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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
MARYANNA EVANGELISTA NASCIMENTO
SAHAFI BRAZILI
Salvador
2018
MARYANNA EVANGELISTA NASCIMENTO
SAHAFI BRAZILI
Memória descritiva do livro ‘Sahafi Brazili’, apresentado à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/Ufba) como requisito para conclusão da graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo.
Orientadora: Prof. Dra. Lia da Fonseca Seixas
Salvador
2018
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AGRADECIMENTOS
A minha mamis, que sempre me incentivou e acreditou em mim.
A papito, pelas energias enviadas do mundo de lá.
À vovó Analice, a ousada escritora da família Nascimento.
Ao meu irmão, pela paciência e respeito.
A Laoan, pela compreensão, cuidado e liberdade.
À Monica, pelos pitacos certeiros.
À Maria Carmem, por me fazer acreditar.
À Claudia Antunes, pela disponibilidade e ajuda.
A Diogo Bercito, Germano Assad, Lourival Sant’Anna, Marcelo Ninio, Patricia Campos Mello, Samy Adghirni, Tariq Saleh e Yan Boechat, pelo aprendizado compartilhado.
A Ivan e Lu, pelo ânimo em poder me ajudar. Ao jornal Correio, por ter sido a minha maior faculdade.
À Universidade Estadual de Santa Cruz, por ter me ensinado a ser a aluna que sou. À Universidade Federal da Bahia, pelas oportunidades. À Universidade de Coimbra, por ter resgatado as minhas forças. À Síria, por ter me encantado.
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RESUMO
Este memorial se propõe a apresentar o processo de elaboração do livro ‘Sahafi brazili’, que traz, em forma de relatos, informações sobre a rotina produtiva e condições de trabalho de jornalistas brasileiros que cobriram a guerra da Síria. Neste trabalho são abordados desde fundamentos teóricos até outros elementos que deram origem ao produto — processo criativo, entrevistas, escrita, projeto editorial e outros.
Palavras-chave: guerra da síria, cobertura de guerra, rotina produtiva, entrevista
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SUMÁRIO
1. Apresentação ……………………………………………………………...... p. 5
2. Referencial teórico ……………………………………………………….... p. 7
2.1. Campo jornalístico ……………………………………………..…… p. 7
2.2. Valores …………………………………………………………..…….p. 9
2.3. Notícia ……………………………………………………………….p. 13
2.4. Rotina produtiva…………………………………………………….p. 16
2.5. Apuração …………………………………………………………….p. 21
2.6. A entrevista no jornalismo …………………………………………p. 25
3. Pesquisa de similares ………………………………………………………p. 29
4. Diário de bordo …………………………………………………………….p. 31
5. Considerações finais ………………………………………………………p. 37
6. Referências bibliográficas ………………………………………………...p. 39
7. Anexos ……………………………………………………………………...p. 46
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1. Apresentação
Em 2011, o mundo árabe viveu um momento histórico de reivindicações e lutas
contra os governos ditatoriais do Oriente Médio e norte da África. As manifestações a favor
da democracia causaram uma crise política e social e tiveram como consequência a derrubada
de governos, como o do então presidente da Tunísia, Ben Ali. Na Síria, importante território
geopolítico da região, a Primavera Árabe — nome dado à conjuntura — teve o seu estopim
em março do mesmo ano. Na cidade de Deera, no sul do país, jovens sírios foram presos e
torturados após picharem frases revolucionárias no muro de uma escola. A resposta violenta
das forças de segurança gerou manifestações nacionais contra o governo de Basharal-Assad,
presidente da Síria de origem da minoria alauíta.
Milhares de pessoas foram às ruas e membros da oposição política passaram a portar
armas na tentativa de se defenderem e expulsarem as tropas governamentais de algumas
regiões. O embate acabou por adquirir um rumo sectário e de interesses internacionais,
tornando-se uma guerra pelo controle de territórios que envolve principalmente defensores do
presidente Bashar al-Assad, radicais, curdos e jihadistas do Estado Islâmico — que
catapultou o seu poder durante a guerra.
O desenrolar dos conflitos no país foi determinante para a maneira como se deu a
cobertura jornalística da guerra. Com o território da Síria dividido entre grupos com
ideologias diferentes, a mobilidade no país passou a ser limitada. Não há como seguir o
mantra dos manuais de redação que diz para ouvir todos os lados, é preciso escolher por onde
entrar — o que nem sempre é sinônimo de ter autorização para isso. O cenário ao longo dos
anos foi de ameaça à liberdade de imprensa e, especialmente, de perigo para os jornalistas.
Nunca houve uma imprensa livre na Síria, mas agora tornou-se o país mais letal do mundo para os jornalistas. Após o início do levante sírio, cidadãos-jornalistas criaram novos meios de comunicação para lançar luz sobre os vários aspectos da guerra. Profissionais e cidadãos-jornalistas da mesma forma agora estão presos entre as várias partes envolvidas no conflito - tanto o regime e os seus aliados e os vários grupos armados da oposição, incluindo os curdos e os combatentes jihadistas, como o Estado Islâmico. Intimidações frequentes, detenções, raptos e assassinatos
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constituem um ambiente extremamente desagradável para a mídia (REPÓRTERES SEM FRONTEIRAS, 2016).
Ainda que seja em um contexto de adversidades, o jornalismo tem um “papel
socialmente legitimado para produzir construções da realidade que são publicamente
relevantes” (ALSINA, 1996, p.18). Um dos profissionais que assume essa incubência, no
exterior, é o correspondente internacional. A isso se acrescenta o seu olhar próprio e às vezes
exclusivo sobre um determinado país. “É um valor agregado imenso em termos de
informação diferenciada” (ADGHIRNI, 2013, p.44). Em um contexto de guerra como o da
Síria, a tendência é que fique registrado a singularidade do olhar de cada repórter, ainda (e
principalmente) que ele esteja em um lugar de fala restrito.
Este memorial tem o objetivo de documentar o processo de elaboração e construção
do livro Sahafi brazili. Dividido em 18 capítulos, o livro mostra esse olhar singular do
profissional a partir de relatos em primeira pessoa. Correspondentes internacionais
(jornalistas fixos em algum país ou região no exterior), enviados especiais (repórter enviado
exclusivamente para a cobertura) e freelancers que estiveram na Síria foram entrevistados e
compartilharam o que cada um viveu de particular: detalhes que vão da rotina produtiva até o
psicológico, passando pela descrição da guerra e opiniões sobre o ‘fazer jornalismo’. A
proposta do produto é que ao final o leitor tenha uma perspectiva dos fatores que estão por
trás da cobertura do conflito em diferentes frentes de batalha: forças pró-governamentais,
rebeldes e curdos.
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2. Referencial teórico
2.1 O campo jornalístico
A comunicação de massa apresentou diferentes modelos e o primeiro deles começa
com a imprensa, no século XVIII. Na sua primeira fase, há uma imprensa de opinião
essencialmente burguesa que criticava as zonas de segredo das decisões políticas, já que
estava fora dessa esfera reservada. Em um segundo momento, os burgueses conquistam o
Estado e a imprensa passa a ser partidária. Ou seja, com a alternância de poder do Estado
democrático, a imprensa se estabelece ao lado de governistas ou da oposição (GOMES,
2004).
Lage (2011) explica que é no século XIX que o exercício do jornalismo entra em
outro ciclo, o de ampliação do público leitor. Para ele a transição aconteceu a partir da
revolução industrial europeia — um grande contingente de população foi deslocado para as
cidades, instalações fabris concentraram operários e a expansão comercial exigia
administradores, capatazes e técnicos letrados. A ausência de uma aristocracia poderosa se
opondo ao pensamento burguês já não sustentava o jornalismo de opinião. Logo, o estilo das
matérias aos poucos é modificado para atrair os seus novos leitores.
Em 1833, o primeiro jornal penny paper publicou a sua primeira edição, rompendo
com o modelo tradicional de jornalismo norteamericano, tanto no que diz respeito à produção
quanto à comercialização. Uma das suas principais características era o baixo preço.
Enquanto os outros periódicos custavam seis centavos, eles saiam por um. Esses produtos
foram essenciais para a consolidação da figura do repórter, já que “a notícia tornou-se esteio
do jornal diário” (SCHUDSON, 2010, p. 35) e os penny iam atrás dos acontecimentos. Em
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1835, os jornais Herald, Transcript e Sun se associaram e dois anos depois se gabavam de ter
correspondentes de Washington à Europa.
Para dar conta de tantos exemplares, só a prensa, tipos móveis, papel e tinta não era
mais suficiente, era necessário mecanização. Esse processo resolveu o problema das tiragens
mas o custo da produção aumentou paralelamente. Para sustentar essa cadeia, o mercado
publicitário entrou em ação. De acordo com Lage (2011), é aí que os interesses gerais da
economia se integram com a imprensa. Isso significa que a partir desse momento os jornais
recebiam anúncios que dependiam, portanto, do número de leitores.
Guerra (2003) defende que essa expansão em busca de novos leitores foi o que gerou
o rompimento do jornalismo com os seus laços partidários. Até então, era a política que o
financiava e o dominava. Os jornais deixam de ser instrumentos de ação políticas e se tornam
empresas em busca de dinheiro.
É importante ressaltar que para o investimento em grandes tiragens ter acontecido,
alguns fatores foram determinantes. De acordo com Traquina (2005), o primeiro é a
escolarização de massas no século XIX. Nesse período, escolas públicas permitiram que
muitas pessoas aprendessem a ler, mesmo que de forma rudimental. Além disso, vale lembrar
também do processo de urbanização que aumentou com o crescimento de futuras metrópoles
do século XX como Paris, Londres e Nova Iorque; a entrada de nova maquinaria no mercado
e os anseios dos leitores por notícias diversificadas.
Traquina (2005) ainda acrescenta a liberdade como algo fundamental. “A expansão da
imprensa foi alimentada pela crescente conquista de direitos fundamentais, como a liberdade,
cerne de lutas políticas seculares que incendiaram revoltas e revoluções, valor central da
emergência de um novo conceito de governo — a democracia.” (p. 39).
