Treinamento Perceptivo Motor

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O TREINAMENTO PERCEPTIVO-MOTOR NA MELHORIA DA PERFORMANCE DO TIRO POLICIAL EM CONFRONTOS ARMADOS NAS REAS DE ALTO RISCO.

Paulo Storani

Monografia apresentada Universidade Gama Filho como requisito parcial obteno do Ttulo de Ps-Graduao "Lato Sensu" em Treinamento Fsico

Rio de Janeiro Universidade Gama Filho 2000

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RESUMO

O confronto com armas de fogo o nvel mximo do uso da fora legal para a preservao da Ordem Pblica, dele so protagonistas os Agentes da Lei e os que se encontram a sua margem, o risco de vida um fator real, constante e de conseqncia natural. Ao analisarmos o Policial Militar como o agente da Lei inserido neste processo, indaga-se que alteraes ocorrem em seu organismo, diante do perigo da morte e a correlao com sua performance profissional durante os confrontos. Os objetivos e hipteses que nortearam este estudo basearam-se na anlise cientfica das reaes fisiolgicas e das necessidades psicomotoras empenahdas pelos operadores de segurana pblica nos confrontos armados. Foram desenvolvidos um teste de campo e um programa de treinamento fsico especficos, com vistas a mensurar e desenvolver a capacidade perceptivomotora do indivduo. O estudo utilizou, para fins de comprovao das hipteses estipuladas e consecuo dos seus objetivos, a Pesquisa Exploratria e a Pesquisa Experimental. A amostra, utilizada, contou com a participao de cento e vinte recrutas, do Centro de Formao e Aperfeioamento de Praas da Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro, que foram submetidos a testes e tratamento, baseado no modelo Solomom 4 grupos, para Pesquisa Experimental. A metodologia utilizada estabeleceu como parmetros, os resultados obtidos nos Testes de Tiro de Reao Seletiva (TTRS), desenvolvido neste trabalho, e as medidas da Freqncia Cardaca (FC) e Presso Arterial (PA) das amostras durante os testes, para fins de comprovao das alteraes fisiolgicas. O treinamento desenvolvido baseou-se nos princpios da Aprendizagem de Automatismo, objetivando a produo de uma resposta motora no nvel de reflexo, condicionada percepo e correta seleo de um estmulo visual entre vrios outros, de modo a atender s necessidades psicomotoras de situaes prximas da realidade encontrada nos confrontos armados. Baseado na reviso de literatura e anlise comparativa dos resultados verificou-se, ao final do estudo, que os objetivos determinados foram atingidos e todas as hipteses confirmadas.

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NDICE Pgina

Resumo....................................................................................................................2 LISTA DE ANEXO....................................................................................................4 1. O PROBLEMA.................................................................................................... 5 1.1 Situao Problema............................................................................................ 5 1.2 Objetivos do Estudo.......................................................................................... 6 1.3 Delimitaes do Estudo.................................................................................... 6 1.4 Justificativa........................................................................................................ 7 1.5 Hipteses.......................................................................................................... 7 2. REVISO DA LITERATURA................................................................................8 2.1 O Homem Sob Tenso..................................................................................... 8 2.2 A Reao de Alarme do Corpo......................................................................... 8 2.3 A Instruo Convencional................................................................................. 9 2.3.1 A Origem...................................................................................................... 10 2.5 A Modificao no Processo Ensino-Aprendizagem........................................ 11 3. METODOLOGIA .............................................................................................. 12 3.1 Modelo do Estudo........................................................................................... 12 3.2 Populao e Amostra...................................................................................... 13 3.3 Instrumentos................................................................................................... 14 3.4 Coleta de Dados............................................................................................. 19 3.5 Tratamento...................................................................................................... 20 3.6 Limitaes do Mtodo..................................................................................... 21 3.7 Tratamento e Anlise dos Dados.................................................................... 21

4. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS ................................ 23 4.1 Os Efeitos Fisiolgicos nos Confrontos Armados........................................... 23 4.2 Treinamento Convencional X Treinamento Perceptivo-Motor........................ 23 4.3 Teste de Tiro de reao Seletiva.................................................................... 23 5. CONCLUSES E RECOMENDAES .......................................................... 25 5.1 Concluses..................................................................................................... 25 5.2 Recomendaes ............................................................................................ 25 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................... 26

