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Tratamento Nutricional do doente com Acidente Vascular Cerebral na sua fase aguda Monografia Autor: Cidália Almeida Orientado por: Dr.ª Sandra Faria Porto, 2007

Tratamento nutricional do doente com aveh

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Page 1: Tratamento nutricional do doente com aveh

Tratamento Nutricional do doente com Acidente

Vascular Cerebral na sua fase aguda

Monografia

Autor: Cidália Almeida

Orientado por: Dr.ª Sandra Faria

Porto, 2007

Page 2: Tratamento nutricional do doente com aveh

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Page 3: Tratamento nutricional do doente com aveh

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Dedicatória

À minha querida avó Alice…

O tema da minha monografia foi escolhido a pensar em si, na ânsia de poder

cuidar melhor da minha pequenina. Infelizmente, o tempo correu mais veloz do

que esperávamos e hoje não a tenho ao meu lado com os miminhos e as palavras

de apoio a que me habituou, mas tenho a certeza que, onde quer que esteja,

continua a olhar para mim…

Um beijo muito especial da neta que a adora e que nunca se esquecerá de si.

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Agradecimentos

À minha família maravilhosa pelo amor, dedicação, apoio e compreensão em

todos os momentos, especialmente pelo ânimo transmitido durante a elaboração

desta monografia.

À Dr.ª Sandra Faria, minha orientadora pela ajuda na escolha e desenvolvimento

do tema.

À Dr.ª Marta pela sua ajuda na pesquisa bibliográfica e resposta pronta às minhas

dúvidas.

Ao meu doce namorado, Bruno Pereira pela sua preciosa ajuda, compreensão e

infinito amor.

A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a concretização deste

trabalho.

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Índice

Dedicatória ........................................................................................................ 3

Agradecimentos ................................................................................................ 4

Lista de Abreviaturas .......................................................................................... 6

Resumo em Português e Inglês ......................................................................... 7

Palavras-Chave em Português e Inglês ............................................................. 8

Introdução .......................................................................................................... 9

Epidemiologia ................................................................................................... 10

Definição, Classificação e Patofisiologia do AVC ............................................. 11

Factores de risco do AVC ................................................................................ 13

Tratamento Nutricional do doente após o AVC ................................................ 16

A. Estado nutricional do doente ................................................................. 16

B. Determinação das necessidades nutricionais do doente ....................... 19

C. A Disfagia .............................................................................................. 22

D. Como e quando alimentar o doente?..................................................... 28

E. Suplementação nutricional .................................................................... 38

Análise Crítica .................................................................................................. 42

Conclusão ........................................................................................................ 44

Referências bibliográficas ................................................................................ 45

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Lista de abreviaturas

AVC – Acidente Vascular Cerebral

MUST – Malnutrition Universal Screening Tool

NRS-2002 – Nutritional Risk Screening

MNA – Mini Nutritional Assessement

cP - centipoise

ADA – American Dietetic Association

SNG – sonda nasogástrica

PEG – percutaneous endoscopic gastrostomy

ESPEN – European Society for Clinical Nutrition and Metabolism

DRI – Dietary Reference Intakes

DPOC – doença pulmonar obstrutiva crónica

IC – Intervalo de Confiança

OR – Odds Ratio

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Resumo

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a primeira causa de morte em Portugal,

sendo responsável por uma elevada morbilidade nos sobreviventes.

O tratamento nutricional do AVC, na sua fase aguda, implica uma avaliação do

estado nutricional e situação clínica do doente. O segundo passo será a

determinação do momento e via de administração adequados à nutrição do

doente. A alimentação por via oral será sempre a mais desejada. Porém, a

disfagia após o AVC é frequente e associa-se a deterioração do estado

nutricional. Nestas situações dever-se-á avaliar a adequação de uma dieta de

textura modificada, ou quando esta é insuficiente ou impossível de praticar, a

administração de alimentação entérica, por sonda. A suplementação nutricional

deverá ser individualmente considerada.

Palavras-chave

Acidente vascular cerebral, desnutrição, dieta textura modificada, disfagia,

gastrostomia endoscópica percutânea, sonda nasogástrica, suplementação

nutricional

Abstract

Stroke is the first cause of death in Portugal and is associated with a great

morbidity.

The nutritional screening and assessment after stroke is helpful to prevent or

minimize malnutrition among survivors. The next step is to establish how and

when to start feeding. Oral feeding is the preferable route. However, swallowing

disorders are common after stroke and may deteriorate nutritional status. In the

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8

dysphagic patient, a texture modified diet may be a solution, but sometimes it is

impossible or nutritionally inadequate and enteral tube feeding is required.

Nutritional supplements should be evaluated according to patient’s nutritional

status.

Key Words:

Dysphagia, malnutrition, nasogastric tube feeding, nutritional supplementation,

percutaneous endoscopic gastrostomy, stroke, texture modified diet

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Introdução

O AVC é a primeira causa de morte em Portugal. Apresenta elevada mortalidade

e morbilidade. Na sua etiologia, a alimentação apresenta um papel de relevo e

são vários os factores alimentares associados a um risco aumentado da

ocorrência da patologia. Deste modo, a generalidade dos trabalhos realizados

sobre este tema aborda a alimentação como factor preventivo do AVC. Contudo,

e apesar da importância da prevenção neste tipo de patologia, o tratamento,

nomeadamente o nutricional, ganha especial relevo dada a elevada prevalência

do AVC, no nosso país.

Este trabalho tem como objectivo analisar as várias metodologias seguidas no

tratamento nutricional do doente após o AVC, na sua fase aguda, de modo a uma

optimização da sua recuperação.

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Epidemiologia

O AVC é a terceira causa de morte, depois das doenças cardiovasculares e

cancro, nos países industrializados. Na Europa, anualmente, a mortalidade ronda

os 63.5 a 273.4/100 000 habitantes. O AVC é a causa mais importante de

morbilidade e incapacidade a longo prazo na Europa. A incidência de AVC entre

os países Europeus é estimada em 100 a 200 novos casos por 100 000

habitantes, anualmente. Em Portugal, o AVC é a primeira causa de morte. (1, 2)

A prevalência de AVC em Portugal foi estimada no concelho de Coimbra em 8%

para indivíduos com mais de 50 anos (sexo masculino: 10.2%, sexo feminino:

6.6%).(1)

Relativamente à incidência, calculada a partir do primeiro evento vascular cerebral

na vida de um indivíduo, foi estimada por estudos populacionais em duas áreas

geográficas no norte de Portugal, entre 1999 e 2000. A incidência (por 100 000

habitantes) nas áreas rurais foi de 202 (IC 95%, 169-234) e nas áreas urbanas foi

de 173 (IC 95%, 153-192), após ajuste para idade e sexo para a população

padrão europeia. (1)

No concelho de Torres Vedras no ano de 2000, a mesma estimativa foi de 217 (IC

95%, 178-257). Em ambos os casos, a taxa de incidência de AVC é superior no

sexo masculino. (1)

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Definição, Classificação e Patofisiologia do AVC

A Organização Mundial de Saúde definiu o AVC como um síndrome clínico

caracterizado pelo rápido desenvolvimento de sintomas e/ou sinais focais e,

algumas vezes, globais (nos pacientes em coma) de disfunção neurológica, com

uma duração dos sintomas superior a 24h podendo resultar na morte, sem outra

causa aparente que não a origem vascular. (1, 3)

Existem 2 tipos principais de AVC: isquémico e hemorrágico, sendo o primeiro

responsável por cerca de 75-80% dos casos, embora a taxa de mortalidade seja

superior no segundo. (1-4)

