.

Após caracterizar o sentido e a intensidade destas associações, estimamos ummodeloderegressãopeloqual tentamosprever,dadososconjuntosdecaracterísticasemcadabloco,aschancesdepertencimentodecadaindivíduoàsseisclassesdanossatipologiade trajetórias.Comose tratadeumavariáveldependentedo tipocategórica,que conta com mais de duas categorias, optamos pela utilização de um modelo deregressão adequado para estimações a partir de distribuições multinomiais. Assim,podemosespecificaraformafuncionaldomodeloapartirdaseguinteequação:

𝝋𝒊 = 𝒍𝒏(𝑷𝒊𝒌 𝑷𝒊𝑲⁄ ) = 𝜶 +/𝜷𝒏𝑿𝒊𝒏 +/𝜷𝒏𝜹𝒊𝒎 + 𝜺

parak=1,...,K–1

ondeφirepresentaologaritmonaturaldaschancesdepertencimentoaumadasclassesdetrajetórias(k).Paracadablocodevariáveishá6possibilidadesderesultados,relativosàsseisclassesdatipologiadastrajetórias,nossavariáveldependenteemtodososmodelos. Para todos osmodelos, o termoα significa uma constante, osβ`s são oscoeficientes de regressão, Xiné um vetor de variáveis, em cada modelo, referentes àdimensão que nos interessa analiticamente (atributos individuais, posição no ciclo devida, inserção laboral edomicíliodeorigem),δiméumvetordevariáveisde controle,que contém apenas um indicador: a idade. Isso porque, e como já evidenciamos emseções anteriores deste texto, a idade se mostrou uma variável muito relevanteanaliticamenteparatodasasdimensõesatéaquiinvestigadas–inclusivecontacomumpesoimportantenadeterminaçãodatipologiacomseisclassesdetrajetórias–eé,nestaanálise que aqui apresentamos, a única variável transversal a todos os modelos.Partindo-se desse pressuposto – da relevância analítica da idade – nossos modelosbuscarãotrazerevidênciassobreanaturezadarelaçãoentreidadeepertencimentoàsclasses de trajetórias quando mediada por conjuntos específicos de variáveisexplicativas.

Umolharsobreasassociações

Atabela1aseguirapresentaocoeficientedeSpearman(nãoparamétrico)quemedeacorrelaçãoentreostiposdetrajetóriaseasvariáveiscomponentesdoprimeiroblocodeindicadoresdelimitados,quesereferemaatributosindividuaisdosjovens:

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Tabela1

sexo (masculino = 1) idade Raça (branco=1) Raça (preto=1) Raça (pardo=1)Condição no domicílio (pessoa de referência

ou cônjuge=1)

CLASSE 1 -,111** -,292** ,042* -0,02 -0,02 -,097**

CLASSE 2 -0,01 -,215** -0,03 0,00 0,03 -,133**

CLASSE 3 ,047** ,088** 0,01 0,00 -0,01 0,01

CLASSE 4 ,049** ,208** 0,02 -0,03 0,00 ,089**

CLASSE 5 0,01 ,293** -,040* ,038* 0,01 ,181**

CLASSE 6 ,065** ,213** -0,02 0,03 0,00 ,103**

Tabela X - Correlação entre as variáveis componentes do Bloco 1 - Atributos individuais - e as classes de trajetórias

Fonte: OIT. Pesquisa Transição Escola Trabalho. 2013

Na tabela acima estão em destaque os coeficientes que indicam associaçõessignificativasentreatributos individuaise classesde trajetórias.Avariável “raça”estádividida em três categorias (branco, pardo e preto) e somente para um dos gruposraciais, o dos jovens autodeclarados pardos, inexiste associação estatisticamentesignificativa com qualquer dos tipos de trajetórias. Já entre os jovens negros háassociaçãosignificativaepositivacomaclasse5,enquantoqueentreosjovensbrancosaassociaçãoépositivacomaclasse1, sugerindomaiorconcentraçãodebrancosnumtipodetrajetóriamajoritariamentecompostaporjovensemformação,enegativacomaclasse5(amesmaparaaqualháassociaçãosignificativaepositivacomjovensnegros,ondetemosemmédiaindivíduosinseridosamaistemponomercadodetrabalhoecommaistempodeabandonodosestudos).Taisresultadosnossugeremqueaseletividadederaçaoperadistribuindonegrosebrancosemclassesespecíficasecontrapostas,masnão discrimina sistematicamente aqueles que se declaram pardos em relação tanto abrancos quanto a negros. Ainda que a raça se associe ao pertencimento a algumasclassesdetrajetórias–especificamente1e5–estaéumacaracterísticaquepouconosdizsobreasdimensõesquedistinguemasclasses2,3,4e6.

Todas as outras características do bloco de atributos individuais estãosignificativamente associadas às classes de trajetórias. Homens estão menosrelacionadosaopertencimentoàclasse1,emaisassociadosàsclasses3,4e6 (aestaultimaemgrauempoucomaisaltoquenasdemais).Jáaassociaçãoentreasmulhereseaclasse1éamaiordentreasobservadascomtodasasclassesdepercurso:assim,seosresultados até aqui nos sugerem que o pertencimento à classe 1 é, em certamedida,maiscorrenteentreosbrancos,eles indicamtambémqueeleéaindamais fortementefeminino.Acondiçãonodomicílio–seo jovemrespondenteépessoadereferênciaoucônjuge no domicílio em que reside – assumida aqui como um indicador deautonomizaçãonociclodevida,éoutroatributoindividualquenosajudaadiferenciarperfis segundoas classesde trajetórias: aquelespertencentes às classes1 e2 tendempredominantemente a ser filhos no domicílio, em especial os jovens da classe 2; osjovens das classes 4, 5 e 6, por seu turno, têm mais chances de serem pessoas dereferênciaou cônjuges emseusdomicílios, notadamenteos jovensda classe5, que semostraram os mais propensos a este movimento de autonomização com relação aodomicíliodeorigem.

Como já fora sugerido por análises anteriores (Guimarães, Marteleto, Brito eSilva,2014),aidadeéumfatorfortementeassociadocomatipologiadetrajetóriasdosjovens.A idade tende a sermais alta principalmente entre os jovensda classe 5,mastambém está positivamente (e de forma crescente) associada às classes 3, 4 e 6. Asclasses 1 e 2, por outro lado, estão negativamente associadas, sugerindo tratar-se,portanto,decategoriasnasquaisquantomaisaltaaidadedojovem,menoresaschancesde que sua trajetória a elas se associe. Os coeficientes na tabela X sugerem que a

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intensidadedaassociaçãopositivadaidadecomascategorias4,5e6émuitosimilaràassociação negativa observada em relação às classes 1 e 2. Trata-se de umacaracterística comboa capacidadede segmentar as trajetórias da tipologia, o que nossugere que a idade seja um eixo analítico que estrutura a compreensão sobre astrajetórias–aindaquenãoexpliqueatipologiaemsuatotalidade.

Deacordocomoqueobservamoscomrelaçãoaosatributosindividuais, temoselementosparaacreditarqueaclasse1épredominantementefeminina,deidadebaixa,levemente branca e composta por jovens que ainda permanecem majoritariamentecomofilhosnodomicílio.Paraaclasse2,osatributosindividuaistêmmenoscapacidadede discriminação, sendo marcada por jovens de baixa idade, também filhos nos seusdomicílios.Aclasse3éaquemenosdiscriminacombaseematributosindividuais,comligeirapredominânciadehomensedejovenscommaisidade.Aclasse4secaracterizaprincipalmentepelapredominânciadehomens,maisvelhosequejánãosãomaisfilhosnodomicílio.Aclasse5seassociacomumnúmerosignificativodeatributos:sãojovensem idademais avançada, menos brancos e mais negros, mais frequentemente chefese/ou pessoas de referência em seus domicílios. Por fim, a classe 6 mostra-se maismasculina, mais velha e formada, por isso mesmo, por indivíduos geralmente jáautônomoscomrelaçãoaodomicíliodeorigem.

Atabela2aseguirapresentaamatrizdecorrelaçõesobservadaparaoconjuntodeindicadoresutilizadosparacaracterizaraposiçãodosjovensemseuciclodevida:

Tabela2

OIT - transição completa

OIT - transição não iniciada

OIT - em transição CASADO PRIMEIRO FILHO PAROU ESTUDO 1º REGISTRO OCUPACIONAL

CLASSE 1 -,457** ,541** ,044* -,082** -,103** -,241** -,558**

CLASSE 2 ,127** -,165** 0,005 -,141** -,132** -,137** -,143**

CLASSE 3 ,145** -,201** 0,005 -0,002 -0,014 ,100** ,186**

CLASSE 4 ,115** -,128** -0,015 ,095** ,119** ,137** ,290**

CLASSE 5 ,150** -,117** -,063** ,180** ,175** ,209** ,359**

CLASSE 6 ,093** -,108** -0,015 ,098** ,118** ,139** ,248**

Fonte: OIT. Pesquisa Transição Escola Trabalho. 2013

Tabela X - Correlação entre as variáveis componentes do Bloco 2 - Ciclo de Vida - e as classes de trajetórias

Oblocodeindicadoresdecaracterizaçãodaposiçãodosjovensnociclodevida

demonstrou-se bastante associado à tipologia de trajetórias. O indicador de transiçãoelaborado pela própria OIT sugere que a classe 1 diferencia-se das demais porconcentrar mais jovens com transição não iniciada, contrapondo-se aos jovens comtransiçãocompleta.EstaéaúnicaclassequeapresentaestecomportamentoemrelaçãoaoindicadordaOIT.Todasasdemaisclasses(de2a5)estãopositivamenteassociadasàjovenscomtransiçãocompletaenegativamenteassociadasajovenscomtransiçãonãoiniciada.OvalordocoeficientenessescasossugerequeoníveldeassociaçãoentretaisclasseseascategoriasdetransiçãodaOITsãomuitosimilares,oquenosindicaque,seoindicadordaOITnos servepara separaros jovensda classe1dosdemais, tempoucovalianadiscriminaçãoentreasdemaiscategorias.Poroutro lado,umapredominânciamaior de jovens em transição caracteriza somente a classe 1, ao passo queconcentrações baixas de jovens nesta situação é uma característica da classe 5, o quesugere que os jovens desta categoria, emmédia, já são transicionados, nos termos daclassificaçãopropostapelaOIT.

Oconjuntodevariáveisquedemarcamapassagemdotempoapartirdeeventosrelevantesdociclodevidadestesjovenstemtambémboacapacidadedediscriminaçãoentreclasses.Osjovensdasclasses1e2tememgeralmenostempotranscorridoentreo casamento e a data da pesquisa, o oposto ocorrendo para as classes 4, 5 e 6; emespecialparaaclasse5–são,portanto,indivíduoscomumaproporçãodetempomaior,em suas vidas, transcorrido desde o casamento. Evidências de padrões similares são

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observadosparaosdemaismarcadores analisados.No casodoprimeiro filho, nota-secomoasclasses1e2têmassociaçãonegativacomotempotranscorrido(quantomaistempo transcorrido desde o nascimento do primeiro filho, menores as chances depertencimento),easclasses4,5e6temassociaçãopositiva.Tambémparaestemarcodestaca-seaassociaçãoentreotempotranscorridoeacategoria5,indicandoquenestecasotemosjovenscommaistempo(proporcional)transcorridodesdeonascimentodoprimeirofilho.

O tempotranscorridodesdeoabandonodosestudosassocia-senegativamenteàsclasses1e2sugerindotratar-sedejovensquesaíramdaescolaapoucotempo(ouaindanãosaíram),aopassoqueo tempodeabandonoestápositivamenteassociadoatodasasdemaisclasses,novamentedestacando-seaproporçãomaiordetempodevidatranscorridodesdeoabandononocasodacategoria5.

Porfim,otempotranscorridodesdeoprimeiroregistroocupacionalmostrou-seumindicadormuitoassociadoàstrajetórias:acorrelaçãonegativaémuitoaltanaclasse1,oquenosfazcrerquesetratamemmédiadejovensaindanãoinseridosouinseridosapoucotemponomercadodetrabalho.Osjovensdaclasse5maisumavezsecontrapõea estes, com associação positiva e alta com o indicador que marca o início da vidaocupacional–omesmoocorre,commenosintensidade,entreosjovensdasclasses4,6e3,nestaordem.

Acaracterizaçãodaposiçãodosindivíduosemseusciclosdevida,emrelaçãoadeterminadosmarcos,nospermiteaveriguarqueosjovensdaclasse1emmédiaaindanão iniciaram sua transição, nos termos da medida elaborada pela OIT; e são osindivíduosparaosquaismenostempoproporcionaltranscorreudesdeaocorrênciadetodososmarcosdelimitados:nascimentodoprimeiro filho, casamento, abandonodosestudose inserçãoocupacional.Ooutroladodestahistórianosécontadopelos jovensdaclasse5.Emgeral sãoosmaispropensosa já teremrealizadoa transição tal comodelimitaamedidadaOIT,etambémsãoosjovenscommaistempodevidatranscorridodesde cada um dos marcos delimitados. Entre estes dois polos estão as demaiscategoriasdatipologia,comaclasse2seaproximandomaisdoperfilobservadopara1,easclasses3,4e5maispróximasaoqueobservamosparaoperfildaclasse5.

Atabela3apresentaosresultadosobservadosparaoblocodeindicadoresqueconjugacaracterísticasarespeitodainserçãoocupacionaldosjovensinvestigados:

Tabela3

SATISFEITO com o trabalho

INSATISFEITO com o trabalho

Proporção de tempo como ASSALARIADO

Proporção de tempo EM PROCURA ATIVA

CLASSE 1 -,300** -,057** -,595** -,304**

CLASSE 2 ,086** 0,011 ,290** -,061**

CLASSE 3 ,083** 0,02 ,181** ,197**

CLASSE 4 ,071** 0,006 ,125** ,091**

CLASSE 5 ,112** 0,013 ,079** ,148**

CLASSE 6 ,069** 0,034 ,063** ,074**

Fonte: OIT. Pesquisa Transição Escola Trabalho. 2013

Tabela X - Correlação entre as variáveis componentes do Bloco 3 - Mercado de Trabalho - e as classes de trajetórias

A condiçãode satisfaçãocomo trabalhoseparaa classe1– significativamenteinsatisfeita – das demais classes, cuja associação com este indicador é geralmentepositiva, indicando que, ainda que não hajam tantas diferenças na intensidade daassociação, os jovens destas classes geralmente estão mais satisfeitos com seus

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trabalhos.Nãoporacasoa insatisfação só sedemonstramais forteentreos jovensdaclasse1,enãodiscriminaasdemaiscategorias.Poroutrolado,osindicadoresdetempodeinserção(procuraativaeassalariamento),assimcomoocorrecomrelaçãoaotempotranscorrido desde o 1º registro ocupacional, ajudam a discriminar as categorias detrajetórias. A proporção de tempo de assalariamento e procura ativa na trajetóriaprofissional está muito associada, de forma negativa, à classe 1. O tempo deassalariamento,poroutrolado,encontra-sepositivamenteassociadoatodasasdemaiscategorias,emespeciala2,sugerindoquenestecasotratam-sede jovens inseridosnomercado,recentemente,emgeralemocupaçõescomrelaçõesassalariadasdetrabalho.Porfim,aprocuracaracterizaprincipalmenteascategorias3e5,quesãoostiposquecontam com níveis mais altos de tempo de procura na totalidade de suas trajetóriasprofissionais.

