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Tribunal da Relação de LisboaProcesso nº 695/17.6T9LRS.L1-5
Relator: JORGE GONÇALVESSessão: 09 Março 2021Número: RLVotação: UNANIMIDADEMeio Processual: RECURSO PENALDecisão: NÃO PROVIDO
INIMPUTABILIDADE PERÍCIA MÉDICO-LEGAL
MEDIDA DA PENA CÚMULO JURÍDICO
SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA PENA
Sumário
- Colocando-se de forma fundada a questão da inimputabilidade do arguido, o
meio de prova adequado para a esclarecer é a realização de perícia, uma vez
que, para esse efeito, se exigem especiais conhecimentos científicos, como
decorre do artigo 151.º do C.P.P.
- Muito embora não tenha sido suscitada pelo arguido a questão da sua
imputabilidade/inimputabilidade, nem decorra da acta da audiência de
julgamento, relativa à sessão em que o arguido prestou declarações, que
qualquer dúvida /suspeita tenha sido suscitada, no seu decurso, sobre tal
matéria, a qualquer dos sujeitos processuais, certo é que o tribunal, na
sequência de iniciativa do Ministério Público, decidiu ordenar a realização de
perícia médico-psiquiátrica ao arguido, formulando, para o efeito, quesitos.
- A proceder dessa forma, agiu o tribunal de harmonia com o disposto nos
artigos 151.º, 159.º, n.º6 e 351.º do C.P.P., verificando-se que, podendo limitar-
se a ordenar a comparência de um perito para se pronunciar sobre o estado
psíquico do arguido – inimputabilidade ou imputabilidade diminuída -, o
tribunal entendeu determinar a realização de perícia médico-psiquiátrica, não
tendo ocorrido qualquer nulidade do processado “desde o inquérito”, sendo
que, como já se disse, nessa fase processual nunca se apresentou qualquer
razão para que fosse ordenada a realização de perícia e não constitui, o
recurso do acórdão condenatório, meio idóneo para questionar a dita perícia e
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para peticionar a realização de nova perícia.
- A actividade judicial de determinação da pena apresenta-se como uma
actividade juridicamente vinculada, mas não é uma ciência exacta, pelo que, a
nosso ver, o tribunal de recurso deve intervir na alteração da pena concreta
quando se justifique uma alteração minimamente significativa.
- Através da pena conjunta visa-se procurar uma “sanção de síntese”, na
perspectiva da avaliação da conduta total, na sua dimensão, gravidade e
sentido global, da sua inserção no plano da conformação das circunstâncias
reais, concretas, vivenciadas e específicas de determinado ciclo de vida do
arguido em que foram cometidos vários crimes.
- O que está em causa, no instituto da suspensão da execução da pena, não é
qualquer “certeza”, mas apenas a esperança fundada de que a socialização em
liberdade possa ser conseguida. O tribunal deve correr um risco “prudencial”
(fundado e calculado) sobre a manutenção do agente em liberdade. Existindo,
porém, razões sérias para questionar a capacidade do agente de não repetir
crimes, se for deixado em liberdade, o juízo de prognose deve ser desfavorável
e a suspensão negada
Texto Parcial
Acordam, em conferência, na 5.ª Secção do Tribunal da Relação de Lisboa:
I – Relatório
1. No processo comum com intervenção do tribunal colectivo n.º
695/17.6T9LRS, procedeu-se ao julgamento de A. , melhor identificado nos
autos, acsuado pelo Ministério Público da prática como autor material, em
concurso real:
- de 1 (um) crime de homicídio, na forma tentada, previsto e punido pelos
artigos 22.°, 23.°, 73.° n.º 1, e 131.° n.º 1, do Código Penal;
- de 1 (um) crime de ofensa à integridade física, na forma consumada, previsto
e punido pelo artigo 143.° do Código Penal;
- de 2 (dois) crimes de ameaça agravada, na forma consumada, previstos e
punidos pelos artigos 153.°, n.º1, e 155.°, n.º1, alínea a) do Código Penal;
- de 1 (um) crime de coacção agravada, na forma tentada, previsto e punido
pelos artigos 154.°, n.ºs 1 e 2, e 155.°, n.º 1, alíneas a) e I), 22.°, 23.° e 73.°,
n.º 1, do Código Penal.
Pela demandante “S. ” foi deduzido pedido de indemnização (fls. 412 e
seguintes) contra o demandado/arguido A. , nos termos do artigo 6.º, n.º2, do
Decreto-Lei n.º 218/99, de 15 de Junho, pedindo a condenação deste no
pagamento da quantia de 484,81 € (quatrocentos e oitenta e quatro euros e
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oitenta e um euros), acrescida de juros de mora desde a data da notificação ao
arguido/demandado do pedido apresentado, bem como dos juros de mora
vincendos, até integral pagamento. A demandante alicerça a sua pretensão no
custo da assistência e cuidados médicos prestados ao ofendido, no serviço de
urgência, no dia 4 de Fevereiro de 2017 e no dia 11 de Abril, na sequência das
lesões pelo mesmo sofridas e descritas na acusação.
Procedeu-se à audiência de julgamento, sendo comunicada uma alteração não
substancial de factos, nos termos e para os efeitos previstos no artigo 358.º,
n.º1, do Código de Processo Penal, nada tendo sido requerido.
Realizado o julgamento, foi proferido acórdão que decidiu nos seguintes
termos:
«Nestes termos e com os fundamentos expostos, acordam os juízes que
constituem o Tribunal Colectivo em julgar procedente por provada a acusação
e o pedido de indemnização deduzido pela demandante “S. ”, e, em
consequência, decidem:
a. condenar o arguido A. pela prática, como autor, de um (1) crime de
homicídio, na forma tentada, previsto e punido pelos artigos 22. °, 23. °, 73. °
n.º 1, e 131. ° n.º 1, do Código Penal, na pena de 3 anos de prisão;
b. condenar o arguido A. pela prática, como autor, de um (1) crime de ofensa
à integridade física simples, previsto e punido pelo artigo 143.º, nº1, do
Código Penal, na pena de 9 (nove) meses de prisão;
c. condenar o arguido A. pela prática, como autor, de um (1) crime de ameaça
agravada, na forma consumada, previsto e punido pelos artigos 153. °, n. º1, e
155. °, n. º1, alínea a) do Código Penal, na pena de 8 (oito) meses de prisão
(assistente GC );
d. condenar o arguido A. pela prática, como autor, de um (1) crime de ameaça
agravada, na forma consumada, previsto e punido pelos artigos 153. °, n. º1, e
155. °, n. º1, alínea a) do Código Penal, na pena de 8 (oito) meses de prisão
(ofendido MC );
e. condenar o arguido A. pela prática, como autor, de um (1) crime de coacção
agravada, na forma tentada, previsto e punido pelos artigos 154. °, n.ºs 1 e 2,
e 155. °, n.º 1, alínea a), 22. °, 23. ° e 73. °, n.º 1, do Código Penal, na pena de
9 (nove) meses de prisão;
f. em cúmulo jurídico das penas parcelares, condenar o arguido A. na pena
única de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão;
g. condenar o arguido A. a pagar, à demandante “S. ”, a quantia de €484,81
(quatrocentos e oitenta e quatro euros e oitenta e um euro), acrescida dos
juros de mora, calculados à taxa legal, contabilizados desde 21 de outubro de
2019 e, ainda, dos juros de mora entretanto vencidos e dos juros vincendos,
até integral pagamento;
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»
2. O arguido recorreu do acórdão, formulando as seguintes conclusões
(transcrição):
1- na data dos factos o arguido estava influenciado por malária e consumo de
cocaína com percepção da realidade distorcida, que gerou conduta não
consciente nem livre! é no subjectivismo do agente que deve ser encontrada a
natureza da motivação do crime;
2- a ausência de segunda Perícia médico psiquiátrica traduz processo não
equitativo à luz do art° 6°- 1 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem;
impõe-se ordenar a realização de segunda Pericia essencial para apurar do
estado psíquico do arguido no momento dos factos; É PROVA OBRIGATÓRIA:
arts 151 E 351 CPP- Acórdão STJ-18/10/89- Proc 040762
3- a Organização Mundial de Saúde define a MALARIA como um estado de
coma não despertável que permaneça mais de trinta (30) minutos perante
confirmação de infecção por plasmodium falciparum e não atribuível a
qualquer outra causa; febre, taquicardia, alucinações e delirios são
decorrentes da MALÁRIA; as perturbações neurológicas e episodios de febre
são frequentes nos doentes com malária; surtos psicóticos ocorrem ao longo
da vida do doente;
4- o relatório pericial desvaloriza a doença e consequencias na conduta do
arguido que estava sob perturbação no momento do factos pois é portador
dessse mal que afecta 300 milhões de pessoas por ano, segundo a OMS; o
Acordão deve ser declarado NULO e ordenada Pericia face à violação dos arts
151 e 351 do CPP e 6°- 1 da Convenção Europeia.
5- as penas aplicadas são exageradas; violam o Principio da
proporcionalidade; a pena pelo crime de homicidio não deve exceder 2 anos; a
pena pelos crimes de ameaça não deve exceder 5 meses por cada um; ao
crime de coacção mostra-se ajustada pena de 1 ano; a pena única de três (3)
anos, suspensa na execução com condições inerentes ao tratamento das
patologias de que padece e acompanhamento médico traduzem a reposição do
BEM sobre o MAL cometido.
O Acordão violou os art°s 49° da Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia, 40 e 41 do Codigo Penal; ocorre erro na determinação da medida
concreta das penas contra os arts. 40.°, 50.°, 70.° e 71.° do CP.;
Normas violadas: art. 151 e 340 CPP; o tribunal julgou mas não investigou
uma segunda os antecedentes médico psiquiátricos do arguido; o arguido
entende que por ser portador de malária e comsumos de cocaína deveria ser
sujeito a Pericia medico psiquiátrica;
Art° 6°- 1 CEDH: o processo não foi equitativo; o Tribunal aceitou tudo quanto
foi articulado pelo Ministério Publico e não curou de averiguar das condições
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medicas e psiquiatricas do arguido
Arts 23°,73°,131-1 CP, 143 CP 153 CP - o Tribunal errou ao aplicar penas
excessivas; a pena única deve ser suspensa
O Acordão deve ser revogado, ordenada a Pericia Médico psiquiátrica e, ou, a
pena deve ser de 3 anos e suspensa na sua execução, o arguido libertado pois
só assim se fará JUSTIÇA !!!
3. O Ministério Público junto da 1.ª instância apresentou resposta ao recurso
do arguido, no sentido de que o acórdão recorrido não merece censura,
concluindo (transcrição):
1.º
Não assiste no entender do Ministério Público, razão alguma ao arguido.
2.º
Quanto aos factos dados como provados e a sua subsunção aos dispositivos
legais aplicados, nenhum reparo nos merece a sentença ora em crise.
Não há qualquer insuficiência para a matéria de facto provada;
3.º
Em relação ao vício de erro notório na apreciação da prova, basta uma leitura
atenta dos factos dados como provados na sentença ora recorrida para se
concluir não existe qualquer erro judiciário e muito menos um erro tão crasso
que salte aos olhos, sem necessidade de qualquer exercício mental;
4.º
Os factos provados, a fundamentação de facto e de direito e a decisão
constituem um percurso lógico, racional e objectivo, valorados à luz das
regras da experiência da vida existindo a persuasão racional do juízo e que
permite o acompanhamento no seu processo formativo segundo o princípio da
publicidade da actividade probatória.
5.º
A decisão de direito, em matéria criminal, baseia-se apenas nos factos
previamente dados como provados em sede de audiência de discussão e
julgamento e no exame pericial.
6.º
Tendo isto como ponto assente e analisados os factos que o Tribunal a quo deu
como provados na decisão recorrida constata-se que a condenação do arguido,
ora recorrente, resultou da convicção que o Tribunal a quo formou com base
na prova, frisa-se, em toda a prova produzida e examinada em sede de
audiência de discussão e julgamento.
7.º
Logo salvo melhor opinião, nesta questão não assiste razão ao recorrente.
8.º
Assim, e ao contrário do que pretende fazer crer o Recorrente, o Tribunal a
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quo socorreu-se de uma apreciação ponderada e conjugada de toda a prova
produzida, a qual permitiu ao mesmo Tribunal concluir pela condenação do
arguido.
9.º
Afigura-se-nos que, no essencial, o Recorrente se prevalece do direito de
discordar da apreciação efectuada pelo Tribunal a quo relativamente à
apreciação da matéria de facto.
10.º
Não se verificando, como não se verificam, quaisquer das situações
excepcionais, há que acatar a posição assumida pelo Mm° Juiz no exercício do
poder jurisdicional que lhe foi conferido e ao abrigo da liberdade de
apreciação da prova que lhe assiste (vide, por todos, o Acórdão do STJ, de
13.02.91, AJ n° 15/16, 7 "(...) se o Recorrente alega vícios da decisão recorrida
a que se refere o n.º2 do art. 410.º do Código de Processo Penal, mas fora das
condições previstas neste normativo, afinal impugna a convicção adquirida
pelo Tribunal a quo sobre determinados factos, em contraposição com a que,
sobre os mesmos, ele adquiriu em julgamento, esquecido da regra da livre
apreciação da prova inserta no art. 127^
11.º
Por todo o exposto, e considerando o que acima ficou dito quanto à prova
produzida em audiência de julgamento, afigura-se que não tem razão o
Recorrente quanto às questões afloradas na sua motivação, uma vez que,
tendo em atenção a factualidade dada como provada, outra não poderia ser a
conclusão a retirar pelo Tribunal a quo.
12.º
Da medida da pena
Conforme refere JESCHECK (Tratado de Derecho Penal, Parte Geral, II, 1194)
:
-"o ponto de partida da determinação judicial das penas é a determinação dos
seus fins, pois só partindo dos fins das penas claramente definidos se pode
julgar que factos são importantes e como se devem valorar no caso concreto
para afixação da pena".
13.º
Nos termos do artigo 40° do Código Penal, a aplicação de penas visa a
protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade.