O AVC isquémico geralmente resulta da oclusão de uma artéria cerebral ou,

menos frequente, da redução da perfusão distal a uma estenose severa. O AVC

isquémico pode ser causado por trombose ou embolia cerebral. A trombose

cerebral, deve-se na maioria dos casos, a um processo aterosclerótico nas

grandes artérias cerebrais (carótida, cerebral média, basilar). Este inicia-se com a

agressão endotelial e inflamação, levando à formação de uma placa. Esta torna-

se mais espessa e fibrosa, com perda de células musculares, podendo obstruir

parcial ou totalmente o lúmen arterial. As plaquetas aderem a esta placa,

libertando factores que iniciam a cascata de coagulação, promovendo a formação

de um coágulo ou um trombo que ocluem um vaso cerebral, impedindo o fluxo

sanguíneo. A embolia cerebral, resulta, geralmente da fragmentação de um

coágulo (êmbolo), proveniente de vasos ateroscleróticos, ou de um êmbolo de

origem cardíaca que se desloca na corrente sanguínea e se aloja num vaso

cerebral. O enfarte lacunar é responsável por cerca de 20% do total de AVC’s e

Page 12: Tratamento nutricional do doente com aveh

12

deve-se à oclusão, por um coágulo de pequenas artérias perfurantes. A pressão

arterial elevada é o principal factor de risco. (3, 5, 6)

Com a diminuição da irrigação cerebral e consequente diminuição do aporte de

oxigénio e nutrientes essenciais, a função neuronal altera-se. Numa primeira fase,

a diminuição do fluxo sanguíneo para cerca de 20ml de sangue/100g

cérebro/minuto provoca a perda da função eléctrica neuronal. Esta fase pode ser

reversível (penumbra isquémica). Os danos irreversíveis ocorrem quando o fluxo

sanguíneo diminui para valores inferiores a 10ml/100g cérebro/minuto. Abaixo

deste nível, o metabolismo mitocondrial aeróbio não é viável e é substituído pelo

metabolismo anaeróbio que rapidamente conduz a acidose metabólica.

Consequentemente, a homeostase iónica é alterada, resultando na saída de

potássio e entrada de sódio e água para a célula, provocando edema citotóxico. O

cálcio também entra para a célula exacerbando a falha mitocondrial. A perda da

homeostase iónica celular conduz à morte neuronal. (5-7)

O AVC hemorrágico ocorre pela ruptura de um vaso cerebral. Pode ser

classificado como hemorragia intracerebral ou subaracnóide. Na primeira, a

hemorragia ocorre no parênquima cerebral e na segunda, no espaço meníngeo

envolvente. Na hemorragia intracerebral para além do tecido cerebral afectado

pela hemorragia, a área circundante pode ser danificada pela pressão produzida

pelo hematoma, possibilitando um aumento generalizado da pressão

intracraniana. Este tipo de hemorragia não traumática resulta, normalmente de

hipertensão arterial. A hemorragia cerebral traumática pode dever-se a um fluxo

sanguíneo excessivo, ruptura de um aneurisma ou malformação arteriovenosa. A

hemorragia subaracnóide geralmente ocorre após a ruptura de um aneurisma no

Círculo de Willis. (3, 5, 6)

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Factores de risco do AVC

Os factores de risco do AVC são numerosos. Relativamente aos factores de risco

modificáveis bem documentados destacam-se: hipertensão arterial, tabagismo,

Diabetes Mellitus, dislipidémia, fibrilhação auricular, estenose carotídea, acidente

isquémico transitório ou AVC prévio, doença das células falciformes, álcool,

obesidade e distribuição abdominal da gordura corporal, sedentarismo, terapia

hormonal de substituição, nutrição e dieta(1).

Abordarei neste trabalho apenas os factores de risco relacionados com a nutrição

e dieta. Estes podem influenciar o risco de AVC, pela sua relação com alguns

factores de risco vascular importantes como a hipertensão arterial, diabetes e

dislipidémia(1).

No que se refere ao consumo alimentar, a ingestão de frutas e vegetais pode

diminuir o risco de AVC em cerca de 11% por cada porção diária adicional de

frutas na dieta (RR 0.89; IC 95%, 0.85-0.93), 5% por cada porção diária de fruta e

vegetais (RR 0.95; IC 95%, 0.92-0.97) e 3% por cada porção de vegetais (RR

0.97; IC, 0.92-1.02)(1).

Outros alimentos demonstraram benefícios na prevenção do AVC,

nomeadamente os cereais integrais e fibras ou o peixe, quando consumido

semanalmente (RR 0.66; IC 95%, 0.51-0.87)(1, 8).

A ingestão de chocolate e chá preto ou verde (igual ou superior a 150g chá/mês),

pela sua riqueza em flavonóides apresenta um efeito protector (OR 0.56; IC 95%,

0.36-0.89)(1).

Relativamente ao consumo de bebidas alcoólicas, a maioria dos estudos aponta

um efeito protector para um consumo moderado (<12g/dia), o qual demonstrou

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14

uma redução do risco de AVC isquémico (RR 0.8; IC 95%, 0.67-0.96)(1). No

“Cardiovascular Health Study”, os investigadores concluíram que um consumo

entre 1 a 6 bebidas por semana está associado a uma redução de 20% do risco

de AVC isquémico. Pelo contrário, uma ingestão superior a 6 bebidas por semana

associa-se a um risco aumentado de AVC(9). Num outro estudo, “The Northern

Manhattan Study”, um consumo moderado (maior ou igual a 1 bebida/mês e

menor ou igual a 2 bebidas/dia) pode atingir uma protecção de 50% sobre o risco

de AVC isquémico, comparativamente a indivíduos que não ingeriram bebidas

alcoólicas no último ano (0.67; 95% IC, 0.46-0.99)(10, 11). Contudo, nenhum estudo

mostrou qualquer benefício em recomendar a ingestão de álcool para não

bebedores. Embora os estudos demonstrem uma relação entre o consumo de

álcool e AVC, não se pode afirmar que existe causalidade entre ambos(11).

Relativamente à ingestão de minerais, o consumo de dietas pobres em sódio e

ricas em potássio, magnésio ou cálcio, proveniente de produtos lácteos com baixo

teor lipídico, tem um efeito protector para o AVC. Este efeito deve-se ao facto

destes minerais afectarem favoravelmente alguns dos factores de risco do AVC,

nomeadamente, a pressão arterial, insulinoresistência, agregação plaquetária e o

processo aterosclerótico(1, 12). No primeiro estudo realizado sobre a relação entre

o consumo de produtos lácteos e o AVC, Abbott et al observaram que indivíduos

do sexo masculino, com idades compreendidas entre 55 e 68 anos que não

bebiam leite, no início do estudo, apresentavam um risco de AVC tromboembólico

duas vezes superior, comparativamente àqueles que consumiam duas ou mais

porções de 240ml de leite, diariamente(12). Num outro estudo, Iso et al verificaram

que a ingestão de cálcio, potássio e magnésio, 3 minerais abundantes no leite, se

associava à diminuição do risco relativo do AVC isquémico, mas não com outros

Page 15: Tratamento nutricional do doente com aveh

15

tipos de AVC. O aumento do risco limitou-se ao grupo com uma ingestão de cálcio

inferior a 600mg/dia(12). No “JACC Study”, a ingestão de cálcio, proveniente do

leite, iogurte e queijo, estava associada com a redução do risco de mortalidade

por AVC, hemorrágico e isquémico, entre homens e mulheres japonesas(13).

A ingestão diminuída de ácidos gordos saturados, trans (hidrogenadas naturais e

industriais) e colesterol, bem como um consumo privilegiado de ácidos gordos

polinsaturados, não hidrogenados e ácidos gordos n-3 exercem um efeito

protector sobre o AVC(1). Paradoxalmente, Iso et al, na coorte “Nurses and Health

Study”, encontraram uma associação inversa entre a ingestão de proteína animal

e o risco de hemorragia intraparenquimal (RR 0.32, IC 95%, 0.10-1.00; P=0.04).

Verificaram ainda que um baixo consumo de gordura saturada se associava a um

risco aumentado de AVC hemorrágico, especialmente em mulheres hipertensas, o

que poderia explicar o elevado risco de AVC hemorrágico, em populações com

baixa ingestão de proteína e gordura animal, como acontece na população

Asiática(12).

