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JML/aplf PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA LUCENA APELAÇÃO CRIMINAL n.º 9735/PE 2003.83.00.001869-8 APTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL APTE : WILSON JOAQUIM DOS SANTOS ADV/PROC : JOSE CARLOS MEDEIROS E OUTROS APDO : OS MESMOS ORIGEM : 4ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (PRIVATIVA EM MATéRIA PENAL) RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA LUCENA E M E N T A PENAL. PROCESSUAL PENAL. ART. 313-A, CP. INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES. SERVIDOR PÚBLICO. CONCESSÃO INDEVIDA DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. AUTORIA E MATERIALIDADE. COMPROVAÇÃO. AÇÕES PENAIS EM CURSO. MAJORAÇÃO DA PENA BASE. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 444 STJ. 1- Apelações criminais interpostas pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL e por WILSON JOAQUIM DOS SANTOS a desafiar a sentença proferida pelo Juízo Federal da 4ª Vara da Seção Judiciária do Estado de Pernambuco, que, nos autos da ação penal n.º 001869-46.2003.4.05.8300, julgou procedente o pedido deduzido na denúncia, condenando o acusado à pena de 03 (três) anos de reclusão, substituída por duas restritivas de direitos, e multa de 03 (três) salários mínimos, pela prática do delito capitulado no art. 313-A, do Código Penal. 2- Segundo a denúncia, o acusado WILSON JOAQUIM DOS SANTOS, na qualidade de servidor público do INSS, mediante a inserção de dados falsos no sistema informatizado daquela autarquia, procedeu à liberação fraudulenta de aposentadoria por tempo de contribuição em nome de Carlos Alberto Alves de Araújo (NB n.º 42/114.706.068-9), recebida pelo aludido segurado no período compreendido entre 18/04/2000 e 31/03/2001. Consta, ainda, a informação de que o réu estaria sendo acusado pela prática de tal conduta delituosa também com relação a outros 14 (quatorze) inidôneos benefícios, objeto de outras ações penais. 3- Nas razões do apelo ministerial, o Parquet pretende a reforma da sentença a fim de que o quantum da pena aplicada seja majorado. 4- Em sede recursal, o recorrente WILSON JOAQUIM DOS SANTOS alega/requer, em suma: a) a atipicidade da conduta; b) a ausência de provas de que foi o apelante quem concedeu o benefício, tendo sido sua senha utilizada por terceiros; c) o sistema do INSS era falho à época dos fatos; d) ausência de treinamento/desvio de função na medida em que ocupava o cargo de agente de portaria; e) ausência de dolo; f) impossibilidade de utilização do PAD como único elemento para a condenação; e g) diminuição da pena cominada para o mínimo legal. 5- Da leitura dos elementos carreados aos autos do IPL n.º 574/2002, especialmente o Relatório Conclusivo Individual, elaborado pela Gerência Executiva do INSS em Recife, demonstram que o Benefício de Aposentadoria por Tempo de 1

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA LUCENA

APELAÇÃO CRIMINAL n.º 9735/PE 2003.83.00.001869-8

APTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALAPTE : WILSON JOAQUIM DOS SANTOSADV/PROC : JOSE CARLOS MEDEIROS E OUTROSAPDO : OS MESMOSORIGEM : 4ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (PRIVATIVA EM MATéRIAPENAL)RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA LUCENA

E M E N T A

PENAL. PROCESSUAL PENAL. ART. 313-A, CP. INSERÇÃO DE DADOS FALSOSEM SISTEMA DE INFORMAÇÕES. SERVIDOR PÚBLICO. CONCESSÃO INDEVIDADE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. AUTORIA E MATERIALIDADE.COMPROVAÇÃO. AÇÕES PENAIS EM CURSO. MAJORAÇÃO DA PENA BASE.IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 444 STJ.1- Apelações criminais interpostas pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL e porWILSON JOAQUIM DOS SANTOS a desafiar a sentença proferida pelo JuízoFederal da 4ª Vara da Seção Judiciária do Estado de Pernambuco, que, nos autosda ação penal n.º 001869-46.2003.4.05.8300, julgou procedente o pedido deduzidona denúncia,condenando o acusado à pena de 03 (três) anos de reclusão, substituída por duasrestritivas de direitos, e multa de 03 (três) salários mínimos, pela prática do delitocapitulado no art. 313-A, do Código Penal.2- Segundo a denúncia, o acusado WILSON JOAQUIM DOS SANTOS, naqualidade de servidor público do INSS, mediante a inserção de dados falsos nosistema informatizado daquela autarquia, procedeu à liberação fraudulenta deaposentadoria por tempo de contribuição em nome de Carlos Alberto Alves deAraújo (NB n.º 42/114.706.068-9), recebida pelo aludido segurado no períodocompreendido entre 18/04/2000 e 31/03/2001. Consta, ainda, a informação de que oréu estaria sendo acusado pela prática de tal conduta delituosa também comrelação a outros 14 (quatorze) inidôneos benefícios, objeto de outras ações penais.3- Nas razões do apelo ministerial, o Parquet pretende a reforma da sentença a fimde que o quantum da pena aplicada seja majorado.4- Em sede recursal, o recorrente WILSON JOAQUIM DOS SANTOS alega/requer,em suma: a) a atipicidade da conduta; b) a ausência de provas de que foi o apelantequem concedeu o benefício, tendo sido sua senha utilizada por terceiros; c) osistema do INSS era falho à época dos fatos; d) ausência de treinamento/desvio defunção na medida em que ocupava o cargo de agente de portaria; e) ausência dedolo; f) impossibilidade de utilização do PAD como único elemento para acondenação; e g) diminuição da pena cominada para o mínimo legal.5- Da leitura dos elementos carreados aos autos do IPL n.º 574/2002,especialmente o Relatório Conclusivo Individual, elaborado pela Gerência Executivado INSS em Recife, demonstram que o Benefício de Aposentadoria por Tempo de

