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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA Proc. n0464/09.7TFLSB.L1 - 5a Secção; Acordam, em conferência, no Tribunal da Relação de Lisboa: I" 1. No processo de recurso de contra-ordenação n0464/09.7TFLSB, da 3a Secção, do 2" Juízo do TPIC de Lisboa, que apreciou o recurso interposto por Galp Energia, S.G.P.S., S.A., da decisão da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que aplicou a coima de €75.000,00 (setenta e cinco mil euros), foi proferida decisão judicial, em 15Abrill1, dando parcial provimento ao recurso e decidindo: A) CONDENO A ARGUIDA, "GALP ENERGIA, S.G.P.S., S.A.", PELA PRATICA, A T~TULO NEGLIGENTE, DE UMA CONTRA-ORDENAÇÃO, PREVISTA E PUNIDA PELOS ARTIGOS 248", NO1, ALÍNEA A) E 2, 388", NOS 1, AL~EA A) E 3, 394O, NO1, ALÍNEA I), 401" E 402", TODOS DO CÓDIGO DOS VALORES MOBILIARIOS, APROVADO PELO DEC. LEI 486199, DE 1311, POR REFERÊNCIA AO ARTIGO 17", No 4, DO R.G.C.O., AO PAGAMENTO DE UMA COIMA NO VALOR DE £ 35.000 ... 2. Inconformada com esta decisão judicial, a arguida Galp Energia, S.G.P.S., S.A. interpôs recurso, tendo apresentado motivações, das quais extraiu as seguintes conclusões: 2.1 A douta Sentença recorrida foi proferida na sequência da impugnação judicial, apresentada pela ora Recorrente, de decisão da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que lhe havia aplicado uma coima de 75.000,OO E, pela alegada violação do dever de divulgação de informação, previsto na alínea a n.O 1 do art. 248.' do Código dos Valores Mobiliários (CdVM) - cfr. texto das presentes alegações n.' 1 ;

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA - CMVM · 2014. 3. 8. · TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA Proc. n0464/09.7TFLSB.L1 - 5a Secção; Acordam, em conferência, no Tribunal da Relação

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

Proc. n0464/09.7TFLSB.L1 - 5a Secção;

Acordam, em conferência, no Tribunal da Relação de Lisboa:

I" 1. No processo de recurso de contra-ordenação n0464/09.7TFLSB, da 3a Secção, do 2"

Juízo do TPIC de Lisboa, que apreciou o recurso interposto por Galp Energia, S.G.P.S., S.A., da

decisão da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que aplicou a coima de

€75.000,00 (setenta e cinco mil euros), foi proferida decisão judicial, em 15Abrill1, dando

parcial provimento ao recurso e decidindo:

A) CONDENO A ARGUIDA, "GALP ENERGIA, S.G.P.S., S.A.", PELA PRATICA, A T~TULO

NEGLIGENTE, DE UMA CONTRA-ORDENAÇÃO, PREVISTA E PUNIDA PELOS ARTIGOS 248",

NO1, ALÍNEA A) E 2, 388", NOS 1, A L ~ E A A) E 3, 394O, NO1, ALÍNEA I), 401" E 402", TODOS DO

CÓDIGO DOS VALORES MOBILIARIOS, APROVADO PELO DEC. LEI 486199, DE 1311, POR

REFERÊNCIA AO ARTIGO 17", No 4, DO R.G.C.O., AO PAGAMENTO DE UMA COIMA NO

VALOR DE £ 35.000 ...

2. Inconformada com esta decisão judicial, a arguida Galp Energia, S.G.P.S., S.A.

interpôs recurso, tendo apresentado motivações, das quais extraiu as seguintes conclusões:

2.1 A douta Sentença recorrida foi proferida na sequência da impugnação judicial, apresentada

pela ora Recorrente, de decisão da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que

lhe havia aplicado uma coima de 75.000,OO E, pela alegada violação do dever de divulgação de

informação, previsto na alínea a n.O 1 do art. 248.' do Código dos Valores Mobiliários (CdVM) -

cfr. texto das presentes alegações n.' 1 ;

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2. Realizada audiência de julgamento, pela douta Sentença recorrida foi julgada "parcialmente

procedente (...) a acusação" (ou, numa outra perspectiva, foi julgado parcialmente procedente o

recurso), condenando-se a ora Recorrente numa coima de 35.000,OO €, pela alegada violação do

disposto no referido art. 248."/l/a) do CdVM, considerando-se que existiu uma conduta

negligente da ora Recorrente e não dolosa, como sustentado pela CMVM - cfr. texto das

presentes alegações n." 1 ;

2.3 Salvo o devido respeito - e é verdadeiramente muito -, a douta Sentença recorrida enferma de

nulidades, bem como de erros de direito, ao manter a condenação da ora Recorrente pela alegada

violação daquele preceito, apesar de reduzir o valor da coima, não se verificando, além do mais,

qualquer conduta ilícita, maxime face ao teor da informação em causa, a qual não era

"susceptível de influenciar de maneira sensível" o valor das acções da ora Recorrente, pelo que

não se encontrava preenchida a previsão do referido art. 248."/l/a) do CdVM - cfr. texto das

presentes alegações n."s 2 a 4;

2.4 Não pode ser considerado provado o que consta nos n."s 8, 11, 12, 17, 18 e 22, a págs. 96 da

Sentença recorrida (que já constava da decisão da CMVM), por corresponderem ou integrarem

(supostas) conclusões de factos, bem como apreciações ou juízos valorativos e não factos - cfr.

texto das presentes alegações n."s 5 a 9;

2.5 Nomeadamente, considerando-se na douta Sentença (aderindo-se a decisão da CMVM) que o

facto gerador da obrigação de divulgação de informação no SDI da CMVM seriam notícias

publicadas nos jornais por, alegadamente, serem idóneas "para influenciar de forma sensível o

preço das acções", aquela não se podia limitar a indicar, em sede factual, conclusões que

alegadamente extraiu do teor desses notícias (designadamente quanto ao âmbito e objectivos dos

contactos entre a GALP e a PDVSA), moldando-se a factualidade à conclusão jurídica adoptada,

nem sequer se transcrevendo o teor das notícias em causa - cfi. texto das presentes alegações

n.Os 5 a 9;

2.6 Por sua vez, tinham que constar os factos que permitissem estabelecer validamente (e de

forma não falaciosa) a alegada relação de causa-efeito que - na tese da CMVM acolhida na

Sentença -, existirá entre a divulgação da informação e a subida dos títulos da Recorrente e não

uma conclusão genérica de que as notícias efectivamente influenciaram o valor dos títulos - cfi.

texto das presentes alegações n."s 5 a 9;

2.7 Acresce que, perante o alegado na decisão da CMVM quanto h subida do valor das acções da

ora Recorrente e ao aumento do número de transacções, a ora Recorrente, no respectivo recurso

de impugnação daquela decisão, invocou diversos factos relativos as circunstâncias que

determinaram essas subidas - nomeadamente, a descida da taxa de juro anunciada no dia anterior

pela Reserva Federal Norte Americana -, e invocou ainda a subida generalizada das acções

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

cotadas na bolsa de Lisboa, algumas das quais num valor muito superior ao registado

relativamente as acções da ora Recorrente - cfr. texto das presentes alegações n."s 10 a 14;

2.8 No entanto, apesar de ter sido produzida prova sobre essa matéria e de no próprio processo

remetido pela CMVM constarem documentos quanto ao alegado pela Recorrente, tais factos não

constam nos factos considerados provados nem nos factos considerados não provados na

Sentença recorrida, pelo que terão sido implicitamente considerados irrelevantes - cfr. texto das

presentes alegações n."s 10 a 14;

2.9 Ora, é manifesta a relevância destes factos - que demonstram o contexto das subidas

generalizadas do mercado bolsista no dia 19 de Setembro de 2007 -, maxime face ao que consta

nos pontos 12 a 16 dos factos considerados provados a fls. 97 da Sentença recorrida, em que

apenas se refere (de forma descontextualizada) a evolução das acções da ora Recorrente, nada se

referindo quanto ao comportamento do resto do mercado - cfi. texto das presentes alegaçaes

n."s 10 a 14;

2.10 A Sentença recorrida enferma, assim, de nulidade por falta de fundamentação da decisão de

facto e por omissão de pronúncia, ao não ter apreciado a relevância dos referidos factos alegados

pela ora Recorrente, e sempre enfermaria de erro de julgamento se os tivesse considerado

irrelevantes para a decisão da causa (v. art. 374.'/2 do CPP; cfi. art. 379.'/l/a) do CPP e arts.

4 1 ."/I e 72."/2 do RGCOC) - cfr. texto das presentes alegações n."s 10 a 14;

2.1 1 Além disso, a matéria de facto considerada provada é insuficiente para a decisão da causa,

pois os factos acima referidos, que não foram considerados em sede de factos provados ou não

provados, eram relevantes para essa decisão (v. art. 4.10.'/2/a) do CPP) - cfr. texto das presentes

alegações n."s 15 e 16;

2.12 Por outro lado, a Sentença recorrida, ao considerar provado que a informação em causa

teria passado a ser pública cerca das 8 horas do dia 19 de Setembro de 2007, em virtude das

notícias publicadas nos jornais nesse dia (v. n."s 17 e 18 dos "factos", a págs. 97 e 98), enferma

de erro notório na apreciação da prova, com relevância para a decisão da causa, pois, como

consta a fls. 62 dos autos, a distribuição dos jornais em causa é efectuada entre as 8h30 e as

9h00, ou seja depois da abertura da bolsa, as 8h00, sendo que, de acordo com os mesmos factos

(n." 16) a subida da cotação das acções da ora Recorrente ter-se-ia verificado no momento da

abertura - i.e. antes da distribuição daqueles jornais (v. art. 4 10."/2/c) e b) do CPP) - cfr. texto

das presentes alegações n."s 17 e 18;

2.13 Relativamente a essas notícias, publicadas no dia 19 de Setembro de 2007, não estava em

causa informação susceptível de influenciar de forma sensível o valor das acções da Recorrente,

enfermando a sentença recorrida de erros de julgamento ao considerar que não teria sido

cumprido o disposto no art. 248"/1/a) do CdVM, tendo violado o disposto nos arts. 1 .O e 2." do

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RGCOC ao considerar que a ora Recorrente teria praticado a contra-ordenação em causa - cfi.

texto das presentes alegações n."s 19 a 25;

2.14 Com efeito, da decomposição dos diversos elementos da obrigação estabelecida no art.

248"/1/a) do CdVM resulta evidente que, para que se tenha por verificada a previsão legal, a

informação sujeita a obrigação de divulgação teria, designadamente, que ser susceptível de

influenciar de maneira sensível o preço das acções da Recorrente - note-se que a lei não refere

qualquer informação, mas sim aquela que seja susceptível de influenciar de maneira sensível -

cfr. texto das presentes alegações n."s 19 a 25;

2.15 Ora, atento o teor das declarações e das próprias notícias publicadas, depressa se verifica

que a informação cuja divulgação a CMVM e a Sentença recorrida entendem que devia ter sido

divulgada não constitui informação idónea para influenciar - nem efectivamente influenciou -,

de forma sensível, o valor dos títulos da Recorrente - cfr. texto das presentes alegações n."s 19 a

25;

2.16 Como acima referido, as circunstâncias que determinaram a subida da cotação das acções

da Recorrente - em sintonia com o resto do mercado -, foram outras e não as notícias publicadas

no início desse dia - cfi. texto das presentes alegações n."s 19 a 25;

2.17 Note-se, aliás, o carácter "condicional" de todas as declarações citadas do Presidente da

Comissão Executiva da Recorrente nas notícias em causa (v. n." 10 dos factos considerados

provados na Sentença), que exprimem um mero desejo a alcançar e uma declaração de intenções

- cfr. texto das presentes alegações n."s 19 a 25;

2.1 8 Além disso, não se verificou qualquer conduta negligente da ora Recorrente, pelo que nunca

lhe poderia ser aplicada a coima em causa, tendo a Sentença recorrida violado o disposto no art.

8" do RGCOC e o art. 402."/1 do CdVM - cfr. texto das presentes alegações nos 26 a 33;

2.19 Com efeito, a Recorrente não divulgou a informação relativa existência de alegadas

negociações com a PDVSA através do SDI, não por descuido, mas por ser sua convicção que a

mesma não era susceptível de influenciar de forma sensível o valor das suas acções, não lhe

sendo censurável essa interpretação, maxime face ao acima referido - cfi. texto das presentes

alegações n."s 26 a 33;

2.20 Acresce que, o n." 1 do art. 248" do CdMV, na interpretação adoptada pela decisão

recorrida, baseia-se em conceitos conclusivos, pelo que, também por essa razão, é

inconstitucional por violação do n." 1 do art. 29." da CRP, devendo a sua aplicação ser recusada

in casu (v. 204" da CRP) - cfr. texto das presentes alegações n."s 34 e 36;

2.21 Finalmente, mesmo que se entendesse que teria sido praticada alguma contra-ordenação - o

que não se admite minimamente -, face as circunstâncias do caso concreto, deveria ter sido

efectuada, no máximo, uma advertência ou admoestação ou, quanto muito, aplicada uma coima

pelo mínimo legal e suspensa a execução da sanção (v. arts. 413" e segs. do CdVM; cfr. art. 41 5.'

