57
UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE MATOS HIPÓLITO O DIREITO DE GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO: UMA ANÁLISE DA DECISÃO DO STF PROFERIDA EM SEDE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456 Macaé – RJ 2018

UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

VINNÍCIUS DE MATOS HIPÓLITO

O DIREITO DE GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO: UMA ANÁLISE DA DECISÃO

DO STF PROFERIDA EM SEDE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456

Macaé – RJ

2018

Page 2: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

VINNÍCIUS DE MATOS HIPÓLITO

O DIREITO DE GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO: UMA ANÁLISE DA DECISÃO

DO STF PROFERIDA EM SEDE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense como requisito à obtenção do grau Bacharel em Direito.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Saulo Bichara Mendonça

Macaé - RJ 2018

Page 3: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

Ficha catalográfica automática - SDC/BMAC H667d Hipólito, Vinnícius de Matos

O Direito de Greve no Serviço Público: Uma análise da decisão do STF proferida em sede do Recurso Extraordinário n° 693.456 / Vinnícius de Matos Hipólito ; Saulo Bichara Mendonça, orientador. Macaé, 2018. 57 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direit o)- Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências da Sociedade, Macaé, 2018. 1. Direito de Greve. 2. Servidor Público. 3. Recurs o Extraordinário. 4. Brasil. Supremo Tribunal Federal. 5. Produção intelectual. I. Título II. Mendonça,Saulo Bichara, orientador. III. Universidade Federal Flum inense. Instituto de Ciências da Sociedade. Departamento de Direito.

CDD –

Bibliotecária responsável: Fernanda Nascimento Silv a - CRB7/6459

VINNÍCIUS DE MATOS HIPÓLITO

Page 4: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

O DIREITO DE GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO: UMA ANÁLISE DA DECISÃO

DO STF PROFERIDA EM SEDE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense como requisito à obtenção do grau Bacharel em Direito.

__________________ em 26 de junho de 2018.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Prof. Dr. Saulo Bichara Mendonça (Orientador)

Universidade Federal Fluminense

__________________________________________ Prof. Dr. Daniel Arruda Nascimento Universidade Federal Fluminense

____________________________________________ Prof. Dr. Jorge Luiz Lourenço das Flores

Universidade Federal Fluminense

AGRADECIMENTOS

Page 5: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida, força, saúde e sustentação durante esta

etapa concluída.

Agradeço a minha família pelo apoio incomensurável durante todo este período, em que tive

de me furtar de momentos preciosos para com eles, em busca de alcançar este objetivo.

Agradeço ao meu orientador professor Saulo Bichara Mendonça pela força e orientação

durante cada passo deste trabalho.

Aos professores Daniel Arruda Nascimento e Jorge Luiz Lourenço das Flores que compõe a

Banca Examinadora.

Page 6: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

“O homem disse que tinha de ir embora, antes queria me ensinar uma coisa muito importante: - Você quer conhecer o segredo de ser um menino feliz para o resto de sua vida? – Quero. Respondi. O segredo se resume em três palavras, que ele pronunciou com intensidade, mãos nos meus ombros e olhos nos meus olhos: - Pense nos outros.”

Fernando Sabino.

Page 7: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

RESUMO

O presente trabalho visa analisar o instituto da greve, nos termos que é assegurado aos

servidores públicos, carente de norma regulamentadora, apesar de já se passaram mais de

vinte e nove anos desde a promulgação da Constituição Federal. Nessa seara, como não há lei

específica, mas há a previsão constitucional do direito, instituiu-se um problema apresentado

ao judiciário, que teve de se pronunciar sobre o tema, e o fez por meio do Supremo Tribunal

Federal no julgamento do Recurso Extraordinário n° 693.456, o qual teve sua repercussão

geral reconhecida. A tese ali formada é a que passa a valer para toda Administração Pública e

Tribunais quando se depararem com essa situação, foi definido que os gestores públicos que

quando enfrentarem uma greve de seus servidores devem proceder o desconto da

remuneração dos dias sem produção. Dessa forma analisar-se-á tal decisão à luz da

jurisprudência e doutrina correlata, apresentando o voto proferido por cada Ministro do STF,

ressaltando a questão do ativismo judicial, presente na decisão bem como tem-se dado a

aplicabilidade da decisão citada pelos gestores públicos e Tribunais. Metodologicamente,

apurou-se as hipóteses aventadas ante ao problema proposto por meio de ponderações de uma

representante sindical, em entrevista na qual comenta a decisão e as greves que foram

deflagradas pela entidade que representa, após a decisão. E por fim conclui-se apresentando

que a regulamentação da data base com a revisão geral anual prevista no artigo 37, inciso X

da Constituição Federal surtiria mais efeitos benéficos que a criação de uma lei de greve.

Palavras-chaves:

Direito de Greve. Servidor Público. Julgamento do Recurso Extraordinário n° 693.456.

Page 8: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

ABSTRACT

This paper aims to analyze the institute of the strike, under the terms that are guaranteed to

public servants, lacking a regulatory norm, although it has been more than twenty-nine years

since the promulgation of the Federal Constitution. In this section, since there is no specific

law, but there is the constitutional provision of law, a problem was presented to the judiciary,

which had to pronounce on the subject, and did so through the Supreme Federal Court in the

judgment of Extraordinary Appeal n 693,456, which had its general repercussion recognized.

The thesis formed there is what is valid for all Public Administration and Courts when faced

with this situation, it was defined that public managers who when faced with a strike of their

servers should proceed with the discount of the days without production. In this way, this

decision will be analyzed in light of the jurisprudence and related doctrine, presenting the vote

given by each STF Minister, highlighting the issue of judicial activism, present in the decision

as well as the applicability of the decision cited by the managers and courts.

Methodologically, the assumptions raised before the problem proposed by means of weights

of a trade union representative were determined in an interview in which he comments on the

decision and the strikes that were triggered by the entity that represents after the decision.

Finally, it is concluded that the regulation of the base date with the annual general review

provided for in article 37, item X of the Federal Constitution would have more beneficial

effects than the creation of a strike law.

Keywords:

Right to strike. Public server. Judgment of Extraordinary Appeal n ° 693.456.

Page 9: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09 1. DIREITO DE GREVE: UMA ANÁLISE CONCEITUAL SOBRE O INSTITUTO 13 1.1 Origem Histórica e Conceituação 13 1.2 Natureza Jurídica 15 1.3 Finalidade 16 1.4 Greve no serviço publico 16 2. UMA ANÁLISE SOBRE O JULGAMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456 18

19

a) Ministro Dias Tofolli – Relator 20 b) Ministro Edson Fachin 22 c) Ministro Luís Roberto Barroso 23 d) Ministro Teori Zavaski 24 e) Ministro Gilmar Mendes 25 f) Ministra Rosa Weber 25 g) Ministro Marco Aurélio 26 h) Ministro Luiz Fux 26 i) Ministro Ricardo Lewandowski 27 j) Ministra Carmen Lúcia (Presidente) 28 2.1 TESE FIRMADA A PARTIR DO JULGAMENTO DO RECURSO 28 3. O ATIVISMO JUDICIAL E SUA UTILIZAÇÃO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO JULGAMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456. 28

29

3.1 Ativismo Judicial 29 3.2 Entrevista com o professor adjunto Dr. Heron Abdon de Souza, da cadeira de Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense

31

4. PESQUISA JURISPRUDENCIAL SOBRE A APLICABILIDADE DA DECISÃO EM GREVES DE SERVIDORES PÚBLICOS OCORRIDAS APÓS O JULGAMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456.

39

5. ENTREVISTA COM UM REPRESENTANTE SINDICAL DO SINDICATO DOS TRABALHADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – SINTUFF SOBRE A GREVE E A DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO JULGAMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456

43

CONCLUSÃO 52 REFERÊNCIAS 54

Page 10: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

9

INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende abordar o direito de greve que é assegurado pela

Constituição Federal aos servidores públicos, onde num primeiro momento aborda-se o

conceito de greve, sua origem histórica e no direito pátrio, cabendo destacar que inicialmente

o movimento paredista era tido como um delito, o qual com a evolução dos movimentos

sociais tornou-se um direito assegurado aos trabalhadores, conforme breve panorama

introdutório que relata esta transição.

A lei Le Chapelier de 1791 vedava qualquer agrupamento profissional em defesa de

interesses coletivos. O Código Penal de Napoleão de 1810 tipificava a greve de trabalhadores

como crime punido com prisão e multa. E em 1947, a Itália passa a reconhecer a greve como

um direito.

No ordenamento pátrio, o Código Penal de 18901 foi a primeira lei a tipificar a greve

como delito, onde no capítulo VI, Dos Crimes Contra a Liberdade de Trabalho punia quem

exercesse tal conduta. Cabendo destacar que as Constituições Federais de 1824, 1890 e 1934

nada disseram sobre o tema.

A Constituição de 1937, em seu artigo 1392, aduzia que a greve e o lock-out são

declarados recursos antissociais nocivos ao trabalho e ao capital, e incompatíveis com os

superiores interesses da produção nacional.

O Decreto-Lei n° 431, de 1938, em seu artigo 3°, incisos XXI e XXII3, punia com

pena de 1 a 3 anos, a incitação de funcionários públicos ou servidores do Estado à cessação

coletiva, total ou parcial, dos serviços a seu cargo e o induzimento de empregadores ou

empregados à cessação ou suspensão do trabalho.

O Código Penal de 1940, em seu artigo 2014, punia o fato de participar de suspensão

ou abandono coletivo de trabalho, provocando a interrupção de obra pública ou serviço de

interesse coletivo.

A Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943, em seu artigo 7235 , previa que

incorreriam em pena os empregados que, coletivamente e sem prévia autorização do tribunal 1 BRASIL, Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d847.htm>,acesso em 23 de novembro de 2017. 2 BRASIL, Constituição Federal de 1937, de 10 de novembro de 1937. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm>,acesso em 23 de novembro de 2017. 3 BRASIL, Decreto-lei nº 431, de 18 de maio de 1938. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del0431.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. 4 BRASIL, Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017.

Page 11: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

10

competente, abandonassem o serviço, ou desobedecessem a qualquer decisão proferida em

dissídio. Ademais, o artigo 724 previa que quando a suspensão do serviço ou a desobediência

às decisões dos Tribunais do Trabalho for ordenada por associação profissional ou sindical

poderia ser punido com multa, cancelamento do registro ou perda do cargo, caso a

manifestação fosse de responsabilidade exclusiva dos administradores do sindicato.

O Decreto-Lei nº 9.070, de 19466, primeira lei a admitir o exercício da greve, limitou-

a para as atividades acessórias, proibindo nas atividades fundamentais nele elencadas.

A Constituição Federal de 1946, em seu artigo 1587, foi a primeira Carta a prever a

possibilidade dos trabalhadores exercerem o movimento paredista, porém condicionou o seu

exercício à elaboração de lei regulamentadora.

A Constituição Federal de 1967 manteve a garantia de exercício da greve aos

trabalhadores, conforme dispunha seu artigo 158, inciso XXI, porém vedou o exercício no

âmbito dos serviços públicos e nas atividades essenciais, definidas por lei, conforme artigo

157, § 7°8. A Emenda Constitucional nº 1 de 1969, restringiu-se a repetir a disposição

constitucional anterior.

O Decreto-Lei n° 1.632, de 19789, regulamentava a proibição de greve nos serviços

públicos e em atividades essenciais, disciplinando as sanções para quem ousava exercer o

movimento.

A lei 6.620, de 197810, que versava sobre os crimes contra a Segurança Nacional,

definiu em seu artigo 36, inciso V, a punição para o incitamento à paralisação de serviços

públicos, ou atividades essenciais. Ademais em seu artigo 37, vedava, expressamente, aos

funcionários públicos cessarem, coletivamente, no todo, ou em parte, os serviços a seu cargo.

A Constituição Federal de 1988, denominada Constituição Cidadã, assegurou o

exercício de greve tanto no âmbito da iniciativa privada, quanto no serviço público,

ressaltando que em ambos os casos a deflagração do movimento dependia de lei que lhe

regulamentasse.

5 BRASIL, Decreto-lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. 6 BRASIL, Decreto-lei nº 9.070, de 15 de março de 1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del9070.htm>, acecsso em 23 de novembro de 2017. 7 BRASIL, Constituição Federal de 1946, de 18 de setembro de 1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. 8 BRASIL, Constituição Federal de 1967, de 24 de janeiro de 1967. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. 9 BRASIL, Decreto-lei nº 1.632, de 04 de agosto de 1978. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1632.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. 10 BRASIL, Lei nº 6.620, de 17 de dezembro de 1978. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6620.htm>,acesso em 23 de novembro de 2017.

Page 12: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

11

Transcorrido este breve histórico introdutório sobre a greve, em que ela passou de um

delito para um direito assegurado aos trabalhadores, adentra-se no fato de que tal instituto é

assegurado ao serviço público, porém carece de regulamentação a qual até o presente não

ocorreu.

Nesta toada, em decorrência da falta de norma regulamentadora e pelo fato de os

servidores exercerem o movimento paredista, tais questões chegaram ao judiciário que teve de

se manifestar sobre o tema.

