106
TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA Processo no 1485108.2TPLSB.Ll ACORDAM, EM CONFERÊNCIA, NA 3" SECÇÃO CRIMINAL DO TRIBUNAL DA RELAÇÁO DE LISBOA I. Relatório No Processo de Contra-Ordenação no 32/07, A COMISSÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIARIOS (C.M.V.M.) CONDENOU - <<GALP ENERGIA, s.G.P.s., s.A.", PELA PRATICA, A TÍTULO DOLOSO, DE UMA CONTRA-ORDENAÇÃO, PREVISTA E PUNIDA PELOS ARTIGOS 24S0, NO1,38S0, NOS 1, ALÍNEA A) E 3 E 394O, No 1, ALÍNEA I), TODOS DO CÓDIGO DOS VALORES MOBILIÁRIOS, AO PAGAMENTO DE UMA COIMA NO VALOR DE €50.000 (CINQUENTA MIL EUROS). Com base nos seguintes factos, que então sc deram como provados: 1. A arguida é uma sociedade emitente. 2. A data da prática dos factos a arguida possuía acções admitidas a negociação no mercado regulamentado Eurolist by Euronext. 3. A arguida tem por objecto a gestão de participações sociais de outras sociedades do sector energético, como forma indirecta de exercício de actividades económicas. 4. Do grupo empresarial, cujas participações são geridas pela arguida, fazem parte a Petrogal - Petróleos de Portugal, S.A., a Gás de Portugal, S.G.P.S., S.A., a Galp Gás Natural, S.A. e a Lisboagás, Sociedade Distribuidora de Gás Natural de Lisboa, S.A. 5. A arguida opera em duas áreas do sector energético: petrolífero e do gás natural.

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

Processo no 1485108.2TPLSB.Ll

ACORDAM, EM CONFERÊNCIA, NA 3" SECÇÃO CRIMINAL DO TRIBUNAL

DA RELAÇÁO DE LISBOA

I. Relatório

No Processo de Contra-Ordenação no 32/07, A COMISSÃO DO

MERCADO DE VALORES MOBILIARIOS (C.M.V.M.) CONDENOU

- <<GALP ENERGIA, s.G.P.s., s.A.", PELA PRATICA, A TÍTULO

DOLOSO, DE UMA CONTRA-ORDENAÇÃO, PREVISTA E PUNIDA PELOS

ARTIGOS 24S0, NO1, 38S0, NOS 1, ALÍNEA A) E 3 E 394O, No 1, ALÍNEA I), TODOS

DO CÓDIGO DOS VALORES MOBILIÁRIOS, AO PAGAMENTO DE UMA

COIMA NO VALOR DE €50.000 (CINQUENTA MIL EUROS).

Com base nos seguintes factos, que então sc deram como provados:

1. A arguida é uma sociedade emitente.

2. A data da prática dos factos a arguida possuía acções admitidas a negociação no

mercado regulamentado Eurolist by Euronext.

3. A arguida tem por objecto a gestão de participações sociais de outras sociedades do

sector energético, como forma indirecta de exercício de actividades económicas.

4. Do grupo empresarial, cujas participações são geridas pela arguida, fazem parte a

Petrogal - Petróleos de Portugal, S.A., a Gás de Portugal, S.G.P.S., S.A., a Galp Gás

Natural, S.A. e a Lisboagás, Sociedade Distribuidora de Gás Natural de Lisboa, S.A.

5. A arguida opera em duas áreas do sector energético: petrolífero e do gás natural.

Page 2: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

6. A arguida tem uma participação de 9% num consórcio que explora o Bloco 14, nas

águas profundas do offshore de Angola.

7. Do referido consórcio fazem parte, além da arguida, as sociedades Chevron,

Sonangol, ENI e TOTAL.

8. Em Dezembro de 2006 foi efectuada uma perfuração no poço Malange-1 no referido

Bloco 14.

9. Em Março de 2007 o poço Malange-1 foi testado, tendo sido determinada a sua

capacidade produtiva e a boa qualidade do petróleo.

10. No dia 8 de Agosto de 2007, às 16 horas e 25 minutos, Pedro Gama (da Chevron)

enviou um e-mail para a arguida e restantes membros do consórcio, afirmando que a

informação relativa à descoberta de petróleo no Bloco 14, poço Malange-1, seria

anunciada pela Sonangol na manh3 do dia 9 de Agosto de 2007.

11. No referido e-mail, Pedro Gama afirmava tambCm que a Chevron iria divulgar a

referida informação no dia 10 de Agosto às 13 horas (hora de Angola), 5 horas (hora do

Estado da Califómia) e pedia que, por cortesia para com o operador, a informação não

fosse divulgada fora de Angola antes da referida hora.

12. No dia 9 de Agosto de 2007:

i) AS 13 horas, foi noticiado (em inglês) pela Agência Reuters o anúncio, por parte da

Chevron Corporation (Chevron), da descoberta de petróleo no seu consórcio em

Angola.

ii) AS 13 horas e 26 minutos, nova noticia (em inglês) da Agência Reuters fez referência

ao facto de a arguida ter uma participação de 9% no consórcio liderado pela Chevron

em Angola.

Page 3: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

iii) Às 15 horas e 45 minutos voltou a surgir no site da Agência Reuters a mesma notícia

que referia a participação da arguida no consórcio, traduzida para português.

iv) As 16 horas e 34 minutos, a mesma notícia foi divulgada no site do jornal de

Negócios.

13. Para além de ser idónea para influenciar o preço, após a respectiva divulgação, a

referida informaçâio efectivamente influenciou o preço das acções da arguida negociadas

no mercado regulamentado Eurolist by Euronext na sessão do dia 9 de Agosto de 2007.

Com efeito,

14. Após quedas acentuadas, em sintonia com o mercado e o sector, até cerca das 14

horas e 18 minutos, a cotação das acções da arguida iniciou posteriormente um

movimento de subidas significativas até a hora de fecho de mercado.

15. No dia 9 de Agosto de 2007, a cotação do título Galp Energia registou os seguintes

valores:

i) Às 8 horas, 10,88 euros;

ii) Às 10 horas e 22 minutos: 10,75 euros;

iii) Às 14 horas e 18 minutos: 10,33 euros;

iv) Às 14 horas e 55 minutos: 10,50 euros;

v) Às 16 horas e 35 minutos: 10,87 euros.

16. O movimento de subida da cotação das acções da arguida foi contrário ao sentido do

índice PSI20 e do índice europeu do sector petrolífero, o Dow Jones Eurostoxx Oil Gas,

que registaram ambos quedas na sessão do dia 9 de Agosto de 2007.

17. A Chevron tinha a data urna capitalização bolsista de 126.280,2877 milhões de

Euros, ou seja, 14,0094 vezes superior a da arguida, que era de 9.013,9551 milhões de

Euros;

Page 4: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

18. A Chevron tem uma participação de 31% no consórcio que explora o Bloco 14, nas

águas profundas do offshore de Angola e a arguida tem uma participação de 9% no

referido consbrcio;

19. Assim, a participação da Chevron no consórcio é apenas 3,4444 vezes superior à da

arguida.

20. A partir do dia 9 de Agosto de 2007, às 13 horas, a informação da descoberta de '

petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado

na Agência Reuters.

21. A arguida apenas divulgou a ocorrência do facto as 17 horas e 38 minutos do dia 9

de Agosto de 2007.

22. A arguida agiu consciente e voluntariamente na prática dos supra referidos factos,

uma vez que:

i) Tinha conhecimento da descoberta de petróleo pelo consórcio, do qual faz parte com

uma participação de nove por cento, que explora o Bloco 14 nas águas profundas do

offshore de Angola;

ii) Sabia que, As 13 horas do dia 9 de Agosto de 2007, a informação relativa a essa

descoberta passou a ser pública; e

iii) Não quis divulgar imediatamente essa informação..

A arguida impugnou judicialmente, nos termos do art. 59" do Regime

Geral das Contra-ordenações (doravante RGCO), aprovado pelo DL no 433/82 de 27/10

e sucessivamente alterado, a decisão administrativa que a condenou, tendo formulado as

seguintes conclusões:

I. A decisão recorrida aplicou à ora recorrente uma coima de € 50.000 pela alegada ". . .

infracção dolosa do dever de informação relativa a descoberta de petróleo no Bloco 14,

Page 5: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBLINAL DA RELAÇAO DE LISBOA

poço Malange-1, em Angola, pelo consórcio do qual faz parte com uma participação de

9%, em violação do artigo 248.0, n." 1 do CdVM ... ";

11. De acordo com o referido na respectiva fundamentação, está apenas em causa a

alegada não divulgação pela ora Recorrente de "informação relativa à descoberta de

petróleo ", após a mesma ter sido divulgada por outra participante no Consórcio;

111. A ora Recorrente participa indirectamente no Consórcio em causa, através da sua

participada PETROGAL;

IV. O que consta dos n."s 10. 13 e 22, a págs. 14 e 15 da decisão recorrida, não pode ser

considerado provado, pois ou não corresponde a verdade ou constitui meras afirmações

conclusivas;

V. A decisão recorrida não atendeu a diversos factos relevantes para a decisão da causa

(v. n." 15 do texto das presentes alegações);

VI. A deliberação do Conselho Directivo da CMVM, em que se aplicou a coima em

causa à ora Recorrente, está em contradição com o texto que a antecedeu, pois refere a

não divulgação imediata da informação em causa, quando no texto que a antecedeu

refere-se que não está em causa o diferimento da divulgação da informação, mas sim a

alegada não divulgação da informação, após deixar de ser confidencial;

VII. As referidas situações são inclusive reguladas por preceitos distintos - arts. 248" e

248" - A do CdVM;

VIII. A contradição em causa é indiciadora que na deliberação do Conselho Directivo

da CMVM não terão sido tidas em conta todas as circunstâncias do caso concreto;

IX. Mesmo considerando-se o invocado pela CMVM na decisão impugnada, esta violou

os princípios da tipicidade e da legalidade, consagrados nos arts. 1" e 2" do RGCOC,

Page 6: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

pois a situação descrita não se enquadra minimamente no n." 1 do art. 248" do CdVM,

cuja violação é invocada pela CMVM para aplicar a coima em causa a ora Recorrente.

X. Na decisão impugnada não consta ainda qualquer facto concreto, que estabelecesse o

elemento subjectivo da infracção imputada a ora Recorrente, limitando-se a formular

meros juízos conclusivos, pelo que é nula (v. arts. 8' e 58' do RGCOC e 374" e 379" do

CPP);

XI. É manifesto que não se verificou qualquer conduta negligente da ora Recorrente no

lapso de tempo que decorreu entre ter tido conhecimento da divulgação da informação

pela CHEVRON e a divulgação da mesma pela ora Recorrente no SDI, e, muito menos

dolosa - como se invoca na decisão recorrida -, pelo que nunca lhe poderia ser aplicada

a coima em causa (v. art. 8" do RGCOC);

XII. De qualquer forma, não está em causa informação privilegiada, nos termos e para

os efeitos do disposto no art. 248' CdVM, sendo a decisão recorrida ilegal ao condenar

a ora recorrente pela alegada violação deste preceito.

XIII. Ainda que se considerasse que estaria em causa informação privilegiada, nos

termos e para os efeitos do disposto no art. 248' CdVM - o que não admitimos

minimamente -, é manifesto que se verificavam os pressupostos para o diferimento da

divulgação da informação ao abrigo do disposto no art. 248" - A do CdVM, conforme

não é minimamente colocado em causa pela CMVM;

XIV. O n." 1 do art. 248" do CdMV, na interpretação adoptada pela decisão recorrida, é

inconstitucional, devendo a sua aplicação ser recusada in casu (v. 204" da CRP), pois

baseia-se em conceitos conclusivos e seria aplicável a situações que não constam da

respectiva previsão (v. art. 29" da CRP);

Page 7: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

XV. Mesmo que se entendesse que teria sido praticada alguma contra-ordenação - o que

não se admite minimamente e apenas se refere por cautela de patrocínio -, deveria, face

as circunstâncias do caso concreto, ter sido efectuada, no máximo, uma advertência ou

admoestação ou, quanto muito, aplicada uma coima pelo mínimo legal e suspensa a

execução da sanção (v. arts. 4 13" e segs. do CdVM);

XVI. A decisão recorrida é assim claramente ilegal, tendo violado, além do mais, os

arts. 248", 248"-A e 423" e segs. do CdVM, os arts. 1" 2", 8" e 58" do RGCOC, 374" e

379" do CPP e 29" e 32" da CRP.

Termos em que deve ser julgado procedente o presente recurso, declarando-se nula ou

revogando-se a decisão impugnada, com as legais consequências.

Na fase de impugnação judicial, os autos foram distribuídos a 3" Secção

do 2" Juízo de Pequena Instância Criminal de Lisboa e, em 7/1/11, foi proferida

sentença pela Exrn" Juiz desse Juízo e Secção, que decidiu

CONDENAR A ARGUIDA, "GALP ENERGIA, s.G.P.s., s.A.", PELA PRÁTICA, A

TÍTULO NEGLIGENTE, DE UMA CONTRA-ORDENAÇÃO, PREVISTA E

PUNIDA PELOS ARTIGOS 24S0, NO1, ALÍNEA A) E 2, 38S0, NOS 1, ALÍNEA A) E

3, 394", NO1, ALÍNEA I), 401' E 402", TODOS DO CÓDIGO DOS VALORES

MOBILIARIOS, APROVADO PELO DEC.-LEI 486199, DE / , POR

REFERÊNCIA AO ARTIGO 170, NO 4, DO R.G.c.o., AO PAGAMENTO DE UMA

COIMA NO VALOR DE €30.000 (TRINTA MIL EUROS).

Com base nos seguintes factos, que então se deram como provados:

1- A ARGUIDA, "GALP ENERGIA, S.G.P.S., S.A.", É UMA SOCIEDADE

EMITENTE. (FLS. 15 A 18)

Page 8: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

2- A DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS - AGOSTO DE 2007 - A ARGUIDA

POSSUÍA ACÇÕES ADMITIDAS A NEGOCIAÇÃO NO MERCADO

REGULAMENTADO EUROLIST BY EURONEXT. (FLS. 25 E 26)

3- A ARGUIDA TEM POR OBJECTO A GESTÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIAIS

DE OUTRAS SOCIEDADES DO SECTOR ENERGÉTICO, COMO FORMA

INDIRECTA DE EXERC~CIO DE ACTIVIDADES ECONOMICAS. (FLS. 23)

4- DO GRUPO EMPRESARIAL, CUJAS PARTICIPAÇÕES SÃO GERIDAS PELA

ARGUIDA, FAZEM PARTE A PETROGAL - PETR~LEOS DE PORTUGAL, S.A., A

GAS DE PORTUGAL, S.G.P.S., S.A., A GALP GÁS NATURAL, S.A. E A

LISBOAGÁS, SOCIEDADE DISTRIBUIDORA DE GÁS NATURAL DE LISBOA,

S.A. (FLS. 19 A 24)

5- A ARGUIDA OPERA EM DUAS ÁREAS DO SECTOR ENERGÉTICO:

PETROLIFERO E DO GÁS NATURAL. (FLS. 21)

6- A ARGUIDA TEM UMA PARTICIPAÇÃO DE 9% NUM CONSÓRCIO QUE

EXPLORA O BLOCO 14, NAS ÁGUAS PROFUNDAS DO OFFSHORE DE

ANGOLA. (FLS. 9,44 A 48)

7- DO CONS~RCIO, REFERIDO EM 6), FAZEM PARTE, ALÉM DA ARGUIDA, AS

SOCIEDADES CHEVRON, SONANGOL, ENI E TOTAL. (FLS. 6)

8- EM DEZEMBRO DE 2006 FOI EFECTUADA UMA PERFURAÇAO NO

POÇO MALANGE-1 NO BLOCO 14, REFERIDO EM 6). (FLS. 9; 44 A 48)

9- EM MARÇO DE 2007 O POÇO MALANGE-1 FOI TESTADO, TENDO SIDO

DETERMINADA A SUA CAPACIDADE PRODUTIVA E A BOA

QUALIDADE DO PETROLEO. (FLS. 9; 44 A 48)

Page 9: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBLINAL DA RELAÇAO DE LISBOA

10- NO DIA 8 DE AGOSTO DE 2007, AS 16 HORAS E 25 MINUTOS, PEDRO

GAMA (DA CHEVRON) ENVIOU UM E-MAIL PARA A ARGUIDA E

RESTANTES MEMBROS DO CONSÓRCIO, AFIRMANDO QUE A

INFORMAÇÃO RELATIVA A DESCOBERTA DE PETROLEO NO BLOCO 14,

POÇO MALANGE-1, SERIA ANUNCIADA PELA SONANGOL NA MANHÃ

DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, NÃO RESULTANDO APURADO SE E

QUANDO FOI, EFECTIVAMENTE, TAL MAIL RECEPCIONADO PELA

ARGUIDA.

11- NO E-MAIL REFERIDO EM 10), PEDRO GAMA AFIRMAVA TAMBÉM

QUE A CHEVRON IRIA DIVULGAR A REFERIDA INFORMAÇÃO NO DIA 10

DE AGOSTO AS 13 HORAS (HORA DE ANGOLA), 5 HORAS (HORA DO

ESTADO DA CALIF~RNIA) E PEDIA QUE, POR CORTESIA PARA COM O

OPERADOR, A INFORMAÇÃO NÃO FOSSE DIVULGADA FORA DE

ANGOLA ANTES DA REFERIDA HORA.

12- NO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007:

i) AS 13 HORAS, FOI NOTICIADO (EM INGLÊS) PELA AGÊNCIA

REUTERS O AN~NCIO, POR PARTE DA CHEVRON CORPORATION

(CHEVRON), DA DESCOBERTA DE PETRÓLEO NO SEU CONSÓRCIO

EM ANGOLA. (FLS. 1 A 8)

ii) AS 13 HORAS E 26 MINUTOS, NOVA NOTICIA (EM INGLÊS) DA

AGÊNCIA REUTERS FEZ REFERÊNCIA AO FACTO DE A ARGUIDA

TER UMA PARTICIPAÇÃO DE 9% NO CONSÓRCIO LIDERADO PELA

CHEVRON EM ANGOLA. (FLS. 1 A 8)

Page 10: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

iii) AS 15 HORAS E 45 MINUTOS VOLTOU A SURGIR NO SITE DA

PARTICIPAÇÃO DA ARGUIDA NO CONSÓRCIO, TRADUZIDA PARA

PORTUGUÊS. (FLS. 1 A 8)

iv) AS 16 HORAS E 34 MINUTOS, A MESMA NOTÍCIA FOI DIVULGADA

NO SITE DO JORNAL DE NEG~CIOS. (FLS. 49)

13- PARA ALÉM DE SER IDÓNEA PARA INFLUENCIAR O PREÇO, APÓS A

RESPECTIVA DIVULGAÇÃO, A INFORMAÇÃO REFERIDA EM 12)

EFECTIVAMENTE INFLUENCIOU O PREÇO DAS A C Ç ~ E S DA ARGUIDA

NEGOCIADAS NO MERCADO REGULAMENTADO EUROLIST BY

E U R O N m N A SESSÃO DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007.

14- NO CIRCUNSTANCIALISMO DESCRITO EM 13), APÓS QUEDAS

ACENTUADAS, EM SINTONIA COM O MERCADO E O SECTOR, ATÉ

CERCA DAS 14 HORAS E 18 MINUTOS, A COTAÇÃO DAS ACÇÕES DA

ARGUIDA INICIOU POSTERIORMENTE UM MOVIMENTO DE SUBIDAS

SIGNIFICATIVAS ATÉ A HORA DE FECHO DE MERCADO. (FLS. 3 E 4)

15- NO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, A COTAÇÃO DO TÍTULO GALP

ENERGIA REGISTOU OS SEGUINTES VALORES:

i) AS 8 HORAS, 10,88 EUROS; (FLS. 3 E 4)

ii) AS 10 HORAS E 22 MMUTOS: 10,75 EUROS; (FLS. 3 E 4)

iii) AS 14 HORAS E 18 MINUTOS: 10,33 EUROS; (FLS. 3 E 4)

iv) AS 14 HORAS E 55 MINUTOS: 10,50 EUROS; (FLS. 3 E 4)

1 o L;,g:~ ,,,,:A ,q?f,c, \ ;.,zp,i: 6 , 1 ,,i ,!sg :,;!L!:: ;,.v,.,IJ., c : , 2. '1'1" ',' L-<!.$,, i ! 21: I?.,.' :. ..'.L ... I i'.'

Page 11: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

16- O MOVIMENTO DE SUBIDA DA COTAÇÃO DAS ACÇÕES DA ARGUIDA

FOI CONTRÁRIO AO SENTIDO DO ÍNDICE PSI20 E DO ÍNDICE

EUROPEU DO SECTOR PETROLIFERO, O DOW JONES EUROSTOXX OIL

GAS, QUE REGISTARAM AMBOS QUEDAS NA SESSÃO DO DIA 9 DE

AGOSTO DE 2007. (FLS. 5)

17- A CHEVRON TINHA, A DATA, UMA CAPITALIZAÇAO BOLSISTA DE

126.280,2877 MILHÕES DE EUROS, OU SEJA, 14,0094 VEZES SUPERIOR

A DA ARGUIDA, QUE ERA DE 9.013,9551 MILHÕES DE EUROS; (FLS. 50

A 54)

18- A CHEVRON TEM UMA PARTICIPAÇÃO DE 3 1 % NO CONSÓRCIO QUE

EXPLORA O BLOCO 14, NAS ÁGUAS PROFUNDAS DO OFFSHORE DE

ANGOLA E A ARGUIDA TEM UMA PARTICIPAÇÃO DE 9% NO

REFERIDO CONSÓRCIO; (FLS. 9; 63 A 65)

19- ASSIM, A PARTICIPAÇÃO DA CHEVRON NO CONS~RCIO É APENAS

3,4444 VEZES SUPERIOR A DA ARGUIDA. (FLS. 9; 63 A 65)

20- A PARTIR DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, AS 13 HORAS, A

INFORMAÇÃO DA DESCOBERTA DE PETRÓLEO PASSOU A SER

PUBLICA, EM VIRTUDE DO COMUNICADO DA CHEVRON QUE FOI

NOTICIADO NA AGÊNCIA REUTERS. (FLS. 8)

21- A ARGUIDA TOMOU CONHECIMENTO DO DESCRITO EM 20), NO DIA

9 DE AGOSTO DE 2007, A HORA NÃO CONCRETAMENTE APURADA,

MAS PELO MENOS Á s 15 HORAS E 28 MINUTOS. (FLS. 147)

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

v) À s 16 HORAS E 35 MINUTOS: 10,87 EUROS. (FLS. 3 E 4)

Page 12: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

22- A ARGUIDA DIVULGOU A OCORRÊNCIA DO FACTO REFERIDO EM 20)

AS 17 HORAS E 38 MINüTOS DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007. (FLS. 45

VERSO; 48).

23- A ARGUIDA AGIU CONFORME DESCRITO EM 21) E 22), VIOLANDO

UM DEVER DE CUIDADO A QUE ESTAVA OBRIGADA E DE QUE ERA

CAPAZ, NO SENTIDO DE DILIGENCIAR DE FORMA A QUE AO TER

CONHECIMENTO DO DESCRITO EM 20), PROCEDESSE A DIVULGAÇÃO

DA NOT~CIA EM CAUSA, DE IMEDIATO E NÃO DEMORANDO MAIS DE

DUAS HORAS CONFORME DEMOROU.

A mesma sentença julgou não provada a seguinte factualidade:

A - A ARGUIDA, AO ACTUAR CONFORME DESCRITO EM 21) E 22), DA

MATÉRIA DE FACTO PROVADA, TENHA AGIDO DE MODO LIVRE,

VOLUNTÁFUO E CONSCIENTE, BEM SABENDO QUE TINHA DE COMUNICAR

IMEDIATAMENTE, UMA VEZ QUE:

i) APESAR DE TER CONHECIMENTO DA DESCOBERTA DE PETRÓLEO

PELO CONSORCIO, DO QUAL FAZ PARTE COM UMA

PARTICIPAÇÃO DE NOVE POR CENTO, QUE EXPLORA O BLOCO 14

NAS ÁGUAS PROFUNDAS DO OFFSHORE DE ANGOLA; (FLS. 7)

ii) SOUBESSE QUE, AS 13 HORAS DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, A

INFORMAÇÃO RELATIVA A ESSA DESCOBERTA PASSOU A SER

PÚBLICA; (FLS. 6 E 7; 146 A 149) E

iii) NÃO TENHA QUERIDO DIVULGAR IMEDIATAMENTE ESSA

TNFORMAÇÃO. (FLS. 7; 45 VERSO E 48).

Page 13: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

B - NOS TERMOS DADOS COMO PROVADOS EM 10), DA MATÉRIA DE

FACTO PROVADA, A INFORMAÇÃO RELATIVA A DESCOBERTA DE

PETRÓLEO NO BLOCO 14, POÇO MALANGE-1, HOUVESSE SIDO

EFECTIVAMENTE ANUNCIADA PELA SONANGOL NA MANHA DO DIA 9

DE AGOSTO DE 2007, OU EM QUALQUER OUTRA DATA/HORA ANTERIOR

A DIVULGAÇAO EFECTUADA PELA ARGUIDA.

