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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 000.775/2011-8 GRUPO I – CLASSE ___ – Primeira Câmara TC 000.775/2011-8 Natureza(s): Tomada de Contas Especial Órgão/Entidade: Ministério do Turismo (vinculador) Responsáveis: Flavineide Rocha dos Santos (000.185.531-09); Instituto Terra Mater Brasilis (06.098.161/0001-46) Advogado constituído nos autos: não há. SUMÁRIO: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. CONVÊNIO. OMISSÃO NO DEVER DE PRESTAR CONTAS. CITAÇÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA REGULAR APLICAÇÃO DE PARTE DOS RECURSOS TRANSFERIDOS. CONTAS IRREGULARES. DÉBITO. MULTA RELATÓRIO Adoto como relatório a instrução elaborada no âmbito da Secretaria de Controle Externo do Desenvolvimento Econômico, cuja proposta de encaminhamento contou com a anuência da titular da unidade e do representante do Ministério Público: “Cuidam os autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério do Turismo, em desfavor da Sra. Flavineide Rocha dos Santos, presidente do Instituto Terra Mater Brasilis, em razão da omissão no dever de prestar contas do Convênio 874/2007, Siafi 623012 (peça 2, p. 79-99), no valor total de R$ 220.000,00, que teve por objeto o apoio ao Projeto “Roteiro Turístico Musical na Estrada Geral do Sertão”. II – HISTÓRICO Conforme disposto na Cláusula Quarta do Termo de Convênio foram previstos R$ 220.000,00 para a execução do objeto, dos quais R$ 200.000,00 seriam repassados pelo MTur e R$ 20.000,00 corresponderiam à contrapartida (peça 2, p. 85). Os recursos federais foram repassados em parcela única, mediante a ordem bancária 2008RE000172, no valor de R$ 200.000,00, emitida em 25/07/2008 (peça 2, p. 123). 1

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 000.775/2011-8

GRUPO I – CLASSE ___ – Primeira CâmaraTC 000.775/2011-8 Natureza(s): Tomada de Contas EspecialÓrgão/Entidade: Ministério do Turismo (vinculador) Responsáveis: Flavineide Rocha dos Santos (000.185.531-09); Instituto Terra Mater Brasilis (06.098.161/0001-46) Advogado constituído nos autos: não há.

SUMÁRIO: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. CONVÊNIO. OMISSÃO NO DEVER DE PRESTAR CONTAS. CITAÇÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA REGULAR APLICAÇÃO DE PARTE DOS RECURSOS TRANSFERIDOS. CONTAS IRREGULARES. DÉBITO. MULTA

RELATÓRIO

Adoto como relatório a instrução elaborada no âmbito da Secretaria de Controle Externo do Desenvolvimento Econômico, cuja proposta de encaminhamento contou com a anuência da titular da unidade e do representante do Ministério Público:

“Cuidam os autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério do Turismo, em desfavor da Sra. Flavineide Rocha dos Santos, presidente do Instituto Terra Mater Brasilis, em razão da omissão no dever de prestar contas do Convênio 874/2007, Siafi 623012 (peça 2, p. 79-99), no valor total de R$ 220.000,00, que teve por objeto o apoio ao Projeto “Roteiro Turístico Musical na Estrada Geral do Sertão”.

II – HISTÓRICO

Conforme disposto na Cláusula Quarta do Termo de Convênio foram previstos R$ 220.000,00 para a execução do objeto, dos quais R$ 200.000,00 seriam repassados pelo MTur e R$ 20.000,00 corresponderiam à contrapartida (peça 2, p. 85).

Os recursos federais foram repassados em parcela única, mediante a ordem bancária 2008RE000172, no valor de R$ 200.000,00, emitida em 25/07/2008 (peça 2, p. 123).

O ajuste vigeu no período inicial de 20/12/2007 a 01/09/2008 e teve dois aditamentos. O primeiro prorrogou o prazo de vigência para 27/01/2009 (peça 2, p. 105). O segundo alterou a conta corrente bancária específica do ajuste (peça 2, p. 121).

Em 06/04/2009, o MTur solicitou ao convenente a apresentação da prestação de contas (peça 2, p. 159). Diante da não apresentação no prazo fixado e do esgotamento das medidas administrativas a presente TCE foi instaurada em 16/12/2009.

Cumpre registrar que integram os autos as peças previstas no art. 4º da então vigente IN TCU 56/2007, como o Relatório do Tomador de Contas (peça 2, p. 185-189), o Certificado de Auditoria (peça 2, p. 197) e o Pronunciamento Ministerial (peça 2, p. 199).

Em 29/12/2010, entretanto, posteriormente à instauração desta TCE, o convenente apresentou ao MTur a prestação de contas do Convênio Siafi 623012, conforme verificado em inspeção realizada no órgão (instruções às peças 4 e 11). Também verificou-se que, durante a execução do convênio, a presidência da entidade foi exercida pela Sra.

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Flavineide Rocha dos Santos, pessoa diversa da responsável imputada inicialmente pelo MTur na TCE instaurada, Sra. Gabriela Rabelo de Souza (peça 11, p. 3-4).

Nesse sentido, efetuou-se diligência ao MTur para que informasse o prazo para a conclusão da análise da prestação de contas e a respeito de eventual alteração estatutária da entidade convenente durante a execução do convênio (peça 14).

Em atendimento à diligência, o MTur encaminhou os documentos que compõem a peça 16 dos autos e informou que, na análise da prestação de contas do convênio, constatou-se a ausência de documentação comprobatória e a execução do objeto em data posterior à vigência, sem prévia autorização, tendo sido realizada diligência ao convenente para o esclarecimento dessas pendências (peça 16, p. 2). Quanto à presidência da entidade, o MTur informou que o cadastro no Siconv apontava a Sra. Flavineide Rocha dos Santos como presidente da entidade convenente no período de 19/02/2009 a 19/02/2011 (peça 16, p. 18-19).