O papel do colesterol como factor causal do AVC permanece incerto(14). Embora

seja considerado como um factor de risco para a doença cardiovascular, não o é

para o AVC. A maioria dos estudos não encontra evidências para o considerar

como factor de risco ou as associações são fracas(15). No “Eurostroke Study” o

colesterol total não estava associado com um aumento do risco de qualquer tipo

de AVC (OR 0.98; IC 95%, 0.88-1.09). Relativamente ao colesterol HDL

verificaram-se associações diferentes entre homens e mulheres: no homem

parece existir uma tendência para a redução do risco de AVC com o aumento do

colesterol HDL (OR 0.68; IC 95%, 0.40-1.16) e na mulher associa-se a um

Page 16: Tratamento nutricional do doente com aveh

16

aumento do risco de AVC não fatal (OR 2.46; IC 95%, 1.20-5.04) em fumadoras e

não fumadoras(16).

Tratamento Nutricional do doente após o AVC

A. Estado nutricional do doente

A desnutrição é comum em doentes após AVC e, geralmente, agrava-se durante

a hospitalização. Apresenta uma prevalência de 16% no momento da admissão

hospitalar que aumenta para 22% a 35% em cerca de 2 semanas e 50% em 2 a 3

meses(17). Embora a prevalência de desnutrição seja variável nos inúmeros

estudos realizados (diferenças na selecção de doentes, definição de desnutrição,

método e momento de avaliação), está independentemente associada a um

aumento da mortalidade após 6 meses(18, 19). Relaciona-se igualmente com uma

menor recuperação funcional, maiores períodos de hospitalização e aumento de

complicações(17, 20-22). O hipercatabolismo e elevado consumo visceral, como

resposta ao stress nestes doentes, podem ser responsáveis pela desnutrição,

reduzem a imunidade celular, contribuindo para um pior prognóstico, após o AVC

severo(23, 24).

A avaliação do estado nutricional nestes doentes nem sempre é fácil. A história

alimentar e peso corporal habitual podem não estar disponíveis se o doente tem

problemas de comunicação. Outras fontes de informação podem ser escassas, no

caso do doente viver sozinho. A avaliação do peso e altura poderá ser impossível

se o doente estiver imobilizado. Equipamento especial para avaliação destes

parâmetros não existe em muitas unidades. Medidas antropométricas mais

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17

complexas como o perímetro do braço ou pregas tricipitais necessitam de

lipocalibrador e profissionais treinados neste tipo de medição. Estas medidas

antropométricas podem também ser alteradas devido à paralisia do braço após o

AVC. Parâmetros laboratoriais como a hemoglobina, proteínas plasmáticas,

albumina e transferrina estão facilmente disponíveis. Contudo, os seus resultados

devem ser interpretados com precaução, uma vez que níveis diminuídos podem

ocorrer em várias condições (hipercatabolismo, por exemplo) e não ser,

necessariamente, sinónimos de mau estado nutricional. Medidas mais específicas

como estimativas de vitaminas, impedância bioeléctrica são utilizadas na

investigação, mas não na prática clínica diária. Segundo as recomendações da

“European Society for Clinical Nutrition and Metabolism” (ESPEN), a avaliação do

risco nutricional deve ser realizada no momento da admissão hospitalar (até 48h

após) e deve incluir medição do peso e altura para o cálculo do IMC(21, 25-27). Nos

casos em que esta medição é impossível, indicam a medição do perímetro do

braço, relacionando-a em percentis com a população específica, idade e sexo.

Recomendam ainda a avaliação da perda recente de peso involuntária (superior a

5% em 3 meses é geralmente aceite como significativa) e potencial agravamento

do estado nutricional, pela perda de apetite ou redução da ingestão alimentar, ou

por outras situações relacionadas com a patologia do doente, como a disfagia.

Embora nenhuma ferramenta específica tenha sido desenvolvida para avaliar o

risco nutricional do doente após o AVC, a ESPEN refere a utilização do MUST e

NRS-2002 para adultos hospitalizados e do MNA, mais adequado para doentes

idosos. Para uma avaliação mais detalhada do estado nutricional recomenda

cruzamento dos dados anteriores com parâmetros laboratoriais, informação

Page 18: Tratamento nutricional do doente com aveh

18

clínica e ingestão alimentar do doente. O estado nutricional do doente deverá ser

monitorizado com a regularidade adequada(27).

Dennis et al analisaram os dados dos participantes do “FOOD (Feed Or Ordinary

Diet) Trial” e verificaram que dos 3012 doentes, 9% estavam desnutridos e 16%

apresentavam sobrepeso. Os doentes desnutridos, em geral, eram mais velhos e

viviam sozinhos. Os autores verificaram que os doentes desnutridos

apresentavam maior incidência de pneumonia, outras infecções e hemorragia

gastrointestinal. Os doentes com estado nutricional normal desenvolveram menos

úlceras de pressão, comparativamente àqueles desnutridos ou com sobrepeso.

Os doentes desnutridos apresentavam um maior risco de morte,

significativamente estatístico, relativamente aos doentes com estado nutricional

normal – OR de 2.32 (95% IC, 1.78-3.02). Após ajuste para a idade, função

anterior ao AVC, condições de vida e severidade da doença (incluindo capacidade

de deglutição), a relação enfraquece, mas mantém-se significativa (P=0.0001) –

OR de 1.82 (95% IC, 1.34-2.47). Os doentes desnutridos apresentavam maior

risco de morte ou dependência, comparativamente àqueles com estado nutricional

normal (OR=2.08; 95% IC, 1.50-2.88). Os doentes obesos não são

significativamente diferentes dos doentes com peso normal, apresentando um OR

de 0.91 (95% IC, 0.71-1.17), após ajuste para outras variáveis. Concluíram, deste

modo, que o estado nutricional no momento da admissão está

independentemente associado com o prognóstico clínico(19).

Page 19: Tratamento nutricional do doente com aveh

19

B. Determinação das necessidades nutricionais do doente

As necessidades energéticas totais do doente deveriam, idealmente ser

calculadas em função das necessidades energéticas basais, determinadas pela

calorimetria indirecta(28). Contudo, este método não se encontra facilmente

disponível na prática clínica e por isso, a utilização de fórmulas, como a equação

de Harris Benedict, permite estimar as necessidades energéticas basais dos

doentes. Este cálculo é influenciado por vários factores como o peso, sexo, altura

e idade. Contudo, Allan et al questionam a utilização desta equação em doentes

severamente doentes ou desnutridos, uma vez que o seu cálculo foi realizado

numa população saudável e recomendam, por esta razão a utilização de métodos

directos para avaliação do gasto energético basal(29). Para ultrapassar esta

situação e dado que a situação clínica do doente pode aumentar as suas

necessidades energéticas, esta deverá ser considerada na avaliação,

adicionando-se à equação de Harris Benedict o factor clínico adequado(30, 31).

Porém, Finestone et al avaliaram o metabolismo basal de doentes, durante 3

meses após o AVC e verificaram que estes não apresentavam hipercatabolismo,

qualquer que fosse o tipo de AVC. Observaram contudo, que a equação de Harris

Benedict pode subestimar em cerca de 10% o metabolismo basal, pelo que

recomendam a calorimetria indirecta como método de eleição(28).

Em geral, as recomendações indicam que um aporte energético de 25 a 35 Kcal

por quilograma de peso e por dia é adequado para os doentes, excepto em

situações de sobrepeso ou obesidade em que poderá ser ligeiramente inferior.

Relativamente às necessidades proteicas é recomendada uma ingestão de 0.8 a

1.5 g de proteínas por quilograma de peso corporal e por dia (0.13 a 0.24 g de

Page 20: Tratamento nutricional do doente com aveh

20

azoto por quilograma de peso e por dia)(32, 33). Para doentes normoponderais a

ingestão de 1 g de proteína por quilograma de peso é adequada. A ingestão

superior (1.5g) é recomendada em casos de stress metabólico ou

hipercatabolismo(32-34).

A energia não proteica deve ser fornecida sob a forma de hidratos de carbono,

num total de 50 a 55% do valor energético total diário.

Os lípidos deverão contribuir com cerca de 25 a 35% para o valor energético total

diário.

