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DPOC E TABAGISMO: UM BINÔMIO PERIGOSO Marlon Akio da Silva Issobe Rio de Janeiro 2012

UM BINÔMIO PERIGOSO - uezo.rj.gov.br silva-issobe.pdf · casos registrados (MEIRELLES, 2009). O tabagismo leva à DPOC pelo desequilíbrio dos sistemas enzimáticos e dos sistemas

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DPOC E TABAGISMO:

UM BINÔMIO PERIGOSO

Marlon Akio da Silva Issobe

Rio de Janeiro

2012

ii

MARLON AKIO DA SILVA ISSOBE

Aluno do curso de Farmácia

Matrícula 0823800119

DPOC E TABAGISMO:

UM BINÔMIO PERIGOSO

Trabalho de Conclusão de Curso, TCC,

apresentado ao Curso de Graduação em

Farmácia, da UEZO como parte dos requisitos

para a obtenção do grau de Bacharel em

Farmácia, sob a orientação do Professor André

Luiz Fonseca de Souza.

Rio de Janeiro

Julho de 2012

iii

DPOC E TABAGISMO:

UM BINÔMIO PERIGOSO

Elaborado por Marlon Akio da Silva Issobe

Aluno do curso de Farmácia da UEZO

Este trabalho de Graduação foi analisado e aprovado com

Grau: ______

Rio de Janeiro, 03 de Julho de 2012.

_______________________________________

Prof. André Luiz Fonseca de Souza, Ph.D., da UEZO – Presidente

______________________________________

Prof.ª Isabele Barbieri dos Santos, Ph.D., da Fiocruz

_______________________________________

Prof.ª Alessandra Micherla Rodrigues do Nascimento, Ph.D., da UEZO

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

Julho de 2012

iv

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho...

A toda minha família pelo imenso apoio, suporte, compreensão e

torcida, a mim dedicados durante toda a trajetória de graduação.

Aos meus amigos por todo carinho, companheirismo e atenção,

partilhados ao longo desses 4 longos anos.

A meu sobrinho, Miguel, cuja chegada trouxe muita luz e serviu

de inspiração.

v

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela benção, por ter guiado meus passos e pela proteção em

todos os dias de minha vida.

Aos meus pais, Takeshi e Edith, pelo amor, base e dedicação que

sempre me deram e por todos os sacrifícios feitos até hoje por mim e, apesar

de todas as dificuldades passadas nunca pouparam esforços para que eu

pudesse atingir meus objetivos.

A minha irmã, Michele, pelo companheirismo e apoio, não só durante

este período, mas por toda vida.

A minha tia Ercília, pelo enorme carinho e zelo, e por me acolher de

forma tão generosa.

A Paola e Rosilane, pessoas que conheci na graduação e que com

certeza levarei para sempre comigo. Esta jornada não teria sido tão especial,

nem tido a mesma graça sem vocês ao meu lado. Muito obrigado pela

amizade, convívio, companheirismo e por terem dividido angústias e

multiplicado alegrias.

A todos os meus amigos, que de alguma forma me alegraram,

motivaram e impulsionaram durante esta jornada.

A todos os companheiros da 1ª turma de farmácia da UEZO, pelos

momentos divertidos que passamos (que não foram poucos), por todas as

dificuldades e provações que enfrentamos para que pudéssemos concluir este

curso. Sentirei saudades.

Ao Dr. André Luiz Fonseca de Souza, meu orientador, pessoa com um

dos maiores níveis de conhecimento, que tive a honra de conhecer, e um

professor como poucos.

A todos os meus professores pelos ensinamentos, muito uteis, e que

contribuíram para meu crescimento profissional. Cada um dos professores tem

uma participação especial nesta etapa de minha vida.

vi

RESUMO

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é caracterizada por uma

limitação irreversível no fluxo de ar pulmonar associada com inflamação

crônica e hipersecreção de muco (bronquite crônica) e pela destruição

patológica dos espaços aéreos alveolares que conduzem a enfisema.

Atualmente sabe-se que esta doença envolve uma complexa variedade de

manifestações celulares, anatômicas, funcionais e clínicas. É uma doença

progressiva e está relacionada a uma resposta inflamatória anormal dos

pulmões à inalação de partículas e/ou gases tóxicos. Na prática e na pesquisa

clínica, a definição da DPOC baseia-se na extensão da obstrução ao fluxo

aéreo medido por meio da espirometria. DPOC é considerada uma doença

evitável e tratável que, embora acometa primariamente os pulmões, há

diversas manifestações extrapulmonares significativas que podem também

contribuir para a gravidade da doença em pacientes individuais. DPOC é

causada principalmente pela exposição à fumaça do tabaco, sendo uma das

principais causas de incapacidade e mortalidade, representando a quarta maior

causa de morte no mundo, e sua prevalência só aumentará nos próximos anos.

Apesar do enorme crescimento da prevalência e da mortalidade da DPOC, não

existe nenhuma abordagem terapêutica que consiga controlar a evolução da

doença estabelecida, sendo que os tratamentos são baseados nos alívios dos

sintomas dos pacientes, principalmente com a utilização de broncodilatadores.

Por este motivo a cessação tabágica é a única medida que melhora o

prognóstico e a sobrevida dos doentes com DPOC.

Palavras-chaves: DPOC, Tabagismo, Inflamação, Estresse oxidativo.

vii

ABSTRACT

The chronic obstructive pulmonary disease (COPD) is characterized by

an irreversible limitation in lung airflow associated with chronic inflammation and

mucus hypersecretion (chronic bronchitis) and the pathological destruction of

the alveolar air spaces leading to emphysema. Currently it is known that this

disease involves a complex diversity of cellular, anatomical, functional and

clinical events. It is a progressive disease and is associated with an abnormal

inflammatory response of lungs to inhaled particles and/or toxic gases. In

practice and medical research, the definition of COPD based on the extent of

airflow obstruction measured by spirometry. COPD is considered a treatable

and preventable disease that, although primarily affects the lungs, there are

several significant extrapulmonary manifestations which may also contribute to

the severity of the disease in individual patients. COPD is primarily caused by

exposure to tobacco smoke, being a major cause of disability and mortality,

representing the fourth leading cause of death worldwide, and its prevalence

will only increase in coming years. Despite the enormous increase in

prevalence and mortality of COPD, there is no therapeutic approach that could

control the evolution of established disease, the treatments are based on relief

of symptoms of patients, mainly with the use of bronchodilators. Therefore

smoking cessation is the only action that improves the prognosis and survival of

patients with COPD.

Key Words: COPD, Smoking, Inflammation, Oxidative Stress.

viii

A realidade do seu sucesso frequentemente tem a ver

com quem irá ganhar a batalha que está sendo travada

dentro dos dois de você: o “você” que quer parar,

desistir, relaxar, ou o “você” que se recusa a se

entregar e não irá desistir até conseguir alcançar seus

sonhos.

Chris Widener

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Características histológicas da bronquite crônica. ........................... 20

Figura 2. Foto de histopatologia de tecido pulmonar ....................................... 21

Figura 3. Enfisema representa um desequilíbrio ............................................. 23

Figura 4. Enfisema centrolobular e panacinar ................................................. 24

Figura 5. As células inflamatórias envolvidas na patogênese da DPOC ......... 31

Figura 6. O estresse oxidativo e seus efeitos .................................................. 35

Figura 7. Geração de uma resposta imune adaptativa em pacientes com

DPOC ............................................................................................................... 42

Figura 8. Fisiopatologia das manifestações sistêmicas e locais da DPOC. .... 50

Figura 9. Diagnóstico da DPOC ...................................................................... 52

Figura 10. Mecanismo de ação dos agonistas β-adrenérgicos ....................... 57

Figura 11. Fórmula Estrutural da N-acetilcisteína ............................................ 59

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Estágios GOLD de gravidade da DPOC .......................................... 19

Tabela 2. As 10 principais causas de morte no mundo em 2008 ..................... 26

Tabela 3. As 10 principais causas de óbito no Brasil, 2005 ............................. 28

Tabela 4. Fatores de risco para DPOC ............................................................ 29

Tabela 5. Orientações terapêuticas de acordo com os estádios da DPOC ..... 55

xi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALAT Associação Latino-Americana de Tórax

AMP Adenosina monofosfato

AP-1 Ativador de proteína-1

CVF Capacidade vital forçada

DNA Ácido desoxirribonucleico

DPOC Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

ENA Ativador neutrofílico derivado do epitélio

EROs Espécies reativas de oxigênio

GCL Glutamato-cisteína ligase

GM-CSF Fator estimulador de colônias de granulócitos-

macrófagos

GOLD Iniciativa Global para Doença Pulmonar Obstrutiva

Crônica

GPxe Glutationa peroxidase extracelular

GRO Oncogene relacionado ao crescimento

GSTM1 Glutationa S-transferase M1

GSTP1 Glutationa S-transferase P1

IFN-γ Interferon gama

Ig Imunoglobulina

IL Interleucina

IMC Índice de massa corpóreo

LBA Lavado broncoalveolar

xii

LTB4 Leucotrieno B4

MAPK Proteína quinase ativada por mitógenos

MDA Malondialdeído

MMP Metaloproteinase

NF-κB Fator nuclear-κB

NK Células Natural Killer

NO Óxido Nítrico

OMS Organização Mundial de Saúde

PaCO2 Pressão parcial do CO2 no sangue arterial

PaO2 Pressão parcial de oxigênio no sangue arterial

PCO2 Pressão parcial de dióxido de carbono

PDE Fosfodiesterase

PLATINO Projeto Latino-americano de Investigação em

Obstrução Pulmonar

PMNs Leucócitos polimorfonucleares

SIRT1 Proteína sirtuína-1

SOD Superóxido dismutase

SpO2 Saturação periférica de oxigênio

Tc1 Células T citotóxicas do tipo 1

Tc2 Células T citotóxicas do tipo 2

Th1 T helper 1

Th2 T helper 2

TNF-α Fator de necrose tumoral alfa

VEF1 Volume expiratório forçado no primeiro segundo

xiii

SUMÁRIO

Página

RESUMO............................................................................................................ vi

ABSTRACT ....................................................................................................... vii

LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... ix

LISTA DE TABELAS ........................................................................................... x

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................. xi

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 15

2. OBJETIVOS ................................................................................................. 17

2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................... 17

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 18

3.1. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA .............................. 18

3.1.1. Bronquite Crônica ................................................................ 19

3.1.2. Enfisema Pulmonar .............................................................. 20

3.2. EPIDEMIOLOGIA................................................................................ 24

3.3. FATORES DE RISCO ......................................................................... 27

3.4. PATOGÊNESE ................................................................................... 30

3.4.1. Genética da DPOC ............................................................... 33

3.4.2. O Estresse Oxidativo ........................................................... 34

3.4.3. Inflamação ............................................................................ 38

3.4.3.1. Células inflamatórias e seus mediadores ................... 38

3.4.3.2. Células estruturais ..................................................... 39

3.4.3.3. Macrófagos ................................................................ 40

xiv

3.4.3.4. Linfócitos .................................................................... 41

3.4.3.5. Neutrófilos .................................................................. 45

3.4.3.6. Quimiocinas na patogênese da DPOC ...................... 45

3.4.3. Desequilíbrio Protease – Antiprotease .............................. 47

3.5. PATOLOGIA DA DPOC ...................................................................... 47

3.6. SINTOMATOLOGIA ............................................................................ 49

3.6.1. Comorbidades ...................................................................... 51

3.7. DIAGNÓSTICO ................................................................................... 52

3.7.1. Avaliação Espirométrica ..................................................... 53

3.7.2. Avaliação Radiológica ......................................................... 54

3.7.3. Avaliação Gasométrica e do pH.......................................... 54

3.8. TRATAMENTO ................................................................................... 55

3.8.1. Broncodilatadores ............................................................... 55

3.8.1.1. β2-agonistas ............................................................... 56

3.8.1.2. Anticolinérgicos .......................................................... 56

3.8.1.3. Xantinas ..................................................................... 57

3.8.2. Corticoides ........................................................................... 57

3.8.3. N-acetilcisteína ..................................................................... 58

3.8.4. Oxigenoterapia ..................................................................... 59

3.8.5. Fisioterapia Respiratória ..................................................... 59

3.8.6. Novas Opções Terapêuticas ............................................... 60

3.8.7. Tratamento das Comorbidades .......................................... 60

4. CONCLUSÃO .............................................................................................. 62

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 63

15

1. INTRODUÇÃO

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é um termo genérico usado

para descrever um grupo de doenças pulmonares crônicas, caracterizadas pela

limitação por um longo período ao fluxo aéreo nos pulmões que não é totalmente

reversível. O termo inclui “bronquite crônica” e “enfisema pulmonar”, que não

estão mais sendo usados, mas incluídos dentro do diagnóstico da DPOC (WHO,

2011).

Na bronquite crônica a lesão pulmonar se localiza nos brônquios e

bronquíolos, tornando-os cronicamente inflamados, espessos e com constante

produção de muco. O paciente com bronquite crônica apresenta além dos

sintomas de falta de ar e cansaço, um quadro de tosse crônica com expectoração

(FERREIRA, 2010).