Dessa forma o presente objetiva analisar como o Supremo Tribunal Federal tem

enfrentado os litígios que envolvam o tema, mais especificamente far-se-á uma análise do

julgamento ocorrido em plenário do STF, no dia 27 de outubro de 2016, referente ao Recurso

Extraordinário n° 693.45611, do Rio de Janeiro, em que figura como Agravante: Fundação de

Apoio à Escola Técnica – FAETEC; e como Agravados: Renato Barroso Bernabe e outros, de

relatoria do ministro Dias Toffoli, onde foi discutida em plenário a questão sobre a

possibilidade de haver o corte de ponto, pela Administração Pública, dos dias em que os

servidores públicos a ela subordinados estiverem no exercício do direito de greve, com

desconto da remuneração deste período. Valendo destacar que o recurso teve a sua

repercussão geral reconhecida e a tese ali firmada é a que passa a valer para todos os gestores

da Administração Pública e para os Tribunais brasileiros, quando se depararem com situações

em que envolvam o assunto.

Após a análise da decisão apresenta uma pesquisa bibliográfica sobre o ativismo

judicial, além de uma entrevista realizada com o Doutor em Direito, Professor Adjunto Dr.

Heron Abdon de Souza, da Universidade Federal Fluminense, em que fala um pouco sobre

greve e ativismo.

Trazendo em seguida uma pesquisa jurisprudencial em que se busca informar a

aplicabilidade da tese formada a partir do julgamento do Supremo sobre como os gestores

públicos devem proceder em caso de greve de seus servidores.

Ademais, o último capítulo apresenta uma entrevista realizada com a advogada Dra.

Dalila Pinheiro de Sousa, representante do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade

Federal Fluminense – SINTUFF, em que fala um pouco sobre como se dá a deflagração da

11 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24%2ESCLA%2E+E+693456%2ENUME%2E%29+OU+%28RE%2EACMS%2E+ADJ2+693456%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/apu9638>, acesso em 19 de março de 2018.

Page 13: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

12

greve pelo sindicato que representa, inclusive naquelas ocorridas após a decisão do Supremo

sobre greve no serviço público.

Por fim, pretende-se evidenciar que, diante da mora legislativa em regulamentar o

direito de greve que é assegurado aos servidores públicos e pelo quadro de greves

prolongadas ocorridas no âmbito da Administração Pública, seria mais viável a

regulamentação da data-base, prevista no artigo 37, inciso X da Constituição Federal, que

assegura a revisão geral anual, quando seriam discutidas a questão salarial e melhores

condições de trabalho, do que a regulamentação da greve para o serviço público.

Page 14: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

13

1. DIREITO DE GREVE: UMA ANÁLISE CONCEITUAL SOBRE O INSTITUTO

1.1 Origem histórica e Conceituação

O presente trabalho traz uma abordagem sobre o direito de greve e sua aplicação no

âmbito do serviço público, porém inicialmente antes de adentrar neste mérito cumpre

apresentar a origem histórica do instituto, onde segundo Jorge Neto e outros12 apresentam em

sua obra um panorama de como surgiu a palavra, a qual merece ser transcrita para uma

melhor elucidação do tema:

O termo “greve” vem de greve, francesa, que significa praia, areal, enquanto griève significa agravo, gravame (plainte). Segundo Paul Garcia, a origem da adoção do vocábulo greve para designar o fenômeno, está ligada ao fato dos operários franceses terem se reunido na Praça do Hotel de Ville, em Paris, quando desempregados, ou para discutirem ‘fatos relativos à suspensão do trabalho’. Como tal praça, após enchentes do Sena, ficava cheia de detritos – chamados ‘no baixo francês’ de gravé, passou a ser chamada ‘Place de laGravé’, e mais tarde, por vício de pronúncia, ‘Place de lagrève’, donde greve, com o significado que até hoje perdura, com uso e compreensão generalizados”.

No direito brasileiro, o instituto surgiu formalmente em meados do século XIX, a

partir da massificação do trabalho assalariado. Segundo Uchôa, a primeira greve do país

ocorreu em 1858, no Rio de Janeiro, quando os tipógrafos da capital imperial deram-se às

mãos para protestar por melhoria salarial.

Neste diapasão surge a greve, a qual num primeiro momento foi considerada como um

crime, pois contradiz os ideais do capitalismo, onde os funcionários que incitavam ou

optavam por aderir ao movimento paredista eram severamente punidos nos termos da lei,

visto que proporcionavam o caos no ambiente de trabalho.

No entanto, com o passar dos anos, após muitas lutas, enfrentamentos e resistência dos

operários, foi verificado que tal instituto era a única maneira que permitia haver uma

negociação justa entre empregado e empregador, em busca de melhores condições de trabalho

e reajustes salariais, momento em que o tema alçou à posição de um direito que é garantido à

classe trabalhadora, dessa forma urge trazer à baila a conceituação externada por diferentes

doutrinadores sobre a matéria.

12 JORGE NETO, Francisco Ferreira e outros. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2013. p.1312 e 1313.

Page 15: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

14

Rivero e Savatier13 formulam a seguinte definição para o instituto da greve, aduzindo

ser a cessação ajustada do trabalho pelos assalariados, para constranger o empregador, através

desse meio de pressão, a aceitar seus pontos de vista sobre a questão que é objeto do litígio.

Segundo assevera Martinez,14 a greve é um direito fundamental que legitima a

paralisação coletiva de trabalhadores realizada de modo concentrado, pacífico e provisório,

como instrumento anunciado de pressão para alcançar melhorias sociais ou para fazer com

que aquelas conquistas normatizadas sejam mantidas e cumpridas.

Já Cassar15 sustenta em sua obra que greve é a cessação coletiva e voluntária do

trabalho, decidida por sindicatos de trabalhadores assalariados de modo a obter ou manter

benefícios ou para protestar contra algo.

Suarez16 conceitua greve como suspensão temporal do trabalho, resultante de uma

coalizão operária – acordo de um grupo de trabalhadores para a defesa de interesses comuns -,

que tem por objetivo obrigar o patrão a aceitar suas exigências e conseguir, assim um

equilíbrio entre os diversos fatores de produção, harmonizando os direitos do trabalho e do

capital.

Cairo Junior17 advoga que greve é uma forma de autotutela admitida como exceção

pelo ordenamento jurídico e é representada pela paralisação coletiva, pacífica e temporária da

prestação de serviço por parte dos trabalhadores, decidida pela manifestação de vontade da

organização sindical, com a consequente interrupção da atividade empresarial, total ou

parcialmente.

Barros18 aduz que greve não é simplesmente uma paralisação do trabalho, mas uma

cessação temporária do trabalho, com o objetivo de impor a vontade dos trabalhadores ao

empregador sobre determinados pontos. Ela implica a crença de continuar o contrato,

limitando-se a suspendê-lo.

Garcia19 ensina que na greve a suspensão não pode ser individual, mas do grupo de

trabalhadores, ou seja, coletiva e que a paralisação deve ser temporária, para não caracterizar

abandono de emprego, além de pacífica.

13 Apud JORGE NETO, Francisco Ferreira e outros. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2013. p.1313. 14 MARTINEZ, Luciano. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 808. 15 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2016. p. 1293. 16 Apud CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2016. p. 1293. 17 CAIRO JUNIOR, José. Curso de Direito do Trabalho. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 1128. 18 BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: LTr, 2017. p. 849 19 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 1366.

Page 16: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

15

A Lei n° 7.783 de 28 de junho de 198920 que regulamenta o instituto da greve para os

trabalhadores da iniciativa privada, em seu artigo 2° aduz que greve é a suspensão coletiva,

temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador.

Nesta toada pode-se afirmar após análise das definições apontadas por diferentes

doutrinadores e pela lei que regula o instituto no âmbito privado que greve é uma paralisação

coletiva temporária das atividades laborais intentada pelos trabalhadores de determinada

empresa ou categoria, que pode se dá de forma total ou parcial, cujo objetivo é provocar um

impacto financeiro negativo nas contas do empregador, forçando-lhe a ouvir as reivindicações

apresentadas pela categoria e abrindo negociação para chegar a um denominador comum afim

de que as atividades sejam restabelecidas o quanto antes.

1.2 Natureza jurídica

Segundo sustenta a doutrinadora Cassar21o instituto da greve tem natureza jurídica de

direito potestativo fundamental coletivo, esclarecendo que é direito potestativo porque é

exercido de acordo com a oportunidade e conveniência do grupo. Coletivo, pois é no grupo

que o exercício do direito de greve alcança seu objetivo final. É um superdireito porque

reconhecido constitucionalmente como direito fundamental.

Pinto22 aduz que a greve tem natureza jurídica complexa melhor revelada através de

seus fundamentos metajurídicos e de sua finalidade de pressão coletiva para induzir o

atendimento de pretensões trabalhistas.

Martins23 assevera que greve tem natureza jurídica de direito de coerção visando à

solução de um conflito coletivo.

Já Garcia24 prefere advogar que a greve tem natureza jurídica de forma de solução de

conflito coletivo de trabalho, ou seja, por meio da autodefesa, por ser uma reação contra a

resistência do empregador diante da reivindicação de melhores condições de trabalho. E esta

no enfoque do contrato de trabalho acarreta sua suspensão.

Nesta toada pode-se depreender que a greve tem natureza jurídica de direito

constitucional potestativo coletivo que opera a suspensão do contrato de trabalho quando os

trabalhadores de determinada categoria resolvem exercê-lo. É um direito constitucional, pois 20 BRASIL, lei 7.783 de 28 de junho de 1989, disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7783.htm>, acesso em 19 de março de 2018. 21 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2016. p. 1296. 22 Apud CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2016. p. 1296. 23 Apud CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2016. p. 1296. 24 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 1368.

Page 17: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

16

está assegurado nos artigos 9° e 37, VII da Constituição Federal. Potestativo, pois compete à

categoria a decisão política do momento em que irão exercitá-lo, coletivo visto que não é

possível a realização de greve por apenas um trabalhador, pois caso assim o fizesse acarretaria

abandono de emprego, ensejando a demissão daquele que optou em exercê-lo e por fim opera

a suspensão do contrato de trabalho, dado que no momento em que se opta pela realização do

movimento paredista suspende-se as atividades laborais, logo o empregador fica dispensado

da obrigação de pagar salários e encargos trabalhistas durante o período de sua realização.

1.3 Finalidade

Conforme sustenta a doutrinadora Cassar25 a greve possui finalidade de exteriorizar o

conflito existente entre a classe trabalhadora e o patrão acerca das questões pendentes que,

apesar das tentativas de negociação, persistem, logo objetiva pressionar o empregador a ceder

em alguns pontos.

Nestes termos a greve é um instrumento de negociação coletiva utilizado pela classe

trabalhadora nos casos em que o empregador se recusa a negociar os pontos por eles

reivindicados.

Tal instituto tem por finalidade balancear a relação de hipossuficiência que ocorre

entre empregador e empregado, pois assim que iniciado o movimento paredista, o patrão já

começa a sentir os impactos financeiros negativos em sua atividade, vendo-se obrigado a

transacionar, cedendo às reivindicações da categoria, para que seja restabelecido o quanto

antes as atividades, pois dias parados representam prejuízos para a empresa.

1.4 Greve no serviço público

O direito de greve no serviço público foi assegurado pela Constituição Federal em seu

artigo 37, VII, o qual teve sua redação alterada pela Emenda Constitucional n° 19, de 04 de

junho de 1998, onde ficou com a seguinte redação “o direito de greve será exercido nos

termos e nos limites definidos em lei.”

Neste diapasão já se passaram mais de vinte e nove anos da entrada em vigência da

atual Constituição e quase vinte anos da publicação da Emenda Constitucional que alterou o

25 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2016. p. 1296.

Page 18: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

17

artigo 37, VII da Constituição Federal e não foi editada até o presente nenhuma lei que

regulamente a greve no serviço público.

Diante deste quadro, por se tratar de uma norma de eficácia limitada, a qual segundo

Lenza26 trata-se de norma que, de imediato, no momento que a Constituição é promulgada ou

entra em vigor, não têm o condão de produzir todos os seus efeitos, precisando de uma lei

integrativa infraconstitucional, ou até mesmo de integração por meio de emenda

constitucional, são, portanto, de aplicabilidade indireta, mediata e reduzida.

Nesta toada restou ao Judiciário à incumbência de se pronunciar mediante os conflitos

em que fora instado a resolver envolvendo lides que versavam sobre greves no âmbito do

serviço público.

Neste diapasão, o Supremo Tribunal Federal, num primeiro momento, por meio do

julgamento dos Mandados de Injunção n° 670/ES27, 708/DF28 e 712/PA29 pronunciou-se no

sentido de que a mora legislativa em regulamentar o exercício do direito de greve no âmbito

do serviço público não poderia persistir, visto que era uma garantia fundamental prevista na

Carta Maior, sendo assim fixou entendimento de que deveria ser aplicada a Lei n° 7.783 de 28

de junho de 1989, a qual regulamenta a greve no contexto da iniciativa privada, aos conflitos

e ações que versem sobre movimento paredista envolvendo servidores públicos, até que fosse

promulgada a lei regulamentadora da greve no domínio da administração pública.

