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TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

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Neste livro-manual compartilho com o leitor a minha história e as experiências pessoais que me fizeram descobrir nos esportes de aventura o principal instrumento na luta contra minha deficiência, a Ataxia, e criar a ONG Aventura Especial, num momento em que não havia nenhuma referência sobre acessibilidade em turismo de aventura e ecoturismo.

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Como atender a pessoa com deficiência

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Apoio:

Como atender a pessoa com deficiência

Trajetória da ONG e Manual de adaptações nas atividades de aventura

Ghost writers: Vanessa R. Bastos / Elaine Paraguassú

Capa Criação: Fabio Malagoli

Diagramação: André L. Andrade

1ª Edição

São Paulo - SP - 2010

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Copyright © 2010 by Dadá Moreira

Todos os direitos reservados a Dadá Moreira. É proibida a reprodução ou duplicação, por qualquer meio, integral ou parcial,

sem autorização expressa do mesmo.

Ghost writers: Vanessa R. Bastos / Elaine ParaguassúCapa Criação: Fabio Malagoli

Diagramação: André L. Andrade

1ª EdiçãoSão Paulo - SP - 2010

IMPRESSO NO BRASIL

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“DEDICO AOS MEUS AMADOS FILHOS BIA E CAIO E AO MEU

FALECIDO PAI, DR. ADAIL,POIS SEM SUA AJUDA

O PROJETO NÃO EXISTIRIA.

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8 - Turismo de Aventura Especial

SumárioPrefácio ................................................................................................... 10

Apresentação ....................................................................................... 12

1. Dadá Moreira ................................................................................... 14. Vida Antes da Deficiência . Primeiros Sintomas e Diagnóstico. Vida Social e Profissional Após a Ataxia. Volta às Atividades e Primeiras Experiências. Rafting, Escalada, Paraquedas e Outras Aventuras . Reabilitação

2. Aventura Especial ......................................................................... 34. Criação do Site e Ofcialização da ONG. ONG Aventura Especial. Mauro Brucolli e Ministério do Turismo

3. Projeto Aventureiros Especiais .............................................. 42. Objetivos

. Fase 1PesquisaEscolha do Destino-pilotoSeleção das AtividadesPlanejamento dos Testes de CampoEquipe MédicaCapacitação

. Fase 2TestesEquipamentosMatriz de Acessibilidade

. Fase 3DivulgaçãoCartilhasResultadosEstância de SocorroRetorno

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SuMáRIO - 9

4. Turismo de Aventura Especial ................................................. 62. Características. Mercado. Brasil como Referência Mundial

5. Tipos de Deficiência ..................................................................... 70. Deficiência Sensorial Deficiência auditivaDeficiência visualDeficiência sensorial múltipla - Surdocegueira

. Deficiência Física Monoplegia, diplegia, hemiplegia, paraplegia e tetraplegiaAmputação de membros

. Deficiência MentalSíndrome de Down

. Deficiência MúltiplaEncefalopatia Crônica não Progressiva (ECNP)

. Mobilidade ReduzidaAtaxia ou Síndrome Cerebelar (SCA)Cadeirantes

6. Manual de Orientação no Atendimentoao Aventureiro Especial .................................................................. 90

. Introdução

. Como Atender o Turista Especial

. Técnicas de Transferência - Como fazer

. Instruções aos Aventureiros Especiais

7. Adaptando as Atividades de Aventura ............................ 106. Introdução. Trilha. Fora de Estrada (Off Road). Arvorismo. Tirolesa. Rapel . Rafting . Bóia-cross. Acqua ride

8. Conclusão ...................................................................................... 134

Bibliografia ........................................................................................ 140

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10 - Turismo de Aventura Especial

prefácioComo Ministro do Turismo e à luz das melhores práticas

internacionais, estive na Adventure Sports Fair – tradicional feira de aventura e ecoturismo - para abertura de um seminário promovido pelo Ministério sobre a importância da oferta de garantia de segurança para transformação das atividades de “turismo de aventura” em produtos comercializáveis no âmbito do turismo.

Ao visitar a feira pude perceber que ali pulsava insipiente a cultura da qualidade e sustentabilidade das atividades de turismo na natureza. O ambiente era de exultação, profissionalismo e negócio e para minha grata surpresa, o especial Dadá Moreira e seus companheiros de aventura praticavam diversas atividades inerentes ao turismo de aventura, com tamanha habilidade, coragem e prazer que me convenceram da importância da inclusão de outro elemento a esse segmento: a acessibilidade.

Dadá contou sua história e me demonstrou com muita objetividade que com algum apoio seria possível não apenas viabilizar a acessibilidade de pessoas com deficiência a essas atividades, mas também formatar um produto turístico diferenciado, com alto valor agregado.

Saí convencido de que estávamos diante de uma oportunidade. Por meio do apoio ao projeto “Aventureiros Especiais – promovendo o turismo de aventura adaptado”, demos juntos os primeiros passos para a elaboração de uma política pública inclusiva e geradora de novos negócios.

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Mais tarde, ainda em minha gestão, outras iniciativas voltadas ao segmento foram apoiadas e hoje, após quatro anos, tenho a grande satisfação de ser testemunho de como a criatividade, persistência e coragem desses “aventureiros especiais” contribuíram sobremaneira para o desenvolvimento desse inovador nicho de mercado, capacitado a participar da promoção nacional e internacional do turismo brasileiro.

Walfrido dos Mares Guia

PREFáCIO - 11

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ApreSentAçãoA ONG Aventura Especial, ao lado daqueles

que acompanharam nosso trabalho e torceram pelo desenvolvimento e profissionalização do turismo de aventura para pessoas com deficiência, vive um momento de êxtase.

Após cinco anos desde as primeiras ações, o que na verdade é um tempo ínfimo se analisarmos os resultados alcançados, “Aventura Especial” deixou de representar apenas o nome da nossa ONG, para tornar-se um novo segmento: o Turismo de Aventura Especial.

Nesse período quebramos muitos paradigmas ao criar, desenvolver, promover e consolidar o conceito de Turismo de Aventura Adaptado, que vem provocando uma gradativa transformação no cenário turístico ao ser reconhecido como ferramenta para a reabilitação psicossocial de pessoas com deficiência e também como um importante nicho de mercado que, embora muito pouco explorado, já comprovou seu potencial.

O fato de essas grandes mudanças terem ocorrido tão rapidamente deve-se a um motivo muito simples: tudo aconteceu naturalmente, no compasso das necessidades e oportunidades que surgiram em nossa trajetória. Tratava-se de uma demanda latente que, no decorrer de um minucioso e apaixonante trabalho, mostrou sua viabilidade técnica, humana e econômica, conquistando novos adeptos e empreendedores, assim como instituindo as novas políticas públicas que hoje compreendem a multiplicação e o aprimoramento das práticas de atendimento a pessoas com deficiência em atividades de ecoturismo e aventura.

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APRESENTAçãO - 13

Nada poderia ser feito sem o apoio que tivemos do Ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia para a execução do “Projeto Aventureiros Especiais”, no qual empreendemos os primeiros estudos sobre como adaptar as atividades, criamos a primeira matriz de acessibilidade e escolhemos e formatamos o primeiro destino turístico de Aventura Especial - a Estância de Socorro, que hoje recebe verbas para tornar-se referência em acessibilidade e modelo para a adaptação de outros destinos do Brasil.

Neste livro-manual compartilho com o leitor a minha história e as experiências pessoais que me fizeram descobrir nos esportes de aventura o principal instrumento na luta contra minha deficiência, a Ataxia, e criar a ONG Aventura Especial, num momento em que não havia nenhuma referência sobre acessibilidade em turismo de aventura e ecoturismo.

Relato também como foram levantadas as informações que hoje compõem a base da matriz de adaptações das atividades de aventura para cada tipo de deficiência e, para que haja a multiplicação e democratização deste valioso conhecimento, os procedimentos e técnicas definidos para adaptação das principais atividades de aventura disponíveis no mercado, no intuito não apenas de orientar as empresas que pretendem oferecer tais serviços, como também de informar o Aventureiro Especial sobre as condições que devem ser verificadas ao escolher seu destino turístico.

O nascimento das idéias, o apoio ao projeto, os primeiros passos, a elaboração e a realização de cada etapa estão aqui descritas.

Desejo a todos uma ótima aventura!

Dadá Moreira

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1. DADá moreirA. Vida Antes da Deficiência

. Primeiros Sintomas e Diagnóstico

. Vida Social e Profissional Após a Ataxia

. Volta às Atividades e Primeiras Experiências

. Rafting, Escalada, Paraquedas e Outras Aventuras

. Reabilitação

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1. DADá MOREIRA - 15

1. DADá moreirA

. Vida Antes da Deficiência

Desde a juventude, sempre gostei muito de esportes e aventura. Na época, porém, as atividades não apresentavam a profissionalização e infraestrutura que têm hoje. Quem queria fazer improvisava e fazia por si mesmo. Quase não havia operadoras ou guias.

Eu ia muito para Visconde de Mauá fazer trilhas e bicicross, que na verdade eram passeios no meio do mato, buscando aproximação a rios e cachoeiras.

Gostava também dos esportes coletivos, principalmente de futebol, pois sempre reparei na psicologia por trás do trabalho em equipe: a expressão da personalidade e o enriquecimento pessoal dos participantes para o convívio em sociedade. Tive boas oportunidades e cheguei a pensar em jogar futebol profissionalmente, mas na época minha família me incentivou a trilhar outros caminhos.

Meu pai frequentemente nos levava para viajar, mas costumava escolher os roteiros mais tradicionais. Quando comecei a ganhar minha independência, porém, escolhia lugares onde pudesse estar em contato com a natureza de uma forma mais íntima. O conceito de ecoturismo ainda não existia, mas eram destinos com esse potencial.

Minha formação é de jornalista e sou fotógrafo profissional. Trabalho com um tipo de fotografia chamada documental, que retrata o cotidiano das pessoas e dos lugares. Fotógrafo as coisas simples, corriqueiras, sempre em preto e branco. Gosto bastante por ser um trabalho artesanal, no qual eu participo de todo o processo, desde comprar o filme em

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lata, rebobinar, tirar a foto, até revelar e ampliar. O resultado mostra o valor e a beleza das pequenas coisas.

Por esse trabalho não ser comercialmente viável, atuei por muitos anos produzindo fotos para campanhas publicitárias e também como assessor de imprensa. Fiz faculdade de direito simultaneamente à de jornalismo, mas nunca atuei como advogado. Até os 30 anos eu tive a chamada “vida normal”.

. Primeiros Sintomas e Diagnóstico

um dia, ao voltar a pé do estúdio fotográfico que eu tinha perto de casa, senti dificuldade para andar em linha reta. Era como se minhas pernas, de alguma forma, não me obedecessem totalmente. Eu me concentrava para fazer o movimento correto, mas não conseguia. Lentamente essa dificuldade motora ia se agravando.

Passei por alguns médicos e eles me diziam que eu estava com “estresse”, mas eu sabia que não era isso. Comentava com meus amigos e parentes que havia algo de errado, e todos diziam que eu estava ótimo, não tinha nada, que era coisa da minha cabeça.

Outros sintomas apareceram, afetando também a coordenação motora fina, fala e a visão. Via-me perdendo as principais funções motoras, porém nenhum especialista sabia dizer o que eu tinha.

um dos médicos aconselhou que eu consultasse um neurologista. Passei pelos melhores especialistas de São Paulo, fiz todos aqueles exames habituais e ninguém identificava minha doença. Cada um falava uma coisa e me passava para outro médico. Cheguei a receber o diagnóstico de que tinha um tipo raro de esclerose múltipla, mas não aceitei porque os

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sintomas não eram compatíveis. Fiz diversos tratamentos inócuos. uma vez por mês me

internava um final de semana inteiro para observação e tomava uma injeção no pescoço, direto na espinha. Era muito dolorido.

Para mim era como se alguns médicos se sentissem deuses. Lembro que um deles era um professor muito renomado e no consultório sua mesa ficava num tablado, parecido com um altar, enquanto nós, pacientes, nos sentávamos num sofá num nível muito abaixo, eu me sentia insignificante.

Esse senhor me receitou um tratamento com “doses cavalares de cortisona” – segundo suas próprias palavras. Quando perguntei sobre os efeitos colaterais, ele respondeu que havia o risco de queda ou produção de cabelos, de aumento ou diminuição do peso de forma drástica, entre outros, mas que não havia garantias de melhora. Enfim: nada objetivo. Respondi que já estava debilitado demais para me sujeitar a uma situação dessas.

Sentia-me frustrado e pensava que, se nem mesmo os melhores médicos conseguiam saber o que eu tinha, era porque se tratava de algo muito grave e eu não podia sequer lutar contra isso, me tratar, buscar alternativas. Mesmo sem uma resposta da medicina, resolvi encarar que eu era uma pessoa com deficiência, pois já necessitava da bengala para me locomover e minha visão estava bastante prejudicada.

Lembro que fui ao oftalmologista, testamos todas as lentes e eu não sentia diferença alguma. No entanto ele me receitou óculos e me mandou embora, como se tivesse solucionado o problema.

Passei cerca de dois anos nessa rotina até que, pesquisando na Internet, descobri que meus sintomas se enquadravam perfeitamente na descrição de uma doença rara, degenerativa e sem cura chamada ataxia espinocerebelar

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7, para a qual a medicina tradicional não oferecia nenhum recurso otimista.

As informações eram de um neurologista do interior do Ceará chamado Salomão Linhares, que estava fazendo mestrado sobre a patologia, após se surpreender com 8 casos na pequena cidade em que morava. Cheguei a ficar amigo desse médico e viajar para o Ceará para que ele estudasse meu caso. Mantemos contato até hoje.

Ele havia traçado a árvore genealógica dessas pessoas, analisando retrospectivamente diversas gerações das famílias até concluir que a doença era fruto de uma mutação genética ocorrida nos descendentes de um casal de primos que se casaram no Ceará há cerca de 330 anos.

“Ataxia” é um termo que literalmente significa “confusão”. Tecnicamente falando, a Ataxia Espinocerebelar constitui um grupo de doenças genéticas neurodegenerativas que se caracterizam por uma perda progressiva dos neurônios do cerebelo, comprometendo as células da base do cérebro e da medula espinhal. Os pacientes em geral apresentam ataxia (alteração de equilíbrio), disartria (dificuldade na articulação das palavras), dismetria (dificuldade em realizar movimentos) na escrita e na coordenação motora; resumindo, eu tinha sinais muito parecidos com os de uma pessoa embriagada, no entanto não mentalmente, apenas fisicamente, o que me trouxe muitos problemas.

Lembro-me que certa vez fui a um museu ver uma exposição de fotografia. Ao mudar de ambiente, o segurança me acompanhava, olhando as mesmas fotos que eu. Então indaguei se ele já não tinha visto a exposição; ele respondeu que deveria me acompanhar porque eu estava embriagado. Expliquei que não havia necessidade, pois eram sintomas da minha doença.

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Há um choque natural na descoberta de qualquer doença, mas o fato de saber que não havia cura ou tratamento foi o que me deixou mais assustado. Hoje é engraçado lembrar que às vezes, tentando me consolar a respeito da minha situação, conhecidos me cumprimentavam com a célebre frase: “O importante é ter saúde”, o que na minha cabeça eu não teria nunca mais, no entanto eu sabia que devia manter minha saúde mental preservada.

. Vida Social e Profissional Após a Ataxia

Nos últimos anos minha vida havia piorado bastante, pois, além de ter abandonado completamente as atividades físicas por causa da “odisseia” por clínicas, consultórios, laboratórios e hospitais, o lado psicológico estava muito abalado. Na época vi minha vida profissional e pessoal se desmoronando. Os sintomas se potencializavam e eu encontrava cada vez mais dificuldade para realizar as tarefas cotidianas.

Fiquei bastante debilitado, a ponto de quase não andar ou falar, e achava que minha vida estava acabada para aquilo que eu tanto amava: o turismo e os esportes.

Fazia fisioterapia quase todos os dias, numa tentativa de recuperar alguns movimentos ou ao menos minimizar as perdas. Achava aquilo tudo muito maçante. Com todo o respeito a essa terapia, era um clima deprimente e eu tinha um desejo muito grande de encontrar uma alternativa mais agradável de trabalhar meu corpo.

Assim como todos que são acometidos por alguma deficiência, tinha a sensação de ser o único no mundo numa situação como aquela. Quando fui pesquisar sobre o assunto e vi o senso do IBGE na época, fiquei muito surpreso ao

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descobrir que mais de 24 milhões e meio de brasileiros tinham algum tipo de deficiência e me perguntava onde estavam essas pessoas que, apesar de representarem mais de 15% da população, quase não eram vistas nas ruas.

Tratava-se de um outro mundo. Hoje em dia o termo “acessibilidade” está em pauta, há uma grande preocupação com essa questão, mas há 15 anos a maioria das pessoas parecia entrar em choque ao ter de lidar com alguém com deficiência.

Dei-me conta de que tinha de me adaptar a essa nova vida e buscar soluções que me permitissem fazer as atividades do dia a dia. Aí é que fui conhecer o universo das pessoas com deficiência e comecei a encarar a situação de uma forma mais positiva.

Nesse período fui acompanhando a explosão do ecoturismo e do turismo de aventura no Brasil. Via na televisão diversas matérias, propagandas e promoções e lamentava estar de fora. Pensava: “Caramba! Eu também quero fazer isso aí. Eu tenho uma limitação, mas minha cabeça quer participar!”. Eu precisava virar o jogo.

. Volta às Atividades e Primeiras Experiências

Quando meu filho Caio estava com 2 anos, me ensinou uma grande lição. Eu estava ajudando um amiguinho dele a andar de bicicleta e ele me pediu que tirasse as rodinhas da dele também. Quando vi que mesmo tão pequeno e inocente ele havia aprendido, tive a certeza de que eu também podia reaprender muitas coisas.

Decidi retomar minhas atividades, mesmo com dificuldades e sabendo que meu desempenho não seria o

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mesmo, uma vez que estava começando praticamente do zero.O mais importante foi assumir minha condição, decidir

me adaptar a ela e voltar a ter prazer aom a vida.Fiz uma viagem de férias para Cuiabá e me falaram

sobre uma trilha na Chapada dos Guimarães que passava em várias cachoeiras. Eu fiquei bastante inseguro, mas com ajuda consegui completar todo o percurso e adorei estar junto à natureza novamente.

Ao voltar para São Paulo, decidido a conhecer outros lugares e buscar novas aventuras, fui até a banca de jornal e comprei a recém-lançada edição de um famoso guia turístico, considerado o melhor do Brasil, para consultar os lugares que ofereciam adaptações. Em casa fiquei procurando o tradicional símbolo de acessibilidade, que nos últimos tempos tornara-se tão comum no meu dia a dia, mas percebi que a publicação não contemplava tal quesito.

Mandei uma carta para a redação falando sobre a importância de disponibilizarem tais informações e sobre minha frustração ao comprar o guia. Eles me responderam que era uma sugestão bastante pertinente, mas que somente poderia ser implantada dali a algumas edições. “Próximas edições” de uma publicação anual significava, no mínimo, “alguns anos”, e eu não podia esperar. Aliás, nunca gostei da palavra “esperar”.

. Rafting, Escalada, Paraquedas e Outras Aventuras

Nessa época o rafting estava começando a se tornar mais popular no Brasil e eu sempre via propagandas. Estava resolvido: eu queria fazer! Mesmo que demorasse a encontrar as condições necessárias, este era meu objetivo. Liguei para

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várias agências e me informei sobre tudo, desde acessibilidade, características do bote, nível do rio e tudo o mais. Até fui ao local para conferir as informações.

Do dia em que paguei ao dia em que realmente fui fazer, passou-se um ano.

Enquanto pesquisava, apesar de todos me encorajarem e incentivarem, eu tinha medo e vergonha ao pensar que poderia atrapalhar e estragar o passeio de outras pessoas, além de comprometer o desempenho do grupo.

Achava que primeiro tinha de me recondicionar fisicamente, então ressuscitei uma bicicleta ergométrica. Para meu desespero, no primeiro dia consegui pedalar apenas 15 segundos e caí exausto no chão.

Essa cena ficou muito nítida na minha cabeça porque na frente da bicicleta havia um relógio. Eu estava há quase dois anos sem fazer nenhuma atividade.

Com insistência e determinação, consegui gradualmente aumentar o tempo de exercício e para complementar fazia abdominais e barras.

Eu não gostava de academia, mas aprendi a gostar porque me ajudava muito. Fazia musculação e natação, que exigem coordenação de braço, perna e respiração. No começo me cansava muito, mas qualquer atividade que façamos gradativamente, buscando melhores resultados, traz evolução e motivação para continuar nos aprimorando. Prova disso é que, mesmo com uma doença degenerativa, eu consegui.

Quando me senti preparado para encarar o desafio preparei minha mochila e parti para experimentar aquele rafting.

Tudo correu tranquilamente e eu estava em êxtase por ter tido um intenso contato com a natureza e - o mais importante - ter redescoberto o prazer com meu corpo por

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meio de uma atividade física, coisa que eu não acreditava que pudesse acontecer novamente.

Em casa refleti sobre a maravilhosa experiência que tinha vivenciado. Foi uma verdadeira revolução nos meus sentimentos. Era um novo horizonte se abrindo: começava ali um processo de reabilitação que viria a contrariar todas as previsões médicas que eu havia recebido até então.

Alguns meses antes eu havia procurado uma associação voltada para pessoas com deficiência no esporte. Lá indicaram que eu treinasse em bicicletas “tandem” – em que duas pessoas pedalam –, porém teria de vendar os olhos, pois treinavam apenas para competições entre deficientes visuais.