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Contribuição nº 42/114.706.068-9, tendo como favorecido CARLOS ALBERTOALVES DE ARAÚJO, foi concedido irregularmente, em face da ausência decomprovação de vários períodos de contribuição. Materialidade delitiva sobejamentecomprovada.6- Autoria delitiva demonstrada pela participação/responsabilidade do recorrentenos atos de inserção de dados falsos no banco de dados do INSS relativamente aosegurado/beneficiário CARLOS ALBERTO ALVES DE ARAÚJO. Excertos dasentença transcritos adotados como razão de decidir.7- Afastada a alegativa de ter havido a utilização do PAD como único elemento paraembasar a condenação, porquanto, pela leitura do édito condenatório, observa-seque o decisum, além do PAD, tomou por base outros elementos de prova, como, porexemplo, prova oral produzida tanto em sede policial quanto judicial e expedienteenviado pela Gerência Regional do INSS na fase judicial.8- Reforma da avaliação negativa empreendida pelo juízo a quo quanto àpersonalidade do réu em razão da existência de ações penais em curso pelasuposta prática de outros crimes de inserção de dados falsos, sob pena de lesão aoprincípio constitucional da presunção de não culpabilidade. Aplicação da Súmula n.º444 do STJ (“É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em cursopara agravar a pena-base”). Precedentes.9- A circunstância de o réu ser servidor público do INSS, só por si, não pode servirao incremento da pena base porquanto a hipótese do art. 313-A do CP já trata decrime próprio, cujo sujeito ativo somente pode ser o funcionário público.10- O fato de o recorrente ter supostamente procedido à indevida concessão deoutros quatorze benefícios previdenciários não autoriza o aumento da reprimendanestes autos, sob pena violação ao princípio do ne bis in idem, na medida em quepor tais condutas o acusado vem respondendo em outras ações penais.11- Reduzindo o quantum do aumento da pena-base anteriormente aplicado, e,considerando a primariedade do recorrente, reputo razoável e legal a fixação dapena-base, para o tipo do art. 313-A do CP, em 02 (dois) anos e 06 (seis) meses dereclusão, o que, inexistindo agravantes/atenuantes e/ou causas deaumento/diminuição previstas, resulta na pena privativa de liberdade definitiva de02 (dois) anos e 06 (seis) meses de reclusão, a ser cumprida inicialmente emregime aberto (art. 33, § 2º, do CP).12- No mais, não merece reparo a sentença recorrida, tendo a Magistrada seguido,com precisão e ponderação, todas as três etapas que devem anteceder àcominação da penalidade, em estrita observância às circunstâncias judiciais (art. 59do CPB), agravantes, atenuantes, causas de aumento e de diminuição de pena,sem deixar de atentar para qualquer detalhe.Parcial provimento à apelação criminal interposta por WILSON JOAQUIM DOSSANTOS e não provimento do apelo ministerial.

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A C Ó R D Ã O

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,decide a Primeira Turma do egrégio Tribunal Regional Federal da 5.ª Região, porunanimidade, dar parcial provimento à apelação criminal interposta por WILSONJOAQUIM DOS SANTOS e negar provimento ao apelo ministerial, nos termos dorelatório e voto constantes dos autos que integram o presente julgado.

Recife, 11 de junho de 2014 (data do julgamento).

JOSÉ MARIA LUCENA,Relator.

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R E L A T Ó R I O

O Desembargador Federal JOSÉ MARIA LUCENA (Relator):

Trata-se de apelação criminal interposta por WILSON JOAQUIMDOS SANTOS (fls. 277/283 volume 2), a desafiar a sentença da lavra da MM. JuízaFederal Titular da 4ª Vara da Seção Judiciária do Estado de Pernambuco(226/235v), que, nos autos da ação penal n.º 001869-46.2003.4.05.8300, julgouprocedente o pedido deduzido na denúncia contida às fls. 04/07, condenando o recorrente às penas de 03 (três) anos de reclusão e 90 (noventa)dias-multa, pela prática do delito capitulado no art. 313-A, do Código Penal.

Narrou a denúncia que:

“Conforme apurado na Auditoria nº 35204.004603/2001-41 –INSS, e no inquérito policial nº 574/2002 – SR/PE, WILSONJOAQUIM DOS SANTOS, na condição de servidor público doINSS, lotado na Agência da Previdência Social MarioMelo/Recife, foi responsável pela liberação fraudulenta de 15(quinze) benefícios previdenciários da espécie aposentadoriapor tempo de contribuição no período de 1999 a 2001. Dentreestes benefícios fraudulentamente concedidos, consta aaposentadoria por tempo de contribuição nº42/114.706.068-9em nome de Carlos Alberto Alves de Araújo.

No curso das investigações procedidas na Auditoria nº35204.004603/2001-41, promovida pela Divisão de Auditoriaem Benefícios do INSS em 2001, e posteriormente, no âmbitodo inquérito policial nº 574/2002, restou plenamentedemonstrada a atuação de uma rede deintermediários/despachantes, que agiam em conluio comservidores do INSS e eram responsáveis pela cobrança devalores a título de remuneração dos referidos segurados, pelaprodução de documentos falsos e pelas entradas nosrequerimentos para concessão dos referidos benefíciosindevidos.

WILSON JOAQUIM DOS SANTOS, na condição de servidordo INSS competia analisar requerimentos de benefíciosprevidenciários, bem como os documentos que o instruíam, e

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acatar, como o fez 15 (quinze) vezes, requerimentos inidôneosde pretendentes benefícios, dentre as quais se encontram odo segurado Carlos Alberto Alves de Araújo.”

Nas razões de apelação, ofertadas pelo Ministério Público Federal,requer o Parquet a reforma da sentença, emitida pelo juízo federal de primeiro grau,no que tange à desproporcionalidade do quantum da pena aplicada, para que sejaesta majorada (fls. 237/240)

Nas Contrarrazões opostas face a apelação do Parquet federal oréu relata sua inconformidade com a pretensão do MPF quanto a proposta doaumento da pena, sem, contudo, elencar qualquer fundamento para tal pedido (fls.269/270)

Em sede recursal, o apelante alega a atipicidade da conduta previstano art. 313-A, do Código Penal Brasileiro. Aduz, ainda, que a denúncia éimprocedente, ante a ausência de dolo do acusado. Ademais, afirma não sevislumbrar um acervo probatório mínimo capaz de ensejar uma fundamentaçãoválida para a condenação. Por Fim, refere-se ao PAD, usado como base para adenúncia, como elemento não idôneo (fls. 277/283)

Por fim, pugna pelo provimento do recurso, para que seja reformadaa sentença monocrática, absolvendo-se o recorrente, com fulcro no art. 386 doCódigo de Processo Penal, ou, reduzindo-se a pena base para o mínimo legal.

O Ministério Público Federal apresentou contrarrazões requerendo oprovimento da apelação do MPF para majorar o quantum da pena-base e, o nãoprovimento da apelação de Wilson Joaquim dos Santos (fls. 285/289).

O eminente Procurador Regional da República, Dr. FÁBIO GEORGECRUZ DA NÓBREGA, ofertou parecer no sentido do conhecimento de ambos osrecursos manejados e do provimento, apenas, da apelação interposta peloMinistério Público Federal (fls. 237/240v), com o objetivo de aumentar a penaprivativa de liberdade aplicada, pelo juízo originário (fls. 292).

RELATEI.

Ao eminente Revisor.

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V O T O

O Desembargador Federal JOSÉ MARIA LUCENA (Relator):

Trata-se de apelações criminais interpostas pelo MINISTÉRIOPÚBLICO FEDERAL e por WILSON JOAQUIM DOS SANTOS a desafiar a sentençaproferida pelo Juízo Federal da 4ª Vara da Seção Judiciária do Estado dePernambuco, que, nos autos da ação penal n.º 001869-46.2003.4.05.8300, julgouprocedente o pedido deduzido na denúncia,condenando o acusado à pena de 03 (três) anos de reclusão, substituída por duasrestritivas de direitos, e multa de 03 (três) salários mínimos, pela prática do delitocapitulado no art. 313-A, do Código Penal.