Após nova inspeção realizada no órgão, o MTur encaminhou o Ofício 474/2011/AECI/MTur (peça 30, p. 1-2), informando acerca da inscrição da responsabilidade da Sra. Flavineide Rocha dos Santos no Siafi e a baixa da responsabilidade da presidente anterior do instituto. Também informou que, em nova análise técnica após a resposta do convenente, manteve-se a conclusão pela reprovação da prestação de contas do convênio Siafi 623012 em decorrência da execução do objeto fora do período de vigência (peça 30, p. 74).

Assim, tendo em vista o resultado da análise técnica da prestação de contas efetuada pelo MTur, que manteve a reprovação da prestação de contas devido à execução do objeto fora da vigência, além de demais constatações verificadas em parecer financeiro do MTur e em análise efetuada por esta Unidade Técnica na instrução à peça 39, propôs-se a citação solidária da Sra. Flavineide Rocha dos Santos e do Instituto Terra Mater Brasilis. Além da não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos também mencionou-se, no termo de citação, a apresentação intempestiva da prestação de contas do convênio Siafi 623012.

A realização das citações foi autorizada mediante o pronunciamento da Unidade Técnica à peça 40, consoante delegação de competência estabelecida no art. 1º, inciso X, da Portaria 01/2010 do Exmo. Sr. Ministro-Relator Augusto Nardes, e materializadas por meio dos Ofícios 666/2012-TCU/Secex-5 e 667/2012-TCU/Secex-5 (peças 57 e 58). As alegações de defesa foram apresentadas conjuntamente pela Sra. Flavineide e pelo Instituto e integram a peça 68 dos autos.

III – EXAME TÉCNICO

Apresentamos, a seguir, análise das alegações de defesa por irregularidade apontada.

a) Apresentação intempestiva da prestação de contas.

Os responsáveis alegaram que a apresentação da prestação de contas teria ocorrido dentro do prazo ajustado entre as partes e que esse teria sido, inclusive, dilatado em razão de injustificada e prejudicial demora na liberação dos recursos por parte do MTur (peça 68, p. 3).

Análise

A alegação dos responsáveis não procede. De acordo com o apostilamento ao convênio 2

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Siafi 623012, publicado no Diário Oficial da União de 26/05/2008 (peça 2, p. 105), a data de vigência do ajuste foi alterada de 01/09/2008 para 27/01/2009.

Em 15/04/2009, diante da não apresentação da prestação de contas, a entidade convenente foi notificada pelo MTur a respeito da ausência e da concessão de novo prazo de 15 dias para a regularização da situação (peça 2, p. 159-161). Como a solicitação não foi atendida no novo prazo concedido, a entidade foi inscrita no cadastro de inadimplentes do Siafi em 01/06/2009 (peça 2, p. 163).

Somente em 29/12/2010, conforme registro do protocolo do MTur (peça 9, p. 24), a entidade convenente apresentou a prestação de contas do convênio em questão, pouco mais de um ano depois da instauração desta TCE, ocorrida em 16/12/2009.

O atraso verificado na liberação dos recursos pelo MTur (peça 2, p. 105-109) não elide a irregularidade pela não apresentação da prestação de contas do convênio, posto que houve a prorrogação de ofício do prazo de vigência do ajuste, de 01/09/2008 para 27/01/2009, nos termos do art. 7º, inciso IV, da IN STN 01/1997.

Assim, cabe repisar que o recurso foi liberado em 25/7/2008 (peça 2, p. 123), a vigência do convênio expirou em 27/1/2009, a TCE por omissão foi instaurada em 16/12/2009 e em 29/12/2010, somente, foi apresentada a prestação de contas.

Destarte, todas as evidências processuais apontam ao diverso do alegado pelos responsáveis, isto é, a apresentação da prestação de contas do convênio Siafi 623012 não ocorreu dentro do prazo legal ajustado entre as partes, de forma injustificada.

b) Execução do objeto fora da vigência do convênio.

Os responsáveis alegaram que a execução do objeto fora da vigência do convênio não ocorreu e que não haveria provas nos autos ou outro indício nesse sentido (peça 68, p. 4).

Análise

Em uma primeira manifestação sobre a prestação de contas apresentada, o MTur emitiu a Nota Técnica de Análise 067/2011 (peça 16, p. 4-12), por meio da qual afirmou que além de não terem sido encaminhados documentos comprobatórios da execução de certos itens do plano de trabalho aprovado, o convenente teria realizado o objeto fora do período de vigência. Segundo a mesma nota técnica, a execução fora da vigência seria corroborada pelas fotos e reportagens encaminhadas na prestação de contas. Ainda segundo o MTur, o convenente apresentou pedido para a prorrogação do convênio durante a execução do ajuste (peça 16, p. 5). Todavia, tal solicitação não foi aceita pelo Ministério. Em conclusão, emitiu-se opinião pela reprovação da execução física do convênio (peça 16, p. 7).

Após o encaminhamento de documentos complementares e esclarecimentos pelo convenente (peça 30, p. 27-73), o MTur manteve a reprovação da execução física do convênio pela não execução do objeto no período de vigência (peça 30, p. 74).

Em suas alegações de defesa, os responsáveis não apresentaram documentos ou alegações que permitissem concluir ao contrário do que foi verificado na análise técnica do MTur. Não obstante isso, cabe considerar duas questões, preliminarmente.

Em primeiro lugar, de fato o convenente solicitou prorrogação do prazo de vigência do convênio, em 29/08/2008 (peça 2, p. 129). Contudo, além de solicitar a dilação de prazo, o convenente propôs um novo plano de trabalho (peça 2, p. 131-153) ao MTur para a realização do objeto que, embora mantivesse o mesmo valor do ajuste, suprimiu

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determinados itens e acrescentou outros, em comparação ao plano aprovado (peça 2, p. 63-69). Conforme já afirmado, o MTur indeferiu o pedido de prorrogação de prazo e, consequentemente, as alterações solicitadas no plano de trabalho (peça 2, p. 155).

