Três Dimensões do Cinema

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    Copyright 2010 Centro de Tecnologia e Sociedade

    Esta obra licenciada por uma Licena Creative Commons

    Atribuio Uso No Comercial Compartilhamento pela mesma Licena, 3.0 Brasil.Voc pode usar, copiar, compartilhar, distribuir e modicar esta obra, sob as seguintes condies:1. Voc deve dar crdito aos autores originais, da orma especicada pelos autores ou licenciante.2. Voc no pode utilizar esta obra com nalidades comerciais.3. Se voc alterar, transormar, ou criar outra obra com base nesta, voc somente poder distribuir a obraresultante sob uma licena idntica a esta.4. Qualquer outro uso, cpia, distribuio ou alterao desta obra que no obedea os termos previstosnesta licena constituir inrao aos direitos autorais, passvel de punio na esera civil e criminal.

    Os termos desta licena tambm esto disponveis em:

    Direitos desta edio reservados EDITORA FGV, conorme ressalva da licena Creative Commons aquiutilizada:Rua Jornalista Orlando Dantas, 3722231-010 | Rio de Janeiro, RJ | BrasilTels.: 08000-21-7777 | 21-3799-4427Fax: 21-3799-4430E-mail: [email protected] | [email protected]/editora

    Impresso no Brasil | Printed in Brazil

    Os conceitos emitidos neste livro so de inteira responsabilidade dos autores.

    Graa atualizada segundo o Acordo Ortogrco da Lngua Portuguesa, em vigor no Brasil desde 2009.1a edio 2010

    PreParaodeoriginais : Paulo Telles | reviso : Adriana Alves e Andra Bivardiagramao : FA Editorao | CaPa: Gisela Abad e Mariana Meloimagem da caPa: Seagrave | Dream sti me. com

    Ficha catalogrca elaborada pelaBiblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

    Trs dimenses do cinema: economia, direitos autorais e tecnologia / Or-ganizadores Ronaldo Lemos, Carlos Aonso Pereira de Souza, Marlia Maciel. Rio de Janeiro : Editora FGV, 2010.

    132 p. : il.

    Inclui bibliograa.ISBN: 978-85-225-0808-2

    1. Cinema Aspectos econmicos. 2. Direitos autorais Cinema. 3.Indstria cinematogrca Brasil. 4. Indstria cinematogrca Nigria. I.Lemos, Ronaldo. II. Souza, Carlos Aonso Pereira de. III. Maciel, Marlia. II.

    Fundao Getulio Vargas.

    CDD 342.28

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    Sumrio

    Apresentao 7

    Defesa da concorrncia e a indstria de cinema no Brasil 11

    Jorge FagundesLus Fernando Schuartz

    A produo audiovisual sob a incerteza da Lei de

    Direitos Autorais 81

    Srgio Branco

    A indstria cinematogrfica nigeriana 107

    Charles Igwe

    Um olhar sobre o cinema nigeriano 125Ayo Kusamotu

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    Apresentao

    Este livro o resultado das pesquisas desenvolvidas pelo Centro deTecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da FGV, do Rio deJaneiro, no marco do projeto Cultura Livre. O CTS estuda a confuncia

    do desenvolvimento das tecnologias de inormao e comunicao comas novas ormas de produo e distribuio da cultura. Suas linhas depesquisa versam sobre novas mdias, modelos de negcio abertos, aces-so ao conhecimento e regulao da internet.

    O projeto Cultura Livre, que teve incio no ano de 2004, conta como apoio da Fundao Ford. Seu objetivo tem sido repensar e reestrutu-rar trs elementos essenciais sociedade da inormao: propriedadeintelectual, mdia e produo cultural. A pesquisa visa a dar subsdio ao

    surgimento de novos modelos de negcio e promoo de um acessomais amplo ao conhecimento.Ao longo dos anos, vrias oram as cenas culturais abordadas pelo

    projeto: da MPB de Noel Rosa ao enorme nicho cultural dos games,ou jogos eletrnicos, passando constantemente pela necessidade derefetir sobre a produo audiovisual. Essa preocupao emblem-tica do ato de que certas caractersticas inerentes cultura comosua maleabilidade, capacidade de mutao, apropriao pelo povo eexpanso transronteira so reoradas pela emergncia das novas

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    tecnologias. A produo audiovisual tem sido largamente transorma-da pelo avano tecnolgico e pelo modo como as perierias se apro-

    priam dessa tecnologia para produzir e distribuir as prprias narrati-vas visuais e assistir a elas.

    Este livro apresenta uma proposta multidisciplinar de abordagemdo tema da produo e do consumo de obras cinematogrcas e com-posto por trs trabalhos. O primeiro realiza uma anlise indita do setorde cinema e da cadeia de produo, exibio e distribuio de lmes, luz do direito concorrencial. A preocupao oi determinar em quemedida a organizao econmica do mercado de cinema no Brasil aci-

    lita ou diculta o acesso produo, distribuio e exibio dos lmes.Uma das questes abordadas a relao entre a estruturao do merca-do de cinema global, predominantemente controlado por Hollywood,em comparao realidade de pases em desenvolvimento. Essa pesqui-sa um trabalho desenvolvido pelo proessor Lus Fernando Schuartz,que oi proessor titular da FGV Direito Rio e conselheiro do Cade. Oestudo se deu em parceria com o economista Jorge Fagundes, mestre edoutor em economia pela UFRJ. A parte do texto dedicada ao estudo

    comparado do mercado de cinema na rica do Sul oi desenvolvidapela pesquisadora Heather Ford, vinculada ao Link Centre da Univer-sidade de Wits.

    O segundo estudo, intitulado A produo audiovisual sob a incer-teza da Lei de Direitos Autorais, aborda outra questo jurdica de gran-de importncia para o desenvolvimento da indstria cinematogrca noBrasil: a diculdade de se compreender quais so os limites de utilizaode obras alheias na produo de um lme. Em linguagem acessvel, o

    texto auxilia inclusive o leitor no ormado em direito a perceber os obs-tculos que eventualmente a propriedade intelectual pode representar aoprocesso criativo e apresenta interpretaes dos principais dispositivosaplicveis da Lei de Direitos Autorais. O trabalho de autoria do proes-sor Srgio Branco, da FGV Direito Rio, que combina tanto a ormao jurdica (mestre em direito civil pela Uerj) com aquela voltada para aproduo audiovisual (MBA em cinema documentrio pela FGV).

    O livro conta ainda com a transcrio da palestra realizada porCharles Igwe no seminrio Cinema Povo: a experincia do cinema ni-

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    Apresentao

    geriano, promovido pelo CTS, no Rio de Janeiro, em 11 de maio de2006. A escolha da Nigria decorreu do ato de esse pas ser o maior

    produtor de lmes em todo o mundo atualmente, alm de contar comum interessantssimo modelo de produo e distribuio de obras, ei-tas para serem comercializadas em DVD e por vendedores ambulantes,a preos acessveis. Os lmes vendem centenas de milhares de cpias,sustentando uma das indstrias mais promissoras do pas em termos degerao de empregos.

    A palestra transcrita possui um carter inormativo acerca da in-dstria nigeriana e cria uma relao de complementaridade com os

    artigos anteriores. Charles Igwe traz uma interessante refexo sobrecomo os produtores nigerianos tratam a questo da propriedade in-telectual e apresenta um modelo de mercado que tem conseguido su-plantar a concorrncia do cinema hollywoodiano, por meio de umacena cultural vibrante.

    Em complementao palestra do produtor Charles Igwe, o livrose encerra com um adendo, denominado Um olhar sobre o cinemanigeriano, de autoria de Ayo Kusamotu, presidente do Comit de Tec-

    nologia de Inormao e Comunicaes da Ordem dos Advogados daNigria. Trata-se de um texto apresentado como contribuio do autorao projeto de pesquisa Open Business, coordenado pelo CTS. O peque-no texto oerece um relato atual sobre as relaes entre o combate sinraes propriedade intelectual e a expanso da pirataria na Nigria.O autor aponta ainda para uma relao entre o sucesso do cinema nige-riano e o crescimento do mercado pirata de lmes.

    Com a reunio dos reeridos textos, o livro proporciona um olhar

    inovador e multidisciplinar acerca da produo audiovisual e mostra-setil a juristas, produtores culturais e demais interessados pela indstriado cinema. Materializa ainda a convico do CTS de que a prtica dapesquisa deve estar vinculada refexo sobre a realidade com atenopermanente s mudanas que entrelaam o direito, a tecnologia e a so-ciedade.

    A organizao e reviso tcnica dos textos que compem o livrooram realizadas por Ronaldo Lemos, Carlos Aonso Pereira de Souza eMarlia Maciel. O CTS grato dedicao de Bruno Magrani na coorde-

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    nao do projeto Cultura Livre por quase quatro anos. O seu entusias-mo e liderana oram undamentais para o sucesso do projeto, especial-

    mente no que se reere pesquisa (in loco) do cinema nigeriano.Para mais inormaes sobre as pesquisas realizadas pelo projeto

    Cultura Livre, acesse: www.culturalivre.org.br.

    Equipe do Centro de Tecnologia e Sociedade

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    Defesa da concorrncia e a indstria

    de cinema no Brasil

    Jorge Fagundes*Lus Fernando Schuartz**

    Introduo

    Este texto tem por objetivo realizar uma avaliao preliminar da in-

    dstria do cinema no Brasil, em particular nos segmentos de distri-buio e exibio de lmes, sob a perspectiva da poltica de deesa daconcorrncia. Trata-se, portanto, de uma anlise antitruste dos mer-cados relevantes associados cadeia vertical da indstria cinemato-grca nacional a partir das inormaes pblicas disponveis. Dada acarncia dessas inormaes, bem como o carter privado das polticascomerciais das distribuidoras, no buscamos elaborar um diagnsticoantitruste da indstria em tela, mas sim identicar um conjunto de

    questes relevantes para o aproundamento do conhecimento da so-ciedade sobre a indstria do cinema no Brasil, sob o enoque da deesada concorrncia.

