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Um estudo da qualidade do saneamento ambiental rural: fator para o desenvolvimento local sustentável. Fapesp (a), Keila Cássia Santos Araújo b*, Janice Rodrigues Placeres Borges c, Pedro Ferreira Filho d. a Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil. b PPGADR/Centro de Ciëncias Agrárias (CCA), Universidade Federal de São Carlos, Araras, Brasil. c PPGADR/CCA/UFSCAR d Depto. de Estatística/UFSCAR Autor para correspondência: (19)8115-0819 - [email protected] Palavras chave: Saúde Socioambiental; Meio Ambiente e Condições de Vida Título Abreviado: Saneamento Ambiental no Meio Rural ABSTRACT Studies related to the quality of environmental sanitation are important for the development of a sustainable environment. The paper presents the results of a partial analysis and research, which emphasizes the quality of environmental sanitation in the settlement Horto Loreto, as a factor for sustainable development, therefore, can only be achieved if, among other things, the environmental sanitation promote the health of living beings. A number of diseases related to water, garbage and excreta can be considered the most important environmental classification 1

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Um estudo da qualidade do saneamento ambiental rural: fator para o desenvolvimento local sustentável.

Fapesp (a), Keila Cássia Santos Araújo b*, Janice Rodrigues Placeres Borges c,Pedro Ferreira Filho d.a Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil.b PPGADR/Centro de Ciëncias Agrárias (CCA), Universidade Federal de São Carlos, Araras, Brasil.c PPGADR/CCA/UFSCARd Depto. de Estatística/UFSCAR

Autor para correspondência: (19)8115-0819 - [email protected]

Palavras chave: Saúde Socioambiental; Meio Ambiente e Condições de Vida

Título Abreviado: Saneamento Ambiental no Meio Rural

ABSTRACT

Studies related to the quality of environmental sanitation are important for the

development of a sustainable environment. The paper presents the results of a partial

analysis and research, which emphasizes the quality of environmental sanitation in the

settlement Horto Loreto, as a factor for sustainable development, therefore, can only be

achieved if, among other things, the environmental sanitation promote the health of

living beings. A number of diseases related to water, garbage and excreta can be

considered the most important environmental classification for infectious diseases.

Social health disorders may be related to environmental sanitation due to insufficient

coverage of services or the lack of provision to its population (the intermittency

problems of water supply, poor sanitation, etc..) Considering the issues of water,

exhaustion health, collection and disposal of solid waste, drainage, vector control, also

to enable the display of control measures common to any group (Brazil, 1998, Brazil,

1999, Cairncross and Feachem, 1993; Heller, 1997). The research aimed to conduct a

survey of the characteristics of the environmental sanitation in all batches of the

settlement to see the relationship of the settlers with the means in which are inserted

through their daily practices. The methodology used to characterize the construction of

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environmental sanitation in the area, was closed in the application of questionnaires,

covering thematic groups related to the water supply, sanitation, solid waste

management and waste of domestic agricultural production and living conditions of . By

univariate analysis of categorical data, was a description and analysis of the

characteristics of the environmental sanitation in the area and the inter-relations

population / environment. According to the results, it is understood that in the

settlement there are daily practices that are worrying factors for the interference of

social health, as well as to develop a more sustainable local environment.

Keywords: Socio Health, Environment and Living Conditions

RESUMO

Estudos relacionados à qualidade do saneamento ambiental são importantes para o

desenvolvimento de um ambiente sustentável. O trabalho apresenta os resultados e

análises parciais de uma pesquisa, que enfatiza a qualidade do saneamento ambiental no

assentamento Horto Loreto, como fator para o desenvolvimento sustentável, pois, este

só poderá ser atingido se, entre outros, o saneamento ambiental promover a saúde dos

seres vivos. Uma série de enfermidades relacionadas à água, excreta e lixo pode ser

considerada a mais importante classificação ambiental para doenças infecciosas.

Agravos à saúde socioambiental podem estar relacionados ao saneamento ambiental por

insuficiência de cobertura dos serviços ou pela precariedade de sua prestação à

população (problemas de intermitência no abastecimento de água, esgotamento sanitário

deficiente, etc.), considerando os aspectos de abastecimento de água, esgotamento

sanitário, coleta e disposição de resíduos sólidos, drenagem, controle de vetores, de

modo a possibilitar também a visualização de medidas de controle comuns a

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determinado grupo (Brasil, 1998; Brasil, 1999, Cairncross e Feachem, 1993; Heller,

1997). A pesquisa teve como objetivo realizar um mapeamento das características do

saneamento ambiental em todos os lotes do assentamento para conhecer a relação dos

assentados com o meio no qual estão inseridos, através de suas práticas cotidianas. A

metodologia aplicada, para construção da caracterização do saneamento ambiental na