Segundo a denúncia, o acusado WILSON JOAQUIM DOS SANTOS,na qualidade de servidor público do INSS, mediante a inserção de dados falsos nosistema informatizado daquela autarquia, procedeu à liberação fraudulenta deaposentadoria por tempo de contribuição em nome de Carlos Alberto Alves deAraújo (NB n.º 42/114.706.068-9), recebida pelo aludido segurado no períodocompreendido entre 18/04/2000 e 31/03/2001.

Consta, ainda, a informação de que o réu estaria sendo acusadopela prática de tal conduta delituosa também com relação a outros 14 (quatorze)inidôneos benefícios, objeto de outras ações penais.

Portanto, a presente ação penal restringe-se apenas à concessãofraudulenta da aposentadoria por tempo de contribuição em nome de Carlos AlbertoAlves de Araújo, falecido em 01/08/2005 (fl. 583, IPL).

Pois bem.

Entendo que a sentença deve ser reformada em parte. Explico.

O Ministério Público Federal apresentou denúncia imputando aoacusado WILSON JOAQUIM a prática do delito capitulado no art. 313-A, do CódigoPenal.

Inserção de dados falsos em sistema de informações

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção dedados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nossistemas informatizados ou bancos de dados da Administração

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Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outremou para causar dano:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Primeiramente, no que toca à materialidade delitiva, da leitura dosautos, vê-se que os elementos carreados aos autos do IPL n.º 574/2002,especialmente o Relatório Conclusivo Individual, elaborado pela Gerência Executivado INSS em Recife (fls. 409/412, apenso 4), demonstram que o Benefício deAposentadoria por Tempo de Contribuição nº 42/114.706.068-9, tendo comofavorecido CARLOS ALBERTO ALVES DE ARAÚJO, foi concedido irregularmente,em face da ausência de comprovação de vários períodos de contribuição.

Ainda, no ponto, o juízo singular pontuou que (fls. 226/235):

(...)22. De acordo com pesquisa efetuada no Cadastro Nacional deInformações Sociais - CNIS, cujas planilhas se encontram às fls.389/391 e nos documentos de fls. 392/394, do apenso 3 do IPL,constatou-se a não comprovação dos supostos vínculosempregatícios do segurado CARLOS ALBERTO ALVES DEARAÚJO nas empresas CARROCERIAS BRASILEIRAS S/A, noperíodo de 11/01/63 a 18/01/70, e na SOCIEDADE COMERCIALDE MÓVEIS LTDA, no período de 30/09/86 a 14/01/00. Verificou-se, ainda, a majoração do tempo de contribuição, referente àsempresas CELPE, de 01/12/71 a 17/07/78 para 01/12/71 a15/01/80, e com AP. TRANSPORTE E REPRESENTAÇÕES, de20/11/80 a 06/01/84 para 20/11/80 a 03/01/85. 23. O prejuízo total causado pela percepção fraudulenta daaposentadoria, durante o período de 18/04/2000 a 31/03/2001 foide R$ 14.081,29 (catorze mil e oitenta e um reais e vinte e novecentavos), consoante levantamento de valores às fls. 405/407 doapenso 4 do IPL.(...)

Materialidade delitiva sobejamente comprovada.

De outro giro, com relação à autoria delitiva, a controvérsia cinge-seà participação/responsabilidade (ou não) do recorrente nos atos de inserção dedados falsos no banco de dados do INSS relativamente ao segurado/beneficiárioCARLOS ALBERTO ALVES DE ARAÚJO.

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Em sua defesa, o recorrente WILSON JOAQUIM DOS SANTOSalega, entre outros: a) a atipicidade da conduta; b) a ausência de provas de que foio apelante quem concedeu o benefício, tendo sido sua senha utilizada por terceiros;c) o sistema do INSS era falho à época dos fatos; d) ausência detreinamento/desvio de função na medida em que ocupava o cargo de agente deportaria; e e) ausência de dolo.

Em contrapartida, sobre tais alegativas, colho do decisum recorrido,o seguinte excerto, ora adotado como razão decidir por seus próprios fundamentos(fls. 226/235):

(...)25. Analisando a AUTORIA DELITIVA, de seu turno, exsurgem orelatório conclusivo da autarquia previdenciária a identificar queo benefício concedido indevidamente fora implementado peloacusado, então servidor daquela entidade (fls. 409/412 do apenso4 do IPL) e os depoimentos prestados perante a autoridade policial eeste Juízo, a levar a crer ser o acusado o autor do delitivo emapreço.

26. Com efeito, a concessão irregular do referido benefício somentefoi possível devido à inserção, nos sistemas de informática daPrevidência Social, de dados inverídicos, sem a devida comprovação,efetuada pelo então servidor do INSS, ora réu, WILSON JOAQUIMDOS SANTOS, mat. 0904093, responsável pela concessão daaposentadoria, desde a Pré-habilitação até a Formatação daConcessão, conforme se verifica no documentos "Auditoria doBenefício" de fls. 388 do apenso 3 do IPL.

27. Constatou-se, ainda, pelas peças do ProcessoAdministrativo nº 35204.004605/2001-77 (fls. 371/412 dosApensos 3 e 4 do IPL), que o acusado registrou no Resumo deDocumentos Para Cálculo de Tempo de Serviço (fls. 415/417 doapenso 4 do IPL), os vínculos de trabalhos com as empresasmencionadas no item 20, sem a devida confirmação, deixandode fazer o cruzamento das informações e dados declarados ouapresentados pelo segurado com os dados da empresa,conforme determinado no art. 333 do Decreto 3.048/06/05/1999,atentando-se para o contido no relatório CNIS, no qual seevidencia que o acusado não utilizou os dados do aplicativoCNIS.

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28. Ainda que a consulta ao CNIS não fosse realmenteobrigatória à época (o que não ficou totalmente claro nos autosdurante a instrução processual) e que o número deatendimentos por dia fosse alegadamente excessivo, no casodo benefício em foco verifica-se que não foi tomado o menorcuidado para evitar-se a fraude.

29. Com efeito, a Divisão de Auditoria em Benefício do INSScomprovou que a empresa SOCIEDADE COMERCIAL DE MÓVEISLTDA não funcionava há vários anos no endereço informado nosdocumentos de fls. 381/382 do apenso 4, tratando-se de endereçofictício utilizado com o objetivo de burlar a Previdência Social,conforme informação à fl. 392 do apenso 3. Ademais, verificou-seque a referida empresa foi utilizada na concessão irregular deoutras aposentadorias, razão pela qual o INSS entendeu carecerde legitimidade os salários de contribuição de fls. 381/382 doapenso 3, apresentado pelo segurado CARLOS ALBERTOALVES DE ARAÚJO para fins de cômputo para o cálculo dovalor da aposentadoria.

