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IMPLANTAÇÃO DE APARELHO DE MUDANÇA DE VIA E VIA AUXILIAR PARA ESTACIONAMENTO DE TRENS NO METRO DO RIO DE JANEIRO Ruy Garcia Marques Junior ( 1) RESUMO: Este estudo visa retratar as fases de planejamento e execução da IMPLANTAÇÃO DE AMV (APARELHO DE MUDANÇA DE VIA) PARA ESTACIONAMENTO DE TRENS NO METRO DO RIO DE JANEIRO, detalhando todas as etapas envolvidas no planejamento e execução da obra com ilustração e dificuldades encontradas ao longo das tarefas, bem como as soluções adotadas em cada caso. 1 - CIVILFER ENG. CONSULT. LTDA. SÓCIO GERENTE

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IMPLANTAÇÃO DE APARELHO DE MUDANÇA DE VIA E VIA AUXILIAR PARA ESTACIONAMENTO DE TRENS NO METRO DO RIO DE JANEIRO

Ruy Garcia Marques Junior (1)

RESUMO: Este estudo visa retratar as fases de planejamento e execução da IMPLANTAÇÃO DE AMV (APARELHO DE MUDANÇA DE VIA) PARA ESTACIONAMENTO DE TRENS NO METRO DO RIO DE JANEIRO, detalhando todas as etapas envolvidas no planejamento e execução da obra com ilustração e dificuldades encontradas ao longo das tarefas, bem como as soluções adotadas em cada caso.

1 - CIVILFER ENG. CONSULT. LTDA. – SÓCIO GERENTE

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1. DEMANDA DO SERVIÇO

Devido à crescente busca por um melhor serviço prestado, o que inclui uma maior

oferta com a redução do headway para a circulação de trens nas vias administradas

pelo MetroRio, bem como a adoção de medidas que possam mitigar os efeitos de

falhas operacionais, verificou-se a necessidade de criação de desvios ferroviários

estratégicos que possibilitem o estacionamento de trens para manutenção, formação

de pátio para atender a variação da demanda ao longo do dia e principalmente uma

opção de “fuga” para retirar alguma composição do sistema que possa estar o

afetando devido a problemas operacionais.

O MetroRio então identificou a via auxiliar (ou desvio) existente entre as Estações de

Colégio e Coelho Neto (foto 1) como importante para conseguir atingir esses

objetivos, abrindo a concorrência para contratação de uma empresa para a

construção de um AMV (Aparelho de Mudança de Via) para a ligação da via 2

(sentido Pavuna) com a via auxiliar existente, transformando um desvio “morto” em

ativo (conectado à via comercial).

foto 1

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2. LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO LOCAL

A obra ocorreu entre as estações Colégio e Coelho Neto, DURANTE A OPERAÇÃO

COMERCIAL, localizada ao lado da Av. Martin Luther King. Foi realizada a ligação à

via 2 comercial de um desvio morto existente, através da implantação de um AMV e

um acréscimo de 40 metros no desvio.

Para permitir o acesso de materiais e empregados para a realização da etapa de pré

montagem do AMV, foi aberto um portão de acesso, sendo este um ponto vulnerável

a entrada de pessoas e possíveis atos de vandalismo que pudessem afetar tanto a

obra quanto a operação comercial do MetroRio. O entorno é povoado por favelas,

aumentando ainda mais este risco, sendo necessário um trabalho de

conscientização junto ao representante da comunidade, além da contratação de

uma empresa de vigilância para que o portão de acesso ficasse controlado 24 horas

todos os 70 dias da obra.

Além disso, era necessário reduzir ao máximo as interferências à operação do

MetroRio em função da realização da obra. Para isso, foram tomadas algumas

medidas no planejamento da obra que serão detalhadas posteriormente.

Abaixo a localização da obra:

AMV + 40

metros

de linha

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3. PARTICULARIDADES DO CENÁRIO DE TRABALHO

Trata-se de um serviço não convencional devido ao cenário adverso, comparado a

situações de manutenção de rotina e construção de vias não operacionais, pois

todas as etapas de instalação do AMV e complemento da via auxiliar foram

realizadas durante a operação comercial, até então nunca realizadas no Metro do

Rio de Janeiro, conforme abaixo:

- Linha ativa de alimentação das composições com 750V cc ao nível da montagem

(foto 2).

foto 2

- Extrema proximidade da barra energizada 750V cc com o trabalho (foto 3).