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TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

do CdVM e Ac. Acórdão da Rel. de Lisboa, 5 . 9 e c ç ã 0 , de 08.06.2010, Proc. 7799106

TFLSB.Ll) - cfr. texto das presentes alegações n."s 37 a 40;

3. O Ministério Público e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários responderam,

ambos pugnando pelo não provimento d o recurso, terminando esta com as seguintes conclusões:

3.1 O Tribunal a quo condenou a arguida Galp Energia, SGPS, S.A. (GALP) numa coima de

€35.000 pela prática, a título negligente, de uma contra-ordenação pela não divulgação imediata

de informação privilegiada (artigo 248", nOl, do CdVM) confirmando, no essencial, o teor da

Decisão da CMVM que havia condenado a arguida, pela mesma infracção, mas a título doloso.

3.2 Com efeito, a GALP não divulgou imediatamente que estava em negociações com a PDVSA

para a assinatura de um acordo com o objectivo de fazer da Venezuela uma das principais fontes

de importação de petróleo para Portugal e de permitir a arguida estar envolvida em projectos de

exploração e produção de petróleo na Venezuela (cf. factos provados 8, 9, 10, I I e 17 da

sentença), como estava obrigada por força do artigo 248."/1 do CdVM.

3.3 Mesmo quando, as 08h00 de 19 de Setembro de 2007, surgiram notícias, ((alimentadas)) por

declarações do Presidente da Comissão Executiva da GALP, que quebraram as simetricamente a

confidencialidade sobre as negociações em curso, a GALP demorou mais de 6 horas a divulgar o

comunicado de informação privilegiada devido, apesar de ter sido alertada pela CMVM para a

necessidade de cumprimento do dever.

Improcedência das alegações sobre pretensos vícios imputados a matéria de facto

3.4 A GALP imputa, sem qualquer razão, um pretenso conjunto de vícios formais e de supostos

"erros de direito" de que resultaria, no limite, a impossibilidade da sua condenação.

3.5 Nada na descrição dos factos provados, constantes da sentença recorrida, permite qualificá-

10s como juízos conclusivos. A sentença procede à descrição de factos reais v.g. :

a) os factos provados n0s8 e 1 1 descrevem objectiva e factualmente a existência de notícias cujo

conteúdo é, aliás, transcrito em parte no ponto 10 dos factos provados;

b) os factos provados nOsl 1 e 17 traduzem-se na descrição da existência de negociações entre a

GALP e a PDVSA e seu conteúdo;

c) os factos provados n0s13 a 16 e o exame crítico das provas (v.g. as referências constantes do

resumo dos depoimentos e ao estudo elaborado pela testemunha Paulo Pereira da Silva, que

consta a fls.151 e seguintes dos autos e foi acolhido na sentença - cf. $4 da p. 106) escoram a

idoneidade e a efectiva influência que as negociações para celebração do acordo entre a GALP e

a PDVSA tiveram sobre o preço e a liquidez das acções GALP;

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d) os factos provados n0s19 e 22 descrevem o comportamento que a GALP adoptou, por

confronto com aquele que não adoptou e que conduz à conclusão da violação do dever de

cuidado.

3.6 O artigo 248." da CdVM não exige a verificação de efectiva influência sensível da

informação no preço dos valores mobiliários, basta-se com a mera idoneidade. Apesar disso, a

influência efectiva ficou efectivamente demonstrada e foi levada a matéria provada.

3.7 A GALP alega uma pretensa influência da decisão da Reserva Federal Norte Americana na

bolsa portuguesa olvidando que:

a) o Tribunal não tinha de se pronunciar sobre este pretenso facto uma vez que o mesmo é

irrelevante para a decisão da causa, uma vez que a efectiva influência da informação na cotação

não é pressuposto típico da infracção ao artigo 248." do CdVM;

b) de todo o modo, ficou demonstrado que parte significativa da oscilação das acções da GALP

no dia 19 de Setembro de 2007 foi motivada pela informação sobre as negociações entre a

petrolífera portuguesa e a PDVSA e é esta que suporta o raciocínio ((lógico-subsuntivo)) da

sentença (v.g. factos provados 11 e 12 e p. $2 da p. 102, $5 e 6 da p. 103, p. 104 a 106, $1 da p.

107 e 53 da p. 109 da sentença);

c) a GALP não pode querer sujeitar o Tribunal ad quem a reapreciação da prova (artigos 410.'

do CPP e artigo 75."/1 do RGCORD).

pelo que não há qualquer omissão de pronúncia, insuficiência da matéria de facto ou erro de

direito.

3.8 A alegação dos vícios da insujiciéncia para a decisão da matéria de facto provada, e de erro

notório na apreciação da prova para proceder, nos termos da própria letra do proémio dos

artigos 410°/2/a e a da CdVM, tem de resultar do texto da decisão recorrida (cf. também

abundante jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça) - o que não corresponde ao caso sub

iudice, nem a Recorrente o alega.

3.9 Em qualquer caso, a insuficiência para a decisão da matéria de facto provada só poderia ter

ocorrido caso a decisão de direito não encontrasse na matéria de facto provada uma base tal que

suporte um raciocínio ((lógico-subsuntivo»- o que não corresponde ao caso sub iudice, nem a

Recorrente o alega.

3.10 Em contra-ordenações o Tribunal da Relação de Lisboa actua como um tribunal de revista

(artigo 75.'/1 do RGCORD). Não cabe, pois, a este Tribunal a tarefa de confrontar o teor da

sentença com as folhas dos autos. Em todo o caso não existe qualquer erro notório na apreciação

da prova (também quanto ao facto provado nO1 7) porquanto as folhas dos autos confirmam que

por volta das 08h00 do dia 19 de Setembro de 2007 os jornais matutinos já estavam disponíveis

para leitura (fls. 64-65)

Adequação tipica

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TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

3.1 1 As negociações com vista a assinatura do acordo entre a petrolífera portuguesa e a PDVSA,

com o objectivo de preparar uma parceria que fizesse da Venezuela uma das principais fontes de

importação de petróleo para Portugal que permitisse a GALP estar envolvida em projectos de

exploração e produção de petróleo e gás na Venezuela, não só consubstanciavam informação

idónea para influenciar de maneira sensível o preço das acções da GALP, como ficou

demonstrado que tiveram efectivo impacto na cotação (liquidez e preço).

3.12 Para procurar sustentar posição contraria, a GALP renega a factualidade provada na

sentença recorrida (maxime que as negociações visavam uma parceria para a importação,

exploração e produção de petróleo - cf. art. 21 da motivação da GALP e os factos provados n.os

8, 10 e 17 da sentença recorrida) e invoca factos não verdadeiros que não foram dados como

provados (maxime que a subida da cotação e liquidez da acção Galp a 19 de Setembro de 2007

se teria devido a um movimento geral bolsista e que as notícias sobre o acordo com a PDVSA só

teriam sido divulgadas após a abertura da bolsa - d. $ 1 1 e 12 do art. 21 da motivação da GALP e

factos provados nOl l a 17 da sentença recorrida'). Pelo que, obviamente, esta argumentação da

GALP não pode proceder.

3.13 Em acréscimo, a GALP alega que a 19 de Setembro de 2007 as negociações estavam em

"estado ainda muito embrionário dos contactos comerciais com a PDVSA" (alegação do $9 do

art. 23 da motivação) o que não corresponde à verdade e colide com os factos provados nos 9 e

20 da sentença recorrida. Na verdade, na substância o acordo havia sido firmado logo na

deslocação, a 11 de Setembro de 2007, do Presidente da Comissão Executivo e de um outro

administrador executivo da GALP a Venezuela para reunião com a PDVSA e um Ministro do

Governo da Venezuela ($6 da p. 108 e 96 e 7 da p. 109).

3.14 Na verdade, a ocorrência de negociações entre a GALP e a PDVSA, por pressupor o

interesse da petrolífera venezuelana, per se representa, do ponto de vista da petrolífera

portuguesa, a abertura de uma imensidão de oportunidades de negócio (maxime o acesso a

exploração e produção de petróleo no país do mundo ocidental com maiores reservas

conhecidas). Foi um acontecimento reconhecidamente importante dada a enorme janela de

oportunidades que estava fechada e que se abriu. Tanto mais que as grandes petrolíferas

mundiais (como a PDVSA) não estão sempre abertas a negociar o acesso 21 produção e

exploração de petróleo com petrolíferas de dimensões bem mais reduzidas, como é

manifestamente o caso da GALP.

3.15 Os investidores, que reagem em função das expectativas, não podiam deixar de utilizar esta

informação nas suas decisões de investimento. Tanto mais que o avançado esthdio das

' Como se pode verificar pelo facto provado n016 "A cotação do titulo GALP iniciou a sessão do dia 19 de Setembro de 2007 a subir 3,04% ( ... ), e no facto provado n017 "Cerca das 8 horas do dia 19 de Setembro de 2007, a

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negociações, a 19 de Setembro de 2007, já permitia saber que o acordo seria formalizado em

Outubro de 2007 (como veio, efectivamente, a ocorrer) -- factos provados nos 9 e 20 e 55 da p.

102 da sentença e teor dos testemunhos a p. 105,$3 da p. 109 e p. 1 12 da sentença.

3.16 O facto do acordo entre a GALP e a PDVSA ainda não estar assinado a 19 de Setembro de

2007, e ainda decorrerem negociações, com tudo o que isso acarreta, não afasta a natureza

privilegiada dessa informação (cf. artigo 24812 do CdVM e também os artigos 248/1/b e 248-

A12h do CdVM).

3.17 O acordo assinado a 2 de Outubro de 2007 entre a GALP e a PDVSA não assegurava à

petrolífera portuguesa verdadeiros direitos potestativos de exploração e produção de petróleo na

Venezuela e, apesar disso, vários analistas independentes (da Caixa BI, do BPI e do Espírito

Santo Research) deram conta do impacto positivo que a celebração do acordo tinha para a GALP

(facto provado n021). O que, por identidade de razão, é válido também para as circunstâncias

existentes a 19 de Setembro. Pelo que este dado confirma a idoneidade das negociações para

influenciar de maneira sensível o preço das acções GALP.

3.18 A própria GALP, a 18 de Maio de 2007, já havia divulgado de moto próprio comunicado de

informação privilegiada dando conta de um Memorando de Entendimento celebrado com a

Petrobrás que previa a mera realização de estudos de viabilidade técnica, económica e financeira

(5 2 da p. 103 e p. 1 17 da sentença). O que corresponde, aliás, à prática internacional das mais

variadas petrolíferas (v.g Chevron, Petrochina, Total, Repsol) e nos termos dos Entendimentos

da CMVM sobre a Divulgação de Informação Privilegiada constitui um bom indicador da

natureza privilegiada da informação.

3.19 Ao exposto acresce que está provado que a informação existente a 19 de Setembro de 2007

não só era susceptível como efectivamente influenciou o preço das acções da GALP na abertura

da sessão do dia 19 de Setembro de 2007 - como resulta dos factos provados nos 11 a 16 (e teor

dos depoimentos no 52 da p. 102,s 1 da p. 107 da sentença). O que releva não s6 para confirmar

inexoravelmente o preenchimento do tipo como, também, deve relevar na medida da sanção

aplicada à GALP.

3.20 Não há margem para dúvidas que a GALP agiu, pelo menos, a título negligente. Com

efeito:

a) a GALP detectou no dia 19 de Setembro, pelo menos às 8 horas, as notícias que davam conta

das negociações com a PDVSA para assinatura do acordo (factos provados nos 17 e 18 e p. 122

da sentença);

b) sendo certo que, em qualquer caso, era exigível h GALP que tivesse forma de detectar estas

situações (tanto mais que foi o próprio Presidente da Comissão Executiva da GALP que, na

informação da ocorrência de negociações entre a arguida e a PDVSA com vista à celebraç%o de um acordo passou a ser pública ( ... )" (sublinhados nossos). -8-

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

véspera, prestou declarações a agência noticiosa LUSA que ((alimentaram)) as notícias

divulgadas nas edições (em papel) do dia 19 de Setembro de 2007) - cf. p. 1 19 da sentença;

E

c) demorou seis horas e onze minutos a cumprir o dever de divulgar a informação privilegiada ao

mercado através de comunicado submetido no Sistema de Difusão da Informação da CMVM

(factos provados nos 18 e 19);

d) o que é incompatível com uma actuação minimamente diligente. Tanto mais que a CMVM

telefonou, a partir das 10h10, a GALP alertando para a necessidade de cumprir o dever o mais

rapidamente possível (cf. o testemunho de Margarida Pinto, $2 da p.101 da sentença, e o

testemunho de Tiago Vilas-Boas, $4 da p. 1 10 da sentença).

Improcedência da alegação de inconstitucionalidade do artigo 248' do CdVM

3.21 O artigo 248. ' do CdVM manifestamente não padece de qualquer inconstitucionalidade.

Pelo contrário, considerar o artigo 248.' do CdVM inconstitucional é que violaria os artigos

81 .'/f e 101 .O da Constituição, que tutelam o funcionamento eficiente dos mercados e o sistema

financeiro . 3.22 A infracção em causa está suficientemente descrita no texto da norma e além do mais o

preceito não tem por destinatário o cidadão comum mas apenas emitentes com valores

mobiliários admitidos em mercado regulamentado.

