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Si PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N° Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n° 7 68.201-5/7-00, da Comarca de SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, em que são apelantes OVÍDIO PEDROSA e OUTRA sendo apelado MINISTÉRIO PÚBLICO: ACORDAM, em Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores REGINA CAPISTRANO (Presidente), RENATO NALINI. São Paulo, 13 de novembro de 2008. SAMUEL JÚNIOR Relator

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO ... · limitada e.asua qualidade, graças à ação predatória do homem, está cada vez mais comprometida. A utilização de

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Si

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

ACÓRDÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA

REGISTRADO(A) SOB N°

Vistos, relatados e discutidos estes autos de

APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n° 7 68.201-5/7-00, da Comarca de

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, em que são apelantes OVÍDIO PEDROSA e

OUTRA sendo apelado MINISTÉRIO PÚBLICO:

ACORDAM, em Câmara Especial do Meio Ambiente do

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a

seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, V.U.", de

conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos

Desembargadores REGINA CAPISTRANO (Presidente), RENATO

NALINI.

São Paulo, 13 de novembro de 2008.

SAMUEL JÚNIOR Relator

PODER JUDICIÁRIO Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Apelação Cível n° 768.201.5/7.

Voto n° 17.042

Comarca de São José dos Campos"

Processo n° 729/2007 • ' ' i

Apelantes: Ovidio Pedrosa e outra

Apelado: Ministério Público

v.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA1 AMBIENTAL - Ocupação em área de preservação permanente - Rio Paraíba do Sul - Resolução CONAMA 302/02 - Faixa de preservação de lOOm às margens das represas -Sentença Procedente, - Competência municipal que fica vinculada e limitada às disposições das normas federais, inclusive Resoluções do CONAMA -Constitucionalidade da deliberação que fixou a faixa de 100 metros - Resolução (302/02) que apenas reforçou o que já havia sido deliberado na 04/85 - Necessidade de regulamentação do art. 2o

do Código Florestal no que concerne às áreas de preservação permanente- no ' entorno , dos reservatórios artificiais e responsabilidades assumidas pelo Brasil nas Convenções da Biodiversidade, f< Rahísar e Washington, e nos compromissos derivados "da Declaração do Rio de Janeiro - Resolução que trata expressamente' de proteção aos recursos hídricos, que não estão sujeitos ao princípio da reserva legal - Cautelas estabelecidas que não podem ser vistas-como uma violação ao direito de propriedade, que nãò se sobrepõe ao interesse público que emana do meio ambiente e nem restrição à competência legislativa municipal - Inexistência de ofensa a ato jurídico perfeito e ao direito adquirido - Preliminar afastada, recurso desprovido .. "

Trata-se de apelação interposta por • Ovídio Pedrosa e Célia / - ' • • : - • '

Veneziani de Souza'contra sentença que julgou procedente a ^ação civil

pública movida pelo Ministério Público. '

Sustentam os recorrentes, em síntese, que o parcelamento do'

solo teria sido consolidado com aprovação e registro'do loteamento; ofensa

Apelação Cível n°768.201.5/7 -,Comarça.de São José dos Campos W\

ao ato jurídico' perfeito e ao direito adquirido; que o Código florestal

autorizaria a supressão da vegetação em área de"preservação permanente.

Contra-rázões às fls. 407/422. ..

A Procuradoria^ de Justiça manifestou-se pelo desprovimento

do recurso. ^

E o relatório. '

Afasta-se desde logo a preliminar "de intempèstividade argüida

nas-contra-razões, na medida em que 6 termos a quo é aquele de fl. 360v°,

de modo que recurso foi apresentado no prazo legal.

No mérito, sem-razão os recorrentes.

