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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
Processo no 1485108.2TPLSB.Ll
ACORDAM, EM CONFERÊNCIA, NA 3" SECÇÃO CRIMINAL DO TRIBUNAL
DA RELAÇÁO DE LISBOA
I. Relatório
No Processo de Contra-Ordenação no 32/07, A COMISSÃO DO
MERCADO DE VALORES MOBILIARIOS (C.M.V.M.) CONDENOU
- <<GALP ENERGIA, s.G.P.s., s.A.", PELA PRATICA, A TÍTULO
DOLOSO, DE UMA CONTRA-ORDENAÇÃO, PREVISTA E PUNIDA PELOS
ARTIGOS 24S0, NO1, 38S0, NOS 1, ALÍNEA A) E 3 E 394O, No 1, ALÍNEA I), TODOS
DO CÓDIGO DOS VALORES MOBILIÁRIOS, AO PAGAMENTO DE UMA
COIMA NO VALOR DE €50.000 (CINQUENTA MIL EUROS).
Com base nos seguintes factos, que então sc deram como provados:
1. A arguida é uma sociedade emitente.
2. A data da prática dos factos a arguida possuía acções admitidas a negociação no
mercado regulamentado Eurolist by Euronext.
3. A arguida tem por objecto a gestão de participações sociais de outras sociedades do
sector energético, como forma indirecta de exercício de actividades económicas.
4. Do grupo empresarial, cujas participações são geridas pela arguida, fazem parte a
Petrogal - Petróleos de Portugal, S.A., a Gás de Portugal, S.G.P.S., S.A., a Galp Gás
Natural, S.A. e a Lisboagás, Sociedade Distribuidora de Gás Natural de Lisboa, S.A.
5. A arguida opera em duas áreas do sector energético: petrolífero e do gás natural.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
6. A arguida tem uma participação de 9% num consórcio que explora o Bloco 14, nas
águas profundas do offshore de Angola.
7. Do referido consórcio fazem parte, além da arguida, as sociedades Chevron,
Sonangol, ENI e TOTAL.
8. Em Dezembro de 2006 foi efectuada uma perfuração no poço Malange-1 no referido
Bloco 14.
9. Em Março de 2007 o poço Malange-1 foi testado, tendo sido determinada a sua
capacidade produtiva e a boa qualidade do petróleo.
10. No dia 8 de Agosto de 2007, às 16 horas e 25 minutos, Pedro Gama (da Chevron)
enviou um e-mail para a arguida e restantes membros do consórcio, afirmando que a
informação relativa à descoberta de petróleo no Bloco 14, poço Malange-1, seria
anunciada pela Sonangol na manh3 do dia 9 de Agosto de 2007.
11. No referido e-mail, Pedro Gama afirmava tambCm que a Chevron iria divulgar a
referida informação no dia 10 de Agosto às 13 horas (hora de Angola), 5 horas (hora do
Estado da Califómia) e pedia que, por cortesia para com o operador, a informação não
fosse divulgada fora de Angola antes da referida hora.
12. No dia 9 de Agosto de 2007:
i) AS 13 horas, foi noticiado (em inglês) pela Agência Reuters o anúncio, por parte da
Chevron Corporation (Chevron), da descoberta de petróleo no seu consórcio em
Angola.
ii) AS 13 horas e 26 minutos, nova noticia (em inglês) da Agência Reuters fez referência
ao facto de a arguida ter uma participação de 9% no consórcio liderado pela Chevron
em Angola.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
iii) Às 15 horas e 45 minutos voltou a surgir no site da Agência Reuters a mesma notícia
que referia a participação da arguida no consórcio, traduzida para português.
iv) As 16 horas e 34 minutos, a mesma notícia foi divulgada no site do jornal de
Negócios.
13. Para além de ser idónea para influenciar o preço, após a respectiva divulgação, a
referida informaçâio efectivamente influenciou o preço das acções da arguida negociadas
no mercado regulamentado Eurolist by Euronext na sessão do dia 9 de Agosto de 2007.
Com efeito,
14. Após quedas acentuadas, em sintonia com o mercado e o sector, até cerca das 14
horas e 18 minutos, a cotação das acções da arguida iniciou posteriormente um
movimento de subidas significativas até a hora de fecho de mercado.
15. No dia 9 de Agosto de 2007, a cotação do título Galp Energia registou os seguintes
valores:
i) Às 8 horas, 10,88 euros;
ii) Às 10 horas e 22 minutos: 10,75 euros;
iii) Às 14 horas e 18 minutos: 10,33 euros;
iv) Às 14 horas e 55 minutos: 10,50 euros;
v) Às 16 horas e 35 minutos: 10,87 euros.
16. O movimento de subida da cotação das acções da arguida foi contrário ao sentido do
índice PSI20 e do índice europeu do sector petrolífero, o Dow Jones Eurostoxx Oil Gas,
que registaram ambos quedas na sessão do dia 9 de Agosto de 2007.
17. A Chevron tinha a data urna capitalização bolsista de 126.280,2877 milhões de
Euros, ou seja, 14,0094 vezes superior a da arguida, que era de 9.013,9551 milhões de
Euros;
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18. A Chevron tem uma participação de 31% no consórcio que explora o Bloco 14, nas
águas profundas do offshore de Angola e a arguida tem uma participação de 9% no
referido consbrcio;
19. Assim, a participação da Chevron no consórcio é apenas 3,4444 vezes superior à da
arguida.
20. A partir do dia 9 de Agosto de 2007, às 13 horas, a informação da descoberta de '
petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado
na Agência Reuters.
21. A arguida apenas divulgou a ocorrência do facto as 17 horas e 38 minutos do dia 9
de Agosto de 2007.
22. A arguida agiu consciente e voluntariamente na prática dos supra referidos factos,
uma vez que:
i) Tinha conhecimento da descoberta de petróleo pelo consórcio, do qual faz parte com
uma participação de nove por cento, que explora o Bloco 14 nas águas profundas do
offshore de Angola;
ii) Sabia que, As 13 horas do dia 9 de Agosto de 2007, a informação relativa a essa
descoberta passou a ser pública; e
iii) Não quis divulgar imediatamente essa informação..
A arguida impugnou judicialmente, nos termos do art. 59" do Regime
Geral das Contra-ordenações (doravante RGCO), aprovado pelo DL no 433/82 de 27/10
e sucessivamente alterado, a decisão administrativa que a condenou, tendo formulado as
seguintes conclusões:
I. A decisão recorrida aplicou à ora recorrente uma coima de € 50.000 pela alegada ". . .
infracção dolosa do dever de informação relativa a descoberta de petróleo no Bloco 14,
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poço Malange-1, em Angola, pelo consórcio do qual faz parte com uma participação de
9%, em violação do artigo 248.0, n." 1 do CdVM ... ";
11. De acordo com o referido na respectiva fundamentação, está apenas em causa a
alegada não divulgação pela ora Recorrente de "informação relativa à descoberta de
petróleo ", após a mesma ter sido divulgada por outra participante no Consórcio;
111. A ora Recorrente participa indirectamente no Consórcio em causa, através da sua
participada PETROGAL;
IV. O que consta dos n."s 10. 13 e 22, a págs. 14 e 15 da decisão recorrida, não pode ser
considerado provado, pois ou não corresponde a verdade ou constitui meras afirmações
conclusivas;
V. A decisão recorrida não atendeu a diversos factos relevantes para a decisão da causa
(v. n." 15 do texto das presentes alegações);
VI. A deliberação do Conselho Directivo da CMVM, em que se aplicou a coima em
causa à ora Recorrente, está em contradição com o texto que a antecedeu, pois refere a
não divulgação imediata da informação em causa, quando no texto que a antecedeu
refere-se que não está em causa o diferimento da divulgação da informação, mas sim a
alegada não divulgação da informação, após deixar de ser confidencial;
VII. As referidas situações são inclusive reguladas por preceitos distintos - arts. 248" e
248" - A do CdVM;
VIII. A contradição em causa é indiciadora que na deliberação do Conselho Directivo
da CMVM não terão sido tidas em conta todas as circunstâncias do caso concreto;
IX. Mesmo considerando-se o invocado pela CMVM na decisão impugnada, esta violou
os princípios da tipicidade e da legalidade, consagrados nos arts. 1" e 2" do RGCOC,
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pois a situação descrita não se enquadra minimamente no n." 1 do art. 248" do CdVM,
cuja violação é invocada pela CMVM para aplicar a coima em causa a ora Recorrente.
X. Na decisão impugnada não consta ainda qualquer facto concreto, que estabelecesse o
elemento subjectivo da infracção imputada a ora Recorrente, limitando-se a formular
meros juízos conclusivos, pelo que é nula (v. arts. 8' e 58' do RGCOC e 374" e 379" do
CPP);
XI. É manifesto que não se verificou qualquer conduta negligente da ora Recorrente no
lapso de tempo que decorreu entre ter tido conhecimento da divulgação da informação
pela CHEVRON e a divulgação da mesma pela ora Recorrente no SDI, e, muito menos
dolosa - como se invoca na decisão recorrida -, pelo que nunca lhe poderia ser aplicada
a coima em causa (v. art. 8" do RGCOC);
XII. De qualquer forma, não está em causa informação privilegiada, nos termos e para
os efeitos do disposto no art. 248' CdVM, sendo a decisão recorrida ilegal ao condenar
a ora recorrente pela alegada violação deste preceito.
XIII. Ainda que se considerasse que estaria em causa informação privilegiada, nos
termos e para os efeitos do disposto no art. 248' CdVM - o que não admitimos
minimamente -, é manifesto que se verificavam os pressupostos para o diferimento da
divulgação da informação ao abrigo do disposto no art. 248" - A do CdVM, conforme
não é minimamente colocado em causa pela CMVM;
XIV. O n." 1 do art. 248" do CdMV, na interpretação adoptada pela decisão recorrida, é
inconstitucional, devendo a sua aplicação ser recusada in casu (v. 204" da CRP), pois
baseia-se em conceitos conclusivos e seria aplicável a situações que não constam da
respectiva previsão (v. art. 29" da CRP);
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XV. Mesmo que se entendesse que teria sido praticada alguma contra-ordenação - o que
não se admite minimamente e apenas se refere por cautela de patrocínio -, deveria, face
as circunstâncias do caso concreto, ter sido efectuada, no máximo, uma advertência ou
admoestação ou, quanto muito, aplicada uma coima pelo mínimo legal e suspensa a
execução da sanção (v. arts. 4 13" e segs. do CdVM);
XVI. A decisão recorrida é assim claramente ilegal, tendo violado, além do mais, os
arts. 248", 248"-A e 423" e segs. do CdVM, os arts. 1" 2", 8" e 58" do RGCOC, 374" e
379" do CPP e 29" e 32" da CRP.
Termos em que deve ser julgado procedente o presente recurso, declarando-se nula ou
revogando-se a decisão impugnada, com as legais consequências.
Na fase de impugnação judicial, os autos foram distribuídos a 3" Secção
do 2" Juízo de Pequena Instância Criminal de Lisboa e, em 7/1/11, foi proferida
sentença pela Exrn" Juiz desse Juízo e Secção, que decidiu
CONDENAR A ARGUIDA, "GALP ENERGIA, s.G.P.s., s.A.", PELA PRÁTICA, A
TÍTULO NEGLIGENTE, DE UMA CONTRA-ORDENAÇÃO, PREVISTA E
PUNIDA PELOS ARTIGOS 24S0, NO1, ALÍNEA A) E 2, 38S0, NOS 1, ALÍNEA A) E
3, 394", NO1, ALÍNEA I), 401' E 402", TODOS DO CÓDIGO DOS VALORES
MOBILIARIOS, APROVADO PELO DEC.-LEI 486199, DE / , POR
REFERÊNCIA AO ARTIGO 170, NO 4, DO R.G.c.o., AO PAGAMENTO DE UMA
COIMA NO VALOR DE €30.000 (TRINTA MIL EUROS).
Com base nos seguintes factos, que então se deram como provados:
1- A ARGUIDA, "GALP ENERGIA, S.G.P.S., S.A.", É UMA SOCIEDADE
EMITENTE. (FLS. 15 A 18)
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
2- A DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS - AGOSTO DE 2007 - A ARGUIDA
POSSUÍA ACÇÕES ADMITIDAS A NEGOCIAÇÃO NO MERCADO
REGULAMENTADO EUROLIST BY EURONEXT. (FLS. 25 E 26)
3- A ARGUIDA TEM POR OBJECTO A GESTÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIAIS
DE OUTRAS SOCIEDADES DO SECTOR ENERGÉTICO, COMO FORMA
INDIRECTA DE EXERC~CIO DE ACTIVIDADES ECONOMICAS. (FLS. 23)
4- DO GRUPO EMPRESARIAL, CUJAS PARTICIPAÇÕES SÃO GERIDAS PELA
ARGUIDA, FAZEM PARTE A PETROGAL - PETR~LEOS DE PORTUGAL, S.A., A
GAS DE PORTUGAL, S.G.P.S., S.A., A GALP GÁS NATURAL, S.A. E A
LISBOAGÁS, SOCIEDADE DISTRIBUIDORA DE GÁS NATURAL DE LISBOA,
S.A. (FLS. 19 A 24)
5- A ARGUIDA OPERA EM DUAS ÁREAS DO SECTOR ENERGÉTICO:
PETROLIFERO E DO GÁS NATURAL. (FLS. 21)
6- A ARGUIDA TEM UMA PARTICIPAÇÃO DE 9% NUM CONSÓRCIO QUE
EXPLORA O BLOCO 14, NAS ÁGUAS PROFUNDAS DO OFFSHORE DE
ANGOLA. (FLS. 9,44 A 48)
7- DO CONS~RCIO, REFERIDO EM 6), FAZEM PARTE, ALÉM DA ARGUIDA, AS
SOCIEDADES CHEVRON, SONANGOL, ENI E TOTAL. (FLS. 6)
8- EM DEZEMBRO DE 2006 FOI EFECTUADA UMA PERFURAÇAO NO
POÇO MALANGE-1 NO BLOCO 14, REFERIDO EM 6). (FLS. 9; 44 A 48)
9- EM MARÇO DE 2007 O POÇO MALANGE-1 FOI TESTADO, TENDO SIDO
DETERMINADA A SUA CAPACIDADE PRODUTIVA E A BOA
QUALIDADE DO PETROLEO. (FLS. 9; 44 A 48)
TRIBLINAL DA RELAÇAO DE LISBOA
10- NO DIA 8 DE AGOSTO DE 2007, AS 16 HORAS E 25 MINUTOS, PEDRO
GAMA (DA CHEVRON) ENVIOU UM E-MAIL PARA A ARGUIDA E
RESTANTES MEMBROS DO CONSÓRCIO, AFIRMANDO QUE A
INFORMAÇÃO RELATIVA A DESCOBERTA DE PETROLEO NO BLOCO 14,
POÇO MALANGE-1, SERIA ANUNCIADA PELA SONANGOL NA MANHÃ
DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, NÃO RESULTANDO APURADO SE E
QUANDO FOI, EFECTIVAMENTE, TAL MAIL RECEPCIONADO PELA
ARGUIDA.
11- NO E-MAIL REFERIDO EM 10), PEDRO GAMA AFIRMAVA TAMBÉM
QUE A CHEVRON IRIA DIVULGAR A REFERIDA INFORMAÇÃO NO DIA 10
DE AGOSTO AS 13 HORAS (HORA DE ANGOLA), 5 HORAS (HORA DO
ESTADO DA CALIF~RNIA) E PEDIA QUE, POR CORTESIA PARA COM O
OPERADOR, A INFORMAÇÃO NÃO FOSSE DIVULGADA FORA DE
ANGOLA ANTES DA REFERIDA HORA.
12- NO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007:
i) AS 13 HORAS, FOI NOTICIADO (EM INGLÊS) PELA AGÊNCIA
REUTERS O AN~NCIO, POR PARTE DA CHEVRON CORPORATION
(CHEVRON), DA DESCOBERTA DE PETRÓLEO NO SEU CONSÓRCIO
EM ANGOLA. (FLS. 1 A 8)
ii) AS 13 HORAS E 26 MINUTOS, NOVA NOTICIA (EM INGLÊS) DA
AGÊNCIA REUTERS FEZ REFERÊNCIA AO FACTO DE A ARGUIDA
TER UMA PARTICIPAÇÃO DE 9% NO CONSÓRCIO LIDERADO PELA
CHEVRON EM ANGOLA. (FLS. 1 A 8)
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
iii) AS 15 HORAS E 45 MINUTOS VOLTOU A SURGIR NO SITE DA
PARTICIPAÇÃO DA ARGUIDA NO CONSÓRCIO, TRADUZIDA PARA
PORTUGUÊS. (FLS. 1 A 8)
iv) AS 16 HORAS E 34 MINUTOS, A MESMA NOTÍCIA FOI DIVULGADA
NO SITE DO JORNAL DE NEG~CIOS. (FLS. 49)
13- PARA ALÉM DE SER IDÓNEA PARA INFLUENCIAR O PREÇO, APÓS A
RESPECTIVA DIVULGAÇÃO, A INFORMAÇÃO REFERIDA EM 12)
EFECTIVAMENTE INFLUENCIOU O PREÇO DAS A C Ç ~ E S DA ARGUIDA
NEGOCIADAS NO MERCADO REGULAMENTADO EUROLIST BY
E U R O N m N A SESSÃO DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007.
14- NO CIRCUNSTANCIALISMO DESCRITO EM 13), APÓS QUEDAS
ACENTUADAS, EM SINTONIA COM O MERCADO E O SECTOR, ATÉ
CERCA DAS 14 HORAS E 18 MINUTOS, A COTAÇÃO DAS ACÇÕES DA
ARGUIDA INICIOU POSTERIORMENTE UM MOVIMENTO DE SUBIDAS
SIGNIFICATIVAS ATÉ A HORA DE FECHO DE MERCADO. (FLS. 3 E 4)
15- NO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, A COTAÇÃO DO TÍTULO GALP
ENERGIA REGISTOU OS SEGUINTES VALORES:
i) AS 8 HORAS, 10,88 EUROS; (FLS. 3 E 4)
ii) AS 10 HORAS E 22 MMUTOS: 10,75 EUROS; (FLS. 3 E 4)
iii) AS 14 HORAS E 18 MINUTOS: 10,33 EUROS; (FLS. 3 E 4)
iv) AS 14 HORAS E 55 MINUTOS: 10,50 EUROS; (FLS. 3 E 4)
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16- O MOVIMENTO DE SUBIDA DA COTAÇÃO DAS ACÇÕES DA ARGUIDA
FOI CONTRÁRIO AO SENTIDO DO ÍNDICE PSI20 E DO ÍNDICE
EUROPEU DO SECTOR PETROLIFERO, O DOW JONES EUROSTOXX OIL
GAS, QUE REGISTARAM AMBOS QUEDAS NA SESSÃO DO DIA 9 DE
AGOSTO DE 2007. (FLS. 5)
17- A CHEVRON TINHA, A DATA, UMA CAPITALIZAÇAO BOLSISTA DE
126.280,2877 MILHÕES DE EUROS, OU SEJA, 14,0094 VEZES SUPERIOR
A DA ARGUIDA, QUE ERA DE 9.013,9551 MILHÕES DE EUROS; (FLS. 50
A 54)
18- A CHEVRON TEM UMA PARTICIPAÇÃO DE 3 1 % NO CONSÓRCIO QUE
EXPLORA O BLOCO 14, NAS ÁGUAS PROFUNDAS DO OFFSHORE DE
ANGOLA E A ARGUIDA TEM UMA PARTICIPAÇÃO DE 9% NO
REFERIDO CONSÓRCIO; (FLS. 9; 63 A 65)
19- ASSIM, A PARTICIPAÇÃO DA CHEVRON NO CONS~RCIO É APENAS
3,4444 VEZES SUPERIOR A DA ARGUIDA. (FLS. 9; 63 A 65)
20- A PARTIR DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, AS 13 HORAS, A
INFORMAÇÃO DA DESCOBERTA DE PETRÓLEO PASSOU A SER
PUBLICA, EM VIRTUDE DO COMUNICADO DA CHEVRON QUE FOI
NOTICIADO NA AGÊNCIA REUTERS. (FLS. 8)
21- A ARGUIDA TOMOU CONHECIMENTO DO DESCRITO EM 20), NO DIA
9 DE AGOSTO DE 2007, A HORA NÃO CONCRETAMENTE APURADA,
MAS PELO MENOS Á s 15 HORAS E 28 MINUTOS. (FLS. 147)
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
v) À s 16 HORAS E 35 MINUTOS: 10,87 EUROS. (FLS. 3 E 4)
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
22- A ARGUIDA DIVULGOU A OCORRÊNCIA DO FACTO REFERIDO EM 20)
AS 17 HORAS E 38 MINüTOS DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007. (FLS. 45
VERSO; 48).
23- A ARGUIDA AGIU CONFORME DESCRITO EM 21) E 22), VIOLANDO
UM DEVER DE CUIDADO A QUE ESTAVA OBRIGADA E DE QUE ERA
CAPAZ, NO SENTIDO DE DILIGENCIAR DE FORMA A QUE AO TER
CONHECIMENTO DO DESCRITO EM 20), PROCEDESSE A DIVULGAÇÃO
DA NOT~CIA EM CAUSA, DE IMEDIATO E NÃO DEMORANDO MAIS DE
DUAS HORAS CONFORME DEMOROU.
A mesma sentença julgou não provada a seguinte factualidade:
A - A ARGUIDA, AO ACTUAR CONFORME DESCRITO EM 21) E 22), DA
MATÉRIA DE FACTO PROVADA, TENHA AGIDO DE MODO LIVRE,
VOLUNTÁFUO E CONSCIENTE, BEM SABENDO QUE TINHA DE COMUNICAR
IMEDIATAMENTE, UMA VEZ QUE:
i) APESAR DE TER CONHECIMENTO DA DESCOBERTA DE PETRÓLEO
PELO CONSORCIO, DO QUAL FAZ PARTE COM UMA
PARTICIPAÇÃO DE NOVE POR CENTO, QUE EXPLORA O BLOCO 14
NAS ÁGUAS PROFUNDAS DO OFFSHORE DE ANGOLA; (FLS. 7)
ii) SOUBESSE QUE, AS 13 HORAS DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, A
INFORMAÇÃO RELATIVA A ESSA DESCOBERTA PASSOU A SER
PÚBLICA; (FLS. 6 E 7; 146 A 149) E
iii) NÃO TENHA QUERIDO DIVULGAR IMEDIATAMENTE ESSA
TNFORMAÇÃO. (FLS. 7; 45 VERSO E 48).
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B - NOS TERMOS DADOS COMO PROVADOS EM 10), DA MATÉRIA DE
FACTO PROVADA, A INFORMAÇÃO RELATIVA A DESCOBERTA DE
PETRÓLEO NO BLOCO 14, POÇO MALANGE-1, HOUVESSE SIDO
EFECTIVAMENTE ANUNCIADA PELA SONANGOL NA MANHA DO DIA 9
DE AGOSTO DE 2007, OU EM QUALQUER OUTRA DATA/HORA ANTERIOR
A DIVULGAÇAO EFECTUADA PELA ARGUIDA.
Da referida sentença a arguida veio interpor recurso devidamente
motivado, formulando as seguintes conclusões (omitindo-se o último ponto, relativo a
um recurso interlocutório entretanto rejeitado):
I. A douta Sentença recorrida foi proferida na sequência da impugnação judicial
apresentada pela ora Recorrente de decisão da Comissão do Mercado de Valores
Mobiliários (CMVM), que lhe havia aplicado uma coima de 50.000,OO €, pela alegada
violaçiío do dever de divulgação de informação, previsto no n.' 1 do art. 248.' do Código
dos Valores Mobiliários (CdVM) - cfi. texto das presentes alegações n.'s 1 a 5;
11. Realizada audiência de julgamento, pela douta Sentença recorrida foi julgada
"parcialmente provada a acusação" (ou, numa outra perspectiva, foi julgado parcialmente
procedente o recurso), condenando-se a ora Recorrente numa coima de 30.000,OO €, pela
alegada violação do disposto no referido art. 248.' do CdVM, considerando-se que
existiu uma conduta negligente da ora Recorrente e não dolosa, como sustentado pela
CMVM - cfr. texto das presentes alegações n.'s 1 a 5;
111. Salvo o devido respeito - e C verdadeiramente muito -, a douta Sentença recorrida
enferma de nulidades, bem como de erros de direito ao manter a condenação da ora
Recorrente pela alegada violação daquele preceito, apesar de reduzir o valor da coima,
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não se verificando, alCm do mais, qualquer conduta ilícita ou negligente da ora
Recorrente, atendendo as circunstâncias do caso concreto - cfi. texto das presentes
IV. A douta Sentença recorrida enferma de nulidade por falta de fundamentação da
decisão de facto, pois, apesar das 18 páginas da mesma relativas à "fundamentação da
decisão de facto", não é efectuada qualquer correlação entre o que é aí referido e os
factos considerados provados, violando o disposto no art. 374."/2 do CPP (cfi. art.