Por outro lado, Schudson (2010) acredita que o uso de jornais e revistas por empresas
que queriam anunciar diretamente aos seus consumidores levou ao declínio dos fatos no
jornalismo. O motivo seria a grande abertura que a própria imprensa deu à publicidade,
muitas vezes encorajados pelos trabalhos pré-produzidos que recebiam. Para ele, as relações
públicas eram uma ameaça à própria ideia da reportagem. “A notícia parecia estar se tornando
menos um relato dos acontecimentos mundiais do que a reedição daqueles fatos no universo
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de fatos que atraíam o interesse especial de quem poderia se dar ao luxo de contratar
assessores de relações públicas" (p. 162).
Bourdieu (1997) também chama atenção para “a influência que os mecanismos de um
campo jornalístico cada vez mais sujeito às exigências do mercado (dos leitores e dos
anunciantes) exercem” (p. 101). Os efeitos surgem primeiro para os próprios jornalistas e
depois sobre diferentes campos de produção cultural. Isso tem relação direta com a
autonomia de um órgão de difusão, medida pela “parcela de suas receitas que provêm da
publicidade e da ajuda do Estado (sob a forma de publicidade ou de subvenção) e também
pelo grau de concentração dos anunciantes” (p. 102).
Antes disso, o autor introduz a noção de campo jornalístico. "Um campo é um espaço
social estruturado, um campo de forças — há dominantes e dominados, há relações
constantes, permanentes, de desigualdade, que se exercem no interior desse espaço"
(BOURDIEU, 1997, p. 57). À época, os jornalistas, ou o campo jornalístico, tinha
importância no mundo social porque monopolizavam a informação e o seu acesso por
simples cidadãos, produtores culturais, artistas, escritores. Por outro lado, esse mesmo campo
está sobre a pressão de um outro, o campo econômico e seu índice de audiência. "E esse
campo (jornalístico) muito heterogêneo, muito fortemente sujeito às pressões comerciais,
exerce, ele próprio, uma pressão sobre todos os outros campos, enquanto estrutura". (p. 77)
Isso fica mais claro quando Pinto (1999) aponta que desde o campo político ao
cultural, todos dependem da projeção do campo jornalístico para serem compreensíveis. "Os
mapas cognitivos e as representações que vamos construindo do mundo em que vivemos
dependem em grande medida daquilo que o sistema midiático-jornalístico elege e faz aceder à
visibilidade social" (p. 82).
Em contraste, Schudson (2008) defende que a democracia não produz,
necessariamente, jornalismo e o mesmo não tem a obrigação de acontecer no caminho
oposto. Afinal, os termos não são inerentes um ao outro. Por outro lado, as notícias
exerceram e podem exercer funções democráticas. O autor enumera seis delas: a informação,
que permite aos cidadãos fazer escolhas políticas embasadas; a investigação de fontes de
poder, particularmente do governamental; a análise, que possibilita o cidadão a ter uma visão
mais ampla do mundo; a empatia social; o fórum público e a mobilização, onde os meios de
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comunicação têm a possibilidade de defender programas políticos e mobilizar os seus
apoiadores.
2.2 Valores
Schudson (2010) aponta que as primeiras demandas por objetividade apareceram nos
Estados Unidos, em 1930. A fragilidade da democracia ilustrada pelas ditaduras na Alemanha
e Itália e as complicações políticas e econômicas da década possibilitaram um cenário de
desconfiança no século XX. Essa incerteza não só atingiu as instituições políticas como as
campanhas de propaganda e a credibilidade da informação jornalística, principalmente após a
criação das Relações Públicas. É nesse meio que surge a ideologia de objetividade. “Os
jornais substituíram uma fé simples nos fatos por procedimentos criados para um mundo no
qual até os fatos eram postos em dúvida (SCHUDSON, 1978, p.122)
A indústria da informação, ao perceber que o jornalismo pode se transformar em um
negócio, deixa de lado os seus antigos financiadores, corporações e partidos e aposta em
consumidores de informação e anunciantes. (Gomes, 2004) Para se estabelecer de forma
empresarial, o jornalismo assume então uma posição de neutralidade que também colabora
para a sua pretensão de objetividade. Essa passa a ser uma demanda para dar credibilidade
aos trabalhos, já que com a ausência de laços partidários o compromisso passa a ser com os
fatos (Guerra, 2003).
O fato é que havia sido formada na sociedade uma demanda por informação atualizada, verdadeira, objetiva, imparcial, leiga e independente. A imprensa de partido não poderia produzir essa informação que se demandava porque era aparelhada para gerar basicamente informação política e porque a informação era gerada por uma fonte interessada no jogo político, portanto, que não oferecia garantias de objetividade, imparcialidade e independência. Há espaço, então, para um mercado onde um consumidor pouco disposto ao engajamento político pode consumir informação “de qualidade” sobre o que deseja. (GOMES, 2004, p. 50)
Tuchman (1980) explica que o termo objetividade “é utilizado como um ritual
estratégico de defesa” (p. 202). A ‘defesa’ que protege os jornalistas de erros e críticas. Essa
preocupação com a reafirmação da objetividade se dá, como Alsina (2009) explica, porque o
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trabalho do jornalista possui uma manifestação pública e é passível de críticas por qualquer
um.
Para garantir esse resultado, Tuchman (1980) afirma que os jornalistas estabelecem
algumas estratégias que podem ser resumidas da seguinte maneira:
a) Mostrar a possibilidade de contar a verdade, apresentando as fontes;
b) Adicionar provas para comprovar um fato;
c) Utilizar as aspas, já que isso pressupõe que aquilo foi dito por outra pessoa e o
jornalista se distancia da responsabilidade;
d) Estrutura em que os fatos essenciais aparecem primeiro;
e) Isolar a informação da opinião e os fatos dos comentários
A variedade também figura na lista de valores. Beltrão (1960) defende que o campo
jornalístico tem três finalidades: informar, orientar e entreter o leitor. "Daí a extensão do
campo jornalístico a todos os quadrantes da atividade humana, a todos os seres, às coisas e à
natureza, a todos os domínios da inteligência e da sensibilidade" (p. 41). A motivação desse
argumento é que o jornalismo procura satisfazer três necessidades do “espírito humano”: a de
informar-se do novo sem esquecer do passado; alertar-se para o futuro e ainda dar uma pausa
nas preocupações, seja com humor ou arte. Diante de tantas responsabilidades conferidas aos
jornalistas, o autor explica que a demanda exigiu a criação de profissionais especializados e
também a divisão de trabalho.
Já Groth (2011), no campo das ciências, considera jornais e revistas como obras
culturais ou elementos indispensáveis para entender a sociedade moderna. Dessa forma, ele
define quatro características próprias da prática jornalística: a periodicidade, a universalidade,
a atualidade e a publicidade.
Ao investigar a essência do objeto da Ciência dos Jornais, nós nos deparamos primeiro com a periodicidade como a característica manifesta e, portanto, imediatamente saliente e incondicionalmente evidente. Ao infiltrarmo-nos no conteúdo dos objetos, nós reconhecemos as características da universalidade e nela contida atualidade, e por fim identificamos a qualidade da publicidade, que nos dá a direção, o objetivo da obra e com isso nos conduz ao seu sentido (GROTH apud BERGER, 2011, p. 277)
11
Para Groth, a periodicidade é uma uma ligação recíproca entre os leitores e os jornais
e revistas. A justificativa é que esses produtos coagem o público a consumir a leitura e esse
relacionamento causa uma dependência mútua, que perpassa por aspectos comerciais,
políticos, emocionais e psíquicos. “A leitura do jornal busca, pelo menos em certos leitores, a
sensação de uma participação imaginária nos acontecimentos do universo” (BURGELIN
apud ALSINA, 2009, p.63-64). Isso faz com que consumir informações se torne um ritual,
afinal, “todas as manhãs as pessoas querem saber o que está acontecendo no mundo”
(ALSINA, 2009, p. 9)
Outra questão levantada por Groth é a atualidade. "O jornal vê o seu universal
necessariamente na perspectiva do presente, o seu universal forma-se e colore-se na escolha,
na concepção e no tratamento do material atual" (2011, p. 177). A justificativa do autor é que
para os indivíduos, o mais importante é o tempo presente. Portanto, o papel do jornal é fazer
essa mediação dentro de uma “atualidade possível”, já que ao instantâneo se soma o tempo de
produção da notícia.
De acordo com Franciscato (2003), nesse contexto o leitor sente que a sua vivência
está inserida no mesmo tempo em que acontecem as coisas ao redor do mundo e que, talvez,
esses eventos podem influenciar ou serem influenciados por eles. Para dar a sensação de
simultaneidade o jornalismo pode recorrer a construção de discurso, como o uso de verbos no
presente para se referir a acontecimentos do dia anterior.
Mas como essa atualidade jornalística se estabelece na modernidade? Fazendo um
paralelo com o conceito de modernidade líquida proposto por Bauman, Deuze e Witschge
(2016), a condição de temporalidade do trabalho jornalístico alimenta a “sociedade
líquido-moderna”. Isso porque “a velocidade e as multidões deste sistema social ganham
forma em fenômenos como as notícias 24 horas por dia nos sete dias da semana” (p. 12), as
coberturas online postadas nas mídias sociais, o live blogging e os correspondentes
freelancers ao redor do mundo. Uma década antes, Deuze (2005) explica que a noção de
velocidade relacionada às práticas jornalísticas têm sido revisadas, já que a internet tem
implicado diretamente na produção de notícia. De acordo com o autor, o meio digital
estimula que os jornalistas trabalham sem parar.
12
No caminho oposto, surgem slow news (Le Masurier, 2015) e os formatos de
jornalismo longform e transmídia (Moloney, 2012). Ou seja, “o jornalismo é tanto parte
quanto constituinte do contexto social: a aceleração e a desaceleração da produção
jornalística são sintomas de e uma resposta a uma profissão em tempos líquido-modernos.”
(DEUZE; WITSCHGE, 2016, p. 12).