,Os,problemas ecológicos, ou seja, as mudanças provocadas no

' meio ambiente, em-especial pelo homem, com resultados danosos à fauna

,e à flora,^não são fenômenos contemporâneos. ,

' ' Ressalta Carlos" Gomes de Carvalho (Introdução ao Direito

Ambiental. Ed. Letras & Letras. 2a ed. São Paulo.' 1991 p. 33), que os

aquedutos que abasteciam Roma de águas potável foram construídos cerca

de 400 ou 500 anos-A.C.,. porque a água do Rio Tibre teria se tornado

imprópria para o consumo humano. E ,é possível afirmar-se com segurança

que, antes mesmo dos romanos, outras civilizações operaram .práticas

ecológicas desastrosas. As pesquisas arqueológicas vêm encontrando

evidências de que os problemas ecológicos .contribuíram para a derrocada

de civilizações antigas. , , . ' - ' '

Chega b mesmo' autor a afirmar que é difícil mesmo indicar úm

só período da História, da Antigüidade à Medieval, sem que sistemáticas

agressões ao meio ambiente não tenham sido perpetradas.

Com a revolução industrial e progresso da civilização, as

agressões e desrespeito à natureza tornaram-se ainda maiores.

• ., Porém, só em época bem recente foi que a preocupação com a

.Ecologia passou a ter a atenção necessária e a ' ser considerada, com

seriedade e urgência. - '

A certeza de que a Terra t pode ficar saturada é„ nova no

horizonte da-história humana. Sabe-se, agora, que os ecossistemas não

são elementos que- se reconstituem automaticamente e que não são

•'•• • :h Apelação Cível n° 768.201.5/7 - Comarca de São José dos Campos !> 2

\

perenes, e por isso existe o risco de num futuro próximo, se medidas

drásticas não forem tomadas, e se continuarem as agressões ao meio

ambiente da forma como vêm ocorrendo', de enfrentarmos sérios e

irreversíveis problemas.

Não é possível considerarmos mais a relação do homem com o

meio ambiente apenas sob os enfoques de ordem sanitária, dè estratégias

econômicas, de interesse turístico, de preservação do patrimônio público

ou histórico., Hoje, aliando :se a tais1 questões,-mister se faz que haja umá

visão mais "ampla, voltada para o futuro, objetivando, acima de tudo um

desenvolvimento sustentável.

A água é um recurso natural, constituindo parte integrante do

ecossistema planetário, entre os demais componentes: o ar, o solo, a flora

e' também a fauna. , . i

- E a idéia que predominava até não muito tempo, o sentido de

que ela era um recurso natural infinito e que não tinha qualquer valor

econômico, já está totalmente ultrapassada.

A sua escassez já assombra o mundo. A sua quantidade é

limitada e . a s u a qualidade, graças à ação predatória do homem, está cada

vez mais comprometida. A utilização de agrotóxicos causa, por exemplo,

danos sérios aós recursos hídricos disponíveis. • ' •

. Mas não é a utilização de tais venenos a única forma de

poluição, pois como se sabe; nos rios, lagos,- lagoas, assim como nos

mares, há um crescente despejo de efluentes. . , •'

Portanto, poryser um bem indispensável à sobrevivência do

homem, é, conseqüentemente, extremamente grave o problema, impôndo-

se medidas de proteção. T .' . ,

Por isso mesmo, o Código Florestal,. instituído • pela Lei

Ordinária n°' 4.771, dè 15 de setembro de 1965, estabeleceu como, de-

preservação; permanente toda a forma de vegetação natural situadas ao

longo dos rios,-lagos,-ou qualquer curso d'água.

E isto porque a ausência de vegetação em tais locais" causa

impacto' que vai além do simples assoreamento ou -do depósito de

agrotóxicos. Como ressaltam autores que tratam da matéria, o

Apelação CíveLn0 768.201.5/7 - Comarca de-São Jpsé dos Campos '3

desmatamento ciliar-tem as seguintes conseqüências: a) priva os cursos

d'água de matéria orgânica, originária de quedas de folhas e frutos; b)

priva os peixes- dos1 frutos das árvores ribeirinhas; c) , provoca o

desaparecimento dos insetos, que servem, de alimentos. pára algumas

espécies de peixes; e d) causa a erosão das margens aumentando turbidez

da água/ .' (

" ", É certo que o art. 24 da CF diz competir à União,' aos Estados'

, e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre diversas matérias,

entre^ elas: florestas, çaça,; pesca fauna, conservação da natureza, defesa

do solo e dos recursos, naturais, proteção do meio ambiente e controle da

poluição. ' ' • - / • ' - • • .. '

^ - Mas não é menos verdade,-que, no referente aos Estados, o §

3o , do mesmo. artigo ^dispõe q u e - "Inexistihdò lei federal sobre normas

gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender

.a suas peculiaridades. § 4o - A superveniência de lei federal sobre normas

gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário".