Como eu já tinha algumas deficiências e isto representava inutilizar mais uma habilidade, não me interessei muito pela atividade, mas lembro que, ao experimentar, foi a primeira vez nos últimos anos em que eu sentia o vento batendo no meu rosto e isso me trouxe muito mais vontade de sair experimentando outras coisas.

Também me convidaram para integrar o time de basquete em cadeira de rodas, o que não me atraiu por eu não

Arquivo Pessoal: Rafting em Brotas/SP

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ter habilidade nem com a cadeira nem com a bola. Ia me sentir um bobo deslocado no meio de todo mundo, e eu queria encontrar esportes em que pudesse ter participação ativa.

um dos instrutores dessa associação ficou sensibilizado por não conseguir me enquadrar em nenhuma das atividades que ofereciam e foi até a minha casa para me incentivar a não desistir. Eu comentei com ele sobre o rafting que tinha acabado de fazer e começamos a falar dos esportes de aventura. Ele me disse que saindo dali, estava indo para a Casa de Pedra, um ginásio onde praticava escalada in-door. Eu pedi que me levasse para conhecer e fiquei assistindo. um pouco antes de ir embora, pedi para experimentar e adorei. Comecei a praticar com ele três vezes por semana. É um esporte de alta performance, que exige uma superação constante de limites, e era justamente o que me atraía. Eu fazia apenas as vias mais fáceis, mas o importante não era meu desempenho, e sim a frequência ao ginásio, a convivência com as pessoas, enfim: sair de casa.

Gostei tanto que instalei uma parede de escalada na minha casa. Hoje moro em um apartamento, e para continuar praticando fiz uma parede (boulder) no corredor principal.

A prática exige força, equilíbrio, concentração e flexibilidade. utiliza todas as partes do corpo e também muita

Arquivo Pessoal: Boulder no apartamento

Créditos: João Olivera - Ginásio de escalada Casa de Pedra

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técnica: quanto mais técnica tiver, menos força é necessária. É um grande desafio, por isso cada vez que eu chego ao fim, comemoro mais uma vitória pessoal.

Vi na TV uma pessoa saltar de paraquedas e me interessei. um salto duplo, com instrutor, não exige habilidade física alguma e proporciona uma descarga de adrenalina muito grande. A sensação é maravilhosa. É impossível descrever a emoção de ficar em queda livre por quase um minuto, a 200 km por hora, em cima das nuvens.

Em Ilha Bela, na praia do Engenho D’água, fui fazer Parasail. O instrutor havia atendido um cadeirante pouco tempo antes. Ele contou que a maior dificuldade havia sido embarcar a pessoa no bote e levá-la até a lancha, mas que todo o resto correra normalmente. O rapaz atingiu 40 metros de altura, teve um ótimo voo, aterrissou tranquilamente na lancha e ficou muito emocionado. Vi que era uma atividade que todo mundo podia praticar.

Arquivo pessoal: Parasail em Ilha Bela/SP

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Em Brotas, uma equipe que operava rafting no Rio Jacaré Pepira havia recebido um grupo de deficientes visuais e disseram quanto a experiência havia sido enriquecedora também para os guias.

Nessa viagem conheci uma garota que era irmã de uma deficiente auditiva e disse que a incentivaria a ir na próxima vez. A deficiência de um órgão potencializa a sensibilidade de outros, portanto, disse a ela que a irmã não ouviria, mas certamente adoraria sentir o cheiro da natureza, desfrutando de uma bela paisagem e interagindo com o grupo.

Outro exemplo foi que, num dos saltos de paraquedas, havia um deficiente visual conosco. Ouvi os instrutores comentarem entre si que lamentavam o fato de o rapaz não poder conhecer a paisagem única que se tinha lá de cima.

Quando chegamos ao chão, porém, um comentário dele surpreendeu a todos: disse que o melhor da queda livre era sentir a rápida mudança de temperatura conforme ia se

Arquivo pessoal: Salto em Boituva/SP

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aproximando do chão – mesmo com milhares de saltos, nenhum dos paraquedistas presentes havia percebido tal sensação.

Por ser assessor de imprensa, tinha bastante contato com jornalistas de vários veículos e fui convidado para gravar uma matéria para a TV. Fiquei com vergonha de me expor na mídia, mas achei que era uma oportunidade de mostrar para outras pessoas na mesma situação que havia alternativas. Quando temos uma doença, achamos que é o fim do mundo, que não dá para fazer mais nada, e eu queria reverter isso.

A princípio, quando falamos em aventura, pensamos logo num super-homem fazendo coisas sobrenaturais. Mas esse conceito não é verdadeiro.

“Superação” talvez seja a palavra que melhor traduza as sensações vividas nesse tipo de atividade. Qualquer um pode e deve constantemente superar-se.

utilizar o corpo com prazer resgata a autoestima e inverte a imagem de piedade e negativismo muitas vezes estigmatizada em pessoas com deficiência. Quando falamos de atividades praticadas na natureza, esses benefícios se potencializam. Sem dúvida é um excelente caminho, já que o turismo é uma porta para a reintegração na sociedade de uma forma bastante positiva.

As atividades de aventura praticadas por uma pessoa com deficiência fortalecem a ideia de que com perseverança, determinação e força de vontade tudo é possível. Elas estimulam a autossuperação, o trabalho em equipe, o equilíbrio, a coordenação, a técnica e a coragem, constituindo um verdadeiro desafio para o corpo e a mente.

Apesar de à primeira vista parecerem experiências individuais, contamos muito com a equipe. A legião de praticantes e simpatizantes dessa modalidade apresenta uma sensibilidade especial em relação às questões da natureza,

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do meio ambiente e da ajuda ao próximo. Todos têm muita predisposição em dar uma “força”, por isso nunca me senti sozinho. Havia sempre uma mão estendida, palavras de apoio e incentivo. São pessoas mais acostumadas a lidar com os medos, inseguranças e desejos de superação.

Com essas primeiras experiências, percebi que, para que outras pessoas com deficiência praticassem atividades de aventura, muitas vezes não havia a necessidade de adaptação física alguma, apenas de uma atenção especial do profissional que estava comandando o procedimento.

A principal adaptação é a humana, a preocupação em se antecipar às dificuldades que a pessoa possa ter e se adaptar a elas. Vi que dava para todo mundo desfrutar das emoções do contato com a natureza, independentemente da performance ou da radicalidade do esporte. Tudo pode ser feito. Não há por que se limitar.

A segurança é um fator decisivo, mas não deve haver exageros. É importante oferecer o máximo de independência possível, dando a oportunidade de todos participarem sem se sentir sufocados.

Diferentemente dos esportes considerados radicais, como skate, por exemplo, nas atividades de aventura há um risco controlado, com segurança, mas em que temos muito prazer com a descarga de adrenalina.

Em princípio é possível distinguir a atividade de aventura de acordo com o esforço e o risco controláveis, bem como com a variação de intensidade, conforme a exigência de cada uma, e também da capacidade física e psicológica do praticante. Já os esportes radicais requerem profissionais capacitados para enfrentar situações de risco.

Oferecida comercialmente e para pessoas que ainda não têm aptidão e pleno domínio, a atividade de aventura

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identifica o Turismo de Aventura para o senso comum. As práticas devem ser conduzidas, instruídas, acompanhadas e podem ser realizadas em espaços naturais ou construídos.

Deve haver, portanto, um tratamento particular, especialmente quanto aos aspectos relacionados à segurança, incluindo diretrizes, estratégias, normas, regulamentos, processos de certificação e outros instrumentos e marcos específicos.

Existe uma grande quantidade de atividades na natureza que pode ser praticada por uma pessoa com deficiência. Às vezes são necessárias adaptações técnicas ou mudanças no procedimento, mas é possível oferecê-las de forma segura e prazerosa.

Não existem padrões de adaptação, pois cada tipo de deficiência exige um ajuste de acordo com a limitação.

. Reabilitação

Na luta pela recuperação, vi que o esporte se transformara no meu principal aliado. As melhoras no meu condicionamento e na coordenação motora eram visíveis. A doença que até então não tinha cura ganhou um poderoso remédio: a adrenalina e o contato com a natureza.

Quando comecei nas atividades de aventura quase não andava e falava pouco. De acordo com a medicina tradicional, eu pioraria a cada dia por se tratar de uma doença degenerativa, no entanto eu me sentia melhor.

Recuperei funções que até então me diziam serem impossíveis de recuperar. Não tenho a pretensão de dizer que descobri uma cura, mas consegui desacelerar o processo degenerativo. Com as atividades mudei todas as previsões

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negativas. Hoje eu estaria muito mais debilitado fisicamente. Já não falaria e certamente estaria imóvel em uma cadeira de rodas.

O corpo não foi o único beneficiado. As atividades de aventura representam também desafios psicológicos e superá-los é muito gratificante.

O primeiro passo é derrubar esse obstáculo, não ter vergonha de sair na rua, de mostrar a cara. Com a chegada de uma deficiência, a vida muda da água para o vinho e a tendência é ficarmos cada vez mais sedentários e debilitados, mas se tivermos vontade e determinação conseguimos fazer tudo aquilo que desejamos.

Não podemos nos deixar abater, nem ter a palavra do médico como definitiva. O corpo humano é tão surpreendente que, mesmo com toda a tecnologia de hoje, há muito que a medicina ainda não desvendou, e muitas vezes o segredo está escondido nas coisas simples, como uma vida social saudável, autoestima elevada, uma rotina sem amarguras. É preciso saber enfrentar a vida com disposição e alegria porque o tempo vai passar independentemente de estarmos alegres ou tristes, então é muito melhor que passe com a gente sorrindo, que é mais agradável para nós e para todos a nossa volta.

Nunca pensei em me entregar, pois acredito que estar bem psicologicamente nos permite encontrar alternativas para quase tudo. A limitação física é um fato, mas se nos sentirmos mentalmente incapazes, o que era um problema acaba se transformando em dois.

Não é porque uma pessoa tem ou adquire uma deficiência que ela se torna incapaz. É importante continuar utilizando as habilidades que restaram, ter bom senso para escolher as atividades e saber que sempre é possível realizar alguma. Eu jamais me atreveria a jogar rúgbi, por ser um jogo

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que depende de uma agilidade que eu sei que não tenho. Mas minha força, minha capacidade de criar estratégias, entre outras características, não foram afetadas, então por que não utilizá-las?

Considerando minhas limitações, avalio que me recondicionei muito bem. Sei que não posso falar para ninguém que vou “correr ali e voltar”, mas sei que eu posso ir devagarzinho.

Por outro lado, se a doença me afetou a visão, então não vou insistir em fazer coisas que dependam dela, como ler e dirigir. Por mais que eu seja insistente, são atividades que infelizmente não voltarão a fazer parte da minha vida sem as devidas adaptações.

Conforme já foi descrito, minha coordenação motora fina, o equilíbrio, a fala e a visão foram prejudicados, mas com o que me resta deles eu ainda posso realizar muitas tarefas.

Se uma pessoa for ao cinema, não importa se ela chega a pé ou de helicóptero ou mesmo numa cadeira de rodas, o filme será exibido e todos vão curtir da mesma forma. O importante é que minhas limitações não me impedem de estar no mesmo lugar, assistindo o mesmo filme, rindo ou me emocionando da mesma forma. Hoje sei que é mais fácil encarar os problemas do que tentar me esconder.

Todo mundo tem dificuldades. A diferença é que nas pessoas com deficiência elas ficam mais aparentes e, por isso, estão sujeitas ao julgamento imediato de todos. A princípio podem parecer mais drásticas, mas não é verdade. Não podemos nos esconder nem ter vergonha da deficiência.

Com relação à palavra doença, de fato, a ataxia é uma doença, mas não a encaro dessa forma. Trato-a como um problema neurológico. Não me sinto doente apesar da dificuldade em caminhar e falar. Levo isso relativamente

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32 - Turismo de Aventura Especial

bem. Infelizmente temos a tendência natural de nos focar nas perdas e frustrações, mas é necessário aprender a dar mais importância para as coisas positivas que acontecem ao nosso redor. Eu vejo muita coisa positiva na minha vida. Acredito que uma porta nunca é fechada sem que se abra uma janela. Podemos nos adaptar e superar as dificuldades com alegria porque tudo tem um caminho que, apesar de ser diferente daquele a que estamos acostumados, cabe a nós encontrar. A primeira “adaptação” é interior.

Hoje o esporte é a minha vida, por necessidade e por prazer, e tenho certeza de que todos podem praticar. Se para uma pessoa considerada “normal” é importante se exercitar, para uma pessoa com deficiência é fundamental, só traz benefícios.

O esporte motiva a vida. A sensação de vitória e superação ao final da atividade independe do resultado, pois cada movimento representa um desafio vencido.

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1. DADá MOREIRA - 33Foto João Olivera: tirolesa em Brotas/SP

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1. DADá MOREIRA - 34

2. AVenturA eSpeciAL. Criação do Site e Oficialização da ONG

. ONG Aventura Especial

. Mauro Brucolli e Ministério do Turismo

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2. AVENTuRA ESPECIAL - 35

2. AVenturA eSpeciAL

. Criação do Site e Oficialização da ONG

Por causa da transformação que as atividades de aventura haviam trazido para a minha vida, comecei a pesquisar sobre lugares que oferecessem serviços adaptados nesse segmento, mas não encontrei nenhuma referência, nem mesmo em outros países, apenas relatos isolados de pessoas com deficiência que, como eu, praticavam algumas atividades.

Em 2001, despretensiosamente comecei a divulgar minhas aventuras na internet, com o intuito de trocar experiências e eventualmente incentivar outras pessoas. Mantinha uma página que se parecia com os blogs dos dias de hoje. Para minha grata surpresa, comecei a receber inúmeros pedidos de informações.

uma amiga web designer, Ângela, ofereceu-me ajuda e construímos o primeiro site chamado Aventura Especial, bastante parecido com o que mantemos ainda hoje, no qual disponibilizávamos depoimentos de pessoas com outros tipos de deficiência que praticavam diversas modalidades. Dessa forma criamos mais possibilidades de os visitantes se identificarem e também de estimular pessoas que nunca tiveram nenhuma experiência.

Nesse espaço, divulgava os destinos onde eu encontrava um atendimento diferenciado e conseguia realizar as atividades que desejava, apesar de não haver adaptações.

Disponibilizamos as orientações da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) sobre a adaptação de banheiros e rampas, porque meu objetivo era que as pequenas pousadas se adaptassem.

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36 - Turismo de Aventura Especial

Por não haver outras referências nacionais nem internacionais sobre o assunto, o site tornou-se uma rede de informações sobre aventura para pessoas com deficiência, conquistando visitantes de todo Brasil e do mundo.

Reunimos roteiros pelo Brasil para a prática de atividades de aventura (escalada, rafting, cascading, paraquedismo, parapente, tirolesa, fora de estrada, acqua ride, ciclismo, parasail, rapel, mergulho, entre outros). A visitação estava muito alta, atraindo principalmente pessoas com deficiência, empresários e estudantes do ramo de turismo, que queriam saber como adaptar as atividades e onde podiam ser realizadas. Então eu disponibilizava essas informações no site, com base nas minhas experiências pessoais e no meu feeling sobre adaptações.

Como não havia no mundo nenhuma iniciativa institucional que oferecesse atividades de ecoturismo e aventura adaptadas, decidi oficializar a ONG Aventura Especial e comecei a desenvolver projetos para buscar apoio de empresas e do governo para estudar de forma científica como isso poderia ser feito.

Sem dinheiro para oferecer as atividades, criei no site uma rede de voluntários para oferecer diversas atividades em todo o país.

Em todos os destinos que visitava procurava conscientizar os empreendedores e identificar as adaptações necessárias. Muitos se diziam adaptados, mas não eram, pois as rampas e os banheiros construídos com essa finalidade não estavam adequados.

. ONG Aventura Especial

O dicionário diz que “acessibilidade” é um substantivo que

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2. AVENTuRA ESPECIAL - 37

denota a qualidade de ser acessível. “Acessível”, por sua vez, indica aquilo a que se pode chegar facilmente; que fica ao alcance.

Havia diversas iniciativas de acessibilidade da pessoa com deficiência aos esportes tradicionais, como basquete em cadeira de rodas, natação, tênis e afins. O conceito de turismo de aventura adaptado, porém, não existia.

A ONG nasceu com o objetivo de trabalhar e produzir informações que viabilizassem a inclusão de pessoas com qualquer tipo de deficiência ao fascinante mundo do ecoturismo e do turismo de aventura. Dessa forma, proporcionar reabilitação por meio de uma nova forma de relacionamento com o corpo, com a natureza e o meio ambiente, oferecer experiências de lazer, diminuir o preconceito e desenvolver práticas e técnicas de adaptação para os que chamamos de “Aventureiros Especiais”.

Mais do que mostrar o potencial da pessoa com deficiência, a ONG buscava incentivá-la a conseguir a autossuperação, pois esse é o espírito da prática de esportes de aventura. Cada passeio é um desafio para o corpo e a mente. Como consequência, há o resgate da autoestima e a desmistificação do potencial da pessoa com deficiência perante a sociedade.

Primeiramente, era necessário lutar contra a verdadeira causa da exclusão na prática de atividades na natureza, a qual até hoje não está relacionada apenas às limitações de uma pessoa com deficiência, mas à falta de informações, de adaptações físicas, de equipamentos, de desenvolvimento de novos produtos e principalmente de qualificação profissional para a prestação de um atendimento adequado.

Para isso era necessário um forte trabalho de sensibilização da indústria do turismo sobre a importância de adaptar seu pessoal, estabelecimentos e atividades para

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receber esse público, enfatizando não apenas os benefícios que proporcionariam a essas pessoas, mas também o retorno financeiro que poderiam obter, visto que se tratava de um nicho de mercado totalmente inexplorado.

Não existiam pesquisas, dados ou informações que permitissem dimensionar a oferta e a demanda real do segmento, muito menos que orientassem a formulação de políticas públicas em relação a esse tema. Tampouco se contava com sistemas de capacitação para prestadores turísticos que tivessem interesse em trabalhar com esse público.

Por se tratar de um conceito arrojado e inovador, comecei a ser frequentemente chamado para ministrar palestras em faculdades, feiras e eventos de turismo.

Foi quando adotei definitivamente o apelido “Dadá”, por ser mais fácil de pronunciar e de as pessoas memorizarem. Principalmente para ser uma forma de me aproximar das pessoas e ajudar na elevação da minha autoestima, pois como

já estava debilitado pelos sintomas da doença, ser identificado pelo nome me ajudava muito.

Para me locomover por esses lugares, passei a utilizar um triciclo com pedal (uma bicicleta adaptada) em vez de cadeira de rodas, pois era muito mais prático e me mantinha em movimento.

Isso fez com que passassem a me reconhecer e virou uma

Foto Canário: Parque Ibirapuera/SP

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2. AVENTuRA ESPECIAL - 39

característica muito pessoal, como uma marca registrada. As pessoas ficavam curiosas e vinham falar comigo para saber do projeto, elogiar e incentivar. Cheguei até a dar autógrafo. Parece bobagem, mas para uma pessoa que estava debilitada, fez toda a diferença e aumentou muito minha autoestima e a vontade de trabalhar por mudanças.

No começo eu tinha vergonha de circular com o triciclo, mas muitas pessoas me pediam para andar e diziam querer se locomover daquela forma, muito menos cansativa. Qualquer adaptação facilita também a vida de pessoas que não têm deficiência, um motivo a mais para que o conceito de “acessibilidade” seja definitivamente incorporado aos hábitos da sociedade.

. Mauro Brucolli e Projeto com o Ministério do Turismo

Minha primeira palestra foi no 3º Encontro Nacional de Turismo, em 2004, na cidade de Belo Horizonte. Os projetos estavam dando muita repercussão.

No caminho do aeroporto para o evento, eu e meu acompanhante José Carlos, o “Canário”, entramos no mesmo táxi que Mauro Brucolli, na época relações institucionais da Adventure Sports Fair – tradicional feira de aventura, realizada anualmente em São Paulo e considerada o maior evento do setor em todo o hemisfério sul.

Havíamos nos apresentado alguns meses antes, durante uma outra feira de turismo na Bienal, em São Paulo. Ele demonstrou interesse nos projetos da ONG, mas acabamos perdendo o contato. Não nos reconhecemos imediatamente ao entrar no táxi, mas depois de alguns minutos de conversa lembramos daquele primeiro encontro.

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40 - Turismo de Aventura Especial

Durante a palestra, havia cerca de 300 pessoas na plateia. Eu estava eufórico por ser a primeira vez que tinha oportunidade de falar para tantas pessoas do ramo e realmente começar a mudar um conceito que para mim já estava mais que ultrapassado.

Contei minha história e falei sobre o potencial do mercado de ecoturismo e esporte de aventura para pessoas com deficiência. Quando acabei, todos aplaudiram muito e percebi que realmente havia provocado uma forte reflexão e enorme surpresa.

Fiquei muito feliz quando o Sr. João Allievi, presidente do Instituto de Ecoturismo do Brasil, declarou: “Há dez anos que assisto a palestras sobre turismo, e esta é a primeira vez que ouço uma coisa nova”.

Na hora do intervalo, Mauro me chamou para almoçar. Parecia tenso, mas depois entendi que na verdade ele estava ansioso para dividir algumas ideias.

No mês seguinte aconteceria a edição anual da Adventure Sports Fair. Ele me colocou entre os palestrantes do Adventure Congress, que ocorria simultaneamente à feira, cedeu um estande para a ONG e promoveu o primeiro encontro entre mim e os ministros Walfrido dos Mares Guia e Marina Silva, do turismo e do meio-ambiente, respectivamente.