área, consistiu na aplicação de questionários fechados, abarcando blocos temáticos

referentes a: abastecimento de água; esgotamento sanitário; gestão dos resíduos sólidos

domésticos e dos resíduos da produção agrícola, e condições de habitabilidade. Através

da análise univariada dos dados categóricos, foi realizada uma descrição e análise das

características do saneamento ambiental na área e das inter-relações

população/ambiente. De acordo com os resultados, compreende-se que, no

assentamento existem práticas cotidianas que são fatores preocupantes de interferência

para a saúde socioambiental, assim como, para o desenvolvimento de um ambiente local

mais sustentável.

INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

Por haver grande importância em buscar o conhecimento da realidade rural,

caracterizada por populações com menor acesso às medidas de saneamento e pela

presença de atividades agropecuárias altamente impactantes (BARCELLOS et al.,

2006), acredita-se que os resultados advindos da qualidade do saneamento ambiental

sejam cruciais para se alcançar um ambiente sustentável no meio rural.

Saneamento Ambiental Inadequado é aqui entendido como sendo a falta ou

insuficiência dos serviços públicos de saneamento ambiental e as precárias condições de

habitação (Borges, 2008), sendo que o habitat é habitado pelas condições ecológicas de

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reprodução de uma população, mas, por sua vez, é transformado por suas práticas

culturais e produtivas (LEFF, 2008).

Esta pesquisa buscou resgatar a realidade no assentamento Horto Loreto

concernente aos aspectos sanitário-ambientais através de questões que identificam as

práticas culturais e produtivas dos assentados relacionadas ao armazenamento e

disposição dos resíduos sólidos domiciliares e da produção agrícola, esgotamento

sanitário, abastecimento d’ água nos domicílios e condições de habitabilidade.

Os dados obtidos, a observação direta e o diálogo com moradores do

assentamento propiciaram detectar fatores de interferências para o desenvolvimento de

um ambiente rural sustentável, através das práticas cotidianas realizadas. Detectar os

fatores de interferência através de práticas cotidianas se deve ao fato de que estudos

enfocados em saneamento ambiental, serem analisados através de visão holística, como

um círculo vicioso, ou seja, determinadas ações produzidas por um indivíduo ou

coletivo em determinado local podem trazer conseqüências para os demais membros de

sua sociedade e para a sustentabilidade do meio em sua variada gama de indicadores.

SANEAMENTO AMBIENTAL: FATOR PARA O DESENVOLVIMENTO

LOCAL SUSTENTÁVEL.

Entende-se por meio ambiente o conjunto de elementos físico-químicos,

ecossistemas naturais e sociais em que se insere o homem, individual e socialmente,

num processo de interação que atenda ao desenvolvimento das atividades humanas, à

preservação dos recursos naturais e das características essenciais do entorno, dentro de

padrões de qualidade definidos. (COIMBRA, 1985 apud BRANCO 1999).

E o homem, ao longo da história tem se apropriado desse meio para sanar suas

necessidades básica que, com o passar do tempo, tornou-se algo além de apenas retirar

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da natureza o suficiente para sua sobrevivência, mas a lógica capitalista, o consumismo

exacerbado presente no mundo atual, a concorrência nos mercados intensificou

exaustivamente a depredação no meio ambiente. Dessa forma, essa interação tem se

demonstrado em benefício somente do próprio homem, enquanto a preservação dos

recursos naturais e a importância de manter padrões de qualidade têm sido ignoradas.

Recentemente, o homem, individual ou coletivamente tem se preocupado com a

degradação ambiental que causou ao longo dos séculos. Assim, de acordo com Almeida

e Navarro (1997), surge o chamado desenvolvimento sustentável para encarar a crise

ecológica tornando compatível nível de consumo que satisfazem as necessidades de

toda a humanidade, dentro dos limites ecologicamente possíveis.

E a definição mais aceita para caracterizá-lo é “o desenvolvimento que

pressupõe o atendimento às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade

das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades É o desenvolvimento que

não esgota os recursos para o futuro” (COMISSÃO MUNDIAL PARA O MEIO

AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO – CMMAD, 1988).

O desenvolvimento sustentável colocou o ser humano no centro de seus

objetivos, propondo entre suas metas a qualidade de vida e o desenvolvimento pleno de

suas potencialidades (LEFF, 2008).