E os municípios aos quais ' compete apenas competência

' suplementar evidente- e obviamente também ficam jungidos às normas de

:caráter geral. - " -' x "-'

j O Supremo Tribunal Federal ao enfrentar a questão dos

transgênicos, que o "Estado, do Paraná queria proibir, manifestou-se

exatamente (ADI 3035 e ADI 3054) no sentido de que a lei, impugnada

estabelecia normas restritivas quanto" ao cultivo, manipulação; e

industrialização de- transgênicos mostrando preocupação de caráter

sanitário ,e ambiental, questões sujeitas à disciplina concorrente da União

e- dos. Estados, .acrescentando que em face da existência de outros atos

normativos federais, disciplinando de forma geral sobre aquelas matérias,,

não podia o Estado dispor dè forma contrária. • / r • '" T

Outrossim, ao dispor o Congresso Nacional sobre a" Política

Nacional do Meio'Ambiente,^ seus fins e mecanismos de formulação e

aplicação; no arf. 6o, inciso" II, dá Lei n° 6.938/81-, com a redação dada

pela Lei n° 8.028/90, deferiu competência ao Conselho Nacional do Meio,'

Ambiente,,- CONAMA - .para "deliberar, no âmbito de sua competência, /

Apelação Cível n° 768.201.5/.7 - Comarca de São José'dos Campos

/ -

K 4

sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente

equilibrada e essencial à sadia qualidade de vida". . - - ,

E o parágrafo deste artigo dispõe que os Estados "elaborarão

normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio

ambiente, observados"os que foram estabelecidos pelo CÒNAMA".

A competência municipal, portanto, fica vinculada c limitada

às disposições das normas federais, inclusive Resoluções do CONAMA, que

são atos administrativos editados com base em lei.

-Aliás, não 'discrepa.de tal orientação o que dispõe o Código

Florestal no Parágrafo único, do artigo 2o: "no c a s c d é áreas urbanas,

'assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por

lei municipal è nas regiões metropolitanas e aglomerações .urbanas, em

todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos

diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se

refere este artigo".

E certo quê no artigo 25 do ADCT, da. Constituição de 1988,

estabeleceu-se que ficariam revogados^ a partir de 180 dias d a . sua

promulgação sujeito este prazo à prorrogação por lei,' todos os dispositivos

legais que atribuíam ou delegavam a ' órgão do Poder Executivo

competência assinalada pela Constituição ao Congresso Nacional,

especialmente no que tange a, nos termos do seu incisoJ, ação normativa.

Tal regra revogava' o passado, porque existiam dispositivos da

época do Governo Militar que não podiam prevalecer, mas não impedia que

o mesmo Congresso, no uso de seus poderes constitucionais, editasse .

novas Jeis delegando, ainda que dè forma mitigada, o poder de -

regulamentar determinadas situações ao Executivo, sob pena de tornar

' ingovernável o País.

Por isso mesmo, com a- referida Lei 8.028/90, que é posterior à

Constituição, acabou sendo reafirmado que o CONAMA continuava com a>

atribuição '< de deliberar sobre normas referentes ao meio-ambiente,

buscando um equilíbrio ecológico para que o homem tenha uma sadia

qualidade de vida. . -

-.''•' ' • ' . - h Apelação Cível n° 768.201.5/7 - Comarca de São José dos Campos ^ ' 5

1 • 4 "

Portanto, enfatize-se, o Legislador, dentro do princípio da

reserva legal exigida pelo artigo 225, da Constituição da República, dispôs

sobre a forma de regulamentação de questões afetas ao meio-ambiente, ,

d e l egando -aao CONAMA, não havendo n e n h u m a inconstitucionalidade a-

respeito. Foi u m a lei edi tada à luz do comando da Carta de 1988..