Da referida sentença a arguida veio interpor recurso devidamente

motivado, formulando as seguintes conclusões (omitindo-se o último ponto, relativo a

um recurso interlocutório entretanto rejeitado):

I. A douta Sentença recorrida foi proferida na sequência da impugnação judicial

apresentada pela ora Recorrente de decisão da Comissão do Mercado de Valores

Mobiliários (CMVM), que lhe havia aplicado uma coima de 50.000,OO €, pela alegada

violaçiío do dever de divulgação de informação, previsto no n.' 1 do art. 248.' do Código

dos Valores Mobiliários (CdVM) - cfi. texto das presentes alegações n.'s 1 a 5;

11. Realizada audiência de julgamento, pela douta Sentença recorrida foi julgada

"parcialmente provada a acusação" (ou, numa outra perspectiva, foi julgado parcialmente

procedente o recurso), condenando-se a ora Recorrente numa coima de 30.000,OO €, pela

alegada violação do disposto no referido art. 248.' do CdVM, considerando-se que

existiu uma conduta negligente da ora Recorrente e não dolosa, como sustentado pela

CMVM - cfr. texto das presentes alegações n.'s 1 a 5;

111. Salvo o devido respeito - e C verdadeiramente muito -, a douta Sentença recorrida

enferma de nulidades, bem como de erros de direito ao manter a condenação da ora

Recorrente pela alegada violação daquele preceito, apesar de reduzir o valor da coima,

Page 14: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

não se verificando, alCm do mais, qualquer conduta ilícita ou negligente da ora

Recorrente, atendendo as circunstâncias do caso concreto - cfi. texto das presentes

IV. A douta Sentença recorrida enferma de nulidade por falta de fundamentação da

decisão de facto, pois, apesar das 18 páginas da mesma relativas à "fundamentação da

decisão de facto", não é efectuada qualquer correlação entre o que é aí referido e os

factos considerados provados, violando o disposto no art. 374."/2 do CPP (cfi. art.

379.OIlla) do CPP; cfi. art. 41 ."I1 do RGCOC) - cfi. texto das presentes alegações n."s

6 a 15;

V. Com efeito, conforme constitui Jurisprudência constante e pacífica, não basta uma

mera referência dos factos às provas, toma-se necessário um correlacionamento dos

mesmos com as provas que os sustentam de forma a poder concluir-se quais as provas

que suportam os factos concretamente julgados provados, ou seja, é necessário explicitar

em sede de fundamentação o processo lóqico-formal que foi seguido para se

considerarem aqueles factos provados - cfi. texto das presentes alegações n."s 8 a 1 1 ;

VI. No caso em apreço, a douta Sentença recorrida limita-se a efectuar, em sede de

"fundamentação da decisão de facto", um resumo do que terá sido dito pelas testemunhas

(em alguns pontos impreciso e incorrecto), e a indicar os documentos constantes do

processo que terão sido "considerados" - cfr. texto das presentes alegações n."s 11 a 13;

VII. A douta sentença enferma, assim, de nulidade, pois não se efectua aquela

correlação, nem se explicita o processo lógico-formal que terá sido seguido pelo Tribunal

a quo, inquinando essa nulidade todos os factos considerados provados (v. art. 374.OI2do

CPP; cfi. art. 379,"/1/a) do CPP) - cfi. texto das presentes alegações n."s 11 a 13;

Page 15: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

VIII. O art. 374."/2 do CPP interpretado no sentido que não seria necessário explicitar o

processo de formação da convicção do Tribunal, sempre seria inconstitucional, por

violação dos arts. 32."/1 e 205." da CRP - cfi. texto das presentes alegações n." 13;

IX. Na douta Sentença recorrida também não se indica porque é que não se

consideraram relevantes diversos factos alegados pela ora Recorrente no seu recurso para

o douto Tribunal a quo e que assumem inegável relevância, face ao disposto no art.

248."-A do CdVM, relativo ao diferimento da divulgação de informação, e ainda por

aqueles factos serem essenciais para se aferir da licitude (ou não) da conduta da ora I

Recorrente, pelo que, também por esta razão, a douta Sentença recorrida enferma de

nulidade por falta de fundamentação ou mesmo por omissão de pronúncia, tendo violado

ainda o disposto no art. 374."/2 da CPP (cfr. art. 379."/l/a) e c) do CPP; cfr. art. 4 1 ."/I do

RGCOC) - cfr. texto das presentes alegações n.Os 14 a 15;

X. Além disso, mesmo tentando imaginar o processo lógico seguido pelo douto

Tribunal a quo (obviamente, com risco de erro pois este não está explicitado, como devia

estar), a douta Sentença recorrida sempre enfermaria de erro notório na apreciação da

prova ou, pelo menos, contradição insanável entre os fundamentos e a decisão (v. art.

410."/2)c) e b) do CPP), o que, aliás, o douto Tribunal a quo teria verificado facilmente

se, em cumprimento do dever de fundamentação, tivesse procedido a uma correlação

entre a prova produzida e os factos considerados provados - cfr. texto das presentes

alegaçaes naos 16 a 2 1 ;

XI. Com efeito, é notório que, face ao resumo dos depoimentos das testemunhas e ao

que consta dos documentos indicados, nunca poderia ser considerado provado o que

consta dos n."s 10, 1 1, 12, 21 e 22, a págs. 5 1 e segs. da Sentença - cfr. texto das

presentes alegações n."s 16 a 2 1 ;

Page 16: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

XII. Por outro lado, na douta Sentença recorrida, em sede de factos provados, constam

diversas conclusões de facto e juízos valorativos (v., nomeadamente, n."s 13 e 20

a 23, a págs. 53 e segs. da Sentença), que não podem integrar o elenco dos "factos"

provados, que devem corresponder a factos concretos da vida real e não a abstracções,

conceitos ou juízos conclusivos (v., entre outros, Ac. Rel. Lisboa, Proc. 0080204,

disponível em www.dqsi.pt) - cfr. texto das presentes alegações n."s 22 a 24;

XIII. Não pode, assim, ser considerado provado o que consta nos n."s 13 e 20 a 23, a

págs. 53 da Sentença recorrida, devendo ser alterada a redacção dos pontos 21 e 22, por

forma a corresponderem a factos e não a conclusões de facto - cfr. texto das presentes

alegações n."s 22 a 24;

XIV. Acresce que, na linha do já acima referido na Conclusão IX), quanto a não terem

sido considerados relevantes diversos factos alegados pela ora Recorrente, verifica-se na

douta Sentença recorrida uma insuficiência da matéria facto necessária para a decisão ou,

pelo menos, erro de direito (v. art. 41 0.0/2/a) do CPP; cfr. art. 41 ."I1 do RGCOC) - cfr.

texto das presentes alegaçoes n."s 26 a 28;

XV. Sem prejuízo do acima referido, a douta Sentença recorrida enferma ainda de

outros erros de direito, ao considerar que existiu uma conduta ilícita e culposa da ora

Recorrente - cfr. texto das presentes alegações n."s 29 e segs.;

XVI. A douta Sentença recorrida, na linha do anteriormente decidido pela CMVM,

condena a ora Recorrente pela alegada violação do disposto no art. 248."/1 do CdVM,

quando o preceito aplicável in casu é o 248." - A (aditado ao referido Código pelo DL

52/2006), pois estávamos perante urna situação de diferimento da divulgação da

informaçao, pelo que foi violado o principio da legalidade e da tipicidade consagrado no

Page 17: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

art. 2." do RGCOC e no art. 29."/1 da CRP - cfi. texto das presentes alegações n."s 30 a

XVII. Neste particular, a douta Sentença enferma também de omissão de pronúncia,

pois não apreciou o alegado pela ora Recorrente, quanto a aplicação daquele preceito (v.

n.Os 25 e segs. e 71 e segs. do texto do recurso da ora Recorrente para o Tribunal a quo e

nas respectiva conclusões IX e XII), sendo que os elementos do tipo contra-ordenacional

resultante de uma violação do disposto no art. 248." são totalmente distintos dos do art.

248." - A (v. art. 379."/l/c) do CPP; cfi. art. 41."/1 do RGCOC) - cfi. texto das presentes

alegações n."s 30 e 3 1;

XVIII. Como já referido, estávamos o diferimento da divulgação da informação, nos

termos do art. 248" - A do CdVM (a descoberta de petróleo ocorreu em Março de 2007 e

os membros do consórcio acordaram divulgar a informação a em 10 de Agosto de 2007

(v. n." 9 dos factos a págs. 52 da Sentença; cfi. resumo dos depoimentos das testemunhas

a págs. 64,4" a 6." parágrafos; págs. 66, 3." parágrafo; págs. 68, 1 .O, 3." e 4." parágrafos

e págs. 69, 5." e 6." parágrafos, da Sentença recorrida) - cfr. texto das presentes

alegações n."s 30 a 36;

XIX. Quanto muito o que se verificou foi uma quebra de confidencialidade por motivos

não imputáveis a ora Recorrente, na pendência do referido diferimento da divulgação da

informação (art. 248." -A do CdVM), o que é muito distinto do dever de divulgação

imediata previsto no n." 1 do art. 248." do mesmo Código, aplicado na douta Sentença

recorrida - cfi. texto das presentes alegações n.Os 30 a 40;

XX. De resto, a própria CMVM não coloca minimamente em causa na decisão

condenatória o preenchimento dos requisitos previstos no referido art. 248" - A do

17 Riia do Arçenal Le[:d G ' 1!)0-U38 Lisboa ieieforie 2 Í 32'~ 25 bb i i ih 2 i 347 $8 44

Page 18: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

CdVM, para o diferimento da divulgação da informação, nunca invocando que a

informação teria que ser divulgada à data da descoberta de petróleo, em Março de 2007

(v., entre outros, n." s 83 e segs., a págs. 22 da decisão da CMVM) - cfi. texto das

presentes alegações n."s 30 a 40;

XXI. Acresce que, nos processos sancionatórios não é admissível o recurso a analogia

pelo que não é possível concluir que, uma vez quebrada a confidencialidade, seria

aplicável o n." 1 do art. 248." do CdVM - cfi. texto das presentes alegações n."s 30 a 40;

XXII. A douta sentença recorrida enferma, assim, de erros de julgamento, tendo violado

o princípio da legalidade e da tipicidade consagrado no art. 2." do RGCOC (cfi. art.

29."/1 da CRP), pois verificavam-se in casu os pressupostos para o diferimento da

divulgação da informação, ao abrigo do disposto no art. 248' - A do CdVM (conforme

reconhecido pela prbpria CMVM), não se enquadrando a situação no n." 1 do art. 248"

do CdVM, aplicado na Sentença recorrida, mas sim no referido 248." - A, do mesmo

Código - cfr. texto das presentes alegações n."s 30 a 40;

XXIII. A douta Sentença recorrida enferma de erros de julgamento ao imputar uma

conduta negligente à ora Recorrente - cfr. texto das presentes alegações n."s 41 a 49;

XXIV. Aliás, atendendo às circunstâncias do caso concreto e ao impreciso conceito

"imediatamente", não se verificaria sequer o elemento objectivo do ilícito, mesmo

considerando o disposto no art. 248." do CdVM - cfi. texto das presentes alegações n."s

41 a49;

XXV. De qualquer forma, não existiu da parte da Recorrente qualquer "atitude de

descuido ou leviandade consubstanciada na violação do cuidado", face as circunstâncias

Page 19: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

'TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

do caso concreto (v. Paulo Pinto Albuquerque Comentário ao Código Penal, pág. 96, e

Doutrina aí citada) - cfr. texto das presentes alegações n."s 41 a 49;

XXVI. Com efeito, dos factos considerados provados na douta Sentença recorrida, dos

depoimentos das testemunhas Carlos Alves, Tiago Villas Boas e Inês Santos, resumidos

a págs. 63 e segs. da Sentença recorrida (v. pág. 64, 4" a 6." parágrafos; pág. 66, 3."

parágrafo; pág. 68, I.", 3." e 4." parágrafos e pág. 69, 5." e 6." parágrafos) dos

documentos juntos aos autos, resulta, além do mais, o seguinte:

- a ora Recorrente tem uma participação de 9% no consórcio que explora o Bloco em

causa, que é ainda constituído pelas sociedades Chevron, Sonangol, ENI e Total (v. n."s

6 e 7 dos factos provados e os referidos depoimentos);

- existem acordos de confidencialidade entre os elementos do consórcio (v. Doc. a fls.

216, cls. 17." e os referidos depoimentos);

- a informação em causa C tratada como confidencial até que exista acordo no consórcio

para a comunicar (v. os referidos depoimentos);

- estava acordada a divulgação da informação em causa no dia 10 de Agosto de 2007 (v.

os referidos depoimentos) - cfr. texto das presentes alegações n."s 44 a 49;

XXVII. Nesta conformidade, maxime face ao princípio da confiança, a ora Recorrente

poderia legitimamente esperar que a informação em causa só seria divulgada no dia 10

de Agosto de 2007, como acordado (v. Ac. Relação de Évora, de 06.12.2005, Proc.

1247105-1, disponível em www.dgsi.pt) - cfr. texto das presentes alegações n."s 44 a

49;

Page 20: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

XXVIII. Acontece que, inesperadamente, um dos elementos do consórcio (a Chevron)

divulgou, por lapso, a informação em causa no dia 9 de Agosto de 2007 (v. fls. 147 dos

autos) - cfr. texto das presentes alegações n."s 44 a 49;

XXIX. Com efeito, às 15h28m, de 9 de Agosto de 2007, um funcionário da ora

Recorrente foi informado por e-mail de um funcionário de uma das Sociedades do

consórcio (a Chevron), de que a ora Recorrente faz parte, que esta tinha divulgado, por

lapso, nesse dia, a descoberta de petróleo no poço Malange - 1, do Bloco 14, em Angola

(v. fls. 147 dos autos) - cfi. texto das presentes alegações n.Os 44 a 49;

XXX. Imediatamente, os funcionários da Recorrente diligenciaram no sentido de

confirmar essa informação e, urna vez confirmada, iniciaram os procedimentos de

divulgação, junto do respectivo Conselho de Administração, tanto mais que se trata de

situação que carece da necessária ponderação, pois o consórcio é regulado por contratos

com cláusulas de confidencialidade, estava acordado que a divulgação seria efectuada no

dia 10 de Agosto de 2007, e urna divulgação antecipada poderia provocar a outros

membros do consórcio os mesmos problemas aqui colocados à ora Recorrente - cfr.

texto das presentes alegações n.Os 44 a 49;

=I. Às 17h38m, de 9 de Agosto de 2007 (ou seja, cerca de duas horas depois do e-

mail referido em XXIX), a ora Recorrente divulgou a descoberta em causa no Serviço de

Difusão de Informações (SDI) da CMVM - cfr. texto das presentes alegações n.Os 44 a

49;

XXXII. Note-se que estava em causa informação restrita e confidencial, pelo que a sua

divulgação pública não podia deixar de ser prévia e devidamente analisada e ponderada,

sob pena de a ora Recorrente poder incorrer em graves responsabilidades - cfi. texto das

presentes alegaçBes n.Os 44 a 49;

Page 21: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

XXXIII. Ao referirmos esta necessidade de ponderação prévia, não estamos a afirmar

que prevalecem as regras existentes entre os membros do consórcio, o que acontece é que

se estava perante uma situação de diferimento da informação, pelo que qualquer

divulgação antecipada iria prejudicar não só a ora Recorrente, mas também terceiros,

violando-se, aliás, com essa divulgação antecipada, as próprias regras do CdVM,

relativos ao diferimento da informação, pois bastava que outro elemento do consórcio

fosse uma sociedade cotada - cfi. texto das presentes alegações n."s 44 a 49;

XXXIV. Quanto ao referido lapso de tempo decorrido, refira-se ainda que, embora a ora

Recorrente esteja incumbida da tarefa de adoptar os mecanismos necessários a

divulgação da informação, tal não obriga - aliás proíbe - que tenha uma equipa

alargada de pessoas com acesso a informação privilegiada e em condições de proceder a

sua divulgação - cfi. texto das presentes alegações n.Os 44 a 49;

XXXV. Além disso, a lei não obriga a ter alguém em permanência, 24 horas por dia, 7

dias por semana, sem pausa para almoço, jantar ou qualquer outra, ou sem qualquer

tarefa, reunião ou agendamento, que esteja permanentemente atento ao mercado e, em

especial às Agências de Comunicação de todo e qualquer país do mundo, em particular

aquelas que estão orientadas para informar os media e não o público em geral, tanto mais

que a ora Recorrente não é uma sociedade financeira - cfi. texto das presentes

alegações n."s 44 a 49;

XXXVI. Nesta conformidade, atentas as circunstâncias do caso concreto - maxime face

a situação inesperada, devida ao lapso da Chevron, e ao facto de o mercado fechar cerca

de uma hora depois de a ora Recorrente ter tido conhecimento desse lapso de outro

elemento do consórcio - cfr. texto das presentes alegações n."s 44 a 49;

Page 22: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

XXXVII. Não se verificou qualquer conduta negligente da ora Recorrente, pelo que

nunca lhe poderia ser aplicada a coima em causa, tendo a douta Sentença recorrida

violado o disposto no art. 8" do RGCOC e o art. 402."/1 do CdVM - cfi. texto das

presentes alegações n."s 44 a 49;

XXXVIII.0 art. 248." do CdVM, na interpretação que seria aplicável a situações de

diferimento da divulgação da informação (implicitamente adoptada na douta Sentença

Recorrida), é inconstitucional, por violação do n." 1 do art. 29." da C W , pois estar-se-ia

a incluir na previsão daquele preceito o que nele não está previsto - cfi. texto das

presentes alegações n.' 50;

XXXIX. O n." 1 do art. 248" do CdMV, na interpretação adoptada pela decisão

recorrida, baseia-se em conceitos conclusivos e inconclusivos, pelo que, também por essa

razão, é inconstitucional por violação do n." 1 do art. 29." da C W , devendo a sua

aplicação ser recusada in casu (v. 204" da CRP) - cfi. texto das presentes alegações n."s

51 e 52;

XL. Mesmo que se entendesse que teria sido praticada alguma contra-ordenação - o

que não se admite minimamente -, face as circunstâncias do caso concreto

(nomeadamente, a quebra de confidencialidade não é imputável a ora Recorrente e esta

divulgou voluntariamente a informação no SDI da CMVM, assim que teve conhecimento

daquela ocorrência, a inexistência de benefício económico ou antecedentes contra-

ordenações), deveria ter sido efectuada, no máximo, uma advertência ou admoestação ou,

quanto muito, aplicada uma coima pelo mínimo leqal e suspensa a execução da sanção

(V. arts. 413' e segs. do CdVM; cfr. art. 415." do CdVM e Ac. Acórdão da Rel. de

Lisboa, 5 .a Secção, de 08.06.20 10, Proc. 7799106 TFLSB.Ll) - cfi. texto das presentes

alegações n."s 53 a 57;

Page 23: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

Termos em que deve o presente recurso ser considerado procedente, declarando-se a

nulidade da douta sentença recorrida ou revogando-se a mesma com as legais

consequências.

O MP e a CMVM responderam a motivaçáo da recorrente, o primeiro sem

formular conclusões, mas pugnando pela improcedência do recurso em todos os seus

fundamentos, e a segunda formulando as seguintes conclusões:

1. A CMVM considera que a GALP não tem razão no recurso que apresentou e a que

agora se responde. Nem quando imputa à decisão recorrida, na parte relativa a apreciação

da matdria de facto, um conjunto de vícios formais de que decorreria a sua nulidade, nem

quando suscita um conjunto de supostos "erros de direito" de que resultaria, no limite, a

impossibilidade da sua condenaçáo.

2. Quanto a alegada nulidade da sentença por falta de fundamentação da decisão

sobre a matéria de facto considera a CMVM que mesmo olhada à luz de critérios

exigentes, como os da jurisprudência citada pela Recorrente no seu recurso e com os

quais genericamente se concorda, a decisão recorrida fundamenta suficientemente a sua

decisão acerca da matéria de facto, não se justificando sancioná-la com a chancela da

nulidade como a Recorrente pretende.

3. Desde logo porque náo é verdade, ao invés do que a GALP alega, que a sentença

recorrida se limite "a efectuar, em sede de 'fundamentação da decisão da matéria de

facto', um resumo do que terá sido dito pelas testemunhas e a indicar os documentos

constantes do processo".

Page 24: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

4. Em primeiro lugar porque a sentença recorrida refere, individualmente e para cada

um dos factos provados, as concretas fls. dos autos onde se encontram os elementos

probatórios (normalmente documentos) de que decorre a prova do facto em causa.

5. A isto acresce, ainda, que a decisão recorrida não se limita a, aquando do elenco

dos factos provados, indicar. especificadamente e por referência às concretas fls. dos

autos, os elementos de prova que serviram de suporte a cada facto que considerou

provado, Adicionalmente, o Tribunal faz uma descrição bastante completa do que foi

dito por cada uma das testemunhas que intervieram na audiência de julgamento,

acabando com um juizo crítico sobre a credibilidade e a importância relativa que atribuiu

a cada um desses testemunhos.

6. Acresce, ainda, que estando a maioria dos factos assente em prova documental,

prova documental que foi explicitamente indicada pela sentença por referência a cada

facto que foi considerado provado, tal possibilita a comprovação, pelo arguido e pelas

instâncias de recurso, de que a decisão acerca da matéria de facto se encontra

fundamentada. Com efeito, o que o artigo 374O, no 2, do CPP, impõe, neste caso, é que,

relativamente a cada facto considerado provado, se indiquem os documentos, com

referência às respectivas fls. dos autos de onde constam, que serviram de prova a esse

facto, e não, como a GALP parece entender, sob pena de nulidade da sentença, um

aturado trabalho de interpretação de todos e de cada um desses documentos.

7. Em suma: não é verdade que o modo de proceder da decisão recorrida impeça ou

dificulte de forma inaceitável - a arguida ou as instâncias de recurso - de, em geral,

reconstituir o pensamento do tribunal para concluir no sentido de que estavam provados

os factos elencados a fls. 51 a 55 da decisão recorrida, raziio por que, considera a

CMVM, deve improceder a nulidade que vem alegada.

Page 25: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

8. Os poucos exemplos apontados pela GALP para procurar ilustrar os vícios que,

nesta parte, aponta à sentença, ou (i) não são verdadeiros ou (ii) não demonstram o que

pretende, revelando apenas pequenos lapsos de referência probatória absolutamente

irrelevantes no quadro da fundamentação da decisão recorrida elou do juizo condenatório

a que nela se chegou.

9. A GALP também não tem razão quando pretende que a sentença seja nula por na

mesma "não se indicar porque é que não se consideraram relevantes diversos factos

invocados pela recorrente, os quais não constam nos factos considerados provados na

sentença, nem nos factos considerados não provados". Com efeito, o que o artigo 374",

no 2, impõe, sob pena de nulidade da sentença, é que a decisão recorrida indique, de entre

os factos relevantes para a decisão, os que considerou provados e não provados, e uma

exposição dos motivos pelos quais os considerou como tal (e foi isso que o Tribunal a

quo fez - cf., o início de fls. 55 da decisão recorrida). Já não exige, porém, como parece

entender a Recorrente, que, em relação a todos e cada um dos factos que foram alegados

pela defesa ou referidos pelas testemunhas em julgamento, no caso de os considerar

irrelevantes para a decisão a proferir, explicite individualmente a razão desse juizo de

irrelevância.

10. Também não se verifica nenhum dos alegados erros notórios na apreciação da

prova.

11. Nesta parte, aliás, o que a recorrente verdadeiramente pretende é que a Relação

confronte cada um dos factos dados como provados com a documentação constante dos

autos, por forma a poder concluir se a documentação de suporte indicada constitui prova

suficiente desses factos. Mas, sendo assim, isso já ultrapassa os fundamentos do recurso

previstos no artigo 410°, no 2, do CPP, na medida em que, nos termos desta norma, o

Page 26: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

erro notório na apreciação da prova tem que resultar "do texto da decisão recorrida, por si

só ou conjugada com as regras da experiência comum", e não simplesmente do alegado

confronto (que nem sequer se verifica) entre o facto que é dado como provado e a

documentação de suporte constante dos autos.

12. Considera a CMVM, por isso, que não deve o Tribunal, sequer, conhecer desta

questão, por a mesma extravasar os seus poderes de cognição tal como estão definidos no

artigo 410°, no 2, do CPP.

13. Mas mesmo que assim não fosse. sempre seria de concluir que não se verifica

nenhum erro notório na apreciação da prova que deva conduzir à nulidade da decisão

recorrida.

14. Também não é verdade, como alega a Recorrente, que os factos constantes dos nos

13,20,21 e 22 do elenco dos factos provados não sejam factos mas "juízos de valor ou

afirmações conclusivas".