Tal entendimento prevaleceu até o dia 27 de outubro de 2016, quando o plenário do

Supremo Tribunal Federal julgou o Recurso Extraordinário n° 693.45630, do Rio de Janeiro,

em que figura como Agravante: Fundação de Apoio à Escola Técnica – FAETEC; e como

Agravados: Renato Barroso Bernabe e outros, de relatoria do ministro Dias Toffoli, quando

26 LENZA, Pedro. Direito Penal Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 251. 27 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 670/Espírito Santo, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em:<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28MI%24%2ESCLA%2E+E+670%2ENUME%2E%29+OU+%28MI%2EACMS%2E+ADJ2+670%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/cswygf3>, acesso em 19 de março de 2018. 28 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 708/Distrito Federal, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28MI%24%2ESCLA%2E+E+708%2ENUME%2E%29+OU+%28MI%2EACMS%2E+ADJ2+708%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/chjgwcv>, acesso em 19 de março de 2018. 29 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 712/Pará, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em:<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=712&classe=MI&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=M>, acesso em 19 de março de 2018. 30 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24%2ESCLA%2E+E+693456%2ENUME%2E%29+OU+%28RE%2EACMS%2E+ADJ2+693456%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/apu9638>, acesso em 19 de março de 2018.

Page 19: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

18

foi discutida a questão sobre a possibilidade de haver o corte de ponto, pela Administração

Pública, dos dias em que os servidores públicos a ela subordinados estiverem no exercício do

direito de greve, com desconto da remuneração deste período.

Este recurso teve a sua repercussão geral reconhecida e a tese que foi firmada ao final

daquele julgamento é a que passou a valer para todos os gestores da Administração Pública,

assim como para os Tribunais brasileiros, quando se depararem com situações em que

envolvam o assunto.

No julgamento em tela ficou definido que o gestor público deverá descontar os dias

em que o servidor optar pela adesão ao movimento paredista, sendo tal desconto, contudo,

incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público.

Sendo esta a decisão que prevalece atualmente para as situações que chegam ao judiciário

envolvendo exercício de greve no âmbito da administração pública, mesmo não havendo

legislação alguma regulamentando o instituto, tal decisão será objeto de análise do próximo

capítulo.

Page 20: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

19

2. UMA ANÁLISE SOBRE O JULGAMENTO DO SUPREMO TRIBUN AL FEDERAL

NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456

O presente capítulo busca fazer uma análise do julgamento em plenário do Supremo

Tribunal Federal iniciado no dia 02 de setembro de 2015, sobre o Recurso Extraordinário n°

693.456, do Rio de Janeiro, em que figuram como Agravante: Fundação de Apoio à Escola

Técnica – FAETEC; e como Agravados: Renato Barroso Bernabe e Outroscom relatoria

atribuída ao Ministro Dias Toffoli31.No caso sob análise foi discutida a temática sobre a

possibilidade de haver o corte de ponto, pela Administração Pública, dos dias em que os

servidores públicos a ela subordinados estiverem no exercício do direito de greve, com o

consequente desconto da remuneração deste período, independente de ser o movimento

declarado pelo judiciário como legal ou ilegal, ou seja, discutiram se seria legítimo ao gestor

público cortar o ponto do servidor imediatamente e depois verificar a legalidade do

movimento.

Cumpre destacar que o recurso em epígrafe teve a sua repercussão geral reconhecida e

a tese que ficou definida a partir do seu julgamento é a que passou a valer para a

Administração Pública e Tribunais brasileiros quando se depararem com situações que

envolvam o tema.

Ademais, ressalta-se que na data informada teve início o julgamento, onde os

Ministros Dias Tofolli (relator) e Edson Fachin apresentaram seus votos, contudo o Ministro

Luis Roberto Barroso, no momento de proferir sua decisão, solicitou vista dos autos para

melhor analisar a situação de direito que ali se apresentava, sendo assim o caso foi colocado

em pauta novamente para julgamento em 27 de outubro de 2016.

Dessa forma, passa-se a expor como foi o voto proferido por cada Ministro,

apresentando uma síntese da argumentação jurídica manifestada por suas Excelências e por

derradeiro informa-se a tese que foi definida a partir deste julgamento.

31SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24%2ESCLA%2E+E+693456%2ENUME%2E%29+OU+%28RE%2EACMS%2E+ADJ2+693456%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/apu9638>, acesso em 19 de março de 2018.

Page 21: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

20

a) Ministro Dias Tofolli – Relator

O Ministro iniciou a apresentação do seu voto trazendo a origem histórica do instituto

da greve desde o seu surgimento originariamente no Egito, no reinado de Ramsés III, no

século XII a.C, no episódio conhecido como “pernas cruzadas”, quando os trabalhadores, por

não terem recebido o que fora prometido pelo faraó, a isso se opuseram cruzando as pernas,

até os primeiros movimentos ocorridos em solo brasileiro, em meados do século XIX, a partir

da massificação do trabalho assalariado.

Ato contínuo informa como o ordenamento jurídico pátrio lidou com a temática, a qual

passou de um delito a ser concebida como um direito que é assegurado aos trabalhadores,

ressaltando, contudo, que se trata de uma garantia que tem sua eficácia limitada, pois depende

de norma regulamentadora para que produza seus efeitos, onde destacou que no âmbito da

iniciativa privada o direito já foi regulamentado pela Lei nº 7.783 de 28 de junho de 1989 e

que no serviço público ainda depende de regulamentação, pois até o presente momento não

houve a edição do necessário ato legislativo a regulamentar-lhe o exercício da greve.

Seguindo na sustentação destacou que diferentemente do que ocorre na iniciativa

privada, na relação estatutária não há tensão entre capital e trabalho e que na Administração

Pública vigora o princípio da Supremacia do Interesse Público, do qual é corolário o da

Continuidade do Serviço Público, que implica que os serviços públicos não podem ser

prejudicados, interrompidos ou paralisados, devendo-se, assim, haver um fluxo de

continuidade, e, também, o dever inescusável do Estado em prestá-lo. Por fim aduz que o

pressuposto de existência do serviço público é a garantia do atendimento às necessidades

inadiáveis dos administrados, pois indispensável à concretização e ao desenvolvimento social.

Momento em que adentra na questão de como a Corte vinha se pronunciando nas

vezes em que se deparou com casos que envolvam o tema, onde trouxe o julgamento dos

Mandados de Injunção nº 670/ES, 708/DF e712/PA, onde a Suprema Corte decidiu que, até a

edição da lei regulamentadora do direito de greve, previsto no art. 37, inciso VII, da

Constituição da República, as Leis nº 7.701 de 21 de dezembro de 1988 e 7.783 de 28 de

junho de 1989 poderiam ser aplicadas provisoriamente para possibilitar o exercício do direito

de greve pelos servidores públicos, em especial, os arts. de 1º ao 9º, 14, 15 e17 da Lei nº

7.783 de 28 de junho de 1989 .

Nesta toada passou a discorrer sobre a natureza jurídica do instituto da greve que é de

suspensão do contrato de trabalho, o que implica consequentemente na suspensão do

pagamento de salário dos dias que perdurar o movimento, salvo no caso em que a greve tenha

Page 22: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

21

sido provocada justamente por atraso no pagamento ou por outras situações excepcionais que

justifiquem o afastamento da premissa da suspensão da relação jurídica de trabalho e, por

consequência, da atividade pública.

Pontuou que os grevistas assumem os riscos da empreitada. Caso contrário, estaria-se

diante de enriquecimento sem causa, a violar, inclusive, o princípio da indisponibilidade dos

bens e do interesse público. Ressaltando que isso não significa que o legislativo não possa,

com a edição de lei regulamentadora, entender por configurar o movimento grevista como

hipótese de interrupção do contrato de trabalho.

Ademais destacou que a Constituição Federal quando assegurou aos servidores

públicos o exercício do direito de greve, não garantiu que fosse mantido o pagamento de

salários durante o período do movimento, onde trouxe alguns argumentos a justificar o

desconto, são eles: i) a manutenção do serviço público de forma contínua e eficiente interessa

a toda a coletividade; ii) as referidas estabilidade e efetividade do servidor público também

pesam sob o aspecto político e estratégico a favor do servidor, que não pode ser - em princípio

- demitido e pode continuar a exercer pressão junto aos dirigentes após o período grevista;iii)

alguns servidores, por prestarem serviços uti universi, estão menos sujeitos a sofrer cobranças

diretas da coletividade para o pronto retorno às suas respectivas atividades.

Sendo assim mencionou a questão do fundo de greve, onde pontuou que em países

como Reino Unido, França, Canadá, Espanha e Portugal este fundo garante a reposição

salarial para os dias em que este encontra-se no exercício da greve, e que no Brasil desde a

década de 80 intensificou-se a criação deste fundo, devendo os servidores usufruírem dele

para os dias em que forem descontados.

Dessa forma iniciou a conclusão de seu voto no sentido de que a regra há de ser o

desconto dos dias não trabalhados. Tratando-se de uma opção vinculante e não pode o gestor

abrir mão disso, sob pena de violar o princípio da legalidade. Ponderando, contudo, que é uma

discricionariedade administrativa do administrador público aceitar a compensação dos dias e

horas paradas ou mesmo o parcelamento dos descontos, os quais poderão ser objeto de

negociação.

Ante o exposto, o ministro deu provimento ao recurso para denegar a segurança e

aderindo à proposta formulada pelo Ministro Roberto Barroso, votou para que seja fixada a

seguinte tese de repercussão geral:

A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso

Page 23: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

22

de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público.32

b) Ministro Edson Fachin

O Ministro iniciou seu voto apresentando as peculiaridades presentes na relação de

trabalho na iniciativa privada e no serviço público, onde pontuou que na primeira quando um

funcionário opta pelo exercício do direito de greve há um prejuízo imediato para o

empregador, o qual se vê compelido a escutar as reivindicações da categoria e buscar uma

solução célere para a contenda. Já na administração pública, pontuou o ministro, quando um

servidor opta por aderir ao movimento paredista não há prejuízo imediato algum para o gestor

público, o qual não se vê compelido a negociar rapidamente e em muitos casos a opção do

administrador é postergar ao máximo a negociação, pelas mais diversas razões.

Por conseguinte, destacou que o tema merece ponderações cuidadosas da Suprema

Corte, uma vez que a adesão de servidor a movimento grevista não pode representar uma

opção economicamente intolerável ao grevista e ao respectivo núcleo familiar.

Por fim ponderou que caso fosse decidido pelo corte imediato da remuneração do

servidor que opta por aderir ao movimento paredista estar-se-ia praticamente aniquilando o

direito de greve no serviço público.

Ante o exposto, o ministro negou provimento ao recurso para conceder a segurança,

sendo assim, concluiu como tese jurídica, a ser fixada neste Tema de sistemática da

repercussão geral:

A suspensão do pagamento de servidores públicos que aderirem a movimento paredista exige ordem judicial que reconheça a ilegalidade da greve, em concreto, ou fixe condições para o exercício deste direito, nos termos da Lei n° 7.783 de 28 de junho de 1989 e com o menor prejuízo possível aos beneficiários dos serviços públicos afetados.33

32 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em:<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13866341> p. 80, acesso em 28 de abril de 2018; 33 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em:<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13866341> p. 84 e 85, acesso em 28 de abril de 2018;

Page 24: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

23

c) Ministro Luís Roberto Barroso

Após a vista dos autos pelo Ministro Luís Roberto Barroso foi retomado o julgamento

em 27 de outubro de 2016, onde o mesmo iniciou o seu voto fazendo um breve relato do que

já havia sido discutido anteriormente no bojo do recurso, e de antemão externa seu

posicionamento no sentido de ser favorável ao corte de ponto imediato dos servidores que

optam por aderir ao movimento paredista.

Neste contexto expõe sua preocupação com o usuário do serviço público que é o

principal prejudicado com a greve no âmbito da Administração Pública, onde junta decisões

proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal entendendo ser

cabível os descontos da remuneração do servidor público, durante os dias que se encontra no

exercício da greve e que não cabe ao judiciário intervir nesta seara, pois é discricionária a

decisão do gestor público que opta pelo desconto dos dias paralisados ao invés de aceitar a

compensação.

Para contra-argumentar os pontos trazidos pelo Ministro Edson Fachin, que possui

entendimento diverso do apresentado pelo relator, destacou que se precisa trabalhar com a

premissa de um poder público interessado em não ter seus serviços interrompidos em desfavor

da população e, portanto, verdadeiramente empenhado em evitar o sacrifício e o sofrimento

que é causado à sociedade pela interrupção de tais serviços.

Seguindo na argumentação apresentou uma inovação jurisprudencial adotada pela

Corte, batizada de solução intermediária para os casos em que a greve se prolongue por

muitos dias, visando mitigar os prejuízos impostos à classe trabalhadora, visto que o desconto

integral dos dias de paralisação poderá acarretar ônus excessivo ao trabalhador e prejuízos à

sua sobrevivência e a de sua família, onde tem autorizado, nesses casos, a compensação de

50% dos dias parados, sendo, contudo, cabível o desconto salarial de 50% durante estes dias.

Ante o exposto, o ministro deu provimento ao recurso para denegar sua segurança e

votando em que seja formulada a seguinte tese de repercussão geral:

A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso

Page 25: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

24

de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público.34

Por derradeiro ressaltou que defende a possibilidade de implementação, pelo tribunal

competente, da decisão intermediária, a qual determine o corte parcial e/ou a compensação

parcial dos dias de paralisação, em caso de greve de longa duração, em que haja indícios de

que o próprio poder público: i) esteja se recusando a negociar com os servidores, ii) esteja

recalcitrante na efetiva busca de acordo ou iii) pareça beneficiar-se, por qualquer razão, em

termos imediatos, com a permanência da paralisação. Onde tal decisão deve ter o propósito de

distribuir os ônus da greve entre poder público e servidor, de forma a provocar a superação de

impasses que ensejem paralisações prolongadas.

d) Ministro Teori Zavascki

O Ministro iniciou seu voto argumentando que a decisão proferida no bojo dos

Mandados de Injunção n° 708/DF35 e 712/PA36 onde reconheceu o direito de greve aos

servidores públicos e definiu pela aplicação subsidiária das Leis n° 7.701 de 21 de dezembro

de 1988 e 7.783 de 28 de junho de 1989 aos movimentos paredistas no âmbito da

Administração Pública, aduzindo que tal sentença possui caráter normativo, pois cria toda

uma base legal, não apenas de Direito material, mas de Direito processual para o tema.