Se o jornalismo anseia por atualidade, Groth (2011) defende que mais do que isso ele
procura pela universalidade. Afinal, o papel dos jornais é fazer com que todos possam tomar
conhecimento de algo para se orientarem e julgarem sobre o assunto. Seguindo essa
afirmação, o autor também chama atenção para a publicidade. Para Groth é com ela os
leitores poderão ter acesso aos acontecimentos, ao que foi produzido. Essa última
característica do jornalismo se liga, portanto, à tiragem do veículo - a circulação da notícia
dependerá diretamente da publicidade que ela receberá.
Além da atualidade e periodicidade, características apontadas por Groth (2011),
Beltrão (1960) confere ao jornalismo mais quatro atribuições: variedade, interpretação,
popularidade e promoção. As duas últimas podem se relacionar diretamente com a
universalidade e publicidade de Groth. Afinal, o autor chama de popularidade a capacidade
do jornalismo de não se dirigir a um indivíduo isolado, mas a uma coletividade. Ou seja,
assume um caráter universal. Quanto à promoção, Beltrão afirma que "através da divulgação
de informações e da crítica dos fatos, o jornalismo pretende criar, na opinião pública, uma
disposição para realizar o bem-estar social" (p. 38). Como toda “manifestação autêntica”, o
jornalismo dá energia à sociedade para que ela tome ações e para isso acontecer é preciso que
haja a difusão de informações.
Outra propriedade inerente ao jornalismo é a interpretação. Para Beltrão (1960), os
fatos são examinados antes de serem veiculados. Cabe ao profissional do jornalismo
"analisá-los ou sintetizá-los, dêles colher e divulgar ensinamentos, enriquecê-los ou
censurá-los, de modo que cheguem ao leitor devidamente interpretados" (p. 38).
2.3 A notícia
13
Para que a imprensa existisse era preciso, antes de tudo, da notícia. Segundo Lage
(2006), até a Idade Média a circulação de informações acontecia por meio de decretos,
proclamações ou sermões na igreja. Os grandes feitos, que extrapolavam esses meios,
cruzavam a Europa graças aos trovadores que transmitiam a história por cantigas e fábula. No
século XIII, a expansão comercial muda esse cenário. Não só as mercadorias orientais
chegavam através do Mediterrâneo, mas também técnicas e informações eram trocadas.
Uma das consequências do acúmulo de capital gerado por essa expansão foi a
alfabetização. É nesse contexto que na Itália os avvis ficam independentes da voz do letrado e
passam a ser colados no muros, em versões manuscritas. Nessa prática, que servia como
correspondência a príncipes, banqueiros e negociantes, fica claro a presença da matriz
noticiosa que se desenvolve até hoje nos produtos jornalísticos (LAGE, 2006; GUERRA,
2003).
Com o avanço da imprensa após a revolução industrial, a notícia passa a ser cada vez
mais estruturada e estudada, já que está inserida dentro de um processo produtivo. Alsina
traduz o conceito de notícia como “a narração de um fato ou o reescrever de uma outra
narrativa” (ALSINA, 2009, p. 12). Para ele, ainda que um jornalista tenha a percepção do
fato, a sua interpretação será a partir da própria bagagem. Logo, a notícia não é nada mais do
que uma representação social da realidade manifestada na construção de um mundo possível.
Além disso, a notícia também pode assumir uma função sociológica. Park (2008)
explica, a partir das categorias determinadas pelo filósofo William James, que existem duas
forma distintas de conhecimento: o formal (knowldge about) e um não sistemático e intuitivo
(acquaintance with). Apesar de assumirem um diferente grau de precisão, ambos os conceitos
não se distinguem muito em caráter e função e habitam um continumm - onde todos os tipos
de conhecimento têm espaço. Com a notícia acontece o mesmo, ela tem localização própria
nesse lugar. A sua singularidade é que ela está interessada no presente e depende dele para
existir. Além disso, como forma de conhecimento ela contribui para a história, sociologia,
folclore, literatura; enfim, para as ciência sociais e humanidades.
Meditsch (1997) defende que o jornalismo é uma forma de produção de
conhecimento. Por possuir diversas interpretações sobre o assunto, ele dá espaço para três
abordagens principais: o conceito do conhecimento como um um ideal abstrato a se alcançar;
14
o jornalismo como uma ciência inferior, mas não inútil e o jornalismo como reprodutor do
seu conhecimento e também daquele produzido por outras instituições sociais. Ainda assim,
ele pondera.
Embora nesta perspectiva se considere que o Jornalismo produz e reproduz conhecimento, não apenas de forma válida mas também útil para as sociedades e seus indivíduos, não se pode deixar de considerar que esse conhecimento por ele produzido tem os seus próprios limites lógicos e, quando observado na prática, apresenta também uma série de problemas estruturais. Como toda outra forma de conhecimento, aquela que é produzida pelo Jornalismo será sempre condicionada histórica e culturalmente por seu contexto e subjetivamente por aqueles que participam desta produção. Estará também condicionada pela maneira particular como é produzida (MEDITSCH, 1997, p. 9-10).
Para que haja a notícia, Lage (2010) defende que a seleção, ordenação e nomeação de
informações são etapas que fazem parte da construção de um texto e isso depende
diretamente da importância e interesse atribuídos a esses dados. A partir de “constatações
empíricas”, o autor elege seis valores-notícia: proximidade, atualidade, identificação,
intensidade, ineditismo e oportunidade. Para Gans (1979), a determinação desses critérios
serve para que as decisões do que deve ser selecionado ou excluído possam ser tomadas com
eficiência. Ou seja, “com o mínimo dispêndio de tempo, esforço e dinheiro” (GANS apud
WOLF, p.82).
Na estrutura do jornalismo impresso não é possível ignorar a função do lead. Esse
primeiro parágrafo da notícia é responsável por apresentar as informações mais relevantes e
responder a algumas perguntas: quem fez o quê, a quem, quando, como, por quê e para quê.
Como complemento do lead, a documentação ocupa cerca de dois parágrafos e acrescenta
informações sobre a ação em si, o sujeito e as circunstâncias (LAGE, 2006).
Além de determinar e hierarquizar os acontecimentos que considera mais relevante
para a sociedade, o meio de comunicação também depende do elo fonte-jornalista. “A fonte
seria o ensejo da função de recurso e constrição ao mesmo tempo, à qual o jornalista recorre
com diversas intenções para concretizar sua competência de contextualização do
acontecimento-notícia” (GROSSI apud ALSINA, 2009, p. 165) Para Traquina (2012), a
15
relação com as fontes é um processo que deve ser desenvolvido e para isso é preciso que se
forme um clima de confiança. Dessa forma, as suspeitas que as fontes têm do repórter e a
metalinguagem utilizada por elas tendem a ser reduzidas (LAGE, 2011).
Em resumo, o passo-a-passo da prática jornalística pode ser comparada com o método
utilizado pelas ciências sociais. Primeiro, o tema é delimitado e são selecionadas informações
sobre a questão; é definido quem será entrevistado sobre qual assunto; são feitas entrevistas e
leituras de documentos; as informações são organizadas, decupadas e revisadas; o jornalista o
que há de coerente e contraditório na sua apuração e compara as falas das fontes com
documentos e por há a avaliação do editor e a redação (PARSIGIAN apud LOPES, 2015).
2.4 Rotina produtiva
As rotinas produtivas são ações padronizadas que se estabelecem para determinar a
maneira com “a qual percebemos e funcionamos no entorno social” (FIRMINO apud REESE,
2013, p.84). É esse conceito que sustenta as práticas jornalísticas e permite que
acontecimentos se tornem notícia sem maiores dificuldades. Afinal, transformar o trabalho de
repórteres em rotina garante desde a maior eficiência da produção até a regularidade de
conteúdos para o leitor (TRAQUINA, 2012).
Para compreender a consolidação das rotinas produtivas no jornalismo é preciso
observar “o paralelismo entre o esforço técnico de produção, na imprensa, e o progresso dos
meios de comunicação e de transporte” (SODRÉ, 1966, p.2). Desde o telégrafo no século
XIX, ao telefone e máquina de escrever, tudo contribuiu para o maior trânsito de informações
e, consequentemente, para a evolução das rotinas produtivas (SILVA, 2013).
Dessa forma, essas práticas puderam cada vez mais atender aos marcadores de
temporalidade, afinal esse fator está subentendido na estrutura básica das rotinas
(SCHLESINGER, 1993). De acordo com Franciscato (2003), dentro das rotinas de produção
jornalísticas o tempo pode impedir a atualidade dos eventos e, portanto, ser considerado algo
negativo. Dessa forma, a velocidade com que um conteúdo vira notícia depende de um ritmo
de produção.
16
Há uma tensão entre a velocidade do movimento do mundo e a velocidade da produção do discurso jornalístico sobre este movimento, pois o jornalismo vive um permanente risco de que o sentido de tempo que traz no seu discurso se descole do tempo do mundo. Paradoxalmente, esta potencial negatividade do tempo é incorporada na rotina e na cultura interna das redações como um elemento de positividade, na medida em que a fuga à defasagem torna-se um ‘combustível’ para acelerar a velocidade da produção e valorar jornalisticamente a noticiabilidade de um evento. (FRANCISCATO, 2003, p. 47)
No tocante a esse fator temporal, Tuchman (1983) chama atenção para o fato de que
“o processamento da notícia torna-se rotina de acordo com a maneira em que se pensa que
são desenvolvidos os acontecimentos nas instituições legitimadas” (ALSINA apud
TUCHMAN, 2009, p. 179). Ou seja a rotina dá a margem tanto para a predição do futuro em
eventos pré-programados até à organização da equipe para que se tenha algum repórter
disponível para as notícias de última hora.
Entre essas duas tipificações, o autor ainda acrescenta as notícias leves (não
programada, sem divulgação urgente e com o facilitador da predição do futuro); dura
(imprevisto e pré-programado, com divulgação urgente) e em desenvolvimento (imprevisto,
com divulgação urgente e a tecnologia atingindo a percepção). “A tipificação se refere à
classificação em que as características relevantes são básicas para a solução das tarefas
práticas ou dos problemas que advêm, e elas estão constituídas e fundamentadas na atividade
diária” ( TUCHMAN apud ALSINA, 2009, p. 180).