    A indstria do cinema compreende, basicamente, trs atividadesdistintas: produo, distribuio e exibio em dierentes janelas ci-nemas, home video (aluguel de vdeos ou DVD e venda desses produtos),

    * Doutor em economia pela UFRJ. Scio da Fagundes Consultoria Econmica.** Foi proessor da FGV e conselheiro do Cade.

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    pay per view nas TVs pagas, exibio nos canais de TV por assinatura eTV aberta.

    A produo de lmes para cinema pode ser realizada por grandesestdios de Hollywood, verticalmente integrados distribuio, denvel mundial, ou por produtores independentes de dierentes pases. uma atividade que envolve a coordenao de diversos recursos pro-ssionais, tais como atores, diretores, roteiristas e tcnicos das maisdiversas reas (na maior parte dos pases, com exceo dos EstadosUnidos, de natureza pblica).

    Uma vez realizado, os direitos de exibio de um lme so licen-

    ciados para distribuidores durante certo tempo, para determinado ter-ritrio e em relao a uma janela em particular, embora a licena possaenvolver simultaneamente mais de um territrio e mais de uma janela.Os distribuidores so responsveis pela determinao da estratgia delanamento nmero de cpias, marketing, data de lanamento etc. e pela poltica de comercializao (valor dos aluguis para os exibi-dores, por exemplo).

    Para nalizar, os exibidores de lmes para cinema ou para outras

    janelas azem a distribuio nal para os consumidores, havendo ortesazonalidade nas vendas. Deve-se notar a crescente importncia das ou-tras janelas para a determinao das receitas totais de um lme, medidaque se diundem os aparelhos de DVD e as assinaturas de TV por assina-tura. De ato, as outras janelas j so responsveis por mais de 50% dasreceitas obtidas por um lme nos Estados Unidos. Como resultado, existeuma tendncia reduo do tempo de exibio dos lmes nas dierentesplataormas. de se notar tambm a relevncia do mercado internacio-

    nal: nos Estados Unidos, por exemplo, tal mercado responde por cerca de40% das receitas das majors (grandes estdios de Hollywood).1

    Para cumprir seu objetivo, alm desta introduo, o artigo est di-vidido em quatro partes. Primeiramente exporemos, de orma sinttica,os objetivos e as reas cobertas pelas polticas de deesa da concorrn-cia. Na sequncia, apresentaremos as principais preocupaes no

    1 Walt Disney, Sony Pictures, Paramount (Viacom), Twentieth Century Fox (News Corp.), War-ner (Time Warner) e Universal (Vivendi).

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    mbito da indstria de cinema das autoridades antitruste em outrasjurisdies, uma anlise da indstria no Brasil e, nalmente, um exa-

    me da indstria sob a perspectiva da deesa da concorrncia, denindomercados relevantes, inerindo o nvel das barreiras entrada e determi-nando o grau de rivalidade entre os grupos atuantes, isto , a existnciade poder de mercado.

    Breve viso das polticas de defesa da concorrncia

    A poltica de deesa da concorrncia, no que podemos denominar en-

    oque tradicional, ortemente baseada nas teorias de organizao in-dustrial que constituram o chamado paradigma estrutura-conduta-de-sempenho, tal como desenvolvido a partir dos anos 1950 pela Escolade Harvard. No que segue, so apresentadas as principais proposiesnormativas da verso contempornea desse enoque, que mantm anase estruturalista e se apresenta modernizado pela maior preocu-pao em levar em conta as ecincias que podem contrabalanar apresena de conguraes de mercado mais concentradas.2

    1. Objetivos e orientao geral

    A poltica de deesa da concorrncia pode ser denida como as aese os parmetros regulatrios do Estado que esto voltados para a pre-servao de ambientes competitivos e para desencorajar condutas an-ticompetitivas derivadas do exerccio do poder de mercado, tendo emvista preservar e/ou gerar maior ecincia econmica no uncionamen-

    to dos mercados.3

    2 Nos ltimos 20 anos, a economia e a prtica antitruste passaram por uma srie de transor-maes que introduziram, de orma crescente, argumentos de ecincia econmica, sobretudode carter produtivo, como justicativa para atos de concentrao e determinadas condutasempresariais. Como resultado, os rgos de deesa da concorrncia em diversos pases tendema avaliar no somente os eeitos anticompetitivos, como na antiga tradio, mas tambm ospotenciais impactos em termos de ganhos de ecincia econmica quando do julgamento decondutas horizontais e verticais, uses, aquisies e joint ventures entre empresas.3 Farina, 1996:37.

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    Tal poltica apresenta duas motivaes bsicas: (i) o reconheci-mento de que atitudes cooperativas e de atenuao da rivalidade en-

    tre rmas podem ainda que no necessariamente o aam terresultados negativos sobre a ecincia esttica, e mesmo dinmica,do sistema econmico; e (ii) o reconhecimento de que as rmas po-dem adotar condutas que gerem benecios privados a partir de umenraquecimento da concorrncia, tais como a prtica de preos pre-datrios para a eliminao de competidores ou o uso de contratos deexclusividade na distribuio de produtos, para evitar a entrada decompetidores potenciais.

    A partir dessas motivaes, a poltica de deesa da concorrn-cia busca atuar sobre as condies de operao dos mercados, tantoatravs de uma infuncia direta sobre as condutas dos agentes, comotambm por meio de aes que aetem os parmetros estruturais queas condicionam.4 No primeiro caso, a implantao da poltica consis-te basicamente em desestimular e coibir comportamentos ou prticasanticompetitivos tenham eles uma natureza vertical ou horizontal por parte de empresas que detm poder de mercado, ou seja, que

    so capazes, por suas aes, de gerar situaes em que a concorrncia inibida e os consumidores nais, direta ou indiretamente, prejudicados.Trata-se, portanto, de evitar, por meio da ameaa de punio, as condu-tas empresariais que visem a restringir a ao dos concorrentes, limitaro alcance da competio por intermdio de algum tipo de coluso e/ouimpor aos compradores (vendedores) condies desavorveis na aqui-sio dos produtos.

    Normalmente, tais condutas so classicadas em dois tipos: (i)

    as prticas restritivas horizontais, que reduzem a intensidade da con-corrncia, aetando as interaes entre as empresas oertantes de ummesmo mercado, abrangendo, por exemplo, a combinao de preos, acooperao entre concorrentes e a construo de barreiras entrada; (ii)as prticas restritivas verticais, que limitam o escopo das aes de doisagentes que se relacionam como compradores/vendedores ao longo dacadeia produtiva, ou nos mercados nais, incluindo condutas como a

    4 Fagundes, 2003:11-17.

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    discriminao e a imposio de listas de preos por parte dos abrican-tes aos distribuidores.

    J a interveno de carter estrutural, que tambm pode ser hori-zontal ou vertical, procura impedir o surgimento de estruturas de mer-cado que aumentem a probabilidade de abuso de poder econmico porparte das empresas que o integram. O controle dos assim chamadosatos de concentrao verticais est ocado nas uses, aquisies oujointventures entre empresas que se relacionam ou podem se relacionar ao longo de uma determinada cadeia produtiva, como vendedores ecompradores. J nos atos de concentrao horizontais, a preocupao

    das autoridades antitruste est direcionada para aquelas situaes queenvolvem empresas concorrentes em um mesmo mercado, podendolevar a uma eliminao total ou parcial da rivalidade entre osagentes envolvidos.

    Assim, os controles estruturais buscam limitar a ocorrncia e a ex-tenso de uses, aquisies oujoint ventures que visem exclusivamen-te dominao de mercados e/ou que impliquem reduo do grau decompetio nos mercados nas quais se realizam, sem a devida contra-

    partida em termos de gerao de ecincias produtivas. Evidentemente,no se supe que todos os atos de concentrao sejam motivados pelodesejo de monopolizar mercados e gerem eeitos anticompetitivos. Abusca por ecincia em termos, por exemplo, de maior aproveitamentode economias de escala ou reduo de inecincias gerenciais, tambmconstitui importante ator explicativo da ocorrncia de uses, aquisi-es e dierentes ormas de parceria entre empresas.

    A orma especca pela qual as polticas de deesa da concorrncia

    enrentam essas questes varia de pas para pas, embora vrias seme-lhanas possam ser observadas, sobretudo no que diz respeito ao ob-jetivo bsico da legislao antitruste de exercer algum tipo de controlesobre atos de concentrao e sobre as condutas das empresas que de-tm poder de mercado.5 Ademais, pode-se identicar, para cada rea deaplicao das polticas de deesa da concorrncia, certas linhas mestrasno que diz respeito concepo econmica que as guia.

    5

    Para um exame comparado das legislaes antitruste em diversos pases, ver Brault (1995)

    .

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    2. Fuses e aquisies horizontais

    A anlise antitruste de atos de concentrao de natureza horizontal realizada por meio dos seguintes passos bsicos: (i) estimativas das par-ticipaes das empresas no mercado relevante; (ii) avaliao do nveldas barreiras entrada; e (iii) exame das ecincias econmicas gera-das pela operao. Em geral, operaes que impliquem um aumentoconsidervel do grau de concentrao em mercados caracterizados porelevado nvel de barreiras entrada e baixo dinamismo tecnolgico,alm de no apresentarem evidncias da gerao de ganhos de ecincia

    produtiva signicativos, tendem a no ser autorizadas pelas autoridadesantitruste.No que se reere mensurao do aumento do grau de concen-

    trao, vale destacar que a delimitao das dimenses do mercado eita por um instrumento conceitual especco da anlise econmicano mbito da deesa da concorrncia, incorporando simultaneamenteos aspectos da elasticidade da oerta e da demanda. Assim, o mercadorelevante de uma operao denido como aquele no qual, em uma si-tuao hipottica, um eventual monopolista poderia exercer seu poderde mercado, elevando preos e auerindo lucros extraordinrios.6

    Delimitar as ronteiras de tal mercado envolve dois procedimentos:7

    identicar as empresas que, seja por abricarem produtos que sosubstitutos prximos no consumo, seja por possurem instalaesprodutivas que podem rapidamente e sem custos signicativos serredirecionadas para a abricao dos produtos envolvidos na opera-o, impedem que um eventual monopolista na oerta destes ltimos

    possa exercer poder de mercado. No jargo da rea, tal procedimentodene a dimenso produto do mercado relevante; e

    delimitar a rea geogrca dentro da qual os consumidores semcustos signicativos e em um intervalo de tempo razovel podem,

    6 Possas, 1996.7 Para uma exposio detalhada dos procedimentos, ver os Horizontal Merger Guidelines(1992)publicados pelas autoridades antitruste norte-americanas (FTC e DOJ).