Relativamente à ingestão de vitaminas e minerais devem ser satisfeitas 100% das

“Dietary Reference Intakes" (DRI), calculadas para indivíduos saudáveis e

avaliadas situações específicas de carência. No caso da alimentação entérica, as

fórmulas utilizadas apresentam, geralmente, uma quantidade suficiente destes

nutrientes, desde que o aporte energético do doente seja adequado. No entanto,

é importante avaliar défices nutricionais existentes, necessidades acrescidas ou

perdas aumentadas induzidas pela doença.

A água é essencial para a manutenção de um balanço hídrico adequado e devem

ser fornecidos diariamente, 30 a 50 ml por quilograma de peso corporal. As

necessidades de fluidos devem avaliar factores como a idade do doente,

patologia e terapêutica médica. As necessidades aumentam em consequência de

febre, diarreia, vómitos, transpiração excessiva, drenagem fistular e durante a

administração de fórmulas hiperosmolares(35).

No caso de doentes severamente doentes e com necessidade de suporte

nutricional, este deve ser iniciado com apenas 50% das necessidades energéticas

e proteicas estimadas. Este fornecimento deverá aumentar gradualmente nas 24h

a 48h seguintes, dependendo da tolerância metabólica e gastrointestinal do

Page 21: Tratamento nutricional do doente com aveh

21

doente. Especial atenção deverá ser dada à adequada ingestão de fluidos bem

como ao aporte vitamínico e mineral, nestes doentes(32, 33).

C. A Disfagia

A disfagia é definida como qualquer dificuldade na deglutição e está presente em

cerca de metade dos doentes após o AVC(18). Ocorre quando existe disfunção

neuromuscular, resultando em fraqueza, paralisia e/ou perda sensitiva nos

músculos associados à deglutição. Esta normalmente apresenta 4 fases:

preparatória oral, oral, faríngea e esofágica. A primeira fase consiste na

mastigação dos alimentos e formação do bolo. Na fase oral, o bolo movimenta-se

em direcção à faringe. Na terceira fase, o bolo na faringe estimula a deglutição e

passa para o esófago. As cordas vocais, laringe e epiglote coordenam-se para

prevenir a aspiração para a traqueia. Na última fase ocorrem movimentos

peristálticos que levam o bolo alimentar através do esófago até ao estômago(35,

36). O AVC geralmente afecta as 3 primeiras fases, interrompendo o controlo

voluntário da mastigação e do movimento dos alimentos na boca ou atrasando o

reflexo faríngeo(35, 37).

Durante a reabilitação, após o AVC, a disfagia diminui de 47% à 2.ª – 3.ª semanas

para 17% aos 2 – 4 meses(35). Os estudos demonstram que a severidade do AVC

e a predominância de lesões no córtex esquerdo prolongam a disfagia(38).

A disfagia tem sido associada com a perda de peso e desnutrição, desidratação,

aspiração e pneumonia(32, 34). Hillel et al recomendam a nutrição entérica (por

sonda) em doentes impossibilitados de ingerir alimentos ou fluidos oralmente ou

em situações em que essa ingestão é insuficiente ou ainda, se o risco de

Page 22: Tratamento nutricional do doente com aveh

22

aspiração é elevado. Nestas situações, a nutrição entérica dever-se-á manter até

à normalização da deglutição ou uma ingestão oral adequada(35, 39).

O plano alimentar em doentes disfágicos deve ser altamente individualizado. As

refeições devem ser pequenas, mas frequentes, em horário regular e ambiente

tranquilo. As características deste tipo de dietas incluem modificação da textura

dos alimentos e viscosidade dos fluidos(34, 35, 40, 41). Os alimentos podem ser

cortados, picados ou com textura de puré e os líquidos poderão ser espessados.

Existem várias classificações para as dietas utilizadas em situações de disfagia. A

“British Dietetic Association” e o “Royal College of Speech and Language

Therapists” desenvolveram recomendações para este tipo de dietas dividindo-as

em 5 categorias que progridem do menor para o maior grau de dificuldade de

deglutição: categoria A – consistência tipo creme de leite fino, categoria B –

consistência tipo creme de leite espesso, categoria C – consistência de mousse,

categoria D – húmido e requer alguma mastigação, categoria E – mole, alimentos

húmidos(42). Outro exemplo é a classificação adoptada pela “American Dietetic

Association” (ADA). Esta divide os alimentos sólidos e líquidos, em 3 e 4 níveis,

respectivamente com a particularidade de ultrapassar a subjectividade das

classificações usuais para alimentos líquidos, pois apresenta os limites de

viscosidade para cada categoria (medidos pelo viscosímetro). No que se refere

aos alimentos sólidos, o nível 1 (puré) inclui alimentos homogéneos, muito

coesos, semelhantes à consistência de pudim e requerem muito pouca

capacidade de mastigação. O nível 2 (alimentos alterados mecanicamente)

engloba alimentos semi-sólidos, coesos, húmidos e que requerem alguma

mastigação. O nível 3 (avançado) inclui alimentos moles que necessitam de maior

capacidade de mastigação). Ultrapassada esta fase, o doente inicia uma dieta

Page 23: Tratamento nutricional do doente com aveh

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hospitalar normal, em que todos os alimentos são permitidos, desde que

adequados à sua situação clínica(43). As dietas para doente disfágicos devem

excluir alimentos crocantes ou com grumos, como tostas, sementes, cereais,

bolos ou amêndoas, uma vez que se despedaçam facilmente na cavidade oral,

dificultando a deglutição(44). Contrariamente, os alimentos frios poderão ser

melhor tolerados pelo doente com disfagia(34). Relativamente à classificação dos

líquidos, no nível 1 encontram-se os líquidos finos (1-50 cP), nível 2 –

semelhantes a néctar (51-350 cP), nível 3 – semelhantes a mel (351-1750 cP) e

nível 4 – mais espessados (>1750 cP). Sintomas como o atraso da propulsão

posterior superior a 1 segundo, deglutição fraccionada, engasgamento, tosse

imediata, voz humidificada, pigarro ou tosse tardia, após a ingestão de líquidos ou

sólidos são indicativos de disfagia(56).

Particular atenção deve ser dada à adequação nutricional das dietas com textura

modificada, particularmente, na forma de puré. Brynes et al demonstraram que

doentes com uma dieta de textura modificada satisfaziam apenas, 45% das suas

necessidades energéticas(42). Resultados semelhantes foram encontrados por

Wright et al verificando que os doentes com dietas de textura modificada

satisfaziam apenas 40% das suas necessidades energéticas. Relativamente à

ingestão proteica, neste estudo 93% dos doentes com dietas de textura

modificada não satisfaziam as suas necessidades em comparação com 40% dos

doentes com dietas hospitalares normais. Os autores apontam algumas razões

para estas diferenças: elevada incidência de dificuldades na alimentação deste

grupo de doentes, menos alternativas alimentares, menor palatabilidade dos

alimentos, pior aparência e o menor valor energético destas dietas devido à maior

diluição para atingir a consistência correcta(32, 42, 45). Por outro lado, embora os

Page 24: Tratamento nutricional do doente com aveh

24

autores não tenham avaliado a ingestão vitamínica e mineral referem que se não

são alcançadas as necessidades energéticas e proteicas, também é provável que

não sejam satisfeitas as suas necessidades vitamínicas e minerais. Algumas

directrizes internacionais recomendam a suplementação deste tipo de dietas, para

que as necessidades nutricionais do doente sejam satisfeitas.

Destaca-se assim, a importância da comunicação entre a equipa multidisciplinar

acerca da evolução da capacidade de deglutição do doente, para a progressão da

textura da dieta, logo que possível(32, 35).

Germain et al melhoraram as dietas para doentes disfágicos, incluindo nas

mesmas purés de frutas, vegetais e sobremesas, inovaram a sua apresentação e

avaliaram os seus efeitos no estado nutricional dos doentes, comparativamente a

uma dieta para disfagias tradicional. Verificaram um aumento significativo da

ingestão energética e de alguns nutrientes (proteínas, lípidos, vitaminas e

minerais), no grupo de intervenção. O peso também aumentou significativamente

neste grupo. Os autores concluíram, deste modo, que é possível alimentar

oralmente doentes disfágicos, satisfazendo as suas necessidades nutricionais.