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LISTA DE ANEXOS ANEXOPgina

1- Questionrio de Diagnstico da Populao..................................................... 28 2- Frmula para Clculo do ndice no TTRS....................................................... 30 3- Grficos Demonstrativos das Alteraes Fisiolgicas e Resultados no TTRS.............................................................................................................. 32

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1. O PROBLEMA Uma equipe de Policiais Militares recebe a misso de localizar um ponto de venda de drogas ilcitas em uma rea de alto risco, no interior de uma favela, onde os confrontos armados so rotineiros e violentos. Aps receber a misso, iniciam-se os preparativos para desencadear a operao, cada homem com sua tarefa definida, refora o seu suprimento de munio e se instrui sobre as caractersticas da rea a ser operada. Aps o briefing, toda a equipe parte para a misso. Os Policiais Militares desembarcam das viaturas nas proximidades do acesso favela, entram em formao ttica e iniciam a progresso. O primeiro homem da equipe que vai frente, o Ponta, percebe a tenso dos moradores, que comeam a se retirar das ruas - indicando possibilidade de confronto. A equipe penetra cada vez mais no interior da favela, a cada tomada de rua uma preocupao, a cada laje checada uma expectativa. Quando o silncio se torna um aviso, na entrada de um beco o Ponta percebe uma silhueta disforme dentro das sombras, que reage presena policial com um forte claro que rompe o silncio, uma rajada de fuzil que desencadeia uma violenta troca de tiros...O organismo humano dotado de mecanismos prprios que lhe permitem manter as condies necessrias sobrevivncia [...] diante de um agente estressor em situaes ameaadoras, como a exposio prolongada em um ambiente causador de tenso fsica e psicolgica, a reao vem atravs do sistema nervoso autnomo simptico e do endcrino, promovendo, automaticamente, no organismo reaes diversas que vo contribuir para sua sobrevivncia preparando-o para lutar ou para fugir . (Reaes autonmicas e hormonais das perturbaes psicossomticas, Revista de Psicofisiologia ,2 jan. 1997)

1.1 Situao Problema O confronto armado o nvel mximo da ao legal para a preservao da Ordem Pblica. Dele so protagonistas os Agentes da Lei, foco deste estudo, e os que se encontram sua margem. O risco de vida um fato real, constante, e de conseqncia natural. Ao analisarmos o policial militar, como figura central deste processo, indagamos sua reao fisiolgica diante do perigo da morte e a correlao com sua performance profissional. 5

1.2 Objetivos do Estudo O objetivo do presente estudo : (1) investigar os fatores fisiolgicos que agem sobre o policial nas situaes de tenso, como em confrontos armados, seus efeitos e influncia sobre a performance; (2) analisar o mtodo de treinamento de tiro desenvolvido na Polcia Militar, numa perspectiva cientfica, traando uma correlao com os efeitos investigados no item anterior; (3) identificar as qualidades fsicas e os parmetros neurofisiolgicos empenhados nos confrontos armados; (4) desenvolver um experimento de campo, visando o desenvolvimento de um teste, no qual se pudesse avaliar e mensurar o desempenho do policial na execuo de tcnica de tiro, que requeira habilidades psicomotoras identificadas no item anterior; e (5) desenvolver um mtodo de treinamento especfico execuo do tiro sob estresse, com o objetivo de produzir uma resposta das perceptivo-mototra fsicas e mais adequada, atravs do

desenvolvimento identificados.

qualidades

parmetros

neurofisiolgicos

1.3 Delimitaes do Estudo No que se refere ao primeiro objetivo, o estudo limita-se pesquisa bibliogrfica que trata das reaes fisiolgicos do corpo humano diante de situaes de extremo estresse e influncia sobre a performance do policial. Quanto ao segundo objetivo, limita-se a experincia de dez anos do pesquisador como Mestre de Tiro e Instrutor de Tiro Policial na Polcia Militar e no Batalho de Operaes Policiais Especiais (BOPE), nas Normas de Instruo vigentes na Polcia Militar e no enfoque cientfico da anlise comparativa, diante do resultado dos testes desenvolvidos nesta pesquisa. Em relao ao objetivo quatro, a pesquisa ser limitada pelas condies logsticas da prpria corporao e dos meios obtidos para realizao do trabalho. Quanto ao objetivo cinco, o mtodo ser adequado aas condies de tempo, logstica e espao fsico para realizao do treinamento. O estudo no considera as variveis scio-econmicas, o nvel de motivao dos envolvidos e os efeitos prejudiciais do estresse sobre a sade.

