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TURMA DE CÂMARAS CÍVEIS REUNÍDAS DE DIREITO … · turma de cÂmaras cÍveis reunÍdas de direito pÚblico e coletivo mandado de seguranÇa nº 100262-23.2018. 8.11.0000 impetrante

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TURMA DE CÂMARAS CÍVEIS REUNÍDAS DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO

MANDADO DE SEGURANÇA Nº 100262-23.2018. 8.11.0000

IMPETRANTE (S): JULIO CESAR MOREIRA SILVA JUNIOR

IMPETRADO (S): GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO

Vistos.

Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por JULIO CESAR MOREIRASILVA JUNIOR, nos autos qualificado, contra ato tido por ilegal perpetrado pelo GOVERNADOR DOESTADO DE MATO GROSSO consubstanciado na sanção da Lei Estadual nº 10.656/2017 que alterou ereduziu o teto dos valores referentes à Requisições de Pequeno Valor – RPV.

Narra que foi sancionada pelo Governador do Estado de Mato Grosso a Lei nº10.656/2017, que revogou a Lei nº 7.894/03, passando a definir os procedimentos para pagamento deobrigações de pequeno valor.

Diz que a novel lex fixou o valor do teto da RPV em 100 [cem] UPFs/MT e, noseu art. 5º, estabelece que as execuções já transitadas em julgado antes da vigência da nova legislação,devem observar o limite de 70 [setenta] UPFs/MT.

Assevera que o dispositivo é inconstitucional porque atribuiu efeitos retroativos afim de reduzir o valor das Requisições que tramitavam sob a égide da lei anterior, diminuindo, ainda mais,o valor do teto da RPV em relação àquele fixado na própria lei nova.

Defende assim, a violação ao princípio da coisa julgada e da segurança jurídica.

Alega que tem três processos executivos com trânsito em julgado para o Estado,já na fase de expedição das RPV’s, que sofrerão diretamente os efeitos da nova lei.

Sustenta, então, que possui direito líquido e certo ao recebimento dos valores deacordo com a lei revogada [Lei nº 7.894/03]

A par disso, requer a concessão da medida liminar par suspender os efeitos doapontado dispositivo legal [art. 5º da Lei 10.656/17], e, no mérito, a decretação da nulidade do artigo emcontrole difuso de constitucionalidade.

Colacionou documentos eletronicamente [Id 1528843 a 1528900];

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É a síntese. Decido.

Cuida-se de mandado de segurança em que se busca a suspensão dos efeitos doart. 5º da Lei Estadual nº 10.656 de 28.12.17, que define os procedimentos para pagamento de obrigaçõesde pequeno valor, previstas no § 3º do art. 100 da CF/88.

Eis o teor do dispositivo combatido, in litteris:

“Art. 5º As requisições de pequeno valor cujo trânsito em julgado da decisão tenhaocorrido antes da entrada em vigor desta Lei observarão o limite de 70 (setenta) UnidadesPadrão Fiscal do Estado de Mato Grosso - UPFs/MT.”

Segundo o impetrante, a apontada lei estadual ao reduzir o limite do valor dasrequisições de pequeno valor e determinar a aplicação dos seus efeitos aos créditos constituídos antes dasua entrada em vigor, atribuiu efeitos retroativos ao dispositivo, em violação ao direito adquirido, àsegurança jurídica e à coisa julgada.

E, por isso, está eivada de inconstitucionalidade, razão pela qual postula, emcaráter antecedente, pela suspensão dos seus efeitos.

É certo que a concessão de provimento liminar em mandado de segurança reclamaa presença concomitante dos requisitos relativos à relevância dos fundamentos jurídicos da impetração e àpossibilidade de sobrevir ao impetrante a ineficácia da medida reclamada, caso não seja liminarmenteconcedida [artigo 7º, inciso III, da Lei nº. 12.016/2009]

Do exame dos autos, ressai que foi sancionada, em 28.12.17, a Lei nº 10.656, querevogou a Lei nº 7.894/03, passando a disciplinar os procedimentos para pagamento de obrigações depequeno valor.