3.23 Tendo em conta que:

a) O artigo 248, nO1 do CdVM é aplicável apenas a emitentes com acções admitidas a

negociação em mercado regulamentado;

b) Mercado regulamentado esse que é o principal mercado a funcionar em Portugal (Eurolist by

Euronext);

c) A Recorrente é um emitente, estando assim integrada no "circulo de vida especial" (Veltzel) a

que se refere aquele preceito;

d) Fazendo parte do PSI20, índice que integra as principais empresas nacionais (e com maior

capitalização bolsista), sendo um dos índices com um elevado nível de liquidez;

não é minimamente admissível ii GALP invocar desconhecimento ou mesmo dúvidas quanto ao

alcance e extensão dos deveres impostos por um preceito legal que rege especificamente

entidades com as características da Recorrente e consagra um dos principais deveres a que a

mesma está obrigada enquanto emitente.

Medida da coima

3.24 Os fundamentos que a GALP invoca para solicitar a substituição da coima aplicada por uma

simples admoestação ou, no limite, pela suspensão da execução da coisa, ou pura e simplesmente

não são verdadeiros ou já foram ponderados e considerados pela decisão recorrida.

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3.25 Em boa verdade o valor da coima de €35.000 é perfeitamente irrisório face aos proveitos

operacionais e aos capitais próprios da GALP. A sanção aplicada faz perigar que estejam a ser

prosseguidas qualquer das suas funções de prevenção, geral ou especial.

3.26 Existem boas razões para que seja aplicada uma coima mais próxima da que havia sido

fixada na decisão da CMVM (€75.000,00), ao invés dos €35.000 aplicados pelo Tribunal a quo.

Note-se, aliás, que a isso não se opõe, sequer, a proibição geral da reformatio in pejus que, nos

termos do artigo 416."/8 do CdVM, "não é aplicável aos processos de contra-ordenação

instaurados e decididos nos termos deste Código ( ... )". Termos em que:

Deve ser NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO da arguida, e mantida a decisão do

Tribunal de Pequena Instância Criminal de Lisboa de condenação da GALP ENERGIA, SGPS,

S.A; e

Deve ser verificado que, atentos os elementos concretos que presidem à determinação da sanção,

a coima aplicada deve ser mais próxima da fixada na decisão da CMVM (€75.000) do que

aquela que foi fixada pelo Tribunal a quo (por forma a prosseguir minimamente as funções de

prevenção, geral ou especial).

4. Neste Tribunal, a Exma. Sr". P.G.A., pronunciou-se pelo não provimento do recurso,

tendo a arguida respondido, reafirmando a posição assumida no seu recurso.

5 Colhidos os vistos legais, procedeu-se a conferência.

7. O objecto do recurso, tal como se mostra delimitado pelas respectivas conclusões,

reconduz-se às seguintes questões:

a) Nulidade da sentença, por falta de fundamentação e por omissão de pronúncia;

b) Vícios do art.410, n02,als.a, e c, CPP;

c) Qualificação jurídica dos factos;

d) Inconstitucionalidade do nOl do art.248 do CdVM;

e) Medida da coima e opção pela pena de admoestação;

* * *

11" A decisão recorrida, no que diz respeito aos factos provados, não provados e

respectiva fundamentação, é do seguinte teor:

-10-

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TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

DISCUTIDA A CAUSA, E DE RELEVANTE PARA A DECISÃO DA MESMA, PROVARAM-SE OS

SEGUINTES FACTOS:

1- A ARGUIDA, "GALP ENERGIA, S.G.P.S., S.A.", E UMA SOCIEDADE EMITENTE. (FLS. 15 A

17).

2- A DATA DA PRÁTICA DOS FACTOS - SETEMBRO DE 2007 - A ARGUIDA POSSU~A ACÇÕES

ADMITIDAS A NEGOCIAÇÃO NO MERCADO REGULAMENTADO EUROLIST BY EURONEYT.

(FLS. 20 A 22).

3- A ARGUIDA TEM POR OBJECTO A GESTÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIAIS DE OUTRAS

SOCIEDADES DO SECTOR ENERGÉTICO, COMO FORMA INDIRECTA DE EXERC~CIO DE

ACTIVIDADES ECONÓMICAS. (FLS. 18 E 19)

4- DO GRUPO EMPRESARIAL, CUJAS PARTICIPAÇÕES SOCIAIS SÃO GERIDAS PELA

ARGUIDA, FAZEM PARTE A PETROGAL - PETRÓLEOS DE PORTUGAL, S.A., A GAS DE

PORTUGAL, SGPS, S.A., A GALP GAS NATLTRAL, S.A. E A LISBOAGÁS, SOCIEDADE

DISTRIBUIDORA DE GÁS NATURAL DE LISBOA, S.A. (FLS. 25)

5- A ARGUIDA OPERA EM DUAS AREAS DO SECTOR ENERGETICO: PETROLIFERO E DO

GÁS NATURAL. (FLS. 23 E 24)

6- A PETRÓLEOS DE VENEZUELA, S.A. (PDVSA) E UMA SOCIEDADE VENEZUELANA QUE

SE DEDICA A EXPLORAÇÃO, PRODUÇÃO, TRANSPORTE E VENDA DE PETRÓLEO. (FLS. 26 A

29)

7- AS NEGOCIAÇÕES ENTRE A ARGUIDA E A PDVSA TIVERAM INICIO EM 1 1 DE

SETEMBRO DE 2007. (FLS. 66 E 67)

8- NO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007, AS EDIÇÕES DIARIAS DOS JORNAIS DIÁRIO

E C O N ~ M I C O (DE), JORNAL DE N E G ~ C I O S (JN) E DIÁRIO DE NOT~CIAS (DN) INFORMARAM

QUE A ARGUIDA E A PDVSA ESTARIAM EM NEGOCIAÇÕES PARA PREPARAR UMA

PARCERIA COM O OBJECTIVO DE FAZER DA VENEZUELA UMA DAS PRINCIPAIS FONTES DE

IMPORTAÇÃO DE PETRÓLEO PARA PORTUGAL E DE PERMITIR A ARGUIDA ESTAR

ENVOLVIDA EM PROJECTOS DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇAO DE PETROLEO NA

VENEZUELA. (FLS. 12 A 14)

9- AS N O T ~ ~ I A S , REFERIDAS EM 8), AFIRMAM QUE O ACORDO QUE FORMALIZARIA AS

NEGOCIAÇÕES DEVERIA SER ASSINADO EM OUTUBRO DE 2007. (FLS. 12 A 14)

10- AS NOT~CIAS, REFERIDAS EM 8) E 9), CITAM AS SEGUINTES AFIRMAÇÕES

PROFERIDAS A AGÊNCIA LUSA PELO PRESIDENTE DA COMISSÃO EXECUTIVA DA

ARGUIDA, ENGENHEIRO MANUEL FERREIRA DE OLIVEIRA:

i) u ~ ~ ~ ~ ~ R I ~ ~ ~ ~ DE ESTAR NA VENEZUELA TAMBÉM NALGUNS PROJECTOS DE

EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETR~LEO." (DE) (FLS. 12)

i i) "GOSTARIAMOS DE ENTRAR NA EXPLORAÇÃO DE GAS E P E T R ~ L E O NAQUELE P A ~ S . É

ISSO QUE ESTA A SER ESTUDADO E NEGOCIADO, MAS ESTAMOS AINDA LONGE DE CHEGAR A

ALGO DE CONCRETO" (DN) (FLS. 13)

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iii) "ESTAMOS N O MEIO DE UM DIÁLOGO, A FAZER UM ESFORÇO PARA CHEGAR A ESSE

OBJECTIVO." ( M ) (FLS. 14)

iv) "A GALP GOSTARIA DE TER UMA POSIÇÃO NA VENEZUELA IDÊNTICA A QUE TEM HOJE

EM ANGOLA." (DN) (FLS. 13)

11- A INFORMAÇÃO DE OCORRÊNCIA DE NEGOCIAÇÕES ENTRE A ARGUIDA E A PDVSA

COM VISTA A ASSINATURA DE UM ACORDO NAO ERA DO CONHECIMENTO P ~ ~ B L I C O ATÉ

AO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007 (FLS. 12 A 14):

i) SE TIVESSE SIDO DIVULGADA SERIA IDÓNEA PARA INFLUENCIAR DE FORMA

SENS~VEL O PREÇO DAS ACÇÕES DA ARGUIDA;

ii) PODERIA SER UTILIZADA POR QUALQUER INVESTIDOR RAZOAVEL QUE A

CONHECESSE, PARA BASEAR, NO TODO OU EM PARTE, AS SUAS DECISÕES DE

INVESTIMENTO.

12- A INFORMAÇÃO DE OCORRÊNCIA DE NEGOCIAÇÕES ENTRE A ARGUIDA E A PDVSA,

PARA ALÉM DE SER IDÓNEA PARA INFLUENCIAR O PREÇO, APÓS A RESPECTIVA

DIVULGAÇÃO, INFLUENCIOU EFECTIVAMENTE, O PREÇO DAS ACÇÕES DA ARGUIDA

NEGOCIADAS NO MERCADO REGULAMENTADO EUROLIST BY EURONEXT NA SESSÃO DO

DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007.

13- O NÍVEL DE LIQUIDEZ DAS A C Ç ~ E S DA ARGUIDA NA SESSÃO DO DIA 19 DE

SETEMBRO DE 2007 MAIS QUE DUPLICOU EM RELAÇÃO A MÉDIA DAS SETE SESSÕES

ANTERIORES.

14- NA SESSÃO DO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007 FORAM EFECTUADOS 1240 NEGÓCIOS

SOBRE A C Ç ~ E S DA ARGUIDA, NUM TOTAL DE 1.749.189 ACÇÕES TRANSACCIONADAS.

15- A MÉDIA DAS SETE SESSÕES ANTERIORES É DE 820.838 A C Ç ~ E S

TRANSACCIONADAS.

16- A COTAÇÃO DO T~TULO GALP ENERGIA INICIOU A SESSÃO DO DIA 19 DE SETEMBRO

DE 2007 A SUBIR 3,04%, PARA OS € 10,85, RELATIVAMENTE AO PREÇO DE FECHO DA

s ~ s s à o ANTERIOR (€ 10,53) E ENCERROU A SUBIR 1,80% PARA OS € 10,72.

17- CERCA DAS 8 HORAS DO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007, A INFORMAÇAO DA

OCORRÊNCIA DE NEGOCIAÇ~ES ENTRE A ARGUIDA E A PDVSA COM VISTA A CELEBRAÇAO DE UM ACORDO PASSOU A SER PÚBLICA, EM VIRTUDE DAS NOT~CIAS

PUBLICADAS NAS EDIÇÕES DIARIAS DOS JORNAIS DE, M E DN. (FLS. 12 A 14)

18- NA SEQUÊNCIA DO DESCRITO EM 17), A ARGUIDA, A PARTIR DAS 8 HORAS DO DIA 19

DE SETEMBRO DE 2007, DEVERIA TER DIVULGADO IMEDIATAMENTE NO SISTEMA DE

DIFUSÃO DE MFORMAÇAO (SDI) DA CMVM A REFERIDA MFORMAÇAO. 19- A ARGUIDA APENAS DIVLTLGOU QUE ESTAVA EM CONVERSAÇÕES COM A PDVSA,

TENDO EM VISTA A EVENTUAL ASSINATURA DE UM MEMORANDO DE ENTENDIMENTO,

AS 14 HORAS E 11 MMUTOS DO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007. (FLS. 30 A 33)

20- NO DIA 2 DE OUTUBRO DE 2007, A ARGUIDA DIVULGOU NO SISTEMA DE DIFUSÃO DE

INFORMAÇAO (SDI) DA CMVM A ASSINATURA DE UM MEMORANDO DE ENTENDIMENTO

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

ENTRE A ARGUIDA E A PDVSA PARA O DESENVOLVIMENTO DE PROJECTOS CONJUNTOS

ENTRE AS DUAS EMPRESAS. (FLS. 16 E 17)

21- NO DIA 3 DE OUTUBRO DE 2007, A AGÊNCIA REUTERS DIVULGOU OPINIÕES DE

VARIOS ANALISTAS QUE CONSIDERARAM POSITIVO PARA A ARGUIDA O MEMORANDO DE

ENTENDIMENTO CELEBRADO COM A PDVSA. (FLS. 34)

22- A ARGUIDA AGIU CONFORME DESCRITO EM 19), VIOLANDO UM DEVER DE CUIDADO

A QUE ESTAVA OBRIGADA E DE QUE ERA CAPAZ, NO SENTIDO DE DILIGENCIAR DE

FORMA A QUE AO TER CONHECIMENTO DO DESCRITO EM 17), PROCEDESSE A DIVULGAÇÃO DA NOT~CIA EM CAUSA, DE IMEDIATO E NÃO DEMORANDO SEIS HORAS E

ONZE MiNUTOS, CONFORME DEMOROU. *

ESTES OS FACTOS PROVADOS E NADA MAIS, DE RELEVANTE PARA A DECISÃO DA

CAUSA, SE PROVOU. *

FACTOS NÃO PROVADOS

DISCUTIDA A CAUSA, E DE RELEVANTE PARA A DECISÃO DA MESMA, NÃO RESULTOU

PROVADO QUE:

A - A ARGUIDA, AO ACTUAR CONFORME DESCRITO EM 19), DA M A T ~ R I A DE FACTO

PROVADA, TENHA AGIDO DE MODO LIVRE, VOLUNTARIO E CONSCIENTE, BEM SABENDO

QUE TINHA DE COMUNICAR IMEDIATAMENTE, A MFORMAÇÃO CONSTANTE EM 17), DA

M A T ~ R I A DE FACTO PROVADA E, APESAR DISSO, NÃO QUIS DIVULGAR IMEDIATAMENTE

ESSA MFORMAÇÃO. (FLS. 30 A 33) *

FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO DE FACTO

O TRIBUNAL BASEOU-SE, PARA DAR COMO PROVADOS OS FACTOS ACIMA REFERIDOS,

SOB OS NUMEROS 1 A 22 (iNCLUSIVE), EM TODA A PROVA PRODUZIDA, A SABER E, DESDE

LOGO, NOS DEPOIMENTOS DAS TESTEMUNHAS:

1- ANA MARGARIDA ROLO PINTO DA ROCHA ANTUNES QUE, A DATA DOS FACTOS,

TRABALHAVA NO DEPARTAMENTO DE MERCADO, DA CMVM, QUE ACOMPANHAVA A

GALP, EM TEMPO REAL MAS NÃO NA ÓPTICA DO MERCADO; O PRESENTE PROCESSO

TEVE iNICIO NA SEQUÊNCIA DE UMA INFORMAÇAO DE QUE É SUBSCRITORA;

ACTUALMENTE, CONTiNüA A TRABALHAR NA CMVM E É ECONOMISTA.