O CONAMA não pode evidentemente contrariar a ler e muito

menos a Constituição. . v , J ., •

- - • f ' Mas, repita-se, para que não paire qualquer-dúvida a respeito,

o que o artigo 25- do ADCT quis revogar foram as normas que- seriam

delegadoras, e não as.medidas^expedidas com base nas mesmas . Por isso,

comer j á ressal tado, as no rmas edi tadas pelo CONAMA antes de 1988, no

' que não contrariavam as leis então vigentes, eram constitucionais. -

\ ~ Desta forma, a Resolução 4 / 8 5 foi recepcionada pela Carta de~

1988. . ' - / • '

Além disso, versa a referida^ Resolução sobre proteção a

recursos hídricos, matéria que pode ser regulamentada amplamente por

a tos ' administrativos pelo CONAMA, já que não foi submet ida pela

Consti tuição ao princípio da reserva legal. • s

• N , Aliás, a respeito ressal ta o Professor Luiz Carlos, Silva^ de

Moraes (MORAES,. Luiz Carlos Silva de. In: Curso de Direito Ambiental.

Ed. Atlas): "(..,) os, a s s u n t o s recursos hídricos, ar, mar territorial

.comportariam a regulamentação por forma de atos administrativos

(princípio da (legalidade)' como, por exemplo, as resoluções do CONAMA,

pois não foram submet idas pela Consti tuição ao princípio da\ Reserva'

Legal". ' - -' , ; . ''

- . Ademais, ao . regulamentar o artigo 225, § Io , incisos I; II, ,1111 e

VII da Constituição Federal, a Lei Ordinária 9.985, de ,1-8 de julho de 2000,

reafirmou em seu artigo 6o , que q CONAMA é u m órgão consultivo e

deliberativo. ,' ' .

E o Decreto 3.942, de 27 de setembro de 2001 , que alterou o

Decreto 99.274, de 06 de j u n h o de 1990, disse, em seu artigo 7o , inciso VI,

que - compete ao ' CONAMA, "estabelecer normas , critérios e padrões

relativos ao controle e à manu tenção da qualidade do- meio ambiente com

W^ Apelação Cível n°" 768.201.5/7 - Comarca de São José dos Campos

, vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os

-'hídricos". E nos incisos VIII e IX, respectivamente: "deliberar,.no âmbito de

sua competência, sobre normas e , padrões compatíveis com o meio

ambiente ecologicamente .equilibrado e essencial a sadia qualidade de vida"

e -. "estabelecer os critérios técnicos para declaração ' de- áreas' críticas,

saturadas ou em ,vias de saturação"-.. , , *' , ' ^

O Decreto,4.-755, de 20.dè junho de 2003, em seu artigo 14,

reforçou c[ue "ao CONAMA cabe exercer as competências de que trata-a Lei'

n° 6.938~de 31.de agosto de 1981, e suasalterações". ~:-' '"' ' :

A -\ - Portanto, mesmo à luz das-1 normas vigentes, o CONAMA

continua investido de competência para editar normas, tendo'como limite

a lei.e a Constituição e ainda, o q u e dispõe o Decreto 99.274/90, em seu

artigo 7o, § 3o (redação dada pelo Decreto' 1.205, de 1/8/94): "Na fixação

, de normas, critérios''e. padrões relativos ao controle e à manutenção da

qualidade do -meio ambiente, o CONAMA - levará em~ consideração a

v. capacidade de auto-regeneração, dos corpos receptores "e a necessidade de

' estabelecer parâmetros genéricos mensuráveis". . --

v • Além disso,-a Medida Provisória 2.L66-67, de 24 de agosto de.

"200,1," que alterou, e .acrescentou dispositivos' à' lei 4.771'; .1965", que

instituiu^ "o Código Flores tassem diversos dispositivos reforçou a

competência atribuída^ao CONAMA: artigo" Io, letras "c"; inciso V, letra "á"

.e"c". E o "que é mais importante, no seu § 6°,-disse que: '"Na implantação

- de reservatório artificial é obrigatória a desapropriação ou aquisição,'peío

1 empreendedor', dás- áreas- de preservação permanente criadas nó seu

( entorno, cujos parâmetros e regime de uso serão definidos por resolução

do'CONAMA". ' "- / • ' ' ; , , ' ; . : ' '

- ' . ,"-. Enfim, o CONAMA,,em, 1985, data da edição da Resolução n°

4, estava investido de kpõ.déres pára editá-la, e hoje., ainda, tem ;

' -competência para fazê-lo, nos limites já mais1 de uma vez mencionados.