Para isso é fundamental encontrar soluções dietéticas nutritivas, variadas e

apelativas(32, 34, 45). Por outro lado, medidas simples como a substituição do garfo

pela colher para alimentos de consistência sólida ou o aumento da superfície das

pegas dos cabos dos talheres, podem facilitar a capacidade de alimentação do

doente(44).

Relativamente à ingestão de fluidos, os doentes após o AVC apresentam um

elevado risco de desidratação, muitas vezes subvalorizado, particularmente

naqueles alimentados apenas por via oral. A consistência mais difícil de tolerar

oralmente é a de fluidos semelhantes à água, pelo que a administração

Page 25: Tratamento nutricional do doente com aveh

25

parentérica (intravenosa ou subcutânea) ou entérica de fluidos, deve ser

considerada(39, 40). A ingestão de fluidos, por via oral, em doentes disfágicos deve

contemplar, como referido anteriormente, a adição de substâncias espessantes

ou líquidos pré-espessados, uma vez que a sua utilização diminui o tempo do

trânsito orofaringeo, criando um bolo mais coeso e fácil de controlar. Líquidos

mais viscosos podem promover uma deglutição mais segura, minimizando a

possibilidade de aspiração(46). Contudo, a utilização de espessantes (constituídos

por amido) aumenta a ingestão glucídica da dieta, devendo por isso ser

considerada na elaboração do plano alimentar, sobretudo em doentes diabéticos

ou que apresentam hiperglicemia após o AVC. Alguns autores referem a

possibilidade de erro na utilização de fluidos espessados no hospital, dada a sua

subjectividade e diferentes definições do mesmo tipo de consistência.

Recomendam por isso a utilização de líquidos pré-espessados, de viscosidade

controlada que, embora mais dispendiosos, apresentam vantagens no tratamento

continuado neste tipo de doentes, nomeadamente pela sua maior aceitação,

aumentando a ingestão de líquidos dos doentes, em 100%, em alguns estudos(46-

48). Uma outra forma de ultrapassar esta limitação é a referida pela ADA que

categoriza os alimentos líquidos de acordo com a sua viscosidade medida pelo

viscosímetro, procedimento nem sempre prático em ambiente hospitalar(46, 47).

Macqueen et al investigaram os diferentes tipos de espessantes existentes no

mercado Inglês e avaliaram a sua aceitação pelos doentes, uma vez que podem

alterar a palatabilidade de alguns alimentos. Sugerem o mesmo tipo de estudo

noutros países para estimular a ingestão de líquidos nestes doentes(53)(54).

Vários estudos salientam a importância da formação das equipas de enfermagem

e auxiliares da acção médica ou outros intervenientes na alimentação destes

Page 26: Tratamento nutricional do doente com aveh

26

doentes, na área da Nutrição, especificamente da disfagia. Igualmente necessário

é a supervisão dos doentes durante as refeições. Os estudos demonstram que

quanto maior a formação de todos os profissionais e a supervisão dos doentes,

maior o respeito pelas recomendações nutricionais, contribuindo em última

análise para um melhor estado nutricional destes doentes(46).

D. Como e quando alimentar o doente?

A alimentação oral apesar de ser o método mais natural e desejável é dificultada

pela incapacidade do doente em auto alimentar-se, mastigar ou pela disfagia, que

ocorrem frequentemente. Nesta situação, o doente geralmente apresenta pouco

apetite e, em alguns casos, hábitos alimentares inadequados que se relacionam

com a desnutrição, emagrecimento e perda de força. As dietas com textura

modificada e os líquidos com consistência alterada são frequentemente

fornecidos ao doente com este tipo de problemas, mas podem constituir

alternativas pouco atractivas e contribuir para o mau estado nutricional do

doente(32). O suporte nutricional, por sonda, permite uma nutrição adequada e não

é afectada pela redução do apetite, disfagia ou incapacidade do doente em auto

alimentar-se. A alimentação através da sonda melhora a recuperação física e

pode reduzir a incidência de problemas associados à disfagia, como a

aspiração(17). Por outro lado, coloca outras potenciais complicações como

problemas gastrointestinais (diarreia, náuseas, vómitos), irritações mecânicas

relacionadas com a inserção da sonda, problemas respiratórios (aspiração),

problemas metabólicos (alterações electrolíticas e hiperglicemia)(23). No caso dos

doentes com AVC, os estudos focam-se quase inteiramente na utilização de

Page 27: Tratamento nutricional do doente com aveh

27

sonda nasogástrica (SNG) e gastrostomia endoscópica percutânea (PEG), como

vias de alimentação entérica. Nestes casos, poder-se-á recorrer aos preparados

comerciais líquidos existentes no mercado ou à dieta líquida hospitalar. Esta

última, embora ainda utilizada na prática clínica não é referida nos estudos

apresentados. A nutrição parentérica (em bolsas nutritivas comerciais ou

preparadas em farmácia hospitalar) só deve ser utilizada em doentes que não

toleram a terapia nutricional por via oral ou entérica, o que no geral, não acontece

com estes doentes. (49, 50).

James et al avaliaram a utilização de suporte nutricional na reabilitação de

doentes após o AVC. Relativamente ao estado nutricional (avaliação dos níveis

de albumina ou pré-albumina no momento da admissão até à alta) observaram

uma melhora significativa do estado nutricional, nos doentes que receberam

suporte nutricional. Este estava também associado a uma maior recuperação

motora e cognitiva em doentes com AVC severo, mas não com AVC moderado(17).

Oh et al avaliaram as diferenças de alguns electrólitos (sódio, potássio) e glicose

plasmática, em doentes antes e após alimentação entérica por sonda. Não

encontraram diferenças significativas no sódio e potássio plasmáticos, 3 dias após

colocação de sonda (utilização do fórmulas isosmolares). A glicose plasmática

permanece elevada antes e após alimentação por sonda. A hiperglicemia pode

ser induzida nas fases agudas de enfarte cerebral, agravando a isquemia cerebral

e está associada a um pior prognóstico (maior risco de morte e pior recuperação

funcional)(51-54). Hidalgo et al verificaram a presença de hiperglicemia em 34.5%

dos doentes em estudo, alimentados entericamente por sonda e verificaram que

esta incidência não se relacionava com o tipo de fórmula utilizada(23).

Page 28: Tratamento nutricional do doente com aveh

28

Neste ponto surge a dúvida sobre quando iniciar a alimentação entérica por sonda

e qual a melhor via de administração. O “FOOD Trial” é o maior e mais recente

estudo realizado nesta área, com a participação de 18 países e 123 centros de

investigação. Engloba 3 ensaios controlados e randomizados. O segundo e

terceiro ensaios tentaram responder a estas duas questões. No segundo ensaio

os doentes foram separados em dois grupos. Um deles recebeu alimentação por

sonda precoce (até 7 dias após o AVC), o outro grupo recebeu apenas fluidos por

via parentérica (intravenosa ou subcutânea) e nenhum tipo de nutrição, pelo

menos, durante 7 dias. Relativamente à alimentação precoce versus tardia por

sonda, não se observaram diferenças estatisticamente significativas no

prognóstico dos doentes em ambos os grupos, embora o primeiro grupo

demonstrasse uma diminuição do risco absoluto de morte 5.8% (95% IC: -0.8 a

12.5, p=0.09). Contudo, quando os autores analisaram a morte ou má

recuperação funcional, a redução do risco absoluto para o grupo da alimentação

precoce por sonda é apenas de 1,2% (95% IC: -4.2 a 6.6, p=0.7) (18, 55).