Tunstall (1980) discorda das rotinas informativas ao classificar a organização
jornalística como ‘burocracia da não-rotina’. Segundo ele, “essas características que indicam
as probabilidades que um acontecimento possui de se transformar em notícia garantem que a
informação não poderá jamais se transformar em um produto industrial padronizado” (apud
ALSINA, 2009, p. 181). O autor alega que a natureza do jornalismo também o direciona para
a não-rotina, portanto há uma contínua contrapressão.
2.4.1 A convergência midiática
17
Para compreender a rotina produtiva dentro da convergência, antes é preciso saber
como esse termo se relaciona com a mídia. No livro Technologies of Freedom (1983), Ithiel
de Sola Pool explica. Houve um período em que os meios de comunicação não se
relacionavam e cada um tinha funções, mercados e regimes próprios. Com o surgimento de
novas tecnologias na mídia, contudo, houve a possibilidade de que um mesmo conteúdo
transitasse por diferentes canais. No mesmo período, o processo de concentração dos meios
de comunicação, com as propriedades cruzadas, fizeram com que as empresas considerassem
as vantagens de distribuir conteúdos em diversos canais ao invés de apenas em uma
plataforma.
Um processo chamado "convergência de modos" está tornando imprecisas as fronteiras entre os meios de comunicação, mesmo entre as comunicações ponto a ponto, tais como o correio, o telefone e o telégrafo, e as comunicação de massa, como a imprensa, o rádio e a televisão. Um único meio físico - sejam fios, cabos ou ondas - pode transportar serviços que no passado era oferecidos separadamente. De modo inverso, um serviço que no passado era oferecido por um único meio - seja a radiodifusão, a imprensa ou a telefonia - agora pode ser oferecido de várias formas físicas diferentes. Assim, a relação um a um que existia entre um meio de comunicação e seu uso está se corroendo (POOL, 1983, p. 23 apud JENKINS, 2009, p.38).
A partir das condições levantadas por Pool (1983), Jenkins (2009) analisa a
convergência midiática a partir do seu impacto na cultura. Para ele, esse processo envolve
não só um avanço tecnológico, mas também “altera a relação entre tecnologias existentes,
indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria
midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento” (p. 43).
No que diz respeito à transformação na maneira de consumir os meios de
comunicação, Jenkins exemplifica com duas situações. A primeira é que uma pessoa pode
ouvir e baixar arquivos de áudio, conversar com amigos, escrever um artigo ou responder
e-mails, mudando facilmente a forma como navega na internet. Em outro local, alguém que
gosta de um seriado pode escrever fan fiction, resumir episódios ou discutir sobre roteiros,
também sem precisar sair da internet. Ou seja, "a convergência está ocorrendo dentro dos
mesmos aparelhos, dentro das mesmas franquias, dentro das mesmas empresas, dentro do
cérebro dos consumidor e dentro dos mesmos grupos de fãs" (2009, p. 43).
18
É importante ressaltar, portanto, que o termo traz inúmeros significados. Para
Grandim (2011), é possível existir a "convergência de grupos econômicos; de media; de
redações no interior de um dado grupo; da forma de recolher e apresentar as notícias; e do
próprio produto multimídia - que é novo - posto à disposição do público" (p. 6). Dessa
maneira, há também que se considerar as consequências para a atividade jornalística.
Com relação à revolução tecnológica, que também sustenta essas convergências,
Castells (1999) explica que "o ciclo de realimentação entre a introdução de uma nova
tecnologia, seus usos e seus desenvolvimentos em novos domínios torna-se muito mais
rápido no novo paradigma tecnológico" (p. 69). Logo, o processo não pode ser simplesmente
aplicado, mas desenvolvido.
Para Saad (2003), as organizações deveriam adotar procedimentos para a sua
reconfiguração estratégica, como a preparação dos seus profissionais para lidar com as novas
formas narrativas, a convergência operacional e a identificação das novas mídias. Porém,
fatores como as demandas em tempo real e a exigência de multidisciplinaridade balançaram
os pilares dos meios de comunicação. De acordo com Rifkin (2001), “a propriedade é uma
instituição lenta demais para se ajustar à nova velocidade da nossa cultura” (apud SIBILIA,
2002, p. 27), afinal em um cenário de mudanças constantes e imediatismo, a tendência é que
tudo se torne rapidamente desatualizado.
2.4.2 Condições de produção e descentralização
A rotina produtiva do jornalismo foi alterada com a chegada de novas tecnologias. “À
parte as resistências de profissionais mais antigos ao computador, logo simplificadas pela
associação a uma postura retrógrada de ‘rejeição ao novo’, os jornalistas temiam pelo seu
emprego” (MORETZSOHN, 2002, 137). O motivo é que as máquinas permitiram a redução
do quadro de pessoal e, os que sobraram não tiveram compensação no seu salário. Além
disso, a sobrecarga de trabalho aumenta.
19
Por outro lado, Jenkins (2008) refuta a ideia de que os tradicionais meios de
comunicação estão sendo substituídos devido à evolução das tecnologias da informação. "A
convergência parece mais plausível como uma forma de entender os últimos dez anos de
transformações dos meios de comunicação do que o velho paradigma da revolução digital -
que previa a substituição dos meios analógicos pelos digitais (...) Mais propriamente, suas
funções e status estão sendo transformados pela introdução de novas tecnologias." (p.39-40)
Logo, os meios de comunicação passam a andar de mãos dadas com a internet - a
maior criação tecnológica dos últimos tempos segundo Castells (1999). Para ele, é nesse
contexto que a produção tem a tendência de se tornar mais flexível e imediatista. Afinal, a
internet tem amplo alcance, não depende de aspectos cronológicos e permite informações em
tempo real.
No que diz respeito a essa relação do jornalismo com o meio digital, Manta (1997)
explica que a com o advento da internet, jornais e revistas entram nesse sistema global e
lançam um veículo de comunicação que tem como suporte às redes mundiais de
computadores. “O papel (átomos) vai cedendo lugar a impulsos eletrônicos (bits) que podem
viajar a grandes velocidades pelas auto-estradas da informação. Estes bits podem ser
atualizados instantaneamente na tela do computador na forma de textos, gráficos, imagens,
animações, áudio e vídeo” (MANTA, 1997, p. 1). Portanto, esses recursos multimídia
aumentam as possibilidades do que é praticado no produto impresso e o jornalismo digital
revoluciona não só a produção como a distribuição das notícias.
Para Moretzsohn (2000), um reflexo disso nas práticas jornalísticas é que com o uso
dos serviços on line pelos jornais, o repórter do impresso passa a fornecer atualizações da sua
cobertura em tempo real. Nesse sentido, a possibilidade de voltar para a redação e redigir o
texto muitas vezes é deixada de lado. Ou seja, há uma descentralização da produção. Isso é
importante ser considerado porque a tradição de ver a redação como o lar dos jornalistas
permite que estudos antropológicos usem esse espaço como laboratório para entender a
produção da notícia. Afinal, a história do próprio jornalismo é associada à criação da redação
(WAHL-JORGENSEN, 2010).
20
Sem deixar de considerar esse aspecto, Firmino propõe que esse espaço seja
repensado, já que o repórter é capaz de executar as suas tarefas fora da redação.
Estas mutações da redação como campo de atuação e de representação social do trabalho jornalístico passa por um processo de alargamento que sinaliza, de forma simultânea, sua importância como instância de centralidade (lugar onde estão os equipamentos, a estrutura redacional, os sistemas de controle de fluxo, as reuniões de pauta) e de descentralização remota (redação móvel, repórteres em mobilidade, bancos de dados acessados e operados a distância, funções multitarefa). Portanto, são tendências que buscam acomodações sobre e além do espaço físico consagrado ao longo da história do jornalismo (FIRMINO, 2009, p. 92).
Portanto, ainda que o processo de produção jornalística esteja passando por uma
reconfiguração, não é possível menosprezar o espaço da redação ou conservar apenas a
produção tradicional. No fim das contas o jornalismo criou condições para ter mais
flexibilidade na sua sua apuração e complementar as redações convencionais. Não à toa esses
espaços “passam por uma reestrutura física e de sistemas para acomodar o fluxo de produção
gerado do cruzamento de suas mídias nos conglomerados no aspecto de convergência
jornalística que visa um trabalho unificado das plataformas midiáticas” (FIRMINO, 2009, p.
44).
2.5 Apuração
O início do jornalismo não está diretamente associado à apuração de informações
como conhecemos hoje. As principais fontes jornalísticas, antes do século XIX, eram
sobretudo correspondências, sentenças de governantes, relatos de guerra e notas comerciais.
Além disso, no século XVIII copiar outros jornais era uma prática comum na hora da
apuração. Só em meados de 1800 que os Estados Unidos incluíram a reportagem como
agente do trabalho jornalístico. (SANTANA, 2001)
De forma incipiente, a apuração aparece na produção de notícias de jornais
americanos e britânicos entre 1830 a 1920. Entrevistas, o repórter no local do acontecimento
e o ideal moderno de fazer e publicar notícias eram as maneiras de captar as informações.
(CHALABY, 1996). Um dos marcos que conferiu mais credibilidade à figura do repórter foi
21
a Guerra da Criméia, em 1853. Na ocasião foi demonstrado que a figura do profissional que
tem o papel de investigar realmente estava sendo consolidado (BURGH, 2008, 9.38-39)
A apuração se consolidou como fator determinante para o fazer jornalismo ao longo
dos anos. Para Pereira (2006) “o desafio do repórter (no cenário complexo, tentacular, da
desordenada torrente de acontecimentos que forma a vida contemporânea) é encontrar
evidências soterradas em camadas de versões, procurar certezas em situações de incertezas”
(p. 71). Ou seja, investigar. Para isso, uma sequência de procedimentos é demandada: o
planejamento da apuração, a revisão do que foi apurado e a revisão das informações editadas.