Ademais esta possui eficácia erga omnes.

Nesta toada, justamente por aplicar a lei da iniciativa privada, sustenta o ministro que

deve haver o corte de ponto dos dias em que o servidor estiver no exercício do direito de

greve, conforme aduz o mandamento legal, ressalvando, contudo, os casos em que a greve

seja motivada no atraso de pagamento ou por outras situações excepcionais.

34 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em:<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13866341> p. 124, acesso em 28 de abril de 2018; 35 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 708/Distrito Federal, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28MI%24%2ESCLA%2E+E+708%2ENUME%2E%29+OU+%28MI%2EACMS%2E+ADJ2+708%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/chjgwcv>, acesso em 19 de março de 2018. 36 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 712/Pará, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em:<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=712&classe=MI&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=M>, acesso em 19 de março de 2018.

Page 26: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

25

Ante o exposto o ministro acompanhou o voto do relator para dar provimento ao

recurso extraordinário negando-lhe a segurança.

e) Ministro Gilmar Mendes

O ministro iniciou seu voto destacando que os vencimentos são devidos em razão de

uma prestação de serviços, e que o Ministério Público ajuíza demasiadamente ações de

improbidade administrativa para quaisquer situações que impliquem em prejuízo para a

Administração Pública, porém queda-se inerte para os casos em que servidores estão em

greve a mais de quatro meses, em que citou o exemplo da Universidade de Brasília,

questionando tratar-se de greve ou alguma licença remunerada.

Ato contínuo numa perspectiva de direito comparado citou o modelo alemão em que

há servidores enquadrados na categoria de Beamter e o Angestellter. O Angestellter faz greve;

o Beamter, não. Porque é estável, aduzindo assim que a rigor o funcionário público no mundo

afora não faz greve.

Ante o exposto o ministro acompanhou o voto do relator para dar provimento ao

recurso extraordinário negando-lhe a segurança.

f) Ministra Rosa Weber

A ministra iniciou seu voto aduzindo ser contrária ao corte imediato do ponto do

servidor que opta pela adesão ao movimento paredista, pois entende que a consagração de

uma tese de que é dever o corte do ponto - dever do administrador público -, em última

análise, redunda numa negação do próprio direito de greve, que foi assegurado como direito

fundamental também ao servidor público pela nossa lei Fundamental.

Neste diapasão se manifestou no sentido de que seja fixada a seguinte tese:

A suspensão do pagamento de servidores públicos que aderirem a movimento paredista exige ordem judicial que reconheça a ilegalidade da greve em concreto, ou fixe condições para o exercício deste direito, nos termos da Lei nº 7.783 de 28 de junho de 1989; e com o menor prejuízo possível aos beneficiários dos serviços públicos afetados.37

37SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em:<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13866341> p. 148, acesso em 28 de abril de 2018;

Page 27: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

26

Sustentando que aprovar a tese nos moldes proposto pelo relator será o mesmo que

negar o direito de greve ao servidor.

Ante o exposto, a ministra acompanhou a divergência negando provimento ao recurso

para conceder sua segurança.

g) Ministro Marco Aurélio

O ministro apresentou seu voto de forma sucinta e objetiva onde trouxe à baila o fato

de quando o constituinte previu esse direito – ligado à dignidade do prestador dos serviços,

que é o direito à greve –, assim o fez para autorizar a paralisação como recurso extremo para

alcançar-se algum direito que não está sendo reconhecido – é essa a presunção.

Sendo assim sustentou que na forma que estão inclinados a decidir estarão

simplesmente fulminando o direto constitucional à greve, pois, dizer que, desde o primeiro

dia, o empregador está não apenas autorizado, mas tem o dever – como arguiram em Plenário

– de cortar os salários. Isso é uma coação política. É exercício de um direito por mão própria,

o que não pode haver.

Por fim destacou que o exercício de um direito não pode implicar, de início, prejuízo,

nessa área sensível, que é a do sustento próprio e da respectiva família.

Ante o exposto, o ministro acompanhou a divergência negando provimento ao recurso

para conceder sua segurança.

h) Ministro Luiz Fux

O ministro iniciou seu voto aduzindo que a questão central do recurso em epígrafe

é de quem deve bancar a greve. Onde apontou que na iniciativa privada o responsável por

bancar os dias de paralisação é o empregado, que já possui ciência desde o momento que

inicia a greve que lhe serão descontados o período de manifestação, dessa forma se

prepara para tal. Já na administração publica, pontuou o ministro, quem banca é a

sociedade, visto que são suspensos serviços públicos que são subsidiados através de

impostos pagos pelo cidadão.

Nesta toada ele destaca o artigo 9°, da Constituição Federal o qual prevê: “É

assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a

Page 28: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

27

oportunidade de exercê-lo [...]". Nestes termos, ressalta a parte do texto que apresenta

competir ao servidor à decisão da oportunidade de exercer o direito, reflete no fato de que

este ensejará na suspensão dos pagamentos durante o período.

Por fim ressalta que antevendo ao momento difícil por conta da crise, e

consequentemente, o aumento dos movimentos paredistas, a seu ver, a opção pelo corte

imediato da remuneração é a que melhor resolve a questão da greve no âmbito do serviço

público.

Ante o exposto o ministro acompanhou o voto do relator para dar provimento ao

recurso extraordinário negando-lhe a segurança.

i) Ministro Ricardo Lewandowski

O ministro iniciou seu voto apresentado o fato de que a Constituição Federal

assegurou o exercício da greve aos servidores públicos, porém tal fato depende de lei

regulamentadora, a qual até o presente não foi editada pelo Congresso Nacional. Logo não há

regramento algum que autorize o desconto da remuneração no momento em que for

deflagrada a greve.

Nesta toada citou o fato de que o Supremo ao julgar os mandatos de injunção ordenou

que fosse aplicada a Lei n° 7.783 de 28 de junho de 1989 que rege a greve no setor privado,

para as paralisações no âmbito público.

Por conseguinte pela leitura do artigo 7° da Lei n° 7.783 de 28 de junho de 1989,

temos que:

Observadas às condições previstas nesta Lei, a participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho.38

Dessa forma as relações obrigacionais durante o período devem ser regidas por

acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça Comum (Estadual ou Federal),

portanto, sustentou o ministro, ressalvados os casos dos serviços ou atividades essenciais,

elencados nos artigos 10 e 11da Lei n° 7.783 de 28 de junho de 1989, nos quais há

impedimento legal para a sua paralisação, nos residuais é possível a deflagração da greve sem

38 BRASIL, Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.htm>,acesso em 28 de abril de 2018;

Page 29: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

28

corte imediato da remuneração, e posteriormente, após levado ao conhecimento do judiciário

seja constatado a ilegalidade do movimento, aí sim se torna lícito o desconto.

Ante o exposto, o ministro acompanhou a divergência negando provimento ao recurso

para conceder sua segurança.

j) Ministra Cármen Lúcia (Presidente)

A ministra iniciou seu voto destacando que o direito de greve assegurado aos

servidores públicos não é estabelecido sem limites de todos os direitos. Ressaltou o fato de

terem estabelecido que o desconto não se realizará nos casos em que tiver sido decorrente,

aquele movimento, por condições criadas pela própria Administração Pública, sendo esta uma

forma de modular e adequar a legislação privada aplicada com as características do serviço

público, até que sobrevenha lei própria regulamentando o tema.

Ante o exposto a ministra acompanhou o voto do relator para dar provimento ao

recurso extraordinário negando-lhe a segurança.

2.1. TESE DEFINIDA A PARTIR DO JULGAMENTO DO RECURS O

Apesar de ter havido divergência entre ministros em relação ao voto do relator, estes

restaram-se vencidos, prevalecendo a seguinte tese com repercussão geral reconhecida, que

passa a valer para os gestores públicos e Tribunais brasileiros quando se deparem com uma

situação envolvendo greve no serviço público:

A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público.39

39 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em:<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13866341> p. 176, acesso em 28 de abril de 2018;

Page 30: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

29

3. O ATIVISMO JUDICIAL E SUA UTILIZAÇÃO PELO SUPREM O TRIBUNAL

FEDERAL NO JULGAMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456.

O presente capítulo apresenta o conceito de ativismo judicial externado por diferentes

doutrinadores, adentrando em seguida no mérito se a decisão proferida pelo Supremo Tribunal

Federal no julgamento do Recurso Extraordinário n° 693.45640 foi carreada por este viés

ativista.

Neste contexto, em busca de conhecer o entendimento de quem estuda a questão do

ativismo judicial, foi realizada uma entrevista com o Doutor em Direito, Professor Adjunto

Dr. Heron Abdon Souza, da Universidade Federal Fluminense, que ministra aula no Curso de

Direito, com lotação no Instituto de Ciências da Sociedade de Macaé e exercício no

Departamento de Direito de Macaé, onde assume uma das cadeiras de Direito Constitucional

do curso, há mais de cinco anos no cargo.

Na ocasião o entrevistado falou sobre o conceito de ativismo judicial e suas variações

técnicas doutrinárias; adentrando no fato se a decisão proferida pelo Supremo Tribunal

Federal no Recurso Extraordinário n° 693.456, possui ou não um viés ativista; se tal decisão

infringe a teoria da separação dos poderes; se o Supremo quando decidiu desta forma estava

legislando sobre o tema; e por fim externou sua opinião sobre se a regulamentação da data

base, prevista no art. 37, X da Constituição Federal, que também depende de lei para produzir

seus efeitos, surtiria mais benefícios do que a edição de uma norma para greve no serviço

público.

3.1. Ativismo Judicial

O ministro Barroso descreve no texto Judicialização, Ativismo Judicial e Legitimidade

Democrática41 a conceituação de ativismo judicial, a qual merece ser transcrita:

A idéia de ativismo judicial está associada a uma participação mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos valores e fins constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação dos outros dois Poderes. A postura ativista se

40SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em:<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13866341> , acesso em 28 de abril de 2018; 41BARROSO, Luis Roberto, em Judicialização, Ativismo Judicial e Legitimidade Democrática. Disponível em <http://www.direitofranca.br/direitonovo/FKCEimagens/file/ArtigoBarroso_para_Selecao.pdf>,acesso em 22 de novembro de 21017.

Page 31: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

30

manifesta por meio de diferentes condutas, que incluem: (i) a aplicação direta da Constituição a situações não expressamente contempladas em seu texto e independentemente de manifestação do legislador ordinário; (ii) a declaração de inconstitucionalidade de atos normativos emanados do legislador, com base em critérios menos rígidos que os de patente e ostensiva violação da Constituição; (iii) a imposição de condutas ou de abstenções ao Poder Público, notadamente em matéria de políticas públicas.

Já Bulos42 advoga que:

Ativismo judicial é o ato em que os juízes criam pautas legislativas de comportamento, comose fossem os próprios membros do Poder Legislativo. Trata-se de um perigoso veículo de fraude à constituição, podendo acarretar mutações inconstitucionais, afinal um órgão do Poder adentra na esfera do outro, ao arrepio da cláusula da separação de Poderes.

Streck prescreve em seu texto: Entre o Ativismo e a Judicialização da Política: a difícil

concretização do direito fundamental a uma decisão judicial constitucionalmente adequada. 43

a seguinte definição:

O ativismo representa um tipo de decisão na qual a vontade do julgador substitui o debate político (seja para realizar um pretenso “avanço”, seja para manter o status quo). Ativismo é, assim, um behaviorismo judicial. (...) O ativismo sempre é ruim para a democracia, porque decorre de comportamentos e visões pessoais de juízes e tribunais, como se fosse possível uma linguagem privada, construída à margem da linguagem pública.

No caso em tela estamos diante de uma situação em que a Constituição Federal

assegura aos servidores públicos o direito de exercer a greve, porém condiciona seu exercício

ao estabelecimento de uma lei regulamentadora, tratando de uma norma de eficácia limitada, a

qual segundo sustenta Lenza, em sua obra:

Trata-se de norma que, de imediato, no momento que a Constituição é promulgada, ou entra em vigor, não têm o condão de produzir todos os seus efeitos, precisando de uma lei integrativa infraconstitucional, ou até mesmo de integração por meio de emenda constitucional, são, portanto, de aplicabilidade indireta, mediata e reduzida.44

Diante deste contexto, percebendo a inércia do poder legislativo em regulamentar a

greve no âmbito do serviço público, num primeiro momento o Supremo Tribunal Federal ao

42 BULOS, Uadi Lammego. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 442 43 STRECK, Lenio em Entre o Ativismo e a Judicialização da Política: a difícil concretizaçãodo direito fundamental a uma decisão judicial constitucionalmente adequada. Disponível em <https://editora.unoesc.edu.br/index.php/espacojuridico/article/viewFile/12206/pdf> acesso em 25 de abril de 2018. 44 LENZA, Pedro. Direito Penal Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 251

Page 32: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

31

julgar os Mandados de Injunção n° 670/ES45, 708/DF46 e 712/PA47estabeleceu que deveria ser

aplicada a Lei n° 7.783 de 28 de junho de 1989, a qual dispõe sobre a greve na iniciativa

privada, para os casos em que servidores públicos optassem por exercer o movimento

paredista, até que sobreviesse uma lei regulamentadora do tema.