O enfisema se caracteriza pela destruição e alargamento dos bronquíolos

terminais e alvéolos, que perdem sua elasticidade e favorecem o aprisionamento

do ar dentro dos pulmões. No enfisema notamos uma hiperinsuflação mantida dos

pulmões devido ao ar que nunca sai por completo (FERREIRA, 2010).

A obstrução no fluxo de ar do pulmão é geralmente progressiva e está

associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de

partículas nocivas ou gases tóxicos e a um processo lesivo do tecido pulmonar,

tendo como uma das principais causas o cigarro (JARDIM; OLIVEIRA;

NASCIMENTO, 2004).

O tabagismo é um fator de risco para seis das oito principais causas de

morte no mundo. E cerca de 85% a 90% de todas as mortes por DPOC são

atribuíveis ao tabagismo, e estudos mostram evidências suficientes para se

chegar à conclusão que existe uma relação causal entre tabagismo e morbidade e

mortalidade por DPOC. A exposição ocupacional a poluentes e a poluição

ambiental também constituem fatores de risco, mas só representam 10 a 15% dos

casos registrados (MEIRELLES, 2009).

O tabagismo leva à DPOC pelo desequilíbrio dos sistemas enzimáticos e

dos sistemas de proteases e antiproteases e pela limitação ao fluxo aéreo

(MARTINELLO, 2009).

16

A DPOC é evitável, mas não curável. O tratamento pode simplesmente

ajudar a retardar a progressão da doença. Por isso é tão importante que fumantes

interrompam o uso do cigarro, para evitar que este propicie o surgimento e/ou a

piora do quadro desta doença, que em 2005 atingiu 65 milhões de pessoas, de

acordo com estimativas recentes divulgadas pela Organização Mundial de Saúde

(OMS) e que vitimou neste mesmo ano mais de 3 milhões de pessoas pelo

mundo (correspondendo a 5% de todas as mortes globais). E o total de óbitos por

DPOC pode aumentar em mais de 30% nos próximos 10 anos, tornando esta

doença a terceira maior causa de morte até 2030 (WHO, 2011).

Por isso a cessação tabágica é considerada um componente fundamental

de ações preventivas, e deveria ser evidente tanto para doentes quanto para os

profissionais de saúde, que a cessação tabágica é o tratamento mais importante

na DPOC. É reconhecido que nenhuma outra intervenção, além desta, melhora a

sobrevida destes doentes independentemente do estado de gravidade da doença

(PAMPLONA; MENDES, 2009).

17

2. OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica acerca

da relação da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) com o uso do tabaco

(tabagismo).

2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Dentre os objetivos específicos estão:

1. A caracterização da DPOC, no que tange a sua patogênese,

epidemiologia, sintomatologia, diagnóstico e tratamento;

2. E a caracterização dos mecanismos pelos quais os agentes nocivos

presentes no cigarro levam ao surgimento da DPOC.

18

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA

A doença pulmonar obstrutiva crônica é uma doença heterogênea com

diferentes apresentações clínicas, sendo caracterizada pela presença de

obstrução crônica do fluxo aéreo das vias pulmonares, geralmente progressiva e,

parcialmente reversível. É evitável em sua fase inicial e tratável em todas as

etapas (BRIGGS, 2004). Associa-se a uma resposta inflamatória anormal das vias

aéreas à inalação de gases tóxicos ou partículas nocivas, causada, sobretudo,

pelo tabagismo. A DPOC não é uma doença que compromete somente as vias

aéreas, mas também todo o corpo, através das manifestações sistêmicas da

inflamação da DPOC. Na verdade essas manifestações são responsáveis por

grande parte da morbidade e mortalidade associadas a essa doença (JARDIM;

OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004).

É descrita como uma combinação variada de alterações das vias aéreas

(bronquite crônica) e do parênquima pulmonar (enfisema pulmonar), produzidas

pelo processo inflamatório crônico. Cada componente tem características

singulares e se distingue do outro pela causa da obstrução do fluxo aéreo, pelo

surgimento da doença, localização e reversibilidade da obstrução. A

predominância de um ou outro componente é variável em cada indivíduo, tendo

relação com os sintomas apresentados (FERREIRA, 2010).

Para Bethlen (2001) a DPOC é descrita como um conjunto de alterações

clínicas, radiológicas, funcionais e patológicas do pulmão, que engloba a

bronquite crônica e o enfisema pulmonar.

De acordo com as diretrizes da Iniciativa Global para Doença Pulmonar

Obstrutiva Crônica (GOLD - Global Initiative for Chronic Obstructive Lung

Disease) a gravidade da DPOC pode ser classificada em 4 estágios (Tabela 1),

baseada principalmente em testes de função pulmonar, ou seja, capacidade vital

forçada (CVF) e volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1)

(MARWICK; CHUNG, 2010; FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

19

Tabela 1: Estágios GOLD de gravidade da DPOC

Gravidade da DPOC Características

VEF1/CVF VEF1

Estágio I (leve) < 70%

Estágio II (moderado) < 70% < 50%–70%

Estágio III (grave) < 70% < 30%–50%

Estágio IV (muito grave) < 70% < 30% ou < 30%–50% com insuficiência

respiratória (definida por PaO2, 60 mmHg

e/ou PCO2, 50 mmHg, ao nível do mar).

Abreviações: VEF1, volume expiratório forçado no primeiro segundo; CVF, capacidade vital

forçada; PaO2, pressão parcial de oxigênio no sangue arterial; PCO2, pressão parcial de dióxido de

carbono. Adaptado de: MARWICK; CHUNG, 2010

3.1.1. Bronquite Crônica

A bronquite crônica é uma doença pulmonar caracterizada por excessiva

produção de muco na arvore brônquica, suficiente para causar expectoração

excessiva de escarro, com relato de expectoração na maioria dos dias por mais

de três meses no ano, durante dois ou mais anos consecutivos, sempre que

outras causas estejam descartadas (WEST, 2002; ALAT, 2004). As principais

causas são o consumo de tabaco, a exposição ocupacional por longo período em

ambiente poluído e infecção. Estes fatores desencadeiam: a produção de muco

mais espesso, dificultando o movimento ciliar e gerando limitação ao fluxo aéreo;

o aumento da quantidade de muco intraluminal, produzindo alterações nas

pequenas vias aéreas, características da inflamação crônica (WEST, 2002).

O exame macroscópico do tecido pulmonar em um paciente com bronquite

crônica mostra paredes brônquicas espessas com estreitamento luminal e

obstrução da mucosa ou detritos mucopurulentos nas vias aéreas.

Microscopicamente, estes resultados brutos correspondem à hiperplasia de

células caliciformes, espessamento da membrana basal subepitelial, fibrose da

parede brônquica, e hiperplasia das glândulas seromucinosas subepiteliais

(Figura 1). Um infiltrado inflamatório crônico pode também estar presente, mas

20

não é necessário, e também pode ser visto metaplasia escamosa do epitélio

respiratório (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

A característica mais inicial da bronquite crônica é a hipersecreção de

muco nas grandes vias aéreas, associada à hipertrofia das glândulas submucosas

na traqueia e nos brônquios. Proteases liberadas por leucócitos, como a elastase

neutrofílica e catepsina, além das metaloproteinases de matriz (MMPs),

estimulam a hipersecreção de muco. Conforme a bronquite crônica persiste,

ocorre também um aumento acentuado das células caliciformes nas grandes vias

aéreas (pequenos brônquios e pequenos bronquíolos), levando a produção

excessiva de muco, que contribui para a obstrução das vias aéreas. Supõe-se

que tanto a hipertrofia das glândulas submucosas como o aumento no número de

células caliciformes sejam uma reação metaplásica protetora contra a fumaça do

tabaco e outros poluentes (KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2005).

Figura 1: Características histológicas da bronquite crônica. (A) Seção da parede de bronquíolo

com acúmulo luminal de muco, hiperplasia das células caliciformes, espessamento da membrana basal (seta), e dispersas células inflamatórias mononucleares. (B) Parede brônquica com

metaplasia escamosa do epitélio luminal (cabeça de seta) e hiperplasia das glândulas seromucinosas subepitelial (seta). Adaptado de: FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011

3.1.2. Enfisema Pulmonar

Enfisema é uma patologia crônica, definido como o alargamento anormal e

permanente dos espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais, acompanhado

pela destruição tecidual de suas paredes, sem fibrose óbvia, o que torna os

pulmões hiperinsulflados. Esta destruição resulta em perda de estrutura acinar, e,

21

por conseguinte redução da área disponível para troca gasosa (Figura 2). As

pequenas vias aéreas estão estreitadas, tortuosas, e reduzidas em número, além

de possuírem paredes finas e atrofiadas. A perda de tecido elástico leva ao

colapso dessas pequenas vias aéreas e obstrui a saída de ar do interior dos

pulmões, que é frequentemente uma característica proeminente da doença.

Dentre as causas estão o tabagismo (principal fator etiológico), a poluição

atmosférica e a deficiência de α-1 antitripsina (KEMP; POLKEY; SHAH, 2009;

FERREIRA, 2010).

Figura 2: Foto de histopatologia de tecido pulmonar (x40). Painel A mostra o tecido de um pulmão

normal e painel B um pulmão enfisematoso, mostrando a perda das estruturas alveolares e da área de superfície no enfisema, sem fibrose aparente. Adaptado de: KEMP; POLKEY; SHAH,

2009

O fumo do cigarro provoca uma resposta inflamatória no trato respiratório

inferior, caracterizada pela acumulação de macrófagos alveolares carregados de

pigmento em conjunto com o recrutamento de números menores de neutrófilos.

Estas células inflamatórias ativadas liberam uma variedade de mediadores,

incluindo proteases, oxidantes e peptídeos tóxicos, que podem danificar as

estruturas pulmonares e acredita-se ser a causa principal da destruição de

tecidos, através da qual o enfisema é definido (RENNARD; TOGO; HOLZ, 2006).

O enfisema por deficiência de α-1 antitripsina atinge um em cada 2.000-

5.000 indivíduos. É um distúrbio genético de descoberta recente, resultante de

diferentes mutações no gene SERPINA1. A α-1 antitripsina é produzida

principalmente no fígado e atua como uma antiprotease, cuja função principal é

inativar a elastase neutrofílica, impedindo a ocorrência de dano tecidual. A

22

mutação mais frequentemente relacionada à doença clínica é o alelo Z, que

determina polimerização e acúmulo dentro dos hepatócitos. O acúmulo e a

consequente redução dos níveis séricos de α-1 antitripsina determinam,

respectivamente, doença hepática e pulmonar, sendo que esta se manifesta

principalmente sob a forma de enfisema de aparecimento precoce, habitualmente

com predomínio basal (CAMELIER et al., 2008).

Em face da lesão, o pulmão, como a maioria dos tecidos, pode iniciar

mecanismos de reparação. A destruição da rede tecidual que caracteriza

enfisema representa um desequilíbrio entre a destruição dos tecidos e os

processos de reparação de tecidos, análogo ao equilíbrio protease-antiprotease.

Na hipótese protease-antiprotease “clássica” de enfisema, a destruição do

tecido resulta quando a elastase neutrofílica prevalece sobre a proteção

endógena fornecida pela α-1 antitripsina. Este equilíbrio pode ser rompido, quer

por aumento da carga de elastase (por exemplo, com inflamação originada do

fumo) ou através da diminuição da proteção antielastase (por exemplo, pela

deficiência genética de α-1 antitripsina) (Figura 3 A). Na hipótese dos mediadores

de lesão expandidos, o conceito clássico foi expandido para incluir várias classes

de antiproteases, cada uma com muitos membros, bem como outros mediadores

prejudiciais, incluindo oxidantes e peptídeos tóxicos. Existe um conjunto

correspondente de inibidores para cada um destes mediadores, sendo que o

saldo global determina os resultados de lesão tecidual (Figura 3 B). Na hipótese

da reparação da lesão, os tecidos podem reparar lesões, a integridade do tecido

pode ser mantida em face da lesão se a reparação é adequada. Destruição dos

tecidos, por conseguinte, representa um desequilíbrio entre a lesão do tecido e a

reparação (Figura 3 C) (RENNARD; TOGO; HOLZ, 2006).

Embora a deficiência de α-1 antitripsina continue a ser o único distúrbio

genético bem caracterizado associado com DPOC, um número de outros

candidatos têm sido sugeridos. Entre eles estão outras antiproteases,

antioxidantes, e mutações em genes defensina (um tipo de peptídeo tóxico),

consistente com o conceito de um desequilíbrio entre lesão tecidual e proteção do

tecido (RENNARD; TOGO; HOLZ, 2006).

O enfisema pode ser classificado em alguns subtipos: centrolobular (ou

centroacinar), panlobular (ou panacinar) e parasseptal. Enfisema centrolobular é

23

caracterizado pela perda de bronquíolos respiratórios, com um grau escasso dos

alvéolos distais, e afeta predominantemente as porções superiores do pulmão.