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1.4 Justificativa A proposta deste estudo se justifica na falta de um trabalho cientfico que fundamente os aspectos fisiolgicos da tenso emocional sofrida pelos policiais nos confrontos armados, e da falta de um mtodo de treinamento que desenvolva uma melhor resposta neuromuscular, minimizando os efeitos da tenso sobre a performance. Obtendo-se um resultado positivo com este estudo, poder-se- indicar um fator de desequilbrio na equivalncia blica entre os protagonistas do confronto urbano armado, pela melhoria da resposta policial diante das situaes de extremo estresse, e a minimizao do risco dos stray shoot, as balas perdidas. 1.5 Hipteses O estudo se desenvolver baseado nas seguintes hipteses: (H1) existem reaes fisiolgicas que agem sobre o policial durante os confrontos armados e que influem, sobremaneira, na sua performance; (H2) o treinamento de tiro desenvolvido na Polcia Militar no atende aos objetivos de preparar o policial para os efeitos da extrema tenso emocional experimentada pelo agente da lei durante os confrontos armado; (H3) um mtodo de treinamento que desenvolva no policial uma melhor resposta neuromuscular, minimizando os efeitos da tenso dos confrontos armados, pode ser desenvolvido e aplicado com baixo custo e tempo de mobilizao de efetivo.

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2. REVISO DE LITERATURA 2.1 O Homem Sob Tenso Ao analisar um indivduo sob situao de forte tenso fsica ou emocional verifica-se, segundo o que estabelece Guyton (1989) no seu Tratado de Fisiologia Mdica, que os rgos so, na verdade, estimulados de dois modos simultneos: diretamente pelos nervos simpticos e indiretamente pelos hormnios das medulas supra-renais (p.549). Na forma direta, a estimulao do sistema nervoso simptico ocorre to logo uma situao de perigo se apresente (ex.: surpresa, susto), e na forma indireta a estimulao da medula supra-renal ocorre pela ao da descarga simptica em massa, ou pela submisso do organismo a uma situao de estresse por um determinado perodo de tempo (ex.: expectativa do perigo). As medulas supra-renais estimuladas, secretam a epinefrina e norepinefrina em grande quantidade na corrente sangnea, segundo Guyton (1989), estas substncias produzem os mesmos efeitos sobre os diversos rgos que os causados pela estimulao simptica direta, porm, estes efeitos tem uma durao dez vezes maior, porque estes hormnios so removidos lentamente do sangue (p. 548). 2.2 A Reao de Alarme do Corpo Diante da situao de estresse fsico e emocional que um indivduo submetido, verifica-se que seu organismo desencadeia um conjunto de reaes que se denomina Reao de Alarme do Sistema Nervoso Simptico. Esta reao a resposta do organismo preparando-se para sobreviver situao de perigo, decidindo se ele fica e luta ou se ele foge, razo pela qual tambm recebe a denominao de Reao de Fuga ou Luta. Os efeitos fisiolgicos causados pela Reao de Alarme so assim identificados por Guyton (1989): aumento da presso arterial; aumento do fluxo sangneo para os msculos ativos; aumento do metabolismo celular por todo o corpo; aumento da glicemia; aumento da gliclise no msculo; aumento da fora muscular; e aumento da atividade mental. Estes efeitos influem diretamente na performance do indivduo durante o estado de tenso, comprometendo as atividades que requeiram a ateno de muitos sentidos e de uma resposta motora 8