14.º
A prevenção geral positiva ou de integração é a finalidade primordial a
prosseguir, enquanto objectivo de estabilização contrafáctica das expectativas
comunitárias na validade da norma violada (FIGUEIREDO DIAS, Sobre os
Fundamentos da Doutrina Penal, Coimbra Editora, 2001, pp.106), mas nunca
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pode pôr em causa a própria dignidade humana do agente, que o princípio da
culpa justamente salvaguarda (artigo 40°, n.° 2 do Código Penal).
15.º
Da prevenção especial
Atentos os factos dados como provados nos autos, não se nos afigura a
existência de quaisquer atenuantes de relevo que deponham a favor do
arguido, mormente porque os factos dados como provados nos autos nos
permitem concluir que os mesmos foram levados a cabo com dolo intenso, no
que tange aos crimes de homicídio qualificado na forma tentada.
16.º
Se tomarmos em linha de conta que o objectivo final do comportamento
violento é submeter o outro mediante o uso da força e que toda a violência,
assenta em relações de dominação e de força, concluímos que é necessário
que a sociedade se ocupe também da pessoa violenta, a fim de a recuperar e a
reeducar para o direito, prevenindo a prática de comportamentos idênticos,
fazendo-o sentir a seriedade e a ilegalidade da sua conduta.
17.º
Assim, ponderadas estas considerações somos do entendimento que existe a
necessidade de se alterar o padrão de comportamento do arguido e atenta a
personalidade demonstrada pelo arguido e a sua conduta posterior, que nos
fazem crer que a pena a que o mesmo foi condenado é claramente adequada,
pois só assim as finalidades de prevenção especial serão atingidas pela pena.
19.º
Da culpa.
As qualidades da personalidade do arguido, manifestadas nos factos relevam
por via da culpa, agravando-a, na medida em que constituem índices de uma
elevada desconformidade da personalidade do arguido face ao direito.
20.º
É certo que também, quer o comportamento anterior do arguido, quer o seu
comportamento posterior, quer o seu comportamento durante o desenrolar do
processo, não revelaram quaisquer circunstâncias que devam ser valoradas a
favor do recorrente.
21.º
Como é sabido, no artigo 71° do Código Penal encontram-se elencados os
factores que devem nortear o julgador na determinação do quantum concreto
da pena a aplicar ao arguido.
22.º
Ora, transpondo tais critérios para o caso dos autos, constata- se que os
mesmos foram tidos em consideração pelo Tribunal na fixação da pena
aplicada ao arguido.
7 / 43
23.º
Revertendo para o caso concreto, concordamos com a medida da pena
aplicada ao arguido, desde logo atenta a fundamentação da medida da pena
efectuada na sentença, na qual o Meritíssimo colectivo de Juízes "a quo"
considerou que:
-a actuação do arguido revestiu-se de muita gravidade;
-o arguido agiu na modalidade mais intensa do dolo - dolo directo e com
intensidade elevada, quanto aos crime de homicídio qualificado na forma
tentada;
-se revelava particularmente censurável o modo de execução dos factos e as
motivações para a prática dos mesmos.
24.º
Face a várias motivações, com as quais o Ministério Público concordou, o
acórdão em concreto, entendeu que deveria ser aplicada uma pena privativa
da liberdade.
25.º
Atentas as consequências dos factos e o modo de execução dos mesmos,
entende o Ministério Público que o grau de ilicitude das suas condutas é
elevado.
25.º
As necessidades de prevenção especial, são muito elevadas, considerando a
gravidade, a extensão, a intensidade do dolo do Recorrente, dúvidas não
restam de que não há qualquer fundamento susceptível de alicerçar uma
diminuição da medida da pena.
26.º
Atento o artigo 71°, n.° 2, al. a), do Código Penal, facilmente se conclui que o
grau de ilicitude do facto é elevado, avaliado em função das circunstâncias em
que o arguido agiu.
27.º
E, atento o facto de que o arguido não demonstrou arrependimento algum,
tendo inclusive, adoptando no decorrer do julgamento uma postura de falta de
arrependimento e de falta de autocrítica face às situações em causa nos autos,
negando a prática dos mesmos.
28.º
Assim, entendemos não merecer qualquer reparo a medida concreta da pena
que foi aplicada ao arguido nos presentes autos.
4. O Ex.mo Procurador-Geral Adjunto nesta Relação, na intervenção a que se
reporta o artigo 416.º do Código de Processo Penal (diploma que passaremos a
designar de C.P.P.), acompanhou a resposta apresentada pelo Ministério
Público junto da 1.ªinstância.
8 / 43
5. Procedeu-se a exame preliminar, após o que, colhidos os vistos, os autos
foram à conferência, por dever ser o recurso aí julgado, de harmonia com o
preceituado no artigo 419.º, n.º3, do mesmo diploma.
II – Fundamentação
1. Dispõe o artigo 412.º, n.º 1, do C.P.P., que a motivação enuncia
especificamente os fundamentos do recurso e termina pela formulação de
conclusões, deduzidas por artigos, em que o recorrente resume as razões do
pedido.
Constitui entendimento constante e pacífico que o âmbito dos recursos é
definido pelas conclusões extraídas pelo recorrente da respectiva motivação,
que delimitam as questões que o tribunal ad quem tem de apreciar, sem
prejuízo das que sejam de conhecimento oficioso (cfr. Germano Marques da
Silva, Curso de Processo Penal, Vol. III, 2.ª ed. 2000, p. 335; Simas Santos e
Leal-Henriques, Recursos em Processo Penal, 6.ª ed., 2007, p. 103; entre
muitos, os Acs. do S.T.J., de 25.6.1998, in B.M.J. 478, p. 242; de 3.2.1999, in
B.M.J. 484, p. 271; de 28.04.1999, CJ/STJ, Ano VII, Tomo II, p. 196).
No caso em apreço, atendendo às conclusões da motivação de recurso, as
questões que se suscitam são as seguintes:
- da alegada violação dos artigos 151.º e 351.º do C.P.P. e da necessidade de
realização de perícia médico-psiquiátrica;
- do alegado erro na determinação das penas, que o recorrente considera
pecarem por excessivas.
2. Do acórdão recorrido
2.1. O tribunal a quo considerou provados os seguintes factos:
1. Em data não concretamente apurada, mas anterior às 21:00 horas do dia
03/02/2017, MC , dono do estabelecimento de restauração, denominado
"BCB", sito na Rua … em Odivelas, proibiu o arguido de deslocar-se até à cave
desse estabelecimento e de permanecer nesse espaço, o que deixou este
agastado.
2. No dia 03/02/2017, pelas 21:00 horas, o arguido dirigiu-se ao mencionado
estabelecimento comercial.
3. Uma vez lá chegado, desceu as escadas que dão acesso à cave e acendeu as
luzes da sala, encontrando-se MC a lavar o chão do café.
4. MC , ao ver o arguido A. e uma vez que já lhe havia dito que não queria que
frequentasse a cave, desceu as escadas e pediu-lhe para se retirar. Após, MC
virou-se e foi lavar o chão, na zona das casas de banho.
5. De seguida, sem que nada o fizesse prever e aproveitando a circunstância
de MC se encontrar de costas, de estarem sozinhos naquele local e da
surpresa do seu ataque, enrolou-lhe um fio eléctrico à volta do pescoço e
começou a estrangulá-lo.
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6. O ofendido, à medida que ia tentando libertar-se, subiu as escadas para a
zona do café, onde se conseguiu libertar do estrangulamento. Nesse momento,
encontrava-se um cliente, no interior do café.
7. Como consequência directa e necessária da conduta do arguido A. , MC
sofreu dores do pescoço, bem como escoriações na zona cervical anterior, que
lhe determinaram 8 (oito) dias de doença, sem incapacidade para o trabalho.
8. Após o ofendido ter conseguido libertar-se, o arguido A. disse-lhe que o
matava.
9. De seguida, o arguido abandonou o local para parte incerta, encontrando-
se, nesse momento, um cliente no interior do café.
10. Posteriormente, em datas não concretamente apuradas, mas situadas
entre 04/02/2017 e 10/04/2017, o arguido deslocou-se até à porta do
identificado estabelecimento comercial, não tendo entrado nesse espaço.
11. No dia 11/04/2017, pelas 11:30 horas, o arguido A. dirigiu-se a este
estabelecimento comercial e quando se preparava para entrar, já junto à porta
do mesmo, o ofendido MC impediu-o de o fazer.
12. Acto contínuo, o ofendido empurrou o arguido e tentou agredi-lo, tendo
este, na tentativa de se defender, agarrado aquele, acabando por se agredirem
mutuamente com número não concretamente apurado de socos, em várias
partes do corpo de ambos.
13. Nas circunstâncias de tempo e lugar ora descritas encontrava-se ainda a
ofendida GC , mulher de MC , que ao ver este e o arguido a agredirem-se
mutuamente com socos, tentou separá-los, embora sem sucesso, acabando por
cair no chão o arguido e o ofendido.
14. Quando ambos se encontravam caídos no chão, o ofendido conseguiu
imobilizar o arguido A. , momento em que este lhe desferiu uma dentada no
tronco do lado esquerdo.
15. De seguida, o ofendido largou o arguido e refugiou-se no interior do café.
16. Após, o arguido conseguiu entrar no café, agarrou numa cadeira de ferro e
com essa cadeira, agrediu o ofendido MC , na cabeça. De seguida, o arguido e
o ofendido MC voltaram a envolver-se fisicamente, agredindo-se mutuamente
com socos, ao mesmo tempo que caminhavam na direcção da porta do
estabelecimento.
17. Entretanto, GC dirigiu-se até ao ofendido e ao arguido com o propósito de
separá-los, o que conseguiu, ficando o arguido A. no exterior do café. A
assistente GC permaneceu à porta para impedir que o arguido voltasse a
entrar.
18. Nessa altura, o arguido A. cuspiu no rosto da assistente GC e proferiu a
seguinte expressão "Tenho uma caçadeira e vou-vos matar e começo por ti,
puta de merda!" e deu a entender que iria abandonar o local.
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19. Ao ouvir esta expressão e o tom sério em que a mesma foi proferida, MC e
GC , sentiram medo e temeram que o arguido, de facto, atentasse contra a sua
integridade física ou contra a sua vida, como aliás já acontecera antes
relativamente ao ofendido no pretérito dia 03/02/2017, só não o tendo
conseguido, nesta data, por motivos alheios à sua vontade.
20. Nesse dia, após o arguido ter abandonado o local, a assistente entrou para
o café para verificar o estado de saúde do ofendido, momento em que aquele
voltou para trás, entrou, de novo, no café, pegou numa cadeira e com essa
cadeira, agrediu o ofendido MC , na zona das costelas.
21. Como consequência directa e necessária das descritas condutas em 13 a
18 e 20, de o arguido A. , o ofendido MC sofreu dores nas regiões atingidas, e
ainda, hematoma supraciliar direito, ferida occipital direita, marcas de
mordedura na face ântero-Iateral do abdómen, fractura do arco costal
esquerdo e edema na mão esquerda, lesões estas que determinaram 30
(trinta) dias de doença, com 5 dias de afectação da capacidade para o trabalho
geral, e 30 dias com afectação da capacidade para o trabalho profissional.
22. Decorridos dois/três dias, em hora não concretamente apurada, o arguido
A. passou pelo referido estabelecimento comercial, mas não entrou.
23. Em dia não concretamente apurado mas posterior a 11 de Abril de 2017, o
arguido dirigiu-se a JC e proferiu a seguinte expressão "Se o MC não retirar a
queixa venho aqui e deito fogo ao estabelecimento!".
24. Depois de saber o que havia sucedido, MC sentiu medo e temeu que o
arguido concretizasse os seus intentos e atentasse contra a sua vida e
integridade física, receando igualmente que incendiasse o estabelecimento
comercial.
25. O arguido A. sabia que ao apertar o pescoço do ofendido utilizando o cabo
eléctrico o impedia de respirar, cortava a corrente sanguínea para o cérebro e
que esse era um meio idóneo a tirar a vida de MC , o que quis e apenas não
logrou conseguir por motivos alheios à sua vontade.
26. Mais sabia que as que com as condutas supra descrita pontos 12, 13, 14,
16 e 20 eram adequadas a molestar o corpo de MC e a provocar-lhe as lesões
elencadas no ponto 21, o que quis e logrou concretizar.
27. Sabia ainda que as expressões proferidas e referidas no ponto 18 eram
apropriadas a provocar receio nos ofendidos MC e GC de virem a sofrer
algum mal, o que logrou conseguir.
28. Tinha perfeito conhecimento de que as expressões proferidas no modo e
nas circunstâncias de tempo e lugar referidas no ponto 23 iam chegar ao
conhecimento de MC e que as mesmas eram idóneas a inibir a sua liberdade
de determinação e tranquilidade, causando-lhe angústia, medo e inquietação,
não tendo conseguido alcançar o seu propósito por razões alheias à sua
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vontade.
29. O arguido agiu de forma livre, voluntária e consciente, dispondo, à data
dos factos, de capacidade para entender a ilicitude dos seus actos e de se
determinar de acordo com essa avaliação.
30. Pelo Senhor Perito foi emitido o seguinte Parecer:
“É evidente um nível de diferenciação superior, compatível com as
habilitações que refere, com boas capacidades intelectuais, uma parte delas
acima da média. Mostra-se inteligente e perspicaz.
Evidência de personalidade narcísica, associada a instabilidade emocional,
agravada por consumo de substâncias psicoactivas como cocaína,
evidenciando comportamentos de manipulação com agressividade (…).
Desvalorização das circunstâncias graves em que se encontra.
Está documentada uma epilepsia focal, com diversos episódios em que há
consequências comportamentais, a nível motor e eventualmente com
expressão a nível da consciência. O quadro poderá ser entendido como uma
sequela de malária cerebral, cujo o inicio será provavelmente anterior à idade
de 8 anos, quando saiu de Luanda e veio para Portugal.
A referência a episódios delirantes, eventualmente com alucinações, não
parece evidenciar um processo mórbido enquadrável numa psicose crónica,
mas mais se interpreta como uma sequela do quadro epileptoide ou sequela
dos consumos reiterados de substâncias psicoactivas.