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    por sua vez pressuposto a partir do incremento do grau de concentraoe maniesto num suposto uturo aumento de preos que reduz o exce-

    dente do consumidor.9 H, basicamente, duas abordagens para o trata-mento das ecincias econmicas, undamentadas em duas concepesdistintas sobre os objetivos das polticas de deesa da concorrncia: (i)a abordagem do excedente total; e (ii) a abordagem do excedente doconsumidor. Os grcos a seguir ilustram as duas abordagens.

    Grfico1Eficincias e excedente total

    Fonte:Fagundes,2003.

    Supondo um caso extremo, de uma uso que gere um monoplio,mas que tambm implique, dada a presena, por exemplo, de orteseconomias de escala, reduo nos custos marginais supostos cons-

    tantes para c1

    < c0

    , o preo cobrado seria p(c1), em que p(c1) > c0

    porhiptese. Nesse caso, os consumidores sero prejudicados com a perdade excedente na magnitude dada pela rea (A + B), enquanto o consr-

    9 O excedente do consumidor a quantia que o comprador est disposto a pagar pelo bem me-nos a quantia que ele paga de ato. No grco 1, esse montante representado pela rea acimado preo e abaixo da curva da demanda. O excedente do produtor, por sua vez, a quantia rece-bida pelo vendedor menos o custo de produo do produto. O excedente total o valor que oscompradores esto dispostos a pagar pelo bem menos o custo de produo para os vendedores.C. Mankiw, 2001:142, 152 [nota do revisor].

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    p1

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    Nesse caso, no h perda de peso morto, tampouco redistribuiode renda (A e B = 0, no grco 1), pois os preos ps-operao so pelo

    menos iguais aos preos pr-operao11e, por hiptese, h sempre redu-o de custos marginais, de modo que haja um aumento do excedenteagregado do produtor (rea retangular C > 0).12 Note-se, portanto, queo critrio de aumento da ecincia de Pareto satiseito necessariamente,j que, aps a operao, os produtores tero experimentado ganhos debem-estar e os consumidores ou estaro na mesma situao anterior, outero obtido ganhos de utilidades. Da mesma maneira, o critrio orma,o critrio distributivo nesse caso, baseado em um juzo de valor que

    estabelece que estratgias empresariais redutoras da concorrncia nopodem implicar transerncia de renda dos consumidores para os pro-dutores tambm oi satiseito, dado que o preo de equilbrio no maior do que aquele prevalecente antes do ato de concentrao (ou daimplantao da conduta anticompetitiva).

    3. Integrao vertical

    A poltica de deesa da concorrncia atua sobre movimentos de integra-o vertical13 que envolve aquisies e uses entre empresas perten-centes a uma mesma cadeia produtiva. Tradicionalmente, duas oram aspreocupaes das autoridades antitruste ace aos movimentos de inte-grao vertical:14 o aumento das barreiras entrada; e o surgimento de

    oreclosures, isto , situaes nas quais uma empresa impede que outrastenham acesso ao seu mercado.15

    11

    Pelo contrrio, podem ocorrer incrementos no excedente agregado do consumidor, se p1 < pc.12 O leitor deve notar que, nesse caso, as redues de custos que interessam para a aplicaodo critrio doprice-standard so aquelas reerentes aos custos marginais da rma que, em meujuzo, podem ser substitudos, para eeitos operacionais, pelos custos variveis.13 De acordo com a tipologia da integrao vertical, pode haver integrao para trs ou pararente. A integrao vertical para trs se d quando a empresa incorpora um processo pro-dutivo anterior quele j dominado por ela. Inversamente, a integrao para rente envolve aempresa em etapas produtivas posteriores [nota do revisor].14 C., por exemplo, Hovenkamp (1994:337-339) e Viscusi (1995:224).15 Existem outros argumentos ligados aos eeitos anticompetitivos das integraes verticais,tais como o seu uso como mecanismo de viabilizao da prtica de discriminao de preos edo aumento da acilidade para controlar cartis. Em particular, os movimentos de integrao

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    Em ambos os casos, a emergncia de possveis eeitos anticompe-

    titivos depende da existncia de poder de mercado em pelo menos um

    dos mercados envolvidos na integrao vertical devendo-se notar

    que a presena de poder de mercado condio necessria, mas no

    suciente, para que tais eeitos anticompetitivos resultem de um ato de

    concentrao vertical.

    No primeiro caso, trata-se da possibilidade de que, ao limitar a ca-

    pacidade de seus compradores/vendedores de adquirir outros produtos

    ou servios que no os seus, um abricante ou prestador de servios

    crie srios obstculos para a entrada de seus concorrentes no mercado,bloqueando os canais de distribuio disponveis.16 Se tal possibili-

    dade se concretizar, o novo entrante seria obrigado a ser verticalmente

    integrado, produzindo e revendendo seus prprios produtos e servios,

    ato que poderia gerar um aumento signicativo de seus custos.

    Um exemplo hipottico que torna clara a problemtica envolvi-

    da seria um mercado oligopolizado, ormado por quatro empresas de

    mesmo porte econmico e com os mesmos market shares, sendo que

    duas delas realizam integrao vertical para rente. Nessa situao,um novo entrante potencial enrentaria maiores barreiras entrada

    vis--vis aquelas vigentes antes da integrao vertical. So vrias as

    explicaes para o enmeno, tais como economias de escala ou re-

    querimentos mnimos de capital.17

    vertical tambm oram interpretados como orma de estender o poder de mercado j detido

    por uma empresa no seu mercado de origem para outro mercado (leverage theory). Essa teoria,do ponto de vista econmico, tem sido muito criticada, visto que a gerao de inecincias so-ciais lquidas somente ocorreria sob um conjunto muito restrito de hipteses. C. Hovenkamp(1994:338-341) e Scherer e Ross (1990:527).16 C. Sullivan e Harrison (1988:179).17 Aps a integrao, o tamanho do mercado disponvel poderia car reduzido para novosentrantes, visto que parte dos distribuidores no poderiam adquirir seus produtos ou servios.Nesse contexto, a emergncia de problemas com economias de escala mais provvel: o tama-nho do mercado ainda livre pode no ser sucientemente grande para permitir a construode uma planta mnima eciente. J os requerimentos mnimos de capital aumentam medidaque, para vencer os obstculos criados pela integrao, o novo concorrente dever entrar simul-taneamente nos dois mercados: produo e distribuio de produtos ou servios.

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    No segundo caso, a restrio vertical provoca o echamento deum mercado para um conjunto de empresas. Na verdade, o argu-

    mento deoreclosure bastante semelhante ao anterior, aplicando-se,no entanto, s empresas j instaladas. Por exemplo, imaginemos ummercado ormado por um nico abricante de mquinas e por trsempresas distribuidoras dessas mquinas. Uma integrao verticalpara rente por parte do abricante monopolista echaria o merca-do de revenda de mquinas para as duas outras empresas distribui-doras concorrentes.

    Recentemente, um novo argumento econmico em relao aoseeitos anticompetitivos derivados da integrao vertical oi desenvolvi-do, partindo da possibilidade de que esta gere um aumento dos custosde rivais da empresa que a realiza.18 A ideia bsica que a integraovertical para trs pode gerar alteraes no comportamento das rmasremanescentes no mercado de insumos, de modo que o preo delessora um aumento aps a operao, prejudicando os concorrentes darma integrada no mercado comprador dos insumos. O grco 3 ilustrao argumento.

    Se a rma A adquire um ornecedor de insumos, tornando-seautossuciente em relao ao mesmo, esta pode passar a praticar opreo de transerncia po, igual ao custo marginal19 do ornecedor.Supondo que o mercado de insumos permanecesse competitivo apsa integrao vertical, as novas curvas de demanda e oerta, D e S,continuariam a se interceptar ao preo po, de modo que os rivais darma A no incorreriam em nenhuma desvantagem. Se a estruturado mercado de insumos se altera pela integrao vertical, de ormaa que as empresas remanescentes passem a se comportar monopo-listicamente, o novo preo do insumo para os rivais ser p*, geradoa partir da quantidade Q*, em que a receita marginal (RM) iguala ocusto marginal S.

    18 Ordover, Saloner e Salop, 1990.19 O custo marginal representa a medida do aumento do custo total de produo, se or produ-zida uma unidade adicional do bem. C. Mankiw (2001:278) [nota do revisor].

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    Grfico3 Aumento dos custos dos rivais devido integrao vertical

    Fonte:Viscusi,VernoneHarrington,15:228.

    4. Fuses e aquisies conglomeradas

    As uses ou aquisies conglomeradas isto , realizadas entre em-

    presas situadas em mercados relevantes distintos so vistas como po-tencialmente anticompetitivas luz das teorias da concorrncia poten-cial, em suas duas vertentes, a teoria do entrante potencial percebido( perceived potential entrant) e a do entrante potencial eetivo (actual

    potential entrant).20 Na primeira delas, os possveis eeitos anticompeti-tivos de uma operao de aquisio, uso ou associao entre uma em-presa j instalada no mercado e um entrante potencial resultam de umareduo da ameaa de entrada que estaria impedindo uma elevao depreos e margens. J na segunda, supe-se que um processo de entradaj estaria em vias de ser desencadeado pelo competidor potencial par-ticipante da operao, de modo a evitar que uma estrutura de mercadomais desconcentrada e supostamente mais competitiva se con-gure no uturo prximo.21

    20 Na verdade, o uso do termo teoria nesse contexto impreciso, embora j aa parte do jar-go na rea, pois o que se tem so duas hipteses acerca de como a concorrncia potencial aetao desempenho do mercado, o que veremos a seguir.21 Para uma exposio dessas teorias, ver Ross (1993:360-361) e Kaplan (1980).

    p*

    D

    Q* Q1 Q0

    po

    D

    SS

    RM

    Quantidade

    Preo

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    A aplicao da primeira das teorias pressupe a existncia de certascondies estruturais no mercado relevante, a saber: (i) o grau de con-

    centrao das vendas deve ser bastante elevado, visto que se o mercadoj se comporta de orma competitiva, a presena do competidor poten-cial ser incua; (ii) a empresa adquirente deve ser a nica ou uma daspoucas em condies de realizar a entrada, de modo que seu desapa-recimento enquanto competidor potencial seja suciente para aetar ospreos dos produtos do mercado; e (iii) a aquisio no resulte em in-cremento da competio no mercado relevante. Tal incremento ocorre,em geral, quando a empresa adquirida no detm posio dominante.