Este padrão é aquele que é mais comumente visto em fumantes. O enfisema

panacinar afeta o ácino inteiro de modo uniforme (destruição generalizada do

tecido alveolar); é visto predominantemente nos lobos inferiores, e é o padrão

mais associado com a deficiência de α-1 antitripsina. Enfisema parasseptal

(também conhecido como acinar distal) é localizado em torno do septo e pleura, e

afeta as estruturas acinares distais (KEMP; POLKEY; SHAH, 2009).

Figura 3: Enfisema representa um desequilíbrio. Adaptado de: RENNARD; TOGO; HOLZ, 2006

O enfisema centrolobular geralmente acomete as regiões mais superiores do

pulmão, causando grande alteração na relação ventilação-perfusão, pois o

suprimento de sangue está relativamente preservado para os alvéolos, mas o

oxigênio que chega aos capilares é reduzido devido aos danos nas vias aéreas

proximais. Como o enfisema panacinar afeta mais os lobos inferiores (Figura 4),

seu efeito é menos drástico na relação ventilação-perfusão, pois o suprimento

24

sanguíneo reduz à medida que há a diminuição da ventilação nessas regiões

(LIMA et al., 2007).

Figura 4: Enfisema centrolobular e panacinar. Observar que no enfisema centrolobular, a

destruição é limitada aos bronquíolos terminais e respiratórios (BT e BR). No enfisema panacinar os alvéolos periféricos (A) também são comprometidos. Adaptado de: WEST, 1996

No exame microscópio do tecido pulmonar de um paciente com enfisema

observam-se alvéolos anormalmente grandes, separados por finos septos que

apresentam somente uma fibrose centroacinar focal. Vê-se o desaparecimento

das fixações dos alvéolos à parede externa das vias aéreas. Com a progressão

da doença, observam-se espaços aéreos anormais ainda maiores e

possivelmente bolhas. Geralmente, os bronquíolos respiratórios e a vasculatura

do pulmão estão deformados e comprimidos pela distorção enfisematosa dos

espaços aéreos (KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2005).

As manifestações clínicas do enfisema não aparecem até que pelo menos

um terço do parênquima pulmonar funcionante seja danificado. A dispneia

costuma ser o primeiro sintoma, que começa de forma insidiosa e progride de

forma constante. Em alguns pacientes, a tosse é a principal queixa, facilmente

confundida com asma (KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2005).

3.2. EPIDEMIOLOGIA

A DPOC é uma das doenças mais comuns e é uma das principais causas de

morte em todo o mundo. Além de gerar custos elevados de saúde, a DPOC impõe

uma carga significativa em termos de incapacidade e qualidade de vida

comprometida. Ao contrário de muitas causas de morte e invalidez, a incidência

25

da DPOC é projetada para aumentar em muitas partes do mundo com o

envelhecimento da população e principalmente com a ampla difusão de seu

principal fator etiológico, o fumo do tabaco. O uso crescente de tabaco no mundo

em desenvolvimento permite a previsão de um grande aumento no número de

casos no futuro próximo e distante (PLANTIER; BOCZKOWSKI; CRESTANI,

2007; HALBERT et al., 2006).

De acordo com a OMS, em 2002, a DPOC foi a quinta maior causa de

morte. E segundo estimativas, em 2007, 210 milhões de pessoas em todo o

mundo tinham DPOC, dos quais 80 milhões se encontravam na faixa de

gravidade moderada à grave. E neste mesmo ano, mais de 3 milhões de pessoas

morreram devido a esta doença, correspondendo a 5% do total de óbitos

registrados no mundo. E conforme boletim divulgado pela OMS em 2011,

referente a dados de 2008, ela já passa a ser a quarta maior causa de morte,

representando 5,8% do total de mortes (Tabela 2).

O total de óbitos por DPOC são projetados para aumentar em mais de 30%

nos próximos 10 anos, a menos que medidas urgentes sejam tomadas para

reduzir os fatores de risco, em especial o uso do cigarro. As estimativas mostram

que a DPOC torna-se em 2030 a terceira maior causa de morte no mundo (WHO,

2011).

Uma meta-análise realizada por Halbert e seus colaboradores sugere que a

prevalência da DPOC é maior entre homens do que mulheres, entre fumantes e

ex-fumantes do que não fumantes, e entre os indivíduos com mais de 40 anos do

que aqueles com menos de 40. No entanto, a prevalência da DPOC pode variar

de forma significativa para uma determinada população, dependendo de qual

definição é usada (HALBERT et al., 2006).

No ano de 2000, a Associação Latino-Americana de Tórax (ALAT), reuniu

um grupo multidisciplinar de especialistas para elaborar as primeiras

recomendações sobre a exacerbação infecciosa da DPOC e pneumonia adquirida

na comunidade. Estas orientações foram publicadas em 2001 e pretendiam ser

uma adaptação à realidade latino-americana de conhecimento sobre a gestão e

tratamento destas infecções respiratórias. Devido ao tamanho e heterogeneidade

da América Latina, é difícil estabelecer um padrão que possa ser igualmente útil

26

para todos, mas esses documentos podem ser um ponto de orientação para lidar

com essas condições tão frequentes (ALAT, 2004).

Tabela 2: As 10 principais causas de morte no mundo em 2008

Causas Mortes em milhões % de mortes

Doença cardíaca isquêmica 7.25 12.8%

Acidente vascular cerebral e outras doenças

cerebrovasculares 6.15 10.8%

Infecções respiratórias 3.46 6.1%

DPOC 3.28 5.8%

As doenças diarreicas 2.46 4.3%

HIV/AIDS 1.78 3.1%

Câncer de pulmão, traqueia e brônquio 1.39 2.4%

Tuberculose 1.34 2.4%

Diabetes mellitus 1.26 2.2%

Acidentes de trânsito 1.21 2.1%

Adaptado de: Organização Mundial de Saúde, junho de 2011

A prevalência da DPOC em indivíduos acima de 50 anos na população geral

é estimada para ser de 3 a 6% nos países desenvolvidos, como os Estados

Unidos, o que implica que pelo menos 15 milhões de pessoas terão a doença

nesse país. Na Espanha, 9% da população entre 40 e 70 anos apresenta DPOC,

embora apenas 22% dos casos são diagnosticados e recebem algum tipo de

atenção médica. É importante ressaltar que pode haver diferenças de prevalência

entre diferentes áreas geográficas, mesmo dentro do mesmo país. Um estudo

populacional no Brasil mostrou uma prevalência de bronquite crônica de 12,7%

em indivíduos com mais de 40 anos, mas não conseguiu obter a prevalência de

DPOC por falta do estudo de espirometria (ALAT, 2004).

Dados sobre a DPOC na América Latina são escassos, mas há indícios de

que a DPOC também vem crescendo em prevalência e mortalidade em alguns

países dessa região (AIT-KHALED; ENARSON; BOUSQUET, 2001).

Para resolver a carência de dados viáveis sobre a DPOC na América Latina,

a ALAT lançou o projeto PLATINO (Projeto Latino-americano de Investigação em

Obstrução Pulmonar), com objetivo de determinar a prevalência da DPOC em

27

diferentes países da área e verificar a associação entre DPOC e alguns fatores de

risco, utilizando para isso um protocolo comum (ALAT, 2004). Cinco grandes

centros foram eleitos para representar as diferentes regiões da América Latina. O

critério de seleção das cidades foi baseado em sua posição geográfica, tamanho

da população, relevância em relação ao país e a disponibilidade de centros de

pesquisa locais de colaboração, sendo eles: São Paulo (Brasil), Cidade do México

(México), Santiago (Chile), Caracas (Venezuela) e Montevidéu (Uruguai)

(PLATINO, 2006).

O estudo PLATINO realizado no Brasil avaliou indivíduos com idade igual ou

superior a 40 anos, residentes na área metropolitana da grande São Paulo. Os

resultados mostraram que a prevalência total de DPOC variou de 6 a 15,8%, de

acordo com a definição utilizada, o que seria equivalente a 2.800.000 a 6.900.000

indivíduos com DPOC (JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004).

A DPOC, em 2003, foi a quinta maior causa de internamento no sistema

público de saúde do Brasil, em maiores de 40 anos, com 196.698 internações e

gastos aproximados de 72 milhões de reais. E vem ocorrendo um aumento no

número de óbitos por DPOC nos últimos 20 anos, em ambos os sexos, tendo a

taxa de mortalidade passado de 7,88 em cada 100.000 habitantes, na década de

1980, para 19,04 em cada 100.000 habitantes na década de 1990, com um

crescimento de 340%. A DPOC nos últimos anos vem ocupando da 4ª à 7ª

posição entre as principais causas de morte no Brasil (Tabela 3) (JARDIM;

OLIVEIRA; NASCIMENTO; 2004).

3.3. FATORES DE RISCO

A DPOC se desenvolve devido à presença e atuação de vários fatores de

risco. Embora se tenha identificado vários destes fatores, o tabagismo é de longe

o principal fator de risco isolado para a doença (ALAT, 2004). E mais: está

relacionado a um risco aumentado de óbito devido a DPOC, carcinoma pulmonar

e doença coronariana isquêmica. O aumento de risco está diretamente

relacionado à carga tabágica. Fumantes de cigarros apresentam um risco 10 a 14

vezes maior de morte por DPOC, e os de charutos e cachimbos um risco 6 vezes

maior de morte por essa patologia. A mortalidade por DPOC em fumantes de

28

cigarros tem relação com o número de cigarros consumidos, pois quem fuma de 1

a 14 cigarros por dia apresenta uma mortalidade 5 vezes maior do que os não

fumantes. Já quem fuma mais de 25 cigarros por dia dobra a chance de morte em

relação com o grupo que fuma menos (MEIRELLES, 2009; COSTA; RUFINO;

LAPA E SILVA, 2009).

Tabela 3: As 10 principais causas de óbito no Brasil, 2005

Causas Número de óbitos % de mortes

1. Doenças cerebrovasculares 90.006 10,0%

2. Doenças isquêmicas do coração 84.945 9,4%

3. Agressões (homicídios) 47.578 5,3%

4. Diabetes mellitus 40.317 4,5%

5. Doenças crônicas das vias respiratórias

inferiores (DPOC) 36.555 4,1%

6. Influenza e pneumonia 36.053 4,0%

7. Acidentes de transporte terrestre 35.994 4,0%

8. Doenças hipertensivas 33.487 3,7%

9. Insuficiência cardíaca 31.054 3,4%

10. Certas afecções originadas no período

perinatal 29.799 3,3%

Adaptado de: Secretaria De Vigilância Em Saúde, novembro de 2008

No entanto, é sabido que menos de 20% dos fumantes evolui para DPOC

clinicamente evidente, o que sugere que haja uma população de tabagistas

susceptíveis ao desenvolvimento da doença obstrutiva. A razão pela qual apenas

uma minoria dos tabagistas desenvolve resposta inflamatória aos agentes nocivos

presentes no cigarro que leva à destruição pulmonar é ainda fato desconhecido

(COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

Os dados disponíveis indicam que a prevalência média do tabagismo na

América Latina é de 37% nos homens e 20% em mulheres (ALAT, 2004).

Um aspecto vital é a precocidade na iniciação do tabagismo, pois a maioria

dos fumantes inicia o hábito entre 13 e 15 anos de idade. Também é importante

notar o aumento da prevalência em mulheres em idade jovem, sugerindo que em

29

poucos anos o número de tabagismo entre homens e mulheres tende a equalizar

(ALAT, 2004).

A prevalência do principal fator de risco para a DPOC - tabagismo - é alta na

América Latina. A média de consumo de cigarros anuais por pessoa, na maioria

dos países latino-americanos varia de 500 a 1499. Como na maioria dos países

de alta renda, há alguma evidência de que a prevalência de tabagismo em

homens é ligeiramente decrescente, enquanto que para as mulheres está

aumentando. Mesmo que as taxas de prevalência do tabagismo caiam

ligeiramente, o número absoluto de fumantes pode aumentar devido ao

crescimento populacional (MENEZES et al., 2005).

Embora de menor relevância, é importante notar outros fatores de risco para

a ocorrência da DPOC (Tabela 4). A poluição atmosférica é um fator que tem sido

associada com aumento da mortalidade, especialmente em pessoas com

doenças pulmonares crônicas. A DPOC pode ser agravada (embora haja menos

evidências) pela exposição à poluição ambiental, especialmente causada por

partículas, e esta pode causar sintomas de exacerbação, com internações e

mortalidade (ALAT, 2004).