Consta que o ato normativo reduziu o teto para expedição da Requisição dePequeno Valor – RPV, anteriormente fixado pela Lei 7.894/03 em 256 [duzentos e cinquenta e seis]UPF’s/MT, para 100 [cem] UPF’s/MT, e, ainda, limitou a expedição de RPV’s ao teto de 70 [setenta]UPF’s/MT, aos feitos executivos que transitaram em julgado antes da vigência da novatio legis.

Em juízo de cognição sumária, reputo, pois, relevantes, os fundamentos daimpetração, a justificar a concessão da tutela de urgência initio littis:

Explico:

A expedição de precatório ou de requisição de pequeno valor, por exigênciaconstitucional, depende do prévio trânsito em julgado. Diante disso, o momento inicial para se determinaro enquadramento do crédito como obrigação de pequeno valor (para os efeitos do § 3º do art. 100 daCF/88) deve ser o do trânsito em julgado da sentença condenatória, ou seja, o momento em que houve avaloração definitiva do crédito.

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Ao que se afigura dos autos, a execução dos créditos sucumbenciais que formamas RPV’s, iniciaram-se ainda sob a égide da Lei 7.894/03, antes, portanto, da entrada em vigor da Lei10.656 de 28.12.17. Nesse diapasão, às disposições da lei revogada devem se submeter.

Isso porque, para fins de direito intertemporal no processo de execução, assentouo Supremo Tribunal Federal, em situação análoga à presente, ser vedado ao Poder Público, em atenção aopostulado da segurança jurídica, fazer incidir, retroativamente, sobre situações definitivamenteconsolidadas, norma de direito local que altere o valor a ser utilizado como parâmetro para expedição deprecatório ou requisição de pequeno valor e, com apoio em referida legislação, submeter execução jáiniciada, fundada em condenação judicial também já anteriormente transitada em julgado, ao regimeordinário de precatórios.

Nesse sentido, o julgamento do Recurso Extraordinário nº 646.313, abaixoementado:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO – LEGISLAÇÃO LOCAL QUE DEFINEOBRIGAÇÕES DE PEQUENO VALOR (CF, ART. 100, § 3º) – APLICABILIDADEIMEDIATA, DESDE QUE OBSERVADAS SITUAÇÕES JURÍDICAS JÁCONSOLIDADAS NO TEMPO (DIREITO ADQUIRIDO, ATO JURÍDICO PERFEITOE COISA JULGADA), SOB PENA DE OFENSA AO POSTULADO DA SEGURANÇAJURÍDICA – CONDENAÇÃO JUDICIAL DO ESTADO DO PIAUÍ TRANSITADA EMJULGADO EM MOMENTO ANTERIOR AO DA SUPERVENIÊNCIA DA LEIESTADUAL QUE REDUZIU O VALOR DAS OBRIGAÇÕES DEVIDAS PELAFAZENDA PÚBLICA, SUBMETENDO-AS, EM FACE DOS NOVOS PARÂMETROS,AO REGIME ORDINÁRIO DE PRECATÓRIOS, EM DETRIMENTO DA UTILIZAÇÃODO MECANISMO DA REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR (RPV) – AS NORMASESTATAIS, TANTO DE DIREITO MATERIAL QUANTO DE DIREITO PROCESSUAL,NÃO PODEM RETROAGIR PARA AFETAR (OU PARA DESCONSTITUIR) SITUAÇÕESJURÍDICAS PREVIAMENTE DEFINIDAS COM FUNDAMENTO NO ORDENAMENTOPOSITIVO ENTÃO APLICÁVEL (LIMITES ESTABELECIDOS NO ART. 87 DO ADCT) –RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - O postulado da segurança jurídica, enquantoexpressão do Estado Democrático de Direito, mostra-se impregnado de elevado conteúdoético, social e jurídico, projetando-se sobre as relações jurídicas, mesmo as de direito público(RTJ 191/922), em ordem a viabilizar a incidência desse mesmo princípio sobrecomportamentos de qualquer dos Poderes ou órgãos do Estado, para que se preservem, dessemodo, sem prejuízo ou surpresa para o administrado, situações já consolidadas no passado. - Aessencialidade do postulado da segurança jurídica e a necessidade de se respeitarem situaçõesconsolidadas no tempo, especialmente quando amparadas pela boa-fé do cidadão, representamfatores a que o Poder Judiciário não pode ficar alheio. Doutrina. Precedentes. - O PoderPúblico (o Estado do Piauí, no caso), a pretexto de satisfazer conveniências próprias, não podefazer incidir, retroativamente, sobre situações definitivamente consolidadas, norma de direitolocal que reduza, para os fins do art. 100, § 3º, da Constituição, o valor das obrigações estataisdevidas, para, com apoio em referida legislação, submeter a execução contra ele já iniciada,fundada em condenação judicial também já anteriormente transitada em julgado, ao regime