30. Acrescente-se que o acusado WILSON JOAQUIM DOS SANTOStinha conhecimento da extemporaneidade da CTPS utilizada paraconfirmação do primeiro vínculo empregatício do segurado CARLOSALBERTO ALVES DE ARAÚJO, emitida em 21/06/67, enquanto queo vínculo empregatício com a empresa CARROCERIASBRASILEIRAS S/A foi registrado em 11/01/63.

31. Dessa forma, considerando-se que o segurado não possuía otempo de serviço mínimo para obtenção da aposentadoria emreferência, sendo o benefício concedido em desacordo com o quepreceitua no art. 56, do Decreto 3.048, de 06/05/99, houve asuspensão da aposentadoria a partir da competência abril/2001.

32. Registre-se mais uma vez que, apesar de comprovada a autoriadelitiva em relação ao segurado CARLOS ALBERTO ALVES DEARAÚJO, este veio a falecer 01/08/2005 (certidão de óbito à fl. 583do IPL), razão pela qual restou extinta a sua punibilidade, na formado art. 107, I, do CPB.

33. Por sua vez, destaque-se que o acusado WILSON JOAQUIMDOS SANTOS, além do benefício fraudulento, objeto da denúncia,está sendo acusado de ser o responsável, na condição de servidorpúblico do INSS, lotado na Agência da Previdência Social Mario

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Melo/Recife, pela concessão também de forma irregular em comcaracterísticas semelhantes de no toal 15 (quinze) benefíciosprevidenciários da espécie aposentadoria por tempo de contribuiçãono período de 1999 a 2001, conforme apurado na Auditoria nº35204.004603/2001-41 - INSS e no IPL nº 574/2002.

34. Restou demonstrado em relatório constante do IPL, preparadopela Divisão de Auditoria em Benefícios do INSS, a atuação de umarede de intermediários/despachantes, agindo em conluio comservidores do INSS, entre eles o ora acusado, consistente naconcessão de benefícios com documentos extemporâneos einautênticos; alteração de data de nascimento do segurado comvistas a dar legalidade aos vínculos fictícios; alteração dasremunerações dos titulares dos benefícios sempre os colocando emvalores próximos do teto do RGPS; concessão de benefícios comCTPS extemporâneas, sem emissão de solicitação de pesquisa;concessão de benefícios sem efetuar consulta no aplicativo CNIS ereabertura de benefícios indeferidos sem provocação da parteinteressada.

35. Ressalte-se, no entanto, que apesar da comprovação daexistência de outros benefícios concedidos de forma irregular peloora acusado, a presente ação penal restringe-se apenas àconcessão fraudulenta da aposentadoria por tempo de contribuiçãoem nome de CARLOS ALBERTO ALVES DE ARAÚJO (NB nº114.706.068-9).

36. O auditor do INSS, JOSÉ EVILÁSIO RIBEIRO LIMA,responsável pelo relatório do Processo Administrativo nº35.204.004605/2001-77, quando ouvido perante a autoridadepolicial (fls. 126/127 do IPL), confirmou que WILSON JOAQUIMDOS SANTOS, juntamente com outros servidores, concederamconscientemente diversos benefícios irregulares. Nessesentido:

"QUE se recorda de uma Auditoria extraordinária realizada naAgência Mario Melo do INSS; (...) QUE a mencionada Auditoriaocorreu no primeiro semestre de 2001 e foi coordenada peloDeclarante, que acompanhou toda a sua tramitação; QUE foramauditados cinquenta e três processos de concessão de benefíciose todos apresentaram irregularidades; QUE além do servidorWILSON JOAQUIM DOS SANTOS, lotado na Agencia MarioMelo, outros três ou quatro servidores da mesma agência

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haviam concedido benefícios sem o atendimento dosrequisitos legais; QUE as irregularidades mais frequentesdiziam respeito a uso de documentos falsos, inserção decontratos de trabalhos fictícios, majoração do tempo deduração dos contratos de trabalhos e dos salários decontribuição; QUE na maioria dos casos as fraudes poderiamter sido detectadas pelo servidor responsável pelaconcessão, o que evidencia a conivência deste; (...) QUE aAuditoria de Benefícios que coordenou ouviu alguns dosbeneficiários cujos processos continham irregularidades eos mesmos afirmaram que chegaram a pagar propinas aservidores do INSS da Agencia Mario Melo, com participaçãodos intermediários, cujos nomes não sabe precisar; QUE oprocedimento correto de recepção e análise de documentospara a concessão de benefícios consiste em receber oservidor os documentos apresentados pelo interessado,confrontando-os com os dados contidos no CNIS; QUE,quanto aos contratos não cadastrados no CNIS, deve oservidor analisar criteriosamente a CTPS e/ou os demaisdocumentos apresentados pelo requerente, realizandoinclusive uma pesquisa externa, em caso de suspeitas, parasó então alimentar o sistema; QUE conforme mencionadoanteriormente, restou evidenciada a participação deservidores da aludida Agencia, pois a mera confrontação dosdocumentos apresentados pelo interessado com os dadosdo CNIS, seria suficiente para detectar a divergência deinformações (...)."

37. Quando inquirido em Juízo, na condição de testemunha deacusação, JOSÉ EVILÁSIO RIBEIRO LIMA, além de ter confirmado oseu depoimento prestado perante a Polícia Federal, acrescentou queexistia uma senha pessoal e intransferível utilizada pelosservidores do INSS para a concessão de benefíciosprevidenciários.

38. Por sua vez, o réu WILSON JOAQUIM DOS SANTOS, quandointerrogado em Juízo (mídia digital à fl. 177), afirmou, em sua defesa,que exercia a função de agente de portaria na APS - Mario Melo eque, posteriormente, passou a ajudar no atendimento dos seguradose na habilitação de benefícios, transferindo os dados constantes daCTPS para os sistemas do INSS. Contudo, não era responsável pelaconcessão dos benefícios, uma vez que havia um setor de guardaresponsável pelas concessões.

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(...)

40. Quanto ao fato de seu nome constar como responsável pelaconcessão de diversos benefícios irregulares, afirmou que acreditaque tenham se utilizado, de má fé, de sua senha, já que, segundoele, esta era de conhecimento de terceiros.

41. Diante da possibilidade de outro servidor ter se utilizado dasenha pessoal do acusado, determinou-se a notificação doDATAPREV para que informasse a respeito de uma possível"extensão de senha" referente à matrícula do acusado, bemcomo os horários em que foram dados os comandos dedeferimento de todos os benefícios irregulares, tendo o INSSinformado que desconhecia o termo "extensão de senha" noâmbito da autarquia previdenciária, além do que não haveriaregistro no sistema dos horários de concessão dos benefícios.