De acordo com Jorge (2008), a apuração pode ser dividida em cinco fases:
1) Observação: o repórter deve se atentar tanto ao cenário macro para ter um visão
geral do fato, quanto aos detalhes;
2) Anotação e indexação: o repórter anota o que viu, quem viu e características do
ambiente, como cheiros e sons;
3) Questionamento: durante a entrevista o repórter deve tirar todas as dúvidas até
compreender totalmente o assunto;
4) Organização dos apontamentos: é preciso revisar toda a apuração antes de escrever
e caso falte alguma informação, aprofundar a pesquisa;
5) Avaliação: o repórter define o lead e hierarquiza os dados. Ele analisa a apuração e
classifica se está completa antes de escrever a matéria
Porém, com o avanço tecnológico, novos desafios surgiram para a atualização dos
jornais e isso afetou diretamente o passo-a-passo da apuração. “Em Fedler (2000) e em
Brown (1985:11) podemos identificar quatro inovações que trouxeram mudanças intensas
sobre o trabalho jornalístico: o telégrafo, o telefone, o linotipo e a máquina de escrever”
(FRANCISCATO, 2003, p. 96). As tecnologias digitais, desenvolvidas na última década,
aceleraram ainda mais os processos de produção e disponibilização das notícias (PEREIRA;
ADGHIRNI, 2001).
Os principais jornais começaram a disponibilizar ao grande público informações produzidas em fluxo contínuo. Isso aumentou a pressão – por parte das empresas e do público – sobre os jornalistas pela atualização
22
constante do conteúdo (Adghirni, 2004; Pereira, 2004; Weiss e Joyce, 2009). Ao mesmo tempo, perdura a cobrança pela publicação de notícias bem apuradas, que contenham informações de background e diversidade de fontes (Nguyen, 2010). Demanda, na verdade, que remete a uma antiga contradição (Moretzsohn, 2002): como produzir jornalismo de qualidade se não há disponibilidade de tempo hábil para uma boa apuração? Como conciliar as demandas por velocidade e “verdade” na produção jornalística? (PEREIRA; ADGHIRNI, 2001, p. 46)
Essa colisão entre velocidade e verdade permitiu que os jornalistas pudessem produzir
as suas matérias sem sair da redação, graças às tecnologias. (MACHADO, 2003; PEREIRA,
2004; JORGE, 2007; STEENSEN, 2009). De acordo com Adghirni (2001), o lado negativo
disso é que há um “aumento do uso de fontes de segunda e terceira mão, apuradas por um
jornalista ‘sentado’” (p.48). Ou seja, muitas vezes isso pode significar que a checagem das
informações foi deixada lado, assim como a própria ética jornalística, no que diz respeito ao
direito autoral.
Pereira (2004) defende que a internet não foi absolutamente responsável pelo
jornalismo ‘sentado’. Segundo o autor, é importante levar em consideração que algumas
funções já eram utilizadas nas redações convencionais antes da chegada da rede. Esse sistema
apenas exaltou o uso de fontes externas nas produções. “Essa foi a maneira que as empresas
jornalísticas encontraram para manter um sistema de alimentação on-line em fluxo contínuo
com quadro profissional reduzido” (p. 96).
Outro fator que permite que os jornalistas não precisem sair da redação são as
agências de notícia. De acordo com Martins (2013), há uma tendência a utilizá-las como
fonte por causa da sua relevância. Para a autora há aqueles que julgam as notícias produzidas
por agências como um produto jornalístico finalizado e com credibilidade alta e os que
chamam atenção para exterioridade das agências como fonte. Wolf (2006) pontua as
diferenças entre as fontes tradicionais e as agências. No primeiro caso, ele considera que as
fontes expressam algo mas não se dedicam à produção de informação. Por outro lado, as
agências colocam em prática o trabalho de confecção da notícia. No fim das contas, “as
agências trazem um grande número de informações confiáveis a baixo custo” (PEREIRA,
2004, p. 106).
23
2.5.1 Era da pós-verdade e fact-checking
O jornalismo sempre dividiu espaço com notícias falsas (ou fake news, em inglês),
seja em menor ou maior escala. De acordo com Souza (2017), desde boatos veiculados sem
apuração até notícias criadas para favorecer alguém são dilemas enfrentados pela imprensa há
muito tempo. Contudo, na era da internet as notícias falsas começaram a se espalhar
rapidamente. "Num ambiente de crise da imprensa como negócio e também dos veículos de
comunicação como grandes formadores de opinião junto às massas, as notícias falsas
encontraram na web um território livre para se manifestar" (SOUZA, 2017, p. 2).
Para Quirós (2017), um dos motivos da propagação de notícias falsas é que as
sociedades estão “hiperconectadas e com ampla interação comunicacional” (p. 36), mas não
estão desenvolvendo a capacidade de ouvir o ponto de vista do outro. Logo, a opinião pública
não estava sendo formada, mas deformada.
Em meio a este tipo de cenário, as famosas fake news causam impacto. Em outros tempos, talvez, as chamássemos de rumores, sátiras ou, até mesmo, propagandas. O que elas causam é um forte impacto, principalmente pela massiva divulgação e por encontrar audiências férteis, que as aceitam sem contestar. A força do rumor ou mentira está na credibilidade daqueles que as propagam. Hoje, essa força está no que, fácil e massivamente, se distribui e no desejo daqueles que as recebem, em acreditar (QUIRÓS, 2017, p. 36).
Ao mesmo tempo, os meios de comunicação lidam com a pós-verdade. Nesse caso,
crenças pessoais e o emocional se destacam e são compartilhados mesmo quando os fatos
mostram o contrário. Para Llorente (2017), é nesse contexto que os meios alternativos de
comunicação se consolidam: blogs pessoais, Youtube, Facebook, WhatsApp, Twitter ou
Telegram. Cruz (2017) salienta que aos que comemoram a nova teoria da pós-verdade
consideram também "a mentira, que deixou de ser algo condenável per se, ao passar, também
ela, a ser relativizada" (p. 29).
Não é possível citar a pós-verdade sem levar em consideração o momento em que o
termo mais foi utilizado - durante a campanha de Donald Trump, atual presidente dos Estados
Unidos. Não à toa, em 2016 o Dicionário Oxford a elegeu como a palavra do ano. Para
24
ROSALES (2017), isso "supõe uma certa subestimação dos princípios éticos que o conceito
de pós-verdade viola" (p. 49). De acordo com o autor, levando em consideração que as
emoções prevalecem sobre a realidade e que políticos demagogos e populistas utilizam a
pós-verdade para dar mais valor e importância aos seus interesses, está havendo uma
"grosseira distorção" dos fatos à procura do apoio de cidadãos.
A primeira agência de fact-checking surgiu ainda na década de 90, nos Estados
Unidos, antes mesmo da internet ter se consolidado. (SOUZA, 2017) Atualmente, com o
intuito de combater a fake news - produto dos tempos de pós-verdade, esses fiscais de
notícias falsas foram popularizados em vários países. No Brasil, as maiores agências
especializadas nesse tipo de apuração são a Lupa (SP); Aos fatos (RJ) e Truco (SP).
A nova comunicação e o novo jornalismo devem concentrar-se, de agora em diante, não tanto em contar – isto já o fazem os cidadãos, por conta própria, por meio do enorme cardápio de tecnologias digitais à sua disposição – mas em verificar, em realizar o fact-checking de maneira sistemática, por meio de muitas plataformas que já existem (dezenas nos Estados Unidos) (ZARZALEJOS, 2017, p. 13)
Segundo Silva (2017), os principais serviços prestados por essas agências são "apurar
a veracidade de discursos públicos, especialmente políticos” e checar “informações
espalhadas pelas redes sociais e pela web, a exemplo dos conteúdos antigos viralizados pelo
Whatsapp, que ganham nova circulação e sentido na mídia contemporânea" (p. 13). Como
forma de apuração são utilizadas plataformas internacionais de fact-checking e metodologias
individuais, a exemplo de pesquisas estatísticas, base de dados e ida a campo. A forma como
foi realizada a checagem deve ser pública para que qualquer cidadão possa chegar à mesma
conclusão.
Nesse âmbito, como conseguir contar os fatos de maneira honesta? Segundo Pinedo e
Pino (2017) a própria rede oferece essa oportunidade de comunicação. Contudo, ela não está
sendo aproveitada porque o modelo seguido nesse meio é o mesmo anteriormente utilizado
nas mídias massivas. Para os autores, a credibilidade não depende apenas da declaração de
veracidade. "É mais importante do que nunca trabalhar a partir da fonte, desde a comunicação
corporativa, na robustez dos argumentos que queremos tornar públicos, implantando uma
disciplina firma de verificação; mas, também, em nossa capacidade de responder aos vários
25
apelos que podem surgir nas conversações on-line" (p. 54). Afinal, é na internet que os
indivíduos acompanham o fluxo de informação e compartilham nas suas redes sociais.
2.6 A entrevista no jornalismo
A entrevista faz parte do processo de apuração de uma informação. Geralmente, a sua
função é reconstituir fatos e coletar interpretações (LAGE, 2011). Entre os seus requisitos
estão a autenticidade — capacidade das declarações feitas pelo interlocutor serem facilmente
provadas; o interesse e a identificação do entrevistado. A entrevista jornalística é capaz de
produzir notícia para o consumo de massa (ERBOLATO, 2002).
Vogel (2012) descreve a entrevista como um processo de comunicação em que dois
ou mais interlocutores assumem a palavra em momentos alternados. Na técnica um
participante assume o papel de definir a temática da conversa e fazer as perguntas enquanto o
outro dá as respostas. É essa característica de definir regras e ter uma distribuição de funções
que separa a entrevista da conversação, por exemplo. Cunha (2012) pontua que esse diálogo é
assimétrico. Se houvesse simetria, os participantes teriam, na teoria, o mesmo direito de
assumir o controle da conversa.