379.OIlla) do CPP; cfi. art. 41 ."I1 do RGCOC) - cfi. texto das presentes alegações n."s
6 a 15;
V. Com efeito, conforme constitui Jurisprudência constante e pacífica, não basta uma
mera referência dos factos às provas, toma-se necessário um correlacionamento dos
mesmos com as provas que os sustentam de forma a poder concluir-se quais as provas
que suportam os factos concretamente julgados provados, ou seja, é necessário explicitar
em sede de fundamentação o processo lóqico-formal que foi seguido para se
considerarem aqueles factos provados - cfi. texto das presentes alegações n."s 8 a 1 1 ;
VI. No caso em apreço, a douta Sentença recorrida limita-se a efectuar, em sede de
"fundamentação da decisão de facto", um resumo do que terá sido dito pelas testemunhas
(em alguns pontos impreciso e incorrecto), e a indicar os documentos constantes do
processo que terão sido "considerados" - cfr. texto das presentes alegações n."s 11 a 13;
VII. A douta sentença enferma, assim, de nulidade, pois não se efectua aquela
correlação, nem se explicita o processo lógico-formal que terá sido seguido pelo Tribunal
a quo, inquinando essa nulidade todos os factos considerados provados (v. art. 374.OI2do
CPP; cfi. art. 379,"/1/a) do CPP) - cfi. texto das presentes alegações n."s 11 a 13;
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
VIII. O art. 374."/2 do CPP interpretado no sentido que não seria necessário explicitar o
processo de formação da convicção do Tribunal, sempre seria inconstitucional, por
violação dos arts. 32."/1 e 205." da CRP - cfi. texto das presentes alegações n." 13;
IX. Na douta Sentença recorrida também não se indica porque é que não se
consideraram relevantes diversos factos alegados pela ora Recorrente no seu recurso para
o douto Tribunal a quo e que assumem inegável relevância, face ao disposto no art.
248."-A do CdVM, relativo ao diferimento da divulgação de informação, e ainda por
aqueles factos serem essenciais para se aferir da licitude (ou não) da conduta da ora I
Recorrente, pelo que, também por esta razão, a douta Sentença recorrida enferma de
nulidade por falta de fundamentação ou mesmo por omissão de pronúncia, tendo violado
ainda o disposto no art. 374."/2 da CPP (cfr. art. 379."/l/a) e c) do CPP; cfr. art. 4 1 ."/I do
RGCOC) - cfr. texto das presentes alegações n.Os 14 a 15;
X. Além disso, mesmo tentando imaginar o processo lógico seguido pelo douto
Tribunal a quo (obviamente, com risco de erro pois este não está explicitado, como devia
estar), a douta Sentença recorrida sempre enfermaria de erro notório na apreciação da
prova ou, pelo menos, contradição insanável entre os fundamentos e a decisão (v. art.
410."/2)c) e b) do CPP), o que, aliás, o douto Tribunal a quo teria verificado facilmente
se, em cumprimento do dever de fundamentação, tivesse procedido a uma correlação
entre a prova produzida e os factos considerados provados - cfr. texto das presentes
alegaçaes naos 16 a 2 1 ;
XI. Com efeito, é notório que, face ao resumo dos depoimentos das testemunhas e ao
que consta dos documentos indicados, nunca poderia ser considerado provado o que
consta dos n."s 10, 1 1, 12, 21 e 22, a págs. 5 1 e segs. da Sentença - cfr. texto das
presentes alegações n."s 16 a 2 1 ;
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
XII. Por outro lado, na douta Sentença recorrida, em sede de factos provados, constam
diversas conclusões de facto e juízos valorativos (v., nomeadamente, n."s 13 e 20
a 23, a págs. 53 e segs. da Sentença), que não podem integrar o elenco dos "factos"
provados, que devem corresponder a factos concretos da vida real e não a abstracções,
conceitos ou juízos conclusivos (v., entre outros, Ac. Rel. Lisboa, Proc. 0080204,
disponível em www.dqsi.pt) - cfr. texto das presentes alegações n."s 22 a 24;
XIII. Não pode, assim, ser considerado provado o que consta nos n."s 13 e 20 a 23, a
págs. 53 da Sentença recorrida, devendo ser alterada a redacção dos pontos 21 e 22, por
forma a corresponderem a factos e não a conclusões de facto - cfr. texto das presentes
alegações n."s 22 a 24;
XIV. Acresce que, na linha do já acima referido na Conclusão IX), quanto a não terem
sido considerados relevantes diversos factos alegados pela ora Recorrente, verifica-se na
douta Sentença recorrida uma insuficiência da matéria facto necessária para a decisão ou,
pelo menos, erro de direito (v. art. 41 0.0/2/a) do CPP; cfr. art. 41 ."I1 do RGCOC) - cfr.
texto das presentes alegaçoes n."s 26 a 28;
XV. Sem prejuízo do acima referido, a douta Sentença recorrida enferma ainda de
outros erros de direito, ao considerar que existiu uma conduta ilícita e culposa da ora
Recorrente - cfr. texto das presentes alegações n."s 29 e segs.;
XVI. A douta Sentença recorrida, na linha do anteriormente decidido pela CMVM,
condena a ora Recorrente pela alegada violação do disposto no art. 248."/1 do CdVM,
quando o preceito aplicável in casu é o 248." - A (aditado ao referido Código pelo DL
52/2006), pois estávamos perante urna situação de diferimento da divulgação da
informaçao, pelo que foi violado o principio da legalidade e da tipicidade consagrado no
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art. 2." do RGCOC e no art. 29."/1 da CRP - cfi. texto das presentes alegações n."s 30 a
XVII. Neste particular, a douta Sentença enferma também de omissão de pronúncia,
pois não apreciou o alegado pela ora Recorrente, quanto a aplicação daquele preceito (v.
n.Os 25 e segs. e 71 e segs. do texto do recurso da ora Recorrente para o Tribunal a quo e
nas respectiva conclusões IX e XII), sendo que os elementos do tipo contra-ordenacional
resultante de uma violação do disposto no art. 248." são totalmente distintos dos do art.
248." - A (v. art. 379."/l/c) do CPP; cfi. art. 41."/1 do RGCOC) - cfi. texto das presentes
alegações n."s 30 e 3 1;
XVIII. Como já referido, estávamos o diferimento da divulgação da informação, nos
termos do art. 248" - A do CdVM (a descoberta de petróleo ocorreu em Março de 2007 e
os membros do consórcio acordaram divulgar a informação a em 10 de Agosto de 2007
(v. n." 9 dos factos a págs. 52 da Sentença; cfi. resumo dos depoimentos das testemunhas
a págs. 64,4" a 6." parágrafos; págs. 66, 3." parágrafo; págs. 68, 1 .O, 3." e 4." parágrafos
e págs. 69, 5." e 6." parágrafos, da Sentença recorrida) - cfr. texto das presentes
alegações n."s 30 a 36;
XIX. Quanto muito o que se verificou foi uma quebra de confidencialidade por motivos
não imputáveis a ora Recorrente, na pendência do referido diferimento da divulgação da
informação (art. 248." -A do CdVM), o que é muito distinto do dever de divulgação
imediata previsto no n." 1 do art. 248." do mesmo Código, aplicado na douta Sentença
recorrida - cfi. texto das presentes alegações n.Os 30 a 40;
XX. De resto, a própria CMVM não coloca minimamente em causa na decisão
condenatória o preenchimento dos requisitos previstos no referido art. 248" - A do
17 Riia do Arçenal Le[:d G ' 1!)0-U38 Lisboa ieieforie 2 Í 32'~ 25 bb i i ih 2 i 347 $8 44
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CdVM, para o diferimento da divulgação da informação, nunca invocando que a
informação teria que ser divulgada à data da descoberta de petróleo, em Março de 2007
(v., entre outros, n." s 83 e segs., a págs. 22 da decisão da CMVM) - cfi. texto das
presentes alegações n."s 30 a 40;
XXI. Acresce que, nos processos sancionatórios não é admissível o recurso a analogia
pelo que não é possível concluir que, uma vez quebrada a confidencialidade, seria
aplicável o n." 1 do art. 248." do CdVM - cfi. texto das presentes alegações n."s 30 a 40;
XXII. A douta sentença recorrida enferma, assim, de erros de julgamento, tendo violado
o princípio da legalidade e da tipicidade consagrado no art. 2." do RGCOC (cfi. art.
29."/1 da CRP), pois verificavam-se in casu os pressupostos para o diferimento da
divulgação da informação, ao abrigo do disposto no art. 248' - A do CdVM (conforme
reconhecido pela prbpria CMVM), não se enquadrando a situação no n." 1 do art. 248"
do CdVM, aplicado na Sentença recorrida, mas sim no referido 248." - A, do mesmo
Código - cfr. texto das presentes alegações n."s 30 a 40;
XXIII. A douta Sentença recorrida enferma de erros de julgamento ao imputar uma
conduta negligente à ora Recorrente - cfr. texto das presentes alegações n."s 41 a 49;
XXIV. Aliás, atendendo às circunstâncias do caso concreto e ao impreciso conceito
"imediatamente", não se verificaria sequer o elemento objectivo do ilícito, mesmo
considerando o disposto no art. 248." do CdVM - cfi. texto das presentes alegações n."s
41 a49;
XXV. De qualquer forma, não existiu da parte da Recorrente qualquer "atitude de
descuido ou leviandade consubstanciada na violação do cuidado", face as circunstâncias
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do caso concreto (v. Paulo Pinto Albuquerque Comentário ao Código Penal, pág. 96, e
Doutrina aí citada) - cfr. texto das presentes alegações n."s 41 a 49;
XXVI. Com efeito, dos factos considerados provados na douta Sentença recorrida, dos
depoimentos das testemunhas Carlos Alves, Tiago Villas Boas e Inês Santos, resumidos
a págs. 63 e segs. da Sentença recorrida (v. pág. 64, 4" a 6." parágrafos; pág. 66, 3."
parágrafo; pág. 68, I.", 3." e 4." parágrafos e pág. 69, 5." e 6." parágrafos) dos
documentos juntos aos autos, resulta, além do mais, o seguinte:
- a ora Recorrente tem uma participação de 9% no consórcio que explora o Bloco em
causa, que é ainda constituído pelas sociedades Chevron, Sonangol, ENI e Total (v. n."s
6 e 7 dos factos provados e os referidos depoimentos);
- existem acordos de confidencialidade entre os elementos do consórcio (v. Doc. a fls.
216, cls. 17." e os referidos depoimentos);
- a informação em causa C tratada como confidencial até que exista acordo no consórcio
para a comunicar (v. os referidos depoimentos);
- estava acordada a divulgação da informação em causa no dia 10 de Agosto de 2007 (v.
os referidos depoimentos) - cfr. texto das presentes alegações n."s 44 a 49;
XXVII. Nesta conformidade, maxime face ao princípio da confiança, a ora Recorrente
poderia legitimamente esperar que a informação em causa só seria divulgada no dia 10
de Agosto de 2007, como acordado (v. Ac. Relação de Évora, de 06.12.2005, Proc.
1247105-1, disponível em www.dgsi.pt) - cfr. texto das presentes alegações n."s 44 a
49;
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XXVIII. Acontece que, inesperadamente, um dos elementos do consórcio (a Chevron)
divulgou, por lapso, a informação em causa no dia 9 de Agosto de 2007 (v. fls. 147 dos
autos) - cfr. texto das presentes alegações n."s 44 a 49;
XXIX. Com efeito, às 15h28m, de 9 de Agosto de 2007, um funcionário da ora
Recorrente foi informado por e-mail de um funcionário de uma das Sociedades do
consórcio (a Chevron), de que a ora Recorrente faz parte, que esta tinha divulgado, por
lapso, nesse dia, a descoberta de petróleo no poço Malange - 1, do Bloco 14, em Angola
(v. fls. 147 dos autos) - cfi. texto das presentes alegações n.Os 44 a 49;
XXX. Imediatamente, os funcionários da Recorrente diligenciaram no sentido de
confirmar essa informação e, urna vez confirmada, iniciaram os procedimentos de
divulgação, junto do respectivo Conselho de Administração, tanto mais que se trata de
situação que carece da necessária ponderação, pois o consórcio é regulado por contratos
com cláusulas de confidencialidade, estava acordado que a divulgação seria efectuada no
dia 10 de Agosto de 2007, e urna divulgação antecipada poderia provocar a outros
membros do consórcio os mesmos problemas aqui colocados à ora Recorrente - cfr.
texto das presentes alegações n.Os 44 a 49;
=I. Às 17h38m, de 9 de Agosto de 2007 (ou seja, cerca de duas horas depois do e-
mail referido em XXIX), a ora Recorrente divulgou a descoberta em causa no Serviço de
Difusão de Informações (SDI) da CMVM - cfr. texto das presentes alegações n.Os 44 a
49;
XXXII. Note-se que estava em causa informação restrita e confidencial, pelo que a sua
divulgação pública não podia deixar de ser prévia e devidamente analisada e ponderada,
sob pena de a ora Recorrente poder incorrer em graves responsabilidades - cfi. texto das
presentes alegaçBes n.Os 44 a 49;
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XXXIII. Ao referirmos esta necessidade de ponderação prévia, não estamos a afirmar
que prevalecem as regras existentes entre os membros do consórcio, o que acontece é que
se estava perante uma situação de diferimento da informação, pelo que qualquer
divulgação antecipada iria prejudicar não só a ora Recorrente, mas também terceiros,
violando-se, aliás, com essa divulgação antecipada, as próprias regras do CdVM,
relativos ao diferimento da informação, pois bastava que outro elemento do consórcio
fosse uma sociedade cotada - cfi. texto das presentes alegações n."s 44 a 49;
XXXIV. Quanto ao referido lapso de tempo decorrido, refira-se ainda que, embora a ora
Recorrente esteja incumbida da tarefa de adoptar os mecanismos necessários a
divulgação da informação, tal não obriga - aliás proíbe - que tenha uma equipa
alargada de pessoas com acesso a informação privilegiada e em condições de proceder a
sua divulgação - cfi. texto das presentes alegações n.Os 44 a 49;
XXXV. Além disso, a lei não obriga a ter alguém em permanência, 24 horas por dia, 7
dias por semana, sem pausa para almoço, jantar ou qualquer outra, ou sem qualquer
tarefa, reunião ou agendamento, que esteja permanentemente atento ao mercado e, em
especial às Agências de Comunicação de todo e qualquer país do mundo, em particular
aquelas que estão orientadas para informar os media e não o público em geral, tanto mais
que a ora Recorrente não é uma sociedade financeira - cfi. texto das presentes
alegações n."s 44 a 49;
XXXVI. Nesta conformidade, atentas as circunstâncias do caso concreto - maxime face
a situação inesperada, devida ao lapso da Chevron, e ao facto de o mercado fechar cerca
de uma hora depois de a ora Recorrente ter tido conhecimento desse lapso de outro
elemento do consórcio - cfr. texto das presentes alegações n."s 44 a 49;
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XXXVII. Não se verificou qualquer conduta negligente da ora Recorrente, pelo que
nunca lhe poderia ser aplicada a coima em causa, tendo a douta Sentença recorrida
violado o disposto no art. 8" do RGCOC e o art. 402."/1 do CdVM - cfi. texto das
presentes alegações n."s 44 a 49;
XXXVIII.0 art. 248." do CdVM, na interpretação que seria aplicável a situações de
diferimento da divulgação da informação (implicitamente adoptada na douta Sentença
Recorrida), é inconstitucional, por violação do n." 1 do art. 29." da C W , pois estar-se-ia
a incluir na previsão daquele preceito o que nele não está previsto - cfi. texto das
presentes alegações n.' 50;
XXXIX. O n." 1 do art. 248" do CdMV, na interpretação adoptada pela decisão
recorrida, baseia-se em conceitos conclusivos e inconclusivos, pelo que, também por essa
razão, é inconstitucional por violação do n." 1 do art. 29." da C W , devendo a sua
aplicação ser recusada in casu (v. 204" da CRP) - cfi. texto das presentes alegações n."s
51 e 52;
XL. Mesmo que se entendesse que teria sido praticada alguma contra-ordenação - o
que não se admite minimamente -, face as circunstâncias do caso concreto
(nomeadamente, a quebra de confidencialidade não é imputável a ora Recorrente e esta
divulgou voluntariamente a informação no SDI da CMVM, assim que teve conhecimento
daquela ocorrência, a inexistência de benefício económico ou antecedentes contra-
ordenações), deveria ter sido efectuada, no máximo, uma advertência ou admoestação ou,
quanto muito, aplicada uma coima pelo mínimo leqal e suspensa a execução da sanção
(V. arts. 413' e segs. do CdVM; cfr. art. 415." do CdVM e Ac. Acórdão da Rel. de
Lisboa, 5 .a Secção, de 08.06.20 10, Proc. 7799106 TFLSB.Ll) - cfi. texto das presentes
alegações n."s 53 a 57;
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Termos em que deve o presente recurso ser considerado procedente, declarando-se a
nulidade da douta sentença recorrida ou revogando-se a mesma com as legais
consequências.
O MP e a CMVM responderam a motivaçáo da recorrente, o primeiro sem
formular conclusões, mas pugnando pela improcedência do recurso em todos os seus
fundamentos, e a segunda formulando as seguintes conclusões:
1. A CMVM considera que a GALP não tem razão no recurso que apresentou e a que
agora se responde. Nem quando imputa à decisão recorrida, na parte relativa a apreciação
da matdria de facto, um conjunto de vícios formais de que decorreria a sua nulidade, nem
quando suscita um conjunto de supostos "erros de direito" de que resultaria, no limite, a
impossibilidade da sua condenaçáo.
2. Quanto a alegada nulidade da sentença por falta de fundamentação da decisão
sobre a matéria de facto considera a CMVM que mesmo olhada à luz de critérios
exigentes, como os da jurisprudência citada pela Recorrente no seu recurso e com os
quais genericamente se concorda, a decisão recorrida fundamenta suficientemente a sua
decisão acerca da matéria de facto, não se justificando sancioná-la com a chancela da
nulidade como a Recorrente pretende.
3. Desde logo porque náo é verdade, ao invés do que a GALP alega, que a sentença
recorrida se limite "a efectuar, em sede de 'fundamentação da decisão da matéria de
facto', um resumo do que terá sido dito pelas testemunhas e a indicar os documentos
constantes do processo".
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4. Em primeiro lugar porque a sentença recorrida refere, individualmente e para cada
um dos factos provados, as concretas fls. dos autos onde se encontram os elementos
probatórios (normalmente documentos) de que decorre a prova do facto em causa.
5. A isto acresce, ainda, que a decisão recorrida não se limita a, aquando do elenco
dos factos provados, indicar. especificadamente e por referência às concretas fls. dos
autos, os elementos de prova que serviram de suporte a cada facto que considerou
provado, Adicionalmente, o Tribunal faz uma descrição bastante completa do que foi
dito por cada uma das testemunhas que intervieram na audiência de julgamento,
acabando com um juizo crítico sobre a credibilidade e a importância relativa que atribuiu
a cada um desses testemunhos.
6. Acresce, ainda, que estando a maioria dos factos assente em prova documental,
prova documental que foi explicitamente indicada pela sentença por referência a cada
facto que foi considerado provado, tal possibilita a comprovação, pelo arguido e pelas
instâncias de recurso, de que a decisão acerca da matéria de facto se encontra
fundamentada. Com efeito, o que o artigo 374O, no 2, do CPP, impõe, neste caso, é que,
relativamente a cada facto considerado provado, se indiquem os documentos, com
referência às respectivas fls. dos autos de onde constam, que serviram de prova a esse
facto, e não, como a GALP parece entender, sob pena de nulidade da sentença, um
aturado trabalho de interpretação de todos e de cada um desses documentos.
7. Em suma: não é verdade que o modo de proceder da decisão recorrida impeça ou
dificulte de forma inaceitável - a arguida ou as instâncias de recurso - de, em geral,
reconstituir o pensamento do tribunal para concluir no sentido de que estavam provados
os factos elencados a fls. 51 a 55 da decisão recorrida, raziio por que, considera a
CMVM, deve improceder a nulidade que vem alegada.
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8. Os poucos exemplos apontados pela GALP para procurar ilustrar os vícios que,
nesta parte, aponta à sentença, ou (i) não são verdadeiros ou (ii) não demonstram o que
pretende, revelando apenas pequenos lapsos de referência probatória absolutamente
irrelevantes no quadro da fundamentação da decisão recorrida elou do juizo condenatório
a que nela se chegou.
9. A GALP também não tem razão quando pretende que a sentença seja nula por na
mesma "não se indicar porque é que não se consideraram relevantes diversos factos
invocados pela recorrente, os quais não constam nos factos considerados provados na
sentença, nem nos factos considerados não provados". Com efeito, o que o artigo 374",
no 2, impõe, sob pena de nulidade da sentença, é que a decisão recorrida indique, de entre
os factos relevantes para a decisão, os que considerou provados e não provados, e uma
exposição dos motivos pelos quais os considerou como tal (e foi isso que o Tribunal a
quo fez - cf., o início de fls. 55 da decisão recorrida). Já não exige, porém, como parece
entender a Recorrente, que, em relação a todos e cada um dos factos que foram alegados
pela defesa ou referidos pelas testemunhas em julgamento, no caso de os considerar
irrelevantes para a decisão a proferir, explicite individualmente a razão desse juizo de
irrelevância.
10. Também não se verifica nenhum dos alegados erros notórios na apreciação da
prova.
11. Nesta parte, aliás, o que a recorrente verdadeiramente pretende é que a Relação
confronte cada um dos factos dados como provados com a documentação constante dos
autos, por forma a poder concluir se a documentação de suporte indicada constitui prova
suficiente desses factos. Mas, sendo assim, isso já ultrapassa os fundamentos do recurso
previstos no artigo 410°, no 2, do CPP, na medida em que, nos termos desta norma, o
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erro notório na apreciação da prova tem que resultar "do texto da decisão recorrida, por si
só ou conjugada com as regras da experiência comum", e não simplesmente do alegado
confronto (que nem sequer se verifica) entre o facto que é dado como provado e a
documentação de suporte constante dos autos.
12. Considera a CMVM, por isso, que não deve o Tribunal, sequer, conhecer desta
questão, por a mesma extravasar os seus poderes de cognição tal como estão definidos no
artigo 410°, no 2, do CPP.
13. Mas mesmo que assim não fosse. sempre seria de concluir que não se verifica
nenhum erro notório na apreciação da prova que deva conduzir à nulidade da decisão
recorrida.
14. Também não é verdade, como alega a Recorrente, que os factos constantes dos nos
13,20,21 e 22 do elenco dos factos provados não sejam factos mas "juízos de valor ou
afirmações conclusivas".
15. O único reparo que, nesta parte, poderá merecer a decisão recorrida é o de levar ao
elenco dos factos provados o que consta do no 23, especificamente na parte em que ai se
refere a violação de "um dever de cuidado a que estava obrigada e de que era capaz", que
pode ser considerado um juízo conclusivo (extraído, designadamente, dos factos dados
como provados nos nos 20 a 22) e não um facto em si mesmo - juízo que, todavia, mais
tarde, designadarnente a fls. 80 a 84 da decisão recorrida, a sentença retoma precisamente
para fundamentar a sua conclusão de que a conduta da GALP foi negligente. Daí não
decorre, contudo, como parece pretender a arguida, a nulidade da decisão recorrida
16. E também não se verifica, no caso dos autos, o suposto vicio da insuficiência da
matéria de facto a que se refere a alínea a) do no 2 do 410" do CPP. Este vicio consiste na
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circunstância de os factos provados não serem suficientes para sustentarem a decisão que
foi proferida e não, como pretende a Recorrente, na simples circunstância de a sentença
não ter dado como provados, por os considerar irrelevantes para a decisão a proferir,
vários outros factos que a arguida entende que deviam ter sido dados como tal. Este
último caso, manifestamente, já não tem cabimento entre os vícios da sentença de que
pode recorrer-se ao abrigo daquela alínea a), do no 2, do 410" do CPP.
17. Em boa verdade, nesta parte, sob as vestes de uma alegada insuficiência da matéria
de facto, o que verdadeiramente existe é uma divergência da Recorrente quanto ao juizo
da decisão recorrida acerca dos factos que foram dados como provados/não provados,
sendo que, nesse caso. não está aberta a via de recurso para o Tribunal da Relação nos
termos daquele preceito.
18. Em qualquer caso, nem sequer é verdade que a sentença recorrida tenha
desconsiderado em absoluto nos factos provados os factos que a GALP refere no no 26
da motivação.