O Xódigo_Florestál, no seú artigo-2°, dispõe: "Consideram-se

de preservação permanente', pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais

formas de vegetação natural situadas: a) ao longo idosí.rios ou ;de qualquer

curso d'âgua desde o -seu nível mais alto em faixa' marginal cuja largura

•Apelação Cível n° 768!201.5/7- Comarca de São José dos,Campos -I -7

> mínima seja: 1 - ,de 30 m (trinta metros) para os'cursos çTágua de menos

de 10 m (dez metros) de largura; 2 - de 50 m (cinqüenta metros) para os

cursos d'água que tenham^ de 10 (dez) â 50 m (cinqüenta metros) à&'

largura; 3{- de 100 m (cem metros) para os cursos d'água que "tenham de

'50 (cinqüenta) a ,200 m (duzentos metros) de largura;. 4 - de 200 m-'

(duzentos metros) para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a

600 m (seiscentos metros) de largura; 5 - de 500 m (quinhentos' metros)

para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 m (seiscentos^

metros); b) ao redor das lagoas, lagos, ou reservatórios .d'água naturais ou

artificiais; c) nas. nascentes, ainda, que intermitentes e nos chamados

"olhos d'água"^ qualquer que seja a> sua situação' topográfica,- num raio "'

mínimo, de 50 m (cinqüenta metros) de largura;.,d) no topo de\morros,

montes, montanhas é. serras; e) nas' encostas oü partes destas, 'còm

declividade superior a 45, equivalente a, 100% na linha de maior declive; f)

nas restingas, como frxadofas de dunas ou estabilizadoras de mangues; g)

nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do

relevo, em faixa nunca inferior a' 100: m (cem metros), em projeções-

horizontais; h) em altitude super iora 1.800 m (mil e oitocentos metros),

qualquer que seja a vegetação"'. '' . v

Na medida em que considerou, como não poderia deixar de

fázê-io, de preservação' permanente, ao redor de lagoas,' lagos ou

reservatórios, d'água naturais ou artificiais, sem estabelecer á faixa ' - ' \ • * -

marginal, podia e devia o CONAMA'fazê-lo como feito na Resolução 4, que '

nesta parte não contrariou a lei, mas apenas regulou o que-não:estava nela'

previsto. - ' , , , -

,E mesmo que-se .queira de forma subsidiária tomar-se os

parâmetros estabelecidos para os cursos d'água, jamais se poderia cogitar

da medida de '30 metros, pois á largura do lago artificial é muito superior, 1 sabidamente,-á 10 metros. ," ' \ ' ,

' Além de tudo isso, a lei disse que as áreas ao .entorno da ,

' represa são de preservação permanente, e a Resolução GONAMA 04 tratou

de Reservas Ecológicas para os pousos de aves de arribação.

i - - : Jl

Apelação Cível n° 768 201 5/7 - Comarca de São José dos Campos . \ 8 -

) " . Não havia, como não há,^ n e n h u m a ilegalidade ou

ihcónsti tucionalidade n a deliberação de que- 100 metros no entorno das '

represas hidrelétricas devem ser considerados'1 á reas ecológicas, pois tal foi

editada à luz da Emenda Constitucional 1/69 e .em consonância com a

competência que "era outorgada por lei, não 'podendo' os Municípios, a inda

que em área u rbana , dispor de forma diferente. . ,- * . -

- •'. - A Resolução 302/-02, outrossirh, apenas reforçou o que j á

havia .sido,.; deliberado ; ína Resolução ' 4 / 8 5 e o ' fez' ' 'considerando 'a

necessidade de regulamentar o.art.- 2° da Lei n° 4 .77Í ; -de 1965, no que-

. concerne à s á reas de preservação permanente no entorno dos reservatórios'

artificiais,- bem como as responsabil idades a s sumidas pelo Brasil por.força

da Convenção da Biodiversidade, de ,1992, d a C o n v e n ç ã o de Ramsãr', de

1971, e dá Convenção d e . Washington, de 1940, bem • como os

compromissos derivados 'da Declaração do Rio de Janeiro;\de 1992 . '