    A segunda teoria depende menos de atores subjetivos reerentes sexpectativas das empresas estabelecidas, pois est baseada no argumen-to de que a competio no mercado relevante teria eetivamente sidoincrementada caso a empresa entrante tivesse realizado investimentosna instalao de nova capacidade, em vez de optar pela compra de umaempresa j existente. Contudo, sua aplicao requer que as autoridadesantitruste realizem um exerccio contraactual cuja conabilidade nemsempre satisatria, de maneira que o maior problema na utilizao

    dessa teoria est relacionado com a prova de que a concorrente poten-cial iria, de ato, eetivar sua entrada no mercado relevante; ou seja, noornecimento da evidncia de que a entrada, via adio de capacidade,ocorreria.22

    Na verdade, ambas as teorias so requentemente criticadas porserem excessivamente especulativas e exigirem das autoridades anti-truste uma capacidade de analisar e prever decises privadas e suasconsequncias, o que no existe. Alm disso, as condies estruturais

    necessrias para que os eeitos anticompetitivos ocorram se vericamcom pouca requncia. Isso tem levado vrios autores a adotarem umaposio ctica quanto capacidade de essas teorias de entrantes po-tenciais percebidos ou eetivos constiturem um instrumento convel

    22 Para uma apresentao sinttica das condies que aumentam a probabilidade da validadedos argumentos associados teoria da concorrncia potencial, ver Hovenkamp (1994:250);Sullivan e Harrison (1988:191-196); ou os 1984 Non-Horizontal Merger Guidelines do Departa-mento de Justia dos Estados Unidos.

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    para, na grande maioria dos casos, sugerir a proibio ou imposio derestries a uma operao de conglomerate merger.23

    As uses e aquisies conglomeradas tambm podem ser vistascomo uma orma de aumentar o poder de mercado de uma das empre-sas no(s) seu(s) mercado(s) original(is) de atuao um argumentodesenvolvido pela assim denominada entrenchment theory. Em geral, taleeito est ligado s seguintes possveis condutas ps-aquisio, todasrelacionadas ao aumento de poder de mercado da rma adquirente:

    as possibilidades de acordos de exclusividade na compra ou venda de

    mercadorias aumentam, na medida em que o leque de produtos abrica-dos pela rma adquirente maior. Tais possibilidades so claras quandoexiste monoplio em um dos mercados nos quais a empresa atua;

    vendas casadas cam acilitadas, quando a uso ou aquisio ocor-re entre empresas que abricam produtos dentro da mesma cadeiaprodutiva; e

    a prtica de preo predatrio e estratgias de bloqueio entrada denovas rmas tambm se tornam mais actveis por exemplo, o po-

    der nanceiro associado empresa ps-aquisio, relativo ao domniode um mercado monopolizado, pode capacit-la para o exerccio deuma poltica de preos predatrios em mercados mais competitivos.

    5. Prticas restritivas verticais

    As prticas restritivas verticais abrangem uma ampla variedade de con-dutas e relaes contratuais entre compradores e vendedores ao longo

    de uma determinada cadeia produtiva, em sua maior parte consistindoem limitaes impostas pelos abricantes de produtos ou servios sobreas aes de agentes econmicos nas etapas anteriores ou posteriores sua na cadeia de produo.24 Nesses casos, as empresas vendedoras

    23C., por exemplo, Horowitz (1981), Kaplan (1980), Sullivan e Harrison (1988:191-963) eHovenkamp (1994:502).24 Sullivan e Harrison, 1988:147.

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    (compradoras) tentam impor s rmas compradoras (vendedoras) deseus produtos ou servios determinadas restries sobre o unciona-

    mento normal de seus negcios.Entre as numerosas prticas verticais, destacam-se as seguintes, na

    literatura e na jurisprudncia internacionais:25

    fixaodePreosderevenda (resale price maintenance ou RPM), pelaqual um produtor estabelece os preos mximos, mnimos ou r-gidos a serem praticados na venda nal pelos distribuidores ourevendedores de seus produtos;

    acordosdeexclusividade (exclusionary practices), pelos quais duas em-presas relacionadas verticalmente acordam realizar suas transaesde orma exclusiva tipicamente, um produtor ou distribuidor/re-vendedor se compromete a comprar ou negociar com exclusividadeprodutos de um dado ornecedor;

    vendacasada (tying ou tie-in), em que uma empresa vende outra ouao usurio nal um conjunto de produtos e/ou servios apenas deorma conjunta, recusando-se a comercializ-los separadamente;

    recusadenegociao (reusal to deal), quando uma empresa (que tantopode ser o ornecedor/produtor de determinado bem ou servio quan-to o seu comprador/distribuidor) se recusa a vend-lo ou compr-lo deoutra empresa em condies consideradas normais no mercado;

    discriminaodePreos, que consiste na prtica de ministrar preosdierentes para clientes dierentes;

    restriesterritoriaisedebasedeclientes, em que tipicamente umprodutor/ornecedor limita contratualmente a rea de atuao dosseus revendedores ou distribuidores, seja em termos geogrcos ouquanto a certas caractersticas dos clientes; e

    Preosnolineares (ou aindaranchise ee, ou tarias em duas partes),em que, contratualmente, o montante recebido pelo distribuidor,por exemplo, composto por duas partes: uma xa (ranchise ee),independentemente da quantidade comercializada, e outra varivel.Como resultado, o custo unitrio de aquisio do produto pelo dis-

    25 Fagundes, 2006.

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    tribuidor diminui como uno do volume comprado do produtor,encorajando a compra de mais unidades.

    De orma geral, as principais, ainda que no exclusivas, preocu-paes dos rgos de deesa da concorrncia nos casos de restriesverticais encontram-se nos seus potenciais eeitos anticompetitivos decarter horizontal, sobretudo no que diz respeito criao de barreiras entrada nos mercados de comercializao do produto; e na coordena-o das aes dos distribuidores no sentido de diminuir a rivalidade e acompetio entre eles.

    Nos casos que implicam o aumento das barreiras entrada ou aemergncia deoreclosure, as condutas verticais de uma empresa ornece-dora de produtos ou servios (ou compradora de insumos) podem tornar-se, portanto, anticompetitivas, sendo reprimidas, em geral, pela legislaoantitruste de diversos pases. Os contratos associados a tais condutas so,na verdade, um mecanismo alternativo opo de integrao vertical porparte da empresa vendedora, constituindo, segundo Viscusi e colabora-dores (1995:239), uma espcie de integrao contratual.

    No entanto, para que as prticas restritivas verticais tenham eeitosanticompetitivos, duas condies bsicas devem estar presentes, segun-do Hovenkamp (1985):

    a empresa ornecedora de produtos ou servios geradora das restri-es verticais deve possuir poder de mercado, ou seja, elevada parti-cipao no mercado relevante; e

    a conduta vertical deve eliminar parcela substancial dos canais dedistribuio dos produtos e servios dos concorrentes potenciais no

    mercado relevante. Isto , uma parcela substancial do mercado re-levante deve ser aetada pela restrio vertical sob julgamento, demodo a elevar as barreiras entrada para concorrentes potenciais.

    Por outro lado, tais condutas tambm so capazes de gerar e-cincias econmicas, em especial no que tange economia de custosde transao. Evidentemente, as prticas restritivas verticais so umcomportamento legtimo, desde que as mesmas permitam a alocaocom mais ecincia, ou seja, com menor dispndio de recursos eco-

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    nmicos, de mercadorias e de servios do produtor ao consumidornal, sem restries desnecessrias ao princpio da livre concorrncia

    e sem gerarem reduo do excedente dos consumidores. Por esse mo-tivo, as condutas verticais ao contrrio das horizontais (cartis epreos predatrios) so analisadas pela regra da razoabilidade (ruleo reason), que determina o exame, caso a caso, do balano dos eeitosanticoncorrenciais vis--vis os provveis ganhos de ecincia de cadaconduta vertical especca.

    A defesa da concorrncia e a indstria do cinema: algumas lies da experinciainternacional

    As autoridades antitruste dos pases mais desenvolvidos e com maiortradio em deesa da concorrncia tm concedido, historicamente, indstria do cinema, uma especial ateno. As razes para isso, possi-velmente, no esto apenas em preocupaes especicamente concorren-ciais de que certas prticas restritivas possam resultar de estruturas demercado relativamente concentradas. Alm disso, plausvel supor que

    razes de poltica cultural tambm ajudem a explicar, em algum grau,esse lugar de destaque. De ato, a indstria do cinema um importantesegmento da denominada indstria cultural, a qual a sociedade mo-derna delegou boa parte da responsabilidade pelo ornecimento dos in-sumos usados na ormao das vises do mundo, convices e opiniesindividuais e coletivas que, por sua vez, infuenciam as decises dasquais se alimenta o sistema poltico.

    Na ateno dispensada indstria do cinema pelas autoridades

    antitruste ressoa, consequentemente, um pouco da crena de que aconcorrncia um ator importante para assegurar a constituio e areproduo de uma esera cultural sucientemente pluralista, descen-tralizada, autnoma e democrtica. Evidentemente, maior competio,no sentido tcnico-antitruste, no resulta necessariamente em maiordesconcentrao de poder econmico na indstria cinematogrca, emesmo esta, por si s, no de modo algum garantia de valor do que seproduz, distribui e exibe em um determinado lugar e tempo. O ponto que a concentrao de mercado viabiliza certas restries horizontais

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    e verticais concorrncia quepodem prejudicar o desenvolvimento so-ciocultural de um pas ou regio ao obstaculizar, articialmente, certas

    maniestaes culturais, o acesso aos canais mais relevantes de diuso,no limite impedindo o seu surgimento como resultado da ausncia deincentivos econmicos.