19. Quanto aos alegados erros de direito não é, desde logo, verdade que o
comportamento pelo qual a Recorrente foi condenada não esteja tipificado no artigo
248", no 1, do CdVM.
20. A conclusão contrária a que chega a GALP só revela que a Recorrente não
entendeu (ou não quer entender) o modo como se relacionam os artigos 248" e 248"-A
do CdVM.
21. O artigo 248", no 1, estabelece um dever de divulgação imediata da informação
privilegiada que seja relevante. O artigo 248"-A, no 1, por sua vez, limita-se enunciar um
conjunto de pressupostos da faculdade de diferimento desse dever, prevendo uma espécie
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de condição suspensiva da obrigatoriedade de cumprimento do dever de divulgação
imediata que decorre do artigo 248".
22. Porém, quando deixar de se verificar um dos pressupostos desse diferimento, cessa
automaticamente a suspensão da obrigação de divulgar a informação, a qual,
consequentemente, deve ser imediatamente divulgada nos termos do artigo 248", no 1, do
CdVM.
23. A tese da recorrente seria, aliás, absolutamente insustentável do ponto de vista dos
valores que o artigo 248" visa salvaguardar, por autorizar a perpetuação de uma situação
de assimetria informativa intolerável do ponto de vista dos interesses do mercado e dos
investidores.
24. Entender o contrário - i.e.. entender. como aparentemente pretende a GALP, que
nestes casos o emitente estava pura e simplesmente dispensado do dever de divulgar
imediatamente a informação privilegiada - teria como consequência inevitável potenciar
a proliferação de situações de intolerável assimetria informativa e aumentar
significativamente o risco da prática do crime de insider trading.
25. Ao contrário do que entende a GALP a faculdade de diferimento não isenta ad
aeternum o emitente do dever de divulgar a informação. Trata-se apenas de um
diferimento e não de uma dispensa ou isenção de divulgação da informação.
26. Já quanto a alegada inexistência de culpa da GALP considera a CMVM que se
alguma dúvida pode subsistir, face aos factos efectivamente provados - e não face
àqueles que são alegados pela recorrida e em função dos quais frequentemente raciocina
-, não é a de saber se houve negligência mas a de saber se só houve negligência da sua
parte ou se, ao invés, os factos provados teriam permitido mesmo à decisão recorrida ir
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mais longe e concluir, como se considerou na decisão da CMVM, pela existência de um
comportamento doloso por parte da GALP.
27. Mas que, pelo menos, o não cumprimento do dever de divulgação imediata, através
do SDI da CMVM, da informação que está em causa nos presentes autos, se deve a uma
atitude e a um comportamento claramente contrário aos mais elementares deveres de
cuidado a que a Recorrente está obrigada enquanto emitente de acções admitidas à
negociação em mercado (no principal mercado) regulamentado é inquestionável.
28. Com efeito, como se considerou - e bem - na decisão recorrida, houve negligência
da Recorrente quer (i) ao não ter detectado mais cedo (só o detectou às 15:38) que, a
partir das 13 horas, a informação em causa nos presentes autos tinha deixado de ser
confidencial, quer (ii) quando, após ter recebido, às 15.28m, um e-mail alertando-a
expressamente para esse facto, demorou mais de duas horas a fazer divulgar um
comunicado através do SDI da CMVM.
29. Em suma: diz a Recorrente que fez o que pôde. o que devia, aquilo a que estava
legalmente obrigada. Mas, como se demonstrou, quer na decisão da CMVM quer na
decisão recorrida. nada disto é verdade. Podia. devia. e estava legalmente obrigada a bem
mais. E, acrescenta-se, nem era particularmente difícil ou oneroso tê-lo feito no caso
concreto.
30. Também é manifesta a improcedência do recurso no que se refere à alegada
inconstitucionalidade do artigo 248", no 1, do CdVM.
3 1. Na verdade, nem a subsunção do comportamento da Recorrente ao artigo 248O, no
1, do CdVM implica ou pressupõe qualquer aplicação analógica do mesmo, nem a
utilizaçilo nesse preceito de expressões como as referidas pela GALP contende com as
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exigências constitucionais de certeza decorrentes dos princípios constitucionais da
tipicidade e da legalidade contra-ordenacional.
32. Em suma: é absolutamente improcedente a alegação de que a situação em
apreciação não está prevista no n." 1 do artigo 248'. Está, indiscutivelmente, e quer no
âmbito do pensamento legislativo quer no do teor literal do referido preceito, não sendo
necessária para a subsunção qualquer interpretação extensiva ou aplicação analógica
incompatível com os princípios constitucionais da tipicidade ou da legalidade penal.
33. E também não assiste a GALP qualquer razão - e esta é a segunda questão de
constitucionalidade que coloca - quando alega que a utilização no artigo 248" do
CdVM de conceitos que comportam algum grau de indetenninação - tais como
"divulgam imediatamente", "informação que tenha carácter preciso" e "informação que
seria idbnea para influenciar de maneira sensível o preço" - contende com as exigências
constitucionais de certeza decorrentes dos princípios constitucionais da tipicidade e da
legalidade contra-ordenacional.
34. Como é geralmente reconhecido a utilização de expressões com algurn grau de
indeterminação é inevitável e não contende, sb por si, mesmo no âmbito do Direito
Penal, com o princípio da tipicidade.
35. O que constitui um atentado ao princípio da legalidade são as leis completamente
vagas e vazias, cujo âmbito de aplicaç3o e fim de protecção não é apreensível pelos seus
destinatários.
36. Ora, nada disto acontece com a s expressões que agora estão em causa.
37. Acresce, adicionalmente, que, no caso dos autos, a norma de dever se dirige a
destinatários específicos (emitentes que tenham valores mobiliários admitidos à
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negociação em mercado regulamentado), que actuam profissionalmente no âmbito dos
mercados de valores mobiliários, pelo que os conceitos que estão em causa e o âmbito de
aplicação e fim de protecção da norma em que se inserem são geralmente bem
conhecidos pelos seus destinatários, por constituírem legislação específica da actividade
a que estes se dedicam.
38. Finalmente quanto a requerida aplicação da admoestação ou redução do valor da
coima elou respectiva suspensão, considera a CMVM que se algum reparo merece, nesta
matéria, a decisão recorrida, é precisamente o contrário do que o que lhe é feito pela
GALP: é o de ter fixado a coima num valor que, face a ilicitude concreta do facto (que a
própria decisão expressamente reconhece ser "elevada" - cf. p. 90 da decisão recorrida),
a culpa da arguida e a sua situação económica, coloca perigosamente em causa as
finalidades de prevenção (geral e especial) que aquela sanção cumpre realizar.
39. Considera a CMVM, em suma, que a existirem razões para alterar, nesta parte, o
teor da decisão recorrida, elas apontam no sentido da reposição da sanção de €50.000,00
a que a GALP fora condenada por esta Comissão e não. como pretende a GALP, em
sentido inverso.
40. Note-se, aliás, que a isso não se opõe, sequer, a proibição geral da reformatio in
pejus que, nos termos do artigo 416O, no 8 do CdVM. "não é aplicável aos processos de
contra-ordenação instaurados e decididos nos termos deste Código (...)"
Termos em que deve ser negado provimento ao recurso a que ora se responde, o que se
requer.
O recurso interposto foi admitido com subida imediata, nos próprios
autos, e efeito suspensivo.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
Pelo Digno Procurador-Geral Adjunto junto desta Relação foi emitido
parecer sobre o mérito do recurso, no sentido da respectiva improcedência.
Tal parecer foi notificado à CMVM e à arguida, a fim de se
pronunciarem, tendo a última exercido o seu direito de resposta de forma a reafirmar as
posições assumidas na motivação do recurso.
Foram colhidos os vistos legais e procedeu-se à conferência.
11. Fundamentação
Nos recursos penais, o ((thema decidendum)) é delimitado pelas
conclusões formuladas pela recorrente, as quais deixámos enunciadas supra.
Tal princfpio é extensivo aos recursos interpostos de sentenças proferidas
sobre impugnações judiciais de decisões administrativas condenatórias, em processos de
contra-ordenação, por força do disposto no no 1 do art. 41' do RGCO, que manda
aplicar a esses procedimentos, subsidiariamente, as regras do processo criminal.
A sindicância da sentença recorrida, expressa pela arguida nas suas
conclusões, versa sobre matérias diversas, suscitando, por uma lado, questões de
natureza formal e outras que se prendem com o bem fundado da decisiio, as quais
podem ser assim enunciadas:
a) Nulidade da sentença por falta de fundamentação da decisão sobre
a matéria de facto;
b) Inconstitucionalidade do art. 374' no 2 do CPP, por violação dos
arts.32' nOl e 205" no 1 da CRP;
c) Nulidade da sentença por falta de fundamentação ou por omissão
de pronúncia, por não ter considerado factos alegados na
motivação do recurso de impugnação judicial;
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
d) Insuficiência da matéria de facto provada para a decisão, pelo
mesmo motivo;
e) Erro notório na apreciação da prova ou contradição entre a
fundamentação e decisão, na prova dos factos descritos nos pontos
10, 1 1, 12,21 e 22 da matéria de facto assente;
f ) O conteúdo dos pontos 13 e 20 a 23 é constituído por conclusões
de facto e juízos valorativos;
g) Violação do princípio da legalidade e da tipicidade por ter
condenado a arguida por transgressão do art. 248' no 1 do CVM
quando o preceito aplicável «in casu)) é o art. 248'-A do mesmo
diploma;
h) Nulidade de sentença por omissão da pronúncia por não ter
considerado a aplicação do art. 248'-A do CVM;
i) Não preenchimento pela conduta da arguida da tipicidade do no 1
do art. 248' CVM;
j) Não censurabilidade de tal conduta à arguida a título de
negligência;
k) Inconstitucionalidade do no 1 do art. 248 do CVM caso se entenda
que a conduta é punível, por violação do disposto no no 1 do art.
29' da CRP.
Subsidiariamente, a recorrente pede a redução do montante da coima
para o mínimo legal e a suspensão da execução da sanção ou a aplicação de uma mera
admoestação ou advertência.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
Antes de mais, importa recordar as disposições legais que regem as
nulidades da sentença e os vícios da decisão invocados pela recorrente.
Afigura-se-nos pacífico que, tanto o art. 379O, como o no 2 do art. 410' do
CPP serão aplicáveis as sentenças proferidas em sede de recurso de impugnação judicial
de decisões administrativas sancionatórias, em processo de contra-ordenação,
Dispõe o no 1 do art. 379' do CPP:
1 - È nula a sentença:
a) Que não contiver as menções repidas no no 2 na alínea b) do no 3 do
artigo 3 74";
' b) Que condene por factos diversos dos descritos na acusação ou na
pronúncia, se a houver, fora dos casos e das condições previstos nos artigos 358" e
359";
c )Quando o tribunal deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse
apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar conhecimento.
O no 2 do mesmo artigo estatui:
As nulidades da sentença devem ser arguidas ou conhecidas em recurso,
sendo lícito o tribunal supri-las, aplicando-se com as necessárias adaptações, o
disposto no no 4 do artigo 41 4".
O art. 374" do CPP dispõe sobre os requisitos da sentença e o seu no 2 é
do seguinte teor:
Ao relatório segue-se a fundamentação, que consta da enumeração dos
factos provados e não provados, bem como de uma exposição tanto quanto possível
completa, ainda que concisa, dos motivos de ficto e de direito, que fundamentam a
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
decisão, com indicação e exame crítico das provas que serviram para formar a
convicção do tribunal.
A al. b) do no 3 do mesmo artigo reza:
A decisão condenatória ou absolutória
O teor do no 2 do art. 410' do CPP o seguinte:
Mesmo nos casos em que a lei restringir a cognição do tribunal de
recurso a matéria de direito, o recurso pode ter como fundamentos, desde que o vício
resulte do texto da decisão recorrida, por si ou conjugada com as regras da experiência
comum:
a) A insuficiência para a decisão da matéria de facto provada;
b) A contradição insanável da fundamentação ou entre a
findamentação e a decisão;
c) Erro notório na apreciação da prova.
O vício previsto na al. a) do normativo legal transcrito ocorre quando a
matéria de facto assente apresente lacunas que obstam a uma justa decisão da causa,
sem que o Tribunal tenha esgotado os poderes-deveres que lhe incumbem, nos termos
da lei de processo, em ordem à averiguação dessa factualidade.
Verifica-se a contradição insanável da fundamentação quando esta
contenha asserções inconciliáveis entre si, como, por exemplo, no caso em que a
sentença dê como provados factos logicamente incompatíveis ou em que julgue o
mesmo facto simultaneamente provado e não provado.
A contradição insanável entre a fundamentação e a decisão tem lugar
quando uma e outra estejam em oposição lógica, como sucederia se uma sentença,
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
depois de julgar não provados os factos alegados na acusação, ainda assim condenasse o
arguido pela prática do crime por que vinha acusado.
Por fim, erro notório na apreciação da prova é aquele que não passa
despercebido aos olhos de uma pessoa comum (isto C não dotada de conhecimentos
específicos) e tem lugar quando, em face do texto da decisão, das regras da experiência
comum e da lógica corrente, seja manifesto que a conclusão probatória a extrair deveria
ter sido outra que não aquela que o julgador retirou.
Qualquer dos vícios a que se refere a disposição legal em causa terá de
resultar do texto da própria decisão, por si só ou conjugado com as regras da experiência
comum, não podendo tomar-se em consideração, para o efeito de ajuizar da sua
verificação, elementos exteriores como o processado dos autos ou meios de prova
pessoal que tenham sido gravados e cujo conteúdo não se encontre de alguma forma
reproduzido no texto da sentença.
O Acórdão do Plenário das Secções Criminais do STJ de 19110195 (DR,
I-A SCrie de 28/12/95) veio fixar jurisprudência no sentido de os vícios tipificados no
normativo legal a que nos reportamos serem do conhecimento oficioso do Tribunal «ad
quem)), mesmo quando o recurso esteja limitado i matCria de direito.
Passemos, então, a conhecer das questões suscitadas pela recorrente, pela
ordem de prioridade lógica da sua apreciação, começando pelas nulidades da sentença.
Entre as várias nulidades arguidas pela recorrente conheceremos,
primeiro, da que se prende com a falta de fundamentação da decisão sobre a matéria de
facto.
Para fundamentação do juízo probatório, expende-se na sentença
impugnada:
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
O TRIBUNAL BASEOU-SE, PARA DAR COMO PROVADOS
OS FACTOS ACIMA REFERIDOS, SOB OS NÚMEROS 1 A 23 (INCLUSIVE), EM
TODA A PROVA PRODUZIDA, A SABER E, DESDE LOGO, NOS
DEPOIMENTOS DAS TESTEMUNHAS:
1- ANA MARGARIDA ROLO PINTO DA ROCHA ANTUNES QUE, A DATA
DOS FACTOS, TRABALHAVA NO DEPARTAMENTO DE MERCADO, DA
CMVM, QUE ACOMPANHAVA A GALP, EM TEMPO REAL MAS NÃO NA
ÓPTICA DO MERCADO; NÃO TEVE INTERVENÇÃO NO PROCESSO;
ACTUALMENTE, CONTINüA A TRABALHAR NA CMVM E É ECONOMISTA.
ESCLARECEU QUE A ENTIDADE SUPERVISORA DETECTOU UM
ATRASO NO FORNECIMENTO DA INFORMAÇÃO, EM CAUSA NOS
PRESENTES AUTOS, ATRASO DE QUE A TESTEMUNHA TEVE
CONHECIMENTO EM MOMENTO POSTERIOR.
NA VERDADE, A INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA TEM QUE SER FEITA,
EM PRIMEIRO LUGAR, NO SDI (RESULTA DA LEI) E FOI A PRÓPRIA GALP
QUE QUANDO A DIVULGOU - DIVULGAÇÃO ATRASADA EFECTUADA
APENAS APÓS O FECHO DO MERCADO (APÓS AS 17 HORAS) - A
CLASSIFICOU COMO INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, TENDO-A DIVULGADO
NO LOCAL DO SITE ONDE SE COLOCA A INFORMAÇÃO QUE SE
CONSIDERA PRIVILIGIADA (EXISTE UMA PASTA PRÓPRIA PARA O EFEITO,
NO REFERIDO SITE).
CONCRETIZANDO O SEU RAC~OCINIO, EXPLICOU QUE QUEM
ESCOLHE A PASTA É A SOCIEDADE EMITENTE E QUE SE A ARGUIDA
ESCOLHEU A PASTA DAS INFoRMAÇÕEs PRIVILIGIADAS FOI,
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
CERTAMENTE, PORQUE CONSIDEROU QUE SE TRATAVA DE INFORMAÇÃO
PRIVILIGIADA.
CONFIRMOU QUE A LEGISLAÇÃO, NESTA MATÉRIA, ESTA
HARMONIZADA NA UNIAO EUROPEIA, DESCONHECENDO QUAL A
LEGISLAÇÃO QUE VIGORA EM ANGOLA.
CONSIDERA QUE A DESCOBERTA DO POÇO POTENCIA O PREÇO DAS
ACÇÕES DA GALP E QUE, NÃO A TESTEMUNHA, MAS A CMVM VERIFICOU
QUE NO FINAL DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007 HOUVE MUITA COMPRA E
VENDA E QUE O VALOR DAS ACÇÕES DA GALP SUBIU, EXACTAMENTE
PORQUE SE SOUBE, NESSE DIA, DA REFERIDA DESCOBERTA.
TENDO SIDO CONFRONTADA COM FLS. 7, 45 E 46, DOS AUTOS, A
TESTEMUNHA ESCLARECEU QUANTO A FLS. 7 QUE SE TRADUZ NA
INFORMAÇÃO EM CAUSA, NOS PRESENTES AUTOS, A EXISTÊNCIA DE UM
LAPSO - A PUBLICAÇÃO OCORREU NO DIA 9 DE AGOSTO E NÃO NO DIA 10
DE AGOSTO; A FLS. 46, O SITE DA GALP, CONSTA TODA A INFORMAÇÃO
DIVULGADA PELA GALP, A PRIVILIGIADA E A DEMAIS.
ESCLARECEU, AINDA, QUE A GALP SÓ FAZ INFORMAÇÃO
PRIVILIGIADA DESDE QUE TEM ACÇÕES COTADAS, OU SEJA, NESTE CASO,
A PARTIR DE 2006.
NA VERDADE, ANTES DE 2006 A GALP NÃO ERA COTADA PELO QUE,
ANTES DESSA DATA, A ARGUIDA NAO DIVULGAVA ESTE TIPO DE
INFORMAÇÃO NO SDI.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
ESCLARECEU, IGUALMENTE, QUE O BLOCO 14 É UMA DAS MATÉRIAS
DA ARGUIDA É FÁCIL TIRAR ESSA CONCLUSÃO.
POR OUTRO LADO, ACRESCENTOU, SER PRÁTICA DA ARGUIDA
DIVULGAR COMO JNFORMAÇÃO PRIVILIGIADA A DESCOBERTA DE
PETRÓLEO POR PARTE DE CONSÓRCIOS DE QUE FAÇA PARTE.
8, ALIÁS, PRÁTICA IGUAL POR PARTE DA MAIOR PARTE DAS
EMPRESAS, NOMEADAMENTE, FORA DE PORTUGAL.
MAIS, A SIMPLES INFORMAÇÃO DE QUE HÁ UM POÇO DE PETRÓLEO
DESCOBERTO JÁ É INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, UMA VEZ QUE JÁ É
SUSCEPTÍVEL DE FAZER VARIAR A COTAÇÃO DAS ACÇÕES.
A DESCOBERTA NÃO PASSA DE EXPECTATIVA DE RECEITA, NESTA
ALTURA AINDA NÃO FORAM EFECTUADOS OS ESTUDOS DE VIABILIDADE
ECON~MICA.
ENTRETANTO, SE DEPOIS DE EFECTUADOS TAIS ESTUDOS SE
CONCLUIR PELA FALTA DE VIABILIDADE, TAL CONCLUSÃO É, TAMBÉM,
INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA.
O OBJECTIVO TRADUZ-SE EM QUE TODOS TENHAM A INFORMAÇAO,
PRETENDE-SE QUE NÃO HAJA NINGUÉM QUE NÃO TENHA UMA
INFORMAÇÃO QUE OUTROS TÊM; NÃO SE PRETENDE QUE AS PESSOAS
TENHAM INFORMAÇÕES DIFERENTES.
É, PORTANTO, OBJECTIVO QUE O MERCADO SEJA TRANSPARENTE,
NOS VALORES MOBILIÁRIOS, TENDO TODOS AO MESMO TEMPO A MESMA
INFORMAÇÃO.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
TAMBÉM ESCLARECEU QUE O HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DO
MERCADO, ONDE ESTÃO COTADAS AS ACÇÕES DA GALP, É DAS OITO
HORAS ÁS 16 HORAS E 40 MINUTOS, FUNCIONANDO
ININTERRUPTAMENTE.
QUANTO A TAL ESCLARECEU, AINDA, QUE É MAIS GRAVE O ATRASO
NA DIVULGAÇÃO DA INFORMAÇÃO QUANDO O MERCADO ESTÁ EM
FUNCIONAMENTO DO QUE QUANDO ESTÁ ENCERRADO.
CONTRARIOU, ASSIM, A POSIÇÃO ASSUMIDA PELA ARGUIDA DE QUE
A DIFERENÇA ENTRE O MOMENTO EM QUE TEVE CONHECIMENTO QUE A
INFORMAÇÃO TINHA PERDIDO O CARÁCTER DE CONFIDENCIALIDADE E O
MOMENTO EM QUE A GALP DIVULGOU A INFORMAÇÃO, EM CAUSA -
CERCA DE DUAS HORAS - É IRRELEVANTE, POR SEREM SÓ DUAS HORAS,
ESCLARECENDO QUE, PELO C O N T ~ O , É RELEVANTE, UMA VEZ QUE A
SESSÃO ESTAVA A FUNCIONAR E QUE SE O CONHECIMENTO FOSSE ÁS 17
HORAS E A DIVULGAÇÃO ÁS 7 HORAS SERIA MENOS GRAVE POR O
MERCADO, NESSE INTERVALO DE TEMPO, ESTAR ENCERRADO.
INFORMOU QUE TEVE CONHECIMENTO DOS FACTOS, QUANTO Á
DIVULGAÇÃO NA REUTERS, EM REUNIÕES ONDE O ASSUNTO FOI
COMENTADO.
EXPLICOU QUE O CONSÓRCIO, EM CAUSA, TEM OUTROS MEMBROS
PARA ALÉM DA GALP, E QUE A PERCENTAGEM DESTA É DE CERCA DE
10% (NÃo DEU A CERTEZA QUANTO A PERCENTAGEM).
FOI, DE NOVO, CONFRONTADA DESTA VEZ COM FLS. 197 E 200, DOS
AUTOS, DONDE RESULTA QUE OUTRAS EMPRESAS DO CONSÓRCIO
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
DIVULGARAM A INFORMAÇÃO DEPOIS DA GALP (A TOTAL NO DIA 10 E A
ENI NO DIA 9), TENDO A TESTEMUNHA INSISTIDO QUE O OBJECTIVO DE A
INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA SER IMEDIATAMENTE DIVULGADA SE
TRADUZ EM SER ALGO QUE É SUSCEPTÍVEL DE INFLUENCIAR A
COTAÇÃO DEVENDO, ASSIM, SER IMEDIATAMENTE, COMUNICADA A
TODO O MERCADO - PORTUGAL E NÃO so - PARA QUE TODOS TENHAM
ACESSO, AO MESMO TEMPO, Á INFORMAÇÃO EM CAUSA.
QUESTIONADA SOBRE OS RESULTADOS SEMESTRAIS QUE FORAM
APRESENTADOS PELA GALP, NO DIA ANTERIOR AO DA DIVLTLGAÇÃO DA
INFOMAÇÃO EM CAUSA, NOS PRESENTES AUTOS, NÃO CONSEGUIU
RESPONDER POR NÃO SE LEMBRAR.
QUESTIONADA SOBRE SE TIVESSE OCORRIDO FUGA DE
INFORMAÇÃO, SE O ATRASO DE DUAS HORAS NA DIVULGAÇÃO, POR
PARTE DA ARGUIDA, NÃO SERIA NORMAL, INSISTIU QUE A INFORMAÇÃO
DIVULGADA POR UM DOS ELEMENTOS DO CONSORCIO NÃO PODE
DEIXAR DE SER DIVULGADA PELOS DEMAIS ELEMENTOS DO CONSÓRCIO,
DESCONHECENDO SE A ARGUIDA DIVULGOU A INFORMAÇÃO, EM CAUSA,
VOLUNTARIAMENTE OU SE HOUVE ALGUMA INSTRUÇÃO NESSE
SENTIDO. ACRESCENTOU QUE A GALP NÃO MENOSPREZA A CMVM, QUE
TEM A PREOCUPAÇÃO DE DIVULGAR.