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foto 3

Para permitir a realização da operação, com uma barra de trilho energizada tão

próxima do local da obra e dos funcionários, foi desenvolvido uma barreira sem o

objetivo mecânico de conter algum funcionário ou algum objeto, mas materializar a

fronteira de atuação da equipe da obra e equipamentos.

Essa barreira, denominada tapume estruturado (foto 4), é composta de eletrodutos,

cantoneiras, chapa lisa, todos de ferro, e folhas de madeirit 5mm, dividido em duas

partes: A primeira compreende uma base, instalada ao suporte isolador do terceiro

trilho da via o qual ficaria energizado durante a obra, de modo a receber a segunda

parte formada pelo madeirit e sua estrutura, através de encaixe simples e rápido

entre o eletroduto da base com diâmetro de ½”, e o eletroduto preso ao madeirit com

diâmetro de 1” (encaixe macho/fêmea).

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foto 4

- Movimentação do guindaste somente no intervalo entre trens - 7 e 18 minutos

(fotos 5 e 6)

foto 5

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foto 6

- Convivência com o risco de abalroar o trilho energizado 750V cc, pois o tapume era

apenas uma fronteira física delimitadora, sem resistência mecânica, sendo

necessária a conscientização de toda equipe envolvida em relação às características

do serviço.

- Obrigatoriedade em entregar a via ao tráfego às 3hs de uma segunda-feira, sem

nenhuma restrição à operação comercial, posterior ao final de semana de instalação

do AMV. Para isto, cada pequena etapa foi planejada de modo a maximizar a

produtividade para reduzir cada tempo individual, com a mecanização dos serviços,

aumento de efetivo convencional, etapa de pré montagem semanas antes de

interditar a linha, redundância nos recursos em caso de algum imprevisto, etc.

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4. PROJETO

O Projeto Geométrico (Anexo 1) foi desenvolvido por Engenheiro especializado,

realizando o levantamento das vias comercias e auxiliar existentes, e fazendo a

concordância planialtimétrica com a instalação do AMV e complemento da via

auxiliar.

As tarefas necessárias à elaboração do projeto foram realizadas em janelas de

2hs durante a madrugada, bem como a materialização dos pontos em campo

para montagem do AMV e corte da via comercial existente, de modo a também

contribuir para não prejudicar a operação comercial.

5. PLANEJAMENTO

O Planejamento da obra foi elaborado em conjunto com Engenheiro Jorge César do

setor de Engenharia do MetroRio, que resultou em 02 cronogramas de trabalho,

sendo um macro de aproximadamente 70 dias, e outro detalhado das atividades do

final de semana de instalação do AMV na via comercial (Anexos 2 e 3).

Posteriormente, estes cronogramas foram apresentados à Operação do MetroRio,

quando foi definido que a obra seria realizada considerando a menor interferência

operacional possível, com a circulação de trens em via singela nos dois sentidos, no

período de demanda reduzida (1:30 de Sábado às 3:30 de Segunda-Feira). Para o

alcance deste objetivo, foi implantado um pequeno canteiro de obras na faixa de

terreno disponível ao lado do ponto onde seria instalado o AMV e sobre o local onde

seria feito o prolongamento da via auxiliar. Este canteiro permitiu a pré montagem do

AMV e facilitou a entrada de material, ferramentas, equipamentos e funcionários, e

foi determinante para anteciparmos todos os serviços possíveis antes do período de

interdição da via.

Em paralelo com as etapas de implantação do canteiro, foi realizada a separação de

material no Centro de Manutenção do MetroRio, como trilhos, peças de AMV (1/2

chave, cruzamento, contra-trilho, trilhos de ligação, placas e elementos de fixação),

suportes de terceiro trilho, material de fixação da via auxiliar, etc, além do contato

com fornecedores para aquisição de material para solda alumiotérmica, vigas de

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madeira para AMV, brita No03 para lastro, aluguel de guindaste e máquina para

alinhamento e nivelamento dos trilhos.

6. ETAPAS DA PRÉ MONTAGEM NO CANTEIRO DE OBRAS

6.1 Rebaixamento de Cabo 22kv

Na face interna do muro limítrofe da faixa de domínio do MetroRio há um

cabo de 22kv que interliga as subestações (foto 7).

foto 7

Para possibilitar a demolição do muro e implantação do portão de acesso ao

canteiro de obra, foi feito o remanejamento do cabo 22kv para dentro da

canaleta de águas pluviais localizada na base do muro. Para proteger o cabo

mecanicamente contra queda de material e qualquer objeto que pudesse o

comprometer, foram colocados dormentes e tábuas de madeiras na parte

superior da canaleta.