15. O único reparo que, nesta parte, poderá merecer a decisão recorrida é o de levar ao

elenco dos factos provados o que consta do no 23, especificamente na parte em que ai se

refere a violação de "um dever de cuidado a que estava obrigada e de que era capaz", que

pode ser considerado um juízo conclusivo (extraído, designadamente, dos factos dados

como provados nos nos 20 a 22) e não um facto em si mesmo - juízo que, todavia, mais

tarde, designadarnente a fls. 80 a 84 da decisão recorrida, a sentença retoma precisamente

para fundamentar a sua conclusão de que a conduta da GALP foi negligente. Daí não

decorre, contudo, como parece pretender a arguida, a nulidade da decisão recorrida

16. E também não se verifica, no caso dos autos, o suposto vicio da insuficiência da

matéria de facto a que se refere a alínea a) do no 2 do 410" do CPP. Este vicio consiste na

Page 27: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

circunstância de os factos provados não serem suficientes para sustentarem a decisão que

foi proferida e não, como pretende a Recorrente, na simples circunstância de a sentença

não ter dado como provados, por os considerar irrelevantes para a decisão a proferir,

vários outros factos que a arguida entende que deviam ter sido dados como tal. Este

último caso, manifestamente, já não tem cabimento entre os vícios da sentença de que

pode recorrer-se ao abrigo daquela alínea a), do no 2, do 410" do CPP.

17. Em boa verdade, nesta parte, sob as vestes de uma alegada insuficiência da matéria

de facto, o que verdadeiramente existe é uma divergência da Recorrente quanto ao juizo

da decisão recorrida acerca dos factos que foram dados como provados/não provados,

sendo que, nesse caso. não está aberta a via de recurso para o Tribunal da Relação nos

termos daquele preceito.

18. Em qualquer caso, nem sequer é verdade que a sentença recorrida tenha

desconsiderado em absoluto nos factos provados os factos que a GALP refere no no 26

da motivação.

19. Quanto aos alegados erros de direito não é, desde logo, verdade que o

comportamento pelo qual a Recorrente foi condenada não esteja tipificado no artigo

248", no 1, do CdVM.

20. A conclusão contrária a que chega a GALP só revela que a Recorrente não

entendeu (ou não quer entender) o modo como se relacionam os artigos 248" e 248"-A

do CdVM.

21. O artigo 248", no 1, estabelece um dever de divulgação imediata da informação

privilegiada que seja relevante. O artigo 248"-A, no 1, por sua vez, limita-se enunciar um

conjunto de pressupostos da faculdade de diferimento desse dever, prevendo uma espécie

Page 28: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

de condição suspensiva da obrigatoriedade de cumprimento do dever de divulgação

imediata que decorre do artigo 248".

22. Porém, quando deixar de se verificar um dos pressupostos desse diferimento, cessa

automaticamente a suspensão da obrigação de divulgar a informação, a qual,

consequentemente, deve ser imediatamente divulgada nos termos do artigo 248", no 1, do

CdVM.

23. A tese da recorrente seria, aliás, absolutamente insustentável do ponto de vista dos

valores que o artigo 248" visa salvaguardar, por autorizar a perpetuação de uma situação

de assimetria informativa intolerável do ponto de vista dos interesses do mercado e dos

investidores.

24. Entender o contrário - i.e.. entender. como aparentemente pretende a GALP, que

nestes casos o emitente estava pura e simplesmente dispensado do dever de divulgar

imediatamente a informação privilegiada - teria como consequência inevitável potenciar

a proliferação de situações de intolerável assimetria informativa e aumentar

significativamente o risco da prática do crime de insider trading.

25. Ao contrário do que entende a GALP a faculdade de diferimento não isenta ad

aeternum o emitente do dever de divulgar a informação. Trata-se apenas de um

diferimento e não de uma dispensa ou isenção de divulgação da informação.

26. Já quanto a alegada inexistência de culpa da GALP considera a CMVM que se

alguma dúvida pode subsistir, face aos factos efectivamente provados - e não face

àqueles que são alegados pela recorrida e em função dos quais frequentemente raciocina

-, não é a de saber se houve negligência mas a de saber se só houve negligência da sua

parte ou se, ao invés, os factos provados teriam permitido mesmo à decisão recorrida ir

Page 29: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

mais longe e concluir, como se considerou na decisão da CMVM, pela existência de um

comportamento doloso por parte da GALP.

27. Mas que, pelo menos, o não cumprimento do dever de divulgação imediata, através

do SDI da CMVM, da informação que está em causa nos presentes autos, se deve a uma

atitude e a um comportamento claramente contrário aos mais elementares deveres de

cuidado a que a Recorrente está obrigada enquanto emitente de acções admitidas à

negociação em mercado (no principal mercado) regulamentado é inquestionável.

28. Com efeito, como se considerou - e bem - na decisão recorrida, houve negligência

da Recorrente quer (i) ao não ter detectado mais cedo (só o detectou às 15:38) que, a

partir das 13 horas, a informação em causa nos presentes autos tinha deixado de ser

confidencial, quer (ii) quando, após ter recebido, às 15.28m, um e-mail alertando-a

expressamente para esse facto, demorou mais de duas horas a fazer divulgar um

comunicado através do SDI da CMVM.

29. Em suma: diz a Recorrente que fez o que pôde. o que devia, aquilo a que estava

legalmente obrigada. Mas, como se demonstrou, quer na decisão da CMVM quer na

decisão recorrida. nada disto é verdade. Podia. devia. e estava legalmente obrigada a bem

mais. E, acrescenta-se, nem era particularmente difícil ou oneroso tê-lo feito no caso

concreto.

30. Também é manifesta a improcedência do recurso no que se refere à alegada

inconstitucionalidade do artigo 248", no 1, do CdVM.

3 1. Na verdade, nem a subsunção do comportamento da Recorrente ao artigo 248O, no

1, do CdVM implica ou pressupõe qualquer aplicação analógica do mesmo, nem a

utilizaçilo nesse preceito de expressões como as referidas pela GALP contende com as

Page 30: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

exigências constitucionais de certeza decorrentes dos princípios constitucionais da

tipicidade e da legalidade contra-ordenacional.

32. Em suma: é absolutamente improcedente a alegação de que a situação em

apreciação não está prevista no n." 1 do artigo 248'. Está, indiscutivelmente, e quer no

âmbito do pensamento legislativo quer no do teor literal do referido preceito, não sendo

necessária para a subsunção qualquer interpretação extensiva ou aplicação analógica

incompatível com os princípios constitucionais da tipicidade ou da legalidade penal.

33. E também não assiste a GALP qualquer razão - e esta é a segunda questão de

constitucionalidade que coloca - quando alega que a utilização no artigo 248" do

CdVM de conceitos que comportam algum grau de indetenninação - tais como

"divulgam imediatamente", "informação que tenha carácter preciso" e "informação que

seria idbnea para influenciar de maneira sensível o preço" - contende com as exigências

constitucionais de certeza decorrentes dos princípios constitucionais da tipicidade e da

legalidade contra-ordenacional.

34. Como é geralmente reconhecido a utilização de expressões com algurn grau de

indeterminação é inevitável e não contende, sb por si, mesmo no âmbito do Direito

Penal, com o princípio da tipicidade.

35. O que constitui um atentado ao princípio da legalidade são as leis completamente

vagas e vazias, cujo âmbito de aplicaç3o e fim de protecção não é apreensível pelos seus

destinatários.

36. Ora, nada disto acontece com a s expressões que agora estão em causa.

37. Acresce, adicionalmente, que, no caso dos autos, a norma de dever se dirige a

destinatários específicos (emitentes que tenham valores mobiliários admitidos à

Page 31: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

'TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

negociação em mercado regulamentado), que actuam profissionalmente no âmbito dos

mercados de valores mobiliários, pelo que os conceitos que estão em causa e o âmbito de

aplicação e fim de protecção da norma em que se inserem são geralmente bem

conhecidos pelos seus destinatários, por constituírem legislação específica da actividade

a que estes se dedicam.

38. Finalmente quanto a requerida aplicação da admoestação ou redução do valor da

coima elou respectiva suspensão, considera a CMVM que se algum reparo merece, nesta

matéria, a decisão recorrida, é precisamente o contrário do que o que lhe é feito pela

GALP: é o de ter fixado a coima num valor que, face a ilicitude concreta do facto (que a

própria decisão expressamente reconhece ser "elevada" - cf. p. 90 da decisão recorrida),

a culpa da arguida e a sua situação económica, coloca perigosamente em causa as

finalidades de prevenção (geral e especial) que aquela sanção cumpre realizar.

39. Considera a CMVM, em suma, que a existirem razões para alterar, nesta parte, o

teor da decisão recorrida, elas apontam no sentido da reposição da sanção de €50.000,00

a que a GALP fora condenada por esta Comissão e não. como pretende a GALP, em

sentido inverso.

40. Note-se, aliás, que a isso não se opõe, sequer, a proibição geral da reformatio in

pejus que, nos termos do artigo 416O, no 8 do CdVM. "não é aplicável aos processos de

contra-ordenação instaurados e decididos nos termos deste Código (...)"

Termos em que deve ser negado provimento ao recurso a que ora se responde, o que se

requer.

O recurso interposto foi admitido com subida imediata, nos próprios

autos, e efeito suspensivo.

Page 32: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

Pelo Digno Procurador-Geral Adjunto junto desta Relação foi emitido

parecer sobre o mérito do recurso, no sentido da respectiva improcedência.

Tal parecer foi notificado à CMVM e à arguida, a fim de se

pronunciarem, tendo a última exercido o seu direito de resposta de forma a reafirmar as

posições assumidas na motivação do recurso.

Foram colhidos os vistos legais e procedeu-se à conferência.

11. Fundamentação

Nos recursos penais, o ((thema decidendum)) é delimitado pelas

conclusões formuladas pela recorrente, as quais deixámos enunciadas supra.

Tal princfpio é extensivo aos recursos interpostos de sentenças proferidas

sobre impugnações judiciais de decisões administrativas condenatórias, em processos de

contra-ordenação, por força do disposto no no 1 do art. 41' do RGCO, que manda

aplicar a esses procedimentos, subsidiariamente, as regras do processo criminal.

A sindicância da sentença recorrida, expressa pela arguida nas suas

conclusões, versa sobre matérias diversas, suscitando, por uma lado, questões de

natureza formal e outras que se prendem com o bem fundado da decisiio, as quais

podem ser assim enunciadas:

a) Nulidade da sentença por falta de fundamentação da decisão sobre

a matéria de facto;

b) Inconstitucionalidade do art. 374' no 2 do CPP, por violação dos

arts.32' nOl e 205" no 1 da CRP;

c) Nulidade da sentença por falta de fundamentação ou por omissão

de pronúncia, por não ter considerado factos alegados na

motivação do recurso de impugnação judicial;

Page 33: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

d) Insuficiência da matéria de facto provada para a decisão, pelo

mesmo motivo;

e) Erro notório na apreciação da prova ou contradição entre a

fundamentação e decisão, na prova dos factos descritos nos pontos

10, 1 1, 12,21 e 22 da matéria de facto assente;

f ) O conteúdo dos pontos 13 e 20 a 23 é constituído por conclusões

de facto e juízos valorativos;

g) Violação do princípio da legalidade e da tipicidade por ter

condenado a arguida por transgressão do art. 248' no 1 do CVM

quando o preceito aplicável «in casu)) é o art. 248'-A do mesmo

diploma;

h) Nulidade de sentença por omissão da pronúncia por não ter

considerado a aplicação do art. 248'-A do CVM;

i) Não preenchimento pela conduta da arguida da tipicidade do no 1

do art. 248' CVM;

j) Não censurabilidade de tal conduta à arguida a título de

negligência;

k) Inconstitucionalidade do no 1 do art. 248 do CVM caso se entenda

que a conduta é punível, por violação do disposto no no 1 do art.

29' da CRP.

Subsidiariamente, a recorrente pede a redução do montante da coima

para o mínimo legal e a suspensão da execução da sanção ou a aplicação de uma mera

admoestação ou advertência.

Page 34: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

Antes de mais, importa recordar as disposições legais que regem as

nulidades da sentença e os vícios da decisão invocados pela recorrente.

Afigura-se-nos pacífico que, tanto o art. 379O, como o no 2 do art. 410' do

CPP serão aplicáveis as sentenças proferidas em sede de recurso de impugnação judicial

de decisões administrativas sancionatórias, em processo de contra-ordenação,

Dispõe o no 1 do art. 379' do CPP:

1 - È nula a sentença:

a) Que não contiver as menções repidas no no 2 na alínea b) do no 3 do

artigo 3 74";

' b) Que condene por factos diversos dos descritos na acusação ou na

pronúncia, se a houver, fora dos casos e das condições previstos nos artigos 358" e

359";

c )Quando o tribunal deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse

apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar conhecimento.

O no 2 do mesmo artigo estatui:

As nulidades da sentença devem ser arguidas ou conhecidas em recurso,

sendo lícito o tribunal supri-las, aplicando-se com as necessárias adaptações, o

disposto no no 4 do artigo 41 4".

O art. 374" do CPP dispõe sobre os requisitos da sentença e o seu no 2 é

do seguinte teor:

Ao relatório segue-se a fundamentação, que consta da enumeração dos

factos provados e não provados, bem como de uma exposição tanto quanto possível

completa, ainda que concisa, dos motivos de ficto e de direito, que fundamentam a

Page 35: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

decisão, com indicação e exame crítico das provas que serviram para formar a

convicção do tribunal.

A al. b) do no 3 do mesmo artigo reza:

A decisão condenatória ou absolutória

O teor do no 2 do art. 410' do CPP o seguinte:

Mesmo nos casos em que a lei restringir a cognição do tribunal de

recurso a matéria de direito, o recurso pode ter como fundamentos, desde que o vício

resulte do texto da decisão recorrida, por si ou conjugada com as regras da experiência

comum:

a) A insuficiência para a decisão da matéria de facto provada;

b) A contradição insanável da fundamentação ou entre a

findamentação e a decisão;

c) Erro notório na apreciação da prova.

O vício previsto na al. a) do normativo legal transcrito ocorre quando a

matéria de facto assente apresente lacunas que obstam a uma justa decisão da causa,

sem que o Tribunal tenha esgotado os poderes-deveres que lhe incumbem, nos termos

da lei de processo, em ordem à averiguação dessa factualidade.

Verifica-se a contradição insanável da fundamentação quando esta

contenha asserções inconciliáveis entre si, como, por exemplo, no caso em que a

sentença dê como provados factos logicamente incompatíveis ou em que julgue o

mesmo facto simultaneamente provado e não provado.

A contradição insanável entre a fundamentação e a decisão tem lugar

quando uma e outra estejam em oposição lógica, como sucederia se uma sentença,

Page 36: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

depois de julgar não provados os factos alegados na acusação, ainda assim condenasse o

arguido pela prática do crime por que vinha acusado.

Por fim, erro notório na apreciação da prova é aquele que não passa

despercebido aos olhos de uma pessoa comum (isto C não dotada de conhecimentos

específicos) e tem lugar quando, em face do texto da decisão, das regras da experiência

comum e da lógica corrente, seja manifesto que a conclusão probatória a extrair deveria

ter sido outra que não aquela que o julgador retirou.

Qualquer dos vícios a que se refere a disposição legal em causa terá de

resultar do texto da própria decisão, por si só ou conjugado com as regras da experiência

comum, não podendo tomar-se em consideração, para o efeito de ajuizar da sua

verificação, elementos exteriores como o processado dos autos ou meios de prova

pessoal que tenham sido gravados e cujo conteúdo não se encontre de alguma forma

reproduzido no texto da sentença.

O Acórdão do Plenário das Secções Criminais do STJ de 19110195 (DR,

I-A SCrie de 28/12/95) veio fixar jurisprudência no sentido de os vícios tipificados no

normativo legal a que nos reportamos serem do conhecimento oficioso do Tribunal «ad

quem)), mesmo quando o recurso esteja limitado i matCria de direito.

Passemos, então, a conhecer das questões suscitadas pela recorrente, pela

ordem de prioridade lógica da sua apreciação, começando pelas nulidades da sentença.

Entre as várias nulidades arguidas pela recorrente conheceremos,

primeiro, da que se prende com a falta de fundamentação da decisão sobre a matéria de

facto.

Para fundamentação do juízo probatório, expende-se na sentença

impugnada:

Page 37: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

O TRIBUNAL BASEOU-SE, PARA DAR COMO PROVADOS

OS FACTOS ACIMA REFERIDOS, SOB OS NÚMEROS 1 A 23 (INCLUSIVE), EM

TODA A PROVA PRODUZIDA, A SABER E, DESDE LOGO, NOS

DEPOIMENTOS DAS TESTEMUNHAS:

1- ANA MARGARIDA ROLO PINTO DA ROCHA ANTUNES QUE, A DATA

DOS FACTOS, TRABALHAVA NO DEPARTAMENTO DE MERCADO, DA

CMVM, QUE ACOMPANHAVA A GALP, EM TEMPO REAL MAS NÃO NA

ÓPTICA DO MERCADO; NÃO TEVE INTERVENÇÃO NO PROCESSO;

ACTUALMENTE, CONTINüA A TRABALHAR NA CMVM E É ECONOMISTA.

ESCLARECEU QUE A ENTIDADE SUPERVISORA DETECTOU UM

ATRASO NO FORNECIMENTO DA INFORMAÇÃO, EM CAUSA NOS

PRESENTES AUTOS, ATRASO DE QUE A TESTEMUNHA TEVE

CONHECIMENTO EM MOMENTO POSTERIOR.

NA VERDADE, A INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA TEM QUE SER FEITA,

EM PRIMEIRO LUGAR, NO SDI (RESULTA DA LEI) E FOI A PRÓPRIA GALP

QUE QUANDO A DIVULGOU - DIVULGAÇÃO ATRASADA EFECTUADA

APENAS APÓS O FECHO DO MERCADO (APÓS AS 17 HORAS) - A

CLASSIFICOU COMO INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, TENDO-A DIVULGADO

NO LOCAL DO SITE ONDE SE COLOCA A INFORMAÇÃO QUE SE

CONSIDERA PRIVILIGIADA (EXISTE UMA PASTA PRÓPRIA PARA O EFEITO,

NO REFERIDO SITE).

CONCRETIZANDO O SEU RAC~OCINIO, EXPLICOU QUE QUEM

ESCOLHE A PASTA É A SOCIEDADE EMITENTE E QUE SE A ARGUIDA

ESCOLHEU A PASTA DAS INFoRMAÇÕEs PRIVILIGIADAS FOI,

Page 38: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

CERTAMENTE, PORQUE CONSIDEROU QUE SE TRATAVA DE INFORMAÇÃO

PRIVILIGIADA.

CONFIRMOU QUE A LEGISLAÇÃO, NESTA MATÉRIA, ESTA

HARMONIZADA NA UNIAO EUROPEIA, DESCONHECENDO QUAL A

LEGISLAÇÃO QUE VIGORA EM ANGOLA.

CONSIDERA QUE A DESCOBERTA DO POÇO POTENCIA O PREÇO DAS

ACÇÕES DA GALP E QUE, NÃO A TESTEMUNHA, MAS A CMVM VERIFICOU

QUE NO FINAL DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007 HOUVE MUITA COMPRA E

VENDA E QUE O VALOR DAS ACÇÕES DA GALP SUBIU, EXACTAMENTE

PORQUE SE SOUBE, NESSE DIA, DA REFERIDA DESCOBERTA.

TENDO SIDO CONFRONTADA COM FLS. 7, 45 E 46, DOS AUTOS, A

TESTEMUNHA ESCLARECEU QUANTO A FLS. 7 QUE SE TRADUZ NA

INFORMAÇÃO EM CAUSA, NOS PRESENTES AUTOS, A EXISTÊNCIA DE UM

LAPSO - A PUBLICAÇÃO OCORREU NO DIA 9 DE AGOSTO E NÃO NO DIA 10

DE AGOSTO; A FLS. 46, O SITE DA GALP, CONSTA TODA A INFORMAÇÃO

DIVULGADA PELA GALP, A PRIVILIGIADA E A DEMAIS.

ESCLARECEU, AINDA, QUE A GALP SÓ FAZ INFORMAÇÃO

PRIVILIGIADA DESDE QUE TEM ACÇÕES COTADAS, OU SEJA, NESTE CASO,

A PARTIR DE 2006.

NA VERDADE, ANTES DE 2006 A GALP NÃO ERA COTADA PELO QUE,

ANTES DESSA DATA, A ARGUIDA NAO DIVULGAVA ESTE TIPO DE

INFORMAÇÃO NO SDI.

Page 39: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

ESCLARECEU, IGUALMENTE, QUE O BLOCO 14 É UMA DAS MATÉRIAS

DA ARGUIDA É FÁCIL TIRAR ESSA CONCLUSÃO.

POR OUTRO LADO, ACRESCENTOU, SER PRÁTICA DA ARGUIDA

DIVULGAR COMO JNFORMAÇÃO PRIVILIGIADA A DESCOBERTA DE

PETRÓLEO POR PARTE DE CONSÓRCIOS DE QUE FAÇA PARTE.

8, ALIÁS, PRÁTICA IGUAL POR PARTE DA MAIOR PARTE DAS

EMPRESAS, NOMEADAMENTE, FORA DE PORTUGAL.

MAIS, A SIMPLES INFORMAÇÃO DE QUE HÁ UM POÇO DE PETRÓLEO

DESCOBERTO JÁ É INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, UMA VEZ QUE JÁ É

SUSCEPTÍVEL DE FAZER VARIAR A COTAÇÃO DAS ACÇÕES.

A DESCOBERTA NÃO PASSA DE EXPECTATIVA DE RECEITA, NESTA

ALTURA AINDA NÃO FORAM EFECTUADOS OS ESTUDOS DE VIABILIDADE

ECON~MICA.

ENTRETANTO, SE DEPOIS DE EFECTUADOS TAIS ESTUDOS SE

CONCLUIR PELA FALTA DE VIABILIDADE, TAL CONCLUSÃO É, TAMBÉM,

INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA.

O OBJECTIVO TRADUZ-SE EM QUE TODOS TENHAM A INFORMAÇAO,

PRETENDE-SE QUE NÃO HAJA NINGUÉM QUE NÃO TENHA UMA

INFORMAÇÃO QUE OUTROS TÊM; NÃO SE PRETENDE QUE AS PESSOAS

TENHAM INFORMAÇÕES DIFERENTES.

É, PORTANTO, OBJECTIVO QUE O MERCADO SEJA TRANSPARENTE,

NOS VALORES MOBILIÁRIOS, TENDO TODOS AO MESMO TEMPO A MESMA

INFORMAÇÃO.

Page 40: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

TAMBÉM ESCLARECEU QUE O HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DO

MERCADO, ONDE ESTÃO COTADAS AS ACÇÕES DA GALP, É DAS OITO

HORAS ÁS 16 HORAS E 40 MINUTOS, FUNCIONANDO

ININTERRUPTAMENTE.

QUANTO A TAL ESCLARECEU, AINDA, QUE É MAIS GRAVE O ATRASO

NA DIVULGAÇÃO DA INFORMAÇÃO QUANDO O MERCADO ESTÁ EM

FUNCIONAMENTO DO QUE QUANDO ESTÁ ENCERRADO.

CONTRARIOU, ASSIM, A POSIÇÃO ASSUMIDA PELA ARGUIDA DE QUE

A DIFERENÇA ENTRE O MOMENTO EM QUE TEVE CONHECIMENTO QUE A

INFORMAÇÃO TINHA PERDIDO O CARÁCTER DE CONFIDENCIALIDADE E O

MOMENTO EM QUE A GALP DIVULGOU A INFORMAÇÃO, EM CAUSA -

CERCA DE DUAS HORAS - É IRRELEVANTE, POR SEREM SÓ DUAS HORAS,

ESCLARECENDO QUE, PELO C O N T ~ O , É RELEVANTE, UMA VEZ QUE A

SESSÃO ESTAVA A FUNCIONAR E QUE SE O CONHECIMENTO FOSSE ÁS 17

HORAS E A DIVULGAÇÃO ÁS 7 HORAS SERIA MENOS GRAVE POR O

MERCADO, NESSE INTERVALO DE TEMPO, ESTAR ENCERRADO.

INFORMOU QUE TEVE CONHECIMENTO DOS FACTOS, QUANTO Á

DIVULGAÇÃO NA REUTERS, EM REUNIÕES ONDE O ASSUNTO FOI

COMENTADO.

EXPLICOU QUE O CONSÓRCIO, EM CAUSA, TEM OUTROS MEMBROS

PARA ALÉM DA GALP, E QUE A PERCENTAGEM DESTA É DE CERCA DE

10% (NÃo DEU A CERTEZA QUANTO A PERCENTAGEM).

FOI, DE NOVO, CONFRONTADA DESTA VEZ COM FLS. 197 E 200, DOS

AUTOS, DONDE RESULTA QUE OUTRAS EMPRESAS DO CONSÓRCIO

Page 41: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

DIVULGARAM A INFORMAÇÃO DEPOIS DA GALP (A TOTAL NO DIA 10 E A

ENI NO DIA 9), TENDO A TESTEMUNHA INSISTIDO QUE O OBJECTIVO DE A

INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA SER IMEDIATAMENTE DIVULGADA SE

TRADUZ EM SER ALGO QUE É SUSCEPTÍVEL DE INFLUENCIAR A

COTAÇÃO DEVENDO, ASSIM, SER IMEDIATAMENTE, COMUNICADA A

TODO O MERCADO - PORTUGAL E NÃO so - PARA QUE TODOS TENHAM

ACESSO, AO MESMO TEMPO, Á INFORMAÇÃO EM CAUSA.