CONFRONTADA, AINDA, COM FLS. 7, 32 E 59, DOS AUTOS,
CONSTATOU INFoRMAÇÕEs QUE FORAM DIVULGADAS PELA ARGUIDA
COMO INFORMAÇÕES PRIVILIGIADAS, TERMINANDO DIZENDO QUE A
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE I-ISBOA
INFORMAÇÃO, DOS AUTOS, TAMBÉM FOI DIVULGADA PELA GALP COMO
INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, MAS ATRASADA.
SOBRE O REFERIDO ATRASO, ESCLARECEU CONSIDERAR QUE
TENDO O POÇO, EM CAUSA, SIDO DESCOBERTO EM MARÇO DE 2007 QUE
ATÉ AGOSTO DE 2007 A ARGUIDA TINHA TIDO TEMPO MAIS DO QUE
SUFICIENTE PARA TER UM COMIUNICADO PRONTO PARA DIVULGAR.
FINALMENTE, DISSE QUE EM 9 DE AGOSTO DE 2007 A HORA DO
FECHO DA COTAÇÃO ERA ENTRE AS 16 HORAS E 35 OU 40 MINUTOS (NÃO
TINHA A CERTEZA) SENDO, ACTUALMENTE E PARA A TESTEMUNHA, O
PERÍODO MAIS SENSÍVEL DAS OITO HORAS AS 16 HORAS E 40 MINUTOS.
ASSIM, A INFORMAÇÃO DIVULGADA PELA GALP, AGORA EM
DISCUSSÃO, SENDO DIVULGADA AS 16 HORAS E 40 MINUTOS IRIA
INFLUENCIAR A NEGOCIAÇÃO NO DIA SEGUINTE;
2- RICARDO JOSE EMÍDIO GAIRIFO QUE fi TÉCNICO DA CMVM DESDE
2006 ATÉ HOJE E QUE, A DATA DOS FACTOS EM JULGAMENTO,
TRABALHAVA (DESDE 2006) NA SUPERVISÃO DO MERCADO, NO
DEPARTAMENTO DE SUPERVISÃO DE MERCADOS EMITENTES E QUE,
NESSAS FUNÇÕES, PROCEDEU A DETECÇÃO E ANÁLISE DA SITUAÇÃO
DOS AUTOS TENDO, ASSIM, TIDO INTERVENÇÃO NO PROCESSO
ADMINISTRATIVO QUE ORIGINOU OS PRESENTES AUTOS; É ECONOMISTA.
UMA VEZ QUE ACOMPANHAVA A INFORMAÇÃO E A NEGOCIAÇÃO,
TAMBÉM NA COMUNICAÇÃO SOCIAL, NESSA QUALIDADE, DETECTOU
UMA SUBIDA DA NEGOCIAÇÃO NA TARDE DO DIA NOVE DE AGOSTO DE
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
2007 TENDO HAVIDO, A PARTIR DAS 14 HORAS, UMA ~NVERSÃO NA
TRAJECTÓRIA DA GALP.
EXPLICOU QUE NO DIA IMEDIATAMENTE ANTERIOR - 8 DE AGOSTO
DE 2007 - A ARGUIDA TINHA APRESENTADO O RELATÓRIo SEMESTRAL E
QUE OS RESPECTIVOS RESULTADOS ERAM POSITIVOS.
NO DIA 9 DE AGOSTO ESTAVA TUDO EM QUEDA, E A GALP ABRIU A
SUBIR (EVENTUALMENTE POR CAUSA DO REFERIDO RELATÓRIo
APRESENTADO NO DIA ANTERIOR) E DEPOIS COMEÇOU A DESCER
(QUEDA ACENTUADA) E A PARTIR DAS 14 HORAS COMEÇOU A SUBIR E
MANTEVE-SE A SUBIR ATÉ AO FECHO DA SESSÃO.
FOI UMA ANOMALIA DETECTADA, A PARTIR DAS 14 HORAS O
TITULO DA GALP COMEÇOU A SUBIR E FECHA A SUBIR, TENDO DENTRO
DESSE PER.ÍODO SUBIDO MAIS DE 5% (APESAR DE TER FECHADO A MENOS
DO QUE QUANDO ABRIU) QUANDO TUDO O MAIS ESTAVA A DESCER, O
PS120, ETC. TEM IDEIA QUE A CMVM SE APERCEBEU DA ANOMALIA
CERCA DE UMA HORA ANTES DO FECHO (NÃO SE CONSEGUINDO
RECORDAR DE FORMA COMPLETAMENTE PRECISA).
A JUSTIFICAÇÃO PARA TAL SUBIDA TERÁ SIDO A NOTICIA DA
REUTERS SOBRE A DESCOBERTA DO POÇO DE PETRÓLEO, FOI ESSA A
ASSOCIAÇÃO QUE FEZ, ESCLARECENDO QUE QUEM FEZ A PRIMEIRA
COMUNICAÇÃO FOI A CHEVRON, PELAS 13 HORAS (FLS. 06, DOS AUTOS).
ESCLARECEU QUE NEM TODOS OS INVESTIDORES ASSOCIAM,
IMEDIATAMENTE, A GALP AO BLOCO 14 NÃO SE CONSEGUINDO
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
LEMBRAR SE, A DATA DOS FACTOS, O SITE DA GALP REFERIA TAL
BLOCO.
MAIS, ESCLARECEU QUE A ARGUIDA SEMPRE DIVULGOU ESTE TIPO
DE INFORMAÇÃO (EM DISCUSSÃO NOS AUTOS) COMO PRIVILIGIADA, O
QUE ACONTECE COM OUTRAS EMPRESAS, É PRATICA HABITUAL E
INTERNACIONAL.
ALIÁS, A SUBIDA DOS T~TULOS DA GALP ESTÁ, NORMALMENTE,
ASSOCIADA Á DESCOBERTA DE NOVOS POÇOS.
NO CASO DO POÇO 32, EM QUE A ARGUIDA TEM MENOS
PERCENTAGEM, A DIVULGAÇÃO FOI FEITA PELA GALP COMO
INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA.
ACRESCENTOU QUE NA ÚLTIMA HORA DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007,
HOUVE UM GRANDE VOLUME DE NEGÓCIOS - CERCA DE 1 A 2 MILHÕES
DE ACÇÕES TRANSACCIONADAS QUE É MAIS OU MENOS A MÉDIA DIARIA
DURANTE O MÊS DE AGOSTO DESSE ANO.
POR SUA VEZ, OS ANALISTAS CONSIDERAVAM A NOTICIA POSITIVA
(NOMEADAMENTE DO ESPIRITO SANTO, ETC.).
CONFIRMOU QUE A DIVULGAÇÃO FEITA PELA GALP OCORREU
CERCA DAS 17 HORAS E 30 MINUTOS, APÓS O ENCERRAMENTO DA BOLSA,
TENDO SIDO EFECTUADA NA "PASTA" DA INFORMAÇÃO PRIVILIADA,
CONCLUINDO QUE AS EXPECTATIVAS INFUENCIARAM A NEGOCIAÇÃO
DE FORMA IMEDIATA.
MAIS, ACRESCENTOU QUE OS 9% DA GALP NO CONSÓRCIO EM
CAUSA, NOS AUTOS, FORAM AVALIADOS PELO ESPIRITO SANTO EM
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
CERCA DE €120 M I L H ~ E S E QUE A UBS (CASA DE INVESTIMENTO COTADA
INTERNACIONALMENTE) SE PRONUNCIOU, NA ALTURA, NO SENTIDO DE
SEREM VENDIDAS AS ACÇÕES DA GALP;
3- CARLOS ALBERTO DA COSTA ALVES QUE TRABALHA PARA A
GALP DESDE JANEIRO DE 2001 SENDO, ACTUALMENTE, DIRECTOR DE
EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DA ARGUIDA E, EM AGOSTO DE 2007, ERA O
RESPONSÁVEL PELA PARTE DE EXPLORAÇÃO DA PRODUÇÃO DA MESMA;
É ENGENHEIRO DE MINAS.
EXPLICOU QUE A ACTIVIDADE RELATIVA Á PESQUISA DE PETRÓLEO
E GAS EXIGE A COMPROVAÇÃO SOBRE SE AS DESCOBERTAS TÊM OU NÃO
VALOR ECONOMICO.
RELATIVAMENTE A DESCOBERTA MALANGE-1 ESCLARECEU QUE A
DESCOBERTA EM CAUSA, NOS PRESENTES AUTOS, FOI A 1 la DESCOBERTA
ANUNCIADA POR TAL BLOCO E QUE TODAS FORAM COMUNICADAS, NÃO
SENDO A ARGUIDA A ÚNICA BENEFICIARIA DE TAIS DESCOBERTAS, UMA
VEZ QUE EXISTE UM CONSÓRCIO, UMA JOIN-VENTURE, SENDO O
OPERADOR DO BLOCO, EM CAUSA, A CHEVRON COM 33%, EXISTINDO
OUITROS PARCEIROS, COMO A TOTAL, ETC., TENDO A GALP A
PERCENTAGEM DE 9%.
AFIRMOU QUE NEM TODAS AS DESCOBERTAS SÃO ECONÓMICAS. NA
VERDADE, NO INICIO É DIFICIL SABER SE O SÃO OU NÃO; POR FORÇA DA
LEI TÊM QUE SE FAZER, MUITAS VEZES, OS AN~NCIOS OU
COMUNICAÇ~ES, ANTES DE SE SABER SE AS DESCOBERTAS, EM CAUSA,
SÃO OU NÃO ECONOMICAMENTE VIÁVEIS, NÃO SE ENCONTRANDO, Á
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA K t
DATA DAS COMUNICAÇ~ES, FEITOS OS CALCULOS ECONOMICOS PARA
QUE SE POSSA CONCLUIR DA VIABILIDADEDE ECONÓMICA.
ACTUALMENTE, A DESCOBERTA QUE DEU ORIGEM AOS PRESENTES
AUTOS AINDA NÃO FOI POSTA EM EXECUÇÃO, AINDA NÃO HÁ
PRODUÇÃO.
NA REALIDADE, TRATA-SE DE UM PROCESSO COMPLEXO,
NORMALMENTE É NECESSÁRIO FAZER MAIS DO QUE UM POÇO PARA SE
PODER CONCLUIR DA ECONOMICIDADE DO MESMO.
SÃO FEITOS CONTRATOS VARIOS NA JOIN-VENTURE (O CONTRATO,
NESTE CASO, ENCONTRA-SE JUNTO AOS AUTOS), HÁ ACORDOS DE
CONFIDENCIALIDADE, OS CONTRATOS REFERIDOS TÊM CLAUSULAS
SOBRE A CONFIDENCIALIDADE, TENDO QUE HAVER UM ACORDO PRÉVIO
ANTES DA COMUNICAÇÃO.
CONFRONTADO COM FLS. 147, DOS AUTOS, ESCLARECEU TER SIDO O
MAIL QUE RECEBEU, EXPLICANDO QUE HAVIA ACORDO COM O
OPERADOR PARA PUBLICAR A NOTICIA A 10 DE AGOSTO DE 2007; PORÉM
A CHEVRON COMUNICOU A 9 DE AGOSTO E PEDIU DESCULPA, CONFORME
FLS. 147, DOS AUTOS; ENTRETANTO, A GALP SÓ ESTAVA PREPARADA
PARA COMUNICAR A 10 DE AGOSTO.
INSISTIU QUE TEM QUE HAVER UM ACORDO PARA COMUNICAR NUM
DETERMINADO DIA E QUE, NESSE DIA, TODOS DEVEM COMUNICAR EM
SIMULTÂNEO.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
NO SEU ENTENDIMENTO O ACORDO DO CONS~RCIO, QUANTO AO
COMPROMISSO DE CONFIDENCIALIDADE NÃO PODIA AFASTAR O
CUMPRIMENTO DA LEI DE CADA PAIS.
ESCLARECEU QUE COMLNICOU, IMEDIATAMENTE, O TEOR DE FLS.
147, DOS AUTOS, AOS RESPONSAVEIS DAS COMUNICAÇÕES DA ARGUIDA
PORQUE, UMA VEZ QUE A CHEVRON COMUNICOU ANTES DO ACORDADO,
A GALP TINHA QUE REAGIR PORQUE TODOS DEVIAM COMUNICAR AO
MESMO TEMPO.
MAIS, ACRESCENTOU QUE, NORMALMENTE, SÓ SE ANLNCIA A
DESCOBERTA DE UM POÇO E QUE DEPOIS OS QUE SE ABREM NA MESMA
ZONA JA NÃO TÊM QUE SE COMUNICAR.
AFIRMOU QUE A DESCOBERTA DE UM NOVO POÇO É SEMPRE UM
FACTO RELEVANTE AINDA QUE, DEPOIS, SE POSSA CONCLUIR QUE,
ECONOMICAMENTE, NÃO É RELEVANTE.
CONFRONTADO COM FLS. 7, PARÁGRAFO 4, DOS AUTOS,
ESCLARECEU QUE HAVIA GARANTIAS PARA O SUCESSO DAQUELE POÇO
MAS NÃO, NECESSARIAMENTE, DO PROJECTO, DIZENDO-SE LA QUE
DEVIA SER ABERTO OUTRO POÇO, O QUE AINDA NÃO ACONTECEU.
EXPLICOU, AlNDA, QUE O BLOCO 14 NÃO É SÓ O POÇO MALANGE-1 E
QUANTO A IMPORTÂNCIA DESTE ULTIMO ESCLARECEU QUE FOI
ENCONTRADO PETROLEO NUM HORIZONTE GEOLOGICO QUE NÃO ERA
ONDE SE TINHA ENCONTRADO ATÉ LA, TENDO SIDO ENCONTRADO
OUTRO RESERVATÓRIO COM ÓLEO DE BOA QUALIDADE.
\
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE I-ISBOA
QUANTO AO BLOCO 32 FORAM FEITAS 12 DESCOBERTAS ATÉ HOJE,
TRATANDO-SE DE POÇOS PEQUENOS, NÃO TÊM RESERVAS SUFICIENTES,
APESAR DE O ÓLEO SER BOM, NÃO JUSTIFICANDO O DESENVOLVIMENTO
A NÃO SER QUE SE ENCONTRE MAIS PETRÓLEO QUE O VENHA A
JUSTIFICAR.
QUANTO AO FACTO DE NO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, PELAS 15
HORAS E 36 MINUTOS, A TESTEMUNHA JÁ TER CONHECIMENTO DA
COMUNICAÇÃO ANTECIPADA E A ARGUIDA SÓ TER FEITO A
COMUNICAÇÃO PELAS 17 HORAS E 34 MINUTOS, APENAS SOUBE
ESCLARECER QUE MAL SOUBE COMUNICOU, IMEDIATAMENTE, AOS
RESPONSÁVEIS PELAS COMUNICAÇÕES, EXPLICANDO QUE TEM QUE
HAVER UMA CONVERSA PRÉVIA, OS PARCEIROS DO CONS~RCIO SÃO
CONSULTADOS, INCLUSIVE, A PRÓPRIA SONANGOL QUE TEM QUE
AUTORIZAR A COMUNICAÇÃO.
UMA VEZ AUTORIZADA, O OPERADOR COMUNICA AOS DEMAIS O
DIA EM QUE DEVEM COMUNICAR.
QUESTIONADO SOBRE A EXISTÊNCIA DE O ACORDO TER SIDO EM
DUAS FASES, A SABER, DIA NOVE COMUNICAVA A SONANGOL E DIA DEZ
COMUNICAVAM OS DEMAIS, RESPONDEU QUE NÃO, QUE O ACORDO ERA
NO SENTIDO DE TODOS COMUNICAREM NO DIA 10 DE AGOSTO.
ACRESCENTOU QUE, HABITUALMENTE, A SONANGOL COMUNICA
DEPOIS DOS DEMAIS (DOIS OU TRÊS DIAS DEPOIS), NÃO SABENDO
EXPLICAR, NO CASO DOS AUTOS, PORQUE É QUE ANTECIPARAM E A
SONAGOL COMUNICOU ANTES.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
CONFRONTADO COM O MAIL DE FLS. 148, DOS AUTOS, EXPLICOU
QUE NAO TEVE CONHECIMENTO DESTE MAIL DE NOVE DE AGOSTO DE
2007, PELAS SEIS HORAS E QUARENTA E UM MINUTOS, COM A
INFORMAÇÃO DE QUE ANGOLA ÍA COMUNICAR ANTES. SÓ TEVE
CONHECIMENTO DO MAIL DE NOVE DE AGOSTO DE 2007, PELAS 15 HORAS
E 28 MINüTOS.
NA GALP NAO TEM CONHECIMENTO DE SITUAÇÕES QUE,
INICIALMENTE, NÃO PARECIAM VIÁVEIS E QUE, DEPOIS, SE TORNARAM
VIÁVEIS.
QUANTO ÁS NOTICIAS DOS JORNAIS QUE REFEREM O EFEITO
POSITIVO DESTE TIPO DE DESCOBERTA, ESCLARECEU QUE, MUITAS
VEZES, ESSA ANÁLISE DOS JORNALISTAS É FALSA OU NAO TEM SENTIDO,
NO CASO, Á PRIMEIRA VISTA ERA RELEVANTE, MAS SÓ DEPOIS É QUE SE
PODE CONCLUIR DE FORMA CERTEIRA.
ACRESCENTOU QUE NÃO TEM CONHECIMENTO QUE A SONANGOL
TIVESSE DIVULGADO NO DIA NOVE E INSISTIU QUE A ARGUIDA APENAS
ACORDOU EM DIVULGAR DIA DEZ E NÃO DIA NOVE.
FINALMENTE, ACRESCENTOU, AINDA, QUE A CHEVRON TEM MAIS
EXPLORAÇÕES EM ANGOLA, NOMEADAMENTE, O BLOCO ZERO E EM
CABINDA, EM QUE A GALP NAO PARTICIPA;
4- TIAGO MARIA RAMIRES PROVIDÊNCIA VILAS BOAS QUE É
TRABALHADOR DA ARGUIDA SENDO RESPONSÁVEL PELA ÁREA QUE
INTERAGE COM O MERCADO (DESDE OUTUBRO DE 2006, ALTURA EM QUE
A GALP PASSOU A SER COTADA NA BOLSA) E COM A COMUINICAÇÃO
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
SOCIAL (DESDE MEADOS DE 2007), REPRESENTANDO A EMPRESA
ARGUIDA PARA AS RELAÇÕES COM O MERCADO; É ECONOMISTA.
RELATIVAMENTE AOS COMUNICADOS, TEMA QUE CONSIDERA
RELEVANTE, EXPLICOU QUE A INTERPRETAÇÃO QUE FAZEM DA LEI
DEPENDE DO CASO CONCRETO.
ASSIM, NO CASO DOS AUTOS, DIVULGARAM, Á CAUTELA, SENDO
QUE A LUZ ACTUAL É DIFICIL SABER DA RELEVÂNCIA QUE TERIA.
FOI DECISÃO DA GALP COMUNICAR ESTA SITUAÇÃO, NÃO HOUVE
QUALQUER CONTACTO POR PARTE DA CMVM, SENDO QUE A ARGUIDA
TEM ESTE TIPO DE SITUAÇÕES EM ANGOLA E NO BRASIL.
A COMUNICAÇÃO, EM CAUSA, ESTAVA PREVISTA PARA O DIA DEZ
DE AGOSTO DE 2007.
EXPLICOU QUE NO BRASIL OS COMUNICADOS SÃO FEITOS COM
MAIOR CELERIDADE E QUE EM ANGOLA SÃO FEITOS COM ATRASO EM
RELAÇÃO AOS FACTOS, ESTANDO DEPENDENTE DE AUTORIZAÇÕES DO
MINISTÉRIO COMPETENTE.
VOLTANDO AO CASO, DOS AUTOS, ALGUÉM SE ENGANOU E
ANTECIPOU A REFERIDA COMUNICAÇÃO PREVISTA PARA O DIA DEZ DE
AGOSTO; A ARGUIDA TEVE CONHECIMENTO DA ANTECIPAÇÃO CERCA DE
UMA HORA E TAL ANTES DA HORA EM QUE A PRÓPRIA DIVULGOU
TENDO, CONSEQUENTEMENTE, A GALP LEVADO CERCA DE UMA HORA
(DEPOIS DE TOMAREM CONHECIMENTO DA ANTECIPAÇÃO) A
DILIGENCIAR PARA COMUNICAR.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
ACRESCENTOU QUE NO DIA NOVE DE AGOSTO DE 2007 A ARGUIDA
COMUNICOU OS RESULTADOS DA EMPRESA QUE ERAM POSITIVOS,
MOTIVO POR QUE TIVERAM UM DIA MUITO ATRAPALHADO, COM MUITOS
CONTACTOS POR CAUSA DESSES RESULTADOS.
TEVE CONHECIMENTO DA ANTECIPAÇÃO PELO MAIL QUE LHE FOI
REMETIDO PELA TESTEMUNHA, CARLOS ALBERTO DA COSTA ALVES,
TENDO ENTÃO FEITO AS DILIGÊNCIAS PARA DIVULGAR,
NOMEADAMENTE, CONFIRMAR QUE COMUNICAÇÃO HAVIA SIDO FEITA E,
UMA VEZ CONFIRMADA, OBTER AUTORIZAÇÃO DA HIERARQUIA
ESCLARECENDO. A TESTEMUNHA, QUE NÃO TEM PODERES PARA DECIDIR
FAZER A COMUNICAÇÃO SEM MAIS.
SABE QUE A INFORMAÇÃO E CONFIDENCIAL ATÉ QUE HAJA
ACORDO COM O CONSÓRCIO PARA COMUNICAR.
ESCLARECEU QUE HOUVE COMUNICAÇÕES DA GALP BEM MAIS
IMPORTANTES E RELEVANTES QUE A DOS AUTOS, NOMEADAMENTE,
EXEMPLIFICANDO COM LIMA SITUAÇÃO QUE TERÁ OCORRIDO EM
NOVEMBRO DE 2007 EM QUE AS ACÇÕES SUBIRAM MAIS DE 40%.
NO CASO DOS AUTOS, A COMUNICAÇÃO FOI FEITA DEPOIS DO
MERCADO FECHAR; AS ACÇÕES SUBIRAM NO DIA NOVE DE AGOSTO, POR
CAUSA DOS RESULTADOS POSITIVOS DA GALP, NO DIA DEZ NÃO
SUBIRAM.
NA VERDADE, NO SEU ENTENDIMENTO, A SUBIDA OU DESCIDA DAS
A C Ç ~ E S É INFLUENCIADA POR MUITOS FACTORES E A COMUNICAÇÃO
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
RELATIVA A DESCOBERTA DE UM POÇO PODE NÃO JUSTIFICAR A SUBIDA
DAS ACÇÕES.
NA VERDADE, OS RESULTADOS QUE A EMPRESA APRESENTE PODEM
SE MAIS IMPORTANTES PAR4 A SUBIDA DAS ACÇÕES DA GALP DO QUE A
DESCOBERTA DE PETR~LEO.
CONCLUI QUE FOI O QUE ACONTECEU NO CASO DOS AUTOS, OS
RESULTADOS DA EMPRESA FORAM MUITO ACIMA DOS ESPERADOS E AS
ACÇÕES SUBIRAM.
MAIS, NESTE CASO DIVULGARAM A CAUTELA, HOJE, SE CALHAR,
CONCLUIA QUE NÃO HAVIA MOTIVO PAR4 COMUNICAR.
ESCLARECEU, MAIS UMA VEZ, QUE TINHAM TUDO PREPARADO
PARA COMUNICAREM NO DIA DEZ DE AGOSTO; ENTRETANTO, TIVERAM
QUE PREPARAR A INFORMAÇÃO PARA COMUNICAR NO DIA NOVE DE
AGOSTO.
NA VERDADE, SOUBERAM AS 15 HORAS E 30 MINUTOS DO REFERIDO
DIA NOVE, DA ANTECIPAÇÃO, E COMUNICARAM ÁS 17 HORAS E TAL, DO
MESMO DIA, EXPLICANDO QUE FOI O TEMPO NECESSÁRIO PAR4
CONFIRMAREM SE O COMUNICADO QUE ÍAM FAZER ERA NA MESMA
LINHA DO COMUNICADO FEITO PELA CHEVRON (O QUE FOI FEITO
ATRAVÉS DO SITE DA CHEVRON) E TIVERAM QUE OBTER O ACORDO DA
HIERARQUIA DA EMPRESA PAR4 COMUNICAREM.