ESCLARECEU QUE UMA VEZ QUE ACOMPANHAVA, DIARIAMENTE, TODA A INFORMAÇÃO

QUE SAIA SOBRE A ARGUIDA, NOMEADAMENTE, NO SITE DA CMVM, NA COMUNICAÇAO SOCIAL, ETC, DETECTOU NOTICIAS NA IMPRENSA NACIONAL, NOS JORNAIS

ECONÓMICOS E NO DIARIO DE NOTICIAS, NO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007,

NOMEADAMENTE, RESULTANTES DA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DADA, NA TARDE

ANTERIOR, POR AQUELE QUE ERA, NA ALTURA, PRESIDENTE DA COMISSÃO EXECUTIVA

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DA GALP, ENGENHEIRO FERREIRA DE OLIVEIRA, NOTICIAS QUE DESPOLETARAM A

SITUAÇAO DOS AUTOS.

NA VERDADE, PERANTE O TEOR DAS MESMAS - A TESTEMUNHA, EM JULGAMENTO,

EXPLICOU EM QUE SE TRADUZIAM, NO EXACTO SENTIDO CONSTANTE DOS AUTOS E DA

MATÉRIA DE FACTO PROVADA - COMEÇOU POR CONFIRMAR JUNTO DA GALP SOBRE A

VERACIDADE DAS MESMAS E ATENTA A CONFIRMAÇAO OBTIDA, VERIFICOU QUE NÃO

HAVIA QUALQUER DIVULGAÇÃO, DA NOTICIA EM CAUSA, POR PARTE DA ARGUIDA, NO

SDI.

EFECTIVAMENTE, EXPLICOU A GALP, ATÉ ENTÃO, NAO TINHA PRESENÇA NA

VENEZUELA, NAO TINHA ACTIVIDADE NEM INTERESSES NESSE PAÍS, SENDO CERTO QUE

o MERCADO VENEZUELANO h DOS QUE TÊM MAIORES RESERVAS MUNDIAIS D

PETRÓLEO SENDO QUE A EMPRESA VENEZUELANA EM CAUSA, A PETRÓLEOS DE

VENEZUELA, S.A. (PDVSA), ERA A EMPRESA PRINCIPAL DO ESTADO DA VENEZUELA.

NAS NOTICIAS DIVULGADAS JA SE FALAVA DE UMA PARCERIA, EM REUNIÕES E,

INCLUSIVAMENTE, JA SE APONTAVAM DATAS O QUE, CONSIDEROU E CONSIDERA, TERIA

INFLUÊNCIA (EM SENTIDO POSITIVO) NO MERCADO E NAS COTAÇ~ES DA GALP.

ASSIM, CONCLUIU, ESTAVA EM CAUSA INFORMAÇAO PRIVILIGIADA.

AO TENTAR CONFIRMAR A NOTICIA POR PARTE DA ARGUIDA, TENTOU, A PARTIR DAS 10

HORAS 10 HORAS E TRINTA MINUTOS TELEFONAR PARA O DR. TIAGO VILLAS BOAS,

TERAO SIDO FEITAS VARIAS TENTATIVAS, MAS TAL CONTACTO NAO FOI CONSEGUIDO,

PELO QUE A TESTEMUNHA ACABOU POR FALAR COM OUTRA PESSOA DA GALP E,

CONSEQUENTEMENTE, CERCA DAS 1 1 HORAS E TRINTA OU QUARENTA MINUTOS

RECEBEU UMA CHAMADA TELEFÓNICA, CRÊ QUE TENHA SIDO DO REFERIDO DR. TIAGO

VILLAS BOAS, QUE CONFIRMOU SEREM AS NOTICIAS DOS JORNAIS VERDADEIRAS.

PERANTE TAL SITUAÇAO, A CMVM DEPOIS DE REUNIR, COMUNICOU COM A GALP NO

SENTIDO DE QUE TAL NOTICIA/INFORMAÇAO TINHA QUE SER PUBLICADA, PELA

ARGUIDA, COMO INFORMAÇAO PRIVILIGIADA, CONTACTO ESSE QUE FOI FEITO PELA

PRÓPRIA TESTEMUNHA, CERCA DAS 12 HORAS DO DIA EM CAUSA, DIA 19 DE SETEMBRO

DE 2007.

ENTRETANTO, A ARGUIDA VEIO A PUBLICAR A INFORMAÇAO EM CAUSA, NOS AUTOS,

CERCA DAS 14 HORAS E 11 MINUTOS, SENDO O TEOR DA PUBLICAÇAO NO SENTIDO DE

"POR SOLICITAÇAO DE ESCLARECIMENTOS DA CMVM INFORMAMOS QUE ESTAMOS EM

CONVERSAÇ~ES COM A "PETRÓLEOS DA VENEZUELA".

POSTERIORMENTE, ACRECENTOU, NO DIA DOIS DE OUTUBRO DE 2007 OCORREU, EM

PORTUGAL, UM FORUM SOBRE A ENERGIA DATA EM QUE A GALP PUBLICOU, COMO

INFORMAÇAO PRIVILIGIADA, A INFORMAÇAO DE QUE TINHA RESULTADO A PARCERIA

ENTRE A ARGUIDA E A REFERIDA EMPRESA VENEZUELANA IDENTIFICANDO, NO ÂMBITO

DA MESMA, UMA EXTENSA s ~ R I E DE PROJECTOS.

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TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA

ESTA PARCERIA ERA, SEGUNDO ENTENDE, MUITO IMPORTANTE PARA A GALP, UMA VEZ

QUE PERMITIRIA UMA DIVERSIFICAÇÃO DA ACTIVIDADE DA GALP, NOS SEFGMENTOS

DA PRODUÇÃO E EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO.

NÃO TEM DUVIDAS SOBRE O FACTO DE A MFORMAÇÃO PUBLICADA NOS JORNAIS

SOBRE A GALP, NAS EDIÇÕES DE 19 DE SETEMBRO DE 2007, TEREM NFLUENCIADO A

COTAÇÃO DA GALP, UMA VEZ QUE OCORREU, NESSE DIA, GRANDE QUANTIDADE DE

TRANSACÇÕES E SUBIDA DO VALOR DAS A C Ç ~ E S DA GALP EM RELAÇÃO AO DIA

ANTERIOR.

ACRESCENTOU, ALIAS, QUE A 3 DE OUTUBRO DE 2007, NA SEQUÊNCIA, DO ACORDO QUE

SUPRA REFERIU DE 2 DE OUTUBRO, DO MESMO ANO, OCORREU UMA GRANDE

VALORIZAÇÃO DO PREÇO DAS ACÇÕES DA GALP.

CONCLUIU QUE, ACTUALMENTE, A POSIÇÃO DA GALP NA VENEZUELA ESTARA MAIS

FORTALECIDA, UMA VEZ QUE JA HOUVE A COMUNICAÇAO DE OUTROS

DESENVOLVIMENTOS COM O OBJECTIVO DE APROFUNDAR A COOPERAÇAO ENTRE A

GALP E A PETRÓLEOS DA VENEZUELA, COM MAIS CERCA DE CiNCO ACORDOS DE

COOPERAÇÃO.

VOLTANDO AS NOT~CIAS QUE DERAM ORIGEM AOS PRESENTES AUTOS, ACRESCENTOU

QUE AS MESMAS JÁ INDICAVAM UMA DATA PARA A ASSINATURA DE UM ACORDO

ENTRE A ARGUIDA E A EMPRESA VENEZUELANA, COMO SENDO A 1 DE OUTUBRO E,

NESSA DATA, A ARGUIDA FEZ UM MEMORANDO.

POR OUTRO LADO, O FACTO DE A ARGUIDA APENAS TER COMUNICADO A INFORMAÇÃO

PRIVILIGIADA, DOS AUTOS, CERCA DE DUAS HORAS DEPOIS DO TELEFONEMA DA

ENTIDADE REGULADORA NO SENTIDO DE QUE DEVERIA SER DIVULGADA, COMO

INFORMAÇÃO PRIVILIGIADA, CONCLUI QUE É MUITO TEMPO, É TEMPO RELEVANTE, UMA

VEZ QUE O MERCADO ESTAVA EM PLENO FIUNCIONAMENTO SEM SER DETENTOR DESSA

MFORMAÇÃO.

QUESTIONADA SOBRE SE O VOLUME ANORMAL DE N E G ~ C I O S , NO DIA 19 DE SETEMBRO

DE 2007, OCORREU APENAS EM RELAÇÃO A GALP, DISSE NAO SABER, TENDO SIDO

CONFRONTADA COM FLS. 155, DOS AUTOS.

AINDA QUESTIONADA QUANTO AO MEMORANDO FEITO PELA GALP COM A PETROGAS (BRASILEIRA) SOBRE OS BIOCOMBÚSTIVEIS, CONFIRMOU QUE O MESMO TEVE

MFLUÊNCIA NO MERCADO.

CONFIRMOU, AiNDA, QUE AS RELAÇÕES ENTRE A ARGUIDA E A CMVM SAO DE

ABERTURA E DE PROFISSIONALISMO;

2- PAULO MANUEL DE MORAES FRANCISCO, TÉCNICO-ECONOMISTA DA CMVM, A DATA

DOS FACTOS E ACTUALMENTE, TRABALHAVA NA SUPERVISÃO EM TEMPO REAL DO

MERCADO, NO DEPARTAMENTO DE SUPERVISÃO DE MERCADOS EMITENTES E QUE,

NESSAS FUNÇÕES, TODOS OS DIAS, ANTES DA ABERTURA DOS MERCADOS, LIGAM OS

COMPUTADORES E ATRAVÉS DO SISTEMA DE NEGOCIAÇÃO DA EURONEXT LISBON

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APERCEBEM-SE DE TODOS OS NEGÓCIOS, TENDO UM SISTEMA DE ALERTAS DA

NEGOCIAÇÃO E OUTRO DE LIQUIDEZ.

FOI, ASSIM, QUE NO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007, NO EXERCICIO DAS SUAS FUNÇOES,

LHE CHAMOU A ATENÇÃO, O FACTO DE TER DISPARADO UM ALERTA, NO SISTEMA,

RELACIONADO COM A GALP, QUE SE TRADUZIA NUMA VARIAÇAO EXCESSIVA POSITIVA

NO PREÇO (ERA ESTE O TEOR DO ALERTA), O PREÇO INICIOU A SUBIR,

APROXIMADAMENTE, 3%.

PERANTE TAL SITUAÇAO, COMEÇARAM POR CONFIRMAR SE NAO ERA UM FALSO

ALARME E ACABARAM POR CONCLUIR QUE A REFERIDA SITUAÇAO RESULTAVA DAS

NOTICIAS DIS JORNAIS, DESSE DIA, QUE CITAVAM O TEOR DA CONFERÊNCIA DE

IMPRENSA DADA PELO ENGENHEIRO FERREIRA DE OLIVEIRA QUE DAVA CONTA DA

POSSIBILIDADE DE UMA PARCERIA ENTRE A ARGUIDA E A EMPRESA "PETRÓLEOS DA

VENEZUELA".

NESTE CIRCUNSTANCIALISMO, REPORTARAM A SITUAÇAO AOS SUPERIORES

HIERARQUICOS E Á RESPONSÁVEL, DANDO CONTA DO ALERTA, E O SEGUIMENTO DA

SITUAÇÃO PASSOU POR OUTRAS PESSOAS.