6.2 Demolição de Muro e Implantação de Portão de Acesso ao Canteiro

Interno

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A implantação do canteiro interno (foto 8) foi determinante para a realização

da obra, pois facilitou o acesso de funcionários, materiais, ferramentas e

equipamentos, e permitiu a pré montagem do AMV e antecipação de todas as

tarefas possíveis para antes da interdição da via comercial.

foto 8

Em contra-partida, a abertura de um vão no muro e instalação do portão de

acesso ao canteiro interno passou também a ser um ponto vulnerável à

entrada de pessoas que pudessem comprometer a operação dos trens.

Foram tomadas algumas ações como a contratação de um vigilante, em uma

empresa fornecedora do MetroRio e já familiarizada com o seu sistema.

6.3 Instalação de Tapume em Madeirit para Segregação entre o Canteiro

de Obra e a Via Comercial

Somente o portão de acesso não era suficiente para possibilitar o trabalho de

pré montagem do AMV dentro da faixa de domínio do MetroRio. Foi

necessário a instalação de um tapume em “U” ao longo de todo canteiro de

obra para segregá-lo com a via 2 (sentido Pavuna) (foto 9). A instalação do

tapume foi realizada em período noturno com a via interrompida.

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foto 9

Um detalhe a ser destacado foi a perfuração das folhas de madeirit usadas no

tapume, reduzindo a superfície de contato e permitindo a passagem parcial

do ar deslocado com a passagem dos trens.

6.4 Descarga de Brita para Lastro

Foram utilizados aproximadamente 250 m³ de brita para o lastro ferroviário

para atingirmos o nível do terreno (camada superficial de brita) definido em

projeto. O lastro é um componente da superestrutura ferroviária que permite a

drenagem da água de chuva acumulada na superfície, além da

responsabilidade estrutural de ancorar os dormentes e assimilar parte da

solicitações transmitidas pelo trem aos trilhos e dormentes, repassando-as ao

sublastro e subleito (camadas inferiores) em intensidade insuficiente para

deformá-las. Esse lastro, além de nivelar o terreno do canteiro de obra

utilizado para a pré montagem, foi utilizado para a socaria e acabamento final

do AMV e via auxiliar.

A descarga e regularização da brita foi realizada com a utilização de

caminhão basculante e retro escavadeira.

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6.5 Pré montagem do AMV

A pré montagem do AMV ao lado do seu local de instalação (foto 10) iniciou

com a regulagem da camada de brita e distribuição das vigas em madeira,

com seção transversal 17 x 24cm e comprimento variando de 2,20 a 5,40

metros, espalhadas com espaçamento predefinido de forma a montar uma

“esteira” para receber os trilhos do AMV. Posteriormente, foram colocadas as

placas de apoio, palmilhas, fixação, contra-trilhos para a montagem do AMV

em três partes, possibilitando o seu içamento em 3 etapas para o local

definitivo na data programada para interrupção da via comercial. Foram

antecipadas também algumas soldas nas extremidades dos trilhos de modo a

reduzir o tempo de trabalho no período de interdição da via, sem aumentar

excessivamente o comprimento e volume da peça a ser elevada pelo

guindaste.

O canteiro interno onde o AMV foi montado tinha aproximadamente 5 metros

de largura, o que restringia a montagem completa. Um contra trilho ficou para

ser montado e fixado aos dormentes após o deslocamento e instalação do

AMV no local definitivo, permitindo a pré montagem de 90% da grade durante

algumas semanas a poucos metros da via em circulação.

foto 10

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6.6 Planejamento para a Instalação do AMV na Via Comercial (1:30 de

09/10/10 a 3:30 de 11/10/10)

Inicialmente o cronograma aprovado reservava dois finais de semana para a

instalação do AMV e via auxiliar, pois o dimensionamento de prazo para as

tarefas mostrava que não era possível realizar a instalação de um AMV e o

acréscimo da via auxiliar em apenas um final de semana.

Em uma nova avaliação, foi identificado que seria possível antecipar a

entrega da obra e fazer toda a instalação do AMV e acréscimo da via auxiliar

em apenas 1 final de semana (Anexo 3).

Foram definidas as escalas de supervisão, equipes de produção e segurança

do trabalho (Anexo 4), motoristas e mecânicos (Anexo 5) e fiscais, que fariam

revezamento em turnos de 12hs, além dos horários das refeições (Anexo 6) e

chegada dos equipamentos de grande porte (guindaste e máquina socadora

de via).