Organizamos um circuito com diversas modalidades de aventura, em que participaram pessoas com diferentes deficiências.

O cadeirante Robson iniciou o percurso com rapel, carregando uma mochila com duas camisetas da ONG, que passaria entre todos os participantes. A deficiente auditiva Cláudia remou em um caiaque até o ciclista Alessandro , com ataxia, que pedalou o triciclo adaptado por uma pista de terra até o escalador amputado Silvio. Este passou a mochila para

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2. AVENTuRA ESPECIAL - 41

a Paola, também amputada, que fez uma tirolesa até mim e eu entreguei a mochila nas mãos do ministro. Os aventureiros especiais Juvenil e Paulo deram apoio para fechar o circuito.

Na ocasião, diante de toda a imprensa concentrada no local, o ministro Walfrido me parabenizou pela iniciativa e declarou-se surpreso e feliz com a proposta do projeto, comprometendo-se a trabalhar pelo turismo adaptado e apoiar as ações da ONG.

No dia seguinte ele passou pelo nosso estande e reafirmou suas intenções: “Aquilo que eu te falei não é papo de político não!”

Mantivemos contato com sua comitiva após a feira e, algumas semanas depois, foram enviadas a São Paulo as consultoras Mercês Parente e Maria Madalena Nobre para me ajudar a formatar o “Projeto Aventureiros Especiais – promovendo o turismo de aventura adaptado”, que teve início em 1º de junho de 2005.

Ministra do Meio Ambiente Marina Silva e Walfrido dos Mares Guia Ministro do Turismo na Adventure Sports Fair

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3. proJeto AVentureiroS eSpeciAiS

. Objetivos

. Fase 1PesquisaEscolha do Destino-PilotoSeleção das AtividadesPlanejamento dos Testes de CampoEquipe MédicaCapacitação

. Fase 2TestesEquipamentosMatriz de Acessibilidade

. Fase 3DivulgaçãoCartilhasResultadosEstância de SocorroRetorno

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3. PROJETO AVENTuREIROS ESPECIAIS - 43

3. proJetoAVentureiroS eSpeciAiS

. Objetivos

A missão da ONG Aventura Especial era oferecer condições para que pessoas com deficiência pudessem ter experiências de lazer em contato com a natureza, diminuindo, assim, o preconceito e assegurando a existência de opções que permitissem a prática de ecoturismo e de atividades de aventura adaptadas.

Considerando que a natureza e as atividades praticadas ao ar livre têm o poder de aproximar as pessoas, estimular o companheirismo, o espírito de união, o respeito ao próximo e ao meio ambiente, nasceu o “Projeto Aventureiros Especiais”, uma oportunidade de sair do sonho e intervir na realidade.

Até então eu produzia informações sobre minhas experiências pessoais, a troca de conhecimento com profissionais de aventura e falava de acessibilidade com base no meu próprio conhecimento, mas a partir desse projeto foi possível mostrar, de forma científica, que adaptações podem e devem ser feitas para o atendimento à pessoa com deficiência e comprovar sua viabilidade.

O objetivo principal agora era identificar as adaptações necessárias nas principais atividades de aventura disponíveis no mercado, eliminando barreiras físicas e humanas e desenvolvendo técnicas para proporcionar um atendimento qualificado a pessoas com qualquer tipo de deficiência.

Visávamos aplicar essas adaptações na criação de um

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44 - Turismo de Aventura Especial

roteiro de aventura totalmente acessível, o que representava também um produto turístico inédito.

Não era um projeto simples, mas algo que envolveria colaboradores das mais diversas áreas.

. Fase 1

PesquisaA primeira fase foi dedicada a pesquisas e planejamento,

pois era necessário mapear o universo das pessoas com deficiência em todo o país, apurar o perfil dessa população e identificar diferentes demandas de acessibilidade.

Para isso criamos uma base de dados e uma rede para troca de informações com empresas, associações, clubes, ONGs, hospitais e afins, no Brasil e no exterior, cujo trabalho estava ligado à reabilitação de pessoas com deficiência, o que nos permitiu detectar as características dos turistas especiais, as necessidades de adaptação e as possibilidades de acesso ao turismo de aventura e também obter apoio às ações de divulgação das etapas do projeto.

Com base nessas informações, estruturamos os testes de campo, em que viríamos a analisar incansavelmente cada atividade até encontrar o formato ideal para um atendimento eficiente.

Escolha do destino-pilotoEra necessário definir o lugar onde os testes seriam

realizados, e a Estância de Socorro foi pré-selecionada por apresentar algumas facilidades e eu e Mauro Brucolli já conhecermos algumas pessoas da cidade, especialmente o Sergio Franco, idealizador da Adventure Sports Fair.

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3. PROJETO AVENTuREIROS ESPECIAIS - 45

Localizada a 132 km de São Paulo, o município já era considerado um dos principais no Circuito Nacional das Atividades de Aventura. Era o mais viável em termos de distância.

Fundada em 1829 e então com cerca de 32.600 habitantes, a estância é recortada por rios, cachoeiras, montanhas, vales, matas, trilhas, grutas e parques preservados. Ainda em expansão, 45% da atividade econômica era dedicada ao turismo, comércio e prestação de serviços.

Todos os meses, uma média de 1.000 pessoas passava por Socorro em busca dessas atividades. Mais de 15 modalidades de aventura eram praticadas em terra, água e ar e por essas razões foi escolhida para a realização dos nossos primeiros trabalhos práticos.

Até então a ideia era realizar o primeiro teste em Socorro e o segundo na cidade de Brotas, outro importante destino de aventura no interior de São Paulo. Dessa forma poderíamos estudar as adaptações em lugares diferentes.

Na Adventure Fair conheci José Fernandes Franco, empresário integrante do CONTuR (Conselho de Turismo) de Socorro, que mostrou grande acolhimento ao projeto, buscando o envolvimento de outras empresas e órgãos públicos da região e adaptando seus estabelecimentos para nos receber. Por esta razão, Socorro foi definitivamente eleita nosso destino-piloto.

Era necessária a integração entre os representantes dos órgãos de turismo da cidade e a ONG, por isso foi criado um comitê para a atuação em conjunto.

Além de auxiliar na organização dos diferentes grupos envolvidos e interessados no projeto, o comitê elaborou um plano de acessibilidade para a infraestrutura local.

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46 - Turismo de Aventura Especial

Seleção das atividadesO próximo passo foi selecionar as atividades mais

viáveis para estudo e adaptação, já que não seria possível trabalhar com a totalidade oferecida no mercado. Escolhemos as atividades que, a princípio, seriam as mais complicadas, para que, posteriormente, os procedimentos e adaptações identificados servissem para outras mais fáceis.

Inicialmente foi feita a identificação das atividades de turismo de aventura realizadas na cidade, divididas em atividades em terra, no ar e na água e classificadas de acordo com a demanda real (em alta, média e baixa).

Para determinar o grupo final de atividades que fariam parte do projeto, todas foram discutidas em oficinas com a participação de empresários do setor.

Nessa etapa foram avaliadas as possibilidades de adaptação de cada modalidade e analisadas as condições locais de infraestrutura para a prática.

Buscamos escolher as atividades que pudessem atender à maior variedade de pessoas com deficiência, levando em conta também a demanda na cidade e a quantidade de operadores que as ofereciam.

Por consenso entre os participantes, foram definidas para integrar o projeto as seguintes atividades: Trilha, Fora de Estrada, Arvorismo, Tirolesa, Rapel, Rafting, Bóia-cross e Acqua ride.

Planejamento dos testes de campoNessa etapa, os locais indicados para a simulação

dos testes foram visitados com o objetivo de identificar as adaptações mínimas, mesmo que provisórias, para que pudessem receber um grupo de pessoas com deficiência.

Foram analisadas as condições de acessibilidade de banheiros, vestiários, meios de transporte, estacionamentos,

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3. PROJETO AVENTuREIROS ESPECIAIS - 47

locais de saída e chegada de cada atividade. Ao estudar as atividades, identificamos a necessidade

de adaptar também os pontos turísticos tradicionais, a infraestrutura da cidade de um modo geral, considerando que o Aventureiro Especial deveria ter acesso a serviços comuns a qualquer outro turista, como bancos, orelhões, hospitais, correios, lan-houses e afins. um relatório sobre tais necessidades, contendo lista de sugestões de adaptação, foi encaminhado à prefeitura da Estância e estas vêm sendo gradualmente atendidas.

Os estabelecimentos que desejavam pertencer ao roteiro acessível foram analisados e instruídos a apresentar uma série de adaptações obrigatórias. Era de suma importância a participação das agências de turismo, secretarias, prefeitura, empresas de transporte, entre outras.

Equipe médicaDesde o planejamento dos testes, contamos com a

consultoria de profissionais das áreas de medicina esportiva, reabilitação e educação especial.

Recebemos apoio da equipe de ortopedia e traumatologia do esporte da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que disponibilizou os médicos Mauro e Vanessa para acompanhar os estudos.

Cada participante e deficiência foram analisados individualmente para identificar como os operadores deveriam proceder durante as atividades.

A equipe médica desenvolveu procedimentos específicos para cuidados com os Aventureiros Especiais em todos os momentos, como auxílio na troca de roupas, posicionamento nos equipamentos, comunicação alternativa e outras peculiaridades do grupo.

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48 - Turismo de Aventura Especial

Os especialistas alimentaram protocolos de anotações e entrevistas, aplicados antes, durante e após cada atividade. Depois dos testes foram elaborados relatórios técnicos com o parecer sobre as atividades e os resultados obtidos, além de sugestões para melhorias.

CapacitaçãoTodos os guias e monitores deveriam estar preparados

para atender pessoas com diferentes deficiências, por isso passaram por uma oficina de preparação, na qual receberam informações sobre as principais características e cuidados especiais ao lidar com cada tipo de deficiência.

. Fase 2

TestesCom as viagens a campo, foram praticadas, avaliadas,

aprimoradas e identificadas as melhores técnicas de adaptação para as diversas atividades.

Foram realizados quatro testes:No primeiro, identificamos e registramos as adaptações

necessárias para cada tipo de deficiência. As informações documentadas nos ajudariam a pré-formatar um padrão de atendimento adequado.

No segundo aplicamos as metodologias desenvolvidas com base nas informações do primeiro teste, porém, conforme previsto, foram identificadas falhas e a necessidade de equipamentos específicos.

Buscamos parcerias para desenvolver protótipos dos equipamentos adaptados necessários (que serão mais detalhados adiante) e os aplicamos no terceiro teste de

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3. PROJETO AVENTuREIROS ESPECIAIS - 49

campo, buscando identificar falhas e avaliar novamente os procedimentos de atendimento.

O quarto teste de campo constituiu a aplicação final, com suas devidas reparações, de todas as técnicas e procedimentos que haviam se mostrado necessários para que a prática por pessoas com deficiência ocorresse de forma segura, saudável e prazerosa, incluindo a versão final dos equipamentos desenvolvidos.

Em todas essas etapas, pessoas com diferentes deficiências físicas, sensoriais, mentais e múltiplas foram acompanhadas por fisioterapeutas, educadores físicos, traumatologistas, experts em aventura, entre outros profissionais.

Todos praticaram modalidades de aventura no intuito de apurar as necessidades de adaptações e condutas a serem seguidas pelos profissionais do turismo.

No teste final os Aventureiros Especiais foram recebidos como verdadeiros turistas, não mais como voluntários, sendo de grande importância para a avaliação da assimilação do conteúdo trabalhado ao longo do projeto.

EquipamentosDurante os testes de campo identificamos a necessidade

de desenvolver equipamentos específicos para a adaptação das atividades. Os equipamentos convencionais foram analisados quanto à sua efetividade em relação ao posicionamento, praticidade, transferência, conforto e integridade da pessoa com deficiência e demonstraram não ser apropriados.

Todos os procedimentos foram avaliados pela equipe médica e, com base nas especialidades de cada profissional, indicadas as adaptações que os novos equipamentos deveriam contemplar.

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Por não existirem no mercado, sua criação representou um dos maiores desafios do projeto. Foram idealizados, desenhados, criados e testados através de parcerias com empresas que detinham conhecimentos muito específicos.

a. Cadeirinha adaptada para técnicas verticaisIndicada para a prática de tirolesa, rapel e arborismo,

possui um design diferenciado que envolve o usuário desde as costas até as pernas, com três sistemas de segurança reguláveis individualmente, oferecendo total suporte e deixando na posição correta uma pessoa que não tenha sustentação no tronco.

Diferentemente do equipamento tradicional, proporciona maior firmeza, conforto e segurança, mantendo o equilíbrio e posicionamento correto durante a atividade.

Foi desenvolvida com base em um equipamento utilizado na prática de parapente. Os materiais utilizados foram os mais resistentes: cintos de poliéster de alta tenacidade e fivelas de aço de engate e ajuste rápido.

Na parte posterior há uma proteção que sustenta as costas. Deve-se vestir a cadeirinha com uma alça em cada braço. Em seguida, prendem-se os quadris, utilizando o sistema de ancoragem central unido pelas duas cintas de

poliéster. A terceira parte envolve as pernas na altura das coxas, passando uma tira por cima para ajustá-la ao corpo. As três partes são presas por dois mosquetões: o primeiro prende o cinto peitoral ao cinto pélvico e o outro

Cadeirinha para técnicas Verticais

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3. PROJETO AVENTuREIROS ESPECIAIS - 51

prende este às pernas. Os dois mosquetões, por sua vez, são fixados a uma cinta regulável, que será o ponto de ancoragem principal do equipamento.

b. Cadeira para o bote de rafting (para pessoas sem mobilidade no tronco)

Esse equipamento atende pessoas com deficiência, especialmente as que apresentam grande comprometimento no controle do tronco, durante o rafting. Foi desenvolvida com base em um modelo de cadeira utilizada em kart.

Feita em fibra de vidro, é totalmente acolchoada e conta com um apoio de cabeça regulável. A cadeira deve ser afixada ao bote com fitas de velcro, possibilitando a colocação e retirada do equipamento.

Fica na parte do meio, acomodada entre as duas bisnagas. Na cadeira, a pessoa se mantém corretamente posicionada, não correndo o risco de tombar durante o percurso. O participante não fica preso a ela, apenas encaixado, garantindo que, caso o bote vire, se solte automaticamente.

Deve-se avaliar individualmente qual o melhor posicionamento. Em casos de membros inferiores flácidos, colocam-se as pernas sobre a bisnaga. Caso as pernas sejam rígidas ou a pessoa tenha movimentos involuntários, é recomendável fixar os pés no vão entre a bisnaga e o piso.

c. Colete salva-vidas adaptadoComo muitas deficiências causam dificuldades para que

o participante mantenha a posição correta quando cai na água, este equipamento apresenta maior flutuação na parte frontal acompanha duas bóias auxiliares para as pernas.

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52 - Turismo de Aventura Especial

Foram realizados testes até chegar à densidade de espuma ideal, que faz com que o participante seja posicionado automaticamente, ficando em posição de corredeira (de

barriga para cima) até que seja resgatado.O colete é feito na cor vermelha, para que o usuário

seja identificado mais rapidamente e possui faixa inguinal, que impede a subida do colete enquanto uma pessoa sem mobilidade espera pelo resgate.

d. Cadeira de uma rodaA cadeira de uma roda foi desenvolvida para auxiliar a

locomoção em trilhas e terrenos de solo acidentado. Este equipamento atende à finalidade de transportar o

Aventureiro Especial em passeios e no acesso aos locais de início e término das atividades. Projetada para utilização em lugares com grandes obstáculos naturais, conta com apenas uma roda para que possa passar por locais estreitos, sistema de suspensão semelhante ao utilizado em motos, sistema de freios para o condutor do equipamento posicionado na parte traseira e apoio de pé regulável conforme a altura do usuário. Sua utilização é simples como a cadeira de rodas convencional, necessitando apenas da assistência de dois monitores para sua locomoção.

Apresenta as seguintes características:- Sistema de cinto de segurança peitoral/pélvico;- Sistema de tripé (dobrável), para manter a cadeira estável

quando parada;- Apoio de cabeça regulável;- Apoia-braços rebatível para facilitar a transferência do usuário;

Colete e Cadeira para bote de Rafting

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- Fitas de velcro nos braços e nas pernas para contenção;- Pedais com regulagem para abrir e fechar;- Sistema de freios com trava;- Apoio de tronco removível.

e. Veículo adaptadoPara o transporte terrestre de média e longa distância,

utilizamos um veículo com sistema de elevador na porta, que transfere o cadeirante para o interior do veículo. um cinto de segurança prende a cadeira ao chão e outro, convencional, é colocado no passageiro, conforme as normas de segurança para transporte de pessoas. Caso algum desses cintos não esteja devidamente encaixado, o veículo não obedece aos comandos de partida.

Todos os equipamentos adaptados, inéditos no mercado, foram cuidadosamente produzidos com os melhores materiais. Após vários testes, tiveram resultados satisfatórios entre praticantes e profissionais das diversas áreas envolvidas.

Trilha no Campo dos Sonhos - Socorro/SP

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54 - Turismo de Aventura Especial

Matriz de Acessibilidade

Com base nas experiências realizadas nos testes, foi possível elaborar a primeira versão do que chamamos de “Matriz de Acessibilidade”. Essa matriz foi apresentada no 2º Salão Brasileiro de Turismo, e hoje é utilizada pelas operadoras para identificar as atividades que podem ser praticadas pelas pessoas com deficiência:

As atividades foram categorizadas conforme os seguintes critérios:

Trilha

Fora de Estrada

Arvorismo

Tirolesa

Rapel

Rafting

Bóia-cross

Acqua ride

Def

. Aud

itiva

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Pode ser praticada normalmente - não existe nenhuma dificuldade específica pelo tipo de deficiência ou a dificuldade para adaptação é mínima. O operador deverá contar com monitores treinados no atendimento a pessoas com deficiência.

Requer o uso de equipamentos adaptados. O operador deverá contar com monitores devidamente treinados no uso desses equipamentos e no atendimento ao Aventureiro Especial.

Não apresenta, no momento, condições de ser praticada com segurança para este tipo de deficiência.

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3. PROJETO AVENTuREIROS ESPECIAIS - 55

Vale destacar que muitas atividades somente podem ser praticadas com os equipamentos adaptados, desenvolvidos especialmente pelo projeto. A criação desses protótipos, fruto de parcerias com diferentes fabricantes, proporcionou um aumento considerável no número de modalidades adaptáveis.

. Fase 3

DivulgaçãoCom base nas informações produzidas neste estudo,

foram desenvolvidas cartilhas para os operadores, Aventureiros Especiais e gestores, além de cursos e palestras para orientar e conscientizar a indústria do turismo sobre os procedimentos adequados ao relacionamento, comunicação alternativa e adaptações de seus estabelecimentos, destinos e atividades, de modo que atendam esse imenso público consumidor com qualificação.

Cartilhasa. Para Turistas EspeciaisFoi elaborada para que pessoas com deficiência

conheçam o turismo de aventura, indicando as atividades que podem ser praticadas conforme cada tipo de deficiência e oferece dicas de segurança que devem ser consideradas antes, durante e depois de cada uma dessas modalidades.

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56 - Turismo de Aventura Especial

b. Para OperadorasDocumento de orientação para os responsáveis pelo

atendimento direto de pessoas com deficiência no turismo de aventura. Indica as atividades que podem ser oferecidas, mencionando conhecimentos específicos e condições de segurança que devem ser respeitadas.

Além dos conceitos básicos, são apresentadas informações conceituais, formalidades e cuidados a serem observados relativamente ao tratamento da pessoa com deficiência quanto à sua integridade física, social, moral e psicológica.

c. Para GestoresFoi produzida para orientar os meios realizadores,

como empresas turísticas, hotéis, estabelecimentos comerciais, restaurantes, cafés, lanchonetes, parques, secretarias, prefeituras, empresas de transporte, entre outras, sobre como participar e tornar viável a inclusão da pessoa com deficiência, compreendendo as adaptações físicas e humanas necessárias desde o primeiro contato do turista especial com o estabelecimento até a finalização de cada atividade.

ResultadosAs etapas e metas foram cumpridas e hoje podemos

dizer que o Projeto Aventureiros Especiais é uma referência internacional no desenvolvimento da atividade de turismo de aventura especial.

Tornamos possível a oferta de condições para que as pessoas com deficiência tenham experiências de lazer em contato com a natureza, diminuindo o preconceito

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3. PROJETO AVENTuREIROS ESPECIAIS - 57

e assegurando a existência de opções que permitem a prática de ecoturismo e de atividades de aventura de forma segura.

As propostas foram alcançadas e a viabilidade da prática da atividade de aventura por pessoas com deficiência já é uma realidade.

O roteiro foi estabelecido e uma série de materiais foi desenvolvida para orientar e dar subsídios a quem se interessar por este mercado. As atividades de aventura consideradas mais complexas e sem históricos referenciais puderam ser adaptadas e os procedimentos e facilidades criados poderão ser aplicados em outros segmentos do turismo.

Hoje o Turismo de Aventura Especial é alvo de novas iniciativas e políticas públicas, consagrando-se como importante ferramenta de inclusão social, fomentador do turismo e desenvolvimento econômico em outras regiões do Brasil.

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58 - Turismo de Aventura Especial

Estância de SocorroApós a finalização do “Projeto Aventureiros Especiais”,

a Estância de Socorro recebeu novos investimentos em iniciativas públicas e privadas, envolvendo parcerias entre as esferas do governo federal, estadual e municipal.