42. Como se vê, a defesa do acusado não comprovou a alegação deque haveria extensão de senha entre os servidores do INSS, ou seja,de que outros servidores possam ter se utilizado da senha pessoal eintransferível do réu WILSON JOAQUIM DOS SANTOS paraconceder benefícios de forma fraudulenta.

43. Acrescente-se que a própria testemunha arrolada pela defesa,MARIA DO AMPARO PESSOA DE MELO, que trabalhou com oacusado por mais de dez anos no posto do INSS da Mario Melo,afirmou, em seu depoimento (fls. 150/152), que atuava,juntamente com o réu, no setor de concessão de benefícios eque eles eram responsáveis pela verificação da autenticidadedos documentos juntados aos requerimentos. Declarou, ainda,que nunca teve conhecimento de casos de utilização da senhado servidor por terceiros.

44. Portanto, tais declarações contradizem os argumentos utilizadospela defesa do réu, de que não era responsável pela concessão debenefícios, bem como a alegada "extensão de senha".

45. Também não procede o argumento do réu, de que sua senhasomente permitia habilitar benefícios, mas não concedê-los,pois no processo administrativo de concessão do benefício emfoco consta exatamente a sua matrícula como servidorconcessor (vide, nesse sentido, fls. 388 do Apenso 3).

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(...)

48. Argumenta, por fim, o acusado, em sua defesa, que nãorecebera treinamento específico para trabalhar nessa função,contudo consoante as informações prestado pelo réu em seuinterrogatório judicial foi possível perceber que ele era umservidor experiente e que trabalhou 22 anos no INSS,exercendo, inclusive, por aproximadamente dez anos, aatividade de habilitação e concessão de benefíciosprevidenciários, a qual não exigia maiores complicações.

49. Ainda que o cargo do réu (agente de portaria) não fosse omais adequado àquela atribuição de concessão de benefício,tendo ocorrido desvio de função, é imperioso realçar que o foipor necessidade do serviço e até mesmo em benefício doservidor que, registre-se, sequer demonstrou estar insatisfeitopor trabalhar naquela função. Apenas quando lhe foi oportunoinvocar o desvio de função para tentar justificar os errosadministrativos cometidos passou a fazê-lo.

50. Ademais, se a regra de competência - como afirmado peloacusado - era a de a sua chefia imediata proceder à concessãodo benefício, e não ele próprio, não se desincumbiu ele decomprovar essa afirmação. E mesmo que a houvesseconfirmado, não restaria eximido de responsabilidade, pois,como dito acima, tinha conhecimento das rotinas a seremseguidas para a concessão do benefício e, se não as seguiu, fê-lo dolosamente (voluntária e conscientemente), devendoresponder pelas consequências de sua conduta.

51. Note-se que as mencionadas rotinas consistiam em, nãoconstando do CNIS o vínculo consignado na carteiraprofissional do requerente, com indicação de possível rasura,providenciar o servidor uma pesquisa na empresa, contudoessa pesquisa não foi realizada.

(...)54. Por fim, registre que, consoante o teor do ofício nº082/2004/INSS/CORREC (fl. 02 do apenso 07 do IPL), o acusadoWILSON JOAQUIM DOS SANTOS respondeu ao ProcessoAdministrativo Disciplinar nº 35204.004603/01-41, em razão daconcessão de 15 (quinze) benefícios fraudulentos, mediante o uso do

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mesmo modus operandi (inserção de tempos de contribuiçãomajorada ou inexistentes), tendo ocasionado sua demissão emsetembro de 2004.

55. A renovação da conduta alegadamente fraudulenta emtantos casos afasta a tese da defesa de que teriam ocorridomeros erros funcionais, sem dolo criminoso.(...)59. A caracterização do dolo, no que concerne ao delito do art. 313-Ado Código Penal, dá-se quando (i) o agente (funcionário público)voluntariamente insere dados falsos nos sistemas informatizados daAdministração Pública (no caso, INSS), sabendo de sua falsidade,com o fim de acarretar vantagem indevida para si, para outrem(beneficiário da aposentadoria indevida) ou apenas para causar danoa Instituição, bem como quando aquele modifica dados no sistema deinformática do órgão sem a autorização competente.

60. No caso em foco, pelas ponderações acima já feitas, entendoperfeitamente delineado o dolo da conduta do ex-servidorWILSON JOAQUIM DOS SANTOS, porque tinha plena ciência deque o segurado CARLOS ALBERTO ALVES DEA ARAUJO nãodetinha tempo de contribuição mínima para a aposentadoria,mas mesmo assim resolveu fraudar o sistema para que aconcessão ocorresse ao arrepio da lei.

61. Nem se diga que o réu WILSON JOAQUIM não soubesse o queestava fazendo, já que se tratava de funcionário bastante experiente,com mais de 23 (vinte e três) anos de serviços prestados ao INSS, ademonstrar que compreendia muito bem o modo de funcionamentodo órgão e as regras atinentes à concessão do benefício emquestão.

62. Se executava atividade em desvio de função ou não, isso éirrelevante para a consumação do crime, até porque seu erronão se deu no exame dos requisitos necessários à concessãodo benefício, mas sim por inserção deliberada de datas falsasde tempo de serviço, atividade esta que independe de qualquerconhecimento técnico do servidor público para ser realizadacorretamente.

63. A verdade é que ele procedeu deliberadamente à digitaçãodos dados falsos no sistema, não tendo falhado na execução doserviço por falta de instrução de seus superiores, por falta de

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cursos instrutivos acerca das rotinas da Autarquia, porsupostamente estar executando atividades em desvio de funçãopara a qual não teria sido instruído, nem nada dessa natureza,como quer dar a entender, mormente porque já há anosdesenvolvia tal sorte de atividade.

64. Ao contrário, sua experiência possibilitou ter conhecimentoda brecha existente no processo concessório a possibilitar umservidor a inserir dados falsos no sistema e com issofundamentar indevidamente a concessão de um benefício.

(...). (g.n.)

Da mesma forma, fica afastada a alegação da defesa no sentido deter havido a utilização do PAD como único elemento para embasar a condenação,porquanto, pela mera leitura do édito condenatório, observa-se que o decisum, alémdo PAD, tomou por base outros elementos de prova, como, por exemplo, prova oralproduzida tanto em sede policial quanto judicial e expediente enviado pela GerênciaRegional do INSS em Recife na fase judicial (fls. 179 e 183).

Por fim, no ponto alusivo à dosimetria, a defesa pede a diminuiçãoda pena cominada para o mínimo legal, ao passo que o MINISTéRIO PúBLICOFEDERAL pugna pela majoração da pena base.

A pena prevista no Código Penal para o tipo descrito no art. 313-A(Inserção de dados falsos em sistema de informações), prevê a sanção de 2 (dois) a12 (doze) anos, e multa.