fina ou que exija a coordenao de vrios membros. Em contrapartida as atividades que requerem o empenho de grande atividade de fora muscular so beneficiadas. Massad Ayoob (1995), vai mais alm na descrio dos efeitos e conseqncias diretas da Reao de Alarme sobre o policial durante os confrontos armados. Ele identifica: o aumento da freqncia respiratria, podendo levar hiperventilao e conseqente vertigem; o tremor e entorpecimento nas extremidades do corpo; aumento do limiar da dor, provocando uma analgesia corporal; limitao da audio e ngulo de viso; perda da destreza com a arma de fogo; e perda da noo de espao e de tempo. 2.3 A Instruo Convencional O currculo da matria Armamento e Tiro do Curso de Formao de Soldado Policial Militar tem origem na instruo de tiro das Foras Armadas, sofrendo algumas adaptaes para a realidade policial. Estabelece as seguintes sesses de instruo: Manuteno do armamento; Legislao referente ao uso da Arma de Fogo; Fundamentos do Tiro Policial; Tiro na Posio de p; Tiro na Posio Ajoelhado; Tiro na Posio Barricado; e Tiro na Posio deitado. A instruo prtica em estande de tiro sempre orientada por um Instrutor de Tiro, o atirador sempre colocado em frente a um mesmo tipo de alvo (silhueta humanide padro Colt), portando uma arma de fogo carregada, e para todas as sries de disparos o tiro comandado plo instrutor. No h, na prtica, a opo de deciso de no atirar ou em qual alvo atirar, a deciso de atirar sempre no alvo que estiver frente. Na instruo, no h trabalho que desenvolva e aprimore um gesto motor adequado, que parta de uma posio de expectativa com a arma de fogo para uma tomada de posio e enquadramento do alvo. Analisando a instruo de tiro na Polcia Militar como um processo de aprendizagem, verifica-se a ocorrncia de um condicionamento que leva ao desenvolvimento de uma resposta operante, que, segundo Wittig (1981), uma resposta voluntria emitida por um organismo [...] de modo que o resultado final a consecuo de uma meta desejada (p. 124). Assim, durante uma situao de 9

forte estresse fsico ou emocional, como nos confrontos armados onde uma agresso esperada a qualquer momento, mnima percepo de um possvel risco sobrevivncia, a resposta natural de atirar no alvo que se apresenta. Esta condio potencializada pelos os efeitos fisiolgicos da Reao de Alarme, com o comprometimento da destreza necessria para uma deciso e ao adequada. Diante da ausncia de uma resposta motora adequada, face ao tipo de treinamento desenvolvido, a probabilidade de erro se torna uma constante considervel, potencializando o risco de decises equivocadas e do risco de se atingir terceiros. Ayoob (1995) transcreve em seu livro STRESSFIRE uma entrevista com um policial americano ferido em um confronto armado que declarou:- No entendo o que aconteceu, consegui nos treinos de qualificao timos resultados atirando a oito metros, porm errei um ladro a dois metros que acabou me atingindo com um tiro ( p. 10 ).

2.3.1 A Origem A origem da metodologia empregada na instruo de tiro da PMERJ na atualidade, baseou-se nos estudos efetuados pelo Exrcito dos Estados Unidos da Amrica (EUA), sobre a conduta dos soldados em batalha desde a Guerra de Secesso, passando pela II Grande Guerra e pela Guerra do Vietn. Pesquisas da poca, efetuadas aps as batalhas da Guerra de Secesso nos EUA, verificaram que 90% dos mosquetes de carregamento pela boca do cano, estavam com pelo menos uma carga de tiro intacta, e 40 % com mltiplas cargas, chegando at a vinte e quatro cargas de tiro intactas. Concluram que o atirador, aps o carregamento da arma, no efetuou o disparo, e que, mesmo assim, carregou-a novamente; a ao de carregamento levaria algo, em torno, de vinte segundos. Durante a II Guerra, relatos do Historiador S.L.A. Marshall do Exrcito dos Estados Unidos, introdutor da Entrevista Ps-Ao, verificou que somente de 15% a 20% dos soldados, que participavam dos combates, usavam suas armas contra o inimigo. Diante destes dados, as Foras Armadas dos EUA concluram 10