Durante esta entrevista não evidencia aspectos deficitários no âmbito de
funções intelectuais, evidenciando boa capacidade para gerir os seus
interesses com zelo.
As perturbações referidas pelo entrevistado, relativas à perturbação da
consciência na sequência dos episódios de epilepsia, não parecem
consistentes e não justificam o caracter de agressividade das mesmas”.
31. Concluiu o Senhor Perito, no exame pericial psiquiátrico, que:
“No essencial, não existem perturbações que justifiquem o toldamento da
consciência de forma a preservar a capacidade de se defender e atacar, com a
lucidez que é evidenciada. Com este nível de preservação da consciência, não
se coloca a questão da inimputabilidade, nem a dificuldade de gerir os seus
interesses.
Os episódios delirantes e alucinatórios, são referidos de forma inconsistente,
traduzindo sintomatologia ocasional e circunstancial, essencialmente
associada a consumo de substâncias psicoactivas e sem uma estruturação que
sugira um verdadeiro processo psicótico, preterindo-se, assim, eventuais
circunstâncias atenuantes.
Os antecedentes de processo psicótico são claros, mas não constituem
factores atenuantes”.
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32. No presente, verifica-se o perigo de o arguido voltar a praticar factos da
mesma natureza aos ilícitos imputados nestes autos.
33. Em 13/12/2017, o arguido ficou sujeito às seguintes medidas de coacção:
obrigação de se apresentar no posto policial da área da sua residência;
proibição de contactar os ofendidos; proibição de se aproximar e permanecer
à distância de 500 metros do estabelecimento “BCB ”. Após essa data, o
arguido passou, mais de uma vez, junto do referido estabelecimento e,
dirigindo-se ao ofendido, proferiu a expressão “eu mato-te”.
Factos articulados no pedido de indemnização
34. Pela demandante “S. ” foi prestada assistência e cuidados médicos ao
ofendido MC , no dia 4 de Fevereiro de 2017, no serviço de urgência, na
sequência das lesões pelo mesmo sofridas e descritas na acusação.
35. A assistência e cuidados médicos prestados ao ofendido no dia 4 de
Fevereiro importaram um custo no valor de €96,91.
36. Pela demandante “S. ” foi prestada assistência e cuidados médicos ao
ofendido MC , no dia 11 de Abril de 2017, no serviço de urgência, na
sequência das lesões pelo mesmo sofridas e descritas na acusação.
37. A assistência e cuidados médicos prestados ao ofendido no dia 11 de Abril
de 2017 importaram um custo no valor de €387,90.
38. Do certificado de registo criminal referente ao arguido A. constam as
seguintes condenações:
a. Por sentença proferida em 21/11/2015 e transitada em julgado em
11/12/2015, no âmbito do processo nº 969/15.2PFLRS cujos termos correram
no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Norte – Juízos Locais de Pequena
Criminalidade de Loures – Juiz 2, foi condenado pela prática, em 16 de Março
de 2015, de um crime de ofensa à integridade física qualificada, previsto e
punido pelos artigos 143º e 145º, nº1, do Código Penal; um crime de injúria
agravada; em cúmulo jurídico, foi condenado na pena única de 7 (sete) meses
de prisão, substituída por 210 dias de multa, à taxa diária de€8,00;
b. Por sentença proferida em 20/4/2016 e transitada em julgado em 20/5/2016,
no âmbito do processo nº 719/13.6PLLRS cujos termos correram no Tribunal
Judicial da Comarca de Lisboa Norte – Juízo Local Criminal de Loures – Juiz 4,
foi condenado pela prática, em Março de 2016, de um crime de dano, na pena
de 150 dias de multa; e em 2/12/2013, de um crime de ofensa à integridade
física simples, previsto e punido pelo artigo 143º do Código Penal, na pena de
180 dias de multa; em cúmulo jurídico, foi condenado na pena única de 280
dias de multa, à taxa diária de€5,00; proferido despacho de 9/10/2018 que
determinou a conversão da pena de multa em prisão subsidiária, foi aquela
paga e, consequentemente, declarada extinta.
Das condições pessoais, familiares, laborais e económicas do arguido A.
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33. É o segundo de quatro irmãos. Viveu em Angola até aos cerca de 8/9 anos
de idade, altura em que a família veio para Portugal, onde o pai já se
encontrava radicado, vindo a adquirir o Título de Autorização de Residência. O
pai exercia e exerce actividade como subempreiteiro da construção civil e mãe
professora quando a viver em Angola e cozinheira, em Portugal.
34. Quando em criança, o arguido padeceu de neuro malária, tendo
permanecido alguns dias em coma o que lhe condicionou e alterou alguns
aspectos do seu comportamento durante cerca de um ano, tendo sido
acompanhado clinicamente.
35. O arguido manteve-se grande parte da sua vida integrado na escola, tendo
revelado competências de aprendizagem e completado o curso superior na
área de cinema, comunicação, televisão e multimédia, em 2016. Concluiu dois
cursos profissionais na mesma área.
36.Em termos laborais, trabalhou em empresas ligadas ao áudio visual, vídeo e
publicidade como chefe de produções e constituiu a sua própria empresa
“online” nesta área profissional, denominada “BP ” detendo um espaço físico
onde laborava. Presentemente, o espaço está encerrado e a sua empresa
inactiva.
37. Ao nível da saúde, o arguido sofre de epilepsia, desde os 23 anos de idade,
que lhe provoca ataques epiléticos, com convulsões e perda de consciência,
estando dependente de terceiros quando sofre tais ataques para o
encaminharem ao hospital, não podendo viver sozinho.
38. Apesar de estar a ser acompanhado ao nível clínico na área da neurologia
e psicofarmacológica, os ataques epiléticos manifestam-se com acentuada
frequência, uma vez que o arguido não tem aderido à terapêutica.
39. O comportamento aditivo que veio a desenvolver no que respeita aos
consumos de haxixe, drogas sintéticas (MDMA) e cocaína, estas mais
ocasionalmente e em contexto de convívio em estabelecimentos de diversão
noturna, potenciam-lhe os ataques epiléticos.
40. O arguido tende a ser desconfiado das intenções dos outros. Assume
comportamentos impulsivos e de agressividade em contexto de relações
interpessoais sentidas como frustrantes.
41. O arguido apresenta “forte autoestima, ausência de culpabilidade”,
“discurso bem estruturado, denotando bom nível de informação, realçando a
sua diferenciação e centrado na preocupação de evidenciar a injustiça de que
é vítima”. “Adopta uma postura de superioridade, fundamentada na sua
diferenciação intelectual e sucesso como empresário, desvalorizando o
passado os tumultos e os insucessos que considera sequelas da epilepsia”.
42. O arguido sentia-se vítima de “Bulling” no trabalho, referindo ser gozado
constantemente pelos colegas.
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43. O arguido tinha períodos de depressão, por vezes com ideação suicida,
tendo intentado contra a sua vida através de toma de comprimidos, que
obrigou a assistência hospitalar. Esta instabilidade psicoafectiva e social
implicou internamento no serviço de psiquiatria do Hospital Miguel Ângelo,
onde permaneceu internado durante alguns dias, mantendo a necessidade de
acompanhamento clínico e psicofármaco ao nível ambulatório ao qual não
aderia, pelo que reincidia nas problemáticas de saúde e comportamentais.
44. O arguido sempre viveu no agregado familiar de origem.
45. O arguido A. encontra-se sujeito à medida de coacção de prisão
preventiva desde 15/11/2019, à ordem do processo n.º 48/19.1 PJLRS do
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Norte – Juízo Criminal de Loures – J4.
46. À data da sua reclusão, o arguido integrava o agregado familiar de origem,
constituído pela mãe, cozinheira, dois irmãos, uma irmã empregada de loja e
outro estudante, e dois sobrinhos menores de idade. O pai e um irmão residem
em Angola. A dinâmica familiar é caraterizada pela coesão afetiva e
transmissão de valores normativos, com condição económica sustentável.
47. O arguido, apesar de estar a trabalhar em publicidade por conta de outrem
e por conta própria, revelava uma situação de vida instável aos seus diversos
níveis, ligada essencialmente aos seus problemas de saúde e que lhe
condicionava um normal quotidiano, padecendo de frequentes crises de
epilepsia que obrigava à sua hospitalização. Os consumos de estupefacientes
também se apresentavam como factores desestabilizadores pessoais. Apesar
de estar ligado aos serviços clínicos do Hospital Beatriz Ângelo, o arguido não
aderia à terapêutica, pelo que se revelava descompensado ao nível
psicológico, da sua doença de epilepsia e ao nível psicológico e
comportamental. Alternava entre momentos de depressão e de impulsividade
e agressividade ao nível das interações pessoais, revelando, por vezes,
comportamentos agressivos pouco controlados para com outrem e, por vezes,
também ao nível intrafamiliar, constituindo-se, por vezes, um elemento
perturbador da sua dinâmica familiar, revelando a mãe receios que o arguido
em momentos de descompensação psicológica e comportamental possa
evidenciar condutas de agressividade e coacção para com ela e o irmão mais
novo.
47. Restituído à liberdade, perspectiva reintegrar o agregado familiar de
origem, que se mostra apoiante, pretendendo trabalhar por conta própria na
sua área profissional. Os familiares revelam perceção da problemática de
saúde do arguido e da necessidade de este vir a realizar um tratamento em
regime internamento numa instituição especializada para a sua problemática,
uma vez que o arguido não adere à terapêutica quando acompanhado em
ambulatório. Devido à epilepsia e aos consequentes ataques epiléticos, o
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arguido necessita de viver acompanhado.
48. A epilepsia que o arguido veio a desenvolver condicionou-lhe a sua normal
condição de vida devido aos ataques epiléticos sofridos que obrigavam a um
tratamento hospitalar. O consumo de estupefacientes foi causa de episódios
psicóticos e problemáticas do comportamento, revelando descontrolo
emocional e comportamental, com impulsividade e tendência a exibir condutas
de agressividade para outrem e também depressão. Apesar dos internamentos
e tratamentos clínicos e psicofármacos, o arguido não aderia à terapêutica,
pelo que descompensava repetidamente sem melhoras clinicas. Teve uma
tentativa de suicídio, que obrigou à sua hospitalização.
49. O arguido beneficia de apoio familiar, sendo opinião da família que o
internamento do arguido, em instituição de saúde apropriada, constitui a
única forma de este aderir ao tratamento necessário e conseguir alterar os
aspectos disfuncionais pessoais que tem revelado nos últimos anos.
2.2. Quanto a factos não provados ficou consignado no acórdão recorrido
(transcrição):
Dos factos com interesse para a decisão, constantes da acusação, da
contestação e do pedido de indemnização, não se provou qualquer outro para
além dos acima descritos, bem como os que se encontram em contradição com
aqueles, designadamente que:
1. O arguido, em data anterior às 21:00 horas do dia 03/02/2017, tenha
formulado o propósito de tirar a vida a MC ;
2. O arguido tenha-se munido, previamente, de um fio eléctrico para a
concretização desse propósito;
3. No dia 03/02/2017, pelas 21:00 horas, quando se dirigiu ao mencionado
estabelecimento comercial, o arguido já estivesse munido desse fio;
4. Tenha sido com a ajuda de um cliente que estava no estabelecimento
(Nestor Messias) que o ofendido tenha conseguido libertar-se do fio com o
qual o arguido tentava estrangulá-lo;
5. O ofendido MC , logo após se ter conseguido libertar do arguido, tenha
confrontado este com o que tinha acabado de acontecer;
6. Nesse momento, o arguido tenha retirado uma faca tipo de cozinha que
tinha escondida na manga do casaco, se dirigido ao ofendido MC e lhe dito
que era daquela zona;
7. O arguido, em datas não concretamente apuradas, mas situadas entre
04/02/2017 e 10/04/2017, tenha continuado a rondar o identificado
estabelecimento comercial do ofendido;
8. O arguido tenha arremessado uma cadeira de ferro e atingido o ofendido
MC na zona da cabeça;
9. No interior do café, o arguido tenha arremessado uma cadeira de ferro e
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atingido o ofendido MC na zona das costelas;
10. No dia 15/04/2017, em hora não concretamente apurada mas situada entre
as 17:00 horas e as 18:00 horas, o arguido tenha-se dirigido ao
estabelecimento comercial do ofendido;
11. Tenha sido no interior do estabelecimento comercial do ofendido que o
arguido proferiu a seguinte expressão "Se o MC não retirar a queixa venho
aqui e deito-lhe fogo a ele e ao estabelecimento!";
12. O arguido tenha dito que “Se o MC não retirar a queixa venho aqui e deito
fogo a ele”".
2.3. O tribunal recorrido fundamentou a sua convicção nos seguintes termos
(transcrição):
(…)
Relativamente ao custo da assistência médica prestada ao ofendido, a
convicção do tribunal assentou na documentação junta com o pedido de
indemnização, apresentada pela demandante.
No que concerne às condições pessoais do arguido, a convicção do tribunal
assentou nos elementos objectivos constantes do relatório social, elaborado
pela DGRSP, em concatenação com as declarações prestadas pelo arguido, em
audiência. Do relatório social foram tomados em consideração unicamente
factos e não conclusões.
Todas as apreciações e conclusões apresentadas pela equipa da DGRS que se
prendem com a saúde do arguido, constantes do relatório social, extravasam o
âmbito do relatório social, tendo a convicção do tribunal, nessa matéria, se
formado com base no relatório de exame psiquiátrico, elaborado pelo Hospital
Pulido Valente, e pela informação clínica junta aos autos pelo arguido. Para
apuramento da capacidade do arguido de avaliar a ilicitude dos seus actos e
de se determinar de acordo com essa avaliação, o tribunal solicitou a
realização de perícia psiquiátrica à entidade competente para o efeito.
Sobre os antecedentes criminais foi determinante o certificado de registo
criminal juntos aos autos.
***
3. Apreciando
3.1. Alega o arguido/recorrente que o tribunal incorreu em violação dos
artigos 151.º e 351.º do C.P.P. e deveria ter ordenado a realização de perícia
médico-psiquiátrica.