Sobre a dosimetria, o juízo a quo estabeleceu o seguinte (fls.226/235):

(...)1ª FASE: DOSAGEM DA PENA-BASEA - Culpabilidade(...)70. Nesta fase da dosimetria, cabe ao juiz avaliar, não mais apresença dos pressupostos acima declinados, sem os quais não hácrime, mas o grau de censura social que incide sobre o agente esobre o fato cometido. Assim é que, nesta oportunidade, classifica-sea culpabilidade entre intensa, média ou reduzida.

71. No presente caso, o réu WILSON JOAQUIM DOS SANTOS erafuncionário do INSS há bastante tempo e conhecia os procedimentos

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a serem seguidos para a concessão regular dos benefíciosprevidenciários. A despeito disso, deliberadamente infringiu seudever funcional e inseriu dados falsos nos sistemas informatizados doINSS, concedendo o benefício de aposentadoria fraudulento em foco,assim agindo, provavelmente, em troca da percepção de vantagemindevida.

72. O grau de reprovação de sua conduta, portanto, é deconsiderável. É que é justamente dos servidores do INSS,porque representam a autarquia, que a sociedade mais esperauma atuação conforme os seus deveres funcionais,principalmente em tempos de déficit cada vez mais crescente daPrevidência Social, como se tem notícia hodiernamente.

B - Antecedentes, Conduta Social e Personalidade

73. Em obediência ao princípio constitucional da presunção deinocência e em anuência ao entendimento esposado por boa parteda doutrina e reiteradamente assentado na jurisprudência, inclusivedo STF e STJ, entendo como maus antecedentes - a seremsopesados negativamente em desfavor do réu - apenas os registrosem folhas de antecedentes criminais que representem condenaçãocom trânsito em julgado e que, adiante, não possam ser acatadascomo agravante genérica da reincidência.

74. Quanto à conduta social, deve o magistrado perquirir, diante dasprovas coligidas e se assim for possível, a folha de antecedentescriminais do réu, o papel assumido por ele na sociedade, sua formade se portar no ambiente familiar, profissional, perante seus vizinhos,conhecidos e amigos, para que se possa concluir se este secomporta ou não de acordo com as normas sociais que exigem umaconduta harmônica e baseada em respeito mútuo.

75. No presente caso, trata-se de réu que não possuiantecedente criminal. O fato de responder a diversas açõescriminais neste Juízo, pela suposta prática de outros crimes deinserção de dados falsos, em razão da concessão de outrosbenefícios de forma fraudulenta, não é suficiente paracaracterizar como antecedente negativo, uma vez que nãopossui, ainda, nenhuma condenação com trânsito em julgado.

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76. Contudo, deve-se ao menos considerar que esses registrosrepresenta um indício de personalidade voltada para o crime, oque deve ser levado em desfavor do acusado.

77. Por sua vez, em relação à conduta social do réu, nada nosautos indica que possa ser desabonadora.

C - Motivos, Circunstâncias e Conseqüências do Crime

78. A motivação não restou declinada.

79. No que concerne às circunstâncias do delito, nada mereceregistro específico, haja vista que elas são aquelas já pressupostaspelo tipo incriminador. Ainda que se considere que eram muitos osatendimentos diários no Posto em que trabalhava o réu, essacircunstância somente poderia ajudá-lo, mas não prejudicar suasituação neste processo.

80. Como se sabe, a prática de qualquer crime traz conseqüências jáimplícitas à violação da norma, que, inclusive, podem compor opróprio tipo penal infringido. Inobstante, como circunstâncias judiciais,não serão essas as conseqüências analisadas e sopesadas, mas simaquelas que extrapolam o cometimento padrão do ilícito em questão.

81. De seu turno, no que se refere às conseqüências do delito,pode-se apontar o prejuízo material provocado ao INSS em faceda conduta do acusado, que foi razoável (mais de cartorze milreais, em valores históricos), além do prejuízo moral para aAdministração Pública, por possuir em seus quadros servidorque infringiu seus deveres funcionais.

D - Comportamento da vítima

82. O comportamento da vítima (INSS) no presente caso,considerando-a o órgão em toda sua estrutura, com as deficiênciasque lhe são peculiares, pode ser encarado como facilitador daconduta do réu, na medida em que não existia uma estruturafuncional de vigilância constante das concessões de benefíciosprevidenciários, que pudesse evitar as fraudes.

Pena-base

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83. O art. 313-A, do Código Penal, prevê uma pena de reclusão de 2(dois) a 12 (doze) anos.

84. Considerando o acima fundamentado, em especial, o grau dereprovação da conduta, a personalidade do agente, asconsequências e o comportamento da vítima, fixo a pena-baseprivativa de liberdade em 03 (três) anos de reclusão.

2ª FASE: CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES E AGRAVANTES

85. Não vislumbro a configuração de qualquer agravante, nemmesmo aquela descrita no art. 61, III, "g", do Código Penal, por ser aviolação do cargo elementar dos delitos funcionais cometidos.

86. Da mesma forma, não constato a configuração de qualquercircunstância atenuante.

3ª FASE: CAUSAS DE DIMINUIÇÃO E DE AUMENTO DA PENA

87. Não vislumbro a existência de qualquer causa geral ouespecial de diminuição ou aumento de pena.

Pena privativa de liberdade definitiva

88. Assim sendo, a pena privativa de liberdade definitiva impostaao acusado é de 3 (três) anos de reclusão, a ser cumprida emregime aberto (art. 33, §2º, "c", do CP).(...). (g.n.)

Da leitura da parte dispositiva da sentença, verifica-se que o juízo aquo avaliou negativamente a personalidade do réu em razão da existência dediversas ações penais em curso pela suposta prática de outros crimes de inserçãode dados falsos.

No entanto, tal proceder merece reparo em razão da vedaçãocontida na Súmula n.º 444 do STJ (“É vedada a utilização de inquéritos policiais eações penais em curso para agravar a pena-base”), acatada pelos tribunais pátrios,senão vejamos:

PENAL. RECLAMAÇÃO. TURMA RECURSAL DE JUIZADOESPECIAL CRIMINAL ESTADUAL. ART. 1º DA RESOLUÇÃO12/2009, DO STJ. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIALCONFIGURADA. DOSIMETRIA. CONSIDERAÇÃO DE