ACRESCENTOU QUE O HORÁRIO DA BOLSA É DE ABERTURA AS OITO
HORAS E DE ENCERRAMENTO AS DEZASSEIS HORAS E TRINTA MINUTOS
E QUE A CMVM PEDE QUE OS COMUNICADOS SEJAM FEITOS DAS
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
DEZASSEIS HORAS E QUARENTA E CINCO MINUTOS DE LTM DIA ATÉ ÁS
SETE HORAS E QUARENTA E CINCO MINUTOS DO DIA SEGUINTE ÚTIL.
RELATIVAMENTE AOS FACTOS EM JULGAMENTO, ESCLARECEU QUE
ATÉ ESTA SITUAÇÃO SE VERIFICAR, A PRÁTICA ERA A DE TODOS
COMUNICAREM NO MESMO MOMENTO. PORÉM, DESTA VEZ AS COISAS
CORRERAM MAL E A CHEVRON ANTECIPOU-SE.
ASSIM, O OPERADOR INFORMOU QUE O COMUNICADO SAIRIA DIA DEZ
DE AGOSTO (NÃo SE CONSEGUIU LEMBRAR SE O FARIA TAMBÉM A
SONANGOL), TENDO IDEIA QUE TAL INFORMAÇÃO FOI DADA VIA MAIL E,
NORMALMENTE, É FEITA COM ALGUMA ANTECEDÊNCIA PARA
PREPARAREM O COMUNICADO.
PORÉM, A SONANGOL ANTECIPOU-SE. INQUIRIDO SOBRE SE AQUELA
TERIA UM DIREITO ESPECIAL, RESPONDEU QUE NÃO SE RECORDAVA,
DIZENDO QUE SE HOUVESSE UM ACORDO EM QUE A SONANGOL
COMUNICARIA NO DIA NOVE E OS DEMAIS NO DIA DEZ, NÃO O
ACEITARIA.
ACRESCENTOU QUE TODAS AS DESCOBERTAS, A CAUTELA, SÃO
COMUNICADAS COMO INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, EXCEPTO AS QUE
ESTÃO EM OFF-SHORE.
NO CASO DOS AUTOS, SE OCORRESSE HOJE, AFIRMOU QUE NÃO
COMUNICARIA COMO INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA.
CONFRONTADO COM FLS. 148, DOS AUTOS, AFIRMOU QUE NÃO TEVE
CONHECIMENTO DO MAIL DE PEDRO GAMA.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
ACRESCENTOU QUE TEVE CONHECIMENTO DA ANTECIPAÇÃO Ás
QUINZE HORAS E T ~ T A E SEIS MINUTOS DO DIA NOVE, ATRAVÉS DO
MAIL ENVIADO PELA TESTEMUNHA, CARLOS ALBERTO DA COSTA ALVES.
PORÉM, CONFRONTADO COM O FACTO DE, NA CONTESTAÇÃO, A
GALP ALEGAR QUE ESTA TESTEMUNHA NO DITO DIA NOVE ESTEVE
INCONTACTÁVEL ATÉ Ás DEZASSEIS HORAS E VINTE MINUTOS, ACABOU
POR DIZER QUE, SE CALHAR, s6 SOUBE Á s DEZASSEIS HORAS E VINTE
MINUTOS;
4- INÊs MARIA RIBEIRO SANTOS QUE TRABALHA NA GALP DESDE
SETEMBRO DE 2002 ATÉ HOJE NO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇ~ES
PARA DIVULGAR, COORDENAÇÃO COM OS REGULADORES, RECOLHA DE
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO AO MERCADO, FUNÇÕES QUE EXERCIA Á
DATA DOS FACTOS EM ANÁLISE; É ECONOMISTA.
DISSE QUE SE RECORDAVA DE TEREM RECEBIDO UM MAIL A
INFORMAR QUE A CHEVRON TINHA ANTECIPADO A COMUNICAÇÃO E
QUE DILIGENCIARAM, IMEDIATAMENTE, NO SENTIDO DE FAZEREM LOGO
A COMUNICAÇÃO.
EXPLICOU QUE A DIVULGAÇÃO É UM PROCESSO QUE EXIGE
AUTORIZAÇÃO DA HIERARQUIA, ETC. NESTE CASO A COMUNICAÇÃO
ANTECIPADA IMPLICA CONFIRMAR SE A COMUNICAÇÃO FEITA PELA
CHEVRON É AQUELA QUE A GALP VAI FAZER, ETC, OU SEJA, ENVOLVE
TRABALHO POR PARTE DA GALP.
ESCLARECEU QUE SOUBE DA ANTECIPAÇÃO ATRAVÉS DE UM MAIL
QUE RECEBEU CERCA DAS QUINZE HORAS E TRINTA MINUTOS TENDO,
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
IMEDIATAMENTE, IDO FALAR COM A TESTEMUNHA TIAGO VILLAS BOAS,
NÃO SE LEMBRANDO DO TEOR DA CONVERSA, GARANTINDO QUE MAL
VIU O TEOR DO MAIL FOI, IMEDIATAMENTE, FALAR COM AQUELE,
TENTARAM, DE SEGUIDA, CONFIRMAR O MAIS RAPIDAMENTE
POSSÍVEL A NOTICIA DA CHEVRON (ATRAVÉS DO RESPECTIVO SITE) E,
TANTO QUANTO SE LEMBRA, O COMUNICADO ERA SEMELHANTE AO DA
GALP.
QUESTIONADA PORQUE SÓ DIVULGARAM ÁS DEZASSETE HORAS E
TRINTA E SEIS MINUTOS, EXPLICOU QUE A PARTIR DO FECHO DO
MERCADO QUE OCORRE ÁS DEZASSEIS HORAS E TRINTA MINUTOS, MAIS
HORA MENOS HORA É IRRELEVANTE.
QUANTO A EVOLUÇÃO DAS COTAÇÕES DO DIA NOVE DE AGOSTO DE
2007, AFIRMOU QUE ABRIU E FECHOU MAIS OU MENOS COM O MESMO
VALOR.
SABE QUE FOI ACORDADO QUE A DIVULGAÇÃO SERIA NO DIA DEZ
DE AGOSTO DE 2007, MAS NÃO SABE SE TAL ACORDO ABRANGIA A
SONANGOL.
ESCLARECEU QUE NO EXERCICIO DAS SUAS FUNÇÕES,
NORMALMENTE, ACOMPANHA A INFORMAÇÃO QUE VAI SAINDO NAS
AGÊNCIAS NOTICIOSAS SOBRE A GALP, FAZ PARTE DAS FUNÇÕES DA
EQUIPA EM QUE ESTÁ INTEGRADA, MAS NÃO HÁ NINGUÉM QUE ESTEJA
ESPECIFICAMENTE DEDICADO A TAL TRABALHO.
NÃO SE RECORDA SE A COMUNICAÇÃO A EFECTUAR NO DIA DEZ JÁ
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
FINALMENTE, ACRESCENTOU NÃO SE LEMBRAR AO CERTO, MAS
TEM A IDEIA DE QUE A TESTEMUNHA, TIAGO VILLAS BOAS, NÃO ESTEVE
INCONTACTÁVEL NO DIA NOVE DE AGOSTO DE 2007 ATÉ ÁS DEZASSEIS
HORAS E VINTE MINUTOS.
FINALMENTE, FORAM CONSIDERADOS OS DOCUMENTOS DE FLS.
06, 10 A 47,49 A 66, 107, 109 A 144, 147 A 149, 153 A 161, 182 A 201,206,216 A
288,297 A 327,384 A 397, DOS AUTOS.
TODAS AS TESTEMUNHAS INQUIRIDAS DEPUSERAM, NA MEDIDA DA
SUA INTERVENÇÃO E CONHECIMENTO DOS FACTOS, DE FORMA ISENTA E
CREDÍVEL, TENDO ESPECIAL RELEVO O DEPOIMENTO DA PRIMEIRA
TESTEMUNHA DE DEFESA POR TER SIDO A PRIMEIRA PESSOA DA GALP A
RECEPCIONAR O MAIL QUE COMUNICAVA, A ARGUIDA, O FACTO DE TER
HAVIDO DIVULGAÇÃO ANTECIPADA DA INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA EM
CAUSA, NOS AUTOS; A SEGUNDA TESTEMUNHA DE DEFESA, ATENTAS AS
FUNÇÕES QUE EXERCIA E EXERCE NA GALP E A INTERVENÇÃO QUE TEVE
CONFORME SUPRA E, NOS MESMOS TERMOS, O DEPOIMENTO DA
TERCEIRA TESTEMUNHA DE DEFESA.
POR SUA VEZ, O DEPOIMENTO DA SEGUNDA TESTEMUNHA DE
ACUSAÇÃO TEVE MAIOR RELEVÂNCIA (EM RELAÇÃO A PRIMEIRA
TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO), NA FIXAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO,
ATENTA A SUA INTERVENÇÃO NOS AUTOS, UMA VEZ QUE A PRIMEIRA
TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO NÃO TEVE INTERVENÇÃO DIRECTA NO
PROCESSO ADMINISTRATIVO QUE DEU ORIGEM AOS PRESENTES AUTOS.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
FINALMENTE, OS DOCUMENTO REFERIDOS FORAM SUPORTE
FUNDAMENTAL PARA DAR COMO PROVADOS PARTE SUBSTANCIAL DOS
FACTOS.
Para além daquilo que se agora se deixou transcrito, a sentença sob
recurso indicou também, relativamente a cada ponto da matéria de facto provada, os
elementos de prova documental que relevaram para a formação da convicção do
Tribunal, por referência para as folhas do processado que lhes correspondem.
O no 2 do art. 374" do CPP, que anteriormente transcrevemos, vincula o
Tribunal fazer a indicação e a proceder ao exame crítico dos meios de prova em que se
baseou a sua convicção.
Por exame crítico da prova entende-se, muito em síntese, a enunciação das
razões que levaram o julgador a conferir poder de convicção a determinado meio de
prova e a denegá-lo a outro.
A dimensão concreta do dever de exame crítico da prova não é idêntica
em todos os processos, variando em função de diversos factores, entre os quais podemos
destacar a maior ou menor complexidade dos factos probandos e o conteúdo
contraditório ou não dos meios de prova submetidos a apreciação do julgador.
Assim, o trabalho de explicitação das razões que levaram o Tribunal a
privilegiar, na livre formação da sua convicção, determinado meio de prova em
detrimento de outro assumirá um relevo muito maior num processo em que sejam
sujeitos à apreciação do órgão judicial meios de prova de conteúdo contraditório, como
sucede, por exemplo, quando são produzidos depoimentos testemunhais divergentes
sobre a mesma factualidade.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
No presente processo, o grosso da matéria de facto julgada assente
demonstrou-se por via documental, que apresenta características de maior objectividade,
em comparação com a prova pessoal, e mesmo a prova testemunhal produzida não se
mostra contrastada em questões decisivas.
Neste contexto, teremos de concluir que a sentença sob recurso satisfaz
suficientemente os deveres de indicação e de exame crítico da prova, em termos deixar
expressos os fundamentos lógicos do juízo probatório, afirmativo e negativo,
formulado, não sendo exigível que tivesse ido mais longe do que foi na explicitação
desse exame crítico.
Consequentemente, a sentença sob recurso não padece da nulidade da
falta de fundamentação, na parte relativa à decisão sobre a matéria de facto.
Em conexão com a questão agora em apreço, a recorrente veio invocar a
inconstitucionalidade do no 2 do art. 374" do CPP, quando interpretado em termos de
admitir como suficiente a fundamentação do juizo sobre a matéria de facto constante da
sentença impugnada, por violação das disposições dos arts. 32" no 1 e 205" no 1 da CRP.
O primeiro dos invocados dispositivos constitucionais reza:
O processo criminal assegura todas as garantias de defesa, incluindo o
recurso.
Por sua vez, o segundo desses normativos estatui:
As decisões dos tribunais que não sejam de mero expediente são
jimdamentadas na forma prevista na lei.
A disposição do no 1 do art. 32" da CRP é manifestamente inaplicável a
situação em apreço, pois trata-se de uma norma privativa do processo criminal.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
A regra constitucional equivalente, para o processo de contra-ordenação, é
a do no 10 do art. 32", cujo teor é o seguinte:
Nos processos de contra-ordenação, bem como em quaisquer processos
sancionatórios, são assegurados ao arguido os direitos de audiência e defesa.
Ora, não se vislumbra como poderão os direitos de audiência e de defesa
da arguida em processo contra-ordenacional ter sido lesados pela fundamentação da
decisão sobre a matéria de facto, tal como se apresenta na sentença recorrida.
Quanto ao dever de fundamentação das decisões judiciais, consagrado
pelo no 1 do art. 20S0 da CRP, importa verificar que esta norma constitucional que
remete para a lei ordinária a sua concreta configuração.
Como é evidente, o comando constitucional agora em referência não pode
ser interpretado como um ((cheque em branco)) ao legislador ordinário e a margem de
discricionariedade a este concedida tem por limite o imperativo de não diminuir a
dimensão da exigência de fundamentação das decisões, ao ponto de a esvaziar de
conteúdo útil.
Conforme facilmente se constata, confrontando a parte da sentença
recorrida dedicada a fundamentação da decisão de facto, não está em causa uma
situação comparável.
Como tal, improcede a invocação de inconstitucionalidade em apreço, em
qualquer das suas vertentes.
Passaremos agora apreciar a arguição da nulidade (falta de
fundamentagão ou omissão de pronúncia) resultante da não consideração pela sentença
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
recorrida de factos alegados na motivação do recurso de impugnação judicial e referidos
pelas testemunhas inquiridas na fase judicial do processo, que seriam (vd. ponto 14 da
motivação do recurso em apreço), em síntese, os seguintes:
- Existem acordos de confidencialidade entre os elementos do consbrcio
em causa;
- A informação é mantida confidencial até que exista acordo entre os
membros do consórcio;
- Estava acordada a divulgação da informação no dia 10/8/07;
- Por e-mail, de 9/8/07, as 15h30m, um elemento da «Chevron» informou
um funcionzlrio da ora recorrente que, por lapso, a «Chevron» tinha divulgado a
informação nesse dia;
- Tinha de se confirmar se essa divulgação tinha sido feita e obter
autorização da administração da recorrente parta efectuar a divulgação.
No entender da recorrente, os factos agora enunciados seriam relevantes
para ajuizar se ela poderia beneficiar, na circunstância, do diferimento da divulgação da
informação previsto no no 1 do art. 248'-A do CVM e se a sua conduta lhe pode ser
censurada a título de negligência.
Com efeito, a sentença sob recurso não emitiu juízo probatório,
afirmativo ou negativo, sobre os factos em referência.
Conforme a CMVM justamente assinalou na sua resposta a motivação da
recorrente, o no 2 do art. 374O do CPP não impõe ao Tribunal o dever de tomar posição,
julgando-o provado ou não provado, sobre todo e qualquer facto que tenha sido alegado
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
pelos sujeitos processuais, mas somente sobre aqueles que possam relevar a decisão da
causa, em alguma das suas soluções em direito plausíveis.
Relativamente a alegação de que os factos não considerados podem
assumir relevo para ajuizar se a arguida actuou com negligência, importa ter presente
que este nexo de imputação subjectiva é um conceito de direito que tem de ser
preenchido por factos, os quais, no caso concreto, se reconduzem ao conteúdo do ponto
23 da factualidade provada.
Nesta conformidade, os elementos factuais sobre os quais a recorrente
entende que o Tribunal «a quo» deveria ter-se pronunciado têm, na sua perspectiva, um
interesse instrumental, para efeito de se darem como não provados, no todo ou em parte,
os factos integradores da negligência.
Por conseguinte, o Tribunal a quo» não estava vinculado a emitir juízo
probatório sobre tais factos instrumentais, pois não são estes, em si mesmos, que
relevam para a decisão da causa, mas sim aqueles para cuja prova, negativa neste caso,
eles podem contribuir.
Quanto a eventualidade de os factos em causa poderem justificar, nos
termos do no 1 do art. 248'-A do CVM, interessará recordar o teor dessa disposição
legal, que C o seguinte:
Os emitentes referidos no no 1 do artigo anterior podem decidir diferir a
divulgação pública da informação aí referida, desde que, cumulativamente:
a) A divulgação imediata seja susceptível de prejudicar os seus
legítimos interesses;
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
b) O diferimento não seja susceptível de induzir o público em erro;
c) O emitente demonstre que assegura a conjdencialidade da
informação.
Aquilo que surge como mais saliente na disposição legal agora transcrita
é que os requisitos do diferimento da divulgação da informação privilegiada têm que se
verificar cumulativamente, bastando a falta de um deles para que tal diferimento fique
legalmente inviabilizado.
O no 2 do mesmo artigo considera, exemplificativamente, susceptíveis de
prejudicar os legítimos interesses do emitente as seguintes situaçaes:
a) Decisões tomadas ou contratos celebrados pelo órgão de direcção de
um emitente, cuja eficácia dependa da aprovação de outro órgão do
emitente, desde que a sua divulgação antes da aprovação,
comprometa a correcta apreensão da informação pelo público;
b) Processos negociais em curso ou elementos com eles relacionados,
desde que a respectiva divulgação pública possa afectar os
resultados ou o curso normal dessas negociações.
Embora as situações tipificadas nas als. a e b) do no 2 do art. 248'-A do
CPP tenham, como se disse, natureza exemplificativa e não esgotem as hipóteses
legalmente reconhecidas, em que a divulgação imediata da informação privilegiada
pode lesar os legítimos interesses da entidade, as mesmas fornecem-nos um padrão para
ajuizar quais as restantes situações em que poderá estar em causa semelhante lesão de
interesses, que serão aquelas que poderão acarretar consequências comparáveis às
geradas pelas hipóteses descritas naquelas alíneas.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
Ora, se tivermos em consideração, conjuntamente, os factos julgados
provados pela sentença recorrida e aqueles sobre os quais a recorrente entende que
devia ter sido emitido juízo, verifica-se nada se prefigura de comparável as situações
tipificadas nas als. a) e b) do no 2 do art. 248'-A do CVM do ponto de vista dos
interesses da arguida.
Antes de mais, será necessário ter presente que qualquer acordo de
confidencialidade existente entre a arguida e os restantes membros do consórcio que
explorava o poço de petróleo referenciado no processo nunca será susceptivel de gerar
para a arguida direitos ou obrigações que possam justificar o diferimento do
cumprimento do dever de divulgação da informação privilegiada.
Com efeito, refere, a esse respeito, Filipe Matias Santos (((Divulgação de
Informação Privilegiada)), 201 1, pág. 91): ((Quando os emitentes estão sujeitos a
segredo de natureza contratual (ou qualquer outra não legal), caso típico dos acordos de
confidencialidade, o dever de divulgação prevalece sobre o segredo (art. 280' do Código
Civil))).
O no 1 do art.28O0 do CC declara nulo, além do mais, o negócio jurídico
cujo objecto seja contrário a lei.
Nesta ordem de ideias, poderemos verificar que a eventual obrigação de
fonte contratual de manter confidencial determinada informação sempre terá de ceder
perante o dever legal de divulgação da mesma.
Por outro lado, nunca poderia a arguida invocar em apoio do seu
procedimento que o cumprimento imediato do dever de divulgação da informação
privilegiada seria susceptivel de lesar os seus interesses no plano de seu relacionamento
com os restantes sujeitos do acordo de confidencialidade, já que semelhante interesse
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
não poderia ser considerado «legítimo» para o efeito previsto na al. a) do no 1 do art.
348"-A do CVM, pois equivaleria a postergar um dever legal em beneficio da uma
obrigação de fonte contratual, o que é repudiado pela ordem jurídica.
Consequentemente, os factos, sobre os quais a requerente entende que o
Tribunal «a quo» deveria ter emitido juízo probatório, por si ou conjugados com os que
foram julgados demonstrados pela sentença recorrida, não são de molde a integrar a
hipótese prevista na al. a) do no 1 do art. 348'-A do CVM, o que desde logo obsta a que
a arguida pudesse ter beneficiado da faculdade de diferir o cumprimento do dever de
divulgação da informação referida nos autos.
Em conclusão, diremos que a referenciada factualidade não era molde a
relevar para a decisão a proferir, nos termos em que a recorrente configura essa
relevância, pelo que o Tribunal «a que» não se encontrava vinculado a emitir sobre ela
juízo probatório, não constituindo nulidade, seja enquanto falta de fundamentação, seja
a título de omissão de pronúncia, a falta de formulação desse juízo.
Segundo a recorrente, a sentença sob recurso padeceria ainda da nulidade
omissão de pronúncia por não ter considerado a aplicação do disposto no art. 248'-A do
CVM.
A não consideração na decisão da causa de uma norma jurídica aplicável
não configura uma omissão de pronúncia, pois, nessa hipótese, o Tribunal não se
abstém de conhecer de qualquer questão, que esteja vinculado a apreciar.
Pelo contrário, o Tribunal conhece da «questão», mas sem fazer aplicação
da norma jurídica que se impõe aplicar ao caso, o que se reconduz a verdadeiro erro de
julgamento, em matéria de direito.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
Tal deficiência, quando exista, não é de molde a afectar a validade
formal da sentença, mas antes o seu bem fundado substancial.
Assim, também nesta parte improcede a arguição da nulidade.
Seguidamente, passaremos a conhecer da invocação dos vícios previstos
no no 2 do art. 41 O0 do CPP.
Quanto a invocação da insuficiência da matéria de facto provada para a
decisão, com fundamento em não ter a sentença recorrida tomado conhecimento dos
factos alegados na motivação do recurso de impugnação judicial, a propósito dos quais
a recorrente arguiu também a nulidade da sentença, nada mais se nos oferece dizer
senão que, ocorrendo o vício em apreço quando a sentença tenha deixado de tomar
conhecimento de factos indispensáveis à justa decisão da causa e tendo n6s já ajuizado
como irrelevantes para a decisão os factos que, no entender da recorrente, foram
indevidamente postergados pelo Tribunal «a que», o invocado vício mostra-se
necessariamente excluído.
A recorrente invocou os vícios de erro notório na apreciação da prova e
de contradição entre a fundamentação e decisão, a propósito do juizo probatório que
recaiu sobre os factos descritos nos pontos 10, 1 1, 12,21 e 22 da matéria assente.
Contudo, na motivação do recurso, a recorrente não aponta qualquer
oposição ou incompatibilidade lógica entre o segmento decisório da sentença e
fundamentação que o antecede, nem nós de todo a conseguimos discernir.
Como tal, não pode sentença estar inquinada pelo segundo dos vícios em
referência.
O vício de erro notório na apreciação da prova é frequentemente
invocado pelos recorrentes com base em razões que se prendem com divergências
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
acerca da valoração probatória entre o Tribunal «a que» o sujeito que interpõe o
recurso.
Tais divergências relevam, o mais das vezes, da impugnação alargada da
matéria de facto, prevista nos nos 3 e 4 do art. 412' do CPP, sendo normalmente
apreciadas como tal, nos casos em que C admissível o recurso nessa matéria.
No entanto, o no 1 do art. 75" do RGCO limita a matéria de direito os
poderes de cognição das Relações, nos recursos interpostos das sentenças ou dos
despachos que conheceram dos recursos de impugnação judicial de decisões
administrativas em processo de contra-ordenação.
Assim sendo, devem os Tribunais da Relação usar de particular rigor no
sentido obstar ao atendimento de pretensões recursivas que configuram verdadeiras
impugnações da decisão sobre a matdria de facto, legalmente inadmissíveis em processo
contra-ordenacional, nomeadamente, sob a capa da arguição do erro notório na
apreciação da prova.
No caso presente, o erro notório invocado pela recorrente consiste em ter
o Tribunal a quo» julgado provados os factos vertidos nos pontos 10, 11, 12, 2 1 e 22,
sem que o conteúdo dos documentos, em cada um deles indicados como fundamento da
convicção do julgador, seja susceptível de permitir tal conclusão probatória
Conforme já se disse, de acordo com o disposto no proémio do no 2 do art.
410" do CPP, os vícios da decisão previstos nas alíneas desse normativo terão de
resultar do próprio texto da decisão, por si só ou conjugado com as regras da
experiência comum, não podendo o julgador, para o efeito de ajuizar da sua verificação,
valer-se de elementos exteriores como sejam elementos de prova cujo conteúdo não se
encontre de alguma forma reproduzido no texto da sentença.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
Ora, é essencialmente isso que a recorrente vem peticionar a este Tribunal
da Relação ao questionar o juízo probatório que recaiu sobre os factos dos pontos 10,
1 1, 12, 2 1 e 22 da matéria provada, com base na sua confrontação com o teor de
documentos, não vertido no texto da decisão recorrida.
Tal sindicância do juízo probatório formado pelo Tribunal «a que» não
se encontra coberta pela disposição do no 2 do art. 410' do CPP, sendo, por isso,
inadmissível no âmbito do presente recurso.
Nesse sentido, improcede a arguição do erro notório na apreciação da
prova, nos termos em que a recorrente a configurou.