Com o crescimento da demanda e compreendendo a necessidade de profissionalização para atendimento ao público com deficiência, o Ministério do Turismo não apenas reconheceu o Turismo de Aventura Especial como segmento, como também o incluiu na lista dos dez segmentos prioritários para promoção nacional e internacional, por meio do Projeto de Estruturação de 10 Destinos Referência em Segmentos Turísticos, no qual se pretende transformar a Estância de Socorro num município modelo em turismo de Aventura Especial.

Se bem implementadas as adaptações, o que inicialmente seria um roteiro adaptado tornar-se-á um destino universalmente acessível.

A formatação desse produto turístico é uma iniciativa inédita que fará do Brasil referência internacional de turismo de aventura para pessoas com deficiência.

No início de 2009, a cidade ganhou equipamentos públicos adaptados e desde então vem recebendo investimentos para construir banheiros e rampas de acesso para cadeirantes, demarcar vagas de estacionamento para motoristas especiais, instalar semáforos sonoros para deficientes visuais nos principais pontos da cidade e adaptar calçamentos.

No Salão do Turismo de 2009, a Estância de Socorro foi um dos principais destinos em exposição.

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Trilha

Fora de Estrada

Arvorismo

Tirolesa

Rapel

Rafting

Boiacross

Acquaride

3. PROJETO AVENTuREIROS ESPECIAIS - 59

Referência em acessibilidade, Socorro (SP) recebe Seminário de Multiplicação de Boas Práticas

Brasília (05/11/09) - A Estância Hidrotermal de Socorro (SP) foi o segundo município brasileiro a receber o Seminário de Multiplicação de Boas Práticas, que faz parte da segunda etapa do projeto “Destinos Referência em Segmentos Turísticos”, do Ministério do Turismo (MTur). O evento, que termina na noite desta quinta-feira (04), é destinado a empresários, gestores da região e de outros destinos relacionados ao segmento de Aventura Especial. Cerca de 30 pessoas participam das atividades. Entre elas, representantes do município e dos estados de Pernambuco, do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Na ocasião, os participantes conheceram pontos e empreendimentos turísticos adaptados para pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida, como o Hotel Fazenda Campo dos Sonhos. Além disso, percorreram trechos da cidade com os olhos vendados. A intenção, segundo a coordenadora geral de Segmentação do MTur, Sáskia Lima, era simular a experiência de locomoção de um deficiente visual na cidade, que é destino referência do MTur em Turismo de Aventura Especial.

“Os participantes do encontro puderam experimentar as dificuldades vividas pelas pessoas com deficiência, foram sensibilizados, e perceberam a importância da adoção de procedimentos para a adequação de espaços físicos”, contou a coordenadora.

Em 2008, Socorro recebeu R$ 1,7 milhão do MTur,

Prazer do turismoao alcance de todos.

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60 - Turismo de Aventura Especial

destinado à adoção de medidas para a garantia de um atendimento de qualidade às pessoas com deficiência. Com os investimentos, o município recebeu obras de infraestrutura turística, cursos de qualificação profissional, adequamento de passeios, equipamentos especiais, dentre outros.

O próximo Seminário de Multiplicação de Boas Práticas acontecerá nos dias 09 e 10 de novembro, no município de Lençóis (BA), que é destino referência do MTur no segmento de Aventura.

DESTINOS REFERÊNCIAO projeto Destinos Referência em Segmentos Turísticos,

iniciado em 2008, prevê a estruturação de 10 municípios brasileiros, a partir de segmentos prioritários para a promoção nacional e internacional.

Conheça os 10 destinos contemplados pelo projeto:

Segmento CidadesSol e Praia Jijoca de Jericoacoara – CE

Aventura Lençóis (Chapada Diamantina) – BA

Estudos eIntercâmbio

São João Del Rei – MG

Negócios eEventos

Ribeirão Preto – SP

Ecoturismo Santarém e Belterra – PA

Cultural Paraty – RJ

Rural Anitápolis, Santa Rosa de Lima,Rancho Queimado e urubici – SC

Pesca Barcelos – AM

Aventura Especial Socorro – SP

Cinema Brasília – DF

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3. PROJETO AVENTuREIROS ESPECIAIS - 61

RetornoOs Aventureiros Especiais já representam 30% das taxas

de ocupação e prestação de serviços nos empreendimentos que investiram em acessibilidade e foram destaque em vários meios de comunicação.

O Parque dos Sonhos recebeu o Prêmio Superação Empresarial 2008 – Categoria Serviços de Turismo, promovido pelo Sebrae/SP e outras entidades. Os auditores do prêmio consideraram que o fator de maior peso na avaliação foi a adaptação para receber pessoas com deficiência.

José Fernandes, proprietário, conta que, antes mesmo de concluir as reformas, ficou surpreso com o aumento no número de turistas especiais que passaram a visitar os locais todo mês. Segundo ele, isto é uma prova de que tudo o que se faz em termos de responsabilidade social reverte imediatamente em resultados para a empresa.

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4. turiSmo De AVenturA eSpeciAL

. Características

. Mercado

. Brasil como Referência Mundial

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4. TuRISMO DE AVENTuRA ESPECIAL - 63

4. turiSmo DeAVenturA eSpeciAL

. Características

A princípio pode parecer difícil, mas com o apoio de profissionais capacitados é possível adaptar muitas atividades de aventura para os mais diversos tipos de deficiência.

Tão importante quanto a adaptação física é a adaptação humana. Não existe uma forma padrão, pois cada um tem uma dificuldade e necessita de um tipo de atenção. uma adaptação feita pensando num cadeirante pode não atender a todos os cadeirantes, e assim vale para todas as deficiências.

Nada melhor do que perguntar ao Aventureiro Especial qual a melhor maneira de ajudá-lo. Com certeza, a experiência será compensadora tanto para o guia quanto para o turista.

Os empreendimentos que desejam adaptar suas atividades de aventura geram outra demanda: a de pessoal especializado e de apoio técnico e mercadológico.

A criação de produtos turísticos sob essa ótica coloca o país em destaque, tornando-o um grande atrativo para os turistas especiais estrangeiros pelo pioneirismo do trabalho.

Pelas particularidades deste segmento, que não necessita de locais de visitação altamente competitivos pelos seus atrativos naturais, mas de adaptações mínimas no atendimento e na infraestrutura, poderão ser beneficiados destinos que apresentam baixo potencial turístico aparente. Rios sem corredeiras, lagoas não muito profundas e trilhas leves passam a ser um atrativo para pessoas com deficiência.

Page 64: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

64 - Turismo de Aventura Especial

. Mercado

A Organização das Nações unidas estima que 610 milhões de pessoas em todo o planeta apresentam alguma forma de deficiência física, sensorial ou mental. Cerca de 30 milhões são brasileiros.

Dados da Organização Mundial da Saúde afirmam que, todos os dias, apenas no Brasil, aproximadamente 500 pessoas são incluídas nessa estatística, vítimas de doenças, violência urbana ou acidentes.

Esses dados não representam apenas a realidade brasileira. A OMS afirma que 10% da população dos países desenvolvidos tem alguma deficiência. Nos países em desenvolvimento o número sobe para 12% a 15%.

Se somarmos as pessoas com deficiência temporária (engessados ou convalescentes) e aquelas com locomoção reduzida, como idosos, obesos e gestantes, esses números crescem consideravelmente.

Pesquisas comprovam que as pessoas em geral não gostam de fazer viagens de lazer sozinhas – a média é de quatro pessoas por grupo. Portanto, ter condições de atender o turista especial atrai também seus amigos e familiares, além de grupos para excursões.

Esse número significativo parece não sensibilizar o mercado do turismo, pois até hoje muito pouco foi feito para facilitar a acessibilidade e incentivar as pessoas com deficiência a desfrutar ativamente de seus produtos e serviços.

Esse enorme contingente raramente é visto circulando nas ruas, praças, parques e campo ou participando das diversas atividades, seja por falta de acessibilidade ou para evitar o preconceito.

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4. TuRISMO DE AVENTuRA ESPECIAL - 65

A indústria do turismo é um dos setores da economia que mais se expande em todo o mundo.

Torna-se, portanto, fundamental adequar os produtos e serviços que formam a cadeia produtiva da indústria turística às necessidades de segmentos específicos da população que, por razões diversas, ainda sofre limitações para a prática do turismo, garantindo o pleno exercício da cidadania àqueles que até hoje não puderam desfrutar do direito de ter acesso aos bens oferecidos pela indústria do turismo.

A pessoa com deficiência é um consumidor potencial, ainda sem opções de lazer, cultura e transporte.

Todo profissional que trabalhe direta ou indiretamente com a indústria do turismo, seja em hotelaria, gastronomia, agências, operadoras ou outras áreas afins, deve se preocupar em adquirir as habilidades necessárias ao atendimento inclusivo.

Além da função social característica, esta é uma iniciativa fomentadora da economia do turismo no país, que contribui na geração de emprego, renda e mão de obra especializada, na diminuição da sazonalidade dos destinos e no aumento da oferta de produtos turísticos para o mercado nacional e internacional, tornando os polos turísticos atrativos até no exterior.

Para o turista especial um novo horizonte se abre, e para o profissional, a oportunidade de explorar um novo mercado, além de um enorme enriquecimento em suas relações interpessoais.

Hotéis, restaurantes, pousadas e afins passam por pequenas reformas para eliminar obstáculos, como degraus e portas estreitas nos quartos e banheiros.

Ao adaptar um estabelecimento para receber o turista especial, automaticamente este se torna apto a receber

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66 - Turismo de Aventura Especial

também um trabalhador com deficiência. É muito mais agradável e pessoal para o turista especial ser atendido por outra pessoa com deficiência.

Muitos lugares que se dizem acessíveis na verdade não são, pois suas adaptações não são eficientes.

A acessibilidade no turismo é uma responsabilidade que não cabe apenas a entidades ligadas ao atendimento direto, mas estende-se também aos órgãos públicos, que devem considerar em suas estratégias políticas, a forma como poderiam tornar viável a inclusão da pessoa com deficiência.

Durante a Reatech 2006, feira voltada a produtos e serviços de reabilitação da pessoa com deficiência, a ONG Aventura Especial realizou, em parceria com a Divisão de Pesquisa e Planejamento da SP Turismo – órgão vinculado ao governo do estado de São Paulo –, um estudo com centenas de pessoas com diferentes deficiências para identificar seus hábitos e carências em relação a serviços turísticos.

A maioria dos pesquisados viaja pelo menos uma vez por ano e em 55% dos casos acompanhados das famílias. Destes, 48% programam suas viagens por conta própria e 35% recorrem aos familiares.

Na hora de definir a viagem, 43% dos entrevistados têm na assistência especializada e na companhia de familiares a segurança necessária para realizarem a viagem.

Embora a hospedagem tenha sido predominantemente a casa de amigos ou parentes, 35% dos entrevistados procuraram por hotéis e flats.

A maioria das observações registradas na pesquisa foi relacionada à falta de infraestrutura – 58% dos participantes reclamam.

Sobre a prática de atividades físicas, de aventura e ecoturismo, menos de um quarto respondeu que pratica

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4. TuRISMO DE AVENTuRA ESPECIAL - 67

alguma atividade de aventura ou ecoturismo. É possível notar o aumento da procura por atividades de aventura do público em função da crescente divulgação sobre o assunto.

O objetivo da pessoa com deficiência em 28% dos casos é a autoestima; em seguida aparecem a promoção e inclusão social entre 22% dos pesquisados e a liberdade para 19% deles.

Com base nesses dados é possível identificar o potencial representado por esse público em questões mercadológicas.

. Brasil como Referência Mundial

Com um trabalho de divulgação massivo dos resultados e consequências do “Projeto Aventureiros Especiais”, o Brasil obteve uma posição de destaque no cenário internacional.

A ONG Aventura Especial desenvolveu cursos e palestras para orientar e conscientizar a indústria do turismo sobre os procedimentos adequados no relacionamento, comunicação com o turista especial, adaptações de seus estabelecimentos, destinos e atividades, visando disseminar a prática em outras regiões e fazer com que o país como um todo seja mundialmente reconhecido como referência em turismo de Aventura Adaptado.

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5. tipoS De DeficiÊnciA

. Deficiência Sensorial Deficiência auditivaDeficiência visualDeficiência sensorial múltipla - Surdocegueira

. Deficiência Física Monoplegia, diplegia, hemiplegia, paraplegia e

tetraplegiaAmputação de membros

. Deficiência MentalSíndrome de Down

. Deficiência MúltiplaEncefalopatia Crônica não Progressiva (ECNP)

. Mobilidade ReduzidaAtaxia ou Síndrome Cerebelar (SCA)Cadeirantes

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5. TIPOS DE DEFICIÊNCIA - 71

5. tipoS De DeficiÊnciA

As adaptações identificadas e descritas foram estabelecidas com base nas necessidades de pessoas com diversos graus de deficiências sensoriais, físicas, mentais, múltiplas e mobilidade reduzida, contemplando um universo dos tipos de deficiências mais comuns.

Ao oferecer qualquer serviço adaptado, é importante conhecer as principais características apresentadas por pessoas pertencentes a estes grupos e preparar-se para atendê-las.

. DEFICIêNCIA SENSORIAL

Deficiência auditiva1. DenominaçãoSurdo ou deficiente auditivo.2. DescriçãoDeficiência auditiva é o nome usado para indicar perda

de audição ou diminuição na capacidade de escutar os sons. Qualquer problema que ocorra em alguma das partes do ouvido pode levar a uma deficiência na audição. Entre as várias deficiências auditivas existentes, há as que podem ser classificadas como condutiva, mista ou neurossensorial. A condutiva é causada por um problema localizado no ouvido externo e/ou médio, que tem por função “conduzir” o som até o ouvido interno.

Essa deficiência, em muitos casos, é reversível e geralmente não precisa de tratamento com aparelho auditivo, apenas cuidados médicos. Se a lesão ocorre no ouvido interno, a deficiência recebe o nome de “neurossensorial”. Nesse caso,

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72 - Turismo de Aventura Especial

não há problemas na “condução” dos sons, mas acontece uma diminuição na capacidade de receber os que passam pelo ouvido externo e ouvido médio. A deficiência neurossensorial faz com que as pessoas escutem menos e tenham maior dificuldade de perceber as diferenças entre os sons.

A deficiência auditiva mista ocorre quando há ambas as perdas - condutiva e neurossensorial - numa mesma pessoa.

Nos casos em que a pessoa é acometida pela surdez antes de aprender falar, ela acaba não desenvolvendo esta habilidade, uma vez que não tem referências para aprender a pronunciar as palavras – mas isto não quer dizer que seja muda. Aliás, é raro uma pessoa que não emite nenhum tipo de som, portanto esse termo utilizado para as pessoas surdas é equivocado.

Quando a perda se dá após a concepção dos fonemas, continuam utilizando a linguagem oral para comunicação. Em ambos os casos podem desenvolver técnicas como a leitura labial e o Tadoma - Método em que colocam a mão sobre as cordas vocais do interlocutor e pela sua vibração, compreendem a mensagem.

3. ClassificaçãoOs níveis utilizados para caracterizar os graus de

severidade da deficiência auditiva são: • AudiçãoNormal–de0a24dB;• DeficiênciaAuditivaLeve–entre25e40dB;• DeficiênciaAuditivaModerada–entre41e70dB;• DeficiênciaAuditivaSevera–entre71e90dB;• DeficiênciaAuditivaProfunda–acimade90dB.

4. CausasSão várias as causas que levam à deficiência auditiva. A

condutiva, por exemplo, tem como fatores o acúmulo de cera no canal auditivo externo e as otites. Quando uma pessoa tem

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5. TIPOS DE DEFICIÊNCIA - 73

uma infecção no ouvido médio, essa parte do ouvido pode perder ou ter diminuída a capacidade de “conduzir” o som até o ouvido interno.

A deficiência neurossensorial pode ser genética. Doenças como rubéola, varíola ou toxoplasmose e medicamentos tomados pela mãe durante a gravidez, assim como a incompatibilidade de sangue entre mãe e bebê (fator RH) podem causar rebaixamento auditivo.

Meningite, sarampo, caxumba, infecções nos ouvidos, especialmente as repetidas e prolongadas, e a exposição freqüente a barulho muito alto também podem ter como sequela a deficiência auditiva.

5. Auxílio nas atividades de aventuraA audição desempenha um papel fundamental no

desenvolvimento e na manutenção da comunicação por meio da linguagem falada, além de funcionar como um mecanismo de defesa e alerta contra o iminente perigo. Nossos ouvidos estão em alerta 24 horas, pois não descansam nem enquanto dormimos.

No caso dos surdos, entre os muitos instrumentos usados para a comunicação não oral, figura a linguagem dos sinais, criada por um monge beneditino francês, morador de um mosteiro onde imperava a lei do silêncio. Adotada há mais de cem anos, no Brasil é chamada de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais).

Pessoas que nasceram surdas apresentam grande facilidade em aprender a linguagem (cerca de um ano), enquanto as que ouvem bem ou que perderam a capacidade auditiva depois de adulto levam um tempo consideravelmente maior, por terem se habituado à linguagem oral.

Para atender pessoas com surdez, é importante conhecer essa linguagem, principalmente termos específicos referentes ao mundo do ecoturismo e das atividades de aventura, para auxiliá-las e manter a comunicação durante toda a atividade.

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74 - Turismo de Aventura Especial

Como qualquer outro participante, elas também gostam de conversar sobre suas sensações e emoções e certamente terão muito o que contar ao desbravar esse novo universo.

6. Cuidados especiaisÉ preciso estar atento a possíveis situações de perigo

a que pessoas com deficiência auditiva podem se expor em decorrência da falta de audição, além de criar toques alternativos para comandos rápidos inerentes às atividades.

Deficiência visual 1. DenominaçãoCego ou Pessoa com Baixa Visão2. DescriçãoO termo “deficiência visual” refere-se a uma situação

irreversível de diminuição da resposta visual mesmo após tratamento clínico e/ou cirúrgico e uso de óculos convencionais.

A deficiência visual pode apresentar-se como cegueira ou baixa visão. Se a caso a deficiência atingir um só olho, não se caracteriza a deficiência visual.

3. ClassificaçãoA diminuição da resposta visual pode ser leve, moderada,

severa, profunda (que compõem o grupo de visão subnormal ou baixa visão) ou ausência total da resposta visual (cegueira).

4. CausasPode ser congênita, hereditária ou adquirida por

traumas que envolvem o sistema ocular e sua comunicação com o cérebro e podem ser causados por doenças infecciosas, acidentes, ferimentos, envenenamentos e tumores.

5. Auxílio nas atividades de aventuraA visão é um sentido importante para o desenvolvimento

humano e o que mais informações fornece sobre o ambiente.

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5. TIPOS DE DEFICIÊNCIA - 75

Por ela adquirimos parte dos conhecimentos a respeito do mundo que nos cerca.

Na pessoa com deficiência visual, o processo de reconhecimento e aprendizado se fará por intermédio dos outros sentidos (tato, olfato, audição e paladar).

É importante fornecer-lhe o tempo todo informações sobre pessoas presentes, descrição das paisagens, permitir que toque objetos e equipamentos.

O Braille é o principal meio de comunicação escrita, portanto é necessário que as informações essenciais sejam disponibilizadas nessa forma.

6. Cuidados especiaisAntes, durante e após toda atividade, especialmente em

terrenos acidentados, deve-se acompanhar e advertir sobre a presença de galhos, pedras, degraus e quaisquer outros obstáculos que possam provocar tombos ou escoriações, além de criar toques específicos para comandos que requerem movimentos rápido.

Deficiência sensorial múltipla - Surdocegueira1. DenominaçãoSurdocego.2. DescriçãoIndivíduos surdocegos devem ser definidos como

aqueles que têm uma perda substancial de visão e audição. Assim, considerando que a pessoa com uma perda da visão ou da audição pode, todavia, ouvir ou ver, mas a pessoa com uma perda substancial dos dois canais sensoriais, visão e audição, experimenta uma combinação de privação de sentidos que pode causar dificuldades, fica claro que a surdocegueira não

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76 - Turismo de Aventura Especial

é uma simples soma das duas deficiências, mas sim uma forma de deficiência com problemas específicos que exigem soluções especiais.

3. ClassificaçãoA surdocegueira pode classificar-se em : • Cegueiracongênitaesurdezadquirida;• Surdezcongênitaecegueiraadquirida;• Cegueiraesurdezcongênitas;• Cegueiraesurdezadquiridas;• Baixavisãocomsurdezcongênita;• Baixavisãocomsurdezadquirida.É enorme a variedade de pessoas abrangidas por

estas definições. Há relativamente poucas pessoas que são totalmente cegas e completamente surdas. Entretanto, encontramos nesse universo pessoas cegas congênitas que perderam a audição após aprenderem a linguagem falada; surdas que perderam a visão após aprenderem a língua de sinais e a leitura labial; outras, ainda, que perderam a audição e a visão após dominarem a linguagem oral; destas, algumas possuem resíduo auditivo ou visual.

São considerados surdocegos pré-linguísticos aqueles que nascem surdocegos ou adquirem a surdocegueira ainda bebês, antes do aprendizado da linguagem oral. Essas pessoas apresentam dificuldade de compreensão do universo que as cerca em decorrência da ausência da luz e do som; aqueles que se tornam surdocegos após adquirirem uma língua (oral ou de sinais) são chamados pós-linguístico e podem utilizar a fala para se comunicar.

4. CausasDoenças contraídas na gravidez, como rubéola,

toxoplasmose e citomegalovírus, abuso de álcool e drogas por parte da gestante, caxumba, meningite, sífilis congênita,

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5. TIPOS DE DEFICIÊNCIA - 77

herpes, AIDS, hidrocefalia e AVE (acidente vascular encefálico) – antigamente chamado de AVC (acidente vascular cerebral).