Tabela 4: Fatores de risco para DPOC

Fatores externos Fatores individuais

Tabagismo (Principal) Deficiência de alfa-1 antitripsina

Poeira ocupacional Deficiência de glutationa transferase

Irritantes químicos Alfa-1 antiquimotripsina

Fumaça de lenha Hiper-responsividade brônquica

Infecções respiratórias graves na infância Desnutrição

Condição socioeconômica Prematuridade

Adaptado de: JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO; 2004

A poluição em domicílio pelo consumo de lenha ou outra biomassa tem sido

implicada na patogênese da DPOC. Em alguns países latino-americanos, fogões

a lenha podem ser encontrados em áreas rurais, emitindo quantidades

significativas de fumaça intradomicílio. Fumaça de madeira tem muitas

substâncias tóxicas e cancerígenas, semelhantes àquelas encontradas no cigarro,

30

e considera-se que 50% da população mundial recorrem a ela como fonte de

energia (ALAT, 2004).

Outros fatores de risco para a incidência da DPOC variam em diferentes

grupos populacionais. A exposição ocupacional a fumaças e poeiras, embora a

sua importância seja pequena se não for associada ao consumo de tabaco.

Também deve ser considerado: graves infecções respiratórias na infância, que

colocam uma maior susceptibilidade a outros agentes que podem ser adicionados

no futuro, como fumaça de tabaco, a exposição à fumaça de lenha ou exposições

ocupacionais (ALAT, 2004).

Finalmente, devemos ter em mente que fatores específicos ao indivíduo, tais

como hiper-reatividade brônquica ou mutações em genes que codificam proteínas

com efeito protetor da região pulmonar, como a α-1 antitripsina, podem influenciar

a suscetibilidade de ter DPOC (ALAT, 2004).

3.4. PATOGÊNESE

A compreensão da patogênese da DPOC tem aumentado ao longo dos

últimos 25 anos. É agora evidente que uma variedade de processos patológicos

está envolvida no desenvolvimento da DPOC. A resposta do hospedeiro a gases

e partículas inaladas desempenha um papel importante no desenvolvimento da

doença (ANDERSON; MACNEE, 2009).

O tabagismo é o principal fator de risco ambiental para a DPOC. Além disso,

outras exposições ambientais (por exemplo, fumaça de madeira) e ocupacionais,

bem como a genética contribuem para a patogênese da DPOC. Por conseguinte,

as alterações patológicas e sintomas clínicos estão ligados à interação dos

fatores do hospedeiro com os fatores ambientais. Essas interações geram a tríade

patológica da DPOC: inflamação persistente, desequilíbrio protease–antiprotease

e estresse oxidativo. Esta tríade resulta em metaplasia e hiperplasia de células

mucosas/caliciformes, hipersecreção de muco, fibrose, alterações do músculo liso

e destruição do tecido pulmonar, que levam aos principais sintomas, que são

tosse crônica, produção de catarro e falta de ar incapacitante. A patologia

subjacente é causada por uma “resposta inflamatória anormal do pulmão a

partículas ou gases nocivos” sendo os neutrófilos, macrófagos e linfócitos T as

31

células inflamatórias chaves e mediadores da doença, juntamente com os

mediadores que secretam, tais como a elastase, MMPs e citocinas (Figura 5)

(FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011; LANE et al., 2010).

Figura 5: As células inflamatórias envolvidas na patogênese da DPOC. As partículas do cigarro passam através das células epiteliais do pulmão e são absorvidas pelas células apresentadoras

de antígenos. Macrófagos alveolares desempenham um papel importante que afeta uma variedade de tipos celulares, liberando uma variedade de quimiocinas (entre elas, CXCL8 e

CXCL10). Os linfócitos T CD8+ potencialmente desempenham um papel na destruição do pulmão.

O papel dos linfócitos T CD4+ é menos compreendida na DPOC. Adaptado de: LANE et al., 2010

A inflamação crônica, em todas as vias aéreas e no parênquima pulmonar,

que ocorre na DPOC, é principalmente resultado da inalação de substâncias

tóxicas – principalmente os produtos químicos no cigarro, charuto, cachimbo e

fumo – que ativam as células epiteliais para a produção de mediadores

inflamatórios que provocam a inflamação crônica em todas as vias aéreas e no

parênquima pulmonar. Na DPOC, a inflamação pulmonar prejudicial surge

predominantemente da ação de leucócitos polimorfonucleares (PMNs) e

macrófagos alveolares pulmonares. Estas células da inflamação liberam

32

proteases que irritam as vias aéreas, aumentam a secreção de muco, destroem

as paredes alveolares, e perpetuam e agravam a atividade inflamatória em curso.

Além disso, níveis elevados de certas citocinas, principalmente, a interleucina (IL)-

8, leucotrieno B4 (LTB4), e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), ampliam e

perpetuam o processo inflamatório na DPOC, mesmo depois da cessação

tabágica (BRIGGS, 2004).

Como a DPOC é uma doença inflamatória crônica dos pulmões que

progride lentamente, a maioria dos pacientes são, portanto, idosos. Existe uma

evidência crescente para uma relação estreita entre o envelhecimento e doenças

inflamatórias crônicas que conduzem à hipótese de que o envelhecimento

acelerado do pulmão em resposta ao estresse oxidativo pode estar envolvido na

patogênese e progressão da DPOC, particularmente enfisema. Isto resulta de

uma falha dos órgãos em reparar danos no ácido desoxirribonucleico (DNA) pelo

estresse oxidativo (envelhecimento não programado) e do encurtamento dos

telômeros, como resultado da divisão celular (envelhecimento programado).

Comprimento dos telômeros é efetivamente considerado como um marcador para

o envelhecimento biológico, e o encurtamento em excesso dos telômeros é

consistentemente encontrado na DPOC (COSIO; AGUSTÍ, 2010).

O tabagismo é um gatilho para a senescência, o processo natural de

envelhecimento ao nível celular. Uma das sequelas da senescência é o

desenvolvimento de um fenótipo pró-inflamatório. Em tecidos pulmonares de

pacientes com DPOC comparados com fumantes saudáveis e indivíduos-controle

não fumantes, a ativação do fator nuclear (NF)-κB está aumentada em células

senescentes alveolares do tipo II. Além disso, em comparação com controles não

fumantes, há uma redução na expressão da proteína sirtuína-1 (SIRT1), uma

proteína anti-inflamatória e antienvelhecimento que regula negativamente fatores

de transcrição tais como NF-κB, nos pulmões de pacientes com DPOC. Assim, as

células senescentes podem propagar a resposta inflamatória na DPOC

(FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

Uma hipótese intrigante sugerindo um papel para a autoimunidade na

patogênese da DPOC tem emergido nos últimos anos e está amadurecendo

rapidamente (COSIO; AGUSTÍ, 2010). A observação de que apenas 20-30% de

fumantes habituais vão desenvolver DPOC sugere um grau de suscetibilidade

33

genética entre os indivíduos. Adicionado a isto, o fato de que a inflamação

pulmonar progressiva permanece, mesmo após a cessação tabágica, levanta a

possibilidade de que houve uma avaria na autotolerância resultante da lesão

tecidual causada pelos estímulos nocivos iniciais. De fato, os avanços recentes na

compreensão da patogênese da doença indicam que pacientes com DPOC

apresentam muitos dos mesmos recursos que pacientes que sofrem de doenças

autoimunes clássicas (STEFANSKA; WALSH, 2009).

Propõe-se que os mecanismos imunológicos que levam a DPOC seguem

três etapas. A primeira é caracterizada por uma resposta imunológica inata a

fumaça do cigarro que se baseia no reconhecimento de danos nos tecidos por

receptores Toll-like e é acionado por células epiteliais, macrófagos e neutrófilos. A

segunda etapa envolve a ativação das células T e proliferação, bem como a

maturação de células dendríticas conhecidas por aumentar nos pulmões de

pacientes com a progressão da DPOC. O terceiro e último passo seria uma

reação imune adaptativa impulsionada por células T citotóxicas CD8+, células T

helper 1 e células B oligoclonais, todas as quais são encontradas em pacientes

com DPOC grave. Estas células expressam o receptor de quimiocina CXCR3 e os

seus ligantes, que contribuem para formação de folículos linfoides. Este último

passo contribuiria para a persistência dos anos da resposta inflamatória após a

cessação tabágica, em resposta a autoantígenos produzidos ao longo de todo

este processo, uma característica de doenças autoimunes. No entanto, devem ser

realizadas mais pesquisas para demonstrar a relação causa-efeito entre

autoimunidade e o desenvolvimento da DPOC (COSIO; AGUSTÍ, 2010).

3.4.1. Genética da DPOC

A DPOC é influenciada por múltiplos determinantes genéticos, mas a grave

deficiência de α-1 antitripsina é o único fator de risco genético comprovado. Dado

o papel claro do tabagismo nessa doença e as diferenças interindividuais na

resposta à fumaça de cigarro, etiologia da DPOC é esperada para incluir

interações gene-ambiente (HIZAWA, 2009).

Numerosos genes candidatos que podem estar ligados à patogênese da

doença têm sido implicados na genética da DPOC. Esses estudos têm fornecido

34

evidências para o possível papel de muitos mediadores inflamatórios e seus

receptores, proteases, antiproteases e antioxidantes na fisiopatologia da DPOC.

Por exemplo, uma revisão sistemática da literatura caracterizou a evidência de

que os genes que codificam enzimas antioxidantes contribuem para a etiologia da

DPOC e traços relacionados; os efeitos mais fortes e mais consistente eram nos

genes que codificam glutamato-cisteína ligase (GCL), glutationa S-transferase M1

(GSTM1), glutationa S-transferase P1 (GSTP1), e superóxido dismutase 3

(SOD3) (HIZAWA, 2009).

3.4.2. O Estresse Oxidativo

Há evidências consideráveis de aumento do estresse oxidativo na DPOC. O

aumento do estresse oxidativo nas vias aéreas de pacientes com DPOC pode

desempenhar um importante papel fisiopatológico na doença, amplificando a

resposta inflamatória na DPOC (Figura 6). As células inflamatórias e estruturais

que são ativadas nas vias aéreas de pacientes com DPOC produzem espécies

reativas de oxigênio (EROs), incluindo, neutrófilos, eosinófilos, macrófagos e

células epiteliais (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003).

O estresse oxidativo ocorre quando EROs são produzidas em excesso dos

mecanismos de defesa antioxidantes e resultam em efeitos nocivos, incluindo

danos aos lipídios, proteínas e DNA (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003).

A inalação da fumaça de cigarro, e demais derivados do tabaco produtores

de fumaça, expõe os pulmões a altas concentrações de agentes oxidantes e

radicais livres que diminuem a capacidade antioxidante que normalmente protege

as células epiteliais (MEIRELLES, 2009). A fumaça do tabaco contém um

conjunto de mais de 4.700 compostos químicos. Na verdade, cada tragada

contém 1015 radicais livres na fase gasosa e 1018 radicais livres por grama de

alcatrão, e inclui oxidantes potentes, tais como peróxido de hidrogênio, ânion

hidroxila e radicais orgânicos (TUDER et al., 2006).

O fumo do cigarro em si contém uma elevada concentração de EROs, e

estas apresentam vários efeitos sobre as vias respiratórias, principalmente

aumento da resposta inflamatória. Estes efeitos podem ser mediados por ações

diretas das EROs nas células alvo das vias aéreas, mas podem também ser

35

mediados indiretamente através da ativação de vias de transdução de sinal e dos

fatores de transcrição e através da formação de mediadores oxidados, tais como

isoprostanos e hidroxi-nonenal (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003).

Figura 6: O estresse oxidativo e seus efeitos. Oxidantes contidos na fumaça do cigarro irritam as células epiteliais (1), liberando citocinas ativadoras que induzem o recrutamento dos neutrófilos e a liberação de oxidantes derivados de células (2) e proteases (3). Antioxidantes inibem os danos mediados por oxidante ao pulmão (4), mas quando surge um desequilíbrio (talvez por causa dos

polimorfismos dos genes) resulta no estresse oxidativo (5). As consequências do estresse oxidativo incluem a ativação de macrófagos (6), que conduz à produção de mais proteases, hipersecreção de muco, apoptose de células epiteliais, inflamação e a inibição da ação das

antiproteases. Adaptado de: HEALTHY LIFESTYLE, 2007

Embora haja no corpo uma bateria de sistemas antioxidantes, os quais

controlam a produção de oxidantes e os seus potenciais efeitos negativos, a

presença da fumaça do tabaco altera o equilíbrio entre oxidantes e antioxidantes

e conduz o sistema a uma situação de estresse oxidativo (PUERTO-NEVADO et

al., 2010).