QUESTIONADA SOBRE OS RESULTADOS SEMESTRAIS QUE FORAM

APRESENTADOS PELA GALP, NO DIA ANTERIOR AO DA DIVLTLGAÇÃO DA

INFOMAÇÃO EM CAUSA, NOS PRESENTES AUTOS, NÃO CONSEGUIU

RESPONDER POR NÃO SE LEMBRAR.

QUESTIONADA SOBRE SE TIVESSE OCORRIDO FUGA DE

INFORMAÇÃO, SE O ATRASO DE DUAS HORAS NA DIVULGAÇÃO, POR

PARTE DA ARGUIDA, NÃO SERIA NORMAL, INSISTIU QUE A INFORMAÇÃO

DIVULGADA POR UM DOS ELEMENTOS DO CONSORCIO NÃO PODE

DEIXAR DE SER DIVULGADA PELOS DEMAIS ELEMENTOS DO CONSÓRCIO,

DESCONHECENDO SE A ARGUIDA DIVULGOU A INFORMAÇÃO, EM CAUSA,

VOLUNTARIAMENTE OU SE HOUVE ALGUMA INSTRUÇÃO NESSE

SENTIDO. ACRESCENTOU QUE A GALP NÃO MENOSPREZA A CMVM, QUE

TEM A PREOCUPAÇÃO DE DIVULGAR.

CONFRONTADA, AINDA, COM FLS. 7, 32 E 59, DOS AUTOS,

CONSTATOU INFoRMAÇÕEs QUE FORAM DIVULGADAS PELA ARGUIDA

COMO INFORMAÇÕES PRIVILIGIADAS, TERMINANDO DIZENDO QUE A

Page 42: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE I-ISBOA

INFORMAÇÃO, DOS AUTOS, TAMBÉM FOI DIVULGADA PELA GALP COMO

INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, MAS ATRASADA.

SOBRE O REFERIDO ATRASO, ESCLARECEU CONSIDERAR QUE

TENDO O POÇO, EM CAUSA, SIDO DESCOBERTO EM MARÇO DE 2007 QUE

ATÉ AGOSTO DE 2007 A ARGUIDA TINHA TIDO TEMPO MAIS DO QUE

SUFICIENTE PARA TER UM COMIUNICADO PRONTO PARA DIVULGAR.

FINALMENTE, DISSE QUE EM 9 DE AGOSTO DE 2007 A HORA DO

FECHO DA COTAÇÃO ERA ENTRE AS 16 HORAS E 35 OU 40 MINUTOS (NÃO

TINHA A CERTEZA) SENDO, ACTUALMENTE E PARA A TESTEMUNHA, O

PERÍODO MAIS SENSÍVEL DAS OITO HORAS AS 16 HORAS E 40 MINUTOS.

ASSIM, A INFORMAÇÃO DIVULGADA PELA GALP, AGORA EM

DISCUSSÃO, SENDO DIVULGADA AS 16 HORAS E 40 MINUTOS IRIA

INFLUENCIAR A NEGOCIAÇÃO NO DIA SEGUINTE;

2- RICARDO JOSE EMÍDIO GAIRIFO QUE fi TÉCNICO DA CMVM DESDE

2006 ATÉ HOJE E QUE, A DATA DOS FACTOS EM JULGAMENTO,

TRABALHAVA (DESDE 2006) NA SUPERVISÃO DO MERCADO, NO

DEPARTAMENTO DE SUPERVISÃO DE MERCADOS EMITENTES E QUE,

NESSAS FUNÇÕES, PROCEDEU A DETECÇÃO E ANÁLISE DA SITUAÇÃO

DOS AUTOS TENDO, ASSIM, TIDO INTERVENÇÃO NO PROCESSO

ADMINISTRATIVO QUE ORIGINOU OS PRESENTES AUTOS; É ECONOMISTA.

UMA VEZ QUE ACOMPANHAVA A INFORMAÇÃO E A NEGOCIAÇÃO,

TAMBÉM NA COMUNICAÇÃO SOCIAL, NESSA QUALIDADE, DETECTOU

UMA SUBIDA DA NEGOCIAÇÃO NA TARDE DO DIA NOVE DE AGOSTO DE

Page 43: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

2007 TENDO HAVIDO, A PARTIR DAS 14 HORAS, UMA ~NVERSÃO NA

TRAJECTÓRIA DA GALP.

EXPLICOU QUE NO DIA IMEDIATAMENTE ANTERIOR - 8 DE AGOSTO

DE 2007 - A ARGUIDA TINHA APRESENTADO O RELATÓRIo SEMESTRAL E

QUE OS RESPECTIVOS RESULTADOS ERAM POSITIVOS.

NO DIA 9 DE AGOSTO ESTAVA TUDO EM QUEDA, E A GALP ABRIU A

SUBIR (EVENTUALMENTE POR CAUSA DO REFERIDO RELATÓRIo

APRESENTADO NO DIA ANTERIOR) E DEPOIS COMEÇOU A DESCER

(QUEDA ACENTUADA) E A PARTIR DAS 14 HORAS COMEÇOU A SUBIR E

MANTEVE-SE A SUBIR ATÉ AO FECHO DA SESSÃO.

FOI UMA ANOMALIA DETECTADA, A PARTIR DAS 14 HORAS O

TITULO DA GALP COMEÇOU A SUBIR E FECHA A SUBIR, TENDO DENTRO

DESSE PER.ÍODO SUBIDO MAIS DE 5% (APESAR DE TER FECHADO A MENOS

DO QUE QUANDO ABRIU) QUANDO TUDO O MAIS ESTAVA A DESCER, O

PS120, ETC. TEM IDEIA QUE A CMVM SE APERCEBEU DA ANOMALIA

CERCA DE UMA HORA ANTES DO FECHO (NÃO SE CONSEGUINDO

RECORDAR DE FORMA COMPLETAMENTE PRECISA).

A JUSTIFICAÇÃO PARA TAL SUBIDA TERÁ SIDO A NOTICIA DA

REUTERS SOBRE A DESCOBERTA DO POÇO DE PETRÓLEO, FOI ESSA A

ASSOCIAÇÃO QUE FEZ, ESCLARECENDO QUE QUEM FEZ A PRIMEIRA

COMUNICAÇÃO FOI A CHEVRON, PELAS 13 HORAS (FLS. 06, DOS AUTOS).

ESCLARECEU QUE NEM TODOS OS INVESTIDORES ASSOCIAM,

IMEDIATAMENTE, A GALP AO BLOCO 14 NÃO SE CONSEGUINDO

Page 44: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

LEMBRAR SE, A DATA DOS FACTOS, O SITE DA GALP REFERIA TAL

BLOCO.

MAIS, ESCLARECEU QUE A ARGUIDA SEMPRE DIVULGOU ESTE TIPO

DE INFORMAÇÃO (EM DISCUSSÃO NOS AUTOS) COMO PRIVILIGIADA, O

QUE ACONTECE COM OUTRAS EMPRESAS, É PRATICA HABITUAL E

INTERNACIONAL.

ALIÁS, A SUBIDA DOS T~TULOS DA GALP ESTÁ, NORMALMENTE,

ASSOCIADA Á DESCOBERTA DE NOVOS POÇOS.

NO CASO DO POÇO 32, EM QUE A ARGUIDA TEM MENOS

PERCENTAGEM, A DIVULGAÇÃO FOI FEITA PELA GALP COMO

INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA.

ACRESCENTOU QUE NA ÚLTIMA HORA DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007,

HOUVE UM GRANDE VOLUME DE NEGÓCIOS - CERCA DE 1 A 2 MILHÕES

DE ACÇÕES TRANSACCIONADAS QUE É MAIS OU MENOS A MÉDIA DIARIA

DURANTE O MÊS DE AGOSTO DESSE ANO.

POR SUA VEZ, OS ANALISTAS CONSIDERAVAM A NOTICIA POSITIVA

(NOMEADAMENTE DO ESPIRITO SANTO, ETC.).

CONFIRMOU QUE A DIVULGAÇÃO FEITA PELA GALP OCORREU

CERCA DAS 17 HORAS E 30 MINUTOS, APÓS O ENCERRAMENTO DA BOLSA,

TENDO SIDO EFECTUADA NA "PASTA" DA INFORMAÇÃO PRIVILIADA,

CONCLUINDO QUE AS EXPECTATIVAS INFUENCIARAM A NEGOCIAÇÃO

DE FORMA IMEDIATA.

MAIS, ACRESCENTOU QUE OS 9% DA GALP NO CONSÓRCIO EM

CAUSA, NOS AUTOS, FORAM AVALIADOS PELO ESPIRITO SANTO EM

Page 45: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

CERCA DE €120 M I L H ~ E S E QUE A UBS (CASA DE INVESTIMENTO COTADA

INTERNACIONALMENTE) SE PRONUNCIOU, NA ALTURA, NO SENTIDO DE

SEREM VENDIDAS AS ACÇÕES DA GALP;

3- CARLOS ALBERTO DA COSTA ALVES QUE TRABALHA PARA A

GALP DESDE JANEIRO DE 2001 SENDO, ACTUALMENTE, DIRECTOR DE

EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DA ARGUIDA E, EM AGOSTO DE 2007, ERA O

RESPONSÁVEL PELA PARTE DE EXPLORAÇÃO DA PRODUÇÃO DA MESMA;

É ENGENHEIRO DE MINAS.

EXPLICOU QUE A ACTIVIDADE RELATIVA Á PESQUISA DE PETRÓLEO

E GAS EXIGE A COMPROVAÇÃO SOBRE SE AS DESCOBERTAS TÊM OU NÃO

VALOR ECONOMICO.

RELATIVAMENTE A DESCOBERTA MALANGE-1 ESCLARECEU QUE A

DESCOBERTA EM CAUSA, NOS PRESENTES AUTOS, FOI A 1 la DESCOBERTA

ANUNCIADA POR TAL BLOCO E QUE TODAS FORAM COMUNICADAS, NÃO

SENDO A ARGUIDA A ÚNICA BENEFICIARIA DE TAIS DESCOBERTAS, UMA

VEZ QUE EXISTE UM CONSÓRCIO, UMA JOIN-VENTURE, SENDO O

OPERADOR DO BLOCO, EM CAUSA, A CHEVRON COM 33%, EXISTINDO

OUITROS PARCEIROS, COMO A TOTAL, ETC., TENDO A GALP A

PERCENTAGEM DE 9%.

AFIRMOU QUE NEM TODAS AS DESCOBERTAS SÃO ECONÓMICAS. NA

VERDADE, NO INICIO É DIFICIL SABER SE O SÃO OU NÃO; POR FORÇA DA

LEI TÊM QUE SE FAZER, MUITAS VEZES, OS AN~NCIOS OU

COMUNICAÇ~ES, ANTES DE SE SABER SE AS DESCOBERTAS, EM CAUSA,

SÃO OU NÃO ECONOMICAMENTE VIÁVEIS, NÃO SE ENCONTRANDO, Á

Page 46: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA K t

DATA DAS COMUNICAÇ~ES, FEITOS OS CALCULOS ECONOMICOS PARA

QUE SE POSSA CONCLUIR DA VIABILIDADEDE ECONÓMICA.

ACTUALMENTE, A DESCOBERTA QUE DEU ORIGEM AOS PRESENTES

AUTOS AINDA NÃO FOI POSTA EM EXECUÇÃO, AINDA NÃO HÁ

PRODUÇÃO.

NA REALIDADE, TRATA-SE DE UM PROCESSO COMPLEXO,

NORMALMENTE É NECESSÁRIO FAZER MAIS DO QUE UM POÇO PARA SE

PODER CONCLUIR DA ECONOMICIDADE DO MESMO.

SÃO FEITOS CONTRATOS VARIOS NA JOIN-VENTURE (O CONTRATO,

NESTE CASO, ENCONTRA-SE JUNTO AOS AUTOS), HÁ ACORDOS DE

CONFIDENCIALIDADE, OS CONTRATOS REFERIDOS TÊM CLAUSULAS

SOBRE A CONFIDENCIALIDADE, TENDO QUE HAVER UM ACORDO PRÉVIO

ANTES DA COMUNICAÇÃO.

CONFRONTADO COM FLS. 147, DOS AUTOS, ESCLARECEU TER SIDO O

MAIL QUE RECEBEU, EXPLICANDO QUE HAVIA ACORDO COM O

OPERADOR PARA PUBLICAR A NOTICIA A 10 DE AGOSTO DE 2007; PORÉM

A CHEVRON COMUNICOU A 9 DE AGOSTO E PEDIU DESCULPA, CONFORME

FLS. 147, DOS AUTOS; ENTRETANTO, A GALP SÓ ESTAVA PREPARADA

PARA COMUNICAR A 10 DE AGOSTO.

INSISTIU QUE TEM QUE HAVER UM ACORDO PARA COMUNICAR NUM

DETERMINADO DIA E QUE, NESSE DIA, TODOS DEVEM COMUNICAR EM

SIMULTÂNEO.

Page 47: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

NO SEU ENTENDIMENTO O ACORDO DO CONS~RCIO, QUANTO AO

COMPROMISSO DE CONFIDENCIALIDADE NÃO PODIA AFASTAR O

CUMPRIMENTO DA LEI DE CADA PAIS.

ESCLARECEU QUE COMLNICOU, IMEDIATAMENTE, O TEOR DE FLS.

147, DOS AUTOS, AOS RESPONSAVEIS DAS COMUNICAÇÕES DA ARGUIDA

PORQUE, UMA VEZ QUE A CHEVRON COMUNICOU ANTES DO ACORDADO,

A GALP TINHA QUE REAGIR PORQUE TODOS DEVIAM COMUNICAR AO

MESMO TEMPO.

MAIS, ACRESCENTOU QUE, NORMALMENTE, SÓ SE ANLNCIA A

DESCOBERTA DE UM POÇO E QUE DEPOIS OS QUE SE ABREM NA MESMA

ZONA JA NÃO TÊM QUE SE COMUNICAR.

AFIRMOU QUE A DESCOBERTA DE UM NOVO POÇO É SEMPRE UM

FACTO RELEVANTE AINDA QUE, DEPOIS, SE POSSA CONCLUIR QUE,

ECONOMICAMENTE, NÃO É RELEVANTE.

CONFRONTADO COM FLS. 7, PARÁGRAFO 4, DOS AUTOS,

ESCLARECEU QUE HAVIA GARANTIAS PARA O SUCESSO DAQUELE POÇO

MAS NÃO, NECESSARIAMENTE, DO PROJECTO, DIZENDO-SE LA QUE

DEVIA SER ABERTO OUTRO POÇO, O QUE AINDA NÃO ACONTECEU.

EXPLICOU, AlNDA, QUE O BLOCO 14 NÃO É SÓ O POÇO MALANGE-1 E

QUANTO A IMPORTÂNCIA DESTE ULTIMO ESCLARECEU QUE FOI

ENCONTRADO PETROLEO NUM HORIZONTE GEOLOGICO QUE NÃO ERA

ONDE SE TINHA ENCONTRADO ATÉ LA, TENDO SIDO ENCONTRADO

OUTRO RESERVATÓRIO COM ÓLEO DE BOA QUALIDADE.

Page 48: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

\

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE I-ISBOA

QUANTO AO BLOCO 32 FORAM FEITAS 12 DESCOBERTAS ATÉ HOJE,

TRATANDO-SE DE POÇOS PEQUENOS, NÃO TÊM RESERVAS SUFICIENTES,

APESAR DE O ÓLEO SER BOM, NÃO JUSTIFICANDO O DESENVOLVIMENTO

A NÃO SER QUE SE ENCONTRE MAIS PETRÓLEO QUE O VENHA A

JUSTIFICAR.

QUANTO AO FACTO DE NO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, PELAS 15

HORAS E 36 MINUTOS, A TESTEMUNHA JÁ TER CONHECIMENTO DA

COMUNICAÇÃO ANTECIPADA E A ARGUIDA SÓ TER FEITO A

COMUNICAÇÃO PELAS 17 HORAS E 34 MINUTOS, APENAS SOUBE

ESCLARECER QUE MAL SOUBE COMUNICOU, IMEDIATAMENTE, AOS

RESPONSÁVEIS PELAS COMUNICAÇÕES, EXPLICANDO QUE TEM QUE

HAVER UMA CONVERSA PRÉVIA, OS PARCEIROS DO CONS~RCIO SÃO

CONSULTADOS, INCLUSIVE, A PRÓPRIA SONANGOL QUE TEM QUE

AUTORIZAR A COMUNICAÇÃO.

UMA VEZ AUTORIZADA, O OPERADOR COMUNICA AOS DEMAIS O

DIA EM QUE DEVEM COMUNICAR.

QUESTIONADO SOBRE A EXISTÊNCIA DE O ACORDO TER SIDO EM

DUAS FASES, A SABER, DIA NOVE COMUNICAVA A SONANGOL E DIA DEZ

COMUNICAVAM OS DEMAIS, RESPONDEU QUE NÃO, QUE O ACORDO ERA

NO SENTIDO DE TODOS COMUNICAREM NO DIA 10 DE AGOSTO.

ACRESCENTOU QUE, HABITUALMENTE, A SONANGOL COMUNICA

DEPOIS DOS DEMAIS (DOIS OU TRÊS DIAS DEPOIS), NÃO SABENDO

EXPLICAR, NO CASO DOS AUTOS, PORQUE É QUE ANTECIPARAM E A

SONAGOL COMUNICOU ANTES.

Page 49: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

CONFRONTADO COM O MAIL DE FLS. 148, DOS AUTOS, EXPLICOU

QUE NAO TEVE CONHECIMENTO DESTE MAIL DE NOVE DE AGOSTO DE

2007, PELAS SEIS HORAS E QUARENTA E UM MINUTOS, COM A

INFORMAÇÃO DE QUE ANGOLA ÍA COMUNICAR ANTES. SÓ TEVE

CONHECIMENTO DO MAIL DE NOVE DE AGOSTO DE 2007, PELAS 15 HORAS

E 28 MINüTOS.

NA GALP NAO TEM CONHECIMENTO DE SITUAÇÕES QUE,

INICIALMENTE, NÃO PARECIAM VIÁVEIS E QUE, DEPOIS, SE TORNARAM

VIÁVEIS.

QUANTO ÁS NOTICIAS DOS JORNAIS QUE REFEREM O EFEITO

POSITIVO DESTE TIPO DE DESCOBERTA, ESCLARECEU QUE, MUITAS

VEZES, ESSA ANÁLISE DOS JORNALISTAS É FALSA OU NAO TEM SENTIDO,

NO CASO, Á PRIMEIRA VISTA ERA RELEVANTE, MAS SÓ DEPOIS É QUE SE

PODE CONCLUIR DE FORMA CERTEIRA.

ACRESCENTOU QUE NÃO TEM CONHECIMENTO QUE A SONANGOL

TIVESSE DIVULGADO NO DIA NOVE E INSISTIU QUE A ARGUIDA APENAS

ACORDOU EM DIVULGAR DIA DEZ E NÃO DIA NOVE.

FINALMENTE, ACRESCENTOU, AINDA, QUE A CHEVRON TEM MAIS

EXPLORAÇÕES EM ANGOLA, NOMEADAMENTE, O BLOCO ZERO E EM

CABINDA, EM QUE A GALP NAO PARTICIPA;

4- TIAGO MARIA RAMIRES PROVIDÊNCIA VILAS BOAS QUE É

TRABALHADOR DA ARGUIDA SENDO RESPONSÁVEL PELA ÁREA QUE

INTERAGE COM O MERCADO (DESDE OUTUBRO DE 2006, ALTURA EM QUE

A GALP PASSOU A SER COTADA NA BOLSA) E COM A COMUINICAÇÃO

Page 50: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

SOCIAL (DESDE MEADOS DE 2007), REPRESENTANDO A EMPRESA

ARGUIDA PARA AS RELAÇÕES COM O MERCADO; É ECONOMISTA.

RELATIVAMENTE AOS COMUNICADOS, TEMA QUE CONSIDERA

RELEVANTE, EXPLICOU QUE A INTERPRETAÇÃO QUE FAZEM DA LEI

DEPENDE DO CASO CONCRETO.

ASSIM, NO CASO DOS AUTOS, DIVULGARAM, Á CAUTELA, SENDO

QUE A LUZ ACTUAL É DIFICIL SABER DA RELEVÂNCIA QUE TERIA.

FOI DECISÃO DA GALP COMUNICAR ESTA SITUAÇÃO, NÃO HOUVE

QUALQUER CONTACTO POR PARTE DA CMVM, SENDO QUE A ARGUIDA

TEM ESTE TIPO DE SITUAÇÕES EM ANGOLA E NO BRASIL.

A COMUNICAÇÃO, EM CAUSA, ESTAVA PREVISTA PARA O DIA DEZ

DE AGOSTO DE 2007.

EXPLICOU QUE NO BRASIL OS COMUNICADOS SÃO FEITOS COM

MAIOR CELERIDADE E QUE EM ANGOLA SÃO FEITOS COM ATRASO EM

RELAÇÃO AOS FACTOS, ESTANDO DEPENDENTE DE AUTORIZAÇÕES DO

MINISTÉRIO COMPETENTE.

VOLTANDO AO CASO, DOS AUTOS, ALGUÉM SE ENGANOU E

ANTECIPOU A REFERIDA COMUNICAÇÃO PREVISTA PARA O DIA DEZ DE

AGOSTO; A ARGUIDA TEVE CONHECIMENTO DA ANTECIPAÇÃO CERCA DE

UMA HORA E TAL ANTES DA HORA EM QUE A PRÓPRIA DIVULGOU

TENDO, CONSEQUENTEMENTE, A GALP LEVADO CERCA DE UMA HORA

(DEPOIS DE TOMAREM CONHECIMENTO DA ANTECIPAÇÃO) A

DILIGENCIAR PARA COMUNICAR.

Page 51: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

ACRESCENTOU QUE NO DIA NOVE DE AGOSTO DE 2007 A ARGUIDA

COMUNICOU OS RESULTADOS DA EMPRESA QUE ERAM POSITIVOS,

MOTIVO POR QUE TIVERAM UM DIA MUITO ATRAPALHADO, COM MUITOS

CONTACTOS POR CAUSA DESSES RESULTADOS.

TEVE CONHECIMENTO DA ANTECIPAÇÃO PELO MAIL QUE LHE FOI

REMETIDO PELA TESTEMUNHA, CARLOS ALBERTO DA COSTA ALVES,

TENDO ENTÃO FEITO AS DILIGÊNCIAS PARA DIVULGAR,

NOMEADAMENTE, CONFIRMAR QUE COMUNICAÇÃO HAVIA SIDO FEITA E,

UMA VEZ CONFIRMADA, OBTER AUTORIZAÇÃO DA HIERARQUIA

ESCLARECENDO. A TESTEMUNHA, QUE NÃO TEM PODERES PARA DECIDIR

FAZER A COMUNICAÇÃO SEM MAIS.

SABE QUE A INFORMAÇÃO E CONFIDENCIAL ATÉ QUE HAJA

ACORDO COM O CONSÓRCIO PARA COMUNICAR.

ESCLARECEU QUE HOUVE COMUNICAÇÕES DA GALP BEM MAIS

IMPORTANTES E RELEVANTES QUE A DOS AUTOS, NOMEADAMENTE,

EXEMPLIFICANDO COM LIMA SITUAÇÃO QUE TERÁ OCORRIDO EM

NOVEMBRO DE 2007 EM QUE AS ACÇÕES SUBIRAM MAIS DE 40%.

NO CASO DOS AUTOS, A COMUNICAÇÃO FOI FEITA DEPOIS DO

MERCADO FECHAR; AS ACÇÕES SUBIRAM NO DIA NOVE DE AGOSTO, POR

CAUSA DOS RESULTADOS POSITIVOS DA GALP, NO DIA DEZ NÃO

SUBIRAM.

NA VERDADE, NO SEU ENTENDIMENTO, A SUBIDA OU DESCIDA DAS

A C Ç ~ E S É INFLUENCIADA POR MUITOS FACTORES E A COMUNICAÇÃO

Page 52: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

RELATIVA A DESCOBERTA DE UM POÇO PODE NÃO JUSTIFICAR A SUBIDA

DAS ACÇÕES.

NA VERDADE, OS RESULTADOS QUE A EMPRESA APRESENTE PODEM

SE MAIS IMPORTANTES PAR4 A SUBIDA DAS ACÇÕES DA GALP DO QUE A

DESCOBERTA DE PETR~LEO.

CONCLUI QUE FOI O QUE ACONTECEU NO CASO DOS AUTOS, OS

RESULTADOS DA EMPRESA FORAM MUITO ACIMA DOS ESPERADOS E AS

ACÇÕES SUBIRAM.

MAIS, NESTE CASO DIVULGARAM A CAUTELA, HOJE, SE CALHAR,

CONCLUIA QUE NÃO HAVIA MOTIVO PAR4 COMUNICAR.

ESCLARECEU, MAIS UMA VEZ, QUE TINHAM TUDO PREPARADO

PARA COMUNICAREM NO DIA DEZ DE AGOSTO; ENTRETANTO, TIVERAM

QUE PREPARAR A INFORMAÇÃO PARA COMUNICAR NO DIA NOVE DE

AGOSTO.