    Mesmo considerando o potencial eeito catalisador que essaspreocupaes de poltica cultural possam exercer, no entanto, dicilacreditar que a indstria do cinema experimentar grau semelhante deinterveno por parte de uma autoridade antitruste como o observadona primeira metade sobretudo nas dcadas de 1930 e 1940 do

    sculo passado nos Estados Unidos. Em alguns casos, que passaram aser conhecidos posteriormente como Paramount cases, tal intervenoveio a alterar radicalmente a ace da indstria norte-americana. Comoconsequncia de denncia oerecida em 1938 pelo Departamento deJustia do governo americano contra a Paramount Pictures, oi denidoem 1948, pela Suprema Corte, um conjunto de medidas determinandoa cinco dos oito maiores distribuidores americanos (Loews, Paramount,Twentieth Century-Fox, RKO Pictures e Warner Brothers) que alienas-

    sem os cinemas a eles pertencentes (vale dizer, que se desintegrassemverticalmente). Determinou-se ainda a esses e a trs outros distribuido-res no verticalmente integrados (Columbia Pictures, Universal Picturese United Artists) que se abstivessem de praticar condutas qualicadasde monopolistas e discriminatrias pela Corte, entre as quais: a xa-o de preos mnimos para contratos de licenciamento, o block booking(i.e., o condicionamento do licenciamento de um determinado lme aquisio da licena para a exibio de outro lme), o broad blind selling

    (i.e., a negativa a exibidores da opo de recusar, em um perodo ra-zovel de tempo e aps inspecionar seu contedo, certo percentual delmes licenciados s escuras), e a vedao negociao de contratosde licenciamento que no cinema a cinema e lme a lme.26

    Parece haver certa discrdia entre comentadores de que o conjuntode medidas consubstanciadas nos Paramount decrees teria sido desne-cessrio e eventualmente contraprodutivo, sobretudo para os agentes

    26 Ver, a respeito, Whitney, 1955; De Vany e McMillan, 2004.

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    era que, com o m do block booking e o ato de as majors terem quelicenciar os seus lmes em um mercado aberto e todos os cinemas se

    tornassem desimpedidos para exibir lmes independentes, a qualidadedos lmes aumentaria. O resultado lquido, supostamente, teria refe-tido um incremento da qualidade mdia da produo cinematogrcasubsequente aos Paramount decrees, que veio porm acompanhado deum aumento dos preos nas bilheterias, explicado, entre outros atores,pela elevao nos custos de distribuio associada proibio da prticade block booking.

    Independentemente do juzo de valor que se venha a azer ex post a

    respeito do desecho do caso Paramount, importante que a discussodas suas implicaes para ns de ormulao de polticas pblicas (porexemplo, a discusso sobre a necessidade ou no de interveno no se-tor e, em caso positivo, se sua orma mais apropriada seria a intervenoantitruste de um tipo estrutural, comportamental ou misto) seja rela-cionada discusso das condies de adequao do juzo ex ante quea autoridade tem que azer quando conrontada com uma denncia deprtica anticompetitiva, ou a apresentao de um ato de concentrao

    (e.g., uma integrao vertical entre um dado distribuidor e um dadoexibidor). Ex ante, o problema de deciso da autoridade antitruste umproblema de deciso sob incerteza, em que, normalmente, nem ospayos,nem as probabilidades associadas aos dierentes estados do mundo, soconhecidos com uma margem de erro sucientemente pequena. Almdisso, a existncia de divergncias quanto aos eeitos da deciso tomada ede mais de uma explicao plausvel para os atores determinantes de seueventual insucesso relativizam o valor da experincia passada enquanto

    guia para a deciso utura. Nessas circunstncias, a deciso adequada,em boa parte das vezes, a que resulta da aplicao ao caso concreto dealguma heurstica ou regra de bolso que seja tecnicamente consistenteem principio, por exemplo: se a empresa X detm poder de mercado e integrada verticalmente a jusante, deve-se cuidar para que X no venhaa discriminar os seus concorrentes a jusante, aumentando articialmenteos seus custos ou eliminando-os do mercado.

    A nosso ver, essas caractersticas gerais dos processos de aplicaodo direito da concorrncia ajudam a entender por que as preocupaes

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    maniestadas atualmente nas jurisdies com maior tradio nessa reaso, em geral, similares quelas que originaram a atuao do governo

    norte-americano no caso Paramount. Indicaes nesse sentido podemser extradas de um documento recentemente publicado pela OECD(1996) e intitulado Competition Policy and Film Distribution,29 queinclui contribuies de seis pases (Estados Unidos, Portugal, ReinoUnido, Alemanha, Austrlia e Sua), alm daquela da Comisso Euro-peia, a respeito das suas respectivas polticas de deesa da concorrn-cia relacionadas ao segmento de distribuio de lmes. Na parte inicialdesse documento (p. 8-9), que sumariza a discusso realizada entre os

    representantes das mencionadas jurisdies, encontram-se as seguintesasseres sobre os eeitos competitivos que podem estar ligados a inte-graes e/ou restries verticais (a jusante ou a montante) envolvendodistribuidoras:

    By controlling the distribution o their lms, producers and distributors can

    improve economic eciency and ensure that their lms are shown. But in

    addition, i concentration in these industries is high, and entry dicult, verti-

    cal integration may squeeze out competition rom independent producers andexhibitors. When examining the principal restrictive practices implemented,

    it is thereore important to distinguish between those which improve eciency

    and those which have a negative eect on competition.30

    Isso soa como boa e velha ortodoxia antitruste aplicada anlise deintegraes verticais. No caso particular, a ideia evitar a criao de situa-es em que o distribuidor integrado verticalmente veja-se incentivado

    a discriminar exibidores no pertencentes ao mesmo grupo econmico,mas sem deixar de levar em conta os possveis ganhos de ecincia pro-

    29Disponvel em: .30 Traduo livre: Ao controlar a distribuio de seus lmes, produtores e distribuidores podemmelhorar a ecincia econmica e garantir sua exibio. Mas, alm disso, se a concentraodessas indstrias elevada e a entrada dicil, a integrao vertical pode minar a concorrnciade produtores e exibidores independentes. Por isso, ao examinar as principais prticas restri-tivas implementadas, importante azer a distino entre aquelas que melhoram a ecincia eaquelas que tm um eeito negativo sobre a concorrncia.

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    dutiva gerados pela integrao. Quanto s estratgias de discriminaocitadas no reerido documento, interessante assinalar que algumas delas

    so (e.g., o block booking e o blind selling), em uma medida no despre-zvel, essencialmente as mesmas que aquelas vericadas quase 60 anosantes pelas autoridades antitruste norte-americanas:

    Cinema operators claim that producers and distributors treat cinemas die-

    rently according to whether or not they are integrated. Cinemas belonging to

    circuits and also vertically integrated allegedly are given greater opportunity to

    exhibit blockbusters, and are also granted deductions in rental ees when they

    show two lms, an extended exhibition period and special preview exhibitions.

    On the other hand, cinemas which are not part o a circuit and not vertically

    integrated may nd themselves subject to a number o constraints, in particu-

    lar as regards:

    First runs, which allow maximum revenue to be gained rom lms shown in

    the orm o a series o distribution in cinemas across the country, producers

    generally reserve this type o distribution or cinemas with a high turnover,

    most oten belonging to a powerul circuit. Films are then distributed in ci-

    nemas with a lower turnover until their box-oce potential is exhausted.

    The length o the distribution period, the requirement that this period be

    relatively long (4 weeks or more) as a condition o licensing popular lms

    reduces the ability o cinemas with a limited number o screens to meet con-

    sumer demand and aggravates the problems encountered by independent

    producers.

    The setting o a clearance period between the end o a lms rst run and

    the time when it may be reshown in cinemas which, particularly i this is

    a long period, allows more income to be obtained rom the rst run. I the

    clearance period is very long a lm will exhaust its box-oce value and in

    consequence the operators who have negotiated subsequent distribution o

    the lm will in reality be out in the cold. Moreover, what income there is to

    be earned rom redistribution will be captured by video and television.

    Zoning, which consists o setting geographic boundaries within which a given

    cinema will have exclusive exhibition rights. This practice ensures that the

    cinema operator will obtain the largest possible audience or his lm and

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    will prevent other cinemas nearby rom competing or the viewers who want

    to see that particular lm. In deense o the practice, however, it is pointed

    out that a reasonable zone o exclusivity is necessary to induce the cinema

    operator to provide adequate promotion or the lm.

    Block booking, which is a orm o tying, and which is the practice whereby

    authorization to show a lm or a package o lms is granted on condition

    that the operator also takes one or more other lms rom the distributor.

    This provides an outlet or poorer quality lms or those with limited box-

    oce potential. Where a producer is linked by contract with the biggest

    stars, cinema operators are well advised to take his less commercial lms i

    they want to have the more commercial ones. This practice, which prohibitsbidding or lms cinema by cinema, makes it impossible or small competi-

    tors to obtain rst runs and gives an advantage to those who are aliated to

    a major network.

    Blind bidding, which is the practice whereby a distributor requires an opera-

    tor to order a lm without prior viewing.

    Advance payments, which are made by the cinema operator beore distribu-

    tion o the lm as security or to eect payment under a distribution agree-

    ment.A guarantee, which is a minimum amount the cinema operator guarantees

    the distributor in return or authorization to show a given lm.31

    31 Traduo livre: Operadores de cinema armam que os produtores e distribuidores tratamos cinemas de orma dierente, caso estejam ou no integrados. Cinemas que pertencem aoscircuitos e tambm aqueles verticalmente integrados tm maior oportunidade de exibir lmesblockbuster. Alm disso, a eles so concedidos descontos nas taxas de aluguel quando exibemdois lmes, quando os lmes tm um perodo de exposio prolongada ou quando h exibies

    prvias especiais. Por outro lado, os cinemas que no azem parte de um circuito integradoverticalmente podem encontrar-se sujeitos a uma srie de limitaes, nomeadamente no quediz respeito: aos lanamentos, que permitem rendimento mximo a ser obtido a partir de exibies sob a orma

    de uma cadeia de distribuio nos cinemas de todo o pas. Os produtores geralmente reservama distribuio desses lmes para cinemas com grande volume de negcios, na maioria das vezespertencentes a um circuito poderoso. Posteriormente, os lmes so distribudos nas salas de cine-ma com um menor volume de negcios, at seu potencial de receita estar esgotado.

    a durao do perodo de exibio e a exigncia de que este perodo seja relativamente longo(quatro semanas ou mais) como condio para licenciamento de lmes populares. Isso reduza capacidade dos cinemas que tm um nmero limitado de salas para atender a demanda dosconsumidores e agrava os problemas enrentados pelos produtores independentes.