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ordinário de precatórios, frustrando, desse modo, a utilização, pelo credor, do mecanismo maisfavorável e ágil da requisição de pequeno valor, de aplicabilidade até então legitimada emrazão dos parâmetros definidos no art. 87 do ADCT.(RE 646313 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em18/11/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-241 DIVULG 09-12-2014 PUBLIC10-12-2014)

Assinala-se, por oportuno, que a questão ora debatida, foi afetada à sistemática darepercussão geral, constituindo o Tema 792, e já conta com parecer da Procuraria-Geral da República, quemanifestou-se pela impossibilidade da incidência retroativa da norma legal a momento anterior àconstituição definitiva do crédito.Vejamos:

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO – EXECUÇÃO INICIADA – PARÂMETRODE DEFINIÇÃO DE REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR – ADMISSIBILIDADE DAINCIDÊNCIA DA LEI NOVA NA ORIGEM – RECURSO EXTRAORDINÁRIO –REPERCUSSÃO GERAL – PRECEDENTES EM AGRAVOS REGIMENTAIS DASEGUNDA TURMA – CONFIGURAÇÃO. Possui repercussão geral a controvérsia alusiva àincidência de lei nova sobre parâmetro de definição de requisição de pequeno valor naexecução iniciada, consideradas a medula da segurança jurídica, que é a irretroatividade da lei,e a existência de julgados da Segunda Turma em sentido contrário ao do acórdão atacado. (RE729107 RG, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, julgado em 26/02/2015, PROCESSOELETRÔNICO DJe-055 DIVULG 19-03-2015 PUBLIC 20-3-2015 )

Logo, ainda que se possa conferir aplicabilidade imediata ao dispositivo em debatenestes autos, se mostra temerário afetar situação jurídica já consolidada no tempo, conferindo-lheaplicação retroativa, em detrimento do direito adquirido, do ato jurídico perfeito, com evidente ofensa àsegurança jurídica.

Assim, vislumbro a relevância da fundamentação, e por isso, defiro a medidaliminar vindicada para suspender os efeitos do art. 5º da Lei n. 10.656/17 em relação aos processos nº1000829-46.2016.8.11.0053 e 1000817-46.2016.8.11.0053, até julgamento do mérito do presentemandamus.

Notifique-se a autoridade impetrada para que, no prazo de 10 (dez) dias, preste asinformações que entender devida.

Após, dê-se vista à d. Procuradoria-Geral de Justiça.

Intimem-se. Cumpra-se.

Cuiabá, 25 de janeiro de 2018.

Desa. Helena Maria Bezerra Ramos

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Relatora em Substituição Legal

Assinado eletronicamente por: HELENA MARIA BEZERRA RAMOShttp://pje2.tjmt.jus.br/pje2/Processo/ConsultaDocumento/listView.seamID do documento: 1551411 18012517402441900000001518362

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