tratamentotoxicomanos

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    LABORE

    Laboratrio de Estudos Contemporneos

    POLM !CA

    Revista Eletrnica

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    R So Francisco Xavier, n 524 - 2 andar, sala 60 - Maracan - Rio de Janeiro - RJ

    CEP 24.590-013 Tels: (0xx21) 2587-7960/ 2587-7961 e-mail: [email protected]

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    PARA ALM DOS PARASOS ARTIFICIAISH TRATAMENTO POSSVEL NAS TOXICOMANIAS?1

    ALEXANDRA VIANNA

    Mestranda em Psicologia Clnica pela PUC-Rio. Pesquisadora do LIPIS/[email protected]

    Resumo: O presente artigo aborda as dificuldades enfrentadas no somente pelo paciente mas tambm peloterapeuta no tratamento das toxicomanias na tentativa de responder questo: h tratamento possvel nastoxicomanias? Para tanto, necessrio primeiramente discutir sobre a metodologia de tratamento. possvelexigir do toxicmano a abstinncia como condio para que o tratamento d incio? Quais so as implicaesdessa exigncia? Para refletirmos sobre o curso do tratamento, cito trs momentos de crise nas toxicomaniaspara os quais preciso estarmos atentos: quando ele se descobre dependente de drogas, durante as recadas enos perodos de abstinncia. Em seguida, abodarei quais so os principais tipos de demanda que encontramosna clnica das toxicomanias. Por fim, farei uma anlise sobre de que forma o objeto da compulso seapresenta e como o aspecto social pode dificultar a entrada do paciente em tratamento.Palavras-chave: toxicomanias, psicanlise, tratamento, compulso.

    Abstract: The present article boards the faced difficulties not only for the patient but also for the therapist inthe treatment of the drug addictions in the attempt of responding to the question: is there a possible treatment

    in the drug addictions? For so much, it is necessary firstly to talk about the methodology of treatment. Is itpossible to demand of the drug addict the abstinence as condition so that the treatment begins? What are theimplications of this demand? In order to think about the course of the treatment, I quote three moments ofcrisis in the drug addictions for which it is necessary to be attentive: when he discovers dependant of drugs,during the relapses and in the periods of abstinence. Next, I board what are the principal types of demand oftreatment that we find in the clinic of the drug addictions. Finally, I will do an analysis on from what formsthe object of the compulsion shows up and how the social aspect can make difficult the entry of the patient intreatment.Key words: drug addiction, psychoanalysis, , treatment, compulsion

    1 Este artigo parte da dissertao de mestrado que venho desenvolvendo no Programa de Ps-Graduao dePsicologia Clnica da PUC-Rio, sob orientao da Professora Junia de Vilhena.

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    Para se tratar, no existe pessoa mais ingrata, mais desleal, mais insuportvel

    Durand-Dassier, In. Dsintoxication et psychothrapie institutionnelle

    O que fazer com os pacientes toxicmanos que so levados por familiares e no

    apresentam demanda de tratamento? Como lidar com estes sujeitos que freqentemente

    colocam suas vidas e a de outros em risco?

    Na minha viso, o tratamento pautado somente na exigncia de abstinncia no

    basta para que haja uma mudana de posio do sujeito na sua relao com a droga, pois o

    que move a drogadico est alm do poder da lei. Embora o aspecto da delinqncia esteja

    presente em alguns casos, e precisa ser barrado pela justia, preciso que olhemos para o

    toxicmano como algum que estabeleceu uma relao de dependncia qumica e

    psicolgica com a substncia, para que a partir da seja possvel alguma interveno

    teraputica.

    Contudo, por vezes torna-se necessrio agir de forma diretiva e prescritiva com essa

    clnica no estabelecimento de certas condies para a viabilizao do tratamento, como

    proibir que o paciente fique de posse de dinheiro ou cartes de banco, sair com amigos da

    poca de ativa e freqentar os mesmos lugares que antes. Aos poucos eles podem

    reconquistar sua autonomia, atravs do que alguns pacientes chamam de fortalecimento,

    para que seja possvel retomar suas atividades de uma outra maneira. Tudo isso requer o

    auxlio dos familiares. Assim, o trabalho com toxicmanos exige a convocao da famlia

    no tratamento, pois sem ela os profissionais de sade tm sua prtica limitada. Vale

    ressaltar que estou me referindo ao dependente qumico, tambm conhecido comotoxicmano, que se difere do usurio de drogas que no estabelece uma relao de

    dependncia com a substncia to grave a ponto de prejudicar sua vida em famlia, nos

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    estudos e no trabalho. Ao contrrio, o lao social dos toxicmanos extremamente frgil e

    restrito aos parentes que ainda se importam com ele, aos fornecedores de droga e aosamigos tambm usurios.