No corpo da motivação – não nas conclusões – diz, mesmo, que o “processado
desde o inquérito é nulo por ausência de uma segunda perícia médico
psiquiátrica”.
Vejamos.
No decurso das investigações realizadas pela Polícia Judiciária no âmbito do
17 / 43
inquérito, o Ministério Público determinou a detenção do ora recorrente, que
veio a ocorrer no dia 13 de Dezembro de 2017 (cfr. fls.163-165).
Apresentado o ora recorrente a 1.º interrogatório judicial de arguido detido,
tal interrogatório teve lugar nesse mesmo dia, sendo-lhe impostas as medidas
de prestação de termo de identidade e residência, proibição de contactar os
ofendidos, proibição de se aproximar e permanecer à distância de 500 metros
do estabelecimento comercial dos ofendidos e de apresentações trissemanais
no posto policial da área da sua residência (cfr. fls. 177 e seguintes).
Dos autos não decorre que nesse 1.º interrogatório tenha sido suscitada
alguma dúvida quanto à imputabilidade do arguido.
Em 8 de Julho de 2019 o Ministério Público deduziu acusação contra o arguido
(cfr. fls. 397 e seguintes).
Não foi requerida a realização de instrução.
Em 16 de Outubro de 2019 foi proferido despacho nos termos dos artigos
311.º e 313.º do C.P.P.
O arguido, ora recorrente, apresentou contestação, oferecendo “o
merecimento dos autos” e arrolou testemunhas (fls. 456).
A 1.ª sessão da audiência de julgamento teve lugar no dia 20 de Novembro de
2019 (fls. 474).
Nessa 1.ª sessão, após a prestação de declarações pelo arguido, entretanto
preso preventivamente à ordem de outro processo, a sua ilustre defensora
requereu a junção aos autos de um documento respeitante ao estado de saúde
do arguido, nomeadamente relativo à sua epilepsia, o que não teve a oposição
do Ministério Público e foi admitido (cfr. fls. 475), sendo esta a primeira vez
em que algo é suscitado relativamente à saúde do arguido.
O documento em causa refere-se a um episódio de urgência no Hospital
Beatriz Ângelo, em 22/10/2019, por vómitos persistentes, referindo tratar-se
de doente com história de epilepsia não controlada por incumprimento
terapêutico e ter ocorrido um episódio de crise convulsiva enquanto estava na
sala de espera.
Mais adiante, na mesma sessão, a ilustre defensora do arguido protestou
juntar documentação comprovativa do estado de saúde do arguido, bem como
do acompanhamento médico que tem vindo a ter.
Porém, não foi colocada em questão a imputabilidade do arguido, nem decorre
da acta da audiência de julgamento, relativa a essa 1.ª sessão, que qualquer
dúvida /suspeita tenha sido suscitada, no seu decurso, sobre tal matéria, a
qualquer dos sujeitos processuais.
A fls. 486, veio o arguido, através da sua ilustre defensora, requerer a junção
aos autos de relatório emitido pelo Hospital de S. José, em 25 de Janeiro de
2012 e de documento relativo a exame de EEG – elecroencefalograma –
18 / 43
realizado no dia 17 de Novembro de 2017.
O dito relatório refere-se a uma TC cranioencefálica normal (fls. 487) e o
documento relativo ao EEG refere-se apenas à solicitação de tal exame e à
indicação do seu custo, indicando como mera informação clínica: “Epilepsia
focal (pós malária cerebral?)” (fls.488).
A fls. 593 e seguintes consta relatório social para determinação da sanção, da
DGRSP, onde se refere, quanto ao estado de saúde do arguido, que o mesmo
terá sofrido de “neuro malária” em criança, sofrendo de epilepsia desde os
seus 23 anos de idade, o que lhe provoca convulsões e perda de consciência,
estando dependente de terceiros quando sofre os ataques para o
encaminharem ao hospital. Não tem aderido à terapêutica clínica e os seus
ataques epilépticos são potenciados por consumos de estupefacientes em
contexto de convívio em estabelecimentos de diversão nocturna.
Em 15 de Dezembro de 2019, a ilustre defensora juntou nova série de
documentos – 18 no total - relativos ao estado de saúde do arguido:
essencialmente, relativos a atendimentos de urgência por crises convulsivas
epilépticas, marcação de consultas, facturas, notas de alta e guias de
tratamento (fls. 509 e seguintes)
Foi junto, igualmente, em 17 de Dezembro de 2019, um mandado de condução
ao serviço de urgência psiquiátrica, de 20 de Agosto de 2019, emitido pelo
delegado de saúde (fls. 539).
Perante estes elementos, no início da 2.ª sessão da audiência de julgamento,
em 18 de Dezembro de 2019, o Ministério Público tomou a iniciativa de
requerer nos seguintes termos (cfr. fls. 542 verso):
«Tendo em conta o conteúdo dos documentos sucessivamente apresentados
pelo arguido relativamente à sua situação de saúde mental, entende o
Ministério Público que pese embora não tenha sido suscitada a
inimputabilidade do arguido à data da prática dos factos, mostra-se, contudo,
relevante a determinação do seu actual estado de saúde mental, nos termos e
para os efeitos previstos no art. 105.º do Código Penal.
Nessa medida, e salvaguardando todas as decorrências emergentes de
eventual doença de que o arguido padeça que lhe possa provocar anomalia
psíquica de carácter permanente ou temporário, requer-se ao Tribunal
Coletivo a realizaçao de exame pericial ao arguido, a solicitar ao INML, com
os seguintes quesitos:
a) Se à data da prática dos factos, o arguido padecia de doença ou anomalia
psíquica que o impossibilitasse de compreender ou avaliar a ilicitude dos
factos por si praticados e ou de se determinar de acordo com essa avaliação;
b) Se à presente data o arguido sofre de doença ou anomalia psíquica
susceptível de provocar incapacidade de avaliação da ilicitude de factos ou de
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se determinbar de acordo com essa avaliação;
c) Se tais doenças ou anomalias psíquicas possuem carácter acidental e bem
assim se possuem carácter permanente ou temporário, com incidência na
determinação do grau de perigosidade do arguido face a tal doença ou
anomalia psíquica.
O que se requer ao abrigo do disposto no art. 340.º do C.P.P.»
Nada tendo sido oposto, após deliberação do tribunal colectivo, foi decidido
ser pertinente a realização de perícia médico-legal nos termos promovidos
pelo Ministério Público, a realizar pelo INML, ao qual “deverão ser remetidos
os elementos relevantes, de entre eles a cópia da acusação, do relatório social
e de toda a documentação médica junta pelo arguido, bem como a gravação
das declarações prestadas pelo arguido, em primeiro interrogatório judicial e
na presente audiência”.
O tribunal formulou os seguintes quesitos:
1) À data da prática dos factos o arguido era capaz de entender a ilicitude dos
seus actos e de se determinar de acordo com essa avaliação;
2) Em caso negativo ao quesito antecedente, o arguido sofre de alguma
anomalia psíquica, qual e se a mesma já existia à data dos factos;
3) Tal patologia diminuía ou excluia as suas capacidades cognitivas à data dos
factos;
4) O arguido apresenta perigosidade no sentido de poder vir a praticar factos
da mesma natureza;
5) No presente o arguido apresenta alguma anomalia psíquica que o impeça
de compreender o sentido de uma eventual sanção penal que lhe venha a ser
aplicada.
Pedida a perícia ao INML, a mesma foi distribuída ao Hospital de Santa Maria
- Serviço de Psiquiatria.
O relatório final de exame pericial médico-psiquiátrico, datado de 1 de Julho
de 2020, foi remetido ao tribunal, encontra-se a fls. 569 e seguintes e todos os
sujeitos processuais dele tomaram conhecimento.
Designado dia para a 3.ª sessão da audiência de julgamento, esta teve lugar
no dia 23 de Setembro de 2020, consignando-se em acta o seguinte:
«De seguida, pela Digna Magistrada do Ministério Público, Ilustre mandatário
da assistente e Ilustre Defensora do arguido foi confirmado terem
conhecimento do relatório de exame pericial junto aos autos, esclarecendo,
ainda, nada terem a requerer.»
Da descrição que acabamos de fazer resulta manifesta a falta de razão do
arguido/recorrente quando pretende que o tribunal incorreu em violação dos
artigos 151.º e 351.º do C.P.P. e deveria ter ordenado a realização de perícia
médico-psiquiátrica e que o “processado desde o inquérito é nulo por ausência
20 / 43
de uma segunda perícia médico psiquiátrica”.
Não sofre dúvida que, colocando-se de forma fundada a questão da
inimputabilidade do arguido, o meio de prova adequado para a esclarecer é a
realização de perícia, uma vez que, para esse efeito, se exigem especiais
conhecimentos científicos, como decorre do artigo 151.º do C.P.P.
Nos presentes autos, não se colocou tal questão durante o inquérito, pelo que,
nessa fase, não havia qualquer razão para ordenar a realização de perícia.
Deduzida acusação, não foi requerida a realização de instrução.
Na sua contestação, o arguido limitou-se a oferecer o merecimento dos autos,
arrolando testemunhas.
Só no decurso da 1.ª sessão da audiência de julgamento, e bem assim na
sequência dessa sessão, a ilustre defensora do arguido requereu a junção aos
autos de documentos sobre o estado de saúde do arguido, dando conta de
diversos episódios de urgência hospitalar ocasionados por crimes de epilepsia.
Muito embora não tenha sido suscitada pelo arguido a questão da sua
imputabilidade/inimputabilidade, nem decorra da acta da audiência de
julgamento, relativa à sessão em que o arguido prestou declarações, que
qualquer dúvida /suspeita tenha sido suscitada, no seu decurso, sobre tal
matéria, a qualquer dos sujeitos processuais, certo é que o tribunal, na
sequência de iniciativa do Ministério Público, decidiu ordenar a realização de
perícia médico-psiquiátrica ao arguido, formulando, para o efeito, quesitos.
A proceder dessa forma, agiu o tribunal de harmonia com o disposto nos
artigos 151.º, 159.º, n.º6 e 351.º do C.P.P., verificando-se que, podendo limitar-
se a ordenar a comparência de um perito para se pronunciar sobre o estado
psíquico do arguido – inimputabilidade ou imputabilidade diminuída -, o
tribunal entendeu determinar a realização de perícia médico-psiquiátrica.
Perante este quadro, forçoso é concluir que não ocorreu qualquer nulidade do
processado “desde o inquérito”, sendo que, como já se disse, nessa fase
processual nunca se apresentou qualquer razão para que fosse ordenada a
realização de perícia.
Analisando o relatório final de exame pericial médico-psiquiátrico, verificamos
o seguinte:
- Relativamente ao quesito em que se questiona se à data da prática dos factos
o arguido era capaz de entender a ilicitude dos seus actos e de se determinar
de acordo com essa avaliação, o relatório responde: “Sim” relativamente à
capacidade de entender a ilicitude dos seus actos e “Sim” relativamente à
capacidade de se determinar de acordo com essa avaliação.
- Relativamente ao quesito em que se pergunta se, em caso de resposta
negativa ao quesito antecedente, o arguido sofre de alguma anomalia
psíquica, qual e se a mesma já existia à data dos factos, o relatório responde:
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“Sem objecto, prejudicada pela resposta anterior.
- Relativamente ao quesito em que se pergunta se o arguido apresenta
perigosidade no sentido de poder vir a praticar factos da mesma natureza, o
relatório responde: “Sim”.
Finalmente, relativamente ao quesito em que se questiona se o arguido
apresenta alguma anomalia psíquica que o impeça de compreender o sentido
de uma eventual sanção penal que lhe venha a ser aplicada, a resposta no
relatório é “Não”.
Analisando a discussão e conclusões, temos que o relatório pericial, referindo-
se ao arguido, diz ser “evidente um nível de diferenciação superior, compatível
com as habilitações que refere, com boas capacidades intelectuais, uma parte
delas acima da média”. Assinala que o arguido “mostra-se inteligente e
perspicaz”; existir evidência “de personalidade psicopática com base na forte
tonalidade narcísica, associada a instabilidade emocional, agravada por
consumo de substâncias psicoactivas como cocaína, evidenciando
comportamentos de manipulação com agressividade, diversas penas no
historial clínico, que incluem prisão.”
Mais refere o relatório pericial estar “documentada uma epilepsia focal, com
diversos episódios em que há consequências comportamentais, a nível motor e
eventualmente com expressão a nível de consciência. O quadro poderá ser
entendido como uma sequela de malária cerebral, cujo início será
provavelmente anterior à idade de 8 anos, quando saiu de Luanda e veio para
Portugal.”
Noutros passos diz-se no mesmo relatório:
«4.1.4. A referência a episódios delirantes, eventualmente com alucinações,
não parece evidenciar um processo mórbido enquadrável numa psicose
crónica, mas mais se interpreta como uma sequela do quadro epileptoide ou
sequela dos consumos reiterados de susbtâncias psicoactivas.
4.1.5. Durante esta entrevista não evidencia aspectos deficitários no âmbito
das funções intelectuais, evidenciando boa capacidade para gerir os seus
interesses com zelo.
4.1.6. As perturbações referidas pelo entrevistado, relativas à perturbação da
consciência na sequência dos episódios de epilepsia, não parecem consistente
e não justificam o carácter de agressividade das mesmas.
(…)
4.3.1. No essencial, não existem perturbações que justifiquem o toldamento da
consciência de forma a preservar a capacidade de se defender e atacar, com a
lucidez que é evidenciada. Com este nível de preservação da consciência, não
se coloca a questão da inimputabilidade, nem a dificuladde em gerir os seus
interesses.
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4.3.2. Os episódios delirantes e alucinatórios, são referidos de forma
inconsistente, traduzindo sintomatologia ocasional e circunstancial,
essencialmente associada a consumo de substâncias psicoactivas, e sem um
estruturação que sugira um processo psicótico, preterindo-se assim eventuais
circunstâncias atenuantes.»