Porfim,atabela4apresentaosresultadosdascorrelaçõesobservadasentreosindicadoresdecaracterizaçãododomicíliodeorigemeasclassesdetrajetórias:

Tabela4

Escolarização dos pais Migrante

Pai e mãe no domicílio de origem

CLASSE 1 0,02 -,095** -0,01

CLASSE 2 ,052** ,041* -0,01

CLASSE 3 -0,02 0,02 0,01

CLASSE 4 -0,03 0,02 0,01

CLASSE 5 -,067** ,044* 0,01

CLASSE 6 0,00 0,01 -0,01

Fonte: OIT. Pesquisa Transição Escola Trabalho. 2013

Tabela X - Correlação entre as variáveis componentes do Bloco 4 - Domicílio de origem - e as classes de trajetórias

Talcomoespecificadasnestaanálise,asvariáveisdecaracterizaçãododomicílio

de origem não encerram capacidade alta de discriminação dos jovens entre astrajetórias da tipologia. A escolarização dos pais apresenta associação significativa epositiva somente com a classe 2, sugerindo que estes sejam jovens provenientes, emmédia,dedomicílioscompaisdeescolarizaçãomaisalta; inversamente,aassociaçãoénegativa com os jovens da classe 5, que em média tendem a contar com pais deescolarização mais baixa. O nível de escolarização dos pais não se mostrou um bomindicador de discriminação entre as demais classes de trajetórias. A condição demigraçãoéumacaracterísticamaismarcanteentreasclasses2e4,emenosmarcantenaclasse1,sugerindoqueexistemclassesmaisoumenospropensasaagregaremjovensque não nasceram nos municípios em que residem. A existência de pai e mãe nodomicílio de origem não se encontra associada a nenhuma categoria específica detrajetórias, e este resultado sugere que o pertencimento a uma das classes não estárelacionadoàausênciadealgumdosprogenitores.

Osresultadosapresentadosparaasassociaçõesentreosblocosdelimitadosdeanálise–atributosindividuais,ciclodevida,mercadodetrabalhoedomicíliodeorigem-easclassesdetrajetóriasapresentadasnaseçãoanteriornospermitiramavançarnacaracterização dos diversos grupos criados, ressaltando padrões de agrupamento ediferenças sutis, porém significativas, que contribuem para caracterizar a pluralidadedastrajetóriasexperimentadaspelosjovensBrasileiros.

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As diversas dimensões se entrecruzam consolidando trajetórias maismarcantemente lineares, menos lineares, mais brancas ou pretas; mais distantes oumais próximas do nascimento dos filhos, do casamento; trajetórias nas quais há apredominânciadotempodeestudoeoutrasnasquaisainserçãoocupacionalsedeudeforma mais precoce. Olhar para a população de 15 a 29 anos é olhar para muitasjuventudes, e nossa tipologia é uma forma de expressão, ainda que incompleta, destamultiplicidade. Dentro deste conjunto de trajetórias possíveis, a idade nos parece umeixocujaanálisepodenosorientaraimputarumaordemaestamultiplicidade–comoopertencimentoàsclassesdetrajetóriasseexpressaaolongodociclodevidadosjovensBrasileiros?

Evidênciassobreopertencimentoàsclassesdetrajetórias

Por privilegiarmos analiticamente a idade enquanto fator de interpretação dopertencimento às trajetórias, optamos por apresentar os resultados dos modelos apartirdaidadedosindivíduos.

Os gráficos a seguir sintetizam os resultados das estimações dos modelosmultinomiais,cadaumestimadoapartirdosblocosdevariáveisdeinteresse.Nobloco1, temosaschancesdepertencimentoàsclassesdetrajetóriadeacordocomatributosindividuais;nobloco2,comaposiçãodojovememrelaçãoaimportantesmarcosdoseuciclo de vida; no bloco 3, características de sua inserção ocupacional, e no bloco 4,característicasdodomicíliodeorigem.Aidadeéaúnicavariávelcomumàsestimações.O objetivo é evidenciar padrões de pertencimento às categorias de trajetórias queemergemapartirdediferentesconjuntosdeindicadores–nossosblocos–,ecomoestepertencimentosealteraàmedidaemqueojovemvaificandomaisvelho.

Resumindoosachados,apresentaremosemseguida,noGráfico9,umconjuntode4gráficos,cadaumdelesevidenciandocomoaschancesdepertencimentoàsclassesde trajetória variamdependendo (a)das variáveis que alimentama estimação e (b) aidade.Noeixoxtemosaidadevariando,entre15e29anos;enoeixoyaschancesdepertencimentoacadaumadascategorias(variandogeralmenteentre0e0,4,àexceçãodo bloco mercado de trabalho, onde vai até 0,6). A curva representa a variação naschances de pertencimento às categorias de 1-6 (tipos de percurso) de acordo com aidadedosjovens.

Estesresultadosapontamqueopertencimentoàclasse1, seestimadoapartirdasvariáveisdecaracterísticasindividuais,decrescedeformaintensaàmedidaemqueavançaaidade.Dinâmicasimilaréobservadanocasodopertencimentoàmesmaclassequando utilizamos as variáveis de ciclo de vida, mas as chances de pertencimento àclasse 1, neste caso, declinam de formamenos intensa do que no caso dos atributosindividuais. Isto sugere que as características individuais apresentam uma tendênciaparadiscriminarestaclassedemaneiramaisintensaaolongodotempo,praticamenteexcluindoaschancesdepertencimentoaestaclasseporjovenscom25anosoumais.Omesmonãoéverdadeparaoefeitodos indicadoresdaposiçãonociclodevida.Aindaque a realização das transições definidas pela OIT, bem comomaiores proporções detempo transcorrido em relação aos marcos delimitados, não tendam a excluir demaneiratãosistemáticaosjovensdemaisde25anosdopertencimentoàclasse1.Jáoblocosobreinserçãonomercadodetrabalhopoucoexplicadopertencimentoàclasse1,oefeitodaidadetemumcomportamentoumpoucodistintonessecaso:oaumentonaidade tendeaaumentaras chancesde jovens satisfeitos como trabalhoequeestãoaumaproporçãomaiordetemponomercado(inseridoscomoassalariadosouembuscaativa)depertenceraestaclasseatéaproximadamenteos22,23anos,quandoapartir

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deentãopassamadiminuirestaschances,caracterizandoumacurvaemformatode“U”.Detodaformaosindicadoresdomercadodetrabalhoesuaarticulaçãocomaidadetêmmenosassociaçãocomopertencimentoàclasse1doqueoqueobservamosemrelaçãoaoblocodeatributosindividuaiseaoquedescreveociclodevidadosjovens.Oblocodeindicadores sobre o domicílio de origem é o que apresenta comportamento maisdiferenciado: o avanço da idade aumenta as chances de pertencimento à classe 1,sugerindo que jovens migrantes e com pais mais escolarizados tendem maistardiamente, em seu ciclo de vida, a pertencerem a esta classe, o que diferenciasignificativamenteocomportamentodesteconjuntodeindicadoresdocomportamentoobservadoparaosdemaisblocos.

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Gráfico9–ChancesestimadasdepertencimentoàstrajetóriasOIT-TETemcadablocodeanálise,poridade-2013

Bloco1–Atributosindividuais Bloco2–Ciclodevida

Bloco3–Mercadodetrabalho Bloco4–Domicíliodeorigem

Fonte:PesquisaOIT/TET–TransiçãoEscolaTrabalho.2013.Processamentospróprios

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O pertencimento à classe de percurso 2 também varia negativamente com aidadequandooestimamostantoapartirde(a)atributosindividuaisquantoapartirde(b)posiçãonociclodevida,sugerindoqueoaumentoda idadediminuiaschancesdepertencimentoàclasse2.Amesmatendênciadecrescentecomaidadeéencontradanopertencimentoàclasse2quandoutilizamososindicadoresdeinserçãonomercadodetrabalho.Esteéoconjuntodevariáveisquediscriminamaisintensamenteosindivíduosde acordo com a idade, sugerindo que satisfação com o trabalho e tempo deassalariamentoeprocuratêmmaioresefeitosnopertencimentoàclasse2entreosmaisjovensdoqueentreosmaisvelhos.Osindicadoresdodomicíliodeorigemapresentamnovamente um efeito diferente, sendo que as chances de pertencimento à classe 2aumentamàmedidaemqueosjovensvãoficandomaisvelhos.Esteéoúnicoconjuntode características (fundamentalmente escolarização dos pais e condição demigração)quetemumarelaçãopositivacomaidadenoaumentodechancesdepertencimentoa2.

Comrelaçãoaopertencimentoàclasse3,osresultadossugeremqueesteéumtipodetrajetóriamaistipicamenteassociadoaos jovensqueseencontramnomeiodocaminhonasfaixasetáriasanalisadas;nãosãonemtãojovensnemtãovelhos.Aindaqueos atributos individuais tenham efeito sobre as chances de pertencimento, éprincipalmente o bloco de indicadores sobre o ciclo de vida dos jovens que maisaumenta as chances de pertencer à trajetória do tipo 3. Ainda assim, tanto para osatributos individuais quanto para os indicadores do ciclo de vida quanto para asvariáveisquerepresentamadimensãodeinserçãonomercadodetrabalho,aschancesde pertencimento a 3 são crescentes até o meio da distribuição etária e a partir daípassamadecair,ouseja,nãoháindíciosdequehajaumaassociaçãolinearentreaidadeeopertencimentoaestetipodetrajetória,usandoqualquerumdostrêsconjuntosdeindicadores. Isto não é verdade, mais uma vez, para o caso dos indicadores decaracterizaçãododomicíliodeorigem.Nestecaso,háumarelaçãonegativaentreidadee pertencimento à classe de trajetória 3, sugerindo que se considerarmos somentecaracterísticas do domicílio de origem para estimar as chances de pertencimento, aoladodaidade,oqueseobservaéqueestesefeitostendemasermaisaltosentreosmaisjovens,emaisbaixosentreosaisvelhos.

Opertencimentoàclasse4éoquemaisdificilmenteéprevistopelosmodelosestimados, se considerarmos os patamares baixos de chances de pertencimento secomparadosaosdemaismodelos.Opertencimentoaestaclasseestámais linearmenteassociadoà idadenosmodelosdosblocosdeatributos individuaisedeindicadoresdaposiçãonociclodevida.Emambososcasos,aindaquedeformamenosintensadoqueobservamos no pertencimento a outras categorias, a idade aumenta as chances depertencimentoàtrajetóriasdotipo4.Omodelodoblocodeindicadoresdomercadodetrabalhopouconosdizsobrearelaçãoentreidadeepertencimentoa4,masnossugerede maneira discreta que satisfação/insatisfação com o trabalho e maior inserção nomercado tendem a aumentar as chances de pertencimento a 4 à medida em que osjovensvão ficandomais velhos.Ede formageral, os indicadores sobreodomicíliodeorigemsãoosquetendemaestaremmaisassociadoscomopertencimentoa4aolongodetodaadistribuiçãoetária–jovenscompaismaisescolarizadosequesãomigrantestendematermaischancesdepertencimentoa4atéporvoltados24,25anos,eapartirde então passam a ter chances decrescentes de pertencimento a esta classe detrajetórias.

Osresultadostambémsugeremsimilaridadesnospadrõesdepertencimentoàscategorias 5 e 6. Do ponto de vista dos atributos individuais, sempre as chances depertencimentosãobaixasemidadesmaisbaixaseaumentamentreosjovensemidademaisavançada.Noentantoessepertencimentoémaisintensocomrelaçãoàcategoria5,oquesugerequejovensnãobrancos,homenseautônomoscomrelaçãoaodomicíliodeorigem temmaiores chances de pertencimento à categoria 5, e chances que crescem

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mais àmedida emque avança-se em idade se comparado aopertencimento classe detrajetórias6.Osindicadoresdeposiçãonociclodevidacontamumahistóriaumpoucodiferente,caracterizandodeformamaismarcanteopertencimentoàclasse6doqueàclasse5,emespecialemidadesmaisavançadas.Osindicadoresdemercadodetrabalhosão úteis em distinguir o pertencimento à classe 5, sugerindo que tempo de inserçãocomoassalariado,emprocuraativaesatisfaçãocomotrabalhotendemaaumentar,emfaixas etárias mais avançadas, as chances de pertencer a esta categoria, emcontraposiçãoaopertencimentoàcategoria6,quenãoencontramuitaressonâncianosindicadoresdoblocomercadodetrabalho.

Porfim,astendênciasdoefeitodaidadesobreaschancesdepertencimentoa5e 6 são bastante distintas se utilizamos características dos domicílios de origem paradefinirmos padrões de pertencimento. Se no caso das trajetórias de tipo 5, a idadeaumentaaschancesdepertencimento,oopostoéverdadeiroparaastrajetóriasdetipo6 – a idade diminui as chances de pertencimento à esta categoria. Isso significa quejovensmigrantes,emdomicílioscompaisdealtaescolarizaçãotemchancesdegrandesdepertencimentoàclasse6quandojovens,eestaschancesdeclinamàmedidaemquevão se tornando mais velhos. O pertencimento à classe 5, para jovens comcaracterísticassimilares,começabastantebaixonasfaixasetáriasmaisnovas,etendeacresceràmedidaemquevãosetornandomaisvelhos.

Nota-se como o pertencimento às diversas categorias de trajetórias estácondicionado, de formas diferentes, a uma série de dimensões que são destacáveisanaliticamente.Tantoatributosindividuaisquantoaposiçãodosjovensnociclodevida,sua inserção laboral e as características de seu domicílio de origem são fatores queatuam modelando a distribuição das diversas classes de trajetórias entre os jovensBrasileiros de 15 a 29 anos. Não por outra razão assumimos nesse texto que astransiçõeslaboraisnãoacontecememumvácuo,massimparalelamenteaumasériedeoutras transições.Por issomesmo,buscaremosverificar,no restantedo texto, comoomaterial empírico reunido na pesquisa OIT/TET nos permitiria associar transiçõeslaboraisaeventosdemográficoseeducacionais.