    O que chama a ateno tanto dos profissionais da rea de sade quanto da sociedade

    de maneira geral a constatao de que a informao a respeito dos prejuzos acarretados

    pelas substncias, o reconhecimento de sua ineficcia passado o efeito e a ilegalidade no

    barram seu consumo. A satisfao momentnea obtida pela droga oblitera a possibilidade

    de procura por outros recursos para lidar com o mal-estar. A dependncia qumica que a

    droga causa um aspecto agravante, pois o organismo necessita de doses cada vez maisfortes para se obter o efeito desejado.

    Em 2007, uma srie de reportagens sobre jovens de classe mdia e alta do Rio de

    Janeiro que se envolveram com o narcotrfico espantaram a populao. No so somente os

    pobres e moradores de favelas que vem na droga uma possibilidade de ganhar uma grande

    quantia de dinheiro em to pouco tempo, mesmo que s custas da prpria vida. Garotos e

    garotas que tiveram acesso s melhores escolas e faculdades agora traficam. A ilegalidade

    coloca esta forma de compulso para alm da marginalidade, como aponta Melman (1992):

    bem pior que o caso do velho celibatrio ou da solteirona. Estes so

    marginalizados na periferia. Um toxicmano no marginalizado, nem

    gravita sobre a mesma rbita que aqueles que participam da vida social.

    verdadeiramente, a este respeito, um extraterrestre. (Melman, 1992, p. 92)

    evidente no discurso do toxicmano a exaltao do modo como a droga

    consumida, a quantidade ingerida e o nmero de overdoses que ele atingiu. SegundoMelman (1992), esta uma tentativa de buscar um tipo de fraternidade atravs da partilha

    de seus testemunhos sobre a relao com a droga. Esta caracterstica se estende para os

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    centros de tratamento, onde por vezes parece haver uma competio em se afirmar como

    aquele que mais prximo chegou da morte e que mais leis infringiu.Um dos fatores que torna o tratamento das toxicomanias to rduo a facilidade

    com que a compulso por um objeto pode se deslocar para outro . Como afirma

    Olievenstein (1987), quando um toxicmano d incio ao tratamento ele ainda est em

    busca do Graal, ou seja, procura de uma outra dependncia, que pode ser inicialmente

    com o prprio terapeuta: em falta, ele instalar uma relao carnvora contigo ou te

    rejeitar; no mnimo, pedir a droga legal que lhe permita trocar o duo ilegal que ele forma

    com o produto, pelo autorizado pela medicina e permitido na instituio (p. 118). Por issoa necessidade de estarmos atentos posio ocupada pelo profissional de sade no

    tratamento das toxicomanias.

    As drogas mais associadas s toxicomanias no Rio de Janeiro so a cocana, a

    herona, o lcool, a maconha e o crack, que teve seu consumo aumentado nos ltimos anos

    no Brasil. A procura pela cocana motivada pelos estados provocados de euforia, bem

    estar, elevao do humor e aumento da auto-estima. J o crack consiste em uma nova via de

    administrao da cocana, que potencializa sua rapidez de ao: seus efeitos se apresentam

    em aproximadamente 10 segundos e duram apenas 5 minutos (Psicosite2). Passados os

    efeitos estimulantes, sobrevm a depresso, fadiga e torpor. Desse reencontro com a

    realidade insuportvel surge a nsia de se drogar novamente, instaurando-se um crculo

    vicioso. Assim, vemos que as conseqncias da relao do sujeito com a droga no se

    limitam aos efeitos da mesma sobre o corpo.

    Algo de uma mudana qualitativa na relao com o produto sugere que o

    sujeito passa a fazer uso da droga como uma soluo para algo preciso,

    2http://www.psicosite.com.br/tra/drg/crack.htm

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    especfico que falhou em sua relao ao campo do Outro, uma soluo para

    algum nvel de confronto com a castrao. A droga neste contexto parece,ento, funcionar como um tampo que adia, protela, por exemplo, a

    emergncia da angstia. (Castilho, 1993, p. 33).