A Síndrome de usher (degeneração da retina em função de retinose pigmentar), de origem genética, pode manifestar-se na infância ou mais tarde. Muitas pessoas nascidas surdas podem apresentar perda gradativa da visão na adolescência ou maturidade. A retinose pigmentar, que gera perda visual progressiva, também pode estar associada a outras síndromes.

5. Auxílio nas atividades de aventuraPara atender o surdocego, é necessário identificar a

melhor forma de se comunicar, mesmo que elementar, e auxiliá-lo no reconhecimento dos ambientes com que interage, descrevendo pessoas, paisagens, equipamentos, e auxiliando em alguns movimentos e tarefas.

Por meio de várias técnicas, o surdocego pode adquirir a comunicação tanto expressiva como receptiva. Respeitando-se as diferenças individuais - espécie, grau e estágio da perda auditiva e visual –, são desenvolvidos trabalhos que visam incentivar ou reabilitar o surdocego a usar a linguagem oral, LIBRAS Tátil, alfabeto manual, sistema Braille, datilografia comum e Tadoma, uma demonstração da capacidade de coleta e do processamento de informações pela via do tato. Esse mecanismo de comunicação utilizado por pessoas surdocegas é uma comunicação eminentemente tátil, que permite a elas entender a fala de uma pessoa ao perceber as vibrações e os movimentos articulatórios dos lábios e maxilares com a mão sobre a face do interlocutor.

A dependência da pessoa surdocega é total, quer para perceber objetos e pessoas, quer para obter ajuda quanto à organização e à compreensão da informação acerca do meio que o rodeia. Assim, o tato desempenha um papel essencial na comunicação e desenvolvimento desses indivíduos.

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78 - Turismo de Aventura Especial

É importante combinar com a pessoa surdocega sinais para que ela o reconheça quando se aproximar e perceba que saiu, assegurando-se de que ficará num local confortável e familiar.

Ao caminhar com a pessoa surdocega, ofereça-lhe que apóie em seu braço ou ombro e caminhe à frente dela.

Monitores devem saber como conduzir e se relacionar com esse publico, fazendo-os sentir confiança o tempo todo. É necessário antecipar-se em informar tudo o que está para acontecer.

6. Cuidados especiaisAntes, durante e após as atividades, especialmente em

terrenos acidentados, é necessário acompanhar e advertir sobre a presença de galhos, pedras, degraus e quaisquer outros obstáculos que possam provocar escoriações, além de criar toques específicos para comandos que requerem movimentos rápidos.

utilize um conjunto de sinais simples, de modo a que a pessoa surdocega perceba quando vai descer ou subir escadas, passar uma porta ou entrar num carro.

. DEFICIêNCIA FÍSICA

Monoplegia, diplegia, hemiplegia, paraplegia e tetraplegia

1. DenominaçãoMonoplégico, diplégico, hemiplégico, paraplégico e

tetraplégico.2. DescriçãoA deficiência física caracteriza-se de acordo com o

comprometimento dos membros:Monoplegia - condição em que apenas um dos membros

é afetado;Diplegia - afeta os dois membros superiores;

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5. TIPOS DE DEFICIÊNCIA - 79

Hemiplegia - afeta os membros de um mesmo lado do corpo;Paraplegia - é a paralisia total ou parcial dos membros

inferiores e do tronco;Tetraplegia - paralisia total ou parcial dos membros

superiores, inferiores e do tronco. Os comprometimentos podem apresentar os mais

diversos graus, variando de discretos enfraquecimentos das capacidades neurológicas até uma total perda funcional.

Nas lesões medulares completas, o comprometimento mais conhecido da sociedade é a perda da capacidade de locomoção, que implica o uso de cadeira de rodas.

As lesões medulares incompletas ocorrem também em nível expressivo e podem implicar o uso de cadeira de rodas, tutores (curtos ou longos), bengalas, goteiras, e/ou andadores.

3. ClassificaçãoPodem ser classificadas como completa ou incompleta,

dependendo do fato de existir ou não controle e sensibilidade nos membros comprometidos.

4. CausasEntre as principais causas estão os traumas ocasinados

por quedas, armas de fogo, acidentes automobilísticos, mergulho em águas rasas e doenças (tumores, acidentes vascular encefálico, tuberculose, entre outras).

5. Auxílio nas atividades de aventuraO comprometimento de membros causa diferentes

níveis de dependência para realizar movimentos mais precisos, se locomover e manipular objetos.

O ideal é questioná-los sobre em quais tipos de tarefas e movimentos necessitam de ajuda e como auxiliar. É possível que os membros afetados deixem de receber permanentemente qualquer tipo de estímulos, tornando os músculos flácidos e menores. Em outros casos ocorre um fenômeno denominado

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80 - Turismo de Aventura Especial

espasticidade, que mantém os músculos ativos por meio de movimentos involuntários e pode gerar incômodos.

Nas situações em que houver a necessidade de retirar a pessoa da cadeira de rodas, é importante a presença de pessoas/monitores com conhecimento em técnicas de transferência, observando que uma boa postura deve ser mantida mesmo em outros equipamentos ou superfícies, evitando a formação de úlceras de pressão (escaras) nos locais de contato com proeminências ósseas. Nestes casos o uso de colchões d’água e assentos especiais é importante. A escara é uma restrição à pratica de atividades.

6. Cuidados especiaisQuando há perda de sensibilidade, a falta de sensações

como dor, frio, calor e tato podem esconder problemas como queimaduras provocadas pela exposição ao sol, má postura e lesões.

Membros sem movimento voluntários devem ser fixados com fitas de vélcro, evitando impactos e lesões.

Alguns paraplégicos e tetraplégicos podem apresentar disfunções no sistema de regulação térmica, ou seja: não apresentam sudorese suficiente para compensar o estresse térmico, por isso ambientes mal ventilados ou quentes podem provocar desmaios. Assim, devem ser adotadas medidas preventivas, tais como ingestão de líquidos antes, durante e após a prática de qualquer atividade; sempre que possível, alternar períodos de exposição ao calor com a permanência em lugares mais frescos, ajudando a manter a temperatura sob controle.

Muitos têm comprometimento no controle da bexiga e do intestino, levando a quadros de incontinência ou retenção de urina e fezes. Para minimizar tais incômodos, fazem uso de fraldas ou sondas, o que também requer cuidados especiais para que não saiam do lugar.

Page 81: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

5. TIPOS DE DEFICIÊNCIA - 81

Amputação de membros1. DenominaçãoAmputado2. DescriçãoPodemos definir amputação como a retirada,

normalmente cirúrgica, total ou parcial, de um membro. Apesar de ser um conceito relacionado a terror e

mutilação, deve ser visto como uma forma de tratamento, que somente é realizado quando constatado como único meio de fornecer uma melhoria de qualidade de vida a uma pessoa.

Esta alteração produz uma desvantagem física permanente, que muitas vezes compromete necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais.

O membro residual da amputação é denominado coto, que é considerado um novo membro e se torna responsável pelo controle dos movimentos nos casos em que se opta pelo uso de prótese.

Prótese é toda a peça ou aparelho destinado a substituir parte do corpo que foi perdida

3. ClassificaçõesAmputação de membros inferiores: pode ocorrer em

diversos pontos, desde procedimentos mais simples, em que há remoção a partir da primeira falange dos dedos dos pés, chegando até a extração a partir da desarticulação das coxas ou, em casos mais graves, pode ser necessária a retirada da parte de baixo do corpo, próximo à região da pelve.

Amputação de membros superiores: pode ocorrer em diferentes pontos entre os dedos das mãos e os ombros.

4. CausasDoença vascular periférica (varizes); tromboses;

traumatismos; tumores; deficiência congênita; infecção;

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82 - Turismo de Aventura Especial

queimaduras térmicas ou elétricas e esmagamento.5. Auxílio nas atividades de aventuraO nível de dependência de pessoas que apresentam

amputação de membros para realizar tarefas e movimentos é muito particular, variando de acordo com o membro amputado, se a amputação foi bilateral e de sua interferência nas ações do cotidiano.

Por exemplo, pessoas que tiveram as duas penas amputadas geralmente utilizam cadeiras de rodas para se locomover e para atendê-las, devem ser seguidos os mesmo procedimentos para cadeirantes em geral. Pessoas com uma perna amputada que utilizam muletas ou próteses apresentarão mobilidade reduzida e possível falta de equilíbrio, devendo ser auxiliada.

Amputações nos membros superiores afetam sua forma de interagir com objetos e equipamentos, devendo-se perguntar de que forma é possível facilitar suas ações.

6. Cuidados especiaisO coto pode apresentar diferentes características, com

maior ou menor nível de sensibilidade e resistência a impactos. Sempre que houver a necessidade de contato desse membro com equipamentos ou superfícies ásperas, é necessário conversar com o amputado a respeito de seus cuidados.

É importante solicitar informações sobre como proceder em relação às próteses para que elas não tenham seu funcionamento prejudicado em decorrência das atividades.

. DEFICIêNCIA MENTAL

Síndrome de Down1. DenominaçãoPessoa com Síndrome de Down

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5. TIPOS DE DEFICIÊNCIA - 83

2. DescriçãoSíndrome de Down é uma anomalia que ocorre na divisão

celular do embrião, provocando atraso no desenvolvimento das funções motoras e mentais.

As três principais características da síndrome de Down são a flacidez muscular, o comprometimento intelectual e a aparência física. uma pessoa com a síndrome pode apresentar todas ou algumas das seguintes condições físicas: olhos amendoados, mãos com apenas uma prega palmar, dedos curtos, fissuras palpebrais, ponte nasal achatada, língua protrusa (em decorrência da pequena cavidade oral), pescoço curto, pontos brancos nas íris, flexibilidade excessiva nas articulações e espaço maior entre o primeiro e o segundo dedo dos pés.

3. ClassificaçãoNão existe classificação em graus para a síndrome de

Down. No entanto, os sinais clínicos e o desenvolvimento motor e mental apresentam variação. Algumas pessoas situam-se num nível severo de déficit cognitivo; outras encontram-se próximas da deficiência intelectual leve.

4. CausasA causa é uma mutação genética em um cromossomo

específico (o cromossomo 21) que ocorre na formação do feto.Ao contrário do que muitos pensam, a deficiência não

pode ser causada por nenhum problema ocorrido na gravidez. No início da gestação, quando começa a se formar o bebê, já está determinado se ele terá síndrome de Down ou não. Portanto quedas, emoções fortes ou sustos não podem ser relacionados à causa da síndrome.

5. Auxílio nas atividades de aventuraPessoas com síndrome de Down podem apresentar

dificuldade e lentidão em realizar algumas tarefas, mas se forem

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84 - Turismo de Aventura Especial

adequadamente estimuladas, apresentam performances surpreendentes.

Por serem muitas vezes dispersas, é necessário certificar-se de que estão cumprindo as normas de segurança e utilizando os equipamentos adequadamente, assim como observar pra que não se dirijam a áreas de risco.

6. Cuidados especiaisPessoas com síndrome de Down têm mais chances de

apresentar má-formação cardíaca e do intestino, deficiência imunológica, problemas respiratórios, de visão e audição, entre outros; até 15 % dessas pessoas apresentam instabilidade atlanto-axial, ou seja, um desalinhamento entre a vértebra cervical C-1 e o pescoço. Esse desalinhamento as expõe à possibilidade de lesões quando realizam atividades que requerem a hiperextensão ou a flexão drástica do pescoço ou da parte superior da coluna vertebral.

É indispensável, em qualquer caso, solicitar atestados médicos que indiquem a presença ou não de tal característica.

. DEFICIêNCIA MúLTIPLA

Encefalopatia Crônica não Progressiva (ECNP) 1. DenominaçãoPessoa com Encefalopatia crônica não progressiva

(ECNP) ou paralisia cerebral (PC).2. DescriçãoAntigamente conhecido como Paralisia Cerebral, a

ECNP é o nome que se dá a um grupo de problemas motores (relacionados aos movimentos do corpo) caracterizado pelo mau controle muscular, espasticidade, paralisia e outras

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5. TIPOS DE DEFICIÊNCIA - 85

deficiências neurológicas decorrentes de uma lesão cerebral que ocorre durante a gestação, durante o nascimento, após o nascimento ou antes dos cinco anos de idade.

A pessoa com ECNP tem inteligência preservada, a não ser que a lesão tenha afetado áreas do cérebro responsáveis pelo pensamento e pela memória.

Em geral andam com dificuldade ou não andam e apresentam problemas na fala. Seus movimentos podem parecer estranhos ou descontrolados. Podem involuntariamente apresentar gestos faciais incomuns, sob a forma de caretas.

3. ClassificaçãoA ECNP classifica-se em:Espástica - apresentam movimentos duros e difíceis;Discinética ou atetóide - movimentos involuntários e

descontrolados;Atáxica - incoordenação e falta de equilíbrio;Mista - Combinação de diferentes tipos. São raros casos idênticos, pois algumas pessoas têm

comprometimentos sutis, quase imperceptíveis, enquanto outras, cujas lesões cerebrais são mais graves, podem apresentar incapacidade motora acentuada, impossibilidade de falar, andar e tornam-se dependentes para as atividades cotidianas.

4. CausasNa maioria dos casos de ECNP, a causa exata é

desconhecida. Algumas possibilidades incluem anormalidades no desenvolvimento do cérebro, lesão cerebral do feto causada por baixos níveis de oxigênio (hipóxia perinatal) ou baixa circulação do sangue, infecção e trauma.

Outras possíveis causas incluem: icterícia grave do recém-nascido, infecções na mãe durante a gravidez e

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86 - Turismo de Aventura Especial

problemas genéticos. A ECNP também pode acontecer depois do nascimento, como quando há uma infecção do cérebro (encefalite) ou um trauma de crânio.

5. Auxílio nas atividades de aventuraSe a pessoa tiver dificuldade na fala não há problemas

em pedir para que repita o que disse quantas vezes for necessário. Normalmente pessoas com dificuldade desse tipo não se incomodam em repetir para que se façam entender.

É importante respeitar o ritmo da pessoa com ECNP, pois usualmente ela é mais vagarosa para andar, falar, pegar as coisas e outras atividades.

Nos casos de lesões mais graves, em que fazem uso de cadeira de rodas, são observados os mesmos cuidados indicados em “Cadeirantes”.

6. Cuidados especiaisEm muitos casos, os membros afetados possuem

músculos rígidos, que resistem ao ser estendidos; braços e pernas têm “reflexos tendinosos profundos reativos” (contrações musculares involuntárias em resposta a um estímulo).

É necessário perguntar à pessoa a melhor forma de tocá-la e conduzi-la.

Os movimentos involuntários são freqüentemente influenciados por fatores emocionais, podendo, portanto, apresentar-se em maior grau por causa da adrenalina despendida durante as atividades.

Muitas pessoas com ECNP utilizam meios de comunicação alternativa, normalmente pranchas com letras (alfabeto), figuras e símbolos que substituem a comunicação oral. É por meio delas que irão expressar suas vontades e recusas, portanto estas pranchas devem estar sempre por perto.

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5. TIPOS DE DEFICIÊNCIA - 87

. MOBILIDADE REDUzIDA

Ataxia ou Síndrome Cerebelar (SCA)1. DenominaçãoAtáxico.2. DescriçãoA ataxia, que significa a perda de coordenação dos

movimentos musculares voluntários, além de ser uma doença em si, muitas vezes é descrita como sintoma característico do quadro clínico de numerosas enfermidades que comprometem o sistema nervoso. A perda de coordenação pode afetar os membros, a fala, os movimentos dos olhos ou mesmo o funcionamento de órgãos internos. Os sintomas geralmente decorrem de disfunções do cerebelo (parte do cérebro responsável pela coordenação motora), lesões na medula espinhal e neuropatias.

Os sintomas comuns são: andar cambaleante, incoordenação motora, disartria (dificuldade de articular as palavras), diminuição da acuidade visual, problemas na deglutição. É como se a pessoa estivesse alcoolizada sem comprometer a cognição. Podem iniciar-se e manifestar-se de várias formas: tonturas ou perda de equilíbrio, dificuldades na fala, marcha cambaleante, dificuldade na visão, diplopia (visão dupla), distonia (contração muscular involuntária), entre outras.

Muitas vezes estes aspectos são confundidos com embriaguez, causando grandes constrangimentos para o atáxico.

3. ClassificaçõesExistem inúmeras classes e subclasses de Ataxia. Dentre

elas podemos citar ataxia cerebelar, ataxia de Friedreich, ataxia-telangiectasia e ataxias espinocerebelares.

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88 - Turismo de Aventura Especial

4. CausasAs ataxias podem ser hereditárias ou adquiridas. As

adquiridas geralmente ocorrem em indivíduos que não têm histórico familiar de ataxia e podem ter causas diversas, tais como trauma craniano, alguns tipos de câncer ou a deficiência de determinadas vitaminas. As ataxias hereditárias são causadas por uma anormalidade genética e são também conhecidas como ataxias progressivas porque os sintomas costumam se agravar com o passar do tempo.

5. Auxílio nas atividades de aventuraPessoas com ataxia apresentam variados graus de

mobilidade e comprometimento da fala e visão. É necessário identificar individualmente o tipo de auxílio de que necessitam durante as atividades.

6. Cuidados especiaisOs cuidados variam de acordo com o tipo e grau de

comprometimento da doença, que pode causar deficiências auditivas, visuais ou exigir o uso de cadeira de rodas. Nestes casos, seguem-se as mesmas recomendações já descritas.

Caso o comprometimento seja de leve a moderado, pessoas com Ataxia mantêm um bom nível de independência e, embora necessitem de mais tempo ou esforço físico, conseguem realizar sozinhas a maior parte das tarefas.

Os acompanhantes de uma pessoa com mobilidade reduzida, que utilize ou não auxílio de aparelhos ou bengalas, devem acompanhar o seu ritmo.

CadeirantesComo vimos na descrição das deficiências, muitos

quadros clínicos, genéticos ou adquiridos podem levar ao uso de cadeira de rodas. Todo cadeirante, porém, apresenta algumas características em comum, necessitando dos mesmos cuidados.

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5. TIPOS DE DEFICIÊNCIA - 89

Os cadeirantes possuem uma relação muito pessoal com sua cadeira de rodas, pois ela passa a ser considerada como parte do seu próprio corpo, da qual ele depende para se locomover com independência e que deve ser tratada com o mesmo cuidado.

Ao preparar um ambiente para receber uma pessoa que utiliza cadeira de rodas, é importante preocupar-se não apenas com o acesso da cadeira ao local, mas também que os principais objetos e ferramentas fiquem ao seu alcance e que ela tenha espaço para sair do equipamento, caso seja necessário.

As normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) devem ser seguidas em ambientes que queiram se adaptar, mas, mais que isso, é necessário colocar-se no lugar da pessoa com deficiência; por exemplo, sentar-se numa cadeira para experimentar suas sensações e necessidades e adiantar-se a qualquer problema que ela venha a ter. A NBR 9050, que dá as diretrizes sobre acessibilidade, encontra-se disponível gratuitamente na Internet.

Pessoas que passam a maior parte do tempo sobre a cadeira de rodas, em decorrência do sedentarismo, podem apresentar uma saúde debilitada ou doenças cardiovasculares, osteoporose, artrites, atrofia muscular, entre outras complicações. É necessário cuidado ao fazer qualquer transferência do seu equipamento, bem como conduzi-las com a cadeira, além de se assegurar que sejam posicionados confortavelmente.

Para evitar úlceras de pressão, é preciso estar atento e variar o posicionamento do cadeirante.

Os monitores devem receber treinamento para realizar adequadamente a transferência de cadeirantes para equipamentos e o retorno para a cadeira de rodas.

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6. mAnuAL De orientAção no AtenDimento Ao AVentureiro eSpeciAL

. Introdução

. Como Atender o Turista Especial

. Técnicas de Transferência - Como fazerProcedimentosTipos de Transferência

. Adaptações GeraisTransporteInstruções aos Aventureiros EspeciaisAcessibilidade nos locais de início e término das

atividadesVestiáriosTroca de RoupasColocação dos EquipamentosDicas Importantes

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6. MANuAL DE ORIENTAçãO NO ATENDIMENTO AO AVENTuREIRO ESPECIAL - 91

6. mAnuAL De orientAçãono AtenDimentoAo AVentureiro eSpeciAL

. Introdução

Com base nos estudos empreendidos nesta iniciativa do Projeto Aventureiros Especiais, realizado em convênio com o Ministério do Turismo entre 2005 e 2007, tivemos a oportunidade de confeccionar um material de orientação para toda a indústria e consumidores do Turismo de Aventura Especial, que são as 3 cartilhas entregues ao Ministério à época da finalização do projeto: Cartilha do Gestor, Cartilha do Aventureiro Especial e Cartilha do Operador.

Aqui foi criado um roteiro objetivo em relação às 3 obras citadas, em que, antes de partir para a adaptação das atividades propriamente ditas, apresentamos os conhecimentos e cuidados que devem ser observados no Turismo de Aventura Especial.

Mais uma vez é lembrado que não há um formato padrão para a adaptação de cada atividade, uma vez que as necessidades das pessoas com deficiência são muito particulares. um exemplo disso é que pessoas com a mesma deficiência podem exigir cuidados diferentes.

O projeto identificou e solucionou os principais problemas de acessibilidade no turismo de aventura – considerado de maior complexidade que qualquer outra atividade turística. Portanto, as sugestões aqui contidas certamente podem ser aplicadas em qualquer segmento turístico e ampliar o leque de serviços disponíveis para pessoas

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92 - Turismo de Aventura Especial

com deficiência. As adaptações mais específicas e individuais ocorrerão naturalmente, dependendo apenas do bom senso, da empatia e da adaptação humana daqueles que se dispõem a atender um turista especial.