Não obstante isso, todos os documentos da prestação de contas encaminhada pressupõem que a entidade executou o convênio conforme o plano de trabalho proposto e recusado pelo MTur, e não o originalmente aprovado. Desse fato decorrem-se as várias inconsistências apontadas pelo MTur nos pareceres de análise, relacionadas à possível não execução de itens do plano de trabalho, e corroboradas por esta Unidade Técnica na instrução à peça 39, bem como nas análises a seguir empreendidas. Diante da impossibilidade de execução do objeto no prazo e da recusa do MTur em prorrogar o período e ajustar o plano de trabalho, o convenente poderia ter devolvido os recursos, por precaução, em vez de geri-los em desconformidade com as atividades aprovadas e o prazo estabelecido.

Em segundo, embora a execução do objeto fora da vigência do convênio enseje o julgamento pela irregularidade das contas, tal fato pode ser considerado de caráter formal se, no caso específico, evidenciar a efetiva aplicação dos recursos no objeto pretendido. Em voto exarado no Acórdão 3.295/2008-TCU-1ª Câmara, o Exmo. Sr. Ministro Marcos Bemquerer Costa esclareceu que a finalidade da prestação de contas consiste em comprovar que a verba recebida de fato cobriu as despesas efetuadas em consonância com as características previstas no Programa.

Portanto, embora se conclua pela execução do objeto fora da vigência do convênio, para fins de apuração do débito serão considerados apenas os recursos que não foram empreendidos em itens fixados no plano de trabalho aprovado pelo MTur.

c) Não comprovação dos itens “veiculação em rádios locais”, “cartazes 42x59”, “camiseta de malha fria”, “apresentação dos grupos folclóricos de Luziânia, Cristalina, Chapada dos Veadeiros, Brazlândia e Planaltina” e da “produção e gravação de vídeo de 4 horas sobre o roteiro turístico musical na Estrada Geral do Sertão”.

Os responsáveis alegaram que, devido ao atraso na liberação dos recursos pelo MTur, ponderaram ao Ministério que a execução do objeto somente seria possível com um redirecionamento das metas a partir de novas datas e etapas de trabalho (peça 68, p. 5).

Segundo os responsáveis, a não apresentação dos grupos folclóricos de Luziânia, Cristalina, Chapada dos Veadeiros, Brazlândia e Planaltina foi devida a diversos fatores, entre eles a impossibilidade de inclusão de algumas dessas cidades no Roteiro turístico delineado como objeto do convênio e o falecimento de um dos músicos do grupo previsto para a cidade de Planaltina (peça 68, p. 6).

Acerca da produção e gravação do vídeo, os responsáveis aduziram que recortes de jornais, convites e a entrega dos DVDs comprovariam a execução desse item e que a observação na Nota Técnica de Análise do MTur teria confirmado a entrega dos vídeos (peça 68, p. 6).

Por fim, quanto à não comprovação da veiculação em rádios locais, dos cartazes e das camisetas, os responsáveis informaram que tais itens foram excluídos do plano de trabalho que, segundo defendem, foram alterações acordadas com o MTur (peça 68, p. 6).

Análise

Nota-se que os responsáveis não contestaram o fato de as despesas correlatas aos mencionados grupos folclóricos, à veiculação em rádios locais e à produção de cartazes e

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camisetas não terem sido executadas. Não há como acatar a alegação de que o atraso na liberação dos recursos prejudicou o cronograma dos eventos.

Ao decidir pela execução de um plano de trabalho rejeitado pelo MTur, o convenente assumiu o risco de aplicar os recursos em itens não previstos no ajuste. No caso da impossibilidade da execução desses itens, caberia aos responsáveis efetuar a devolução dos recursos, e não aplicá-los de modo diverso ao pactuado.

Cabe repisar que, contrariamente ao alegado pelos responsáveis, não houve acordo entre as partes acerca das alterações no plano de trabalho propostas, o que se evidencia no Parecer Técnico 1148/2008 do MTur (peça 2, p. 155).

No plano de trabalho aprovado, as despesas previstas com as apresentações dos grupos folclóricos corresponderam à etapa 2, denominada “Produção do Encontro Musical do roteiro da Estrada Geral do Sertão” (peça 2, p. 67). Para essa etapa fixou-se o valor total de R$ 36.000,00, sem que fossem definidos os custos individualizados, exceto para “locação de espaço” e “locação de equipamentos de sonorização”, nos valores respectivos de, R$ 4.000,00 e R$ 8.000,00 (peça 2, p. 65-67).

Por sua vez, o plano de trabalho que contém as alterações propostas pelo convenente e que foram rejeitadas pelo MTur, discrimina os valores unitários dos itens da etapa de “Produção do Encontro Musical do roteiro da Estrada Geral do Sertão” (peça 2, p. 139-141).

Ao se comparar o que foi executado no plano de trabalho que foi rejeitado pelo MTur com o plano de trabalho aprovado do convênio, conclui-se que somente foram executadas as despesas relativas aos grupos folclóricos de Pirenópolis, Corumbá, Cocalzinho, Formosa e Brasília (peça 2, p. 65 e 139). As despesas efetuadas com essas apresentações e com a locação de espaço e sonorização somam R$ 18.450,00.

Logo, por exclusão, as despesas da etapa “Produção do Encontro Musical do roteiro da Estrada Geral do Sertão” relacionadas a apresentações dos grupos folclóricos de Luziânia, Cristalina, Chapada dos Veadeiros, Brazlândia e Planaltina, e que não foram executadas, corresponderam a R$ 17.550,00 (diferença entre R$ 36.000,00, fixado no plano de trabalho aprovado e R$ 18.450,00, comprovadamente executado).

O mesmo raciocínio se aplicaria à não execução dos itens de veiculação em rádios locais e produção de cartazes e camisetas, componentes da etapa denominada “Produção de material de divulgação do evento”. Contudo, não é possível quantificar individualmente esses itens, posto que a etapa possui um valor global de R$ 55.350,00 e abrange outros itens que foram executados, segundo a análise proferida pelo MTur, como a produção de banners, folder, convite e a impressão de livro sobre o roteiro musical. Assim, não serão acrescidos ao débito apurado nesta TCE os valores referentes a esses itens não executados.

Com relação à não comprovação da produção e gravação do vídeo, o item 4.4 da Nota Técnica 67/2011 do MTur afirma que o vídeo não foi encaminhado na prestação de contas do convênio (peça 16, p. 6). Porém, no mesmo item, informa-se que foram encaminhadas fotos indicando o processo de produção do vídeo. A nota do MTur considerou a realização do serviço de produção do vídeo como comprovada.