Sousa (2001), ao colocar a entrevista como um gênero jornalístico, chama atenção
para o fato dessa fronteira não ser rígida. Para o autor, só é possível classificá-la dessa forma
quando a entrevista é apresentada de forma isolada ou como parte relevante de uma peça
jornalística. Em todos os casos, a pergunta é a principal técnica para extrair dados de fontes
humanas.
A entrevista, enquanto gênero jornalístico, deve distinguir-se da entrevista enquanto técnica de obtenção de informações por meio de perguntas a outrem. A entrevista, enquanto técnica de obtenção de informações, é indissociável da atividade jornalística: o jornalista faz entrevistas sempre que contacta fontes. No entanto, o jornalista nem sempre usa o gênero jornalístico entrevista para divulgar as informações recolhidas (SOUSA, 2001, p. 235).
No jornalismo impresso a apresentação da entrevista pode ser tratada como a própria
notícia. Lage (2011) pontua que as falas mais relevantes são selecionadas, hierarquizadas e
26
intercaladas com informações ambientais (o que, quando, como, onde, quem), da mesma
forma em que se produz o resumo noticioso de um documento.
A entrevista também pode ser uma exposição — muitas vezes do próprio
entrevistado, em que algumas frases são selecionadas para costurar a história. Esse uso é
comum em revistas. O autor concorda com Sousa (2005) que uma maneira de apresentar o
produto final da conversa é o formato perguntas-respostas, algo mais “cru”. Para Lage
(2011), porém, o trabalho é maçante pois envolve transcrição e decupagem.
De acordo com o Manual de Redação e Estilo de O Estado de S. Paulo (1997), quando
inserido em um texto, as declarações do entrevistado não precisam ser necessariamente
transcritas. O jornalista, ao assumir o papel de intermediário entre o fato, a fonte e o leitor,
tem propriedade para fazer alterações que facilitem o entendimento das ideias do
entrevistado. Ao fim, a matéria terá um número reduzido de aspas. O propósito é que o leitor
seja atraído a consumir a notícia, ainda que o conteúdo seja de difícil entendimento para ele.
Por outro lado, segundo o Manual da Redação da Folha de S. Paulo (1996), o trecho
colocado com perguntas e respostas precisa ser transcrito de forma fiel, conservando o estilo
da linguagem do entrevistado. A exceção cabe quando existirem erros de português ou
problemas com a linguagem coloquial. Nesses casos, a mudança pode ser feita para que haja
uma melhor compreensão do que foi dito. Em contrapartida, se erros ou atos falhos do
entrevistado forem relevantes, é possível destacá-los com a expressão latina sic, entre
parênteses. Nenhum desses casos obriga que o jornalista coloque a conversa na íntegra, afinal
os melhores trechos devem ser selecionados.
O suporte é outra propriedade que auxilia na compreensão dos gêneros. Para
Charaudeau (2013)
O dispositivo constitui o ambiente, o quadro, o suporte físico da mensagem, mas não se trata de um simples vetor indiferente ao que veicula, ou de um meio de transportar qualquer mensagem sem que esta se ressinta das características do suporte. Todo dispositivo formata a mensagem e, com isso, contribui para lhe conferir um sentido (CHARAUDEAU, 2006, p. 104).
Enquadrando a entrevista jornalística nessa perspectiva é possível inferir que o
resultado do diálogo varia de acordo com o suporte utilizado — do face a face ao online.
27
Lage (2011) explica que com o surgimento do telefone as entrevistas à distância se tornaram
uma possibilidade. Com a internet, a entrevista virtual - seja por conversa oral, troca de
mensagens ou a imagem do interlocutor, também passa a ser aceita. Em ambos os casos, a
mediação se diferencia daquela feita presencialmente.
A proximidade física permite uma aferição de resposta - um feedback - rápida, visual e auditiva, corriqueira, a que nos acostumamos desde pequenos e que nos dá maior segurança. Os modelos de comunicação valorizam o efeito do ambiente partilhado pelos interlocutores e a que, numa conversa à distância, eles têm acesso parcial - limitado, no caso do computador, pela proximidade da câmera e sua mobilidade. Acrescente o “efeito de novidade” - o inusitado que, ainda por algum tempo, cercará esses processos. (LAGE, 2011, p. 79)
Independente da plataforma utilizada, para Erbolato (2002) “a entrevista é um gênero
jornalístico que requer técnica e capacidade profissional, pois se não for bem conduzida
redundará em fracasso”. Para o autor, o repórter deve ter calma e ordem quando estiver à
frente de alguém capaz de transmitir informações. Caso a condução não seja dessa forma, o
profissional perderá tempo e não terá o que apresentar para o jornal.
Cunha (2012) defende que a entrevista é o fundamento do repórter e a base do
jornalismo. Independente da circunstância — do veículo à tecnologia —, a função primordial
do jornalista envolve pergunta e resposta; questão e resolução; proposição e contestação. “A
primeira resposta, se insatisfatória, provoca a segunda pergunta. É assim que se move o ser
humano, é assim que opera o jornalismo, é assim que trabalham seus profissionais” (2012, p.
73)
Castello (2007) considera o entrevistado a ‘matéria’ do repórter, uma substância que
pode ser moldada de acordo com os desejos próprios e da publicação. Medina (1986), por
outro lado, chama atenção para a seleção das fontes. Na maioria das vezes elas são
individualizadas e é conferido crédito mesmo sem comprovação científica. Logo, em primeira
instância, a entrevista jornalística recorre ao particular.
Por uma distorção do poder nas sociedades, muitas vezes se atribui esse crédito apenas a fontes oficiais, vale dizer, fontes do Poder, seja ele político, econômico, científico ou cultural. Enfatiza-se, com isso, a unilateralidade da informação: só os poderosos falam através das entrevistas. Mas o que não se
28
pode negar é que existe na entrevista a possibilidade de um diálogo democrático, do plurálogo. (MEDINA, 1986, p. 18)
Todas as entrevistas deveriam seguir um pré-requisito antes de serem realizadas: o
repórter precisa conhecer sobre o assunto e caso não o domine, uma pesquisa pode auxiliar.
Um dos motivos é que, apesar da entrevista depender basicamente do entrevistado, caso o
entrevistador não saiba o que pretende provocar e extrair, o resultado não será satisfatório.
(NOBLAT, 2002).
Para Morin (1973), os entrevistados reagem à entrevista de diferentes formas, a
depender de fatores como "a situação social, histórica, a determinação psicológica, o clima e
o caráter da entrevista" (MEDINA apud MORIN, 1986, p. 12) Para haver autenticidade entre
os interlocutores é preciso de entrega mútua no diálogo, seja ele verbal ou não-verbal
(BUBER, 1982).
As reações — que não podem ser captadas com a mesma intensidade quando a
conversa é apenas por voz, por exemplo, também fazem parte da notícia. A notícia pode estar,
inclusive, além do que diz o entrevistado. Pode estar “no silêncio dele, na irritação que
demonstra diante de uma pergunta, no sorriso que esboça quando escuta outra, na recusa em
responder uma determinada questão” (NOBLAT, 2002, p. 60)
O conteúdo emocional de uma entrevista é algo controverso. Para Lage (2011), no
jornalismo impresso muitas vezes a emoção é suprimida ou registrada de forma discreta. O
rádio e a televisão também costumavam cortar na edição sinais como voz embargada, soluço
e lágrimas, baseados na tradição do impresso. Porém, para o autor esses momentos podem ser
significativos para a construção da notícia.
Ao fim do produto, quando há a conexão fonte de informação-repórter-receptor,
Medina (1986) argumenta que o leitor, ouvinte ou telespectador sente o que há por trás da
entrevista — como emoção e autenticidade, caso tenha sido desenvolvido um diálogo
interativo. Caso a entrevista tenha sido conduzida por questões restritas, por um entrevistador
ligado a ideias preestabelecidas ou ainda com autoritarismo, o receptor ficará frustrado. “Até
um leigo em técnicas de comunicação social percebe a ausência do diálogo”. (p. 6)
29
3. Pesquisa de similares
Assim como Svetlana Aleksiévitch, vencedora do prêmio nobel de literatura 2015,
privilegiei a voz de outras pessoas no meu livro. Na ausência de obras relacionadas
diretamente com o meu tema e que a base da produção fosse entrevistas , cito o título ‘A 1
guerra não tem rosto de mulher', livro de estreia da autora, datado de 1985. Nele, Svetlana
traz relatos de mulheres que defenderam a União Soviética durante a Segunda Guerra
Mundial. Aproximadamente um milhão delas lutou pelo Exército Vermelho nas mais diversas
posições, de enfermeiras a franco-atiradoras. O livro não tem a intenção de falar apenas sobre
os conflitos, mas como eles afetaram a vida dessas pessoas.
Os relatos do livro de Svetlana Aleksiévitch passam por sentimentos (como foi matar
a primeira pessoa), coragem (abandonar a família para ir para o front) e efeitos da guerra no
organismo feminino (deixar de menstruar). Coube a autora introduzir o motivo de ter escrito
o livro — querer ouvir como a guerra é contada pelas mulheres que lá estiveram — e
organizar os depoimentos em assuntos similares. Os capítulos são nomeados com aspas das
próprias entrevistadas, mas em cada um cabem diversos relatos que se encontram de alguma
forma. “Não quero me lembrar”, “Não era eu”, “Eram necessários soldados… Mas também
queríamos ser bonitas” são alguns exemplos.
O número de depoimentos ultrapassa os 200. Muitas vezes eles são editados,
provavelmente para caber no tema do capítulo, e reduzidos a até meia página, o que faz com
que os nomes das mulheres sejam esquecidos rapidamente diante da infinidade deles.
Analisando o objetivo do livro, mostrar a perspectiva feminina da guerra, não parece ser
necessário dar visibilidade a personagens isolados. Afinal, unir depoimentos por temática me
passou a impressão de que se trata de uma só voz e pode ter sido essa a intenção da autora.
Não à toa, Svetlana cita que apesar de trabalhar com versões distintas, é do cruzamento delas
que “nasce a imagem do tempo e das pessoas que vivem nele”.
1 Em pesquisa de 2013.1 até hoje, não localizei trabalho de conclusão de curso na Faculdade de Comunicação que tenha utilizado esse formato.