A produção normal de oxidantes é neutralizada por vários mecanismos

antioxidantes no trato respiratório humano. Os principais antioxidantes

intracelulares nas vias aéreas são catalase, SOD e glutationa, formada pelas

enzimas γ-glutamil-cisteína sintetase e glutationa sintetase. No pulmão,

antioxidantes intracelulares são expressos em níveis relativamente baixos e não

36

são induzidos pelo estresse oxidativo, enquanto que os principais antioxidantes

são extracelulares. Antioxidantes extracelulares, particularmente glutationa

peroxidase, são marcadamente regulados em resposta à fumaça de cigarro e

estresse oxidativo. O sistema da glutationa é o principal mecanismo antioxidante

nas vias aéreas. Existe uma elevada concentração de glutationa reduzida no

fluido de revestimento epitelial do pulmão e as concentrações são aumentadas

nos fumantes de cigarros. Glutationa peroxidase extracelular (GPxe) é um

importante antioxidante nos pulmões e pode ser secretada pelas células epiteliais

e macrófagos, particularmente em resposta à fumaça do cigarro ou ao estresse

oxidativo. GPxe inativa as EROs H2O2 e O2-, mas também pode bloquear as

espécies reativas de nitrogênio. Antioxidantes extracelulares também incluem

ácido úrico, lactoferrina, SOD3 extracelular, e antioxidantes da dieta: vitamina C

(ácido ascórbico) e vitamina E (α-tocoferol) (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS,

2003).

No entanto, a exposição à fumaça do tabaco produz alterações importantes

na homeostase da glutationa, produzindo uma diminuição na sua concentração

assim como na atividade das enzimas envolvidas neste ciclo redox (PUERTO-

NEVADO et al., 2010).

O tabagismo expõe a árvore respiratória e os pulmões às EROs, resultando

em estresse oxidativo e lesão. Isso desencadeia a produção de outras EROs e

peroxidação lipídica e inflamação pulmonar subsequente. Por exemplo, o

aumento da expressão de 4-hidroxi-2-nonenal, um produto de peroxidação

lipídica, está presente nas vias aéreas e no epitélio alveolar de pacientes com

DPOC. Do mesmo modo, o malondialdeído (MDA, C3H4O2), um produto final da

peroxidação lipídica também aumenta no sangue de pacientes com DPOC e

aumenta com a gravidade da doença (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

EROs ativam o NF-κB, que liga múltiplos genes inflamatórios, resultando em

amplificação da resposta inflamatória. As vias moleculares pelas quais o estresse

oxidativo ativa NF-κB não foram completamente elucidadas. Muitos dos estímulos

que ativam o NF-κB parecem fazê-lo através da formação de EROs,

particularmente H2O2. EROs ativa NF-κB numa linha celular epitelial e aumenta a

liberação de citocinas pró-inflamatórias. Estresse oxidativo resulta em ativação da

atividade de histona-acetiltransferase o que abre a estrutura da cromatina e está

37

associada com a transcrição aumentada de múltiplos genes inflamatórios. Outro

fator de transcrição que ativa genes inflamatórios é o Ativador de proteína-1 (AP-

1), um heterodímero de proteínas Fos e Jun. O estresse oxidativo pode refletir na

ativação de NF-κB e de AP-1, que em seguida, induzem uma via inflamatória

neutrofílica aumentando a expressão de IL-8 e outras quimiocinas CXC, TNF-α e

MMP-9. NF-κB é ativado nas vias aéreas e macrófagos alveolares de pacientes

com DPOC e está mais ativado durante as exacerbações. É provável que o

estresse oxidativo seja um importante ativador deste fator de transcrição em

pacientes com DPOC (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003).

O fumo do cigarro, e em menor extensão, o dióxido de nitrogênio, impõe um

estresse oxidativo nas vias aéreas, gerando H2O2, um potente ativador da via da

proteína quinase ativada por mitógenos (MAPK) p38 que regula a expressão de

muitos genes inflamatórios e de sobrevivência em certas células, e a propagação

dos macrófagos (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003).

O estresse oxidativo pode também prejudicar a função de antiproteases

como α-1 antitripsina e Inibidor da leucoprotease secretora, e, assim, acelerar a

quebra de elastina no parênquima pulmonar (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS,

2003).

Estresse oxidativo pode também induzir a apoptose em células estruturais,

células epiteliais alveolares e células endoteliais. A apoptose de pneumócitos tipo

1 pode contribuir para o desenvolvimento de enfisema e isto pode ser induzido

por linfócitos T citotóxicos ou por inibição dos receptores do fator de crescimento

endotelial vascular. EROs podem induzir a apoptose por ativação da via de NF-

κB, por danos diretos no DNA através da ativação da poli adenosina difosfato

ribose e através da geração de 4-hidroxi-nonenal (um produto de peroxidação

lipídica). O sinal de apoptose regulado pela quinase-1 é realizado em uma

conformação inativa por tiorredoxina e quando oxidados por EROs isso dispara

vias apoptóticas (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003; FISCHER; PAVLISKO;

VOYNOW, 2011)

38

3.4.3. Inflamação

Pacientes com DPOC em comparação com indivíduos controle

experimentam um estado geral elevado de inflamação sistêmica refletida por

biomarcadores, como citocinas e óxido nítrico. Da mesma forma, lavado

broncoalveolar (LBA) e escarro de pacientes também demonstram um aumento

de biomarcadores inflamatórios, como citocinas, proteases, e receptores de

citocinas solúveis. Além disso, os níveis de citocinas podem aumentar com a

gravidade da doença DPOC (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

O cigarro e outros tipos de fumaças inaladas desencadeiam uma resposta

inflamatória nos pulmões, resultando no influxo de diferentes tipos de células

inflamatórias. Os neutrófilos, macrófagos, linfócitos T, bem como eosinófilos e

mastócitos, têm sido associados com bronquite crônica ou DPOC. É interessante

notar que há um forte aspecto imunológico para DPOC que é caracterizado por

ativação de células T, proliferação em células T do tipo efetoras, e em seguida,

quimiotaxia para o pulmão com base no receptor de quimiocina do tecido

específico e expressão do ligante (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

3.4.3.1. Células inflamatórias e seus mediadores

Alguns autores demonstraram a presença de linfócitos T e macrófagos na

parede das vias aéreas de tabagistas, enquanto que neutrófilos são

preferencialmente coletados na luz alveolar. Nesse processo inflamatório existe a

participação não apenas das células inflamatórias, mas de células estruturais

como epiteliais, musculares e fibroblastos. O acúmulo de macrófagos e de

linfócitos na parede das pequenas vias aéreas tem recebido muito interesse por

parte dos pesquisadores da especialidade. Os neutrófilos, através da liberação de

elastases e EROs são pensados para desempenhar um papel significativo na

destruição do tecido enquanto os macrófagos também têm sido implicados na

promoção de alargamento do espaço aéreo alveolar, principalmente através da

liberação de MMPs. Diferente do que ocorre na asma, onde existe proliferação de

linfócitos T com predomínio de CD4, vários achados apontam para o acúmulo

especialmente de linfócitos T CD8. Esta dicotomização do perfil inflamatório, que

39

é particular a cada uma das doenças inflamatórias pulmonares, poderia explicar o

aparecimento de mediadores inflamatórios específicos que seriam determinantes

no desenvolvimento da lesão estrutural que ocorre na DPOC. Entre os

mediadores que causam acúmulo de células no pulmão enfisematoso e que

propiciam a manutenção do processo inflamatório, certamente existe um lugar

para as quimiocinas relacionadas ao fenótipo 1 de inflamação. CXCL9/MIG,

CXCL10/ IP-10, CXCL11/I-TAC e CCL5/RANTES têm sido aventadas como

possíveis quimiocinas implicadas no recrutamento de linfócitos T e monócitos

sanguíneos, facilitando o aumento de macrófagos alveolares e linfócitos T,

especialmente CD8, no parênquima dos pacientes com DPOC. O reconhecimento

do mecanismo pelo qual ocorre o tráfego de células mononucleares em direção

ao pulmão é fundamental não só para um maior entendimento da patogênese da

DPOC, mas para o desenvolvimento de terapêuticas adequadas. O bloqueio de

receptores específicos que reduzisse o recrutamento de células inflamatórias

diretamente relacionadas com a destruição pulmonar pode ser uma proposta

interessante de atuação sobre esta doença (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA,

2009; STEFANSKA; WALSH, 2009).

3.4.3.2. Células estruturais

O processo inflamatório da DPOC envolve uma variedade de células

inflamatórias e seus mediadores. No entanto, tem sido sugerida a participação

das células estruturais na fisiopatologia da doença (COSTA; RUFINO; LAPA E

SILVA, 2009).

As células epiteliais que revestem as grandes e pequenas vias aéreas

representam a primeira linha de defesa na resposta imune inata pulmonar. Bem

como proporcionam uma barreira física contra micro-organismos patogênicos e

toxinas inaladas, tais como as presentes no fumo do tabaco, células epiteliais

respiratórias são agora reconhecidas por desempenhar um papel central na

iniciação e mediação das respostas inflamatórias no pulmão (STEFANSKA;

WALSH, 2009).

As células epiteliais podem ser ativadas diretamente pela fumaça de cigarro

passando a produzir mediadores inflamatórios como IL-8, CCL20 e TNF-α. Após a

40

exposição à fumaça do cigarro, células epiteliais respiratórias são submetidas a

uma gama de alterações estruturais, resultando em perda da função de barreira,

diminuição da depuração mucociliar e metaplasia escamosa. É possível que as

células epiteliais deixem de exercer adequadamente seu papel de defesa, com a

perda da integridade estrutural da monocamada epitelial, facilitando a ocorrência

de infecções respiratórias e a liberação de citocinas (COSTA; RUFINO; LAPA E

SILVA, 2009; STEFANSKA; WALSH, 2009).

3.4.3.3. Macrófagos

Os macrófagos representam a maioria das células inflamatórias recolhidas

das vias aéreas tanto de pessoas saudáveis quanto de pacientes com DPOC. No

entanto, o número de macrófagos está aumentado entre 5 e 10 vezes no LBA de

pacientes com DPOC, quando comparado com voluntários não tabagistas. O

número de macrófagos no LBA parece correlacionar-se com a gravidade da

doença. O acúmulo de macrófagos nas paredes das vias aéreas e no parênquima

pulmonar dos tabagistas que desenvolvem DPOC pode ser explicado tanto pelo

prolongamento do tempo de vida da célula no pulmão como pelo aumento do

recrutamento de monócitos (seu precursor) da circulação. Alguns trabalhos

sugerem que a participação dos macrófagos na patogênese da DPOC tem

relação com a sua capacidade de produzir enzimas MMP como a MMP-1, MMP-9

e MMP-12. Acredita-se que as metaloproteinases sejam capazes de degradar

proteínas de forma semelhante às enzimas neutrofílicas e recrutar células

inflamatórias da circulação, facilitando sua infiltração nos tecidos lesados.

Macrófagos recolhidos do LBA de pacientes com DPOC apresentam aumento da

expressão de receptores para MMP-1 e MMP-9, enquanto que tanto

camundongos com deficiência de MMP-12 quanto o uso de inibidores de MMP em

cobaias apresentaram efeito protetor à exposição à fumaça de cigarro (COSTA;

RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

Essas células são a fonte de um número de mediadores potencialmente

significativos, tais como TNF-α, LTB4, EROs, e várias quimiocinas incluindo IL-8

(que promove a infiltração de neutrófilos, enquanto amplifica a destruição do

tecido através da secreção de protease) e o agonista pró-inflamatório do CCR2,

41

CCL2. A produção deste fator pode ser particularmente crítica porque a produção

de CCL2 fornece uma oportunidade para o recrutamento adicional de macrófagos

do subtipo pró-inflamatório para os pulmões (KIM; ROGERS; CRINER, 2008).

Os macrófagos também têm a capacidade de promover a infiltração de

células T através da expressão de quimiocinas específicas Th1/Tc1, tais como

CXCL9, CXCL10 e CXCL11 (Figura 7). Os níveis aumentados destas quimiocinas

têm sido relatados no escarro de pacientes com DPOC e correlacionada

diretamente com aumento observado na infiltração de macrófagos, bem como

diminuição da função pulmonar (STEFANSKA; WALSH, 2009).

Apesar de não se saber ao certo como os macrófagos atuam na DPOC, está

claro que, além de quantitativamente aumentados, estas células estão

relacionadas com a destruição pulmonar. Avaliando tecido pulmonar biopsiado de

pacientes com DPOC foi verificado que as áreas mais destruídas eram

circundadas por processo macrofágico e linfocitário, fazendo com que alguns

autores sugerissem uma possível interação entre essas células na patogênese da

DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

3.4.3.4. Linfócitos

Estudos demonstraram que tanto os linfócitos T CD4 (T helper) como os

CD8 (citotóxico) estavam aumentados nas vias aéreas e no parênquima pulmonar

dos pacientes com DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

Existem dois padrões de resposta das células T CD4: T helper 1 (Th1) e T

helper 2 (Th2). O padrão Th1 está relacionado com a liberação de IL-2, interferon

gama (IFN-γ) e TNF-α; enquanto que o padrão Th2 está associado à secreção de

IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13, à produção de imunoglobulina (Ig)-E e IgG4, e se associa

com a ativação de mastócitos e eosinófilos. Este é o padrão, por exemplo, da

asma (FREEMAN; CURTIS; CHENSUE, 2007).

Assim como as células T CD4, as CD8 também apresentam dicotomia de

expressão, neste caso, sendo chamadas de Tc1 (células T citotóxicas do tipo 1) e

Tc2 (células T citotóxicas do tipo 2). No primeiro padrão, observa-se produção de

IFN-γ, mas não de IL-4. No segundo, as células liberam IL-4, mas não INF-γ

(FREEMAN; CURTIS; CHENSUE, 2007).