    As promessas das drogas so muitas. Contudo, elas falham. O que leva o usurio de

    drogas a procurar ajuda justamente a percepo de que a soluo atravs do

    anestesiamento fracassou, embora ele localize sua queixa inicial na substncia e no

    naquilo em que foi fracassado.Uma das caractersticas que os prprios pacientes apontam sobre as toxicomanias

    a manipulao. Eles manipulam suas famlias, seus amigos, colegas de trabalho, chefes,

    mdicos e terapeutas. Devemos estar atentos nesta clnica aos discursos muito prontos,

    marcados por falas que os terapeutas gostariam de ouvir. Estes discursos podem esconder

    uma falsa demanda de tratamento, muito presente em adolescentes que so levados pela

    famlia e permanecem apenas porque percebem que possvel obter ganhos secundrios,

    como um menor controle sobre sua rotina e acesso a dinheiro quando apresentam algum

    indcio de melhora.

    Podemos identificar pelo menos trs momentos de crise no sujeito toxicmano:

    quando ele se descobre dependente de drogas, durante as recadas e nos perodos de

    abstinncia. Geralmente o sujeito se reconhece como dependente qumico quando percebe

    que a vida sem a droga insuportvel ou sem colorido e nota a gravidade das perdas

    sofridas. Nos perodos de recada, o indivduo no chega a identificar a repetio de um

    comportamento cujas conseqncias so desastrosas, pois contra isso ele se anestesia.

    Visto que a drogadico uma forma de evitar ou anular o sofrimento, podemoscompreender que a falta da droga, seja por deciso prpria, seja por imposio de fora,

    causa de grande angstia para os toxicmanos. Os pacientes se referem muitas vezes a um

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    vazio que se instaura dentro deles e as perdas sofridas tomam grande proporo. Ao mesmo

    tempo em que este um perodo muito crtico para o toxicmano, tornando-se imperativoque ele seja acompanhado por um equipe especializada, este tambm o momento em que

    pode emergir uma demanda de tratamento, que somente possvel quando ele percebe que

    o prazer ou alvio momentneo obtido com a droga no compensa os danos provocados

    pelo uso. At ento, o sujeito no encara sua relao com a droga como doentia, pois ela

    ainda vista como um recurso eficaz contra a iminncia de sofrimento ou ansiedade. Isto

    pode impedir que ele cogite a possibilidade de interromper o uso por no encarar a

    drogadico como uma fuga patolgica, mas como uma estratgia de vida ilusoriamentecontrolvel.

    Com isso, nos deparamos na clnica das toxicomanias com diversas formas de

    encaminhamento nas quais os pacientes no esto implicados. Temos, por exemplo, a

    demanda terceirizada quando o paciente vai at o tratamento por imposio da famlia, da

    escola ou pela prpria justia. Neste ltimo caso, na demanda legal, o paciente se dirige ao

    local de tratamento apenas para obter um laudo para o INSS ou para a Justia Teraputica,

    a qual impe tratamento aos infratores usurios e dependentes de drogas. A princpio, no

    h nestes casos uma demanda construda pelo paciente, o que no impede que a partir de

    um trabalho em conjunto com a famlia ou pessoas mais prximas no seja possvel que o

    paciente se implique e adere ao tratamento. Encontramos tambm a chamada demanda de

    reparao nos casos em que o paciente, motivado pelo sentimento de culpa, procura

    tratamento logo aps uma recada na tentativa de reparar os danos causados s pessoas mais

    prximas.

    improvvel que o indivduo dependente qumico seja capaz de obter um controle a

    longo prazo sobre o uso e suas conseqncias, em especial nos casos em que haja um ritualenvolvido, seja dentro de casa ou como condio para se divertir. Para o toxicmano, este

    controle pode ser impossvel de ser alcanado devido gravidade da dependncia

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    psicolgica e orgnica. So freqentes relatos de pacientes que reconhecem que gostariam

    de voltar a ser apenas usurios e no dependentes de drogas, ou seja, desejam obter ocontrole sobre o uso. Damos a isso o nome de demanda de conciliao, visto que o paciente

    busca o local de tratamento no para abrir mo da droga, mas tentar manejar seu uso.

    Muitos chegam nas primeiras entrevistas afirmando que precisam parar de usar drogas, mas

    logo comeam a questionar se realmente so dependentes qumicos e se no seria possvel

    voltar a usar como no incio da drogadico, perodo conhecido como lua de mel com a

    droga. No entanto, a partir do momento em que a dependncia qumica se instaura,

    dificilmente ser possvel a ele voltar a usar qualquer tipo de droga, inclusive aquelassocialmente aceitas, como o lcool.

    Como lembra Laurent (2002), a palavra pharmakon designa ao mesmo tempo o

    remdio e o mal. Na procura pelo bem-estar do organismo, o sujeito drogado encontra o

    vcio. Assim, devemos estar atentos ainda ao uso que pode ser feito das medicaes, que

    tambm podem se tornar um veneno. A compulso pelo objeto droga pode se converter em

    compulso por outros objetos, como pelas drogas prescritas pelo mdico, o que pode ser

    notado quando o sujeito passa a administrar a dosagem de seus medicamentos por conta

    prpria. Estes casos em que o paciente procura o mdico somente pela receita,

    caracterizando uma demanda de medicalizao, esconde tambm uma falsa demanda de

    tratamento.