Foi elaborado também um checklist de todos os materiais e equipamentos

necessários a realização do serviço, todos com a redundância, pois qualquer

atraso na execução poderia comprometer as tarefas subseqüentes e com isso

a entrega da linha para a operação, prevista para 3:30 de 11/10/11 (segunda-

feira). As responsabilidades pela mobilização de cada recurso foram definidas

em ata para acompanhamento (Anexo 7).

7. ETAPA DA INSTALAÇÃO DO AMV NA VIA COMERCIAL E

PROLONGAMENTO DA VIA AUXILIAR

Este é o período crítico da obra, pois às 1:30 de sábado 09/10/10 as duas

vias comerciais são interditadas, para instalação do tapume que permitiria o

trabalho durante todo o final de semana com a Via 1 energizada e em

operação, a menos de um metro do local de instalação do AMV na Via 2.

Além disso, as duas vias devem ser entregues à Operação sem restrições às

3:30 de segunda-feira 11/10/10.

7.1 Desmontagem do Tapume do Canteiro Interno e Instalação de

Tapume entre a vias 1 e 2 comercial

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Como citado anteriormente, era necessário estabelecer uma fronteira entre a

área de trabalho e a área energizada. A desmontagem do tapume do canteiro

interno (foto 11) e instalação do tapume entre as vias 1 e 2 teve duração de 1

hora e 30 minutos. Como a sua base seria presa ao suporte isolador de

terceiro trilho da via 1 que entraria em operação em poucas horas e durante

quase todo período de instalação do AMV, esta tarefa deveria ser

obrigatoriamente realizada no período de 1:30 às 4hs, quando as duas vias

comerciais estariam desligadas.

foto 11

7.2 Desmontagem e Retirada de 28 metros da via 2

Esta etapa é iniciada com cortes nos trilhos da via 2 existente para retirada de

28 metros de grade (trilhos + dormentes) no local onde seria instalado o AMV

pré montado. É feito também a retirada manual da brita sobre os dormentes

para reduzir a resistência ao içamento.

Inicia-se neste momento o apoio com o guindaste, com capacidade nominal

de 80 toneladas, para o içamento da grade em três etapas, cada uma com

aproximadamente 9,5 metros (foto 16) além da retirada da barra de terceiro

trilho, responsável pela alimentação elétrica dos trens.

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foto 16

Foram necessárias algumas tarefas auxiliares para esta operação, como

estimar o centro de gravidade de cada volume a ser içado, além do

balizamento com cordas realizado por dois funcionários próximo à carga, para

evitar movimentos bruscos e acidentes com a carga ou funcionários (foto 17).

foto 17

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Havia também 3 supervisores que deveriam estar alinhados em informações

a todo momento para garantir a circulação segura dos trens e a

movimentação correta do guindaste , além das necessidades da equipe de

produção para o cumprimento de seus objetivos:

- Supervisor de Operação do MetroRio, em contato com o Centro de Controle

Operacional para confirmar os intervalos entre os trens e a passagem destes

no ponto da nossa intervenção. A operação do MetroRio ocorria em loop com

apenas uma composição entre Colégio, uma estação antes da obra, e

Pavuna, estação final. O intervalo entre a passagem do trem sentido Colégio

no ponto onde estávamos trabalhando e o seu retorno era em torno de 7

minutos, o que inviabilizava o movimento das peças com o guindaste, mas

permitia a realização das demais tarefas na obra. Já o intervalo no sentido

Pavuna era de aproximadamente 18 minutos, o que permitia a movimentação

do guindaste próximo ao gabarito da via em operação.

- Rigger da empresa do guindaste subcontratada pela executora da obra,

supervisor responsável por transmitir as informações para o operador do

guindaste. Como este último ficava em uma cabine junto ao equipamento, do

outro lado do muro e sem a visão da peça que estava sendo transportada,

recebia a todo tempo orientações do Rigger via telefone celular para a

realização ou não dos movimentos para retirada da grade.

- Supervisor da Produção, responsável pela execução da obra, solução de

problemas imprevistos, gestão e substituição de todos os recursos envolvidos

e principalmente pela entrega da obra em tempo e sem restrições à

circulação comercial. Sua comunicação com o Rigger e o Supervisor do

MetroRio visava também, além da segurança, a retirada da grade e colocação

do AMV novo de forma que os ajustes manuais para alterar a posição fossem

mínimos.