5.Transição,transições–dinâmicasdam/parentalidadeedasuniõesmaritaisnospercursosdosjovensnoBrasil

O nascimento do primeiro filho é umdeterminante importante das trajetóriaslaborais de jovens mães e pais? E a formação de união conjugal? Existem diferençassignificativasnas consequênciasdesteseventosdemográficosna trajetória laboraldosjovens homens e mulheres? Embora seja um consenso na literatura que eventosdemográficos—tais comoo nascimento dos filhos e a união conjugal—e as trajetóriaseducacionais e laborais dos jovens se dão demaneira simultânea durante o curso devida (Elder), a maior parte dos estudos sobre as trajetórias de trabalho do jovemBrasileironãoabordaoseventosdemográficos.Aodesconsideraroimportantepapeldam/paternidadeedauniãomaritalnatomadadedecisãoacercadotrabalho,osestudossobreo tema são limitados enão refletemumpanorama completodo tema. Por issomesmo, o objetivo desta seção é demonstrar as consequências do nascimento doprimeiro filho eda formaçãodeunião conjugal durante a adolescêncianas trajetóriaslaboraisdosjovensBrasileiros.

OBrasil apresenta taxasde fecundidade total abaixodonívelde reposição.Namaioria dos países que apresentam fecundidade abaixo do nível de reposição houvetambémumaumentodaidadeaonascimentodoprimeirofilho,deslocandoacurvade

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fecundidade para os grupos etários mais elevados. No Brasil, entretanto, houve umrejuvenescimento do padrão de fecundidade (Alves e Cavenaghi 2008), o que apenasconfirma a importância de se levar em conta o nascimento do primeiro filho e aformaçãodeuniãoconjugalparaoentendimentodastrajetóriaslaboraisdosjovens.

Este temaé tambémimportanteporpelomenosmaisquatrorazões.Primeiro,apesardeapresentarfecundidadetotalabaixodoníveldereposição,aidademedianadaprimeirauniãopermanecejovemnoBrasil.DadosrecentesmostramqueoBrasilocupaoquartolugarmundialemnúmerodeuniõesconjugaisabaixode19anos.Alémdisto,apesardarecentediminuiçãodaconcentraçãoderenda,opaíscontinuasendoumdosmaisdesiguaisdomundo,evidenciandoaimportânciadeseentenderseaformaçãodafamílianaadolescência—filhoseunião—consisteemmaisumimportanteestratificadorna sociedade brasileira. Ou seja, estariam os jovens pais e jovens esposo(a)s emsituaçõeslaboraisdedesvantagem?Desvantagensestasquecertamentelevariamaumacúmulodesucessivasdesvantagenssócio-econômicasposteriores?Taisdesvantagenssão similares para homens e mulheres? Terceiro, usamos dados nacionalmenterepresentativos para estudar esta questão no contexto Brasileiro. Os poucos estudosqueexaminaramas consequênciasde eventosdemográficosna adolescêncianoBrasilapresentam amostras específicas e com pequena representação geográfica e nãoutilizaram lidaram demaneira apropriada com a seletividade. Finalmente, o presenteestudo aborda a questão da seletividade. Embora com seu próprio conjunto delimitações,ametodologiaqueusamosnospermiteavaliaratéquepontoasassociaçõesnegativas encontradas permanecem quando levamos em conta a seletividade, destaforma nos permitindo inferir se a formação da família na adolescência tem um efeitocausalsobreastrajetóriaslaboraisdosjovens.

Os jovens pais emães em condições socioeconômicas desfavoráveis durante ainfância teriam trajetórias laborais diferentes (e truncadas) se postergassem a uniãoconjugaleam/paternidade?Ouastrajetórias laboraisdiferentes(etruncadas)devidoàs condições socioeconômicas desfavoráveis durante a infância permaneceriamindependentedonascimentodoprimeirofilhoedaformaçãodeuniãoconjugalduranteaadolescência?Algumastécnicasque levamtalseletividadeemcontaforamutilizadasna literaturabuscando-seevidenciaroefeitocausaldonascimentodoprimeiro filhoedaformaçãodeuniãoconjugalduranteaadolescênciaparaosjovens.Entretanto,afaltade dados que permitisse estabelecer a ordem e timing dos eventos demográficos elaboraisfreouoavançodoconhecimentonocasobrasileiro.

Para bem chegarmos ao objetivo desta seção, iniciaremos com uma breverevisãodaliteraturageralsobrefecundidadeeuniãoconjugalnaadolescência.Aseguir,descrevemososnossosdadosemétodos.Emseguida,apresentaremososresultadoseconcluímoscomumadiscussãocentradanaliteraturasobrepadrõesdedesvantagemnajuventude.

Oquenosdizaliteraturanocampo

O período do curso da vida onde indivíduos têm filhos (Powell, Steelman, eCarini2006)eformamumauniãoconjugaltemconsequênciasimportantesparaassuasoportunidadeseresultadossócio-econômicos.Deacordocomaperspectivadealocaçãode recursos,mãesmais jovens estão em clara desvantagem vis-à-vismulheres que setornaram mães mais tardiamente (ou mulheres sem filhos) devido principalmente amenores perspectivas educacionais (Lloyd et al 2005; McLanahan 2004) e laborais.Jovens mães e cônjuges podem estar em desvantagem também porque são menospropensasaviverememumauniãoestável(Sigle-RushtoneMcLanahan2004)

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Aideiageraléqueaspaiseespososjovenssãosistematicamentediferentesdepaiseespososmaisvelhos(ousemfilhos)porseremmenospropensosaterumcarreiraeducacional de sucesso e por terem menores perspectivas de rendimento. Duasgerações de estudos forneceram evidências empíricas sólidas sobre a relação entre aformação familiar na adolescência e a educação de jovens adultos. Existem menosestudos sobre a relação entre a formação familiar na adolescência e as trajetóriaslaboraisdejovensadultos.

A primeira geração de estudos em sua maioria confirmou uma associaçãonegativaentrematernidadenaadolescência eperspectivaseducacionais empaísesdealta (Brooks-Gunn e Furstenberg 1986;Hofferth 1987),média e baixa renda (Buvinic1998;GuptaeLeite,1999).Estesprimeirosestudosnãolevaramemcontaaseletividadepotencial da formação familiar na adolescência. Uma segunda geração de estudosconsiderou que as mulheres que se tornam mães e formam uma união conjugal naadolescênciateriamumatrajetóriaeducacionale laboral limitadaindependentedesteseventos demográficos acontecerem na adolescência. Mães adolescentes, portanto,teriam carreiras laborais diferentes de mães mais velhas (ou mulheres sem filhos),porque já apresentariam desvantagens sócio-econômicas durante a infância quecontribuiriam tanto para a seleção à maternidade e união adolescentes como parapiores resultados pós-maternidade (Geronimus, Korenman, e Hillemeier 1994). Estasegundageraçãodeestudostentouexplicaraseletividadedamaternidadeadolescente,procurando encontrar um melhor grupo de comparação para mães adolescentes(GeronimuseKorenman1993;Hotz,Mullin,eSanders1997;Kaneetal2013;Lee2010).

Este grupo de trabalhos baseou-se em várias abordagens metodológicas paraexplicar a seleção à maternidade adolescente, produzindo resultados mistos. A únicaconclusãoclaraéqueaanálisetradicionalpareceexagerarasconsequênciasnegativasdamaternidadenaadolescência.Daíaimportânciadesetentarlevaraseletividadeemconta.

Umaabordagemapresentadanaliteraturaéautilizaçãodeirmãoseprimosemumametodologiadefixedeffects(Hoffman,Foster,eFurstenberg1993;Levine,Emery,ePollack2007)segundoostrabalhosdeGeronimuseKorenman(1992;1993).Compararirmãsquediferemnotimingdafecundiadepermitemenosvariáveisnãoobserváveis.Alimitação dessa abordagem é que o tamanho das amostras é geralmente pequeno e adisponibilidadededadoséescassa.Outraabordagemparalidarcomaseletividadeéumexperimentonaturalquecomparajovensmãescommãesmaisvelhasquesofreramumaborto espontâneo quando adolescentes—ou seja, seriammães não fosse um eventofora de seu controle (Hotz, McElroy, e Sanders 2005; Levine, Emery, e Pollack 2007;MarteletoeDondero2013).Umaterceiraabordagemtemsidoopareamentocombaseprincipalmente em características anteriores ao nascimento do primeiro filho (Assini-Meytin e Greene 2015; Branson, Ardington, e Leibbrandt 2011; Ranchhod, Lam,Leibbrandt,eMarteleto2011;)paragerarumgrupocontrafactualmaisapropriado.Umestudorecentequeutilizaváriasmetodologias(Kaneetal.2013)sugereumefeitoquevariade0,7a1,0amenosanosdeescolaridadeparaasmãesadolescentesnocasodosEstadosUnidos.

Oquedizerdam/paternidadeedauniãoadolescentenoBrasil?Deacordocomestimativas do Censo de 2010, o peso relativo da fecundidade adolescente na taxa defecundidade total aumentou—quase 20 por cento dos nascimentos foram de mãesadolescentes(ChiavegattoFilhoandKawachi2015),emcomparaçãocomapenas9porcento em 1990 (Berquó e Cavenaghi 2005b; Gupta 2000). Além disto, a fecundidadeadolescente aumento nos anos 1980 e 1990, enquanto as taxas de fecundidade paratodososoutrosgruposetárioscaíram.Destaforma,nãoexistenoBrasilevidênciaclaradeadiamentodamaternidade,umatendênciacomumnospaísesquechegamaumataxadefecundidadetotalabaixodoníveldereposição.

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Uma característica importante da fecundidade adolescente no Brasil é que onascimentodeumfilhomuitasvezesocorredentrooulevaaumauniãoconjugal(Cabrale Heilborn 2005), evidenciando a importância de se considerar a união conjugal. Umestudodetrêsáreasmetropolitanasrelataqueonascimentodoprimeiro filho levouaumauniãoconjugalparaumterçodasjovensmães;outros21,8porcentojáestavamemuniãonomomentodonascimento(DiaseAquino,2006).Estepadrãoémuitodiferentedos padrões de gravidez na adolescência em outros países, onde a gravidez naadolescênciararamenteocorredentrooulevaaumauniãoconjugal(Martinetal.2010).

Procedimentosoperacionais

Osdadoscoletadosem2013pelaOITcontêm,paraos3.288entrevistadosemidadesentre15-29,informaçõesúnicassobreaidadeaonascimentodoprimeirofilhoeidadedaprimeirauniãoconjugal.

Emboraapresentemosresultadosparahomensemulheres,enfatizamosqueosrelatóriosdepaternidadedoshomensjovensnãosãoconfiáveis(Upchurchetal.2002a).Consequentemente,dadaanaturezadoseventosdemográficosestudados,priorizamosaanálise das jovens mulheres neste relatório. Nossa amostra analítica consiste de 974mulherese966homensde19anosoumais.Selecionamostalgrupoetárioporqueassimnos certificamos de que tanto o nascimento do primeiro filho durante a adolescênciacomo a primeira união conjugal teriam acontecido anteriormente ao início dastrajetóriaslaboraisanalisada,garantindoassimumacorretaordemdeeventos.

Utilizamosmodelos de regressãomultinomial para estimar a associação entrem/paternidade e união conjugal na adolescência e as trajetórias laborais dos jovensseparadamente para homens e mulheres. As categorias utilizadas foram definidasanteriormente e são diferentes para homens e mulheres, dadas as diferençassignificativasemsuastrajetóriaslaborais.

Emseguida,usamosumatécnicadepareamentoparalidarcomaseletividade.AvariáveldependentenaEquação1élatenteerepresentaonascimentodoprimeirofilho(ou a primeira união conjugal) durante a adolescência. A variável correspondente éTCBi,umavariávelbináriaindicando1seosjovenstiveramoprimeirofilhoduranteaadolescência. Xi1 representa um vetor de variáveis observáveis exógenas quedeterminam a m/paternidade adolescente: raça, escolaridade dos pais, ocupação dospais, classe social durante a infância, urbano e status migratório8; b é um vetor decoeficientesnão-observáveisaseremestimadoseei1representaumvetordevariáveisnão-observáveisquedeterminamafecundidadeadolescente:

TCBi= Xi1b + ei1 (1)

Ei= aTCBi+ Xi2d + ei2 (2)

O pareamento foi implementado utilizando o comando psmatch2 no StatadesenvolvidoporLeuveneSianesi(2003).Apresentamosresultadosbaseadosnosinglenearest-neighbor comreposição.Testamosváriasoutrasestratégias taiscomonearest-neighbor sem reposição e caliper; os resultados não mudam de forma significativa.Seguindo a literatura recente sobre o tema (Kane et al. 2013), apresentamos os 8Aescolaridadedospaisserefereaomaiorníveldeescolaridadeentremãesepais;amesmalógicafoiutilizadaparaadefiniçãodaocupaçãodospais.

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resultadoscombaseemcaliper1%,porqueestessãoosmaisconservadores.Apenasoscasos que se encontram dentro da região de suporte comum são levados em conta econtinuamnaamostraanalítica.Repetimosaanálisecomesemsubstituiçãodecasoseissonãoalterouosresultados.FizemostambémumaanálisedesensibilidadeseguindoRosenbaum para examinar se o resultado é homocedástico dentro de cada grupo (decontrole e tratamento) (Rosenbaum2002). Estes limites também são úteis porque osalgoritmosusadosnaestimativadepropensãonãoproduzemestimadoresconsistentesdosefeitosdotratamentoseotratamentoéendógeno(DiPreteeGangl2004).Porfim,utilizamosatécnicabootstrapparacálculodedesviopadrão.

Resultados

A Tabela 1 mostra as estatísticas descritivas para as variáveis incluídas nosmodelos.AFigura1mostraaproporçãodejovensmulheresemnossaamostraanalíticadeacordocomaidadedenascimentodoprimeirofilho.AnálogaàFigura1,aFigura2aproporção de jovens homens em nossa amostra analítica de acordo com a idade àprimeirauniãoconjugal.

Osresultadosdemonstramquequaseumterçodasjovensnanossaamostrateveoprimeirofilhoaos18anosdeidadeouanteriormente(28.05%).Cercadeumquartodas mulheres em nossa amostra iniciou uma união conjugal com 18 anos ou menos(25.12%).Comoesperado,asproporçõesparaosjovenshomenssãosignificativamentemenores—7.34%e8.32%.

A Tabela 2 mostra as categorias laborais de acordo com nossas variáveisindependentes.

Osresultadosdemonstramque48.25%dasjovensadultasquenãotiveramumprimeiro nascimento aos 18 anos ou menos estão na categoria 1 enquanto que ocorrespondente entre asmães adolescentes é 44.12%. Entre os homens, a proporçãonascategorias3e4mudademaneirasignificativaentreos jovenspaisadolescenteseaqueles que se tornarampais após os 18 anos (oupermanecem sem filhos)—11.20%versus4.50%e8.91%versus18.64%.