Em sede de vícios formais, a recorrente censura ainda a sentença
recorrida a circunstância de o conteúdo dos pontos 13 e 20 a 23 da factualidade provada
ser constituída por conclusões e por juízos valorativos e não por factos da vida real.
Tal crítica manifestamente não é válida para os pontos 13 e 20 a 22.
O texto do ponto 23, que trata dos elementos factuais constitutivos da
negligência, contém efectivamente urna componente de juízo valorativo, na parte em
refere que «a arguida agiu.. . violando um dever de cuidado a que estava obrigada e que
de que era capaz)).
Contudo, no segmento seguinte da fiase, começando em «no sentido
de..)), concretiza-se o dever de cuidado violado e o comportamento alternativo que a
arguida se impunha, conferindo desse modo substrato factual ao juízo valorativo.
Como tal, importa concluir que a sentença não padece de qualquer vício
formal, em razão do conteúdo dos pontos 13 e 20 a 23 da matéria de facto assente.
Passemos, então, a apreciar a parte do recurso que se prende com o
próprio bem fundado substancial da sentença impugnada.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
Acerca do enquadramento jurídico dos factos apurados, a sentença sob
recurso expende:
A ARGUIDA, "GALP ENERGIA, S.G.P.S., S.A.", É IMPUTADA A PRÁTICA
DE UMA CONTRA-ORDENAÇÃO, A TÍTULO DOLOSO, PREVISTA E PLNIDA
PELOS ARTIGOS 248", NO1, 388", NOS 1, ALÍNEA A) E 3 E 394", NOl, ALÍNEA I),
TODOS DO CÓDIGO DOS VALORES MOBILIÁRIOS, APROVADO PELO DEC.-
LEI 486199, DE 13/11.
NA VERDADE, PRECEITUA O REFERIDO ARTIGO 248", No 1, DO CÓDIGO
DOS VALORES MOBILIÁRIOS (C.M.V.M.), DISPOSIÇÃO EM VIGOR A DATA
DA PRATICA DOS FACTOS:
ARTIGO 248. O
INFORMAÇÁO PRIVILEGIADA RELATIVA A EMITENTES
"1 - OS EMITENTES QUE TENHAM VALORES MOBILL~RIOS ADMITIDOS
A NEGOCIAÇÃO EM MERCADO REGULAMENTADO OU REQUERIDO A
RESPECTNA ADMISSÃO A UM MERCADO DESSA NATUREZA DIVULGAM
IMEDIATAMENTE:
A) TODA A INFORMÇÃO QUE LHES DIGA DIRECTAMENTE RESPEITO OU
AOS VALORES MOBILIARIOS POR SI EMITIDOS, QUE TENHA CARA'CTER
PRECISO, QUE NÃO TENHA SIDO TORNADA PÚBLICA E QUE, SE LHE FOSSE
DADA PUBLICIDADE, SER IA IDÓNEA PARA INFL UENCIAR DE MANEIRA
SENSIVEL O PREÇO DESSES VALORES MOBILIÁRIOS OU DOS INSTRUMENTOS
SUBJACENTES OU DERIVADOS COMESTES RELACIONADOS,.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
B) QUALQUER ALTERAÇÃO A INFORMAÇÃO TORNADA PÚBLICA NOS
TERMOS DA ALÍNEA ANTERIOR, UTILIZANDO PARA O EFEITO O MESMO MEIO
DE DNULGAÇÃO.
2 - PARA EFEITOS DA PRESENTE LEI, A INFOMÇÃO PRIVILEGIADA
ABRANGE OS FACTOS OCORRIDOS, EXISTENTES OU RAZOA VELMENTE
PREVIS~EIS , INDEPENDENTEMENTE DO SEU GRAU DE FORMALIZAÇÃO,
QUE, POR SEREM SUSCEPTÍVEIS DE INFLUIR NA FORMAÇÃO DOS PREÇOS
OS CONHECESSE, PARA BASEAR, NO TODO OU EM PARTE, AS SUAS DECISÕES
DE INVESTIMENTO.
3 - OS EMITENTES ASSEGURAM QUE A DIVULGAÇÃO DE INFORMÇÃO
PRIVILEGUDA É REALIZADA DE FORUA SIMULTÂNEA JUNTO DAS VARIAS
CATEGORIAS DE INVESTIDORES E NOS MERCADOS REGULAMENTADOS DOS
ESTADOS MEMBROS DA UNIÃO EUROPEIA, EM QUE OS SEUS VALORES
ESTEJAM ADMITIDOS A NEGOCIAÇÃO OU QUE TENHAM SIDO OBJECTO DE
UM PEDIDO NESSE SENTIDO.
4 - SEM PREJUÍZO DE EVENTUAL RESPONSABILIDADE CRIMINAL,
QUALQUER PESSOA OU ENTIDADE QUE DETENHA INFORMAÇÃO COM AS
CARACTERÍSTICAS REFERIDAS NOS NOS 1 E 2 NÃO PODE, POR QUALQUER
MODO, TRANSMITI-LA PARA ALÉM DO ÂMBITO NORMAL DAS SUAS FUNÇÕES
OU UTILIZA'-LA ANTES DE A MESMA SER TORNADA PÚBLICA.
5 - A PROIBIÇÃO PREVISTA NO NÚMERO ANTERIOR NAO SE APLICA
QUANDO SE TRATE DE TRANSACÇÕES SOBRE A C Ç ~ PROPRIAS
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
EFECTUADAS NO ÁMBITO DE PROGRAMAS DE RECOMPRA REALIZADOS NAS
CONDIÇ~ES LEGALMENTE PERMITIDAS.
6 - OS EMITENTES E AS PESSOAS QUE ACTUEM EM SEU NOME OU POR
SUA CONTA ELABORAM E MANTEM RIGOROSAMENTE ACTUALIZADA U M
LISTA DOS SEUS TRABALHADORES OU COLABORADORES, AO ABRIGO DE
CONTRATO DE TRABALHO OU DE QUALQUER OUTRO VINCULO, QUE TEM
ACESSO, REGULAR OU OCASIONAL, A INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA,
COMUNICANDO A ESSAS PESSOAS A INCL USÃO DOS SEUS NOMES NA LISTA E
AS CONSEQUENCIAS LEGAIS DECORRENTES DA DIWLGAÇÃO OU
UTILIZAÇÃO ABUSIVA DE INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA.
7 - A LISTA PREVISTA NO NÚMERO ANTERIOR CONTÉM A IDENTIDADE
DAS PESSOAS, OS MOTIYOS PELOS QUAIS CONSTAM DA LISTA, A DATA DA
MESMA E QUALQUER ACTUALIZAÇÃO RELEVANTE, SENDO CONSERVADA EM
ARQUIVO PELOS EMITENTES PELO PRAZO DE CINCO ANOS DESDE A ULTIMA
ACTUALIZAÇÃO E IMEDIATAMENTE REMETIDA À CMVM, SEMPRE QUE ESTA
O SOLICITAR. "
EFECTIVAMENTE, A ARGUIDA "GALP ENERGIA, S.G.P.S., S.A.", QUE
TEM POR OBJECTO A GESTÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIAIS DE OUTRAS
SOCIEDADES DO SECTOR ENERGÉTICO, COMO FORMA INDIRECTA DE
EXERCÍCIO DE ACTIVIDADES ECONÓMICAS, É E ERA, A DATA DOS
FACTOS, EM AGOSTO DE 2007, UMA SOCIEDADE EMITENTE, POSSUINDO
ACÇÕES ADMITIDAS A NEGOCIAÇAO NO MERCADO REGULAMENTADO
EUROLIST BY EURONEXT.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
ASSIM, ENCONTRAVA-SE, EM AGOSTO DE 2007, VINCULADA AO
CUMPRIMENTO DO DISPOSTO NO SUPRA REFERIDO PRECEITO LEGAL.
PARA CONCLUIR DA OBRIGATORIEDADE OU NÃO DE DIVULGAÇÃO
IMEDIATA, POR PARTE DA GALP, DE DETERMINADA INFORMAÇÃO, É
NECESSÁRIO VERIFICAR SE A MESMA POSSUI DETERMINADAS
CARACTERISTICAS.
NA VERDADE, A INFORMAÇÃO TERÁ QUE DIZER DIRECTAMENTE
RESPEITO A ARGUIDA OU AOS VALORES MOBILIÁRIOS POR SI EMITIDOS -
NO CASO, WXISTEM DUVIDAS, O QUE DE MAIS IMPORTANTE PODE
EXISTIR RELATIVAMENTE A ARGUIDA QUE NÃO ESTEJA RELACIONADO
COM A DESCOBERTA DE PETRÓLEO POR PARTE DE UM CONSÓRCIO DE QUE
FAÇA PARTE.
POR SUA VEZ, A INFORMAÇÃO, EM CAUSA, TEM QUE TER CARÁCTER
PRECISO - O QUE TAMBÉM SE VERIFICAVA. NA VERDADE, A ARGUIDA
TINHA UMA PARTICIPAÇÃO DE 9% NUM CONSÓRCIO QUE EXPLORAVA O
BLOCO 14, NAS ÁGUAS PROFUNDAS DO OFFSHORE DE ANGOLA,
CONSÓRCIO DO QUAL FAZIAM PARTE, PARA ALÉM DA PRÓPRIA GALP, AS
SOCIEDADES CHEVRON, SONANGOL, ENI E TOTAL SENDO QUE, JÁ EM
DEZEMBRO DE 2006, HAVIAM EFECTUADO UMA PERFURAÇÃO NO POÇO
MALANGE-1, NO REFERIDO BLOCO 14 E, EM MARÇO DE 2007, O REFERIDO
POÇO HAVIA SIDO TESTADO, TENDO SIDO DETERMINADA A SUA
CAPACIDADE PRODUTIVA E A BOA QUALIDADE DO PETRÓLEO E A
DIVULGAÇÃO A EFECTUAR TRADUZIA-SE, EXACTAMENTE, EM FORNECER
AOS MERCADOS A INFORMAÇÃO DE QUE O CONSÓRCIO DE QUE A
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
ARGUIDA FAZIA PARTE HAVIA DESCOBERTO PETR~LEO NO REFERIDO
BLOCO.
POR OUTRO LADO, TAL INFORMAÇÃO NÃO HAVIA, ATE AO DIA 9 DE
AGOSTO DE 2007, SIDO REVELADA, NÃO ERA PÚBLICA E, SE LHE FOSSE
DADA PUBLICIDADE SERIA IDÓNEA PARA INFLUENCIAR DE MANEIRA
SENSÍVEL O PREÇO DOS VALORES MOBILIÁRIOS.
EFECTIVAMENTE, A ~NFORMAÇÃO DE DESCOBERTA DE PETRÓLEO É,
DESDE LOGO, UMA INFORMAÇÃO POR SI SÓ SUFICIENTE PARA
INFLUENCIAR, COMO EFECTIVAMENTE INFLUENCIOU (PONTOS 13) A 15)
DA MATÉRIA DE FACTO PROVADA), OS MERCADOS E ALTERAR O PREÇO,
NESTE CASO, DAS ACÇÕES DA GALP.
só ESTE FACTO DEVERÁ SER SUFICIENTE PARA QUE A ARGUIDA
CONSIDERE ESTE TIPO DE INFORMAÇÃO COMO INFORMAÇÃO
PRIVILIGIADA ESTANDO OBRIGADA A DIVULGA-LA, NOS TERMOS DO
DISPOSTO NO ARTIGO 248", DO CÓDIGO DOS VALORES MOBILIÁRIOS.
NA VERDADE, PODE VIR A CONCLUIR-SE, EM MOMENTO POSTERIOR,
QUE TAL DESCOBERTA NÃO ERA TÃO RELEVANTE DE MODO A QUE SE
ENQUADRASSE NO TIPO DE INFORMAÇÃO A QUE SE REFERE TAL NORMA
JURIDICA - SEJA PELA QUANTIDADE OU QUALIDADE DO PRODUTO, SEJA
POR DIFICULDADES TÉCNICAS PARA A EXPLORAÇÃO, SEJA PELA
EXISTÊNCIA DE POÇOS COM MAIOR RELEVÂNCIA SEJA PELA EFECTIVA E
REAL REACÇÃO DOS MERCADOS, ETC.
PORÉM, TAL CONCLUSÃO SÓ EM MOMENTO POSTERIOR SE PODE
ATINGIR SENDO QUE, ATÉ LÁ, A CONCLUSÃO E A DE QUE O
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
CONHECIMENTO, POR PARTE DOS MERCADOS, DE TAL INFORMAÇÃO É
IDÓNEA PARA ALTERAR A POSIÇÃO DOS MERCADOS, ALTERAR A
DECISÃO DOS INVESTIDORES E, ASSIM, ALTERAR O VALOR DAS ACÇÕES
DA EMPRESA EM CAUSA.
ALIAS, A PROPRIA ARGUIDA ASSIM O TEM ENTENDIDO, UMA VEZ
QUE QUER A INFORMAÇÃO EM CAUSA, NOS PRESENTES AUTOS, QUER
OUTRAS DE NATUREZA, ESSENCIALMENTE SEMELHANTE, TÊM POR ELA
SIDO TRATADAS COMO INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA A DIVULGAR EM
RESPEITO PELO DISPOSITIVO LEGAL SUPRA TRANSCRITO.
NO CASO, DOS AUTOS, A ARGUIDA E DEMAIS PARTICIPANTES NO
CONSÓRCIO PODIAM TER ACORDADO EM DIVULGAR A INFORMAÇÃO, EM
CAUSA, NO DIA DEZ DE AGOSTO DE 2007.
PORÉM, A PARTIR DO MOMENTO EM QUE TAL INFORMAÇÃO É
DIVULGADA POR, PELO MENOS, UM DOS PARTICIPANTES DO CONS~RCIO
E AINDA QUE TAL DIVULGAÇÃO TENHA SIDO EFECTUADA EM MOMENTO
ANTERIOR AO ACORDADO - INDEPENDENTEMENTE DO MOTIVO POR QUE
TAL TENHA OCORRIDO, POR LAPSO, COM INTENÇÃO, ETC. - A VERDADE É
QUE A PARTIR DO MOMENTO EM QUE A INFORMAÇÃO É DIVULGADA,
NESSES TERMOS, A ARGUIDA TINHA UM DEVER LEGAL A CUMPRIR QUE
NÃO CUMPRIU - DIVULGAR, IMEDIATAMENTE, TAL INFORMAÇÃO.
A INFORMAÇÃO TORNOU-SE P~TBLICA NO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007
AS 13 HORAS, QUANDO, CONFORME RESULTA DA MATÉRIA DE FACTO
PROVADA, FOI NOTICIADO (EM INGLÊS) PELA AGÊNCIA REUTERS O
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
ANUNCIO, POR PARTE DA CHEVRON CORPORATION (CHEVRON), DA
DESCOBERTA DE PETRÓLEO NO SEU CONSÓRCIO EM ANGOLA.
POR SUA VEZ, AS 13 HORAS E 26 MINUTOS, NOVA NOTÍCIA (EM
INGLÊS) DA AGÊNCIA REUTERS FEZ REFERÊNCIA AO FACTO DE A
ARGUIDA TER UMA PARTICIPAÇÃO DE 9% NO CONSÓRCIO LIDERADO
PELA CHEVRON EM ANGOLA E AS 15 HORAS E 45 MINUTOS VOLTOU A
SURGIR NO SITE DA AGÊNCIA REUTERS A MESMA NOTÍCIA QUE REFERIA
A PARTICIPAÇÃO DA ARGUIDA NO CONSÓRCIO, TRADUZIDA PARA
PORTUGUÊS SENDO QUE, FINALMENTE, AS 16 HORAS E 34 MINUTOS, A
MESMA NOTÍCIA FOI DIVULGADA NO SITE DO JORNAL DE NEGÓCIOS.
ASSIM, DESDE AS 13 HORAS DO DIA NOVE DE AGOSTO DE 2007 QUE A
INFORMAÇÃO, EM CAUSA, PERDEU O SEU CARÁCTER DE
CONFIDENCIALIDADE, TENDO A ARGUIDA O DEVER DE A DIVULGAR
IMEDIATAMENTE.
RESULTOU PROVADO QUE HOUVE DIVULGAÇÃO, POR PARTE DA
ARGUIDA, DE TAL INFORMAÇAO QUE, NA ALTURA, A GALP CONSIDEROU
E TRATOU COMO INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, MAS TAL DIVULGAÇÃO
NÃO FOI PUBLICADA IMEDIATAMENTE, UMA VEZ QUE SE TORNOU
PÚBLICA Ás 13 HORAS DO DIA NOVE DE AGOSTO DE 2007 E A ARGUIDA
APENAS A DIVULGOU ÁS 17 HORAS E 38 MINUTOS DO MESMO DIA TENDO,
PORTANTO, DECORRIDO QUATRO HORAS E TRINTA E OITO MINUTOS ATÉ
QUE A ARGUIDA CUMPRISSE COM O REFERIDO DEVER DE DIVULGAÇÃO
QUE, FACILMENTE, SE PODE CONCLUIR, NÃO FOI IMEDIATA.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
INEQUIVOCAMENTE, PERANTE O SUPRA DESCRITO E ATENTA A
MATÉRIA DE FACTO DADA COMO PROVADA, PASSOU A RECAIR SOBRE A
ARGUIDA, A PARTIR DAS JÁ MENCIONADAS TREZE HORAS DO DIA 09 DE
AGOSTO DE 2007, O DEVER DE DIVULGAÇÃO IMEDIATA DA INFORMAÇÃO
DA DESCOBERTA DE PETR~LEO.
RESULTOU PROVADO QUE A ARGUIDA CUMPRIU TAL DEVER, DE
FORMA TARDIA, APESAR DE NO MESMO DIA, DE FORMA DIRECTA E POR
SUA INICIATIVA.
O DEVER, EM CAUSA, TEM TODO O SENTIDO E FUNDAMENTO DE
FORMA A GARANTIR E FORTALECER A TRANSPARÊNCIA DOS MERCADOS.
EFECTIVAMENTE, O TIPO DE INFORMAÇÃO, EM CAUSA, DEVE SER
DIVULGADA POR TODOS OS PARTICIPANTES DO CONSÓRCIO, AO MESMO
TEMPO.
ASSIM, TODOS OS POTENCIAIS INTERESSADOS, INVESTIDORES E
DEMAIS INTERVENIENTES NOS MERCADOS FINANCEIROS, NACIONAIS E
INTERNACIONAIS, TÊM CONHECIMENTO DE UMA INFORMAÇÃO
RELEVANTE, DA MESMA FORMA, NO MESMO MOMENTO, HAVENDO ASSIM
IGUALDADE DE TRATAMENTO PELO QUE SÓ ASSIM OS INVESTIDORES
PODEM ACTUAR NOS MERCADOS COM AS MESMAS INFORMAÇÕES
PODENDO DECIDIR COM MAIOR CONFIANÇA.
NÃO RESULTOU PROVADO, É CERTO, QUE A ARGUIDA TENHA TIDO
CONHECIMENTO DA DIVLTLGAÇÃO ANTECIPADA DA INFORMAÇÃO, EM
CAUSA NOS PRESENTES AUTOS, DE FORMA IMEDIATA, OU SEJA, NÃO
RESULTOU PROVADO QUE ÁS 13 HORAS DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, OU
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
ÁS 13 HORAS E UM MINUTO, A ARGUIDA TIVESSE CONHECIMENTO QUE A
INFORMAÇÃO TINHA DEIXADO DE SER CONFIDENCIAL.
ALIAS, APENAS SE APUROU QUE, PELO MENOS, Á s 15 HORAS E 28
MINUTOS A ARGUIDA TEVE CONHECIMENTO DA REFERIDA DIVULGAÇÃO
ANTECIPADA.
ASSIM, NATüRALMENTE QUE SÓ A PARTIR DO MOMENTO EM QUE A
GALP TOMA CONHECIMENTO QUE A INFORMAÇÃO QUE ERA
CONFIDENCIAL DEIXOU DE O SER, É QUE PODE CUMPRIR COM O SUPRA
REFERIDO DEVER LEGAL DE DIVULGAÇÃO IMEDIATA.
PORÉM, CUMPRE TER EM ATENÇÃO DUAS SITUAÇÕES DISTINTAS:
1" - TENDO A ARGUIDA QUE CUMPRIR ESTE DEVER LEGAL, ENTRE
OUTROS, É-LHE EXIGIVEL QUE TENHA FORMA DE DETECTAR ESTAS
SITUAÇÕES NO MOMENTO EM QUE ACONTEÇEM E NÃO MAIS DE DUAS
HORAS DEPOIS.
A ARGUIDA TEM QUE SE APETRECHAR DOS MEIOS NECESSARIOS
PARA DETECTAR, EM CIMA DO ACONTECIMENTO, NESTE CASO, A
DIVULGAÇÃO DESTA NOTICIA AS 13 HORAS PARA QUE, ASSIM, POSSA
CUMPRIR, RIGOROSAMENTE, COM O QUE RESULTA DA LEI.
ALIAS, TENDO EM ATENÇÃO A SUA DIMENSÃO, A SUA IMPORTÂNCIA
NO MERCADO NACIONAL, O FACTO DE SER COTADA NA BOLSA DESDE
2006, A IMPORTÂNCIA E RELEVÂNCIA DA ACTIVIDADE A QUE SE DEDICA,
DESDE LOGO (E NÃO SO) NA ECONOMIA NACIONAL, OS MONTANTES QUE
MOVE E (FAZ MOVER, OS INTERESSES QUE ATINGE E QUE PODE ATINGIR
COM A SUA ACTIVIDADE, TUDO FARIA CRER QUE A ARGUIDA, DESDE
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
LOGO POR INTERESSE PRÓPRIO, TERIA UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO
TÃO COMPLETO E RIGOROSO QUE NÃO SERIA NECESSARIO RECEBER UM
MAIL PARA DETECTAR UMA SITUAÇÃO COMO A DOS AUTOS MAIS DE
DUAS HORAS DEPOIS DA MESMA OCORRER.
SE ASSIM ACONTECE, TEM QUE SE CONCLUIR QUE TAL RESULTA
DE UMA ACTUAÇÃO NEGLIGENTE DA ARGUIDA, O FACTO DE NÃO SE
MUNIR DE UM SISTEMA INFORMATIVO (ATRAVÉS DOS MEIOS QUE
CONCLUIR NECESSARIOS, TÉCNICO E/OU HUMANOS) PARA EXERCER A
SUA ACTIVIDADE E CUMPRIR, CABALMENTE, OS DEVERES LEGAIS QUE
LHE SÃO IMPOSTOS.
É UM DEVER QUE LHE É EXIGÍVEL E QUE A ARGUIDA TEM
CAPACIDADE PARA CONCRETIZAR.
2"- POR OUTRO LADO, RESULTANDO APURADO APENAS QUE AS 15
HORAS E 28 MINUTOS TOMOU, EFECTIVAMENTE, CONHECIMENTO DA
ANTECIPAÇÃO DA DIVULGAÇÃO DA INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, EM
CAUSA, CONCLUINDO-SE QUE SÓ A PARTIR DESSA HORA É QUE A
ARGUIDA PODERIA CUMPRIR COM O DEVER LEGAL EM DISCUSSÃO,
AINDA ASSIM, TAMBÉM AQUI A ARGUIDA FOI NEGLIGENTE NO
CUMPRIMENTO DA LEI.
NA VERDADE, DEPOIS DE TAL CONHECIMENTO DEMOROU MAIS DE
DUAS HORAS A CUMPRIR UM DEVER QLTE É A PRÓPRIA LEI QUE O DIZ DE
DIVULGAÇÃO IMEDIATA.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
TAMBÉM AQUI A ARGUIDA DEVERIA ESTAR ORGANIZADA E
FUNCIONAR DE FORMA A, MAL TENDO CONHECIMENTO DE QUE A
INFORMAÇÃO HAVIA DEIXADO DE SER CONFIDENCIAL, DIVULGÁ-LA.
A NECESSIDADE DE EFECTUAR DILIGÊNCIAS BEM COMO O FACTO
DE A ARGUIDA, NO DIA EM CAUSA, ESTAR COM MUITO TRABALHO
DECORRENTE DA DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS DA EMPRESA (QUE
TERA OCORRIDO NO DIA 8 DE AGOSTO DE 2007), RAZÕES INVOCADAS
PELA PROVA TESTEMUNHAL, LEVAM A CONCLUSÃO DE QUE A
ACTUAÇÃO DA ARGUIDA, TAMBÉM ~ f , SE TRADUZIU NA VIOLAÇÃO DE
DEVERES DE CUIDADO A QUE ESTAVA OBRIGADA E DE QUE ERA CAPAZ.