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7.3 Regularização da Camada de Brita para Assentamento do AMV

No local da instalação do AMV, após a retirada da grade existente, ficam

vários montes com brita de forma irregular, o que dificulta o assentamento do

AMV e a sua ligação com a via existente. É necessária a retirada do excesso

de brita e regularização da camada final (foto 18), com apoio da retro

escavadeira, de modo que a cota da face superior do trilho aplicado em seu

local definitivo fique abaixo da cota de projeto. Assim, ao assentar sobre a

brita as partes do AMV, é possível levantar a grade até se atingir a cota de

projeto. Caso contrário, a grade fica desequilibrada e acima da cota de projeto

em alguns pontos, gerando a necessidade de retirada de lastro para se

assentar a grade de uma maneira uniforme, o que demanda um tempo

considerável, o qual era escasso no cenário oferecido.

foto 18

7.4 Deslocamento do AMV para o Local Definitivo

O AMV montado no canteiro de obras, ao lado do local de instalação, foi

içado em 3 partes com o mesmo guindaste que havia retirado a grade da via

comercial, parado desde o término desta etapa, 3 horas atrás. Há também de

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se considerar a gestão do orçamento da obra, principalmente em relação aos

equipamentos de grande porte alugados como o Guindaste, a torre de

iluminação e a máquina PLASSER para alinhar, nivelar e compactar o lastro

da via. Cada hora do guindaste, por exemplo, incluindo toda a equipe,

custava próximo de R$1.500,00, parado ou em operação.

Quando a primeira parte do AMV chegou próximo da via, percebemos que

algumas vigas de madeira estavam batendo na brita ou no tapume entre as

vias 1 e 2, conforme destacado abaixo (foto 19).

foto 19

Foi necessário reerguer o AMV e fazer uma nova regularização e retirada de

excesso de brita, além de despregar algumas vigas de madeira de maior

comprimento que estavam colidindo com o tapume.

Tentamos novamente descarregar a primeira parte do AMV, e percebemos

que ainda estava um pouco desequilibrado. Perdemos algum tempo precioso

nesta etapa repetindo mais uma vez a operação de reerguer o AMV, retirar o

lastro em excesso e checar os conflitos para uma nova tentativa de descarga.

A primeira parte do AMV foi assentada na via, seguida das demais partes

com um atraso de quase duas horas, porém o cronograma estava em dia

devido à economia de tempo nas tarefas anteriores.

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Outro problema foi o armazenamento desse lastro retirado da via existente.

Como o canteiro não oferecia muito espaço devido aos muros limítrofes da

faixa de domínio, e o lastro retirado do local de instalação do AMV

representou um volume bem espaçoso, criamos um pequeno gargalo à

execução da obra, principalmente para a circulação da retro escavadeira e

equipes no canteiro. Chegamos a ter dificuldades em encontrar materiais que

haviam sido depositados junto ao muro e ficaram soterrados pelo enorme

monte de brita. Em alguns momentos utilizamos o guindaste para tirar a retro

escavadeira de um ponto cercado de brita (foto 8) e colocá-la em outra região

que pudesse circular por meios próprios e auxiliar as frentes de serviço.

7.5 Ajuste de Placas de Apoio, Quadramento de Vigas, Consolidação da

Fixação e Montagem da Máquina de Chave e Comandos

Com os 28 metros de AMV assentados na via comercial, fechando o vão

anteriormente seccionado, iniciou-se o ajuste fino da grade, com a verificação

de toda fixação e placas de apoio, recolocação das vigas despregadas,

quadramento das vigas e dormentes (restabelecimento da ortogonalidade

com os trilhos) e ajustes na grade para concordância com a via existente com

o uso de macaco mecânico. É necessário que a grade esteja alinhada o

máximo possível com o AMV instalado, assim como as partes do AMV entre

si, para contribuir com a execução da solda aluminotérmica na união dos

trilhos, que devem estar bem alinhados e nivelados. Porém, a perfeita

geometria e concordância entre a via nova e a existente só viria com a

passagem da máquina socadora, alinhadora e niveladora, algumas etapas a

frente.

Em paralelo, 2 funcionários faziam a montagem da máquina de chave,

tirantes e comandos (foto 20) para permitir a movimentação do AMV, através

do centro de controle ou manualmente do local. A máquina de chave é

responsável por mudar a rota do AMV, deixando a circulação na via principal

ou conduzindo algum trem para o desvio.

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foto 20

7.6 Montagem de Suporte de Terceiro Trilho e Assentamento dos Trilhos

Diferente dos trens de subúrbio que tem a alimentação das composições

através da catenária, uma rede elétrica de cabos sobre a via férrea (rede

aérea), a alimentação das composições do MetroRio é feita com barras de

trilho (terceiro trilho) localizadas a 85 centímetros do trilho rolamento mais

próximo. Essas barras são colocadas sobre suportes isoladores, fixados na

extremidade da viga de madeira ou dormente a cada 3 metros (foto 21). As

barras de terceiro trilho, assim como os trilhos de rolamento, também seriam

soldadas em suas extremidades.