Além disso, procede a alegação apresentada pelos responsáveis, pois a mesma nota técnica, no item 4.2, afirma que foi apresentado “vídeo produzido com as apresentações artísticas culturais” (peça 16, p. 6). Destarte, acolhemos as alegações de defesa apresentadas quanto a esse item.

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d) Realização de despesa em data posterior à vigência do convênio.

Os responsáveis aduziram que a emissão da nota fiscal em data posterior à vigência do convênio teria sido devida às dificuldades financeiras advindas do atraso no repasse de recursos pelo MTur (peça 68, p. 7). Além disso, citaram o fato de a solicitação de prorrogação do prazo vigência não ter sido aceita pelo MTur (peça 68, p. 7).

Análise

A despesa se refere a serviços de aluguel de equipamentos para pós-produção do vídeo, no valor de R$ 6.750,00 (peça 37, p. 5). A questionada nota foi emitida em 01/04/2009, pouco mais de dois meses depois do término da vigência do ajuste, em 27/01/2009.

Embora a realização de despesa em data posterior à vigência contrarie o art. 8º, inciso V, da IN STN 01/1997, não há elementos nos autos que permitam concluir que os serviços discriminados na nota fiscal não foram prestados. Dessa forma, e adotando-se a linha defendida no Acórdão 3.295/2008-TCU-1ª Câmara, citado anteriormente nesta análise, não será considerado o valor referente a essa despesa para fins de apuração do débito.

e) Não cumprimento dos recursos da contrapartida.

Segundo os responsáveis, a alteração que teria ocorrido no plano de trabalho permitiria que a contrapartida fosse realizada na forma de bens e serviços (peça 68, p. 7). Defenderam que, dessa forma, a aplicação da contrapartida teria se dado com a realização de pesquisa documental e de campo (peça 68, p. 8). Também alegaram que a contrapartida foi complementada com a duplicação dos DVDs produzidos (peça 68, p. 8).

Análise

Diferentemente do alegado pelos responsáveis, não houve alteração do plano de trabalho, como já ressaltado anteriormente nesta análise. Por conseguinte, embora haja previsão legal para que a contrapartida se dê também sob a forma de bens e serviços pela Portaria Interministerial CGU/MPOG/MF 127/2008, a regra para a aplicação da contrapartida no convênio sob análise permaneceu aquela prevista na Cláusula Quarta do Termo de Convênio (peça 2, p. 85), ou seja, o aporte financeiro de R$ 20.000,00.

Como já salientado na instrução anterior (peça 39), os extratos bancários da conta específica do convênio (peça 31, p. 21-40, e peça 32, p. 1-20) não relacionam o aporte do valor da contrapartida. Além disso, ao alegar que a contrapartida teria ocorrido por bens e serviços, os próprios responsáveis admitem que o aporte financeiro relativo a essa rubrica não foi realizado.

Caso o plano de trabalho tivesse sido alterado, com a realocação da contrapartida sob a forma de bens e serviços, caberia ainda ao MTur analisar a adequabilidade dessa mudança, ou seja, se era economicamente mensurável. Isto é, deveria ocorrer uma verificação, pelo MTur, se os bens e serviços a serem oferecidos sob a forma de contrapartida poderiam ser quantificados e se, de fato, corresponderiam ao total previsto de R$ 20.000,00.

As alterações propostas pelo convenente ao plano de trabalho, além de adotar a contrapartida sob a forma de bens e serviços, e não mais financeira, realocava a rubrica para quantitativos diversos ao aprovado originalmente, como a duplicação na produção de DVDs.

Destarte, considerando que as alterações propostas ao plano de trabalho não foram 6

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aprovadas, que o Termo de Convênio exigiu a contrapartida como aporte financeiro, que os extratos da conta bancária demonstram que não houve o depósito dos recursos e que uma possível aplicação sob a forma de bens e serviços exigiria, ainda, a mensuração econômica, conclui-se que não houve o cumprimento dos recursos da contrapartida pela entidade convenente.

A não aplicação da contrapartida conforme preveem o Termo de Convênio e o plano de trabalho aprovado enseja a condenação pelo débito, mantida na proporção dos valores não comprovadamente executados.

f) Realização de despesa a título de taxa de administração, de gerência ou similar, em razão da contratação do Sr. Marcos Henrique José e Silva (CPF 825.618.501-53), Sra. Lucyane Andrade Rocha (CPF 804.896.051-68) e Sra. Katiely França Andrade de Paiva (CPF 018.066.691-61), ocupantes durante a execução do ajuste, respectivamente, dos cargos de Diretor Administrativo Financeiro, Diretora de Desenvolvimento Institucional e Diretora de Tecnologia do Instituto Terra Mater Brasilis, entidade convenente.

Os responsáveis alegaram que a entidade convenente já desenvolvia o projeto objeto do convênio anteriormente à firmatura do ajuste, com recursos próprios (peça 68, p. 9). Aduziram que os profissionais contratados teriam feito viagens e pesquisas sobre o tema do projeto e que, por isso, seriam especialistas no assunto (peça 68, p. 9). Para os responsáveis não teria sentido contratar pesquisadores externos e que, se assim fosse, a entidade seria mera agenciadora e repassadora de recursos públicos (peça 68, p. 9). Assim, concluíram que não teria ocorrido a realização de despesa a título de taxa de administração, gerência ou similar.

Análise

Diferentemente do alegado pelos responsáveis, a realização de despesas relacionadas ao aparelhamento da entidade convenente para a execução do objeto, representada pela contratação de membros da diretoria do instituto, pode representar remuneração pelo exercício do cargo e contraria um dos fundamentos basilares do instrumento convênio, que pressupõe a existência de partícipes com condições de executar o objeto pactuado, sem que seja necessário remunerar uma das partes para que, apenas dessa forma, possa exercer as suas atribuições. Porém, cabe considerar atenuantes à irregularidade apontada.

Em primeiro, os membros da diretoria da entidade convenente foram contratados para exercer funções de turismólogo, fotógrafo e produtor. A realização desses serviços é, muito provavelmente, desatrelada às possíveis funções exercidas por essas mesmas pessoas na diretoria do instituto.