. Como Atender o Turista Especial

São consideradas pessoas com deficiência os indivíduos que apresentam necessidades próprias e diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos ou adquiridos, de caráter permanente, que acarretam dificuldades em sua interação com o meio físico e social e que requerem atenção específica em virtude de sua condição.

É considerado como deficiência todo e qualquer comprometimento que afeta a integridade da pessoa e traz prejuízos na sua locomoção, na coordenação de movimento, na fala, na compreensão de informações, na orientação espacial ou na percepção e contato com outras pessoas.

Muitas pessoas não deficientes ficam confusas quando encontram alguém com deficiência. Esse desconforto diminui e pode até mesmo desaparecer quando se proporcionam mais oportunidades de convivência.

Nada melhor que a naturalidade para promover a verdadeira inclusão.

Em geral, a conduta recomendada é a de, antes de agir, perguntar sempre que tipo de auxílio a pessoa precisa em uma determinada situação. O auxiliar deve seguir as orientações, já que existem diversos tipos e estágios de deficiência e, consequentemente, diferentes maneiras de auxílio que ninguém pode conhecer melhor do que a própria pessoa com deficiência. O importante é saber como lidar, sem preconceito

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6. MANuAL DE ORIENTAçãO NO ATENDIMENTO AO AVENTuREIRO ESPECIAL - 93

ou medo, na recepção e acessibilidade, recebendo-a com naturalidade e sem constrangimento, superando, assim, a primeira barreira a ser vencida para sua integração social. Para isso, a capacitação profissional dos atendentes é um requisito fundamental.

Tratar a pessoa com deficiência com respeito e educação são atitudes que contribuem para que o relacionamento seja agradável e natural. Antes de tudo, devemos lembrar que estamos lidando com uma pessoa, não com uma deficiência.

As pessoas devem ser consideradas pelo que são, não pela forma como andam ou falam. Infelizmente, ninguém está isento de um dia se tornar uma pessoa com deficiência; gordo ou magro, alto ou baixo, seja que idade, religião ou status tiver, não há exceções.

. Técnicas de Transferência - Como fazer

Os equipamentos que auxiliam as pessoas com deficiência em sua mobilidade são muito importantes e específicos. Muitos possuem adaptações e ajustes personalizados para o seu dono. Alguns são muito caros e devem ser cuidados e manejados com toda atenção.

Muitas cadeiras possuem partes móveis, montam e desmontam e, portanto, um cuidado especial deve ser tomado com todas as peças.

O melhor lugar para uma pessoa com deficiência é seu próprio equipamento, portanto, é necessário providenciá-lo tão logo a atividade termine.

Sempre que a pessoa tiver que ser movida DE ou PARA sua cadeira, deve ser executado o procedimento de Transferência.

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94 - Turismo de Aventura Especial

Transferência significa mover uma pessoa de um equipamento para outro, não carregá-la por longas distâncias.

Procedimentos1. Analisar o indivíduo: padrão motor, deformidades,

escaras, funcionalidade (o que ele consegue fazer sozinho), experiências (como está habituado a ser transportado), se tem um acompanhante (como faz no dia a dia).

2. Observar os equipamentos: se os apoios de braço e pé são móveis e se podem ser retirados; se há cintos que os prendem ou apoio de cabeça.

3. Estudar o ambiente: é importante observar se o piso é estável (se não está molhado, se possui degraus, pisos soltos ou outros obstáculos) e se o outro equipamento está próximo.

Tipos de transferênciaa. Independente (sem auxílio): O ajudante deve perguntar se ele necessita de algum

auxílio. Se a resposta for negativa, é importante ficar de prontidão, observando como ele faz, onde tem força, como descarrega o peso. Essas informações podem ser usadas na hora da atividade.

b. Com pouco auxílio:O ajudante deve perguntar à pessoa de que forma deve

ajudar, onde deve dar suporte. Não se deve agarrar a pessoa com deficiência. É ela quem se apóia e segura, conforme a necessidade.

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6. MANuAL DE ORIENTAçãO NO ATENDIMENTO AO AVENTuREIRO ESPECIAL - 95

c. Com auxílio de um ajudante:O suporte deve ser oferecido com as mãos, antebraços

ou escápulas (região posterior do tórax), nunca sob as axilas.O ajudante deve posicionar-se na sua frente, com os

joelhos flexionados e pés firmes no chão.O outro equipamento, deve estar próximo e estável

(travado).Quando a pessoa tocar o novo equipamento, deve ser

auxiliada para deslocar-se sutilmente, até posicionar-se da maneira correta.

d. Com auxílio de dois ajudantes: utilizado por pessoas que dependam totalmente de

terceiros para a transferência.Deve haver total sintonia entre os dois ajudantes,

combinando previamente as ações de cada um. Aquele que puder suportar mais peso deve ser responsável pela parte superior do corpo do cadeirante, que deve ser levantado pelas articulações maiores, como quadril e cintura escapular. Não se deve pegá-lo pelas pernas ou braços. Não utilizar os dedos, mas sempre as mãos ou braços para segurá-lo.

e. Em conjunto: Indicada para a transferência que necessita de giro ou

deslocamento.utilizando-se os braços como uma “cadeirinha”, com

os joelhos flexionados e os pés firmes no chão, um ajudante segura com a mão o braço do outro e juntos sustentam a região posterior da coxa do cadeirante. O mesmo procedimento deve ser feito na região posterior do tórax.

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96 - Turismo de Aventura Especial

A ação deve ser combinada e, só então, a pessoa é levantada. Não é recomendada para pessoas sem controle de tronco ou ambientes molhados, pois as mãos podem escorregar.

Antes de levantá-lo, é importante perguntar onde se pode segurar, saber como está habituado a realizar esse tipo de operação e detalhar de que forma se pretende fazer.

Ele deve ser respeitado caso recuse a ajuda. Após a transferência, o ajudante deve perguntar se foi realizada de forma satisfatória e se gostaria de sugerir um método diferente.

Essas informações serão utilizadas na hora de voltá-lo para seu equipamento.

. Adaptações Gerais

Mais adiante, na matriz de acessibilidade, veremos detalhadamente como adaptar cada modalidade de aventura para pessoas com diferentes deficiências. Antes, porém, destacamos aqui alguns procedimentos e cuidados especiais inerentes às etapas que antecedem, sucedem ou são observadas durante as atividades e cujas adaptações são de igual importância.

TransporteÉ necessário planejar com antecedência toda a logística

de transporte, desde o local de inicio das atividades até a base de apoio após sua finalização, buscando manter os Aventureiros Especiais o mínimo de tempo possível longe de seus equipamentos pessoais.

Muitas atividades têm o início e o término em locais de

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6. MANuAL DE ORIENTAçãO NO ATENDIMENTO AO AVENTuREIRO ESPECIAL - 97

geografia acidentada e de difícil acesso. Esses trechos podem ser atravessados por caminhadas ou veículos “fora de estrada”. Nesses casos, devem ser seguidos os mesmos procedimentos relativos a essas atividades como modalidade de aventura.

Instruções aos Aventureiros EspeciaisA instrução é um dos componentes mais importantes

para a eficiência no atendimento. Nessa etapa, o participante deverá visualizar e ser instruído sobre todas as fases da atividade e os principais procedimentos. O instrutor será o responsável por fazer com que o Aventureiro Especial se sinta totalmente seguro e confiante, por isso não deve poupar detalhes.

a. Instruções TeóricasPara despertar a curiosidade e estimular o interesse dos

participantes, é válido iniciar as instruções contando como e com que finalidade surgiu cada modalidade, informando detalhadamente em que consiste, como é o percurso, quais os níveis de dificuldade, principais riscos, as medidas de segurança, o uso dos equipamentos, os comandos utilizados e as sensações que a prática proporciona.

O participante deve ser orientado sobre como se comportar para colaborar com as operações.

É importante que a instrução seja bem compreendida para que se tenha uma previsão de todas as etapas da experiência. Dessa forma são evitadas surpresas indesejáveis e o praticante aproveitará cada momento do contato com a natureza.

Pessoas com deficiência visual utilizam-se principalmente do tato para compreender o ambiente ao seu redor, por isso deve-se instruí-los a tocar todos os equipamentos necessários para a operação.

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98 - Turismo de Aventura Especial

b. Instruções PráticasPara complementar as instruções e assegurar-se de

que todos compreenderam os procedimentos, antes da prática, se possível, deve-se fazer uma simulação em local previamente preparado, onde o Aventureiro Especial terá um primeiro contato com a atividade, familiarizando-se com o posicionamento, os comandos, os equipamentos, as sensações e, principalmente, com o trabalho dos monitores.

No caso de atividades de água, é importante que a simulação seja realizada em águas calmas, onde os monitores provocam o movimento dos botes e demais equipamentos.

Para as pessoas com deficiência visual, devem ser criados sinais padrão que representem os comandos utilizados. Os monitores devem testar esses comandos antes da atividade até que os participantes memorizem e estejam seguros.

c. Dificuldades na Instruçãoutilizando os parâmetros a seguir, temos as seguintes

dificuldades:Baixa - Pouca ou nenhuma dificuldade em compreender

as instruções em função da deficiência;Média - Alguma dificuldade em decorrência de

precariedade de comunicação, que pode ser facilmente solucionada;

Alta - Exige adaptações ou recursos especiais para compreender as instruções, assim como maior detalhamento sobre os procedimentos.

Deficiência auditiva: média - criar cartilha com as instruções ou, preferencialmente, dispor da presença de um intérprete de LIBRAS, já que esta é a forma usual de comunicação.

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6. MANuAL DE ORIENTAçãO NO ATENDIMENTO AO AVENTuREIRO ESPECIAL - 99

Deficiência visual: média - deve-se utilizar grande riqueza de detalhes para que se compreenda em que consiste a atividade e permitir o reconhecimento dos equipamentos pelo tato. A existência de uma maquete ou desenho do percurso em alto relevo é de grande auxílio.

Surdocegueira: alta - é indispensável o apoio de um intérprete de LIBRAS tátil, pois muitos surdocegos não conseguem se comunicar pela fala, impedindo a formulação de perguntas e a compreensão das instruções.

Deficiência Mental: média - deve-se ser paciente e assegurar-se de que a pessoa compreendeu as instruções, pois são muito dispersos; deve ser observado por um monitor durante todo o percurso para que realize os procedimentos adequadamente.

Acessibilidade nos locais de início e término das atividadesA insegurança pela dificuldade no acesso às atividades

pode gerar tensão e ansiedade nos participantes e em seus acompanhantes, fazendo com que a experiência não seja plenamente desfrutada.

Os locais de partida e chegada das atividades devem ser pensados e adaptados para apresentar condições de acessibilidade, eliminando-se obstáculos e atendendo às necessidades de pessoas com variados tipos de deficiência, observando que cadeirantes podem necessitar ainda de espaço para que seja realizada a transferência para os equipamentos de aventura. A instalação de pontes móveis de madeira é uma boa alternativa para facilitar o percurso.

Devem-se oferecer locais adequados, confortáveis e protegidos das ações climáticas para que o praticante aguarde sua vez de iniciar a atividade ou a finalização de outros membros do grupo para voltar à base.

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100 - Turismo de Aventura Especial

A quantidade mínima de monitores necessários tanto na saída quanto na chegada deve ser antecipadamente verificada. No ponto de partida de cada atividade um dos monitores deve ficar responsável por comunicar ao outro (via rádio), no final, quem é o Aventureiro Especial que iniciou o percurso e o tipo de deficiência que apresenta para que a equipe se prepare para recebê-lo e auxiliá-lo.

VestiáriosÉ importante que haja vestiários adaptados próximos

aos locais de saída e chegada das atividades, especialmente as que são realizadas em contato com a água.

Além das adaptações recomendadas para infraestrutura (NBR 9050), como tamanho das portas e rampas, os vestiários devem contar também com alguns equipamentos específicos.

Pessoas com deficiência física necessitam de um móvel acolchoado para que possam se deitar para a troca de roupa. Esse equipamento deve estar a uma altura adequada para a transferência e deve ter um colchão fino e macio, para evitar lesões. O colchão deve estar recoberto por um material impermeável, pois muitas vezes os participantes chegarão molhados ao final da atividade. Deve haver também uma ducha adaptada e cadeira de banho disponível para que tomem um banho quente assim que chegarem.

Os monitores devem estar devidamente treinados para ajudar na troca de roupas, caso o participante não consiga fazer isso sozinho.

Troca de roupasutilizando os parâmetros abaixo, temos as seguintes

dificuldades:

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6. MANuAL DE ORIENTAçãO NO ATENDIMENTO AO AVENTuREIRO ESPECIAL - 101

Baixa - Pouca ou nenhuma dificuldade em função da deficiência;

Média - Alguma dificuldade, necessitando de pequeno auxílio;

Alta - Depende do auxílio de terceiros para a troca de roupas.

Deficiência visual: BaixaAmputação: BaixaDeficiência visual, sudocegueira, síndrome de Down e

pessoas com mobilidade reduzida: média Paraplégicos: média - em alguns casos será necessário

prestar ajuda na transferência da cadeira para o móvel ou mesmo na colocação do vestuário; deve-se possuir experiência prévia para auxiliá-lo.

Tetraplégicos: alta - Esses participantes devem ser totalmente assistidos para a troca de roupas; deve-se ter treinamento em técnicas de transferência e instruções sobre como vesti-los.

Colocação dos equipamentosNos casos em que a deficiência não afeta a mobilidade,

podem ser utilizados os procedimentos padrão e equipar esses participantes não apresenta nenhuma dificuldade adicional.

Para as deficiências que afetam a mobilidade, devem ser usados equipamentos específicos. Os grupos de pessoas com deficiência deverão ser divididos para evitar demoras no retorno do material à base de saída (o que ocasiona maior tempo de espera).

Os participantes podem ter os equipamentos colocados e retirados na base, evitando que o procedimento ocorra em lugares despreparados ou desconfortáveis.

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102 - Turismo de Aventura Especial

Dificuldade na colocação dos equipamentosutilizando os parâmetros abaixo, temos a seguintes

dificuldades:Baixa - Pouca ou nenhuma dificuldade em função da

deficiência;Média - Alguma dificuldade, necessitando de pequeno

auxílio;Alta - Depende do auxílio de terceiros para a colocação

do equipamento.Deficiência Visual: baixaSudocegueira: médiaAmputação: média - pode haver desequilíbrio, devendo-

se ajustar o equipamento conforme a necessidade de estabilidade.

Síndrome de Down: baixaParaplégicos e tetraplégicos: alta - deve conhecer

técnicas de transferência e estar treinado para a utilização de equipamentos específicos.

Dicas Importantes- A pessoa deve ser apenas levantada e transportada.

Não se deve comprimir a região do tórax, que é vital para o corpo humano.

- O ajudante pode utilizar o peito para sustentar a cabeça (sem controle), se houver necessidade.

- Cuidado com as roupas da pessoa com deficiência, que podem ficar desalinhadas. O ajudante deve arrumá-las, sempre pedindo permissão.

- Impactos devem ser evitados.- Pessoas com muletas não devem ser seguradas pelos

braços

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6. MANuAL DE ORIENTAçãO NO ATENDIMENTO AO AVENTuREIRO ESPECIAL - 103

- uma cadeira de rodas não deve ser manuseada abruptamente.

- Manusear um aparelho ortopédico ou uma cadeira de rodas sem permissão pode ser considerada uma atitude tão agressiva quanto tocar qualquer parte do corpo de uma pessoa sem aviso.

- Para uma pessoa sentada é incômodo ficar olhando para cima por muito tempo, portanto, se a conversa for demorar mais que alguns minutos, o interlocutor deve sentar-se para que seus olhos fiquem num mesmo nível.

- Ao empurrar uma pessoa em cadeira de rodas, deve-se ter cuidado e atenção para não bater em outras pessoas que caminham à frente.

- Para subir degraus, inclina-se a cadeira para trás, levantando as rodinhas da frente e apoiando-as sobre a elevação.

- Para descer um degrau, é mais seguro fazê-lo de ré, sempre apoiando para que não haja trancos fortes.

- Para subir ou descer mais de um degrau em sequência, é melhor pedir a ajuda de mais uma pessoa.

- Os acompanhantes de uma pessoa com deficiência que ande devagar, com auxilio ou não de aparelhos, devem acompanhar o seu ritmo.

- As pessoas com deficiência têm técnicas individuais para realizar seus movimentos, e uma tentativa de ajuda inadequada pode até mesmo atrapalhar. Outras vezes, a ajuda é essencial. É preciso perguntar sempre como agir

- Ao presenciar um tombo de uma pessoa com deficiência, deve-se oferecer ajuda e perguntar como fazê-la.

- Palavras como “andar” e “correr” podem ser usadas sem constrangimentos. As pessoas com deficiência física empregam naturalmente essas mesmas palavras.

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104 - Turismo de Aventura Especial

a. Antes da atividadeAs operadoras de turismo de aventura devem oferecer

a todos os praticantes um Termo de Responsabilidade/Seguro e de comunicação de risco. um funcionário ou instrutor deve se certificar de que a pessoa deseja ou não que o Termo de Responsabilidade/Seguro seja lido e/ou preenchido. No caso de atendimento a cegos e/ou surdocegos, esses documentos deverão estar disponíveis em Braille.

Neste termo deve-se acrescentar se o Aventureiro tem alguma necessidade peculiar, como tomar medicamento em horários específicos, ou se há alguma recomendação, válido também para o check in no momento de hospedagem em pousadas e hotéis.

Pessoas sem mobilidade nas mãos “assinam” usando suas impressões digitais, portanto, é necessário disponibilizar tinteiros ou similares e instruir o funcionário responsável pelo atendimento sobre esse procedimento.

uma preparação física, como aquecimento global e alongamento, deve ser realizado com todos os participantes.

Orientar todos os participantes a passar protetor solar a cada 2 horas, mesmo em dias nublados, oferecendo auxílio aos que não puderem fazer isso sozinhos.

Disponibilizar água potável para que o participante possa beber em qualquer momento que sentir sede, lembrando que roupas de borracha e neoprene aquecem ainda mais o corpo.

b. Durante a atividadeEm percursos muito próximos a vegetações, deve-se

oferecer proteção para os olhos (evitando galhos e pequenos insetos).

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6. MANuAL DE ORIENTAçãO NO ATENDIMENTO AO AVENTuREIRO ESPECIAL - 105

Paraplégicos e tetraplégicos devem contar com um monitor que cuide da sua postura durante o todo o percurso e saiba reacomodá-lo no equipamento, caso seja necessário.

Manter contato para solucionar dúvidas ou inseguranças e auxiliar nos movimentos necessários.

c. Depois da atividadeVerificar se o Aventureiro Especial está se sentindo bem,

se apresenta tonturas, enjoos ou dores de cabeça.Evitar que fiquem molhados ou em locais desconfortáveis.Conversar sobre o que acharam da atividade, colhendo

informações que possam vir a melhorar as adaptações.

Page 106: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

7. ADAptAnDo AS AtiViDADeS De AVenturA

. Introdução

. Trilha (Caminhada)

. Fora de Estrada (Off-Road)

. Arvorismo

. Tirolesa

. Rapel

. Rafting

. Bóia-Cross

. Acqua ride

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7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 107

7. ADAptAnDo AS AtiViDADeS De AVenturA

. Introdução

No projeto Aventureiros Especiais foram estudadas as adaptações necessárias para a prática de Trilhas (caminhada), Fora de Estrada (Off-road), Arvorismo, Tirolesa, Rapel, Rafting, Bóia-cross e Acqua ride, que podem também orientar a adaptação de outras modalidades com procedimentos similares.

As informações foram organizadas com a seguinte estrutura:

Modalidade1. DescriçãoInformações gerais sobre a atividade, incluindo

curiosidades sobre o surgimento e desenvolvimento das técnicas.

2. Tipos da atividadeAlgumas atividades podem ser realizadas com a

utilização de diferentes técnicas, dividindo-se em categorias (ex.: Rapel – positivo e negativo); outras apresentam variações apenas em função do nível de dificuldade do percurso (ex.: Rafting – de I a IV)

3. BenefíciosApresenta as habilidades físicas e psicológicas que a

modalidade desenvolve, lembrando que esses benefícios são potencializados quando falamos de pessoas com deficiência.

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108 - Turismo de Aventura Especial

4. Quem pode praticarIndica para pessoas com quais tipos de deficiência a

atividade é adaptável e apresenta:a. Nível de dificuldade apresentado na realização da

atividade, considerando os seguintes critérios:Dificuldade baixa: a deficiência causa pequena ou

nenhuma dificuldade específica, observando-se na maior parte do tempo o mesmo desempenho apresentado por qualquer outro praticante.

Dificuldade média: em função da deficiência, demanda acompanhamento mais cauteloso e auxílio na realização de alguns movimentos.

Dificuldade alta: a deficiência impede ou dificulta alguns movimentos, demandando maior esforço físico, tempo e auxílio para a realização da atividade.

b. Nível de complexidade das adaptações necessárias, com base na matriz de acessibilidade, considerando equipamentos e operações diferenciados, seguindo a seguinte classificação:

5. EquipamentosIndica os equipamentos comuns, de uso obrigatório,

com base nas normas da ABNT e os equipamentos especiais,

Pode ser praticada normalmente - não existe nenhuma dificuldade específica pelo tipo de deficiência ou a dificuldade para adaptação é mínima. O operador deverá contar com monitores treinados no atendimento a pessoas com deficiência.

Requer o uso de equipamentos adaptados. O operador deverá contar com monitores devidamente treinados no uso desses equipamentos e no atendimento ao Aventureiro Especial.

Não apresenta, no momento, condições de ser praticada com segurança para este tipo de deficiência.