30
Outro livro no qual Svetlana Aleksiévitch dá lugar a relatos de terceiros é ‘Vozes de
Tchernóbil: A história oral do desastre nuclear’, de 1997. Nele a autora reconstrói o desastre
de Tchernóbil — usina nuclear na Ucrânia que sofreu uma explosão e lançou partículas
radioativas na atmosfera — através do depoimento de pessoas que estiveram diretamente
envolvidas na tragédia. Assim como em ‘A guerra não tem rosto de mulher’, ela além de
organizar os relatos com uma edição pessoal — seja por temas ou cronologia —, também
apresenta a motivação que o levou a escrever sobre o tema. Para a produção do livro foram
cerca de dez anos de apuração no local e mais de quinhentas entrevistas feitas a
sobreviventes, soldados, familiares e conhecidos dos que morreram durante o acidente. Na
edição final do título foram publicadas 107.
No prefácio de Paulo Moura para a edição de 2016 de ‘Vozes de Tchernóbil: A
história oral do desastre nuclear’, publicada pela editora portuguesa Elsinore, o jornalista
explica que o método escolhido por Svetlana para desenvolver o livro vem, acima de tudo, da
tradição oral russa. O que ele considera o diferencial da autora é "retirar do texto todas as
ruminação, cronologias e contextualizações”. Para ele, fica claro que o papel dela foi o de
fazer as perguntas, escolher os personagens e unir as frases "mais ricas", sem precisar deixar
a sua voz em destaque. Assim fiz, acrescentando apenas análises geradas a partir da leitura
dos próprios relatos.
Logo, assim como Svetlana a minha intenção é a de entrevistar, decupar e editar sem
colocar diretamente a minha opinião no texto. Por outro lado, se comparado, uma das
diferenças mais marcantes no que diz respeito ao processo de produção de nós duas, além da
experiência, bagagem e profundidade do tema, é que tive pouco tempo para as entrevistas e
isso influenciou diretamente o meu produto final. Possivelmente reduzido a menos de 10% do
número de relatos que ela inseriu em ‘Vozes de Tchernóbil’ ou ‘A guerra não tem rosto de
mulher’, é esperado que o meu livro tenha menos unidade. Porém, não considero uma falha
na apuração mas uma adaptação às minhas condições de produção. Diante disso, haverá
maior possibilidade do leitor se conectar isoladamente aos personagens, mesmo com uma
edição temática, recurso que também utilizo.
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4. Diário de bordo
Em 2016.1 — que, se tratando da Ufba terminou no final de outubro do mesmo ano
—, encerrei a disciplina Elaboração de Projeto em Comunicação. O resultado foi um
anteprojeto que pretendia analisar depoimentos de correspondentes internacionais que
cobriram a guerra da Síria em diferentes territórios e comparar os relatos com as suas
produções. Antes desse ciclo, não me interessava por cobertura de conflito. O interesse surgiu
quando li uma reportagem das jornalistas Isabel de Luca e Deborah Berlinck para O Globo.
No trabalho em questão eram levantados depoimentos de jornalistas que se afastaram da Síria
devido à perseguição dos jihadistas. Foi a partir desse ponto que comecei a minha pesquisa.
No semestre seguinte à elaboração do projeto, não consegui conciliar a disciplina
Desenvolvimento Orientado com a minha carga horária na faculdade e no estágio. Durante o
intervalo, acompanhei apenas as notícias sobre a guerra da Síria. No semestre 2017.1, voltei à
pesquisa. Li alguns livros e assisti documentários sobre a cultura do Oriente Médio e Síria,
nascimento do Estado Islâmico e cobertura de guerra — tive alguns pesadelos, confesso. Ao
mesmo tempo em que consumia essas informações, comecei a garimpar quem eram os
jornalistas por trás das reportagens que lia. No final de maio de 2017, fiz o primeiro contato
com eles e com pessoas que poderiam me ajudar em outras indicações. Em alguns casos, até
hoje não recebi retorno — mesmo enviando e-mail, mensagem no Instagram, Facebook e até
WhatsApp. Em outros, tive resposta imediata.
Em junho do mesmo ano, a professora e pesquisadora Zélia Leal Adghirni avaliou o
meu anteprojeto e aconselhou que ele fosse ampliado. De acordo com ela, poucos jornalistas
haviam ido para a Síria e o mais interessante seria expandir para a cobertura de conflitos nos
países árabes. Pouco depois, um dos correspondentes que faz parte do livro, Tariq Saleh,
entrou em contato comigo por telefone e deu algumas orientações. Uma delas era continuar
apenas com a Síria. Uma contradição.
Ao contrário da Zélia, ele acreditava que abraçar outros países seria um problema: o
trabalho ficaria muito amplo e haveria dificuldade em conseguir os depoimentos. Segui o
instinto do Tariq e, por medo de delegar trabalhos para outras pessoas — já que não falo
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inglês fluentemente e ia precisar de um tradutor para as entrevistas —, fechei ainda mais o
espaço amostral: selecionei apenas jornalistas brasileiros que foram para a Síria.
O que parecia executável em mais um semestre, se tornou difícil com o desenvolver
do projeto. Entrei em contato com pelo menos vinte pessoas em busca de indicações. Além
dos oito jornalistas que participaram do livro, ainda contava com a participação de Adriana
Carranca, Gabriel Chaim e Alice Martins. Os dois primeiros jamais deram notícias. Alice
chegou a agendar a entrevista mas não apareceu.
4.1 Da monografia ao livro
A ideia que nasceu como uma monografia aos poucos tomou a forma de um livro. Por
que não aproveitar aqueles relatos e organizar de outra maneira? A ideia, que já havia sido
esquecida por mim, voltou a ser uma opção a partir de uma reunião com a minha orientadora,
Lia Seixas. Me convenci. A análise já não me enchia mais os olhos — especialmente porque
eu havia me afastado da ideia de seguir a carreira acadêmica, desejo do início da graduação
— e a vontade de fazer um produto se concretizou quando comprei ‘A guerra não tem rosto
de mulher’, livro escrito por Svetlana Aleksiévitch. Nele, a autora bielorrussa fala pouco,
assim como em outros títulos escritos por ela — O homem soviético e Vozes de Tchernóbil
descrevem bem o seu estilo. Svetlana escreve sob o ponto de vista dos personagens. Melhor,
dá a voz a eles. E foi isso o que eu me propus a fazer.
O que eu queria descobrir? O meu interesse não era o significado de cobrir uma
guerra, mas qual a rotina de estar trabalhando na guerra da Síria. Pelas reportagens e textos
que eu havia lido até o momento, era claro que cada território — ou frente ideológica, como
costumo dizer — ditava de forma diferente como seria a cobertura. Explicarei nas próximas
linhas, com pausas para citar pontos importantes da produção, como esse pensamento foi
reiterado ao longo da construção do produto.
Indício um. Durante o mês de setembro me dediquei a localizar todos os textos — ou
pelo menos a maior quantidade possível — produzidos pelos jornalistas brasileiros que
estiveram na guerra. A cada reportagem lida surgia uma dúvida que eu adicionava às
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perguntas pré-estabelecidas: como chegou à Síria, como era a rotina produtiva e afins.
Algumas curiosidades foram: Quem esteve do lado controlado pelo governo estava com
visto, supus. Mas e quem ia para o lado dos rebeldes? Falar árabe era um pré-requisito para
fazer aquela cobertura? Se não, como eles se viravam? Quem eram aquelas fontes? Como
chegavam até elas? Onde eles dormiam? E a segurança?
Depois de todas as perguntas organizadas, comecei as entrevistas. Ou tentei. Enviei
com meses de antecedência — em julho, para ser mais específica — o convite para participar
do produto e a data prevista para o início das conversas. Para a minha surpresa, eles
ignoraram o deadline. Três dos jornalistas (Diogo Bercito, Tariq Saleh e Germano Assad) me
responderam dentro do prazo, em outubro. Em um dos casos, o de Lourival Sant’Anna,
apesar da correria, ele me ligava enquanto estava no trânsito e conversamos pelo menos cinco
vezes até terminar as perguntas. Os demais não tiveram pressa e me responderam entre
novembro, dezembro e janeiro. Sim, em janeiro eu ainda fazia entrevistas. Se por um lado fiz
um ano de pesquisas; por outro, só tive três meses para construir o produto.
Indício dois. Ao fim de todas as conversas, as minhas desconfianças foram
confirmadas. Quem cobria na área dominada pelas forças de Bashar al-Assad tinha algumas
regalias no que dizia respeito a condições de trabalho — a alimentação e hospedagem, por
exemplo, eram de luxo —, por outro lado, a liberdade de imprensa não existia. Na maior
parte dos dias eles eram escoltados por minders, ou fiscais do governo. Isso significava que
toda a produção das reportagens passava pela autorização deles. Ninguém podia ousar tentar
contato com os rebeldes ou seria expulso. Chamar Bashar de ditador também era um absurdo
— e gerou problemas para aqueles que o fizeram.
Indício três. Quem cobriu em territórios controlados pelos rebeldes ou curdos também
tinha as suas particularidades. A primeira delas é que os jornalistas entraram no território
Sírio de forma ilegal. O governo jamais daria autorização para a imprensa contar a versão do
seu inimigo. Isso não quer dizer que a entrada era indiscriminada. Para chegar até lá muitos
atravessavam a fronteira pela Turquia e eram esperados do outro lado por fixers. Esse
profissionais, que geralmente são locais bem conectados ou jornalistas, têm um papel
essencial na cobertura de guerra. Além de fazer a tradução eles ainda dão auxílio com a
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logística (muitos são motoristas), conseguem fontes, conhecem o território e dão a carta
branca para o jornalista transitar por aquela parte do país. Comida e hospedagem já não era
tão simples como para quem estava do lado de lá.