ASSIM, A SUA INTERVENÇÃO TRADUZIU-SE EM CONTRIBUIR PARA UMA INFORMAÇÃO

INTERNA QUANTO h SITUAÇÃO DOS AUTOS: O ALERTA, A LIQUIDEZ DAS A C Ç ~ E S NO DIA

DEZANOVE DE SETEMBRO E NOS DIAS ANTERIORES, ETC.

EXPLICOU QUE, NO REFERIDO DIA DEZANOVE, A COTAÇÃO ABRIU A SUBIR DE FORMA

ABRUPTA, A 3%.

A TESTEMUNHA FOI CONFRONTADA COM FLS. 8, DOS AUTOS, E EXPLICOU O TEOR DO

GRAFICO ~f EXISTENTE.

CONFIRMOU QUE, NA MESMA ALTURA, HOUVE OUTRA INFORMAÇAO QUE TEVE

INFLUÊNCIA NA BOLSA, RELACIONADA COM A DECISAO DA RESERVA FEDERAL

AMERICANA DE DESCER A TAXA DE JURO. PO&M ADMITINDO QUE POSSA TER HAVIDO

ALGUMA LEVIANDADE NO SENTIDO DE NAO ANALISAR OUTRAS VARIAVEIS, INSISTIU

QUE ERA ÓBVIO QUAL A MFORMAÇAO QUE ESTAVA A PROVOCAR ALTERAÇAO NA

BOLSA E NOS T~TULOS DA GALP - ERAM AS NOTICIAS DAS NEGOCIAÇÕES DA ARGUIDA

COM A "PETRÓLEOS DA VENEZUELA".

EXPLICOU QUE O NAO ANALISAR OUTRAS V A R ~ V E I S RESULTAVA DO FACTO DE SER

ÓBVIA A CAUSA DA ALTERAÇÃO NA BOLSA, ESTAVA SEGURO E, ACTUALMENTE, ESTA SEGURO DA SUA AVALIAÇAO. EFECTIVAMENTE, APENAS O ALARME DA GALP

DISPAROU, NENHUM OUTRO DISPAROU, PELO QUE O RACÍOCINIO NAO ERA DIFICIL.

CONFIRMOU QUE HOUVE IMPACTO NA BOLSA, QUER EM DEZANOVE DE SETEMBRO

QUER EM UM DE OUTUBRO DE 2007, TENDO SIDO MAIOR O IMPACTO NA ÚLTIMA DATA.

NAO SOUBE EXPLICAR POR QUE É QUE A COTAÇAO, NO REFERIDO DIA DEZANOVE DE

SETEMBRO, SUBIU MUITO MENOS DO QUE TINHA ABERTO.

EXPLICOU, IGUALMENTE, QUE A DEZANOVE DE SETEMBRO, O FACTO DE TER HAVIDO

CONVERSAÇÕES GALPI "PETRÓLEOS DA VENEZUELA", POR SI sÓ, JÁ INFLUENCIAVA OS

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

MVESTIDORES, UMA VEZ QUE ESTE MERCADO FUNCIONA POR ANTECIPAÇAO, O

MERCADO FINANCEIRO FUNCIONA COM BASE EM EXPECTATIVAS.

ASSIM, NO CASO DOS AUTOS, OS JORNAIS SAIRAM AS OITO HORAS E O COMUNICADO SÓ

TEVE LUGAR ÁS QUARTORZE HORAS E ONZE MINUTOS, SENDO QUE O TEMPO QUE

MEDEIA ENTRE UM E OUTRO É LIMA ETERNIDADE, UMA VEZ QUE AS TRANSACÇÕES SÃO

FEITAS QUASE AO SEGUNDO.

EXPLICOU, AINDA, QUE A INFORMAÇÃO CONSTANTE DOS JORNAIS É DIFERENTE DA

MFORMAÇÃO CONSTANTE DO SDI (O SITE DA CMVM); NA VERDADE, A ULTIMA É MAIS

CREDÍVEL, NO SDI AS MFORMAÇÕES SÃO DIVULGADAS EM PORTUGUÊS E EM INGLÊS,

NÃO HAVENDO TRATAMENTO DA ~NFORMAÇÃO, NÃO HAVENDO TRABALHO DE

JORNALISTA, OU SEJA, NÃO É UMA MFORMAÇÃO JORNALISTICA.

ESCLARECEU QUE A ABERTURA DA BOLSA É AS OITO HORAS (PARA O INICIO DAS

TRANSACÇÕES) E QUE OS JORNAIS sAO RECEBIDOS PELA TESTEMUNHA AS SETE HORAS

E TRiNTA MINUTOS OU OITO HORAS, TENDO IDEIA QUE O PÚBLICO OS TEM Á

DISPOSIÇÃO ENTRE AS OITO HORAS E TRINTA MINUTOS OU AS NOVE HORAS.

NO DIA DEZANOVE DE SETEMBRO, O MERCADO DE VALORES TEVE GRANDE SUBIDA,

LEMBRANDO-SE QUE O PSI 20 ABRIU A SUBIR, EXPLICANDO QUE OS JORNAIS FALAVAM

DE V A R I A Ç ~ E S ANORMAIS DE 1%, MAS A VARIAÇÃO NA GALP FOI DE 3%, PORTANTO,

MUITO MAIS ANORMAL DO QUE COM O RESTO DAS ACÇÕES DAS OUTRAS EMPRESAS.

ASSIM, SE OS JORNAIS NÃO FALARAM DA GALP so PODE CONCLUIR QUE FOI UMA

GRANDE GAFFE.

VOLTOU A EXPLICAR QUE O TITULO DA GALP, NO DIA DEZANOVE DE SETEMBRO DE

2007, ABRIU A SUBIR DE FORMA ABRUPTA, DEPOIS SUBIU DE FORMA ESTAVEL, MUITO, E

NO FINAL ACABOU POR DESCER, MAS ESTEVE SEMPRE MUITO MAIS ALTO DO QUE NO

DIA ANTERIOR.

EXPLICOU, AINDA, QUE O LIVRO DE ORDENS DA BOLSA É ANTERIOR AO INICIO DAS

TMNSACÇ~ES, É UM LEILAO DA ABERTURA DA BOLSA, SENDO QUE AS OFERTAS FEITAS

A PARTIR DAS SEIS HORAS E QUINZE MINUTOS SAO INTRODUZIDAS NO REFERIDO LIVRO,

SENDO ESTE LIVRO MUITO IMPORTANTE, UMA VEZ QUE DESDE O FECHO DA BOLSA, NO

DIA ANTERIOR, ATÉ A ABERTURA, NO DIA SEGUINTE, CIRCULA MUITA ~NFORMAÇÃO.

ESTA TESTEMUNHA AO LONGO DO SEU DEPOIMENTO FOI CONFRONTADO COM O TEOR

DE FLS. 8,20,22, 152, 154 E 155, DOS AUTOS;

3- PAULO MIGUEL PEREIRA DA SILVA, ECONOMISTA, QUE EXERCIA, A DATA DOS FACTOS

E QUE EXERCE, ACTUALMENTE, FUNÇÕES NO DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DA CMVM E

QUE NO ÂMBITO, DOS PRESENTES AUTOS, ELABOROU UM ESTUDO QUE ESTA JUNTO AOS

MESMOS A FLS. 15 1 E SEGUINTES.

NA VERDADE, FOI-LHE SOLICITADO QUE ELABORASSE UM PARECER SOBRE O IMPACTO

DAS NOTICIAS PUBLICADAS NOS JORNAIS, NO DIA DEZANOVE DE SETEMBRO DE 2007,

SOBRE A ARGUIDA, NO MERCADO DA BOLSA, NA EVOLUÇÃO DAS C O T A Ç ~ E S DA BOLSA.

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CONFIRMOU QUE O MDICE PSI 20 SUBIU, NO DIA EM CAUSA, QUE VARIOS T~TULOS DE

EMPRESAS PORTUGUESAS, SUBIRAM POR CAUSA DA NOTICIA AMERICANA DA DESCIDA

DAS TAXAS DE JURO.

MAIS, ACRESCENTOU QUE A REFERIDA NOTICIA DA DESCIDA DAS TAXAS DE JURO, BEM

COMO A SUBIDA DO PREÇO DO PETROLEO TIVERAM IMPACTO NA GALP, MAS SÓ 1,6%,

SENDO O REMANESCENTE, OU SEJA, 1,37% RESULTOU DAS NOTICIAS DAS NEGOCIAÇÕES

ENTRE A ARGUIDA E A EMPRESA DE PETRÓLEO VENEZUELANA;

4- RUI MARIA DINIS MAYER, DIRECTOR DOS SERVIÇOS JURIDICOS DA GALP DESDE

SETEMBRO DE 2000 ATÉ HOJE.

CONFIRMOU QUE AS NOTICIAS DOS JORNAIS, DO DIA EM CAUSA NOS AUTOS, DIZIAM

QUE A GALP ESTAVA A NEGOCIAR COM A "PETRÓLEOS DA VENEZUELA" E EXPLICOU

QUE A NOTICIA, EM CAUSA, APENAS FOI DIVULGADA NO SDI A MSTÂNCIAS DA CMVM

PORQUE O NEGÓCIO NAO ESTAVA, AMDA, FECHADO E ERA SÓ UMA PLATAFORMA DE

ENTENDIMENTO, O OBJECTIVO NAO ERA CRIAR UM COMPROMISSO ENTRE A GALP E A

REFERIDA EMPRESA VENEZUELANA, TRATAVA-SE DE AVANÇAR PARA ESTUDOS PARA

IDENTIFICAR POSSIBILIDADES DE NEGÓCIOS FUTUROS, OU SEJA, TRATAVA-SE DE UMA

SITUAÇAO CORRENTE E COMUM.

ESCLARECEU, ANDA, QUE AS NOTICIAS SAÍRAM UMA SEMANA ANTES DA ASSMATURA

DO MEMORANDO ENTRE A ARGUIDA E A EMPRESA VENEZUELANA E QUE PARTICIPOU

NA ELABORAÇAO DO MESMO, ALIÁS, FOI ESTA TESTEMUNHA QUE, PRATICAMENTE, O

REDIGIU E TRADUZIA-SE NO ESTABELECIMENTO DE UM PLANO DE ENTENDIMENTO

ENTRE AS DUAS PARTES, NO ÂMBITO DA PESQUISA E PROSPECÇAO DE PETRÓLEO, ETC,

EM CINCO AREAS, DESIGNANDO, PARA O EFEITO, AS DUAS PARTES TÉCNICOS PARA

FAZEREM UM TRABALHO CONJUNTO PARA ELABORAREM PROJECTOS PARA POSS~VEIS

MVESTIMENTOS FUTUROS.

CONCLUI QUE NÃO ERA UM ACORDO DE EXPLORAÇAO DE PETRÓLEO, NÃO ERA

VMCULATIVO, ERA UMA DECLARAÇÃO DE MTENÇ~ES.

EXPLICOU QUE O MERCADO DA VENEZUELA É IMPORTANTE, UMA VEZ QUE É A

TERCEIRA MAIOR RESERVA DE HIDROCARBONETOS DO MUNDO, A QUANTIDADE DO

PETRÓLEO É IMPORTANTE, MAS A QUALIDADE NEM TANTO E QUE TAL PAIS TEM

CARÊNCIAS, NOMEADAMENTE, A N ~ V E L TECNOLÓGICO, PELO QUE A GALP

CONSIDERAVA QUE PODIA ANDAR.

EXPLICOU, AINDA QUE, ACTUALMENTE, A POSIÇAO DA GALP NA VENEZUELA É

PRATICAMENTE MEXISTENTE, TENDO UM PROJECTO DE DESENVOLVIMENTO DE UM

PARQUE EÓLICO.

QUANTO AO ACORDO CELEBRADO EM MAIO DE 2008, EXPLICA QUE FOI UMA

CONCRETIZAÇÃO DO MEMORANDO DE ENTENDIMENTO DE OUTUBRO DE 2007, DE ONDE

RESULTARAM DOIS ACORDOS DE CONSTITUIÇAO POSS~VEL DE DOIS CONS~RCIOS, ONDE

A GALP TERIA 15% EM CADA CONSÓRCIO, QUE NAO SÃO VMCULATIVOS, CONTMUAM A

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

SER MEMORANDOS, HAVENDO CONTRATOS QUE NÃO TIVERAM CONSEQUÊNCIAS,

ESTÃO CADUCADOS.

ISTO PARA CONCLUIR QUE, NESTE MOMENTO, A ARGUIDA NÃO TEM NADA NA

VENEZUELA NO ÂMBITO DA PRODUÇÃO E DA EXPLORAÇÃO.

ACRESCENTOU QUE O ENGENHEIRO FERREIRA DE OLIVEIRA E FERNANDO GOMES ERAM

DOIS ADMINISTRADORES DA GALP E QUE SE DESLOCARAM A VENEZUELA, ANTES DA

ASSINATURA DO MEMORANDO, MAS FORAM PORQUE ACOMPANHAVAM MÁRIO SOARES

(ENQUANTO FUNDAÇÃO) NA VISITA QUE ESTE FEZ AQUELE PAÍS, NADA TENDO A VER

COM O MEMORANDO.