42

Figura 7: Geração de uma resposta imune adaptativa em pacientes com DPOC. O fumo do tabaco induz dano tecidual resultado do recrutamento e ativação de células imunes inatas, como

macrófagos e células dendríticas para o local da inflamação. Os constituintes do fumo do tabaco e moléculas endógenas derivadas do tecido danificado podem constituir uma fonte de antígenos que

são processados e apresentados por células dendríticas para células T naïve nos gânglios linfáticos de drenagem. Ativação de células T antígeno específica resulta em proliferação

oligoclonal de subpopulações de células T CD4+ e CD8

+, que migram para o local da inflamação,

em resposta a quimiocinas derivadas de macrófagos (CXCL9, CXCL10 e CXCL11). Células T helper infiltrantes (Th1 e Th17) amplificam a resposta inflamatória através da secreção de

citocinas específicas (por exemplo, IL- 17 e IFN-γ) que promovem a infiltração de neutrófilos, ativação de macrófagos, respostas de células T CD8

+ citotóxicas e produção de auto-anticorpo

pelas células B ativadas. Adaptado de: STEFANSKA; WALSH, 2009

A resposta celular associada com a DPOC tem sido mais frequentemente

(mas não exclusivamente) atribuída à resposta Th1 inflamatória (ou Tc1 para

designar uma resposta de células T CD8+ em que citocinas pró-inflamatórias são

proeminentes) do sistema imune adquirido. No entanto, avanços recentes na

compreensão da biologia das células T efetoras revelou a existência de uma

subpopulação distinta de células T CD4+ com potentes atividades funcionais pró-

inflamatórias. Estas células são designadas células Th17 por causa da sua

capacidade para produzir IL-17A e IL-17F. As populações de células T efetoras

CD4+ clássicas (Th1 e Th2) não conseguem produzir estas citocinas, embora a IL-

17 também seja produzida por um número de outras células hematopoiéticas,

incluindo as células CD8+ e células T γδ (gama delta), células Natural Killer (NK),

43

e neutrófilos. A atividade inflamatória das células Th17 é aparentemente devido à

produção de um complexo único de citocinas pró-inflamatórias, incluindo IL-6, IL-

17A, a IL-17F, GM-CSF (fator estimulador de colônias de granulócitos-

macrófagos) e TNF-α. Estas células também expressam receptores para IL-18 e

IL-23 (esta serve como um fator de crescimento para promover a atividade da

população Th17), citocinas tipicamente produzidas por monócitos, macrófagos e

células dendríticas. No que diz respeito ao pulmão, IL-17 é um potente indutor da

produção de IL-6 por células epiteliais brônquicas, e IL-6 e IL-17 são fortes

indutores da produção de mucinas Muc5AC e Muc5B por células epiteliais do

pulmão. Além disso, a IL-17 induz as células epiteliais a liberarem CXCL8, uma

quimiocina que é importante para a atração de neutrófilos (KIM; ROGERS;

CRINER, 2008).

Os linfócitos T CD4 e CD8 estão aumentados no parênquima pulmonar e na

parede das vias aéreas de pacientes com DPOC. Em modelo animal de enfisema

induzido pela exposição à fumaça de cigarro foi observado que, além do número

de linfócitos T estarem aumentado, havia correlação direta entre esse número e a

gravidade da doença pulmonar (TAKUBO et al., 2002).

Vários artigos também tem demonstrado o predomínio do padrão Tc1 das

células CD8 no escarro, no LBA e na biópsia dos pacientes, quando comparado

aos tabagistas sem limitação do fluxo aéreo e aos voluntários não tabagistas. No

entanto, os linfócitos T CD4 também estão aumentados no parênquima de

pacientes com DPOC, especialmente naqueles com doença mais grave. É

possível que elas tenham importância na manutenção da memória imunológica

que perpetuaria o processo mesmo após a suspensão do tabagismo (COSTA;

RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

A polarização da inflamação pulmonar da DPOC em favor do tipo 1 resulta

na produção e liberação de um determinado tipo de citocinas, especialmente o

IFN-γ, liberado pelos linfócitos CD4 e CD8 e capaz de ativar os macrófagos, que,

por sua vez, passam a produzir uma série de citocinas, incluindo IL-12, que

mantém a diferenciação de linfócitos desviada para o fenótipo 1 (COSTA;

RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

Linfócitos T CD8 estão aumentados na parede brônquica e no parênquima

pulmonar de pacientes com DPOC quando comparado com tabagistas sem

44

obstrução brônquica. Mais ainda, a intensidade da infiltração linfocitária está

diretamente relacionada com o grau de obstrução brônquica. Dessa forma, a

proliferação de células T CD8 no pulmão de tabagistas estaria relacionada com a

progressão da doença obstrutiva. Uma das funções das células T CD8 é a

apoptose de células-alvo, que no caso do enfisema está relacionada com a

destruição pulmonar. Foi demonstrada a relação tanto da apoptose quanto da

infiltração de células T CD8 na parede brônquica com a carga tabágica e com a

destruição pulmonar em pacientes com DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E

SILVA, 2009).

O mecanismo pelo qual os linfócitos T CD8 se acumulam nas paredes das

vias aéreas e no parênquima pulmonar dos pacientes com DPOC ainda não está

claro. No entanto, o recrutamento de células para o pulmão deve necessitar da

ativação linfocitária, que, por sua vez, provavelmente será seguida por adesão e

quimiotaxia seletiva. Há evidências de que as células T expressam vários

receptores de quimiocinas pró-inflamatórias, incluindo CCR5 e CXCR3,

relacionados às quimiocinas responsáveis pelo recrutamento de linfócitos T, mas

não é de todo certo que estes receptores de quimiocinas sejam responsáveis pela

a acumulação de células T CD8+ nos pulmões de pacientes. As quimiocinas que

atuam no receptor CXCR3 são CXCL9, CXCL10 e CXCL11, enquanto que as

relativas ao receptor CCR5 compreendem CCL3, CCL4, CCL5 e CCL11. Todas

têm atividade quimiotáxica de linfócitos (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009;

KIM; ROGERS; CRINER, 2008).

Deve-se considerar a possibilidade de que as células T CD8+ no pulmão

doente não representem a população inflamatória mais importante, mesmo que

elas sejam uma população relativamente abundante. No entanto, a simples

presença destas células quase certamente contribui como uma fonte de

mediadores patogênicos, que claramente têm o potencial para participar de danos

no tecido pulmonar. Além disso, estas células possuem o potencial para promover

a destruição do interstício pulmonar através da liberação de proteases, tais como

perforina e granzima, bem como as citocinas citotóxicos tais como o TNF-α (KIM;

ROGERS; CRINER, 2008).

45

3.4.3.5. Neutrófilos

A primeira e mais consistente anormalidade encontrada nas vias aéreas de

pacientes com DPOC é a infiltração celular da parede e luz brônquicas. Estudos

em animais demonstraram que a exposição à fumaça de cigarro promove a

proliferação de neutrófilos nas vias aéreas. Dessa forma vários autores têm

publicado estudos relatando o aumento de neutrófilos no escarro e no LBA de

pacientes com DPOC. Os neutrófilos estão implicados na liberação de citocinas

inflamatórias, mediadores lipídicos e enzimas capazes de promover dano tecidual.

Além disso, podem promover hipersecreção de muco por meio de efeito

secretagogo e pela proliferação de glândulas mucosas (COSTA; RUFINO; LAPA

E SILVA, 2009).

Desde o advento da tese de que a destruição pulmonar estaria relacionada

ao desequilíbrio entre proteases e antiproteases, o neutrófilo foi tido como fator

importante para o desencadeamento da doença, já que esse desequilíbrio seria

mantido através da liberação de enzimas neutrofílicas, o que ocasionaria o

aumento de proteases no pulmão (COSTA, RUFINO, LAPA E SILVA, 2009).

Alguns autores têm relatado que, embora a inflamação neutrofílica esteja

constantemente presente nos fumantes, ela provavelmente representa uma

resposta inespecífica das vias aéreas à agressão causada pelo tabagismo, não

estando, necessariamente, relacionada à progressão para DPOC. E mais: seria

necessária a ocorrência de interação com macrófagos e linfócitos T, os quais

desencadeariam resposta inflamatória ampliada e anormal apenas na parcela de

tabagistas que desenvolveria quadro clínico de DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E

SILVA, 2009).

3.4.3.6. Quimiocinas na patogênese da DPOC

Através da regulação do trânsito de células inflamatórias em direção aos

pulmões, as quimiocinas desempenham um papel fundamental no processo

inflamatório da DPOC. Algumas quimiocinas estão sendo estudadas há mais

tempo e estão mais claramente implicadas ao processo, enquanto outras

desempenham papel ainda incerto (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

46

a) IL-8/CXCL8

É um potente fator quimiotático de neutrófilos e seu nível está aumentado no

escarro induzido de pacientes com DPOC em comparação com os controles não

tabagistas. O nível de IL-8 está relacionado ao número absoluto e relativo de

neutrófilos no escarro induzido e está especialmente aumentado nos pacientes

com deficiência de α-1 antitripsina e naqueles com exacerbação brônquica

(COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

b) Oncogene relacionado ao crescimento (GRO)-α/CXCL1

Produzida e liberada por macrófagos alveolares e células epiteliais, GRO-α

tem sido implicada na ativação de neutrófilos, monócitos, basófilos e linfócitos T

por meio de sua ligação com o receptor CXCR2. Sua concentração está

aumentada no escarro, mas não no LBA de pacientes com DPOC em

comparação com tabagistas e não tabagistas. É capaz de recrutar monócitos,

mecanismo pelo qual deve ocorrer o acúmulo de macrófagos alveolares no

pulmão de pacientes com DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

c) Ativador neutrofílico derivado do epitélio (ENA)-78/CXCL5

Assim como o GRO-α, o ENA-78/CXCL5 atua por meio do receptor CXCR2

e está aumentado no LBA de pacientes com DPOC em relação a controles não

tabagistas, embora em níveis não superiores àqueles encontrados em fumantes.

Foi relatado que a sua expressão nas células epiteliais está aumentada durante

as fases de exacerbação da DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

d) Quimiocinas dos receptores CXCR1 e CXCR2

Estes receptores estão presentes principalmente em neutrófilos e monócitos.

CXCL6 e CXCL8 são quimiocinas que se ligam aos receptores e estão envolvidas

com processos inflamatórios neutrofílicos. A expressão dos receptores CXCR1 e

47

CXCR2 está aumentada nos pacientes com DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E

SILVA, 2009).

3.4.4. Desequilíbrio Protease – Antiprotease

Num sentido simplista, enfisema é causado pelo desequilíbrio de proteases

e antiproteases que resulta na destruição do parênquima pulmonar. O exemplo

clássico é deficiência de α-1 antitripsina, onde sem oposição da elastase

neutrofílica tem efeitos deletérios sobre os pulmões. No entanto, na patogênese

geral, são as interações entre EROs e proteases ou antiproteases que

desencadeiam este desequilíbrio. Exposição à fumaça de cigarro pode inativar

antiproteases endógenas, bem como desencadear uma resposta pulmonar

aguda, que ativa os macrófagos alveolares residentes e promove o influxo de

neutrófilos para os pulmões. À medida que a exposição à fumaça continua e

torna-se crônica, há acumulação de macrófagos, neutrófilos e células T CD8+ nos

pulmões. Os macrófagos e neutrófilos liberam uma variedade de proteases,

incluindo a elastase neutrofílica, proteinase 3, MMPs e as catepsinas. Essas

proteinases “apoiam” umas as outras, ativando umas as outras ou inibindo seus

inibidores endógenos, tais como elastase neutrofílica inibi inibidores teciduais de

MMPs e MMPs degradam α-1 antitripsina. Estas proteinases clivam componentes

da matriz extracelular, fibras de elastina e colágeno, gerando fragmentos de

elastina ou peptídeos derivados de colágeno, tais como prolina-glicina-prolina,

que tem sido demonstrado ser quimiotáctico para monócitos, a célula precursora

de macrófagos ou neutrófilos. Coletivamente, fragmentos de peptídeos

quimiotáticos perpetuam a acumulação de macrófagos e neutrófilos e destruição

pulmonar (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

3.5. PATOLOGIA DA DPOC

As características patológicas da DPOC são a inflamação das vias aéreas

periféricas e destruição do parênquima pulmonar contribuindo para a

consequência funcional da limitação do fluxo aéreo expiratório (WOUTERS,

2005).