Todos os sujeitos processuais tomaram conhecimento do relatório pericial,
tendo ficado consignado na acta da 3.ª sessão da audiência de julgamento,
como já se disse, que «pela Digna Magistrada do Ministério Público, Ilustre
mandatário da assistente e Ilustre Defensora do arguido foi confirmado terem
conhecimento do relatório de exame pericial junto aos autos, esclarecendo,
ainda, nada terem a requerer.»
Quer isto dizer que ninguém – incluindo, pois, o ora recorrente - revelou
qualquer interesse em que fossem pedidos esclarecimentos complementares
ou questionou a perícia médico-psiquiátrica realizada.
É evidente que o recurso do acórdão condenatório não constitui meio idóneo a
questionar a dita perícia e a peticionar a realização de nova perícia.
O que resulta da perícia é que o arguido tem boas capacidades intelectuais,
em parte acima de média, evidencia personalidade psicopática “com base na
forte tonalidade narcísica”, não se colocando a questão da inimputabilidade,
sendo capaz, à data da prática dos factos, de entender a ilicitude dos seus
actos e de se determinar de acordo com essa avaliação, e também não
apresenta, no presente, anomalia psiquica que o impeça de compreender o
sentido de uma eventual sanção penal.
Diz-se no recurso que a Organização Mundial de Saúde define malária “como
um estado de coma não despertável que permaneça mais de trinta (30)
minutos perante confirmação de infecção por plasmodium falciparum e não
atribuível a qualquer coisa”.
Trata-se de uma estranha definição de “malária” que não tem acolhimento na
ciência e não é seguramente adoptado pela Organização Mundial de Saúde
(OMS).
A malária é uma doença infecciosa provocada por protozoários do género
Plasmodium. O parasita é transmitido através da picada do mosquito (fêmea,
género Anopheles) e, uma vez no ser humano, os parasitas multiplicam-se no
fígado, infectando os glóbulos vermelhos do sangue.
Trata-se de uma doença endémica em regiões tropicais e subtropicais de
África, Ásia, América Central e América do Sul, onde existe o habitat ideal
para as larvas do mosquito.
É uma doença que se pode prevenir e tratar, mas que ainda é responsável por
vasta mortalidade, sobretudo na África subsariana e particular incidência
entre crianças até aos 5 anos de idade, o que levou à tomada de diversas
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iniciativas por parte da OMS, como, por exemplo, a aprovação pela
Assembleia Mundial da Saúde, em Maio de 2015, da Strategy for malaria
elimination in the Greater Mekong subregion (2015–2030) e a adopção da
Global technical strategy for malaria 2016-2030.
Os sintomas da malária (além de febre) são variáveis, nomeadamente
dependendo do tipo de parasita da malária, podendo tratar-se de malária “não
complicada” ou de malária “grave”.
O que o recorrente refere como “um estado de coma não despertável que
permaneça mais de trinta (30) minutos” não é, obviamente, uma definição de
“malária”, mas sim a referência a uma forma grave da doença, que quando
causada pela espécie plasmodium falciparum pode progredir muito
rapidamente e provocar a morte num prazo de horas ou dias.
A malária cerebral é uma complicação particularmente perigosa da malária
falciparum.
In casu, o relatório pericial refere estar documentada uma epilepsia focal, com
diversos episódios, como possível sequela de malária cerebral que o arguido
terá sofrido em criança, mas a existência de episódios de urgência, motivados
por crises de epilepsia em que o arguido sofre convulsões, não determina
qualquer estado de inimputabilidade ou de imputabilidade diminuída, sendo
desprovido de qualquer razão pretender o contrário.
Em suma, carece de fundamento pretender, por via de recurso, obter a
realização de nova perícia, sendo despropositada a invocação, a esse respeito,
de uma pretensa violação dos artigos 151.º e 351.º do C.P.P., com base no
sumário de um acórdão do S.T.J. (de 18/10/1989, processo 040762) que se
refere a um caso em que não foi realizada qualquer perícia sobre o estado
psíquico de uma arguida, o que não acontece no caso em apreço.
Também as referências ao artigo 6.º, n.º 1, da Convenção Europeia dos
Direitos Humanos, e bem assim ao artigo 40.º da Carta dos Direitos
Fundamentais da União Europeia, como tendo sido violados, surgem sem base
que as sustente, sendo que, quanto à Carta, o arguido/recorrente parece
ignorar que o âmbito da sua aplicação é restrito à aplicação do direito da
União Europeia, isto é, vincula as instituições, os órgãos e organismos da
União Europeia em toda a sua actuação, mas vincula apenas os Estados-
membros quando apliquem direito da União.
Não se verifica, assim, qualquer nulidade do acórdão recorrido em função da
não realização de uma 2.ª perícia, nem a violação de qualquer dos preceitos
legais invocados pelo recorrente.
Na perspectiva dos vícios decisórios previstos no artigo 410.º, n.º2, do C.P.P.,
atinentes à matéria de facto - vícios da decisão e não de julgamento, não
confundíveis nem com o erro na aplicação do direito aos factos, nem com a
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errada apreciação e valoração das provas ou a insuficiência destas para a
decisão de facto proferida, de conhecimento oficioso, que hão-de derivar do
texto da decisão recorrida por si só considerado ou em conjugação com as
regras da experiência comum -, em particular do vício do erro notório na
apreciação da prova, os mesmos não se verificam (sobre os vícios do artigo
410.º, n.º2, cfr. Maia Gonçalves, Código de Processo Penal Anotado, 16. ª ed.,
p. 873; Germano Marques da Silva, Curso de Processo Penal, Vol. III, 2ª ed., p.
339; Simas Santos e Leal-Henriques, Recursos em Processo Penal, 6.ª ed.,
2007, pp. 77 e ss.; Maria João Antunes, RPCC, Janeiro-Março de 1994, p. 121).
Verifica-se o vício da insuficiência para a decisão da matéria de facto provada,
previsto no artigo 410.º, n.º 2, alínea a), quando a matéria de facto provada
seja insuficiente para fundamentar a decisão de direito e quando o tribunal,
podendo fazê-lo, não investigou toda a matéria de facto relevante, acarretando
a normal consequência de uma decisão de direito viciada por falta de
suficiente base factual, ou seja, os factos dados como provados não permitem,
por insuficiência, a aplicação do direito ao caso que foi submetido à
apreciação do julgador. Dito de outra forma, este vício ocorre quando a
matéria de facto provada não basta para fundamentar a solução de direito e
quando não foi investigada toda a matéria de facto contida no objecto do
processo e com relevo para a decisão, cujo apuramento conduziria à solução
legal (cfr. Simas Santos e Leal-Henriques, Recursos …, 6.ª ed., 2007, p. 69;
Acórdão da Relação de Lisboa, de 11.11.2009, processo 346/08.0ECLSB.L1-3,
em http://www.dgsi.pt).
Quanto à contradição insanável da fundamentação ou entre a fundamentação
e a decisão, vício previsto no artigo 410.º, n.º 2, alínea b), consiste na
incompatibilidade, insusceptível de ser ultrapassada através da própria
decisão recorrida, entre os factos provados, entre estes e os não provados ou
entre a fundamentação e a decisão. Ocorrerá, por exemplo, quando um mesmo
facto com interesse para a decisão da causa seja julgado como provado e não
provado, ou quando se considerem como provados factos incompatíveis entre
si, de modo a que apenas um deles pode persistir, ou quando for de concluir
que a fundamentação da convicção conduz a uma decisão sobre a matéria de
facto provada e não provada contrária àquela que foi tomada – e assim é
porque, como já se disse, todos os vícios elencados no artigo 410.º, n.º 2
, do C.P.P., reportam-se à decisão de facto e consubstanciam anomalias
decisórias, ao nível da elaboração da sentença, circunscritas à matéria de
facto (cfr. Simas Santos e Leal-Henriques, ob. cit., pp. 71 a 73).
Finalmente, o vício do erro notório na apreciação da prova, a que se reporta a
alínea c) do n.º2 do artigo 410.º, verifica-se quando um homem médio, perante
o teor da decisão recorrida, por si só ou conjugada com o senso comum,
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facilmente se apercebe de que o tribunal, na análise da prova, violou as regras
da experiência ou de que efectuou uma apreciação manifestamente incorrecta,
desadequada, baseada em juízos ilógicos, arbitrários ou mesmo contraditórios,
verificando-se, igualmente, este vício quando se violam as regras sobre prova
vinculada ou das leges artis.
O requisito da notoriedade afere-se, como se referiu, pela circunstância de não
passar o erro despercebido ao cidadão comum, ao homem médio - ou, talvez
melhor dito (se partirmos de um critério menos restritivo, na senda do
entendimento do Conselheiro José de Sousa Brito, na declaração de voto no
Acórdão n.º 322/93, in www.tribunalconstitucional.pt, ou do entendimento do
Acórdão do S.T.J. de 30 de Janeiro de 2002, Proc. n.º 3264/01 - 3.ª Secção,
sumariado em SASTJ), ao juiz “normal”, dotado da cultura e experiência que
são supostas existir em quem exerce a função de julgar, desde que seja segura
a verificação da sua existência -, devido à sua forma grosseira, ostensiva ou
evidente, consistindo, basicamente, em decidir-se contra o que se provou ou
não provou ou dar-se como provado o que não pode ter acontecido (cfr. Simas
Santos e Leal-Henriques, ob. cit., p. 74; Acórdão da R. do Porto de 12/11/2003,
Processo 0342994, em http://www.dgsi.pt).
No caso em apreço, os factos provados são suficientes para suportar a decisão
de direito a que se chegou, nas suas diversas vertentes; visionando toda a
matéria factual, não se verifica qualquer inconciliabilidade na fundamentação
ou entre esta e a decisão; também não se patenteia a existência de erro
notório na apreciação da prova, na definição que deixamos supra exposta.
Do que se conclui que do texto do acórdão recorrido, por si só ou conjugado
com os ditames da experiência comum - enquanto critérios generalizantes e
tipificados, assentes na experiência, de inferência factual, simples índices
corrigíveis, critérios que definem conexões de relevância orientando caminhos
de investigação e oferecendo probabilidades conclusivas (cfr. Castanheira
Neves, Sumários de Processo Penal, 1968, Coimbra, p. 45) -, não resulta a
verificação de qualquer dos apontados vícios decisórios.
Inexistindo nulidades ou vícios decisórios e não tendo sido deduzida
impugnação ampla da decisão de facto, considera-se assente a factualidade
provada e não provada.
3.2. O arguido/recorrente considera exageradas as penas impostas, alegando
que violam o princípio da proporcionalidade.
Pede penas mais benévolas e que a pena conjunta seja de prisão suspensa na
execução, terminando por dizer que deve ser libertado – o que não se
compreende, pois não está preso à ordem dos presentes autos.
Quanto à questão da determinação da pena, diz-se no acórdão recorrido:
« Feito o enquadramento jurídico da conduta do arguido, importa determinar,
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dentro da medida abstracta das penas estabelecidas para os ilícitos cometidos,
as penas concretas, com recurso aos critérios do artigo 71º do C.P., sendo a
pena concreta função do binómio culpa do agente – exigências de prevenção
de futuros crimes e atendendo-se a todas as circunstâncias que, não fazendo
parte do tipo de crime, deponham a favor do agente ou contra ele.
Dispõe o art.º 40º, nº 1, do C.P. que “A aplicação das penas (...) visa a
protecção dos bens jurídicos e a reintegração do agente da sociedade",
acrescentando o seu nº 2 que "Em caso algum a pena pode ultrapassar a
medida da culpa".
Toda a pena serve finalidades exclusivas de prevenção geral e especial: a pena
concreta é delimitada no seu máximo inultrapassável pela medida em que se
dimensione a culpa; dentro deste limite máximo é a sanção apurada no
interior de uma moldura de prevenção geral de integração cujo limite superior
é dado pelo ponto óptimo da tutela dos bens jurídicos e cujo limite inferior é
constituído pelas exigências mínimas de defesa do ordenamento jurídico.
Dentro desta moldura (abstracta) de prevenção geral de integração, a medida
da pena irá ser encontrada em função de existências de prevenção especial,
em regra positiva ou de ressocialização excepcionalmente negativa, de
intimação ou segurança individuais, devendo ter sempre um sentido
pedagógico e ressocializador, as penas são aplicadas com o objectivo primeiro
de restabelecer a confiança colectiva na validade da norma violada e, em
última instância, na eficácia do próprio sistema jurídico-legal.
Em conclusão, a pena serve primacialmente, por um lado, para a
responsabilização do arguido, atenta a sua culpa e a intensidade do bem
jurídico violado, contribuindo ainda, por outro lado e ao mesmo nível, para a
sua reinserção, procurando não prejudicar a sua situação social mais do que o
estritamente necessário.
Na determinação da pena o tribunal deve considerar principalmente que
meios são necessários para que o réu leve de novo uma vida ordenada e
conforme a lei - "Mitt IKV Neue Folge", t. 3, pg. 7, citado por H. Jescheck, in
"Tratado de Derecho Penal", vol. II, pg. 1195.
A determinação da medida concreta da pena é efectuada de acordo com os
critérios gerais estabelecidos no nº 1 do Artigo 71º do C.P. conjugado com o
artigo 40º do mesmo diploma – os parâmetros a que deve obedecer toda e
qualquer fixação da pena, em atenção às finalidades que lhe são legalmente
assinaladas – e os especiais constantes do nº 2 – designadamente, grau de
ilicitude, modo de execução, gravidade das consequências, intensidade do
dolo, fins ou motivos, condições pessoais do agente, conduta anterior e
posterior ao facto.
O crime de homicídio, na forma tentada, previsto e punido pelos artigos 22. °,
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23. °, 73. ° n.º 1, e 131. ° n.º 1, do Código Penal tem como moldura abstracta
da pena de prisão, no limite mínimo, a pena de 1 (um) ano, 7 (sete) meses e 8
(oito) dias, e no limite máximo, a pena de 10 (dez) anos e 8 (oito) meses.
O crime de ofensa à integridade física simples, previsto e punido pelo artigo
143º do Código Penal tem como moldura abstracta da pena de prisão, no
limite mínimo, a pena de 1 (um) mês, e no limite máximo, a pena de 3 (três)
anos e como moldura abstracta da pena de multa, no limite mínimo, 10 dias de
multa, e no limite máximo, 360 dias de multa.