-• ' Ressal tam, por isso mesmo, os seus. ."considerandos" ..que o

objetivo maior era, o de preservar- os recursos hídricos, a pa i sagem,-a

estabilidade geológica, à- biodiversidade, o fluxo gêhico de faUha e flora,

proteger o solo' e. assegurar o bem-estar das populações' h u m a n a s ' a t u a i s e

futuras. \ - - , - . ' -- >•> s .' - - '

Na ,mèdida em que t ra ta expressamente^de ' proteção ' aos%

recursos hídricos, que n ã o ' e s t ã o ,suj,êitos ao princípio da reserva legai,

como já anótado, ; não existe nenhuma-incpnst i tuc ional idade rio( referido

ato. - . '" "' -, - • . ' - , \ v ,

Ademais, mesmo 'considerando os . outros enfoques

mencionados,- a Resolução^ tem embasamento, em lei editada à- luz^ da

Consti tuição de 1988," ,de indiscutível constitucionalidade, • e que lhe

' outorgou,o poder normativo., '. , , T ,

. ' Nãó ' é "demais ^ressaltar; -1 ainda, que a Convenção de

- Biodiversidade, em que se baseou a Resolução, foi incorporada ao s is tema'

jurídico .interno, pelo Decreto Legislativo 02 de 1994";, sendo, portanto,, "lei"

- que deve ser observada-. >- ' - . , . - • . ~ , .., , . J -,

, _ ' " , , ' A Convenção de Ramsar^.que dispôs sobre zonas úmidas de

- importância internacional^ especialmente como habitat-de aves aquát icas ,

Apelação Cível n° 768.201.5/7 - Comarca de São José dos Campos rv

9'

elaborada em 02 de 'fevereiro de 1971, igualmente foi incorporada a o , '

sistema jurídico nacional através do Decreto Legislativo 33, de 16 de junho

de' 1992, e regulamentada pelo Decreto Presidencial 1905, de 16 de março,

de-1996'. ; - . "- • '

E^or esta última Convenção, õ Brasil se obrigou a estabelecer,

selecionar e indicar zonas úmidas de importância internacional, bém como

a conservá-las e estabelecer formas de exploração racional. E foi o que se

procurou fazer tanto-pela Resolução 4 /85 , corno a m a i s recente, 302/02. • ' . • • " , ' ' ' • . ' - • ' V ' • ; ' ,

Observe-se que o Tratado internacional é concebido por Hans

Kelsen como uma forma de regular a conduta recíproca dos Estados, quer ,

dizer, a conduta dos seus órgãos e súditos, .com relação a um - ou uns -

determinado assunto. De forma simples, podemos dizer que a convenção é -

um acordo de vontades entre dois ou mais Estados soberanos com relação

a um objeto determinado. : "• . , ' -

Entre "as diversas formas de tratados, temos os normativos,

que são aqueles que estabelecem regras de interesse geral, e podem se

constituir numa norma obrigatória e vigente num determinado Estado. São

-os que traçam-regras sobre pontos,de interesse geral entre, dois ou mais

direitos, entre dois ou mais sistemas jurídicos, de modo, a se /encontrar '

uma .relação-de harmonia.

No âmbito ' internacional, a subscrição obriga o Estado

subscritor, porém . para incorporação ao sistema jurídico interno , são

necessários, para alguns, outros atos, de acordo com que dispuser • sua

respectiva Constituição. , • " '

, - Em face do que dispõe a Constituição da República Federativa-

doN Brasil, no âmbito interno, a convenção somente passa a'ter eficácia-se

atendidos os requisitos nela previstos. , ' ... , - *

E é, como dispõe o artigo 49, inciso I, da nossa Carta Maior,

da Competência exclusiva do Congresso Nacional, resolver, definitivamente

sobre tratados internacionais. É a ratificação legislativa requisito essencial

para a validade jurídica do tratado, e só após o seu,' pronunciamento

favorável é que ròassa' a integrar o Direito .Positivo" Interno -(cf. Manoel

Gonçalves -Ferreira" Filho, Antônio Roberto Sampaio Dória e Fernando'

s r '

Apelação Cível n° 768.201.5/^7"- Comarca de São José dos Campos*. / , • / 10.

j Sainz de Bujanda, entre outros). E a forma que o Congresso tem para

referendar é cDecreto Legislativo.