Tomando por base a citação acima, faz-se necessário ressaltar sobre das

condições do meio pertinentes ao saneamento e moradia, pois são essenciais no

estabelecimento de medidas de promoção da qualidade de vida do indivíduo, famílias e

comunidades (Azeredo et al, 2007), bem como para o desenvolvimento sustentável,

especialmente no meio rural, afinal o quesito saneamento engloba recursos essenciais

para a vida humana. Isso implica na necessidade de medidas de saneamento que são

imprescindíveis para a conservação desses recursos e bem-estar dos assentados.

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Quanto à habitação, esta é considerada como um agente da saúde de seus

moradores e relaciona-se com o território geográfico e social onde se assenta, os

materiais usados para sua construção, a segurança e qualidade dos elementos

combinados, o processo construtivo, a composição espacial, a qualidade dos

acabamentos, o contexto global do entorno (comunicações, energia, vizinhança) e a

educação em saúde e ambiente de seus moradores sobre estilos e condições de vida

saudável (AZEREDO et al, 2007).

Contudo a apropriação do espaço rural pelo homem visando atender suas

necessidades, e paralelamente de toda a sociedade, afinal, é do campo que provém os

alimentos para o nosso sustento tem sido realizada de maneira a isolar fatores como

saneamento e moradia, propiciando o desenvolvimento de práticas que podem se tornar

interferência para um ambiente sustentável, e que pode ser justificado por falta de infra-

estrutura adequada disponível para a realização de tais práticas ou pela falta de

educação ambiental local.

Isto pode ser evidenciado de acordo com May et al., (2008), que déficit de ações

de saneamento ambiental no meio rural brasileiro ainda é elevado.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde a definição de saneamento é

vista como o “controle de todos os fatores do meio físico do homem que exercem ou

podem exercer efeitos deletérios sobre seu bem estar físico, mental ou social” – os

reflexos das ações de saneamento ou de sua carência são notórios sobre o meio

ambiente (NASCIMENTO & HELLER, 2005).

Esse trabalho reconhece, como modo conceitual, que saneamento ou saneamento

ambiental é o conjunto de ações sócio-econômicas que tem por objetivo alcançar níveis

crescentes de salubridade ambiental, por meio do abastecimento de água potável, coleta

e disposição sanitária de resíduos líquidos, sólidos e gasosos, promoção da disciplina

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sanitária do uso e ocupação do solo, drenagem, controle de vetores e de reservatórios de

doenças transmissíveis, e demais serviços e obras especializadas, com a finalidade de

proteger e melhorar a condições de vida, tanto nos centros urbanos quanto nas

comunidades rurais mais carentes.

Saneamento ambiental é um tema abrangente, para além dos sistemas de

abastecimento de água e de esgotamento sanitário, abarca também gestão de resíduos

sólidos (coleta, forma de disposição, etc), poluição do solo, ar, entre outros

A água é fundamental para a sobrevivência de todos os seres vivos, e é um dos

recursos naturais intensamente utilizados. Dessa forma é essencial que os recursos

hídricos estejam disponíveis no ambiente em boa qualidade e quantidade para sanar as

necessidades da humanidade.

Á água é utilizada para diversos fins. No meio rural além de fins domésticos e

abastecimento humano ainda serve para a irrigação das culturas. Porém, agrotóxicos e

fertilizantes espalhados sobres às lavouras, além de poluir o solo, são levados pelas

águas das chuvas até os rios, onde intoxicam e matam diversos seres vivos dos

ecossistemas (AMABIS & MARTHO, 1997), e alterando a qualidade das águas para o

consumo humano . Águas de reservatórios, rios, lagos podem ser contaminadas, com a

presença de organismos patogênicos, e causar doenças nos seres humanos.

O lixo também é outro fator importante para discutirmos quando se trata a

respeito da qualidade do saneamento ambiental. A grande quantidade associada

igualmente à variabilidade da composição pode incluir substâncias tóxicas que trazem

conseqüências à saúde e ao próprio ambiente.

Lixo é uma palavra latina (lix) que significa cinza, vinculada às cinzas dos

fogões. Segundo Ferreira (1999), lixo é “aquilo que se varre da casa, do jardim, da rua e

se joga fora; entulho. Tudo o que não presta e se joga fora. Sujidade, sujeira, imundície.

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Coisa ou coisas inúteis, velhas, sem valor”. Jardim e Wells (1995, p. 23) definem lixo

como “[...] os restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como

inúteis, indesejáveis, ou descartáveis”.

Os animais encontram no lixo alimento e abrigo, ou seja, condições favoráveis

pra sua proliferação. Muitos são vetores responsáveis pela transmissão de inúmeras

doenças ao homem, dentre os quais, os mais importantes são os roedores e os insetos

(SISSINO, 1998). Caso o lixo não tenha um tratamento adequado, ele acarretará série

de danos ao meio ambiente como a poluição do solo, o que acarretara alteração das

características físico-químicas, além do visual degradante associado aos montes de lixo

(MARTINI, 2008).