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INQUÉRITOS POLICIAIS E TERMOS CIRCUNSTANCIADOS PARAA EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. INEXISTÊNCIA DECONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO. IMPOSSIBILIDADE.SÚMULA 444/STJ. RECLAMAÇÃO JULGADA PROCEDENTE.I. É cabível a ação de reclamação para "dirimir divergência entreacórdão prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudência doSuperior Tribunal de Justiça, suas súmulas ou orientaçõesdecorrentes do julgamento de recursos especiais processados naforma do art. 543-C do Código de Processo Civil", nos termos daResolução 12/2009, do STJ.II. Hipótese em que foram considerados quatro registros deInquéritos Policiais e três Termos Circunstanciados,instaurados contra o reclamante, para a exasperação da suapena-base, tanto a título de maus antecedentes, como deconduta social e personalidade desfavoráveis, o que constituiflagrante afronta à Súmula 444 do STJ, que estabelece que "Évedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais emcurso para agravar a pena-base", devendo, pois, ser excluídosdo cálculo da pena-base, à mingua de condenação transitadaem julgado.III. A jurisprudência da 3ª Seção do STJ, interpretando a Súmula444/STJ, tem entendido que "inquéritos policiais ou açõespenais em andamento não se prestam a majorar a pena-base,seja a título de maus antecedentes, conduta social negativa oupersonalidade voltada para o crime, em respeito ao princípio dapresunção de não culpabilidade" (STJ, HC 206.442/SP, Rel. Min.LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, DJe de 02/04/2013).IV. Reclamação julgada procedente.(STJ - RCL 201201445104, Relatora Ministra Assusete Magalhães,Terceira Seção, DJE de 10/05/2013)

HABEAS CORPUS. PENAL. ART. 344, CAPUT, DO CÓDIGOPENAL. CONDENAÇÃO. FIXAÇÃO DA PENA-BASE.CULPABILIDADE: FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. MAUSANTECEDENTES: AUSÊNCIA DE CONDENAÇÕES TRANSITADASEM JULGADO. IMPOSSIBILIDADE DE CONSIDERAÇÃO.INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 444 DESTA CORTE. PRETENSÃODE INICIAR O CUMPRIMENTO DA PENA NO REGIME ABERTO.POSSIBILIDADE. ART. 33, §§ 2.° E 3.°, C.C. O ART. 59, AMBOSDO CÓDIGO PENAL. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N.º 440 DASÚMULA DESTA CORTE. ORDEM DE HABEAS CORPUSCONCEDIDA.

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1. O julgador deve, ao individualizar a pena, examinar com acuidadeos elementos que dizem respeito ao fato, obedecidos e sopesadostodos os critérios estabelecidos no art. 59 do Código Penal, paraaplicar, de forma justa e fundamentada, a reprimenda que seja,proporcionalmente, necessária e suficiente para reprovação docrime.2. A grave ameaça, utilizada pelo Juízo Sentenciante para majorar apena-base, constitui elemento inerente ao delito de coação no cursodo processo.3. Inquéritos policiais ou ações penais em andamento não seprestam a majorar a pena-base, seja a título de mausantecedentes, conduta social negativa ou personalidadevoltada para o crime, em respeito ao princípio da presunção denão culpabilidade. Incidência do enunciado n.º 444 da Súmuladesta Corte. Precedentes.4. Fixada a pena-base no mínimo legal, porque reconhecidas ascircunstâncias judiciais favoráveis ao réu primário, não é cabívelinfligir regime prisional mais gravoso apenas com base na gravidadegenérica do delito. Inteligência do art. 33, §§ 2.º e 3.º, c.c. o art. 59,ambos do Código Penal. 5. Ordem de habeas corpus concedidapara, mantida a condenação do Paciente, reformar a sentença deprimeiro grau e o acórdão impugnados, no tocante à dosimetria dapena e ao correspondente regime prisional, nos termos explicitadosno voto.(STJ - HC 201300593134, Relatora Ministra Laurita Vaz, QuintaTurma, DJE de 06/06/2013)

Também desta e. Turma, destaco:

PENAL. ASSALTO À AGÊNCIA DOS CORREIOS. USO DE ARMADE FOGO. ART. 157, PARÁGRAFO 2º, I, II E V DO CP.PARTICIPAÇÃO DE MENOR. ART. 244-B DO ECA.MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. ATENUANTE DECONFISSÃO. PEDIDO PREJUDICADO. DOSIMENTRIA DA PENA.PENA-BASE. CONDUTA SOCIAL E PERSONALIDADE. SÚMULA444 DO STJ. ROUBO MAJORADO. QUALIFICADORAS.REDUÇÃO. MODIFICAÇÃO DO REGIME INICIAL DA PENA. ART.33, PARÁGRAFO 2º, II, DO CP. APELAÇÕES CRIMINAISPARCIALMENTE PROVIDAS.1. Apelações criminais interpostas por EDNILTON ROCHA SANTOSe PAULO RICARDO DOS SANTOS em face de sentença prolatadapelo Juízo da 1ª Vara Federal de Sergipe, que julgou procedentedenúncia ofertada pelo MPF e os condenou, respectivamente, às

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penas privativas de liberdade de 7 anos de reclusão e multa de 15dias-multa e 7 anos e 10 meses de reclusão e 20 dias-multa, emregime inicial fechado, ambos pela prática dos crimes capituladosnos arts. 157, caput, parágrafo 2º, incisos I, II e V do CPB (roubocom o emprego de arma de fogo, concurso de agentes e restriçãoda liberdade das vítimas) e 244-B do Estatuto da Criança e doAdolescente (corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la),em concurso material.2. De acordo com a acusação, os apelantes, juntamente com outroindivíduo menor de 18 anos, já falecido, subtraíram, no dia 7/5/2010,com o uso de arma de fogo, valores e objetos da Agência dosCorreios do Município de Japaratuba/SE e de clientes e funcionáriosque nela se encontravam.(...)4. Em relação à atenuante da confissão, resta esvaziado o apelo,vez que tal elemento foi considerado pelo Juízo a quo na segundafase da dosagem.5. Sobre a dosimetria da pena, assiste parcial razão aoapelante, pois a jurisprudência das Cortes Superiores afirmaque há constrangimento ilegal quando ações e inquéritos emandamento são considerados na majoração da pena-base, atítulo de maus antecedentes, má conduta social epersonalidade voltada para o crime, orientação recentementecristalizada na Súmula 444 do STJ.6. Dessa forma, não podendo ser negativamente considerada taiscircunstâncias, como feito pelo juízo de primeiro grau, deve serreformada a sentença para fixar a pena-base no mínimo legal (4anos para o crime de roubo e 1 ano para o crime do art. 244-B doECA).7. Igual destino merece o julgado quanto à fixação da causa deaumento em razão dos incisos I, II e V, do parágrafo 2º, do art. 157,do CP. É que, na hipótese de utilização do parâmetro objetivo paraaplicação do referido dispositivo, observa-se que não forampraticados todos os atos previstos nos incisos, não se justificando aimposição do aumento máximo permitido (1/2). De igual sorte, seutilizado o parâmetro subjetivo, vê-se que as condutas comprovadasnos autos não se mostraram graves, tampouco fora dascircunstâncias inerentes ao tipo. Com efeito, a todo instante osassaltantes pediram e mantiveram a calma durante oempreendimento, inexistindo agressão física ou verbal que mereçadestaque, assim como não foram utilizadas armas de grosso calibreou métodos que diferenciem o evento de outros semelhantes.