Além disso, as contratações de fotógrafo, turismólogo e de serviço de produção para gravação de vídeo foram previstos no plano de trabalho acordado com o MTur (peça 2, p. 63-69).

Finalmente, não há indícios nos autos que os serviços contratados não tenham sido prestados.

Em razão dessas considerações, não serão computados para fins de apuração do débito os valores despendidos com essas contratações.

g) Realização de despesa a título de taxa de administração, de gerência ou similar, em razão da contratação de serviços de assessoria jurídica e contábil.

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Os responsáveis alegaram que os escritórios contratados teriam prestado mero assessoramento técnico específico e especializado, sendo que a entidade teria sido responsável direta sobre a administração e gerência pelo convênio (peça 68, p. 10).

Acrescentaram que as contratações das assessorias estariam amparadas no plano de trabalho firmado e que a entidade não teria dado causa a ato que possa ser considerado equivocado (peça 68, p. 10).

Análise

As despesas relacionadas à contratação de assessorias contábil e jurídica não figuram no plano de trabalho aprovado (peça 2, p. 63-69), mas sim no plano de trabalho proposto pela entidade e convenente (peça 2, p. 131-153). Como já salientado, o plano de trabalho proposto foi recusado pelo MTur e, assim, prevaleceu para o convênio aquele firmado no início da execução. Assim, não procede a afirmação dos responsáveis de que tais contratações estariam amparadas no plano de trabalho e que a entidade convenente não teria dado causa à irregularidade. Na verdade, houve a aplicação de recursos do convênio em despesas não previstas.

Diferentemente dos atenuantes apontados na análise do item precedente, as despesas de assessoria jurídica e contábil estão diretamente relacionadas a atividades de aparelhamento da entidade para a execução do convênio, o que é vedado pelo art. 8º, inciso I, da IN STN 01/1997. Portanto, denotam a ausência de condições de executar o objeto pactuado por parte da entidade convenente.

Essa constatação, aliada à não previsão no plano de trabalho para a contratação de assessorias contábil e jurídica permitem concluir pela rejeição das alegações de defesa dos responsáveis quanto a esse item. Cabe, portanto, a condenação pelo débito relacionado a essas despesas, no valor total de R$ 15.000,00, conforme as notas fiscais de serviço (peça .38, p. 10 e 13).

h) Indícios de favorecimento na contratação do Sr. Gustavo Guilherme Leon Chauvet (CPF 287.317.191-04), associado ao Instituto Terra Mater Brasilis, entidade convenente, na contratação do Sr. Eduardo Henrique Leon Chauvet (CPF 611.025.041-49), irmão do associado, Sr. Gustavo Chauvet, e filho da associada, Sra. Muriel Antunes Chauvet, e na contratação da empresa “TV Alternativa Cinema e Vídeo Produções Ltda”, de propriedade do Sr. Gustavo Chauvet.

Primeiramente, os responsáveis afirmaram que a empresa “TV Alternativa Cinema e Vídeo Produções Ltda.” pertenceria ao Sr. Eduardo Chauvet, e não ao Sr. Gustavo Chauvet (peça 68, p. 11).

Defenderam que não teria ocorrido favorecimento na contratação do Sr. Gustavo Chauvet por ele ser o autor intelectual do projeto de pesquisa que deu origem ao objeto do convênio (peça 68, p. 11). Segundo os responsáveis, o projeto teria se iniciado em 2007 com recursos próprios da entidade e, posteriormente, apresentado ao MTur para o apoio à realização de pesquisa específica sobre o Roteiro Musical na Estrada Geral do Sertão, objeto do convênio firmado (peça 68, p. 14). Também alegaram que o Sr. Gustavo Chauvet deteria os direitos autorais sobre a pesquisa realizada anteriormente (peça 68, p. 12).

Quanto à contratação do Sr. Eduardo Chauvet, os responsáveis aduziram que não teria ocorrido favorecimento, mas sim contratação após procedimento licitatório impessoal e regrado (peça 68, p. 14).

Análise

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Conforme averiguado na instrução à peça 39, o Sr. Gustavo Chauvet, associado à entidade, foi contratado para o serviço de Coordenador-geral do projeto, no valor de R$ 10.000,00. Cabe ressaltar que o plano de trabalho não prevê a contratação de pesquisa realizada anteriormente ou mesmo o pagamento de direitos autorais (peça 2, p. 63-69). O plano de trabalho previu, sim, a realização de “pesquisa de campo e documental sobre as músicas antigas, folclóricas e religiosas das cidades que compõem o roteiro Estrada Geral do Sertão”. Caso se tratasse da aquisição de uma pesquisa já efetuada e protegida por direitos autorais, não faria sentido, então, as contratações de fotógrafo, turismólogo, historiador e de profissional na área de letras e literatura, previstas no plano de trabalho. Portanto, o fato de o Sr. Gustavo Chauvet deter direitos autorais sobre pesquisa anteriormente realizada não justificaria, por si só, sua contratação para a realização de nova pesquisa, de caráter mais específico do que a anteriormente efetuada, como alegam os próprios responsáveis.

Isso posto, em que pese a contratação de associado da entidade contrariar o art. 27 da IN STN 01/1997 e a Cláusula Terceira, inciso II, alínea ‘f’ do Termo de Convênio, não há indícios de que os serviços não foram prestados. Logo, não serão considerados para fins de apuração de débito os valores despendidos na contratação do Sr. Gustavo Chauvet.

Por sua vez, o Sr. Eduardo Chauvet foi contratado para os serviços de diretor de cena e diretor de pós-produção, nos valores respectivos de R$ 5.000,00 e R$ 2.200,00, embora seja irmão e filho de pessoas associadas à entidade convenente. Diferentemente do alegado pelos responsáveis, não houve procedimento licitatório para a contratação do profissional. Os documentos apresentados na prestação de contas contêm, apenas, os recibos e cópias dos cheques (peça 35, p. 18-19 e peça 36, p. 33-34). Não foi apresentado, na prestação de contas, currículo que comprovasse a capacidade do Sr. Eduardo Chauvet de realizar os serviços para os quais foi contratado.