O crime de ameaça, agravada, previsto e punido pelos artigos 153. °, n. º1, e
155. °, n. º1, alínea a) do Código Penal, tem como moldura abstracta da pena
de prisão, no limite mínimo, a pena de 1 (um) mês, e no limite máximo, a pena
de 2 (dois) anos e como moldura abstracta da pena de multa, no limite
mínimo, 10 dias de multa, e no limite máximo, 240 dias de multa.
O crime de coacção agravada, na forma tentada, previsto e punido pelos
artigos 154.°, n.ºs 1 e 2, e 155. °, n.º 1, alínea a), 22. °, 23. ° e 73. °, n.º 1, do
Código Penal, tem como moldura abstracta da pena de prisão, no limite
mínimo, a pena de 1 (um) mês, e no limite máximo, a pena de 3 (três) anos e 6
(seis) meses.
Importa ter presente que de acordo com o n.º 2 do artigo 71.º do Código
Penal, na determinação concreta da pena, não devem ser tomadas em
consideração as circunstâncias que façam já parte do tipo de crime.
De acordo com Figueiredo Dias, “As Consequência Jurídicas do Crime”, § 314,
pág. 234, “não devem ser utilizadas pelo juiz para determinação da medida da
pena circunstâncias que o legislador já tomou em consideração ao estabelecer
a moldura penal do facto; e, portanto, não apenas os elementos do tipo de
ilícito em sentido estrito, mas todos os elementos que tenham sido relevantes
para a determinação legal da pena”.
No caso concreto, no crime de ameaça e o crime de coacção verifica-se a
circunstância prevista na alínea a) do nº1 do artigo 155º do Código Penal, não
podendo tal circunstância ser valorada, de novo, agora na medida da pena.
Dispõe o artigo 70º do Código Penal que se ao crime forem aplicadas penas
privativas e não privativas da liberdade, o tribunal dá preferência à segunda
sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da
punição.
Á data dos factos, o arguido já havia sido condenado por sentença transitada
em julgado em 11/12/2015, no âmbito do processo nº 969/15.2PFLRS, foi
condenado pela prática, em 16 de Março de 2015, de um crime de ofensa à
integridade física qualificada e de um crime de injúria agravada, na pena
única de 7 (sete) meses de prisão, substituída por 210 dias de multa. Por
sentença transitada em julgado em 20/5/2016, no âmbito do processo nº
28 / 43
719/13.6PLLRS, foi condenado pela prática, em Março de 2016, de um crime
de dano e, em 2/12/2013, de um crime de ofensa à integridade física simples,
na pena única de 280 dias de multa.
Em suma, os factos foram praticados após ter sido condenado em penas de
multa, pela prática de crimes de igual natureza à dos ilícitos imputados nestes
autos. A reiteração da prática de ilícitos, após condenação em multa pela
prática de crimes de igual natureza demonstra, de forma clara, que as
decisões condenatórias e as advertências que resultam das mesmas foram
insuficientes à mudança do percurso de vida, pelo arguido, e à adopção de
uma conduta pautada pelas normas e regras da sociedade. Neste quadro, a
pena de multa é insuficiente para satisfazer as exigências da punição. Impõe-
se redobrar esforços no sentido de atalhar situações semelhantes.
Importa realçar que da postura do arguido, em sede de julgamento, não se
extrai qualquer acto revelador de uma reflexão sobre a conduta adoptada,
atitude crítica ou preocupação pelos efeitos da sua conduta na esfera de
terceiros.
Assim e considerando as condenações sofridas pelo arguido e a postura pelo
mesmo assumida, em tribunal, a pena de multa não se mostra suficiente para
satisfazer as exigências da punição. A ordem, segurança e tranquilidade
públicas exigem a intervenção punitiva contra os ilícitos em causa nestes
autos, cada vez mais frequentes, e que o pagamento de uma multa, a ser
efectivada, de pronto ou em pagamento diferido, não acautela. Assim, a pena
de prisão é aquela que se apresenta com maior potencial de sucesso, ao nível
dissuasor, respondendo à protecção dos bens jurídicos violados, além de
desempenhar uma função retributiva, na forma de interiorização do mal
causado, sendo a pena preferível, elegível e aconselhável, em nome de
prementes necessidades de prevenção geral.
Face ao exposto, a moldura abstracta da pena de multa mostra-se
manifestamente insuficiente para satisfazer as finalidades da punição, pelo
que não se opta pela pena de multa, o que se consigna nos termos do artigo
70º do C.P..
Feita a escolha da pena, vejamos, então, a medida das penas.
As exigências de prevenção geral são bastante acentuadas. O crime de
homicídio atenta directamente contra o bem vida, uniformemente,
considerado como valor nuclear da vida em sociedade e o respeito pelo mesmo
uma condição essencial da relação entre cidadãos. Se a finalidade do Direito
Penal é a protecção de bens jurídicos, a Vida é o primeiro dos valores a ser
tutelado e protegido. A prática do homicídio cresce, exponencialmente, em
todo o país, denotando a banalização do respeito pela vida humana, tornando
a necessidade de pena, actualizada e adequada ao valor supremo bem jurídico
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protegido suprimido, irrepetível, e o mais valioso na pirâmide dos direitos
fundamentais. A função de prevenção geral que deve acentuar perante a
comunidade o respeito e a confiança na validade das normas que protegem o
bem mais essencial tem de ser eminentemente assegurada, sobrelevando as
restantes finalidades da punição.
Para além da acentuada necessidade de prevenção geral e de harmonia com o
disposto no artigo 71º do Código Penal, há a salientar:
i. o grau de ilicitude da conduta:
i.1. atento o modo de execução do ilícito;
i.2. o período temporal ao longo da qual a conduta agressiva do arguido se
manifestou;
i.3. as lesões provocadas:
- na situação ocorrida em 3 de Fevereiro, como consequência directa e
necessária da conduta do arguido A. , o ofendido MC sofreu dores do pescoço,
bem como escoriações na zona cervical anterior, que lhe determinaram 8
(oito) dias de doença, sem incapacidade para o trabalho.
- na situação ocorrida em 11 de Abril, como consequência directa e necessária
da conduta do arguido A. , o ofendido MC sofreu dores nas regiões atingidas,
hematoma supraciliar direito, ferida occipital direita, marcas de mordedura na
face ântero-Iateral do abdómen, fractura do arco costal esquerdo e edema na
mão esquerda, lesões que determinaram 30 (trinta) dias de doença, com 5 dias
de afectação da capacidade para o trabalho geral, e 30 dias com afectação da
capacidade para o trabalho profissional.
ii. a intensidade do dolo, na modalidade de dolo directo (artigo 14º, nº1, do
C.P.).
iii. o comportamento anterior e posterior aos factos: à data dos factos, o
arguido já havia sido condenado pela prática dos seguintes ilícitos:
a. por sentença transitada em julgado em 11/12/2015, no âmbito do processo
nº 969/15.2PFLRS, foi condenado pela prática, em 16 de Março de 2015, de
um crime de ofensa à integridade física qualificada, previsto e punido pelos
artigos 143º e 145º, nº1, do Código Penal; um crime de injúria, agravada; em
cúmulo jurídico, foi condenado na pena única de 7 (sete) meses de prisão,
substituída por 210 dias de multa, à taxa diária de€8,00;
b. por sentença transitada em julgado em 20/5/2016, no âmbito do processo nº
719/13.6PLLRS, foi condenado pela prática, em Março de 2016, de um crime
de dano; e em 2/12/2013, de um crime de ofensa à integridade física simples,
previsto e punido pelo artigo 143º do Código Penal; em cúmulo jurídico, foi
condenado na pena única de 280 dias de multa, à taxa diária de€5,00;
No comportamento posterior, não pode deixar de ser ponderada a não
reparação ou tentativa de reparação dos danos provocados.
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d) as condições pessoais do arguido, suas habilitações literárias e situação
familiar, laboral e económica.
Resulta da matéria de facto provada que o arguido A. é o segundo de quatro
irmãos. Viveu em Angola até aos cerca de 8/9 anos de idade, altura em que a
família veio para Portugal, onde o pai já se encontrava radicado, vindo a
adquirir o Título de Autorização de Residência. O pai exercia e exerce
actividade como subempreiteiro da construção civil e mãe professora quando
a viver em Angola e cozinheira, em Portugal.
Quando em criança, o arguido padeceu de neuro malária, tendo permanecido
alguns dias em coma o que lhe condicionou e alterou alguns aspectos do seu
comportamento durante cerca de um ano, tendo sido acompanhado
clinicamente.
O arguido manteve-se grande parte da sua vida integrado na escola, tendo
revelado competências de aprendizagem e completado o curso superior na
área de cinema, comunicação, televisão e multimédia em 2016. Concluiu dois
cursos profissionais na mesma área.
Em termos laborais, trabalhou em empresas ligadas ao áudio visual, vídeo e
publicidade como chefe de produções e constituiu a sua própria empresa
“online” nesta área profissional, denominada “BP ” detendo um espaço físico
onde laborava. Presentemente o espaço está encerrado e a sua empresa
inactiva.
Ao nível da saúde, o arguido sofre de epilepsia o que lhe provoca ataques
epitéticos, com convulsões e perda de consciência, estando dependente de
terceiros quando sofre os ataques para o encaminharem ao hospital, não
podendo viver sozinho.
Apesar de estar a ser acompanhado ao nível clínico na área da neurologia e
psicofarmacológica, os ataques epitéticos manifestam-se com acentuada
frequência, uma vez que o arguido não tem aderido à terapêutica.
O comportamento aditivo que veio a desenvolver no que respeita aos
consumos de haxixe, drogas sintéticas (MDMA) e cocaína, estas mais
ocasionalmente e em contexto de convívio em estabelecimentos de diversão
noturna, potenciam-lhe também os ataques epiléticos, tendendo a ser
desconfiado das intenções dos outros. Assume comportamentos impulsivos e
de agressividade em contexto de relações interpessoais sentidas como
frustrantes.
Apresenta “forte autoestima, ausência de culpabilidade”, “discurso bem
estruturado, denotando bom nível de informação, realçando a sua
diferenciação e centrado na preocupação de evidenciar a injustiça de que é
vítima”. “Adopta uma postura de superioridade, fundamentada na sua
diferenciação intelectual e sucesso como empresário, desvalorizando o
31 / 43
passado os tumultos e os insucessos que considera sequelas da epilepsia”.
O arguido sentia-se vítima de “Bulling” no trabalho.
Tinha períodos de depressão, por vezes com ideação suicida, tendo intentado
contra a sua vida através de toma de comprimidos, que obrigou a assistência
hospitalar. Esta instabilidade psicoafectiva e social implicou internamentos no
serviço de psiquiatria do Hospital Miguel Ângelo, onde permaneceu internado
durante alguns dias, mantendo a necessidade de acompanhamento clínico e
psicofármaco ao nível ambulatório ao qual não aderia, pelo que reincidia nas
problemáticas de saúde e comportamentais.
O arguido sempre viveu no agregado familiar de origem.
Encontra-se sujeito à medida de coacção de prisão preventiva desde
15/11/2019, à ordem do processo n.º 48/19.1 PJLRS. À data da sua reclusão, o
arguido integrava o agregado familiar de origem, constituído pela mãe,
cozinheira, dois irmãos, uma irmã empregada de loja e outro estudante, e dois
sobrinhos menores de idade. O pai e um irmão residem em Angola. A dinâmica
familiar é caraterizada pela coesão afetiva e transmissão de valores
normativos, com condição económica sustentável. Apesar de estar a trabalhar
em publicidade por conta de outrem e por conta própria, revelava uma
situação de vida instável aos seus diversos níveis, ligada essencialmente aos
seus problemas de saúde e que lhe condicionava um normal quotidiano,
padecendo de frequentes crises de epilepsia que obrigava à sua
hospitalização. Os consumos de estupefacientes também se apresentavam
como factores desestabilizadores pessoais. Apesar de estar ligado aos serviços
clínicos do Hospital Beatriz Ângelo, o arguido não aderia à terapêutica, pelo
que se revelava descompensado ao nível psicológico, da sua doença de
epilepsia e ao nível psicológico e comportamental. Alternava entre momentos
de depressão e de impulsividade e agressividade ao nível das interações
pessoais, revelando, por vezes, comportamentos agressivos pouco controlados
para com outrem e, por vezes, também ao nível intrafamiliar, constituindo-se,
por vezes, um elemento perturbador da sua dinâmica familiar, revelando a
mãe receios que o arguido em momentos de descompensação psicológica e
comportamental possa evidenciar condutas de agressividade e coacção para
com ela e o irmão mais novo.
Restituído à liberdade, perspectiva reintegrar o agregado familiar de origem,
que se mostra apoiante, pretendendo trabalhar por conta própria na sua área
profissional. Os familiares revelam perceção da problemática de saúde do
arguido e da necessidade de este vir a realizar um tratamento em regime
internamento numa instituição especializada para a sua problemática, uma
vez que o arguido não adere à terapêutica quando acompanhado em
ambulatório. Devido à epilepsia e aos consequentes ataques epiléticos, o
32 / 43
arguido necessita de viver acompanhado.
Em prisão preventiva à ordem de outro processo, continua a beneficiar do
apoio da família, sendo opinião dos familiares que o internamento do arguido,
em instituição de saúde apropriada, constitui a única forma de este aderir ao
tratamento necessário e conseguir alterar os aspectos disfuncionais pessoais
que tem revelado nos últimos anos.
São bastante acentuadas as exigências de prevenção especial.
Vejamos.
O arguido desvaloriza a gravidade das suas condutas, atribuindo a
agressividade das mesmas a perturbações motivadas por um quadro de
epilepsia e de malária.
Consta do relatório de perícia psiquiátrica que “As perturbações referidas pelo
entrevistado, relativas à perturbação da consciência na sequência dos
episódios de epilepsia (…) não justificam o caracter de agressividade das
mesmas”, concluindo o Senhor Perito que “não existem perturbações que
justifiquem o toldamento da consciência de forma a preservar a capacidade de
se defender e atacar, com a lucidez que é evidenciada”.