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7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA -109

desenvolvidos pela ONG Aventura Especial especificamente para a adaptação em atividades de aventura.

6. InstruçõesAlém de todas as recomendações gerais já descritas,

sobre a importância das instruções aos Aventureiros Especiais, indicamos aqui as características específicas para a etapa das instruções nessa atividade em particular.

7. Como adaptarA adaptação humana é tão importante quanto as

adaptações físicas. Portanto para considerar que uma atividade está devidamente adaptada, deve apresentar:

a. Adaptações físicas: equipamentos diferenciados.b. Procedimentos especiais: trata-se da adaptação

humana, ou seja, pessoas responsáveis pelo atendimento direto do Aventureiro Especial em atividades de aventura deverão estar devidamente treinados para proceder de forma diferenciada com estes participantes, mesmo que não haja adaptações físicas.

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110 - Turismo de Aventura Especial

. Trilha (Caminhada)1. DescriçãoA trilha é uma prática quase que onipresente quando se

fala em aventura. Isso porque grande parte das atividades de natureza é realizada em locais de difícil acesso - e quanto mais longe da civilização, melhores as surpresas que reserva.

Cercadas de belas paisagens, em locais pouco conhecidos, as trilhas são caminhadas ecológicas que permitem a apreciação da flora, de animais silvestres e, em muitos casos, de ruínas de antigas comunidades.

Em geral segue-se um roteiro que tem os pontos de partida e chegada num mesmo lugar e são realizadas junto a serras, regiões montanhosas e próximas a rios e cachoeiras.

2. Tipos de TrilhaHá vários tipos de trilha, que vão das caminhadas

contemplativas, curtas e com baixo grau de dificuldade, até caminhadas de travessia, que duram vários dias.

3. BenefíciosProporciona uma interação completa com a natureza

por meio de todos os sentidos, numa mistura única de aromas, paisagens deslumbrantes, canto de pássaros, contato com diversos tipos plantas e animais silvestres. Desafios individuais e em grupo desenvolvem a percepção, sensibilidade, respeito ao próximo e ao meio ambiente.

4. Quem pode praticarPessoas com deficiência auditiva, visual, surdocegueira,

paraplegia, tetraplegia, amputação, ECNP (paralisia cerebral), síndrome de Down, ataxia e outras deficiências físicas, sensoriais, mentais, de mobilidade e múltiplas.

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7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 111

5. EquipamentosEquipamentos de uso pessoal: calçados e roupas

apropriados, cantil e lanches.Para as caminhadas maiores, varia de acordo com as

necessidades do percurso.Cadeira Adaptada 6. InstruçõesApesar de ser a menos complexa das atividades de

ecoturismo, é importante informar aos aventureiros as condições gerais da trilha, duração e o nível de dificuldade de todo o percurso.

um dos monitores deve conhecer a linguagem de sinais para a comunicação com pessoas com deficiência auditiva e surdocegos; para pessoas com deficiência auditiva uma alternativa é utilizar frases curtas por escrito.

Pessoas com deficiência visual devem receber informações mais detalhadas, como tipo de solo, obstáculos e vegetação presentes.

TIPO DEDEFICIÊNCIA

DIFICULDADENA PRÁTICA

DIFICULDADE NA ADAPTAÇÃO

Deficiência Auditiva BaixaDeficiência Visual MédiaSurdocegueira MédiaParaplegia BaixaTetraplegia BaixaAmputação MédiaSíndrome de Down BaixaMobilidade Reduzida Média

Page 112: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

112 - Turismo de Aventura Especial

Pessoas que forem transportadas com auxílio da cadeira de uma roda, adaptada para trilhas, devem estar familiarizadas com seu funcionamento. Durante as instruções é importante acomodá-las no equipamento e simular as posições que a cadeira apresentará durante a trilha, quando houver necessidade de levantá-la ou tombá-la.

7. Como adaptara. Adaptações físicas: Cadeira de uma roda adaptada para trilhas Placas e avisos sinalizados em Braille Em trechos de maior dificuldade, rampas de madeira

contribuem para maior estabilidade da cadeira.b. Procedimentos especiais: Ao caminhar com uma pessoa com deficiência visual,

deve-se informá-la sobre os tipos de paisagem que estão à volta, animais, plantas, enfim, toda informação é importante. Aliada às demais sensações, ajudarão a perceber todo o ambiente em que se encontram. A pessoa pode solicitar que seja guiada.

Surdocegos devem ser acompanhados de perto, para o caso de surgirem dúvidas durante a caminhada ou solicitarem que sejam guiados em algum trecho.

Para a acomodação na cadeira de uma roda adaptada para trilha, são necessários dois monitores com treinamento em técnicas de transferência.

Pessoas com amputação de membros, ataxia ou mobilidade reduzida de um modo geral podem precisar de auxílio.

Pessoas com síndrome de Down e outras deficiências mentais requerem maior atenção dos monitores para que não se dirijam a regiões perigosas, como buracos e barrancos.

Page 113: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA -113

. Fora de estrada (Off-road)1. DescriçãoO fora de estrada une velocidade e adrenalina ao

contato com a natureza. É praticado em trilhas com terrenos acidentados e exige coragem para enfrentar obstáculos num percurso com lama, rochas, subidas e descidas íngremes a bordo de um veículo com tração 4x4.

Os primeiros veículos desse tipo foram criados durante a Segunda Guerra Mundial pela empresa norte-america Willys, que recebeu a incumbência de desenvolver um carro que suportasse o desafio de andar em qualquer terreno. Assim surgiu o Jipe, em 1941, como importante ferramenta do Exército dos Estados unidos, usado para penetrar em locais antes inacessíveis e transportar soldados.

Logo começou a ser produzido em escala industrial e surgiram as primeiras competições de rally, exigindo uma evolução do veículo, que passou a oferecer maiores recursos aos pilotos. Visando a amplitude do mercado, outras empresas vieram a fabricar o veículo.

No Brasil ganhou notoriedade apenas nos anos 80, época em que foi criado o Jeep Clube de São Paulo.

2. Tipos de Fora de EstradaPode ser praticado como opção de lazer ou em

competições organizadas, apresentando variados níveis de dificuldade.

3. BenefíciosLevando os participantes a transpor obstáculos,

desenvolve a coragem, a auto-confiança e as habilidades para o trabalho em equipe.

4. Quem pode praticarPessoas com deficiência auditiva, visual, surdocegueira,

Page 114: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

114 - Turismo de Aventura Especial

paraplegia, tetraplegia, amputação, ECNP (paralisia cerebral), ataxia e outras deficiências físicas, sensoriais, mentais, de mobilidade e múltiplas. Pessoas com síndrome de Down devem ter atestado de estabilidade atlantoaxial.

5. EquipamentosVeículos com tração 4x4, cinto de segurança e rádio para

comunicação com a base. Cinto de segurança com quatro pontos6. Instruções É necessário descrever aos deficientes visuais todas

as etapas que serão vivenciadas para que tenham uma idéia completa sobre como será o percurso; permitir que toquem o veículo.

Para a comunicação com pessoas com deficiências visuais e auditivas durante o percurso, um sistema de toques com os principais comandos deve ser combinado e testado durante as instruções.

Aos cadeirantes deve-se explicar como serão os cuidados com sua postura e bem estar durante a trilha.

TIPO DEDEFICIÊNCIA

DIFICULDADENA PRÁTICA

DIFICULDADE NA ADAPTAÇÃO

Deficiência Auditiva BaixaDeficiência Visual BaixaSurdocegueira BaixaParaplegia BaixaTetraplegia BaixaAmputação BaixaSíndrome de Down BaixaMobilidade reduzida Baixa

Page 115: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 115

7. Como adaptara. Adaptações físicas: Disponibilizar aos participantes óculos para proteção

contra galhos ou barro nos olhos, podendo ser no mesmo modelo dos protetores usados em motocross.

Acolchoar pegadores e outros pontos que possam causar desconforto ou impactos.

Instalar pegadores adicionais nas laterais do veículo para apoio nos trechos em que o veículo salta mais bruscamente.

Cinto de segurança de quatro pontos para garantir a estabilidade de pessoas sem mobilidade no tronco.

Ter disponíveis fitas de velcro para fixação de braços e/ou pernas caso seja necessário, evitando movimentos involuntários que causem impacto com as partes internas do veículo.

Em caso de percursos com muitos saltos, utilizar colar cervical para manter o pescoço de pessoas sem mobilidade de tronco na posição correta.

Bancos para uso de cadeirantes devem ser acolchoados para evitar lesões causadas por impactos e má postura.

uma rampa na altura da entrada do automóvel deve estar disponível, especialmente para cadeirantes.

b. Procedimentos especiais: Em obstáculos de grande dificuldade, deve-se reduzir

a velocidade para evitar saltos e movimento bruscos. Evitar que pessoas com deficiência visual sejam

surpreendidas e se assustem com os obstáculos, avisando-os com antecedência e orientando-os a executar os comandos (abaixar - segurar - proteger a cabeça - obstáculo - descer do veículo).

um intérprete de LIBRAS deve estar presente durante o percurso para as situações em que pessoas com deficiência auditiva tenham dúvidas.

Pessoas sem mobilidade no tronco devem ter a postura constantemente monitorada.

Page 116: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

116 - Turismo de Aventura Especial

. Arvorismo1. DescriçãoO Arvorismo é a travessia de percursos aéreos por

meio de plataformas suspensas entre as copas das árvores, onde o praticante transpõe troncos, túneis, escadas bambas, trapézios, pontes, cabos aéreos, redes e outros obstáculos. Postes e outras estruturas também são usados como base para a instalação dos circuitos em ambientes urbanos.

A prática foi desenvolvida nos anos 80 para auxiliar biólogos, botânicos e naturalistas na observação dos ecossistemas existentes nos níveis mais altos de matas e florestas e popularizou-se primeiramente na Costa Rica, Nova Zelândia, França, Inglaterra, Espanha e Estados unidos. Foi trazida ao Brasil no ano de 2001.

Sempre com a supervisão de monitores, o aventureiro é preso a um cabo de segurança e, utilizando equipamentos adequados, caminha pelos mais diversos obstáculos em circuitos com diferentes distâncias e níveis de dificuldade.

2. Tipos de Arvorismoa. Contemplativo: formado apenas por passarelas e

pontes, exige esforço físico e tem como principal objetivo a observação e contemplação da fauna e da flora sob a perspectiva do nível das árvores.

b. Acrobático: uma mistura do arvorismo contemplativo com os obstáculos de treinamento das forças armadas, esse tipo de percurso exige melhor preparação física e bastante ousadia.

3. BenefíciosAlém de proporcionar uma integração com a natureza

em locais até então inacessíveis, a atividade estimula a coragem, coordenação motora, o equilíbrio, a formulação de estratégias e valoriza a capacidade individual na superação de cada desafio.

Page 117: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 117

4. Quem pode praticarPessoas com deficiência auditiva, visual, surdocegueira,

amputação, síndrome de Down, ataxia e outras deficiências físicas, sensoriais, mentais e de mobilidade, desde que a deficiência não comprometa as condições mínimas de segurança necessárias à prática.

Pessoas com deficiências físicas ou com mobilidade reduzida podem ter restrições.

uma alternativa de adaptação para cadeirantes seria transportar o usuário de cadeira de rodas por meio de tirolesas assistidas ou com passarelas aéreas acessíveis, fazendo o percurso entre as estações e oferecendo ao participante a sensação única de observar as paisagens e as peculiaridades dos ecossistemas no nível das copas das árvores.

O empreendedor que se interessar em oferecer essa modalidade pode usar a criatividade e inventar percursos para cadeirantes; deve-se pensar um elevador para conduzir o cadeirante à copa.

TIPO DEDEFICIÊNCIA

DIFICULDADENA PRÁTICA

DIFICULDADE NA ADAPTAÇÃO

Deficiência Auditiva BaixaDeficiência Visual AltaSurdocegueira AltaParaplegiaTetraplegiaAmputação AltaSíndrome de Down BaixaMobilidade reduzida Alta

Page 118: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

118 - Turismo de Aventura Especial

5. EquipamentosCapacetes, luvas, cadeirinha, fitas solteiras, mosquetões

e sistema de proteção antiqueda. Monitores utilizam, além destes, outros equipamentos

para atender a qualquer necessidade (de resgate, subida, descida e acesso irrestrito ao circuito).

O sistema de proteção antiqueda é o principal sistema de segurança de um circuito de arvorismo e funciona quando o participante escorrega de uma ponte ou plataforma, evitando a queda.

6. InstruçõesO Arvorismo é uma atividade composta por uma grande

variedade de obstáculos que exigem diferentes níveis de habilidade e preparação, portanto o monitor deve ser muito específico e detalhista ao orientar o Aventureiro Especial, descrevendo as principais dificuldades de cada uma das etapas, demonstrando o correto procedimento e certificando-se de que todos os participantes entenderam corretamente as instruções.

Para a comunicação de pessoas com deficiência auditiva e deficiência visual durante o percurso, devem ser combinados toques para os principais comandos (seguir - abaixar - pendurar - parar - levantar a perna - balança muito - falta x distância para chegar à próxima plataforma, etc.).

Durante a simulação, é importante que os participantes experimentem as posições necessárias durante o arvorismo.

7. Como adaptara. Adaptações físicas Instalar os cabos de segurança nas plataformas a

uma altura suficiente para que não cause impactos com os participantes.

Page 119: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 119

As pontes devem estar no mesmo nível das plataformas para que não haja problemas na saída ou chegada de cada estação.

Os trechos não devem ser muito longos. A distância recomendada é de 8 a 10 metros de uma plataforma à outra, totalizando um percurso de no máximo 100 metros.

As plataformas devem ser de, no mínimo, 2 m x 2 m. Disponibilizar diversas vias de escape para abandono

da atividade durante o percurso. Disponibilizar informações em Braile nas plataformas,

indicando altura e distância até a próxima estação. Detalhes como número de degraus e presença de galhos ou água também são informações importantes.

Implantar sistemas de comunicação tátil nos corrimãos para indicar degraus.

Colocar piso tátil nas plataformas. Marcar o centro dos degraus de forma que o

participante com deficiência visual possa sentir e manter-se na posição correta.

utilizar cadeirinha com peitoral em pessoas amputadas ou com mobilidade reduzida, para melhorar o equilíbrio.

b. Procedimentos O monitor deve estar próximo ao participante durante

todo o trajeto e atento para assistir no que for preciso, pois podem surgir dúvidas ou dificuldades durante o percurso. Antes de passar para um novo obstáculo, explicar novamente o procedimento para transpô-lo, caso seja necessário.

Para a comunicação com deficientes visuais e auditivos, utilizar os comandos combinados durantes as instruções.

Pessoas amputadas e outras deficiências de mobilidade podem precisar de auxílio.

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120 - Turismo de Aventura Especial

. Tirolesa1. DescriçãoTirolesa é um tipo de travessia entre dois pontos distantes

por meio do deslizamento por cabos aéreos ancorados horizontalmente. O aventureiro é acomodado em uma cadeirinha que, conectada por roldanas, freios e mosquetões, desliza pelo cabo de aço tencionado. É necessário um desnível entre os pontos de partida e chegada e a tensão dos cabos deve ser observada, pois dela depende a boa prática da aventura.

Originária da cidade de Tyrol, na áustria, a técnica foi inicialmente desenvolvida para auxiliar a travessia de animais sobre rios, cânions, vales, precipícios, rios de corredeira e outros obstáculos naturais.

Os percursos apresentam grande variedade de distância, altura e velocidade, podendo ser utilizados tanto em pequenos trechos (recreação infantil ou como parte de um circuito de arvorismo) quanto para a travessia de uma montanha a outra.

É uma atividade segura e emocionante que oferece maior descarga de adrenalina de acordo com a altura e o desnível: quanto mais alto, mas rápido será o voo.Não exige técnica ou habilidade física alguma e proporciona ao participante a sensação de voar sobre árvores, rios, vales, montanhas e outras paisagens naturais.

2. Tipos de TirolesaSeca: o trajeto de uma plataforma a outra não

proporciona contato com a água.Molhada: permite que o participante toque a água ou

mesmo finalize a atividade dentro de um lago, rio ou do mar.3. BenefíciosOferece uma sensação de liberdade dificilmente

encontrada em qualquer outra atividade. Por não haver a

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7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 121

necessidade de manipular equipamentos ou movimentar-se, o aventureiro apenas relaxa a mente e saboreia cada minuto, sentindo o vento no rosto e contemplado as paisagens.

4. Quem pode praticarPessoas com deficiência auditiva, visual, surdocegueira,

paraplegia, tetraplegia, amputação, ECNP (paralisia cerebral), síndrome de Down, ataxia e outras deficiências físicas, sensoriais, mentais, de mobilidade e múltiplas.

5. EquipamentosCadeirinha, mosquetão, cabo autosseguro de fitas,

polias especiais para cabo de aço e capacete. Cadeirinhas com peitorais para pessoas mobilidade de

tronco.6. Instruções Atenção especial ao orientar os participantes sobre

como se comportar após a frenagem, quando devem aguardar o auxílio dos monitores para se desconectar dos cabos.

Permitir aos deficientes visuais que toquem os cabos e entendam como funcionam os mosquetões, polias e roldanas. É importante recomendar que não toquem os cabos em movimento, mantendo braços e mãos abaixados.

TIPO DEDEFICIÊNCIA

DIFICULDADENA PRÁTICA

DIFICULDADE NA ADAPTAÇÃO

Deficiência Auditiva BaixaDeficiência Visual BaixaSurdocegueira BaixaParaplegia BaixaTetraplegia BaixaAmputação BaixaSíndrome de Down BaixaMobilidade reduzida Baixa

Page 122: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

122 - Turismo de Aventura Especial

Descrever a altura, distância, velocidade alcançada e que tipo de relevo e vegetação existe abaixo do percurso, para que possam perceber o ambiente com o qual estão interagindo.

Indicar a quantos passos, aproximadamente, perderão o contato com o chão e iniciarão a descida.

Informar os usuários da cadeirinha com peitoral como ela o manterá na posição correta.

7. Como adaptara. Adaptações físicas uso de peitoral para cadeirantes em geral. uma alternativa é a utilização da cadeirinha de

parapente para garantir que aventureiros sem controle no tronco mantenham-se na posição correta durante todo o percurso.

b. Procedimentos Pessoas com mobilidade reduzida, amputados e

deficientes visuais devem ser auxiliados pelo monitor até o final da rampa para que não percam o equilíbrio antes de ter o corpo totalmente erguido do chão para iniciar a descida.

A colocação da cadeirinha em pessoas sem mobilidade no tronco deve ser realizada com muito cuidado, sendo necessárias para essa operação três pessoas com conhecimento sobre o uso do equipamento e técnicas de transferência para garantir que os movimentos não produzam nenhum tipo de lesão. Esse procedimento pode ser realizado na base de apoio/equipamentos para facilitar as ações no local de saída.

Na rampa de saída, uma vez colocada a cadeirinha, dois monitores sustentam o participante (utilizando novamente as técnicas de transferência) enquanto um terceiro o conecta ao cabo.

Com o Aventureiro Especial equipado, os monitores devem caminhar com ele até o ponto onde não haja perigo de que bata no chão ao soltá-lo e, após se certificar de que ele

Page 123: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 123

está preparado para a aventura, dar um pequeno impulso para que inicie a descida.

Ao final do percurso será necessário reproduzir o processo inverso ao realizado na rampa de saída para a transferência do cadeirante, lembrando que uma cadeira de rodas deve estar aguardando-o assim que terminar a atividade. Dois monitores devem ajudar na transferência, enquanto um terceiro ajuda a desconectá-lo dos cabos.

. Rapel1. DescriçãoTrata-se de uma técnica vertical utilizada na descida de

montanhas, grutas, paredões rochosos, cachoeiras ou mesmo prédios e outras edificações.

Muito utilizada por espeleólogos na exploração de cavernas e pelas forças armadas em resgates e operações táticas, foi desenvolvida pelo francês Jean Charlet-Straton em 1879.

2. Tipos de RapelPositivo: o praticante realiza a descida paralelamente a

uma superfície vertical, utilizando-a como apoio para os pés.Negativo: realizado em vãos livres ou próximo a

inclinações negativas, onde os pés não alcançam nenhum apoio e o participante fica pendurado, apenas controlando os movimentos de decida.

Muitas vias naturais apresentam as duas modalidades em um mesmo percurso.

3. BenefíciosDesenvolve a integração social e a autoestima, pois o

participante experimenta uma situação na qual não somente vence seus desafios e recebe o cuidado de seus companheiros como também colabora com o desempenho dos colegas.

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124 - Turismo de Aventura Especial

4. Quem pode praticarPessoas com deficiência auditiva, visual, surdocegueira,

paraplegia, tetraplegia, amputação, ECNP (paralisia cerebral), síndrome de Down, ataxia e outras deficiências físicas, sensoriais, mentais, de mobilidade e múltiplas, desde que a deficiência não comprometa as condições mínimas de segurança necessárias à prática.

5. EquipamentosCadeirinha, corda dupla, capacetes, mosquetões,

aparelhos descensores e stop. Cadeirinhas com peitorais para pessoas com pouca

mobilidade de tronco. Nos casos em que a deficiência não afeta a mobilidade,

podem ser utilizadas as cadeirinhas padrão e equipar esses participantes não apresenta nenhuma dificuldade adicional.

Para deficiências que afetam a mobilidade, utilizar a cadeirinha com peitoral, que manterá o participante equilibrado durante a descida. Como a tirolesa, o rapel constitui uma técnica vertical e portanto vale a mesma sugestão de adaptar uma cadeirinha de parapente.