Sendo este o entendimento que prevalecia na Corte até o julgamento do Recurso

Extraordinário n° 693.456,48 o qual teve a sua repercussão geral reconhecida, onde a tese ali

definida é a que passou a valer para os gestores públicos e Tribunais quando se depararem

com situações que envolvam greve de servidores públicos, até que os nossos legisladores

rompam a inércia legiferante e criem uma norma regulamentadora do instituto.

Neste diapasão um tema que estava pendente de regulamentação, passa, após uma

decisão proferida pela Suprema Corte, a ter um norte, que por sinal prejudica o exercício da

greve por parte dos servidores, pois agora no marco inicial do movimento paredista já irá

implicar em afetação numa área tão sensível ao trabalhador que é a sua remuneração, visto

que se trata de uma verba de natureza alimentar. Cabendo ao grevista a decisão política sobre

conveniência e oportunidade de reivindicar, ciente de não receberá durante estes dias.

3.2. Entrevista com o professor adjunto Dr. Heron Abdon de Souza, da cadeira de

Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense

Neste tópico, apresento uma entrevista realizada com o Doutor em Direito, Professor

Adjunto Dr. Heron Abdon de Souza, da Universidade Federal Fluminense, que ministra aula

no Curso de Direito, com lotação no Instituto de Ciências da Sociedade de Macaé e exercício

45SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 670/Espírito Santo, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em:<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28MI%24%2ESCLA%2E+E+670%2ENUME%2E%29+OU+%28MI%2EACMS%2E+ADJ2+670%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/cswygf3>, acesso em 19 de março de 2018. 46SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 708/Distrito Federal, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28MI%24%2ESCLA%2E+E+708%2ENUME%2E%29+OU+%28MI%2EACMS%2E+ADJ2+708%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/chjgwcv>, acesso em 19 de março de 2018. 47SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 712/Pará, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em:<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=712&classe=MI&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=M>, acesso em 19 de março de 2018. 48SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24%2ESCLA%2E+E+693456%2ENUME%2E%29+OU+%28RE%2EACMS%2E+ADJ2+693456%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/apu9638>, acesso em 19 de março de 2018.

Page 33: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

32

no Departamento de Direito de Macaé, onde assume uma das cadeiras de Direito

Constitucional do curso.

Isto posto passa-se a expor as perguntas apresentadas na entrevista com as respectivas

respostas, fazendo uma interlocução ao final de cada questão com o posicionamento

doutrinário, jurisprudencial e o posicionamento do autor.

• Qual a definição de ativismo judicial que o Sr. reconhece como mais

adequada? Existem variações técnicas-doutrinárias?

Resposta: Esta é uma forma do judiciário assumir o protagonismo em questões que os

outros poderes não assumem, quando o legislativo se omite, é inerte. O mesmo vale para o

poder executivo, nestas situações o judiciário acaba assumindo este protagonismo, tornando

pró-ativo daí o nome ativismo.

Quanto às variações técnicas-doutrinárias elas existem, por exemplo, no ativismo ligado ao

neoconstitucionalismo onde se busca a efetividade dos direitos fundamentais, que é o mais

utilizado, divulgado e abordado na doutrina de Luis Roberto Barroso, Ana Paula Barcelos,

dentre outros doutrinadores, pois é aquele ativismo que busca a concretude das normas

constitucionais especificamente nos direitos fundamentais e alguns princípios como a

dignidade da pessoa humana, sendo este o mais conhecido.

Essa busca por efetividade de alguns princípios elencados no corpo constitucional é

um tanto perigosa, pois para alcançá-la é necessário invadir a esfera de outro poder, neste

diapasão sustenta Bulos49:

O ativismo judicial é uma ultrapassagem das linhas demarcatórias da função judiciária, pois o juiz desborda o núcleo essencial da jurisdição. Em vez de dizer o direito nos conflitos de interesse, passa a criar comandos normativos, via sentenças judiciais, indo muito além da criatividade natural que permeia o múnus judicante.

Logo este empenho em alcançar a efetividade de normas e princípios, por meio da

manifestação do judiciário, deve ser analisado com temperança, pois implica na infração a

cláusula de separação dos poderes.

• A decisão do Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário n° 693.456,

o qual teve a sua repercussão geral reconhecida, onde foi formulada a seguinte tese:

49 BULOS, Uadi Lammego. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 442

Page 34: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

33

A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público.

Pode ser caracterizada como um ativismo judicial?

Resposta: Sim, pode ser considerada como uma atitude pró-ativa que não é novidade

no Supremo Tribunal Federal neste campo do direito de greve. O que o Supremo realizou,

nada mais foi, do que aproximar cada vez mais o tema greve relacionado à iniciativa privada à

greve do serviço público, o que não é novidade, em 2007 a Corte já havia tomado decisão

neste sentido em três Mandados de Injunção julgados em conjunto, onde entendeu que no que

coubesse a lei da iniciativa privada que trata da greve, que é uma lei de 1989, deveria ser

aplicada também para a greve do servidor público, isso em 2007, ou seja, a mais de dez anos,

o Supremo agora mantém esse ativismo buscando soluções relacionando com a iniciativa

privada, então o que se fez agora é a continuidade da aproximação do tema com a iniciativa

privada, corte de ponto, desconto de dias que é o usual na seara privada e agora está se

aplicando no setor público, ou seja não é uma novidade, mas sim uma sequencia do que o

Supremo já havia iniciado em 2007, quando determinou que a lei de greve privada fosse

aplicada ao setor público.

Entrevistador: Contudo a sistemática da greve na iniciativa privada é diferente da que

ocorre no setor público?

Resposta: Sim, a lógica da greve, historicamente falando, a paralisação do proletariado

é para produzir um prejuízo ao capital, essa é a lógica do movimento, então a lógica do

sentido de paralisação dos serviços é de pressionar a burguesia para que ela conceda algum

tipo de benefício ou direito, afim de que mantenha seus lucros com a produção, agora no setor

público isso perde a certa lógica porque não há a figura do burguês, “o empregador” é o

Estado e os servidores públicos servem a ele e a população na prestação da atividade fim, logo

perde um pouco o sentido quando se fala no corte de ponto, porque este prejuízo não está

atingindo a um burguês propriamente dito, mas sim à sociedade que tem a interrupção dos

serviços de transporte, educação e saúde, por exemplo.

Page 35: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

34

Então não há uma perda financeira ao burguês, a um detentor do meio de produção,

como no caso do corte de ponto na greve da iniciativa privada, o que há é uma perda na

qualidade ou até a execução de um serviço público e muitos deles essenciais.

Isso vai de encontro ao entendimento que se busca explorar, pois quando o servidor

público entra em greve não há prejuízo direto para o gestor, mas sim para o usuário

consumidor do serviço público que tem a prestação interrompida, diferente da situação

quando envolve greve na iniciativa privada em que os prejuízos são sentidos imediatamente.

• Na sua visão, essa decisão infringiu a teoria da separação dos poderes?

Resposta: Essa questão da teoria da separação dos poderes o Supremo vem mitigando-

a em várias outras decisões, onde a Corte muitas vezes impõe um prazo para o outro poder

atuar, deixando este explícito na decisão, contudo no próprio texto informa que não está

ferindo a separação, pois não está impondo nada, então veja as contradições dizem que não é

uma imposição, mas pela simples leitura do parágrafo anterior da decisão é perceptível a

ordem emanada.

Então essa linha de estar ingressando na esfera de outro poder é muito tênue, e a régua

que mede isto é a do judiciário, logo ele tem condições por suas forças de ingressar em outra

seara e ao mesmo tempo dizer que não está fazendo.

Se o judiciário que tem a função de realizar esta filtragem/análise se um poder está

ingressando na esfera do outro, não o faz, confirmando esta atitude como legal/legítima, quem

mais virá?

Nesta mesma linha já se pronunciou o Ministro Celso de Melo, no julgamento do

Mandado de Segurança n°: 27.931-150, conforme trecho de sua decisão:

(...) Interpretações regalistas da Constituição - que visem a produzir exegeses servilmente ajustadas à visão e à conveniência exclusivas dos governantes e de estamentos dominantes no aparelho social - representariam clara subversão da vontade inscrita notexto de nossa Lei Fundamental e ensejariam, a partir da temerária aceitação da soberania interpretativa manifestada pelos dirigentes do Estado, a deformação do sistema de discriminação de poderes fixado, de modo legítimo e incontrastável, pela Assembléia Nacional Constituinte.(...)

50 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Mandado de Segurança N° 27.931-1, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28MS%24%2ESCLA%2E+E+27931%2ENUME%2E%29+NAO+S%2EPRES%2E&base=baseMonocraticas&url=http://tinyurl.com/b2mgpxv>, acesso em 07 de junho de 2018;

Page 36: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

35

Isso demonstra o quão pernicioso é o ativismo judicial presente em nosso judiciário,

visto que tal atitude implica na invasão na esfera de outro poder e o pior de tudo é a falta de

reconhecimento pelo próprio poder, que suas atitudes são carreadas por este viés. O pior cego

é aquele que se recusa a ver!

• Quando o Supremo Tribunal Federal determina que no marco inicial da greve

deva haver o corte da remuneração dos dias parados pelos servidores, ele está “legislando”

sobre o assunto?

Resposta: Está realizando analogia com o setor privado, criando uma obrigação nova.

O Supremo nunca deveria, pelo menos em tese, atuar como legislador positivo, teria de atuar

como legislador negativo, ou seja, quando há uma legislação que já esta em pleno vigor e a

Corte faz uma análise sob a sua viabilidade de aplicação e continuidade de seus efeitos, em

último senso seria a análise de sua constitucionalidade, para que continue a viger. No entanto

o Supremo vem realizando uma atitude como legislador positivo, ou seja, ele produz a norma,

dita e cria regra jurídica que é uma função típica, primado do poder legislativo.

Contudo, a Corte só adquire esta capacidade diante da inércia, omissão e muitas vezes

em face da conveniência do poder legislativo, que não quer se expor na tomada de algumas

decisões, ou seja, legislar sobre determinado tema que é polêmico e que poderá gerar um

desgaste pessoal ou partidário, que significará em perda de votos.

Diante disto passa-se a responsabilidade decisória para o poder judiciário que não tem

votos, então muitas vezes há uma conveniência do poder legislativo para que o tema seja

regulamentado pelo judiciário, para evitar a perda de nicho eleitoral.

Por exemplo, a questão que está sendo decidida sobre o foro por prerrogativa de

função, onde o legislador possui plena condição de restringir, ampliar ou manter como está,

inclusive há proposta de emenda constitucional tramitando em relação a isso, só que como o

legislador não se define se vai haver ou não esta restrição do foro, visto que acaba por ir

contra os seus interesses, pois não querem perder o foro privilegiado, passa-se a primazia

decisória para o judiciário.

Esta é uma situação muito preocupante, pois o ativismo judicial na maioria das vezes

se dá por conta da inércia do nosso legislativo, o que importa na invasão de um poder na

esfera do outro, fato que deveria ser plenamente combatido pelos próprios membros do

legislativo, que não são vinculados as decisões proferidas pelo judiciário em sede de ativismo,

Page 37: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

36

os quais poderiam editar normas fazendo com que a decisão perde-se sua eficácia, porém,

como bem pontuou o entrevistado, em muitos casos é mais conveniente para os membros do

legislativo esta invasão para evitarem um desgaste político.

• Nos casos de normas com eficácia limitada, previstas na Constituição, em que

o legislativo se mantém inerte na regulamentação, como ocorre com o direito de greve para os

servidores públicos, o qual é assegurado pela carta, mas já se passaram mais de 28 anos de sua

promulgação e não houve até o presente a edição de lei. Há algum meio, que não seja pelo

ativismo judicial, para coibir esta mora? Caso haja, como se dá este processo?

Resposta: Sim, inclusive já foi utilizado por meio do Mandado de Injunção. São duas

peças que são utilizadas para combater a síndrome da inefetividade das normas

constitucionais de eficácia limitada, são elas: Ação Direta de Inconstitucionalidade por

Omissão no controle abstrato e no caso da pergunta, especificamente, o Mandado de Injunção

que é utilizado para combater a inércia legiferante, isso foi usado em 2007, no julgamento de

três Mandados de Injunção que questionavam a ausência de norma regulamentadora da greve

no setor público, os quais foram julgados em conjunto pelo Supremo e o interessante que ali

ficou caracterizado a teoria concretista, ou seja, a concretude da norma constitucional, ela tem

que produzir efeito concreto.

Repare que a norma constitucional fala em lei específica que regulamentaria a greve

no setor público, estamos tratando aqui do art. 37, VII da Constituição, e este dispositivo fala

em lei específica, e tudo que a Corte decidiu em 2007 foi na contramão do próprio comando

constitucional, pois tudo que a lei da iniciativa privada de 1989 não é, é ser específica para o

setor público, mas após vinte anos de espera o Supremo assume o protagonismo e adota essa

analogia no que couber na lei de greve da iniciativa privada será aplicado aos servidores

públicos, essa é uma teoria concretista.