ATabela3avançanosresultadosmultivariadoseosachadosobtidosapartirdemodelos multinomiais simples (Colunas 1, 3 e 5) e de modelos multinomiais com aamostra pareada (Colunas 2, 4 e 6) com foco no nascimento do primeiro filho naadolescênciaparaasmulheres jovens.ACategoria1éomitidae servedecomparaçãonosmodelos.Nossos resultadosdemonstramquemulheres jovensmães antes dos18anos têm mais chances de pertenceram à categoria 3 do que à categoria 1 do quemulheres jovens que adiaram o primeiro filho até pelo menos os 18 anos de idade;controlandopor diferenças educacionais, raciais e de background sócio-econômico dafamíliadeorigem.Asjovensnacategorialaboral3têmmaischancesdeseremnegraseterempaiscommaiorescolaridadedoqueasjovensnacategorialaboral1.

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Tabela1.MédiaseProporçõesporSexo

Mulheres Homens

(%) (%)

First Child at 18 or Younger 27.05 7.34

First Union at 18 or Younger 25.12 8.32

Race Non-White 66.07 66.07

Parental Education1

High School & Higher 35.20 37.94

Elementary or Less 64.8 62.06

Parental Occupation2

Professional/Managerial 6.68 7.87

Routine non-manual 5.42 5.41

Skilled manual workers 34.34 35.62

Unskilled manual workers 53.55 51.10

Social Class during Childhood Middle Class & Higher 61.66 64.78

Poor 38.34 35.22

Migrated 26.07 25.63

Area of Residence

Urban 86.83 85.06

Rural 13.17 14.94

Region

South, South-East 53.41 54.14

North, Central-West & North-East 46.59 45.86

Mean Age 24.05 23.97

SD (3.09) ( 3.08)

N 974 966 Source: Own elaboration based on 2013 Brazil School-to-Work Transition

Survey(ILO).StandardDeviationsinparenthesis.1.Highestlevelofeducationbetweenmotherandfather.2.Highestoccupationalstatusbetweenmotherandfather.

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Tabela2ProporçõesemCategoriasLaboraisporVariáveisIndependentseSexo,

Brasil2013 Mulheres Homens

Category

1

Category

2

Category

3

Category

4

Category

1

Category

2

Category

3

Category

4 All 19 and older 47.40 16.13 13.87 22.59 32.98 46.70 10.69 9.63 First Child at 19 or older 48.25 16.21 13.46 22.07 32.92 46.97 11.20 8.91 First Child at 18 or younger 45.12 15.92 14.97 23.99 33.82 43.18 4.35 18.64 First Union at 19 or older 48.95 15.98 13.61 21.47 33.34 47.50 9.92 9.24 First Union at 18 or younger 42.79 16.60 14.66 25.94 29.06 37.86 19.22 13.86 Graduation High School Graduated from H.S. 48.83 17.94 14.28 18.94 37.24 43.18 10.05 9.54 Less than H.S. 45.73 13.71 12.94 27.61 28.24 50.39 11.55 9.81 Race White 48.95 16.91 12.79 21.34 34.46 43.64 11.47 10.44 Non-White 46.61 15.74 14.42 23.23 32.23 48.27 10.30 9.21 Parental Education High School & Higher 52.32 16.73 13.20 17.75 37.19 44.48 10.35 7.98 Elementary or Less 44.73 15.81 14.24 25.22 30.42 48.04 10.90 10.63 Parental Occupation Professional/Managerial 46.03 14.60 21.52 17.85 42.51 28.95 15.67 12.87 Routine non-manual 54.84 14.50 8.20 22.46 36.20 39.85 14.47 9.48 Skilled manual workers 46.43 18.13 13.52 21.92 32.96 49.93 6.14 10.98 Unskilled manual workers 47.44 15.21 13.72 23.63 31.19 47.90 12.71 8.20 Social Class during Childhood Middle Class & Higher 49.76 16.01 13.49 20.74 34.39 45.31 9.73 10.58 Poor 43.62 16.33 14.48 25.57 30.40 49.25 12.47 7.88 Migration Status Not a migrant 45.52 16.54 12.99 24.95 33.05 47.36 10.49 9.10 Migrant 52.73 14.99 16.38 15.89 32.80 44.78 11.27 11.15 Area of Residence Urban 49.40 16.93 13.90 19.78 34.22 46.47 10.03 9.28 Rural 34.26 10.89 13.69 41.16 25.94 47.98 14.49 11.59 Region South, South- 50.95 16.54 15.90 16.61 37.70 42.31 9.48 10.51

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Source:Ownelaborationbasedon2013BrazilSchool-to-WorkTransitionSurvey(ILO).StandardDeviationsinparenthesis.1.Highestlevelofeducationbetweenmotherandfather.2.Highestoccupationalstatusbetweenmotherandfather.

Tabela3

ResultadosdeModelosMultinomiaisnasAmostrasSimplesePareadas—NascimentodoPrimeiroFIlhonaAdolescência,Mulheres,Brasil2013

Category 2 Category 3 Category 4

Regular Sample

Matched Sample

Regular Sample

Matched Sample

Regular Sample

Matched Sample

First Child at 18 or younger -0.0611 -0.0498 -0.0175 0.723* -0.146 0.113

(0.232) (0.299) (0.250) (0.326) (0.209) (0.318)

Years of Education 0.0143 0.133* -0.0290 0.0739 -0.114** -0.191**

(0.0425) (0.0627) (0.0440) (0.0606) (0.0363) (0.0614)

Age 0.237*** 0.103* 0.384*** 0.277*** 0.146*** 0.000504

(0.0335) (0.0496) (0.0403) (0.0572) (0.0297) (0.0482)

Race Non-White -0.0895 -0.333 0.211 1.438*** -0.178 0.159

(0.217) (0.310) (0.242) (0.426) (0.198) (0.315)

Parental Education1 High School & Higher -0.0284 -0.869* -0.0166 0.905* -0.209 -0.935*

(0.226) (0.369) (0.255) (0.371) (0.213) (0.438)

Parental Occupation2 Routine non-manual 0.0365 0.247 -0.807 -3.135* 0.303 -15.80

(0.571) (1.443) (0.649) (1.518) (0.513) (684.3)

Skilled Manual Workers 0.310 0.698 -0.473 -1.601 -0.0487 -1.055

(0.433) (1.307) (0.425) (1.075) (0.405) (1.320)

Non-Skilled Manual Workers 0.0967 -0.403 -0.571 -2.271* -0.184 -1.825

(0.439) (1.315) (0.429) (1.083) (0.406) (1.320)

Social Class during Childhood Middle-Class & Higher -0.137 0.589 -0.0964 0.143 -0.0949 0.226

(0.206) (0.309) (0.229) (0.331) (0.187) (0.305)

Migrated -0.302 -1.319** -0.104 -0.188 -0.714** -0.405

(0.222) (0.402) (0.237) (0.374) (0.218) (0.332)

Urban -0.000725 -0.437 -0.508 -2.769*** -0.962*** -1.901***

(0.339) (0.508) (0.342) (0.442) (0.246) (0.389)

Region North, Center-West,

North-East 0.202 -0.449 -0.129 -0.745* 0.706*** 1.412***

(0.205) (0.347) (0.228) (0.349) (0.188) (0.296)

Constant -6.731*** -4.634* -9.257*** -6.298** -2.065* 3.751

(1.168) (2.081) (1.333) (2.011) (0.993) (2.034)

N

974 527

Source:Ownelaborationbasedon2013BrazilSchool-to-WorkTransitionSurvey(ILO).Baseline:Category1. StandardDeviations inparenthesis.1.Highest levelof educationbetweenmotherandfather.2.Highestoccupationalstatusbetweenmotherandfather.

AFigura9mostraasprobabilidadespreditasbaseadasnosmodelosdaTabela3para asmulheres jovens. Os resultados da Figura 9 demonstram que a probabilidadepreditadepertencimentoàscategorias1e2diminuemdemaneirasignificativaentreas

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jovens mães na adolescência, quando comparadas à mulheres que adiaram amaternidade(oupermaneceramsemfilhos)—de60%para48%paraacategoria1ede17% para 13% para a categoria 2. Por outro lado, considerando todas as variáveisindependentesnamédia,aprobabilidadedepertenceràscategorias3e4aumentamaocompararmosmulheresqueforammãesnaadolescênciacommulheresquesetornarammães mais tarde (oupermaneceramsem filhos)—de9%para16%ede14%para22%.

ATabela4mostraosresultadosdemodelosmultinomiaissimples(Colunas1,3e5)edemodelosmultinomiaiscomaamostrapareada(Colunas2,4e6)comfoconauniãomaritalnaadolescênciaparaasmulheresjovens.Nossosresultadosdemonstramquemulheresjovensqueformaramalgumtipodeuniãoconjugalantesdos18anostêmmaischancesdepertenceramàcategoria3doqueàcategoria1doquemulheresqueadiaramaprimeirauniãoconjugalatépelomenosos18anosdeidade;controlandopordiferençaseducacionais,raciaisedebackgroundsocioeconômicodafamíliadeorigem.

0,000,100,200,300,400,500,600,70

Category1 Category2 Category3 Category4

Figura9.ProbabilidadesPreditasdePertencimentoaClassesdeTrajetóriasLaboraispelaIdadeaoNascimentodo

PrimeiroFilho,Mulheres,Brasil2013

FirstChildat19orolder FirstChildat18oryounger

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Tabela4

ResultadosdeModelosMultinomiaisnasAmostrasSimplesePareadas—PrimeiraUniãoConjugalnaAdolescência,Mulheres,Brasil2013

Category 2 Category 3 Category 4

Regular Sample

Matched Sample

Regular Sample

Matched Sample

Regular Sample

Matched Sample

First Union at 18 or younger 0.104 0.189 -0.102 0.732* 0.0250 0.249

(0.237) (0.296) (0.263) (0.353) (0.210) (0.263)

Years of Education 0.0246 0.152* -0.0149 0.0716 -0.0952** -0.0814

(0.0422) (0.0658) (0.0439) (0.0709) (0.0356) (0.0525)

Age 0.233*** 0.292*** 0.390*** 0.218*** 0.146*** 0.115**

(0.0335) (0.0501) (0.0409) (0.0541) (0.0294) (0.0403)

Race Non-White -0.0591 -0.158 0.218 0.723 -0.181 -0.853**

(0.214) (0.326) (0.239) (0.405) (0.197) (0.295)

Parental Education1

High School & Higher -0.00161 -0.0332 -0.0789 -0.225 -0.206 -1.917***

(0.227) (0.376) (0.258) (0.430) (0.212) (0.530)

Parental Occupation2 Routine non-manual 0.00975 0.987 -0.827 -15.11 0.160 -0.573

(0.570) (1.526) (0.648) (829.9) (0.505) (1.736)

Skilled Manual Workers 0.289 1.045 -0.500 -1.160 -0.107 -0.297

(0.433) (1.266) (0.426) (0.864) (0.398) (1.331)

Non-Skilled Manual Workers 0.0643 0.693 -0.578 -2.401** -0.307 -1.266

(0.439) (1.267) (0.430) (0.882) (0.399) (1.339)

Social Class during Childhood

Middle-Class & Higher -0.139 -0.563 -0.0816 0.570 -0.0857 -0.554*

(0.206) (0.291) (0.230) (0.376) (0.185) (0.266)

Migrated -0.295 0.376 -0.00162 -0.129 -0.652** -0.397

(0.221) (0.307) (0.234) (0.369) (0.213) (0.301)

Urban 0.0221 1.370* -0.484 -0.463 -0.893*** -0.888**

(0.339) (0.545) (0.339) (0.452) (0.243) (0.294)

Region North, Center-West, North-East 0.216 -0.280 -0.136 -0.872* 0.726*** 0.954**

(0.205) (0.309) (0.230) (0.375) (0.187) (0.316)

Constant -6.991***

-11.33***

-9.755*** -5.967** -2.291* -0.682

(1.113) (2.152) (1.286) (1.955) (0.926) (1.813)

N 972 491

Source:Ownelaborationbasedon2013BrazilSchool-to-WorkTransitionSurvey(ILO).Baseline: Category1; StandardDeviations inparenthesis. 1.Highest level of education

betweenmotherandfather.2.Highestoccupationalstatusbetweenmotherandfather.

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AFigura10mostraasprobabilidadespreditasbaseadasnosmodelosdaTabela4paraasmulheresjovens.OsresultadosdaFigura10demonstramqueaprobabilidadepreditadepertencimentoàcategoria1ésemelhanteparamulherescomuniãoounãona adolescência. A probabilidade de pertencimento na categoria 2 diminuisensivelmente—de 20% para 18%--entre as que formaram união conjugal naadolescência.Poroutrolado,aprobabilidadedepertencimentonacategoria3aumentademaneirasignificativaentreasjovensqueformaramuniãoconjugalnaadolescência—de3%para12%.Aprobabilidadedepertencimentonacategoria4caientreas jovensmulheres que formaram união conjugal durante a adolescência—de 23% para 17%.Novamente aqui consideramos todas as variáveis independentes na média para oscálculosdasprobabilidadespreditas.

AsFiguras11e12mostramresultadosanálogosàsFiguras9e10,masparaoshomens.Valeressaltarqueapenasumapequenaparceladejovenshomensnaamostrareportouonascimentodeumfilhoouumauniãonaadolescência,fenômenocomumnaliteratura.Destaforma,essesresultadosdevemserconsideradoscomcautela.Poroutro

0,000,100,200,300,400,500,600,70

Category1 Category2 Category3 Category4

Figura9.ProbabilidadesPreditasdePertencimentoaClassesdeTrajetóriasLaboraispelaIdadeaoNascimentodo

PrimeiroFilho,Mulheres,Brasil2013

FirstChildat19orolder FirstChildat18oryounger

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Category1 Category2 Category3 Category4

Figura10.ProbabilidadesPreditasdePertencimentoaClassesdeTrajetóriasLaboraispelaIdadeàPrimeiraUnião

Conjugal,Mulheres,Brasil2013

FirstUnionat19orolder FirstUnionat18oryounger

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lado,algumasdiferençasalcançamsignificânciaestatística; jovenspaisnaadolescênciatêm menores chances de pertenceram às categorias 2 e 3 do que a categoria 1.Refletindoesteresultado,aFigura11mostraumaprobabilidadepreditadepertenceracategoria 1 muito similar entre jovens pais e não pais na adolescência—38% versus42%. Por outro lado, jovens pais na adolescência têm uma chance significativamentemenordepertenceràcategoria2doque jovensquepostergaramapaternidade(52%versus 38%). A proporção de jovens na categoria 3 émuito pequena; jovens pais naadolescênciatêmmaischancesdepertenceramàcategoria4(19%)doquejovensqueadiaram a paternidade (10%). A Figura 12 demonstra que a probabilidade depertencimentoàscategorias3e4sãomaioresentreos jovensqueformaramuniãonaadolescênciadoqueentreosjovensqueadiaramauniãoconjugal(8%versus15%paraacategoria3;8%e14%paraacategoria4).Jovensqueformaramumauniãoconjugaltêmmenos chances de estaremna categoria 2 do que jovens que adiaram a primeirauniãoconjugal—49%versus33%.Asprobabilidadespreditasdeestaremnacategoria1são similares entre os jovens que adiaram e os que formaram união conjugal naadolescência—33%e34%.