Não obstante isso, a mesma conclusão sobre a contratação do Sr. Gustavo Chauvet deve ser considerada na contratação do Sr. Eduardo Chauvet. Não há indícios nos autos que os serviços de diretor de cena e de diretor de pós-produção não tenham sido prestados. Assim, abstém-se de considerar os valores de tais contratações para fins de apuração de débito.

A empresa “TV Alternativa Cinema e Vídeo Produções Ltda.” pertence, de fato, ao Sr. Eduardo Chauvet, como alegam os responsáveis, e em acordo com pesquisa efetuada (peça 38, p. 24). A mencionada empresa foi contratada para prestar serviços de aluguel de equipamentos para pré-produção do vídeo, no valor de R$ 6.500,00 (peça 35, p. 20).

Embora a empresa pertença a irmão e filho de pessoas associadas à entidade convenente, não há indícios nos autos de que os serviços não tenham sido prestados. Ao contrário, como visto anteriormente nesta análise, o MTur atestou por meio de parecer técnico de análise da prestação de contas que o vídeo foi produzido, embora não tenha sido anexado à prestação. Portanto, não consideraremos para fins de apuração de débito as despesas incorridas e pagas na contratação da empresa “TV Alternativa Cinema e Vídeo Produções Ltda”.

IV – CONCLUSÃO

Nas alegações de defesa apresentada, os responsáveis reproduziram excerto do Acórdão 3.084/2012-TCU-1ª Câmara (peça 68, p. 15-17), por meio do qual este Tribunal, ao julgar Recurso de Reconsideração interposto em TCE, tornou insubsistente o Acórdão 3.075/2011-TCU-1ª Câmara. Naquele julgado entendeu-se ao caso examinado, em suma, que os gestores lograram justificar a apresentação intempestiva da prestação de contas,

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assim como a comprovação regular de parte dos recursos conveniados. Por esse motivo, as contas dos responsáveis daqueles autos foram julgadas regulares com ressalva.

Todavia, a análise precedente demonstrou que a situação observada na execução do Convênio Siafi 623012, ora em apreço, permite concluir de modo diverso ao julgado mencionado pelos responsáveis.

Em primeiro, deve-se destacar que a apresentação da prestação de contas do Convênio Siafi 623012 ocorreu após o término do prazo legal, inclusive quando a presente TCE já havia sido instaurada pelo MTur, o que contrariou o art. 28, § 5º, da IN STN 01/1997. Os responsáveis não apresentaram alegações que lograssem dirimir a irregularidade verificada ou averiguar a boa-fé na conduta praticada (item III.a desta instrução).

Também verificou-se que a execução do objeto do ajuste em questão ocorreu fora do período de vigência. Embora o MTur não tenha acatado proposta do convenente de prorrogação do período de vigência e de alteração do plano de trabalho, ao que tudo indica a entidade executou o ajuste conforme o plano de trabalho proposto após a celebração do termo de convênio, e não conforme o plano aprovado pelo MTur. Não obstante isso, adotou-se nesta análise, para fins de apuração de débito, as despesas referentes a itens do plano de trabalho aprovado que não foram comprovadas pela entidade convenente (item III.b desta instrução).

Não foram comprovadas, pelos responsáveis, a execução dos itens do plano de trabalho do convênio relativos a apresentação de cinco grupos folclóricos, da veiculação em rádios locais e da produção de cartazes e camisetas. Com relação aos grupos folclóricos, o débito aferido pela não comprovação corresponde a R$ 17.550,00. Por sua vez, ainda que a conclusão desta análise tenha sido pela não execução, não foi possível quantificar o débito decorrente da não execução da veiculação em rádios locais, da produção de cartazes e de camisetas (item III.c desta instrução).

Também foi considerado como débito o valor de R$ 15.000,00, referente à contratação de assessorias contábil e jurídica. Tais despesas, além de não estarem previstas no plano de trabalho aprovado, representam despesas a título de taxa de administração, pois têm como finalidade aparelhar a entidade para que somente assim logre executar o convênio (item III.g desta instrução).

De modo diverso, não foi verificada a ocorrência de débito nas despesas relacionadas à “produção e gravação de vídeo” (item III.c desta instrução), à realização em data posterior à vigência (item III.d desta instrução), e a contratações de membros e associados da entidade convenente (itens III.f e III.h desta instrução). Ressalte-se, contudo, que à exceção da despesa com a produção e gravação de vídeo, todas as demais incorreram em irregularidades, posto que contrariam o art. 8º, incisos I e V, e o art. 27 da IN STN 01/1997.

Por fim, cabe destacar que não foram aplicados os recursos da contrapartida fixada na Cláusula Quarta do Termo de Convênio (item III.e desta instrução). Segundo essa cláusula, a contrapartida correspondeu a 10% do valor total do ajuste, sob a forma financeira (peça 2, p. 85). Sendo assim, considerando-se que do valor total repassado pelo MTur de R$ 200.000,00, comprovou-se a execução de R$ 167.250,00, caberia ao convenente aportar 10% desse valor, ou seja, R$ 16.725,00. Como não foram aportados recursos a título de contrapartida, deve ser somado à condenação dos responsáveis pelo débito o montante de R$ 16.725,00.

Nos termos do Acórdão 2.763/2011, o Plenário do TCU acolheu Incidente de Uniformização de Jurisprudência suscitado pelo Ministério Público junto ao TCU,

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firmando o entendimento de que, na hipótese em que a pessoa jurídica de direito privado e seus administradores derem causa a dano ao erário na execução de avença celebrada com o poder público federal com vistas à realização de uma finalidade pública, incide sobre ambos a responsabilidade solidária pelo dano.

Tendo em vista que não constam dos autos elementos que permitam reconhecer a boa-fé dos responsáveis, sugere-se que as contas da Sra. Flavineide Rocha dos Santos e do Instituto Terra Mater Brasilis sejam julgadas irregulares, nos termos do art. 202, § 6º, do RI/TCU, com a aplicação da multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.

V – PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

Diante do exposto, submetemos os autos à consideração superior, propondo ao Tribunal:a) julgar irregulares as contas da Sra. Flavineide Rocha dos Santos (CPF 000.185.531-06), presidente da entidade convenente à época, e do Instituto Terra Mater Brasilis (CNPJ 06.098.161/0001-46), entidade convenente, com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas ‘a’ e ‘c’, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 19, parágrafo único, e 23, inciso III, da mesma Lei, e com os arts. 1º, inciso I, e 209, incisos I e III, do Regimento Interno, condenando-os ao débito solidário no valor de R$ 49.275,00 (quarenta e nove mil e duzentos e setenta e cinco reais), acrescida da atualização monetária e dos juros de mora devidos a partir de 25/07/2008 até a data do efetivo recolhimento, fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III, alínea ‘a’, da Lei 8.443/92;

b) aplicar à Sra. Flavineide Rocha dos Santos e ao Instituto Terra Mater Brasilis, individualmente, a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992, fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente se paga após o seu vencimento, na forma da legislação em vigor;

c) autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das dívidas caso não atendidas as notificações;

d) autorizar, desde já, caso venha a ser solicitado, o parcelamento do débito em até trinta e seis parcelas, nos termos do art. 217 do RI/TCU.”

É o relatório.

VOTO

Trata-se de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério do Turismo em razão da omissão no dever de prestar contas do Convênio 874/2007, Siafi 623012 (peça 2, p. 79-99), celebrado entre aquele ministério e o Instituto Terra Mater Brasilis, no valor total de R$ 220.000,00, que teve por objeto o apoio ao Projeto “Roteiro Turístico Musical na Estrada Geral do Sertão”.

2. Em 29/12/2010, portanto, após a instauração da presente tomada de contas especial que ocorreu em 16/12/2009, o convenente apresentou ao MTur a prestação de contas do referido convênio. 3. Em inspeção realizada pela unidade técnica, verificou-se que, durante a execução do

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convênio, a presidência da entidade foi exercida pela Sra. Flavineide Rocha dos Santos, pessoa diversa da responsável imputada inicialmente pelo MTur na TCE instaurada, Sra. Gabriela Rabelo de Souza (peça 11, pp. 3/4).

4. Citados solidariamente pelo valor total repassado à entidade, a Sra. Flavineide Rocha dos Santos e o Instituto Terra Mater Brasilis apresentaram suas alegações de defesa de forma conjunta (peça 68).

5. Foram apontadas as seguintes irregularidades na condução do mencionado convênio:

“a.1) Execução do objeto fora da vigência do convênio, o que contraria as cláusulas segunda e terceira, inciso II, alínea ‘a’, do Termo de Convênio;

a.2) Não comprovação dos itens “veiculação em rádios locais”, “cartazes 42x59”, “camiseta de malha fria”, “apresentação dos grupos folclóricos de Luziânia, Cristalina, Chapada dos Veadeiros, Brazlândia e Planaltina” e da “produção e gravação de vídeo de 04 horas sobre o roteiro turístico musical na Estrada Geral do Sertão”, previstos no Plano de Trabalho, o que configura a não execução dessas ações, contrariando a cláusula terceira, inciso II, alíneas ‘a’ e ‘t’, do Termo do Convênio;

a.3) Realização de despesa em data posterior à vigência do convênio, que expirou em 27/01/2009, haja vista que a Nota Fiscal de Serviço 0255 foi emitida em 01/04/2009, o que é vedado pelo art. 8º, inciso V, da IN STN 01/1997 e a cláusula terceira, inciso II, alínea ‘m’, do Termo de Convênio;

a.4) Não cumprimento dos recursos da contrapartida, contrariando o art. 7º, inciso II, da IN STN 01/1997 e a cláusula terceira, inciso II, alínea ‘b’, do Termo de Convênio;

a.5) Realização de despesa a título de taxa de administração, de gerência ou similar, em razão da contratação do Sr. Marcos Henrique José e Silva (CPF 825.618.501-53), Sra. Lucyane Andrade Rocha (CPF 804.896.051-68) e Sra. Katiely França Andrade de Paiva (CPF 018.066.691-61), ocupantes durante a execução do ajuste, respectivamente, dos cargos de Diretor Administrativo Financeiro, Diretora de Desenvolvimento Institucional e Diretora de Tecnologia do Instituto Terra Mater Brasilis, entidade convenente, o que contraria o disposto no art. 8º, inciso I, da IN STN 01/1997, os princípios constitucionais da impessoalidade e moralidade, e a cláusula terceira, inciso II, alínea ‘p’, do Termo de Convênio;

a.6) Realização de despesa a título de taxa de administração, de gerência ou similar, em razão da contratação de serviços de assessoria jurídica e contábil, conforme as Notas Fiscais de Serviço 0136 e 0540, emitidas em 23/01/2009, o que contraria o disposto no art. 8º, inciso I, da IN STN 01/1997, e a cláusula terceira, inciso II, alínea ‘p’, do Termo de Convênio;

a.7) Indícios de favorecimento na contratação do Sr. Gustavo Guilherme Leon Chauvet (CPF 287.317.191-04), associado ao Instituto Terra Mater Brasilis, entidade convenente, na contratação do Sr. Eduardo Henrique Leon Chauvet (CPF 611.025.041-49), irmão do associado, Sr. Gustavo Chauvet, e filho da associada, Sra. Muriel Antunes Chauvet, e na contratação da empresa “TV Alternativa Cinema e Vídeo Produções Ltda”, de propriedade do Sr. Gustavo Chauvet, conforme Nota Fiscal de Serviço 0172, emitida em 04/08/2008, o que contraria o art. 27 da IN STN 01/1997, o art. 3º da Lei 8.666/1993, os princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade, e a cláusula terceira, inciso II, alínea ‘f,’ do Termo de Convênio.”

6. Após a análise das alegações de defesa, a unidade técnica, com a anuência do representante do Ministério Público, propõe o julgamento pela irregularidade das contas, a condenação solidária ao

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débito no valor histórico de R$ 49.275,00 (25/7/2008) e a aplicação da multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 aos responsáveis.

7. Manifesto minha concordância com os pareceres precedentes, cujos fundamentos incorporo como razões de decidir, sem prejuízo das considerações que faço a seguir.