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    De outro lado, importante no deixar tambm de perceber asdescontinuidades. Essas esto no somente ou, pelo menos, no

    principalmente no maior peso relativo que passou a ser atribudo,em geral, aos benecios esperados associados a integraes e restriesverticais vis--vis os correspondentes custos esperados, mas, sobretudo,nas modicaes pelas quais passou a indstria desde ento: The decreesremain in eect, but in the intervening almost hal century the markets have

    changed signicantly [os decretos permanecem em vigor, mas, em quasemeio sculo de interveno, os mercados mudaram signicativamente],diz a contribuio norte-americana ao relatrio publicado pela OECD

    (p. 49). No est claro at que ponto isso seria um ator a ser levadoem conta para explicar a relativa inao observada mais recentementenos Estados Unidos, no mbito da aplicao da legislao antitruste acasos concretos envolvendo os mercados de distribuio e exibio, ou

    a xao de um intervalo entre o nal do perodo de lanamento de um lme e o momentoem que pode ser reexibido nos cinemas. Se o perodo longo, permite maior rendimento aser obtido pelo lanamento. Se o perodo de intervalo muito longo, o lme vai esgotar seu

    potencial de receita e, em consequncia, os operadores que tiverem negociado a posteriordistribuio do lme caro prejudicados. Alm disso, o rendimento a ser ganho a partir daredistribuio ser capturado pelo vdeo e televiso.

    ao zoneamento, que consiste em xar limites geogrcos dentro dos quais um determinadocinema ter direitos de exibio exclusivos. Esta prtica garante que o cinema ir obter omaior pblico possvel para o seu lme e impedir outros cinemas nas proximidades de com-petir pelos espectadores que querem ver esse lme em particular. Em deesa dessa prtica,no entanto, salienta-se que uma zona de exclusividade razovel necessria para induzir ooperador de cinema a promover adequadamente o lme.

    ao bloco de reserva, que uma orma de venda casada. A autorizao para exibir um lmeou um pacote de lmes concedida com a condio de que o operador leve outros lmes

    da distribuidora. Isso proporciona sada para lmes de qualidade inerior ou com limitadopotencial de receita. Quando um produtor est vinculado por contrato com as grandes es-trelas, os operadores de cinema so aconselhados a aceitar seus lmes menos comerciais, sequiserem obter os mais comerciais. Esta prtica, que probe azer oertas para comprar lmesde cinema a cinema, torna impossvel para os pequenos concorrentes obter lanamentos e duma vantagem para aqueles que so liados a uma rede maior.

    a oerta cega, que a prtica na qual uma distribuidora exige que a operadora requisite umlme sem t-lo visto previamente.

    aos pagamentos antecipados, que so eitos pelo operador de cinema antes da distribuio dolme, como segurana ou para eeito de pagamento decorrente de um acordo de distribuio.

    a garantia, que um montante mnimo que o operador de cinema garante distribuidora, emtroca de autorizao para mostrar um determinado lme.

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    at que ponto essa inao poderia, ela mesma, ser caracterizada justa-mente como uma das consequncias da eccia dos Paramountdecrees

    no sentido de impedir a consolidao de condies para e reduzirincentivos avorveis a adoo de prticas anticompetitivas por partedas empresas. Seja como or, o que deveria ser sublinhado o reco-nhecimento da necessidade de uma anlise emprica das caractersticasestruturais dos mercados em questo e do comportamento dos agenteseconmicos que desses participam como pano de undo para a ormula-o de diretrizes de poltica antitruste e, a partir da, para o julgamentodos casos concretos.

    Nesse sentido, um trabalho digno de meno oi aquele realizado,entre 1997 e 1998, pelo comissioner da agncia de deesa da concor-rncia australiana, a Australian Competition and Consumer Comission,Ross Jones, publicado em maro de 1998, com o ttulo Developmentsin the cinema distribution and exhibition industry. Trata-se de um estu-do minucioso, encomendado tendo em vista a existncia de inmerasdenncias que haviam sido dirigidas ACCC por parte de pequenosexibidores de cinema contra os grandes distribuidores. O trabalho con-

    tm uma anlise da estrutura dos mercados de distribuio e exibio,os potenciais eeitos competitivos das prticas em questo, bem comorecomendaes para a soluo dos problemas e confitos identicados.Entre as prticas denunciadas pelos exibidores, desponta no relatrio ada exigncia de perodos mnimos de exibio, vale dizer, o ato de osdistribuidores requererem dos exibidores que exibam um determinadolme por um nmero mnimo de sesses dirias e por um nmero m-nimo de semanas, por exemplo: cinco sesses dirias durante a primei-

    ra semana, duas sesses dirias durante as duas semanas seguintes, eassim por diante. Os eeitos econmicos para os exibidores associados aesse tipo de prtica variam em uno do nmero de salas que possuam,sendo mais prejudiciais aos pequenos exibidores:

    The eect o minimum exhibition periods diers between multiplex operators

    and those operating only a ew screens. Multiplex operators with at least six

    screens generally have little diculty in complying with minimum exhibition

    periods. A lm may be successul or say three o its ve week season. However,

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    the multiplex exhibitor can take new titles in other screens to compensate or

    the last two weeks poorer return. Exhibitors with only a ew screens may not

    have this fexibility (Jones, 1998:20).32

    Quanto aos seus potenciais eeitos anticompetitivos, arma o rela-trio um pouco mais adiante (p. 22):

    [T]he argument that minimum requirements are necessary to justiy the costs

    o prints and advertising to ensure adequate returns to distributors bears

    urther scrutiny. Distributors decide the amount they will spend on promo-

    ting a lm. It could be argued that it is reasonable to allow the market tothen decide whether or not such decisions are appropriate. I a lm is in high

    demand, distributors should have little concern that an exhibitor would not

    try to maximize box-oce revenue by showing the lm as oten as demand

    requires. On the other hand, i a lm perorms poorly and a distributor re-

    quires sessions in excess o those justied by demand, it may be that the

    distributor is merely trying to use extended minimum periods to block the

    release o more competitive product to the detriment o other distributors,

    exhibitors and consumers.The minimum exhibition requirements may reduce competition between dis-

    tributors. A major distributor would not release a title on the same day as its

    competitor released a major title because there may be insucient screens.

    Independent, smaller distributors appear to be particularly disadvantaged be-

    cause the major distributors tie up holiday periods with long minimum exhi-

    bition requirements, thereby blocking smaller rms. Consumer choice is again

    reduced. However, even in the absence o such exhibition requirements, distri-

    butors will still move their release dates according to the perceived box-ocestrength o a rival distributors lm.

    32 Traduo livre: O eeito dos perodos de exposio mnima varia em relao aos operadoresmultiplex e aqueles que operam em apenas algumas salas. Em geral, operadores multiplex compelo menos seis salas tm pouca diculdade em cumprir os perodos de exibio mnima. Umlme pode ser bem-sucedido por trs das suas cinco semanas de temporada, por exemplo.No entanto, o exibidor multiplex pode mostrar novos ttulos em outras salas para compensaro menor lucro das duas ltimas semanas. Expositores com menos salas podem no ter essafexibilidade.

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    In summary, minimum exhibition requirements exceeding the period in which

    the exhibitor would otherwise have played the lm might restrict consumer

    choice and harm smaller exhibitors. As the smaller exhibitors are orced to

    orego particular titles they claim their commercial viability is diminished to

    the advantage o their major exhibitor rivals.33

    Segundo Jones, apesar da ausncia de evidncias sucientes deque as prticas dos distribuidores, incluindo as exigncias de perodosmnimos, constituam violaes legislao de deesa da concorrnciaaustraliana, elas seriam em princpio danosas aos exibidores, espe-

    cialmente aos pequenos e independentes, e indicariam, no mnimo,uma signicativa e potencialmente problemtica assimetria de poderde barganha entre os primeiros e os ltimos. interessante notar quea parte conclusiva do relatrio no se limita simples constatao deque as reclamaes dos exibidores poderiam nada mais ser do quesintomas de confitos de natureza privada decorrentes dessa assime-

    33 Traduo livre: O argumento de que requisitos mnimos so necessrios para justicar os

    custos de impresso e de publicidade e para assegurar retorno nanceiro adequado aos distri-buidores merece uma anlise mais aproundada. Os distribuidores decidem o montante que vogastar na promoo de um lme. Pode-se argumentar que razovel permitir que o mercadodecida se tais decises so adequadas ou no. Se o lme apresenta alta demanda, os distribui-dores no precisam se preocupar com a possibilidade de um exibidor no tentar maximizar suareceita, deixando de exibir o lme com a requncia que a demanda exige. Por outro lado, se umlme vende mal e o distribuidor requer um nmero de sesses para alm daqueles justicadospela demanda, pode ser que o distribuidor esteja meramente tentando azer uso de perodos m-nimos mais longos para bloquear o lanamento de produtos mais competitivos, em detrimentodos outros distribuidores, exibidores e consumidores.

    Os requisitos mnimos de exibio podem reduzir a concorrncia entre os distribuidores.

    Uma grande distribuidora no lanaria um ttulo no mesmo dia em que sua concorrente lanouum ttulo importante, pois pode haver um nmero insuciente de salas de exibio. Pequenosdistribuidores parecem ser particularmente desavorecidos, porque os grandes distribuidorescasam os perodos de rias com longos perodos de exibio mnima, bloqueando dessa ormaas empresas menores. A escolha do consumidor novamente reduzida. No entanto, mesmo naausncia de tais requisitos de exibio, os distribuidores ainda ajustaro suas datas de lana-mento de acordo com o potencial de rendimento do lme de uma distribuidora rival.