que o motivo do no uso da arma, seria a rejeio natural do homem de tirar a vida de um semelhante3 A partir destes dados, comearam as pesquisas no campo da psicologia comportamental, o behaviorismo, visando inibir, nos soldados, a suposta rejeio de matar, por meio do principio bsico do condicionamento operante pelo processo: estmulo/resposta condicionada reforo positivo ou negativo (recompensa ou castigo). O objetivo era criar os matadores profissionais, que iriam sempre usar suas armas em combate diante do estmulo, inimigo, pois no estariam sob a gide de seu superego. O Tenente Coronel Dave Grossmam, autor de On Killing, declara em seu livro que na idia do Exrcito, o condicionamento leva o soldado a fazer a coisa certa no campo de batalha, atirar sem restries4. O resultado veio a ser comprovado na Guerra do Vietn, onde o prprio S.L.A. Marshall verificou, por meio de suas entrevistas ps-ao, que o percentual de utilizao da arma de fogo pelos soldados aumentou para 90%; em contrapartida, a estatstica da Guerra mostrou que para cada inimigo morto as foras americanas dispararam 50.000 (cinqenta mil) tiros. 2.4 A Modificao no Processo Ensino-aprendizagem Observando a performance do policial nos confrontos armados e diante do que foi estudado, verifica-se a necessidade do desenvolvimento de um trabalho que otimize as qualidades fsicas empenhadas, de modo a minimizar os efeitos da Reao de Alarme, ou mesmo aproveit-los em benefcio do resultado. Ao delinearmos as qualidades psicomotoras afetadas a serem trabalhadas, encontramos: Ateno; Percepo; Coordenao Motora; e o Tempo de Reao. A Ateno que segundo Magill (1993) a preparao para a captao do estmulo sensorial e manuteno do estado de alerta (p.76), que ao ser trabalhada, leva ao aumento da concentrao, evitando-se as possveis distraes com a grande variedade de estmulos de um ambiente hostil, e ao conseqente desenvolvimento da Ateno Seletiva, que a seleo dos estmulos significativos que sero usados para a tomada de deciso final de atirar

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A pesquisa desconsiderou totalmente os efeitos fisiolgicos da Reao de Alarme do Corpo. A metodologia ignora a seletividade e desconsidera a possibilidade de se atirar em um companheiro que esteja frente no campo de batalha , o chamado tiro amigo .

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ou no. O trabalho da Ateno Seletiva leva ao desenvolvimento da Sensao atividade dos receptores sensoriais com resultante transmisso aferente ao Sistema Nervoso Central - e da Percepo - que a integrao da recepo sensorial com as informaes passadas e armazenadas pelo organismo resultando na interpretao da informao e escolha da melhor resposta. A Coordenao Motora e Tempo de Reao so qualidades fsicas que podem necessrias execuo de um gesto motor, ou seja, um movimento mais apropriado para cumprimento de uma tarefa no menor tempo possvel a partir da deciso-resposta percebida. Estas qualidades podem ser desenvolvidas por meio de mtodos que privilegiam o processo de percepo e resposta, como nos atletas de alto rendimento. Fitts e Posner (1968) afirmam que existe uma grande semelhana entre habilidades altamente praticadas e reflexos, baseado nesta afirmao, o trabalho objetiva a criao de uma resposta adequada a um estmulo, condicionada a uma correta percepo, de modo quase automtico.

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3. METODOLOGIA Este captulo ocupa-se dos procedimentos metodolgicos aplicados aos objetivos (4) e (5). A primeira seo classifica o estudo; as que se seguem tratam dos aspectos referentes populao e amostra, os instrumentos utilizados, o tratamento experimental desenvolvido, a coleta de dados e, finalmente, apresenta as limitaes do mtodo. 3.1 Modelo do Estudo O estudo apresenta caractersticas de uma pesquisa exploratria, no que diz respeito busca bibliogrfica, com o objetivo de identificar o processo que se desenvolve no homem submetido aos efeitos do estresse fsico e mental durante as situaes de perigo, bem como no estudo de casos em que houve a ativao da Reao de Alarme do Corpo e sua interferncia na performance. Possui caractersticas de pesquisa Experimental por realizar um

experimento, utilizando o design Solomon 4 grupos, onde se procurou obter o controle de trs variveis independentes em razo do efeito das variveis dependentes, obtidos no final do experimento. Neste tipo de design experimental so utilizados quatro grupos de amostra de uma mesma populao, trabalhandose da seguinte forma: um grupo submetido a um teste de avaliao, recebe o tratamento desenvolvido para a pesquisa, sendo reavaliado pelo mesmo teste ao final; um segundo grupo testado no incio do experimento e no final do mesmo, no recebendo o tratamento; um terceiro grupo recebe o tratamento e s avaliado aps seu trmino; o quarto grupo somente avaliado uma nica vez, na mesma poca do teste final dos demais grupos, no recebendo o tratamento.1 Testagem Grupo 1 Grupo 2 Testado X Tratamento 2 Testagem Aplicado Aplicado Testado Testado