Decreto Legislativo é todo ato do Congresso Nacional adotado

segundo o procedimento estabelecido para a elaboração legislativa (cf.

Manoel Gonçalves Ferreira Filho). É um processo legislativo, como dispõe o

artigo 59 da CF. ^ ,

Portanto, com os Decretos LegislativbSi mencionados, as

Convenções "incorporam-se ao sistema jurídico do Brasil e, assim, têm que

ser respeitadas exumpridas. , - ' ' ' • '

Além de tudo isso, a Resolução 302 baseou-se nos artigos 5o,

inciso XXIII, 170, inciso VI, 182, § 2o, 186, inciso-IL, e-225'da.Constituição

• da República. - ,

E ela estabeleceu, ademais,' que mesmo com observância de

' legislação municipal, a ocupação tem -que ser licenciada pelo órgão

ambiental competente. O fato de ter procurado definir o que seja área

. -urbana consolidada, teve por objetivo manifesto úma preservação maior do

meio ambiente e dos próprios recursos hídricos. - Por isso exigiu, entre

outras circunstâncias:'.malha viária com canalização de águas pluviais; rrede de abastecimento de água; rede de esgoto; recolhimento, de resíduos

• sólidos urbanos; tratamento de resíduos sólidos urbanos". '-

Não.se pode ver em tais cautelas nenhuma violação ao direito,

de propriedade,'que não se,sobrepõe ao interesse público que emana do

- meio ambiente e nem'restrição à competência legislativa municipal.

E é por isso mesmo que não se está negando vigência ao art.

, 1228) Io, do Código Civil. . * ' •

O direito de usar e gozar da coisa não-implica em dizer em

ausência de limitações. " • ' '

A ordem econômica, diz o artigo 170 da Constituição da

, República, "fundada na valorização do trabalho- humano e na livre

iniciativa', tem por. fim assegurar a todos existência digna, conforme os

ditames da justiça social", obsery.ada, entre outras circunstâncias, a

propriedade privada, a suà função social e a defesa do meio .ambiente.

Apelação Cível n° 768.201.5/7 - Comarca de São José dos Campos , / . 1 1

Não há, portanto, -como é porque se reduzir, a faixa de

proteção, como pretendido peío recorrente. '

Por fim,'no que diz respeito às alegações de violação ao ato

jurídico perfeito e,direito adquirido, como já decidiu esta C. Câmara, nos

autos da apelação cível interposta pelos ora recorrentes, referente à multa^

~ administrativa aplicada: , ' '

"... a alteração da legislação ambiental que traduz maiores cuidados com o meio. ambiente não viola direito líquido e certo do proprietário de terreno lindeiro a curso d'água se este, embora inserido em loteamento aprovado regularmente, não iniciou e implantou qualquer obra quando^da legislação anterior. , - __ ,

Vale dizer" que não existe direito adquirido a sèr' sustentado contra o meio ambiente, da mesmasforma que não existe direito adquirido em desmaiar. Destarte,^ o .particular pôde obter'perante os órgãos municipais os alvarás e autorizações necessárias à implantação de obras civis em seu terreno, mas se não o fizer, corre o risco de ser tolhido por eventuais e futuras alterações nas regras ambientais e urbanísticas, sem que' tenha qualquer

- direito subjetivo, líquido e certo violado: '

Tampouco se. pode questionar violação a ato jurídico perfeito,'já que nenhuma-intervenção física no imóvel, foi iniciada sob a égide da legislação anterior, nem mesmo -alterando a. solução ora , encontrada à existência' de

'" vizinhos em situação fática diversa" (AP. n° 402.255.5/5, ' ' • Rei. Regina.Capistrano, por maioria, j . em 27/09/2007).

Portanto, a r. sentença deve ser mantida por seus próprios 'e

jurídicos fundamentos. ' t

,, ' Para fins de pré-questionamento,-são explicitados" todos "os"

dispositivos mencionados pelos recorrentes. x . (•

Em -face de tais razões, afastada a preliminar, ^nega-se,

provimento ao recurso.

Apelação Cível n° 768.201.5/,7 - Comarca de São José cios Campos . • 12