48

As alterações patológicas são detectadas muito cedo nos bronquíolos,

onde fibrose peribronquiolar resulta em obstrução ao fluxo aéreo. Alterações

precoces também podem ser detectadas em todos os brônquios, onde

hipersecreção de muco, células inflamatórias, e a contração da musculatura lisa

brônquica também obstruem o fluxo de ar. A hipersecreção de muco é uma

característica saliente da hipertrofia das glândulas submucosas e hiperplasia de

células caliciformes. Fatores quimiotáticos de neutrófilos também emanam de

macrófagos ativados e de células epiteliais e linfócitos CD8+. Na verdade, os

macrófagos, pela liberação de fatores quimiotáticos de neutrófilos e enzimas

proteolíticas, desempenham um papel proeminente na perpetuação da resposta

inflamatória PMN na DPOC (BRIGGS, 2004).

Na DPOC, a inflamação crônica em todas as vias aéreas e o parênquima

pulmonar produzem alterações patológicas acumulativas ao longo do tempo,

culminando na deterioração progressiva da função pulmonar. Inflamação

constante provoca a hipertrofia das glândulas de muco, hiperplasia de células

caliciformes, fibrose peribronquiolar, e espessamento da vasculatura pulmonar

que conspiram para debilitar o funcionamento pulmonar. Estas características

patológicas da DPOC, juntamente com aumento do tônus vagal, provoca aumento

no tônus do músculo liso, disfunção ciliar, edema e recolhimento elástico

diminuído no tecido pulmonar, juntos obstruem o fluxo de ar. Pacientes já não

podem exalar de forma eficiente e, em resposta, o volume do pulmão aumenta,

especialmente durante o exercício, aprisionando ar, diminuindo a capacidade

inspiratória, e induzindo dispneia. De fato, muitas pessoas que morrem de DPOC

sucumbem a defeitos de trocas gasosas que produzem níveis reduzidos de

oxigênio e níveis aumentados de dióxido de carbono no corpo, ou seja,

insuficiência respiratória. A hipertensão pulmonar da hipoxemia e perda de leito

vascular e cor pulmonale (forma de insuficiência cardíaca, onde há diminuição da

capacidade de funcionamento das câmaras direitas do coração, por doença

pulmonar), são resultados inexoráveis para pacientes com DPOC avançada.

Importantemente, a DPOC também pode causar uma perda de massa magra,

uma manifestação da inflamação sistêmica e do estado catabólico dos pacientes

com doença avançada. Os pacientes com baixo índice de massa corporal (IMC)

desta caquexia pulmonar têm maior mortalidade. Alguns têm notado que, em

49

pacientes com DPOC, o diâmetro transversal do músculo quadríceps prediz a

mortalidade melhor do que a diminuição do VEF1 (BRIGGS, 2004).

3.6. SINTOMATOLOGIA

A DPOC é caracterizada por inflamação crônica que induz o estreitamento

dos brônquios, resultando em uma redução progressiva do fluxo aéreo e

hiperinsuflação dinâmica. Principais sintomas da DPOC podem incluir dispneia,

tosse crônica, produção de expectoração, e às vezes chiado. Entretanto, os

sintomas podem estar ausentes ou negados por pacientes com doença precoce.

Apesar de que já se acreditou ser irreversível e inexoravelmente

progressiva, a sintomatologia da DPOC pode ser detida, ou mesmo revertida, com

o diagnóstico precoce, tratamento broncodilatador adequado, e principalmente

pela interrupção do ato de fumar. No entanto, para gerir eficazmente as sequelas

desta doença, é importante reconhecer a verdadeira natureza da DPOC: uma

doença inflamatória que afeta não somente todas as vias aéreas, mas também

todo o corpo (Figura 8). Na verdade, as manifestações sistêmicas da inflamação

da DPOC, tais como inflamação sistêmica (desequilíbrio entre a formação de

radicais livres de oxigênio e capacidade antioxidante resultando no estresse

oxidativo sistêmico e ativação das células inflamatórias), disfunção músculo

esquelética (perda da massa muscular esquelética e anomalias bioenergéticas) e

principalmente a aterosclerose, são responsáveis por grande parte da sua

morbidade e mortalidade associadas (BRIGGS, 2004; DOURADO et al., 2006;

FERREIRA, 2010).

A presença de sintomas respiratórios crônicos no paciente com hábito

tabágico (cigarro, cigarrilha, cachimbo, charuto) deve levar a suspeita clínica de

DPOC. Quanto maior a intensidade do tabagismo, maior a tendência ao

comprometimento da função pulmonar, embora a relação não seja obrigatória.

Aproximadamente 15% dos fumantes desenvolvem DPOC (JARDIM; OLIVEIRA;

NASCIMENTO, 2004).

A tosse é o sintoma mais encontrado, podendo ser diária ou intermitente e

pode preceder a dispneia ou aparecer simultaneamente a ela. O aparecimento da

tosse no fumante é tão frequente que muitos pacientes não a percebem como

50

sintomas de doença, considerando-a como o “pigarro do fumante”. A tosse

produtiva ocorre em aproximadamente 50% dos fumantes (JARDIM; OLIVEIRA;

NASCIMENTO, 2004).

Figura 8: Fisiopatologia das manifestações sistêmicas e locais da DPOC. Legenda: VEF1, volume expiratório forçado no primeiro segundo; AVDs, atividades da vida diária; IL, interleucina; TNF-α,

fator de necrose tumoral. Adaptado de: DOURADO et al., 2006

A dispneia, ou falta de ar, é o principal sintoma associado à incapacidade,

redução da qualidade de vida e pior prognóstico. É geralmente progressiva com a

evolução da doença. Muitos pacientes só referem à dispneia numa fase mais

avançada da doença, pois atribuem parte da incapacidade física ao

51

envelhecimento e à falta de condicionamento físico (JARDIM; OLIVEIRA;

NASCIMENTO, 2004).

A perda de massa esquelética é um preditor de mortalidade em pacientes

com DPOC e, pode estar associada á acentuação dos sintomas, piora da

qualidade de vida e, intolerância ao exercício (JARDIM; OLIVEIRA;

NASCIMENTO, 2006).

A prevalência da desnutrição é variável, oscilando entre 26% e 47% dos

pacientes portadores de DPOC. Estudos retrospectivos indicam que reduções do

peso do corpo, resultando em valores abaixo de 90% do peso ideal e em valores

baixos de IMC, são fatores prognósticos negativos independentemente da

gravidade da doença. Há relação inversa entre o IMC e a sobrevida em pacientes

com DPOC. Em todos os grupos, a perda de peso está associada com

mortalidade aumentada; além disso, pacientes com DPOC grave e IMC menor

que 25 kg/m2 apresentam aumento da sobrevida quando ocorre ganho de peso

(DOURADO et al., 2006).

Em decorrência da progressão da DPOC o individuo também limita a

execução de suas atividades da vida diária para amenizar os sintomas,

apresentando um quadro de descondicionamento cardiovascular, disfunção

musculo esquelética e transtornos psicológicos, dentre eles a depressão

(FERREIRA, 2010).

3.6.1. Comorbidades

A comorbidade, descrita como a coexistência simultânea de doenças de

natureza distinta da DPOC no paciente portador desta condição constitui um fator

associado ao pior prognóstico da DPOC (LAST, 2001).

Como uma doença multicomponente, a DPOC é frequentemente associada

com disfunção de diferentes órgãos/sistemas. De particular interesse é a sua

associação com aumento da morbidade e mortalidade por doença cardiovascular

(COSIO; AGUSTÍ, 2010).

Entre as comorbidades mais comuns associadas com DPOC estão a

hipertensão, doença cardíaca isquêmica, insuficiência cardíaca, diabetes mellitus

e transtornos de humor (ANCOCHEA; GARCÍA; DÍEZ, 2010).

52

3.7. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico precoce é a chave para evitar muitas das consequências

deletérias da DPOC, e isso requer um médico para identificar os pacientes de

risco – principalmente os fumantes. No entanto, os clínicos podem muitas vezes

ignorar os pacientes de risco durante contatos com pacientes de rotina ou mesmo

durante um exame físico, já que a DPOC pode ser assintomática em sua fase

inicial, ou pacientes podem negar os sintomas ou o estilo de vida alterado.

Quando isso ocorre, o diagnóstico só pode ser confirmado tardiamente, quando a

DPOC e as comorbidades avançaram consideravelmente (BRIGGS, 2004).

O diagnóstico de DPOC deve ser considerado em qualquer individuo com

tosse, expectoração, dispneia e/ou história de exposição a fatores de risco (Figura

9) e a espirometria deve ser considerada na definição diagnóstica dos casos da

doença visto que outras condições podem apresentar quadro clinico semelhante a

esta condição (FERREIRA, 2010; PEREIRA, 2002).

Figura 9: Diagnóstico da DPOC. Adaptado de: JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2006

53

3.7.1. Avaliação Espirométrica

Simples, barata e confiável, a espirometria é a ferramenta de diagnóstico

essencial para a confirmação da DPOC (BRIGGS, 2004). A espirometria é a

medida do ar que entra e sai dos pulmões, durante respiração lenta ou durante

manobras expiratórias forçadas. É um teste que auxilia na prevenção e permite o

diagnóstico e a quantificação dos distúrbios ventilatórios, exigindo a compreensão

e colaboração do paciente, além de equipamentos exatos e emprego de técnicas

padronizadas aplicadas por pessoal especialmente treinado. Os valores obtidos

devem ser comparados a valores previstos adequados para a população avaliada.

E sua interpretação deve ser feita à luz dos dados clínicos e epidemiológicos

(PEREIRA, 2002).

A espirometria com obtenção da curva expiratória volume-tempo é

obrigatória na suspeita clínica de DPOC, e por meio deste exame avalia-se o grau

de obstrução ao fluxo aéreo expiratório forçado, devendo ser realizada antes e

após administração de broncodilatador, de preferência em fase estável da

doença. A espirometria permite a avaliação de uma multiplicidade de parâmetros,

porém os mais importantes do ponto de vista de aplicação clínica são a CVF, o

VEF1, e a relação VEF1/CVF, pois mostram menor variabilidade inter e intra-

individual. O VEF1 e a CVF são medidas obrigatórias para a identificação e

estadiamento da gravidade da DPOC. A existência de limitação do fluxo aéreo é

definida pela presença da relação VEF1/CVF abaixo de 0,70 pós-broncodilatador

(JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004; BRIGGS, 2004).

Segundo a GOLD os critérios diagnósticos da DPOC pela espirometria

exigem que a relação entre VEF1/CVF pós-broncodilatador seja menor que 0,70.

De acordo com estes critérios estabelecem-se os estadiamentos da DPOC,

dispostos em quatro níveis de gravidade de acordo com o VEF1 pós-

broncodilatador e critérios clínicos. O Estádio I (DPOC leve) apresenta VEF1

maior ou igual a 80% do previsto; o Estádio II (DPOC moderada) VEF1 entre 50%

e 80% do previsto; o Estádio III (DPOC grave) VEF1 entre 30% e 50% do previsto;

o Estádio IV (DPOC muito grave) VEF1 menor do que 30% do previsto ou VEF1

entre 30% e 50% do previsto, com sinais de insuficiência respiratória e/ou

54

insuficiência ventricular direita. O VEF1 diminui de acordo com o aumento da

idade, uma redução de 0,003 L/ano (FERREIRA, 2010).

3.7.2. Avaliação Radiológica

Na DPOC deve-se solicitar, rotineiramente, uma radiografia simples de

tórax nas posições póstero-anterior e perfil, não para definição da doença, mas

para afastar outras doenças pulmonares, principalmente a neoplasia pulmonar. A

radiografia de tórax pode ainda identificar bolhas, com possível indicação

cirúrgica. A tomografia computadorizada de tórax está indicada na DPOC

somente em casos especiais, como suspeita da presença de bronquiectasias ou

bolhas, indicação de correção cirúrgica destas ou programação de cirurgia

redutora de volume (JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004).

3.7.3. Avaliação Gasométrica e do pH

A avaliação da oxigenação pode ser feita, inicialmente, de maneira não

invasiva pela oximetria de pulso. Se for identificada uma saturação periférica de

oxigênio (SpO2) igual ou inferior a 90%, está indicada a realização de gasometria

arterial para avaliação da PaO2 (pressão arterial parcial de O2) e da PaCO2

(pressão parcial do CO2 no sangue arterial) (JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO,

2004).

Enfim, para o diagnóstico da DPOC deve-se investigar a sintomatologia

clínica, o resultado da espirometria e os exames complementares (gasometria

radiografias, entre outros), porém deve-se levar em consideração também outros

fatores importantes que influenciam no impacto e na evolução desta doença, tais

como: baixa composição de massa corporal e diminuição na capacidade de

exercício que estão associadas ao alto risco de mortalidade bem como diminuição

da capacidade funcional (FERREIRA, 2010).

55

3.8. TRATAMENTO

3.8.1. Broncodilatadores

Os broncodilatadores são a base do tratamento sintomático das doenças

pulmonares obstrutivas. A via de administração preferencial é a inalatória, pela

ação direta nas vias aéreas e menor incidência de efeitos colaterais (JARDIM;

OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004).

Não existe consenso quanto ao tipo de broncodilatador para iniciar o

tratamento da DPOC. O único acordo na literatura é que as xantinas deveriam ser

consideradas como a última opção terapêutica (Tabela 5).