Ainda Martini (2008), o lixo acarreta a poluição das águas alterando as

características do ambiente aquático, através da percolação do líquido gerado pela

decomposição da matéria orgânica (chorume).

O chorume, originado a partir da degradação da matéria orgânica do lixo, que,

segundo Branco e Rocha (1980), é um líquido escuro, ácido e malcheiroso, pode se

infiltrar no solo ou contaminar corpos d’água, causando impactos sobre a cadeia

ecológica desse meio. Essas águas quando utilizadas para irrigação, consumo humano

ou animal podem constituir riscos.

Quanto aos esgotos, este pode ser caracterizado pelos despejos das diversas

formas de uso da água. São compostos pelas águas de banho, urina, fezes, resto de

comida, sabão, água de lavagem. Dessa forma, é essencial a disposição adequada dos

esgotos, especialmente no meio rural, pois segundo Braga et al (2006), os esgotos

podem contaminar a água, os alimentos, os utensílios domésticos, o solo ou serem

transportados por vetores, como moscas e baratas, provocando infecções. Além disso,

outra importante razão para tratar os esgotos é a preservação do meio ambiente. As

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substâncias presentes nos esgotos exercem ação deletéria nos corpos d´água: a matéria

orgânica pode ocasionar a exaustão do oxigênio dissolvido, causando morte de

organismos aquáticos, escurecimento da água e aparecimento de maus odores.

METODOLOGIA

O presente trabalho teve por finalidade enfatizar as questões sócio-ambientais

ligadas ao saneamento ambiental no Assentamento Horto Loreto, em Araras, SP. A

metodologia utilizada na pesquisa consistiu na aplicação de questionários fechados

formados por blocos temáticos contendo questões sobre o saneamento ambiental (água,

lixo/resíduos sólidos domésticos e da produção, esgotamento sanitário) e condições de

habitabilidade. Os dados se referem a 88 famílias pesquisadas e foram analisados

quantitativamente por análise estatística univariada e apresentados de forma descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Verificou-se que as oitenta e oito (88) famílias assentadas entrevistadas utilizam

água da rede pública que provém de poços comunitários situados no assentamento. O

tratamento da água é de responsabilidade do SAEMA (Serviço de Água e Esgoto do

Município de Araras). No entanto, os assentados utilizam água de outras fontes (rio,

mina, reservatório, córrego) para diversos fins como para banho, cozinhar, higiene e

consumo de animais e irrigação de plantas de uso alimentar. Com relação ao uso de

água de outras fontes(rio, mina, reservatório, bica), 4.55% das famílias utilizam para

banho, 3.41% para cozinhar, 19.32% para higiene e consumo de animais de estimação e

25% para irrigação de plantas de usos alimentar (hortas).

Com relação ao armazenamento do lixo dentro da residência verificou-se que

das 88 famílias entrevistadas 55.68% armazenam o lixo em recipiente fechado e 44.32%

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em recipiente aberto, enquanto 62.50% das famílias assentadas armazenam o lixo fora

da residência em ambiente aberto e 32.95% em recipiente fechado. O fato de o lixo ser

armazenado em recipiente aberto dentro e fora do domicílio possibilita a proliferação de

microorganismos (bactérias, fungos); odores indesejáveis causados pela putrefação dos

restos orgânicos atraem diversos tipos de insetos, como moscas, formigas e baratas,

sendo que esses muitas vezes, poderão transmitir doenças.

Quanto à disposição final do lixo verificou-se que 77.27% das famílias queimam

o lixo, 6.82% enterram, 29.55% jogam em valas e matos e 42.05% deixam

esparramados nos arredores da casa. No assentamento não é feita à coleta de lixo pelo

serviço público. A disposição inadequada do lixo pode gerar uma série de

conseqüências para o homem e o ambiente. Além das doenças causadas por vetores que

são atraídos pelo lixo em busca de abrigo, alimento; o chorume, líquido proveniente da

decomposição da matéria orgânica no mesmo, poderá contaminar o solo e os recursos

hídricos. Como se pode observar a queima do lixo é uma prática constante no

assentamento podendo gerar poluição e contaminação do ar.

Com relação aos agroquímicos é importante ressaltar que dos 88 lotes

pesquisados, 82.95% dos agricultores fazem uso em seus cultivos. Sendo eles

fertilizantes químicos sólidos e líquidos, agrotóxicos, entre eles, inseticidas,

carrapaticidas, formicidas, herbicidas, fungicidas etc. Quanto ao destino final das

embalagens de agroquímicos, 3.41% das famílias enterram, e 80.68% queimam ou

devolvem ao posto de recolhimento.