Pese embora atribua a sua agressividade e falta de controlo dos impulsos a
perturbações provocadas pela epilepsia de que padece, decorre da matéria de
facto assente que apesar de acompanhado a nível clínico na área da
neurologia e psicofarmacológica, o arguido não adere à terapêutica. São os
próprios familiares que sugerem o internamento do arguido numa instituição
especializada para a sua problemática por constatarem que o mesmo não
adere à terapêutica quando acompanhado em ambulatório.
Resulta, ainda, da matéria de facto assente que a reincidência nas
problemáticas de saúde é motivada pela não adesão à terapêutica e que o
comportamento aditivo que veio a desenvolver no que respeita aos consumos
de haxixe, drogas sintéticas (MDMA) e cocaína, potenciam-lhe os ataques
epiléticos.
Em suma, os comportamentos impulsivos e de agressividade não são
explicados pela epilepsia de que padece, tratando-se de uma característica da
sua personalidade: assume tais comportamentos em contexto de relações
interpessoais sentidas como frustrantes. Isso resulta com clareza do relatório
pericial do qual consta que o arguido evidencia “boa capacidade para gerir os
seus interesses com zelo” e que “Os episódios delirantes e alucinatórios, são
referidos de forma inconsistente, traduzindo sintomatologia ocasional e
circunstancial, essencialmente associada a consumo de substâncias
psicoactivas e sem uma estruturação que sugira um verdadeiro processo
psicótico”.
Por último, não pode deixar de ser valorada a perigosidade, concreta, de o
33 / 43
arguido reincidir na sua conduta.
Ponderando todos estes factores, os parâmetros acima assinalados, o motivo
subjacente à conduta do arguido, em ambas as situações, as lesões provocadas
e as acentuadas exigências de prevenção, geral e especial, entende o tribunal
proporcionais e adequadas as seguintes penas:
i. crime de homicídio: a pena de 3 (três) anos de prisão.
ii. crime de ofensa à integridade física: 9 (nove) meses de prisão.
iii. crime de ameaça, agravada (ofendido MC ): 8 (oito) meses de prisão.
iv. crime de ameaça, agravada (ofendida GC ): 8 (oito) meses de prisão.
v. crime de coacção, agravada, na forma tentada: 9 (nove) meses de prisão.
III. 2 Do cúmulo jurídico das penas parcelares aplicadas ao arguido
Nos termos dos artigos 30º, nº1, e 77º, ambos do Código Penal, há que aplicar
uma pena única ao arguido A. .
A moldura abstracta da pena de prisão do arguido tem como limite máximo a
pena de 5 (cinco) anos e 10 (dez) meses de prisão e limite mínimo, 3 (três)
anos de prisão (artigo 77º, nº 2, do Código Penal).
Na determinação da medida da pena única, deve o tribunal ter em
consideração a globalidade dos factos e a personalidade do arguido, bem
como as finalidades da punição (prevenção geral e especial).
Importa efectuar uma avaliação da gravidade da ilicitude global, a existência,
ou não, de ligações, conexões, ou pontos de contacto, entre as diversas
actuações, e, na afirmativa, o tipo de ligação, conexão, ou contacto, que se
verifique entre os factos em concurso, quer pela proximidade temporal, quer
na identidade ou proximidade de bens jurídicos violados, quer no objectivo
pretendido.
O arguido tem antecedentes criminais, nomeadamente pela prática de crimes
contra a integridade física e contra a liberdade pessoal.
Conforme já se explicou, a prática de novos ilícitos penais após sofridas as
condenações, demonstra claramente que a pena sofrida/penas sofridas foram
manifestamente insuficientes para satisfazer as finalidades da punição.
Milita em favor do arguido a circunstância de se encontrar integrado
laboralmente, quando privado da liberdade e possuir hábitos de trabalho.
Milita igualmente a favor do arguido a inserção familiar e o apoio dos
familiares. Todavia, esse apoio já se verificava desde data anterior aos factos e
não se mostrou suficiente para demover o arguido da prática de ilícitos. Tanto
assim é que a primeira situação ocorreu em 3 de Fevereiro. O apoio dos
familiares não obstaculizou à prática de ilícitos nessa data. Tal como não o
demoveu da prática de novo ilícito, em 11 de Abril de 2017.
Não foi demonstrada qualquer reflexão crítica sobre as condutas adoptadas.
Pelo contrário. Assumiu uma atitude desculpabilizante, atribuindo a
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agressividade das suas condutas a perturbações motivadas por um quadro de
epilepsia. Apesar dessa sua postura, também não adere à terapêutica
prescrita, pese embora acompanhado a nível clínico, na área da neurologia e
psicofarmacológica
Por último, não pode deixar de ser valorado o período temporal em que
ocorreu a prática dos ilícitos. Desde 3 de Fevereiro a 11 de Abril, o arguido
persistiu na sua conduta agressiva perante os ofendidos MC e GC ,
desagradado que estava com a proibição de frequentar a cave do café
explorado por aqueles. Não satisfeito com a conduta adoptada no dia 3 de
Fevereiro, o arguido voltou ao estabelecimento comercial e reiterou na prática
de ilícitos. Tomado conhecimento que havia sido participada a sua conduta às
autoridades policiais, nem essa circunstância o demoveu da prática de novo
ilícito.
Ponderando tais factores, a globalidade dos factos, o percurso de vida, a idade
e a personalidade do arguido (artigo 77º, nº 2, do Código Penal), bem como as
finalidades da punição (prevenção geral e especial), o tribunal julga adequada
a pena única de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão (artigo 77º, nº 2, do
Código Penal).
*
Da suspensão da execução da pena
A questão que se coloca é determinar se a pena de prisão aplicada ao arguido
deve ser suspensa na execução.
Nos termos do nº 1 do artigo 50º do Código Penal, “o tribunal suspende a
execução da pena de prisão aplicada em medida não superior a 5 anos se,
atendendo à personalidade do agente, às condições da sua vida, à sua conduta
anterior e posterior ao crime e às circunstâncias deste, concluir que a simples
censura do facto e a ameaça da prisão realizam de forma adequada e
suficiente as finalidades da punição.”
Escreve o Prof. Figueiredo Dias, nas suas lições de “Direito Penal” (pág. 342)
que, para além do pressuposto formal (agora pena não superior a 5 anos de
prisão por imperativo legal da nova redacção dada a este preceito pela Lei nº
59/2007, de 04/09), “a lei exige um pressuposto de ordem material, ou seja, a
verificação, atendendo à personalidade do agente e às circunstâncias do caso,
de um prognóstico favorável relativamente ao comportamento futuro do
arguido.
A suspensão da execução da pena de prisão é uma medida de conteúdo
reeducativo e pedagógico”.
O pressuposto de ordem material prende-se com a ressocialização. Sempre
que o julgador puder formular um juízo de prognose favorável, à luz de
considerações de prevenção especial, sobre a possibilidade de ressocialização
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do arguido, não deverá decretar a execução da pena.
Assim e reportando-nos ao caso dos autos, verifica-se o pressuposto formal.
Com efeito, entendeu este tribunal que ao arguido deve ser aplicada pena de
prisão não superior a 5 (cinco) anos.
Milita a favor do arguido, conforme já foi referido, os hábitos de trabalho e o
apoio familiar de que beneficia.
Milita a seu desfavor a circunstância de o arguido, à data dos factos, já ter
sofrido condenações pela prática de crimes contra a integridade física e
contra a liberdade pessoal.
A suspensão da execução da pena assenta num juízo de prognose favorável,
centrado na pessoa do arguido e no seu comportamento futuro, e é norteado,
por sua vez, pelo desiderato de afastar, tendo em conta as concretas condições
do caso, o delinquente da senda do crime. De um lado, cumpre assegurar que
a suspensão da execução da pena de prisão não colida com as finalidades da
punição. Numa perspectiva de prevenção especial, deverá favorecer a
reinserção social do condenado; por outro lado, tendo em conta as
necessidades de prevenção geral, importa que a comunidade não encare, no
caso, a suspensão, como sinal de impunidade, retirando toda a sua confiança
ao sistema repressivo penal.
Ponderando as circunstâncias acima expostas a propósito da determinação da
medida da pena, entende o tribunal que não se mostra possível a formação de
um juízo de prognose favorável no sentido da simples censura do facto e a
ameaça da pena satisfazer as finalidades da punição.
A prática de novos ilícitos de igual natureza espelham, de modo evidente, que
a advertência das decisões condenatórias não constituiu motivação suficiente
para o arguido pautar a sua vida pelas regras e normas da sociedade.
Em segundo lugar, não pode deixar de ser valorada a postura do arguido de
desvalorização da gravidade das suas condutas. O arguido atribui a
agressividade dos seus comportamentos a perturbações motivadas por um
quadro de epilepsia. Porém, não adere à terapêutica prescrita, no âmbito do
acompanhamento médico, na área da neurologia, sendo que o comportamento
aditivo que veio a desenvolver no que respeita aos consumos de haxixe, drogas
sintéticas (MDMA) e cocaína, potenciam-lhe os ataques epiléticos.
Face ao seu percurso; à atitude desculpabilizante que adopta relativamente
aos seus comportamentos agressivos; à falta de adesão à terapêutica prescrita
e manutenção dos consumos de substâncias estupefacientes; à sua
personalidade agressiva; aos comportamentos que adopta contrários às
normas e regras da vida em sociedade e que espelham total desrespeito pelos
mais importantes bens jurídicos protegidos pelo nosso ordenamento jurídico-
penal, designadamente, a vida e a integridade física das pessoas; ao total
36 / 43
alheamento das consequências das suas condutas na esfera de terceiros; não
se mostra possível formular um juízo de prognose favorável, à luz de
considerações de prevenção especial, pelo que não se verificam os
pressupostos para que seja decretada a execução da pena.»
A determinação da pena envolve diversos tipos de operações, resultando do
preceituado no artigo 40.º do Código Penal que as finalidades das penas
reconduzem-se à protecção de bens jurídicos (prevenção geral) e à
reintegração do agente na sociedade (prevenção especial).
O juiz começa por determinar a moldura penal abstracta e, dentro dessa
moldura, determina depois a medida concreta da pena que vai aplicar, para
finalmente escolher a espécie da pena que efectivamente deve ser cumprida,
tendo em vista as penas de substituição que a lei prevê.
Tendo em vista o disposto no artigo 70.º do Código Penal, o tribunal recorrido
fundamentou devidamente a opção pela pena de prisão quanto aos crimes que
contemplam penas compósitas de prisão ou multa, tendo em vista as
exigências preventivas.
No que toca às molduras penais abstractas, impõem-se ligeiras correcções.
Assim, o crime de homicídio, na forma tentada, previsto e punido pelos artigos
22.º, 23.º, 73.º, n.º 1, e 131.º, n.º 1, do Código Penal, tem como moldura
abstracta da pena de prisão, no limite mínimo, a pena de 1 (um) ano 7 (sete)
meses e 6 (seis) dias (e não 8 dias), e no limite máximo, a pena de 10 (dez)
anos e 8 (oito) meses.
Por sua vez, o crime de coacção agravada, na forma tentada, previsto e punido
pelos artigos 154.°, n.ºs 1 e 2, e 155. °, n.º 1, alínea a), 22.º, 23.° e 73.°, n.º 1,
do Código Penal, tem como moldura abstracta da pena de prisão, no limite
mínimo, a pena de 1 (um) mês, e no limite máximo, a pena de 3 (três) anos e 4
(quatro) meses (e não 6 meses).
Estabelece o artigo 71.º, n.º1, do Código Penal, que a determinação da medida
da pena, dentro da moldura legal, é feita «em função da culpa do agente e das
exigências de prevenção». O n.º2 elenca, a título exemplificativo, algumas das
circunstâncias, agravantes e atenuantes, a atender na determinação concreta
da pena, dispondo o n.º3 que na sentença são expressamente referidos os
fundamentos da medida da pena, o que encontra concretização adjectiva no
artigo 375.º, n.º1, do C.P.P., ao prescrever que a sentença condenatória
especifica os fundamentos que presidiram à escolha e à medida da sanção
aplicada.
Em termos doutrinais tem-se defendido que as finalidades da aplicação de
uma pena residem primordialmente na tutela dos bens jurídicos e, tanto
quanto possível, na reinserção do agente na comunidade e que, neste quadro
conceptual, o processo de determinação da pena concreta seguirá a seguinte
37 / 43
metodologia: a partir da moldura penal abstracta procurar-se-á encontrar uma
sub-moldura para o caso concreto, que terá como limite superior a medida
óptima de tutela de bens jurídicos e das expectativas comunitárias e, como
limite inferior, o quantum abaixo do qual já não é comunitariamente
suportável a fixação da pena sem pôr irremediavelmente em causa a sua
função tutelar. Dentro dessa moldura de prevenção actuarão, de seguida, as
considerações extraídas das exigências de prevenção especial de socialização.
Quanto à culpa, compete-lhe estabelecer o limite inultrapassável da medida da
pena a estabelecer (cfr. Figueiredo Dias, Direito Penal Português – As
consequências jurídicas do crime, Editorial Notícias, 1993 pp. 227 e segs.).
Na mesma linha, Anabela Miranda Rodrigues, no seu texto O modelo de
prevenção na determinação da medida concreta da pena (Revista Portuguesa
de Ciência Criminal, ano 12, n.º2, Abril-Junho de 2002, pp. 181 e 182),
apresenta três proposições, em jeito de conclusões, da seguinte forma
sintética:
“Em primeiro lugar, a medida da pena é fornecida pela medida da necessidade
de tutela de bens jurídicos, isto é, pelas exigências de prevenção geral positiva
(moldura de prevenção). Depois, no âmbito desta moldura, a medida concreta
da pena é encontrada em função das necessidades de prevenção especial de
socialização do agente ou, sendo estas inexistentes, das necessidades de
intimidação e de segurança individuais. Finalmente, a culpa não fornece a
medida da pena, mas indica o limite máximo da pena que em caso algum pode
ser ultrapassado em nome de exigências preventivas.”