TIPO DEDEFICIÊNCIA

DIFICULDADENA PRÁTICA

DIFICULDADE NA ADAPTAÇÃO

Deficiência Auditiva BaixaDeficiência Visual MédiaSurdocegueira MédiaParaplegia BaixaTetraplegia BaixaAmputação MédiaSíndrome de Down BaixaMobilidade reduzida Média

Page 125: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 125

6. Instruções Orientar todos os participantes sobre a distância, o

contato com a parede e galhos/obstáculos que podem surgir. Para a comunicação com deficientes visuais e auditivos

durante o trajeto, devem ser combinados toques e sinais para as principais orientações (soltar mais cordas - frear - aguardar - ir para os lados, etc.).

Permitir que pessoas com deficiência visual toquem os equipamentos para que entendam como é realizado o controle dos movimentos. Descrever o local onde será realizado o Rapel, informando a altura e formações rochosas existentes ao redor, pra que percebam o ambiente. Eles devem ser previamente avisados sobre o momento em que perderão contato com o chão.

7. Como adaptara. Adaptações físicas Cadeirinha de parapente.b. Procedimentos O participante deve ser acompanhado por um monitor

durante a descida, sendo ainda assistido por um outro monitor no local de chegada, responsável pela segurança.

Pessoas com deficiência visual podem necessitar que o monitor conduza suas mãos para realizar movimentos em alguns trechos.

Para cadeirantes, os monitores devem ser treinados em técnicas de transferência para auxiliá-los na colocação da cadeirinha e no transporte até o local de início da atividade, podendo ser equipados ainda na base/sala de equipamentos.

Ao término, o procedimento inverso deve ser feito: dois monitores ajudam na transferência, enquanto um terceiro retira os mosquetões. O participante deve voltar para sua cadeira de rodas, que deverá estar aguardando por ele no local.

Page 126: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

126 - Turismo de Aventura Especial

É necessário que todos os monitores envolvidos sejam treinados para auxiliar o cadeirante, pois, durante toda a colocação do equipamento, chegada ao local de início, começo da descida, percurso e término, o Aventureiro Especial deve ser mantido na posição correta para que não sofra lesões.

Pessoas com mobilidade reduzida devem receber auxílio nos locais próximos às atividades para evitar que se desequilibrem.

Nos casos de pessoas sem mobilidade nos membros inferiores deve-se preferir as vias negativas.

. Rafting1. DescriçãoO rafting é a prática de se aventurar pelas corredeiras

dos rios a bordo de botes infláveis, desviando de obstáculos naturais e encarando quedas d´agua.

A primeira expedição de rafting foi organizada pelo norte-americano John Wesley Powel, em 1869, no Rio Colorado. Nessa época, ainda com botes de madeira, os aventureiros não possuíam técnicas para manobras e, com isso, tiveram experiências desastrosas de capotamento e choques com rochedos.

Os botes infláveis de borracha eram usados como salva-vidas pelo exército americano durante as guerras mundiais, mas o padrão que conhecemos hoje, com o uso de remos e assentos virados para a frente, foi desenvolvido apenas em 1986, por Nataniel Galloway, que revolucionou as técnicas ao permitir que os obstáculos naturais fossem encarados de frente, facilitando as manobras.

No Brasil a atividade chegou em 1982, já em formato comercial, operado no Rio Paraibuna, no Rio de Janeiro.

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7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 127

2. Tipos de RaftingOs níveis de dificuldade são classificados de I (muito

fácil) a VI (perigoso e de extrema navegabilidade), de acordo com o nível de dificuldade em função do percurso, velocidade da correnteza, altura das quedas e volume de água do rio. Como esses fatores são variáveis entre as diferentes épocas do ano, um mesmo rio costuma apresentar diversos níveis.

Os iniciantes podem aventurar-se em rios de nível I ou II. Os segmentos classificados entre os níveis III e VI requerem mais habilidades

3. BenefíciosCada participante tem um papel fundamental para

a realização das manobras e o monitor na formulação de estratégias, por isso desenvolve habilidades para o trabalho em equipe e aprimora as habilidades de relacionamento interpessoal.

4. Quem pode praticarPessoas com deficiência auditiva, visual, surdocegueira,

paraplegia, tetraplegia, amputação, ECNP (paralisia cerebral), síndrome de Down, ataxia e outras deficiências físicas, sensoriais, mentais, de mobilidade e múltiplas.

TIPO DEDEFICIÊNCIA

DIFICULDADENA PRÁTICA

DIFICULDADE NA ADAPTAÇÃO

Deficiência Auditiva BaixaDeficiência Visual MédiaSurdocegueira MédiaParaplegia MédiaTetraplegia BaixaAmputação MédiaSíndrome de Down MédiaMobilidade reduzida Média

Page 128: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

128 - Turismo de Aventura Especial

5. EquipamentosBote, colete salva vidas, capacete, remos e cabo de resgate. Cadeirinha adaptada e colete Colete com maior

flutuabilidade na parte anterior e faixa inguinal. 6. Instruções Para a comunicação com pessoas com deficiência

visual e auditiva durante o percurso, nas instruções devem ser definidos toques para os comandos (direita frente, esquerda frente, direita ré, esquerda ré, parar e piso, etc).

• Umtoquenobraçovoltadoàáreaexternadobote=remar frente.

• Doistoquesnobraçovoltadoàáreaexterna=remarré.• Umtoquenobraçovoltadoàáreainternadobote=piso.• Umnovotoquenobraçovoltadoàáreaexternadobote=voltaràposiçãoderemada.• Doistoquesnobraçovoltadoàáreainternadobote=parar. Os monitores devem assegurar-se de que os

participantes memorizaram esses comandos. Para isso devem ser feitos testes fora da água, até que estejam seguros.

Permitir que pessoas com deficiência visual toquem o bote para entender seu funcionamento.

Pessoas sem mobilidade devem ser instruídas sobre o funcionamento do equipamento de segurança e como devem se comportar ao cair na água.

Antes do rafting devem ser feitas simulações em um local com águas calmas, com todos os participantes no bote, onde serão testados os movimentos, posicionamento e comandos que os Aventureiros Especiais devem seguir.

É importante balançar o bote, jogar água para dentro e pedir que remem para frente e para trás, simulando uma corredeira, para que tenham a ideia de como será a descida.

Page 129: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 129

7. Como Adaptara. Adaptações físicas Colete com maior flutuabilidade na parte anterior e

faixa inguinal. Encosto para posicionamento Dispor as bisnagas de forma que o Aventureiro Especial

fique bem posicionado e com os membros devidamente acomodados.

b. Procedimentos especiais Deficientes visuais devem ser avisados sobre a

aproximação de quedas d´água e obstáculos, utilizando-se os sinais de comando combinados nas instruções. Pode ser necessário o uso de proteção para os olhos, caso o percurso seja realizado muito próximo a vegetações.

Pessoas com mobilidade reduzida ou sem mobilidade no tronco devem ser acomodadas no bote ainda fora da água.

Para ajudar a manter o participante na posição correta, serão colocados velcros, unindo as pernas na altura dos joelhos. No caso de falta de movimento nos membros superiores, estes também devem ser corretamente posicionados e fixados com velcros.

O posicionamento de pessoas com pouca ou sem mobilidade deve ser monitorado durante todo o percurso, especialmente antes e após as quedas d´água.

Assim como no embarque, pessoas com mobilidade reduzida ou sem mobilidade no tronco devem ser retiradas do rio ainda no bote, para então ser transportada até um local seguro e transferidas para o seu próprio equipamento.

Para transportar os cadeirantes para o bote e de volta à sua cadeira de rodas, os monitores devem ter passado por treinamento em técnicas de transferência e estar aptos a realizar também o resgate caso o participante caia na água.

Page 130: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

130 - Turismo de Aventura Especial

Pessoas com mobilidade reduzida e algum comprometimento mental podem apresentar dificuldades na execução rápida de movimentos.

A bisnaga do bote deve ser posicionada de forma a acomodar os joelhos do Aventureiro Especial que não tenha mobilidade de tronco.

. Bóia-Cross e Acqua Ride1. DescriçãoSão duas modalidades de aventura genuinamente

brasileiras, que consistem em descer o curso dos rios sobre bóias infláveis. No bóia-cross as bóias são circulares, no centro desse equipamento o participante permanece sentado com os pés na água. No Acqua Ride utilizam-se bisnagas flutuantes ou bóias amarradas em formato de um oito, e o aventureiro mantêm-se de barriga para baixo, olhando para a frente e desviando dos obstáculos.

Ambas as técnicas surgiram na década de 70, no Vale do Ribeira, no PETAR – Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira. A região é repleta de grutas e cavernas, e nos trechos com água espeleólogos costumavam inflar as câmeras de caminhões para transportar equipamentos pesados. Não demorou para que adquirisse uma nova utilidade e se tornasse atração durante as brincadeiras na água.

A diversão ficou famosa na região. Logo outros grupos e moradores locais aderiram à novidade e começaram a encarar as corredeiras a bordo das bóias, que mais tarde ganhariam revestimentos com alças e outros acessórios para garantir melhor comodidade e agilidade no controle. O capacete e joelheiras passaram a ser itens obrigatórios e a atividade tornou-se mais segura e profissional.

2. Tipos de Bóia-Cross e Acqua RideAssim como no rafting, as atividades também são

classificadas por níveis que variam de I a VI.

Page 131: TURISMO DE AVENTURA ESPECIAL

7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 131

3. Benefícios Apesar de serem realizadas em grupos, são atividades

que estimulam a busca individual da superação de limites frente aos desafios da natureza, desenvolvendo o autoconhecimento e elevando a autoestima.

4. Quem pode praticarPessoas com deficiência auditiva, visual, surdocegueira,

paraplegia, amputação, síndrome de Down, ataxia e outras deficiências físicas, sensoriais, mentais e de mobilidade, desde que estas não comprometam as condições de segurança para a realização da atividade.

TIPO DEDEFICIÊNCIA

DIFICULDADENA PRÁTICA

DIFICULDADE NA ADAPTAÇÃO

Deficiência Auditiva BaixaDeficiência Visual MédiaSurdocegueira MédiaParaplegia MédiaTetraplegiaAmputação MédiaSíndrome de Down BaixaMobilidade reduzida Baixa

AQ

UA

RID

E

TIPO DEDEFICIÊNCIA

DIFICULDADENA PRÁTICA

DIFICULDADE NA ADAPTAÇÃO

Deficiência Auditiva BaixaDeficiência Visual MédiaSurdocegueira MédiaParaplegiaTetraplegiaAmputação MédiaSíndrome de Down BaixaMobilidade reduzida Baixa

IA-C

ROSS

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132 - Turismo de Aventura Especial

5. EquipamentosColete, bóias infláveis (bóia-cross), bisnagas infláveis

(acqua ride), luvas “mãos-de-pato”, capacetes e roupas de borracha.

Colete com maior flutuabilidade na parte anterior e faixa inguinal.

6. Instruções O monitor deve detalhar todo o percurso, informando

o nível do rio, velocidade da correnteza, quantidade e altura das quedas, presença de vegetação e rochedos.

Nos casos de pessoas com deficiência visual e auditiva, devem ser criados sinais padrões para representar os principais comandos (remar - obstáculos - quedas d´água - etc.). Para assegurar-se de que os participantes memorizaram estes comandos, devem ser realizados testes fora da água.

A simulação da atividade deve ser feita primeiramente com os equipamentos no chão, onde serão explicados e testados todos os comandos e procedimentos.

É necessário incluir na simulação situações como quedas, presença de galhos e outros obstáculos e familiarizar os participantes com a posição adequada e equipamentos de segurança.

Durante o treinamento em águas tranquilas deve-se simular as situações, mexendo o bote e jogando água, para representar as corredeiras.

Pessoas com deficiência visual devem tocar todos os equipamentos para reconhecê-los através do tato.

7. Como adaptara. Adaptações físicas Colete com maior flutuabilidade na parte anterior e

faixa inguinal.

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b. Procedimentos especiais Deficientes visuais devem ser avisados sobre a

aproximação de quedas d´água e obstáculos, utilizando-se os sinais de comando combinados nas instruções. Pode ser necessário o uso de proteção para os olhos, caso o percurso seja realizado muito próximo a vegetações.

Durante a descida, um monitor deve acompanhar o Aventureiro Especial de perto, para que possam manter a comunicação.

Participantes com mobilidade reduzida e amputação de membros podem necessitar de auxílio para subir nos equipamentos (tanto na saída da atividade quanto após eventuais tombos durante o percurso).

Pessoas com mobilidade reduzida e algum comprometimento mental podem apresentar dificuldades na execução rápida de movimentos.

O posicionamento de pessoas com pouca mobilidade deve ser monitorado durante todo o percurso, especialmente antes e após as quedas d´água.

Pessoas amputadas unilateralmente tendem ao desequibrio, portanto é necessário que sejam orientados para que façam a compensação.

Para ajudar a manter o Aventureiro Especial paraplégico na posição correta durante a atividade deve-se colocar velcros, próximo aos tornozelos, unindo as pernas.

7. ADAPTANDO AS ATIVIDADES DE AVENTuRA - 133

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8. concLuSão

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8. concLuSão

Apesar de ser uma ONG pequena, conseguimos realizar um trabalho grandioso, que vem provocando uma série de transformações no cenário turístico brasileiro e alcançou repercussão em todo o mundo.

É gratificante ver que, o que começou como um simples espaço para a troca de experiências, em apenas cinco anos cresceu tanto a ponto de ser oficialmente reconhecido como novo segmento do turismo e hoje permite que outras pessoas conheçam o prazer de superar seus limites.

Não havia referências, modelos de trabalho a serem seguidos. Tudo – desde a mais simples tarefa até a mais complexa – foi pensado, pesquisado, discutido e testado. Com diversas viagens, testes, oficinas, verificação das adaptações necessárias e até desenvolvimento de novos produtos, a ONG Aventura Especial criou o primeiro destino para esse público. Provamos que as deficiências não impedem a prática de atividades de aventura. Pelo contrário - a adrenalina, a concentração, o respeito, o contato com a natureza e a sensação de liberdade são fundamentais para a reabilitação e para o bem-estar.

O turismo desempenha um papel importante em nossas vidas: funciona como fator de desenvolvimento da sociabilização e das relações interpessoais. Ainda não estamos acostumados a ver uma pessoa com algum tipo de deficiência praticando esportes, atividades de aventura ou viajando, mas estas são, irrefutavelmente, alternativas de reabilitação física e psicológica. Encontramos mais um instrumento para democratizar e facilitar o convívio social e incentivar as relações de equipe.

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Para a total integração existem muitas barreiras e o preconceito ainda é grande, mas se não tivermos o preconceito dentro de nós, já estamos dando o primeiro passo. Fazer a indústria do turismo se qualificar, para que todos possam sentir os prazeres e benefícios que a natureza pode proporcionar, só vamos conseguir participando e exigindo mudanças. Temos o direito de frequentar os melhores lugares. Não é nenhum favor. Não é nenhuma caridade . Somos consumidores como quaisquer outros.

A grande dificuldade está dentro da cabeça. Se uma pessoa tem uma unha encravada e por isso acha que não pode fazer nada, ela está se limitando e realmente não vai fazer nada. Por outro lado, não existem limites quando a força de vontade fala mais alto.

A pessoa com deficiência sempre foi tida como um motivo de preocupação e cuidados. É possível reverter essa condição e torná-la um agente de alegria e união, uma razão especial para viajar, desfrutar do contato com a natureza e superar desafios em família ou entre amigos. Partindo do pressuposto de que quase todos têm algum familiar, amigo ou conhecido com deficiência, acompanhar essa pessoa numa aventura certamente será uma experiência gratificante para todos. Se uma pessoa em condições físicas preservadas, ao praticar uma atividade de aventura passa uma semana inteira falando sobre a experiência, é impossível descrever o que é para uma pessoa que, como eu, havia perdido as esperanças de redescobrir o prazer com o corpo. Mesmo diante dos limites particulares, a pessoa com deficiência pode e deve usufruir desses prazeres. A experiência é valiosa para todos. Qualquer sociedade cresce ao respeitar as diferenças.

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A ONG hoje:

Hoje a ONG Aventura Especial mantém sua missão divulgando para o público em geral, pessoas com deficiência e familiares, o conceito de Turismo de Aventura Especial. Os motivos que nos impulsionam são a capacitação de profissionais para atuação neste segmento, a inclusão social, a diminuição do preconceito e os avanços que podem ser obtidos por intermédio das atividades de aventura.

Definimos diferentes estratégias que, somadas, permitem que esse público seja considerado consumidor e usuário de todos os tipos de produtos e serviços. Buscamos o aperfeiçoamento e o cumprimento da legislação que regulamenta os direitos das pessoas com deficiência e promovemos ações e projetos que visam sensibilizar empresas da indústria do turismo a se adaptar.

Informamos os benefícios que podem ser alcançados e estimulamos as pessoas com deficiência a buscar na natureza e nas atividades de aventura um caminho para reencontrar a autoestima.

Ministramos palestras em todo Brasil, dirigidas a estudantes e profissionais envolvidos com o turismo, no intuito de demonstrar o atendimento personalizado que o turista com deficiência necessita. Garantimos aos empreendedores interessados apoio técnico e mercadológico, produzindo informações que orientem sobre as técnicas e procedimentos de adaptação para o atendimento qualificado. Realizamos, nos principais veículos de comunicação, constante divulgação das ações e projetos desenvolvidos.

O que conquistamos até aqui constitui um caminho de mão única – e este é apenas o começo. Superação, limite e desafio são palavras que fazem parte do cotidiano e já são muito

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comuns no universo da aventura. Mas elas ganham uma nova força e conotação quando vemos os Aventureiros Especiais em ação, enfrentando, com alegria, entusiasmo e determinação, os obstáculos e dificuldades que a vida apresenta.

Essa é nossa maior alegria!

Obrigado a todosque ajudaram a transformar esse sonho em realidade.

Dadá Moreira.

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Bibliografiahttp://www.laramara.org.br/portugues

http://ies.portadoresdedeficiência.vilabol.uol.com.br

http://www.fiocruz.br

http://www.crfaster.com.br/auditiv.htm

http://www.ibc.gov.br/?itemid=98

http://sentidos.uol.com.br/canais/materia.asp?codpag=13120&cod_canal=13

http://www.ame-sp.org.br/noticias/jornal/novas/tejornal14.shtml

http://www.dmri.uevora.pt/aenee/boas_praticas/surdocegueira

http://deficienteciente.blogspot.com/2009/08/paraplegia-e-tetraplegia-parte-2.html

http://www.copacabanarunners.net/tetraplegia.html

http://www.policlin.com.br/drpoli/130/

http://www.dedosdospes.com.br/html/pc.htm

http://www.gleisinho.palestras.nom.br/Paralisia.htm

http://www.amputação.com/amputacao-coto.html

http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/amputacao.htm

http://www.fsdown.org.br/home.htm

http://info.specialolympics.org/portuguesecoachingguides

http://www.sosdown.com/

http://www.abahe.org.br/sobre_ataxia/

http://www.bengalalegal.com/ataxia.php

http://genoma.ib.usp.br/pesquisas/doencas_ataxias-progressivas.php

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BIBLIOGRAFIA - 141

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“A ação da ONG Aventura Especial não é um projeto de vida mas a vidatransformada em projeto. Projeto de mudanças de atitudes de governantes, de empresários, de profissionais e de pessoas. Projeto de país! Especial aventura é poder, sempre, trabalhar para ampliar a ação da Aventura Especial”Mercês Parente - Especialista em políticas públicas

“A Aventura Especial, idealizada pelo Dadá Moreira, foi um marco nahistória da acessibilidade no turismo brasileiro. O resultado do seu trabalho

gerou benefícios para todos os segmentos,pois as soluções também melhoram o conforto para todas demais pessoas.

Sua garra e determinação são um exemplo para todos nós”.Sergio Franco - Criador da Adventure Sports Fair

e presidente da Brazilian Adventure Society.

“O acesso aos diversos aspectos da vida humana é um direito de todas os seres humanos. As pessoas com deficiência geralmente são privadas de viver uma aventura por falta de acesso. O Dadá Moreira não só mostrou que isso é possível, como também factível no plano do turismo de aventura, abrindo essa possibilidade para milhares de pessoas que vivem com algum tipo de limitação funcional. A ele e à sua equipe, todo nosso reconhecimento!”Rosangela Berman Bieler - Diretora, Instituto Interamericano de Deficiênciae Desenvolvimento Inclusivo

“Este livro abrirá amplas possibilidades de inclusão social de pessoascom deficiência no setor do turismo de aventura. A experiência pessoal de

Dadá Moreira neste setor é mais que suficiente para avalizar o conteúdo da obra.”Romeu Sassaki - Consultor de inclusão.

“uma aventura não pode ficar limitada e Dadá Moreira vive a aventura no sentido mais amplo da palavra e abre caminhos para outros também terem essa experiência”.Marta Gil - Coordenadora Executiva do Amankay

“Aqui nos Estados unidos o Dadá é conhecido como o“Pai de Turismo de Aventura para pessoas com deficiência.”

Ele tem aberto caminhos para nossa comunidade pelo mundo inteiro “.Dr. Scott Rains - Consultor de turismo inclusivo

“Trabalhar com Dadá no projeto ‘Aventureiros Especiais’ me ensinou que as únicas barreiras são as que estão na nossa mente, o resto tudo é possível.“Mauro Brucoli - Consultor de turismo

“Dadá Moreira compartilha conosco sua rica experiência nesta obra que merece

minha admiração porque só incluiremos as pessoas com deficiência se nos

comprometemos com este processo”.Mara Gabrilli - Tetraplégica,

vereadora em São Paulo