Outro fator preocupante se encontra relacionado ao esgotamento sanitário. Das

88 famílias 7.95% realizam o esgotamento sanitário através de fossa e 92.05% utilizam

vala negra. Assim, desprovidos de rede coletora e até mesmo de condições para

instalação da mesma acabam por eliminar resíduos em valas, indo o conteúdo

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diretamente para o ambiente. Isso permite a infiltração desses resíduos no solo, podendo

atingir o lençol freático, contaminando-o.

As condições de moradia no assentamento verifica-se que 3.41% dos assentados

moram em casas com dois cômodos, 10.23% em 3 cômodos, 14.77% em 4 cômodos,

23.86% em cinco cômodos, 28.41% em seis cômodos, 10.23% em sete cômodos, e

2.27% respectivamente em oito, nove, dez e doze cômodos. Quanto ao número de

cômodos utilizados pra dormir 12.50% utilizam um cômodo, 43.18% dois cômodos,

36.36% em três cômodos, e 7.95% em quatro cômodos. Sendo que 97.73% utilizam

quartos pra dormir, 10.23% a sala e 2.27% a cozinha.

Nota-se, que das famílias entrevistadas 27.29% possuem área construída do

domicílio de 25 a 50 m², 43.20% de 60 a 100m², 21.59% de 110 a 140m² e 7.96% de

160 a 200m². O material das paredes dos domicílios é de alvenaria em 80.68% deles.

Em 11.36% dos domicílios o material é de madeira. Em 6.82% deles os materiais das

paredes são outros e se classificam como tábuas, lonas, papelões . O material do telhado

em 52.27% dos domicílios é de telha de barro, em 29.55% de zinco ou fibrocimento, em

4.55% de outros materiais como lona e lata, por exemplo, e em 14.77% materiais

mistos, ou seja, zinco e telha de barro. O material do piso em 2.27% dos domicílios é de

madeira, em 36.36% de ladrilho, em 32.95% de cimento ou tijolo, em 9.09% de terra

batida e em 20.45% misto, ou seja, de madeira, ora cimento ou tijolo ou ladrilho.

Esses dados, sobre qualidade das moradias do Horto Loreto, caracterizam a área

de estudo como satisfatória no item moradia, visto que, segundo a OMS residências

satisfatórias devem possuir no mínimo 45m2 de construção, material de construção

apropriado e a grande maioria dos moradores dormem em quartos.

CONCLUSÕES

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Conclui-se, de acordo com os resultados obtidos com a pesquisa que no

Assentamento Horto Loreto, o saneamento ambiental é inadequado em itens como:

gestão de resíduos sólidos e esgotamento sanitário colocando a população em estado de

permanente vulnerabilidade, devido a inter-relação com um ambiente que oferece riscos

socioambientais. Pois, não há serviço público de coleta do lixo, acarretando formas

inadequadas de armazenamento e disposição final, o que se transformou num

preocupante caso de saúde pública. Há utilização em casos eventuais de águas de rios,

minas e reservatórios, que não recebem tratamento adequado - fato que transforma essa

informação em mais uma preocupação. Além disso, constatou-se no assentamento o uso

constante de agroquímicos sem orientações técnicas e não utilização de equipamentos

de proteção (EPI´s) durante as aplicações.

Dessa forma, os dados coligidos apontam que as práticas cotidianas executadas

pelos assentados com relação ao saneamento ambiental são uma agressão cotidiana ao

ambiente e a saúde socioambiental, não colaborando para a promoção de um

desenvolvimento de um meio rural sustentável, pois constituem em fatores propícios de

interferência negativos para a saúde, a produção agrícola, para um ambiente saudável e

bem-estar geral da população local.

Em síntese, observa-se que, por razões muitas vezes ideológicas, nega-se as

necessidades sanitárias e higienistas de espaços habitados por classes sociais ditas

desfavorecidas, negando a existência de população nessas áreas como se fossem vazios

demográficos, assim como, negando os projetos de vida que ali se pretendem

estabelecer. Este fato ficou demonstrado pela falta e/ou insuficiência dos serviços

públicos de saneamento básico e ambiental, domiciliar e extra domiciliar, que deveriam

ser priorizados pelas políticas públicas governamentais, incentivando a saúde social e

ambiental – base para um desenvolvimento sustentável.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São

Paulo) pelo financiamento da pesquisa, que ainda se encontra em andamento.

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