Relativamente à via de administração da nutrição, no “FOOD Trial” os

investigadores não encontraram qualquer benefício para a sobrevivência dos

doentes, na utilização da PEG. Nos doentes deste grupo verificaram uma taxa de

mortalidade de 49%, sendo que no grupo alimentado via SNG, a taxa de

mortalidade foi de 48%. Para além destes resultados, os autores concluíram que

os grupos com alimentação precoce por sonda e via SNG não estavam

associadas com um risco aumentado de pneumonia por aspiração, embora

ambas se associassem com um risco 2-3 vezes superior de hemorragia

gastrointestinal. (55) Os autores concluíram que, a menos que exista uma forte

indicação para atrasar a instituição da alimentação entérica por sonda, o doente

Page 29: Tratamento nutricional do doente com aveh

29

após o AVC deve recebê-la por SNG nos primeiros dias de admissão. Referem

ainda que durante as primeiras 2-3 semanas, a alimentação entérica por SNG

deverá ser a via preferida, excepto se exista uma forte razão para escolher a

alimentação através da PEG (intolerância à SNG, por exemplo) (18).

Mamun et al compararam a incidência de pneumonia de aspiração e morte em

doentes disfágicos alimentados oralmente (dieta de textura modificada) ou por

SNG. A incidência de pneumonia de aspiração e morte no primeiro grupo foi mais

baixa comparativamente ao grupo alimentado por SNG (10.3% vs 31.2%)(56).

Num outro estudo prospectivo randomizado, Hamidon et al compararam o estado

nutricional em doentes alimentados com SNG e PEG. Verificaram que a albumina

plasmática (indicador do estado nutricional) era significativamente mais elevada

no grupo alimentado via PEG e significativamente menor no grupo alimentado por

SNG, 4 semanas após a intervenção(37).

Norton et al realizaram um estudo prospectivo randomizado comparando a

nutrição por PEG e SNG, em doentes disfágicos, após o AVC. Verificaram que a

mortalidade às 6 semanas era significativamente menor no grupo alimentado via

PEG, com 2 mortes (12%) comparativamente a 8 mortes (57%) observadas no

grupo alimentado via SNG (P<0.05). Para explicar estes resultados, os autores

propuseram que os doentes com a PEG provavelmente receberam a quantidade

total da nutrição prescrita e evidenciaram uma maior recuperação,

estatisticamente significativa, do estado nutricional, bem como uma redução do

tempo de internamento às 6 semanas. Relativamente ao estado nutricional, os

doentes no grupo PEG mostraram um aumento médio de 3g/L na albumina

plasmática, comparativamente ao grupo com SNG com uma redução média de

aproximadamente 10g/L. Por outro lado, os doentes alimentados por SNG

Page 30: Tratamento nutricional do doente com aveh

30

apresentaram um risco elevado de aspiração pulmonar. Os autores concluíram

que a alimentação por PEG é mais adequada para doentes disfágicos após o

AVC(57). Dwolatzky et al obtiveram resultados similares, observando uma

sobrevivência significativamente maior em doentes com PEG, comparativamente

a SNG, sendo a primeira, o método sugerido pelos autores para a alimentação de

doentes idosos disfágicos a longo prazo(37).

Em sentido contrário Abuksis et al demonstraram que a utilização de SNG até 30

dias após o AVC e colocação de PEG, apenas após este período pode prevenir a

mortalidade e alcançar o principal objectivo de uma alimentação por PEG: nutrir o

doente, a longo termo(58).

Bath et al fizeram uma revisão dos artigos publicados até Março de 1999,

comparando a PEG e SNG. Concluíram que a alimentação por PEG apresenta

uma redução da fatalidade (Peto OR, 0.28; 95% IC, 0.09-0.89), menos falhas no

tratamento (OR, 0.10; 95% IC, 0.02-0.52) e melhora o estado nutricional, avaliado

pelo peso (+4.1 Kg, 95% IC -4.3 a +12.5), circunferência muscular do braço (+2.2

cm, 95% IC -0.5 a +4.9) e albumina plasmática (+7.0 g/L, 95% IC +4.9 a 9.1)(59).

Num estudo prospectivo com doentes alimentados por PEG, Figueiredo et al

verificaram que em metade dos casos, a inserção da sonda foi estabelecida

demasiado tarde. Obtiveram uma mortalidade de 6.5% aos 30 dias, 17.3% aos 90

dias e 33.9% ao fim de 1 ano. Concluíram que a introdução da PEG é um

procedimento fácil e seguro, embora muitas vezes seja requerido tardiamente(60).

Para avaliar mais eficazmente a necessidade de PEG, Wilkinson et al tentaram

identificar, retrospectivamente, as variáveis referentes ao doente que levavam à

prescrição de alimentação entérica, nomeadamente de PEG. Demonstraram que

a intolerância a alimentos com consistência de nível 2 (consistência de iogurte) 7

Page 31: Tratamento nutricional do doente com aveh

31

dias após o AVC era preditiva de disfagia persistente ao dia 28. A intolerância ao

nível 3 (consistência de pudim) ao dia 7 ou a dietas de textura mole 7 a 21 dias

após o AVC eram preditivos da inserção de PEG, ao fim de 1 ano. Consideram,

deste modo, que a alimentação por PEG deve ser ponderada se o doente não

tolera fluidos de viscosidade modificada ou alimentos sólidos com textura de puré,

14 dias após o AVC(61, 62).

Relativamente aos efeitos de uma alimentação a longo termo através da PEG,

Kirchgatterer et al realizaram um estudo em que seguiram os doentes disfágicos,

alimentados desta forma, durante 5 anos (tempo médio de seguimento noutros

estudos é de 2-3 anos). A mortalidade aos 30 dias foi de 20.2%, semelhante à

encontrada em outros estudos (8-26%)(63, 64). Os resultados mostraram uma

função excelente a longo prazo da PEG com 85% dos doentes sem dificuldades

técnicas ou de interrupção da alimentação entérica. A remoção da PEG apenas

foi possível no grupo de doentes com idade inferior a 75 anos. Os doentes mais

velhos nunca recuperaram a capacidade de deglutir quantidades adequadas de

alimentos sólidos ou líquidos. Doentes com idade inferior a 75 anos apresentaram

taxas de sobrevivência de 62%, 56% e 44%, aos 2, 3 e 5 anos, respectivamente,

após inserção da PEG. Quanto aos doentes mais velhos (idade igual ou superior

a 75 anos), mostraram pior prognóstico, com taxas de sobrevivência aos 2 e 3

anos de 32% e 25%, respectivamente, justificando contudo, a inserção de PEG

neste grupo. Ao fim de 5 anos, apenas 16% dos doentes mais velhos se

encontravam vivos(65). Naik et al demonstraram que a idade inferior a 65 anos se

associava significativamente à recuperação da alimentação oral, com

consequente remoção da PEG(66). Varnier et al confirmaram a segurança da

Page 32: Tratamento nutricional do doente com aveh

32

alimentação a longo prazo através de PEG, relativamente a mortalidade e

complicações associadas(63).

James A. et al estudaram, através de uma análise retrospectiva, os efeitos a

longo prazo da alimentação via PEG, na sobrevivência, complicações,

dependência e recuperação da deglutição, em doentes disfágicos após o AVC.

Verificaram que o tempo médio de sobrevivência após inserção de PEG foi de

305 dias, com 77% dos doentes vivos ao fim de 1 mês, 62.5% aos 3 meses, 54%

aos 6 meses e 47% ao fim de 1 ano. Relativamente à disfagia, a informação só

estava disponível para 113 doentes. Destes, 57% morreram sem recuperar a

deglutição, 29% recuperaram e a PEG foi removida, 4% recuperaram, mas

continuaram com suplementos de fluidos ou alimentares via PEG. Analisaram

ainda a duração da alimentação via PEG (até recuperação da deglutição ou

morte), conhecida em 120 doentes. Verificaram que nos doentes cuja PEG foi

precocemente introduzida (até 2 semanas após o AVC) a duração foi, em média,

de 52 dias, comparativamente a uma média de 127 dias para os doentes com

introdução da PEG após 2 semanas. No que se refere às complicações a longo

prazo (observadas num total de 77.4 anos), observadas nestes doentes, a

pneumonia de aspiração foi a mais frequente (18%), seguindo-se a infecção do

local de inserção da PEG (17%) e obstrução da sonda (9.5%). Os autores

concluíram que em doentes disfágicos, após o AVC, a introdução de PEG

precoce, até às 2 semanas pode ser desejável. A sobrevivência a longo-prazo

pode ocorrer e cerca de um terço dos doentes recupera a deglutição, metade dos

quais após mais de 6 meses(67).