EXPLICOU QUE Á DATA DOS FACTOS, A POSIÇÃO DA GALP NA BACIA DO ATLÂNTICO

INTEGRAVA PROJECTOS NO BRASIL QUE DERAM RESULTADO E ESTÃO EM CURSO E

PRESENÇA EM ANGOLA DESDE 1990. NADA MAIS.

ACTUALMENTE, FORA DA BACIA DO ATLÂNTICO, TÊM INTERESSES EM MOÇAMBIQUE,

TIMOR, GUMÉ, S. TOMÉ (POUCO), CABO VERDE, GUINÉ EQUATORIAL (GAS NATURAL,

ETC.).

ALIAS, CONSIDERA, NESTA ÁREA DEVE HAVER DIVERSIFICAÇAO DE FONTES, COM

VÁRIOS PAISES. FINALMENTE, QUESTIONADO SOBRE SE O ANÚNCIO DE PROXIMIDADE DA GALP :A VENEZUELA, QUE RESULTA DAS NEGOCIAÇ~ES, NAO E IMPORTANTE PARA A ARGUIDA

QUE DEVIA SER ANUNCIADO COM ORGULHO, APENAS DISSE QUE É IMPORTANTE PARA A

GALP.

ACRESCENTOU, AINDA, QUE DE DEZANOVE DE SETEMBRO DE 2007 A DOIS DE OUTUBRO

DO MESMO ANO ESTAVAM EM NEGOCIAÇÕES COM A PETROLIFERA VENEZUELANA E

QUE NO DIA DA ASSINATURA - DIA DOIS DE OUTUBRO - AMDA ESTAVAM A SER

INSERIDAS ALTERAÇÕES NO MEMORANDO ASSINADO NESSE DIA.

NAO SOUBE DIZER, AO CERTO, A DATA EM QUE TIVERAM INICIO AS REFERIDAS

NEGOCIAÇ~ES, ADMITIU TEREM SIDO EM MAIO OU JUNHO DE 2007.

DA COMITIVA QUE FOI A VENEZUELA, A ACOMPANHAR MÁRIO SOARES, FORAM OS

SUPRA REFERIDOS ADMMISRTRADOERES DA GALP QUE FORAM RECEBIDOS POR UM

MINISTRO E POR UM RESPONSAVEL DA PETR~LEOS VENEZUELA E O RESULTADO DA

VISITA TRRADUZIU-SE NA EXISTÊNCIA DE VARIAS IDEIAS QUE TINHAM QUE SER

CONCRETIZADAS.

FOI ACORDADO ASSINAR O MEMORANDO NO DIA DOIS DE OUTUBRO DE 2007, UMA VEZ

QUE UM MINISTRO VENEZUELANO VINHA, NESSE DIA, A LISBOA.

ESCLARECEU, AINDA, QUE ACTUALMENTE A IMPORTAÇAO, POR PARTE DA ARGUIDA, DE

PETROLEO DA VENEZUELA, VARIANDO DE ANO PARA ANO SE CIFRA, NUMA MÉDIA, DE

5% A 7%.

NA VERDADE, AS COISAS DA GALP NA VENEZUELA NAO AVANÇAM, EMBORA A

ARGUIDA O TENHA QUERIDO E AINDA QUEIRA.

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CONFIRMOU QUE NO DIA DEZOITO DE MARÇO DE 2007 FOI ASSINADO UM MEMORANDO

ENTRE A ARGUIDA E A PETROBÁS, NÃO SE LEMBRANDO SOBRE SE FOI DIVULGADO NO

MERCADO;

5- TIAGO MARIA RAMIRES PROVIDÊNCIA VILAS BOAS QUE É TRABALHADOR DA

ARGUIDA, DESDE 2000, SENDO RESPONSÁVEL PELA ÁREA QUE MTERAGE COM O

MERCADO (DESDE OUTUBRO DE 2006, ALTURA EM QUE A GALP PASSOU A SER COTADA

NA BOLSA) E COM A COMUMICAÇÃO SOCIAL (DESDE MEADOS DE 2007),

REPRESENTANDO A EMPRESA ARGUIDA PARA AS RELAÇÕES COM O MERCADO; É

ECONOMISTA.

ESCLARECEU QUE NA SEQUÊNCIA DAS NOTICIAS PUBLICADAS A DEZANOVE DE

SETEMBRO DE 2007 - DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE DA GALP - A CMVM CONTACTOU

COM A ARGUIDA, CONSIDERANDO QUE TAL NOTICIA DEVIA SER DIVULGADA, TENDO

OCORRIDO CONVERSAS COM A CMVM TENTANDO, A ARGUIDA, CONVENCER TAL

ENTIDADE DE QUE AS MFORMAÇÕES, EM CAUSA, NAO ERAM RELEVANTES, NÃO HAVIA

FACTOS CONCRETOS. PORÉM A CMVM NAO CONCORDOU E ACABOU POR EXIGIR A

COMUNICAÇÃO, O QUE A GALP CUMPRIU.

ACRESCENTOU QUE NO DIA DEZOITO DE SETEMBRO DE 2007 s6 HOUVE DECLARAÇ~ES

POR PARTE DO PRESIDENTE DA ARGUIDA, MAS NÃO HOUVE NENHUMA CONFERÊNCIA

DE IMPRENSA, SE TIVESSE HAVIDO A TESTEMUNHA SABERIA, UMA VEZ QUE, CONFORME

SUPRA, TAMBÉM É RESPONSÁVEL PELAS RELAÇÕES GALPIIMPRENSA.

QUANTO AO MOVIMENTO DAS ACÇÕES NO DIA DEZANOVE DE SETEMBRO, ESCLARECEU

QUE NO DIA ANTERIOR O BANCO CENTRAL AMERICANO DESCEU AS TAXAS DE JURO, O

QUE TEVE FORTE IMPACTO NAS ACÇÕES, TENDO A GALP SUBIDO MENOS DO QUE O

MERCADO.

MAIS, EXPLICOU QUE TUDO O QUE A ARGUIDA CONSIDERA RELEVANTE COMUNICA E

QUE, EM CASO DE DÚVIDA SOBRE HAVER OU NAO RELEVÂNCIA, É PRECISO VER CASO A

CASO, MAS EM PRINCIPIO PUBLICA.

NO CASO DOS AUTOS, NAO DIVULGARAM NO SDI PORQUE NÃO ACHARAM RELEVANTE,

TANTO É QUE ATÉ HOJE NÃO TÊM POSIÇAO DE RELEVÂNCIA NA VENEZUELA.

DISSE QUE NÃO TEVE INTERVENÇAO NAS NEGOCIAÇ~ES PARA A CELEBRAÇAO DO

MEMORANDO DOS AUTOS, NAO FAZ PARTE DAS SUAS FUNÇÕES, MAS ESTAVA A PAR

DELAS.

NAO SE LEMBRA DA DATA EM QUE AS MESMAS SE TERÃO INICIADO.

EXPLICOU QUE NO DIA DEZANOVE DE SETEMBRO DE 2007 NAO FALOU COM A CMVM, FOI

UMA COLEGA QUE O FEZ E QUE LHE EXPLICOU A SITUAÇÃO QUE TENTOU RESOLVER.

NAO SABE SE FORAM CONTACTADOS DE MANHÃ, MAS ADMITIU QUE ASSIM TIVESSE

SIDO. TAMBÉM NÃO SABE A QUE HORAS FOI O COMUNICADO, ESCLARECENDO QUE NA

ALTURA EM QUE A CMVM OS CONTACTOU PODERIA ESTAR EM REUNIAO COM

INVESTIDORES E QUE NÃO PODE INTERROMPER AS REUNIÕES.

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

MAIS, EXPLICOU QUE NO DIA DOIS DE OUTUBRO DE 2007 DIVULGOU, SEM ORDEM DA

CMVM, POR CAUSA DO COMUNICADO DE DEZANOVE DE SETEMBRO.

CONFIRMOU QUE EM MAIO DE 2007 COMUNICOU O MEMORANDO DA ARGUIDA COM A

PETROBÁS, NÃO SE LEMBRANDO SE FOI POR ORDEM DA CMVM MAS, ADIANTOU, QUE O

REFERIDO MENMORANDO ATE TEVE DESENVOLVIMENTOS, PELO QUE A SITUAÇÃO DA

PETROBÁS É DIFERENTE DA VENEZUELANA, EM RELAÇAO A PRIMEIRA OS PROJECTOS

SÃO MAIS PALPAVEIS.

FINALMENTE, FORAM CONSIDERADOS OS DOCUMENTOS DE FLS. 12 A 16,20 A 22,26 A 32,

64,65,68 A 76, 123, 124, 146, 157 A 159,760,762 A 768,770 A 784,786 E 787,791 E 792,796, DOS

AUTOS.

TODAS AS TESTEMUNHAS INQUIRIDAS DEPUSERAM, NA MEDIDA DA SUA INTERVENÇÃO

E CONHECIMENTO DOS FACTOS, DE FORMA ISENTA E CREDIVEL, TENDO ESPECIAL

RELEVO O DEPOIMENTO DA SEGUNDA TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO, PAULO MANUEL DE

MORAES FRANCISCO, QUE DEPÔS COM GRANDE A VONTADE LEMBRANDO-SE DOS

VALORES DOS AUTOS E DO ESSENCIAL, SEM NECESSIDADE DE CONSULTAR OS P R ~ P R I O S

AUTOS OU NOTAS PESSOAIS, EXPLICOU DE FORMA ESCLARECEDORA A INFLUENCIA EFECTIVA DAS NOTICIAS, DO DIA DEZANOVE DE SETEMBRO DE 2007, NAS ACÇÕES E NO

MERCADO.

IGUALMENTE, O DEPOIMENTO DA PRIMEIRA TESTEMUNHA DE DEFESA, RUI MARIA DINIS

MAYER, TEVE ESPECIAL RELEVO, MOSTRNDO-SE SEGURO, CONHECEDOR INTRMSECO

DOS NEGOCIOS, DAS IMPLICAÇÕES.

FINALMENTE, OS DOCUMENTO REFERIDOS FORAM SUPORTE FUNDAMENTAL PARA DAR

COMO PROVADOS PARTE SUBSTANCIAL DOS FACTOS.

* * *

111" 1. Como dispõe o n02, do art.374, do CPP, além do mais, deve a sentença enumerar

os factos provados e os não provados.

A falta de concretização desse requisito, nomeadamente, porque em vez de factos são aí

consignadas conclusões ou matéria de direito, é susceptível de conduzir à nulidade da sentença

(art.379, nOl, al.a, do CPP).

No caso, defende a recorrente que o que consta das alíneas n0s8,1 1,12,17,18 e 22, dos

factos provados, não são factos, mas sim conclusões, apreciações ou juízos valorativos.

Essas alíneas têm o seguinte teor:

<<

NO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007, AS EDIÇÕES DIÁRIAS DOS JORNAIS DIARIO E C O N ~ M I C O (DE), JORNAL DE N E G ~ C I O S (JN) E DIARIO DE NOT~CIAS (DN) INFORMARAM

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QUE A ARGUIDA E A PDVSA ESTARIAM EM NEGOCIAÇÕES PARA PREPARAR UMA PARCERIA COM O OBJECTIVO DE FAZER DA VENEZUELA UMA DAS PRINCIPAIS FONTES DE IMPORTAÇAO DE PETRÓLEO PARA PORTUGAL E DE PERMITIR A ARGUIDA ESTAR ENVOLVIDA EM PROJECTOS DE EXPLORAÇAO E PRODUÇAO DE PETRÓLEO NA VENEZUELA. (FLS. 12 A 14)

11. A IN&AÇÃo DE OCORRÊNCIA DE NEGOCIAÇÕES ENTRE A ARGUIDA E A PDVSA COM VISTA A ASSINATURA DE UM ACORDO NÃO ERA DO CONHECIMENTO PÚBLICO ATÉ AO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007 (FLS. 12 A 14): -SE TIVESSE SIDO DIVULGADA SERIA IDÓNEA PARA INFLUENCIAR DE FORMA SENS~VEL O PREÇO DAS ACÇÕES DA ARGUIDA; -PODERIA SER UTILIZADA POR QUALQUER INVESTIDOR RAZOÁVEL QUE A CONHECESSE, PARA BASEAR, NO TODO OU EM PARTE, AS SUAS DECISÕES DE INVESTIMENTO. 12. A INFORMAÇÃO DE OCORRÊNCIA DE NEGOCIAÇÕES ENTRE A ARGUIDA E A PDVSA, PARA ALÉM DE SER IDÓNEA PARA INFLUENCIAR O PREÇO, APÓS A RESPECTIVA DIVULGAÇÃO, INFLUENCIOU EFECTIVAMENTE, O PREÇO DAS ACÇÕES DA ARGUIDA NEGOCIADAS NO MERCADO REGULAMENTADO EUROLIST BY EURONEXT NA sESSÃO DO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007.