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Grupo 3 Grupo 4

Testado X

X X

Testado Testado

Figura 1- Modelo Solomom 4 grupos

3.2 Populao e Amostra Em razo do fato das experincias passadas poderem influir no processo estmulo-resposta de um indivduo, diante de um estado de tenso, procurou-se uma amostra no contaminada de Policiais Militares. Desta forma, buscou-se os recrutas do Curso de Formao de Soldados da Polcia Militar (CFSd), realizado no Centro de Formao e Aperfeioamento de Praas (CFAP). Para a aplicao do design Solomom 4 grupos foi autorizado, pelo Comando do CFAP, a utilizao de quatro pelotes de trinta homens cada da 1 Companhia. Os pelotes foram escolhidos de modo aleatrio, onde seus componentes foram selecionados em um mesmo concurso de admisso e se encontravam no mesmo nvel de instruo policial militar do curso de formao de soldados. A programao das fases do experimento teve de se adequar ao planejamento das instrues regulares do CFAP. 3.3 Instrumentos Utilizou-se um questionrio de avaliao, com perguntas diretas, a fim de buscar informaes que poderiam influenciar o resultado do participante no teste e no tratamento a serem aplicados (Anexo 1). Aplicou-se o Teste de Tiro de Reao Seletiva (TTRS), desenvolvido neste trabalho, com a finalidade de avaliar os seguintes parmetros e qualidades: Seletividade, considerada como a escolha adequada de uma opo entre outras; Tempo de Reao, considerado como o tempo compreendido entre o estmulo externo e o incio da resposta; Velocidade da Resposta, considerado como o tempo compreendido entre o estmulo e o trmino da resposta; Preciso da Resposta, considerada como a relao entre o nmero de acertos e erros obtidos com o impacto no alvo corretamente escolhido; e Magnitude da Resposta, mensurada por meio de um fator numrico que correlaciona todos os parmetros citados. 14

Para a aplicao do TTRS foram utilizados: um estande de tiro com dez metros de campo livre e oito metros de largura (figura 2); cinco alvos padro da Associao Internacional de Tiro Prtico (figura 2); fita mtrica; protetor ocular e protetor auricular, para todos os atirados; caneta tipo Pilot, preta ou azul; um temporizador de tiro (figura 3); e arma de fogo com munio.

Figura 2 - Estande de Tiro do TTRS

A metodologia de aplicao do TTRS inicia-se com a colocao do testando, de costas para o ponto central de uma linha de cinco alvos, fixados a seis metros de distncia (figura 4); no permitido que testando mantenha contato visual, com os alvos, por um tempo superior a quinze segundos; cada alvo identificado com uma letra do alfabeto de A a Z, e um nmero de um a nove; as letras e nmeros medem dez centmetros de altura por cinco de largura, sendo inscritos no cento do alvo, um acima do outro, com caneta tipo Pilot, azul ou preta, sendo separados por um espao de cinco centmetros, entre eles; os alvos so separados entre si, lado a lado, por um metro de distncia, medidos a partir de seu centro.

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Figura 3 - Temporizador de Tiro

Para incio da tomada de tempo, No Teste de Tiro de Reao Seletiva, o testando, com a arma de fogo no seu coldre e de costas para os alvos (figura 4), ouvir do aplicador do teste o pronunciamento em alto e bom som de uma letra identificada pelo alfabeto fontico internacional, ou de um nmero, que conste em um dos alvos; simultaneamente ao pronunciamento da letra ou nmero acionado o temporizador de tiro; o testando imediatamente, na maior velocidade possvel, se volta para a linha de alvos, toma a melhor posio que lhe convier, saca a arma, busca o alvo enunciado, fazendo a visada com a arma de fogo, identifica o alvo e efetua dois disparos seguidos (double tap) na direo dele, terminando o teste (figura 4 a 6). O tempo de cada disparo, registrado no temporizador de tiro, juntamente com a correta identificao e seleo do alvo enunciado, e a preciso nos disparos, fornecero um fator numrico estipulado pela frmula do Anexo 2.