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0,10

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Category1 Category2 Category3 Category4

Figura11.ProbabilidadesPreditasdePertencimentoaClassesdeTrajetóriasLaboraispelaIdadeaoNascimento

doPrimeiroFilho,Homens,Brasil2013

FirstChildat19orolder FirstChildat18oryounger

0,00

0,10

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0,60

Category1 Category2 Category3 Category4

Figura12.ProbabilidadesPreditasdePertencimentoaClassesdeTrajetóriasLaboraispelaIdadeàPrimeira

UniãoConjugal,Homens,Brasil2013

FirstUnionat19orolder FirstUnionat18oryounger

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Observando em conjunto os achados desta seção e refletindo sobre o objetivoque a orientava poderíamos propor algumas conclusões iniciais. Em primeiro lugar,vemosquealiteraturasobreasdesvantagensediferençasassociadasaonascimentodoprimeiro filho e à união marital na adolescência tem demostrado uma associação eefeitonegativostantoempaísesdealtacomodemédiaebaixarenda.Aliteraturasobrepadrões de desvantagens documentou as desvantagens educacionais das jovensmãesadolescentesedeseusfilhos(MarteletoeDondero2013)nocasobrasileiro.Entretanto,osestudossobreas transições laboraisnão têm levadoemcontaseecomooseventosdemográficos durante a adolescência afetam as trajetórias laborais dos jovensbrasileiros.

Tal lacuna limita o alcance do completo entendimento das trajetórias laboraisdessesnossos jovenspor várias razões: osprocessosde tomadadedecisão sedãodemaneirainterligada,afecundidadeadolescentenoBrasiléalta,aidademédiaaprimeirauniãocontinuabaixanoBrasil, a formaçãoda famíliaduranteaadolescênciapodeserum importante estratificador na sociedade brasileira com consequências importantesparaorendimentoeaempregabilidadedojovemduranteseucursodevida.

Nossosachadosdemonstram,atravésdeanálisededadosúnicosemetodologiasestatísticassofisticadas -que levamemcontaaseletividadeaoeventodemográficonaadolescência,quetaiseventosimpõemdiferençassignificativasnastrajetóriaslaboraisdosjovensbrasileiros.

Para finalizar, focalizaremos os efeitos da alocação de tempo entre estudo etrabalho sobre as trajetórias e como os mesmos se ligam a variáveis de naturezademográfica.

6.Transição,transições–discutindoalocaçãodetempoentreestudoetrabalhodejovensnoBrasil

Uma importante agenda de pesquisa na área de sociologia da educação, comumaclarainterlocuçãocomocampodaestratificaçãosocial,vemtratandodoconceitodetransiçãodeformaespecífica,umaformaqueconsideramospodeseranaliticamenterelevanteparanossasreflexõesarespeitodosdos jovensemseuciclodevidarumoàvida adulta. Em trabalhos de grande repercussão na área dos estudos sobredesigualdades e estratificação educacional, Mare (1980, 1981) introduz inovaçõesconceituais e metodológicas que se constituam em uma resposta crítica aos fortesachadosdosestudos fundamentadosnaanálisedosdeterminantesdototaldeanosdeestudo completos que indicavam diminuição das desigualdades educacionais emsociedades modernas entre coortes nascidas ao longo do século XX (Boudon, 1974).Mare propõe que o processo de escolarização formal seja conceitualizado como umasequência de transições entre níveis educacionais. Medir o processo de escolarizaçãoformal a partir de uma série de transições permite a observação dos diferenciais deescolarização em estágios diferentes do processo, o que possibilita evidenciardiferenciaisdeclasseeorigemsocioeconômicanaschancesdeprogressãoeducacionalpor nível de forma independente da tendência de crescimento na proporção deindivíduos que atingem determinados níveis educacionais. Partindo das proposiçõesteóricas e metodológicas de Mare, diversos estudos nacionais foram desenvolvidossobre padrões de estratificação educacional (Shavit e Blossfeld, 1993). Em termosgerais, o modelo de progressão educacional (que ficou conhecido como modelo de

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transições educacionais, ou MTE) pode graficamente ser representado da seguinteforma:

Com este modelo de análise, é possível identificar as barreiras específicas àprogressão educacional que se interpõe à trajetórias dos estudantes, evidenciando ospontos desta trajetória nos quais operam de maneira mais clara mecanismos deseletividade que tendem a desigualar as chances de sucesso educacional entre asdiversastransiçõesquecompõeascarreiraseducacionais.

Masatrajetóriadevidadosjovensnãopodeserentendidaexclusivamentenoslimitesdeescolhasdicotômicasemrespeitoà suaprogressãoeducacional.Estaéumalimitação do tratamento que esta literatura original deu à questão das transiçõeseducacionaisquemotivoumuitasdascríticasquesedesenvolveramàestatradiçãodepesquisa.Fatoéqueumacompreensãomaisabrangentearespeitodociclodevidadosjovens demanda uma multiplicidade de destinos, em cada movimento de transição,maiordoqueosdoispossíveisprevistosnaformulaçãooriginaldoMTE–continuarounão na carreira educacional. Desta forma, a agenda de pesquisa em transiçõeseducacionais se desdobrou em uma agenda de pesquisa em transições, passandoempiricamenteaavaliaraprogressãoeducacionaldosjovensesuarelaçãocomoutroseventos tipicamente concomitantes no seu ciclo de vida. Significava incorporar aomodelo analítico a ideia de que os destinos possíveis em cada transição – quecaracterizavam,emseuconjunto,parâmetrosgeraisdedesigualdadesdeoportunidadesentre jovens -eramdiversosenãosereduziamexclusivamenteaosdestinospossíveisdentrodosistemaeducacional.

SurgemapartirdestacríticaàformulaçãoinicialdoMTEmodelosdeanálisequeincorporavam operacionalmente a multiplicidade de destinos possíveis entre osmovimentosdetransiçãonajuventude.Entreestasformulações,eramuitofrequenteaproblematizaçãodomodelodentromesmodosistemaeducacional,soboargumentodequeosistemaeracaracteristicamentesegmentadoemcaminhos(tracks)distintosque,ao longoda trajetória educacional, ensejavamparâmetrosdedesigualdadeno alcanceeducacional dependendo de em quais “pedaços” do sistema educacional seconcentravam as trajetórias dos estudantes (Breen e Jonsonn, 2000; Lucas, 2001).Haviam segmentos no sistema educacional para os quais passar por eles favorecia aprogressãoeducacionalrumoàníveisdeescolarizaçãomaisaltos,enquantotrajetóriasqueseconcentravamemoutrossegmentosdosistemaacabavamporconstituir-seembarreirasàrealizaçãoeducacionaldosjovens.

Estaliteraturanãotratanoentantoexclusivamentedosefeitosdasegmentaçãodosistemaeducacionalsobreaschancesdeprogressãodosjovens.Eénestepontoque

Permanência no SE

Abandono do SE

Permanência no SE

Abandono do SE

Permanência no SE

Abandono do SE

População em idade de entrada no SE

T1 T2 T3

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ela nos serve diretamente como inspiração para a análise que aqui apresentamos.DopontodevistaempíricoestaliteraturabuscoutambémincorporaràsanálisesbaseadasnoMTEdimensõesextra-escolares,a fimdeestimaro impactodestes fatoressobreastransições dos jovens, tornando assim mais diversos os destinos possíveis nosmovimentosdetransiçãoquecaracterizamomomentodajuventudenociclodevidadaspessoas.

Considerando que a diversidade em destinos intra e extra escolarescaracterizaria de forma mais fidedigna as transições nos ciclos de vida dos jovens,algunstrabalhosexploramoperacionalmenteestaformulaçãoutilizandoalinearidade/nãolinearidadedastrajetóriaseducacionais(Milesi,2010)eaparticipaçãonomercadode trabalho (Roksa e Velez, 2010) como fatores que influenciam as chances deprogressãoeducacionaldosjovens.Noprimeirocaso,trata-sedepensarqueaausênciade linearidade nas trajetórias educacionais dos jovens é um importante fator aestruturar desigualdades de oportunidades. No segundo, evidências empíricas foramevocadasafimdedemonstrarcomoaconcomitânciatemporaldetrajetóriasnosistemaeducacional e no mercado de trabalho constituía-se como importante componentedeterminante da realização de transições (educacionais) no ciclo de vida dos jovensinvestigados.NaanálisedocasoBrasileiro,AlvesdeBrito (2014)demonstracomo,natransição de entrada no nível superior, a desigualdade de classe nas chances deprogressão se denota, entre jovens de nível sócio-econômico mais baixo, umanecessidade quase imperativa de conjugar trabalho e estudo como estratégia paragarantiraprogressãoeducacionalrumoaonívelsuperiordeescolarização.

Estaéaliteraturaqueaquinosinspiraparaproporumdesenhodeanálisequenos possibilite ganhos analíticos relevantes sobre a especificidade das trajetórias etransições da população jovem brasileira, agregando, assim, conhecimentos maisaprofundados sobre como a estrutura de oportunidades que se lhes apresenta,notadamente se analisamos as transições articulando a dimensão educacional àparticipaçãonomercadodetrabalho.

DesenhodaAnáliseeMetodologia

Para fins de manutenção de parâmetros de comparação internacionais queorientaram a pesquisa Transição Escola Trabalho, a OIT adotou metodologia queenvolveu a construção de um indicador sintético paramensurar a posição dos jovenspesquisados em um dado caminho rumo à autonomização, compondo o indicador apartir de variáveis referentes à satisfação com o emprego, a finalização da trajetóriaescolar e a situaçãoocupacional. Trata-sedeum indicador categórico, oque significaafirmar que discrimina os indivíduos entre categorias possíveis de trajetórias rumo avida adulta. Este indicador qualifica os indivíduos em termos de seu ciclo de vida deacordo com 3 categorias: (a) jovens que realizaram a transição (denominados de“transicionados”);(b)jovensemtransiçãoe(c)jovensquenãoiniciaramatransição.

Os “jovens transicionados” são aqueles que se enquadram nas seguintessituações,todaselasrelacionadasàsuainserçãonomercadodetrabalho:(1)estãoemumtrabalhoestávele satisfatório; (2) têmumtrabalhoestável,mas insatisfatório; (3)têmumtrabalhosatisfatóriomastemporárioou(4)têmumtrabalhoporcontaprópriasatisfatório. Vê-se que duas dimensões são estratégicas para a construção dascategorias:estabilidadeesatisfação.Estabilidade,porsuavez,compreendeumâmbitodevariaçãosuigeneris,poisaliatantomodalidadesdeduraçãodevínculoc(duradourovstemporário),comonaturezadovínculo(assalariadovccontaprópria).Os“jovensem

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transição” são aqueles que (1) estão desempregados; (2) estão empregados em umtrabalhotemporárioeinsatisfatório.9

Todavia, para explorarmos as conexões entre as transições ocupacionais eeducacionais temosumproblemamais delicado, vezque, da forma como concebidooquestionário, a TET não levanta os dados do percurso escolar do entrevistado. Elaapenasregistrase foramabandonadososestudos(comosenãohouvesseachancederetorno após um episódio de abandono da escola) e, para cada evento laboral, se oentrevistado estava (ou não) frequentando a escola. Impossibilitados de fazer umamensuração mais precisa das transições educacionais, de maneira a articulá-las àtrajetória laboral,optamospordois caminhos.Emprimeiro lugar, construirumanovatipologiade trajetosque tomasseemcontanãoapenasa situação faceaomercadodetrabalho (detalhadamente descrita no questionário), como a situação face à escola(sumariamente indicada em termos de presença ou não no sistema escolar). Emsegundo lugar, aprofundamosumaanalise sobreosdiferenciaisdealocaçãodo tempoentretrabalhoeescola,explorandoospossíveisdeterminantesdestadiferença.

Iniciaremos, assim, por investigar os padrões de estratificação nas chances derealização de transições rumo à vida adulta, considerando as possibilidades dearticulaçãoentreprogressãoeducacionaleparticipaçãonomercadodetrabalho.

Paratantodefinimoscomovariáveldependenteaalocaçãodetempodosjovensentre 4 categorias possíveis: (a) somente estudo; (b) estudo e trabalho; (c) somentetrabalhoe;(d)trabalhoeestudo.Essaopçãodecorredeumalimitaçãonoprocedimentoda coleta da informação educacional em relação ao procedimento de coleta dainformação ocupacional. Se por um lado, contamos com a possibilidade de“longitudinalizar” a informação sobrea trajetóriados jovens investigadosnomercadodetrabalho,nãoépossívelfazeromesmocomatrajetóriaeducacionaldestesjovens.10

Dadastais limitações,decidimostrabalharempiricamentecomaconstruçãodecenáriospossíveisparaasrealizaçõesdastransiçõesqueanalisamos,apartirdecertosníveiseducacionais.Comesseexercício,buscaremosevidênciassobreosdiferenciaisdechancesderealizaçãodetransiçõesrumoaqualquerumdos4estadosdealocaçãodetempo delimitados, levando em consideração os efeitos de variáveis tipicamenteutilizadas em análises sobre desigualdades, em especial de desigualdades emoportunidades educacionais e trajetórias no mercado de trabalho. A pergunta queorientaainvestigaçãoéuma:quaisaschancesdeque,dadasalgumascaracterísticas,os

9Note-se, que tal como definidos os estados, desaparece a possibilidade de combinações que,entrenós, são socialmente significativas, como ter trabalhoeestaràprocuradeoutromelhor,comumemcertaidadedosjovenseemcertoscontextosdomercado(videGuimaraes,2009).Poroutrolado,odesempregodeixadeserumcontingenciadainserçãomercantilepassaaseruma“fase”,antecedente,nummovimentounilineardeingressonomercadodetrabalho,subsequenteaumcertopatamardealcanceeducacional.Enriquecertalentendimentotrazendoàluzomodocomoseinterligam,nocasoBrasileiro,distintasdimensõesdastransiçõesjuvenis,conformandocursos complexos, plurais e não-lineares na vida dos nossos jovens é o que nos moverá norestantedestetexto.10Dopontodevistametodológicoissoocorreporque,comoditoantes,nãofoiutilizada,paraadescriçãodatrajetóriaeducacionalamesmatécnicadecoletadedadosemformadeeventosquetenham seu início e seu fim claramente datados, como foi o caso da trajetória dos jovens nomercadode trabalho.Dessa forma,no casodonívelde escolarização estamos limitados aumainformaçãodenaturezatransversal–ouseja,sabemosaescolaridadedoindivíduonomomentoda entrevista, mas nada sabemos sobre as temporalidades (rupturas e continuidades) na suaprogressãoeducacional.Porissomesmonãoépossívelgerarumindicadorsintético,denaturezalongitudinal, para caracterizar as trajetórias educacionais destes jovens com amesma riquezaanalíticaquenosfoipossívelquandoprocederemosàidentificaçãodastrajetóriasocupacionais.