Lizuka et al realizaram um estudo retrospectivo emparelhado para comparar a

morbilidade, mortalidade e recuperação funcional de doentes disfágicos após

Page 33: Tratamento nutricional do doente com aveh

33

AVC, internados numa unidade de reabilitação e que necessitavam de

alimentação via PEG. No grupo de intervenção, um número substancial de

doentes recuperou a deglutição, havendo remoção da PEG em 18.1% dos

doentes e em 61.7% apenas foi necessária para hidratação oral. Verificaram que

os doentes alimentados via PEG apresentaram um risco aumentado de

complicações médicas e morte. Contudo, os sobreviventes mostraram uma

recuperação funcional similar aos controlos emparelhados(68).

Para Plonk et al o uso generalizado da PEG pode não ser o mais indicado, uma

vez que a sua vantagem sobre a SNG não é clara. Por outro lado, referem que os

doentes e familiares são pouco informados pelas equipas médicas, acerca dos

benefícios, consequências e alternativas à PEG, opinião que é partilhada por

outros investigadores(69, 70).

As recomendações da ESPEN relativamente à utilização da PEG referem que

este método só se justifica quando a ingestão nutricional é qualitativa e

quantitativamente inadequada, por um período superior a 2-3 semanas. Contudo,

antes da sua colocação dever-se-á reflectir sobre a manutenção ou possível

melhora da qualidade de vida do doente, com este procedimento. As

recomendações indicam que a inserção da PEG não deve ser uma medida

terminal ou simbólica em doentes com prognóstico desfavorável. Nos doentes

disfágicos, após o AVC, se necessário, a sua inserção deverá ser o mais precoce

possível. Como vantagem, relativamente à SNG, a PEG permite em simultâneo,

um treino adequado para a recuperação da deglutição. Contudo, apresenta

potenciais complicações como sepsis da parede abdominal, migração ou

obstrução da sonda e persistência de refluxo. A PEG deverá ser retirada assim

que a ingestão oral seja adequada e possível sem complicações(27).

Page 34: Tratamento nutricional do doente com aveh

34

Relativamente à SNG, esta é mais adequada para doentes em estado crítico e

quando o suporte nutricional é necessário por um curto período de tempo (até 30

dias)(71). No entanto, em alguns casos pode conduzir a pneumonia de aspiração,

devido à microaspiração do conteúdo gástrico, colonização bacteriana da faringe

e ulceração da pele, nasofaringe, esófago e cárdia. Os doentes, principalmente

quando conscientes, recusam este tipo de alimentação pelo desconforto e

aparência inestética(72).

Segundo as recomendações da Fundação Australiana de Reabilitação do AVC, a

utilização de SNG no primeiro mês, após o AVC está associada a um aumento da

recuperação funcional, bem como à normalização da alimentação (via oral) 6

meses após o AVC, comparativamente à utilização de PEG, no mesmo

período(40).

Relativamente à sonda nasogástrica, Anderson et al apresentam uma nova

técnica, o loop nasal. Este é um procedimento não invasivo, permite alimentação

nasogástrica com sucesso e pode evitar a necessidade de inserção da PEG.

Geralmente é bem tolerado e previne um dos problemas das sondas

nasogástricas, a sua remoção acidental. Por outro lado, confere algum tempo ao

doente para que possa recuperar a deglutição, evitando a PEG, sobretudo

naqueles com pior prognóstico(73).

Nakajima M et al investigaram um novo método de alimentação do doente com

disfagia, após o AVC – alimentação intermitente por sonda oroesofágica. Para

estes autores a alimentação parentérica é desaconselhada em doentes com

tracto intestinal intacto, uma vez que não consegue um aporte nutricional

suficiente e apresenta risco de infecção bacteriana. Por outro lado, o novo método

ultrapassa algumas das desvantagens apontadas à alimentação entérica por SNG

Page 35: Tratamento nutricional do doente com aveh

35

ou PEG. A Alimentação intermitente por sonda oroesofágica foi introduzida em

1988, por Campbell-Taylor et al e é um método ainda pouco utilizado, no qual o

tubo de alimentação é inserido, intermitentemente, pela boca até ao esófago.

Como uma das vantagens deste método, os autores apontam a rápida

alimentação dos doentes. O peristaltismo esofágico que acontece quando o

suplemento alimentar é introduzido no esófago, semelhante ao que acontece com

a ingestão oral de fluidos, permite uma velocidade de injecção de cerca de 50

ml/minuto. Contudo, é aconselhada precaução devido à possibilidade de refluxo

do suplemento para a faringe causada por hérnia do hiato esofágica ou

diminuição do peristaltismo esofágico, o que pode acontecer numa primeira fase

após o AVC. Outras vantagens apontadas são: menor risco de refluxo

gastroesofágico, de colonização bacteriana e ulceração da pele e mucosas;

estimulação da cavidade oral e faringe, pela inserção oral da sonda, melhorando

a deglutição. Contudo, este método está contra-indicado em doentes incapazes

de compreender o seu procedimento, bem como com hérnia do hiato esofágica ou

peristaltismo esofágico incompleto. A alimentação intermitente oroesofágica pode

ser utilizada em casos de disfagia severa, nas fases aguda e crónica do AVC.

Segundo os autores, pode ser uma alternativa à alimentação por SNG na fase

aguda do AVC, em doentes com disfagia severa(72).

Page 36: Tratamento nutricional do doente com aveh

36

E. Suplementação nutricional

O primeiro ensaio controlado do “FOOD Trial” investigou a relação entre a

suplementação proteica-energética e a recuperação após o AVC. Para isso dividiu

os doentes cuja capacidade de deglutição permaneceu inalterada, após o AVC

em dois grupos: dieta hospitalar normal ou dieta hospitalar normal

complementada com um suplemento nutricional oral (540 KCal e 22.5g de

proteínas/dia). Obtiveram um OR de 0.94% (95% IC, 0.78-1.13) para o risco de

morte no grupo suplementado e um OR de 1.03 (95% IC, 0.91-1.17) para o risco

de morte ou mau prognóstico aos 6 meses. Os investigadores concluíram que a

suplementação oral rotineira de doentes não disfágicos, após o AVC pode não

justificar-se, uma vez que as diferenças encontradas na mortalidade de doentes

suplementados não foram estatisticamente significativas. Contudo, referem que

os suplementos nutricionais deverão ser considerados, individualmente, nos

doentes em risco nutricional(74, 75).

Numa meta-análise relativa à suplementação proteica em idosos realizada por

Milne Anne et al foram avaliados 55 estudos (9187 participantes). Cerca de

metade destes participantes pertenciam ao FOOD Trial, referido anteriormente.

Deste modo, a maioria dos participantes eram doentes com AVC (45%) ou eram

grupos mistos com várias condições geriátricas (42%). Foram ainda incluídos

participantes com fractura da anca (7%), DPOC (5%), cirurgias (1%) e doença

cardíaca congestiva (<1%).

Os estudos incluídos nesta revisão forneciam entre 175 Kcal (732 KJ) e 1000 Kcal

(4.2 MJ) e entre 10g a 63g de proteínas, diariamente. A maioria dos suplementos

incluía vitaminas e minerais. O período de intervenção variava entre 10 dias e 18

Page 37: Tratamento nutricional do doente com aveh

37

meses. A qualidade dos estudos incluídos na revisão era baixa. Apenas 27 dos 55

estudos avaliados atingiram 50% da pontuação máxima de qualidade.

Relativamente à mortalidade, a suplementação nutricional foi associada a uma

redução da mesma em 22 estudos (6852 participantes randomizados), com

significado estatístico borderline (Peto OR, 0.86; IC, 0.74 – 1.00). Para doentes

com hospitalizações por curtos períodos de tempo, a mortalidade não foi

estatisticamente reduzida (Peto OR, 0.88; IC, 0.74-1.04), excepto quando os

doentes desnutridos eram incluídos (Peto OR, 0.66; IC, 0.49-0.90). Nenhuma

evidência sugere alteração na sobrevivência de doentes com AVC, após

suplementação oral (Peto OR, 0.92; IC 0.76-1.11).