De acordo com o referido artigo 71.º, n.º 2, do Código Penal, há que
considerar os factores reveladores da censurabilidade manifestada no facto,
nomeadamente os factores capazes de fornecer a medida da gravidade do tipo
de ilícito objectivo e subjectivo – indicados na alínea a), primeira parte (grau
de ilicitude do facto, modo de execução e gravidade das suas consequências),
e na alínea b) (intensidade do dolo ou da negligência) –, e os factores a que se
referem a alínea c) (sentimentos manifestados no cometimento do crime e fins
ou motivos que o determinaram) e a alínea a), parte final (grau de violação dos
deveres impostos ao agente), bem como os factores atinentes ao agente, que
têm que ver com a sua personalidade – factores indicados na alínea d)
(condições pessoais e situação económica do agente), na alínea e) (conduta
anterior e posterior ao facto) e na alínea f) (falta de preparação para manter
uma conduta lícita, manifestada no facto). Na consideração das exigências de
prevenção, destacam-se as circunstâncias relevantes por via da prevenção
geral, traduzida na necessidade de protecção do bem jurídico ofendido
mediante a aplicação de uma pena proporcional à gravidade dos factos,
reafirmando a manutenção da confiança da comunidade na norma violada, e
38 / 43
de prevenção especial, que permitam fundamentar um juízo de prognose
sobre o cometimento de novos crimes no futuro e assim avaliar das
necessidades de socialização. Incluem-se aqui o comportamento anterior e
posterior ao crime [alínea e)], com destaque para os antecedentes criminais) e
a falta de preparação para manter uma conduta lícita, manifestada no facto
[alínea f)]. O comportamento do agente, a que se referem as circunstâncias
das alíneas e) e f), adquire particular relevo para determinação da medida da
pena em vista das exigências de prevenção especial.
Volvendo ao caso concreto em apreciação, não devendo a pena ultrapassar o
limite imposto pela culpa, deve cumprir as exigências de prevenção geral e
especial atenta a gravidade dos crimes cometidos.
O tribunal recorrido ponderou que as exigências de prevenção geral são
bastante acentuadas, tendo em atenção que o crime de homicídio atenta
directamente contra o bem vida, uniformemente considerado como valor
nuclear da sociedade, sendo o respeito pelo mesmo uma condição essencial da
relação entre cidadãos. Como se diz no acórdão recorrido, a função de
prevenção geral “que deve acentuar perante a comunidade o respeito e a
confiança na validade das normas que protegem o bem mais essencial, tem de
ser eminentemente assegurada, sobrelevando as restantes finalidades da
punição”.
Foram considerados: o grau de ilicitude das condutas, atento o modo de
execução do ilícitos, o período temporal ao longo da qual a actuação do
arguido se manifestou e as lesões provocadas; a intensidade do dolo, na
modalidade de dolo directo, sendo de notar o intervalo de tempo em que
ocorreu a prática dos ilícitos; o comportamento anterior e posterior aos
factos, destacando-se que, à data, o arguido já havia sido condenado pela
prática de crimes de ofensa à integridade física qualificada, injúria agravada,
dano e ofensa à integridade física simples; no comportamento posterior, a não
reparação ou tentativa de reparação dos danos provocados; finalmente, as
condições pessoais do arguido, suas habilitações literárias e situação familiar,
laboral e económica.
A favor do arguido, a circunstância de se encontrar integrado laboralmente e
possuir hábitos de trabalho, a inserção familiar e o apoio dos familiares.
Todavia, esse apoio já se verificava desde data anterior aos factos e não se
mostrou suficiente para demover o arguido da prática de ilícitos.
Como se realça no acórdão recorrido, não foi demonstrada qualquer reflexão
crítica sobre as condutas adoptadas, mas antes o contrário: o arguido assumiu
uma atitude desculpabilizante, atribuindo a agressividade das suas condutas a
perturbações motivadas por um quadro de epilepsia.
No quadro circunstancial que o tribunal tinha de ponderar, sopesando as
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circunstâncias face ao binómio da culpa e da prevenção, o tribunal fixou as
penas parcelares em:
i. crime de homicídio: a pena de 3 (três) anos de prisão.
ii. crime de ofensa à integridade física: 9 (nove) meses de prisão.
iii. crime de ameaça, agravada (ofendido MC ): 8 (oito) meses de prisão.
iv. crime de ameaça, agravada (ofendida GC): 8 (oito) meses de prisão.
v. crime de coacção, agravada, na forma tentada: 9 (nove) meses de prisão.
A actividade judicial de determinação da pena apresenta-se como uma
actividade juridicamente vinculada, mas não é uma ciência exacta, pelo que, a
nosso ver, o tribunal de recurso deve intervir na alteração da pena concreta
quando se justifique uma alteração minimamente significativa.
Entendemos que as penas parcelares foram fixadas com equilíbrio, sem
qualquer excesso, pelo que não merecem censura.
Estabelece, quanto a regras de punição do concurso de crimes, o artigo 77.º,
n.º 1, do Código Penal, que “Quando alguém tiver praticado vários crimes
antes de transitar em julgado a condenação por qualquer deles é condenado
numa pena única. Na medida da pena são considerados, em conjunto, os
factos e a personalidade do agente”.
Nos termos do n.º 2, a moldura do concurso tem como limite máximo a soma
das penas concretamente aplicadas aos vários crimes, não podendo
ultrapassar 25 anos tratando-se de pena de prisão e 900 dias tratando-se de
pena de multa; e como limite mínimo a mais elevada das penas concretamente
aplicadas aos vários crimes.
O que significa que, no caso presente, a moldura de punição do concurso é de
pena de 3 (três) anos a 5 (cinco) anos e 10 (dez) meses de prisão
A medida da pena unitária a atribuir em sede de cúmulo jurídico reveste-se de
uma especificidade própria, pois na fixação da pena correspondente ao
concurso entra como factor determinante a personalidade do agente enquanto
elemento aglutinador da pena aplicável aos vários crimes.
Na consideração dos factos (do conjunto dos factos que integram os crimes em
concurso) está ínsita uma avaliação da gravidade da ilicitude global, como se o
conjunto de crimes em concurso se ficcionasse como um todo único,
globalizado, que deve ter em conta a existência ou não de ligações ou
conexões e o tipo de ligação ou conexão que se verifique entre os factos em
concurso.
Refere Cristina Líbano Monteiro, A Pena «Unitária» do Concurso de Crimes,
Revista Portuguesa de Ciência Criminal, ano 16, n.º 1, págs. 151 a 166, o
Código rejeita uma visão atomística da pluralidade de crimes e obriga a olhar
para o conjunto – para a possível conexão dos factos entre si e para a
necessária relação de todo esse bocado de vida criminosa com a personalidade
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do seu agente, estando em causa a avaliação de uma «unidade relacional de
ilícito», portadora de um significado global próprio, a censurar de uma vez só
a um mesmo agente.
Como se diz no acórdão do S.T.J., de 31 de Março de 2011, Processo
169/09.9SYLSB.S1, a pena conjunta tenderá a ser uma pena voltada para
ajustar a sanção - dentro da moldura formada a partir de concretas penas
singulares – à unidade relacional de ilícito e de culpa, fundada na conexão
auctoris causa própria do concurso de crimes.
Para esse efeito há que ter em conta os critérios gerais da medida da pena
contidos no artigo 71.º do Código Penal – exigências gerais de culpa e
prevenção –, em conjugação com a proclamação de princípios ínsita no artigo
40.º, atenta a necessidade de tutela dos bens jurídicos ofendidos e das
finalidades das penas, incluída a conjunta, aqui acrescendo o critério especial
fornecido pelo artigo 77.º, n.º 1, do Código Penal.
Através da pena conjunta visa-se procurar uma “sanção de síntese”, na
perspectiva da avaliação da conduta total, na sua dimensão, gravidade e
sentido global, da sua inserção no plano da conformação das circunstâncias
reais, concretas, vivenciadas e específicas de determinado ciclo de vida do
arguido em que foram cometidos vários crimes. A pena conjunta situar-se-á
até onde a empurrar o efeito “expansivo” sobre a parcelar mais grave, das
outras penas, e um efeito “repulsivo” que se faz sentir a partir do limite da
soma aritmética de todas as penas e que se prende com uma preocupação de
proporcionalidade entre o peso relativo de cada parcelar, em relação ao
conjunto de todas elas (ver, por exemplo, acórdão do S.T.J., de 10 de Setembro
de 2009, processo n.º 26/05.8.SOLSB-A.S1, 5.ª Secção).
Neste quadro, na valoração do ilícito global no quadro da personalidade do
arguido documentada nos factos, apelando aos factores considerados no
acórdão recorrido, conforme transcrição supra, sendo muito significativas as
exigências de prevenção, geral e especial, a fixação da pena conjunta em 4
(quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão mostra-se equilibrada e proporcional.
O artigo 50.º, n.º1, do Código Penal, dispõe: «O tribunal suspende a execução
da pena de prisão aplicada em medida não superior a 5 anos se, atendendo à
personalidade do agente, às condições da sua vida, à sua conduta anterior e
posterior ao crime e às circunstâncias deste, concluir que a simples censura
do facto e a ameaça da prisão realizam de forma adequada e suficiente as
finalidades da punição».
Traduzindo-se na não execução da pena de prisão aplicada em medida não
superior a 5 anos, entendemos, com o apoio da melhor doutrina, que a
suspensão constitui uma verdadeira pena autónoma de substituição (com
elementos relevantes sobre a natureza de pena autónoma, de substituição, da
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pena suspensa, veja-se o acórdão da Relação de Évora, de 10.07.2007, Proc.
n.º 912/07-1, www.dgsi.pt; cfr., igualmente, Figueiredo Dias, ob. cit., pp. 91,
329, 339 ).
Partindo da noção de que a suspensão de execução da prisão é uma pena de
substituição em sentido próprio, temos como pressuposto material da sua
aplicação que o tribunal, atendendo à personalidade do agente, às condições
da sua vida, à sua conduta anterior e posterior ao crime e às circunstâncias
deste, conclua pela formulação de um juízo de prognose favorável ao agente
que se traduza na seguinte proposição: a simples censura do facto e a ameaça
da prisão realizam de forma adequada e suficiente as finalidades da punição.
Por sua vez, constitui pressuposto formal de aplicação da suspensão da prisão
que a medida desta não seja superior a 5 anos.
O referido artigo 50.º consagra um poder-dever, ou seja um poder vinculado
do julgador, que terá que decretar a suspensão da execução da pena, na
modalidade que se afigurar mais conveniente para a realização das finalidades
da punição, sempre que se verifiquem os necessários pressupostos (Maia
Gonçalves, Código Penal Português Anotado e Comentado, 18.ª edição, p.
215).
São finalidades exclusivamente preventivas, de prevenção geral e de
prevenção especial, que determinam a preferência por uma pena de
substituição, sem perder de vista que a finalidade primordial é a de protecção
dos bens jurídicos. Não está aqui em causa uma qualquer finalidade de
compensação da culpa, mas considerações de prevenção geral sob a forma de
exigências mínimas e irrenunciáveis de defesa do ordenamento jurídico, em
função das quais se limita o valor da socialização em liberdade que ilumina o
instituto da suspensão da execução da pena (Figueiredo Dias, ob. cit., p. 344).
O que está em causa, no instituto da suspensão da execução da pena, não é
qualquer “certeza”, mas apenas a esperança fundada de que a socialização em
liberdade possa ser conseguida. O tribunal deve correr um risco “prudencial”
(fundado e calculado) sobre a manutenção do agente em liberdade. Existindo,
porém, razões sérias para questionar a capacidade do agente de não repetir
crimes, se for deixado em liberdade, o juízo de prognose deve ser desfavorável
e a suspensão negada (cfr. ainda Figueiredo Dias, ob. cit., págs. 344 e 345).
O tribunal recorrido entendeu não lhe ser possível formular um juízo de
prognose favorável em relação ao recorrente.
Tal entendimento não merece censura.
A prática de novos ilícitos de igual natureza revela que a advertência das
decisões condenatórias não constituiu motivação suficiente para o arguido
pautar a sua vida pelas regras e normas da sociedade.
O arguido desvaloriza a gravidade das suas condutas, assumindo uma atitude
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desculpabilizante.
Atribuindo a agressividade dos seus comportamentos a perturbações
motivadas por um quadro de epilepsia, certo é que não adere à terapêutica
prescrita, sendo que o comportamento que veio a desenvolver no que respeita
aos consumos de haxixe, drogas sintéticas (MDMA) e cocaína, potenciam-lhe
os ataques epilépticos.
Face à personalidade agressiva do arguido documentada nos factos, os
comportamentos que adopta contrários às normas e regras da vida em
sociedade e o total alheamento, como se assinala no acórdão recorrido, das
consequências das suas condutas na esfera de terceiros e a insensibilidade ao
efeito dissuasor de anteriores condenações, não se mostra possível, pese
embora o tempo decorrido desde a prática dos factos, formular, à luz de
considerações de prevenção especial, um juízo prognóstico que seja favorável
ao arguido.
O recurso não merece provimento.
3.3. Uma vez que o arguido decaiu totalmente no recurso que interpôs, é
responsável pelo pagamento da taxa de justiça e dos encargos a que a sua
actividade deu lugar (artigos 513.º e 514.º do C.P.P., na redacção da Lei n.º
34/2008, de 26 de Fevereiro, que aprovou o Regulamento das Custas
Processuais – R.C.P.).
Tendo em conta a complexidade do processo, julga-se adequado fixar essa taxa
em 3 (três) UC (dentro dos limites da Tabela III a que se refere o artigo 8.º,
n.º9, do R.C.P.).
*
III – Dispositivo
Em face do exposto, acordam os Juízes da Secção Criminal desta Relação em
negar provimento ao recurso interposto por A. , confirmando o acórdão
recorrido.
Custas a cargo do recorrente, fixando-se em 3 (três) UC a taxa de justiça, sem
prejuízo de se poder vir a verificar a condição de que depende a isenção
prevista na al. j) do artigo 4.º do RCP.
Lisboa, 9 de Março de 2021
Jorge Gonçalves
Maria José Machado
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