    Em resumo, requisitos mnimos de exibio por perodos superiores aos quais o exibidorteria originalmente mantido o lme em cartaz podem limitar a escolha dos consumidores ecausar danos aos exibidores menores. Como os exibidores menores so orados a renunciaralguns ttulos, a sua viabilidade comercial diminui, levando vantagem dos exibidores rivaismaiores.

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    tria de poder e, portanto, alheias competncia de uma autoridadede deesa da concorrncia. Inspirado em uma deciso adotada ante-

    riormente pelo governo ingls,34 o relatrio recomenda a elaboraoconjunta (por distribuidores e exibidores) de um mecanismo pararesoluo de disputas (p. 54) que preveja procedimentos adequadosde mediao, cuja elaborao deveria ser precedida pela elaborao deum cdigo de condutas que trate de regular, de modo consensual egeral, os termos contratuais mais crticos e preocupantes do ponto devista dos exibidores.35

    34 A deciso data de 1996 e baseia-se nas concluses de um relatrio realizado em 1994 pelaMonopolies and Merger Comission do Reino Unido. A deciso torna ilegal, para os distribui-dores, condicionar a oerta de um lme a um exibidor a que este se comprometa a exibi-lo porum perodo mais longo do que aquele determinado na deciso. Note-se que esta no oi a nicadeciso dessa natureza tomada pelo governo do Reino Unido com relao oerta de lmes paraexibio. Em 1989, tambm como consequncia de um relatrio do MMC, o governo decidiuproibir a incluso, em contratos entre distribuidores e exibidores, de clusulas de exclusividadecom certos contedos. Em julho de 2004, o Oce o Fair Trading (a agncia inglesa de deesada concorrncia) elaborou um documento intitulado Review o orders ollowing 1983 and1994 MMC Monopoly Reports on the Supply o Films or Exhibition in Cinemas, recomen-

    dando ao secretrio de Estado para o Comrcio e a Indstria que seja revogada a Ordem de1989, porm mantida a Ordem de 1996.35 Essa recomendao, no entanto, acompanhada de algumas ressalvas: The dispute settlingmechanism would not prevent any party rom approaching the ACCC and requesting investigation

    o potential breaches o the Trade Practices Act. I the industry proves unwilling to develop a code

    o behaviour and dispute settling mechanism voluntarily, it is recommended that the ACCC consider

    other options to improve industry practices. Approaches to consider would relate to mandatory codes

    and/or action against possible anti-competitive structural eatures o the distribution and exhibition

    industry. I the industry proves unable to develop a code it may be appropriate or the ACCC to request

    the Government to consider a mandatory code, enorceable under the Trade Practices Act. This may

    lack the fexibility o an industry developed code, but may be an alternative i there is lack o industry

    support or some voluntary mediation processes. (p. 55) (em negrito no original). Traduo livre:O mecanismo de resoluo de litgios no impediria qualquer das partes de procurar a ACCCe solicitar a investigao de possveis violaes ao Trade Practices Act. Se a indstria no semostrar disposta a desenvolver um cdigo de conduta e mecanismos de resoluo de litgios deorma voluntria, recomendvel que a ACCC avalie outras opes para melhorar as prticasda indstria. Abordagens a considerar seriam cdigos obrigatrios e/ou aes contra possveiscaractersticas estruturais anticoncorrenciais da distribuio e da indstria de exibio. Se aindstria se mostrar incapaz de desenvolver um cdigo, pode ser adequado que a ACCC peaao governo para considerar a elaborao de um cdigo obrigatrio, aplicvel ao abrigo do TradePractices Act. Pode ser que alte a ele a fexibilidade de um cdigo que tenha sido desenvolvidopela indstria, mas pode ser uma alternativa se houver alta de apoio da indstria para os pro-cessos de mediao voluntrios.

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    Antes de encerrarmos esta seo, caberia ressaltar que a ateno dasautoridades antitruste estrangeiras no est restrita s prticas verticais

    (especialmente quelas que envolvam a relao entre distribuidores e exi-bidores). No relatrio preparado por Jones para a autoridade australiana,por exemplo, l-se uma recomendao no sentido de que a ACCC se ocupede investigar mais detidamente umajoint venture envolvendo grandes exi-bidores australianos, tendo em vista o elevado grau de concentrao quecaracteriza o mercado de exibio no pas (p. 56). Isso poderia ser inter-pretado como uma espcie de alerta para que a autoridade seja cuidadosana utilizao que deve azer de seus poderes de controle estrutural horizon-

    tal no tocante aos segmentos de distribuio e exibio de lmes.Em regra, autoridades antitruste que operam em jurisdies que

    preveem tanto o controle ex ante de concentraes econmicas comoa represso ex post de condutas anticompetitivas, devem conrontar-secom a deciso de conerir maior ou menor peso primeira espcie decontrole vis--vis a segunda. Uma suposio plausvel acerca dessa esco-lha (de poltica antitruste) que, quanto mais conante estiver a autori-dade na sua capacidade de monitorar, detectar e reagir de modo ecaz a

    condutas anticompetitivas, menor, ceteris paribus, ser sua preocupaocom a interveno preventiva, vale dizer, a nase alocada no controleestrutural. Uma vez que, por outro lado, essa capacidade , sempre,impereita e insuciente, certa dose de coragem institucional e, em es-pecial, de rigor no uso do merger control, indispensvel para protegere promover a concorrncia em um dado mercado relevante.

    Particularmente, evitar a elevao do grau de concentrao emum mercado de distribuio ou exibio j concentrado, sobretudo se

    acompanhada de um aumento da participao de mercado de uma daslderes, pode ser necessrio para a eccia de uma poltica racional dedeesa da concorrncia que esteja direcionada indstria do cinema.

    Um exemplo recente ornecido pelas autoridades antitruste nor-te-americanas as quais, vale notar, so possivelmente as mais bemaparelhadas do mundo em termos de recursos humanos e materiais. Em16 de abril de 1998, o governo ederal americano e o dos estados deNova York e de Illinois ingressaram em juzo contra as empresas SonyCorporation, Loews, Cineplex Odeon e Seagram alegando que a uso

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    envolvendo a segunda e a terceira violaria a legislao antitruste norte-americana (especicamente, a seo 7 do Clayton Act):

    The merger would combine the two leading theatre circuits in both Manhat-

    tan and Chicago and give the newly merged rm a dominant position in both

    localities: in Manhattan, the newly merged rm would have a 67% market

    share (by revenue) and in Chicago, the newly merged rm would have a 77%

    market share (by revenue). As a result, the combination would substantially

    lessen competition and tend to create a monopoly in the markets or theatrical

    exhibition o rst-run lms in both Manhattan and Chicago.36

    No mesmo dia, o Departamento de Justia publicou press releaseinormando que havia decidido aprovar a operao aps as empresasenvolvidas terem concordado em alienar, a terceiros, 25 salas de exibi-o nas regies metropolitanas de Manhattan e Chicago:37

    The proposed settlement requires the deendants to divest 14 theaters in Ma-

    nhattan and 11 in the Chicago area to a buyer or buyers, acceptable to the

    Department, that will continue to operate them as movie theaters. The divested

    properties include such prominent theaters as the Ziegeld and the Chelsea in

    Manhattan, and 600 North Michigan and the Watertower in Chicago. In both

    Manhattan and Chicago, the divestitures represent slightly more than the lea-

    ding rm would be acquiring in both the number o screens and revenue. Ater

    the divestitures take place, the merged company will be no larger in either city

    than the leading rm in that city was beore the merger.38

    36 Citado no Competitive Impact Statement, que oi apresentado na mesma data (16 de abrilde 1998) pela diviso antitruste do Departamento de Justia dos Estados Unidos perante aDistrict Court or the Southern District o New York. Traduo livre: A operao de usocombinaria os dois principais circuitos de cinema em Manhattan e Chicago e daria nova em-presa resultante uma posio dominante nos dois locais: em Manhattan, a empresa resultanteda uso teria aproximadamente 67% do mercado (em receita) e em Chicago teria por volta de77% do mercado (em receita). Como resultado, a combinao diminuiria substancialmente aconcorrncia e tenderia a criar um monoplio nos mercados de exibio de lmes recentementelanados em Manhattan e em Chicago.37 A notcia est acessvel em: . Oacordo oi sacramentado pela Justia.38 Traduo livre: A soluo proposta exige que os rus alienem 14 salas em Manhattan e 11na rea de Chicago a um comprador ou compradores, aceitos pelo Departamento, e que conti-

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    A indstria do cinema no Brasil

    1. Panorama geral do mercado de cinema nacional

    Em 2005, oram vendidos, no Brasil, cerca de 90 milhes de ingres-sos de cinema, magnitude que representa um crescimento de somente5,5% em relao quela observada em 1995 (85 milhes) e menos dametade da mdia da dcada de 1970 (de 209 milhes de ingressos/ano).Tal pblico est concentrado nas capitais, sendo que So Paulo e Rio deJaneiro respondem por cerca de 25% do nmero de ingressos vendidos

    no pas (2005). A renda total de bilheteria em 2005 oi de cerca de R$644 milhes (Filme B).O grco 4 apresenta a evoluo do nmero de ingressos vendi-

    dos desde 1971. Em que pese o ato da taxa mdia de crescimento donmero de ingressos vendidos na dcada atual ter sido de 2,2% a.a., aobservao do grco 4 no deixa dvidas sobre a existncia de umatendncia estrutural de declnio da indstria em termos de pblico,enmeno certamente relacionado, no Brasil, diuso da TV na dcadade 1970 e dos aparelhos de VHS e DVD (criando o mercado de homevideo) nas dcadas de 1990 e nos anos recentes.