Com o objetivo de se reduzir a quantidade de soldas em terceiro trilho, pois

as barras geralmente tem 12 metros, decidiu-se aproveitar barras de maior

comprimento retiradas da via existente. Foi realizada a instalação do suporte

isolador nas vigas para receber os trilhos através do guindaste, em operação

semelhante à realizada para colocação do AMV na via.

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foto 21

7.7 Montagem do Prolongamento da Via Auxiliar

Era previsto o aproveitamento da grade retirada da via comercial, fazendo o seu

transporte e descarga com o guindaste do lado de fora da via para dentro da faixa

de domínio, para ser parte do acréscimo da via auxiliar, restando apenas a

montagem de pouco mais de 10 metros de via. Porém, o estado de conservação de

alguns elementos da grade existente não permitiam o seu reemprego, mesmo em se

tratando de um desvio onde a circulação é baixa. Seria necessário trocar alguns

dormentes e diversos elementos de fixação, palmilhas (localizadas sob os trilhos na

região dos dormentes) e suportes isoladores de terceiro trilho. Considerando

também o período em que o guindaste ficaria ocioso para se realizar toda esta

revitalização da grade existente, além da mão de obra envolvida nestas atividades,

foi decidido que montaríamos todos os 40 metros de grade, aproveitando o material

servível e substituindo o restante. Como economizamos o tempo do içamento da

grade, algumas tarefas foram realizadas em paralelo e ainda foram concluídas antes

do previsto, o saldo do prazo do cronograma era positivo. Sendo assim poderíamos

incluir a tarefa de montagem completa da grade, inicialmente não prevista.

O Guindaste ainda retirou o para choque no final da via auxiliar existente (foto 2),

para permitir a ligação da desta com o AMV, e logo em seguida foi desmobilizado.

Suporte Isolador

Terceiro Trilho

Calha de

proteção

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7.8 Soldagem Aluminotérmica dos Trilhos de Rolamento e Terceiro Trilho;

Esta tarefa já havia iniciado, sendo realizada concomitantemente com outras tarefas,

desde o término do lançamento do AMV para a via. Eram quase 40 soldas ao todo, e

a qualidade de cada solda depende do cumprimento de um procedimento rigoroso.

Dentre algumas exigências, podemos citar:

- Perfeito alinhamento e nivelamento das extremidades, com a utilização de cunhas,

calços, macaco mecânico e régua, pois um descuido poderia deixar um “gancho” no

trilho e ocasionar um retrabalho. Qualquer movimento em algum elemento que

esteja ancorado à grade em que a solda está sendo realizada pode comprometer a

concordância entre as extremidades dos trilhos que serão unidas;

- Pré aquecimento dos trilhos com tempo e pressões dos gases Oxigênio e Propano,

de acordo com padrão definido pelo fabricante da solda;

- Perfeita montagem e vedação da forma que recebe a porção de solda (foto 22),

pois caso contrário perde-se o material da solda, tempo, além da necessidade de se

descartar um pedaço de trilho e realizar 2 outras soldas. O soldador deve vedar os

pequenos espaços vazios entre a forma e o trilho, e garantir que não se tenha

nenhuma vibração no trilho e dormentes interligados que possam afetar o

alinhamento e vedação da solda;

- Esmerilhamento das rebarbas de modo que a seção transversal seja uniforme, não

provocando batidas com a passagem dos trens.

Algumas tarefas posteriores não puderam ser realizadas em paralelo com esta

etapa, como a reposição de lastro no AMV e via auxiliar, e a passagem da máquina

socadora, ocasionando o deslocamento e até a paralisação da equipe de solda

algumas vezes.

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foto 22

7.9 Reposição de lastro

Como a grade ainda seria elevada pela máquina socadora até a cota de

projeto, e toda a brita seria ainda compactada para calçar os dormentes e

impedir recalques da via com a passagem dos trens, todo o excesso de lastro

retirado da via existente teria que ser devolvido, em excesso, sobre a grade

nova. Com a passagem da máquina a brita é “consumida” pela grade devido

aos levantes comandados pelos operadores do equipamento, de acordo uma

ordem de serviço gerada pela equipe de topografia para fazer a concordância

com a via existente.