Aplicou-se também o efeito erga omnes para essa decisão, isso é interessante dizer,

por que o Mandado de Injunção tutela direitos próprios, individuais, então, em tese, deveria

produzir efeito inter partes, ou seja, para aquele grupo de servidores que ingressaram com a

ação.

Neste caso nota-se que há um meio de combater a inércia do poder legislativo, o qual

inclusive já foi utilizado pela Corte, porém, ao que tudo indica não surtiu muitos efeitos, pois

passados mais nove anos, desde a primeira decisão sobre o tema nos Mandados de Injunção

Page 38: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

37

n° ° 670/ES51, 708/DF52 e 712/PA53, sem que o Congresso se manifestasse em relação ao

direito de greve que é assegurado aos servidores públicos, o Supremo mais uma vez assume o

protagonismo e dessa vez decide por inibir a realização da greve pelos servidores, visto que

proferiu uma sentença normativa com repercussão geral reconhecida em que ordenou o corte

da remuneração daqueles que optarem por aderir ao movimento paredista, assim que lhe

iniciarem, independente de ter sido o movimento considerado legal ou não.

• As greves no serviço público geralmente se dão por conta de melhores

condições de trabalho e aumento de remuneração. Você entende que o estabelecimento da

data-base, que é previsto no art. 37, X, da CF, o qual estabelece a revisão geral anual dos

salários e condições de trabalho no âmbito da administração pública, surtiria mais efeitos

benéficos do que a regulamentação da greve?

Resposta: Não inibiria a greve, pois ela pode ocorrer não simplesmente por um pleito

de aumento remuneratório, podendo ser realizada por outros elementos motivadores. Se este

dispositivo fosse regulamentado e tornasse obrigacional o aumento remuneratório anual,

inibiria um dos fatores motivadores da greve que é o aspecto salarial, mas não coibiria, pois

existe uma série de outros elementos que motivam o servidor a paralisar os seus serviços.

Cumpre destacar que o legislador teve uma pretensão muito expansiva ao elaborar este

inciso, pois uma legislação que venha a estabelecer a uniformidade das condições de trabalho

em todo o serviço público é algo mais difícil de ser visualizado, mas é possível diminuir o

elemento motivador, mas as condições de trabalho que são razoáveis para um setor pode não

ser para outro. Não se sabe se diminuiria a motivação atendendo os interesses do Estado ou

dos servidores, por que também não se pode utilizar dessa garantia como discurso do Estado

para questionar as paralisações dos servidores. Por que uma coisa é a legislação formal e outra

51SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 670/Espírito Santo, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em:<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28MI%24%2ESCLA%2E+E+670%2ENUME%2E%29+OU+%28MI%2EACMS%2E+ADJ2+670%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/cswygf3>, acesso em 19 de março de 2018. 52SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 708/Distrito Federal, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28MI%24%2ESCLA%2E+E+708%2ENUME%2E%29+OU+%28MI%2EACMS%2E+ADJ2+708%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/chjgwcv>, acesso em 19 de março de 2018. 53SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 712/Pará, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em:<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=712&classe=MI&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=M>, acesso em 19 de março de 2018.

Page 39: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

38

são os seus efeitos materiais, dizer que todos devem ter as mesmas condições de trabalho é

meramente formal, os efeitos materiais podem ser outros, do que adianta uma legislação

garantindo ótimas condições de trabalho para o serviço público, quando materialmente isso

não ocorre.

A regulamentação da data base pode até não erradicar a adesão de servidores a

movimentos paredistas, mas, apesar da discordância do entrevistado, acredita-se que serviria

como fator de grande inibição, pois por uma simples pesquisa sobre as últimas greves

realizadas por servidores públicos, na sua quase totalidade, a pauta de reivindicação, que leva

a deflagração do movimento, é a busca de melhor remuneração e condições de trabalho, o que

é previsto no inciso que dispõe sobre a data base.

Dessa forma acredita-se que a sua regulamentação iria surtir mais efeitos benéficos

para os servidores públicos, do que uma eventual criação da lei de greve para o serviço

público.

Page 40: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

39

4. PESQUISA JURISPRUDENCIAL SOBRE A APLICABILIDADE DA DECISÃO

EM GREVES DE SERVIDORES PÚBLICOS OCORRIDAS APÓS O JULGAMENTO

DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456.

Neste tópico apresenta-se uma pesquisa jurisprudencial sobre os julgamentos

ocorridos após o julgamento do Recurso Extraordinário n° 693.45654, em que ordenou aos

gestores públicos que procedam com o corte da remuneração dos dias em que seus servidores

optarem por aderir ao movimento paredista.

Dessa forma inicia-se pelos julgamentos do Superior Tribunal de Justiça no Agravo

Interno no Recurso Especial n° 1608657 / DF55 e nos Embargos de Declaração na Petição n°

664256, em que é notório que houve o desconto dos dias que os servidores públicos optaram

por aderir ao movimento paredista, conforme ementas abaixo:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N° 03/STJ. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA. GREVE. DESCONTO DOS DIAS PARADOS. POSSIBILIDADE.PRECEDENTES DESTE E. STJ. CONSONÂNCIA COM O ENTENDIMENTO FIRMADO NO JULGAMENTO DO RE N. 693.453-RG PELO STF.AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. Não há que se falar em negativa de prestação jurisdicional, quando não se vislumbra omissão, obscuridade ou contradição no acórdão recorrido capaz de torná-lo nulo, especialmente se o Tribunal a quo apreciou a demanda em toda a sua extensão, fazendo-o de forma clara e precisa, estando bem delineados os motivos e fundamentos que o embasam. 2. O acórdão recorrido está em sintonia com a jurisprudência atual e dominante nesta Corte superior, no sentido de que "é legítimo o ato da Administração que promove o desconto dos dias não trabalhados pelos servidores públicos participantes de movimento grevista, diante da suspensão do contrato de trabalho, nos termos da Lei 8.112/1990, salvo a existência de acordo entre as partes para que haja compensação dos dias paralisados" (REsp n.

54SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24%2ESCLA%2E+E+693456%2ENUME%2E%29+OU+%28RE%2EACMS%2E+ADJ2+693456%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/apu9638>, acesso em 19 de março de 2018. 55 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo Interno no Recurso Especial n° 1608657, julgado em 19 de dezembro de 2016, disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=68243817&num_registro=201601627253&data=20161219&tipo=5&formato=PDF>, acesso em 07 de maio de 2018. 56 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Embargos de Declaração na Petição n° 6642, julgado em 26 de abril de 2017, disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=68243817&num_registro=201601627253&data=20161219&tipo=5&formato=PDF>, acesso em 07 de maio de 2018.

Page 41: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

40

1.616.801/AP, Rel.Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/08/2016, DJe 13/09/2016). 3. No mesmo sentido, recentemente o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE n. 693.456-RG, com repercussão geral reconhecida assentou que "a administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público". (RE 693.456-RG, Rel. Min. Dias Tófolli, Plenário. Julgado em 27/10/2016.Acórdão pendente de publicação). 4. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp 1608657/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/12/2016, DJe 19/12/2016)

(###) EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM PETIÇÃO. DIREITO DE GREVE. AUDITORES-FISCAIS DA RECEITA FEDERAL. DESCONTO DOS DIAS PARADOS.AUSÊNCIA DE CONTRADIÇÃO E OMISSÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO. PRETENSÃO DE REEXAME DA MATÉRIA. IMPOSSIBILIDADE. EMBARGOS REJEITADOS. 1. A contradição impugnável por meio dos embargos de declaração é aquela interna ao julgado, que demonstra incoerência entre as premissas e a conclusão da decisão, e não o alegado erro de julgamento (error in judicando) da Turma julgadora, ao reconhecer a legalidade do movimento grevista, mas, ao mesmo tempo, autorizar o desconto dos dias parados. 2. De ressaltar-se que o entendimento vencedor no acórdão embargado alinha-se perfeitamente à jurisprudência desta Corte e do Supremo Tribunal Federal que, no julgamento do RE n. 693.456-RG, com repercussão geral reconhecida assentou que "a administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público" (RE 693.456-RG, Rel. Min. Dias Tófolli, Plenário.Julgado em 27/10/2016. Acórdão pendente de publicação). 3. Não há como se reconhecer omissão no acórdão embargado no tocante aos motivos que justificavam o desconto dos dias parados se o voto que abriu a divergência expressamente afirmou que o pagamento dos dias de paralisação constitui exceção e depende da demonstração de que o empregador, mediante conduta recriminável ou inerte, contribuiu decisivamente para a deflagração da greve. Se o julgador concluiu pela possibilidade de desconto dos dias parados é porque não identificou, no caso concreto, nenhum indício na conduta do empregador que sinalizasse conduta recriminável. 4. Os embargos de declaração somente se prestam a corrigir error in procedendo e possuem fundamentação vinculada, dessa forma, para seu cabimento, imprescindível a demonstração de que a decisão embargada se mostrou ambígua, obscura, contraditória ou omissa, conforme disciplina o art. 535 do Código de Processo Civil (ou art. 1.022 do CPC/2015), bem como para

Page 42: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

41

sanar eventual erro material.Portanto, a mera irresignação com o resultado de julgamento, visando, assim, a reversão do julgado, não tem o condão de viabilizar a oposição dos aclaratórios. 5. Embargos de declaração do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal rejeitados. (EDcl na Pet 6.642/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/04/2017, DJe 02/05/2017)

Nesta mesma linha segue o entendimento dos Tribunais quando estão a se deparar com

o enfretamento do tema:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. DIREITO DE GREVE. APLICAÇÃO DO ART. 7º DA LEI N.º 7.783/89. DESCONTOS DOS DIAS PARADOS. POSSIBILIDADE. - Em face do disposto no artigo 14 da Lei n. 13.105/2015, aplica-se a esse processo o CPC/73; - Cinge-se a controvérsia à possibilidade da realização de descontos, em folha de pagamento, das faltas praticadas por servidores públicos, em razão de greve; - O direito de greve para os servidores públicos foi assegurado pelo artigo 37, inciso VII, da Constituição Federal de 1988, sendo seu exercício condicionado à elaboração de lei específica; - Ante a inexistência de lei regulamentadora do direito de greve dos servidores públicos, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos Mandados de Injunção n.º 670/ES, 708/DF e 712/PA, posicionou-se no sentido de que, enquanto não suprida lacuna legislativa, serão aplicadas aos servidores as Leis n.º 7.701/1988 e 7.783/89; - A Lei n.º 7.783/89 estabelece que a adesão do trabalhador ao movimento paredista caracteriza a suspensão do contrato de trabalho; - O Supremo Tribunal Federal já firmou entendimento no sentido de que os servidores públicos que aderem ao movimento grevista não fazem jus ao recebimento da remuneração correspondente aos dias parados. Nesse sentido, foi proferida decisão no Recurso Extraordinário (RE) 693456, com Repercussão Geral reconhecida. Outros precedentes; - O desconto não possui efeito disciplinar punitivo, mas tão somente um ônus inerente à greve, em razão da ausência de prestação específica do serviço por parte do grevista, sob pena de se configurar hipótese de enriquecimento sem causa; - A ausência em decorrência da participação em greve configura falta justificada ao serviço, a supressão/redução do pagamento prescinde de prévio processo administrativo, não havendo, deste modo, violação aos princípios da ampla defesa e do contraditório. Precedentes. - Apelação não provida. (TRF-3 - AC: 00118919020044036100 SP, Relator: JUÍZA CONVOCADA NOEMI MARTINS, Data de Julgamento: 08/08/2017, DÉCIMA PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: e-DJF3 Judicial 1 DATA:22/08/2017)57

57 TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO. Apelação Cível n° 00118919020044036100 SP, julgado em 08 de agosto de 2017, disponível em: <https://trf-3.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/499028874/apelacao-civel-ac-118919020044036100-sp/inteiro-teor-499028894?ref=juris-tabs> acesso em 07 de maio 2018;

Page 43: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

42

Dessa forma nota-se que quando os servidores optarem por aderir ao movimento

paredista, estarão expostos a ter o desconto da remuneração durante o período, bastando o

gestor público proceder o corte, como ocorreu nos casos apresentados em que a judicialização

do conflito não inibiu a efetivação do desconto remuneratório.

Contudo, há de se destacar que nem todos os movimentos são judicializados, visto que

muitos gestores ignoram a decisão do Supremo e não promovem o desconto dos dias em que

seus servidores optam por exercer a greve, pois esta decisão de cortar a remuneração envolve

um enorme desgaste político para quem lhe promove.

Page 44: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

43

5. ENTREVISTA COM UM REPRESENTANTE SINDICAL DO SIND ICATO DOS

TRABALHADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – SINTUFF

SOBRE A GREVE E A DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO

JULGAMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 693.456

Neste capítulo apresento uma entrevista realizada com a Dra. Dalila Pinheiro de

Sousa58, advogada militante representante do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade

Federal Fluminense – SINTUFF, em exercício no jurídico do ente há mais de dez anos, sendo

que há quatro anos no cargo de advogada.