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jovenspertençamaalgumadas4categoriasdealocaçãodetempo.Oscenáriospossíveisque ilustram nossa análise, e o sentido substantivo dos destinos caracterizados pelascategoriasdealocaçãodetemposãoosseguintes:

(a)jovenselegíveisàentradanoensinomédio,comidadeentre15e19anos: neste caso, os jovens que somente estudam são, necessariamente, aqueles querealizarama transiçãodeentradanoensinomédio;aquelesqueestudame trabalhamrealizaram as transições de entrada no ensino médio e de entrada no mercado detrabalho (medida através de sua participação); aqueles que somente trabalhamrealizaramatransiçãodeentradanomercadodetrabalho,masnãofrequentamaescola,o que significa quenão realizarama transiçãode entradano ensinomédio; e aquelesque não estudam e nem trabalham não realizaram a transição de entrada no ensinomédiomaspodemterrealizadoadeentradanomercadodetrabalhoaindaque,nadatadereferênciadapesquisanãoestejamtrabalhando(população1);

(b) jovenselegíveisàconclusãodoensinomédio,comidadeentre20e24 anos: os que tem como destino a categoria somente estuda são puramenteestudantes,semdiscriminaçãosobreserealizaramounãoatransiçãodeconclusãodoensinomédioedeentradanomercadode trabalho;aquelesqueestudame trabalhamrealizaram ou não a transição de conclusão do ensino médio (pois continuamestudando) mas definitivamente realizaram a transição de entrada no mercado detrabalho;aquelesquesomentetrabalham,temoscertezadequerealizaramatransiçãode entrada nomercado de trabalho, sem especificação sobre a transição educacionalmaiselevadaquerealizaram;eosquenãoestudamenemtrabalhamsãoaquelesquenomomento da pesquisa não estavam nem no sistema educacional, nem no mercado(população2);

(c) jovenselegíveisàconclusãodoensinomédio, com idadeentre25e29 anos; aqueles que somente estudam ocupavam-se unicamente de sua trajetóriaeducacionalnomomentodapesquisa, sendoelano ensinomédioou superior; osqueestudavam e trabalhavam já haviam realizado a transição de entrada nomercado detrabalhoepoderiamounãoterrealizadoatransiçãodeconclusãodoensinomédioedeentrada no ensino superior; os que somente trabalhavam já haviam realizado atransição de entrada no mercado de trabalho, mas não sabemos quais transiçõeseducacionais,paraalémdaentradanoensinosuperiorhaviamrealizado;porfim,osquenãotrabalhavamenemestudavamestavamdesocupadosesemfrequentarinstituiçõesdeensino,masnãosabemosquaistransiçõeshaviamrealizadoemrelaçãoàsuacarreiraeducacionaleàsuaentradanomercadodetrabalho(população3);

(d) jovenselegíveisàentradanoensinosuperior,comidadeentre20e24 anos; para estes jovens, se a categoria de alocação de tempo for somente estuda,sabemos que eles realizaram a transição de entrada no ensino superior, semconsiderações sobre sua participação no mercado de trabalho; se trabalhavam eestudavam,haviamrealizadotantoatransiçãodeentradanoensinosuperiorquantoatransição de entrada no mercado de trabalho; se somente trabalhavam, haviamrealizado a transição de entrada nomercado de trabalho,mas nada sabemos sobre arealização da transição de entrada no ensino superior; se não trabalhavam nemestudavamnadapodemosdizersobrearealizaçãodetransiçõesnosistemaeducacionalenemnomercadodetrabalho–tudoquesabemoséquenãoestavamnemocupadosenemestudandonadatadereferênciadapesquisa(população4).

(e) jovenselegíveisàentradanoensinosuperior,comidadeentre25e29anos;aestapopulação,osmesmossentidossubstantivosdascategoriasdealocaçãoem(4)sãoaplicáveis.Comotrata-sedeumapopulação ligeiramentemaisvelha,oquepretendemos é observar em que sentido certas tendências das chances depertencimento às categorias de alocação de tempo se acentuam ou se tornammenos

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marcantespara jovensemfaixasetáriasmaisavançadas–paraosquaisesperaríamosníveismais altosde escolarização euma inserçãomais longanomercadode trabalho(população5).

Para todosestescenáriospossíveis,nosperguntamos:quaisaschancesdequeos jovensdecadaumadasnossaspopulaçõesdereferência(queseconstituem,assim,emamostrasanalíticas)estivessememalgumadascategoriasdealocaçãodetempoquedefinimos?EstaanálisepodepotencialmenteproblematizarossupostosdoindicadordetransiçõesdaOITemdoispontosprincipais:(I)emprimeiro(emaisóbvio)naschancesdiferenciais de pertencimento à categoria estudo e trabalho, que, por definição,caracterizatrajetóriasde jovensparaosquaisnãopodemosassumir linearidadeentretérminodacarreiraeducacionale iníciodaparticipaçãonomercadodetrabalhoe;(2)emsegundo lugar,podeevidenciarumviésnaclassificaçãodaOITde transições,poisbuscaremos testar a hipótese de que há uma segmentação socioeconômica,determinante das chances de realização de transições no sistema educacional e nomercadodetrabalho.AcreditamosquetalmovimentopodenosrevelarumapluralidadedeparâmetrosdeestratificaçãonãoidentificáveisatravésdoindicadorconstruídopelaOIT,evidenciandosingularidadesnaestruturaçãodasequênciadetransiçõesnociclodevidadosjovensBrasileiros.

Buscamos estimar as chances de pertencimento às categorias de alocação detempoparacadaumadaspopulaçõesdeinteresse(5,aotodo).Avariáveldeinteresse(ou dependente) é portanto a alocação de tempo. Como trata-se de uma variávelcategórica, utilizamos um modelo de regressão multinomial, expresso pela seguinteequação:

𝝋𝒊 = 𝒍𝒏 𝑷𝒊𝒌 𝑷𝒊𝑲 = 𝜶 + 𝜷𝒏𝑿𝒊𝒏 + 𝜷𝒏𝜹𝒊𝒎 + ⋯+ 𝜺

parak=1,...,K–1

ondeφirepresentaologaritmonaturaldaschancesdepertencimentoàalgumadascategoriasdealocaçãodetempo(realizaratransiçãoàcategoriak).Paracadaumadaspopulaçõesdeinteresse,ojovempodepertenceràcategoriasomenteestuda(k=1),somentetrabalha(k=2),trabalhaeestuda(k=3)enemtrabalhanemestuda(k=4).Paratodos os modelos, o termo α significa uma constante, os β`s são os coeficientes deregressão,Xinéumvetordevariáveisreferentesàorigemsocialdos jovenseδiméumvetordevariáveisdecontrole.Utilizamoscomovariáveldeorigemsocialaescolarizaçãodos pais (a mais alta entre pai e mãe), e como variáveis de controle (a) raça(brancos/não brancos); (b) condição no domicílio (se é filho ou pessoa dereferência/cônjuge);(c)idade(emanoscompletos);(d)natalidade(setemounãotemfilhos).Osmodelos foramestimados separadamente entrehomens emulheresdentrodeumamesmapopulação,devidoaosconhecidosdiferenciaisentrehomensemulheresdos efeitos (I) do movimento de autonomização com relação ao domicílio de origem(passar de filho a pessoa de referência ou cônjuge) e (II) e dos eventos da vidareprodutiva(terounãofilhos).

Oprimeiropassodanossaanáliseécaracterizarnossaspopulaçõesdeinteresse.Atabela1trazasestatísticasdescritivasparacadaumadasnossasamostrasanalíticasemrelaçãoàsvariáveisqueutilizamosnasestimações:

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As estatísticas descritivas referentes à escolaridade dos jovens refletem acomposição das amostras analíticas, baseadas em parte no nível de escolarização dosjovens.Assimtemosumcrescimentoqueseparaapopulação1dasdemais,eagregaaspopulações 2 e 3; e 4 e 5, com níveis médios similares de escolarização dos seuscomponentes.Omesmoacontececomaidademédiadaspopulaçõesdeinteresse,dadoqueaidadefoioutrodoscritériosdedefiniçãodasamostrasanalíticas.

Acomposiçãoracialdosgrupostambémnãoéemmédiamuitodiferentedentrode cada amostra analítica. A principal diferença diz respeito à população 4, compostapor jovens de 21 a 24 anos elegíveis ao ensino superior, onde 43,6% dos homens e41,8%dasmulheres são brancos – importante notar trata-se de uma populaçãomaisprivilegiada do ponto de vista educacional – como nosmostram as estatísticas sobreníveisdeescolarização–queatingiumaiscedoaelegibilidadeaonívelsuperiore temumaproporçãomais alta de jovensquede fato realizama transiçãode entradanesteníveleducacional.Asdiferençasentrehomensemulheressãobastanteevidentesparaoindicador de natalidade e para o indicador de condição no domicílio. Para todas asamostrasselecionadastem-seumamaiorproporçãodemulheresquetemfilhosequejáseautonomizaramemrelaçãoaodomicíliodeorigem,ouseja,mudaramdecondiçãonodomicílioenadatade referênciadapesquisaerampessoasde referênciaoucônjugesemseusdomicílios.

Apresentamos,emseguida,osprincipaisresultadosobtidosapartirdomodeloantesespecificado.

Desigualdadesentregruposdesexoeraça

Os resultados para as estimações são apresentados no conjunto de gráficos aseguir, na forma de probabilidades preditas. Neste ponto da análise nos interessaevidenciarosefeitosdavariávelraça,quefoicodificadaembrancosenão-brancos.Cadaumdosgráficosrepresentaaschancespreditasdepertencimentoaumadascategoriasde alocação de tempo, tal como previamente definidas (trabalho e estudo; somenteestudo;somentetrabalhoenemtrabalhonemestudo)paracadagrupodesexoeraça(homensbrancos;homensnão-brancos;mulheresbrancas;mulheresnãobrancas).

Vejamos,porexemplo,ográficoparaapopulação1.Aqui, tratamosdos jovensde 15 a 19 anos elegíveis à transição de entrada no ensinomédio (ou seja, possuemfundamentalcompleto).Paraestegrupopopulacional,ográficoapresentaaschancesde

H M H M H M H M H M

Escolaridade

ensino médio incompleto ou mais 0,963 0,961 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000

ensino médio completo ou mais 0,162 0,225 0,650 0,694 0,758 0,827 1,000 1,000 1,000 1,000

ensino superior incompleto ou mais 0,059 0,086 0,237 0,282 0,294 0,295 0,364 0,406 0,388 0,356

Escolaridade da Família

Ensino Fundamental ou menos 0,449 0,453 0,481 0,524 0,558 0,583 0,416 0,448 0,519 0,556

Ensino Médio 0,369 0,388 0,340 0,349 0,278 0,307 0,354 0,378 0,298 0,326

Ensino Superior 0,170 0,144 0,159 0,119 0,153 0,088 0,221 0,164 0,176 0,102

Demais Características

idade 17,16 17,10 22,01 22,04 26,88 26,80 22,05 22,06 26,84 26,76

raça (branco=1) 0,407 0,404 0,389 0,386 0,378 0,377 0,436 0,418 0,389 0,388

natalidade (tem filho=1) 0,009 0,106 0,175 0,402 0,435 0,612 0,141 0,321 0,415 0,579

condição no domicílio (pessoa de referência ou cônjuge=1) 0,013 0,084 0,212 0,361 0,455 0,529 0,189 0,325 0,423 0,502

Valid N (listwise) 381 423 343 359 333 334 222 249 251 276

Fonte: OIT/Brasil. Survey Transição Escola-Trabalho. 2013.

Tabela 1 - Estatísticas descritivas para as populações de interesse

população 1 população 2 população 3 população 4 população 5

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pertencimento a cada categoria de alocação de tempo. Assim, o primeiro conjunto debarras à esquerdanos indica que as chances preditas de que homensnão-brancos dapopulação1estejamtrabalhandoeestudandoédeaproximadamente40%;doshomensbrancosumpoucomenosde35%;edecrescepara30%entremulheresnãobrancaseumpoucomenos(28%)entremulheresbrancas.Osegundoconjuntodebarraspropõeomesmoolhar,destavezparaacategoriasomenteestuda:nestecaso,aordenaçãodaschances de pertencimento se inverte, e asmulheres brancas são as que temmaioreschancesdepertencimento,seguidaspelasmulheresnãobrancas,oshomensbrancoseos homens não brancos – que são o grupo commenores chances de pertencimento aestacategorianapopulaçãoentre15e19anos.Nestecaso,trata-se,necessariamente,dejovensqueprosseguiramsua trajetóriaeducacional, realizandoa transiçãodeentradano ensino médio. Os outros dois conjuntos de barras mostram as probabilidadespreditasdepertencimentoàscategoriassomentetrabalhoenemtrabalhonemestudo

Painel 1 – Probabilidades preditas de pertencimento às categorias dealocaçãodetempo,porsexoeraça,emcadapopulaçãodeinteresse

Fonte:OIT/Brasil.SurveyTransiçãoEscola-Trabalho.2013.

Uma outra importante leitura que os gráficos nos permitem é identificar ascategorias de alocação de tempo predominantes dentro das nossas populações deinteresse. Não por acasomantivemos as barras dos segmentos de sexo e raça com amesmacor.Asomadospercentuaisdasbarrasdemesmacortotaliza100%,oquenos

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indica,paraapopulação1,queháumapredominânciadascategoriastrabalhaeestudaesomenteestudanaalocaçãodetempodestesjovens.Ouseja,mesmoentreapopulaçãomais jovem que analisamos – entre 15 e 19 anos, com ensinomédio incompleto – ésignificativaaprobabilidadedeconjugaçãoentreestudoetrabalho:mesmonopontodenossa análise para o qual esperaríamos chancesmaiores de ocorrência de trajetóriasfundamentalmente educacionais, a conjugação entre estudo e trabalho é comum –mesmoaschancesdesomentetrabalharsãomaioresdoqueaschancesdenemestudare nem trabalhar. O gráfico para esta população nos evidencia também como estasprobabilidades variam de acordo com o sexo e a raça dos jovens – em geral, commaiores chances de realização da transição de entrada nomercado de trabalho, parahomensdoqueparamulheres,eparanãobrancosemrelaçãoaosbrancos.