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Figura 4 - Posio inicial do TTRS

Figura 1 - Movimento de reao ao incio do TTRS

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Figura 2 - Engajamento do alvo no TTRS

Para melhor avaliao dos efeitos do estresse emocional sob o homem, o TTRS, foram adotados e acompanhados parmetros fisiolgicos como a Freqncia Cardaca (FC) e Presso Arterial (PA). Adotou-se a metodologia de se medir, a FC e PA, com o testado em situao de repouso, nos quarenta e cinco minutos a trinta minutos antes do teste, em uma sala de aula (figura 6).

Figura 3 - Presso Arterial e freqncia cardaca sendo medida em repouso.

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Posteriormente, uma segunda medida executada de trs a um minuto antes do incio do teste; e uma terceira imediatamente aps o seu trmino 5. Os testandos, para efeito de acompanhamento, foram monitorados por um medidor de freqncia cardaca (figura 7). Para a realizao do TTRS foram utilizados: Revlver Taurus Cal. .38, Modelo 83-S; Munio Cal. .38 CBC EXPO+P; Temporizador de Tiro Edge Dynamics Timer, Modelo 6000; Monitor de freqncia cardaca Polar Accurex Plus, Esfigmomanmetro e Estetoscpio.

Figura 4 Monior de Freqncia sendo colocado em um testando

3.4 Coleta de Dados Na primeira etapa de testagem do TTRS, foi aplicado o questionrio, em sala de aula, para os grupos 01 e 03, com o tempo de 20 minutos para preenchimento. Aps o trmino do preenchimento do questionrio, foram medidas a PA e FC, em subgrupos de cinco indivduos, da amostra, que posteriormente foram conduzidos para o estande de tiro, onde foram submetidos ao TTRS; o teste, aplicado pelo pesquisador e auxiliado por um para-mdico, que executava uma nova medida da PA e FC, imediatamente antes da execuo do teste. Para a testagem final foram

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Todas as medidas foram executadas por para-mdicos do Grupo de Salvamento e Resgate da PMERJ

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executados os mesmos procedimentos para os pelotes de recrutas nomeados como grupos de teste 01, 02, 03 e 04. 3.5 Tratamento A populao tratada foi submetida a seis sesses de treinamento, com duas horas/aula de durao, duas vezes por semana. Priorizou-se a aplicao de exerccios especficos para o desenvolvimento perceptivo-motor, objetivando a criao de uma resposta motora adequada a um estmulo intermodal: sonoro e/ou visual. A resposta motora foi desenvolvida com base nas reaes corporais naturais ao perigo, conduzindo a um condicionamento que buscou levar a adoo do gesto-motor que, mesmo diante de uma situao de forte tenso emocional, o corpo responderia de forma adequada situao apresentada. Foram utilizados os princpios da Aprendizagem de Automatismos, que objetivam a criao de uma resposta motora no nvel de reflexo, na mesma condio que dos atletas de alto performance. Paralelamente, nas trs primeiras sesses, foram realizados os exerccios elaborados especificamente para este trabalho, para o

desenvolvimento da Percepo e Ateno Seletiva da amostra, com a execuo de tarefas de percepo de objetos e situaes, com significado policial, em lugares com grande variedade de estmulos. Numa primeira fase do trabalho de ateno e percepo, o exerccio era realizado sem a preparao da ateno. Numa segunda fase o exerccio foi realizado com a chamada para o que observar, onde se evidenciou a necessidade da seleo de estmulos para o desenvolvimento de uma resposta adequada, na forma de briefing. Nas trs ltimas sesses de treinamento, os trabalhos das fases iniciais foram conjugados com a execuo do tiro real. Previu-se, inicialmente, um gasto total de cem disparos por aluno. Foram utilizados implementos desenvolvidos para esta pesquisa, visando o desenvolvimento de uma reao a um estmulo sonoro, importando em uma busca e identificao positiva de um estmulo visual e conseqente resposta, no menor tempo possvel.