NA VERDADE, SOUBERAM AS 15 HORAS E 30 MINUTOS DO REFERIDO

DIA NOVE, DA ANTECIPAÇÃO, E COMUNICARAM ÁS 17 HORAS E TAL, DO

MESMO DIA, EXPLICANDO QUE FOI O TEMPO NECESSÁRIO PAR4

CONFIRMAREM SE O COMUNICADO QUE ÍAM FAZER ERA NA MESMA

LINHA DO COMUNICADO FEITO PELA CHEVRON (O QUE FOI FEITO

ATRAVÉS DO SITE DA CHEVRON) E TIVERAM QUE OBTER O ACORDO DA

HIERARQUIA DA EMPRESA PAR4 COMUNICAREM.

ACRESCENTOU QUE O HORÁRIO DA BOLSA É DE ABERTURA AS OITO

HORAS E DE ENCERRAMENTO AS DEZASSEIS HORAS E TRINTA MINUTOS

E QUE A CMVM PEDE QUE OS COMUNICADOS SEJAM FEITOS DAS

Page 53: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

DEZASSEIS HORAS E QUARENTA E CINCO MINUTOS DE LTM DIA ATÉ ÁS

SETE HORAS E QUARENTA E CINCO MINUTOS DO DIA SEGUINTE ÚTIL.

RELATIVAMENTE AOS FACTOS EM JULGAMENTO, ESCLARECEU QUE

ATÉ ESTA SITUAÇÃO SE VERIFICAR, A PRÁTICA ERA A DE TODOS

COMUNICAREM NO MESMO MOMENTO. PORÉM, DESTA VEZ AS COISAS

CORRERAM MAL E A CHEVRON ANTECIPOU-SE.

ASSIM, O OPERADOR INFORMOU QUE O COMUNICADO SAIRIA DIA DEZ

DE AGOSTO (NÃo SE CONSEGUIU LEMBRAR SE O FARIA TAMBÉM A

SONANGOL), TENDO IDEIA QUE TAL INFORMAÇÃO FOI DADA VIA MAIL E,

NORMALMENTE, É FEITA COM ALGUMA ANTECEDÊNCIA PARA

PREPARAREM O COMUNICADO.

PORÉM, A SONANGOL ANTECIPOU-SE. INQUIRIDO SOBRE SE AQUELA

TERIA UM DIREITO ESPECIAL, RESPONDEU QUE NÃO SE RECORDAVA,

DIZENDO QUE SE HOUVESSE UM ACORDO EM QUE A SONANGOL

COMUNICARIA NO DIA NOVE E OS DEMAIS NO DIA DEZ, NÃO O

ACEITARIA.

ACRESCENTOU QUE TODAS AS DESCOBERTAS, A CAUTELA, SÃO

COMUNICADAS COMO INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, EXCEPTO AS QUE

ESTÃO EM OFF-SHORE.

NO CASO DOS AUTOS, SE OCORRESSE HOJE, AFIRMOU QUE NÃO

COMUNICARIA COMO INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA.

CONFRONTADO COM FLS. 148, DOS AUTOS, AFIRMOU QUE NÃO TEVE

CONHECIMENTO DO MAIL DE PEDRO GAMA.

Page 54: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

ACRESCENTOU QUE TEVE CONHECIMENTO DA ANTECIPAÇÃO Ás

QUINZE HORAS E T ~ T A E SEIS MINUTOS DO DIA NOVE, ATRAVÉS DO

MAIL ENVIADO PELA TESTEMUNHA, CARLOS ALBERTO DA COSTA ALVES.

PORÉM, CONFRONTADO COM O FACTO DE, NA CONTESTAÇÃO, A

GALP ALEGAR QUE ESTA TESTEMUNHA NO DITO DIA NOVE ESTEVE

INCONTACTÁVEL ATÉ Ás DEZASSEIS HORAS E VINTE MINUTOS, ACABOU

POR DIZER QUE, SE CALHAR, s6 SOUBE Á s DEZASSEIS HORAS E VINTE

MINUTOS;

4- INÊs MARIA RIBEIRO SANTOS QUE TRABALHA NA GALP DESDE

SETEMBRO DE 2002 ATÉ HOJE NO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇ~ES

PARA DIVULGAR, COORDENAÇÃO COM OS REGULADORES, RECOLHA DE

INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO AO MERCADO, FUNÇÕES QUE EXERCIA Á

DATA DOS FACTOS EM ANÁLISE; É ECONOMISTA.

DISSE QUE SE RECORDAVA DE TEREM RECEBIDO UM MAIL A

INFORMAR QUE A CHEVRON TINHA ANTECIPADO A COMUNICAÇÃO E

QUE DILIGENCIARAM, IMEDIATAMENTE, NO SENTIDO DE FAZEREM LOGO

A COMUNICAÇÃO.

EXPLICOU QUE A DIVULGAÇÃO É UM PROCESSO QUE EXIGE

AUTORIZAÇÃO DA HIERARQUIA, ETC. NESTE CASO A COMUNICAÇÃO

ANTECIPADA IMPLICA CONFIRMAR SE A COMUNICAÇÃO FEITA PELA

CHEVRON É AQUELA QUE A GALP VAI FAZER, ETC, OU SEJA, ENVOLVE

TRABALHO POR PARTE DA GALP.

ESCLARECEU QUE SOUBE DA ANTECIPAÇÃO ATRAVÉS DE UM MAIL

QUE RECEBEU CERCA DAS QUINZE HORAS E TRINTA MINUTOS TENDO,

Page 55: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

IMEDIATAMENTE, IDO FALAR COM A TESTEMUNHA TIAGO VILLAS BOAS,

NÃO SE LEMBRANDO DO TEOR DA CONVERSA, GARANTINDO QUE MAL

VIU O TEOR DO MAIL FOI, IMEDIATAMENTE, FALAR COM AQUELE,

TENTARAM, DE SEGUIDA, CONFIRMAR O MAIS RAPIDAMENTE

POSSÍVEL A NOTICIA DA CHEVRON (ATRAVÉS DO RESPECTIVO SITE) E,

TANTO QUANTO SE LEMBRA, O COMUNICADO ERA SEMELHANTE AO DA

GALP.

QUESTIONADA PORQUE SÓ DIVULGARAM ÁS DEZASSETE HORAS E

TRINTA E SEIS MINUTOS, EXPLICOU QUE A PARTIR DO FECHO DO

MERCADO QUE OCORRE ÁS DEZASSEIS HORAS E TRINTA MINUTOS, MAIS

HORA MENOS HORA É IRRELEVANTE.

QUANTO A EVOLUÇÃO DAS COTAÇÕES DO DIA NOVE DE AGOSTO DE

2007, AFIRMOU QUE ABRIU E FECHOU MAIS OU MENOS COM O MESMO

VALOR.

SABE QUE FOI ACORDADO QUE A DIVULGAÇÃO SERIA NO DIA DEZ

DE AGOSTO DE 2007, MAS NÃO SABE SE TAL ACORDO ABRANGIA A

SONANGOL.

ESCLARECEU QUE NO EXERCICIO DAS SUAS FUNÇÕES,

NORMALMENTE, ACOMPANHA A INFORMAÇÃO QUE VAI SAINDO NAS

AGÊNCIAS NOTICIOSAS SOBRE A GALP, FAZ PARTE DAS FUNÇÕES DA

EQUIPA EM QUE ESTÁ INTEGRADA, MAS NÃO HÁ NINGUÉM QUE ESTEJA

ESPECIFICAMENTE DEDICADO A TAL TRABALHO.

NÃO SE RECORDA SE A COMUNICAÇÃO A EFECTUAR NO DIA DEZ JÁ

Page 56: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

FINALMENTE, ACRESCENTOU NÃO SE LEMBRAR AO CERTO, MAS

TEM A IDEIA DE QUE A TESTEMUNHA, TIAGO VILLAS BOAS, NÃO ESTEVE

INCONTACTÁVEL NO DIA NOVE DE AGOSTO DE 2007 ATÉ ÁS DEZASSEIS

HORAS E VINTE MINUTOS.

FINALMENTE, FORAM CONSIDERADOS OS DOCUMENTOS DE FLS.

06, 10 A 47,49 A 66, 107, 109 A 144, 147 A 149, 153 A 161, 182 A 201,206,216 A

288,297 A 327,384 A 397, DOS AUTOS.

TODAS AS TESTEMUNHAS INQUIRIDAS DEPUSERAM, NA MEDIDA DA

SUA INTERVENÇÃO E CONHECIMENTO DOS FACTOS, DE FORMA ISENTA E

CREDÍVEL, TENDO ESPECIAL RELEVO O DEPOIMENTO DA PRIMEIRA

TESTEMUNHA DE DEFESA POR TER SIDO A PRIMEIRA PESSOA DA GALP A

RECEPCIONAR O MAIL QUE COMUNICAVA, A ARGUIDA, O FACTO DE TER

HAVIDO DIVULGAÇÃO ANTECIPADA DA INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA EM

CAUSA, NOS AUTOS; A SEGUNDA TESTEMUNHA DE DEFESA, ATENTAS AS

FUNÇÕES QUE EXERCIA E EXERCE NA GALP E A INTERVENÇÃO QUE TEVE

CONFORME SUPRA E, NOS MESMOS TERMOS, O DEPOIMENTO DA

TERCEIRA TESTEMUNHA DE DEFESA.

POR SUA VEZ, O DEPOIMENTO DA SEGUNDA TESTEMUNHA DE

ACUSAÇÃO TEVE MAIOR RELEVÂNCIA (EM RELAÇÃO A PRIMEIRA

TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO), NA FIXAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO,

ATENTA A SUA INTERVENÇÃO NOS AUTOS, UMA VEZ QUE A PRIMEIRA

TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO NÃO TEVE INTERVENÇÃO DIRECTA NO

PROCESSO ADMINISTRATIVO QUE DEU ORIGEM AOS PRESENTES AUTOS.

Page 57: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

FINALMENTE, OS DOCUMENTO REFERIDOS FORAM SUPORTE

FUNDAMENTAL PARA DAR COMO PROVADOS PARTE SUBSTANCIAL DOS

FACTOS.

Para além daquilo que se agora se deixou transcrito, a sentença sob

recurso indicou também, relativamente a cada ponto da matéria de facto provada, os

elementos de prova documental que relevaram para a formação da convicção do

Tribunal, por referência para as folhas do processado que lhes correspondem.

O no 2 do art. 374" do CPP, que anteriormente transcrevemos, vincula o

Tribunal fazer a indicação e a proceder ao exame crítico dos meios de prova em que se

baseou a sua convicção.

Por exame crítico da prova entende-se, muito em síntese, a enunciação das

razões que levaram o julgador a conferir poder de convicção a determinado meio de

prova e a denegá-lo a outro.

A dimensão concreta do dever de exame crítico da prova não é idêntica

em todos os processos, variando em função de diversos factores, entre os quais podemos

destacar a maior ou menor complexidade dos factos probandos e o conteúdo

contraditório ou não dos meios de prova submetidos a apreciação do julgador.

Assim, o trabalho de explicitação das razões que levaram o Tribunal a

privilegiar, na livre formação da sua convicção, determinado meio de prova em

detrimento de outro assumirá um relevo muito maior num processo em que sejam

sujeitos à apreciação do órgão judicial meios de prova de conteúdo contraditório, como

sucede, por exemplo, quando são produzidos depoimentos testemunhais divergentes

sobre a mesma factualidade.

Page 58: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

No presente processo, o grosso da matéria de facto julgada assente

demonstrou-se por via documental, que apresenta características de maior objectividade,

em comparação com a prova pessoal, e mesmo a prova testemunhal produzida não se

mostra contrastada em questões decisivas.

Neste contexto, teremos de concluir que a sentença sob recurso satisfaz

suficientemente os deveres de indicação e de exame crítico da prova, em termos deixar

expressos os fundamentos lógicos do juízo probatório, afirmativo e negativo,

formulado, não sendo exigível que tivesse ido mais longe do que foi na explicitação

desse exame crítico.

Consequentemente, a sentença sob recurso não padece da nulidade da

falta de fundamentação, na parte relativa à decisão sobre a matéria de facto.

Em conexão com a questão agora em apreço, a recorrente veio invocar a

inconstitucionalidade do no 2 do art. 374" do CPP, quando interpretado em termos de

admitir como suficiente a fundamentação do juizo sobre a matéria de facto constante da

sentença impugnada, por violação das disposições dos arts. 32" no 1 e 205" no 1 da CRP.

O primeiro dos invocados dispositivos constitucionais reza:

O processo criminal assegura todas as garantias de defesa, incluindo o

recurso.

Por sua vez, o segundo desses normativos estatui:

As decisões dos tribunais que não sejam de mero expediente são

jimdamentadas na forma prevista na lei.

A disposição do no 1 do art. 32" da CRP é manifestamente inaplicável a

situação em apreço, pois trata-se de uma norma privativa do processo criminal.

Page 59: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

A regra constitucional equivalente, para o processo de contra-ordenação, é

a do no 10 do art. 32", cujo teor é o seguinte:

Nos processos de contra-ordenação, bem como em quaisquer processos

sancionatórios, são assegurados ao arguido os direitos de audiência e defesa.

Ora, não se vislumbra como poderão os direitos de audiência e de defesa

da arguida em processo contra-ordenacional ter sido lesados pela fundamentação da

decisão sobre a matéria de facto, tal como se apresenta na sentença recorrida.

Quanto ao dever de fundamentação das decisões judiciais, consagrado

pelo no 1 do art. 20S0 da CRP, importa verificar que esta norma constitucional que

remete para a lei ordinária a sua concreta configuração.

Como é evidente, o comando constitucional agora em referência não pode

ser interpretado como um ((cheque em branco)) ao legislador ordinário e a margem de

discricionariedade a este concedida tem por limite o imperativo de não diminuir a

dimensão da exigência de fundamentação das decisões, ao ponto de a esvaziar de

conteúdo útil.

Conforme facilmente se constata, confrontando a parte da sentença

recorrida dedicada a fundamentação da decisão de facto, não está em causa uma

situação comparável.

Como tal, improcede a invocação de inconstitucionalidade em apreço, em

qualquer das suas vertentes.

Passaremos agora apreciar a arguição da nulidade (falta de

fundamentagão ou omissão de pronúncia) resultante da não consideração pela sentença

Page 60: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

recorrida de factos alegados na motivação do recurso de impugnação judicial e referidos

pelas testemunhas inquiridas na fase judicial do processo, que seriam (vd. ponto 14 da

motivação do recurso em apreço), em síntese, os seguintes:

- Existem acordos de confidencialidade entre os elementos do consbrcio

em causa;

- A informação é mantida confidencial até que exista acordo entre os

membros do consórcio;

- Estava acordada a divulgação da informação no dia 10/8/07;

- Por e-mail, de 9/8/07, as 15h30m, um elemento da «Chevron» informou

um funcionzlrio da ora recorrente que, por lapso, a «Chevron» tinha divulgado a

informação nesse dia;

- Tinha de se confirmar se essa divulgação tinha sido feita e obter

autorização da administração da recorrente parta efectuar a divulgação.

No entender da recorrente, os factos agora enunciados seriam relevantes

para ajuizar se ela poderia beneficiar, na circunstância, do diferimento da divulgação da

informação previsto no no 1 do art. 248'-A do CVM e se a sua conduta lhe pode ser

censurada a título de negligência.

Com efeito, a sentença sob recurso não emitiu juízo probatório,

afirmativo ou negativo, sobre os factos em referência.

Conforme a CMVM justamente assinalou na sua resposta a motivação da

recorrente, o no 2 do art. 374O do CPP não impõe ao Tribunal o dever de tomar posição,

julgando-o provado ou não provado, sobre todo e qualquer facto que tenha sido alegado

Page 61: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

pelos sujeitos processuais, mas somente sobre aqueles que possam relevar a decisão da

causa, em alguma das suas soluções em direito plausíveis.

Relativamente a alegação de que os factos não considerados podem

assumir relevo para ajuizar se a arguida actuou com negligência, importa ter presente

que este nexo de imputação subjectiva é um conceito de direito que tem de ser

preenchido por factos, os quais, no caso concreto, se reconduzem ao conteúdo do ponto

23 da factualidade provada.

Nesta conformidade, os elementos factuais sobre os quais a recorrente

entende que o Tribunal «a quo» deveria ter-se pronunciado têm, na sua perspectiva, um

interesse instrumental, para efeito de se darem como não provados, no todo ou em parte,

os factos integradores da negligência.

Por conseguinte, o Tribunal a quo» não estava vinculado a emitir juízo

probatório sobre tais factos instrumentais, pois não são estes, em si mesmos, que

relevam para a decisão da causa, mas sim aqueles para cuja prova, negativa neste caso,

eles podem contribuir.

Quanto a eventualidade de os factos em causa poderem justificar, nos

termos do no 1 do art. 248'-A do CVM, interessará recordar o teor dessa disposição

legal, que C o seguinte:

Os emitentes referidos no no 1 do artigo anterior podem decidir diferir a

divulgação pública da informação aí referida, desde que, cumulativamente:

a) A divulgação imediata seja susceptível de prejudicar os seus

legítimos interesses;

Page 62: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

b) O diferimento não seja susceptível de induzir o público em erro;

c) O emitente demonstre que assegura a conjdencialidade da

informação.

Aquilo que surge como mais saliente na disposição legal agora transcrita

é que os requisitos do diferimento da divulgação da informação privilegiada têm que se

verificar cumulativamente, bastando a falta de um deles para que tal diferimento fique

legalmente inviabilizado.

O no 2 do mesmo artigo considera, exemplificativamente, susceptíveis de

prejudicar os legítimos interesses do emitente as seguintes situaçaes:

a) Decisões tomadas ou contratos celebrados pelo órgão de direcção de

um emitente, cuja eficácia dependa da aprovação de outro órgão do

emitente, desde que a sua divulgação antes da aprovação,

comprometa a correcta apreensão da informação pelo público;

b) Processos negociais em curso ou elementos com eles relacionados,

desde que a respectiva divulgação pública possa afectar os

resultados ou o curso normal dessas negociações.

Embora as situações tipificadas nas als. a e b) do no 2 do art. 248'-A do

CPP tenham, como se disse, natureza exemplificativa e não esgotem as hipóteses

legalmente reconhecidas, em que a divulgação imediata da informação privilegiada

pode lesar os legítimos interesses da entidade, as mesmas fornecem-nos um padrão para

ajuizar quais as restantes situações em que poderá estar em causa semelhante lesão de

interesses, que serão aquelas que poderão acarretar consequências comparáveis às

geradas pelas hipóteses descritas naquelas alíneas.

Page 63: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

Ora, se tivermos em consideração, conjuntamente, os factos julgados

provados pela sentença recorrida e aqueles sobre os quais a recorrente entende que

devia ter sido emitido juízo, verifica-se nada se prefigura de comparável as situações

tipificadas nas als. a) e b) do no 2 do art. 248'-A do CVM do ponto de vista dos

interesses da arguida.

Antes de mais, será necessário ter presente que qualquer acordo de

confidencialidade existente entre a arguida e os restantes membros do consórcio que

explorava o poço de petróleo referenciado no processo nunca será susceptivel de gerar

para a arguida direitos ou obrigações que possam justificar o diferimento do

cumprimento do dever de divulgação da informação privilegiada.

Com efeito, refere, a esse respeito, Filipe Matias Santos (((Divulgação de

Informação Privilegiada)), 201 1, pág. 91): ((Quando os emitentes estão sujeitos a

segredo de natureza contratual (ou qualquer outra não legal), caso típico dos acordos de

confidencialidade, o dever de divulgação prevalece sobre o segredo (art. 280' do Código

Civil))).

O no 1 do art.28O0 do CC declara nulo, além do mais, o negócio jurídico

cujo objecto seja contrário a lei.

Nesta ordem de ideias, poderemos verificar que a eventual obrigação de

fonte contratual de manter confidencial determinada informação sempre terá de ceder

perante o dever legal de divulgação da mesma.

Por outro lado, nunca poderia a arguida invocar em apoio do seu

procedimento que o cumprimento imediato do dever de divulgação da informação

privilegiada seria susceptivel de lesar os seus interesses no plano de seu relacionamento

com os restantes sujeitos do acordo de confidencialidade, já que semelhante interesse

Page 64: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

não poderia ser considerado «legítimo» para o efeito previsto na al. a) do no 1 do art.

348"-A do CVM, pois equivaleria a postergar um dever legal em beneficio da uma

obrigação de fonte contratual, o que é repudiado pela ordem jurídica.

Consequentemente, os factos, sobre os quais a requerente entende que o

Tribunal «a quo» deveria ter emitido juízo probatório, por si ou conjugados com os que

foram julgados demonstrados pela sentença recorrida, não são de molde a integrar a

hipótese prevista na al. a) do no 1 do art. 348'-A do CVM, o que desde logo obsta a que

a arguida pudesse ter beneficiado da faculdade de diferir o cumprimento do dever de

divulgação da informação referida nos autos.

Em conclusão, diremos que a referenciada factualidade não era molde a

relevar para a decisão a proferir, nos termos em que a recorrente configura essa

relevância, pelo que o Tribunal «a que» não se encontrava vinculado a emitir sobre ela

juízo probatório, não constituindo nulidade, seja enquanto falta de fundamentação, seja

a título de omissão de pronúncia, a falta de formulação desse juízo.

Segundo a recorrente, a sentença sob recurso padeceria ainda da nulidade

omissão de pronúncia por não ter considerado a aplicação do disposto no art. 248'-A do

CVM.

A não consideração na decisão da causa de uma norma jurídica aplicável

não configura uma omissão de pronúncia, pois, nessa hipótese, o Tribunal não se

abstém de conhecer de qualquer questão, que esteja vinculado a apreciar.

Pelo contrário, o Tribunal conhece da «questão», mas sem fazer aplicação

da norma jurídica que se impõe aplicar ao caso, o que se reconduz a verdadeiro erro de

julgamento, em matéria de direito.

Page 65: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

Tal deficiência, quando exista, não é de molde a afectar a validade

formal da sentença, mas antes o seu bem fundado substancial.

Assim, também nesta parte improcede a arguição da nulidade.

Seguidamente, passaremos a conhecer da invocação dos vícios previstos

no no 2 do art. 41 O0 do CPP.

Quanto a invocação da insuficiência da matéria de facto provada para a

decisão, com fundamento em não ter a sentença recorrida tomado conhecimento dos

factos alegados na motivação do recurso de impugnação judicial, a propósito dos quais

a recorrente arguiu também a nulidade da sentença, nada mais se nos oferece dizer

senão que, ocorrendo o vício em apreço quando a sentença tenha deixado de tomar

conhecimento de factos indispensáveis à justa decisão da causa e tendo n6s já ajuizado

como irrelevantes para a decisão os factos que, no entender da recorrente, foram

indevidamente postergados pelo Tribunal «a que», o invocado vício mostra-se

necessariamente excluído.

A recorrente invocou os vícios de erro notório na apreciação da prova e

de contradição entre a fundamentação e decisão, a propósito do juizo probatório que

recaiu sobre os factos descritos nos pontos 10, 1 1, 12,21 e 22 da matéria assente.

Contudo, na motivação do recurso, a recorrente não aponta qualquer

oposição ou incompatibilidade lógica entre o segmento decisório da sentença e

fundamentação que o antecede, nem nós de todo a conseguimos discernir.

Como tal, não pode sentença estar inquinada pelo segundo dos vícios em

referência.

O vício de erro notório na apreciação da prova é frequentemente

invocado pelos recorrentes com base em razões que se prendem com divergências

Page 66: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

acerca da valoração probatória entre o Tribunal «a que» o sujeito que interpõe o

recurso.

Tais divergências relevam, o mais das vezes, da impugnação alargada da

matéria de facto, prevista nos nos 3 e 4 do art. 412' do CPP, sendo normalmente

apreciadas como tal, nos casos em que C admissível o recurso nessa matéria.

No entanto, o no 1 do art. 75" do RGCO limita a matéria de direito os

poderes de cognição das Relações, nos recursos interpostos das sentenças ou dos

despachos que conheceram dos recursos de impugnação judicial de decisões

administrativas em processo de contra-ordenação.

Assim sendo, devem os Tribunais da Relação usar de particular rigor no

sentido obstar ao atendimento de pretensões recursivas que configuram verdadeiras

impugnações da decisão sobre a matdria de facto, legalmente inadmissíveis em processo

contra-ordenacional, nomeadamente, sob a capa da arguição do erro notório na

apreciação da prova.

No caso presente, o erro notório invocado pela recorrente consiste em ter

o Tribunal a quo» julgado provados os factos vertidos nos pontos 10, 11, 12, 2 1 e 22,

sem que o conteúdo dos documentos, em cada um deles indicados como fundamento da

convicção do julgador, seja susceptível de permitir tal conclusão probatória

Conforme já se disse, de acordo com o disposto no proémio do no 2 do art.

410" do CPP, os vícios da decisão previstos nas alíneas desse normativo terão de

resultar do próprio texto da decisão, por si só ou conjugado com as regras da

experiência comum, não podendo o julgador, para o efeito de ajuizar da sua verificação,

valer-se de elementos exteriores como sejam elementos de prova cujo conteúdo não se

encontre de alguma forma reproduzido no texto da sentença.