17. CERCA'DAS 8 HORAS DO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007, A INFORMAÇAO DA OCORRÊNCIA DE NEGOCIAÇÕES ENTRE A ARGUIDA E A PDVSA COM VISTA A CELEBRAÇAO DE UM ACORDO PASSOU A SER PÚBLICA, EM VIRTUDE DAS NOT~CIAS PUBLICADAS NAS EDIÇÕES DIÁRIAS DOS JORNAIS DE, JN E DN. (FLS. 12 A 14) 18. NA SEQUÊNCIA DO DESCRITO EM 17), A ARGUIDA, A PARTIR DAS 8 HORAS DO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007, DEVERIA TER DIVULGADO IMEDIATAMENTE NO SISTEMA DE DIFUSÃO DE INFORMAÇAO (SDI) DA CMVM A REFERIDA INFORMAÇÃO. ... 22. A ARGUIDA AGIU CONFORME DESCRITO EM 19), VIOLANDO UM DEVER DE CUIDADO A QUE ESTAVA OBRIGADA E DE QUE ERA CAPAZ, NO SENTIDO DE DILIGENCIAR DE FORMA A QUE AO TER CONHECIMENTO DO DESCRITO EM 171, PROCEDESSE A DIVULGAÇAO DA NOT~CIA EM CAUSA, DE IMEDIATO E NAO DEMORANDO SEIS HORAS E ONZE MINUTOS, CONFORME DEMOROU.

9, ... .

Segundo o Prof. Alberto dos ~ e i s ~ "é questão de facto tudo o que tende a apurar

quaisquer ocorrências da vida real, quaisqtrer eventos materiais e concretos, quaisquer

mudanças operadas no mundo exterior".

O Prof. Anselmo de castro3, defende que "são ainda de equiparar-se aos factos, os

juizos que contenham subsunção a um conceito jurídico geralmente conhecido; por outras

palavras, os que, contendo a enunciação do facto pelos próprios caracteres gerais da lei, sejam

de uso corrente na linguagem comum.. . ".

Código de Processo Civil anot., 3kd . , vol.111, pAg.206. 3 Lições de Processo Civil, vol.111, pBg.426. -22-

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TRIBUNAL DA RELAÇAO DE LISBOA I

No caso, o n08 relata uma ocorrência concreta e real da vida, que se traduz na descrição

objectiva de determinadas notícias, com concretização do meio da sua divulgação e teor das

mesmas.

O nOl 1, contém descrição fáctica, na parte em que se refere a negociações concretas, ao

seu desconhecimento público até determinada data, a susceptibilidade das mesmas influenciarem

o preço das acções e serem utilizadas por investidores.

É certo que na redacção desses factos podemos encontrar expressões conclusivas,

nomeadamente "de forma sensível", que poderiam não constar da descrição dos factos, mas sim

da fundamentação de direito, o que não invalida a matéria de facto efectivamente descrita nessas

alíneas.

O n012, ao referir que determinada informação é idónea para influenciar o preço e que

efectivamente influenciou, relata evento concreto que determinou uma mudança (alteração do

preço) e, ainda, o nexo de causalidade entre a informação e a alteração do preço, o que constitui

matéria de facto4.

O n017, relata um facto concreto (data e hora em que determinado facto se tornou

público e a razão do mesmo).

O nOl 8, contém matéria de direito e o n022, matéria conclusiva.

Assim, encontramos na parte da sentença relativa aos factos provados, matéria de direito

e conclusiva, o que pode justificar alguma crítica a forma como a sentença foi elaborada nessa

parte, por não ter conseguido descrever os factos com o rigor que a doutrina mais exigente

aconselha e o Prof. Alberto dos Reis ensinava.

Não é fácil encontrar uma sentença que não contenha, ao longo da descrição da matéria

de facto, matéria de direito e conclusiva, o que se compreende pela dificuldade, em algumas

A jurisprudência t unânime no sentido do nexo de causalidade constituir mattria de facto, entre outros, Acs. do S.T.I. de 70ut.99 (Relator Sousa Lamas) e de 19Fev.09 (Relator Santos Bemardino), ambos acessíveis em

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situações, em distinguir matéria de facto, matéria de direito e conclusiva, pois, como se referiu,

entende-se que "são ainda de equiparar-se aos factos, os juizos que contenham subsunção a um

conceito jurídico geralmente conhecido; por outras palavras, os que, contendo a enunciação do

facto pelos próprios caracteres gerais da lei, sejam de uso corrente na linguagem comum ... ".

De qualquer modo, a única consequência que daí resulta é ter-se como não escrita toda a

matéria de direito e conclusiva que consta dos factos descritos na sentença.

Considerando não escrita toda essa matéria, subsiste na fundamentação a enumeração

dos factos provados e não provados, como é exigido pelo art.374, n02, CPP.

Este preceito legal, impõe que a decisão seja fundamentada, com o que visa permitir ao

tribunal ad quem averiguar se as provas que o tribunal a quo atendeu são, ou não, permitidas por

lei e garantir que os julgadores seguiram um processo lógico e racional na apreciação da prova,

não resultando uma decisão ilógica, arbitrária, contraditória ou claramente violadora das regras da

experiência comum na apreciação da prova.

O dever de motivação emerge directamente de um dever de fundamentação de natureza

constitucional- art.205, do CRP- em relação ao qual ponderam Gomes Canotilho e Vital

c ore ira^ que é parte integrante do próprio conceito de Estado de direito democrático, ao menos ,

quanto as decisões judiciais que tenham por objecto a solução da causa em juízo como

instrumento de ponderação e legitimação da própria decisão judicial e da garantia do direito ao

recurso.

Como acentua Marques erre ira^, um sistema de processo penal inspirado nos valores

democráticos não se compadece com razões que hão-de impor-se apenas em razão da autoridade

de quem as profere, mas antes pela razão que lhes subjaz.

Para o efeito, exige a lei o exame crítico das provas que serviram para formar a

ConstituiçBo anotada, pág.799. Jornadas de Direito Processual Penal, pág.230.

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

convicção do tribunal7, o qual deve ser feito no intuito de permitir tornar perceptível a razão do

sentido da decisão, por forma a que se compreenda porque decidiu o tribunal num sentido e não

noutro, desse modo não se apresentando a decisão como arbitrária, ou caprichosa, mas fruto da

valoração dada pelo mesmo as provas produzidas8.

No caso, além da descrição dos factos provados e não provados, consta da

fundamentação aquele exame crítico, o qual permite compreender por que decidiu o tribunal

num sentido e não noutro, considerando-se adequadamente cumprido o dever de fundamentação

exigido pelo citado art.374, n02.

Alega a recorrente, ainda, que ocorre nulidade por omissão de pronúncia, por o tribunal

não se ter pronunciado sobre factos relevantes por ela alegados.

De acordo com o art.379, nOl, al.c, CPP, a sentença é nula "quando o tribunal deixe de

pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ... ".

No caso, porém, a recorrente não aponta qualquer questão em relação à qual o tribunal

tivesse omitido a sua pronúncia, apenas se referindo a factos, sendo que os conceitos de facto e

questão não são sobreponíveisg.

A falta de averiguação de factos importantes para a decisão, poderá conduzir ao vício de

7 Neste sentido, Ac. do S.T.J. de 3Abr.03, na C.J. Acs. do STJ ano XI, tomo 2, phg.157. 8 Como refere o Ac. do S.T.J. de 16Mar.05 (Relator Henriques Gaspar, proc. n0662/05, da 3" Secçâo, acesslvel em www.sti.nt) "O exame crítico consiste na enunciação das razões de ciência reveladas ou extraídas das provas administradas, a razõo de determinada opção relevante por um ou outro dos meios de prova, os motivos da credibilidade dos depoimentos, o valor de documentos e exames, que o tribunal privilegiou na formação da convicção, em ordem a que os destinatúrios (e um homem médio suposto pelo ordem jurídica, exterior ao processo, com a experiência razoável da vida e das coisas) fiquem cientes da lógica do raciocínio seguido pelo tribunal e das razdes da sua convicção". No mesmo sentido, o Ac. do S.T.J. de lMar.OO (B.M.J. n0495, phg.209), refere "O tribunal deve proceder ao exame crítico das provas, ou seja, deve esclarecer quais os elementos probatórios que em maior ou menor grau o elucidaram e porque o elucidaram, de modo a que se consiga compreender porque foi proferida aquela e não outra decisão". 9 Como refere o Ac. do S.T.J. de 19Nov.08 (PO n03776/08 - 3." Secção, Relator Santos Cabral) "A "pronúncia" cuja "omissão" determina a consequência prevista no art. 379.4 n." I , ai. c), do CPP - a nulidade da sentença - deve,

pois, incidir sobre problemas e não sobre motivos ou argumentos; é referida ao concreto objecto que é submetido a cognição do tribunal e não aos motivos ou razdes alegadas".

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insuficiência para a decisão da matéria de facto provada, a apreciar de seguida, mas não a

nulidade da sentença.

2. Como decorre do art.75, nOl, do RGCO (Dec. Lei n0433/82, de 270ut., com as

alterações introduzidas pelo Dec. Lei n0356/89, de 170ut., pelo Dec. Lei n0244/95, de 14Set. e

pela Lei n0109/01, de 24Dez.), os poderes de cognição deste tribunal estão limitados a matéria de

direito.

Apesar disso, pode o tribunal de recurso conhecer dos vícios do art.410, n02, do CPP'~ .

Contudo, está o tribunal impedido de reapreciar a prova produzida em audiência,

estando condenada ao insucesso a pretensão da recorrente de ver alterada a decisão relativa a

certos factos, com base na reapreciação das provas produzidas.

De facto, estando este tribunal impedido de reapreciar a matéria de facto, é destituída de

qualquer relevância a referência pela recorrente, ao longo das suas motivações, a elementos de

prova concretos, nomeadamente a documentos juntos aos autos (fls.2,9 a 14 das motivações), ou

a depoimentos testemunhais (fls. 12 e 19 das motivações).

Passando a apreciação daqueles vícios, a recorrente invoca os de insuficiência para a

decisão da matéria de facto provada e do erro notório na apreciação da prova, a que se referem as

als.a, e c, daquele art.410, n02.

Este preceito legal admite o alargamento dos fundamentos do recurso as hipóteses

previstas nas suas três alíneas, desde que o vício resulte do texto da decisão recorrida, por si só

ou conjugada com as regras da experiência comum.

Verifica-se o vício de insuficiência para a decisão da matéria de facto provada (al.a),

quando da factualidade vertida na decisão se colhe faltarem dados e elementos que, podendo e

' O Como decidiu o S.T.J., por Assento de 190ut.95 (BMJ n0450, phg.72) "É oficioso, pelo tribunal de recurso, o conhecimento dos vícios indicados no art.410, n02, do Código de Processo Penal, mesmo que o recurso se encontre limitado a matéria de direito". -26-

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

devendo ser indagados, são necessários para que se possa formular um juízo seguro de

condenação (e da medida desta) ou de absolvição.

Tributário do princípio acusatório, tem este vício de ser aferido em função do objecto do

processo, traçado naturalmente pela acusação ou pronúncia. Isto significa que só quando os factos

recolhidos pela investigação do tribunal se ficam aquém do necessário para concluir pela

procedência ou improcedência da acusação se concretizará tal vício.

Há que averiguar se o tribunal, cingido ao objecto do processo desenhado pela acusação

ou pronúncia, mas vinculado ao dever de agir oficiosamente em busca da verdade material,

desenvolveu todas as diligências e indagou todos os factos postulados por esses parâmetros

processuais, "concluindo-se pela verificação do mesmo quando houver factos relevantes para a

decisão, cobertos pelo objecto do processo (mas não necessariamente enunciados em pormenor

na peça acusatória) e que indevidamente foram descurados na investigação do tribunal criminal,

que, assim, se não apetrechou com a base de facto indispensável, seja para condenar, seja para

absolver))''.

Na verdade, «a insuficiência a que se refere a alínea a), do artigo 410°, no. 2, alínea a), do

CPP, é a que decorre da omissão de pronúncia, pelo tribunal, sobre facto(s) alegado(s) ou

resultante(s) da discussão da causa que sejam relevante(s) para a decisão, ou seja, a que decorre

da circunstância de o tribunal não ter dado como provados ou como não provados todos os factos

que, sendo relevantes para a decisão da causa, tenham sido alegados pela acusação e pela defesa

ou resultado da discussão)).

Segundo a recorrente, o tribunal não averiguou se o aumento do volume de negociação e

se a subida do valor das acções se verificou apenas relativamente as acções da GALP ou se foi

um fenómeno generalizado, derivado de circunstâncias concretas alegadas pela recorrente o que,

I ' Ac. da Rel. do Porto de 611 111996, proferido no Proc. no 9640709 e relatado pelo então Desembargador PEREIRA MADEIRA (cujo sumário pode ser consultado no site htpp//www.dgsi.pt).

-27-

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na sua perspectiva, integra este vício.

Contudo, o preceito legal violado pela recorrente (art.248, nOl, al.a, CdVM), não exige a

prova da ausência de outras circunstâncias susceptíveis de justificar subida de valor das acções,

mas apenas, que se trate de lima informação com "carácter preciso" e "idónea para influenciar de

maneira sensível o preço", apresentando-se como irrelevantes os factos que a recorrente defende

que deviam ter sido averiguados, razão por que não se reconhece a insuficiência para a decisão da

matéria de facto provada.

O erro notbrio na apreciação da prova caracteriza-se como o erro ostensivo, de tal modo

evidente que não passa despercebido ao comum dos observadores, ou seja, quando o homem de

formação média facilmente dele se dá conta.