POR UM LADO, AS DILIGÊNCIAS QUE FORAM INVOCADAS COMO
SENDO NECESSÁRIAS A PRÉVIA DIVULGAÇÃO PELA GALP DA
INFORMAÇÃO, NÃO NECESSITARAM, CERTAMENTE, DE MAIS DE DUAS
HORAS PARA SEREM REALIZADAS.
INFORMAÇÃO EXIGE CONHECIMENTO. INFORMA-SE O QUE SE SABE.
NÃO SE CONHECENDO A INFORMAÇÃO OU A PERDA DE
CONFIDENCIALIDADE DA INFORMAÇÃO, NÃO SE PODE INFORMAR O
FACTO QUE DEIXOU DE SER CONFIDENCIAL.
IMEDIATA SIGNIFICA NO MAIS CURTO ESPAÇO DE TEMPO EXIGÍVEL,
PERANTE O CASO CONCRETO - COLOCANDO-NOS EM FACE AO CRITÉRIO
DO "BONUS PATER FAMILIA" E AVALIANDO, CASO A CASO, SE ERA
EXIGÍVEL A UM AGENTE COLOCADO NA MESMA SITUAÇÃO QUE A
ARGUIDA, MUNIDO DOS MESMOS CONHECIMENTOS CONCRETOS, COM A
SUA DIMENSÃO, MEIOS E PESO NO MERCADO E VERIFICAR SE, AINDA
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
ASSIM, SERIA EXIGIVEL QUE A C O ~ I C A Ç Ã O HOUVESSE SIDO MAIS
CÉLERE OU SE, PELO CONTRÁRIO, NÃO SERIA EXIGÍVEL, RAZOÁVEL,
EXIGIR QUE TAL INFORMAÇÃO HOUVESSE SIDO PRESTADA EM MOMENTO
ANTERIOR AO QUE, EFECTIVAMENTE, FOI.
EXIGE-SE, CONSEQUENTEMENTE, O RECURSO A VALORAÇÕES
ADICIONAIS QUE, CASO A CASO, DEVERÃO SER PONDERADAS DE MOLDE
A, NO CASO CONCRETO, VERIFICAR SE O DEVER DE COMUNICAÇÃO
IMEDIATA FOI OU NÃO CUMPRIDO PELO AGENTE.
NO CASO CONCRETO, VERIFICA-SE QUE A ARGUIDA TEVE
OPORTUNIDADE, CONHECIMENTO E CAPACIDADE PARA ACTUAR DE
MODO MAIS CÉLERE. NÃO O FEZ POR FALTA DE CUIDADO. DURANTE TAL
PERÍODO AS SUAS ACÇÕES NO MERCADO VALORIZARAM, EM CONTRA-
CÍCLO COM AS DO SECTOR DE MERCADO EM CAUSA (AS ACÇÕES DO
SECTOR ESTAVAM, COMO ESTAVAM ALIÁS AS DA ARGUIDA, A
DESVALORIZAR).
AO NÃO ACTUAR QUANDO PODIA E DEVIA TER FEITO NÃO
COMUNICOU "IMEDIATAMENTE A INFORMAÇÃO E, ASSIM, VIOLOU O
DEVER DE INFORMAÇÃO A QUE ESTAVA ADSTRITA.
MAIS, RESULTA IGUALMENTE, DO CODIGO V. M., DO SEU ARTIGO
388", No 3, A DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS E, ACTUALMENTE, DO No 4
QUE:
"( ...) 4 - SE A LEI OU O REGULAMENTO EXIGIREM QUE DEVER S U A
CUMPRIDO NUM DETERMINADO PRAZO CONSIDERA-SE QUE EXISTE
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
INCUMPRIMENTO LOGO QUE O PRAZO FLXADO TENHA SIDO ULTRAPASSADO.
(. , .) ".
TAL SIGNIFICA QUE ESTAMOS PERANTE UMA INFRACÇÃO DE MERA
ACTIVIDADE PRATICADA POR OMISSÃO - BASTA A NÃO DIVULGAÇÃO
IMEDIATA DE UMA INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, PELA ARGUIDA, NOS
TERMOS DADOS COMO PROVADOS, PARA QUE A CONTRA-ORDENAÇÃO EM
CAUSA SE MOSTRE, PELO LADO OBJECTIVO, CONSUMADA.
NA VERDADE, MUITO SIMPLESMENTE, SE ASSIM ACONTECER, SEM
QUE A ARGUIDA TENHA EFECTUADO A COMUNICAÇÃO EM CAUSA, DE
FORMA IMEDIATA, A CONTRA-ORDENAÇÃO MOSTRA-SE, NO QUE TOCA
AOS SEUS ELEMENTOS OBJECTIVOS, CONSUMADA, NÃO SENDO
NECESSÁRIA A PRODUÇÃO DE QUALQUER RESULTADO NÃO SE
TRATANDO, CONSEQUENTEMENTE, DE UMA INFRACÇÃO DE RESULTADO.
MOSTRAM-SE, PORTANTO, PREENCHIDOS OS ELEMENTOS
OBJECTIVOS DO TIPO CONTRA-ORDENACIONAL EM CAUSA.
QUANTO AO ELEMENTO SUBJECTIVO VERIFICA-SE QUE TAMBÉM SE
MOSTRA PREENCHIDO, MAS APENAS A TITULO NEGLIGENTE.
NA VERDADE, RESULTOU APURADO QUE A ARGUIDA AO NÃO CUMPRIR
O DEVER DE COMUNICAÇÃO A QUE ESTAVA VINCULADA, POR FORÇA
DA LEI, AGIU DE FORMA NEGLIGENTE, VIOLANDO UM DEVER DE
CUIDADO A QUE ESTAVA OBRIGADA E DE QUE ERA CAPAZ E QUE SE
TRADUZIA EM TER DILIGENCIADO DE FORMA A QUE, AO TER
CONHECIMENTO DE QUE A INFORMAÇÃO EM CAUSA, NOS AUTOS,
HAVIA SIDO TORNADA PÚBLICA, POR UM DOS PARTICIPANTES NO
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
CONSÓRCIO, PROCEDESSE Á DIVULGAÇÃO DA NOTÍCIA EM CAUSA, DE
IMEDIATO E NÃO DEMORANDO MAIS DE DUAS HORAS, CONFORME
DEMOROU, JÁ QUE RESULTOU APURADO QUE A ARGUIDA TOMOU
CONHECIMENTO DA REFERIDA DIVULGAÇÃO NO DIA 9 DE AGOSTO DE
2007, PELO MENOS ÁS 15 HORAS E 28 MINUTOS E DIVULGOU, ELA
PR~PRIA, A INFORMAÇÃO AS 17 HORAS E 38 MINUTOS DO MESMO DIA.
A ACTUAÇÃO DA ARGUIDA, QUANTO AO ELEMENTO SUBJECTIVO,
DE FORMA NEGLIGENTE E NÃO DOLOSA CONSTITUI, IGUALMENTE E POR
FORÇA DO DISPOSTO NO ARTIGO 40Z0, No 1, DO CÓDIGO V. M., A PRÁTICA
DA CONTRA-ORDENAÇÃO SUPRA DESCRITA.
EFECTIVAMENTE, DISPÕE O REFERIDO PRECEITO LEGAL, EM VIGOR
A DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS COMO ACTUALMENTE QUE:
ARTIGO 402."
FORMAS DA INFRACÇAO
" I - OS ILÍCITOS DE MERA ORDENAÇÃO SOCIAL PREVISTOS NESTE
CODIGO SÃO IMPUTADOS A T ~ L O DE DOLO OU DE NEGLIGÊNCIA.
2 - A TENTATIVA DE QUALQUER DOS ILÍCITOS DE MERA ORDENAÇÃO
SOCIAL DESCRITOS NESTE CÓDIGO E PUNÍVEL. "
CONCLUI-SE, ASSIM, QUE APESAR DE NÃO TER RESULTADO
APURADO QUE A ARGUIDA TENHA ACTUADO DOLOSASMENTE - FORMA
COMO FOI CONDENADA PELA ENTIDADE ADMINISTRATIVA - RESULTOU
APURADO QUE ACTUOU NEGLIGENTEMENTE, MOSTRANDO-SE
PREENCHIDOS TODOS OS ELEMENTOS OBJECTIVOS E SUBJECTIVO, NESTE
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
CASO, A NEGLIGÊNCIA, DO TIPO DA CONTRA-ORDENAÇÃO EM CAUSA,
NADA MAIS RESTANDO DO QUE CONDENÁ-LA, EM CONFORMIDADE.
FINALMENTE, CUMPRE CONSIDERAR QUE A ARGUIDA, COM A SUA
ACTUAÇÃO, INTEGROU A P ~ T I C A DE UMA CONTRA-ORDENAÇÃO
CONSIDERADA COMO MUITO GRAVE, NOS TERMOS DO DISPOSTO NO
ARTIGO 394, No 1, ALÍNEA I), DO CÓDIGO V. M., EM VIGOR A DATA DA
PRÁTICA DOS FACTOS.
NA VERDADE, DISPÕE TAL NORMA QUE:
Artigo 394. O
Formas organizadas de negociação
" I - Constitui contra-ordenação muito grave:
a) A criação, a manutenção em funcionamento ou a gestão de uma forma organizada de
negociação, a suspensão ou o encerramento da sua actividade fora dos casos e termos
previstos em lei ou regulamento;
b) O firncionamento de mercado regulamentado ou de sistema negociação multilateral
de acordo com regras não registadas na CMVM ou não publicadas;
c) A falta de prestação ao público, pelas entidades gestoras de mercados
regulamentados e desistemas de negociaç60 mzrltilateral, da informação a que estão
o brigadas;
d) A admissão de membros de zrm mercado regulamentado ou de um sistema de
negociação multilateral pela respectiva entidade gestora, sem os requisitos exigidos
por lei ou regulamento;
e) A-falta de publicidade das sessões de mercados regulamentados;
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
.f) A admissão de instrumentos financeiros à negociação em mercado regulamentado
com violação das regras legais e regulamentares;
gj A .falta de divulgação do prospecto de admissão, das respectivas adenda e
rectljicações, ou de informações necessárias à sua actualização, ou a sua divulgação
sem aprovação prévia pela entidade
competente;
h) A falta de divulgação da informação exigida pelos emitentes de valores mobiliúrios
negociados em mercado regulamentado;
i ) A violação do regime da informação privilegiada, excepto no caso em que tal facto
constitua crime. "
ORA, INEQUIVOCAMENTE, UMA VEZ QUE A ARGUIDA, COM A SUA
ACTUAÇÃO DADA COMO PROVADA, VIOLOU O REGIME DA INFORMAÇÃO
PRIVILIGIADA ESTABELECIDO NO ARTIGO 248O, No 1, DO CÓDIGO DOS
VALORES MOBILIARIOS, A CONTRA-ORDENAÇÃO EM CAUSA É MUITO
GRAVE E É NESSES TERMOS QUE DEVE SER PUNIDA.
NESTES TERMOS APLICAR-SE-Á, AO CASO DOS AUTOS, A LEI EM
VIGOR A DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS, NÃO SÓ POR QUE É A REGRA,
BEM COMO PELO FACTO DE A LEI, ACTUALMENTE, EM VIGOR SER MAIS
DESFAVORÁVEL A ARGUIDA QUE, NA ALTURA DOS FACTOS.
POR SUA VEZ, CUMPRE ATENTAR QUE O ARTIGO 388, NO1, ALÍNEA A),
DO CÓDIGO V. M., NA VERSÃO QUE VIGORAVA A DATA DA PRÁTICA DOS
FACTOS, DISPUNHA NOS SEGUINTES TERMOS:
ARTIGO 388."
DISPOSIÇÕES COMUNS
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
" 1 - AS CONTRA -ORDENAÇÕES PREVISTAS NESTA SECÇÃO SÃO
A PLICÁVEIS AS SEGUINTES COIMAS:
A) ENTRE é' 25 000 E é' 2500000, QUANDO SEJAM QUALIFICADAS COMO
MUITO GRAVES;( ...) "
DESFAVORAVEL A ARGUIDA, PELO QUE SER& IGUALMENTE, APLICADA
A LEI EM VIGOR Á DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS.
É A SEGUINTE A FORMA DE PLTNIÇÃO DAS CONTRA-ORDENAÇÕES
MUITO GRAVES SEGUNDO A VERSÃO ACTUAL DO CÓDIGO DOS VALORES
M O B I L I ~ I O S :
ARTIGO 388."
DISPOSIÇ~ES COMUNS
" 1 - À s CONTRA -ORDENAÇÕES PREVISTAS NESTA SECÇÃO SÃO
APLICÁVEIS AS SEGUINTES COIMAS:
A) ENTRE é' 25 000 E é' 5 000 000, QUANDO SEJAM QUALIFICADAS COMO
MUITO GRA VES;
B) ENTRE é' 12 500 E € 2 500 000, QUANDO SEJAM QUALIFICADAS COMO
GRA VES; (. . .) ".
DE NOTAR, FINALMENTE, QE A ARGUIDA ALEGA A
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 248", DO CÓDIGO DOS VALORES
MOBILIARIOS, NOMEDAMENTE, POR O NO I , DO CITADO PRECEITO LEGAL
NÃO ESPECIFICAR, MINIMAMENTE, OS ELEMENTO DO TIPO
CONTRAORDENACIONAL EM CAUSA - ASSIM, A ALÍNEA A), DO REFERIDO
PRECEITO LEGAL, CONTÉM EXPRESSÕES VAGAS E GENÉRICAS, TAIS
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
COMO "DIVULGAM IMEDIATAMENTE"; u ~ ~ ~ ~ ~ ~ ç Ã o QUE TENHA
CARÁCTER PRECISO" E "INFORMAÇÃO QUE SERIA IDONEA PARA
INFLUENCIAR DE MANEIRA SENSÍVEL O PREÇO" E O ARTIGO 3490, DO
CÓDIGO DOS VALORES MOBILIÁRIOS CONSIDERA QUE CONSTITUI
CONTRA-ORDENAÇÃO MUITO GRAVE "A VIOLAÇÃO DO REGIME DA
INFORMAÇÃO PRWILEGUDA" - CONCLUINDO A ARGUIDA PELA VIOLAÇÃO
DO ARTIGO 2g0, DA CONSTITUIÇÃO, OU SEJA, PELA VIOLAÇÃO DOS
PRÍNCIPIOS BASILARES DO DIREITO PORTUGUÊS DA LEGALIDADE E DA
TIPICIDADE.
PORÉM, NÃO ASSISTE QUALQUER RAzÃo QUANTO Á INVOCADA
INCONSTITUCIONALIDADE.
CUMPRE TER EM ATENÇÃO QUE O LEGISLADOR USA, UMAS VEZES,
CONCEITOS TÉCNICO-JURIDICOS E, OUTRAS VEZES, CONCEITOS
RECOLHIDOS DA LINGUAGEM NATURAL.
O QUE OS REFERIDOS PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS IMPÕEM É QUE
AS NORMAS LEGAIS INCRIMINADORAS SEJAM CERTAS, DETERMINANDO
COM SUFICIENTE PREVISÃO O FACTO CRIMINOS, A ACÇÃO OU OMISSÃO EM
QUE O FACTO CONSISTE NÃO PODENDO SER INFERIDO DA LEI; TEM DE SER
DEFINIDO PELA LEI, NÃO PODENDO AS LEIS SER VAGAS E AS INFRACÇÕES
NÃO PODEM SER DESCRITAS DE MODO A PERMITIR AS UAIS DIVERSAS
INTERPRETAÇ~ES POR PARTE DE QUEM AS APLIQUE.
ORA, O DISPOSITWO LEGAL EM CAUSA NÃO PADECE DE TAL
INCERTEZA E IMPRECISÃO, NÃO PERMITINDO, O ARTIGO 248-0 CÓDIGO
DOS VALORES MOBILIÁRIOS, QUE QUEM APLIQUE TAL NORMA TENHA UMA
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
TAL M R G E M DE LIBERDADE QUE SE POSSA TRADUZIR EM VERDADEIRA
ARBITRARIEDADE.
No trecho agora transcrito, a sentença efectua um trabalho aprofundado e
podemos dizer exaustivo de subsunção dos factos provados nas normas jurídicas
aplichveis do CVM, em termos de poder concluir que a descoberta de petróleo no poço
Malange-1, explorado por consórcio integrado, nomeadamente, pela ora arguida e ela
empresa «Chevron», integra o universo de informações privilegiadas definido pela al. a)
do no 1 do art. 248" do CVM, o que constituiu a arguida, por força do disposto no
proémio desse normativo, no dever legal de divulgação imediata de tal informação, pelo
menos a partir do momento em que tomou conhecimento de que o outro referido
membro do consórcio tinha tomado pública tal informação, o que sucedeu, o mais
tardar, As 15h28m do dia 9/8/07
Nesse sentido, concluiu o Tribunal «a quo» que, ao divulgar a informação
em causa com uma dilação superior a duas horas (17h38m), a arguida violou o referido
dever de divulgação imediata, sendo-lhe tal violação censurável a título de negligência.
Nesta parte, a sentença recorrida apresenta-se correcta e exaustivamente
fundamentada, não nos ocorrendo que possamos acrescentar algo de relevante aquilo
que o Tribunal «a quo» deixou expresso.
Por outro lado, os argumentos alinhados na motivação do recurso no
sentido de excluir a tipicidade da apurada conduta da arguida e a sua censwabilidade a
título de negligência, não se nos afiguram susceptíveis de desmentir a bondade da
fundamentação da decisão.
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Assim, pretende a recorrente, também quanto a esta matéria, invocar em
seu beneficio a faculdade diferimento de divulgação da informação prevista no art.
248'-A do CVM.
Conforme anteriormente deixámos expresso, os requisitos do diferimento
da divulgação da informação, definidos pelo no 1 do art. 248'-A do CVM, não se
mostram reunidos no caso concreto.
A recorrente invoca ainda, em apoio da sua pretensão, os acordos de
confidencialidade, que diz ter celebrado com os restantes membros do consórcio e que
previam que a informação em causa não fosse tornada pública antes de 10/8/07.
Sobre esta questão, também já nos pronunciámos supra, no sentido de que
as invocadas de cláusulas de confidencialidade não são susceptíveis de postergar o
dever legal de divulgação da informação privilegiada, imposto pelo no 1 do art. 248' do
CVM
A aplicação deste princípio até as últimas consequências leva-nos
necessariamente a questionar se a não divulgação da descoberta de petróleo no poço
identificado nos autos, no período que mediou entre essa descoberta, ocorrida em Março
de 2007, e sua divulgação pela ((Chevron em 9/8/07, é ou não integradora de ilícito de
mera ordenação social (contra-ordenação), questão que não foi considerada, quer na
decisão administrativa, quer na sentença agora sob recurso.
Por se tratar de questão não apreciada na sentença recorrida, entendemos
que se encontra subtraída ao objecto de presente recurso e que não deveremos dela
conhecer, extraindo da mesma conclusões para efeitos decisórios.
De todo o modo, mesmo que se entenda, ao contrário daquilo que
defendemos, que os acordos de confidencialidade são dotados de alguma eficácia, em
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termos de fazer diferir o cumprimento do dever de divulgação da informação, esse
eventual diferimento sempre terá ficado sem efeito a partir do momento em que um dos
sujeitos desse acordo tomou pública a informação em causa, com isso fazendo deixar de
subsistir o requisito legal do diferimento previsto na al. c) do no 1 do art. 248"-A do
CVM, a saber a manutenção da confidencialidade da informação.
Desde que a arguida tomou conhecimento de que a ((Chevron)) tinha
divulgado publicamente a informação a que vimos aludindo, nada mais lhe restaria fazer
que cumprir o dever fixado pelo no 1 do art. 248' do CVM, isto é proceder
imediatamente à divulgaç20 da informação no SDI da CMVM, cuja obrigatoriedade
então se lhe impunha, sem margem para dúvidas.
A este respeito, a arguida alega, no sentido de questionar a tipicidade da
sua conduta, que o conceito ((imediatamente)), incluido na norma legal cuja violação lhe
é imputada, é impreciso, sem que lhe assista razão, em nosso entender.
Com efeito, no contexto da norma do no 1 do art. 248' do CVM, a locução
((imediatamente)) não pode significar sen%o o lapso de tempo mais curto possível, em
h ç 2 o dos meios técnicos acessíveis a generalidade das empresas que operam no
mercado em causa.
Os meios tecnológicos actualmente á disposição de empresas da
dimensão da recorrente permitem uma resposta às situações susceptíveis de as constituir
no dever de divulgação da informaç20 ((imediata)), no sentido quase literal do termo,
isto é sem mediação temporal entre o conhecimento da situação e a resposta à mesma, o
que exclui, á partida, a admissibilidade de uma dilaç2o superior a duas horas como
aquela que se verificou.
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Convirá salientar igualmente que o dever de divulgação da informação
privilegiada previsto no art. 248' no 1 al. a) do CVM não se suspende nos períodos em
que em que os mercados se encontram encerrados, conforme melhor explica Filipe
Matias Santos (op. cit., págs. 86 e 87): ((Resolvendo a questão colocada, esclarece-se
que o horário de negociação irreleva para efeitos de determinação do momento em que
o emitente tem de cumprir o dever de divulgação da informação privilegiada. Com
efeito, como se viu, o art. 248O/l/a do CdVM consagra um elemento de aptidão. Este
elemento exige que a informação, para que seja qualificada de privilegiada, tenha
capacidade para influir no preço dos valores mobiliários ou dos instrumentos
subjacentes ou derivados com eles relacionados, mas não exige qualquer produção
efectiva de efeitos.
Os horários de funcionamento dos mercados não podem, pois,
condicionar aquela aptidão que é, por si, uma mera qualidade intrínseca da informação.
Aqueles horários poderão apenas condicionar a produção efectiva de efeitos da
informação divulgada nos mercados que estejam encerrados. Mas essa produção
efectiva de efeitos não constitui pressuposto nem consequência infiaccional do dever
inscrito no art. 248O/l/a do CdVM. O que, em pontual conclusão, significa que o
emitente fica sempre constituído no dever de divulgar imediatamente a informação
privilegiada, mesmo que tal facto ocorra fora do horário de funcionamento dos
mercados)) (itálicos no original).
Quanto ao nexo de imputação subjectiva, diremos que qualquer empresa
emitente de valores mobiliários admitidos a negociação em mercado regulamentado ou
que tenha requerido a respectiva admissão a um mercado com essas características tem
obrigação de saber que se encontra vinculada ao dever de divulgação da informação
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privilegiada, sempre que se verifique qualquer das situações prefiguradas nas als. a) e b)
do no 1 do art. 248" do CVM.
Neste contexto, incumbe a essas entidades apetrecharem as respectivas
estruturas de forma a poderem dar cumprimento a esse dever legal, com a prontidão
exigida pela lei, sempre que estejam reunidos os seus pressupostos.
Por força do disposto no art. 32' do RGCO, que manda aplicar
subsidiariamente ao regime substantivo das contra-ordenações, as normas do Código
Penal, a definição de negligência que vigora para essa categoria de infracções é a do art.
14' do referido Código, que é do seguinte teor:
Age com negligência quem, por não proceder com o cuidado a que,
segundo as circunstâncias, está obrigado e de que é capaz:
a) Representar como possível a realização de um facto que preenche um
tipo de crime mas actuar sem se conformar com essa realização; ou
b) Não chegar sequer a representar a possibilidade de realização do
facto.
Como pode verificar-se, o elemento central do conceito de negligência
reside na omissão de um dever de cuidado a que o agente está obrigado e de que é
capaz.
No caso concreto, o dever de cuidado omitido é aquele a que se faz
referência na segunda parte do ponto 23 da factualidade provada, isto é o não ter a
arguido providenciado (ao nível do apetrechamento da sua estrutura ou da sua
organização interna) de forma a que, quando tomou conhecimento da divulgação
publica pela Chevron da informação que até então permanecera confidencial, tivesse
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procedido à divulgação imediata da noticia conforme a lei lhe impunha e não com duas
horas de dilação, como efectivamente sucedeu.
A arguida argumenta, retoricamente, que a lei não a obriga a ter em
permanência alguém destacado 24 horas por dia e 7 dias por semana, sem qualquer
pausa, pronto a proceder à divulgação das informações privilegiadas, sempre que seja
caso disso.
Seguramente, caberá a cada entidade interessada encontrar a forma de se
desincumbir do ónus de assegurar, a todo o momento em que seja necessário, a
comunicação, da forma e no tempo prescritos pela lei, das informações a que se referem
as alíneas do no 1 do art. 248' do CVM.
Os procedimentos a adoptar para o efeito poderão nem sempre ser os
mesmos, podendo variar em função de diversos factores, como sejam as dimensões da
empresa, o seu ramo de actividade ou os negócios concretos em que esteja envolvida.