Na ocasião a entrevistada externou a sua perspectiva técnica para o instituto da greve;

como é o seu processo de deflagração pelo sindicato que representa; se antes da iniciá-la há

tentativas de negociação com o governo; se este é moroso na busca de negociação; sobre o

fato de o Supremo no julgamento dos Mandados de Injunção n° 670/ES, 708/DF e 712/PA ter

ordenado a aplicação da lei de greve da iniciativa privada, no que coubesse, para as greves do

serviço público, se isso surtiu como uma espécie de regulamentação do instituto; se a falta de

regulamentação da greve no serviço público é mais conveniente para os governantes; se com

o julgamento do Recurso Extraordinário n° 693.45659, que teve a sua repercussão geral

reconhecida, onde ordenou que o gestor público suspenda a remuneração dos servidores que

optarem por aderir ao movimento paredista, surtiu como uma espécie de veto para o exercício

da greve pelos servidores públicos; se o sindicato que representa já enfrentou alguma greve

após essa decisão; e, caso positivo, se houve o desconto; apresentou o posicionamento do

sindicato que representa sobre essa última decisão do Supremo; e por fim, respondeu se a

regulamentação da data-base, que é prevista no art. 37, X, da Constituição Federal, o qual

estabelece a revisão geral anual dos salários e condições de trabalho no âmbito da

administração pública surtiria mais efeitos benéficos do que a regulamentação da greve.

Isto posto passa-se a expor as perguntas apresentadas para a entrevista com as

respectivas respostas, fazendo uma interlocução ao final de cada questão com o

posicionamento doutrinário, jurisprudencial e o posicionamento do autor.

58 A entrevistada autorizou a divulgação do conteúdo na integra da entrevista, conforme documento autorizador que segue nos anexos. 59SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em:<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13866341> , acesso em 28 de abril de 2018;

Page 45: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

44

● Qual a sua percepção técnica para o instituto da greve que é assegurado pela

constituição aos servidores públicos?

Entrevistada: Greve é um instrumento que tem um caráter legal, mas sobretudo um

importantíssimo instrumento político para que se possa negociar reivindicações dos

trabalhadores, por que geralmente estes estão em pé de desigualdade com os seus patrões.

Nesta mesma linha segue o entendimento doutrinário como assevera Cairo Junior60, a

greve é uma forma de autotutela admitida como exceção pelo ordenamento jurídico e é

representada pela paralisação coletiva, pacífica e temporária da prestação de serviço por parte

dos trabalhadores, decidida pela manifestação de vontade da organização sindical, com a

consequente interrupção da atividade empresarial, total ou parcialmente.

Dessa forma observa-se que uma vez decidida pela categoria a deflagração do

movimento paredista, este servirá como principal arma de negociação do trabalhador para

com o seu empregador, na busca de alcançar as reivindicações pretendidas.

● Como se dá o processo de deflagração de uma greve pelo sindicato que a Sra.

representa?

Entrevistada: Primeiro cumpre destacar que existe uma diferenciação entre o setor

público e o privado, pois no setor público não existe uma lei específica que regulamente a

greve, embora já haja um entendimento pacificado da aplicação da lei de greve do setor

privado ao serviço público, no que caiba. Mas voltando a pergunta, no nosso sindicato antes

da deflagração da greve convoca-se uma assembléia da categoria de base, em que é divulgada

uma pauta de reivindicações ou negociações a serem discutidas, ali os membros presentes

votam sobre adesão ao movimento, caso optem pela adesão, a Administração é notificada e só

a partir desse momento é iniciado o movimento paredista e abertura das negociações que se

dão de acordo com a postura da Administração.

60 CAIRO JUNIOR, José. Curso de Direito do Trabalho. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 1128.

Page 46: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

45

Nota-se que o procedimento para deflagração continua a seguir conforme disposto na

Lei n° 7.783 de 28 de junho de 198961, que regulamenta a greve no âmbito da iniciativa

privada, a qual em seu art. 4° caput e § 1°, dispõe:

Art. 4° Caberá a entidade sindical correspondente convocar, na forma de seu estatuto, assembléia geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços. § 1° O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de convocação e o quorum para a deliberação, tanto da deflagração quanto da cessação da greve.

Dessa forma pode-se depreender pela fala da advogada que a entidade sindical que

representa, na falta de norma regulamentadora para a greve no serviço público, continua a se

balizar pela lei de greve da iniciativa privada para orientar a deflagração do movimento.

● Antes do início da greve pelos servidores públicos há tentativas de negociação

com o governo?

Entrevistada: Sempre há, o nosso sindicato tem mais dificuldade de negociar

diretamente com o governo, mas somos representados pelas federações, como a FASUBRA

que busca exaustivamente negociar pautas da categoria que representamos que são as

universidades federais, pois são pautas são comuns. Um exemplo que posso citar é o Decreto

n° 9.262 de 09 de janeiro de 2018 que extingue cargos efetivos vagos e que vierem a vagar

dos quadros de pessoal da Administração Pública Federal, este é um ponto que a federação

busca negociar com o governo e não vem tendo evolução, muitas vezes o governo ou

administração, isso pode se dar em nível local ou nacional, maqueia que está fazendo uma

negociação, inclusive sentando-se à mesa, mas não propõe medidas efetivas, onde não existe

uma negociação, mas sim uma protelação desta possível negociação.

Cumpre ressaltar que este é um ponto sobre o qual a decisão do Supremo Tribunal

Federal no julgamento do Recurso Extraordinário n° 693.456, não se preocupou em abordar,

pois não há previsão de nenhuma punição para o gestor nos casos em que estiver simulando

uma negociação com os servidores sem propor medidas efetivas.

● Em caso positivo? Há mora em negociar por parte dos gestores públicos?

61 BRASIL, lei 7.783 de 28 de junho de 1989, disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7783.htm>, acesso em 23 de maio de 2018.

Page 47: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

46

Entrevistada: Bastante, e justamente por isso a greve é tão importante, pois antes de se

deflagrar uma greve há uma série de tentativas de negociação. Por exemplo, posso citar uma

greve que se deu dentro da Universidade Federal Fluminense pelos seus servidores técnicos

administrativos em busca da garantia das 30 horas de trabalho, que já lhe são assegurados há

décadas e estava na iminência de ser cortada.

Neste caso, durante mais de um ano ficou-se em reuniões setoriais, tentativas de

reuniões com a PROGEPE (Pró Reitoria de Gestão de Pessoas), solicitação de que a

Procuradoria viesse debater o assunto com a categoria, visto que dispúnhamos de todo um

referencial demonstrando a legalidade da regulamentação das 30 horas, contudo eles foram só

protelando na expectativa de que os servidores iriam engolir a argumentação por eles

apresentada sobre a impossibilidade haver essa redução na carga horária. Sendo assim, ao

final em não havendo nenhum êxito nas negociações, foi deflagrada a greve que, por sinal,

terminou vitoriosa, pois conseguiu-se a regulamentação das 30 horas de trabalho para os

servidores técnicos administrativos da UFF, a qual é a pioneira nesta questão no âmbito das

Universidades Públicas Brasileiras.

Nota-se que a mora em negociar não se dá apenas em âmbito nacional, eis que a

entrevistada apresenta um caso verídico ocorrido dentro da Universidade Federal Fluminense

em que os seus servidores técnicos administrativos, como a última opção, tiveram de partir

para o enfrentamento com a deflagração da greve, como forma de conseguir negociar com os

gestores públicos, para assegurar um direito que é inerente à categoria, pois aqueles se

negavam a negociar.

● Com a decisão do Supremo Tribunal Federal nos Mandos de Injunção n°

670/ES, 708/DF e 712/PA, onde ordenou que se utilizasse a lei de greve da iniciativa privada,

no que coubesse, para as greves no serviço público surtiu como uma espécie de

regulamentação para o instituto?

Entrevistada: Não acredito que tenha surtido como uma regulamentação, pois na

iniciativa privada há uma grande diferença para a greve no setor público, pois lá é instaurado

o dissídio, tem a possibilidade de o judiciário debater e entrar nas questões até de mérito, o

que não acontece no setor público. Os ministros Supremo Tribunal Federal e do Superior

Tribunal de Justiça são agentes políticos, posto que eles estão ali por indicação. Dessa forma,

Page 48: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

47

a meu ver, houve uma enrolação, uma forma de o judiciário tentar tapar as lacunas

decorrentes da ausência de regulamentação, contudo as características da greve na esfera

pública e privada são bastante distintas, logo não houve regulamentação, a única parte que

dava para se aproveitar da lei de greve privada era a questão de se considerar a greve legal ou

não, porém com a decisão atual do STF sobre a greve, ela não há mais nenhuma efetividade

prática.

Este é um ponto de muita discussão entre os estudiosos do instituto, visto que na

iniciativa privada quando o empregado entra em greve, o empregador de imediato irá sentir

um prejuízo em sua cadeia produtiva e, consequentemente, a diminuição de seus lucros, fato

este que o faz buscar a negociação o mais breve possível. Como exemplo podemos citar a

recente greve dos caminhoneiros brasileiros iniciada no dia 21 de maio de 2018 e que em

poucos dias já gerou um prejuízo bilionário parando toda a estrutura do país, o que fez o

governo se manifestar rapidamente em busca de atender as reivindicações da categoria.

Neste contexto a Câmara dos Deputados no dia 23 de maio de 2018 aprovou o projeto

de Lei n° 8.456/201762, o qual dá isenção tributária ao diesel, o que representa uma redução

de aproximadamente R$ 0,23 centavos no litro, a qual somada a outras reduções já anunciadas

pela Petrobras, estima-se uma redução real de R$ 0,53 centavos no litro do combustível,

conforme matéria publicada na Folha de São Paulo63, o que mostra a tamanha agilidade do

governo em atender a pauta para que a greve seja encerrada o quanto antes.

Já no âmbito da administração pública as atividades essenciais são proibidas de fazer

greve e nas demais, quando os seus servidores deflagram o movimento paredista quem sofre o

prejuízo imediato é o usuário consumidor do serviço público, não representando nenhum

prejuízo para o administrador, fazendo com que este não tenha pressa nenhuma em negociar,

dado que não lhe ensejará prejuízo, nem tampouco sanção.

● Passado todo este período desde a promulgação da constituição federal de 1988

e ainda não houve a regulamentação da greve. Você acredita que seja mais conveniente para

os governantes a inexistência de uma lei específica?

62 BRASIL, Projeto de Lei n° 8.456/2017, disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1594012&filename=PL+8456/2017>, acesso em 24 de maio de 2018; 63 Folha de São Paulo, matéria publicada em 24 de maio de 2018, disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/05/corte-no-diesel-oferecido-pelo-governo-pode-chegar-a-r-053.shtml>, acesso em 24 de maio de 2018;

Page 49: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

48

Entrevistada: Com certeza, não só a lei de greve, assim como outras que dependem de

regulamentação, pois se trata de uma questão política delicada, onde aqueles que farão parte

do processo regulamentador podem sofrer consequências de ordem política que não estão

dispostos a enfrentar.

A falta de regulamentação é um ponto que gera bastante controvérsia, pois já se

passaram tempo suficiente para que o nosso legislativo aprovasse um projeto de lei sobre a

greve no âmbito do serviço público. E já houve algumas tentativas, como por exemplo o

projeto de Lei n° 4.532/201264, do deputado federal Policarpo, mas todas restaram infrutíferas

cominando no arquivamento dos mesmos. Dado que este é um terreno espinhoso, pois

envolve questões políticas e aqueles que participarão do processo de formação deste

ergramento, se curvam diante das consequências que poderão vir a sofrer, o que mostra o

tamanho acovardamento do nosso legislativo, os quais na grande maioria das vezes,

infelizmente, só buscam aprovar projetos de lei que representem interesses próprios do

parlamentar.

● Com a falta de regulamentação específica, tornaram-se normais as greves

prolongadas por servidores público, sem que as partes sofressem punições, o servidor recebia

a remuneração durante o período e o governante não sofre nenhuma penalidade pela inércia

em negociar. Recaindo todo o peso da paralisação sobre o usuário consumidor do serviço

público. Neste contexto o STF em 27/10/2016 no julgamento Recurso Extraordinário n°

693.456, o qual teve a sua repercussão geral reconhecida, onde foi formulada a seguinte tese:

A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público.65

Diante deste quadro você entende que o STF vetou o exercício do direito de greve para

os servidores públicos?

64 BRASIL, Projeto de Lei n° 4.532/2012, disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=AE3B4CA19C7A53310A22DDFF76E869F9.proposicoesWebExterno2?codteor=1030360&filename=PL+4532/2012>, acesso em 23 de maio de 2018; 65SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em:<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13866341> p. 84 e 85, acesso em 28 de abril de 2018;

Page 50: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

49

Entrevistada: Dificultou muito o exercício do direito de greve por parte do serviço

público e ainda, com toda essa inibição, é o que resta ao servidor, o qual tem uma relação de

trabalho com a administração. Sobre a questão da permanência do pagamento da remuneração

durante a greve é importante que se faça algumas perguntas: o servidor tem que ser

penalizado duas vezes? Porque existe uma pauta de reivindicação que já não foi cumprida e

negociada pelos gestores, onde como último meio ele resolve pela deflagração da greve. Vale

destacar que a sociedade tem uma visão muito ruim e pouco esclarecida do que seja a greve,

há uma mentalidade de que na greve os trabalhadores vão para casa descansar e não é isso.