Page 67: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

Ora, é essencialmente isso que a recorrente vem peticionar a este Tribunal

da Relação ao questionar o juízo probatório que recaiu sobre os factos dos pontos 10,

1 1, 12, 2 1 e 22 da matéria provada, com base na sua confrontação com o teor de

documentos, não vertido no texto da decisão recorrida.

Tal sindicância do juízo probatório formado pelo Tribunal «a que» não

se encontra coberta pela disposição do no 2 do art. 410' do CPP, sendo, por isso,

inadmissível no âmbito do presente recurso.

Nesse sentido, improcede a arguição do erro notório na apreciação da

prova, nos termos em que a recorrente a configurou.

Em sede de vícios formais, a recorrente censura ainda a sentença

recorrida a circunstância de o conteúdo dos pontos 13 e 20 a 23 da factualidade provada

ser constituída por conclusões e por juízos valorativos e não por factos da vida real.

Tal crítica manifestamente não é válida para os pontos 13 e 20 a 22.

O texto do ponto 23, que trata dos elementos factuais constitutivos da

negligência, contém efectivamente urna componente de juízo valorativo, na parte em

refere que «a arguida agiu.. . violando um dever de cuidado a que estava obrigada e que

de que era capaz)).

Contudo, no segmento seguinte da fiase, começando em «no sentido

de..)), concretiza-se o dever de cuidado violado e o comportamento alternativo que a

arguida se impunha, conferindo desse modo substrato factual ao juízo valorativo.

Como tal, importa concluir que a sentença não padece de qualquer vício

formal, em razão do conteúdo dos pontos 13 e 20 a 23 da matéria de facto assente.

Passemos, então, a apreciar a parte do recurso que se prende com o

próprio bem fundado substancial da sentença impugnada.

Page 68: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

Acerca do enquadramento jurídico dos factos apurados, a sentença sob

recurso expende:

A ARGUIDA, "GALP ENERGIA, S.G.P.S., S.A.", É IMPUTADA A PRÁTICA

DE UMA CONTRA-ORDENAÇÃO, A TÍTULO DOLOSO, PREVISTA E PLNIDA

PELOS ARTIGOS 248", NO1, 388", NOS 1, ALÍNEA A) E 3 E 394", NOl, ALÍNEA I),

TODOS DO CÓDIGO DOS VALORES MOBILIÁRIOS, APROVADO PELO DEC.-

LEI 486199, DE 13/11.

NA VERDADE, PRECEITUA O REFERIDO ARTIGO 248", No 1, DO CÓDIGO

DOS VALORES MOBILIÁRIOS (C.M.V.M.), DISPOSIÇÃO EM VIGOR A DATA

DA PRATICA DOS FACTOS:

ARTIGO 248. O

INFORMAÇÁO PRIVILEGIADA RELATIVA A EMITENTES

"1 - OS EMITENTES QUE TENHAM VALORES MOBILL~RIOS ADMITIDOS

A NEGOCIAÇÃO EM MERCADO REGULAMENTADO OU REQUERIDO A

RESPECTNA ADMISSÃO A UM MERCADO DESSA NATUREZA DIVULGAM

IMEDIATAMENTE:

A) TODA A INFORMÇÃO QUE LHES DIGA DIRECTAMENTE RESPEITO OU

AOS VALORES MOBILIARIOS POR SI EMITIDOS, QUE TENHA CARA'CTER

PRECISO, QUE NÃO TENHA SIDO TORNADA PÚBLICA E QUE, SE LHE FOSSE

DADA PUBLICIDADE, SER IA IDÓNEA PARA INFL UENCIAR DE MANEIRA

SENSIVEL O PREÇO DESSES VALORES MOBILIÁRIOS OU DOS INSTRUMENTOS

SUBJACENTES OU DERIVADOS COMESTES RELACIONADOS,.

Page 69: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

B) QUALQUER ALTERAÇÃO A INFORMAÇÃO TORNADA PÚBLICA NOS

TERMOS DA ALÍNEA ANTERIOR, UTILIZANDO PARA O EFEITO O MESMO MEIO

DE DNULGAÇÃO.

2 - PARA EFEITOS DA PRESENTE LEI, A INFOMÇÃO PRIVILEGIADA

ABRANGE OS FACTOS OCORRIDOS, EXISTENTES OU RAZOA VELMENTE

PREVIS~EIS , INDEPENDENTEMENTE DO SEU GRAU DE FORMALIZAÇÃO,

QUE, POR SEREM SUSCEPTÍVEIS DE INFLUIR NA FORMAÇÃO DOS PREÇOS

OS CONHECESSE, PARA BASEAR, NO TODO OU EM PARTE, AS SUAS DECISÕES

DE INVESTIMENTO.

3 - OS EMITENTES ASSEGURAM QUE A DIVULGAÇÃO DE INFORMÇÃO

PRIVILEGUDA É REALIZADA DE FORUA SIMULTÂNEA JUNTO DAS VARIAS

CATEGORIAS DE INVESTIDORES E NOS MERCADOS REGULAMENTADOS DOS

ESTADOS MEMBROS DA UNIÃO EUROPEIA, EM QUE OS SEUS VALORES

ESTEJAM ADMITIDOS A NEGOCIAÇÃO OU QUE TENHAM SIDO OBJECTO DE

UM PEDIDO NESSE SENTIDO.

4 - SEM PREJUÍZO DE EVENTUAL RESPONSABILIDADE CRIMINAL,

QUALQUER PESSOA OU ENTIDADE QUE DETENHA INFORMAÇÃO COM AS

CARACTERÍSTICAS REFERIDAS NOS NOS 1 E 2 NÃO PODE, POR QUALQUER

MODO, TRANSMITI-LA PARA ALÉM DO ÂMBITO NORMAL DAS SUAS FUNÇÕES

OU UTILIZA'-LA ANTES DE A MESMA SER TORNADA PÚBLICA.

5 - A PROIBIÇÃO PREVISTA NO NÚMERO ANTERIOR NAO SE APLICA

QUANDO SE TRATE DE TRANSACÇÕES SOBRE A C Ç ~ PROPRIAS

Page 70: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

EFECTUADAS NO ÁMBITO DE PROGRAMAS DE RECOMPRA REALIZADOS NAS

CONDIÇ~ES LEGALMENTE PERMITIDAS.

6 - OS EMITENTES E AS PESSOAS QUE ACTUEM EM SEU NOME OU POR

SUA CONTA ELABORAM E MANTEM RIGOROSAMENTE ACTUALIZADA U M

LISTA DOS SEUS TRABALHADORES OU COLABORADORES, AO ABRIGO DE

CONTRATO DE TRABALHO OU DE QUALQUER OUTRO VINCULO, QUE TEM

ACESSO, REGULAR OU OCASIONAL, A INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA,

COMUNICANDO A ESSAS PESSOAS A INCL USÃO DOS SEUS NOMES NA LISTA E

AS CONSEQUENCIAS LEGAIS DECORRENTES DA DIWLGAÇÃO OU

UTILIZAÇÃO ABUSIVA DE INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA.

7 - A LISTA PREVISTA NO NÚMERO ANTERIOR CONTÉM A IDENTIDADE

DAS PESSOAS, OS MOTIYOS PELOS QUAIS CONSTAM DA LISTA, A DATA DA

MESMA E QUALQUER ACTUALIZAÇÃO RELEVANTE, SENDO CONSERVADA EM

ARQUIVO PELOS EMITENTES PELO PRAZO DE CINCO ANOS DESDE A ULTIMA

ACTUALIZAÇÃO E IMEDIATAMENTE REMETIDA À CMVM, SEMPRE QUE ESTA

O SOLICITAR. "

EFECTIVAMENTE, A ARGUIDA "GALP ENERGIA, S.G.P.S., S.A.", QUE

TEM POR OBJECTO A GESTÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIAIS DE OUTRAS

SOCIEDADES DO SECTOR ENERGÉTICO, COMO FORMA INDIRECTA DE

EXERCÍCIO DE ACTIVIDADES ECONÓMICAS, É E ERA, A DATA DOS

FACTOS, EM AGOSTO DE 2007, UMA SOCIEDADE EMITENTE, POSSUINDO

ACÇÕES ADMITIDAS A NEGOCIAÇAO NO MERCADO REGULAMENTADO

EUROLIST BY EURONEXT.

Page 71: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

ASSIM, ENCONTRAVA-SE, EM AGOSTO DE 2007, VINCULADA AO

CUMPRIMENTO DO DISPOSTO NO SUPRA REFERIDO PRECEITO LEGAL.

PARA CONCLUIR DA OBRIGATORIEDADE OU NÃO DE DIVULGAÇÃO

IMEDIATA, POR PARTE DA GALP, DE DETERMINADA INFORMAÇÃO, É

NECESSÁRIO VERIFICAR SE A MESMA POSSUI DETERMINADAS

CARACTERISTICAS.

NA VERDADE, A INFORMAÇÃO TERÁ QUE DIZER DIRECTAMENTE

RESPEITO A ARGUIDA OU AOS VALORES MOBILIÁRIOS POR SI EMITIDOS -

NO CASO, WXISTEM DUVIDAS, O QUE DE MAIS IMPORTANTE PODE

EXISTIR RELATIVAMENTE A ARGUIDA QUE NÃO ESTEJA RELACIONADO

COM A DESCOBERTA DE PETRÓLEO POR PARTE DE UM CONSÓRCIO DE QUE

FAÇA PARTE.

POR SUA VEZ, A INFORMAÇÃO, EM CAUSA, TEM QUE TER CARÁCTER

PRECISO - O QUE TAMBÉM SE VERIFICAVA. NA VERDADE, A ARGUIDA

TINHA UMA PARTICIPAÇÃO DE 9% NUM CONSÓRCIO QUE EXPLORAVA O

BLOCO 14, NAS ÁGUAS PROFUNDAS DO OFFSHORE DE ANGOLA,

CONSÓRCIO DO QUAL FAZIAM PARTE, PARA ALÉM DA PRÓPRIA GALP, AS

SOCIEDADES CHEVRON, SONANGOL, ENI E TOTAL SENDO QUE, JÁ EM

DEZEMBRO DE 2006, HAVIAM EFECTUADO UMA PERFURAÇÃO NO POÇO

MALANGE-1, NO REFERIDO BLOCO 14 E, EM MARÇO DE 2007, O REFERIDO

POÇO HAVIA SIDO TESTADO, TENDO SIDO DETERMINADA A SUA

CAPACIDADE PRODUTIVA E A BOA QUALIDADE DO PETRÓLEO E A

DIVULGAÇÃO A EFECTUAR TRADUZIA-SE, EXACTAMENTE, EM FORNECER

AOS MERCADOS A INFORMAÇÃO DE QUE O CONSÓRCIO DE QUE A

Page 72: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

ARGUIDA FAZIA PARTE HAVIA DESCOBERTO PETR~LEO NO REFERIDO

BLOCO.

POR OUTRO LADO, TAL INFORMAÇÃO NÃO HAVIA, ATE AO DIA 9 DE

AGOSTO DE 2007, SIDO REVELADA, NÃO ERA PÚBLICA E, SE LHE FOSSE

DADA PUBLICIDADE SERIA IDÓNEA PARA INFLUENCIAR DE MANEIRA

SENSÍVEL O PREÇO DOS VALORES MOBILIÁRIOS.

EFECTIVAMENTE, A ~NFORMAÇÃO DE DESCOBERTA DE PETRÓLEO É,

DESDE LOGO, UMA INFORMAÇÃO POR SI SÓ SUFICIENTE PARA

INFLUENCIAR, COMO EFECTIVAMENTE INFLUENCIOU (PONTOS 13) A 15)

DA MATÉRIA DE FACTO PROVADA), OS MERCADOS E ALTERAR O PREÇO,

NESTE CASO, DAS ACÇÕES DA GALP.

só ESTE FACTO DEVERÁ SER SUFICIENTE PARA QUE A ARGUIDA

CONSIDERE ESTE TIPO DE INFORMAÇÃO COMO INFORMAÇÃO

PRIVILIGIADA ESTANDO OBRIGADA A DIVULGA-LA, NOS TERMOS DO

DISPOSTO NO ARTIGO 248", DO CÓDIGO DOS VALORES MOBILIÁRIOS.

NA VERDADE, PODE VIR A CONCLUIR-SE, EM MOMENTO POSTERIOR,

QUE TAL DESCOBERTA NÃO ERA TÃO RELEVANTE DE MODO A QUE SE

ENQUADRASSE NO TIPO DE INFORMAÇÃO A QUE SE REFERE TAL NORMA

JURIDICA - SEJA PELA QUANTIDADE OU QUALIDADE DO PRODUTO, SEJA

POR DIFICULDADES TÉCNICAS PARA A EXPLORAÇÃO, SEJA PELA

EXISTÊNCIA DE POÇOS COM MAIOR RELEVÂNCIA SEJA PELA EFECTIVA E

REAL REACÇÃO DOS MERCADOS, ETC.

PORÉM, TAL CONCLUSÃO SÓ EM MOMENTO POSTERIOR SE PODE

ATINGIR SENDO QUE, ATÉ LÁ, A CONCLUSÃO E A DE QUE O

Page 73: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

CONHECIMENTO, POR PARTE DOS MERCADOS, DE TAL INFORMAÇÃO É

IDÓNEA PARA ALTERAR A POSIÇÃO DOS MERCADOS, ALTERAR A

DECISÃO DOS INVESTIDORES E, ASSIM, ALTERAR O VALOR DAS ACÇÕES

DA EMPRESA EM CAUSA.

ALIAS, A PROPRIA ARGUIDA ASSIM O TEM ENTENDIDO, UMA VEZ

QUE QUER A INFORMAÇÃO EM CAUSA, NOS PRESENTES AUTOS, QUER

OUTRAS DE NATUREZA, ESSENCIALMENTE SEMELHANTE, TÊM POR ELA

SIDO TRATADAS COMO INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA A DIVULGAR EM

RESPEITO PELO DISPOSITIVO LEGAL SUPRA TRANSCRITO.

NO CASO, DOS AUTOS, A ARGUIDA E DEMAIS PARTICIPANTES NO

CONSÓRCIO PODIAM TER ACORDADO EM DIVULGAR A INFORMAÇÃO, EM

CAUSA, NO DIA DEZ DE AGOSTO DE 2007.

PORÉM, A PARTIR DO MOMENTO EM QUE TAL INFORMAÇÃO É

DIVULGADA POR, PELO MENOS, UM DOS PARTICIPANTES DO CONS~RCIO

E AINDA QUE TAL DIVULGAÇÃO TENHA SIDO EFECTUADA EM MOMENTO

ANTERIOR AO ACORDADO - INDEPENDENTEMENTE DO MOTIVO POR QUE

TAL TENHA OCORRIDO, POR LAPSO, COM INTENÇÃO, ETC. - A VERDADE É

QUE A PARTIR DO MOMENTO EM QUE A INFORMAÇÃO É DIVULGADA,

NESSES TERMOS, A ARGUIDA TINHA UM DEVER LEGAL A CUMPRIR QUE

NÃO CUMPRIU - DIVULGAR, IMEDIATAMENTE, TAL INFORMAÇÃO.

A INFORMAÇÃO TORNOU-SE P~TBLICA NO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007

AS 13 HORAS, QUANDO, CONFORME RESULTA DA MATÉRIA DE FACTO

PROVADA, FOI NOTICIADO (EM INGLÊS) PELA AGÊNCIA REUTERS O

Page 74: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

ANUNCIO, POR PARTE DA CHEVRON CORPORATION (CHEVRON), DA

DESCOBERTA DE PETRÓLEO NO SEU CONSÓRCIO EM ANGOLA.

POR SUA VEZ, AS 13 HORAS E 26 MINUTOS, NOVA NOTÍCIA (EM

INGLÊS) DA AGÊNCIA REUTERS FEZ REFERÊNCIA AO FACTO DE A

ARGUIDA TER UMA PARTICIPAÇÃO DE 9% NO CONSÓRCIO LIDERADO

PELA CHEVRON EM ANGOLA E AS 15 HORAS E 45 MINUTOS VOLTOU A

SURGIR NO SITE DA AGÊNCIA REUTERS A MESMA NOTÍCIA QUE REFERIA

A PARTICIPAÇÃO DA ARGUIDA NO CONSÓRCIO, TRADUZIDA PARA

PORTUGUÊS SENDO QUE, FINALMENTE, AS 16 HORAS E 34 MINUTOS, A

MESMA NOTÍCIA FOI DIVULGADA NO SITE DO JORNAL DE NEGÓCIOS.

ASSIM, DESDE AS 13 HORAS DO DIA NOVE DE AGOSTO DE 2007 QUE A

INFORMAÇÃO, EM CAUSA, PERDEU O SEU CARÁCTER DE

CONFIDENCIALIDADE, TENDO A ARGUIDA O DEVER DE A DIVULGAR

IMEDIATAMENTE.

RESULTOU PROVADO QUE HOUVE DIVULGAÇÃO, POR PARTE DA

ARGUIDA, DE TAL INFORMAÇAO QUE, NA ALTURA, A GALP CONSIDEROU

E TRATOU COMO INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, MAS TAL DIVULGAÇÃO

NÃO FOI PUBLICADA IMEDIATAMENTE, UMA VEZ QUE SE TORNOU

PÚBLICA Ás 13 HORAS DO DIA NOVE DE AGOSTO DE 2007 E A ARGUIDA

APENAS A DIVULGOU ÁS 17 HORAS E 38 MINUTOS DO MESMO DIA TENDO,

PORTANTO, DECORRIDO QUATRO HORAS E TRINTA E OITO MINUTOS ATÉ

QUE A ARGUIDA CUMPRISSE COM O REFERIDO DEVER DE DIVULGAÇÃO

QUE, FACILMENTE, SE PODE CONCLUIR, NÃO FOI IMEDIATA.

Page 75: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

INEQUIVOCAMENTE, PERANTE O SUPRA DESCRITO E ATENTA A

MATÉRIA DE FACTO DADA COMO PROVADA, PASSOU A RECAIR SOBRE A

ARGUIDA, A PARTIR DAS JÁ MENCIONADAS TREZE HORAS DO DIA 09 DE

AGOSTO DE 2007, O DEVER DE DIVULGAÇÃO IMEDIATA DA INFORMAÇÃO

DA DESCOBERTA DE PETR~LEO.

RESULTOU PROVADO QUE A ARGUIDA CUMPRIU TAL DEVER, DE

FORMA TARDIA, APESAR DE NO MESMO DIA, DE FORMA DIRECTA E POR

SUA INICIATIVA.

O DEVER, EM CAUSA, TEM TODO O SENTIDO E FUNDAMENTO DE

FORMA A GARANTIR E FORTALECER A TRANSPARÊNCIA DOS MERCADOS.

EFECTIVAMENTE, O TIPO DE INFORMAÇÃO, EM CAUSA, DEVE SER

DIVULGADA POR TODOS OS PARTICIPANTES DO CONSÓRCIO, AO MESMO

TEMPO.

ASSIM, TODOS OS POTENCIAIS INTERESSADOS, INVESTIDORES E

DEMAIS INTERVENIENTES NOS MERCADOS FINANCEIROS, NACIONAIS E

INTERNACIONAIS, TÊM CONHECIMENTO DE UMA INFORMAÇÃO

RELEVANTE, DA MESMA FORMA, NO MESMO MOMENTO, HAVENDO ASSIM

IGUALDADE DE TRATAMENTO PELO QUE SÓ ASSIM OS INVESTIDORES

PODEM ACTUAR NOS MERCADOS COM AS MESMAS INFORMAÇÕES

PODENDO DECIDIR COM MAIOR CONFIANÇA.

NÃO RESULTOU PROVADO, É CERTO, QUE A ARGUIDA TENHA TIDO

CONHECIMENTO DA DIVLTLGAÇÃO ANTECIPADA DA INFORMAÇÃO, EM

CAUSA NOS PRESENTES AUTOS, DE FORMA IMEDIATA, OU SEJA, NÃO

RESULTOU PROVADO QUE ÁS 13 HORAS DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2007, OU

Page 76: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

ÁS 13 HORAS E UM MINUTO, A ARGUIDA TIVESSE CONHECIMENTO QUE A

INFORMAÇÃO TINHA DEIXADO DE SER CONFIDENCIAL.

ALIAS, APENAS SE APUROU QUE, PELO MENOS, Á s 15 HORAS E 28

MINUTOS A ARGUIDA TEVE CONHECIMENTO DA REFERIDA DIVULGAÇÃO

ANTECIPADA.

ASSIM, NATüRALMENTE QUE SÓ A PARTIR DO MOMENTO EM QUE A

GALP TOMA CONHECIMENTO QUE A INFORMAÇÃO QUE ERA

CONFIDENCIAL DEIXOU DE O SER, É QUE PODE CUMPRIR COM O SUPRA

REFERIDO DEVER LEGAL DE DIVULGAÇÃO IMEDIATA.

PORÉM, CUMPRE TER EM ATENÇÃO DUAS SITUAÇÕES DISTINTAS:

1" - TENDO A ARGUIDA QUE CUMPRIR ESTE DEVER LEGAL, ENTRE

OUTROS, É-LHE EXIGIVEL QUE TENHA FORMA DE DETECTAR ESTAS

SITUAÇÕES NO MOMENTO EM QUE ACONTEÇEM E NÃO MAIS DE DUAS

HORAS DEPOIS.

A ARGUIDA TEM QUE SE APETRECHAR DOS MEIOS NECESSARIOS

PARA DETECTAR, EM CIMA DO ACONTECIMENTO, NESTE CASO, A

DIVULGAÇÃO DESTA NOTICIA AS 13 HORAS PARA QUE, ASSIM, POSSA

CUMPRIR, RIGOROSAMENTE, COM O QUE RESULTA DA LEI.

ALIAS, TENDO EM ATENÇÃO A SUA DIMENSÃO, A SUA IMPORTÂNCIA

NO MERCADO NACIONAL, O FACTO DE SER COTADA NA BOLSA DESDE

2006, A IMPORTÂNCIA E RELEVÂNCIA DA ACTIVIDADE A QUE SE DEDICA,

DESDE LOGO (E NÃO SO) NA ECONOMIA NACIONAL, OS MONTANTES QUE

MOVE E (FAZ MOVER, OS INTERESSES QUE ATINGE E QUE PODE ATINGIR

COM A SUA ACTIVIDADE, TUDO FARIA CRER QUE A ARGUIDA, DESDE

Page 77: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

LOGO POR INTERESSE PRÓPRIO, TERIA UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO

TÃO COMPLETO E RIGOROSO QUE NÃO SERIA NECESSARIO RECEBER UM

MAIL PARA DETECTAR UMA SITUAÇÃO COMO A DOS AUTOS MAIS DE

DUAS HORAS DEPOIS DA MESMA OCORRER.

SE ASSIM ACONTECE, TEM QUE SE CONCLUIR QUE TAL RESULTA

DE UMA ACTUAÇÃO NEGLIGENTE DA ARGUIDA, O FACTO DE NÃO SE

MUNIR DE UM SISTEMA INFORMATIVO (ATRAVÉS DOS MEIOS QUE

CONCLUIR NECESSARIOS, TÉCNICO E/OU HUMANOS) PARA EXERCER A

SUA ACTIVIDADE E CUMPRIR, CABALMENTE, OS DEVERES LEGAIS QUE

LHE SÃO IMPOSTOS.

É UM DEVER QUE LHE É EXIGÍVEL E QUE A ARGUIDA TEM

CAPACIDADE PARA CONCRETIZAR.

2"- POR OUTRO LADO, RESULTANDO APURADO APENAS QUE AS 15

HORAS E 28 MINUTOS TOMOU, EFECTIVAMENTE, CONHECIMENTO DA

ANTECIPAÇÃO DA DIVULGAÇÃO DA INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, EM

CAUSA, CONCLUINDO-SE QUE SÓ A PARTIR DESSA HORA É QUE A

ARGUIDA PODERIA CUMPRIR COM O DEVER LEGAL EM DISCUSSÃO,

AINDA ASSIM, TAMBÉM AQUI A ARGUIDA FOI NEGLIGENTE NO

CUMPRIMENTO DA LEI.

NA VERDADE, DEPOIS DE TAL CONHECIMENTO DEMOROU MAIS DE

DUAS HORAS A CUMPRIR UM DEVER QLTE É A PRÓPRIA LEI QUE O DIZ DE

DIVULGAÇÃO IMEDIATA.

Page 78: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

TAMBÉM AQUI A ARGUIDA DEVERIA ESTAR ORGANIZADA E

FUNCIONAR DE FORMA A, MAL TENDO CONHECIMENTO DE QUE A

INFORMAÇÃO HAVIA DEIXADO DE SER CONFIDENCIAL, DIVULGÁ-LA.

A NECESSIDADE DE EFECTUAR DILIGÊNCIAS BEM COMO O FACTO

DE A ARGUIDA, NO DIA EM CAUSA, ESTAR COM MUITO TRABALHO

DECORRENTE DA DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS DA EMPRESA (QUE

TERA OCORRIDO NO DIA 8 DE AGOSTO DE 2007), RAZÕES INVOCADAS

PELA PROVA TESTEMUNHAL, LEVAM A CONCLUSÃO DE QUE A

ACTUAÇÃO DA ARGUIDA, TAMBÉM ~ f , SE TRADUZIU NA VIOLAÇÃO DE

DEVERES DE CUIDADO A QUE ESTAVA OBRIGADA E DE QUE ERA CAPAZ.