Conforme colocado anteriormente, a descarga de lastro impede a realização

da solda não só pela ocupação do mesmo espaço, mas também pela

trepidação com uma descarga próxima ao ponto de solda. Foi feita a

reposição de lastro em diversos pontos da grade de modo que não fosse

necessária a paralisação da solda, porém em um determinado momento não

houve outra ação a ser tomada. Haviam muitos pontos para reposição de

lastro ainda e a máquina socadora não poderia ficar ociosa. Utilizamos talas

de junção provisórias para unir as extremidades dos trilhos e permitir a

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passagem da máquina, e somente depois de toda a socaria, nivelamento e

alinhamento da linha retomamos a solda.

7.10 Socaria Mecanizada do AMV e Via Auxiliar;

A máquina socadora (foto 23) precisava circular desde o AMV de acesso às

linhas dos trens de subúrbio (SuperVia) localizado no Maracanã até a obra

em Coelho Neto, passando pela via comercial. Esta circulação só era possível

no GAP noturno da operação comercial do MetroRio e foi realizada na noite

de sábado para domingo. Conforme previsto no cronograma, a máquina

chegou na obra durante a madrugada e realizou a socaria e concordância do

AMV com a via existente, realizando levantes e puxamentos transversais da

grade através de comandos do operador da cabine frontal, e a socaria e

compactação do lastro pela cabine intermediária operada por outra pessoa. O

valor desses levantes e puxamentos são definidos comparando o projeto com

a posição atual da montagem, até se atingir a perfeita concordância com a via

existente antes e depois do AMV. Ao lado da máquina havia sempre uma

equipe de apoio para reposição manual do lastro onde necessário, com o uso

de gadanho (ou garfo), além do funcionário responsável pela marcação nos

dormentes com giz dos valores de puxamento e levante, que seriam

visualizados pelo operador da cabine frontal e imputados ao equipamento.

Já a via desviada do AMV que concordaria com a via auxiliar, antes limitada

por um para choque, ainda não estava construída.

Passaram algumas horas e algumas tarefas, e ao final da tarde de domingo já

havia chegado toda a equipe de operação para a socaria da via auxiliar, que

já havia sido montada. Assim como foi com o guindaste, deveria ser evitado

qualquer ociosidade deste recurso alugado. Restavam ainda a execução de 8

soldas (cada solda leva aproximadamente 45 minutos para ser realizada) e,

como já explicado anteriormente, não era possível a realização desta etapa

em paralelo com a solda dos trilhos, em função da vibração oriunda do

equipamento. Faltava ainda realizar 20% das soldas neste momento e

decidiu-se priorizar a passagem da máquina socadora.

Após a socaria na via auxiliar a máquina teve que aguardar o término da

operação comercial para circular de volta ao portão de saída do sistema do

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MetroRio no Maracanã, percorrendo caminho similar ao da vinda em sentido

inverso.

foto 23

7.11 Acabamento de Lastro;

Ao final da socaria a solda retorna à campo e conclui a sua tarefa para

entrega da linha à operação.

Em função da vibração da máquina e outros fatores da própria obra, o lastro

fica distribuído de forma irregular, com excessos em alguns pontos e

escassez em outros. É realizado então um trabalho manual de

remanejamento de brita, com uso de carrinho de mão, carrinho de linha, pá e

gadanho. Conseguimos assim dar uniformidade à camada superficial de

lastro e acabamento lateral com as ombreiras que, além do aspecto visual,

contribuem para a resistência transversal da via contras torções, flambagens

ou ensarilhamento (deslocamento transversal da grade devido às tensões

provenientes da dilatação do trilho e falta de resistência da via).

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7.12 Realização da Primeira Varredura e Limpeza Geral da Obra;

A obra em si havia acabado e algumas horas antes do previsto, restando a

validação de todos os serviços através de medições, inspeção visual e a

passagem de um trem de serviço (sem passageiro e fora do horário

comercial), a mais relevante das verificações.

Começamos a transportar a maioria dos equipamentos e ferramentas para as

viaturas do lado de fora da linha, além da retirada de resíduos, lixo, sobra de

material, etc. A via foi percorrida diversas vezes por diversas pessoas para

identificar algumas pendências como parafusos altos (não apertados por

completo), falta de placas de apoio e outros elementos, variações de bitola,

acabamento incompleto nas soldas, parâmetros fora da tolerância no AMV e

terceiro trilho, ferramentas esquecidas, e tudo que não fizesse parte daquele

cenário na rotina e não fosse mais ser útil a partir de então.

7.13 Desmontagem do Tapume entre as Vias Comerciais 1 e 2

O tapume montado no início da interrupção da linha, entre as vias 1 e 2

comerciais, só poderia ser retirado com o desligamento após o término da

operação comercial.