Os demais gráficos do painel seguem a mesma lógica de exposição dosresultados, para cada uma das populações de interesse. O conjunto dos gráficos empainel nos permite apresentar uma visão comparativa global das populações deinteresse e seus padrões de alocação de tempo, dado nosso interesse em apresentarevidências sobre a diversidade possível de destinos dados os cenários delimitados deparâmetrosetárioseeducacionaisquecaracterizamcadapopulaçãoanalíticadestacada.

Tendo em vista esta intenção comparativa, ressalta-se como o padrão dealocaçãode tempoqueapesquisaOIT–TransiçãoEscola-Trabalhoevidencia émuitodiferenteentreapopulaçãomaisjovemqueanalisamos–de15a19anos,comensinofundamental completo – e as demais populações. Para todas as outras populações,claramente predominam entre os homens – brancos e não-brancos - as chances desomente trabalhar. Vejamos por exemplo o gráfico para a população 2 que trata dosjovenscom21a24anos,quetemensinomédioincompleto.Paraestes,emespecialoshomens,aschancesdesomentetrabalharsãodemaisde60%-maioresentrebrancosdo que entre não-brancos. Entre asmulheres, esse percentual émaior também entrebrancas,massignificativamentemaisbaixodoqueentreoshomens(entre40e50%).Tal diferença reflete-se emmaiores chances dasmulheres pertencerem às categoriassomente estuda e não trabalha nem estuda. Observa-se também que as chances detrabalhar e estudar demulheres não-brancas é equivalente às dos homens brancos enão-brancos.Masde formageral,oqueémaisevidentepelográficoéadiferençanospadrões de alocação de tempo entre a população 1 e a população 2. A população 3 écomposta por jovens com o mesmo nível de escolarização daqueles da população 2(ensinomédioincompleto)masestãoumpoucomaisàfrentedopontodevistaetário(tem entre 25 e 29 anos). Aqui, o que se observa em relação à população 2 é aacentuaçãodaconcentraçãodopertencimentoàcategoriasomentetrabalha,quechegaa quase 80% de chances entre os homens e ultrapassa os 50% de chances entre asmulheres. Com isso há uma diminuição mais intensa nas chances de homens nãotrabalharemnemestudaremetambémdesomenteestudarem–entreasmulheres,aschances de pertencimento à estas categorias mantém potencial de concentração, emespecial a categoria não estuda e nem trabalha. As desigualdades raciais são maisacentuadasentreapopulação2(mais jovem),semprecommaischancesderealizaçãoda transição de entrada no mercado de trabalho entre não brancos do que entrebrancos, conjugando ou não o trabalho com o estudo. Tais desigualdades são menosevidentesnapopulação3,maisvelha,paraaqualdestaca-seadesigualdaderacialentremulheresbrancasenãobrancasnaschancesdepertencimentoàcategorianãotrabalhaenemestuda.

Nossosresultadostambémsugeremqueaconclusãodoensinomédioensejaumpadrãoumpoucodiferentedealocaçãodetempoentreosjovensqueanalisamos,comonosindicamosresultadosobservadosparaaspopulações4e5.Sãojovensnasmesmasfaixasetáriasanalisadasnaspopulações2e3(21-24anose25-29anos)masdiferentesemescolarização–temensinomédiocompleto.Nestecaso,todasasduascategoriasque

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envolvem estudo indicam a realização da transição de entrada no ensino superior –conjugada ou não ao trabalho, pois essa é a única possibilidade de continuidade datrajetória educacional: se o jovem tem ensino médio completo e estuda na data dereferência da pesquisa, necessariamente ele entrou no ensino superior. Nossosresultados sugerem que estas categorias (trabalha e estuda e somente estuda)concentramemmédiamenosdametadedaschancesdealocaçãodetempoparaasduaspopulações de interesse, sendoque tende a diminuir entre a populaçãomais velha.Oprincipaldestinodaalocaçãodetempodestesjovensémesmoainserçãonomercadodetrabalho, exclusiva. Entre os jovens de 21 a 24 anos, as chances de somente trabalhoparahomensnãobrancossãomaiores,assimcomoparaasmulheresbrancas.Entreapopulaçãode25a29anos,nãohádiferençasraciaistãopronunciadasnestacategorias.Tais diferenças sedemonstramemmaiores chancesdemulheresbrancas conjugaremestudo e trabalho emaiores chances demulheres não brancas de não trabalharem enemestudarem.

Os resultadosevidenciamassimcomoopadrãodedistribuiçãodos jovensnascategorias de alocação de tempo é uma função do pertencimento a grupos de sexo eraça;bemcomoevidenciamcomoestasmesmasdesigualdadesassumem intensidadesmaioresoumenoresdependendodociclodevidaexperimentadopelosjovenstantodopontode vistade sua evolução etáriaquanto em termosdo acúmulode realizaçãodetransições dentro do sistema educacional. Sexo, raça, idade e escolarização sãoimportantes aspectos que estruturam as oportunidades de realização de transiçõeslinearesentrecarreiraeducacionaletrabalho.

DesigualdadesporOrigemSocial

Dependendodaorigemsocial,aschancesdepertenceràsdiferentescategoriasde alocação de tempo também variam. É o que nos evidenciam os resultadosapresentadosnopainel2.

Utilizamoscomoindicadordeorigemsocialoníveldeescolarizaçãodafamília,representado pelo nível de escolarização mais alto entre a escolarização do pai e aescolarização da mãe. Aqui optamos por uma estratégia ligeiramente distinta deapresentação dos resultados. Os gráficos continuam a apresentar as probabilidadespreditasdepertencimentoàscategoriasdealocaçãodetempo.Noentanto,osgráficosdo painel 2 agrega a análise das probabilidades preditas de acordo com o nível deescolarizaçãofamiliar.Cadaconjuntode4barrasapresentaadistribuiçãodaschancesdealocaçãoentretodasascategoriasdealocaçãodetempo,dentrodeummesmonívelde escolarização familiar. Assim, o conjunto de 4 barras é que soma 100%, com cadacategoriasdealocaçãodetemporepresentadasporbarrasdecoresdistintas.

O gráfico referente à população 1 (jovens de 15 a 19 anos com ensinofundamentalcompleto),evidenciadiferençasbastanteclarasnaalocaçãodetempodoshomens por origem social. Entre aqueles que tem pais com ensino fundamentalcompleto ou menos, predominam as chances de conjugação entre estudo e trabalho(40%), seguido por somente estudo (34%), somente trabalho (20%) e nem trabalhonem estudo (5%). A distribuição entre os homens oriundos de famílias comescolarizaçãodenívelmédiotemmaischancesdesomenteestudar,masaindagrandeschances de trabalhar e estudar. A principal diferença se dá entre estes jovens (defamílias com escolarização até o nível médio) e aqueles oriundos de famílias comescolarização em nível superior: no caso das últimas, as chances de alocação nacategoriasomenteestudo–quesinalizaarealizaçãodatransiçãodeentradanoensinomédio – é significativamente mais alta do que nas demais categorias de alocação detempo,etambémdoqueoobservadoparajovensemfamíliascomníveismaisbaixosdeinstrução. Entre as mulheres sempre predominam as chances de somente estudar,

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independentedoníveleducacionaldospais,sendoqueaschancesdesomentetrabalharsãoasqueapresentammaioresvariaçõesdependendodaorigemsocial.

Painel 2 – Probabilidades preditas de pertencimento às categorias dealocaçãodetempo,porsexoeorigemsocial,emcadapopulaçãodeinteresse

Fonte:OIT/Brasil.SurveyTransiçãoEscola-Trabalho.2013.

Comparando as duas populações de jovens com nível médio incompleto, opadrão de alocação de tempo muda. Entre os mais jovens (de 21 a 24 anos), e emespecialentreoshomens,aschancesdesomentetrabalharpredominamentretodasascategoriasdeorigemfamiliar,sendoquediminuemàmedidaemqueaescolarizaçãodafamíliaaumenta.Taltendênciaécontrabalanceadapelocrescimentonaschancesde(a)estudar e trabalhar e; (b) somente estudar, que crescem com o aumento do nível deinstrução da família. Mas as chances de estudar e trabalhar para essa população sãosempremaioresdoqueaschancesdesomenteestudar,evidenciadequeosupostodelinearidadenatransiçãodaescolaparaotrabalhonãosesustentajáentrejovensde21a24anos.Poroutro lado,a concentraçãodechancesnacategoria somente trabalhaémenospronunciadaentremulheres,sendooprincipaldestinoparaaquelasquevemdefamíliascomnívelfundamentaloumédiodeescolarização.Entreasmulheresoriundasde famílias com alta instrução (nível superior), a alocação de tempo exclusiva nos

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estudoséoquechamaatenção,sendoodestinomaisprovável,oqueasdiferenciadopadrãoobservadoparaosdemaisgruposdesexoeorigemsocialanalisados.Áanálisedos resultados para a população 3, com omesmo nível educacional de (2)masmaisvelha (25 a 29 anos) sugere uma concentração ainda mais intensa de chances dealocaçãona categoria somente trabalho, oqueocorre tantoparahomensquantoparamulheres.Nocasodoshomens,avariaçãodeacordocomoníveldeinstruçãodafamíliamantématendênciaobservadaparaasoutraspopulaçõesdeinteresse:quantomaisaltaa origem social,menores as chances de alocação exclusiva em trabalho, emaiores aschances de conjugação entre estudo e trabalho. Entre asmulheres, a tendência é umpoucodiferente.Paraapopulação3começamaaumentar,emgeral,aschancesdequeelas não estudem e nem trabalhem, e as chances de somente trabalharem sãosignificativamente maiores do que as observadas entre as mulheres mais jovens demesma escolarização. O interessante é que as chances de alocação nestas duascategorias (somente trabalho e nem estudo nem trabalho) não apresentam variaçõesmuito significativas entreorigens sociaisdiferentes.Nossos resultados sugeremqueaúnicacategoriadealocaçãodetempocujaschancesdepertencimentotendeacrescer,entreasmulheresdapopulação3,deacordocomaorigemsocialéadesomenteestudo.

Para as populações 4 (21-24) e 5 (25-29), ambas elegíveis à entrada no nívelsuperior, novamente os padrões de alocação entre homens e mulheres são bastantedistintos.Entreoshomensmaisjovens,aschancesdesomentetrabalharpredominam,masnãotantocomoobservamosparaaspopulações(2)e(3),deníveleducacionalmaisbaixo.Essepredomíniodiminuiàmedidaemqueémaisaltaaorigemsocial.Aschancesde conjugação entre estudo e trabalho, que demarcam trajetórias educacionais quealcançamoensinosuperiortambémcrescem,entreoshomens,deacordocomaorigemsocial.Éinteressantetambémnotarcomoaschancesdealocaçãodetempoexclusivaemestudossãomenoresdoqueaalocaçãodetempoentreestudoetrabalho,entretodasascategorias de origem social – o que sugere que émais comum, para ambas as nossaspopulações elegíveis à entrada na universidade (4 e 5) que o período da trajetóriaeducacional decorrido no nível superior é mais frequentemente um período deconjugação entre estudo e trabalho do que um período de dedicação exclusiva aosestudos. Mais uma evidência, desta vez para jovens de um nível mais elevado deescolarização, de que são raras trajetórias de transição linear escola-trabalho, emespecialquandoanalisamosatransiçãoeducacionaldeentradanoensinosuperior.Paraas mulheres, as chances de somente estudar são sempre maiores do que entre oshomens,assimcomoaschancesdesomentetrabalhartendemasermenores.Entreasmaisjovens(de21a24anos)destacam-seaschancesdenemestudarenemtrabalharcomo um destino bastante frequente entre as jovens oriundas de famílias comescolarizaçãomédiaoufundamental.Somenteentreaquelascomorigememfamíliasdealta escolarização as chances de somente estudar são maiores do que pertencer aqualqueroutradascategorias.Entreasmulheresde25-29anoscomomesmoníveldeescolarização(ensinomédiocompleto),atendênciaàpolarizaçãonopertencimentoàscategoriasdealocaçãodetempodemonstra-se,eosdestinosdesomentetrabalhoenemtrabalhonemestudo tornam-seasmaisprováveis, semvariaçõesmuitopronunciadasdependendodaorigemsocial.

Osresultadossobreaorigemsocialesuarelaçãocomascategoriasdealocaçãodetempodiferemportantoentrehomensemulheres:aschancesdesomentetrabalharentrehomenscrescementrepopulaçõesmaisvelhasemaisescolarizadas,ediminuemquanto mais alta a escolarização da família. A alocação de tempo das mulheres, poroutrolado,respondepoucoàsvariaçõesnaorigemsocial:entrepopulaçõesmaisjovenspredomina o estudo exclusivo, entre populações mais velhas e mais escolarizadas,cresce a tendência ao trabalho e a nem estudo e nem trabalho, de forma quaseindependenteemrelaçãoàorigemsocial.

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Desigualdadesassociadasàexperiênciadanatalidade

Uma dimensão que define de maneira bastante marcante desigualdades nastrajetóriasenospadrõesdealocaçãodetempoentrehomensemulhereséanatalidade– desigualdades que se efetivamnão somente entre homens emulheresmas tambémentre os jovens que tem e os que não tem filhos. O painel 4 apresenta os resultadosobtidosdaschancesdepertencimentoacategoriasdealocaçãodetempodistinguidoosjovensdeacordocomseuhistóricodenatalidade,entreaquelesquetemeosquenãotemfilhos.

Opainel3apresentaosresultadosparaasnossascincopopulaçõesdeinteresse.Assimcomoobservamosnasanálisessobredesigualdadesraciaisedeorigemsocial,apopulação1–amaisjovemdasnossaspopulaçõesdeinteresse–compostapelosjovensde 15-19 anos com fundamental completo apresenta umpadrão geral de distribuiçãodas chances de alocaçãode tempo significativamente diferente das outras populaçõesque analisamos. Somente para esta população a alocação de tempo exclusiva emtrabalho não é a mais frequente. Para esta população mais jovem, os padrões dealocaçãodetempovariammuitodependendoseo(a)jovemtemounãotemaomenosum filho. Se entre os homens, aqueles que não tem filhos tem uma probabilidadebastantealta(maisde40%)desomenteestudar,entreaquelesquejátemaomenosumfilhosaschancesdesomenteestudarsãoquasenulas,muitopróximasde0%.Paraesteshomens,terumfilhoaumentamuitoaschancesdetrabalhareestudar,quepassamaserdemaisde70%.