POR UM LADO, AS DILIGÊNCIAS QUE FORAM INVOCADAS COMO

SENDO NECESSÁRIAS A PRÉVIA DIVULGAÇÃO PELA GALP DA

INFORMAÇÃO, NÃO NECESSITARAM, CERTAMENTE, DE MAIS DE DUAS

HORAS PARA SEREM REALIZADAS.

INFORMAÇÃO EXIGE CONHECIMENTO. INFORMA-SE O QUE SE SABE.

NÃO SE CONHECENDO A INFORMAÇÃO OU A PERDA DE

CONFIDENCIALIDADE DA INFORMAÇÃO, NÃO SE PODE INFORMAR O

FACTO QUE DEIXOU DE SER CONFIDENCIAL.

IMEDIATA SIGNIFICA NO MAIS CURTO ESPAÇO DE TEMPO EXIGÍVEL,

PERANTE O CASO CONCRETO - COLOCANDO-NOS EM FACE AO CRITÉRIO

DO "BONUS PATER FAMILIA" E AVALIANDO, CASO A CASO, SE ERA

EXIGÍVEL A UM AGENTE COLOCADO NA MESMA SITUAÇÃO QUE A

ARGUIDA, MUNIDO DOS MESMOS CONHECIMENTOS CONCRETOS, COM A

SUA DIMENSÃO, MEIOS E PESO NO MERCADO E VERIFICAR SE, AINDA

Page 79: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

ASSIM, SERIA EXIGIVEL QUE A C O ~ I C A Ç Ã O HOUVESSE SIDO MAIS

CÉLERE OU SE, PELO CONTRÁRIO, NÃO SERIA EXIGÍVEL, RAZOÁVEL,

EXIGIR QUE TAL INFORMAÇÃO HOUVESSE SIDO PRESTADA EM MOMENTO

ANTERIOR AO QUE, EFECTIVAMENTE, FOI.

EXIGE-SE, CONSEQUENTEMENTE, O RECURSO A VALORAÇÕES

ADICIONAIS QUE, CASO A CASO, DEVERÃO SER PONDERADAS DE MOLDE

A, NO CASO CONCRETO, VERIFICAR SE O DEVER DE COMUNICAÇÃO

IMEDIATA FOI OU NÃO CUMPRIDO PELO AGENTE.

NO CASO CONCRETO, VERIFICA-SE QUE A ARGUIDA TEVE

OPORTUNIDADE, CONHECIMENTO E CAPACIDADE PARA ACTUAR DE

MODO MAIS CÉLERE. NÃO O FEZ POR FALTA DE CUIDADO. DURANTE TAL

PERÍODO AS SUAS ACÇÕES NO MERCADO VALORIZARAM, EM CONTRA-

CÍCLO COM AS DO SECTOR DE MERCADO EM CAUSA (AS ACÇÕES DO

SECTOR ESTAVAM, COMO ESTAVAM ALIÁS AS DA ARGUIDA, A

DESVALORIZAR).

AO NÃO ACTUAR QUANDO PODIA E DEVIA TER FEITO NÃO

COMUNICOU "IMEDIATAMENTE A INFORMAÇÃO E, ASSIM, VIOLOU O

DEVER DE INFORMAÇÃO A QUE ESTAVA ADSTRITA.

MAIS, RESULTA IGUALMENTE, DO CODIGO V. M., DO SEU ARTIGO

388", No 3, A DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS E, ACTUALMENTE, DO No 4

QUE:

"( ...) 4 - SE A LEI OU O REGULAMENTO EXIGIREM QUE DEVER S U A

CUMPRIDO NUM DETERMINADO PRAZO CONSIDERA-SE QUE EXISTE

Page 80: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

INCUMPRIMENTO LOGO QUE O PRAZO FLXADO TENHA SIDO ULTRAPASSADO.

(. , .) ".

TAL SIGNIFICA QUE ESTAMOS PERANTE UMA INFRACÇÃO DE MERA

ACTIVIDADE PRATICADA POR OMISSÃO - BASTA A NÃO DIVULGAÇÃO

IMEDIATA DE UMA INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, PELA ARGUIDA, NOS

TERMOS DADOS COMO PROVADOS, PARA QUE A CONTRA-ORDENAÇÃO EM

CAUSA SE MOSTRE, PELO LADO OBJECTIVO, CONSUMADA.

NA VERDADE, MUITO SIMPLESMENTE, SE ASSIM ACONTECER, SEM

QUE A ARGUIDA TENHA EFECTUADO A COMUNICAÇÃO EM CAUSA, DE

FORMA IMEDIATA, A CONTRA-ORDENAÇÃO MOSTRA-SE, NO QUE TOCA

AOS SEUS ELEMENTOS OBJECTIVOS, CONSUMADA, NÃO SENDO

NECESSÁRIA A PRODUÇÃO DE QUALQUER RESULTADO NÃO SE

TRATANDO, CONSEQUENTEMENTE, DE UMA INFRACÇÃO DE RESULTADO.

MOSTRAM-SE, PORTANTO, PREENCHIDOS OS ELEMENTOS

OBJECTIVOS DO TIPO CONTRA-ORDENACIONAL EM CAUSA.

QUANTO AO ELEMENTO SUBJECTIVO VERIFICA-SE QUE TAMBÉM SE

MOSTRA PREENCHIDO, MAS APENAS A TITULO NEGLIGENTE.

NA VERDADE, RESULTOU APURADO QUE A ARGUIDA AO NÃO CUMPRIR

O DEVER DE COMUNICAÇÃO A QUE ESTAVA VINCULADA, POR FORÇA

DA LEI, AGIU DE FORMA NEGLIGENTE, VIOLANDO UM DEVER DE

CUIDADO A QUE ESTAVA OBRIGADA E DE QUE ERA CAPAZ E QUE SE

TRADUZIA EM TER DILIGENCIADO DE FORMA A QUE, AO TER

CONHECIMENTO DE QUE A INFORMAÇÃO EM CAUSA, NOS AUTOS,

HAVIA SIDO TORNADA PÚBLICA, POR UM DOS PARTICIPANTES NO

Page 81: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

CONSÓRCIO, PROCEDESSE Á DIVULGAÇÃO DA NOTÍCIA EM CAUSA, DE

IMEDIATO E NÃO DEMORANDO MAIS DE DUAS HORAS, CONFORME

DEMOROU, JÁ QUE RESULTOU APURADO QUE A ARGUIDA TOMOU

CONHECIMENTO DA REFERIDA DIVULGAÇÃO NO DIA 9 DE AGOSTO DE

2007, PELO MENOS ÁS 15 HORAS E 28 MINUTOS E DIVULGOU, ELA

PR~PRIA, A INFORMAÇÃO AS 17 HORAS E 38 MINUTOS DO MESMO DIA.

A ACTUAÇÃO DA ARGUIDA, QUANTO AO ELEMENTO SUBJECTIVO,

DE FORMA NEGLIGENTE E NÃO DOLOSA CONSTITUI, IGUALMENTE E POR

FORÇA DO DISPOSTO NO ARTIGO 40Z0, No 1, DO CÓDIGO V. M., A PRÁTICA

DA CONTRA-ORDENAÇÃO SUPRA DESCRITA.

EFECTIVAMENTE, DISPÕE O REFERIDO PRECEITO LEGAL, EM VIGOR

A DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS COMO ACTUALMENTE QUE:

ARTIGO 402."

FORMAS DA INFRACÇAO

" I - OS ILÍCITOS DE MERA ORDENAÇÃO SOCIAL PREVISTOS NESTE

CODIGO SÃO IMPUTADOS A T ~ L O DE DOLO OU DE NEGLIGÊNCIA.

2 - A TENTATIVA DE QUALQUER DOS ILÍCITOS DE MERA ORDENAÇÃO

SOCIAL DESCRITOS NESTE CÓDIGO E PUNÍVEL. "

CONCLUI-SE, ASSIM, QUE APESAR DE NÃO TER RESULTADO

APURADO QUE A ARGUIDA TENHA ACTUADO DOLOSASMENTE - FORMA

COMO FOI CONDENADA PELA ENTIDADE ADMINISTRATIVA - RESULTOU

APURADO QUE ACTUOU NEGLIGENTEMENTE, MOSTRANDO-SE

PREENCHIDOS TODOS OS ELEMENTOS OBJECTIVOS E SUBJECTIVO, NESTE

Page 82: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

CASO, A NEGLIGÊNCIA, DO TIPO DA CONTRA-ORDENAÇÃO EM CAUSA,

NADA MAIS RESTANDO DO QUE CONDENÁ-LA, EM CONFORMIDADE.

FINALMENTE, CUMPRE CONSIDERAR QUE A ARGUIDA, COM A SUA

ACTUAÇÃO, INTEGROU A P ~ T I C A DE UMA CONTRA-ORDENAÇÃO

CONSIDERADA COMO MUITO GRAVE, NOS TERMOS DO DISPOSTO NO

ARTIGO 394, No 1, ALÍNEA I), DO CÓDIGO V. M., EM VIGOR A DATA DA

PRÁTICA DOS FACTOS.

NA VERDADE, DISPÕE TAL NORMA QUE:

Artigo 394. O

Formas organizadas de negociação

" I - Constitui contra-ordenação muito grave:

a) A criação, a manutenção em funcionamento ou a gestão de uma forma organizada de

negociação, a suspensão ou o encerramento da sua actividade fora dos casos e termos

previstos em lei ou regulamento;

b) O firncionamento de mercado regulamentado ou de sistema negociação multilateral

de acordo com regras não registadas na CMVM ou não publicadas;

c) A falta de prestação ao público, pelas entidades gestoras de mercados

regulamentados e desistemas de negociaç60 mzrltilateral, da informação a que estão

o brigadas;

d) A admissão de membros de zrm mercado regulamentado ou de um sistema de

negociação multilateral pela respectiva entidade gestora, sem os requisitos exigidos

por lei ou regulamento;

e) A-falta de publicidade das sessões de mercados regulamentados;

Page 83: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

.f) A admissão de instrumentos financeiros à negociação em mercado regulamentado

com violação das regras legais e regulamentares;

gj A .falta de divulgação do prospecto de admissão, das respectivas adenda e

rectljicações, ou de informações necessárias à sua actualização, ou a sua divulgação

sem aprovação prévia pela entidade

competente;

h) A falta de divulgação da informação exigida pelos emitentes de valores mobiliúrios

negociados em mercado regulamentado;

i ) A violação do regime da informação privilegiada, excepto no caso em que tal facto

constitua crime. "

ORA, INEQUIVOCAMENTE, UMA VEZ QUE A ARGUIDA, COM A SUA

ACTUAÇÃO DADA COMO PROVADA, VIOLOU O REGIME DA INFORMAÇÃO

PRIVILIGIADA ESTABELECIDO NO ARTIGO 248O, No 1, DO CÓDIGO DOS

VALORES MOBILIARIOS, A CONTRA-ORDENAÇÃO EM CAUSA É MUITO

GRAVE E É NESSES TERMOS QUE DEVE SER PUNIDA.

NESTES TERMOS APLICAR-SE-Á, AO CASO DOS AUTOS, A LEI EM

VIGOR A DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS, NÃO SÓ POR QUE É A REGRA,

BEM COMO PELO FACTO DE A LEI, ACTUALMENTE, EM VIGOR SER MAIS

DESFAVORÁVEL A ARGUIDA QUE, NA ALTURA DOS FACTOS.

POR SUA VEZ, CUMPRE ATENTAR QUE O ARTIGO 388, NO1, ALÍNEA A),

DO CÓDIGO V. M., NA VERSÃO QUE VIGORAVA A DATA DA PRÁTICA DOS

FACTOS, DISPUNHA NOS SEGUINTES TERMOS:

ARTIGO 388."

DISPOSIÇÕES COMUNS

Page 84: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

" 1 - AS CONTRA -ORDENAÇÕES PREVISTAS NESTA SECÇÃO SÃO

A PLICÁVEIS AS SEGUINTES COIMAS:

A) ENTRE é' 25 000 E é' 2500000, QUANDO SEJAM QUALIFICADAS COMO

MUITO GRAVES;( ...) "

DESFAVORAVEL A ARGUIDA, PELO QUE SER& IGUALMENTE, APLICADA

A LEI EM VIGOR Á DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS.

É A SEGUINTE A FORMA DE PLTNIÇÃO DAS CONTRA-ORDENAÇÕES

MUITO GRAVES SEGUNDO A VERSÃO ACTUAL DO CÓDIGO DOS VALORES

M O B I L I ~ I O S :

ARTIGO 388."

DISPOSIÇ~ES COMUNS

" 1 - À s CONTRA -ORDENAÇÕES PREVISTAS NESTA SECÇÃO SÃO

APLICÁVEIS AS SEGUINTES COIMAS:

A) ENTRE é' 25 000 E é' 5 000 000, QUANDO SEJAM QUALIFICADAS COMO

MUITO GRA VES;

B) ENTRE é' 12 500 E € 2 500 000, QUANDO SEJAM QUALIFICADAS COMO

GRA VES; (. . .) ".

DE NOTAR, FINALMENTE, QE A ARGUIDA ALEGA A

INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 248", DO CÓDIGO DOS VALORES

MOBILIARIOS, NOMEDAMENTE, POR O NO I , DO CITADO PRECEITO LEGAL

NÃO ESPECIFICAR, MINIMAMENTE, OS ELEMENTO DO TIPO

CONTRAORDENACIONAL EM CAUSA - ASSIM, A ALÍNEA A), DO REFERIDO

PRECEITO LEGAL, CONTÉM EXPRESSÕES VAGAS E GENÉRICAS, TAIS

Page 85: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

COMO "DIVULGAM IMEDIATAMENTE"; u ~ ~ ~ ~ ~ ~ ç Ã o QUE TENHA

CARÁCTER PRECISO" E "INFORMAÇÃO QUE SERIA IDONEA PARA

INFLUENCIAR DE MANEIRA SENSÍVEL O PREÇO" E O ARTIGO 3490, DO

CÓDIGO DOS VALORES MOBILIÁRIOS CONSIDERA QUE CONSTITUI

CONTRA-ORDENAÇÃO MUITO GRAVE "A VIOLAÇÃO DO REGIME DA

INFORMAÇÃO PRWILEGUDA" - CONCLUINDO A ARGUIDA PELA VIOLAÇÃO

DO ARTIGO 2g0, DA CONSTITUIÇÃO, OU SEJA, PELA VIOLAÇÃO DOS

PRÍNCIPIOS BASILARES DO DIREITO PORTUGUÊS DA LEGALIDADE E DA

TIPICIDADE.

PORÉM, NÃO ASSISTE QUALQUER RAzÃo QUANTO Á INVOCADA

INCONSTITUCIONALIDADE.

CUMPRE TER EM ATENÇÃO QUE O LEGISLADOR USA, UMAS VEZES,

CONCEITOS TÉCNICO-JURIDICOS E, OUTRAS VEZES, CONCEITOS

RECOLHIDOS DA LINGUAGEM NATURAL.

O QUE OS REFERIDOS PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS IMPÕEM É QUE

AS NORMAS LEGAIS INCRIMINADORAS SEJAM CERTAS, DETERMINANDO

COM SUFICIENTE PREVISÃO O FACTO CRIMINOS, A ACÇÃO OU OMISSÃO EM

QUE O FACTO CONSISTE NÃO PODENDO SER INFERIDO DA LEI; TEM DE SER

DEFINIDO PELA LEI, NÃO PODENDO AS LEIS SER VAGAS E AS INFRACÇÕES

NÃO PODEM SER DESCRITAS DE MODO A PERMITIR AS UAIS DIVERSAS

INTERPRETAÇ~ES POR PARTE DE QUEM AS APLIQUE.

ORA, O DISPOSITWO LEGAL EM CAUSA NÃO PADECE DE TAL

INCERTEZA E IMPRECISÃO, NÃO PERMITINDO, O ARTIGO 248-0 CÓDIGO

DOS VALORES MOBILIÁRIOS, QUE QUEM APLIQUE TAL NORMA TENHA UMA

Page 86: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

TAL M R G E M DE LIBERDADE QUE SE POSSA TRADUZIR EM VERDADEIRA

ARBITRARIEDADE.

No trecho agora transcrito, a sentença efectua um trabalho aprofundado e

podemos dizer exaustivo de subsunção dos factos provados nas normas jurídicas

aplichveis do CVM, em termos de poder concluir que a descoberta de petróleo no poço

Malange-1, explorado por consórcio integrado, nomeadamente, pela ora arguida e ela

empresa «Chevron», integra o universo de informações privilegiadas definido pela al. a)

do no 1 do art. 248" do CVM, o que constituiu a arguida, por força do disposto no

proémio desse normativo, no dever legal de divulgação imediata de tal informação, pelo

menos a partir do momento em que tomou conhecimento de que o outro referido

membro do consórcio tinha tomado pública tal informação, o que sucedeu, o mais

tardar, As 15h28m do dia 9/8/07

Nesse sentido, concluiu o Tribunal «a quo» que, ao divulgar a informação

em causa com uma dilação superior a duas horas (17h38m), a arguida violou o referido

dever de divulgação imediata, sendo-lhe tal violação censurável a título de negligência.

Nesta parte, a sentença recorrida apresenta-se correcta e exaustivamente

fundamentada, não nos ocorrendo que possamos acrescentar algo de relevante aquilo

que o Tribunal «a quo» deixou expresso.

Por outro lado, os argumentos alinhados na motivação do recurso no

sentido de excluir a tipicidade da apurada conduta da arguida e a sua censwabilidade a

título de negligência, não se nos afiguram susceptíveis de desmentir a bondade da

fundamentação da decisão.

Page 87: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

Assim, pretende a recorrente, também quanto a esta matéria, invocar em

seu beneficio a faculdade diferimento de divulgação da informação prevista no art.

248'-A do CVM.

Conforme anteriormente deixámos expresso, os requisitos do diferimento

da divulgação da informação, definidos pelo no 1 do art. 248'-A do CVM, não se

mostram reunidos no caso concreto.

A recorrente invoca ainda, em apoio da sua pretensão, os acordos de

confidencialidade, que diz ter celebrado com os restantes membros do consórcio e que

previam que a informação em causa não fosse tornada pública antes de 10/8/07.

Sobre esta questão, também já nos pronunciámos supra, no sentido de que

as invocadas de cláusulas de confidencialidade não são susceptíveis de postergar o

dever legal de divulgação da informação privilegiada, imposto pelo no 1 do art. 248' do

CVM

A aplicação deste princípio até as últimas consequências leva-nos

necessariamente a questionar se a não divulgação da descoberta de petróleo no poço

identificado nos autos, no período que mediou entre essa descoberta, ocorrida em Março

de 2007, e sua divulgação pela ((Chevron em 9/8/07, é ou não integradora de ilícito de

mera ordenação social (contra-ordenação), questão que não foi considerada, quer na

decisão administrativa, quer na sentença agora sob recurso.

Por se tratar de questão não apreciada na sentença recorrida, entendemos

que se encontra subtraída ao objecto de presente recurso e que não deveremos dela

conhecer, extraindo da mesma conclusões para efeitos decisórios.

De todo o modo, mesmo que se entenda, ao contrário daquilo que

defendemos, que os acordos de confidencialidade são dotados de alguma eficácia, em

Page 88: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

termos de fazer diferir o cumprimento do dever de divulgação da informação, esse

eventual diferimento sempre terá ficado sem efeito a partir do momento em que um dos

sujeitos desse acordo tomou pública a informação em causa, com isso fazendo deixar de

subsistir o requisito legal do diferimento previsto na al. c) do no 1 do art. 248"-A do

CVM, a saber a manutenção da confidencialidade da informação.

Desde que a arguida tomou conhecimento de que a ((Chevron)) tinha

divulgado publicamente a informação a que vimos aludindo, nada mais lhe restaria fazer

que cumprir o dever fixado pelo no 1 do art. 248' do CVM, isto é proceder

imediatamente à divulgaç20 da informação no SDI da CMVM, cuja obrigatoriedade

então se lhe impunha, sem margem para dúvidas.

A este respeito, a arguida alega, no sentido de questionar a tipicidade da

sua conduta, que o conceito ((imediatamente)), incluido na norma legal cuja violação lhe

é imputada, é impreciso, sem que lhe assista razão, em nosso entender.

Com efeito, no contexto da norma do no 1 do art. 248' do CVM, a locução

((imediatamente)) não pode significar sen%o o lapso de tempo mais curto possível, em

h ç 2 o dos meios técnicos acessíveis a generalidade das empresas que operam no

mercado em causa.

Os meios tecnológicos actualmente á disposição de empresas da

dimensão da recorrente permitem uma resposta às situações susceptíveis de as constituir

no dever de divulgação da informaç20 ((imediata)), no sentido quase literal do termo,

isto é sem mediação temporal entre o conhecimento da situação e a resposta à mesma, o

que exclui, á partida, a admissibilidade de uma dilaç2o superior a duas horas como

aquela que se verificou.

Page 89: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

Convirá salientar igualmente que o dever de divulgação da informação

privilegiada previsto no art. 248' no 1 al. a) do CVM não se suspende nos períodos em

que em que os mercados se encontram encerrados, conforme melhor explica Filipe

Matias Santos (op. cit., págs. 86 e 87): ((Resolvendo a questão colocada, esclarece-se

que o horário de negociação irreleva para efeitos de determinação do momento em que

o emitente tem de cumprir o dever de divulgação da informação privilegiada. Com

efeito, como se viu, o art. 248O/l/a do CdVM consagra um elemento de aptidão. Este

elemento exige que a informação, para que seja qualificada de privilegiada, tenha

capacidade para influir no preço dos valores mobiliários ou dos instrumentos

subjacentes ou derivados com eles relacionados, mas não exige qualquer produção

efectiva de efeitos.

Os horários de funcionamento dos mercados não podem, pois,

condicionar aquela aptidão que é, por si, uma mera qualidade intrínseca da informação.

Aqueles horários poderão apenas condicionar a produção efectiva de efeitos da

informação divulgada nos mercados que estejam encerrados. Mas essa produção

efectiva de efeitos não constitui pressuposto nem consequência infiaccional do dever

inscrito no art. 248O/l/a do CdVM. O que, em pontual conclusão, significa que o

emitente fica sempre constituído no dever de divulgar imediatamente a informação

privilegiada, mesmo que tal facto ocorra fora do horário de funcionamento dos

mercados)) (itálicos no original).

Quanto ao nexo de imputação subjectiva, diremos que qualquer empresa

emitente de valores mobiliários admitidos a negociação em mercado regulamentado ou

que tenha requerido a respectiva admissão a um mercado com essas características tem

obrigação de saber que se encontra vinculada ao dever de divulgação da informação

Page 90: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

privilegiada, sempre que se verifique qualquer das situações prefiguradas nas als. a) e b)

do no 1 do art. 248" do CVM.

Neste contexto, incumbe a essas entidades apetrecharem as respectivas

estruturas de forma a poderem dar cumprimento a esse dever legal, com a prontidão

exigida pela lei, sempre que estejam reunidos os seus pressupostos.

Por força do disposto no art. 32' do RGCO, que manda aplicar

subsidiariamente ao regime substantivo das contra-ordenações, as normas do Código

Penal, a definição de negligência que vigora para essa categoria de infracções é a do art.

14' do referido Código, que é do seguinte teor:

Age com negligência quem, por não proceder com o cuidado a que,

segundo as circunstâncias, está obrigado e de que é capaz:

a) Representar como possível a realização de um facto que preenche um

tipo de crime mas actuar sem se conformar com essa realização; ou

b) Não chegar sequer a representar a possibilidade de realização do

facto.

Como pode verificar-se, o elemento central do conceito de negligência

reside na omissão de um dever de cuidado a que o agente está obrigado e de que é

capaz.

No caso concreto, o dever de cuidado omitido é aquele a que se faz

referência na segunda parte do ponto 23 da factualidade provada, isto é o não ter a

arguido providenciado (ao nível do apetrechamento da sua estrutura ou da sua

organização interna) de forma a que, quando tomou conhecimento da divulgação

publica pela Chevron da informação que até então permanecera confidencial, tivesse

Page 91: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

procedido à divulgação imediata da noticia conforme a lei lhe impunha e não com duas

horas de dilação, como efectivamente sucedeu.

A arguida argumenta, retoricamente, que a lei não a obriga a ter em

permanência alguém destacado 24 horas por dia e 7 dias por semana, sem qualquer

pausa, pronto a proceder à divulgação das informações privilegiadas, sempre que seja

caso disso.

Seguramente, caberá a cada entidade interessada encontrar a forma de se

desincumbir do ónus de assegurar, a todo o momento em que seja necessário, a

comunicação, da forma e no tempo prescritos pela lei, das informações a que se referem

as alíneas do no 1 do art. 248' do CVM.

Os procedimentos a adoptar para o efeito poderão nem sempre ser os

mesmos, podendo variar em função de diversos factores, como sejam as dimensões da

empresa, o seu ramo de actividade ou os negócios concretos em que esteja envolvida.