Além disso, há uma falta de solidariedade pela sociedade com a luta alheia, eu desconheço,

por exemplo, que a paralisação dos cobradores de ônibus tenha apoio em massa daqueles que

assistem o movimento, as pessoas só se dão conta quando começa o movimento, pois sentem

o impacto dele e se sentem incomodadas. Aliás, a greve possui este intuito, porque se não

houver este incômodo grande parte da população não terá consciência das dificuldades

enfrentadas pelos trabalhadores. Pois é comum nos colocarmos na perspectiva de usuário do

serviço sem querer saber sobre a realidade que aqueles trabalhadores estão vivenciando. Por

fim destaco que a greve é a última ratio e os servidores já vivem em condições precárias, logo

haverá momentos que terão de enfrentar essa luta, não tem jeito.

Nota-se que independente de ter uma tese formada pelo Supremo, ordenando o

desconto dos dias em que os servidores optarem por aderir ao movimento paredista, estes

continuarão a utilizar-se da greve como meio para garantir a sua possibilidade de negociação

com a Administração, pois como pontuou a entrevistada, esta é a última opção, e quando se

chega a deflagrar o movimento paredista já foi tentado por todos os meios transacionar com

os gestores públicos.

● Você enfrentou alguma greve após a definição da referida tese?

Entrevistada: Sim, a greve dentro da Universidade Federal Fluminense deflagrada em

outubro de 201666, para garantia da regulamentação das 30 horas que é assegurada aos

servidores técnicos administrativos já foi pós-decisão do STF.

66 Ato de deflagração da greve. Disponível em: <http://sintuff.blogspot.com.br/2016/10/contra-pec-241-e-pelas-30h-todos.html>, acesso em 24 de maio de 2018.

Page 51: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

50

● Em caso positivo, houve o desconto dos dias em que aderiu ao movimento

paredista?

Entrevistada: Não houve o desconto por um compromisso da Administração, é

importante ressaltar que os movimentos, quanto mais encorpados, com força política e a

maneira como o sindicato é visto pela categoria faz muita diferença, pois sabemos que esta

decisão é quase como uma carta de livre arbítrio para Administração, que agora não precisa

mais recorrer ao judiciário para declarar uma greve ilegal e suspender o pagamento dos

servidores grevistas. No entanto, este é um meio de negociação, pois dificilmente, no nosso

ponto de vista, um gestor vai ser responsabilizado por não descontar os dias em que os

servidores estavam realizando o movimento paredista, mas é uma possibilidade, sendo esta

mais uma arma para que o gestor jogue com a categoria.

Nota-se que a decisão do Supremo surtiu como mais uma arma para os gestores

negociarem com os seus servidores quando optarem por aderir ao movimento paredista, pois a

entrevistada já relatou uma greve em que não houve o desconto pela Administração dos dias

paralisados, sendo este mais um instrumento político para quem negocia.

● Qual o posicionamento da entidade sindical para esta decisão?

Entrevistada: Como já nos pronunciamos a greve é a ultima opção para o servidor,

pois quando ela chega a ser deflagrada já houve uma série de tentativas que restaram

frustradas. Logo o sindicato apóia e entende que tem que haver esta política de enfrentamento

por meio da greve quando for necessário, independente deste posicionamento do Supremo,

para que não haja um sucateamento ainda maior da universidade pública. Além disso, também

iremos fazer uma política de enfrentamento caso haja os descontos.

Observa-se que a entidade sindical não irá retroceder diante da decisão do Supremo

que tenta inibir a greve pelos servidores públicos, pelo contrário, estão dispostos a, caso

ocorra, ter um desconto numa esfera tão sensível que é a alimentar em busca de suas

reivindicações.

● As greves no serviço público geralmente se dão por conta de melhores

condições de trabalho e reajuste de remuneração. Você entende que com o estabelecimento da

Page 52: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

51

data-base, que é previsto no art. 37, X, da Constituição Federal, o qual estabelece a revisão

geral anual dos salários e condições de trabalho no âmbito da administração pública, surtiria

mais efeitos benéficos do que a regulamentação da greve?

Entrevistada: A data base quase nunca é cumprida, mas caso ela fosse regulamentada,

as pautas não se limitam ao previsto neste dispositivo. Por exemplo, posso citar a greve

ocorrida dentro da Universidade Federal Fluminense que buscava a garantia das 30 horas de

trabalho para os servidores técnicos administrativos, que é um ponto que não está previsto na

regulamentação da data base.

Há um posicionamento de que a greve não se limita a questão remuneratória e

melhores condições de trabalho, mas havemos de convir que a expressão ‘melhores condições

de trabalho’ é um termo muito amplo, e que muito provavelmente, abarcaria, senão todas, mas

a grande maioria, das reivindicações dos servidores em greve. Nesta seara a questão das 30

horas pontuada pela entrevistada se enquadraria perfeitamente no quesito condição de

trabalho, pois o seu aumento pela Administração sem uma negociação refletiria diretamente

numa piora nas condições de trabalho deste servidor afetado.

Page 53: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

52

CONCLUSÃO

A greve é um direito assegurado constitucionalmente ao servidor público, contudo este

depende de regulamentação para a produção de seus efeitos, pois se trata de uma norma de

eficácia limitada. Contudo já se passaram mais de vinte e nove anos da promulgação da Carta

e o poder legislativo não se moveu para editar uma norma para o tema.

Tal situação faz com que os servidores ao optarem por exercer o movimento paredista

fiquem num limbo, devido à falta de regulamentação, fazendo com que as questões

envolvendo tal fato, sejam submetidas ao crivo do poder judiciário, que é instado a se

manifestar, onde o Supremo Tribunal Federal no julgamento do Recurso Extraordinário n°

693.456, firmou a tese em sede de repercussão geral de que quando o servidor optar por

deflagrar uma greve, o gestor público deve proceder ao desconto dos dias paralisados, mesmo

não havendo nenhuma lei prevendo tal medida.

Dessa forma o Supremo assume o protagonismo e profere esta sentença normativa

carreada de ativismo judicial, o qual praticamente cerceia o exercício da greve pelos

servidores, dado que cabe a eles a decisão política, se estão dispostos a sofrer um impacto em

sua verba alimentar por conta da adesão ao movimento.

Razão pela qual se torna urgente o rompimento da inércia do nosso poder legislativo,

contudo cabe ressaltar que, caso resolva-se pela edição da norma, esta deve ser bem

articulada, pois apresenta especificidades particulares do serviço público, visto que a greve é a

suspensão coletiva das atividades laborais pelos trabalhadores na busca de garantir o sucesso

total ou parcial nas suas reivindicações em pauta, cuja natureza jurídica é de suspensão do

contrato de trabalho e o seu objetivo principal é de gerar prejuízos imediatos para o tomador

dos seus serviços, fazendo com que este se abra, desde logo, à negociação para evitar maiores

perdas em seu negócio, onde, por exemplo, podemos citar a histórica greve dos

caminhoneiros, em que a busca pelas negociações se deu no primeiro dia do movimento.

Esta situação se aplica perfeitamente para os trabalhadores da iniciativa privada,

porém não se encaixa tão bem no escopo da administração pública, dado que o principal

prejudicado quando se tem uma greve é o usuário consumidor do serviço público, não

gerando nenhum prejuízo para os administradores públicos, os quais na maioria das vezes se

negam a dialogar com o movimento paredista para ouvir suas reivindicações e apresentar-lhes

uma contraproposta, fazendo com que a greve se prolongue por meses, em muitos casos não

Page 54: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

53

gerando nenhum ganho para a categoria e nenhuma perda para o gestor, só implicando em

dano para aquele que se utiliza daquela serventia.

Dessa forma conclui-se que é preciso ter algum mecanismo institucional de debate

honesto, franco, em busca de uma solução, que no âmbito da Administração Pública

vislumbra-se que ao invés de criar uma norma regulamentadora da greve no serviço público, o

estabelecimento da data-base com a revisão geral anual dos salários e condições de trabalho

para a categoria, que também é assegurada no texto constitucional em seu artigo 37, inciso X,

e também carece de regulamentação, surtiria muito mais efeitos benéficos do que a uma lei de

greve do serviço público, visto que com o exercício desta, o maior prejudicado é o usuário

consumidor do serviço público.

Para coadunar com a conclusão impende destacar que na grande maioria das vezes as

greves se dão por questões salariais e melhores condições de trabalho, as quais com o

estabelecimento da data base poderiam ser discutidas anualmente pelos servidores com a

Administração Pública. Esclarecendo que a lei regulamentadora do tema deve prever uma

punição para o gestor que se negue ou protele o processo de negociação, tendo em vista ser

este um dos principais argumentos para a deflagração de greves pelos servidores públicos.

Por todo o exposto espera-se que o Poder Legislativo quando romper a inércia

legiferante, atendendo às expectativas da sociedade, discipline com clareza e objetividade um

instituto que regulamente o instrumento de reivindicação de melhores condições de trabalho

dos servidores públicos, que entende-se ser a revisão geral anual dos salários e condições de

trabalho.

Page 55: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

54

REFERÊNCIAS

Ato de deflagração da greve. Disponível em: <http://sintuff.blogspot.com.br/2016/10/contra-pec-241-e-pelas-30h-todos.html>, acesso em 24 de maio de 2018. BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: LTr, 2017. BARROSO, Luis Roberto. O Controle de Constitucionalidade no Direito Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2016. BARROSO, Luis Roberto, em Judicialização, Ativismo Judicial e Legitimidade Democrática. Disponível em <http://www.direitofranca.br/direitonovo/FKCEimagens/file/ArtigoBarroso_para_Selecao.pdf>, acesso em 22 de novembro de 21017. BRASIL, Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d847.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. BRASIL, Constituição Federal de 1937, de 10 de novembro de 1937. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. BRASIL, Decreto-lei nº 431, de 18 de maio de 1938. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del0431.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. BRASIL, Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. BRASIL, Decreto-lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. BRASIL, Decreto-lei nº 9.070, de 15 de março de 1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del9070.htm>, acecsso em 23 de novembro de 2017. BRASIL, Constituição Federal de 1946, de 18 de setembro de 1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. BRASIL, Constituição Federal de 1967, de 24 de janeiro de 1967. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. BRASIL, Decreto-lei nº 1.632, de 04 de agosto de 1978. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1632.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017.

Page 56: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

55

BRASIL, Lei nº 6.620, de 17 de dezembro de 1978. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6620.htm>, acesso em 23 de novembro de 2017. BRASIL, lei 7.783 de 28 de junho de 1989, disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7783.htm>, acesso em 19 de março de 2018. BRASIL, Projeto de Lei n° 4.532/2012, disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=AE3B4CA19C7A53310A22DDFF76E869F9.proposicoesWebExterno2?codteor=1030360&filename=PL+4532/2012>, acesso em 23 de maio de 2018; BRASIL, Projeto de Lei n° 8.456/2017, disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1594012&filename=PL+8456/2017>, acesso em 24 de maio de 2018; BULOS, Uadi Lammego. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2017. CAIRO JUNIOR, José. Curso de Direito do Trabalho. Salvador: Juspodivm, 2016. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2016. FOLHA DE SÃO PAULO, matéria publicada em 24 de maio de 2018, disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/05/corte-no-diesel-oferecido-pelo-governo-pode-chegar-a-r-053.shtml>, acesso em 24 de maio de 2018; GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2016. JORGE NETO, Francisco Ferreira e outros. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2013. LENZA, Pedro. Direito Penal Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2014. MARTINEZ, Luciano. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2016. STRECK, Lenio em Entre o Ativismo e a Judicialização da Política: a difícil concretizaçãodo direito fundamental a uma decisão judicial constitucionalmente adequada. Disponível em <https://editora.unoesc.edu.br/index.php/espacojuridico/article/viewFile/12206/pdf> acesso em 25 de abril de 2018. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário n° 693.456, julgado em 27 de outubro de 2016, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24%2ESCLA%2E+E+693456%2ENUME%2E%29+OU+%28RE%2EACMS%2E+ADJ2+693456%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/apu9638>, acesso em 19 de março de 2018. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 670/Espírito Santo, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em:

Page 57: UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VINNÍCIUS DE …

56

<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28MI%24%2ESCLA%2E+E+670%2ENUME%2E%29+OU+%28MI%2EACMS%2E+ADJ2+670%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/cswygf3>, acesso em 19 de março de 2018. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 708/Distrito Federal, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28MI%24%2ESCLA%2E+E+708%2ENUME%2E%29+OU+%28MI%2EACMS%2E+ADJ2+708%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/chjgwcv>, acesso em 19 de março de 2018. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Injunção n° 712/Pará, julgado em 25 de outubro de 2007, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=712&classe=MI&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=M>, acesso em 19 de março de 2018. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Mandado de Segurança N° 27.931-1, disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28MS%24%2ESCLA%2E+E+27931%2ENUME%2E%29+NAO+S%2EPRES%2E&base=baseMonocraticas&url=http://tinyurl.com/b2mgpxv>, acesso em 07 de junho de 2018; SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo Interno no Recurso Especial n° 1608657, julgado em 19 de dezembro de 2016, disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=68243817&num_registro=201601627253&data=20161219&tipo=5&formato=PDF>, acesso em 07 de maio de 2018. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Embargos de Declaração na Petição n° 6642, julgado em 26 de abril de 2017, disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=68243817&num_registro=201601627253&data=20161219&tipo=5&formato=PDF>, acesso em 07 de maio de 2018. TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO. Apelação Cível n° 00118919020044036100 SP, julgado em 08 de agosto de 2017, disponível em: <https://trf-3.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/499028874/apelacao-civel-ac-118919020044036100-sp/inteiro-teor-499028894?ref=juris-tabs> acesso em 07 de maio 2018;