    Associada evoluo do nmero de ingressos vendidos, encontra-se a mudana do nmero de salas ao longo do tempo. Como ilustra ogrco 5, a evoluo do nmero de salas de exibio acompanha o mo-vimento de venda de ingressos, tendo experimentado, historicamente,um orte declnio entre o m da dcada de 1970 e a primeira metadedos anos 1990. Recentemente, a partir de 1996, observa-se uma re-tomada do crescimento do nmero de salas, ainda que, em 2005, tal

    nmero (2.045 salas) osse semelhante quele vericado no incio dosanos 1980.

    nuaro a operar os cinemas. As propriedades alienadas devem incluir teatros importantes comoo Ziegeld e o Chelsea, em Manhattan, e o 600 North Michigan e o Watertower, em Chicago.Em Manhattan e Chicago, as alienaes devem representar pouco mais do que a empresa lderiria adquirir tanto em relao ao nmero de salas como em receita. Aps a alienao ocorrer, aempresa resultante da uso no pode ser maior do que a primeira empresa era antes da usoem qualquer das cidades.

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    Grfico4 Evoluo do pblico de cinema no Brasil (1971-2005)

    Fonte:ElaboraoprpriaapartirdabasededadosdaFilmeB(2005).

    Grfico5 Evoluo do nmero de salas (1971-2005)

    Fonte:ElaboraoprpriaapartirdabasededadosdaFilmeB(2005).

    Note-se que essas salas esto localizadas em somente 8% dos mu-

    nicpios nacionais (454 municpios), sendo que apenas seis estados (SP,RJ, MG, DF, RS e PR) e dez municpios (So Paulo, Rio de Janeiro, Bra-slia, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Campinas, Salvador, Reciee Goinia) congregam, respectivamente, 71% e 40% do nmero de salasno pas.

    O pblico mdio por sala/ano vem declinando desde a dcada de1970. De ato, em 2005, tal indicador oi de 43.893, contra 94.253 em1971. O recente crescimento da oerta em termos de nmero de salas

    no se dispe de dados atuais sobre a capacidade oertada em termos

    300.000.000250.000.000

    200.000.000

    150.000.000

    100.000.000

    50.000.000

    0

    Pblico

    171

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    Salas

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    de assentos potenciais/ano39 no oi acompanhado pelo incrementoproporcional ao nmero de ingressos vendidos. Com eeito, observa-se

    que o comportamento do pblico mdio por sala no perodo ps-1997,quando ocorreu o recente movimento de crescimento do nmero desalas, oi irregular, variando de um mximo de 57.473, em 2004, a ummnimo de 43.863, em 2005. De acordo com Luca (2003:149), o graude ociosidade na oerta de lugares estaria em torno de 80%.

    Grfico6Pblicomdioporsala(171-2005)

    Fonte:ElaboraoprpriaapartirdabasededadosdaFilmeB(2005).

    Existe, no entanto, uma orte disperso em torno da mdia, comomostra o grco a seguir, relativo aos 60 maiores municpios em termosde pblico e renda em 2005. De ato, para esse subgrupo, a mdia eo desvio padro do pblico por sala so de, respectivamente, 52.271

    e 16.536 (32% da mdia). Note-se que tais municpios em termos depblico e renda respondem, respectivamente, por cerca de 82% e 86%do pblico e da renda total em 2005.

    39Estima-se que houvesse, em 1975, cerca de 1 bilho de lugares oertados por cerca de 3.500salas, contra somente 400 milhes em 1990 (1.200 salas). A despeito dessa reduo, nesse pe-rodo, observa-se um incremento do nmero mdio de assentos por sala/ano, passando de 285mil em 1975 para 333 mil em 1990. Ver Luca (2003:146).

    100.000

    0.000

    80.000

    70.000

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    Grfico7 Pblico por sala dos 60 maiores municpios em termos de pblico

    e renda (2005)

    Fonte:ElaboraoprpriaapartirdabasededadosdaFilmeB(2005).

    Os indicadores anteriores apresentam indcios de que o incre-mento da oerta em termos do nmero de sala a partir de 1997 pos-sivelmente teve eeitos positivos sobre a demanda total por ingres-

    sos. Provavelmente, o aumento da concorrncia, com a chegada dosexibidores estrangeiros, do conceito de cinema multiplex a partir de1997 e da ampliao das regies e municpios com salas de cinemaimplicou um estmulo para o incremento do pblico.40 Entretanto,tal estmulo parece ter sido suplantado pela prpria concorrnciaentre os exibidores, gerando uma situao de instabilidade no p-blico mdio por sala.41

    O Preo Mdio do Ingresso (PMI) no Brasil em US$ (com dla-

    res constantes de 2005, pelo ndice de Preo ao Consumidor) tambm

    40Segundo Luca (2003:147-149), o crescimento do nmero de ingressos vendidos concentrou-se basicamente nas novas salas multiplex. Alm do mais, segundo o autor, o crescimento donmero de ingressos vendidos deve-se menos ampliao do pblico e mais ao incremento darequncia de ida ao cinema por parte dos 9 milhes de consumidores das classes A e B queormam o pblico nacional da indstria.41 Ainda que, na indstria do cinema, o pblico mdio por sala/ano possa ser infuenciado, ob-viamente, pelo sucesso dos lmes lanados num determinado ano. Dessa orma, o aumento dopblico no decorre necessariamente ou exclusivamente do incremento do nmero de salas.

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    Pblico/sala

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    apresenta um comportamento irregular, com ortes oscilaes ao longodo perodo analisado. Entretanto, observa-se uma tendncia redu-

    o do PMI mdio em dlares constantes: aps uma orte elevao nadcada de 1980, quando a mdia (ponderada) oi de US$ 5,2, o PMImdio (ponderado) da dcada de 1990 e entre 2000 e 2005 declinou,respectivamente, para US$ 4,3 e US$ 2,7. Finalmente, note-se que, ape-sar dessa tendncia, o PMI atual bem superior ao observado na mdia(ponderada) da dcada de 1970, de cerca de US$ 1,65 (em dlaresconstantes de 2005).

    Grfico8 Evoluo do PMI em US$ constantes de 2005

    7,507,006,506,005,505,004,504,003,503,002,50

    2,001,501,00

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    PMIemUS$

    Fonte:ElaboraoprpriaapartirdabasededadosdaFilmeB(2005).

    No entanto, o leitor deve notar que o preo do ingresso apresentagrande disperso em torno de sua mdia, variando bastante dentro

    de um mesmo municpio, dentro de um mesmo estado, entre os die-rentes estados e entre os grupos exibidores (ver prximo item), comomostra a tabela 1, com o PMI dos 60 maiores municpios em termosde pblico e renda em 2005. Por exemplo, o PMI mdio em 2005 noBrasil oi de R$ 4,43 (embora a mdia ponderada pela renda tenhasido bem mais alta, de R$ 7,41), com desvio padro elevado, de R$1,33 (30% da mdia).

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    Tabela1 PMI dos 60 maiores municpios em 2005

    Municpio UF PMI

    Barueri SP ,12

    RiodeJaneiro RJ 8,8

    SoPaulo SP 8,62

    Braslia DF 8,60

    SoJoodeMeriti RJ 8,51

    Guarulhos SP 8,26

    SantoAndr SP 7,80

    SoJosdosCampos SP 7,74

    Niteri RJ 7,70

    NovaIguau RJ 7,64

    Campinas SP 7,5

    Manaus AM 7,58

    SoBernardodoCampo SP 7,58

    Salvador BA 7,46

    VilaVelha ES 7,31

    Jaboato PE 7,1

    Taguatinga DF 7,16

    Canoas RS 7,13

    Curitiba PR 7,02

    PortoAlegre RS 6,1

    Cuiab MT 6,8

    Goinia GO 6,85

    Fortaleza CE 6,84

    BeloHorizonte MG 6,82

    NovoHamburgo RS 6,82

    Santos SP 6,77

    Florianpolis SC 6,75

    SoGonalo RJ 6,72

    CampoGrande MS 6,71

    Natal RN 6,68

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    4 Trsdimensesdocinema

    Municpio UF PMI

    Osasco SP 6,62

    Vitria ES 6,62

    SoLus MA 6,57

    Belm PA 6,55

    RibeiroPreto SP 6,54

    TaboodaSerra SP 6,46

    Jundia SP 6,45

    Macei AL 6,45

    CaxiasdoSul RS 6,44

    Recife PE 6,38

    Blumenau SC 6,35

    Uberlndia MG 6,24

    Mau SP 6,16

    Londrina PR 6,0

    Piracicaba SP 6,04

    Aracaju SE 5,77

    PontaGrossa PR 5,72 Joinville SC 5,6

    PraiaGrande SP 5,63

    SoJosdoRioPreto SP 5,60

    AparecidadeGoinia GO 5,55

    Maring PR 5,40

    Araraquara SP 5,37

    Sorocaba SP 5,2

    Bauru SP 5,27Uberaba MG 5,21

    FeiradeSantana BA 5,12

    Contagem MG 5,0

    JooPessoa PB 5,0

    JuizdeFora MG 5,0

    Fonte:FilmeB.

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    Finalmente, os grcos 9 e 10 apresentam a evoluo da renda debilheteria e da renda mdia por sala em US$ constantes de 2005, desde

    1971. Note-se que, semelhana de outros indicadores, a renda real emUS$ apresenta uma tendncia de declnio nas ltimas dcadas. Aps oauge da dcada de 1980, a renda real jamais logrou se recuperar, situan-do-se, na mdia dos ltimos 15 anos, em torno de US$ 285 milhes/ano. A renda real mdia entre 2000 e 2005, de US$ 240 milhes, so-mente 70% daquela associada dcada de 1970, de US$ 343 milhes.

    Grfico Evoluo da renda com bilheteria em US$ constantes de 2005

    Fonte:ElaboraoprpriaapartirdabasededadosdaFilmeB(2005).

    A renda mdia real por sala/ano apresenta um comportamento se-melhante, com exceo da orte recuperao na metade da dcada de1990. Cumpre observar que o crescimento do nmero de salas, do p-blico total e do PMI real nos anos recentes no resultou em uma tendn-

    cia ao aumento da renda mdia real por sala/ano. Em outras palavras, oator que parece estar prevalecendo entre todas as variveis o declniodo pblico mdio por sala/ano.

    J a renda mdia por sala e o desvio padro para subgrupo ormadopelos 60 maiores municpios em termos de renda, em 2005, so de R$373.064 por ano (acima da renda mdia por sala para o pas em 2005,de cerca de R$ 315.239 por ano) e R$ 128.700 por ano (34% da m-dia), respectivamente (ver grco 11 e anexo).

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