    Entrando brevemente na questo da cincia como provedora de recursos que,

    quando mal utilizados, podem se voltar contra o sujeito, Bentes (1997) escreve que ao

    contrrio do que o ideal cientfico prope como harmonia do corpo, o corpo pulsional,

    atravessado pela linguagem, no pode gozar de harmonia: Se para a medicina o sintoma

    fala de uma desarmonia, para a psicanlise ele harmnico castrao, falta estrutural daqual resulta o gozo (p. 261). Assim, ao medicar sua dor o sujeito se priva da possibilidade

    de entend-la e lidar com ela. claro que h casos em que o trabalho analtico no basta

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    para dar conta da urgncia do caso, porm ao excluir o pulsional, a abordagem cientfica

    entra na urgncia da prpria cultura contempornea e atropela o sujeito.A escolha do objeto da compulso no absolutamente casual, pois passa pela

    especificidade da economia libidinal do sujeito. Sendo assim, muitos estudiosos do campo

    concordam com a afirmao de que o toxicmano faz a droga. Da mesma forma que

    encontramos adictos a carboidratos, ao cafezinho ou ao tabaco, percebemos na clnica que o

    sujeito toxicmano cria uma relao particular com sua droga ao apostar com ela num

    mais alm onde o encontro com o real opacificado pelo encontro com o ideal (p. 263).

    As toxicomanias revelam, assim, uma manifestao do sujeito imerso numa cultura deconsumismo desenfreado s voltas com seu mal-estar, onde o discurso da cincia prevalece

    oferecendo toda espcie de frmula para a felicidade. O discurso da cincia suprime a

    linguagem como registro do furo, do mal-estendido, impossibilitando que o sujeito se

    apresente cultura atravs dos seus sintomas, fazendo desaparecer o sujeito do

    inconsciente. Desta forma, no h espao para esse passo vacilante que a neurose (p.

    265), como exprime Bentes (1997).

    O aspecto social que recorrentemente envolve o uso de drogas, seja o do lcool nas

    festas de famlia ou o do ecstasy das festas eletrnicas, causa de grande frustrao para o

    toxicmano que precisa estar em abstinncia, por no ser possvel a ele controle sobre a

    ingesto da droga. Isto implica a necessidade de recusar convites de familiares, amigos e

    colegas do trabalho. possvel que o indivduo seja capaz de voltar a freqentar eventos

    sociais, mas sempre com o cuidado de ter de enfrentar o estranhamento dos demais com o

    fato dele no estar nem bebendo uma cervejinha. Certa vez ouvi de um paciente que sua

    vida sem drogas uma constante renncia. Para ele, renunciar droga significa renunciar

    ao que d vida sua vida. O que podemos oferecer em contrapartida a escuta do que osujeito tem a dizer a respeito da sua relao com a droga, o que permite que algo nessa

    relao seja perturbado. Quando o vazio que se faz ouvir na fala preciso ir para alm

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    dela e analisar o que ele no diz, mas que pode revelar o que o levou a preencher seu vazio

    com a droga. Sendo assim, a partir da escuta do que est velado pela toxicomania que otratamento se torna possvel.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BAUDELAIRE, Charles. (1860) Parasos artificiais: o haxixe, o pio e o vinho. Porto Alegre: L&PM,

    1998. 220p.

    BENTES, Lenita. Toxicomanias antidepressivas. In. ALMEIDA, Consuelo Pereira de; MOURA, Jos

    Marcos (Orgs.) A dor de existir. Rio de Janeiro: Contra Capa livraria, 1997. p.261-268.

    CASTILHO, Glria M. Drogar-se: Um imperativo? In. Caderno do NEPAD/UERJ Ano I no. 1 Maiode 1993. p. 28-34

    LAURENT, Eric. Como engolir a plula? In. Clique Revista dos Institutos Brasileiros de Psicanlise do

    Campo Freudiano, n.1, Abril de 2002. p. 24-35.

    MELMAN, C. (1992). Alcoolismo, delinqncia e toxicomania: Uma outra forma de gozar. So Paulo:

    Escuta. 164p.

    OLIEVENSTEIN, C. (1987). A clnica do toxicmano. Porto Alegre: Editora Artes Mdicas Sul, 1990.

    138p.

    Recebido: 28/11/2007

    Aceito: 08/01/2008