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8. A escolha do regime fechado deve ser concretamentefundamentada, principalmente se a dosagem final da pena permitir,em tese, regime menos grave. No caso concreto, tratando-se depena inferior a 8 anos, sendo os réus tecnicamente primários e nãopossuindo circunstâncias negativas contra si, deve ser imposto oregime semi-aberto para o cumprimento inicial da pena, nos termosdo art. 33, parágrafo 2º, b, do Código Penal, sem prejuízo àmanutenção da prisão preventiva decreta em sentença e nãoimpugnada nas razões recursais.9. Parcial provimento às apelações interpostas pela defesa, parareduzir as penas impostas aos acusados, fixando-as no mínimolegal, e alterar o regime de cumprimento inicial da pena, nos moldesda fundamentação supra, mantendo-se a decisão condenatória nosseus demais termos.(TRF5 - PROCESSO: 00040891820114058500, ACR9067/SE,RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL MANOEL ERHARDT,Primeira Turma, JULGAMENTO: 21/03/2013, PUBLICAÇÃO: DJE26/03/2013 - Página 341)

PENAL E PROCESSUAL PENAL. USO DE DOCUMENTO FALSO.ART. 304 DO CÓDIGO PENAL. CARTEIRA DO EXÉRCITOBRASILEIRO FALSIFICADA.PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIADA JUSTIÇA FEDERAL. CONJUNTO PROBATÓRIO SUFICIENTEPARA DETERMINAR A MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVA.PRESENÇA DO DOLO. CRIME IMPOSSÍVEL. FALSIFICAÇÃOGROSSEIRA. INEXISTÊNCIA. PERSONALIDADE VOLTADA PARAO CRIME E CONDUTA SOCIAL DESABONADORA. INEXISTÊNCIADE CONDENÇÃO DEFINITIVA. IMPOSSIBILIDADE. PENA-BASE.REDUÇÃO.1. A falsificação de documento público, consistente em carteira deidentificação do Exército Brasileiro, está relacionada a serviços daUnião, na medida em ofende serviços e interesses da União.Competente da Justiça Federal para julgar a ação. Preliminarrejeitada.2. Objetiva o apelante modificação da sentença que o condenou àpena de 2 anos de reclusão, em regime aberto e 10 dias-multa, pelaprática do crime tipificado no art. 304 (uso de documento falso) doCódigo Penal. A pena privativa de liberdade foi substituída por duasrestritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços àcomunidade e prestação pecuniária.(...)

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9. Para majorar a pena-base a Magistrada sentenciante valorounegativamente as circunstâncias relativas à personalidade e àconduta social, apontando, para tanto, cópia de outros processosposteriores ao fato criminoso em que o réu foi condenado (fls. 24/44e 181/192).10. A jurisprudência eg. STJ é firme no sentido de queinquéritos policiais ou ações penais em andamento, ouprocessos posteriores ao fato criminoso, em que o réu foicondenado, não se prestam a permitir a fixação da pena-baseem patamar acima do mínimo legal, seja a título de mausantecedentes, conduta social negativa ou personalidadevoltada para o crime em respeito ao princípio da presunção denão culpabilidade. Incidência do enunciado 444 da Súmula doSTJ. 11. A conduta social do agente liga-se, evidentemente, aocomportamento do agente no interior do grupo social a que pertence- família, vizinhança, escola, trabalho etc -, destacando-se suasrelações intersubjetivas, bem como - e principalmente - a imagemformada por sua personalidade e sua projeção nesses grupos (HC114.528/MS, Quinta Turma, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIAFILHO, julgado em 03/02/2009, DJe 09/03/2009).12. Precedentes do STJ: REsp 1085120/RS, Rel. Ministra LAURITAVAZ, Quinta Turma, julgado em 06/09/2012, DJe 19/09/2012 e HC203.591/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma, julgado em28/08/2012, DJe 24/09/2012.13. Desconsideração dos processos posteriores em que o réu foicondenado na análise das circunstâncias judiciais relativas àpersonalidade e à conduta social do acusado, o que acarreta aredução da pena-base.14. Fixação da pena-base em 2 anos de reclusão, e por inexistirqualquer outra circunstância desfavorável, agravante ou causa deaumento, torna-se definitiva.15. Apelação parcialmente provida tão somente para reduzir a pena-base ao mínimo legal cominada ao delito, ou seja, 2 anos dereclusão, mantendo a sentença nos demais termos.(TRF5 - ACR 200685000012239, Relator Desembargador FederalEmiliano Zapata Leitão, convocado, Primeira Turma, DJE de29/11/2012, Página 95) (g.n.)

É bem verdade que a eventual existência de ações penais emtramitação não depõe a favor do acusado. Ocorre que, adotando os termos daSúmula n.º 444 do STJ e entendimento adotado por esta e. Turma, ainda queexistam tais registros, deixaria de aplicá-los como justificativa para o incremento dapena-base (seja a título de maus antecedentes, conduta social negativa ou

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JML/aplf

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIÃO

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personalidade voltada para o crime), sob pena de lesão ao princípio constitucionalda presunção de não culpabilidade.

Ainda, quanto ao grau de reprovabilidade da conduta, entendo quea circunstância de o réu ser servidor público do INSS, só por si, não pode servir aoincremento da pena base porquanto a hipótese do art. 313-A do CP já trata de crimepróprio, cujo sujeito ativo somente pode ser o funcionário público.

Registre-se, ainda, que o fato de WILSON JOAQUIM tersupostamente procedido à indevida concessão de outros quatorze benefíciosprevidenciários não autoriza o aumento da reprimenda nestes autos, sob penaviolação ao princípio do ne bis in idem, na medida em que por tais condutas oacusado vem respondendo em outras ações penais.

Como dito, a presente ação penal restringe-se apenas à concessãofraudulenta da aposentadoria por tempo de contribuição em nome de CARLOSALBERTO ALVES DE ARAÚJO (NB nº 114.706.068-9).

Assim sendo, reduzindo o quantum do aumento da pena-baseanteriormente aplicado, e, considerando a primariedade do recorrente, reputorazoável e legal a fixação da pena-base, para o tipo do art. 313-A do CP, em 02(dois) anos e 06 (seis) meses de reclusão, o que, inexistindo agravantes/atenuantese/ou causas de aumento/diminuição previstas, resulta na pena privativa deliberdade definitiva de 02 (dois) anos e 06 (seis) meses de reclusão, a sercumprida inicialmente em regime aberto (art. 33, § 2º, do CP).

No mais, entendo que não merece reparo a sentença recorrida,tendo a Magistrada seguido, com precisão e ponderação, todas as três etapas quedevem anteceder à cominação da penalidade, em estrita observância àscircunstâncias judiciais (art. 59 do CPB), agravantes, atenuantes, causas deaumento e de diminuição de pena, sem deixar de atentar para qualquer detalhe.

Tecidas essas considerações, dou parcial provimento à apelaçãocriminal interposta por WILSON JOAQUIM DOS SANTOS, apenas para redução apena base imposta, e nego provimento ao apelo ministerial nos termos acimaexpostos.

ASSIM VOTO.

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