Ao encerrar todas as entrevistas ficou claro que ainda que houvesse tantas distinções
entre as coberturas, devido ao controle territorial, elas tinham algo em comum: onde quer que
estivesse, o jornalista enxergava a guerra por um filtro. Em um ambiente de conflito não
existe a possibilidade de atravessar a fronteira para ouvir o outro lado. Só se ouvia um e
muitas vezes a história que eles queriam contar. Para equilibrar, os correspondentes ou
enviados especiais arriscaram a vida dando algumas fugidas dos fiscais, faziam contato com a
oposição por telefone ou apostaram apenas na voz dos civis para enviesar menos a matéria.
4.2 Colocando no papel
Com os atrasos nas entrevistas, no intervalo delas eu me dedicava à transcrição do
material. Eu não previa que isso ia tomar tanto tempo. As conversas duraram de 50 minutos a
1 hora e 30 e na hora de colocar no papel isso se estendia por horas que pareciam
intermináveis. Não à toa, afinal ainda que eu tivesse estudado sobre o conflito e soubesse o
nome das principais cidades e agentes da guerra, eu havia ouvido poucas vezes como aquelas
palavras eram pronunciadas.
Um exemplo é que demorei para identificar os nomes que eles falavam em árabe e a
cada transcrição precisava abrir o mapa do país. Em outros casos, ficava confusa: ouvia
‘kimicru’, mas era kibe cru (Diogo Bercito falando sobre uma comida que gosta e aproveitou
na Síria); em outros escrevia 'Charlie Dafer' quando deveria ser Chargé d'affaires (Yan
Boechat citando um cargo do mundo diplomático). Na dúvida, recorria à fonte e mostrava a
minha ignorância em árabe, francês ou qualquer outra coisa estranha que ouvisse.
Ainda assim, a maior dificuldade que tive foi transformar a linguagem oral — afinal
as entrevistas foram por Skype e vídeo chamada no Facebook — em texto. Apesar de ter
cortado algumas coisas (vícios de linguagem, repetições e afins) e editado outras para caber
dentro das temáticas, conservei xingamentos, por exemplo. Alterei pouco o estilo de cada um.
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A ideia do livro era que eles tivessem a voz para contar a história e nada mais justo do que
conservá-las, ao máximo, da forma que são.
Depois de transcrever e editar os relatos, chegou o momento de organizar as ideias.
Separei as respostas por tópicos que depois se transformaram em capítulos, afinal queria
reunir informações para defender uma tese. Dei esse direcionamento ainda nas entrevistas —
que além de terem caráter jornalístico também podem ser vistas como um método de pesquisa
qualitativa. Não à toa, a maioria das perguntas foram repetidas para que fosse possível
comparar os resultados.
4.3 Título e projeto editorial
Em algumas entrevistas e leituras sobre a cobertura da guerra na Síria, me deparei
com a expressão ‘sahafi brazili’, ou ‘jornalista brasileiro’ em árabe. O cenário em que a frase
era pronunciada, na maioria das vezes, eram os check-points, local em que os profissionais
precisavam se identificar. As duas palavras juntas tinham o poder de causar problemas ou
oferecer soluções. Pela sua importância e conhecimento do significado até por aqueles que
cobriram a guerra e não falavam árabe, escolhi como título do livro — que dá voz aos sahafi
brazili.
E eis que chega o momento de colocar a produção na página. Diagramar não foi fácil.
Não tenho nenhum programa para este fim instalado no computador. Os indicados, eram
pagos; o valor cobrado para que alguém criasse um projeto editorial tampouco cabia no
orçamento. Decidi fazer por conta própria. Entrei em um site para design de imagens, o
Canva. Lá, comecei a brincar e vi que tinha alguns recursos interessantes. Depois de algumas
páginas, notei a minha estupidez: aquilo não era um software para diagramar, portanto, não
tinha grandes, linhas, réguas. O alinhamento era impossível mas não vi outra alternativa
diante do tempo que se escorria.
Levei a ‘diagramação’ adiante. Para as margens, utilizei uma régua virtual. A cada
página precisei medir para que todas ficassem iguais. Isso demandou 12h seguidas em frente
a um computador e muita paciência. Para completar, o site não tinha alinhamento justificado.
Precisei baixar o Adobe Acrobat para editar o PDF e consertar a falha. Lá se foram mais
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algumas horas. No caminho existem alguns detalhes destoando, afinal também não foi
possível hifenizar. Para completar o show de desastres, a impressão não saiu como deveria.
A lição depois desse trabalho é que preciso aprender a utilizar os softwares corretos
para diagramação. Por outro lado, não me arrependo de ter assumido o desafio. No final das
contas, tudo foi feito por mim — das entrevistas às ilustrações do livro — e tenho orgulho de
ter conseguido chegar ao fim.
5. Considerações finais
Diante da complexidade da guerra da Síria e da fragmentação territorial em diversas
frentes ideológicas, jornalistas de todo o mundo narram a dificuldade em produzir notícias
sobre o confronto sem o filtro de uma das partes. Com os depoimentos dos brasileiros que
estiveram no país entre 2011 e 2017, seis anos de guerra, esse fato foi constatado. Agrupadas
por temas, as declarações possibilitaram traçar um panorama sobre a cobertura jornalística no
país a partir das maiores (e possíveis) frentes de batalha : aliados de Bashar al-Assad, 2
rebeldes ou curdos.
Segundo o World Press Freedom Index de 2017, relatório que calcula o índice de
liberdade de imprensa ao redor do mundo, publicado pela organização não-governamental
internacional Repórteres Sem Fronteiras, a Síria ocupa a 177ª colocação no ranking de 180
países. O país está à frente apenas do Turcomenistão, Eritreia e Coreia do Norte. Apesar de 3
levar em consideração diversos critérios como censura, independência da mídia e
transparência, a lista demonstra claramente que nações sob um governo ditatorial sempre
tenderão a ocupar as últimas posições.
Por estar em guerra civil, a Síria apresenta ainda mais impasses à liberdade de
imprensa. O governo de Bashar Al-Assad frequentemente nega vistos para jornalistas
2 O estudo não se limitou estritamente a territórios físicos, visto que a fragmentação do país foi recorrente e houve avanços e recuos nas áreas. Logo, as referências são as frentes ideológicas ou forças de combate, ainda que sejam mencionadas as zonas que estavam ocupando. Além disso, aspectos políticos, mesmo que citados para embasar uma afirmação, não foram aprofundados. 3 rsf.org/en/ranking
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internacionais e quando o concede, atua sob forte vigilância e repressão junto aos
profissionais de comunicação. Apesar de ter mais conforto e segurança, o jornalista passará
uma parte do tempo acompanhado por um funcionário do Ministério da Informação. Caso
descumpra alguma ordem, poderá perder a autorização de estar no território e até ser preso.
Para quem tem o visto recusado pelo governo, uma opção é entrar ilegalmente pelo
país através das fronteiras da Turquia ou do Líbano. O jornalista que passa a cobrir pela lado
dos opositores — sejam os rebeldes ou as forças curdas —, é considerado persona non grata
pelos aliados de Bashar Al-Assad e não poderá ter acesso ao lado leal. Além disso, os ataques
aéreos são frequentes e o bombardeio faz parte da rotina de quem informa a partir da zona
rebelde.
Outro fator relevante é o alto custo da cobertura. Para circular no território, o
jornalista necessita de um fixer — morador que conhece o território e orienta o repórter na
logística e negociações de fontes, já que possui uma vasta rede de contatos. Somado a isso,
muitas vezes é preciso estar disposto a abrir mão de boas condições de alimentação,
hospedagem, higiene e internet — ferramenta essencial para a transmissão de informações ao
ocidente.
Por ser uma discussão ainda emergente, devido aos conflitos não ainda terem cessado,
são poucas as referências bibliográficas sobre as diferenças entre as coberturas jornalísticas
do conflito na Síria. Ter a possibilidade de contribuir para a construção desse registro foi
mais um estímulo para a execução do trabalho de pesquisa. Sahafi Brazili foi concebido,
portanto, a partir de leituras teóricas dentro do jornalismo, sobretudo com a atenção voltada
para a entrevista como técnica; pesquisa de similares e estudo da cobertura de guerra e
contexto dos conflitos na Síria.
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Anexos Perguntas gerais aos entrevistados 01. Contrato Qual o tipo de contrato entre o jornal/revista e o repórter? (Freela, CLT) Há seguro de vida e acidentes? Qual a cobertura? Qual a jornada de trabalho? 02. Burocracia Foi com visto? O que precisava apresentar? Alguma carta de recomendação da Folha? Quanto tempo demorou para sair o visto? Quando deu entrada e quando foi o resultado? O visto foi de quanto tempo? Como foi a sua chegada na Síria? De onde você saiu, chegou por qual cidade, com quem estava? Como foi a recepção? Resumidamente, qual era o contexto da guerra no período em que você esteve lá? Você cobriu de que lado (Governo, curdos, rebeldes)? 03. Hierarquia: equipe Você tinha uma equipe? Tinha um tradutor? Você teve um fixer? Qual o papel que ele desempenhou? Onde você conseguiu o contato dele? Quanto ele cobrou? 04. Metas de produção É estabelecido um deadline? Você recebeu pautas? 05. Equipamentos e condições Tinha internet? No celular? Quanto custava? Quem pagou? Quais equipamentos foram necessários para a cobertura? Tinha colete à prova de balas? Como é a logística/transporte dentro da Síria? E a alimentação? Onde dormia?
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Onde você tomava banho? Qual foi o custo financeiro total da cobertura? O jornal/revista cobre tudo? 06. Apuração Como foi o processo de apuração? Quais eram as suas fontes? Você utilizava a internet para checar? 07. Multimídia É cobrado que o repórter seja multimídia? Qual foi o tipo de cobertura que você realizou? 08. Pessoal Treinamento - quanto tempo? Foi preciso se preparar fisicamente? E psicologicamente? No retorno você passou por algum acompanhamento psicológico? Como foi o pós-guerra? 09. Linha editorial do produto Qual a linha editorial do produto para o qual você trabalhava? Como isso influenciou a sua cobertura? Você cobriu pelo lado (do governo, dos curdos, dos rebeldes). Como é contar a guerra de um dos lados? Qual foi o seu papel na guerra da Síria?
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