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Foram utilizados estmulos visuais em ordem crescente de dificuldade de identificao, atravs de figuras geomtricas, cores, letras e nmeros, trabalhadas de formas isoladas e conjugadas, e em quantidades, para seleo e escolha, no inferiores a um entre seis (figura 8) obrigando os indivduos a sempre buscar o estmulo antes de responder, no menor tempo possvel.

Figura 5 - Alvo preparado para o exerccio

3.6 Limitao do Mtodo Um fator que influenciou diretamente no resultado foi o quantitativo de tiros efetuados. Onde se previa uma quantidade ideal de cem cartuchos por homem, visando o incremento do fator Preciso, o gasto total real chegou a trinta e seis cartuchos por homem. Esta limitao deveu-se a problemas logsticos, e pode ter influenciado no resultado do trabalho, mesmo com os resultados obtidos, onde se verificou o aumento de rendimento em todos os parmetros trabalhados, inclusive a Preciso. 3.7 Tratamento e Anlise Dos Dados Os dados coletados, atravs das medidas de PA e FC, e os ndices do teste aplicado foram analisados separadamente dentro de cada grupo de trabalho. 21

Receberam um tratamento estatstico descritivo, de onde se extraram as mdias dos grupos, tratados e no tratados, para efeito de anlise comparativa do aproveitamento do treinamento. Aplicou-se o Teste t e Anova para avaliar o nvel de significncia entre os resultados do TTRS, determinando p=0,05.

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4. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS 4.1 Efeitos Fisiolgicos no Confronto Armado Os efeitos fisiolgicos da Reao de Alarme do Corpo foram comprovados, pelo o exposto na Reviso de Literatura, quando as medidas de FC e PA mensurados atravs do monitoramento dos parmetros fisiolgicos das amostras durante a realizao do Teste de Tiro de Reao Seletiva foram comparadas. Tal alterao pode ser visualizada nos grficos do Anexo 1. 4.2 Treinamento Convencional X Treinamento Perceptivo-Motor Comparando os grficos de aproveitamento do Grupo 1, tratado, e Grupo 3, no tratado, quanto ao o ndice do TTRS (grfico 7 e 8 do Anexo 3), que correlaciona a velocidade da resposta; a preciso e a seletividade, verifica-se que o rendimento do treinamento levou o Grupo 1 a 53,11% acima do Grupo 3. Analisando o tempo de reao dos grupos 1 e 3; verificando-se um aproveitamento de 39,97 % do grupo tratado sobre o no tratado ( grfico 9 e 10 do Anexo 3). O efeito do treinamento, em termos de tempo, aponta evidncias do resultado do treinamento, que levaria a resposta quase ao nvel de reflexo. Conforme o j indicado, a previso de gasto de cem tiros por amostra no foi atendida, utilizando-se 36% da quantidade inicialmente prevista. Tal condio pode ter interferido, sobremaneira, no fator Preciso, diminuindo o percentual de aproveitamento. Contudo, diante da anlise dos resultados finais, chegou-se concluso que atravs do mtodo desenvolvido conseguiu-se, por anlise comparativa, suplantar a relao dogmtica: quantidade de tiro=resultado, preconizado pelo mtodo convencional. 4.3 Teste de Tiro de Reao Seletiva - TTRS Fazendo-se uma anlise geral do teste de campo, baseado no design experimental Solomom 4 grupos, verifica-se: 1- Que a primeira aplicao do teste no influenciou no resultado da segunda aplicao, considerando a anlise dos testes do grupo 3 com o grupo 4, e grupo 1 com grupo 2 (grficos 7 e 8 do Anexo 3), concluindo que as 23

alteraes encontradas representam o resultado direto do tratamento aplicado; 2- Que o tratamento, atravs do mtodo desenvolvido, produziu um resultado semelhante nos grupos tratados, considerando a anlise dos resultados do grupo 1 e 2 (grficos 7 e 8 do Anexo 3); 3- Que, comparativamente, os grupos testados pela primeira vez, grupos 1, 3 e 4 produziram resultados semelhantes, considerando-se as variveis observadas, demonstrando uma homogeneidade das amostras (grficos 7 e 8 do Anexo 3); 4- Analisando os resultados do Teste t do grupo 1, verificou-se que houve uma diferena muito significativa (p