De todo o modo, a entidade terá de actuar de forma a assegurar o
cumprimento em devido tempo do dever imposto pelo no 1 do art. 248' do CVM,
incorrendo em responsabilidade contra-ordenacional se o não lograr, a menos que a falta
de obtenção desse resultado não lhe seja imputável, o que se não vislumbra.
Nesta conformidade, a conduta da arguida em apreço não pode deixar de
lhe ser censurada a título de negligência.
A recorrente veio arguir a inconstitucionalidade do no 1 do art. 248' do
CVM, na interpretação perfilhada pela decisão recorrida e que aqui, no essencial,
retomamos, por violação do princípio da tipicidade e da legalidade penais, consagrado
pelo no 1 do art. 29' da CRP, em virtude de fazer incluir na previsão daquele preceito o
quer nele não está previsto e de se basear em conceitos conclusivos e inconclusivos.
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A questão da inconstitucionalidade agora referida foi já apreciada, em
temos negativos, na sentença recorrida.
O no 1 do art. 29" da CRP, cuja transgressão a recorrente invoca, dispõe:
Ninguém pode ser sentenciado criminalmente senão em virtude de lei
anterior que declare punível a acção ou omissão, nem sofier medida de segurança
cujos pressupostos não estejam fixados em, lei anterior.
O primeiro fundamento da inconstitucionalidade arguida nem sequer
chega a sê-10, pois apenas traduz a divergência entre a valoração jurídica da apurada
conduta da arguida feita pelo Tribunal «a que» e aquela que a recorrente propugna, não
tendo autonomia a questão da inconstitucionalidade.
Relativamente aos supostos conceitos «conclusivos e inconclusivos~~ em
que se terá baseado a interpretação do no 1 do art. 248" do CVM sufragada pela decisão
sob recurso, não se vislumbra exactamente em que é que a recorrente fundamenta tal
asserção.
Em todo o caso, o texto da norma jurídica define os contornos do dever de
divulgação da informação privilegiada em termos devidamente perceptíveis para os
destinatários de tal normação, não se nos afigurando que contenha conceitos imprecisos.
O único elemento da previsão da norma em causa, que poderá causar
alguma perplexidade ao cidadão comum residirá na idoneidade da informação para
influenciar de forma sensível o preço dos valores mobiliários emitidos pelo agente.
No entanto, importa ter presente que o destinatário da norma do no 1 do
art. 248" do CVM não é a generalidade dos cidadãos, mas sim um conjunto de
operadores que intervêm num determinado mercado e que, nessa qualidade, silo dotados
de especiais conhecimentos de que o cidadão comum não dispõe.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
Tais conhecimentos permitem aos operadores do mercado figurar em
cada caso o juízo de prognose que formularia um investidor razoável no sentido de a
informação ser ou não relevante para a formação das suas decisões de investimento,
sendo na primeira hipótese susceptível de influenciar o preço dos valores mobiliários.
Ainda assim, importa salientar que, no caso concreto, a informação em
causa (a descoberta de petróleo num. poço explorado por um consórcio de que a arguida
faz parte) é susceptível, mesmo aos olhos de uma pessoa de conhecimentos médios, sem
especial preparação na matéria em referência, de influenciar positivamente o preço dos
valores mobiliários emitidos pela recorrente.
Nesta conformidade, não se verifica qualquer inconstitucionalidade do no
1 do art. 248" do CVM, nos termos configurados na motivação de recurso.
Apreciaremos, por fim, as questões suscitadas pela recorrente relativas a
medida e espécie de sanção que lhe foi aplicada.
Pretende a arguida que lhe seja aplicada uma advertência ou admoestação
ou que seja reduzida para o mínimo legal de 25.000 euros o montante da coima em que
foi condenado e decretada a suspensão da sanção.
Sobre a matéria da escolha e medida da sanção, diz-se na sentença
recorrida:
NOS TERMOS DO DISPOSTO NO ART. 18", DO DL N.O 433182, DE 27 DE
OUTUBRO, A DETERMINAÇÃO DA MEDIDA DA COIMA FAR-SE-Á EM
FUNÇÃO DA GRAVIDADE DA CONTRA-ORDENAÇÃO, DA CULPA E DA
SITUAÇÃO ECONÓMICA DO AGENTE, ACRESCENTANDO QUE, SEMPRE
QUE POSSÍVEL, A COIMA DEVERÁ EXCEDER O BENEFICIO ECONÓMICO
QUE O AGENTE RETIROU DA PRÁTICA DA CONTRA-ORDENAÇÃO.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
A COIMA APLICÁVEL TEM UMA MOLDURA ABSTRACTA ENTRE €25
CUMPRE, PORÉM, CONSIDERAR QUE A CONTRA-ORDENAÇÃO FOI
PRATICADA A TITULO NEGLIGENTE, PELO QUE E NOS TERMOS DO
DISPOSTO NO ARTIGO 17", No 4, DO R.G.C.O., UMA VEZ QUE O SUPRA
TRANSCRITO ARTIGO 3880, NO i , ALÍNEA A), DO CÓDIGO V. M. NA VERSÃO
APLICÁVEL (A QUE VIGORAVA A DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS) AO
DEFENIR AS MOLDURAS ABSTRACTAS DAS COIMAS, NÃO DISTINGUE AS
PRATICADAS A TITULO DOLOSO DAS PRATICADAS A TITULO
NEGLIGENTE, TEMOS QUE O LIMITE MÍNIMO É IGUAL EM AMBAS AS
SITUAÇÕES, ENQUANTO QUE O LIMITE MÁXIMO A APLICAR QUANTO AO
COMPORTAMENTO NEGLIGENTE CORRESPONDE A METADE DO LIMITE
MÁXIMO APLICÁVEL AO COMPORTAMENTO DOLOSO.
EM CONCLUSÃO, NO PRESENTE CASO, A COIMA ABSTRACTA
APLICÁVEL TEM COMO LIMITE WIINIMO €25.000 E COMO LIMITE MÁXIMO
NA REFERIDA MOLDURA MANTÉM O MINIMO SUPRA REFERIDO SENDO
REDUZIDO A METADE O VALOR MÁXIMO APLICÁVEL.
ASSIM, A ARGUIDA SERÁ PUNIDA COM UMA COIMA A FIXAR ENTRE
€25 000 E €1.250.000, UMA VEZ QUE A CONTRA-ORDENAÇÃO FOI
PRATICADA POR PESSOA COLECTIVA, A TÍTULO NEGLIGENTE E DA
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL NAO RESULTAM FIXADAS OUTRAS COIMAS,
PELO QUE CUMPRE RECORRER AO REGIME QUE RESULTA DO R.G.C.O..
CONSTATANDO-SE, ASSIM, A VIOLAÇÃO, PELA ARGUIDA DO
DISPOSTO NO ARTIGO 248", No 1, ALÍNEA A) E 2, PUNIDA NOS TERMOS DO
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
DISPOSTO NOS ARTIGOS 3880, NOS 1, ALÍNEA A) E 3, 3940, NO i , ALÍNEA I),
401" E 402", TODOS DO CÓDIGO DOS VALORES MOBILIÁRIOS, APROVADO
PELO DEC.-LEI 486199, DE 1311 1, POR REFERÊNCIA AO ARTIGO 17", DO
R.G.C.O., CUMPRE VERIFICAR SE A COIMA APLICADA PELA ENTIDADE
ADMINISTRATIVA - €50 000 - É OU NÃO DE MANTER, SENDO CERTO QUE O
LIMITE MÁXIMO, EM CONCRETO, DA COIMA A APLICAR, PELO TRIBUNAL,
É DE €1.250 000 E NÃO O MONTANTE EM QUE FOI CONDENADA, A
ARGUIDA, PELA ENTIDADE ADMINISTRATIVA - ATENTO O FACTO DE,
TRATANDO-SE DE UMA INFRACÇÃO AO CÓDIGO V. M, NÃO VIGORA A
PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN P W S .
A GRAVIDADE DA CONTRA-ORDENAÇÃO - ILICITUDE DO FACTO - É
ELEVADA, TRADUZIU-SE NO VIOLAR DA NORMA JURÍDICA, OMITINDO
UMA COMUNICAÇÃO, DURANTE MAIS DE DUAS HORAS, AOS MERCADOS
QUE, A SER COMUNICADA IMEDIATAMENTE, TINHA APTIDÃO A ALTERAR
O COMPORTAMENTO DOS POTENCIAIS INVESTIDORES POTENCIANDO,
CONSEQUENTEMENTE, O VALOR DAS ACÇÕES DA ARGUIDA.
A ~NTENSIDADE DA CULPA DA ARGUIDA - NEGLIGÊNCIA - DESDE
LOGO ATENUA A SUA RESPONSABILIDADE.
AINDA COMO CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES, DA SUA CONDUTA, O
TRIBUNAL CONSIDERA O FACTO DE NÃO TER RESULTADO PROVADO O
VALOR DO BENEFICIO ECONÓMICO PARA A ARGUIDA TENDO-SE,
IGUALMENTE, EM ATENÇÃO O TEMPO DECORRIDO ENTRE A DATA DA
PRÁTICA DOS FACTOS E A DATA DA CONDENAÇÃO PELO TRIBUNAL,
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
PARA ALÉM DE TAMBÉM NÃO TER RESULTADO PROVADO QUE A
ARGUIDA TENHA ANTECEDENTES CONTRA-ORDENACIONAIS.
NÃO RESULTA, ASSIM, PROVADA QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA QUE
JUSTIFIQUE A APLICAÇÃO, A ARGUIDA, DE UMA COIMA DE VALOR QUE
NÃO SEJA PRÓXIMO DO MINIMO LEGAL, PELO QUE SE APLICARÁ UMA
COIMA NO VALOR DE €30.000, SENDO CERTO QUE NÃO SE JUSTIFICA A
ATENUAÇÃO ESPECIAL DA COIMA, BEM COMO NÃO SE JUSTIFICA A
APLICAÇÃO DE UMA ADMOESTAÇÃO.
ASSIM SENDO, SERÁ A COIMA A APLICAR, PELA PRÁTICA DA
CONTRA-ORDENAÇÃO EM CAUSA, REDUZIDA DOS €50 000 APLICADOS A
ARGUIDA, PELA ENTIDADE ADMINISTRATIVA, PARA €30 000.
Com vista a dirimir a questão que agora nos ocupa, importará ter
presentes, para além dos normativos referidos no trecho da sentença recorrida agora
transcrito, algumas disposições do CVM.
Assim, o art. 405O, sob a epígrafe ((Determinação da sanção aplicável)),
estatui (omitindo-se a parte aplicável só a pessoas singulares):
I - A determinação da coima concreta e das sanções acessórias faz-se
em função da ilicitude concreta do facto, da culpa do agente, dos benefícios obtidos e
das exigências de prevenção, tendo ainda em conta a natureza singular ou colectiva do
agente.
2 - Na determinação da ilicitude concreta do facto e da culpa das
pessoas colectivas e entidades equiparadas, atende-se, entre outras, as seguintes
circunstâncias:
96 ; J , , , L . i,, ! , ! , -e,bi(,i;t; ;'! <::x .'. , ,. .. ..! , > : : \ j 7' ,'$.L(- ,J,i
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
a) O perigo ou o dano causados aos investidores ou ao mercado de
valores mobiliários ou de outros instrumentos financeiros;
b) O carácter ocasional ou reiterado da inji-acção;
c) A existência de actos de ocultação tendentes a dijicultar a descoberta
da inj-acção;
d) A existência de actos do agente destinados a, por sua iniciativa,
reparar os danos ou obviar aos perigos causados pela inji-acção.
3 - ....
4 - Na determinação da sanção aplicável são ainda tomadas em conta a
situação económica e a conduta anterior do agente.
Sobre o procedimento de advertência dispõe o art. 4 13':
1 - Quando a contra-ordenação consistir em irregularidade sanável da
qual não tenham resultado prejuízos para os investidores ou para o mercado de valores
mobiliários ou outros instrumentos financeiros, a CMVM pode advertir o inji-actor,
notijicando-o para sanar a irregularidade.
2 - Se o inji-actor não sanar a irregularidade no prazo que lhe for jxado,
o processo de contra-ordenação continua a sua tramitação normal.
' 3 - Sanada a irregularidade, o processo é arquivado e a advertência
torna-se definitiva, como decisão condenatória, não podendo o mesmo facto voltar a
ser apreciado como contra-ordenação.
A suspensão da execução da sanção é regulada pelo art. 4 15':
1 - A CMVM pode suspender, total ou parcialmente, a execução da
sanção.
'TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
2 - A suspensão pode ficar condicionada ao cumprimento de certas
obrigações, designadamente as consideradas necessárias para a regularização de
situações ilegais, à reparação de danos ou à prevenção de perigos para o mercado de
valores mobiliários ou de outros instrumentos financeiros ou para os investidores.
3 - O tempo de suspensão da sanção é fixado entre dois e cinco anos,
contando-se o seu início a partir da data em que se esgotar o prazo da impugnação
judicial da decisão condenatória.
4 - A suspensão não abrange custas.
5 - Decorrido o tempo de suspensão sem que o arguido tenha praticado
qualquer ilícito criminal ou de mera ordenação social previsto neste Código, e sem que
tenha violado as obrigações que lhe tenham sido impostas, fica a condenação sem
efeito, procedendo-se, no caso contrário, à execução da sanção aplicada.
Por fim, a respeito da figura da admoestação dispõe o no 1 do art. 5 l0 do
RGCO:
Quando a reduzida gravidade da infracção e da culpa do agente o
justifique, pode a entidade competente limitar-se a proferir uma admoestação.
A recorrente peticionou que lhe fosse aplicada uma advertência ou urna
admoestação, como se tratasse, aparentemente, da mesma medida.
No entanto, conforme pode inferir-se dos normativos legais que as
prevêem, trata-se de duas figuras jurídicas distintas, que assentam na verificação de
pressupostos diferentes.
Além disso, o procedimento de advertência é privativo das contra-
ordenações previstas no CVM, enquanto a admoestação C aplicável, em abstracto, a
qualquer ilícito de mera ordenação social.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
A aplicação do procedimento tem como principal pressuposto que a
infracção em causa se reconduza a uma ((irregularidade sanável)).
Nenhuma disposição do CVM esclarece o deve entender-se por
((irregularidade sanável)) para o efeito previsto no no 1 do art. 413' desse diploma, não
se nos afigurando que o conceito homónimo próprio do direito processual possa ser de
alguma utilidade no trabalho de interpretação desta norma.
De igual modo, não esclarece o CVM se por irregularidade deve
entender-se toda e qualquer infracção as suas normas susceptível de punição enquanto
contra-ordenação ou se subjaz ao conceito alguma hierarquia entre infracções, sendo
que, na última hipótese, tão pouco está estabelecido o critério que deve presidir a tal
hierarquização.
Em todo o caso, o procedimento em referência só poderá ser adoptado
nas situações em que a conduta integradora da contra-ordenação tenha natureza, isto é
quando for possível repor o estado de coisas que se verificaria se a infracção não tivesse
sido cometida.
Ora, é essa reposição que não se nos afigura viável, no caso concreto.
O no 1 do art. 248" do CVM impõe às entidades emitentes de certos
valores mobiliários não só o dever de divulgar as informações tipificadas nesse
normativo', mas sobretudo o dever de efectuar essa divulgação ((imediatamente)) após
terem tomado conhecimento do facto que obriga à sua efectivação.
Neste contexto, o factor temporal assume uma relevância decisiva.
A disposição do no 1 do art. 248" do CVM visa garantir a tutela avançada
do principio da igualdade entre investidores no acesso à informação relevante para a
formação das suas decisões de investimento.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
Nesse sentido, a referida norma legal procura evitar a ocorrência de um
hiato temporal significativo entre o momento em que uma informação relevante chega
ao conhecimento de um número restrito de pessoas e aquele em que se toma acessível a
generalidade dos investidores, de forma não dar azo a que, nesse intervalo de tempo,
alguém possa fazer uso ilegítimo dessa informação, antes de os restantes investidores
terem acesso a ela.
Assim, a partir do momento em que a entidade emitente toma
conhecimento de urna informação privilegiada, nos termos definidos pelo no 1 do art.
248' do CVM e não a divulga ((imediatamente)), no sentido acima enunciado, está
criado o pèrigo abstracto que essa norma visava evitar.
A posterior divulgação da informação pelo emitente é idónea a fazer
cessar, a partir do momento em que é feita, o perigo abstracto originado pela sua
omissão, mas não é susceptível, como é óbvio, de anular retroactivamente a situação de
perigo abstracto já verificada.
Nesta conformidade, teremos de concluir que não se justifica proceder a
notificação da arguida para proceder a «sanação» da infracção cometida, nem declarar
esta sanada em virtude da divulgação por ela efectuada da informação em causa nos
autos, as 17h38m do dia 9/8/07.
Por conseguinte, não será aplicável h situação em apreço o procedimento
de advertência previsto no art. 41 3O do CVM.
Tratando agora de apreciar da viabilidade da aplicação a arguido de urna
admoestação, nos termos do no 1 do art. 51' do RGCO, diremos que esta disposição
legal prevê tal medida para os casos de reduzida gravidade do grau de culpa do agente e
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
da infracção concretamente cometida, não estabelecendo qualquer limite a sua aplicação
em função da moldura sancionatória abstractamente cominada.
Ainda assim, convirá ter presente que as contra-ordenações previstas pelo
CVM estão hierarquizadas em muito graves, graves e menos graves, inserindo-se a
infracção praticada pela arguida no mais elevado dos referidos patamares de gravidade
(arts. 388" no 1 e 389" no 1 al. b) do CVM).
Embora possamos dar de barato que, no caso concreto, o grau de ilicitude
da infracção e a de culpa arguida se situam a um nível relativamente pouco elevado, a
situação em apreço corresponde, ainda assim, a um certo padrão de mediania, não se
apresentando aqueles factores a um nível tão diminuto, ao ponto de remeter a conduta
da arguida para o domínio das ((bagatelas contra-ordenacionais)), para qual está pensada
a figura da admoestação.
Consequentemente, não haverá lugar a aplicação a arguida da medida
sancionatória em referência.
Não sendo de aplicar ao caso em apreço o procedimento de advertência
ou uma admoestação, fica assente que a infracção cometida pela arguida terá ser punida
com coima, pelo que nos ocuparemos, de seguida, da medida concreta desta.
Para tanto, tomaremos em consideração os critérios definidos nos nos 1, 2
e 4 do art. 405" do CVM.
Embora o CVM, ao contrário do que sucede com outra legislação, não
estabeleça penalidades diferenciadas para os agentes das contra-ordenações nela
previstas, em função da sua natureza de pessoas singulares ou pessoas colectivas,
sempre se dirá que a circunstância da arguida ser uma pessoa, colectiva pesará, em sede
de determinação do montante da coima, no sentido da sua elevação.
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA
As infracções ao disposto no CVM suscitam exigências significativas de
prevenção geral, tendo em conta as suas potenciais consequências nefastas para
economia geral.
No caso concreto, os imperativos de prevenção especial não são
particularmente elevadas, tendo em consideração que, pelo menos ao tempo da prolação
da sentença em primeira instância, não eram conhecidas a arguida outras condenações
em coima.
Não há notícia que a arguida tenha retirado algum benefício da conduta
sancionada.
Os factos praticados pela arguida e punidos a título de contra-ordenação
não causaram dano aos investidores ou o mercado de valores mobiliários, nem perigo
concreto de verificação desses danos, mas tal circunstância não deverá ser
sobrevalorizada, pois a infracção cometida pela arguida é de ((perigo abstracto)).
Consequentemente, fica prejudicada a existência de factos destinados a
reparar os danos ou a obviar ao perigo concreto que pudessem ter sido causados pela
conduta em apreço.
Não há conhecimento da prática de factos tendentes a ocultar a infracção
e a dificultar a sua descoberta.
Milita a favor da arguida o carácter isolado da infracção.
Quanto a situação económica da arguida, ficou apurado que esta tinha, a
data dos factos, uma capitalização bolsista de cerca de 9.000 milhões de euros (ponto 17
da matéria provada), o que é revelador de uma realidade empresarial dotada de
apreciável poder econbmico.
TRIBCINAL DA RELAÇAO DE LISBOA
Considerados no seu conjunto os parâmetros enunciados, teremos de
concluir que, ao fixar em 30.000 euros o montante da coima aplicada a arguida, dentro
de uma moldura sancionatória que vai de 25.000 a 1.250.000 euros, o Tribunal «a quo»
decidiu de forma justa e equilibrada, não se justificando a respectiva redução para o
mínimo legal, peticionada pela recorrente, mas tão pouco a «reposição» do montante
fixado na decisão administrativa (50.000 euros), como entende a CMVM.
Consequentemente, impõe-se confirmar a decisão recorrida no que ao
montante da coima respeita.
Uma vez assente a manutenção da medida da coima decida pela primeira
instância, impõe-se averiguar se será admissivel a suspensão da execução da sanção, ao
abrigo do disposto no art. 41 5' do CVM.
Este normativo legal não define os pressupostos da medida suspensiva
nele prevista.
Atento o princípio da aplicação subsidiária das normas do Código Penal
ao regime substantivo das contra-ordenações, consagrado pelo art. 32' do RGCO, somos
entender que deveremos nos socorrer, em ordem a determinar os pressupostos da
suspensão da execução da coima prevista no art. 415' do CVM, do disposto no no 1 do
art. 50" do CP, a respeito da suspensão da execução de penas de prisão, que é do
seguinte teor:
O tribunal suspende a execução da pena de prisão aplicada em medida
não superior a cinco anos se, atendendo à personalidade do agente, as condições da
sua vida, à sua conduta anterior e posterior ao crime e às circunstâncias deste concluir
que a simples censura do facto e a ameaça da prisão realizam de forma adequada e
suJiciente asJinalidades da punição.
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
O no 1 do art. 40" do CP estabelece como finalidade da aplicação de penas
a protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade.
Nesta ordem de ideias, a suspensão da execução da coima prevista no art.
415' do CVM só poderá ter lugar quando for possível a formulação, pela CMVM, na
fase administrativa do processo, ou pelo Tribunal, na sua fase judicial, de um juízo de
prognose no sentido de que a censura do facto e a ameaça da sanção serão suficientes
para alcançar as finalidades da punição, a saber a prevenção geral e especial da prática
de infracções ao disposto naquele Código e a reintegração social da arguida.
Embora a arguida não registe anteriores condenações em coima, pelo
menos tanto quanto resulta da sentença, C duvidoso que a ameaça da sanção agora
cominada, associada a censura do facto, seja suficiente para a afastar da prática de novas
infiacções as disposições do CVM.
O montante da coima aplicada (30.000 euros), sendo muito elevado na
perspectiva das posses de um cidadão comum, representa um valor relativamente
desprezável, do ponto de vista de uma entidade dotada do poder económico de que a
arguida dispõe.
Nesta perspectiva, a ameaça de ter de vir a desembolsar a quantia de
30.000 euros, caso viesse a cometer infracções ao disposto no CVM, dificilmente seria
percepcionada pela arguida como uma ((espada de Dâmocles)) erguida sobre a sua
cabeça, eficaz para a dissuadir de incorrer em tais infracções.
A isto poder-se-ia contrapor que, a ser demasiado insignificante o
montante da coima aplicada, em comparação com as disponibilidades económicas da
arguida, não mais restaria fazer do que fixar esse montante num nível mais elevado, o
TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA
que seria, em abstracto, legalmente possível, por não vigorar neste processo a proibição
da ((reformatio in pejus)) (art. 416" no 8 do CVM).
Contudo, a esse agravamento, opor-se-ia sempre, em nosso entender, o
princípio ínsito no no 2 do art. 40' do CP, também aplicável por via do art. 32' do
RGCO, de que a sanção não pode ultrapassar a medida da culpa.
Ora, o reduzido grau de culpa da arguida, que resulta dos parâmetros
ponderados para a determinação da medida da coima, obsta seguramente a elevação do
respectivo montante.
Nesse sentido, a mera ameaça da sanção aplicada a arguida seria, no caso
concreto, insuficiente para garantir a satisfação das exigências de prevenção especial,
ainda que estas não se apresentem particularmente intensas.
Nesse sentido, mostra-se inviável a formulação do juizo de prognose
favorável que tem de estar na base da suspensão da execução da coima, prevista pelo
art. 4 15' do CVM.
Consequentemente, não será determinada a suspensão da execução da
coima, improcedendo o recurso na sua totalidade.
111. Decisão
Pelo exposto, acordam os Juízes da 3" Secção Criminal do Tribunal da
Relação de Lisboa em negar provimento ao recurso, confirmando integralmente a
sentença recorrida.
Custas a cargo da recorrente, com taxa de justiça no valor de 8 UC.
Notifique.
Lxa. 61711 1 (processado e revisto pelo relator)
(séhio Bruno Pbvoas Corvacho)
(A. Augusto Lourenço)