Tabela 5: Orientações terapêuticas de acordo com os estádios da DPOC

Estádios Fármacos

I β2-agonista de curta duração e/ou ipratrópio, quando necessário.

II

Reabilitação pulmonar

– Sintomas eventuais: β2- agonista de curta duração e/ou ipratrópio

(quando necessário)

– Sintomas persistentes: β2-agonista de longa duração e/ou tiotrópio.

III

Reabilitação Pulmonar

β2-agonista de longa duração e tiotrópio

Acrescentar xantina de longa duração (se persistirem sintomas)

Corticoide inalatório se exacerbações frequentes (> 2 exacerbações

ao ano)

IV

Reabilitação Pulmonar

β2-agonista de longa duração e tiotrópio

Acrescentar xantina de longa duração (se persistirem sintomas)

Corticoide inalatório se exacerbações frequentes (> 2 exacerbações

ao ano)

Oxigenoterapia

Estudar indicações cirúrgicas para o tratamento do enfisema (cirurgia

redutora de volume pulmonar, bulectomia ou transplante pulmonar)

Adaptado de: JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004

Broncodilatadores de curta ação têm sido indicados em estágios iniciais da

doença, podem melhorar o estado de saúde e controle sintomático, mas não a

mortalidade. Broncodilatadores de ação prolongada também foram mostrados

56

para melhorar os sintomas, a capacidade de exercício e as taxas de exacerbação

(ANDERSON; MACNEE, 2009). Outro aspecto a considerar quando se pautar

broncodilatadores de longa duração é o de melhor complacência e adesão à

terapêutica que permite a facilidade de administração (ANCOCHEA; GARCÍA,

DÍEZ, 2010).

3.8.1.1. β2-agonistas

São broncodilatadores potentes e seguros que atuam abrindo os canais de

potássio e aumentando o AMP (adenosina monofosfato) cíclico (Figura 10). Os

β2-agonistas de longa duração, formoterol e salmeterol, quando comparados aos

β2-agonistas de curta ação, fenoterol, salbutamol e terbutalino e ao anticolinérgico

brometo de ipratrópio, são mais eficazes, resultando em redução da dispneia e

melhora funcional mais acentuada e mais duradoura. O único β2-agonista de ação

por 24 horas é o bambuterol, que, no entanto, não apresenta número suficiente de

registros na literatura que apoiem o seu uso sistemático na DPOC (JARDIM;

OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004).

3.8.1.2. Anticolinérgicos

O brometo de ipratrópio é um antagonista inespecífico dos receptores

muscarínicos. O pico de ação do ipratrópio varia de 30 a 90 minutos e a duração

de seu efeito varia entre 4 e 6 horas. O brometo de tiotrópio é um anticolinérgico

de longa duração, mais eficaz que o ipratrópio, com seletividade farmacocinética

para os receptores muscarínicos M1 e M3, permitindo a sua utilização em dose

única diária. O número de efeitos colaterais é pequeno, sendo seu efeito colateral

mais frequente a boca seca, em 16% dos indivíduos que utilizam a medicação. O

brometo de tiotrópio reduz o número de exacerbações e hospitalizações e

melhora a qualidade de vida relacionada ao estado de saúde, comparado com

placebo e ipratrópio e aumenta o VEF1 em pacientes com DPOC estável

(JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004; ANDERSON; MACNEE, 2009).

57

Figura 10: Mecanismo de ação dos agonistas β-adrenérgicos. Onde: GDP (difosfato de

guanosina), GTP (trifosfato de guanosina), Gs (proteína ativa), ATP (trifosfato de adenosina), AMPc (monofosfato cíclico de adenosina). Adaptado de: TELLES FILHO, 2012

3.8.1.3. Xantinas

As xantinas, como a teofilina, estão reservadas como terceira linha de

opção, devido à sua alta carga de efeitos adversos, e só são recomendados para

a doença muito grave. Mesmo assim continuam sendo usadas em larga escala,

apesar de seu efeito broncodilatador ser inferior ao das demais. A bamifilina é

uma xantina de ação de 12 horas e tem a vantagem de provocar menos efeitos

adversos do que a teofilina. São necessários mais estudos para definir seu papel

no tratamento da DPOC (JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004).

3.8.2. Corticoides

Em duas recentes metanálises sobre os benefícios do uso de corticoide

inalatório em DPOC, observou-se a ocorrência de diminuição no número de

exacerbações, porém sem alteração na taxa de mortalidade e com maior índice

de efeitos colaterais do que com o placebo (JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO,

2004).

Os corticoides são muito menos eficazes na DPOC e não reduzem a

progressão da doença. Em contraste com pacientes com asma, aqueles com

58

DPOC não demonstram nenhuma reação anti-inflamatória significativa aos

corticoides. Macrófagos alveolares de pacientes com DPOC mostram uma

acentuada redução na capacidade de resposta para os efeitos anti-inflamatórios

de corticoides, em comparação com as células de fumantes normais e não

fumantes. Estudos recentes sugerem que pode haver uma ligação entre estresse

oxidativo e à pobre resposta aos corticoides em pacientes com DPOC (BARNES;

SHAPIRO; PAUWELS, 2003).

Três trabalhos publicados em 2003 estudando corticoides inalatórios e beta-

agonistas de ação prolongada, fluticasona+salmeterol e budesonida+formoterol,

sugerem que esta associação de drogas pode reduzir a mortalidade, reduzir as

exacerbações e melhorar a qualidade de vida em portadores de DPOC (JARDIM;

OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004).

O corticoide sistêmico está indicado apenas nas exacerbações infecciosas e

não infecciosas, pois já foi demonstrado que o seu uso por 14 dias reduz os

sintomas e melhora o VEF1 e a PaO2 em menor tempo. Na fase estável dos

pacientes portadores de DPOC não há indicação do uso de corticoides sistêmicos

de manutenção (oral ou injetável), devido não ocorrer melhora da função

pulmonar, além de levar a efeitos sistêmicos indesejáveis (JARDIM; OLIVEIRA;

NASCIMENTO, 2004).

3.8.3. N-acetilcisteína

Na patogênese da DPOC, é importante a participação do estresse

oxidativo, o qual inicia-se antes mesmo do processo inflamatório, devido à

inalação de radicais livres presentes na fumaça do cigarro, mas que permanece e

se intensifica durante o processo inflamatório. Uma revisão sistemática recente

mostrou diminuição das exacerbações e dias de internação em pacientes com

DPOC que utilizaram N-acetilcisteína (JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO,

2004).

N-acetilcisteína tem propriedades antioxidantes diretas e indiretas. O seu

grupo tiol livre (Figura 11) é capaz de interagir com os grupos eletrofílicos das

EROs, tendo o potencial de interagir diretamente com oxidantes como o peróxido

de hidrogênio, o radical hidroxila, e ácido hipoclorito. Durante a absorção, a N-

59

acetilcisteína é rapidamente metabolizada a cisteína, cujo grupo tiol tem

propriedades antioxidantes e que é um precursor direto da glutationa. A glutationa

serve como um fator central na proteção contra agentes tóxicos internos (tais

como respiração aeróbica celular e metabolismo de fagócitos) e agentes externos

(tais como NO, óxido de enxofre, e outros componentes do fumo do cigarro, e

poluição). E devido à sua capacidade para reduzir pontes dissulfeto, N-

acetilcisteína é amplamente utilizada para reduzir a viscosidade e elasticidade do

muco (DEKHUIJZEN; VAN BEURDEN, 2006; SADOWSKA et al., 2006).

Figura 11: Fórmula Estrutural da N-acetilcisteína. Fonte: DEKHUIJZEN, BEURDEN, 2006

3.8.4. Oxigenoterapia

A oxigenoterapia tem demonstrado ser, de forma inequívoca, o principal

tratamento para melhorar a sobrevida e a morbidade de pacientes hipoxêmicos

portadores de DPOC, tendo como objetivo a manutenção da saturação arterial da

oxiemoglobina acima de 90% (SaO2 ≥ 90%), documentada na gasometria arterial

(JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004).

3.8.5. Fisioterapia Respiratória

A fisioterapia respiratória constitui componente de grande valor no

tratamento da DPOC. O plano fisioterápico visa oferecer o melhor comportamento

funcional do paciente, sendo útil o seu início o mais precocemente possível.

Consta de exercícios respiratórios, exercícios de tosse, drenagem postural de

todos os segmentos pulmonares, técnicas de percussão torácica, associadas à

drenagem postural, prática de exercícios destinados a coordenar a atividade física

com a respiração, movimentação ativa e passiva de membros superiores e

60

inferiores, inclusive em pacientes hospitalizados, associação com a terapêutica

inalatória, podendo as sessões de fisioterapia ser realizadas, após nebulizações

de broncodilatadores ou simultaneamente à inalação de oxigênio (CARDOSO;

LEMLE; BETHLEM, 2000).

3.8.6. Novas Opções Terapêuticas

Os inibidores da fosfodiesterase (PDE)-4 promovem o acúmulo intracelular

de AMP cíclico, que deprime a atividade inflamatória dos neutrófilos, aumenta os

níveis de IL-10 e inibe a secreção de IL-8 e LTB4 pelos macrófagos, além de

provocarem o relaxamento da musculatura lisa.

O Roflumilaste é único entre os inibidores de PDE, tendo seletividade para a

PDE-4 e nenhum efeito inibitório aparente sobre a PDE-3, que tem sido associado

com a cardiotoxicidade em outros agentes desta classe. Roflumilaste está

associado com a atividade celular inflamatória reduzida, e os seus efeitos

terapêuticos incluem broncodilatação, a indução da liberação de citocinas e

quimiocinas a partir de células inflamatórias, e inibição do vazamento

microvascular e tráfico celular. Estudos clínicos com monoterapia de roflumilaste

demonstraram melhora da função pulmonar, redução das exacerbações, menor

necessidade de medicamentos anti-inflamatório/anti-infecciosos, e de uma

melhoria da qualidade de vida (RUSSELL; ANZUETO; WEISMAN, 2011).

3.8.7. Tratamento das Comorbidades

Cada uma das comorbidades requer uma abordagem única que deve ser

individualizada em pacientes com DPOC. Por exemplo, no tratamento de doenças

cardiovasculares, a utilização de cardioseletivos beta-bloqueadores, quando

indicado, é segura, embora se recomende tratamento de partida em doses baixas

que aumente gradativamente até a dose necessária. Além disso, o uso de

diuréticos na insuficiência cardíaca deve ser feito com cuidado devido ao risco de

ocorrência de alcalose metabólica, com o consequente risco de aumentar a

PaCO2 (ANCOCHEA; GARCÍA; DÍEZ, 2010).

61

Transtornos de humor, ansiedade e depressão, aparecem em uma alta

porcentagem de pacientes com DPOC. Deve-se ter em mente que os

benzodiazepínicos têm um efeito depressivo sobre o centro respiratório, por isso

devem ser manuseados com cuidado nestes pacientes. Os mais seguros são os

inibidores seletivos de serotonina e norepinefrina, porque não afetam o centro

respiratório. Geralmente o tratamento é iniciado com doses baixas e não se deve

esperar resultados até depois de (pelo menos) 2 a 4 semanas (ANCOCHEA;

GARCÍA; DÍEZ, 2010).

62

4. CONCLUSÃO

A DPOC é, portanto, um importante problema de saúde pública, não só

devido a sua alta morbidade e mortalidade (a DPOC mata uma pessoa em média

a cada 10 segundos), mas também porque é uma doença evitável. Atualmente, é

a quarta maior causa de morte no mundo, e é a única, dentre as principais

doenças do mundo, que vem crescendo em prevalência e em mortalidade,

estando previsto um aumento substancial nas próximas décadas, a menos que

medidas preventivas urgentes sejam tomadas para reduzir os fatores de risco

subjacentes, em especial o uso do tabaco.

O tabagismo é o principal e mais importante fator de risco para a DPOC

(85% a 90% de mortes por DPOC são atribuíveis ao tabaco). Parar de fumar é o

meio mais eficaz de se prevenir e a única forma comprovada de modificar o curso

natural desta doença e poderia prevenir milhões de casos.

Infelizmente, a DPOC é progressiva e irreversível após uma certa

quantidade de danos ocorrerem aos pulmões, caso em que o tratamento

terapêutico pode apenas aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Por

isso é de fundamental importância o diagnóstico precoce e preciso da DPOC,

para impedir o impacto e a progressão da doença. Como a relação entre a dose

de tabaco consumida e a progressão da DPOC é evidente, deveria ser notório

que a cessação tabágica é o tratamento mais importante na DPOC.

A cessação tabágica é a única medida efetiva que pode trazer uma

significativa atenuação do comprometimento da função pulmonar, e quanto mais

cedo ocorrer, menor será este comprometimento, podendo a obstrução das vias

aéreas ser estabilizada com melhora significativa dos sintomas. Parar de fumar

melhora também o prognóstico, e mais importante, melhora a sobrevida dos

pacientes com DPOC, independente da gravidade da doença.

63

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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