De todo o modo, a entidade terá de actuar de forma a assegurar o

cumprimento em devido tempo do dever imposto pelo no 1 do art. 248' do CVM,

incorrendo em responsabilidade contra-ordenacional se o não lograr, a menos que a falta

de obtenção desse resultado não lhe seja imputável, o que se não vislumbra.

Nesta conformidade, a conduta da arguida em apreço não pode deixar de

lhe ser censurada a título de negligência.

A recorrente veio arguir a inconstitucionalidade do no 1 do art. 248' do

CVM, na interpretação perfilhada pela decisão recorrida e que aqui, no essencial,

retomamos, por violação do princípio da tipicidade e da legalidade penais, consagrado

pelo no 1 do art. 29' da CRP, em virtude de fazer incluir na previsão daquele preceito o

quer nele não está previsto e de se basear em conceitos conclusivos e inconclusivos.

Page 92: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

A questão da inconstitucionalidade agora referida foi já apreciada, em

temos negativos, na sentença recorrida.

O no 1 do art. 29" da CRP, cuja transgressão a recorrente invoca, dispõe:

Ninguém pode ser sentenciado criminalmente senão em virtude de lei

anterior que declare punível a acção ou omissão, nem sofier medida de segurança

cujos pressupostos não estejam fixados em, lei anterior.

O primeiro fundamento da inconstitucionalidade arguida nem sequer

chega a sê-10, pois apenas traduz a divergência entre a valoração jurídica da apurada

conduta da arguida feita pelo Tribunal «a que» e aquela que a recorrente propugna, não

tendo autonomia a questão da inconstitucionalidade.

Relativamente aos supostos conceitos «conclusivos e inconclusivos~~ em

que se terá baseado a interpretação do no 1 do art. 248" do CVM sufragada pela decisão

sob recurso, não se vislumbra exactamente em que é que a recorrente fundamenta tal

asserção.

Em todo o caso, o texto da norma jurídica define os contornos do dever de

divulgação da informação privilegiada em termos devidamente perceptíveis para os

destinatários de tal normação, não se nos afigurando que contenha conceitos imprecisos.

O único elemento da previsão da norma em causa, que poderá causar

alguma perplexidade ao cidadão comum residirá na idoneidade da informação para

influenciar de forma sensível o preço dos valores mobiliários emitidos pelo agente.

No entanto, importa ter presente que o destinatário da norma do no 1 do

art. 248" do CVM não é a generalidade dos cidadãos, mas sim um conjunto de

operadores que intervêm num determinado mercado e que, nessa qualidade, silo dotados

de especiais conhecimentos de que o cidadão comum não dispõe.

Page 93: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

Tais conhecimentos permitem aos operadores do mercado figurar em

cada caso o juízo de prognose que formularia um investidor razoável no sentido de a

informação ser ou não relevante para a formação das suas decisões de investimento,

sendo na primeira hipótese susceptível de influenciar o preço dos valores mobiliários.

Ainda assim, importa salientar que, no caso concreto, a informação em

causa (a descoberta de petróleo num. poço explorado por um consórcio de que a arguida

faz parte) é susceptível, mesmo aos olhos de uma pessoa de conhecimentos médios, sem

especial preparação na matéria em referência, de influenciar positivamente o preço dos

valores mobiliários emitidos pela recorrente.

Nesta conformidade, não se verifica qualquer inconstitucionalidade do no

1 do art. 248" do CVM, nos termos configurados na motivação de recurso.

Apreciaremos, por fim, as questões suscitadas pela recorrente relativas a

medida e espécie de sanção que lhe foi aplicada.

Pretende a arguida que lhe seja aplicada uma advertência ou admoestação

ou que seja reduzida para o mínimo legal de 25.000 euros o montante da coima em que

foi condenado e decretada a suspensão da sanção.

Sobre a matéria da escolha e medida da sanção, diz-se na sentença

recorrida:

NOS TERMOS DO DISPOSTO NO ART. 18", DO DL N.O 433182, DE 27 DE

OUTUBRO, A DETERMINAÇÃO DA MEDIDA DA COIMA FAR-SE-Á EM

FUNÇÃO DA GRAVIDADE DA CONTRA-ORDENAÇÃO, DA CULPA E DA

SITUAÇÃO ECONÓMICA DO AGENTE, ACRESCENTANDO QUE, SEMPRE

QUE POSSÍVEL, A COIMA DEVERÁ EXCEDER O BENEFICIO ECONÓMICO

QUE O AGENTE RETIROU DA PRÁTICA DA CONTRA-ORDENAÇÃO.

Page 94: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

A COIMA APLICÁVEL TEM UMA MOLDURA ABSTRACTA ENTRE €25

CUMPRE, PORÉM, CONSIDERAR QUE A CONTRA-ORDENAÇÃO FOI

PRATICADA A TITULO NEGLIGENTE, PELO QUE E NOS TERMOS DO

DISPOSTO NO ARTIGO 17", No 4, DO R.G.C.O., UMA VEZ QUE O SUPRA

TRANSCRITO ARTIGO 3880, NO i , ALÍNEA A), DO CÓDIGO V. M. NA VERSÃO

APLICÁVEL (A QUE VIGORAVA A DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS) AO

DEFENIR AS MOLDURAS ABSTRACTAS DAS COIMAS, NÃO DISTINGUE AS

PRATICADAS A TITULO DOLOSO DAS PRATICADAS A TITULO

NEGLIGENTE, TEMOS QUE O LIMITE MÍNIMO É IGUAL EM AMBAS AS

SITUAÇÕES, ENQUANTO QUE O LIMITE MÁXIMO A APLICAR QUANTO AO

COMPORTAMENTO NEGLIGENTE CORRESPONDE A METADE DO LIMITE

MÁXIMO APLICÁVEL AO COMPORTAMENTO DOLOSO.

EM CONCLUSÃO, NO PRESENTE CASO, A COIMA ABSTRACTA

APLICÁVEL TEM COMO LIMITE WIINIMO €25.000 E COMO LIMITE MÁXIMO

NA REFERIDA MOLDURA MANTÉM O MINIMO SUPRA REFERIDO SENDO

REDUZIDO A METADE O VALOR MÁXIMO APLICÁVEL.

ASSIM, A ARGUIDA SERÁ PUNIDA COM UMA COIMA A FIXAR ENTRE

€25 000 E €1.250.000, UMA VEZ QUE A CONTRA-ORDENAÇÃO FOI

PRATICADA POR PESSOA COLECTIVA, A TÍTULO NEGLIGENTE E DA

LEGISLAÇÃO APLICÁVEL NAO RESULTAM FIXADAS OUTRAS COIMAS,

PELO QUE CUMPRE RECORRER AO REGIME QUE RESULTA DO R.G.C.O..

CONSTATANDO-SE, ASSIM, A VIOLAÇÃO, PELA ARGUIDA DO

DISPOSTO NO ARTIGO 248", No 1, ALÍNEA A) E 2, PUNIDA NOS TERMOS DO

Page 95: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

DISPOSTO NOS ARTIGOS 3880, NOS 1, ALÍNEA A) E 3, 3940, NO i , ALÍNEA I),

401" E 402", TODOS DO CÓDIGO DOS VALORES MOBILIÁRIOS, APROVADO

PELO DEC.-LEI 486199, DE 1311 1, POR REFERÊNCIA AO ARTIGO 17", DO

R.G.C.O., CUMPRE VERIFICAR SE A COIMA APLICADA PELA ENTIDADE

ADMINISTRATIVA - €50 000 - É OU NÃO DE MANTER, SENDO CERTO QUE O

LIMITE MÁXIMO, EM CONCRETO, DA COIMA A APLICAR, PELO TRIBUNAL,

É DE €1.250 000 E NÃO O MONTANTE EM QUE FOI CONDENADA, A

ARGUIDA, PELA ENTIDADE ADMINISTRATIVA - ATENTO O FACTO DE,

TRATANDO-SE DE UMA INFRACÇÃO AO CÓDIGO V. M, NÃO VIGORA A

PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN P W S .

A GRAVIDADE DA CONTRA-ORDENAÇÃO - ILICITUDE DO FACTO - É

ELEVADA, TRADUZIU-SE NO VIOLAR DA NORMA JURÍDICA, OMITINDO

UMA COMUNICAÇÃO, DURANTE MAIS DE DUAS HORAS, AOS MERCADOS

QUE, A SER COMUNICADA IMEDIATAMENTE, TINHA APTIDÃO A ALTERAR

O COMPORTAMENTO DOS POTENCIAIS INVESTIDORES POTENCIANDO,

CONSEQUENTEMENTE, O VALOR DAS ACÇÕES DA ARGUIDA.

A ~NTENSIDADE DA CULPA DA ARGUIDA - NEGLIGÊNCIA - DESDE

LOGO ATENUA A SUA RESPONSABILIDADE.

AINDA COMO CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES, DA SUA CONDUTA, O

TRIBUNAL CONSIDERA O FACTO DE NÃO TER RESULTADO PROVADO O

VALOR DO BENEFICIO ECONÓMICO PARA A ARGUIDA TENDO-SE,

IGUALMENTE, EM ATENÇÃO O TEMPO DECORRIDO ENTRE A DATA DA

PRÁTICA DOS FACTOS E A DATA DA CONDENAÇÃO PELO TRIBUNAL,

Page 96: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

PARA ALÉM DE TAMBÉM NÃO TER RESULTADO PROVADO QUE A

ARGUIDA TENHA ANTECEDENTES CONTRA-ORDENACIONAIS.

NÃO RESULTA, ASSIM, PROVADA QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA QUE

JUSTIFIQUE A APLICAÇÃO, A ARGUIDA, DE UMA COIMA DE VALOR QUE

NÃO SEJA PRÓXIMO DO MINIMO LEGAL, PELO QUE SE APLICARÁ UMA

COIMA NO VALOR DE €30.000, SENDO CERTO QUE NÃO SE JUSTIFICA A

ATENUAÇÃO ESPECIAL DA COIMA, BEM COMO NÃO SE JUSTIFICA A

APLICAÇÃO DE UMA ADMOESTAÇÃO.

ASSIM SENDO, SERÁ A COIMA A APLICAR, PELA PRÁTICA DA

CONTRA-ORDENAÇÃO EM CAUSA, REDUZIDA DOS €50 000 APLICADOS A

ARGUIDA, PELA ENTIDADE ADMINISTRATIVA, PARA €30 000.

Com vista a dirimir a questão que agora nos ocupa, importará ter

presentes, para além dos normativos referidos no trecho da sentença recorrida agora

transcrito, algumas disposições do CVM.

Assim, o art. 405O, sob a epígrafe ((Determinação da sanção aplicável)),

estatui (omitindo-se a parte aplicável só a pessoas singulares):

I - A determinação da coima concreta e das sanções acessórias faz-se

em função da ilicitude concreta do facto, da culpa do agente, dos benefícios obtidos e

das exigências de prevenção, tendo ainda em conta a natureza singular ou colectiva do

agente.

2 - Na determinação da ilicitude concreta do facto e da culpa das

pessoas colectivas e entidades equiparadas, atende-se, entre outras, as seguintes

circunstâncias:

96 ; J , , , L . i,, ! , ! , -e,bi(,i;t; ;'! <::x .'. , ,. .. ..! , > : : \ j 7' ,'$.L(- ,J,i

Page 97: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

a) O perigo ou o dano causados aos investidores ou ao mercado de

valores mobiliários ou de outros instrumentos financeiros;

b) O carácter ocasional ou reiterado da inji-acção;

c) A existência de actos de ocultação tendentes a dijicultar a descoberta

da inj-acção;

d) A existência de actos do agente destinados a, por sua iniciativa,

reparar os danos ou obviar aos perigos causados pela inji-acção.

3 - ....

4 - Na determinação da sanção aplicável são ainda tomadas em conta a

situação económica e a conduta anterior do agente.

Sobre o procedimento de advertência dispõe o art. 4 13':

1 - Quando a contra-ordenação consistir em irregularidade sanável da

qual não tenham resultado prejuízos para os investidores ou para o mercado de valores

mobiliários ou outros instrumentos financeiros, a CMVM pode advertir o inji-actor,

notijicando-o para sanar a irregularidade.

2 - Se o inji-actor não sanar a irregularidade no prazo que lhe for jxado,

o processo de contra-ordenação continua a sua tramitação normal.

' 3 - Sanada a irregularidade, o processo é arquivado e a advertência

torna-se definitiva, como decisão condenatória, não podendo o mesmo facto voltar a

ser apreciado como contra-ordenação.

A suspensão da execução da sanção é regulada pelo art. 4 15':

1 - A CMVM pode suspender, total ou parcialmente, a execução da

sanção.

Page 98: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

'TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

2 - A suspensão pode ficar condicionada ao cumprimento de certas

obrigações, designadamente as consideradas necessárias para a regularização de

situações ilegais, à reparação de danos ou à prevenção de perigos para o mercado de

valores mobiliários ou de outros instrumentos financeiros ou para os investidores.

3 - O tempo de suspensão da sanção é fixado entre dois e cinco anos,

contando-se o seu início a partir da data em que se esgotar o prazo da impugnação

judicial da decisão condenatória.

4 - A suspensão não abrange custas.

5 - Decorrido o tempo de suspensão sem que o arguido tenha praticado

qualquer ilícito criminal ou de mera ordenação social previsto neste Código, e sem que

tenha violado as obrigações que lhe tenham sido impostas, fica a condenação sem

efeito, procedendo-se, no caso contrário, à execução da sanção aplicada.

Por fim, a respeito da figura da admoestação dispõe o no 1 do art. 5 l0 do

RGCO:

Quando a reduzida gravidade da infracção e da culpa do agente o

justifique, pode a entidade competente limitar-se a proferir uma admoestação.

A recorrente peticionou que lhe fosse aplicada uma advertência ou urna

admoestação, como se tratasse, aparentemente, da mesma medida.

No entanto, conforme pode inferir-se dos normativos legais que as

prevêem, trata-se de duas figuras jurídicas distintas, que assentam na verificação de

pressupostos diferentes.

Além disso, o procedimento de advertência é privativo das contra-

ordenações previstas no CVM, enquanto a admoestação C aplicável, em abstracto, a

qualquer ilícito de mera ordenação social.

Page 99: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

A aplicação do procedimento tem como principal pressuposto que a

infracção em causa se reconduza a uma ((irregularidade sanável)).

Nenhuma disposição do CVM esclarece o deve entender-se por

((irregularidade sanável)) para o efeito previsto no no 1 do art. 413' desse diploma, não

se nos afigurando que o conceito homónimo próprio do direito processual possa ser de

alguma utilidade no trabalho de interpretação desta norma.

De igual modo, não esclarece o CVM se por irregularidade deve

entender-se toda e qualquer infracção as suas normas susceptível de punição enquanto

contra-ordenação ou se subjaz ao conceito alguma hierarquia entre infracções, sendo

que, na última hipótese, tão pouco está estabelecido o critério que deve presidir a tal

hierarquização.

Em todo o caso, o procedimento em referência só poderá ser adoptado

nas situações em que a conduta integradora da contra-ordenação tenha natureza, isto é

quando for possível repor o estado de coisas que se verificaria se a infracção não tivesse

sido cometida.

Ora, é essa reposição que não se nos afigura viável, no caso concreto.

O no 1 do art. 248" do CVM impõe às entidades emitentes de certos

valores mobiliários não só o dever de divulgar as informações tipificadas nesse

normativo', mas sobretudo o dever de efectuar essa divulgação ((imediatamente)) após

terem tomado conhecimento do facto que obriga à sua efectivação.

Neste contexto, o factor temporal assume uma relevância decisiva.

A disposição do no 1 do art. 248" do CVM visa garantir a tutela avançada

do principio da igualdade entre investidores no acesso à informação relevante para a

formação das suas decisões de investimento.

Page 100: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

Nesse sentido, a referida norma legal procura evitar a ocorrência de um

hiato temporal significativo entre o momento em que uma informação relevante chega

ao conhecimento de um número restrito de pessoas e aquele em que se toma acessível a

generalidade dos investidores, de forma não dar azo a que, nesse intervalo de tempo,

alguém possa fazer uso ilegítimo dessa informação, antes de os restantes investidores

terem acesso a ela.

Assim, a partir do momento em que a entidade emitente toma

conhecimento de urna informação privilegiada, nos termos definidos pelo no 1 do art.

248' do CVM e não a divulga ((imediatamente)), no sentido acima enunciado, está

criado o pèrigo abstracto que essa norma visava evitar.

A posterior divulgação da informação pelo emitente é idónea a fazer

cessar, a partir do momento em que é feita, o perigo abstracto originado pela sua

omissão, mas não é susceptível, como é óbvio, de anular retroactivamente a situação de

perigo abstracto já verificada.

Nesta conformidade, teremos de concluir que não se justifica proceder a

notificação da arguida para proceder a «sanação» da infracção cometida, nem declarar

esta sanada em virtude da divulgação por ela efectuada da informação em causa nos

autos, as 17h38m do dia 9/8/07.

Por conseguinte, não será aplicável h situação em apreço o procedimento

de advertência previsto no art. 41 3O do CVM.

Tratando agora de apreciar da viabilidade da aplicação a arguido de urna

admoestação, nos termos do no 1 do art. 51' do RGCO, diremos que esta disposição

legal prevê tal medida para os casos de reduzida gravidade do grau de culpa do agente e

Page 101: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

da infracção concretamente cometida, não estabelecendo qualquer limite a sua aplicação

em função da moldura sancionatória abstractamente cominada.

Ainda assim, convirá ter presente que as contra-ordenações previstas pelo

CVM estão hierarquizadas em muito graves, graves e menos graves, inserindo-se a

infracção praticada pela arguida no mais elevado dos referidos patamares de gravidade

(arts. 388" no 1 e 389" no 1 al. b) do CVM).

Embora possamos dar de barato que, no caso concreto, o grau de ilicitude

da infracção e a de culpa arguida se situam a um nível relativamente pouco elevado, a

situação em apreço corresponde, ainda assim, a um certo padrão de mediania, não se

apresentando aqueles factores a um nível tão diminuto, ao ponto de remeter a conduta

da arguida para o domínio das ((bagatelas contra-ordenacionais)), para qual está pensada

a figura da admoestação.

Consequentemente, não haverá lugar a aplicação a arguida da medida

sancionatória em referência.

Não sendo de aplicar ao caso em apreço o procedimento de advertência

ou uma admoestação, fica assente que a infracção cometida pela arguida terá ser punida

com coima, pelo que nos ocuparemos, de seguida, da medida concreta desta.

Para tanto, tomaremos em consideração os critérios definidos nos nos 1, 2

e 4 do art. 405" do CVM.

Embora o CVM, ao contrário do que sucede com outra legislação, não

estabeleça penalidades diferenciadas para os agentes das contra-ordenações nela

previstas, em função da sua natureza de pessoas singulares ou pessoas colectivas,

sempre se dirá que a circunstância da arguida ser uma pessoa, colectiva pesará, em sede

de determinação do montante da coima, no sentido da sua elevação.

Page 102: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

As infracções ao disposto no CVM suscitam exigências significativas de

prevenção geral, tendo em conta as suas potenciais consequências nefastas para

economia geral.

No caso concreto, os imperativos de prevenção especial não são

particularmente elevadas, tendo em consideração que, pelo menos ao tempo da prolação

da sentença em primeira instância, não eram conhecidas a arguida outras condenações

em coima.

Não há notícia que a arguida tenha retirado algum benefício da conduta

sancionada.

Os factos praticados pela arguida e punidos a título de contra-ordenação

não causaram dano aos investidores ou o mercado de valores mobiliários, nem perigo

concreto de verificação desses danos, mas tal circunstância não deverá ser

sobrevalorizada, pois a infracção cometida pela arguida é de ((perigo abstracto)).

Consequentemente, fica prejudicada a existência de factos destinados a

reparar os danos ou a obviar ao perigo concreto que pudessem ter sido causados pela

conduta em apreço.

Não há conhecimento da prática de factos tendentes a ocultar a infracção

e a dificultar a sua descoberta.

Milita a favor da arguida o carácter isolado da infracção.

Quanto a situação económica da arguida, ficou apurado que esta tinha, a

data dos factos, uma capitalização bolsista de cerca de 9.000 milhões de euros (ponto 17

da matéria provada), o que é revelador de uma realidade empresarial dotada de

apreciável poder econbmico.

Page 103: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBCINAL DA RELAÇAO DE LISBOA

Considerados no seu conjunto os parâmetros enunciados, teremos de

concluir que, ao fixar em 30.000 euros o montante da coima aplicada a arguida, dentro

de uma moldura sancionatória que vai de 25.000 a 1.250.000 euros, o Tribunal «a quo»

decidiu de forma justa e equilibrada, não se justificando a respectiva redução para o

mínimo legal, peticionada pela recorrente, mas tão pouco a «reposição» do montante

fixado na decisão administrativa (50.000 euros), como entende a CMVM.

Consequentemente, impõe-se confirmar a decisão recorrida no que ao

montante da coima respeita.

Uma vez assente a manutenção da medida da coima decida pela primeira

instância, impõe-se averiguar se será admissivel a suspensão da execução da sanção, ao

abrigo do disposto no art. 41 5' do CVM.

Este normativo legal não define os pressupostos da medida suspensiva

nele prevista.

Atento o princípio da aplicação subsidiária das normas do Código Penal

ao regime substantivo das contra-ordenações, consagrado pelo art. 32' do RGCO, somos

entender que deveremos nos socorrer, em ordem a determinar os pressupostos da

suspensão da execução da coima prevista no art. 415' do CVM, do disposto no no 1 do

art. 50" do CP, a respeito da suspensão da execução de penas de prisão, que é do

seguinte teor:

O tribunal suspende a execução da pena de prisão aplicada em medida

não superior a cinco anos se, atendendo à personalidade do agente, as condições da

sua vida, à sua conduta anterior e posterior ao crime e às circunstâncias deste concluir

que a simples censura do facto e a ameaça da prisão realizam de forma adequada e

suJiciente asJinalidades da punição.

Page 104: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

O no 1 do art. 40" do CP estabelece como finalidade da aplicação de penas

a protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade.

Nesta ordem de ideias, a suspensão da execução da coima prevista no art.

415' do CVM só poderá ter lugar quando for possível a formulação, pela CMVM, na

fase administrativa do processo, ou pelo Tribunal, na sua fase judicial, de um juízo de

prognose no sentido de que a censura do facto e a ameaça da sanção serão suficientes

para alcançar as finalidades da punição, a saber a prevenção geral e especial da prática

de infracções ao disposto naquele Código e a reintegração social da arguida.

Embora a arguida não registe anteriores condenações em coima, pelo

menos tanto quanto resulta da sentença, C duvidoso que a ameaça da sanção agora

cominada, associada a censura do facto, seja suficiente para a afastar da prática de novas

infiacções as disposições do CVM.

O montante da coima aplicada (30.000 euros), sendo muito elevado na

perspectiva das posses de um cidadão comum, representa um valor relativamente

desprezável, do ponto de vista de uma entidade dotada do poder económico de que a

arguida dispõe.

Nesta perspectiva, a ameaça de ter de vir a desembolsar a quantia de

30.000 euros, caso viesse a cometer infracções ao disposto no CVM, dificilmente seria

percepcionada pela arguida como uma ((espada de Dâmocles)) erguida sobre a sua

cabeça, eficaz para a dissuadir de incorrer em tais infracções.

A isto poder-se-ia contrapor que, a ser demasiado insignificante o

montante da coima aplicada, em comparação com as disponibilidades económicas da

arguida, não mais restaria fazer do que fixar esse montante num nível mais elevado, o

Page 105: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

que seria, em abstracto, legalmente possível, por não vigorar neste processo a proibição

da ((reformatio in pejus)) (art. 416" no 8 do CVM).

Contudo, a esse agravamento, opor-se-ia sempre, em nosso entender, o

princípio ínsito no no 2 do art. 40' do CP, também aplicável por via do art. 32' do

RGCO, de que a sanção não pode ultrapassar a medida da culpa.

Ora, o reduzido grau de culpa da arguida, que resulta dos parâmetros

ponderados para a determinação da medida da coima, obsta seguramente a elevação do

respectivo montante.

Nesse sentido, a mera ameaça da sanção aplicada a arguida seria, no caso

concreto, insuficiente para garantir a satisfação das exigências de prevenção especial,

ainda que estas não se apresentem particularmente intensas.

Nesse sentido, mostra-se inviável a formulação do juizo de prognose

favorável que tem de estar na base da suspensão da execução da coima, prevista pelo

art. 4 15' do CVM.

Consequentemente, não será determinada a suspensão da execução da

coima, improcedendo o recurso na sua totalidade.

111. Decisão

Pelo exposto, acordam os Juízes da 3" Secção Criminal do Tribunal da

Relação de Lisboa em negar provimento ao recurso, confirmando integralmente a

sentença recorrida.

Custas a cargo da recorrente, com taxa de justiça no valor de 8 UC.

Notifique.

Lxa. 61711 1 (processado e revisto pelo relator)

Page 106: TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE - CMVM - Homepage · petróleo passou a ser pública, em virtude do comunicado da Chevron que foi noticiado na Agência Reuters. 21. A arguida apenas divulgou

(séhio Bruno Pbvoas Corvacho)

(A. Augusto Lourenço)