Ocorre quando a matéria de facto sofre de urna irrazoabilidade passível de ser patente a

qualquer observador comiim, por se opor à normalidade dos comportamentos e às regras da

experiência ~ o m u m ' ~ .

A recorrente detecta este vício no facto de ter sido considerado provado que cerca das

8h. a informação passou a ser pública, em virtude das notícias publicadas nas edições diárias dos

Jornais DE, JN e DN.

Segundo a recorrente resulta de fls.65 dos autos que a distribuição daqueles jornais é

efectuada entre as 8.30h. e as 9h.

Ora, tendo o vício em causa, como se referiu, de resultar do texto da decisão, não pode a

recorrente apelar a elementos de prova não mencionados na fundamentação para o demonstrar.

Por outro lado, ao cidadão comum não se apresenta irrazoável que às 8h. as notícias

daqueles jornais diários sejam acessíveis à generalidade das pessoas, sendo da experiência

comum que o acesso da população aos jornais diários é possível antes dessa hora.

'' Neste sentido, Ac. do S.T.J. de 06-04-00, no B.M.J. n0496, pág.169. -28-

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

'

Em conclusão, a decisão recorrida não padece dos vícios apontados pela recorrente,

considerando-se fixada a matéria de facto nos termos que constam da sentença recorrida.

3. A recorrente foi condenada por uma contra-ordenação, p.p., pelo art.248, nOl, al.a, e

n02, do CdVM.

Daquele preceito resulta a exigência dos seguintes os elementos típicos:

-emitente que tenha valores mobiliários admitidos à negociação em mercado

regulamentado ou requerido a respectiva admissão a um mercado dessa natureza;

-informação de carácter preciso, que lhes diga directamente respeito ou aos valores

mobiliários por si emitidos;

-que se trate de informação idónea para influenciar de maneira sensível o preço;

No caso, a recorrente defende que não se verifica este último elemento, por entender que

*. não está em causa informação idónea para "influenciar de maneira sensível" o preço das acções.

Em abono da sua tese apela aos esclarecimentos prestados pelo seu Presidente do

Conselho Executivo (fls.19 das motivações), esquecendo que, como se referiu, os poderes de

cognição deste tribunal estão limitados à matéria de direito.

Em relação a esta questão diz-se na sentença recorrida:

<c ... POR OUTRO LADO, TAL MFORMAÇXO NAO HAVIA, ATÉ AO DIA 19 DE SETEMBRO DE 2007,

SIDO REVELADA, NAO ERA PÚBLICA E, SE LHE FOSSE DADA PIJBLICIDADE SERIA I D ~ N E A

PARA MFLUENCIAR DE MANEIRA SENS~VEL O PREÇO DOS VALORES MOBILIARIOS. EFECTIVAMENTE, A MFORMAÇAO DE NEGOCIAÇÕES COM UMA EMPRESA DE UM PAIS COM TAMANHA IMPORTÂNCIA NO MERCADO PETROLIFERO MUNDIAL COMO ERA E É O

CASO DA VENEZUELA É, DESDE LOGO, UMA INFORMAÇAO POR SI ~6 SUFICIENTE PARA

INFLUENCIAR, COMO EFECTIVAMENTE INFLUENCIOU (PONTOS 13) A 16) DA MATÉRIA DE

FACTO PROVADA), OS MERCADOS E ALTERAR O PREÇO, NESTE CASO, DAS A C Ç ~ E S DA

GALP.

SÓ ESTE FACTO DEVERA SER SUFICIENTE PARA QUE A ARGUIDA CONSIDERE ESTE TIPO

DE MFORMAÇÃO COMO MFORMAÇÃO PRIVILIGIADA ESTANDO OBRIGADA A DIVULGA-

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LA, NOS TERMOS DO DISPOSTO NO ARTIGO 248", DO CÓDIGO DOS VALORES

MOBILIÁRIOS.

NA VERDADE, PODE VIR A CONCLUIR-SE, EM MOMENTO POSTERIOR, QUE TAIS

NEGOCIAÇ~ES NAO ERAM TÃO RELEVANTES DE MODO A QUE SE ENQUADRASSEM NO

TIPO DE INFORMAÇAO A QUE SE REFERE TAL NORMA JURIDICA - SEJA PELA DEMORA

QUE AS NEGOCIAÇ~ES, ENTRETANTO, IMPLICASSEM; SEJA PELA DIFICULDADE DE

CONCRETIZAÇAO DOS PROJECTOS, SEJA POR DIFICULDADES TECNICAS PARA A

EXPLORAÇÃO, SEJA PELA EFECTIVA E REAL REACÇAO DOS MERCADOS; SEJA PELA

~NTERVENÇÃO DE DECISORES POLITICOS, ETC.

PORÉM, TAL CONCLUSÃO SÓ EM MOMENTO POSTERIOR SE PODE ATINGIR SENDO QUE,

A T ~ LÁ, A CONCLUSÃO É A DE QUE O CONHECIMENTO, POR PARTE DOS MERCADOS, DE

TAL INFORMAÇAO É IDÓNEA PARA ALTERAR A POSIÇÃO DOS MERCADOS, ALTERAR A

DECISÃO DOS INVESTIDORES E, ASSIM, ALTERAR O VALOR DAS ACÇÕES DA EMPRESA

EM CAUSA. >> .... .

De facto, na avaliação da idoneidade da notícia para influenciar de maneira sensível os

preços das acções da recorrente, não podemos deixar de ponderar o objecto social da recorrente

(n0s2 a 5 dos factos provados), o facto da PDVSA se dedicar à exploração, produção, transporte e

venda de petróleo (n06, dos factos provados) e de ser do conhecimento geral o grande peso que a

Venezuela tem no mercado petrolífero mundial.

Considerando o grande peso da recorrente no mercado energético nacional, a grande

dependência de Portugal das importações de petróleo e a grande importância da Venezuela no

mercado petrolífero mundial, tem de aceitar-se que uma parceria como a anunciada determinaria

um grande impacto no contexto da actividade global da recorrente, com um possível aumento

acentuado do seu volume de negócios num mercado com um papel estratégico a nível mundial,

em relação a produto com uma procura mundial cada vez maior, em actividade geradora de

elevados lucros e grande liquidez.

Por outro lado, sendo a informação divulgada em três jornais diários de grande

circulação, um deles da área económica, tudo apontava para a fiabilidade da informação.

Perante estes dados, qualquer investidor razoável, como exige o n02, do citado art.248,

não deixaria de utilizar a informação em causa para as suas decisões de investimento,

-30-

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA \L-'

Aceita-se, assim, que estava em causa informação susceptível de influenciar de forma

sensível o valor das acções da recorrente, verificando-se todos os elementos objectivos da contra-

ordenação por que esta foi condenada.

4. Em relação ao elemento subjectivo da infracção, defende a recorrente que agiu sem

culpa e a CMVM que aquela deve ser punida por dolo, para o efeito invocando o n08, do art.416,

do CdMV.

Em relação a qualificação da conduta como dolosa, não se provaram factos susceptíveis

de integrar o dolo (art. 14, C.P.), tendo sido considerado como não provado que a recorrente tenha

agido com consciência de que tinha de comunicar imediatamente a informação.

Em relação à negligência, estando em causa uma empresa com a dimensão e organização

da recorrente e tendo em conta a importância da informação divulgada, a falta de comunicação

imediata, com demora em cerca de seis horas a cumprir a obrigação legal que sobre ela recaía, s6

permite concluir que não agiu com o cuidado a que estava obrigada e de que era capaz.

Alega a recorrente que não procedeu à comunicação a que estava obrigada, não por

descuido, mas por ser sua convicção que a mesma não era susceptível de influenciar de forma

sensível o valor das acções.

Ora, considerando o grande impacto no contexto da actividade global da recorrente, que

o facto divulgado teria, é manifesto que a recorrente não poderia ter a convicção de se tratar de

questão irrelevante.

Não se aceita, ainda, a argumentação de não poder a recorrente viver na dependência de

todas as notícias publicadas nos jornais, pois não está em causa uma notícia qualquer, mas sobre

um facto preciso, de relevância estratégica para a afirmação da recorrente no mercado

internacional de petróleo e, decerto, um dos factos mais importantes da estratégia económica da

recorrente no ano em que ocorreu. -31-

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i . .

Por outro lado, estando em causa uma sociedade emitente, não podia a recorrente

desconhecer as obrigações que para si decorrem do CdVM e a importância que o legislador dá ao

cumprimento dessas obrigações, como forma de assegurar a integridade do mercado de

instrumentos financeiros, garantir a sua eficiência e assegurar a confiança pública no mesmo.

Conhecendo a recorrente as obrigações que sobre si recaiam e não podendo ignorar a

importância da obrigação concreta em causa, como refere a sentença recorrida, era-lhe exigível

que tivesse forma de detectar estas situações no momento em que ocorrem, apetrechando-se, para

o efeito, dos meios necessários para o cumprimento atempado das suas obrigações.

No caso, tendo demorado mais de seis horas a cumprir a obrigação que sobre ela recaía,

é manifesto que a recorrente agiu com a falta de cuidado que lhe era exigível e de que era capaz,

pondo em causa o livre jogo da oferta e da procura de acções, enquanto modelo de formação de

preços públicos, o que justifica a sua censura na forma negligente.

5. Invoca a recorrente a inconstitucionalidade do art.248, nOl, do CdVM, alegando que

não especifica os elementos do tipo, em ofensa do princípio da legalidade, consagrado no

art.29,n01, da Constituição da República Portuguesa.

O princípio do Estado de Direito pressupõe que à intervenção estadual sejam levantados

limites estritos, em nome da defesa dos direitos, liberdades e garantias das pessoas, perante a

possibilidade de uma intervenção estadual arbitrária ou excessiva.

Esta possibilidade de arbítrio ou de excesso previne-se submetendo a intervenção penal a

um rigoroso princípio da legalidade, cujo conteúdo essencial se traduz em que não pode haver

crime (ou contra-ordenação), nem pena que não resultem de uma lei prévia, escrita, estrita e certa

(nullum crimen, nulla paena sine lege).

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

Em consequência, não serão admissíveis nas previsões incriminadoras conceitos vagos,

incertos ou insusceptíveis de tipificaçãol 3 .

O recorrente vê essa incerteza nos conceitos de "imediatamente", "carácter preciso",

"idónea para influenciar de maneira sensível".

Todos esses conceitos têm, porém, um significado inequívoco, susceptível se ser

reconduzido a factos concretos que não permitem uma intervenção arbitrária do poder punitivo.

Na apreciação concreta da constitucionalidade normativa, o recorrente terá de

reconhecer que foi acusado e condenado por factos concretos e precisos, estava em causa um

facto preciso (as negociações mencionadas no n07 dos factos provados), procedeu a comunicação

mais de seis horas depois do momento em que o devia ter feito (não divulgou imediatamente) e,

como se referiu, uma informação como a que estava em causa não deixava dúvidas sobre a

idoneidade para influenciar de maneira sensível o preço.

Deste modo, a interpretação feita pela sentença recorrido do preceito incriminador, não

ofende o princípio constitucional da legalidade.

6. Como refere a sentença recorrida, a contra-ordenação praticada pela recorrente, na

forma negligente, é punida com a coima de €25.000 a €1.250.000.

De acordo com o art. 18, nOl, do Dec. Lei n0433/82, de 270ut. (na redacção do Dec. Lei

11244195, de 14Set.), a determinação da medida da coima faz-se em função da gravidade da

contra-ordenação, da culpa, da situação económica do agente e do beneficio económico que este

retirou da sua prática.

O tribunal recorrido considerou a gravidade elevada, com o que se concorda, pois foi

retardada em mais de seis horas uma comunicação que a lei impõe seja feita imediatamente,

l 3 Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, 1 ." vol., 2.%d., pág. 206. -33-

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procedimento de grande relevância, como forma de assegurar a integridade do mercado de

instrumentos financeiros, garantir a sua eficiência e assegurar a confiança pública no mesmo.

Em relação à culpa, agiu com negligência, de forma a merecer elevada censura pela sua

falta de cuidado.

Em relação a situação económica da recorrente nada se provou, mas é de considerar

como favorável, atenta a actividade desenvolvida e o volume de negócios em que está envolvida

ao nível internacional.

Quanto ao beneficio económico nada se apurou.

O tribunal recorrido, ponderando a falta de antecedentes graduou a coima em €35.000,

ou seja, não muito acima do mínimo, o que não merece censura, já que a elevada gravidade da

conduta impede a sua graduação mais próximo do limite mínimo.

A elevada gravidade da infracção e os bens jurídicos postos em causa, impedem a

suspensilo da execução da sanção, ou a opção por admoestação, que se revelariam insuficientes

para uma adequada censura da conduta.

* * *

IVO DECISAQ:

Pelo exposto, os juízes do Tribunal da Relação de Lisboa, após conferência, acordam em

negar provimento ao recurso ifiterposto por Galp Energia, S.G.P.S., S.A., confirmando a sentença

recorrida.

Condena-se a recorrente, em 6UCs de taxa de justiça.

Lisboa, 25 de Outubro de 201 1

(Relator: Vieira Lamim)