Às 1:30 de segunda-feira, 11/10/10, passa a última composição com

passageiros, já em horário avançado devido a um evento na Quinta da Boa

Vista próximo à São Cristóvão, extraordinário às operações de rotina nos

domingos. É realizado o teste para confirmar o desligamento do terceiro trilho,

seguido de colocação da barra de proteção, conforme procedimento

MetroRio. Uma equipe de 6 funcionários inicia a desmontagem dos suportes

do terceiro trilho da via que estava em operação, onde a base do tapume

estava presa, retira todas as peças e retorna com o suporte à via.

7.14 Varredura Final e Entrega da Via ao CCT (Centro de Controle de

Tráfego)

Neste momento, às 3hs da noite de domingo para segunda-feira havia um

grupo de funcionários do MetroRio para acompanhar a passagem do “Trem

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de Varredura”, além das últimas inspeções visuais da linha. Esse trem circula

todas as manhãs em todas as vias antes da passagem do primeiro carro com

passageiros, com o objetivo de se identificar alguma não conformidade no

sistema. A sua circulação transcorre no AMV instalado na via principal sem

nenhuma interferência, evidenciando o atingimento das metas traçadas para

aquele evento.

Apenas como confirmação, liguei para o cliente algumas horas depois, após a

circulação no pico matutino, para confirmar se tudo estava em conformidade.

O cliente confirmou, respondendo não haviam comentado nada, o que era

uma evidência de que correu tudo bem.

8. RECOSNTRUÇÃO DE MURO PARA VEDAÇÃO DE FAIXA DE DOMÍNIO E

RECOLOCAÇÃO DE CABO 22KV

Naquela mesma semana programamos uma equipe para realizar o

fechamento do muro onde estava instalado o portão de acesso, quando ainda

retiraram alguns materiais e pedaços de trilho do entorno. No mesmo dia o

MetroRio estava com a faixa de domínio novamente segregada, sendo

possível a dispensa do vigia que nos acompanhava desde o início das

atividades.

Alguns dias depois foi realizada a recolocação do cabo 22 kv na face interna

do muro, última atividade pertinente ao cronograma da obra.

9. ANÁLISE CRÍTICA E IDENTIFICAÇÃO DE MELHORIAS

Algumas semanas depois reunimos toda a equipe de supervisão da empresa

executora da obra junto com a Direção com o objetivo de se identificar

principalmente os pontos negativos e melhorar os processos de construção e

manutenção ferroviária nas condições enfrentadas, conforme alguns exemplos

abaixo:

- A etapa de regularização de lastro foi a que mais atrasou individualmente,

comparando com o intervalo previsto no cronograma. O retrabalho para se retirar

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o excesso de brita poderia ser evitado com um verificação mais precisa do nível,

com levantamento altimétrico dos pontos onde visualmente estavam mais altos.

O que ajudou para a entrega da obra no prazo foi ter antecipado a conclusão de

algumas tarefas do cronograma, além da realização em concomitância, o que

gerou sempre um saldo de tempo para resolver os imprevistos e tarefas mais

morosas;

- A escala de supervisão da obra no período de interdição da linha não foi

cumprida, pois acabamos por ficar muito envolvidos com a seqüência das

tarefas, gerando um desgaste maior, o que seria tolerável apenas em situações

de acidente;

- Falta de espaço físico para armazenar o excesso de brita retirado da via

comercial, após a retirada da grade existente. Conforme citado anteriormente,

chegamos a ter dificuldades em encontrar materiais e ferramentas, além da

circulação restrita no canteiro interno. Seria necessário a formação de um

“pulmão” de brita fora do canteiro, com apoio do caminhão basculhante e retro

escavadeira para reduzir muito os efeitos que tivemos;

- No início da obra, etapa de descarga de lastro no canteiro interno, a retro

escavadeira rompeu um cabo de alimentação do ruptor de emergência, que

estava enterrado sob o lastro. Esse ruptor, quando acionado, desliga a

alimentação do terceiro trilho em uma determinada seção da linha, e a ruptura do

cabo tem o mesmo efeito do acionamento através do botão no ruptor. O CCT

(Centro de Controle de Tráfego) verificou que não havia motivo para este

acionamento e realizou o bypass do sistema, evitando atrasos e maiores

prejuízos à circulação dos trens. Talvez com uma inspeção mais minuciosa

poderia ter sido identificado o local de travessia do cabo, desde sua saída da

linha até o ruptor de emergência, e com isso a utilização da retro escavadeira

neste ponto pudesse ser realizada com maior precaução;