Entreasmulheres,anatalidadetambémmudabastanteopadrãodealocaçãodetempomas,diferentedoshomens,nãodemaneiratãoconcentradarumoàconjugaçãoentreestudoetrabalho–apredominânciadestacategoriadetempoéobservávelentreaquelas que tem aomenos um filho, ainda assim, com chances bastante próximas dealocaçãodetempoexclusivamenteemestudos.Aquelasquenãotemfilhos,predominamnapopulação1mulheres comdedicação exclusiva aos estudos.Mas seporum lado anatalidade entre as mulheres diminui as chances de somente estudar e aumenta aschancesdeestudaretrabalhar,poroutrotraztambémumaumentosignificativo,entreasmulheresdapopulação1,daschancesdenãotrabalharenemestudar.

Analisandoaspopulaçõesdeinteresse2e3,dejovensumpoucomaisvelhoseelegíveisàtransiçãodeconclusãodoensinomédio,novamente–comoocorreemoutrasdimensõesanalisadas–háumaconcentraçãomaismarcantedechancesdealocaçãodetemponacategoriasomentetrabalha,eissoocorreentrehomenseentremulheres,commaisintensidadeentreosprimeiros,eentreosjovensquetemfilhos.Entreasmulheresacentua-seatendênciaàalocaçãonacategorianemestudonemtrabalhoentreaquelasquetemfilho.Aschancesdepertencimentoaestacategoriatambémacentua-seentreapopulaçãomaisvelha(3)emrelaçãoàpopulaçãomais jovem(2).Oqueosresultadosnos sugerem é que para estas populações demulheres, a natalidade tem um impactobastante significativo nas chances de interrupção (ou não realização) tanto detransiçõeseducacionaisquantodeparticipaçãonomercadodetrabalho.

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Painel 3 – Probabilidades preditas de pertencimento às categorias dealocaçãodetempo,porsexoenatalidade,emcadapopulaçãodeinteresse

Fonte:OIT/Brasil.SurveyTransiçãoEscola-Trabalho.2013.

Por fim, ao considerarmos na análise os jovens elegíveis à entrada no ensinosuperior,queconstituemnossaspopulações(4)e(5)observamosqueentreoshomens,sãoquase inexistentesaschancesdesomenteestudoentreosmais jovens(entre21e24) que tem filhos. Estes se concentram fundamentalmente nas categorias somentetrabalhoetrabalhoeestudo.Paraosmaisvelhos(de25a29anos)osachadosnãosãomuitodistintos:chancessignificativamentemaioresdesomentetrabalharearealizaçãoda transiçãodeentradanoensinosuperioremgeral conjugadacomaparticipaçãonomercado de trabalho. Isto varia pouco dependendo do jovem ter ou não filhos:probabilidade ainda maior de somente trabalhar se tiver ao menos um filho, eprobabilidadeumpoucomaiordeestudaretrabalharsenãotivernenhumfilho.Detodomodo, a esta altura de seu ciclo de vida (entre os 21 e os 29, elegíveis à entrada noensinosuperior),trajetóriasdesomenteestudotemprobabilidadesmuitopequenasdeocorrência,omaisumavezevidenciaqueumaparcelasignificativados jovensnopaísnão tem trajetórias linearesde transiçãoentreescolae trabalho–vide tambémcomosãosignificativasaschancesdeestudaretrabalharaomesmotempo.Tambémparaestapopulação,éumdestinopoucoprovável.Paraasmulheresnapopulaçãomaisjovem(4),aschancesdesomentetrabalharsãosempremaiores,masaindamaiorescasoajovem

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não tenha filhos.Essa tendênciaseacentuaaindamaisseanalisamosapopulação (5),um pouco mais velha. Uma característica muito marcante no padrão de alocação detempodasmulheresnestaspopulaçõessãoaspronunciadaschancesdepertenceremàcategorianão trabalhaenemestudaentreaquelasque tem filhos –muitomaioresdoqueentreasquenãotem,oqueémaisacentuadoaindaentreasjovensemfaixaetáriamaisavançada(25-29anos).

Aanálisesobreoindicadordenatalidadedemonstracomooimpactodeterumfilhosobrepadrõesdealocaçãodetempodehomensemulheresémuitodistinto,bemcomo varia também dependendo da faixa etária e do nível de escolarização. Homenscomfilhostemsignificativamentemaischancesdesomentetrabalharechancesmaioresde conjugar trabalho com estudo. A importância destas categorias tende a crescerinclusiveàmedidaemqueaidadeavança.Entreasmulheresanatalidadesempretemefeitosdeletériossobreastransiçõeseducacionais,aumentandoaschancesdequeelassomente trabalhem ou nem trabalhem nem estudem. A natalidade constitui portanto,entre as dimensões que analisamos aqui, em uma variável muito relevante dediscriminação de trajetórias e possibilidades de transição (no sistema educacional erumoaomercadodetrabalho)entrehomensemulheres.

ConsideraçõesFinais

Todooinvestimentoanalíticoaquiapresentadotevecomofitodocumentarmosuma ideia principal, qual seja, a de que há um enlace entre diferentes transições(laborais, demográficas e educacionais), do qual resultam trajetórias complexas, nãolineares,quemarcamocursodapassagemàvidaadultadosjovensBrasileiros.

Iniciandoobservandoasituaçãodecadaumdosjovensentrevistados,aolongodo tempo, no que respeita a um leque de alternativas com respeito à relação com omercado de trabalho. Eles foram grupados em três grandes classes de idade, quedenominamos adolescentes, jovens e jovens adultos. Como seriade esperar, àmedidaem que a idade transcorre, as situações típicas do engajamento mercantil foramganhandoproeminência; sãoelas,oassalariamento (comousemcontratoescrito)eodesemprego (expressonaprocura ativade trabalho).A inatividade, emcontrapartida,recuava fortemente. Mas, observe-se que ela permanecia (mesmo entre os “jovensadultos”) como uma situação quase tão importante quanto o desemprego, como asugerirquemover-se,paraumaparcelanãodesprezíveldaamostra,emcadamomentodo tempo,pode importar emcircular tantoentre situaçõesao interiordomercadodetrabalho,comodeleretirar-sedemodorecorrente.Assim,ecomofoipossívelencontrarjá desde esteprimeiropassona organizaçãodas informações empíricas, as formasdetransiçãomostravam-se plurais, heterogêneas e precisavam, portanto, ser capturadascommaiorprecisãoeemtodaasuariqueza.

Por isso mesmo, e para melhor tipificar os percursos, empreendemos umaanalise estatística fatorial e de clusters, de modo a encontrar tipos de trajetória eidentificar os perfis de quem os perfazia. Identificamos seis classes de padrões depercurso. Ao longo da apresentação das mesmas, novamente se evidenciou que aprogressão da idade se destacava como a variável capaz de estabelecer as primeirasgrandes diferenças entre as classes. Com efeito, à maior idade correspondia, via deregra,um tempomais recuadode ingressonoprimeiro trabalho, à exceçãodeapenasum dos grupos de jovens adultos. Mas, outras variáveis – como, por exemplo, sexo econdiçãoracial-seassociavamaostiposdetrajetória.Afimdeexplorartaisassociações,procedemosumaanáliseestatísticamaissistemática,demaneiraaassociarpadrõesdepercursoaperfisdejovensqueosperfazem.Mostramos,então,comoopertencimentoàsdiversascategoriasdetrajetóriasestavacondicionado,edeformasdiferentes,auma

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dimensõesquediziamosatributosindividuaisdosjovenstantoquantoasuaposiçãonociclo de vida, a sua inserção laboral e as características de seu domicílio de origem.Todos esses revelaram-se fatores capazes de modelar a distribuição dos jovensBrasileirosde15a29anosentreasdiversasclassesdetrajetórias.

Não por outra razão assumimos nesse texto que as transições laborais nãoacontecememumvácuo,massimparalelamenteaumasériedeoutrastransições.Porisso mesmo, buscamos verificar em seguida como o material empírico reunido napesquisaOIT/TETnospermitiriaassociartransiçõeslaboraisaeventosdemográficoseeducacionais.

No que concerne à dimensão demográfica, é exígua a informação relativa àparentalidade no nosso banco de dados; sabemos apenas a data do nascimento doprimeiro filho. Existe uma gama de estudos que demonstram empiricamente como onascimentodoprimeirofilhoalteraastransiçõesdetrabalho(eeducacionais)dospais.Efetivamente, neste momento do nascimento do primeiro filho, surgem diferençasimportantesporsexonastransiçõesdetrabalhodasmãesepaisjovens(GoldinEKatz2008;Goldin2006).Alémdetruncaremacarreiraeducacional,umagrandeproporçãode mães, principalmente as mais jovens, tendem a sair do mercado de trabalho e aprocurarocupaçõesqueoferecemmaiorflexibilidade, independentedaremuneraçãoedasatisfaçãoobtidas(GoldineKatz2011).Existemtambémdiferençasnorendimentoentreasmãesquesaemdomercadodetrabalhoeretornam,easmulheressemfilhos—aquelas que não saem domercado de trabalho não sofrem de um diferencial salarialquandocomparadasàsmulheressemfilhos.Entretanto,asmãesquesaemdomercadode trabalho quando do nascimento dos filhos para retornarem mais tarde sãopenalizadasquantoaoseurendimento(Waldfogel1999).

Embora outros marcadores de maternidade sejam também importantesdeterminantes das transições laborais dos jovens (e também nos rendimentos desalários),comoporexemplooespaçamentoentreosfilhoseasidadesdetodososfilhos,no questionário da TET dispomos apenas da data de nascimento do primeiro filho (eportanto,suaidade).Estemarcadorobviamentedeterminaaidadeemquemulheresehomenstornam-semãesepais,demarcandoumamudançaimportantenocursodevidados jovens. Dadas a relevância conceitual, utilizaremos desenvolvimentos queapresentaremosnospróximosdocumentosquecompõemesteprojeto,comovariáveisrelevantes: 1. Se teve filho ou não; 2. Entre os que tiveram, idade ao nascimento doprimeiro filho;3.Númerode filhos atualquevivemnodomicílio;4.Númerode filhostotalatual.

Outro marcador demográfico importante no processo de autonomização destatusrefere-seaomomentodeformaçãodeuniãomarital(nupcialidade)econstituiçãode domicílio próprio. Temos limites de informação com respeito a ambas ascaracterísticas.AsvariáveisrelativasanupcialidadeoferecidasnobancodedadosTETsão“idadeemquesecasououpassouamorarjuntocomparceiropelaprimeiravez”e“situação conjugal atual”. A união marital afeta de maneira diferente homens emulheres.Enquantoauniãomaritallevaaumprêmiosalarialelaboralentreoshomens,oresultadoentreasmulhereséooposto(Madalozzo2008).Alémdisso,otipodeuniãomarital também faz diferença nas trajetórias e resultados laborais. Por exemplo, foiidentificado no Brasil um diferencial salarial entre mulheres por tipo de união,favorecendoaquelasemuniõesinformais(Madalozzo2008).

Já no que respeita ao padrão de distribuição observado na alocação de tempoentre estudo e trabalho, tratados na ultima seção deste texto, a nossa análise nospermiteconcluirqueháimportantesaspectosquedesigualamastrajetóriasdosjovensbrasileiros.O achadomais forte em favor deste argumento é a representatividade, nociclodevidados jovensnopaís,daconjugaçãoentreescolaetrabalho. Issoocorreem

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todas as populações que selecionamos para analisar, incluindo a mais jovem delas,compostaporindivíduoscomidadede15a19anoseensinofundamentalcompleto.Oquenossosresultadosdemonstraméque,mesmopara jovensemumafaixaetáriatãobaixa, para os quais esperaríamos um padrão muito concentrado de casosexclusivamente em atividades de estudo, o que temos é uma chance significativa deconjugação entre estudo e trabalho, o que questiona qualquer entendimento linearsobreatransiçãoentrecarreiraeducacionaleparticipaçãonomercadodetrabalho.

Naspopulaçõesemfaixasetáriasedeescolarizaçãomaisavançadas,aschancesde conjugação entre estudo e trabalho só tendem a crescer, e as chances próprias depertencimento a esta categoria de alocação de tempo são desigualmente distribuídasporsexo,origemsocial,raçaenatalidade.Ouseja,oseventoseducacionaisereferentesàparticipaçãonomercadodetrabalhonociclodevidadosjovensBrasileirosnãosónãopodemassumircomoregradereferênciatrajetóriaslineares–nasquaisaconclusãodaescolarizaçãovemantesdaentradanomercadodetrabalho–comoaordenaçãoprópriadessas transições no ciclo de vida dos jovens se efetiva operando a partir demecanismosdeseletividadedeváriasordens,algumasdasquaisbuscamosevidenciaredocumentarnessetrabalho.

Por fim, buscamos evidenciar como tais mecanismos de seletividade (social,racial, etc) se articulam diretamente às faixas etárias – a idade importa muito nadefiniçãodosdestinosdapopulaçãoqueanalisamosemtermosdospadrõesdealocaçãode tempo que lhe são típicos – e às condições de escolarização. Buscamos trazerevidênciassobrecomoalgunsmarcosetárioseeducacionaissãodecisivos,dependendodecaracterísticasplenasemsignificadosocial,naformaqueatransiçãoentreomundoda escola e o mundo do trabalho se efetiva nos ciclos de vida dos jovens. Há umapluralidadeediversidadenotáveis,quemarcamastrajetóriasedestinospossíveis.

Acreditamos que as informações da pesquisa que aqui analisamos nospermitiramressaltarasespecificidadesbrasileirasdosefeitosdomercadodetrabalho,daestruturaçãoedaacessibilidadeaosdiversosníveis educacionais edospadrõesdemudançanacondiçãodomiciliarenoseventosdenaturezademográficasobrepadrõesdetrajetóriasrumoàvidaadulta.

Oobjetivoperseguido foi ode avançarno entendimento sobre a linearidade /sobreposição(atemporalidadeeaordenação)nospadrõesdeocorrênciadetransiçõeseaarticulaçãoquecaracterizaosimportantesmarcosdetransiçãoparaavidaadulta-em especial a participação no mercado de trabalho, a inclusão no sistema escolar, anupcialidadeeam/parentalidade. Vimoscomodelederivampadrõesdetrajetórias(etransições) no ciclo de vida dos jovens e jovens adultos brasileiros que as fazemsocialmente segmentadas de acordo com mecanismos específicos à nossa sociedade.Entendemosqueopresentetexto,comseusachados,podevirtambémacontribuirparaoavançonodebateinternacionalsobreastransiçõesrumoàvidaadultaatravésdeumaóticaqueressaltataisespecificidades.

Referenciasbibliográficas

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