Verificou-se ainda que doentes hospitalizados, suplementados oralmente

apresentaram uma diminuição estatisticamente significativa, de complicações

(Peto OR, 0.72; IC, 0.53-0.97), não observada para doentes com cuidados

continuados (Peto OR, 0.92; IC, 0.56-1.52) ou em ambulatório (Peto OR, 1.01; IC,

0.63-1.64).

Relativamente aos efeitos adversos, referidos em apenas 6 estudos são

apontadas diferenças significativas nos distúrbios gastrointestinais, como

náuseas, vómitos e diarreia, nos grupos suplementados (Peto OR, 3.19; IC, 1.83-

5.56).

O tempo de internamento dos doentes suplementados não apresenta diferenças

estatisticamente significativas, relativamente ao grupo controlo. Contudo,

observou-se uma tendência para uma diminuição do tempo de internamento em

doentes suplementados, desnutridos (-3.30 dias vs -0.84dia).

Em 14 estudos analisados na revisão, os doentes hospitalizados mostraram um

aumento médio de peso de 1.75% (IC, 1.12% - 2.30%). A circunferência muscular

Page 38: Tratamento nutricional do doente com aveh

38

do braço também aumentou em 1.41% (IC, 0.46% - 2.35%), em 6 estudos, nos

doentes suplementados no hospital.

Deste modo, os autores concluíram que nenhuma evidência na sua revisão

sugere qualquer redução da mortalidade e morbilidade de doentes com estado

nutricional normal, quando recebem suplementação proteica-energética. Contudo,

os estudos fornecem algumas evidências do aumento da sobrevivência e menos

complicações em doentes hospitalizados desnutridos que receberam os

suplementos. Consideram assim os autores, à semelhança do FOOD Trial, que a

suplementação rotineira apenas deve ser considerada nestes doentes desnutridos

e não em doentes com estado nutricional normal(76).

Bath et al na sua revisão não encontraram diminuição significativa da fatalidade

em doentes hospitalares suplementados. Referem apenas um aumento

significativo da ingestão proteica e energética(59).

As evidências científicas demonstram um rápido aumento na produção de

marcadores dos danos oxidativos, imediatamente após o AVC, seguido pelo

esgotamento das defesas antioxidantes endógenas, permitindo assim uma maior

lesão dos tecidos(77). Chang et al verificaram que os níveis plasmáticos de alfa e

beta-caroteno estavam diminuídos e os marcadores inflamatórios aumentados no

doente após o AVC, comparativamente a controlos saudáveis. Os níveis destas

vitaminas associavam-se negativamente com os marcadores inflamatórios e

défice neurológico(78). Ulegaddi et al conduziram vários estudos para avaliar o

efeito da suplementação vitamínica, imediatamente após o AVC. No primeiro

estudo, analisaram a suplementação de vitaminas do complexo B dividindo os

participantes em dois grupos. Ao primeiro forneceram um suplemento diário,

durante 14 dias, com 5 mg de folato, 5 mg de vitamina B2, 50 mg de vitamina B6

Page 39: Tratamento nutricional do doente com aveh

39

e 0.4 mg de vitamina B12. O segundo grupo não recebeu o suplemento.

Verificaram que o grupo suplementado apresentava maior capacidade

antioxidante total e anti-inflamatória, independente do efeito diminuidor da

homocisteína(77).

Num segundo estudo, o suplemento utilizado apresentava 800 UI de alfa-tocoferol

e 500 mg de vitamina C. Verificaram, do mesmo modo, um aumento significativo

da capacidade antioxidante total, no grupo de intervenção, comparativamente ao

controlo (P<0.003). Concluíram que a suplementação com vitaminas antioxidantes

nas 12h após o AVC isquémico agudo aumenta a capacidade antioxidante, reduz

a peroxidação lipídica e pode ter um efeito anti-inflamatório(79).

Num terceiro estudo avaliaram a suplementação com vitaminas antioxidantes

como utilizado no estudo anterior e vitaminas do complexo B, semelhante ao

primeiro estudo. Formaram 4 grupos de estudo: (1) suplementado apenas com

vitaminas antioxidantes, (2) suplementado apenas com vitaminas do complexo B,

(3) suplementado com ambos os grupos de vitaminas e (4) não suplementado.

Concluíram que a suplementação com ou sem vitaminas do complexo B melhora

a capacidade antioxidante, diminui o dano oxidativo e pode ter efeito anti-

inflamatório, imediatamente após AVC(80).

Page 40: Tratamento nutricional do doente com aveh

40

Análise Crítica

A investigação realizada na área da Nutrição tem revelado que esta desempenha

um papel preponderante na terapêutica do doente, contrariando a visão marginal

a que era considerada.

Os estudos têm demonstrado, que após o AVC é importante definir a abordagem

nutricional adequada, uma vez que esta influencia decisivamente a evolução e

prognóstico da doença.

A alimentação por via oral é referida em todos os estudos e recomendações como

a mais desejável. A elevada prevalência de disfagia nos doentes após o AVC

requer a utilização de dietas com textura modificada e fluidos espessados.

Embora este seja um procedimento clínico comum, pode tornar-se subjectivo

devido à diversidade de classificações deste tipo de dietas, sendo de grande

utilidade estabelecer definições universalmente aceites para a uniformização da

terapia nutricional instituída a estes doentes. Contudo, a alimentação por via oral

nem sempre é adequada, pelo que o suporte nutricional é frequentemente

necessário, para evitar a desnutrição do doente. A este respeito, o FOOD Trial, o

maior estudo realizado sobre a alimentação após o AVC, apresenta novos

resultados, nomeadamente no que se refere ao momento e via de administração

da alimentação entérica, que devem ser devidamente avaliados e refutados. Em

geral, as recomendações indicam a utilização preferencial de SNG nas primeiras

4 semanas e, quando necessário prolongar a alimentação entérica por sonda,

inserir a PEG. Os estudos sobre as vantagens/desvantagens de cada um dos

métodos têm aumentado. Porém, os resultados não são consensuais, pelo que se

Page 41: Tratamento nutricional do doente com aveh

41

impõe a realização de mais estudos para uniformizar práticas e prestar o melhor

cuidado ao doente.

Relativamente à suplementação alimentar, os estudos indicam que esta deverá

ser considerada na avaliação individual do doente e utilizada apenas em casos

particulares (desnutrição, deficiências nutricionais específicas) e não como uma

prática clínica de rotina.

As opções terapêuticas nutricionais deverão ter sempre como primeiro objectivo

contribuir para a recuperação e reabilitação do doente, mantendo ou, se possível

melhorando, a sua qualidade de vida.

Page 42: Tratamento nutricional do doente com aveh

42

Conclusão

“A doença vascular cerebral constitui a primeira causa isolada de mortalidade em

Portugal sendo igualmente a principal causa de morbilidade e de anos potenciais

de vida perdidos.” (81)

A prevenção deste tipo de patologia apresenta primordial importância, mas dada a

realidade actual, o seu tratamento é imperativo. Deste modo, a investigação na

área da Nutrição relacionada com a patologia é fundamental para que se possa

tratar o doente dispondo do melhor conhecimento possível.

Importa ainda que esse conhecimento se estenda a todos os profissionais na área

da saúde ou que intervêm na alimentação destes doentes para que recebam um

tratamento com conhecimento e muito humanismo, promotor da sua reabilitação.

Dos vários estudos citados, a prevalência de obesidade nos doentes após o AVC

apenas é avaliada num deles (FOOD Trial). Contudo, a tendência actual

demonstra uma incidência acentuada da patologia em idades mais precoces e

associada a diagnóstico concomitante de sobrepeso/obesidade. Deste modo,

parece-me igualmente importante avaliar em próximos estudos, nomeadamente a

nível nacional, o impacto do sobrepeso/obesidade no prognóstico e reabilitação

de doentes com AVC.

Page 43: Tratamento nutricional do doente com aveh

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