8. De acordo com a análise empreendida pela Secretaria de Controle Externo do Desenvolvimento Econômico, restou sem comprovação a execução dos itens do plano de trabalho do convênio relativos a apresentação de cinco grupos folclóricos. Do valor total previsto para esse item, R$ 36.000,00, apenas R$ 18.450,00 foram executados e se referem às despesas relativas aos grupos folclóricos de Pirenópolis, Corumbá, Cocalzinho, Formosa e Brasília (peça 2, p. 65 e 139). As apresentações dos demais grupos folclóricos de Luziânia, Cristalina, Chapada dos Veadeiros, Brazlândia e Planaltina, correspondentes à R$ 17.550,00, não foram realizadas.

9. Em suas alegações de defesa, os responsáveis não contestaram a inexecução das despesas previstas para os cinco grupos folclóricos, limitando-se a alegar que devido ao atraso na liberação dos recursos o cronograma dos eventos ficou prejudicado.

10. Ora, por certo, eventual atraso na liberação de recursos não pode ser fundamento para a não comprovação de sua utilização. Dessa forma, na impossibilidade da execução desses itens, caberia aos responsáveis, como ressaltou a unidade técnica, efetuar a devolução dos recursos e não aplicá-los de modo diverso ao pactuado.

11. A unidade técnica também apontou como irregulares despesas, no valor de R$ 15.000,00, relacionadas à contratação de assessorias contábil e jurídica que não figuram no plano de trabalho aprovado. Despesas a título de taxa de administração, de gerência ou similar, relacionadas ao aparelhamento da entidade para a execução do convênio, são vedadas pelo art. 8º, inciso I, da IN STN 01/1997.

12. Quanto a essa constatação, os responsáveis alegam que os contratados teriam prestado mero assessoramento técnico específico e especializado e que as despesas estariam amparadas no plano de trabalho firmado.

13. Ao contrário do que afirmam os responsáveis, as despesas relacionadas à contratação de assessorias contábil e jurídica não figuram no plano de trabalho aprovado, mas no plano de trabalho proposto pelo convenente. Esse novo plano, entretanto, foi recusado pelo Ministério do Turismo. Vê-se, assim, que o instituto aplicou recursos do convênio em despesas não previstas.

14. Por fim, a unidade técnica consignou como débito atribuído aos responsáveis o valor referente à contrapartida não realizada. Conforme previsto na Cláusula Quarta do Termo de Convênio, caberia à convenente o aporte de 10% do valor repassado, ou seja, R$ 20.000,00. Dessa forma, considerando-se que foi executado o montante de R$ 167.250,00, caberia ao convenente aportar 10% desse valor, ou seja, R$ 16.725,00. A não aplicação da contrapartida, conforme previsto no Parágrafo Quarto da mencionada cláusula, obriga o convenente a devolver os recursos financeiros correspondentes.

15. No que concerne a essa questão, não socorrem os responsáveis as alegações de que teriam efetuado a contrapartida com a realização de pesquisa documental e de campo, além da duplicação dos DVDs produzidos, pois tais itens não estavam previstos no plano de trabalho. Como já ressaltado, apesar de solicitado pelo convenente a alteração do plano de trabalho, não houve a concordância por parte do concedente, permanecendo o objeto do convênio como havia sido anteriormente planejado.

Ante o exposto, acolho a proposta de encaminhamento uniforme constante dos autos e VOTO por que seja adotada a deliberação que ora submeto a este Colegiado.

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TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 10 de junho de 2014.

BENJAMIN ZYMLER Relator

ACÓRDÃO Nº 2953/2014 – TCU – 1ª Câmara

1. Processo nº TC 000.775/2011-8. 2. Grupo I – Classe de Assunto: II 3. Interessados/Responsáveis:3.1. Responsáveis: Flavineide Rocha dos Santos (000.185.531-09); Instituto Terra Mater Brasilis (06.098.161/0001-46).4. Órgão/Entidade: Ministério do Turismo (vinculador).5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo do Desenvolvimento Econômico (SecexDesen).8. Advogado constituído nos autos:

9. Acórdão:VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo

Ministério do Turismo em razão da omissão no dever de prestar contas do Convênio 874/2007, celebrado entre aquele ministério e o Instituto Terra Mater Brasilis;

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. julgar irregulares as contas da Sra. Flavineide Rocha dos Santos (CPF 000.185.531-06), presidente da entidade convenente à época, e do Instituto Terra Mater Brasilis (CNPJ 06.098.161/0001-46), entidade convenente, com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas ‘a’ e ‘c’, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 19, parágrafo único, e 23, inciso III, da mesma Lei, e com os arts. 1º, inciso I, e 209, incisos I e III, do Regimento Interno, condenando-os ao débito solidário no valor de R$ 49.275,00 (quarenta e nove mil e duzentos e setenta e cinco reais), acrescido da atualização monetária e dos juros de mora devidos a partir de 25/07/2008 até a data do efetivo recolhimento, fixando- lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III, alínea ‘a’, da Lei 8.443/92;

9.2. aplicar à Sra. Flavineide Rocha dos Santos e ao Instituto Terra Mater Brasilis, individualmente, multa no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), com fulcro no art. 57 da Lei 8.443/1992, fixando- lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente se paga

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após o seu vencimento, na forma da legislação em vigor;9.3. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança

judicial das dívidas caso não atendidas as notificações;9.4. autorizar, desde já, caso venha a ser solicitado, o parcelamento do débito em até trinta

e seis parcelas, nos termos do art. 217 do RI/TCU.

10. Ata n° 19/2014 – 1ª Câmara.11. Data da Sessão: 10/6/2014 – Ordinária.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2953-19/14-1.13. Especificação do quorum: 13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente), Benjamin Zymler (Relator) e José Múcio Monteiro.

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13.2. Ministro-Substituto convocado: Augusto Sherman Cavalcanti.

(Assinado Eletronicamente)WALTON ALENCAR RODRIGUES

(Assinado Eletronicamente)BENJAMIN ZYMLER

Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)LUCAS ROCHA FURTADO

Subprocurador-Geral

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